PDF - Fronteiras do Pensamento

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PDF - Fronteiras do Pensamento
GEOFFREY WEST
LIBRETO PREPARATÓRIO
GEOFFREY
WEST
(Inglaterra, 1940)
Expediente
Fronteiras do Pensamento
Temporada 2014
Curadoria
Fernando Schüler
Produção Executiva
Pedro Longhi
Coordenação-geral
Michele Mastalir
Coordenação e Edição
Luciana Thomé
Pesquisa
Francisco Azeredo
Juliana Szabluk
Editoração e Design
Lume Ideias
Revisão Ortográfica
Renato Deitos
www.fronteiras.com
©
Físico teórico britânico. Um dos mais
destacados pesquisadores dos modelos
científicos das grandes cidades.
“Do aquecimento global à falta de
moradia, das crises financeiras à escassez
de energia, da água insuficiente aos surtos
de doenças, nomeie qualquer problema
que diga respeito à humanidade e verá
que a cidade é o recipiente onde você vai
encontrar o problema borbulhando.”
VIDA E OBRA
Considerado pela revista norte-americana Time como
Um dos primeiros pesquisadores a estudar os mode-
uma das 100 pessoas mais influentes do mundo no ano
los científicos das grandes cidades, o físico acredita que
de 2006, o físico britânico Geoffrey West destacou-se por
os sistemas complexos são governados por leis simples,
seu trabalho na Presidência do Santa Fe Institute (SFI),
que podem ser descobertas e analisadas. Segundo ele, as
entidade sem fins lucrativos com sede no Novo México,
metrópoles, apesar de suas características únicas, são re-
nos Estados Unidos. O SFI, onde atualmente leciona,
gidas e se desenvolvem com base em uma série de regras
se dedica ao estudo multidisciplinar dos princípios fun-
universais que determinam seu padrão de crescimento.
damentais de sistemas adaptativos complexos, sejam eles
Assim, ele busca entender como a sociedade, a economia
físicos, computacionais, biológicos ou sociais.
e as redes de infraestrutura colaboram – ou não – para
Graduado em Cambridge e doutor por Stanford, o fí-
manter as metrópoles funcionando.
sico inglês também é integrante da Sociedade Americana
Com o apoio de outro físico, Luís Bettencourt, mon-
de Física, segunda maior organização de físicos do mun-
tou uma equipe de pesquisadores que se debruçou duran-
do, e já foi agraciado com prêmios como o Mercer Prize
te mais de dois anos sobre dados estatísticos de grandes
da Ecological Society of America, o Weldon Prize, por
cidades. A partir desse trabalho, desenvolveu uma série
seu trabalho na área da Biologia Matemática, e o Glenn
de equações que, ao se conhecer a população, permitem
Award, por suas pesquisas em envelhecimento.
estimar características de cada local, como renda média,
West trabalhou décadas como professor da Universidade de Stanford e no Laboratório Nacional de Los
Alamos, do qual foi fundador. Posteriormente, passou
surtos de gripe, casos de Aids, número de postos de gasolina, tamanho das ruas e as dimensões de seu sistema de
tratamento de esgoto, por exemplo.
a se dedicar ao estudo das estruturas e da dinâmica das
O pesquisador entende que as grandes metrópoles
organizações sociais, como empresas e cidades, para en-
que apresentam os melhores resultados são aquelas que
tendê-las quantitativamente.
estimulam a interação entre seus moradores. Uma das
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IDEIAS
maiores preocupações do físico é a possibilidade de as metrópoles continuarem crescendo sem apresentar melhorias
em suas condições sociais. Para que isso não aconteça, ele
argumenta que é preciso observar as outras cidades do mundo. Pois, apesar de sua história, geografia e cultura diversas,
existe uma regularidade entre todas as megacidades.
“Há 200 anos, os Estados Unidos tinham menos de 4%
de urbanização. Agora esse número chega a mais de 82%.
O planeta ultrapassou a marca de 50% alguns anos atrás.
A China vai construir 300 novas cidades nos próximos
20 anos. Agora, ouçam isto: toda semana, em um futuro
previsível, até 2050, toda semana, mais de um milhão de
pessoas somam-se às nossas cidades. Isso vai afetar tudo.
Todas as pessoas nesta sala, se estiverem vivas, serão
afetadas pelo que está acontecendo nas cidades neste extraordinário fenômeno. Contudo, as cidades, apesar de
terem esse aspecto negativo associado a elas, também são a
solução. Porque as cidades são os aspiradores e os ímãs que
têm atraído as pessoas criativas, criando ideias, inovando,
gerando riquezas etc... Temos esta espécie de dualidade
natural. E há uma necessidade urgente de desenvolver uma
teoria científica das cidades.”
“Olhando para trás, há mais de 150 anos, para as megacidades do passado, como Londres e Nova York, reconhecemos que elas sofreram muito da mesma imagem negativa
que frequentemente é associada às megacidades de hoje.
Pense na imagem da Londres de Dickens: uma cidade permeada pelo crime, poluição, doença e miséria. No entanto,
essas cidades foram altamente móveis, envolveram diversas
sociedades, ofereceram grandes oportunidades, resultando,
em última análise, em sua manifestação moderna, como os
‘motoristas’ da economia mundial. O mesmo também pode
ser especulado sobre as megacidades que estão emergindo
hoje na África, na Ásia e em outras partes do mundo.”
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ESTANTE
“Comecei a olhar para o metabolismo, os processos
químicos que sustentam a vida. E o que eu encontrei
foram essas leis de escala incríveis que haviam sido
descobertas na Biologia 60 anos antes e para as quais
não havia explicações aceitas. A lei de escala representa, basicamente, como várias medidas em um sistema
– digamos, os corpos dos mamíferos – mudam proporcionalmente, assim como as mudanças de tamanho. A
primeira e mais famosa lei de escala é chamada de Lei
de Kleiber, que descreve como a taxa metabólica e a
quantidade de energia necessária para se manter vivo
estão relacionadas ao tamanho de um organismo.”
“A questão é: como cientistas, podemos tomar essas
ideias e fazer o que fizemos na Biologia, pelo menos com
base em redes e outras ideias, e colocar isso em uma teoria quantitativa, matematizável e previsível, para que
possamos entender o nascimento e a morte de empresas, e
como isso estimula a economia? Como isso está relacionado às cidades? Como isso afeta a sustentabilidade global e
permite que se preveja um quadro para um sistema idealizado, para que possamos entender como lidar com ele e
evitá-lo? Se você estiver comandando uma grande empresa, você poderá identificar quais são as métricas que estão
conduzindo a empresa para a mortalidade para, possivelmente, descartá-las e, assim espero, evitá-las.”
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SCALING IN BIOLOGY
Santa Fe Institute Studies in the Science
of Complexity
De James H. Brown e Geoffrey B. West
(editores)
1ª edição 2000 / Sem edição em
português
As relações de escala são um tema
constante na Biologia, pelo menos desde
a época de Leonardo da Vinci e Galileu.
Embora tenha havido muitas excelentes
investigações empíricas e teóricas, houve
poucas tentativas de sintetizar esta área
diversa mas inter-relacionada que é a
Biologia. Para preencher esta lacuna,
este livro, organizado por James H.
Brown e Geoffrey B. West, abrange
um amplo espectro de temas relevantes
em uma série de artigos escritos por
especialistas da área.
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NA WEB
PARTICLE PHYSICS: A LOS
ALAMOS PRIMER PAPERBACK
De Necia Grant Cooper e Geoffrey B.
West (editores)
1ª edição 1988 / Sem edição em
português
Esta reunião de artigos bem ilustrados
escritos por um grupo de físicos de
partículas do Laboratório de Los Alamos
apresenta ao leitor especialista e ao não
especialista uma visão abrangente dos
principais avanços teóricos dos últimos
20 anos, explicando o surgimento de
uma nova compreensão das forças
fundamentais da natureza.
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WIKIPEDIA (em inglês)
http://en.wikipedia.org/wiki/Geoffrey_West
SANTA FE INSTITUTE
Perfil de Geoffrey West publicado no site do Santa Fe
Institute (em inglês)
http://is.gd/West1
(http://www.santafe.edu/about/people/profile/Geoffrey%20West)
WORLD ECONOMIC FORUM
Perfil de Geoffrey West publicado no site do World
Economic Forum
http://is.gd/West2
(http://www.weforum.org/contributors/geoffrey-b-west)
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ENTREVISTAS
As leis da física nas cidades humanas
Entrevista para a revista Discover, publicada em outubro
de 2012 (em inglês)
http://is.gd/West3
(http://discovermagazine.com/2012/oct/21-geoffrey-west-finds-physical-laws-in-cities)
Cidades continuam crescendo, empresas e
pessoas sempre morrem e a vida segue cada vez
mais rápida
Entrevista para o site Edge, publicada em maio de 2011
(em inglês)
http://is.gd/West4
http://edge.org/conversation/geoffrey-west
O desafio das megacidades
Matéria do site da revista Veja, publicada em novembro
de 2013, sobre o texto escrito por Geoffrey West para o
World Economic Forum
http://is.gd/West7
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/o-desafio-das-megacidades
THNKR
Trecho de entrevista para o canal THNKR, publicada
em agosto de 2013 (em inglês)
http://is.gd/West8
https://www.youtube.com/watch?v=buz_S0Csrsg
The New York Times
VÍDEOS E LINKS
TED Talks
Palestra de Geoffrey West (legendado)
http://is.gd/West5
https://www.ted.com/talks/geoffrey_west_the_surprising_math_of_cities_and_
corporations
Matéria do jornal The New York Times sobre o trabalho
de Geoffrey West, publicada em dezembro de 2010 (em
inglês)
http://is.gd/West9
http://www.nytimes.com/2010/12/19/magazine/19Urban_West-t.
html?pagewanted=all&_
Revista Time
Artigo de Geoffrey West publicado no site Huffington
Post, em janeiro de 2014 (em inglês)
http://is.gd/West6
Site especial da revista Time com a lista das 100 pessoas
mais influentes do mundo em 2006. Link direto para
o perfil de Geoffrey West, publicado em maio de 2006
(em inglês)
http://is.gd/West10
http://www.huffingtonpost.com/geoffrey-west/the-growing-importance-ofmegacities_b_4665457.html
http://content.time.com/time/specials/packages/
article/0,28804,1975813_1975844_1976489,00.html
A importância crescente das megacidades
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ARTIGO
AS CIDADES COMO
GIGANTESCOS ORGANISMOS:
HAVERIA UMA LEI DE ESCALA
NO MUNDO URBANO?
POR RUALDO MENEGAT
Professor do Instituto de Geociências da UFRGS
e presidente da Sessão Brasileira da International
Associaton for Geoethics.
Em todo o mundo, cidadãos e cidadãs vêm tomando as
ruas. Parece haver enfrentamentos políticos das mais variadas ordens e interesses. Por maior liberdade, por conquista de direitos, em defesa do meio ambiente e pelo fim de
governos tiranos. Porém, há também nesses movimentos
uma clara demonstração do desconforto que a vida urbana atingiu nas últimas décadas. Isso ficou bem evidente nas
manifestações no Brasil ocorridas em junho de 2013. Parece
que as cidades em todo o mundo dão evidentes sinais de
cansaço, em meio a crises políticas, econômicas e morais.
Mas, além disso, há a crise de mobilidade, de abastecimen16
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to, de qualidade de vida e, também, dos recorrentes colap-
Pelo contrário: o mundo do século XXI será crescente-
sos impingidos por inundações, furacões e outros desastres
mente (e espantosamente) urbano. Desde 2008, mais da
desnaturais induzidos pelo aquecimento global. As cidades
metade da população humana passou a viver em cidades.
se colocam como o grande cenário do drama humano no
De um total de 7 bilhões de habitantes, cerca de 3,6 bilhões
século XXI, assim como foram as nações que emergiram
são urbanos. A tendência até 2050 é a de que a urbanização
nos séculos XVIII e XIX. Mas conseguimos de fato explicar
mundial atinja 70% da população que, por volta daquele
o funcionamento desses que são o mais complexo artefato já
ano, será de 9 bilhões de pessoas. Então, nos próximos 35
construído pela humanidade?
anos enquanto a população mundial aumentará cerca de
Embora as cidades venham sendo estudadas em diversos campos do conhecimento, como os de economia,
urbanismo, geografia, sociologia, direito, ecologia, geologia etc., estamos ainda longe de compreendê-las mais
2 bilhões de pessoas, a população urbana vai crescer 75%,
ou seja, ela será de 6,3 bilhões. Temos muita dificuldade de
reconhecer essa grande inércia do crescimento urbano que
está em curso no século XXI.
profundamente. A vida urbana é tão agitada e capta de
Em parte, porque durante todo o século XX as cidades
tal maneira toda a atenção dos indivíduos que apenas
buscaram ser sinônimo de grandeza física e populacional. O
nos damos conta de suas disfunções epidérmicas, como
objetivo das cidades pequenas era serem médias, e a meta
ruas congestionadas, excesso de poluentes atmosféricos,
destas residia em tornarem-se grandes. Por sua vez, as gran-
aumento da violência, eventual desabastecimento e falta
des planejavam transformar-se, o mais rápido possível, em
de luz e transporte. Em que pese que às vezes as condi-
metrópoles, as quais, por seu turno, disputavam o título de
ções de vida sejam muito difíceis nas cidades, com ele-
“a maior do mundo”. No início do século XIX, Londres
vada deterioração da qualidade de vida e custos cada vez
tornou-se a primeira cidade a atingir a cifra de um milhão
mais elevados, mesmo assim, as pessoas não desistem de
de habitantes (Girardet, 1992). Por sua vez, Nova York foi
morar nelas.
a primeira cidade a alcançar 10 milhões de habitantes, no
18
19
período entre as guerras mundiais. Além do tamanho, ex-
de 60 megacidades. Em 2007, a quantidade de megaci-
presso em termos de quantidade populacional, as cidades
dades já se encontrava na casa de 86 (Brinkhoff, 2007),
também disputam a altura e o gigantismo de edificações,
das quais, 19 com mais de 10 milhões de habitantes, seis
extensão de avenidas e túneis, entre outros. A evolução do
com mais de 20 milhões, e uma com mais de 30 milhões
crescimento desses índices urbanos é usualmente referida
de habitantes. Essa tendência aumentará ainda mais nas
como “progresso”, noção que perdura ainda hoje.
próximas décadas. As projeções indicam que, em 2025,
deverão existir cerca de 140 megacidades (ONU, 1985;
Dogan & Kasarda, 1988c), as quais concentrarão uma
Terra urbis: a era das megacidades e das megalópoles
população de 1.255 milhões de habitantes (ver Tabela 1).
Essa lógica de crescimento urbano, que foi inflacionáTabela 1 – Quantidade de cidades por categoria de
tamanho populacional, de 1950 a 1985, e projeções
até 2025 (Fonte: ONU, 2010; Menegat, 2008)
rio durante os séculos XIX, em regiões mais desenvolvidas, e XX, nas regiões menos desenvolvidas, levou ao aumento da população mundial urbana (ONU, 2007) e ao
gigantismo desmesurado das cidades (Bell & Tyrwhitt,
1972; Dogan & Kasarda, 1988a, 1988b; Mumford,
1998; Hardoy et al., 2001; Montgomery et al., 2004).
Em 1950, havia 13 cidades com mais de 4 milhões de habitantes, sendo que as três primeiras – Nova York, Londres e Xangai – já abrigavam mais de 10 milhões. Como
pode ser acompanhado na tabela 1, no ano de 1985, o
número de megacidades pulou para 35 e, nos 15 anos
ANO
NÚMERO DE CIDADES POR CATEGORIA
> 4*
2-4*
1-2* TOTAL
1950
1960
1970
1980
1985
1990
2000
2010
2025
*em Mh – Milhões de habitantes
seguintes, ele quase duplicou: no ano 2000, havia mais
20
131748 78
192669114
233998160
3551136222
4256158256
4872178298
66 106 236 408
90 139 282 511
135182322639
21
Se as megacidades já são grandes por si sós, elas, por
Por fim, a terceira megalópole localiza-se no Japão, sendo
seu turno, tendem a aglomerar-se, formando imensas
formada pela corrente de aglomerados urbanos que vai de
cadeias urbanas, que são denominadas de megalópoles
Saitama-Tóquio-Yokohama, ao norte, alongando-se para o
(Gottman, 1961; Doxiadis, 1967, 1974, Bell & Tyrwhitt,
sul até Osaka-Kobe, em uma extensão com cerca de 430km
1972). As três maiores cadeias urbanas do globo impres-
(Bell & Tyrwhitt, 1972, Nagashima, 1972). Além dessas
sionam pela magnitude de sua extensão geográfica e con-
cadeias gigantes, ainda existem megalópoles menores, com
centração populacional, pois cada qual está próxima de
mais de 20 milhões de habitantes, sendo elas: a corrente ur-
reunir a atordoante cifra de 100 milhões de habitantes.
A primeira megalópole situa-se na região costeira
nordeste dos Estados Unidos da América. Ela engloba
bana dos Grandes Lagos (Chicago-Detroit-Cleveland-Pittsburgh), o eixo Xangai-Nanking e o eixo Pequim-Tientsin
(Bell & Tyrwhitt, 1972).
o conjunto de cidades que vai de Boston até a capital
Washington, incluindo aí Providence, Hartford, Nova
York, Filadélfia e Baltimore. Essa cadeia urbana possui
uma extensão de 800km e largura média de 100km. A
segunda cadeia urbana pode ser identificada na Europa
pelo eixo que se inicia em Berlim, passa por Dortmund-
Em busca de uma geometria urbana: a equação de
Geoffrey West
As cidades não crescem apenas do ponto de vista populacional, que sempre foi, juntamente com a área, o indicador mais imediato utilizado para dimensionar os centros
-Duisburg-Düsseldorf, Amsterdã, Bruxelas, bifurcando-
urbanos. À medida que crescem, elas também aumentam
-se, ao norte, até Londres, que está conectada ao conti-
sua complexidade, o impacto que exercem no ambiente,
nente por meio do Eurotúnel sob o Canal da Mancha
a violência, as oportunidades de trabalho, a inovação, o
(50,5km) e, ao sul, até Paris (Bell & Tyrwhitt, 1972).
mosaico cultural etc. Há fatores que podemos destacar
Essa cadeia urbana possui cerca de mil quilômetros de
como sendo positivos, e outros, negativos. Se o conjunto
extensão e assenta-se sobre as terras baixas da costa atlân-
de fatores positivos for maior que os negativos, as cidades
tica da Europa setentrional.
grandes podem ser interessantes, mas, do contrário, po22
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dem constituir-se em ambientes de grande deterioração.
ção não é simples e tem sido objeto de investigação já faz
Haveria alguma interdependência entre os fatores positi-
algum tempo, porém não sem dificuldades.
vos, negativos e a escala das cidades? O que a cidade perde
com o crescimento, e o que ela pode ganhar?
Contudo, desde o final da década de 1990, o pesquisador Geoffrey West e seus colaboradores propuseram
Muito tempo atrás, Thomas Malthus supôs de forma
uma teoria revolucionária para dar conta disso (West et
pioneira que o aumento continuado da população levaria
al., 1997; West et al., 2001; Bettencourt, 2013). Eles
a um inevitável problema de abastecimento alimentar.
partiram do pressuposto de que a característica mais de-
Isso porque ele prognosticou que, enquanto a população
terminante das cidades é o tamanho, sendo secundários a
crescia com taxas geométricas, a produção de alimen-
história, a geografia e o padrão urbano.
tos aumentava apenas com taxas aritméticas. Embora a
equação malthusiana não tenha se comprovado nas décadas subsequentes, devido à produção de alimentos em
grande escala, ela serviu de paradigma para dimensionar
variáveis interdependentes, como crescimento humano e
necessidade de alimentos.
Eles elaboraram uma sofisticada equação geral para dimensionar as múltiplas variáveis interdependentes ao tamanho das cidades. Para tanto, separaram os parâmetros que
sistematicamente variam com o tamanho da população,
como: a) espaço per capita, que diminui com o adensamento urbano e uso mais intenso da infraestrutura; b) ritmo das
As cidades também poderiam ter equações semelhan-
atividades socioeconômicas, que se acelera, aumentando a
tes, ou seja, poder-se-ia destacar um conjunto de parâme-
produtividade; c) diversificação das atividades sociais e eco-
tros que são interdependentes da quantidade de habitantes.
nômicas, que aumenta, tornando-as mais interdependentes
Mas, também, de outros fatores, um pouco mais complexos
e levando a novas formas de especialização econômica e di-
que uma balança de apenas dois pratos. Seria preciso separar
versificação cultural. Assim, o trabalho de West e colabora-
variáveis que dependem do padrão morfológico urbano, da
dores conseguiu identificar um fator de escala nas cidades
densidade de edificação, da mobilidade, da infraestrutura,
que torna regular as proporções entre certos parâmetros.
da dinâmica econômica, da mistura cultural etc. Essa equa-
Esse fator é de 15%, ou seja, se uma cidade dobra de tama-
24
25
nho, ela requer apenas 85% a mais de infraestrutura, haven-
REFERÊNCIAS
do aí uma “economia” de 15%. Tais fatores de escala podem
BELL, G.; TYRWHITT, J. 1972. The
example of the Tokaido Megalopolis. In:
BELL, G.; TYRWHITT, J. 1972. Human
identity in the urban environment. Penguin
Books, Middlesex, p. 533-540.
ser observados também em formigueiros e colmeias.
Segundo a geometria de West (West e Bettencourt,
2010), quanto maior a cidade, maior a média de cidadãos
que produzem e consomem, bem como a de bens, recursos
e ideias. Porém, há um lado obscuro, que são as métricas
negativas, ou seja, o crime, o congestionamento das ruas, e a
incidência de doenças aumentam também de acordo com a
regra de 15%. Assim, pode-se predizer os fatores positivos e
negativos que acompanham o crescimento urbano das cidades. De certa forma, desconsiderando-se a aparência estética
das cidades, elas são versões escalares uma das outras. Por
exemplo, Nova York e Tóquio são versões escalares de São
Francisco na Califórnia e Nagoya no Japão.
A grande aposta do professor Geoffrey West é que
essa extraordinária regularidade das cidades abre uma
janela sobre o mecanismo, a dinâmica e a estrutura subjacentes a todas as cidades (West e Bettencourt, 2010).
Com isso, talvez possamos melhorar nossas previsões de
mudar as cidades para que contribuam mais com o desenvolvimento sustentável, desperdicem menos materiais
e se tornem ambientes mais solidários e humanistas.
26
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ANOTAÇÕES
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