Os estudos religiosos na China e a sua relação com as
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Os estudos religiosos na China e a sua relação com as
Os estudos religiosos na China e a sua relação com as circunstâncias políticas e religiosas He Guanghu Resumo O objetivo desse artigo é analisar como e quando surgiram os estudos religiosos na China e quais são suas etapas de desenvolvimento. Uma das características mais importante desses estudos foi o papel relevante que os estudiosos chineses, autores desses estudos, tiveram dentro dos círculos religiosos. Assim como os estudiosos cristãos ocidentais contribuíram para a formação do estudo científico da religião, muitos estudiosos cristãos chineses e estudiosos pertencentes a outras religiões contribuíram enormemente para a ascensão da disciplina na China, honesta e positivamente reagindo às críticas a suas religiões e refletindo sobre elas. Palavras-chave: Estudos Religiosos. China. Cultura 1 Uma retrospectiva Para que se possam situar historicamente as questões aqui tratadas, segue uma retrospectiva. 1.1 A tendência do pensamento Iluminista, a propagação da cultura ocidental e o surgimento dos estudos religiosos Até a virada dos séculos 19 e 20, na China não se usava a palavra zong-jiao, religião, embora houvesse algum conceito similar, como podemos ver na expressão comum san-jiao, três religiões ou três ensinamen- Versão em inglês disponível em <http://teo.au.dk/fileadmin/www.teo.au.dk/ samtidsreligion/introduktion/publikationer/as-oc5.pdf>. Tradução de Anna Carletti, com revisão de Maria Luci de Mesquita Prestes. (Nota do Ed.). Nasceu em Guizhou, China. Doutor em Estudos Religiosos pela Academia Chinesa de Ciências Sociais, Pequim. Pesquisador do Instituto das Religiões no Mundo (IWR) da mesma Academia. Professor da Renmin University of China. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 117 tos,1 que denota o confucionismo, o budismo e o taoísmo. O que era similar aos estudos religiosos na China antiga ou pré-moderna pode ser classificado em três tipos: a) interpretações e comentários dos ensinos ou das teorias clássicas de uma das três religiões; b) críticas ou ataques em relação a algumas religiões2 na posição de uma das três; c) estudo comparativo ou sintético das três em comparação com uma delas. Como todos os três tipos indicados não mostram nenhum sinal de metodologia descritiva nem interesse na abordagem sem avaliação, não podem ser calculados como estudos religiosos no sentido moderno da palavra, a partir de Max Muller (1832-1930). Segue disso que os estudos religiosos na China não surgiram antes da virada dos séculos 19 e 20. A invasão ocidental da segunda metade do século XIX trouxe à China duas mudanças: o riacho do pensamento iluminista do qual nasceram pensadores como Huang Zongxi (1610-1695) e Gu Yanwu (1613-1682), drenado de vez em quando, transformou-se, de repente, em um grande rio. A porta lateral rumo aos conhecimentos ocidentais que foi aberta pelos jesuítas, como Matteo Ricci (1552-1610) e J.A.Schall von Bell (1591-1666) e era fechada de vez em quando, transformou-se surpreendentemente em um portal principal barulhento. A tendência do pensamento iluminista reforçado por suas contrapartes ocidentais e pela ciência moderna ajudaram a gerar, junto a intelectuais e jovens instruídos, algumas atitudes céticas e críticas a todas as religiões tradicionais. Assim, nos primeiros anos do século 20, a maioria dos discursos sobre religião entre estudiosos e intelectuais chineses assumiram humores ao menos racionais ou objetivos, se não radicais ou de repúdio.3 Embora tal humor pudesse ser responsável pelo prolongamento da confusão entre religião e superstição, ele tornou possível o surgimento dos estudos religiosos, que começaram a livrar-se da posição apologética do confucionismo, do budismo ou do taoísmo. Isso ajudou a formar uma característica da recém-nascida disciplina, isto é, um motivo crítico, ao mesmo tempo em que deu à disciplina seu pressuposto – uma atitude racional. 1 Alguns dos modernos estudiosos chineses entendem isso como “três religiões”, embora a maioria deles afirme que isso significa “três ensinamentos” ou “três tradições”, conquanto o confucionismo não seja uma religião, mas eu acho que o precedente é muito melhor fundado que o último (cf. He Guanghu, A thesis of the reformation of the Chinese Religions, Dong Fang, 4, 1995). 2 Budismo (na Dinastia Tang) e Cristianismo (na dinastia Qing) eram típicos objetos de crítica. 3 Ver famosos trabalhos, como Ge Ming Jun (A Armada Revolucionaria), de Zhou Rong; Wu Shen Lun (Sobre o Ateísmo), de Zang Bingling; She Hui Gai Liang Xuan Yan (Declaração sobre Reforma Social), de Cai Yuanpei, etc. 118 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> A propagação dos conhecimentos ocidentais, ampliada pela introdução das humanidades e das ciências sociais, trouxe aos estudiosos algumas ideias, teorias e metodologias inteiramente novas. Consequentemente, desde o começo do século 20, Liang Qichao, Hu Shi, Chen Yinque, Chen Yuan e outros estudiosos proeminentes puderam estudar religiões em um nível acima do horizonte tradicional, aplicando alguns métodos modernos dos conhecimentos ocidentais a seus estudos. Entretanto, devido à influência da tradição histórica e textual da pesquisa, os estudos religiosos no primeiro estágio tiveram uma segunda característica, isto é, as realizações principais centradas no campo da história da religião.4 A terceira característica da recém-nascida disciplina de estudos religiosos na China foi o papel importante que os estudiosos tiveram dentro dos círculos religiosos. Assim como os estudiosos cristãos ocidentais contribuíram muito para a formação do estudo científico da religião, muitos estudiosos cristãos chineses e estudiosos pertencentes a outras religiões contribuíram enormemente para a ascensão da disciplina na China, honesta e positivamente reagindo contra as críticas a suas religiões e refletindo sobre elas. De fato, alguns estudiosos religiosos instruídos, incluindo pessoas da igreja e missionários, foram, eles mesmos, os principais introdutores, na China, dos conhecimentos ocidentais e das ideias, teorias e metodologias modernas.5 Na virada do século XIX e até a tomada do poder pelos comunistas, em 1949, os estudos religiosos na China seguiram um caminho bastante similar a suas contrapartes ocidentais no primeiro estágio do desenvolvimento, com muitos estudiosos de talento e trabalhos importantes, mesmo em uma situação difícil de revoluções e guerras. 4 Podemos mencionar, entre outros, Fo Xue Yan Jiu Shi Ba Pian (Dezoito Ensaios sobre o estudo do Budismo), de Liang Qichao; Chan Xue Gu Shi Kao (Uma crítica à primeira parte da história de Zen), de Hu Shi; os estudos de Chen Yinque sobre as escrituras budistas e taoistas, e os estudos de Chen Yuan sobre as histórias do judaísmo, do islamismo, do budismo e do catolicismo na China antiga. 5 Yang Wenhui, Yue Xia, Di Xian, Master Tai Xu, Han Qingjing, Ouyang Jian, Da Yong e outros budistas estabeleceram modernas instituições acadêmicas para o estudo do budismo. Wu Leichuan, Xu Baoqian, Fan Zimei, Liu Tingfang, Cheng Jingyi, Zhao Zicheng e outros estudiosos cristãos completaram um grande número de trabalhos e de estudos comparativos ente o confucionismo e o cristianismo. Sociedades missionárias publicaram numerosos livros e jornais promovendo estudos religiosos e também formando muitos estudiosos nessa área. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 119 1.2 As “campanhas políticas”, a “Revolução cultural” e a queda dos estudos religiosos Após a fundação da República Popular da China, em 1949, todas as atividades acadêmicas, assim como todas as atividades culturais e sociais, foram postas sob a liderança do Marxismo-Leninismo e do Maoismo, e todas as instituições acadêmicas foram transformadas em partes da empresa do Partido Comunista Chinês (PCC). Cada ramo da literatura, da arte e da cultura, e das disciplinas humanísticas, das ciências sociais e da academia foram exortadas a “terem partidarismo”. Assim, os estudos religiosos foram transformados em instrumentos da política do Partido. Dos anos 1950 aos anos 1960, o PCC teve na Frente Unida pessoas religiosas que, de um lado, patrocinavam a sua liderança, e, de outro lado, incitavam a propaganda ateísta e confinavam os atos e expressões religiosos a locais religiosos ou igrejas. Por meio de toda uma série de “campanhas políticas”, que vieram uma após outra, as críticas ideológicas a todas as ideias que não eram marxistas-leninistas desenvolveram uma abolição institucional de todos os ensinamentos e de todas as pesquisas em muitas disciplinas que foram rejeitadas como “pseudociências burguesas”, tais como a sociologia e a demografia. Enquanto as campanhas degradavam o material e a situação social e, ao mesmo tempo, as condições da vida diárias das pessoas se tornavam preocupantes, tornou-se extremamente difícil, e até mesmo impossível, em alguns casos, continuar a pesquisar em privacidade. Tal política conduziu ao desaparecimento de todos os estudos sérios sobre religião realizados por acadêmicos em estudos religiosos e de outros cursos nas universidades. Nesse tempo, os artigos e as publicações no campo eram muito poucos e repletos de severos ataques e de comentários escarnecedores em relação a todas as religiões, considerando-as como superstições e ideias contrarrevolucionárias. Os estudos religiosos, por um longo período, não existiram mais na China, a não ser por algumas exceções.6 Em 1963, o presidente Mao convocou Ren Jiyu e elogiou seus artigos com estudo marxista do budismo. Mao disse, durante o colóquio com Ren, que uma pessoa não pode escrever bem sobre histórias de filosofia, de literatura e do mundo sem uma “crítica da teologia”. 6 A partir do último período dos anos 1950, alguns estudiosos budistas se organizaram para contribuir para uma Enciclopédia Budista editada em Sri Lanka (mas os artigos por eles escritos foram publicados na China somente nos anos 1980, com o título Budismo Chinês). Algumas seções da História do Pensamento Chinês, de Hou Wailu, e diversos artigos de Ren Jiyu criticaram o pensamento budista e sua base social em termos do materialismo histórico marxista. 120 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> Devido a essas palavras, a primeira instituição para o estudo da religião foi fundada: o Instituto das Religiões Mundiais, que se tornou, muitos anos mais tarde, o maior centro para estudos religiosos. Mas nos anos 1960 e 1970, a palavra “crítica”, na instrução de Mao, devia ser compreendida somente nos termos da negação absoluta, do ataque severo, da supressão completa e do total esclarecimento. Entretanto, não mais de dois anos depois, mesmo a “crítica” tornou-se desnecessária e impossível para instituições acadêmicas, porque, com o estabelecimento da “Revolução Cultural” (1966-1976), todos os tipos de sinais de qualquer religião tinham sido varridos da sociedade chinesa e das instituições acadêmicas, e todas as pessoas dessas instituições tinham sido enviadas às regiões rurais para fazerem trabalho braçal. Durante essa “Revolução”, lançada pela autoridade superior, tentaram-se destruir todas as formas de cultura tradicional, incluindo todas as religiões, e todas as ordens da vida social foram perturbadas. Assim, a queda dos estudos religiosos foi como a queda de uma folha de uma árvore tremente no vento do inverno. 2 A reforma, a abertura e o retorno dos estudos religiosos A cultura destrutiva da “Revolução Cultural” teve fim com a morte de Mao Zedong, em 1976. E, depois de uma luta de dois anos contra o apego às velhas maneiras do sucessor ínterino de Mao, Hua Guofeng, a política nova de “reforma e abertura” de Deng Xiaoping foi estabelecida no fim de 1978. Isso significou realmente uma primavera que trouxe o retorno da vida social à China. A nova política levou à retirada da proibição das atividades religiosas e da perseguição aos fiéis.7 Assim, a década seguinte testemunhou um rápido retorno das religiões. Devido à longa e forçada supressão, ao sério caos dos valores, aos distúrbios passados, à crise espiritual e à desilusão com a Revolução, todas as religiões, especialmente o catolicismo, o protestantismo e o budismo, cresceram de maneira rápida, fato que surpreendeu o mundo inteiro. Tal crescimento e seus efeitos não podiam escapar da atenção dos intelectuais, assim como de alguns oficiais do governo. Muitos intelectuais estavam sendo submetidos a uma reorientação de valores, e foi natural para algum deles voltar-se para o estudo das religiões que, supunham, podiam ter algo que viesse ao encontro das necessidades espirituais das pessoas.8 7 Naturalmente, a restauração das organizações sancionadas pelo governo de budistas, taoistas, muçulmanos, católicos e protestantes significava, ao mesmo tempo, que a liberação era somente para os seguidores das cinco religiões que estavam cooperando com o governo. 8 Alguns deles, depois de poucos anos, se tornaram pesquisadores profissionais nessa área e constituíram a grande parte do circulo acadêmico de estudos religiosos na China. Ver a seção sobre “Religiões Culturais” neste ensaio. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 121 Ao mesmo tempo, com o gradual relaxamento e abertura das condições para a pesquisa acadêmica, os estudiosos profissionais das religiões começaram a confrontar os próprios objetos e a “ter a coragem de usar sua razão” (sapere aude) para pensar e julgar. Tal atitude ajudou a trazer uma certa liberação de pensamento. Muitos estudiosos consideraram as religiões de acordo com os fatos, mais do que com respeito à rígida e dogmática interpretação da teoria marxista da religião. Tudo isso resultou no retorno (1978-metade dos anos 1980) e no desenvolvimento (metade dos anos 1980 em diante) dos estudos religiosos com algumas condições subjetivas. Em 1978, com a restauração das faculdades, das universidades e de outras instituições acadêmicas, o Instituto de Religiões Mundiais, que foi posto sob a recentemente criada Academia Chinesa das Ciências Sociais (ACSS), começou a progredir, com seus projetos de pesquisa, no 14º ano depois da sua fundação.9 Mais de vinte formados de várias especialidades ingressaram na Escola Superior da ACCS e no Instituto de Estudos Religiosos da Universidade de Nanquim, especializando-se nos estudos das religiões, incluindo o cristianismo, o budismo, o islamismo, o taoísmo, o confucionismo e o ateísmo. Aquela foi a primeira vez que tal formação tinha aparecido desde 1949. Em 1979, a primeira associação acadêmica neste campo, a Associação Chinesa de Estudos Religiosos foi fundada em Kunming, oferecendo algumas redes acadêmicas entre os pesquisadores profissionais e diletantes em várias instituições e universidades por todo o país. E, além disso, os dois institutos em Pequim e Nanquim fundaram respectivamente três jornais ou revistas ao mesmo tempo – Shijie Zongjiao Yanjiu, Shijie Zongjiao Ziliao e Zongjiao.10 Todos os três eventos – a formação dos pesquisadores, a organização de associações acadêmicas e a constituição de jornais – podem ser vistos como marcas óbvias do retorno de estudos religiosos na China. Eles realizaram um verdadeiro exórdio e deram um bom exemplo para o desenvolvimento subsequente. Embora as inscrições dos formados, as atividades da associação e os aumentos do jornal fossem comparativamente poucos, nos anos seguintes, devido a várias causas externas, nós testemunhamos o estabelecimento de cursos de estudos religiosos no departamento da filosofia na Universidade de Pequim com a ajuda do Instituto de Religiões Mundiais, a fundação de mais duas instituições acadêmicas e de seus jornais em Xangai e em Chengdu – tudo isso antes da metade dos anos 1980. 9 Os maiores resultados do projeto foram a publicação de Um dicionário das Religiões (Shanghai, 1981) bem como o início da compilação da História do Budismo Chinês, em diversos volumes. 10 Estudos em religiões mundiais, Informação sobre religiões mundiais e Religião. 122 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 3 Do debate sobre “a religião como ópio” à ideia da “religião como cultura” Como mencionado antes, o retorno e o desenvolvimento de estudos religiosos requereram condições subjetivas, isto é, a liberação do pensamento, assim como condições objetivas, isto é, uma sociedade reformada e aberta. Se esta última deveria ser formada decisivamente pelos políticos no poder, a anterior devia ser realizada basicamente pelos estudiosos que trabalhavam nesse campo. Havia dois marcos no curso da liberação do pensamento para os estudantes das religiões: o debate sobre “religião como ópio” e a idéia da “religião como cultura”. No início dos anos 1980, o obstáculo primário no caminho dos estudos religiosos era a atitude geral e absolutamente negativa para o que versasse sobre religião, a qual veio da interpretação unívoca e dogmática da famosa observação de Karl Marx que teve uma indiscutível posição de liderança: “a religião é o ópio do povo”.11 Incentivados pelo apelo de Deng Xiaoping para uma compreensão “completa e total” do marxismo, alguns estudiosos importantes (principalmente de Nanquim e de Xangai, bem como membros da Igreja protestante)12 propuseram que a observação não poderia ser compreendida como o motivo principal da ideia de Marx sobre religião, nem como um julgamento absolutamente negativo. Considerar a religião somente como “ópio” ou droga ilegal levaria a considerar os crentes como “devoradores de ópio” ou viciados em drogas e a julgar líderes religiosos como traficantes de droga, o que justificaria o fato de destruir todas as religiões durante os vinte anos passados. Mas algumas outras observações da época em que o ensaio foi escrito ou até mesmo constantes nele próprio, mostraram que Marx teve simpatia para com os povos religiosos. E a metáfora do “ópio” passou a ser vista como algo mais do que apenas com um sentido negativo. Muitos religiosos usaram a metáfora do ópio, antes de Marx, na Europa, onde as pessoas o conheciam como eficaz antinevrálgico, enquanto os chineses, que foram lembrados repetidamente da desonra da “guerra do ópio” anglo-chinesa, o conheciam somente como uma notória droga ilegal. Alguns outros importantes estudiosos (principalmente do Instituto de Religiões Mundiais)13 sustentavam que a ideia de religião como ópio poderia ser vista como uma pedra angular da teoria marxista da religião. Certamente, o ópio é um antinevrálgico eficaz, mas assim o é porque tem alguma função anestésica ou narcótica. 11 Crítica da Philosophy of Right, de Hegel: Introdução. 12 Cf. o artigo de Zheng Jianye, Zhao Fusan e outros em Zongjiao, publicado, na época, em Nanquim. 13 Cf. o artigo de Lu Daji, Ren Jiyu e outros em Shijie Zongjiao Yanjiu, publicado, na época, em Pequim. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 123 Essa metáfora atribuiu à religião um papel reacionário em relação às pessoas oprimidas da luta de classes. Naturalmente, essa função tem também algo positivo quando relacionada a pessoas que vivem em uma sociedade que produz sofrimento. E o ópio espiritual é diferente do ópio material, não devendo ser destruído como o último. A atitude extremamente “esquerdista” do passado, no que se refere às religiões, teve causas complexas, e não deve ser compreendida somente como resultado da observação de Marx. A “guerra do ópio” norte-sul (como muitos chamaram o debate acerca da metáfora do ópio) trouxe uma influência muito positiva sobre os estudos religiosos na metade dos anos 1980. Embora os dois grupos de estudiosos tivessem ênfases diferentes ao interpretarem a observação de Marx, concordaram em opor-se à interpretação “da extrema esquerda” feita no passado e em defender suas posições, mantendo sua opinião e podendo discuti-la em um status de igualdade. Após o debate, mais estudiosos abandonaram a interpretação dogmática da teoria marxista e assumiram uma atitude mais aberta no que tange às religiões, mantendo um horizonte mais amplo em sua pesquisa. Da metade dos anos 1980 em adiante, em parte como resultado da atitude aberta e em parte como resultado da influência dos atuais estudos culturais em círculos intelectuais, uma ideia relativamente nova apareceu e se difundiu rapidamente nos estudos religiosos: a ideia de “religião como cultura”, expressa precisamente em proposições como as que seguem: “A religião é um antigo e universal fenômeno social e cultural na história da humanidade”,14 “Os fenômenos religiosos são estreitamente coligados aos fenômenos culturais da humanidade”.15 As civilizações no mundo podem ser divididas em três níveis: o das produções materiais, o das organizações institucionais e o dos sistemas ideológicos. O primeiro nível interage com a religião; o segundo interage com a religião e a ela se sobrepõe; e o terceiro interage com a religião, a ela se sobrepõe e nela concentra-se.16 Mas tudo isso foi frequentemente simplificado como “a religião é uma cultura” ou “a religião de uma nação é um índice importante da cultura da nação”. Embora a ideia não fosse realmente uma invenção nova, e sua expressão simplificada pudesse ter sido uma proposição teórica desconcertante e enganadora, exerceu um papel muito importante no contexto político e social da China no último período dos anos 1980, particularmente no que se refere a ampliar as perspectivas e proporcionar novos espaços para os estudos religiosos, porque abriu uma passagem distante do pensamento estereotipado do passado, que concebia a religião somente em termos de ideologia e de política. Como sempre, mais pessoas aceitaram a ideia de “religião como cultura”17, diminuindo a concepção de “religião como ópio”. 14 DAJI, Lu (Ed.). A General Theory of religious Studies: Introduction. Beijing: [s.n.], 1989. 15 LITIAN, Fang. Chinese Buddhism and the Traditional Culture: Introduction. Beijing: [s.n.], 1989. 16 GUANGHU, He. Preface. In: The World and Religion Series. Chengdu: [s.n.], 1988. Zhao Puchu, Presidente da Associação Budista da China, e outros líderes religiosos influentes contribuíram muito para difundir essa ideia. 17 124 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> Com esta nova ideia, muitos estudiosos importantes, assim como alguns líderes religiosos, sublinharam a relevância dos estudos religiosos na compreensão dos fenômenos culturais. Em consequência disso, a posição dessa disciplina foi promovida, obviamente, em círculos acadêmicos e no governo. Tal ideia também ampliou muito o horizonte de estudo. Desde que se compreendeu que a cultura no sentido amplo incluía não somente a literatura, a arte, a música, a filosofia e a ciência, mas também a moral, a política, a economia a lei, etc., considerando-se ainda inúmeros níveis, o estudo das religiões como cultura e o estudo dos relacionamentos e das reações entre religião e cultura se tornou imensamente mais rico. Então, a partir dos últimos anos da década de 1980 até os anos 1990, apareceu uma grande fluxo de estudos acadêmicos, de traduções e de livros populares abordando várias religiões e suas relações com várias formas de cultura.18 Exemplos disso são jornais e antologias que surgiram, como Christian Culture Review, The Culture of Buddhism and Religion and Culture (Revista Cultural Cristã, A Cultura do Budismo e Religião e Cultura), e até o antigo periódico publicado pelo Instituto de Religiões Mundiais, que mudou seu título de Material das Religiões Mundiais para Culturas Religiosas no Mundo. Assim, muitos estudiosos concordariam com a observação de Lu Daji: Olhando para atrás, para o percurso dos estudos religiosos desde 1949, podemos dizer que nenhuma outra teoria ou ideia absorveu tanto o pensamento dos estudiosos da religião como a que a concebe como “política reacionária”,19 e nenhuma outra teoria ou ideia teve um papel libertador tão grande quanto a ideia da “religião como cultura”. Naturalmente, alguns estudiosos discordaram de expressões como “a religião é uma cultura”, indicando que uma religião constitui o espírito de uma cultura na perspectiva do invisível,20 não obstante, muitos reconhecem o importantíssimo papel da proposta e da sua propagação para melhorar o desenvolvimento dos estudos religiosos na China contemporânea. 4 O crescimento dos estudos religiosos e das “religiões culturais” A partir do último período dos anos 1980 até a década de 1990, quase dez institutos para o estudo da religião foram constituídos por Academias provinciais de Ciências Sociais em Xinjiang, Gansu, Ningxia, Yunnan, 18 Entre eles, para mencionar alguns, estão Encyclopedia of Christian Culture (K.H.Ting and H. Yang, Ed.), Chinese Buddhism and Traditional Culture (L. Fang), Taoism and Chinese. 19 É uma conclusão comum à ideia de “religião como ópio”. 20 GUANGHU, He. Religion and Culture: Spirit and Expression. Beijing: CASS Report, 1997. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 125 Shanxi, Tianjin, Qinghai, na Mongólia interna e no Tibet. Mais de dez institutos ou centros de estudos religiosos apareceram no campus de várias universidades, e duas delas (a Universidade de Pequim e a Universidade de Wuhan) abriram departamentos de estudos religiosos. Até o Departamento do Estado para Questões Religiosas e a Escola Superior do Partido do Comitê Central do PCC constituíram algumas instituições para o estudo da religião sob sua liderança direta. Além disso, algumas associações religiosas autorizadas pelo governo começaram também a prestar atenção e a distribuir alguns recursos ao estudo, assim como à instrução de seus próprios profissionais. Com isso, apareceram também várias publicações como a Cultura (Z. Ge), série popular de Cultura Religiosa (editada pelo Instituto das Religiões Mundiais); Séries de Cultura Religiosa (Wang Zhiyuan, ed.) e Séries do Mundo e da Religião (He Guanghu, ed.), incluindo muitas traduções chinesas de livros ocidentais sobre os relacionamentos da religião em relação à literatura, à política, à ciência, à filosofia, ao feminismo e a outros ramos de estudos religiosos. O número de pesquisadores profissionais aumentou muito,21 e, conseqüentemente, formaram-se muitos mais estudantes, embora houvesse inscrições oficiais neste campo somente em três departamentos de estudos e inscrições de graduação somente na universidade de Pequim. Durante esse período, os estudiosos chineses estenderam sua pesquisa sobre a história do budismo e a do taoísmo a territórios estrangeiros e conseguiram numerosos resultados. Assim, a pesquisa foi conduzida nas áreas da história e do pensamento de diversas vertentes: cristianismo, budismo, islamismo, taoísmo, confucionismo como religião, budismo tibetano, crenças primitivas, crenças populares na China, hinduísmo, judaísmo, xintoísmo, zoroastrianismo, maniqueísmo, sikhismo, shamanismo e outras novas religiões. Em estudos da filosofia, da antropologia e da sociologia da religião, assim como em estudos multidisciplinares sobre o relacionamento da religião com as várias formas de cultura, podemos ver numerosos e importantes artigos, ensaios, comunicações, relatórios, traduções, tratados e monografias. De 1978 a 1997, o Instituto de Religiões Mundiais produziu sozinho quase 1.000 artigos acadêmicos, 180 monografias, 70 traduções de livros, 15 dicionários, 132 introduções de periódicos, ao lado de numerosos textos populares, relatórios de investigação, e compilações.22 De 1949 a 1966, quase todas as publicações em estudos religiosos foram sobre o budismo, mas o número total não era mais do que os 1125 do ano de 1992. De 1996 a 1998, havia aproximadamente 300 livros, revistas ou antologias publicadas a cada ano na China. Além disso, esse período testemunhou também a publicação de uma série de enciclopédias, dicionários, textos populares, e até 21 Atualmente existem cerca de 500 pesquisadores. 22 Para a rapidez do crescimento dos estudos durante o período, podemos valer-nos das seguintes estatísticas incompletas: anos: 1985-1991-1996 – número de artigos publicados respectivamente naqueles anos: 1103-2024-3000. 126 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> mesmo desenhos que ofereceram aos leitores chineses um conhecimento religioso que era muito mais objetivo e equilibrado do que antes. Naturalmente, todas essas publicações incluíram muitos trabalhos impetuosos e crus, e, às vezes, autores estavam copiando de outros. Não obstante isso, todos os trabalhos e as realizações no geral demonstraram junto ao mundo que os acadêmicos chineses tinham progredido, de um ponto de vista unilateral e antagonista, para uma atitude relativamente objetiva e equilibrada quanto à religião. Naturalmente, há alguns estudiosos que mantêm ainda algumas visões negativas e hostis, enquanto outros são positivos e simpáticos. Mas, geralmente falando, a tendência do movimento é favorável. Vale a pena notar que a mudança foi, em alto grau, um resultado das trocas crescentes que estudiosos estabeleceram entre as ideias da China e as do Ocidente durante o período, por meio de visitas e conferências internacionais e traduções chinesas de trabalhos ocidentais importantes na área. Como alguns estudiosos que eram simpáticos à religião cristã, mas não eram membros de nenhuma igreja, contribuíram muito para a compreensão pública do cristianismo com seus escritos, traduzindo, editando e realizando outras atividades culturais, começaram a ser chamados de “cristãos culturais” a partir da metade dos anos 1990. E recentemente um nome similar, “budistas culturais”, começou a ser aplicado aos estudiosos que tiveram um status similar e contribuições em relação ao budismo. O aparecimento de tais nomes era um sinal impressionante do fato de que a difusão de algumas religiões não era o resultado dos clérigos e dos esforços dentro da comunidade budista (sanga) tanto quanto aquele das atividades culturais dos estudiosos. Em consequência dos esforços de tais estudiosos, naquela época apareceu algo chamado de “febre da cultura religiosa”. Entretanto, dado que a maioria dos cristãos declinaria de nomear uma pessoa que não fosse batizada como “cristão”, e que muitos budistas recusariam aplicar o título “budista” àqueles que não observam nenhum dos “cinco mandamentos” (pancasila) ou nem são vegetarianos, prefiro inventar um termo, “religiões culturais”, para descrever tal fenômeno – que é o de referir-se a muitas questões religiosas que resultam de todos os tipos de atividades culturais ou são expressas em várias modalidades culturais. No caso da China contemporânea, muito do que se desenvolveu acerca de aspectos religiosos vem a existir certamente por intermédio de atividades culturais, entre as quais lideram os estudos religiosos. 5 Conclusão: uma perspectiva Para encaminhar para o término deste texto, fazem-se necessárias as considerações expostas a seguir. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 127 5.1 Influência na sociedade A expressão “religiões culturais” pode ser usada como um resumo das influências de estudos religiosos na sociedade. Além das atividades religiosas dentro das organizações religiosas legais, os estudos acadêmicos são as únicas atividades relacionadas às religiões autorizadas pelo governo, e, desde que os estudos acadêmicos indicaram um caráter justo, honesto, e objetivo, ganharam a confiança do público. Consequentemente, os resultados de estudos nessa área tiveram e terão uma influência notável na sociedade. Mais e mais estudantes, professores, jornalistas, oficiais, escritores e outras pessoas comuns deixaram por trás os preconceitos contra as religiões, e têm – e terão – uma relativamente justa e até simpática compreensão da religião. Eu digo que “terão”, pois a influência maior não é por meio de conferências, mas de livros. Muitos livros foram reeditados diversas vezes e têm ainda boas perspectivas para outras reedições.23 As influências das crescentes publicações podem ser vistas em várias áreas da vida social. Mesmo nos meios de comunicação que estão sob a mais severa coação, tal como televisões, filmes e outras transmissões, alguns aparecimentos ocasionais e o planejamento de programas a respeito da religião sugerem que pode haver um grande iceberg de aspiração para tais projetos.24 A partir dos anos 1980, um número maior de jovens tornaram-se tão interessados em observar o Natal e enviar presentes naquela ocasião, que um visitante estrangeiro poderia pensar que se encontrava em um país cristão se visitasse um supermercado ou um centro comercial durante as festividades. Além disso, pode-se assistir a seminários e conferências a respeito da religião no campus das universidades; tudo isso fora das únicas três instituições que estão autorizadas a ter departamentos de estudos religiosos: a Universidade de Pequim, a universidade de Wuhan e a Escola Superior do ACSS. A influência desses estudos alcançou até mesmo os círculos religiosos. Como sempre, mais jovens crentes ampliam e aprofundaram suas compreensões de sua própria fé com a leitura das publicações na área. Alguns líderes religiosos apreciam altamente o trabalho dos estudiosos por sua contribuição a seus esforços em melhorar a qualidade das crenças. Em poucas palavras, dado que as organizações autorizadas pelo governo e as assim chamadas igrejas subterrâneas são bastante limitadas na difusão da sua influência, é natural e necessário que a influência religiosa 23 Cf. LEIQUAN, Wang (Ed.). Index of Religious Articles in Mainland China. Taipei: [s.n.], 1985. v. I. e 1996 Annual Survey of Religious Studies in China. Beijing: [s.n.], 1998. 24 Exemplos disso são o filme Master Hongyi, os vídeos Ten Commandments e Ben Hur, um popular programa de TV sobre templos budistas, e a transmissão de entrevistas sobre religiões e vida com quatro estudiosos, inclusive o autor do presente texto. 128 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> na sociedade deve vir, em maior parte, dos estudos religiosos e das suas realizações. E eu penso que as influências seriam, embora não imediatas nem evidentes, de grande alcance no desenvolvimento da sociedade. 5.2 Problemas no caminho Assim como o retorno e o desenvolvimento das religiões na China contemporânea podem ser considerados um milagre, também o retorno e a realização de estudos religiosos pode ser vistos dessa forma. Entretanto, em perspectiva, não podemos ignorar os muitos problemas que encontraram os estudos religiosos na China antes do limiar do novo século: a) devido aos efeitos de experiências passadas, os estudos religiosos são vistos ainda como um campo “delicado” aos olhos de muitas pessoas. Muitos estudiosos pensam que o estudo do que é antigo é mais seguro do que o estudo do que é contemporâneo, que o estudo da história é mais seguro do que aquele da teoria. Consequentemente, o desenvolvimento de estudos religiosos não é equilibrado. Há grande ênfase na história da religião e pouca nos estudos mais modernos e mais teóricos e menos ainda em estudos acerca da situação religiosa atual. Algumas disciplinas, tais como psicologia da religião e fenomenologia da religião, estão esperando ainda por um simples começo; b) a qualidade do trabalho acadêmico, como um todo, deve ser melhorada. Mesmo na história das religiões, que é o campo mais fértil, muitas publicações se contentam com ilustrações e relatos. Alguns deles são apenas copia de outros, embora haja muitas novas compreensões e descobertas em outros; c) existe uma séria falta de jovens pesquisadores. Isso acontece por causa da limitada inscrição de estudantes, devido aos sistemas de instrução nacional, e pelo pequeno número de graduados que estão dispostos a trabalhar em instituições de pesquisa, devido aos proventos bem menores que podem receber em comparação aos que receberiam por outros trabalhos. Além da dificuldade encontrada no que diz respeito ao pessoal, a sustentação financeira não é suficiente para as demandas da pesquisa, e isso, por sua vez, exacerba a falta de informação. Assim, nessa situação, as perspectivas para o ulterior crescimento de estudos religiosos são bastante pobres. Qualquer um que guarde na mente os desastres passados não pensaria que os estudos religiosos pudessem continuar a prosperar sem um esforço. A lição mais importante do século passado é que o florescimento do conhecimento, inclusive aquele de estudos religiosos, precisa de condições abertas, tolerantes e pluralistas. Similarmente, as condições fechadas, Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 129 repressivas e monolíticas conduzem necessariamente à queda e ao fim dos estudos religiosos e de todos os outros conhecimentos. Consequentemente, os estudiosos que são responsáveis pela aprendizagem devem fazer o melhor para ajudar a formar um contexto em que todos tenham o direito de publicar suas opiniões. Em uma análise final, a formação das condições das quais o conhecimento necessita, depende das ideias e das ações de todas as pessoas, incluindo os estudiosos. Neste início de século, podemos concluir que um futuro brilhante está esperando os estudos religiosos e a religião verdadeira na China, somente se os estudiosos, as pessoas religiosas e os ateus tiverem a coragem de usar sua própria razão e agir. Recebido em setembro de 2010. Aprovado em outubro de 2010. Religious Studies in China and its Relationship with the Political and Religious Circumstances Abstract The aim of this paper is to analyze how and when religious studies began in China and what are its stages of development. One of the most important characteristics of these studies was the relevant role that Chinese scholars, authors of these studies have had inside the religious circles. Just as the Western Christian scholars contributed to the formation of the scientific study of religion, many Christian scholars and Chinese scholars of other faiths have greatly contributed to the rise of the discipline in China, reacting honestly and positively to criticism of their religion and reflecting on them. Key-words: Religious studies. China. Culture. Referências DAJI, Lu (Ed.). A General Theory of religious Studies: Introduction. Beijing: [s.n.], 1989. LITIAN, Fang. Chinese Buddhism and the Traditional Culture: Introduction. Beijing: [s.n.], 1989. GUANGHU, He. Preface. In: The World and Religion Series. Chengdu: [s.n.], 1988. ______. Religion and Culture: Spirit and Expression. Beijing: CASS Report, 1997. LEIQUAN, Wang (Ed.). Index of Religious Articles in Mainland China. Taipei: [s.n.], 1985. v. 1. 130 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 117-130, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos>