QUANTO CUSTA TRAZER RENOIR AO BRASIL

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QUANTO CUSTA TRAZER RENOIR AO BRASIL
MERCADO
QUANTO CUSTA TRAZER
RENOIR AO BRASIL
Masp se utiliza até do escambo para poder reunir pela
primeira vez no país 138 obras do mestre do impressionismo
Bento Ferraz
“O repouso depois do
banho” (esq.) e “Menina
com espigas” (acima)
F
oram mais de dois anos de trabalho, mas ele garante que ficou feliz. O presidente do Museu de
Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, arquiteto Julio Neves,
conta que não foi fácil organizar
uma exposição que reúne, pela primei-
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ra vez no Brasil, 138 obras de Renoir,
grande parte delas vinda de 15 museus
da Europa, América do Norte e de instituições brasileiras. Foi preciso muito
esforço no planejamento de marketing
para obter apoios fortes, além de parcerias com a mídia, setor hoteleiro e
empresa aérea. A exposição Renoir, o
Pintor da Vida, aberta pelo museu em
abril, fica em São Paulo até 28 de junho.
“O seguro das obras e o trabalho
das equipes que acompanharam a
montagem da mostra representam a
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“A dança em Bougival”
maior parte do custo”, explica
Neves. “Uma coisa é trazer
obras de um só museu, como na
exposição que promovemos sobre o Egito – trouxemos peças
só do Louvre. Outra coisa é
coordenar o trabalho em tantos
lugares.”
O manuseio, embalagem,
transporte e montagem dos quadros e esculturas foram feitos
por técnicos das próprias instituições que cederam obras para
a exposição, explica o presidente do Masp. “Tem tela em que
eu nem posso pôr a mão”, enfatiza. “Isso nos levou a manter a
mostra só em São Paulo; o custo para deslocá-la para outras
cidades brasileiras seria proibitivo. O tempo também vale
muito: a exposição dura três
meses e meio, mas é preciso
trabalhar 15 dias para fazer a
montagem e outros 15 para a
desmontagem.”
UM GÊNIO DO NU FEMININO
Filho de um alfaiate e de uma operária, Pierre-Auguste Renoir nasceu
em 25 de fevereiro de 1841 em Limoges, França. Aos 13 anos, entrou
como aprendiz em uma loja de porcelanas em Paris, pintando decorações
chinesas. Aos 17, fazia cópias em cortinas e leques – só começou a estudar
pintura formal aos 21 anos, no ateliê do suíço Charles Gleyre, onde conheceu Claude Monet.
Aos 23 anos, apresentou pela primeira vez trabalhos ao público, mas
não obteve reconhecimento. Seus quadros eram recusados pelo Salão Oficial. Em 1874 organizou, com Monet e outros artistas, uma exposição qualificada pejorativamente como a mostra de “impressionistas”.
Renoir teve reputação reconhecida em definitivo com uma exposição
individual em Paris, em 1883. Dois anos antes, ao visitar a Itália e descobrir os renascentistas, manifestara a opinião de que nada sabia de desenho
– e muito pouco de pintura.
Em 1887 concluiu os estudos de um grupo de figuras femininas nuas,
conhecidos como As Banhistas, trabalho considerado pela crítica como um
marco na história da pintura moderna. Sofrendo de artrite nos 20 últimos
anos de vida, com limitação do movimento das mãos, Renoir continuou a
trabalhar com o auxílio de jovens colaboradores. Chegou a usar o pincel
atado ao braço.
Morreu em Cagnes, vila do sul da França, em 3 de dezembro de 1919.
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“Elizabeth e Alice de Anvers”
(Rosa e Azul)
O patrocínio costurado por Julio
Neves é da Bradesco Seguros e da Eletropaulo. O co-patrocínio é do jornal
Folha de S.Paulo. Mas ter uma seguradora brasileira na retaguarda não significou cobertura específica. “O seguro
das obras foi feito no exterior, por exigência dos museus que as cederam
para nós. O patrocínio foi em grana
viva; se não cobre os custos eu tenho
de usar a bilheteria”, depõe o presidente do Masp.
A mostra tem ainda apoio cultural
da agência DM9/DDDB, Revista Época, Rádio CBN, Blue Tree Tower Hotel e da empresa aérea francesa Air
France. Nestes casos, houve acerto
para associação das empresas ao evento em troca da divulgação cultural,
corte nos custos de estadia e transporte aéreo mais barato, além de promoção como o sorteio de passagem para
Paris. “Foi escambo, mesmo”, resume
Neves.
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“Dama sorrindo”
(retrato de Alphonsine
Fournaise)
Com o acervo mais importante da
arte européia na América Latina, o
Masp freqüentemente cede obras para
exposições em grandes museus do
mundo. De Renoir, o museu tem
obras-primas como Jules le Coeur na
Floresta de Fontainebleu e As Meninas
Cahen d’Anvers.
O intercâmbio possibilitou a Neves
não pagar nada aos parceiros para receber as obras dos museus estrangeiros
e reunir as 138 peças do artista, trazendo telas significativas pertencentes a
instituições francesas, como o Museu
d’Orsay, o Petit Palais e o Museu Pi-
casso, de Paris, museus de
projetadas pelo arquiteto
Limoges, Rouen e BorCharles Le Coeur.
deaux; norte-americanas,
“A Obra de Renoir” é
como o Metropolitan Muo módulo que reúne a
seum, de Nova York e a
principal produção do arNational Gallery, de
tista, mostrada em ordem
Washington; de outros
cronológica e por agrupamuseus no Brasil e no exmento temático. Lá estão
terior, como o Museu de
os retratos de Lise, uma
Belas Artes de Montreal,
das modelos favoritas de
do Canadá, e Fundação
Renoir, as naturezas-morEma Klabin, de São Paulo,
tas, retratos de crianças e
A escultura
além de peças do acervo
as famosas banhistas. Em
“Vênus Vitoriosa”
de coleções particulares
torno das duas banhistas
brasileiras, da Suíça e dos EUA.
do acervo do Masp foram reunidas
Módulos – Com curadoria de Luiz
obras provenientes de museus franceHossaka e Eugênia Gorini Esmeraldo,
ses que mostram a predileção de ReRenoir – O Pintor da Vida teve supernoir pelo tema da figura feminina. O
visão de Anne Dístel, conservadora do
Museu d´Orsay. A exposição foi dividida em cinco módulos temáticos. “Os
Amigos de Renoir” é o primeiro, reunindo obras do acervo do Masp pintadas por Manet, Cézanne, Degas e Monet, entre outros. “Obra Gráfica” reúne cerca de 50 gravuras que mostram
o domínio do artista na litografia e na
gravura em metal. “Família Le Coeur”
mostra projetos de decoração arquitetônica em aquarela, feitos por Renoir
quando decorava tetos de mansões
Auto-retrato de Renoir
quinto módulo, “Últimas Produções”,
reúne obras do autor e também esculturas produzidas por Richard Guino
◆
sob a supervisão de Renoir.
Natureza morta
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Serviço: Renoir, o Pintor da Vida. Até 28 de
julho. Exposição do mestre do impressionismo no Masp. Avenida Paulista, 1.578, São
Paulo, tel. (011) 251 5644.
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