1 - Unifeb

Transcrição

1 - Unifeb
ISSN 1980-0029
CIÊNCIA
e
CULTURA
Revista Científica Multidisciplinar do
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barrretos
Ciência e Cultura
Vol.11 n.1
Jan-Jun 2015
Vol. 11 n.1
Jan-Jun 2015
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


CIÊNCIA
E CULTURA

Revista
Científica Multidisciplinar do

Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
Endereço:

POSGRAD
- Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Centro
Universitário da Fundação Educacional de Barretos


Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto

14783-226
– Barretos – SP – Brasil


[email protected]
http://www.unifeb.edu.br/revista/edicao.php

Publicação
Semestral / Semi-annual publication

Solicita-se
permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch
Ciência e Cultura
3
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
CIÊNCIA E CULTURA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
Reitoria
Reitor: Prof. Dr. Reginaldo da Silva
Pró-Reitora de Graduação: Profa. Dra. Sissi Kawai Marcos
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa: Profa. Dra. Fernanda Scarmato De Rosa
Pró-Reitora de Pós-Extensão e Cultura: Profa. Maria Paula Barcellos de Carvaho
Superintendente de Administração e Finanças: Wander Furegatti Ramos Martins
Conselho Curador
Lucio Antonio Pereira
Presidente
Carlos Henrique Diniz Buch
Camila Rocha Marin
Cláudia Cristina Paschoaletti
Marina Kitagawa
Rafael Luciano de Lucas
Vice-Presidente
Fauze José Daher
João Paulo Penha
Vitor Edson Marques Junior
Secretário
Susimar César Borges
Jairo de Souza Machado
Letícia Oliveira Catani
Ciência e Cultura
Editor chefe:
Prof. Dr. Matheus Nicolino Peixoto Henares
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB
Comitê Editorial
Profa. Dra. Ana Emília Farias Pontes
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB
Prof. Dr. Claudinei da Cruz
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB
Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Prof. Dr. Luiz Fabiano Palaretti
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Câmpus de Jaboticabal
PRODUÇÃO EDITORIAL
ZEPPELINI
P U B L I S H E R S
Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César – São Paulo/SP - CEP 01415-000
Zeppelini – Tel: 55 11 2978-6686 – www.zeppelini.com.br
Instituto Filantropia – Tel: 55 11 2626-4019 – www.institutofilantropia.org.br
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Editorial1
Transmigração de canino inferior: relato de caso clínico
Transmigration lower canine: a clinical case report
Monyk dos Santos Braga, Joseane Mary de Queiroz Nascimento, Eric Barbosa de Camargo,
José Maurício de Souza Cruz Veloso Filho, Elizangela Partata Zuza, Juliana Rico Pires
3
Isolamento absoluto em dentes com extensa destruição coronária: relato de caso clínico
Absolute isolation in teeth with extensive coronal destruction: a case report
Mateus Machado Delfino, Rodrigo Antonio Pereira, Maria José Pereira de Almeida, Walter Antonio de Almeida 11
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
Clinical problem of determination of pulp vitality. Which test can be used?
Vanessa Carla de Queiroz Neves, Renata Moya Martelli, Elizangela Partata Zuza, Juliana Rico Pires,
Benedicto Egbert Corrêa de Toledo
19
Remoção de odontoma composto associado a canino impactado: relato de caso
Compound odontoma removal associated with impacted canine: case report
Eric Barbosa de Camargo, Monyk dos Santos Braga, José Maurício de Souza Cruz Veloso Filho,
Joseane Mary de Queiroz Nascimento, Felipe Leite Coletti, Celso Eduardo Sakakura
35
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos de mensuração
Medication adherence: conceptual definitions, factors involved and measurement methods
Wandson Rodrigues Sousa, Clícia Mayara Santana Alves, Maria Helena Seabra Soares de Britto,
Sally Cristina Moutinho Monteiro
43
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química: implantação,
apresentação e discussão
Curriculum proposal of São Paulo to discipline of Chemistry: implantation, presentation and discussion
Lucas Fernandes Domingues, Terezinha Maia Martincowski 55
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
Urban floods: obstacles to implementation of effective drainage systems, impotence or unconcern?
Thiago Rodrigo de Oliveira Alves, Paulo Roberto Moreira Monteiro 69
Densidade populacional e épocas de aplicação do glyphosate em soja transgênica
Population density and application times of the glyphosate in transgenic soybean
Rogério Farinelli, Gabriel Meneguello, Rafael Tadeu Alves Mancini
83
Ciência e Cultura
v
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Editorial
Esta edição da Ciência e Cultura, revista multidisciplinar do Centro
Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB), contém
dez artigos que contemplam estudos na área da Ciências da Saúde (Odontologia e Farmácia), Ciências Agrárias, Educação e Engenharias.
Os seis artigos publicados na Área de Odontologia abordaram
assuntos relacionados a remoção de odontomas, uso de testes para a
avaliação da sensibilidade e vitalidade pulpar, uso de cimentos para
reparação da dentina, isolamentos de dentes afetados por extensa destruição coronária e transmigração de canino inferior. Um artigo abordou
a relação existente entre doença periodontal e cardiovascular em paciente com Diabetes mellitus. O artigo da Ciências Farmacêuticas expôs os
desafios da saúde pública relacionados à baixa adesão aos medicamentos. Na Ciências Agrárias, um estudo foi realizado com o objetivo de
avaliar o desempenho agronômico da cultura da soja transgênica em
combinação com diferentes densidades populacionais e épocas de aplicação de herbicida.
A surpresa (positiva!) desta edição da Revista Ciência e Cultura
fica por conta dos artigos publicados na Área da Educação e Engenharias.
Na Educação, um trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar
a proposta curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Química (2008). Os autores abordaram amplamente o tema e concluíram
que o Estado possui uma postura avaliadora, pois espera maior preparo
dos docentes, enquanto a maioria dos docentes justificam o despreparo
por ausência de subsídios. As inundações urbanas (Engenharias) foram
abordadas de forma indagativa por autores que questionam se elas estão
relacionadas aos obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem eficientes, à debilidade ou devido ao desinteresse. Nesse breve
relato dos artigos publicados é possível observar a diversidade de temas abordados pelos autores. Dessa forma, os artigos publicados nesta
edição representam ferramentas importantes na divulgação das grandes
áreas do conhecimento científico, o que reforça o escopo multidisciplinar da Revista.
Enfim, agradeço os pesquisadores que contribuíram com esta edição, especialmente aos autores e revisores dos manuscritos. Aproveito
para convidá-lo a leitura do vol. 11, n. 1 do ano de 2015 da Revista
Ciência e Cultura.
Matheus Nicolino Peixoto Henares
Editor-Chefe
Ciência e Cultura
1
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Transmigração de canino inferior: relato de caso clínico
Transmigration lower canine: a clinical case report
Monyk dos Santos Braga1, Joseane Mary de Queiroz Nascimento1, Eric Barbosa de Camargo1,2,
José Maurício de Souza Cruz Veloso Filho1,2, Elizangela Partata Zuza1, Juliana Rico Pires1
Curso de Mestrado em Ciências Odontológicas, Centro Universitário da Fundação Educacional de
Barretos (UNIFEB) – Barretos (SP), Brasil.
2
Faculdade de Odontologia, Instituto Amazônia de Ensino Superior (IAES) – Manaus (AM), Brasil.
1
Resumo
Introdução: A impactação de caninos inferiores é frequentemente observada na prática clínica odontológica,
porém quando esses dentes atravessam a linha mediana para o lado oposto do hemiarco mandibular denomina-se transmigração. Assim, diversos tipos de tratamentos são propostos com o objetivo de promover uma
harmonia estética e funcional por meio do reposicionamento do dente comprometido. Objetivo: O objetivo
deste trabalho foi apresentar um caso clínico com diagnóstico e tratamento de transmigração de canino inferior impactado na região de sínfise mandibular. Material e método: Paciente de 15 anos de idade, gênero
feminino, melanoderma, natural de Manaus, Amazonas, apresentou canino inferior esquerdo (dente 33)
localizado horizontalmente na região mentual. Embora a paciente estivesse em idade óssea aceitável para o
tracionamento ortodôntico, optou-se pela exodontia em razão de o dente apresentar angulação desfavorável
e estar em estágio de formação radicular completo. Resultado: O procedimento cirúrgico ocorreu tecnicamente de forma adequada. No pós-operatório não houve relato de dor nem alterações de sensibilidade
nervosa, e a paciente apresentou mínimo edema. Após 60 dias, a paciente apresentou completa cicatrização
tecidual, ausência de inflamação ou sintomatologia. Conclusão: É de fundamental importância a abordagem
multidisciplinar, envolvendo o planejamento ortodôntico e/ou cirúrgico, para a escolha mais adequada do
tratamento de casos de transmigração. Dessa forma, a remoção cirúrgica de canino impactado transmigrado
e o acompanhamento longitudinal são essenciais para o sucesso do caso clínico.
Palavras-chave: dente impactado; dente canino; cirurgia bucal.
Abstract
Introduction: The lower canines impaction is often seen in the dental practice, but when these teeth cross
the midline to the opposite side of the mandibular hemi-arch it is called transmigration. Thus, various kinds
of treatments are proposed, which aims to promote an aesthetic and functional harmony by repositioning
the affected tooth. Objective: The objective of this paper was to present a clinical case with diagnosis and
treatment of impacted mandibular canine transmigration in the mandibular symphysis region. Material and
method: A15-years-old patient, female, melanoderm, from Manaus, Amazonas, presented lower left canine
(tooth 33) located horizontally in symphysis chin. Although this patient was acceptable in bone age for
orthodontic traction, it was decided for the tooth extraction due to unfavorable angle and complete stage of
Autor para correspondência: Monyk dos Santos Braga – Rua Prof. Roberto Frade Monte, 389 –
Aeroporto – CEP: 14783-226 – Barretos (SP), Brasil – E-mail: [email protected]
Recebido em: 10/04/2015
Aceito para publicação em: 16/09/2015
Ciência e Cultura
3
Transmigração de canino inferior: relato de caso clínico
BRAGA et al.
root formation. Result: The surgical procedure was properly technically performed. In the postoperative,
there was no report of pain, nor nerve sensitivity or changes, and the patient presented minimal swelling.
After 60 days, the patient experienced complete wound healing and presented absence of inflammation or
of symptoms. Conclusion: It is vital a multidisciplinary approach, involving orthodontic planning and/or
surgical, for the most appropriate choice of treatment of cases of transmigration. Thus, the surgical removal
of impacted canine transmigrated and the longitudinal follow-up are essential to the success of the case.
Keywords: impacted tooth; canine tooth; oral surgery.
Introdução
Um dos grandes desafios enfrentados pela Odontologia é o tratamento de
caninos impactados por serem de grande
relevância na estética e na função. Nos casos em que o canino impactado atravessa a
linha média, trata-se de uma transmigração
(ARAS et al., 2008). O canino permanente
inferior é o único dente da arcada relatado
como sendo capaz de cruzar a linha média
(BATRA, 2003; CAMILLERI e SCERRI,
2003). Autores consideraram que a ocorrência de transmigração em caninos
superiores é rara por causa da barreira que
a sutura palatina mediana oferece (BATRA
e LEYLAND, 2005).
A incidência de impactação de caninos superiores varia de 0,92 a 2,2%,
sendo a ocorrência de caninos impactados
na maxila 20 vezes mais comum que na
mandíbula (BATRA e LEYLAND, 2005;
TUESTA et al., 2003), o que demonstra
que a falha do irrompimento de canino
inferior é pouco comum. A prevalência
de caninos inferiores transmigrados foi de
0,33% na população previamente pesquisada, sendo mais comum nas mulheres do
que nos homens (TUESTA et al., 2003;
AULUCK et al., 2006).
As etiologias da falha do irrompimento de dentes permanentes podem
ser primárias e secundárias. Dentre as
etiologias primárias, destacam-se: reabsorção radicular do dente decíduo, trauma
dos germes dos dentes decíduos, falta de
4
disponibilidade de espaço no arco, rotação dos germes dos dentes permanentes,
fechamento prematuro dos ápices radiculares e irrupção de caninos em área de
fissuras palatinas. As etiologias secundárias incluem pressão muscular anormal,
doenças febris, distúrbios endócrinos e
deficiência de vitamina D (ALMEIDA
et al., 2001; MOYERS, 1963)
As causas mais comuns da impactação são geralmente localizadas e
resultam da combinação de um ou mais
fatores, dentre eles discrepância do comprimento do arco, retenção prolongada de
dentes decíduos, posição anormal do germe dentário, presença de fissura alveolar,
anquilose, cisto ou formação neoplásica,
dilaceração radicular, origem iatrogênica
e condição idiopática (BISHARA, 1992;
MAAHS e BERTHOLD, 2004; LEWIS
et al., 2005). Outro fator etiológico relacionado à impactação que também tem
sido mencionado na literatura refere-se
à trauma na região anterior dos maxilares (ALMEIDA et al., 2001; MAAHS e
BERTHOLD, 2004).
A escolha do tipo de tratamento
depende de alguns fatores, como a idade
do paciente, estágio de desenvolvimento da dentição, posição do canino não
erupcionado, evidência de reabsorção
dos incisivos permanentes, percepção do
problema pelo próprio paciente e predisposição e prognóstico do paciente ao
tratamento (TITO et al., 2008).
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
O cirurgião-dentista dispõe de várias possibilidades de tratamento, como
acompanhamento clínico nos casos
em não será realizado nenhum tipo de
tratamento, apenas a proservação para verificação de possível alteração patológica;
autotransplantação do canino; extração do
canino impactado associado à movimentação do pré-molar para a região do canino;
extração do canino e posterior osteotomia
para movimentar o seguimento posterior e
fechar o espaço residual; exposição cirúrgica do canino e posterior tracionamento
ortodôntico; e a prótese para substituição
(ALMEIDA et al., 2001).
A avaliação da posição e angulação do canino, bem como a relação com
os dentes vizinhos, observando a presença de espaço suficiente na arcada e a
ausência de obstrução no trajeto em que se
pretende movimentar o canino, são fatores
que devem ser analisados para obtenção de
um tratamento favorável (WILLIANS et al.,
1997; BECKER, 2004). Diante dessas considerações, o objetivo deste trabalho foi
apresentar um caso clínico de transmigração de canino inferior impactado na região
de sínfise mandibular, com enfoque no planejamento ortodôntico e/ou cirúrgico.
Relato de caso
Paciente de 15 anos de idade, gênero feminino, melanoderma, natural de
Manaus, Amazonas, procurou tratamento por motivo ortodôntico no curso de
Odontologia na Faculdade do Amazonas.
Durante o exame clínico, foi observada
a presença de canino decíduo inferior do
lado esquerdo (dente 73) não esfoliado.
O exame radiográfico confirmou a presença do canino permanente (dente 33)
incluso do lado esquerdo da mandíbula
em posição horizontal (transmigração)
e com toda a sua coroa voltada para o
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
quarto quadrante, cruzando a linha média mandibular (Figura 1A). Em razão da
angulação e do estágio de formação do
dente, foi proposta, como tratamento, a
remoção cirúrgica do dente transmigrado,
com utilização de instrumental e materiais adequados.
A paciente apresentava boas condições de saúde bucal, com baixo índice de
placa visível (IPV=15%) e de sangramento
gengival (ISG=7%). No pré-operatório, foi
prescrito protocolo medicamentoso com 1 g
de Amoxicilina e 4 mg de Dexametazona
uma hora antes do procedimento cirúrgico.
A paciente foi submetida à anestesia local, através do bloqueio bilateral
dos nervos alveolares inferiores e anestesia bilateral dos nervos mentuais e
incisivos. Inicialmente, foi realizada
uma incisão linear em fundo de sulco
vestibular à 5 mm de distância da linha
mucogengival, com extensão de canino
esquerdo decíduo (dente 73) a canino
direito permanente (dente 43). Um retalho mucoperiosteal parcial foi obtido e o
osso da região anterior da mandíbula foi
acessado (Figura 1B).
Foi realizada osteotomia no osso
da mandíbula na região da coroa do dente transmigrado, por meio de utilização
de broca esférica multilaminada (carbide
nº 6) para ter acesso ao dente, sob irrigação abundante em solução de cloreto de
sódio 0,9% estéril (Figura 1C).
Para remoção do dente, foi realizada odontossecção no nível da junção
amelocementária com utilização de uma
broca cirúrgica multilaminada (zecrya)
em alta rotação, também em abundante irrigação. A coroa foi removida com
alavanca seldin reta 2, sendo em seguida
a raiz odontosseccionada em duas partes para preservação do osso cortical, de
maneira que o elemento transmigrado
5
Transmigração de canino inferior: relato de caso clínico
foi removido com sucesso (Figura 1D),
procedendo-se então à curetagem com
remoção do capuz pericoronário, sob irrigação abundante com solução de cloreto
de sódio 0,9% estéril.
BRAGA et al.
A sutura da ferida cirúrgica foi feita em planos. O plano muscular foi
suturado com fio absorvível do tipo Poliglactina 910 (Vicryl 5.0). Em seguida,
a mucosa foi suturada com fio de nylon
A
B
C
D
E
F
G
H
Figura 1. (A) Radiografia panorâmica. (B) Incisão linear e sindesmotomia de tecido
para acesso ao osso da região mentoniana. (C) Osteotomia para remoção de canino
impactado. (D) Dente removido. (E) Sutura festonada. (F) Pós-operatório com 10 dias.
(G) Pós-operatório com 60 dias. (H) Radiografia panorâmica, após 60 dias.
6
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
4.0 (Figura 1E). A paciente foi orientada no pós-operatório quanto à utilização
de compressa de gelo na parte externa
da face, a cada 15 minutos, durante a
primeira hora após a cirurgia; quanto à
alimentação de consistência pastosa e/
ou amolecida, com temperatura de fria a
gelada; e quanto aos cuidados durante a
higienização. A prescrição medicamentosa envolveu antibiótico (Amoxicilina
500 mg 8/8 horas por 5 dias), anti-inflamatório (Nimesulida 100 mg de 12/12 horas
por 3 dias) e analgésico (Dipirona Sódica
500 mg de 6/6 horas nas primeiras 24 horas, em caso de dor).
No pós-operatório de 10 dias
(Figura 1F), a paciente compareceu à
clínica sem queixas e sem alterações de
sensibilidade nervosa. O edema era mínimo, a sutura encontrava-se em posição,
não havia sinais de infecção, e o tecido
apresentava-se com boa condição de reparo tecidual. Após 60 dias, clinicamente,
a paciente apresentou completa cicatrização tecidual, ausência de inflamação ou
sintomatologia (Figura 1G). No exame radiográfico, foi possível observar início do
processo de reparo ósseo na região onde
se encontrava a raiz dentária, mostrando
ainda rarefação óssea entre os elementos
42 e 43, com menor extensão da loja cirúrgica (Figura 1H).
Discussão
A transmigração de dentes é uma
anomalia rara de ser encontrada (0,33%),
ocorrendo apenas na dentição permanente,
sendo mais comum em caninos inferiores
(AYDIN e YILMAZ, 2003). A literatura tem demonstrado que a incidência de
caninos transmigrados é maior nas mulheres (TANAKA et al., 2000; ALMEIDA
et al., 2001; BATRA, 2003; CAMILLERI
e SCERRI, 2003; MUPPARAPU, 2002),
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
em concordância com o presente caso.
Da mesma forma, tem-se observado que o
lado esquerdo é mais comumente acometido que o direito (DHOORIA et al., 1986),
fato também verificado neste relato.
Não existe consenso entre os autores
em relação à etiologia da transmigração.
Como normalmente os pacientes não relatam sintomas, os dentes impactados são
descobertos por meio dos exames radiográficos, sendo um dos motivos da procura
ao cirurgião-dentista a demora da esfoliação do canino decíduo (HYPPOLITO
et al., 2011). Porém, alguns autores especulam quanto às causas e origens da
impactação e da transmigração dos caninos inferiores, entre as quais citam:
impactação vestibular, geralmente impactados verticalmente; impactação lingual,
geralmente impactados horizontalmente;
reabsorção radicular de dentes adjacentes;
infecção das impactações parciais, resultando em dor e trismo; cisto dentígero
que pode tornar-se um ameloblastoma; e
reabsorção do próprio dente (ALMEIDA
et al., 2001).
A terapêutica proposta foi a remoção
cirúrgica do elemento transmigrado,
sendo esta a conduta mais comumente
indicada quando não há possibilidade do
tratamento conservador, porém existem
outras opções de tratamento, como
tracionamento ortodôntico e transplante,
que não se aplicaram ao presente caso.
Alguns autores consideraram a remoção
cirúrgica o melhor tratamento para a
transmigração do canino em relação ao
tracionamento ortodôntico (CAMILLERI
e SCERRI, 2003).
No caso clínico apresentado, embora a paciente estivesse em idade óssea
aceitável para o tracionamento ortodôntico, essa opção foi descartada durante o
planejamento, optando-se pela exodontia,
7
Transmigração de canino inferior: relato de caso clínico
em razão de alguns fatores como a angulação desfavorável (90° com o plano
sagital), o estágio de formação radicular
completo e a localização do dente, uma
vez que a densidade óssea na região
mentual dificultaria uma possível movimentação. Esse tratamento está de acordo
com relatos anteriores dos autores Joshi
(2001), Camilleri e Scerri (2003).
Conclusão
O diagnóstico clínico e radiográfico
são imprescindíveis para um prognóstico
favorável e seleção de tratamento adequado de transmigração de caninos inferiores.
Dessa forma, a remoção cirúrgica de
canino incluso transmigrado e o acompanhamento longitudinal são essenciais para
o sucesso do caso clínico.
Referências
ALMEIDA, R.R.; FUZIY, A.; ALMEIDA,
M.R.;
ALMEIDA-PEDRIN,
R.R.;
HENRIQUES, J.F.C.; INSABRALDE,
C.M.B. Abordagem da impactação
e/ou irrupção ectópica dos caninos
permanentes:
considerações
gerais,
diagnóstico e terapêutica. Revista Dental
Press de Ortodontia e Ortopedia Facial,
v. 6, n. 1, 2001, p. 93-116.
ARAS, M.H.; BÜYÜKKURT, M.C.;
YOLCU, U.; ERTAŞ, U.; DAYI, E.
Transmigrant maxillary canines. Oral
Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology,
Oral Radiology and Endodontics, v. 105,
n. 3, 2008, p. 48-52.
AULUCK, A.; NAGPAL, A.; SETTY, S.;
PAI, K.M.; SUNNY, J. Transmigration of
impacted mandibular canines: Report of 4
cases. Journal of the Canadian Dental
Association, v. 72, n. 3, 2006, p. 249-252.
8
BRAGA et al.
AYDIN,
U.;
YILMAZ,
H.H.
Transmigration of impacted canines.
Dentomaxillofacial Radiology, v. 32,
2003, p. 198-200.
BATRA, P. Canine ectopia: report of
two cases. Journal of Indian Society of
Pedodontics, v. 21, n. 3, 2003, p. 113-116.
BATRA, P.; LEYLAND, L. Unusual
transmigration of an impacted canine.
American Journal of Orthodontics and
Dentofacial Orthopedics, v. 128, n. 2,
2005, p. 146-147.
BECKER, A. Tratamento Ortodôntico
de Dentes Impactados. São Paulo: Ed.
Santos; 2004.
BISHARA, S.E. Impacted maxillary
canines: a review. American Journal
of Orthodontics and Dentofacial
Orthopedics, v. 101, n. 2, 1992, p. 159171.
CAMILLERI,
S.,
SCERRI,
E.
Transmigration of mandibular canines- a
review of the literature and a report of five
cases. The Angle Orthodontist, v. 73, n. 6,
2003, p. 753-762.
DHOORIA,
H.S.,
SATHAWANE,
R.S.; MODY, R.N.; SAKHARDE, S.B.
Transmigration of mandibular canines.
Journal of the Indian Dental Association,
v. 8, 1986, p. 348-351.
HYPPOLITO, J.O.P.; PAIES, M.B;
VERAS-FILHO, R.O; FLORIAN, F.;
HOCHULI-VIEIRA, E. Tratamento
cirúrgico de canino incluso em mento:
relato de caso. Revista de Odontologia da
UNESP, 2011, p. 42-46.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
JOSHI, M.R. Transmigrant mandibular
canines: a record of 28 cases and retrospective
review of the literature. The Angle Orthodontist,
v. 71, n. 1, 2001, p. 12-22.
LEWIS,
B.;
DURNING,
P.;
MCLAUGHLIN, W.; NICHOLSON, P.T.
Canine transposition following trauma
and loss of a central incisor: treatment
options. Journal of Orthodontics, v. 32,
2005, p.11-19.
MAAHS, M.; BERTHOLD, T. Etiologia,
diagnóstico e tratamento de caninos
superiores permanentes impactados.
Revista de Ciências Médicas e Biológicas,
v. 3, n. 1, 2004, p.130-138.
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
cases. Dentomaxillofacial Radiology,
v. 31, n. 6, 2002, p. 355-360.
TANAKA, O.; DANIEL, R.F.; VIEIRA,
S.W. O dilema dos caninos superiores
impactados. Ortodontia Gaúcha, v. 4,
n. 2, 2000, p. 121-128.
TITO, M.A.; RODRIGUES, R.M.P.;
GUIMARÃES, J.P.; GUIMARÃES,
K.A.G. Caninos superiores impactados
bilateralmente. RGO, v. 56, n. 2, 2008,
p. 15-19.
MOYERS,
R.E.
Handbook
of
Orthodontics. 2.ed. Chicago: Year Book
Medical; 1963. p. 83-88, 1963.
TUESTA, O.; VALDERRAMA, E.J.M;
MAZURÉ, S.C.C.; ESTRADA, M.
Reabsorción radicular de incisivos
centrales por impactación de caninos.
Uma solución ortodóncica. Revista
Estomatológica Herediana, v. 13, n. 1 e 2,
2003, p. 40-44.
MUPPARAPU, M. Patterns of intraosseous transmigration and ectopic
eruption of mandibular canines: review
of literature and report of nine additional
WILLIANS, J.K.; ISAACSON, K.G.;
COOK, P.A.; THON, A.R. Aparelhos
ortodônticos fixos: princípios e prática.
São Paulo: Santos; 1997.
Ciência e Cultura
9
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Isolamento absoluto em dentes com extensa destruição
coronária: relato de caso clínico
Absolute isolation in teeth with extensive coronal destruction:
a case report
Mateus Machado Delfino1, Rodrigo Antonio Pereira1, Maria José Pereira de Almeida2,
Walter Antonio de Almeida2
Curso de Odontologia, Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) – Barretos (SP), Brasil.
Disciplina de Endodontia, Curso de Odontologia, UNIFEB – Barretos (SP), Brasil.
1
2
Resumo
O isolamento absoluto constitui manobra auxiliar indispensável à correta execução da terapia endodôntica. Embora alguns profissionais contestem sua utilização, alegando o custo e o tempo despendidos, as
vantagens decorrentes de sua aplicação justificam plenamente seu uso – colabora na assepsia, impede
a ingestão ou aspiração de instrumentos endodônticos, melhora a visualização do campo operatório e
elimina a interferência de tecidos moles, permitindo a intervenção endodôntica com segurança. Quando a
perda estrutural coronária é de grande monta, torna-se um fator limitante para o uso do isolamento absoluto, levando profissionais a realizarem a endodontia sem ele. Os procedimentos mais utilizados para casos
em que haja falta de estrutura dental remanescente ainda são as cirurgias periodontais, porém existem
outras técnicas que possibilitam o isolamento absoluto. O objetivo deste caso foi realizar o tratamento endodôntico em dente com grande destruição coronária sob o isolamento absoluto, além de restabelecer sua
estética e função. Uma coroa total provisória foi confeccionada em resina Duralay, com uma cânula, e sua
ponta aflorando para face palatina, por onde se realizou o preparo biomecânico. Na boca foi realizado o
preparo do dente, no seu terço cervical com brocas de Largo, adaptando-se a cânula e a coroa, testando-se
a oclusão, e posterior cimentação utilizando cimento fosfato de zinco. Em seguida, efetuou-se isolamento
absoluto, assepsia e antissepsia do campo operatório, odontometria, pulpectomia, preparo biomecânico e
obturação do canal radicular, por se tratar de uma biopulpectomia. A confecção do dispositivo provisório
foi de fundamental importância para a realização do isolamento absoluto e restabelecimento da estética
do paciente e função do dente.
Palavras-chave: isolamento absoluto; terapia endodôntica; destruição coronária.
Abstract
The rubber dam is an essential maneuvering auxiliary to the correct execution of endodontic therapy. Although some professionals to challenge their use, claiming the time and money spent, the benefits of its
application justifies it – it prevents the ingestion or aspiration of endodontic instruments, improves visualization of the operative field, and eliminates interference from soft tissues, allowing endodontic therapy
Autor para correspondência: Walter Antonio de Almeida – Avenida Professor Roberto Frade Monte,
389 – Aeroporto – CEP: 14780-000 – Barretos (SP), Brasil – E-mail: [email protected]
Recebido em: 23/06/2015
Aceito para publicação em: 15/10/2015
Ciência e Cultura
11
Isolamento absoluto em dentes com extensa destruição coronária: relato de caso clínico
DELFINO et al.
safely. When the coronary structural loss is of major consequence, it becomes a limiting factor for the use of
the rubber dam, leading professionals to perform endodontics without it. Procedures most commonly used
for cases in which there is lack of remaining tooth structure are still periodontal surgery, but there are other
techniques that enable the total isolation. The aim of this case was to carry out endodontic treatment in tooth
with great coronary destruction under the absolute isolation, and restore its aesthetics and function. A provisional overall crown was made of Duralay resin, with a needle large caliber adapted, and its tip surfacing
for cleft face, where there was the biomechanical preparation. In the mouth was carried out the preparation
of the tooth in its cervical third with Largo drills, adapting the needle large caliber adapted and crown, tested
to occlusion and subsequent cementation using zinc phosphate cement. Then, it was made absolute isolation
and antisepsis of the operative field, biomechanical preparation and root canal filling, because it is a treatment of tooth root canal with pulp vitality. The making of the provisional device was of great importance
for the realization of absolute isolation and reestablishment of the patient’s tooth aesthetics and function.
Keywords: isolation absolute; endodontic therapy; coronary destruction.
Introdução
O isolamento absoluto adequado
do campo operatório é um requisito indispensável e diretamente ligado ao sucesso
do tratamento endodôntico (LEONARDO
e LEONARDO, 2012). Seu uso durante o
tratamento do canal radicular proporciona
um controle maior da cadeia de infecção,
proteção ao paciente, segurança ao cirurgião-dentista e uma intervenção eficaz,
tornando o procedimento final excelente e
de grande longevidade (SILVA et al., 2011).
Na literatura há relatos de casos de
deglutição ou aspiração de instrumentos
endodônticos que se deslocam para o trato pulmonar ou gastrointestinal durante a
terapia endodôntica; esses tipos de acidentes podem ser impedidos pelo isolamento
absoluto do dente. Muito embora seja uma
manobra auxiliar indispensável, alguns
profissionais contestam sua utilização, alegando principalmente preocupações com a
aceitação do paciente, o custo e o tempo
despendidos (AHMAD, 2009).
Existem casos em que o método
convencional de isolamento absoluto é
dificultado pelas condições anatômicas
naturais do dente, perda parcial ou total da coroa, presença de próteses fixas
e dentes parcialmente irrompidos, o que
torna o isolamento absoluto bastante tra-
12
balhoso, exigindo do profissional a busca
de recursos especiais ou adaptações nas
técnicas convencionais para promover o
isolamento absoluto adequado (ENDO
et al., 2007).
Sem dúvida, os procedimentos mais
utilizados para casos em que haja falta de
estrutura dental remanescente ainda são
as cirurgias periodontais, porém existem
várias outras técnicas menos invasivas,
como cimentação de banda, confecção
de coroa com pino vazado, grampos retentivos e extrusão ortodôntica, que
possibilitam o isolamento absoluto, como
relatado por Ishikiriama et al. (2003) e
Silva et al. (2011). Algumas dessas técnicas podem ser usadas em casos nos quais
não seria possível a realização de cirurgias
em razão de condições locais ou sistêmicas desfavoráveis (SILVA et al., 2011).
De acordo com Lindhe et al. (2011), a
principal contraindicação do aumento de
coroa clínica é a necessidade de sua realização em um único dente anterior, o que
comprometeria a estética.
Enfatizando as vantagens do uso do
isolamento absoluto durante os procedimentos da terapia endodôntica, reforça-se:
facilidade quanto à realização do tratamento pelo profissional; manutenção da
cadeia antisséptica do canal e do campo
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
operatório; promoção da biossegurança;
afastamento de estruturas anatômicas
próximas ao dente a ser tratado; melhor
visualização do campo operatório; não
ingestão de produtos químicos empregados durante o tratamento endodôntico; e
prevenção contra acidentes indesejáveis,
como aspiração ou deglutição de corpos estranhos. Sendo um procedimento
imprescindível na Odontologia, não faz
parte apenas do tratamento mas também
promove a biossegurança tanto para os
pacientes quanto para os profissionais da
área odontológica (MACHADO, 2009).
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi realizar o tratamento endodôntico
em um dente com grande destruição coronária sob o isolamento absoluto, utilizando-se
de técnica não invasiva por meio da confecção de um dispositivo provisório, que, além
de promover o isolamento absoluto, restabelece a estética e a função do dente.
colocação de grampo, lençol de borracha
e arco, sem sucesso, optou-se por não realizar cirurgias periodontais, e sim utilizar
técnicas menos invasivas, confeccionando-se um dispositivo a fim de atender às
necessidades para o caso em questão.
Preparou-se uma cânula com aproximadamente 15 mm de comprimento e
de gauge correspondente a uma lima tipo
Kerr no 100, obtida de uma agulha hipodérmica, cortada e alisada as rebarbas
com disco de carborundum.
Relato do caso
Este trabalho foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, sob o no: CAAE
42227814.1.0000.5433.
Paciente C.V.I.P, 45 anos, sexo
feminino, melanoderma, compareceu
à clínica de Endodontia do curso de
Odontologia do Centro Universitário
da Fundação Educacional de Barretos
(UNIFEB), com queixa de fratura coronária
no elemento 11 e dor em razão da exposição
dentinária. Constatou-se uma destruição
coronária de grande monta (Figura 1), e foi
realizado exame clínico, radiográfico e teste
de vitalidade pulpar, por meio dos quais
se verificou a necessidade de tratamento
endodôntico (Figura 2).
Após inúmeras tentativas de realizar o isolamento absoluto por meio da
Figura 1. Exame clínico mostrando o elemento
11 com grande destruição coronária.
Ciência e Cultura
Figura 2. Radiografia periapical do
elemento 11.
13
Isolamento absoluto em dentes com extensa destruição coronária: relato de caso clínico
DELFINO et al.
Sob anestesia, promoveu-se a remoção do tecido cariado, o preparo cervical
para receber uma coroa provisória, e, em
seguida, foi realizada abertura coronária,
pulpotomia alta e preparo do terço cervical do canal com brocas de Largo, e a
adaptação da cânula metálica (Figura 3).
Após a adaptação da cânula de metal, aproximadamente 2/3 (10 mm) dela
permaneceu no interior do canal radicular, abaixo da crista óssea, evitando assim
uma possível fratura do terço cervical da
raiz. Preparou-se resina Duralay, cor 69, e
na forma de um bloco foi levada ao dente,
onde 1/3 do pino ficou inserido no bloco
de resina com uma de suas extremidades
aflorando na face palatina, e vedada com
cera rosa no 7, evitando sua obliteração.
Em seguida à presa da resina, foi
realizada a escultura, dando-se as características anatômicas do dente em questão e
polimento. Depois de verificada a oclusão
(Figura 4), removeu-se a cera das extremidades, realizou-se desinfecção da cânula e
provisório, e o dispositivo foi cimentado
com cimento de fosfato de zinco, tomando-se cuidado para que não penetrasse
cimento no interior da cânula.
Após a cimentação do dispositivo, foi feita a remoção dos excessos de
cimento, procedeu-se ao isolamento ab-
soluto com grampo no 211 (Figura 5),
assepsia e antissepsia do campo operatório, com álcool 70%, combate da infecção
superficial da abertura coronária e cânula
com soda clorada 4 a 6%, radiografia para
odontometria, determinando o comprimento de trabalho (CT), tendo a incisal
como referência.
Realizou-se a pulpectomia do remanescente pulpar, selecionando-se
Instrumento Apical Inicial (IAI), lima tipo
Kerr 35; o preparo biomecânico do canal
radicular, realizado por meio da Técnica
do Recuo Progressivo Programado; e determinou-se o instrumento memória (IM),
lima tipo Kerr 50, e o escalonamento
com o Instrumento Final (IF), lima tipo
Figura 3. Preparo do remanescente
coronário e adaptação da cânula metálica.
Figura 5. Vista palatina do dispositivo
cimentado e com isolamento absoluto.
14
Figura 4. Dispositivo para o isolamento
absoluto (cânula e coroa), visão palatina.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Kerr 80. Solução irrigadora: Líquido de
Dakin (a cada troca de lima, o canal radicular foi irrigado com 4 mL da solução).
Fez-se uma tomada radiográfica para
prova do cone principal e, em seguida, o
toalete final com tergentol e EDTA.
A obturação do canal radicular foi
realizada pela técnica clássica com cimento Sealapex e iodofórmio em proporções
iguais, corte dos excessos de guta-percha
inclusive no interior da cânula, condensação vertical, selamento provisório com
bolinha de algodão e cotosol. Procedeu-se
à radiografia final (Figura 6) e ao encaminhamento da paciente às demais clínicas
do UNIFEB para a continuidade do tratamento pertinente ao caso.
Resultados
O dispositivo confeccionado e acima
descrito atendeu às finalidades e aos objetivos para o qual foi realizado, permitindo
a realização do tratamento endodôntico do
caso sobre o isolamento absoluto.
Figura 6. Radiografia periapical final do
tratamento endodôntico do elemento 11.
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Discussão
No presente trabalho, foi desenvolvida uma coroa provisória com cânula de
metal vazado, a qual foi utilizada como
um pino retentor intrarradicular, atendendo aos objetivos propostos, que foram
promover o isolamento absoluto do campo operatório em um dente com grande
destruição coronária e restabelecer a estética e a função do dente.
O isolamento absoluto tem uma
importância muito grande quando utilizado na terapia endodôntica, de acordo
com Leonardo e Leonardo (2012) e
Anabtawi et al. (2013), porque ele permite que se tenha proteção do paciente
e do profissional (KUO e CHEN, 2008).
O isolamento absoluto mantém seco o
ambiente de trabalho, a assepsia e a limpeza, protege os tecidos moles, melhora
a visibilidade do campo de trabalho, impede a caída de soluções irrigadoras,
limas, cones e outros na cavidade bucal
do paciente, além de apresentar como
principais vantagens a biossegurança, a
praticidade e melhor qualidade dos procedimentos executados (MACHADO,
2009; PEDROSA et al., 2011).
Apesar da boa aceitação por parte
do paciente quanto ao uso do isolamento
absoluto, existe um número relativamente baixo de profissionais que não
realizam esta técnica (HILL e BARRY,
2008; AHMAD, 2009; SHASHIREKHA
et al., 2014). Ao mesmo tempo, há dentes que não favorecem a realização do
procedimento, por exemplo, coroas com
grandes destruições coronárias (ENDO
et al., 2007).
Alguns procedimentos são utilizados nos casos em que haja falta de
estrutura dental remanescente, como as
cirurgias periodontais, gengivectomia,
gengivoplastia, aumento de coroa clíni-
15
Isolamento absoluto em dentes com extensa destruição coronária: relato de caso clínico
ca, deslocamento apical do retalho com
osteotomia, que nem sempre são utilizadas em razão das condições locais
ou sistêmicas desfavoráveis do paciente (ISHIKIRIAMA et al., 2003; SILVA
et al., 2011).
As desvantagens dos procedimentos periodontais cirúrgicos geralmente
são: recessão gengival, comprometimento
estético, risco de cárie radicular e perda
óssea (LINDHE et al., 2011).
Várias outras técnicas menos invasivas possibilitam o isolamento absoluto,
como utilização de grampos especiais,
bandas ortodônticas, tracionamento dental e confecção de coroas provisórias
dos mais variados materiais (VICENTE
NETO et al., 2006; RODRIGUES et al.,
2009; SILVA et al., 2011).
Em dentes com grande destruição
coronária ou com estrutura mínima de
coroa (SILVA et al., 2011), o isolamento
absoluto do campo operatório torna-se
inviável pelas técnicas convencionais.
Procurando solucionar esses problemas,
Berger (1985) incorporou uma técnica
para a realização do isolamento absoluto,
nesses casos, confeccionou uma coroa
com pino de ponta de caneta esferográfica vazado.
Conclusão
De acordo com o caso clínico desenvolvido, pode-se concluir que:
•
a extensa destruição coronária não
foi um fator limitante para o uso do
isolamento absoluto do campo operatório;
•
a confecção do dispositivo provisório
foi de fundamental importância para
a realização do isolamento absoluto e
o restabelecimento da estética da paciente e a função do dente;
16
•
DELFINO et al.
o uso de técnicas menos invasivas é
um fator positivo para realizar um
tratamento mais rápido no qual as
condições sistêmicas e bucais possam ser limitantes.
Referências
AHMAD, A. Rubber dam usage
for endodontic treatment: a review.
International Endodontic Journal, v. 42,
n. 11, 2009, p. 963-972.
ANABTAWI,
M.F.;
GILBERT,
G.H.; BAUER, M.R.; REAMS, G.;
MAKHIJA, S.K.; BENJAMIN, P.L.; DALE
WILLIAMS, O.; NATIONAL DENTAL
PRACTICE-BASED
RESEARCH
NETWORK
COLLABORATIVE
GROUP. Rubber dam use during root
canal treatment: Findings from the dental
practice- based research network. Journal
of the American Dental Association, v.
144, n. 2, 2013, p.179-186.
BERGER, C.R. Instrumentos e
materiais usados em endodontia.
Esterilização, preparo do instrumental
para
esterilização,
isolamento
absoluto. In:______. Endodontia. Rio
de Janeiro: Publicações Científicas;
1985. p. 55-56.
ENDO, M.S.; COSTA, J.V.; NATALI,
M.R.M.; QUEIROZ, A.F. Efeito in vivo
do etil-cianocrilato como isolamento
absoluto em gengiva inserida. Revista de
Odontologia da UNESP, v. 36, n. 3, 2007,
p. 287-292.
HILL, E.E. & BARRY, S.R. Do dental
educators need to improve their approach
to teaching rubber dam use? Journal of
Dental Education, v. 72, n. 10, 2008, p.
1177-1181.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
ISHIKIRIAMA,
S.K.;
RESENDE,
D.R.B.; ISHIKIRIAMA, A. O manejo
do periodonto marginal na inter-relação
periodontia-dentística. Biodonto, v. 1, n.
6, 2003, p. 19.
KUO, S.C. & CHEN, Y.L. Accidental
swallowing of an endodontic file.
International Endodontic Journal, v. 41,
2008, p. 617-622.
LEONARDO, M.R. & LEONARDO,
R.T. Etapas operatórias do tratamento do
sistema de canais radiculares. In:______.
Tratamento de canais radiculares:
avanços tecnológicos de uma endodontia
minimamente invasiva e reparadora. São
Paulo: Artes Médicas; 2012. p. 15-20.
LINDHE, J.; LANG, N.K.; KARRING,
T.
Cirurgia
plástica
periodontal.
In:______. Tratado de periodontia clínica
e implantologia oral. Rio de Janeiro:
Guanaba Koogan; 2011. p. 917-983.
MACHADO, M.E.L. Endodontia: da
biologia à técnica. São Paulo: Editora
Santos; 2009.
PEDROSA, F.A.Z.; SILVEIRA, R.R.;
YAMAUTI, M.; CASTRO, C.D.L.;
FREITAS, A.B.D.A. Isolamento do
campo operatório: panorama de utilização
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
em consultórios e clínicas privadas de
Belo Horizonte, MG, Brasil. Pesquisa
Brasileira em Odontopediatria e Clinica
Integrada, v. 11, n. 3, 2011, p. 443-449.
RODRIGUES, A.H.C.; NASCIMENTO,
P.R.G.; BARBOSA, J.F.S. Confecção de
núcleo de preenchimento utilizando-se
matriz de resina acrílica: relato de caso.
Arquivo Brasileiro de Odontologia, v. 52,
2009, p. 5-70.
SHASHIREKHA
G.;
AMIT,
J.;
PANKAJ, K.P. Prevalence of use rubber
dam during endodontic procedure:
a
questionnaire
survey.
Journal
of Clinical and Diagnostic Research, v. 8,
n. 6, 2014, p. 1-3.
SILVA, F.R.; BERGER, C.R.; PELISSARI,
A.C.; KRÖLING, E.A.; PADILHA, E.Z.
Técnica de isolamento absoluto em dentes
com estrutura remanescente mínima: revisão
de literatura. UEPG: Ciências Biológicas e
da Saúde, v. 17, n. 2, 2011, p. 113-121.
VICENTE NETO, P.; FERREIRA,
L.P.C.; RIBEIRO, J.G.R.; PEREZ,
F.; SEGALLA, J.C.M. Técnica para
realização de isolamento absoluto
com coroas provisórias. Revista de
Odontologia da UNESP, v. 35, número
especial, 2006, p. 99.
17
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar.
Qual teste pode ser utilizado?
Clinical problem of determination of pulp vitality.
Which test can be used?
Vanessa Carla de Queiroz Neves1, Renata Moya Martelli1, Elizangela Partata Zuza2, Juliana Rico Pires2,
Benedicto Egbert Corrêa de Toledo2
Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas, Centro Universitário da
Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) – Barretos (SP), Brasil.
2
Professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas, UNIFEB – Barretos (SP), Brasil.
1
Resumo
A maior e essencial parte do processo de diagnóstico das doenças pulpares é o uso de testes para a avaliação da sensibilidade e vitalidade da polpa, a fim de se obter uma informação adicional para o diagnóstico clínico. Diferentes testes foram desenvolvidos ao longo do tempo, como os testes térmicos a frio ou
calor e os elétricos. Esses testes continuam sendo utilizados até hoje, entretanto apresentam limitações
e falhas. Os testes Laser Doppler Flowmetry e oxímetro de pulso foram desenvolvidos para obter maior
acurácia no diagnóstico do estado pulpar. O objetivo do presente estudo foi analisar o uso clínico desses testes por meio de consulta da literatura científica disponível dos últimos anos, com a finalidade de
propiciar aos clínicos uma orientação sobre suas características e indicação dos testes. Foi observado que
nenhum teste mostrou superioridade aos outros, indicando que os resultados devem ser cuidadosamente
analisados. Por razões práticas, foi concluído que os testes térmicos a frio, como o spray de substância
refrigerante, foram os testes de escolha em razão de sua alta sensibilidade e reprodutibilidade.
Palavras-chave: diagnóstico pulpar; testes de sensibilidade; vitalidade pulpar.
Abstract
The major and essential part of the diagnosis process of the pulp conditions is to use tests for pulp sensitivity and vitality evaluation in order to obtain additional information for clinical diagnosis. Different tests
have been developed over time, such as the heat or cold thermal tests and the electrical one. These pulp
tests are still be used nowadays, therefore they have been showed limitations and failures. Laser Doppler
Flowmetry and pulse oximeters were developed to get a more accuracy on the diagnosis of the pulp status.
The proposal of the present study was to analyze the clinical use of these tests by consulting the available
scientific literature in recent years, with the aim of providing guidance on the clinical characteristics and
test indication. It was observed that there was no superiority among tests, indicating that results should
be carefully analyzed. For practical reasons, it was concluded that the cold thermal tests, such as cooling
substance spray, was the test of choice due its high sensitivity and reproducibility.
Keywords: pulp diagnosis; sensitivity pulp test; pulp vitality tests.
Autor para correspondência: Vanessa Carla de Queiroz Neves – Avenida Professor Roberto Frade Monte,
389 – Aeroporto – CEP 14783-226 – Barretos (SP), Brasil – E-mail: [email protected]
Recebido em: 12/09/2014
Aceito para publicação em: 17/07/2015
Ciência e Cultura
19
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
Introdução
Ao longo da vida do dente, a polpa
apresenta inúmeras alterações fisiológicas
ou reparativas que resultam em redução progressiva no tamanho da cavidade
pulpar. Diferentes autores, estudando a
histologia pulpar, têm descrito sinais que
caracterizam um envelhecimento do tecido (BADILLO e BROUILLET, 1991;
TEN CATE, 1994).
Ingle e Bakland (1994) afirmam
que nossos dentes envelhecem não
somente com o passar do tempo mas também sob a ação de estímulos da função e
de irritantes. Dessa forma, embora ocorra
influência do avanço cronológico, algumas alterações da polpa, pelo seu íntimo
contato com a dentina, podem representar
uma resposta prematura a agressões como
a cárie, restaurações extensas, trauma ou
doença periodontal.
Assim, como muito bem salienta
Aguiar (1999), “parece difícil, frente à análise dos estudos disponíveis, observar uma
imagem de polpa isenta de agressões”.
Isso ocorre porque, desde que o dente
surge na arcada, uma série de irritações
passam a influenciar, em maior ou menor
grau, as suas estruturas. Inicialmente, são
as agressões fisiológicas ligadas à função
e, ao longo do tempo, a essas se somam
problemas patológicos ligados à cárie e
agressões das intervenções clínicas como
os procedimentos operatórios restaurativos, traumas ou tratamento periodontal.
As alterações na fisiologia pulpar, provocadas por estímulos contínuos
e duradouros, resultarão em dor como
resposta, podendo a intensidade variar
de suave a moderada ou severa, conotando com o comprometimento pulpar.
Essas alterações poderão ser resultantes
de injúrias aos tecidos pulpares por substâncias químicas atuando diretamente
20
NEVES et al.
sobre a dentina ou por estímulos irritantes. Na fase inflamatória reversível, uma
vez removido o estímulo ou devidamente
tratado, a normalidade do tecido pulpar
pode ser restabelecida. Porém, na fase
degenerativa é improvável que o estado
pulpar melhore, sinalizando uma anormalidade irreversível, na qual os sintomas
tendem a mudar o tempo todo.
Segundo Gopikrishna et al. (2009),
um dos grandes desafios na prática clínica
odontológica é a avaliação acurada do estado pulpar. Embora a questão da vitalidade
da polpa tenha interessado especialmente
os profissionais ligados à prática endodôntica, nos mais diferentes ramos da
Odontologia, a determinação da resposta
pulpar, como um indicativo da sua saúde,
morbidade ou mortalidade, é uma questão
fundamental no planejamento dos tratamentos clínicos.
De acordo com Chen e Abbott
(2009), a forma mais exata de avaliação do
estado pulpar é pelo exame de secções histológicas de amostras teciduais envolvidas
para avaliar a extensão da inflamação ou a
presença de necrose como meio de aferir
a saúde pulpar. Infelizmente, no cenário
clínico isso não é possível nem prático,
e, assim, indica-se a utilização de testes
pulpares para a avaliação da vitalidade da
polpa, a fim de se obter uma informação
adicional para o diagnóstico clínico.
A maior e essencial parte do processo de diagnóstico das doenças pulpares
é o uso de testes de sensibilidade pulpar.
Diagnosticando a origem da dor pulpar, ou
seja, o dente causador da sintomatologia,
esses mesmos testes podem ser usados na
reprodução dos sintomas relatados pelo
paciente, no diagnóstico do dente doente, bem como no estado da doença pulpar
(JAFARZADEH e ABBOTT, 2010a).
Entretanto, esses autores chamam a atenCiência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
ção para a maior limitação desses testes,
que é mostrarem indiretamente a indicação do estado pulpar ao medir a resposta
neural e não o suplemento vascular, podendo ocorrer respostas falso-negativas
e falso-positivas; assim, surgiram os testes de vitalidade, procurando verificar as
condições circulatórias e de oxigenação
dos tecidos pulpares (CHEN e ABBOTT,
2009; JAFARZADEH e ABBOTT, 2010a).
Assim, a finalidade deste estudo foi
realizar uma revisão para esclarecer os
clínicos sobre importantes características
dos testes de sensibilidade e vitalidade da
polpa dental, relatadas na literatura, bem
como as suas indicações clínicas.
Metodologia
Para a realização do estudo,
inicialmente, foi realizada uma busca bibliográfica nos sítios da PubMed e EBSCO,
na qual a palavra-chave “pulp tests” foi
cruzada com “clinical study”. A busca
foi ampliada manualmente. Foram selecionados estudos que analisassem as
características dos diferentes testes de
avaliação da sensibilidade e vitalidade
pulpar e as revisões de excelência sem
atribuição de limites.
Revisão da literatura
Para Kolbinson e Teplitsky (1988),
o teste pulpar elétrico (EPT) é um valioso auxiliar no diagnóstico da vitalidade
pulpar, no entanto a sua utilização com o
operador usando luvas de procedimentos
é controversa. Esses autores realizaram
um estudo com 30 indivíduos, 15 do
sexo feminino e 15 do sexo masculino.
Todos os indivíduos tiveram dois dentes diferentes testados com o Analytic
Technology Digital Electric Pulp Tester
(EPT), um teste elétrico pulpar digital
com o operador utilizando luvas de látex
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
para procedimentos e um teste sem a utilização delas. Os resultados obtidos foram
registrados, não demonstrando diferenças
estatisticamente significativas quanto aos
resultados do EPT para os mesmos dentes, estando o operador com ou sem luvas
de procedimentos. No entanto, as diferenças entre as médias dos resultados do EPT
foram pequenas, e os autores concluíram
ser insignificantes quanto à determinação do diagnóstico nas diversas situações
clínicas. Portanto, concluiu-se que o paciente “completa o circuito” por também
segurar a alça metálica do eletrodo do
EPT, podendo os dentistas, de maneira fácil, confiável e com precisão, utilizarem
o testador elétrico usando luvas de látex
para procedimentos.
Bender et al. (1989) realizaram
um estudo com 12 dentes anteriores, em
53 pacientes, para determinarem o local de menor sensibilidade, ideal para o
posicionamento do eletrodo durante a
realização do teste elétrico pulpar. Os resultados mostram variações individuais
significativas no terço cervical, terço médio, terço incisal e borda incisal, com um
nível de confiabilidade de 99%, de acordo com a análise de variância. Os dentes
superiores apresentaram um limiar de resposta maior do que os dentes inferiores, e
diferentes tipos de dentes (caninos e incisivos) apresentaram limiares de resposta
diferentes estatisticamente significativas.
Concluíram que a aplicação do eletrodo
do teste elétrico na borda incisal produz
menor resposta sensitiva, ou seja, é um
local ideal para o teste elétrico determinar
a vitalidade pulpar com um limiar de resposta menor significativamente.
Peters et al. (1994) investigaram as
respostas negativas e positivas de 1.488
dentes, em 60 pacientes, utilizando testes pulpares elétricos e térmico a frio.
21
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
Os dentes foram divididos em três subgrupos — os doentes (despolpados ou
que receberam tratamento endodôntico
parcial), os que receberam tratamento endodôntico (canais obturados), e os que
apresentavam radiolucência apical, os
quais foram identificados — e suas respostas, avaliadas separadamente. Os testes
foram aplicados em duas superfícies do
dente (oclusal e cervical) e no tecido gengival de cada paciente, com os dois testes
elétricos. As principais conclusões foram
que os dentes que não respondiam ao teste
frio nem ao elétrico, ou respondiam a altos
níveis de leitura do teste elétrico, tinham
uma grande probabilidade de pertencerem
ao grupo dos despolpados ou com polpa
alterada; as únicas respostas falso-positivas ao frio, nos três subgrupos, foram em
dentes multirradiculares, provavelmente
pela permanência de vitalidade em pelo
menos um canal. Nos três subgrupos, se as
respostas falso-positivas ao teste elétrico
foram em níveis mais elevados do que a
resposta tecidual do paciente, estas foram
consideradas como negativas. A diferença
de falso-positivos entre os testes frio e elétrico não foi estatisticamente significante.
Medeiros e Pesche (1997) analisaram a eficácia do bastão de gelo e do
tetrafluoroetano na determinação da vitalidade pulpar. Testaram em 594 dentes
humanos cariados, restaurados e íntegros, de 72 pacientes, de 47 a 60 anos.
Verificaram que a aplicação do gás de tetrafluoroetano estatisticamente propiciou
maior número de acertos quando comparado ao bastão de gelo.
Myers (1998), ao estudar as características do teste elétrico na determinação
da sensibilidade das condições pulpares,
utilizando um medidor elétrico multifuncional e não um pulp test convencional,
verificou que a corrente elétrica pode via-
22
NEVES et al.
jar entre os dentes adjacentes através de
contato com restaurações de amalgama
interproximais, sugerindo respostas falso-positivas, alertando para um cuidado
na interpretação dos seus resultados em
dentes que apresentem essas restaurações.
Hall e Freer (1998) estudaram o
efeito da movimentação ortodôntica sobre
a resposta pulpar em indivíduos de 14 a
18 anos de idade, nos 6 dentes anteriores,
superiores, íntegros, sem lesões de cárie,
restaurações ou trauma. Os dentes foram
secos e isolados, pois o campo seco é essencial durante o teste elétrico para evitar
a propagação da corrente elétrica sobre
o dente, atingindo fibras periodontais.
Como controle, os testes foram aplicados
em dentes posteriores, para avaliar o tipo
de sensação esperada. Foram aplicados
os testes pulpares elétrico e térmico (frio
e calor) antes da movimentação dos dentes e após um e dois meses. Para o teste
elétrico, foi utilizado um aparelho Analytical Technology, e o sítio de aplicação foi
o terço incisal, para evitar a interferência
das bandas. Para o teste a frio, utilizouse o dióxido de carbono em cristais de
neve, e para o teste quente, utilizou-se a
guta-percha aquecida, com vaselina previamente aplicada sobre o dente. Após os
períodos de um e dois meses, houve falta
de resposta ao estímulo elétrico, mas continuaram as respostas aos testes térmicos.
Os resultados sugeriram que os testes
elétricos, realizados durante o tratamento ortodôntico, deverão ser interpretados
com cautela, e que os testes térmicos ofereceram dados mais confiáveis.
Petersson et al. (1999) procuraram
avaliar a habilidade dos testes térmicos
e elétricos em registrar a vitalidade pulpar. Os testes térmicos estudados foram a
frio (cloreto de etila), a calor (guta-percha
quente) e o elétrico (Analityc Technology
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Pulp Tester). A sensibilidade, a especificidade e os valores preditivos negativo e
positivo foram calculados com um “padrão-ouro”, estabelecido pela inspeção
direta da polpa de 46 dentes vitais e 29
com polpas necróticas. Os resultados indicaram que a probabilidade de uma reação
negativa representar uma polpa necrótica
foi de 89% com o teste a frio, 48% com o
teste quente e 88% com o teste elétrico.
Isso também indicou que a probabilidade
de uma reação sensitiva representar uma
polpa vital foi de 90% com o teste frio,
83% com o quente e 84% com o elétrico.
Segundo Cardon et al. (2007), o
primeiro problema nos diagnósticos pulpares parece ser o de identificar o dente
sintomático quando a polpa está em estado irreversível, com a doença restrita ao
sistema de canais radiculares. Diferentes
métodos de testar a vitalidade pulpar têm
sido utilizados na tentativa de determinar
as condições da polpa; no entanto, até o
momento, não têm conseguido cumprir
tal função na medida em que têm somente
capacidade de determinar se existe sensibilidade por parte do paciente ao estímulo
dado pelo determinado teste. Na opinião
dos autores, o teste elétrico de sensibilidade pulpar pode ser usado como um meio
auxiliar no diagnóstico das condições pulpares, sendo até o momento a única forma
de quantificar objetivamente a resposta
do paciente aos estímulos, porém pode
apresentar resultados falso-positivos e
falso-negativos.
Lin et al. (2008), considerando que
o teste elétrico pulpar tem sido utilizado
e disseminado por mais de um século na
prática odontológica, realizaram uma revisão de literatura para obterem uma ampla
visão sobre esse teste auxiliar de diagnóstico. As considerações clínicas incluíram
o isolamento do dente, a utilização de luCiência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
vas e a colocação do eletrodo. Concluíram
que, embora o teste elétrico seja valioso,
nenhum teste pulpar sozinho poderá ser
confiável na determinação do diagnóstico
das alterações pulpares. Advertiram quanto
ao levantamento da história do paciente e ao
comportamento dele, à utilização apropriada das radiografias, às respostas alcançadas
pelos dentes controles e às limitações dos
testes elétricos, especialmente, nos casos
de dentes imaturos e traumatizados, que
deverão ser considerados e cuidadosamente analisados.
Bruno et al. (2009) fizeram uma
análise microscópica de polpas de dentes
humanos permanentes, traumatizados, em
20 pacientes que haviam sofrido subluxação, luxação extrusiva, luxação lateral
ou avulsão ao trauma, com coroa intacta
e diagnóstico clínico de necrose pulpar.
Avaliaram-se a resposta aos testes pulpares
térmicos e elétricos, a percussão e a mobilidade. Dos 20 dentes que tiveram a polpa
removida, 15% não apresentavam tecido
pulpar, 15% mostravam necrose parcial
e 70% tiveram necrose total. Os resultados dos testes de vitalidade pulpar foram
negativos em 90% quando submetidos a
estímulo ao calor e 85% ao frio. Por outro lado, 75% foram positivos à percussão
e 50% foram positivos ao teste elétrico.
Os autores concluíram que os testes de
sensibilidade térmica, ao calor e ao frio,
foram mais precisos do que o teste elétrico
para a determinação da vitalidade pulpar.
Weisleder et al. (2009), em estudo em vivo, avaliaram a validade de dois
testes térmicos, o frio e o elétrico, na
determinação da vitalidade pulpar, comparando com a inspeção direta da polpa,
em 105 pacientes que procuraram tratamento endodôntico. Os pacientes foram
classificados como tendo a polpa vital
ou necrótica mediante a utilização dos
23
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
testes pulpares, com confirmação posterior pela presença de sangue no acesso
por meio de uma cavidade. Foram calculados sensitividade, especificidade e
valores preditivos de cada teste e a combinação dos testes, para determinar suas
validades e utilização clínica. Os três
testes confirmaram a vitalidade da polpa
em 97% dos dentes, enquanto em 90%
foi confirmada a presença de uma polpa
necrótica; a combinação de testes determinou a presença de polpa necrótica em
46% dos 10% restantes. Esses resultados
dão suporte à utilização desses testes para
o diagnóstico do estado pulpar e revelam
que a associação dos testes frio e elétrico
resulta em diagnóstico mais acurado.
Tavares (2010), estudando in vitro a capacidade de diferentes testes
térmicos de provocarem alterações de
temperatura da câmara pulpar, utilizou
pré-molares extraídos, três gases refrigerantes e guta-percha aquecida, como
agentes sensibilizadores, além de um termômetro conectado a um termopar para
avaliar as variações da temperatura. Os resultados demonstraram que o Congelante
aerossol promoveu maior capacidade de
alterações térmicas dentro da cavidade
pulpar quando comparado com o Endofrost, Endo-ice e a guta-percha aquecida,
podendo ser utilizado para testes de sensibilidade pulpar.
Jafarzadeh e Abbott (2010a) salientam que a maior e essencial parte do
processo de diagnóstico das doenças da
polpa é o uso dos testes de sensibilidade pulpar. Ao diagnosticar a dor pulpar,
esses testes podem ser usados para reproduzir os sintomas relatados pelo
paciente e diagnosticar o dente doente,
bem como o estado da doença. A maior
limitação desses testes é que apenas indicam indiretamente o estado da polpa,
24
NEVES et al.
medindo uma resposta neural e não o
suprimento vascular, o que pode levar a
resultadosfalso-negativosoufalso-positivos.
Assim, ao revisarem a literatura sobre os
testes de sensibilidade térmica ao frio e
ao calor, concluíram que, se esses testes
forem usados apropriadamente, a injúria
da polpa dental é altamente improvável,
mas os resultados devem ser interpretados com cautela.
Jafarzadeh e Abbott (2010b), agora
analisando os dados do teste elétrico pulpar e o teste de cavidade, sugerem que o
teste elétrico é um tipo de teste de sensibilidade que pode ser utilizado como um
meio auxiliar de diagnóstico do estado
de saúde pulpar, porém apresentando as
mesmas limitações dos testes térmicos.
O teste elétrico não fornece uma informação direta sobre a vitalidade da polpa, em
termos de fluxo sanguíneo, ou se a polpa
está necrótica. Assim, respostas falso-positivas poderão ocorrer, além de existirem
fatores que podem afetar os resultados.
É importante que o clínico compreenda a
natureza desse teste e saiba como interpretar seus resultados. O teste de cavidade
requer cautelosa indicação, em razão de
sua natureza invasiva e irreversível, não
podendo ser utilizado em pacientes ansiosos, e não fornecendo informações além
das que possam ser obtidas por meio dos
testes térmicos.
Segundo Gutmann e Lovdahl
(2012), as alterações pulpares foram definidas, clinicamente, mediante as respostas
aos testes térmicos, não somente quanto a
se a polpa responde, mas como ela responde. Porém, o valor desses testes tem sido
questionado até certo ponto quanto à sua
correlação direta com a existência de um
processo patológico. Os testes térmicos
existem na Odontologia há muito tempo,
fornecendo uma avaliação indireta através
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
da estimulação do tecido nervoso ou do
fluxo sanguíneo. Salienta-se que, embora
não forneçam a condição fisiológica ou
a saúde relativa do tecido pulpar, esses
testes, com algumas modificações, continuam a ser utilizados na prática clínica.
Portanto, deve-se considerar que a magnitude da resposta é menos importante que
a duração, uma vez que qualquer resposta
aos testes que dure 10 segundos, ou mais,
é considerada anormal, sendo improvável
que o estado da polpa melhore.
Com os testes térmicos, é possível
reproduzirmos sensações relatadas pelo
paciente. Existem dois aspectos que deverão ser avaliados, se a polpa responde ou
não aos testes e o aspecto qualitativo da
resposta. Dentre os testes térmicos mais
comumente utilizados para a determinação da vitalidade pulpar, estão o teste frio
com substâncias refrigerantes, e o teste de
calor (bastão de guta-percha aquecida).
A guta-percha aquecida é um recurso empregado e criticado quanto à possibilidade
de respostas falso-negativas pelo fato de
não existir um controle da manutenção
constante dessa temperatura (CHEN e
ABBOTT, 2009), enquanto o teste frio
com gás refrigerante mostrou eficácia clínica comprovada.
Mejàre et al. (2012) realizaram uma
revisão sistemática, avaliando a exatidão
dos sinais e sintomas pulpares e dos testes utilizados para determinar a condição
da polpa nos dentes afetados por lesões
de cárie profundas, traumas ou outros tipos de injúria. Com base em estudos de
alta ou moderada qualidade, a qualidade da evidência de cada método/teste de
diagnóstico foi classificada em quatro
níveis. Nenhum dos estudos atingiu uma
alta qualidade, e dois foram de média
qualidade. As evidências em geral foram
insuficientes para afirmar o valor quantiCiência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
tativo da dor de dente, ou reação anormal
ao estímulo frio ou ao calor, na determinação da condição pulpar. Isso também se
aplica aos métodos de estabelecimento do
estado pulpar, incluindo o Pulp test elétrico ou o teste térmico, ou aos métodos de
medida da circulação sanguínea pulpar.
Villa-Chávez et al. (2013) verificaram clinicamente a probabilidade de
os testes pulpares, térmico e elétrico,
realizarem um correto diagnóstico, determinando sensibilidade, especificidade,
acurácia, reprodutibilidade e os valores
preditivos positivos e negativos. Os testes
foram aplicados em 110 dentes, sendo 60
dentes vitais e 50 com polpa necrótica; o
padrão ideal foi estabelecido pela inspeção direta da polpa. A mais alta acurácia
(0.94) e reprodutibilidade (0.88) foram
observadas para os testes a frio, o que
levou esses autores a considerarem esse
teste como o método mais indicado para o
diagnóstico das condições pulpares.
Abu-Tahun et al. (2012) afirmam
que a atual diversidade de opiniões no diagnóstico endodôntico tem sido uma fonte de
interesse e debate acadêmico entre clínicos
e pesquisadores. Segundo esses autores,
atualmente, nenhum teste de vitalidade
pulpar isolado pode realmente diagnosticar
as condições pulpares e não tem provado
ser superior nos outros aspectos.
A preocupação com os meios de
diagnóstico em Endodontia foi expressa
por Borges (2002) quando avaliou o uso
da radiografia convencional e digital indireta e a tomografia computadorizada
helicoidal, confrontando seus resultados
com exames macroscópicos já realizados clinicamente. A conclusão foi que os
melhores resultados foram, em ordem decrescente, da tomografia computadorizada,
seguida da radiografia digital e, por último,
da radiografia convencional. Essa preocu-
25
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
pação com os meios de diagnóstico em
Endodontia, revelada por Borges, também
se manifesta na busca de novos testes de
sensibilidade e vitalidade pulpar.
Assim, Ingolfsson et al. (1994)
procuraram verificar se o Laser Doppler
Flowmetry (LDF) poderia auxiliar na
determinação de dentes com polpa necrótica entre os dentes vitais. Onze dentes
anteriores com polpa necrosada, diagnosticada clinicamente, foram medidos
com o LDF e comparados a dois pares de
dentes contralaterais com polpas vitais.
Com o método LDF, os sinais provenientes dos dentes com polpa necrótica foram
significativamente mais baixos do que nos
dentes contralaterais vitais, sendo 42,7%
em média mais baixos. Dos 11 dentes
com polpa necrótica, 4 responderam positivamente ao teste elétrico pulpar.
Hartmann et al. (1996) realizaram,
em humanos, um estudo procurando determinar os efeitos do meio ambiente
nas medidas do fluxo sanguíneo pulpar
realizadas com a utilização do LDF. O estudo foi focado na análise de três pontos:
isolamento do campo, tipo de dente e
influência da superfície onde foi feita a
medida. Concluíram que, no homem,
a participação do periodonto pode ter
subestimado as avaliações anteriores do
fluxo sanguíneo pulpar.
Segundo Evans et al. (1999), o LDF
é uma técnica eletro-ótica não invasiva, que
permite uma avaliação semiquantitativa do
fluxo sanguíneo pulpar. Esses autores fizeram um estudo procurando determinar a
efetividade, medida como sensibilidade e
especificidade, do LDF como um método
de verificação da vitalidade pulpar de dentes anteriores traumatizados, comparando
seus resultados com os testes de diagnósticos pulpares padrão (história clínica da
dor, percussão, descoloração coronária,
26
NEVES et al.
radiografia e sensibilidade, com o frio pelo
cloreto de etila e com o pulp test elétrico).
Foram utilizados 67 dentes não vitais anteriores, de 55 pacientes, em que o estado
pulpar foi confirmado pela Pulpectomia.
Como controle, foram utilizados 84 dentes vitais anteriores. Os resultados foram
considerados em termos de sensibilidade
e especificidade de 1.0. Nenhum dos testes-padrão de diagnóstico pulpar foram
considerados confiáveis. Verificou-se sensibilidade de 0.92 com o de cloreto de etila,
de 0.36 para a radiografia periapical e 0.16
para a história da dor.
Goodis et al. (2000) mediram o fluxo
sanguíneo pulpar e a sensibilidade ao estimulo elétrico em dentes com temperaturas
reduzidas. O Laser Doppler foi utilizado
para medir o fluxo de sangue da polpa, e
os limiares sensoriais foram registrados
simultaneamente, usando-se um pulp test
elétrico. Com a temperatura reduzida dos
dentes, as respostas ao estímulo diminuíram e o fluxo sanguíneo também, mas não
cessou completamente. Concluíram que
nos dentes com temperatura reduzida os
limites sensoriais foram alterados, e em
alguns casos abolidos, sem interrupção do
fluxo sanguíneo pulpar.
Outro tipo de teste sugerido para avaliar a vitalidade pulpar é a oximetria de pulso,
que é um método não invasivo para a determinação da saturação de oxigênio e taxa
de pulso de um tecido. Trabalha com duas
fontes de luz, que detectam hemoglobina
oxigenada (sangue arterial) e hemoglobina
desoxigenada (sangue venoso). A proporção de absorção de dois comprimentos de
luz fornece a porcentagem de oxigenação
do sangue. A taxa de pulso é determinada
pelas trocas entre o sangue arterial altamente saturado de oxigênio sobre o sangue
venoso livre de oxigênio e a mudança na recepção da luz.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Gopikrishna et al. (2006) pesquisaram o uso de uma sonda de um oxímetro
de pulso adaptado ao uso dental para verificar a saturação de oxigênio vascular da
polpa dental em dentes permanentes. Verificaram que as leituras do oxímetro de
pulso podem diferenciar os dentes vitais
dos não vitais, e os seus valores são menores que os encontrados nos dedos dos
pacientes, mas afirmam que o oxímetro de
pulso é uma alternativa para os métodos
térmicos e elétricos de avaliação da vitalidade pulpar.
Abrão (2006) avaliou o uso da oximetria de pulso como recurso auxiliar na
determinação da vitalidade pulpar de dentes permanentes traumatizados. Salientou
que os recursos semiotécnicos específicos
para verificação da vitalidade pulpar mais
comumente empregados são os testes
térmicos e elétricos, mas que são testes
com limitações clínicas que interferem na
análise e interpretação dos dados obtidos.
Os testes de sensibilidade são estímulos de
origem térmica, elétrica ou mecânica aplicados aos dentes e que são transmitidos
às fibras nervosas sensitivas pulpares, não
levando em consideração a atividade circulatória de tecido pulpar e as condições
de oxigenação, que são os reais indicadores da vitalidade do tecido. Nos casos de
traumatismos dentários, por diversos fatores, a resposta pulpar se torna mais difícil
de ser obtida. Seu estudo procurou estabelecer parâmetros para a utilização do
oxímetro de pulso, como teste de vitalidade pulpar, avaliando comparativamente os
níveis de saturação de oxigênio do dedo
indicador com os de dentes controles positivos e dentes traumatizados do mesmo
paciente. Os dentes traumatizados apresentavam resposta negativa aos testes de
sensibilidade pulpar com gás refrigerante
e ausência de outro sinal ou sintoma de
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
necrose pulpar. O autor concluiu que as
taxas de oxigenação obtidas nos dentes
traumatizado são confiáveis, permitindo
ainda um monitoramento da condição
pulpar ao longo do tempo.
Gopikrishna et al. (2007a) verificaram a eficiência de uma nova sonda dental
adaptada ao oxímetro de pulso com os
testes térmicos e elétricos de verificação
da vitalidade pulpar, analisando a sensibilidade, a especificidade e os valores
preditivos negativos e positivos de cada
teste, comparados com a inspeção direta
do estado pulpar. Seus resultados levaram à afirmativa de que a nova sonda é
um método efetivo e acurtado na avaliação da vitalidade pulpar. Esses mesmos
autores (GOPIKRISHNA et al., 2007b)
utilizaram a mesma sonda na medição
do estado pulpar de dentes recentemente traumatizados, e ela se mostrou mais
eficaz nas leituras da vitalidade positiva
desses dentes, em observações de 0 a 6
meses, quando comparadas com os testes
térmico e elétricos.
Calil et al. (2008) estudaram
28 incisivos centrais superiores e 32
caninos inferiores em 17 pacientes, medindo o estado pulpar com o oxímetro
de pulso, acoplado a um sensor para uso
odontológico com as medidas do dedo.
Foram encontradas diferenças nas mensurações entre a porcentagem de saturação
do oxigênio do dedo e dos dentes, respectivamente, de 95 e 91,2%. Os autores
concluíram que o oxímetro de pulso apresenta potencial para determinar o nível de
saturação de oxigênio pulpar.
Jafarzadeh e Rosenberg (2009)
apontam em uma revisão que, apesar de
o oxímetro de pulso ser considerado um
meio adequado de verificação da vitalidade pulpar, existem algumas limitações
inerentes à sua tecnologia, como o efeito
27
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
de aumento da acidez e razão metabólica,
que causam desoxigenização da hemoglobina e mudanças na saturação do oxigênio
sanguíneo, e que o movimento do corpo ou
sonda pode complicar as medidas obtidas.
Chen e Abbott (2009) afirmaram
que o teste pulpar é um auxiliar usual
e essencial ao diagnóstico em Endodontia. Esses testes, denominados de
sensibilidade, incluem os testes térmicos
e elétricos, que avaliam a saúde pulpar
pela resposta sensorial, e, embora sejam
os mais utilizados, não estão isentos de
limitações e falhas. Os testes de vitalidade devem verificar a condição do fluxo
sanguíneo pulpar, que é considerada uma
medida mais real da saúde pulpar do
que a sensibilidade propriamente. São
exemplos de testes de vitalidade o Laser
Doppler Flowmetry e a oximetria de pulso, que, embora apresentem resultados
promissores, ainda contêm muitas questões práticas que precisam ser resolvidas
antes que possam substituir os testes de
sensibilidade convencionais. Como todos os testes de vitalidade pulpar, os
resultados necessitam ser cuidadosamente interpretados, pois falsos resultados
podem levar a um mau diagnóstico e,
consequentemente, a tratamentos incorretos, inapropriados ou desnecessários.
Pozzobon et al. (2011) utilizaram
o oxímetro de pulso dental adaptado para
avaliar a efetividade na determinação do
fluxo sanguíneo pulpar em dentes decíduos e permanentes em 123 dentes de 84
crianças e comparar com os níveis obtidos
do dedo mínimo dos pacientes. O oxímetro de pulso foi capaz de identificar
todas as polpas clinicamente normais da
amostra, e em todos os dentes endodonticamente tratados, que foram os dentes
controles, a resposta foi negativa. Entretanto, não houve correlação entre os níveis
28
NEVES et al.
de saturação de oxigênio dos dentes e dos
dedos dos pacientes.
Resende (2011) avaliou a condição de vitalidade pulpar, in vivo, após um
trauma dental, comparando os testes de sensibilidade com os de vitalidade pulpar de 71
dentes traumatizados e 79 dentes colaterais
de 40 pacientes. A condição de vitalidade
pulpar, após o trauma, foi avaliada por meio
de 3 testes de sensibilidade (elétrico, térmicos quente e frio, e a oximetria de pulso).
Foram observados em um intervalo de no
mínimo 5 minutos entre cada um dos testes.
Verificou-se a correlação significativa entre
os testes de sensibilidade, tanto nos dentes
traumatizados como nos colaterais, mas
não entre os testes de sensibilidade e vitalidade. Isoladamente o oxímetro de pulso
mostrou alta porcentagem de diagnóstico
da vitalidade pulpar. Os resultados demonstraram que o oxímetro de pulso foi o teste
que apresentou maior eficácia na avaliação
da condição de vitalidade pulpar de dentes
traumatizados.
Discussão
A maior e essencial parte do processo de diagnóstico de doenças pulpares são
os testes de sensibilidade ou vitalidade pulpar (JAFARZADEH e ABBOTT, 2010a),
e, para atingir essa finalidade, inúmeros
testes têm sido utilizados ao longo do tempo por clínicos e pesquisadores.
Os testes de sensibilidade seriam
aqueles que medem uma resposta sensorial, transmitida pelas fibras nervosas
sensitivas pulpares, provocada por estímulos térmicos ou elétricos. Já os de
vitalidade seriam os que procurariam
verificar as condições circulatórias e a oxigenação dos tecidos pulpares (ABRÃO,
2006; CHEN e ABBOTT, 2009; ABBOTT
e SALGADO, 2009; JAFARZADEH e
ABBOTT, 2010a).
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Os testes de sensibilidade, térmicos a frio e calor, e o teste elétrico foram
os mais utilizados e pesquisados, com
diversas fontes de estímulo, excetuando o térmico ao calor, em que o agente
sempre foi a guta-percha (PETERSSON
et al.,1999; TAVARES, 2010), sendo criticada em razão da possibilidade de produzir
resultados falso-negativos pela falta de um
controle de manutenção constante de sua
temperatura (CHEN e ABBOTT, 2009).
Talvez por essa razão os testes térmicos
com o calor tenham mostrado resultados
inferiores aos testes com o frio ou elétrico (PETERSSON et al., 1999; TAVARES,
2010; VILLA-CHAVEZ et al., 2013), embora apareçam resultados comparáveis ao
teste ao frio (BRUNO et al., 2009).
Assim, os testes térmicos foram
estudados por Medeiros e Pesche (1997),
que encontraram melhores resultados
com o tetrafluoretano. Petersson et al.
(1999) relataram resultados superiores do
teste frio (cloreto de etila) sobre o quente (guta-percha) e o elétrico. Jafarzadeh e
Abbott (2009) os consideraram apropriados se os seus resultados forem analisados
com cautela. Tavares (2010), estudando
a capacidade de diferentes testes térmicos, afirmou que um aerossol congelante
poderia ser utilizado para testes de sensibilidade pulpar, com resultados superiores
ao Endo-Ice e Endofrost, produtos que são
bastante utilizados na clínica endodôntica. De acordo com Gutmann e Lovedahl
(2012), as alterações pulpares foram definidas clinicamente por meio das respostas
aos testes térmicos, que existem há muito
tempo e, com algumas modificações, continuam a ser utilizados na prática clínica.
O teste elétrico já foi definido como
valioso auxiliar no diagnóstico da doença pulpar (KOLBINSON e TEPLITSKY,
1988). As condições técnicas de sua utiliCiência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
zação foram analisadas por Bender et al.
(1989) e Peters et al. (1994), especialmente para evitar que sua propagação
atinja as fibras periodontais, o que poderia influenciar os resultados (HALL e
FREER, 1998). Peters et al. (1994) não
encontraram diferenças estatísticas de
falso-positivos entre dois testes elétricos
e o teste ao frio. Resultado semelhante ao encontrado por Petersson et al.
(1999) ao verificarem que as probabilidades de representar uma polpa necrótica
foram semelhantes entre os testes a frio e
os elétricos (89 e 88%) respectivamente.
Cardon et al. (2007) defende o uso dos
testes elétricos como meio auxiliar no
diagnóstico das condições pulpares afirmando ser, até o momento, a única forma
de quantificar objetivamente a resposta
do paciente diante dos estímulos, embora Hall e Freert (1988) tenham verificado
que os testes térmicos são mais confiáveis.
No entanto, Chen e Abbott (2009)
salientaram que os testes térmicos e elétricos, embora sejam os mais utilizados, não
estão livres de limitações e falhas. Esse
fato tem levado os pesquisadores a buscar
novos testes de avaliação da sensibilidade
ou vitalidade pulpar (BORGES, 2002).
Com essa finalidade, Ingolfsson
et al. (1994), Hartmann et al. (1996),
Evans et al. (1999) e Goodis et al. (2000)
procuraram verificar a utilização do LDF
como meio auxiliar na determinação da
vitalidade pulpar através de medida do
fluxo sanguíneo pulpar, sem resultados
significativos. Segundo Hartmann (1996),
os resultados de seu uso podem ser subestimados pela participação do periodonto.
Outro teste de vitalidade pulpar
sugerido é a oximetria de pulso, método
para a determinação da saturação do oxigênio e taxa de pulso de um tecido. Assim,
Gopikrishna et al. (2006), Abrão (2006) e
29
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
Calil et al.(2008) avaliaram o uso da oximetria de pulso como recurso auxiliar na
determinação da vitalidade pulpar, utilizando um aparelho adaptado para uso
odontológico. Concluíram que esse método apresenta um potencial para determinar
o nível de saturação de oxigênio pulpar,
e, se comparado aos testes térmicos e
elétricos, demonstrou maior eficiência
na verificação das condições pulpares de
dentes traumatizados (ABRÃO, 2006;
RESENDE, 2011).
Chen e Abbott (2009), na sua excelente revisão sobre os testes utilizados
para determinar as condições pulpares,
avaliam que, se os testes convencionais de
sensibilidade estão sujeitos a limitações e
falhas, os resultados dos testes de vitalidade, como o Laser Doppler Flowmetry
e oxímetro de pulso, também devem ser
cuidadosamente interpretados, porque,
embora sejam promissores, existem ainda muitas questões práticas e funcionais
(POZZOBON et al., 2011) que precisam
ser resolvidas antes que possam substituir
os de sensibilidade.
Assim, torna-se importante a
verificação de Evans et al. (1999) de que
nenhum dos testes de diagnóstico pulpar,
incluindo o térmico a frio, o elétrico
e o Laser Doppler Flowmetry, foram
considerados confiáveis em termos de
sensibilidade e especificidade, o que é
reafirmado por Abu-Tahum (2012) e
Mejàre et al. (2012).
Mejàre et al. (2012), após uma revisão sistemática sobre os testes utilizados
para determinar a condição da polpa,
afirmam que nenhum deles, incluindo
os térmicos, elétricos e os de circulação
sanguínea, foram suficientes para afirmar
o valor quantitativo ou as reações anormais do estado pulpar. Abu-Tahum et al.
(2012) consideraram que atualmente ne-
30
NEVES et al.
nhum teste de vitalidade pulpar isolado
pode realmente diagnosticar as condições
pulpares e não tem provado ser superior
aos outros.
O teste de cavidade é considerado
um procedimento-padrão na determinação
da vitalidade pulpar (VILLA-CHÁVEZ
et al., 2013). Por esse motivo, pode ser utilizado na confirmação dos resultados de
outros testes ou quando não há outro meio
de verificar o estado de vitalidade da polpa.
Requer uma cautelosa indicação, por sua
natureza invasiva e irreversível, e também
por não fornecer mais informações que os
testes térmicos (CHEN e ABBOTT, 2009;
JAFARZADEH e ABBOTT, 2010b), sendo contraindicado em pacientes ansiosos.
Assim, o mais confiável seria a
utilização de dois ou mais testes, como sugerem Toledo (2003) e Abbott e Salgado
(2009). Mas esse procedimento pode ser
reservado para as situações que necessitem de um diagnóstico mais apurado.
Na clínica diária, por razões práticas,
como armazenamento, baixo custo e
uma técnica de fácil aplicação, os testes
térmicos pulpares a frio, como o Endo
Frost e o Cold Spray (Roeko, Langenau,
Alemanha), podem ser os mais indicados (CHEN e ABBOTT, 2009), já que a
possibilidade de que uma reação negativa
represente uma polpa necrótica sob esse
estímulo é de 90 % (PETERSSON et al.,
1999; WEISLEDER et al., 2009).
Conclusão
Com base nos estudos encontrados na literatura, concluímos que, até o
momento, não existe um teste para verificação do estado de saúde/doença da polpa
que demonstre resultados superiores aos
outros, todos os testes apresentaram limitações e falhas. No entanto, como são
considerados essenciais no processo de
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
diagnóstico das doenças pulpares, os
resultados obtidos devem ser cuidadosamente analisados. Por razões práticas, e
com a probabilidade de uma reação sensitiva representar uma polpa vital em 90%,
os testes a frio com um spray refrigerante
poderão ser indicados na prática clínica
por seu alto grau de sensibilidade e reprodutibilidade.
teeth. Journal of the American Dental
Association,v. 118, 1989, p. 305-310.
Referências
ABBOTT, P.V.; SALGADO, J.C.
Strategies for the endodontic manegement
of concurrent endodontic and periodontal
diseases. Australian Dental Associations,
v. 54, 2009, p. 70-85.
BRUNO K.F.; ALENCAR, A.H.G.;
ESTRELA, C.; BATISTA, A.C.;
PIMENTA, F.C. Análise microscópica
de polpa de dentes humanos permanentes
traumatizados. Revista de Odontologia da
UNESP, v. 38, n. 1, 2009, p. 15-21.
ABRÃO, C.V. A oximetria de pulso como
recurso auxiliar na determinação da
vitalidade pulpar de dentes permanentes
traumatizados [dissertação de mestrado].
São Paulo: Universidade de São Paulo,
Faculdade de Odontologia; 2006.
CALIL, E.; CALDEIRA,C.L.; GAVINI,
G.; LEMOS, E.M. Determination of
pulp vitality in vivo with pulse oximetry.
International Association for Dental
Traumatology, v. 41, 2008, p. 741-746.
ABU-TAHUM, I.; RABAH’AH, A.;
KHRAISAT, A. A review of the questions
and needs in endodontic diagnosis.
Odonto-stomatologie Tropicale, v. 35,
2012, p. 11-20.
AGUIAR T.R.S. Estudo histopatológico
da polpa de dentes humanos portadores
de doença periodontal envolvendo o ápice
radicular [tese de doutorado]. São Paulo:
Universidade de São Paulo, Faculdade
de Odontologia; 1999. p. 63.BADILLO,
F.; BROUILLET, J.L. Vieillissement de
l!organe pulpo dentinaire. Revue Franchise
d’ endo., v. 10, n. 3, 1991, p. 41-54.
BENDER, I.B.; LANDAU, M.A.;
FONSECA, S.; TROWBRIDGE, H.D. The
optimum placement-site of the eletrode
in electric pulp testing of the 12 anterior
Ciência e Cultura
BORGES M.A.G. Avaliação comparativa
de diferentes meios para diagnóstico em
Endodontia [dissertação de mestrado].
São Paulo: Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de
Odontologia de Araraquara; 2002.
CARDON, E.B.; WAICKL, R.C.;
RÖSING, C.K. Análise da sensibilidade
pulpar em dentes com diferentes graus
de perda de inserção periodontal.
Periodontia, v. 17, 2007, p. 49-54.
CHEN, E.; ABBOTT, P.V. Dental Pulp
Testing: A Review. International Journal of
Dentistry, 2009; Article ID 365785, p. 1-12.
EVANS, D.; REID, J.; STRANG, R.;
STIRRPS, D. A comparison of laser
Doppler Flwmetry with other methods
of assessing the vitality of traumatized
anterior teeth. Endodontics & Dental
Traumatology, v. 15, 1999, p. 284-290.
GOODIS, H.E..; WINTHROP, V.,
WHITE, J.M. Pulpal responses to
cooling Tooth Temperatures. Journal of
Endodontics, v. 26, 2000, p. 263-267.
31
O problema clínico da determinação da vitalidade pulpar. Qual teste pode ser utilizado?
GOPIKRISHNA, V.; TINAGUPTA, K.;
KANDASWAMY, D. Assessment of the
efficacy of an indigeniously developed
pulse oximeter dental sensor holder for
pulp vitality testing. Indian Journal of
Dental Research, v. 17, 2006, p. 111-113.
GOPIKRISHNA, V.; TINAGUPTA,
K.; KANDASWAMY, D. Evaluation
of efficacy of a new custon-made pulse
oximetry dental probe in comparison with
the electrical and termal tests for assessing
pulp vitality. Journal of Endodontics, v.
33, 2007a, p. 411-414.
GOPIKRISHNA, V.; TINAGUPTA, K.;
KANDASWAMY, D. Comparison of
electrical, thermal, and pulse oximetry
methods for assessing pulp vitality in
recently traumatized teeth. Journal of
Endodontics, v. 33, 2007b, p. 531-535.
GOPIKRISHNA, V.; PRADEEP, G.;
VENKTESHABABU, N. Assessment
of pulp vitality: a review. International
Journal of Paediatric Dentistry, v. 19,
2009, p. 3-15.
GUTMANN, J.L., LOVDAHL, P.E.
Solução de Problemas no Diagnóstico
da Dor Odontogênica. Soluções em
Endodontia, 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier
Editora Ltda; 2012. p. 1-21.
NEVES et al.
INGLE,
J.I.;
BAKLAND,
L.K.
Endodontics. Baltimore: Lea & Feabinger;
1994. p. 472-477.
INGOLFSSON, E.R.; TRONSTAD, L.;
HERSH, E.V.; RIVA, C.E. Efficacy of laser
Doopler flowmetry in determining pulp
vitality of human teeth. Endodontics &
Dental Traumatology, v. 10, 1994, p. 83-87.
JAFARZADEH, H.; ABBOTT, P.V.
Review of pulp sensibility tests. Part 1:
general information and thermal tests.
International Endodontic Journal, v. 49,
2010a, p. 738-762.
JAFARZADEH, H.; ABBOTT, P.V.
Review of pulp sensibility tests. Part
II: electric pulp tests and test cavities.
International Endodontic Journal, v. 43,
2010b, p. 945-958.
JAFARZADEH, H.; ROSENBERG, P.A.
Pulse oximetry: review of a potential
aid in endodontic diagnosis. Journal of
Endodontics, v. 35, 2009, p. 329-333.
KOLBISON, D.A.; TEPLITSKY, P.E.
Electric pulp testing with examination
gloves. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral
Pathology,
Oral
Radiology,
and
Endodontology, v. 65, 1988, p. 122-126.
HALL, C.J.; FREER, T.J. The effects of
early orthodonyic force appilcation on
pulp test responses. Australian Dental
Journal, v. 43, 1998, p. 359-361.
LIN, S.; TILLINGER, G.; ZUCKERMAN, O.
Endodontic-periodontic
Bifurcation
Lesions: a Novel treatment Options.
Journal of Contemporary Dental Practice,
v. 9, n. 4, 2008, p. 1-8.
HARTMANN, A.; AZÉRAD, J.;
BOUCHER, Y. Enviromental effects
on Laser Doppler Pulpar Blood-Flow
measurements in man. Archives of Oral
Biology, v. 4, 1996, 333-339.
MEDEIROS, J.M.F.; PESCHE, H.F. Eficácia
do bastão de gelo e do tetrafluoroetana na
determinação da vitalidade pulpar. Revista
de Odontologia da Universidade de São
Paulo, v. 11, 1997, p. 1-6.
32
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
MEJÀRE,
I.A.;
AXELSSON,
S.;
DAVIDSON, T.; HAKEBERG, M.;
NORLUND, A.; PETERSSON, A.;
PORTENIER, I.; SANDBERG, H.;
TRANAEUS, S.; BERGENHOLTZ, G.
Diagnosis of the condition of the dental
pulp: a systematic review. International
Endodontic Journal, v. 45, 2012, p. 597-613.
MYERS, J.W. Demonstration of a
Possible Source of Error with an Electric
Pulp Test. Journal of Endodontics, v. 24,
1998, p. 199-201.
PETERS, D.D.; BAUMGARTNER, J.C.;
LORTON, L. Adultpulpal diagnosis.
I. Evaluation of the positive and negative
responses to cold and electrical pulp tests.
Journal of Endodontics, v. 20, 1994,
p. 506-511.
PETERSSON, K.; SÖDERSTRÖM,
C.; KIANI-ANARAKI, M.; LÉVY, G.
Evaluation of the ability of thermal and
electrical tests to register pulp vitality.
Endodontics and Dental Traumatology, v.
15, 1999, p. 127-131.
POZZOBON, M.H.; SOUSA, V.R.; ALVES,
A.M.; REYES-CARMONA, J.; TEIXEIRA
C.S.; FELIPPE, W.T. Assessment of pulp
blood flow in primary and permanent teeth
using pulse oximetry. Dental Traumatology,
v. 27, 2011, p. 184-188.
RESENDE, EF. Avaliação retrospectiva
da condição pulpar após trauma dental
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
[dissertação de mestrado]. Uberlândia:
Universidade Federal de Uberlândia,
Faculdade de Odontologia; 2011.
TAVARES, J.W.D. Avaliação in vitro da
temperatura obtida através de diferentes
testes térmicos em dentes humanos
extraídos a endodontia [trabalho de
conclusão de curso]. João Pessoa:
Universidade Federal da Paraíba,
Faculdade de Odontologia; 2010.
TEN CATE, A.R. Oral histology –
development, structure and function. St.
Louis: Mosby Year Book; 1994. p. 58-80.
TOLEDO, B.E.C. Quais são as atuais
abordagens no diagnóstico e tratamento
dos envolvimentos endoperiodontais?
In: LOTUFO, R.M.; LASCALA Jr, N.T.
(orgs). Periodontia e Implantodontia –
Desmistificando a ciência. São Paulo:
Artes Médicas; 2003. p. 297-305.
VILA-CHAVEZ,
C.E.;
PATIÑOMARIN, N.; LOYOLA-RODRIGUES,
J.P.; MARTINEZ-CASTAÑON, G.A.;
MEDINA-SOLIS, C.E. Predictive values
of termal and eletrical dental pulp tests: a
clinical study. Journal of Endodontics, v.
39, 2013, p. 965-969.
WEISLEDER, R.; YAMAUCHI, S.;
CAPLAN, D.J.; TROPE, M.; TEIXEIRA,
F.B. The validity of pulp testing: a clinical
study. Journal of the American Dental
Association, v. 140, 2009, p. 1013-1017.
33
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Remoção de odontoma composto associado a canino
impactado: relato de caso
Compound odontoma removal associated with impacted
canine: case report
Eric Barbosa de Camargo1,2, Monyk dos Santos Braga1, José Maurício de Souza Cruz Veloso Filho1,2,
Joseane Mary de Queiroz Nascimento1, Felipe Leite Coletti1, Celso Eduardo Sakakura1
Curso de Mestrado em Ciências Odontológicas, Centro Universitário da Fundação Educacional de
Barretos (UNIFEB) – Barretos (SP), Brasil.
2
Faculdade de Odontologia, Instituto Amazônia de Ensino Superior (IAES) – Manaus (AM), Brasil.
1
Resumo
Os odontomas são considerados uma malformação de desenvolvimento, de etiologia desconhecida, podendo estar associados à presença de dentes não irrompidos. Sua constituição se dá principalmente de
esmalte e dentina, com quantidade variável de cemento e polpa; são usualmente assintomáticos e de lenta
progressão. Seu diagnóstico ocorre, geralmente, por meio de exames radiográficos, e seu tratamento consiste em excisão cirúrgica. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso clínico de odontoma composto,
associado a um canino impactado, abordando os aspectos relativos a sua classificação, etiologia, diagnóstico, exames radiográficos e histológicos, além do tratamento proposto. Material e método: Paciente
de 39 anos de idade, gênero feminino, apresentou durante o exame intraoral ausência do elemento 43 e tumefação na região vestibular entre os elementos 42 e 44, com característica assintomática a palpação. Verificou‑se no exame radiográfico a presença de uma massa radiopaca envolta por uma cápsula radiolúcida,
sugestiva de odontoma composto, portanto o tratamento proposto foi excisão cirúrgica. O pós‑operatório
decorreu de forma satisfatória, a paciente não apresentou edema nem dor. O odontoma composto é assintomático, sendo diagnosticado por meio de exames radiográficos de rotina. A remoção cirúrgica é a
escolha mais adequada para essa patologia, visando a um prognóstico favorável.
Palavras‑chave: odontoma; dente impactado; dente canino; cirurgia bucal.
Abstract
Odontomas are considered a malformation of development, of unknown etiology, which can be associated with the presence of non‑erupted teeth. Its membership is mainly enamel and dentin, with variable
amount of cementum and pulp; odontomas are usually asymptomatic and of slow progression. Diagnosis
usually occurs through radiographic examination, and treatment consists of surgical excision. The objective of this study was to report a clinical case of compound odontoma associated with an impacted canine, addressing aspects relating to their classification, etiology, diagnosis, radiographic and histological
Autor para correspondência: Eric Barbosa de Camargo – Rua Prof. Roberto Frade Monte, 389 –
Aeroporto – CEP: 14783‑226 – Barretos (SP), Brasil – E‑mail: [email protected]
Recebido em: 01/04/2015
Aceito para publicação em: 15/09/2015
Ciência e Cultura
35
Remoção de odontoma composto associado a canino impactado – relato de caso
CAMARGO et al.
examinations in addition to the proposed treatment. Material and method: A 39‑years‑old patient, female
gender, presented during intraoral examination absence of the element 43 and swelling in the vestibular
region between elements 42 and 44, with asymptomatic characteristic palpation. It was found, in the presence of radiographic examination, a radiopaque mass surrounded by a radiolucent capsule, suggesting
compound odontoma, therefore the proposed treatment was surgical excision. The postoperative period
was satisfactory, the patient had no edema neither pain. The compound odontoma is asymptomatic and
diagnosed through routine radiographic examination. Surgical removal is the most suitable choice for this
pathology, aiming at a favorable prognosis.
Keywords: odontoma; impacted tooth; canine tooth; oral surgery.
Introdução
Apresentando tecidos de origem
epitelial e mesenquimal, o odontoma é
classificado como tumor odontogênico neoplásico misto. Tal termo foi utilizado pela
primeira vez por Brocca (1969 apud SANTOS e SAMPAIO, 1981) para designar de
forma genérica patologias que incluíam cistos e tumores odontogênicos (SANTOS e
SAMPAIO, 1981). Segundo a Classificação
Internacional de Tumores da Organização
Mundial da Saúde, os odontomas compostos são conceituados como malformações
em que as células apresentam completa
diferenciação, sendo atingido o estágio de
formação de esmalte e dentina.
De acordo com Tommasi (1998),
nos estágios iniciais de desenvolvimento
está presente uma proliferação de epitélio odontogênico e mesenquimal em
quantidade variável, sendo por isso que, histologicamente, as lesões apresentam todas
as estruturas dentárias: matriz de esmalte,
dentina, polpa e cemento em um estroma de
tecido conjuntivo fibroso, sendo toda a massa envolta por uma cápsula fibrosa.
Os odontomas são assintomáticos,
podendo ser identificados pela falta de
erupção, pelo desvio da posição normal dos
dentes ou em exames radiográficos de rotina
(TOMMASI, 1998). Sua etiopatogenia
constitui um aspecto bastante investigado,
entretanto
sua
etiologia
continua
36
desconhecida, sendo sugeridos fatores
como: mutações genéticas ou interferência
de um gene no controle do desenvolvimento
dentário, traumatismo ou infecções locais,
restos epiteliais de Mallassez, germinação
aberrante primitiva da lâmina dentária,
hiperatividade da lâmina dentária, podendo
estar relacionada com doenças sistêmicas e
até mesmo ter uma possível associação com
fatores genéticos (SHAFER et al.,1987;
AMORIM et al., 2001).
Neville et al. (2004) publicaram
que os odontomas são classificados em
dois tipos distintos: odontoma composto
e odontoma complexo. O odontoma composto é uma malformação que surge de
uma proliferação exorbitante da lâmina
dentária na qual os tecidos dentais estão
representados em um padrão ordenado,
formando estruturas semelhantes a pequenos dentes. O odontoma complexo,
por sua vez, surge de uma invaginação do
epitélio no germe em desenvolvimento
em um padrão no qual os tecidos dentais
representados estão desordenados, sem
que seja possível perceber semelhança
com dentículos (STAFNE, 1982).
Os odontomas ocorrem com maior
frequência na segunda década de vida,
acomete ambos os gêneros e são mais
comuns na maxila do que na mandíbula
(BUDNICK, 1976). O tipo composto é
geralmente encontrado na região anterior
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
de maxila, enquanto odontomas complexos ocorrem mais frequentemente na
região de molares, em ambos os maxilares (NEVILLE et al., 2002).
A presença de odontoma pode
causar uma série de transtornos,
sendo destacados os problemas relacionados com a interferência no processo de
irrompimento do dente, retardando ou impedindo os movimentos de erupção e, em
alguns casos, provocando erupção ectópica (BENGTSON et al.,1993).
Nos diagnósticos por imagem radiográfica, os odontomas compostos
têm aspectos característicos, como um
número variável de pequenas estruturas
radiopacas semelhantes a dentes, envolvidos por uma linha radiolúcida. Já no
odontoma complexo, é observada uma
distribuição irregular dos tecidos dentários formando uma verdadeira massa, não
traduzindo a forma anatômica de dentes
normais (FREITAS, 2000).
A técnica cirúrgica empregada para
a remoção dos odontomas consiste, de
modo geral, na observância dos princípios cirúrgicos básicos para extração de
dentes inclusos (MADEIRA et al., 1987).
Deve‑se realizar enucleação, com atenção
para a completa remoção da cápsula que
envolve a lesão. Essa medida concorda
com o tratamento sugerido por Neville
et al. (2002). Em casos nos quais há retenção de elementos dentais, a remoção
cirúrgica dos odontomas é sempre indicada para que se estabeleça a condição de
oclusão adequada.
Complicações
pós‑operatórias
incluem parestesia do lábio inferior e
mandíbula, principalmente, quando a
massa tumoral contacta com canal mandibular. Hemorragias por falta de controle
de áreas sangrantes e infecção secundária
por ruptura das suturas são outros aspecCiência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
tos a serem observados (KURAMOCHI,
2006; QUEIROZ et al., 2006).
O objetivo deste presente trabalho
foi descrever um caso clínico de odontoma associado a um canino impactado,
abordando os aspectos relativos à sua classificação, etiologia, diagnóstico, exames
radiográficos e histológicos, mostrando
alternativa de tratamento e prognóstico
para esse tipo de caso.
Relato de caso
Paciente R.L.S., gênero feminino,
39 anos de idade, leucoderma, procurou
atendimento, encaminhada por seu ortodontista, com queixa de não erupção do
dente permanente (43). Durante anamnese, constatou‑se que a paciente era
normoreativa e, no exame intraoral, confirmou‑se a ausência do canino inferior
direito 43 e a presença de uma pequena
tumefação na região vestibular entre os
elementos 42 e 44 (Figura 1) com característica assintomática a palpação.
Verificou‑se no exame radiográfico a presença de uma massa radiopaca
envolta por uma cápsula radiolúcida, sugestiva de odontoma composto, impedindo
a erupção do elemento 43, que se encontrava impactado (Figura 2). Foi solicitada,
como exame complementar, tomografia
computadorizada para melhor escolha terapêutica (Figura 3).
Figura 1. Aspecto clínico intraoral.
37
Remoção de odontoma composto associado a canino impactado – relato de caso
CAMARGO et al.
Com base nos achados clínicos e
exames complementares, o tratamento
proposto foi excisão cirúrgica com o protocolo‑padrão: antissepsia intra e extraoral;
bloqueios anestésicos dos nervos alveolar
inferior e nervo lingual, além de anestesias
infiltrativas. Com a lâmina de bisturi número 15, iniciou‑se uma incisão sulcular
associada a uma relaxante, do tipo Newman
modificado, para melhor visualização do
campo operatório (Figura 4).
Para exposição do elemento 43 e da
lesão sugestiva de odontoma composto, foi
realizada uma osteotomia em alta rotação
com broca carbide número 6 (KG Sorensen®)
(Figura 5), sob abundante irrigação e
ampliação da loja cirúrgica, fazendo com
que fosse possível a remoção da lesão com a
alavanca Heid brink número1 (Quinelato®).
A ferida cirúrgica foi suturada com fio absorvível 3‑0 (Vicryl®)
(Figura 6), e as peças da lesão removida
foram incluídas em solução formalina
a 10% e encaminhadas para análise histopatológica (Figura 7). O resultado foi
diagnosticado, segundo o laudo, como
odontoma composto, pois apresentava
tecido acinzentado e, na microscopia, tecido fibroso denso.
Foram dadas as recomendações
pós‑operatórias, e prescritos analgésico,
anti‑inflamatório e antibiótico. A paciente foi orientada a retornar após 20 dias
para o acompanhamento da cicatrização (Figura 8). Foi solicitada à paciente
uma nova radiografia panorâmica, após
30 dias, para assegurar o sucesso do tratamento (Figura 9).
Figura 2. Radiografia panorâmica.
Figura 4. Visualização do campo operatório.
Figura 3. Tomografia computadorizada.
38
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Discussão
O odontoma composto é uma
malformação que, na maioria dos casos,
está localizada nas raízes dos dentes
permanentes. De acordo com Cavalcanti
e Varoli (1996) e Neville et al. (2004), o
diagnóstico é comumente realizado na
primeira década de vida; em contrapartida,
Alvarenga et al. (2012) relatou maior
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
prevalência na segunda e na terceira década
de vida, o que também pode ser constatado
no presente caso relatado. Ressalta‑se,
porém, que a época em que a maioria dessas
lesões é diagnosticada está relacionada ao
fato de que a maior parte dos pacientes só
descobrem esse tipo de patologia quando
submetidos aos exames radiográficos,
como as radiografias panorâmicas.
Figura 5. (A) Osteotomia. (B) Lesão exposta.
Figura 6. Síntese com fio absorvível (Vicryl®).
Figura 8. Pós‑operatório, após 20 dias.
Figura 7. Peças removidas.
Figura 9. Radiografia panorâmica após 30 dias.
Ciência e Cultura
39
Remoção de odontoma composto associado a canino impactado – relato de caso
Em um estudo realizado por Amorim
et al. (2001), no qual foram analisados 706
casos de tumores odontogênicos, a prevalência dos odontomas foi superior a 65%,
sendo mais comuns nas duas primeiras
décadas de vida, com uma média de idade
de 14 anos no momento do diagnóstico.
Tanaka et al. (1999), estudando os tipos
de tumores encontrados em pacientes de
até 15 anos de idade, constataram que o
odontoma representou o tumor intraósseo
de maior prevalência.
Há divergências encontradas na
literatura em relação ao local de acometimento do odontoma composto. Alguns
estudos (NEVILLE et al., 2002; REGEZI e
SCIUBBA, 2000) relataram que há predileção pelo osso maxilar em sua região anterior
para o acometimento do odontoma composto, divergindo do local descrito no caso
relatado, que se tratava da região anterior do
osso mandibular. Outro aspecto discutido
é a respeito da predominância por gêneros.
Para alguns autores (REGEZI e SCIUBBA,
2000) parece não haver predominância
por gêneros, porém outros relataram uma
leve predominância no gênero masculino
(FERNANDES et al., 2005), ou ainda pelo
gênero feminino (CAMISASCA et al.,
2005). Destaca‑se que neste relato a paciente era do gênero feminino.
O odontoma é um o tipo de tumor odontogênico, assintomático, de
evolução lenta, que pode passar despercebido e trazer prejuízos para o paciente
tanto nas estruturas ósseas e dentárias
como provocando alterações de ordem
estética, fonética e, principalmente, alterações oclusais importantes (VIEIRA
et al., 1997). O odontoma composto encontra‑se frequentemente associado a
dente incluso, germes dentários ou dentes supranumerários (CAVALCANTI e
VAROLI, 1996) e sua presença causa uma
40
CAMARGO et al.
série de transtornos oclusais, como interferência no processo de erupção do dente,
deslocamento e malformação dos dentes
vizinhos, e, em alguns casos, erupção
ectópica. Autores como Jaeger (1984)
mostraram que cerca de 70% dos odontomas estão associados à impactação,
à ausência de dentes, ao mau posicionamento, a diastemas, à malformação
e à desvitalização de dentes adjacentes.
No presente relato, radiograficamente,
o dente canino estava sendo retido por
lesão, porém os dentes adjacentes apresentavam‑se alinhados no arco e sem
reabsorções, estado este que corrobora
com Bacetti (1995), o qual ressaltou que
a presença do odontoma pode interferir
na erupção dos dentes adjacentes, provocando impactação ou desalinhamento
desses. Neste caso, torna‑se evidente a íntima relação entre odontoma e retenção
dental, fato já comprovado por Cavalcanti
e Varoli (1996). O presente caso relata
de forma clássica todos os problemas e
complicações dessa patologia, sendo sua
remoção o tratamento mais indicado.
O tratamento de escolha para
os odontomas é a remoção cirúrgica
conservadora, sendo relativamente simples, facilitada em razão da clivagem
(SHAFER et al., 1987). A técnica cirúrgica (enucleação e curetagem) está de
acordo com a conduta terapêutica sugerida por alguns autores (REGEZI e
SCIUBBA, 2000; NEVILLE et al., 2002),
sendo esse o método de escolha terapêutica adotada neste caso clínico.
Conclusões
O odontoma é um tumor odontogênico benigno e sua evolução é lenta, de
forma que o diagnóstico precoce ocorre
por meio de exames complementares. A remoção cirúrgica deve ser o tratamento de
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
escolha, sendo o seu prognóstico favorável
e a taxa de recidiva baixa. A proservação
radiográfica é de extrema importância para
assegurar o sucesso do tratamento.
Referências
ALVARENGA, R.L., JAEGER, F.; LAGE,
F.O.; REIS, I.A.; LEAL, R.M. Odontoma
Composto‑ relato de caso. Revista
Portuguesa de Estomatologia, Medicina
Dentaria e Cirurgia Maxilofacial. v. 53,
n. 4, 2012, p. 252‑257.
AMORIM, R.F.B.; QUEIROZ, S.B.F;
MEDEIROS, A.M.C.; SOUZA, L.B.
Odontoma complexo com características
não usuais. Revista Gaúcha de
Odontologia, v. 49, n. 4, 2001, p. 210‑212.
BACETTI, T. Interceptive approach to
tooth eruption abnormalites: 10 years
follow‑up of case. The Journal of Clinical
Pediatric Dentistry, v. 19, n. 4, 1995, p.
297‑300.
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Revista ABO Nacional, v. 3, n. 6, 1996,
p. 374‑376.
FERNANDES, A.M.; DUARTE, E.C.;
PIMENTA, F.J.; SOUZA, L.N.; SANTOS,
V.R.;MESQUITA,R.A.Odontogenictumors:
a study of 340 cases in Brazilian population.
Journal of Oral Pathology & Medicine, v. 34,
n. 10, 2005, p. 583‑587.
FREITAS, L. Radiologia Bucal‑ técnicas
e interpretação. 2a ed. São Paulo:
Pancast; 2000.
JAEGER, R.G. Estudo dos distúrbios
provocados por traumatismo mecânico
no desenvolvimento de molares de ratos
[dissertação (Mestrado)]. São Paulo:
Universidade de São Paulo, Faculdade de
Odontologia; 1984.
BENGTSON, A.L.; BENGSTON, N.G.;
BENASSI, L.R. Odontoma em pacientes
pediátricos. Revista de Odontopediatria,
v. 2, n. 1, 1993, p. 25‑33.
KURAMOCHI, M.M.; VANTI, L.A.;
BERENGUEL, I.A.; PEREIRA, W.L.;
ZANGRANDO, D. Acesso extraoral
para reconstrução primária em odontoma
complexo raro em mandíbula. Revista
Portuguesa de Estomatologia, Medicina
Dentária e Cirurgia Maxilofacial, v. 47,
2006, p. 40‑45.
BUDNICK, S.D. Compound and
Complex odontomas. Oral Surgery, Oral
Medicine, Oral
Pathology,
Oral
Radiology, v. 42, n. 4, 1976, p. 501‑506.
MADEIRA, A.A.; FONSECA, S.;
MINATTI, E.J. Odontoma combinado:
tratamento
cirúrgico.
Odontologia
Moderna, v. 14, n. 10, 1987, p. 25‑32.
CAMISASCA, D.R.; JANINI, M.E.R.;
SILVA JÚNIOR, J.A.; BERNARDO, V.
Cistos e tumores odontogênicos: estudo
epidemiológico. Revista da Associação
Paulista de Cirurgiões-Dentistas, v. 59, n.
4, 2005, p. 261‑266.
NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN,
C.M.; BOUQUOT, J.E. Patologia oral
e maxilofacial. 2a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2002.
CAVALCANTI, M.G.P.; VAROLI, O.J.
Odontoma composto: relato de caso.
Ciência e Cultura
NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN,
C.M.; BOUQUOT, J.E. Patologia Oral
& Maxilofacial. 2a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2004.
41
Remoção de odontoma composto associado a canino impactado – relato de caso
QUEIROZ, I.V.; STARLING, C.R.;
SILVA, D.T.; REBELLO, L.M.C.;
ALBUQUERQUE, D.P.; LAGO, C.A.P.
Odontoma complexo atípico: Relato
de caso. Revista da Faculdade de
Odontologia – UPF, v. 14, n. 1, 2009.
REGEZI, J.A.; SCIUBBA, J.J. Patologia
Bucal Correlações Clínico Patológicas. 3a
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
SANTOS, T.C.R.B.; SAMPAIO, K.R.P.L.
Aspectos clínicos, radiográficos e
histopatológicos dos odontomas. Revista
Brasileira de Odontologia, v. 38, n. 2,
1981, p. 29‑36.
SHAFER, W.G.; HINE, M.K.; LEVY,
B.M. Tratado de patologia bucal. 4a ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1987.
42
CAMARGO et al.
STAFNE, E.C. Diagnóstico Radiográfico
Bucal. 4a ed. Rio de Janeiro:
Interamericana; 1982.
TANAKA,
N.;
MURATA,
A.;
YAMAGUCHI, A.; KOHAMA, G.
Clinical features and management of oral
and maxillofacial tumors in children. Oral
Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology,
Oral Radiology, v. 88, 1999, p. 11‑15.
TOMMASI, A.F. Diagnóstico em
Patologia Bucal. 3ª ed. São Paulo:
Pancast; 1998.
VIEIRA, E.H.; HEBLING, J.; BASSI, P.C.
Tracionamento de incisivo central retido
por odontoma. Revista da Associação
Paulista de Cirurgiões-Dentistas, v. 51, n.
2, 1997, p. 160‑164.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Adesão medicamentosa: definições conceituais,
fatores envolvidos e métodos de mensuração
Medication adherence: conceptual definitions, factors
involved and measurement methods
Wandson Rodrigues Sousa1, Clícia Mayara Santana Alves1, Maria Helena Seabra Soares de Britto2,
Sally Cristina Moutinho Monteiro2
Programa de Pós-Graduação em Saúde do Adulto e da Criança, Universidade Federal do Maranhão
(UFMA) – São Luís (MA), Brasil.
2
Departamento de Farmácia, UFMA – São Luís (MA), Brasil.
1
Resumo
Introdução: A baixa adesão medicamentosa tem demonstrado ser um grande desafio de saúde pública
mundial, apresentando consequências negativas sobre a qualidade de vida dos usuários, podendo elevar
custos da saúde. Dessa forma, a adesão compreende um ponto crítico para o sucesso terapêutico, bem
como a determinação de fatores causais para a não adesão e a utilização de instrumentos que possibilitem
a mensuração do grau de adesão medicamentosa de forma prática e efetiva. Objetivo: Foi estabelecer as
definições conceituais de adesão terapêutica e evidenciar os métodos mais estudados para a mensuração
da adesão medicamentosa. Metodologia: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura do tipo bibliográfica, composta por artigos científicos indexados nas bases de dados SciELO, PubMed e ScienceDitect, no período de 2000 a 2014, que abordavam a avaliação de adesão medicamentosa nos idiomas
espanhol, português e inglês. Resultados e conclusão: Adesão é definida como o grau de coincidência
entre o comportamento do usuário e as recomendações terapêuticas orientadas por profissionais de saúde
em todos os âmbitos de cuidado. A não adesão é uma das principais causas de insucesso das terapias
e aumento das hospitalizações, cujas razões mais frequentes são o não cumprimento do tratamento, o
desconhecimento da patologia, a complexidade do tratamento, a má relação médico-paciente, reações
adversas e o baixo suporte sanitário e sociofamiliar. A mensuração da adesão medicamentosa pode ser
realizada por métodos diretos e indiretos, e, embora os métodos indiretos não tenham a mesma precisão
que os diretos, apresentam-se como alternativas de fácil aplicação, baixo custo e compatíveis com atendimentos assistenciais.
Palavras-chave: adesão medicamentosa; uso de medicamentos; adesão do paciente.
Abstract
Introduction: The low medication adherence has been shown to be a major challenge to global public
health, with negative consequences on the quality of life for users, and that could increase medical and
health costs. Thus, the adhesion comprises a critical point for the success of therapy, as well as the de-
Autor para correspondência: Sally Cristina Moutinho Monteiro – Avenida dos Portugueses, 1966 –
Bacanga – CEP: 65080-805 – São Luís (MA), Brasil – E-mail: [email protected]
Recebido em: 24/04/2015
Aceito para publicação em: 21/10/2015
Ciência e Cultura
43
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos
de mensuração
SOUSA et al.
termination of causal factors for non-adherence and the use of instruments that allow the measurement
of the degree of medication adherence in a practical and effective way. Objective: It was to establish the
conceptual definitions of adherence and highlight the most studied methods for measuring medication
adherence. Methodology: This is a narrative review of the literature type, consisting of scientific articles
indexed in SciELO databases, PubMed and ScienceDitect, from 2000 to 2014, that addressed the assessment of medication adherence in Spanish, Portuguese and English. Results and conclusion: Adherence is
defined as the degree of coincidence between user behavior and treatment recommendations guided by
health professionals at all care levels. Non-adherence is a major cause of failure of therapy and increased
hospital admissions, highlighting the most frequent causes of non-adherence with treatment, the disease
lack the complexity of the treatment, poor doctor-patient relationship, adverse reactions and low support
health and social-family. The measurement of medication adherence can be performed by direct and indirect methods, and, although the indirect methods do not have the same precision as the direct, they appear
as user-friendly alternative, low cost and compatible with assistance calls.
Keywords: medication adherence; medication use; patient adherence.
Introdução
Embora nas últimas décadas tenha
se conseguido avanços significativos no
diagnóstico e tratamento das patologias, a
não adesão terapêutica apresenta-se ainda
como um grande desafio a ser superado.
A não adesão é considerada um problema de saúde mundial, na medida em que
impacta significativamente, de forma
negativa, no sucesso do tratamento e na
qualidade de vida dos pacientes. Estima-se
que a não adesão medicamentosa alcance
uma taxa de 50% entre os portadores de
doenças crônicas nos países desenvolvidos
e que esses indicadores podem ser mais
preocupantes nos países pobres e em desenvolvimento, dada a fragilidade dos seus
sistemas de saúde, a escassez de recursos
e as desigualdades de acesso aos cuidados
de saúde (WHO, 2003; SANTA HELENA,
2007; SOUZA, 2008).
A adesão medicamentosa é um
processo complexo e deve ser compreendido como parte fundamental das
terapias medicamentosas para que se alcancem os resultados clínicos desejados.
Desse modo, determinar as causas para
a não adesão medicamentosa requer uma
minuciosa investigação, tendo em vista a
multiplicidade de fatores que estão envol-
44
vidos com o comportamento aderente ou
não dos indivíduos diante do tratamento
proposto. Grande parte das dificuldades
encontradas para determinar a adesão
medicamentosa deriva da necessidade da
utilização de instrumentos que permitam
a mensuração de forma efetiva do grau
de adesão dos usuários aos medicamentos (SANTOS et al., 2013; CONTHE
et al., 2014).
Dessa forma, este estudo teve como
objetivo realizar uma revisão da literatura
buscando estabelecer as definições conceituais da adesão terapêutica e evidenciar
os métodos mais estudados para a mensuração do grau de adesão medicamentosa.
Material e métodos
Foi realizada uma revisão narrativa
da literatura por meio de levantamento
retrospectivo de estudos publicados em
periódicos nacionais e internacionais,
durante o período de 2000 a 2014, com
uma síntese qualitativa dos resultados.
Foram incluídos artigos publicados em
periódicos indexados em bases de dados
nacionais e internacionais, disponíveis
na íntegra de forma gratuita, permitindo
uma avaliação detalhada dos estudos selecionados, e que abordavam a avaliação
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
da adesão medicamentosa nos idiomas
espanhol, português e inglês. Não participaram do levantamento livros, resumos
e/ou capítulos de livro. As bases de dados
utilizadas para a coleta de dados foram: coleção Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), e National Center for Biotechnology Information (NCBI - http://www.
ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), envolvendo o
PubMed, e o ScienceDirect (http://www.
sciencedirect.com/). Os descritores utilizados durante as buscas foram: adesão ao
tratamento (adherence treatment), adesão
do paciente (patient adherence) e uso de
medicamentos (medication use).
Revisão de literatura
Adesão terapêutica
Definições conceituais de
adesão terapêutica
As definições conceituais de adesão
terapêutica podem se apresentar diferentes entre os diversos autores na literatura
(Tabela 1). Dessa forma, terminologias
comumente aplicadas na língua inglesa
para definir a adesão apresentam entendimentos contrários entre os estudiosos. Por
exemplo, o termo compliance, traduzido
como obediência, pressupõe um papel
Tabela 1. Conceitos de adesão terapêutica.
Autor/ano
Definição conceitual
Compreende o grau em que o
Sackett et al.
comportamento de uma pessoa (em
(1975) apud
relação a tomar medicamentos, seguir
Gusmão e
uma dieta e realizar a modificação do
Mion Jr. (2006) seu estilo de vida) coincide com as
orientações médicas ou sanitárias.
Miller et al.
É um meio para se alcançar um fim,
(1997) apud
uma abordagem para a manutenção ou
Gusmão e
melhora da saúde, visando reduzir os
Mion Jr. (2006) sinais e sintomas de uma doença.
Inclui como comportamentos
aderentes a busca de atenção médica,
aquisição das prescrições, tomada
adequada, busca por vacinas,
cumprimento do calendário de
consultas e execução de modificações
WHO (2003)
comportamentais como: higiene
pessoal, autogestão de asma ou
diabetes, tabagismo, contracepção,
comportamentos sexuais de risco,
dieta pouco saudável e prática de
atividade física.
O grau em que o paciente toma sua
Cramer et al.
medicação em conformidade com a
(2008)
dose, o tempo e a posologia prescrita.
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Comentários
Alguns autores
compreendem essa
definição como um
posicionamento
paternalista, limitando o
papel ativo do paciente.
Restringe a adesão a uma
relação dicotômica: meio e
fim; causa e efeito.
Amplia o conceito
de adesão não só à
correta utilização de
medicamentos e a
mudanças no estilo de
vida como também à
promoção e à prevenção
da saúde. Torna, ainda, a
relação mais ampla entre
o paciente e as orientações
prestadas por todos os
profissionais da saúde.
Adota que os termos
adesão e cumprimento
terapêutico são sinônimos.
45
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos
de mensuração
passivo por parte do paciente, no qual este
obedece de forma passiva às “ordens”
médicas e no qual o plano de tratamento
não resulta de um acordo entre ambas as
partes. Já o termo Adherence ou adesão
é adotado por grande parte dos autores,
uma vez que melhor representa um posicionamento de livre escolha do paciente
em seguir ou não as recomendações terapêuticas, sendo este corresponsável
pelo gerenciamento do seu tratamento
(BRAWLEY e CULOS-REED, 2000;
OSTERBERG e BLASCHKE, 2005).
Atualmente, o termo adesão tem
sido mais aplicado, sendo definido como
o grau com que o comportamento dos
pacientes coincide com as orientações
médicas e de saúde, levando-se em conta
não apenas o caráter medicamentoso mas
também a manutenção dos compromissos
planejados, a busca por cuidados e a modificação no estilo de vida apresentados
pelo paciente (GUTIERREZ-ÂNGULO
et al., 2012).
Os impactos clínicos e econômicos
da baixa adesão terapêutica
Impactos clínicos
No contexto clínico, muitos estudos
têm demonstrado, de forma inequívoca,
uma relação direta entre a não adesão
terapêutica e a evolução das doenças crônicas ou, pelo menos, diminuição dos
riscos aos quais os indivíduos portadores
estão submetidos. Pacientes com doenças
renais submetidos à diálise, por exemplo, quando perdem uma ou mais sessões
mensais, apresentam um aumento do risco de mortalidade em torno de 25 a 30%
por complicações decorrentes da nefropatia (KIM e EVANGELISTA, 2010).
Pode ser observado que grande
parte dos estudos de revisão sistemática
46
SOUSA et al.
realizados está relacionada principalmente às doenças cardiovasculares (DCV).
Segundo Cramer et. al. (2008), os achados na literatura mundial demonstram que
a não adesão terapêutica do tratamento da
hipertensão arterial atinge uma média de
30% dos hipertensos. Mesmo em países
desenvolvidos, onde se disponibilizam
maiores recursos voltados ao tratamento
da hipertensão arterial, menos de 25%
dos pacientes tratados apresentam níveis
controlados da pressão arterial, e mais de
50% dos pacientes que são diagnosticados
e iniciam o tratamento anti-hipertensivo
abandonam o seguimento ainda no primeiro ano (LOWRY et al., 2005).
No Brasil, a não adesão aos medicamentos anti-hipertensivos tem sido
detectada de forma bastante expressiva
na população, visto que estudos realizados por Bastos-Barbosa et al. (2012)
com uma população de idosos brasileiros
demonstraram taxas de adesão à terapia anti-hipertensiva variando entre 36 e
52%, na dependência do método de mensuração aplicado.
De modo geral, a baixa adesão ao
tratamento com anti-hipertensivos tem
sido ligada diretamente à elevação dos
riscos de doenças cardiovasculares, ao
acontecimento de DCV e ao aumento da
mortalidade (NATARAJAN et al., 2013).
Além disso, a não adesão representa um
desafio para os profissionais que acompanham a evolução clínica dos pacientes
e para os sistemas de saúde que custeiam
os tratamentos.
Impactos econômicos
A não adesão terapêutica, bem
como a baixa adesão, gera enormes custos aos sistemas de saúde, desperdícios de
recursos e maior emprego de tempo na terapêutica, de forma que realizar esforços
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
para melhorar a adesão dos pacientes na
utilização de medicamentos já disponíveis
traria maiores contribuições para garantir
e resguardar a saúde e a vida dos pacientes que empregar recursos e esforços na
criação de novas terapias (LEMSTRA
et al., 2012).
Segundo levantamentos de Jha
et al. (2012), entre os pacientes diabéticos
não aderentes ao tratamento as taxas de
reinternações hospitalares e atendimentos
de urgência se elevam em 15%, enquanto
entre os aderentes ao tratamento foi observada uma diminuição de 13%. Desse
modo, a melhoria da adesão entre esses
pacientes representaria para o sistema de
saúde uma redução de 699 mil atendimentos de urgência e 341 mil internações
ao ano, com uma desoneração financeira
de 4,7 bilhões de dólares ao ano.
Nas farmácias espanholas, durante
o ano de 2011, foram recolhidos pelo Sistema Integrado de Gestão e Recolhimento
de Resíduos (SIGRE), aproximadamente,
3.200 toneladas de medicamentos vencidos e não consumidos, que em grande
parte são atribuídas à não adesão terapêutica. O armazenamento e a falta de consumo
desses medicamentos podem ocasionar
sérios riscos à saúde, como a automedicação irresponsável e intoxicações, assim
como elevação dos gastos pelo sistema de
saúde (GONSALEZ e PISANO, 2014).
No Brasil, as pesquisas sobre o
assunto ainda são incipientes, e sabe-se
muito pouco sobre como os baixos índices
de aderência afetam os cofres públicos.
Desse modo, melhorar a adesão
terapêutica à medicação implica racionalizar de forma consciente os recursos
disponíveis e melhorar a assistência aos
pacientes, além de ser um ponto fundamental para a resolubilidade de um
tratamento.
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Fatores que influenciam
a adesão terapêutica
A adesão deve ser entendida não
como um fator isolado e dependente exclusivamente do paciente e da sua capacidade
de autogerenciamento da sua patologia.
Essa compreensão simplificada pode ser
enganosa, visto que a adesão é um fenômeno multidimensional, resultante da
interação de cinco conjuntos de fatores
ou “dimensões” (Figura 1), organizados
e categorizados em: fatores relacionados
à terapia propriamente dita, fatores relacionados ao sistema e à equipe de saúde,
fatores relacionados às características sociais e econômicas, fatores relacionados ao
paciente, e fatores relacionados à natureza
da patologia (WHO, 2003).
Dentro das cinco grandes dimensões da adesão, uma grande diversidade
de fatores atua de forma inter-relacionada
na determinação do comportamento aderente dos pacientes. Esses fatores podem
estar ligados diretamente ao paciente,
ressaltando-se a idade, o grau de escolaridade, o contexto social e cultural no qual
este se encontra inserido, e a personalidade de cada indivíduo. Desse modo, muitos
pacientes não aderem ao tratamento frequentemente por desacreditarem dele ou,
ainda, por crerem que o medicamento
utilizado não cause os efeitos esperados,
existindo ainda um número expressivo de
pessoas que não aderem por apresentarem
dificuldades na compreensão das orientações médicas a respeito do seu tratamento
(DILLA et al., 2009).
Podem ser destacados ainda os
fatores condicionantes da não adesão relacionados à própria terapêutica, como os
efeitos adversos, a complexidade dos esquemas terapêuticos, as trocas sucessivas
dos medicamentos (como nas dislipidemias em que a troca de um medicamento
47
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos
de mensuração
por outro de mesma classe farmacológica
está associada a uma diminuição de 20%
na adesão entre esses pacientes), entre outros (VOORHAM et al., 2011).
Além disso, existem fatores ligados
à própria patologia, como a depressão, a
ansiedade, os transtornos de personalidade, a perda de memória, a gravidade da
doença, comorbidades associadas, necessidade de outros tratamentos e a presença
ou ausência de sintomatologia, entre outros. As relações com a equipe de saúde
e médica (má relação médico-paciente,
baixa satisfação do paciente e/ou pouca
confiança no seu médico, sentimento de
não ser ouvido, sensação de não ser reconhecido) também têm sido ligadas a
declínio nas taxas de adesão ao tratamento (BUITRAGO, 2011).
Dessa forma, a compreensão do
comportamento aderente dos pacientes
passa por uma investigação detalhada dos
diversos fatores em suas dimensões, e há
Fatores
socio-econômicos
SOUSA et al.
uma busca constante em estabelecer as relações de como esses elementos inseridos
na vida dos sujeitos podem influenciar a
adesão terapêutica.
Os métodos de medida da
adesão medicamentosa
Quando o foco dos estudos está
voltado para a mensuração da adesão medicamentosa, pode ser verificado que esta
não é uma tarefa fácil de realizar, tendo em
vista a complexidade de aspectos e dimensões envolvidos no fenômeno da adesão,
não havendo um método considerado
ideal (Gold standard) para tal aferição.
A multiplicidade de métodos existentes
pode ser considerada um complicador,
visto que se torna difícil a comparação
dos resultados entre os diferentes estudos.
Na sua totalidade, os métodos aplicados à
mensuração da adesão estão divididos em
diretos e indiretos (Tabela 2) (SANTOS
et al., 2013).
Fatores
relacionados
com o
tratamento
Fatores
relacionados
ao paciente
Fatores
relacionados
com a
patologia
Fatores
relacionados
com o sistema
e a equipe
de saúde
Fonte: Adaptado de WHO, 2003.
Figura 1. As cinco dimensões da adesão.
48
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Os métodos diretos
Segundo Farmer (1999) apud ObreliNeto et. al. (2012), os métodos diretos
podem ser divididos fundamentalmente em
três grandes grupos, sendo eles: a detecção
do fármaco ou metabólito em fluidos
biológicos, a adição de um marcador, e a
observação direta do paciente. Os métodos
diretos são ensaios fundamentados em
técnicas analíticas que buscam detectar
se o medicamento foi administrado ou
tomado na dose e frequência necessárias
por meio da identificação de metabólitos
do medicamento ou de marcadores
químicos de maior permanência no
organismo, preferencialmente em fluidos
biológicos como sangue e urina. Esses
métodos, no entanto, apresentam um custo
elevado, o que os torna pouco disponíveis
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
universalmente, sendo a sua grande
precisão uma das suas maiores vantagens
(GUTIERREZ-ÂNGULO et al., 2012).
Os métodos indiretos
Os métodos indiretos, por sua vez,
são passíveis de crítica por apresentarem
a tendência de superestimar a aderência,
no entanto apresentam-se como boas alternativas a serem aplicadas na mensuração
clínica da adesão, pois são mais acessíveis
economicamente e apresentam uma boa
sensibilidade. Entre os métodos indiretos,
podemos destacar: a contagem de comprimidos, os sistemas de monitorização
eletrônicos e as entrevistas clínicas de
autorrelato, sendo essas últimas as mais recomendadas pela maior parte dos autores
(GUTIERREZ-ÂNGULO et al., 2012).
Tabela 2. Métodos diretos e indiretos de mensuração da adesão terapêutica.
Método de medida
Vantagens
Desvantagens
Métodos diretos
Observação direta
Não é um método prático para
da ingesta de
Muito preciso
a rotina clínica. Paciente pode
comprimidos
esconder o comprimido.
Dosagem das
Métodos de elevado
concentrações
Objetivo e exato
custo, sujeitos a variações
sanguíneas
interindividuais, não aplicável a
Dosagem de
todos os medicamentos e pouco
marcadores em
Objetivo e exato
vantajoso na rotina clínica.
fluidos biológicos
Métodos indiretos
Pode superestimar a adesão
Simples, objetivo e
Contagem de pílulas
ao tratamento e é facilmente
quantitativo
modificável pelo paciente.
Pode ser facilmente modificado
pelo paciente, visto que
Dispensação
Muito objetivo e
não garante a ingesta dos
eletrônica (MENS) quantitativo
comprimidos e não é viável
para a prática assistencial.
Sensível, com elevado valor
Autorrelato (selfpreditivo positivo entre não Podem superestimar os valores
report)
aderentes, e aplicáveis à
de adesão.
prática assistencial
Fonte: Adaptado de Conthe et al., 2014.
Ciência e Cultura
49
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos
de mensuração
Contagem de pílulas
O método de contagem de pílulas
tem sido empregado em avaliações de
adesão terapêutica e apresentou-se como
uma metodologia sensível e objetiva, estando seu uso centrado na mensuração da
adesão de formas farmacêuticas sólidas
para administração oral (CONTRERAS
et al., 2005). A contagem de pílulas é
um método que requer colaboração do
paciente e de elementos auxiliares, como
o registro de dispensação dos medicamentos e o retorno do paciente portando
todos os frascos ou caixas entregues na
visita anterior, para que se proceda à
contagem das pílulas que não foram tomadas e à estimação do grau de adesão.
Contudo, esse é o método mais sujeito
à manipulação pelos pacientes, visto que
não é raro o compartilhamento de medicação entre estes (KROUSEL-WOOD,
2004; OIGMAN, 2006).
A estimação do grau de adesão
por essa metodologia é realizada por
meio do cálculo da porcentagem de
cumprimento (PC), sendo este entendido como a razão entre o número de
comprimidos consumidos em determinado período de tempo e o número
total de comprimidos que deveriam ser
tomados nesse mesmo período, multiplicado por 100. Um paciente que faça
uso de 80% ou mais dos comprimidos
pode ser considerado um bom aderente
ao tratamento. Utilizando essa metodologia não raro se encontram pacientes
que chegam ou se aproximam dos 100%
de aderência ou até os ultrapassam,
pois esse cálculo pode ser superestimado na dependência do número de
comprimidos efetivamente utilizados
e os comprimidos que tiveram fins diversificados, como empréstimos e/ou
descartes (OIGMAN, 2006).
50
SOUSA et al.
Sistemas de monitorização eletrônica
de tomada de medicamentos
O método conhecido como Medication Event Monitoring System (MEMS),
ou método de dispensação eletrônica,
constitui-se o modelo mais moderno e
oneroso dentre os métodos indiretos para
a mensuração da adesão. É composto por
uma caixa de medicação equipada com
um microchip na sua tampa, que registra
todas as datas e os horários de aberturas do
frasco de medicamentos, sendo cada abertura contabilizada como a ingestão de uma
dose. Posteriormente, os dados armazenados são transferidos para um software, no
qual será analisada e mensurada a adesão do paciente. De maneira semelhante
à contagem de pílulas, a mensuração por
MENS pode ser superestimada na medida em que os frascos podem ser abertos e
as medicações não ingeridas (OIGMAN,
2006; WETZELS et al., 2007).
Entrevista clínica ou self-report
As entrevistas são os métodos indiretos de maior utilização em saúde
pública para avaliar o grau de adesão à
terapia medicamentosa. Essa larga aplicação, em grande parte, deve-se às suas
características de ser um instrumento
rápido, de baixíssimo custo e de fácil
aplicação, que consiste em fazer perguntas diretas ao paciente para tentar avaliar
o seu grau de adesão. Entre as entrevistas,
a Morisky Medication Adherence Score
(MMAS-8) e o teste de Haynes-Sackett
têm se destacado como os instrumentos
mais estudados.
A escala MMAS-8 foi criada a partir
de um aprimoramento da escala inicial de
apenas quatro itens de Morisky e Green,
que foi construída para mensurar a adesão a medicamentos anti-hipertensivos,
no entanto apresenta a versatilidade de
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
poder ser adaptada a outras doenças crônicas. As quatro questões adicionais que
complementam a escala original têm por
finalidade ampliar um maior número de
circunstâncias que envolvem a adesão terapêutica, como a capacidade dos pacientes
de se lembrarem das tomadas dos seus medicamentos e a complexidade dos regimes
posológicos (MORISKY et al., 2008).
Portanto, a Escala de Adesão
Terapêutica MMAS-8 é um instrumento
que proporciona a verificação da atitude
do paciente adiante da tomada de
medicamentos. As perguntas são elaboradas
a fim de reduzir o viés das respostas
predominantemente positivas, invertendo a
formulação das perguntas sobre a maneira
como os pacientes podem experimentar
falhas em seguir o regime terapêutico, uma
vez que há uma tendência de os pacientes
darem respostas positivas aos médicos e
profissionais de saúde (MORISKY et al.,
2008). A MMAS-8 se encontra ainda
validada em diversos idiomas, entre eles o
português, apresentando-se um instrumento
confiável e de grande reprodutibilidade
(OLIVEIRA-FILHO et al., 2012).
Estudos realizados por KrouselWood et al. (2009) demonstraram, por
meio da comparação entre a MMAS-8
e outros métodos de mensuração, que a
escala MMAS-8 possui grande confiabilidade na detecção de pacientes não
aderentes à terapia medicamentosa com
anti-hipertensivos.
O teste de Haynes-Sackett, por sua
vez, é um questionário constituído por
duas partes, com uma abordagem que tenta evitar a generalização do sentimento de
culpa acerca do não cumprimento terapêutico. Na primeira etapa da entrevista,
procura-se criar um ambiente adequado
para um diálogo franco, introduzindo
inicialmente comentário a respeito da
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
dificuldade encontrada por muitos pacientes em tomar o seu medicamento com
a seguinte frase: “a maioria dos pacientes possuem dificuldades em tomar seus
comprimidos”. A partir do estabelecimento desse diálogo inicial, o entrevistador
passa a executar a segunda parte do teste,
introduzindo o seguinte questionamento:
“você possui dificuldades em tomar os
seus medicamentos?”. Nesse momento,
haverá duas possibilidades de respostas as
quais o entrevistador deverá interpretar;
em caso de resposta afirmativa, o paciente deverá ser considerado não aderente,
enquanto respostas negativas deverão ser
investigadas, aplicando-se um terceiro
questionamento: “como você os toma?”;
concluindo assim a segunda parte da entrevista (CONTRERAS, 2008).
Considerando a existência de diferentes metodologias e a adequação delas
às necessidades e possibilidades de cada
realidade, somos levados a uma reflexão
sobre as nossas responsabilidades pessoais e sobre a abordagem realizada aos
pacientes, na qual se deve considerar todos os fatores envolvidos com a adesão
medicamentosa, sem nos esquecermos de
utilizar ferramentas que nos auxiliem na
identificação da adesão medicamentosa
e que norteiem a tomada de decisões que
otimizem os tratamentos.
Conclusão
Neste estudo foi adotado como referência conceitual de adesão o grau de
coincidência entre o comportamento do
paciente e as recomendações terapêuticas orientadas por qualquer profissional
de saúde, em todos os aspectos de atenção e cuidado. Assim, faz-se necessário
um comportamento aderente no qual o
paciente assume o seu protagonismo no
manejo de sua saúde e patologia.
51
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos
de mensuração
O comportamento não aderente é
uma das principais causas de insucesso das
terapias, aumentando significativamente o
número das hospitalizações e recorrências
nos atendimentos emergenciais, e onerando os sistemas de saúde. Destacam-se
como causas principais da não adesão
terapêutica as dúvidas sobre os medicamentos, o desconhecimento da patologia,
a complexidade do tratamento, a má relação médico-paciente, as reações adversas
e o suporte social e familiar.
Existem vários métodos para mensurar o grau de adesão medicamentosa,
os quais fornecem uma estimativa do
comportamento pontual do paciente.
Os métodos indiretos, apesar de não apresentarem o mesmo nível de exatidão dos
métodos diretos, são de fácil aplicação e
apresentam boa correlação com o nível de
adesão medicamentosa, podendo ser utilizados na triagem e na quantificação da
adesão nas rotinas de assistência.
Referências
BASTOS-BARBOSA,
R.G.;
FERRIOLLI, E.; MORIGUTI J.C.;
NOGUEIRA, C.B.; NOBRE, F.; UETA,
J.; LIMA, N.K.C. Adesão ao Tratamento
e Controle da Pressão Arterial em Idosos
com Hipertensão. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia, v. 99, n. 1, 2012, p. 636-641.
BRAWLEY, L.R. & CULOS-REED, N.
Studying adherence to therapeutic regimens:
overview, theories, recommendations.
Controlled Clinical Trials, v. 21, n. 5, 2000,
p. 156-163.
BUITRAGO, F. Therapeutic adherence.
How difficult it is to comply! Atención
Primaria, v. 43, n. 7, 2011, p. 343-344.
CONTHE, P.; CONTRERAS, E.M.;
PÉREZ, A.A.; GARCÍA, B.B.; MARTÍN,
52
SOUSA et al.
M.N.F.C.; JURADO, M.G.; BATURONE,
M.O.; PINTO, J.L. Adherencia terapéutica
en la enfermedad crónica: estado de la
situación y perspectiva de futuro. Revista
Clínica Española, 2014, v. 214, n. 6,
2014, p. 336-344.
CONTRERAS, E.M. Evaluación del
incumplimiento en la práctica clínica.
Hipertensión (Madr.), v. 25, n. 5, 2008, p.
205-213.
CONTRERAS, E.M.; GARCÍA, O.V.;
CLAROS, N.M.; GUILLÉN, V.G.;
WICHMANN, M.F.; MARTÍNEZ,
J.J.C.; FERNÁNDEZ, R. Efficacy of
telephone and mail intervention in patient
compliance with antihypertensive drugs in
hypertension. ETECUM–HTA study. Blood
Pressure, v. 14, n. 3, 2005, p. 151-158.
CRAMER, J.A.; ROY, A.; BURRELL,
A.; FAIRCHILD, C.J.; FULDEORE,
M.J.; OLLENDORF, D.A.; WONG, P.K.
Medication compliance and persistence:
terminology and definitions. Value in
Health, v. 11, n. 1, 2008, p. 44-47.
DILLAA, T.; VALLADARES, A.;
LIZAN,
L.;
SACRISTAN,
J.A.
Adherencia y persistencia terapeutica:
causas, consecuencias y estrategias de
mejora. Atención Primaria, v. 41, n. 6,
2009, p. 342-348.
GONZÁLEZA, M.M.P. & PISANO,
A.G. La modificación de los hábitos y
la adherencia terapéutica, clave para el
control de la enfermedad crónica. Enferm
Clin. 2014, 24(1): 59-66.
GUSMÃO, J.L. & MION JR., D.
Adherence to the treatment – concepts.
Revista Brasileira de Hipertensão, v. 13,
n. 1, 2006, p. 23-25.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
GUTIERREZ-ÂNGULO,M.L.;LOPETEGIURANGA, P.; SANCHEZ-MARTIN, I.;
GARAIGORDOBIL-LANDAZABAL, M.
Cumplimento terapéutico em pacientes con
hipertensión arterial y diabetes mellitus 2.
Revista de Calidad Asistencial, v. 27, n. 2,
2012, p.72-77.
JHA, A.K.; AUBERT RE, Y.A.O. J.;
TEAGARDEN, J.R.; EPSTEIN, R.S.
Greater adherence to diabetes drugs is
linked to less hospital use and could save
nearly $5 billion annually. Health Affairs,
v. 31, n. 8, 2012, p. 1836-1846.
KIM, Y. & EVANGELISTA, L.S.
Relationship between illness perceptions,
treatment adherence, and clinical
outcomes inpatients on maintenance
hemodialysis.
Nephrology
Nursing
Journal, v. 37, n. 3, 2010, p. 271-280.
KROUSEL-WOOD, M.; ISLAM, T.;
WEBBER, L.S.; RE, R.; MORISKY,
D.E.; MUNTNER, P. New medication
adherence scale versus pharmacy fill rates in
hypertensive seniors. American Journal of
Managed Care, v. 15, n. 1, 2009, p. 59-66.
KROUSEL-WOOD, M.; THOMAS,
S.; MUNTNER, P.; MORISKY, D.E.
Medication adherence: a key factor in
achieving blood pressure control and
good clinical outcomes in hypertensive
patients. Current Opinion in Cardiology,
v. 19, n. 4, 2004, p. 357-362.
LEMSTRA, M.; BLACKBURN, D.;
CRAWLEY, A.; FUNG, R. Proportion and
riskindicators of nonadherence to statin
therapy: A meta-analysis. Canadian Journal
of Cardiology, v. 28, n. 5, 2012, p. 574-580.
LOWRY, K.P.; DUDLEY, T.K.; ODDONE,
E.Z.; BOSWORTH, H.B. Intentional
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
and unintentional nonadherence to
antihypertensive medication. Annals of
Pharmacotherapy, v. 39, n. 7, 2005, p.
1198-1203.
MORISKY, D.E.; ANG, A.; KROUSELWOOD, M.; WARD, H.J. Predictive
validity of a medication adherence
measure in an outpatient setting. Journal
of Clinical Hypertension, v. 10, n. 5, 2008,
p. 348-354.
NATARAJAN, N.; PUTNAM, W.;
AARSEN, K.V.; LAWSON, K.B.;
BURGE, F. Adherence to antihypertensive
medications among family practice
patients with diabetes mellitus and
hypertension.
Canadian
Family
Physician, v. 59, n. 2, 2013, p. 93-100.
OBRELI-NETO, P.R.; BALDONI, A.O.;
GUIDONI, C.M.; BERGAMINI, D.;
HERNANDES, K.C.; LUZ, R.T.; SILVA,
F.B.; SILVA, R.O.; PEREIRA, L.R.L.;
CUMAN, R.K.N. Métodos de avaliação de
adesão à farmacoterapia. Revista Brasileira
de Farmácia, v. 93, n. 4, 2012, p. 403-410.
OIGMAN, W. Evaluation models of
adherence concerning antihypertensive
treatment.
Revista
Brasileira
de
Hipertensão, v. 13, n. 1, 2006, p. 30-34.
OLIVEIRA-FILHO, A.D.; BARRETOFILHO, J.A.; NEVES, S.J.F.; JUNIOR,
D.P.L. Association between the 8-item
Morisky Medication Adherence Scale
(MMAS-8) and Blood Pressure Control.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.
99, n. 1, 2012, p. 649-658.
OSTERBERG, L. & BLASCHKE, T.
Drug therapy: adherence to medication.
New England Journal of Medicine, v. 353,
n. 5, 2005, p. 487-497.
53
Adesão medicamentosa: definições conceituais, fatores envolvidos e métodos
de mensuração
SANTA HELENA, E.T. Adesão ao
tratamento farmacológico de usuários
com hipertensão arterial em unidades de
saúde da família em Blumenau, SC. Tese
(Doutorado em Ciências) – Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2007.
SANTOS, M.V.R.; OLIVEIRA, D.C.;
ARRAES, L.B.; OLIVEIRA, D.A.G.C.;
MEDEIROS, L.; NOVAES, M.A.N.
Compliance to treatment for hypertension:
concepts, measurement, and innovative
approach strategies. Revista da Sociedade
Brasileira de Clínica Médica, v. 11, n. 1,
2013, p. 55-61.
SOUZA, M.L.P. & GARNELO, L. “É
muito dificultoso!”: etnografia dos
cuidados a pacientes com hipertensão
e/ou diabetes na atenção básica, em
Manaus, Amazonas, Brasil. Cadernos
de Saúde Pública, v. 24, n. 1, 2008,
p. 91-99.
54
SOUSA et al.
VOORHAM, J.; HAAIJER-RUSKAMP,
F.M.; WOLFFENBUTTEL, B.H.; STOLK,
R.P.; DENIG, P. Groningen initiative to
analyze type 2 diabetes treatment group.
Medication adherence affects treatment
modifications in patients with type 2
diabetes. Clinical Therapeutics, v. 33, n. 1,
2011, p. 121-134.
WETZEL, S.G.E.; NELEMANS, P.J.;
SCHOUTEN, J.S.A.G.; DIRKSEN, C.D.;
WEIDJEN, T.; STOFFERS, H.E.J.H.;
JANKNEGT, R.; LEEUW, P.W.; PRINS,
M.H. Electronic monitoring of adherence
as a tool to improve blood pressure
control. A randomized controlled trial.
American Journal of Hypertension, v. 20,
n. 2, 2007, p. 119-125.
WORLD HEALTH ORGANIZATION.
Adherence to long-term therapies:
evidence for action. Geneva: World
Health organization; 2003.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Proposta curricular do estado de São Paulo
para a disciplina de Química: implantação,
apresentação e discussão
Curriculum proposal of São Paulo to discipline of
Chemistry: implantation, presentation and discussion
Lucas Fernandes Domingues1, Terezinha Maia Martincowski2
Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ), curso de Mestrado Profissional em Ensino de
Química, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – São Carlos (SP), Brasil.
2
Curso de Pedagogia, Instituto Superior de Educação (ISE), Centro Universitário da Fundação
Educacional de Barretos (UNIFEB) – Barretos (SP), Brasil.
1
Resumo
Mudanças curriculares de planejamento e a adesão de “novas” propostas são hoje aspectos corriqueiros
no que se refere à Educação, e no Estado de São Paulo não é diferente. A Proposta Curricular do Estado
de São Paulo para a Disciplina de Química (2008) gera polêmicas desde sua adesão até os presentes dias.
Há uma divergência constante entre a posição do Estado, os gestores e os professores. Logo, as críticas à
proposta levaram à elaboração deste trabalho, que permitiu observar que a Proposta Curricular do Estado
de São Paulo encontra-se bem idealizada e elaborada em quase todos os seus tópicos, principalmente
naqueles referentes à última Reforma do Ensino Médio. E, apesar de pecar na qualidade da ordem organizacional dos conteúdos específicos da disciplina de Química, a Proposta Curricular do Estado de São
Paulo é muito mais completa e coerente com a literatura do que nós, enquanto profissionais da educação,
considerávamos. Mas o saldo do Estado com a Educação ainda é deficitário.
Palavras-chave: proposta curricular; currículo; ensino de Química.
Abstract
Change curriculum concerning planning and the adherence to “new” curriculum proposals are now common
place aspects with regard to Education, and in the State of Paulo it is not different. The Curriculum Proposal
of São Paulo for the Discipline of Chemistry (2008) generates controversy since its accession to the present
day. There is a constant difference between the position of the State, managers and teachers. Therefore, the
criticism of the proposal led to the elaboration of this work, that allowed us to observe that it is very well
conceived and developed in almost all its topics, especially those related to the last Reform of Secondary Education. And, although sin in organizational order quality of the specific content of the discipline of Chemistry, the Curriculum Proposal of São Paulo is much more complete and consistent with the literature that
we, as educational professionals, considered. But the balance between State and Education is still lacking.
Keywords: curriculum proposal; curriculum; chemistry teaching.
Autor para correspondência: Lucas Fernandes Domingues – Avenida Emígdio Vellozo, 625 –
Centro – CEP: 14735-000 – Severínia (SP), Brasil – E-mail: [email protected]
Recebido em: 03/10/2014
Aceito para publicação em: 17/07/2015
Ciência e Cultura
55
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química:
implantação, apresentação e discussão
Introdução
Reformulações de grades curriculares, flexibilização de currículos e adesão
de “novas” propostas curriculares são hoje
aspectos corriqueiros e polêmicos no que se
refere à Educação. Nos últimos anos, observou-se que a Proposta Curricular do Estado
de São Paulo (PCESP) para o Ensino Médio,
hoje reformulada e denominada Currículo
Oficial, começou a fazer parte desse quadro
nas escolas estaduais paulistas.
Escolheu-se a primeira versão, a Proposta Curricular do Estado de São Paulo,
para desenvolver este trabalho em razão do
fato de esta ser a iniciativa pioneira para as
atuais mudanças ocorridas nos currículos e
nas escolas do Estado, que hoje utilizam o
Currículo Oficial, documento baseado na
PCESP e que se difere muito pouco desta.
As polêmicas em torno desse documento ocorreram por sua implementação ter
sido feita sem antes ter havido uma discussão mais ampla entre os docentes. Tal fato é
constatado pela obscura divulgação de uma
pré-proposta, o que evidencia a intenção do
governo em apenas simular uma participação dos docentes em relação à PCESP. Essa
percepção é referendada pela alegação da
grande maioria dos professores de que foram apenas informados sobre o novo norte
de trabalho e a sua obrigação de segui-lo
(PEREIRA, 2009).
Segundo Guimarães et al. (2008), o
que se percebe é que nestes últimos anos as
reformas educacionais propostas têm exigido o desenvolvimento de competências
profissionais, contudo, sem o apoio necessário para tal, acarretando grandes desafios.
Outro aspecto que chama a atenção é o
comentário de Domingues et al. (2000) sobre
o comportamento dos professores em ignorar
os guias curriculares presentes na maior parte
dos estados, em razão de sua preferência por
materiais de caráter propedêutico. Contudo,
56
DOMINGUES et al.
o autor também discute a pouca divulgação e
o difícil acesso a esses materiais. Assim, fica
claro que “esse modelo de currículo, como
um elenco prescritivo e conteudista de disciplinas (matérias e seus programas), tem se
mostrado inadequado” (p. 70). Daí uma das
necessidades da origem dessa nova proposta
a que se refere o presente trabalho.
A partir disso, o que se vê é uma
quantidade exacerbada de críticas de todos
os lados e uma enorme falta de informação
em relação ao que a PCESP realmente propõe. Tal fato ocorre também no que se refere
à disciplina de Química, foco deste trabalho, por apresentar tantas características e
relações com uma dimensão microscópica,
tornando, ainda, a discussão, a extensão e as
proporções maiores.
Essa situação de críticas e falta de
informação discutidas torna imprescindível
entender que o termo “Proposta Curricular”
não se refere a algo concreto e, muito menos, concretizado. Uma proposta curricular
deve ser entendida como uma construção
contínua de aspectos necessários para realizar um objetivo de caráter educacional e,
por consequência, político e social. Não
é nada que esteja pronto ou solucione um
problema com medidas remediativas. Para
Kramer (1997), é o reflexo literal de uma
aposta com base no que vem sendo observado e precisa ser mudado ou orientado para
melhor construção do conhecimento.
Nessa direção, Pereira (2009) e
Domingues et al. (2000) consideram ser
fundamental entender as mudanças que
ocorrem na sociedade, focando as esferas
política e econômica, para que se alcance a
essência e o real objetivo da PCESP.
Kramer (1997) também entende que
um currículo ou uma proposta pedagógica
deve considerar três aspectos: bases teóricas, diretrizes práticas fundamentadas
nessas bases e aspectos de natureza técnica.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Entretanto, esses aspectos nem sempre são
notados em propostas curriculares consideradas como “novas”, que não levam em
conta as experiências e os resultados positivos outrora obtidos com a aplicação das
propostas anteriores.
Dessa forma, torna-se muito importante para a sociedade, como um todo,
entender o que se passa dentro das salas de
aula, assim como valorizar as experiências
anteriores. É imprescindível ter esclarecimento do que vem sendo trabalhado durante
os cinco anos passados desde a implantação
e a utilização do documento em questão.
Uma vez que o Estado transfere a sua
responsabilidade de gestão para a escola,
esta acaba trazendo consigo, por consequência, uma sociedade, geralmente, leiga ou até
ignorante, assim como professores e gestores que, muitas vezes, não entendem bem o
que lhes foi proposto, para dividir tamanha
responsabilidade (BARROSO, 2005).
Esse caráter de transferência de responsabilidade e de críticas constantes ao
documento motivou a presente pesquisa,
que tem como objetivo analisar, aprofundar
e compreender, a partir de uma análise crítica, a organização da PCESP para o Ensino
Médio e as orientações para a disciplina de
Química, verificando se as críticas feitas à
PCESP são coerentes ou não.
Dessa forma, pretende-se compreender o método de ensino-aprendizagem e o
embasamento teórico e prático do material
que vem sendo utilizado pelos alunos do
Ensino Médio das escolas públicas do Estado de São Paulo desde 2008, com um foco
voltado para o ensino de Química, e discutir
desafios enfrentados pelos docentes ao trabalhar com a PCESP.
Metodologia
Este trabalho apresenta e analisa a
PCESP, utilizando o caminho metodológico
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
de análise documental, discutindo-a à luz de
inúmeros subsídios apontados por Kramer
(1997), que possibilitam embasar e dissertar
sobre uma leitura crítica de propostas curriculares em geral, assim como de outras
bases, retiradas de levantamento bibliográfico a respeito do tema.
Diante disso, efetuou-se primeiramente uma apresentação da proposta, que é
comum a todos os profissionais inseridos na
educação pública estadual paulista, dividida
em três tópicos constantes da PCESP:
1. Uma educação à altura dos desafios
contemporâneos
2.
Princípios para um currículo comprometido com o seu tempo
3.
Sobre as áreas do conhecimento (este
em quatros subtópicos)
Na sequência, há uma discussão e
compreensão das orientações da PCESP e
suas propostas para a disciplina de Química,
levando também em conta a literatura que
compreende a parte de currículo, linguagem
e ensino de Química.
Da proposta curricular
do estado de São Paulo
Na visão de Macedo (1998), há falta
de uma melhor relação entre o conhecimento produzido na escola e sua aplicação
social. Nesse contexto, Domingues et al.
(2000), envolvendo a nova realidade das
escolas públicas, pós Reforma Nacional do
Ensino Médio, destaca a possibilidade de
as escolas terem uma grande dificuldade
para exercer o que propõem as novas reformulações curriculares em razão da falta de
material didático, uma vez que nem todos
contemplam as competências mínimas da
sociedade tecnológica atual.
Com o intuito de mudar esse paradigma, foi criada a PCESP, a qual pretendemos
analisar e discutir à luz de argumentos de
57
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química:
implantação, apresentação e discussão
vários autores. Em um primeiro contato,
podemos, logo em sua apresentação, visualizar a forma organizacional da sua divisão
em dois tópicos:
1. Uma educação à altura dos desafios
contemporâneos
2.
Princípios para um currículo comprometido com o seu tempo
Este segundo tópico apresenta os
subitens:
•
Uma escola que também aprende
•
O currículo como espaço de cultura
•
As competências como referência
•
Prioridade para a competência da
leitura e da escrita
•
Articulação das competências para
aprender
•
Articulação com o mundo do trabalho
Vale lembrar que a subdivisão
curricular foi feita em “áreas do saber”,
respeitando o que foi proposto na última
Reforma do Ensino Médio, e será discutida
num terceiro momento.
Na intenção de evitar ter um “currículo único”, ocorrido antes com outras
Reformas Pedagógicas e outras Propostas
Curriculares que foram esquecidas, a Secretaria do Estado de São Paulo fez o possível
para descentralizar o currículo, pois a descentralização espera do professor uma
postura diferente em relação ao currículo.
Uma educação à altura dos
desafios contemporâneos
A Secretaria da Educação do Estado
de São Paulo, por meio de análises e experiências, propôs em 2008 e dentro da PCESP
duas iniciativas para, como ela mesma define,
“... fomentar o desenvolvimento curricular e
garantir uma base comum...” (p. 9) de conhecimento para os alunos das escolas públicas
do Estado. Essas iniciativas são, basicamen-
58
DOMINGUES et al.
te, um levantamento bibliográfico do que já
se tem como efetivo na teoria e uma consulta
às unidades escolares e seus protagonistas
para uma troca de experiências sobre boas
práticas e bons resultados.
De fato, analiticamente, é possível
perceber a execução da primeira iniciativa
citada no contexto da proposta, gerando,
por consequência, uma impressão positiva que, entretanto, é perdida ao longo de
sua leitura, uma vez que isso não ocorre
com a segunda iniciativa, a de consulta às
unidades escolares. Em nenhum momento, há relatos ou evidências de que o que
está contido ali foi advindo de experiências eficazes anteriormente adquiridas,
por um método ou outro com qualquer
que fosse o objetivo, aplicado dentro de
uma unidade escolar.
Observou-se que “... integra esta
proposta um segundo documento, de
Orientações para a Gestão do Currículo na
Escola... mas tem a finalidade específica de
apoiar o gestor...” em sua liderança (PCESP,
2008, p. 9). Contudo, esse documento não
foi passível de considerações, uma vez que
não se encontra diretamente acessível.
Todavia, segundo a PCESP, esse
mesmo documento traz orientações para
a realização de um Projeto Pedagógico
por parte das escolas. A finalidade dessas
orientações é garantir a aplicabilidade da
Proposta, sendo assim “... um recurso efetivo e dinâmico para assegurar aos alunos
a aprendizagem dos conteúdos e a constituição das competências previstas nesta
Proposta Curricular” (PCESP, 2008, p.9).
Deve-se ainda citar os Cadernos do
Professor, que, por sua vez, apresentam interações e coerência em relação à proposta,
mas são ineficazes quanto à tarefa de garantir uma base comum. Segundo Pereira
(2009), a real intenção é a de homogeneização das escolas estaduais.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Esses cadernos são entendidos, pelo
mesmo autor, como um “... material determinado e delimitado para o professor”.
Nesse material o conteúdo, as habilidades
e as competências estão organizados por
série e são acompanhados de orientações
sobre a gestão de sala de aula, a avaliação e a recuperação. Além disso, existem
sugestões de métodos e estratégias de
trabalho, projetos coletivos, atividades
extraclasse, experimentações, estudos
interdisciplinares e apresentação de situações de aprendizagem como modelos.
Entretanto, devemos relativizar a crítica do autor, pois, como coloca a PCESP
(2008), estes são mais uma ferramenta
que auxiliará o docente no seu trabalho.
Pereira (2009) observa que esses
elementos, com certeza, contribuem para
uma melhoria, mas não são suficientes
para resolver o problema, uma vez que
a aplicação deles depende de vários fatores, como o nível de aprendizado dos
alunos, o material de apoio disponível e
a formação do professor para uma otimização da proposta.
O que se evidencia nessa discussão é
a importância dada pelo Estado para a real
aplicação do conteúdo, para que o trabalho
e a elaboração da PCESP não tenham sido
em vão. Ou seja, não se observa a preocupação com o que sucederá a proposta e sequer
apoio ou ações eficazes caso a implementação desta falhe.
Além disso, na busca do conhecimento para a interação com o mundo, não
são levadas em conta a “condição social”
do aluno nem a rede de ensino que ele
frequenta. Entretanto, a própria proposta
enaltece que “apropriar-se ou não desses
conhecimentos pode ser um instrumento
da ampliação das liberdades ou mais um
fator de exclusão” (PCESP, 2008, p.11).
É impossível falar de desenvolvimento,
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
liberdade, autonomia e identidade sem levar em conta a “condição social”, mas não
apenas como retórica.
Ainda nessa direção, destaca-se que a
elaboração do currículo deve ser cuidadosa,
uma vez que o documento em questão...
(...) tem como princípios centrais: a
escola que aprende, o currículo como espaço de cultura, as competências como
eixo de aprendizagem, a prioridade da
competência de leitura e de escrita, a articulação das competências para aprender
e a contextualização no mundo do trabalho (PCESP, 2008, p.11).
Com base no que se pôde observar e colocar em pauta, chegamos às
considerações sobre os nortes do currículo
da proposta. A seguir, vamos discutir o segundo tópico da PCESP.
Princípios para um currículo
comprometido com o seu tempo
Com o propósito de tornar a análise
desse item mais clara e dinâmica, será feita
uma discussão geral dos itens desse tópico. Já de início, existe concordância com
Domingues et al. (2000) sobre toda a modificação no currículo ser mais uma etapa
do progresso político do país, a qual deve
ser coesa e articulada com essa nova visão
política da Educação.
Esse segundo tópico denota a importância do currículo na PCESP visto
que a escola deve também “aprender a
ensinar”. E isso deve se tornar uma verdade relevante, pois um currículo remete à
consequência da aprendizagem de competências e habilidades, à forma de atuar dos
professores, aos conteúdos nele contidos,
aos métodos de ensino e aprendizagem
dos alunos, compondo, assim, um sistema
que implicará em indivíduos capazes de
59
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química:
implantação, apresentação e discussão
exercer suas responsabilidades sociais de
forma produtiva (MOURA, 2008). Desse
modo, entende-se que, por mais teórico
que seja, o currículo deve ser entendido
como algo positivo e alcançável.
Todavia, como ressaltado por
Domingues et al. (2000), de nada adianta
engajar essas mídias no âmbito escolar sem
um concomitante preparo dos verdadeiros
agentes do currículo — os docentes. Nesse
mesmo raciocínio, o professor é visto como
um formador de opinião, e a PCESP ressalta
a responsabilidade dos gestores, que devem
ter a postura de aplicar aos professores
tudo aquilo que recomendam, e orientá-los
para que estes, por sua vez, apliquem as
recomendações com seus alunos.
Outrossim, o professor, antes visto como um recurso nas propostas antigas
(DOMINGUES et al., 2000), na PCESP
tem papel essencial. Deve ser ciente de que,
no contexto escolar, é comum ver a cultura associada aos conhecimentos folclóricos
e ter o conhecimento como um objetivo
inalcançável. Logo, espera-se um docente
articulador entre teoria e prática, epistemologia e senso comum.
“O Currículo é a expressão de tudo
o que existe na cultura científica, artística
e humanista, transposto para uma situação
de aprendizagem e ensino” (PCESP, 2008,
p. 13). Portanto, deve ser anexo da cultura
do aluno, e não estar contido nesta, não
sendo um obstáculo, mas sim ferramenta
para uma aprendizagem cultural articulada pelo docente.
Para ser efetivo, segundo a PCESP,
o currículo do qual falamos deve também
apresentar competências que sejam articuladas entre os aspectos indissociáveis.
Podem ser entendidos como aspectos indissociáveis: atuação do professor, conteúdos,
metodologias disciplinares e metodologias
de aprendizagem.
60
DOMINGUES et al.
Assim, como consequência dessa
boa elaboração curricular, a escola cumpre
o papel que se espera dela nos dias de hoje
(PCESP, 2008, p. 13): formar um cidadão
capaz de problematizar, interagir e solucionar situações adversas na sociedade em que
está inserido.
Com a LDB (Lei no 9.394/1996),
para a qual o ponto-chave não é mais o que
o professor ensinou, e sim o que o aluno
aprendeu, a proposta posiciona-se a fim de
priorizar como competência curricular o que
considera indispensável que todos os alunos tenham aprendido no final do processo
educacional (e chama isso de “garantir uma
base comum”).
Entretanto, vale lembrar que, muitas
vezes, o professor formula seu plano de aulas focado no que irá ensinar e não no que
o aluno deverá aprender. Então, ao final do
ano letivo, tendo seu plano em dia e cumprido, caso algum aluno fracasse, o seu
argumento será de que a sua parte foi feita, e
o aluno não aprendeu por questões próprias
(PCESP 2008, p. 15).
Agindo dessa forma, o Estado posiciona-se como um agente regulador por trás
de uma “modernização” caracterizada por
uma falsa autonomia (BARROSO, 2005).
O Estado devolve (para as escolas) as
táticas, mas conserva as estratégias,
ao mesmo tempo em que substitui um
controle direto, centrado no respeito
das normas e dos regulamentos, por um
controle remoto, baseado nos resultados
(BARROSO apud LÜCK 2000, p. 18).
Assim, de acordo com essa linha
de pensamento, podemos afirmar que a
atitude do professor advém do reflexo do
que o Estado faz com as entidades escolares ao transferir a responsabilidade que
outrora era sua.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Nessa questão é imprescindível
lembrar-se dos aspectos indissociáveis,
citados a pouco, que tornam o objetivo possível. Assim, a PCESP segue afirmando que
esta mutação da cultura do ensino para a
aprendizagem significativa não ocorre individualmente. É a escola quem deve manter
um ambiente propício para a coletividade
entre seus gestores e professores.
Na visão de Vygotsky (2001), o ser
humano apresenta-se constituído de linguagem. E, para que a aprendizagem seja
significativa, é essencial que essa linguagem seja intrínseca ao cotidiano do aluno,
tomando-se os devidos cuidados para que
não seja apenas mais um recurso de reprodução de conhecimento, mas sim que preze
que aluno fale a língua do conhecimento,
tornando-se crítico, com as habilidades dos
pensamentos antecipatório, combinatório e
probabilístico, podendo, por consequência,
criar e sistematizar hipóteses.
Segundo a PCESP, é no período da
adolescência que o indivíduo aprende a usar
a linguagem no seu mais alto nível de complexidade como ferramenta para interagir
na sua sociedade, sendo a escola responsável por esse aprendizado.
Isso é o que vai possibilitar que
o adolescente faça escolhas durante sua
vida adulta analisando situações e tomando decisões, ciente das consequências de
suas atitudes (MOURA, 2008). Por isso, a
PCESP prioriza a competência de leitura e
escrita, e revela o professor como semeador
de conhecimentos que posteriormente serão
transformados em competências e habilidades, pois estas têm por função educar para a
vida adulta toda.
Depois dessas discussões, pode-se
observar na sequência da leitura do documento em questão uma mudança de foco
nos discursos, embasados até aqui na postura dos professores e gestores, para o papel
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
dos alunos, discutindo o que o estes devem
compreender quanto ao sentido da sua
aprendizagem e que devem identificar, com
um olhar crítico, as referências de cada área
do conhecimento, apresentando-se como
portador das competências básicas para o
caminhar da sua vida adulta.
Assim, este aluno, com seu conhecimento construído, deve apropriá-lo e
aplicá-lo em situações práticas, casando
bem com as linhas estabelecidas na LDB
e ainda citando que a ineficácia do ensino
está diretamente ligada às dificuldades de
estabelecer uma relação prática para o conhecimento (PCESP, 2008).
Nesse ponto da discussão, a própria
PCESP (2008, p. 22) destaca que:
A Química é erroneamente considerada
mais prática por envolver atividades de
laboratório, manipulação de substâncias
e outras idiossincrasias, no entanto não
existe nada mais teórico do que o estudo
da tabela dos elementos químicos.
Já aproveitando essa linha de pensamento da proposta em relação ao
aprendizado da Química, a PCESP (2008)
destaca que este deve ser usado como ferramenta para solucionar questões do tipo
“Que alimentos ou produtos com aditivos
químicos devem ou não ser consumidos?”.
Não há necessidade de ser um profissional
da área Química para resolver que atitude
tomar, basta utilizar-se do conhecimento
aprendido. Isso é o que se espera do aluno
no que concerne à articulação do aprendizado com o cotidiano, com a tecnologia e com
o trabalho.
Outro ponto positivo na sequência da
leitura se dá quando a PCESP nos lembra
da nitidez com que o fácil acesso à informação por meio das atuais mídias tecnológicas
vem gerando um acúmulo de conhecimen-
61
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química:
implantação, apresentação e discussão
tos por parte dos professores e mais ainda
dos alunos.
No que se refere à tecnologia, esta se
apresenta inserida no currículo dividindo-se
em dois caminhos para, segundo ela, uma
melhor assimilação do aluno. O primeiro
norte tecnológico da proposta trata de que
há certa necessidade de se fazer uma “alfabetização tecnológica”. Esta consiste em
entender os processos e os recursos tecnológicos que levaram aos avanços do mundo
contemporâneo, hoje realidade direta ou
indireta no cotidiano de qualquer que seja
a classe econômica. Já o segundo é reflexo do primeiro nas áreas do conhecimento
entendidos como: avanços, experimentos,
máquinas, métodos armazenamento de informações, etc.
De tal modo, englobando os tópicos
já citados, vale ressaltar que, segundo
a LDB, estão entre as competências do
Ensino Médio: “a preparação básica para
o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz
de se adaptar com flexibilidade a novas
condições de ocupação ou aperfeiçoamento
superiores”.
Logo, fica claro, quanto ao objetivo
do currículo, que o aluno, ao se formar,
tenha condições de executar, resolver situações problema, tomando decisões com
embasamento e voltando a uma qualificação profissional posterior, cumprindo
assim com o que é proposto, e não tendo o
caráter propedêutico e cegamente voltado
aos vestibulares.
Sobre as áreas do conhecimento
Destaca-se aqui, em uma breve discussão, a forma organizacional da PCESP
no que se refere à divisão das áreas do conhecimento e sua subdivisão curricular.
É importante destacar, para um melhor
entendimento dessa organização, que essa
62
DOMINGUES et al.
subdivisão curricular ocorre em ramificações não mais individuais, mas trazendo um
conjunto de disciplinas algumas das quais
permanecem como no que foi proposto na
última reforma do Ensino Médio.
A Resolução CEB/CNE nº 03/98
organiza essas disciplinas em: Ciências
Humanas e suas Tecnologias; Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias; Ciências da
Natureza, Matemática e suas Tecnologias.
Estas estão acompanhadas do termo “tecnologias” em razão do objetivo da resolução
de conectar os conhecimentos científicos à
suas aplicações tecnológicas.
Já na PCESP, a novidade fica na compreensão de haver uma área específica para a
Matemática, uma vez que essa se comunica
com todas as outras áreas do conhecimento.
Isso se dá pela busca por uma melhoria no ensino com o objetivo de garantir
que os conteúdos sejam trabalhados de
forma segura e eficiente, mas que resguarde a autonomia do docente. Obviamente,
essa busca não tem um caráter neutro, mas
sim manifestado nas linhas de pensamento e conhecimento presentes nos cadernos
das disciplinas que compreendem as áreas
do conhecimento citadas (GUIMARÃES
et al., 2009).
No contexto discutido por Guimarães
et al. (2009), é compreensível, então, ter
esse tipo de distribuição. Apresentamos
abaixo as áreas do conhecimento compostas pelas respectivas disciplinas segundo a
PCESP (2008):
•
Ciências Humanas e suas Tecnologias: História, Geografia, Filosofia,
Sociologia e Psicologia.
•
Matemática e as Áreas do Conhecimento: Matemática.
•
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: Língua Portuguesa, Língua
Estrangeira Moderna, Artes e Educação Física.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
•
Ciências da Natureza e suas Tecnologias: Biologia, Física e Química.
Tal fato nos chama a atenção de que a
PCESP (2008), com embasamento na LDB
de 1996, considera a união de certas disciplinas em um único conjunto como algo
natural e visto também como um recurso
pedagógico no sentido de constituir uma
pré-articulação entre elas.
Em uma discussão inicial e aprofundando mais o interesse do presente trabalho,
sintetizou-se a seguir o embasamento teórico para a criação e divisão dessas diferentes
áreas, assim como as metas mais claras e
objetivas que cada uma dessas áreas do conhecimento compreendem.
Da área do saber ‘Ciências
Humanas e suas Tecnologias’
Esta área encara a ciência como
algo humano, resultado do acúmulo de conhecimento e investigações. É necessário
aqui que o aluno possa se apropriar e compreender cientificamente as relações entre
diferentes sociedades e conhecimentos.
Da área do saber ‘Matemática
e as Áreas do Conhecimento’
O conceito de alfabetização remete
àquele indivíduo capaz de ler, escrever e
contar. Logo, essa última competência é de
responsabilidade da Matemática, sendo, segundo a organização das PCN’s, a disciplina
mais próxima da área de Ciências Naturais
e encarada na PCESP como base e instrumento de trabalho para ser usada nessa área.
Da área do saber ‘Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias’
A linguagem é claramente um meio
de comunicação que pode ser aplicado de
diversas formas. Assim, deve-se trabalhar
o conhecimento linguístico e as técnicas
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
de interpretação para que o aluno possa
compreender, discutir e remeter o que foi
aprendido ou informado. É de responsabilidade dessa área fazer a ligação entre
intertextualidade e interdisciplinaridade.
Da área do saber ‘Ciências da
Natureza e suas Tecnologias’
Nesse grupo de áreas do conhecimento existe um maior aprofundamento
com uma discussão mais ampla associada
aos avanços tecnológicos e científicos, assim como à compreensão desses avanços,
aos métodos experimentais, aos recursos
utilizados e à diferença que fazem no
cotidiano social. Da mesma forma, discute unidades de medida, produção de
materiais e alimentos, termos técnicos
etc., rompendo a fronteira preconceituosa
que muitas vezes fica pela falta de conhecimento. Cabe aqui o exemplo de que não
é preciso ser químico para discutir a qualidade de uma água tratada.
Nesse caminho, as discussões de
Moura (2008), assim como a visão dos autores deste trabalho, tornam explícito que
a proposta se apresenta com uma forma
organizacional muito diferente de quando transferida para o cotidiano escolar,
uma vez que a autonomia das lideranças
a incorporam da forma que lhes convém.
E isso, muitas vezes, é o que gera toda
a polêmica que envolve essa proposta e
agrava ainda mais a questão dos envolvidos no meio educacional não darem fé à
eficácia do documento.
Nota-se também dificuldade de adaptação à PCESP, pois sua forma de trabalho
engaja interdisciplinaridade e contextualização, campos ainda inexplorados por certos
docentes. Outro aspecto que também torna o processo das propostas curriculares
do Ensino Médio conflituoso é o fato de
os agentes que compõem a escola como
63
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química:
implantação, apresentação e discussão
um todo não estarem dispostos a acatarem
propostas que não refletem o dia a dia das
escolas, mas também não deixam de lado os
cômodos velhos hábitos.
Boa parte dos empecilhos colocados à aplicação da PCESP está ligada à
primeira manifestação material da última
Reforma do Ensino Médio que se remete a um currículo composto por ideais da
interdisciplinaridade e contextualização.
Segundo Domingues et al. (2000), essa
ideologia tenderia a reorganizar as experiências dos agentes escolares, fazendo
com que revissem suas práticas, debatessem aquilo que ensinam e como ensinam.
Visto que, para a disciplina de
Química os algozes não são diferentes,
temos então pautadas algumas observações para discorrer em nosso próximo
eixo de discussão.
As orientações da pcesp
para a disciplina de química
Uma vez apresentado o conhecimento químico como ferramenta e parte da
construção do caráter do ser humano e sua
sociedade, o aluno poderá entender a ciência e seu percurso até os conhecimentos de
hoje, e, por conseqüência, tratar isso como
uma forma alternativa de ver e viver a sociedade (PCN+, p. 87 apud PCESP, 2008).
Para que a PCESP cumpra com seu
objetivo é necessário que o gestor se faça
presente na articulação das competências
do docente para uma organização dos conteúdos diferente do que se conhece como
“transmissão de conhecimento” e “aprendizagem mecânica”.
Não mais se devem despejar definições e fórmulas no aluno, mas sim permitir
que ele mesmo construa seu próprio conhecimento. Este deve ser orientado a partir de
uma base em tripé constituída pela associação de: materiais e suas propriedades,
64
DOMINGUES et al.
modelos explicativos e transformações
químicas (PCESP, 2008), sendo que essa associação é de responsabilidade do docente.
Vygotsky (2001, p. 211) nos lembra
de que “a formação dos conceitos surge
sempre no processo de solução de algum
problema que se coloca para o pensamento
do adolescente”. Nesse contexto, o docente pode, por exemplo, discutir ideias, prós
e contras no uso de determinada fonte de
energia, gerando por consequência das suas
interações uma aprendizagem significativa
e contextualizada com a realidade.
No entanto, por melhor que seja a
intenção do docente em promover o conhecimento químico, engajando-o a processos,
aplicabilidade, opinião e decisão sobre
problemáticas distintas, é necessário que
o aluno esteja numa condição voluntária a
conceber esse conhecimento para que obtenha as habilidades de fazer, conhecer, ser e
estar em sociedade.
Fica explícito o porquê de uma sequência didática alternativa, que não se
inicie pela compreensão de um átomo,
por exemplo, pois, segundo a PCESP
(2008, p.42):
Essa sequência didática, que parte da
apresentação de um modelo atômico microscópico e abstrato, exige que o aluno
compreenda uma possível explicação
microscópica para propriedades macroscópicas dos materiais, antes mesmo de
conhecer fatos químicos. A aprendizagem, muitas vezes, é mecânica e pouco
significativa.
Diante dessas ideias, deve-se construir um conhecimento diferenciado,
crítico e ativo, permitindo que o aluno, por si só: compreenda, investigue e
conclua, articulando a Química com as
outras áreas e no exercer de sua cidadania.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Quanto aos docentes, estes devem propor
desafios e problemáticas que instiguem
o aluno a articular as habilidades em diferentes áreas do conhecimento e de seu
cotidiano (PCESP, 2008).
Para esse fim, há uma organização
de temas propostos para cada série, que se
voltam especificamente para o ensino de
Química e devem ser trabalhados pelo docente com certa dedicação e cuidado.
Para um melhor trabalho do docente e maior qualidade na aprendizagem, a
alternativa mais adequada encontrada foi
dividir a disciplina em temas de acordo com
a série no Ensino Médio, levando em conta a capacidade de assimilação, discussão e
conhecimentos prévios dos alunos. A partir
disso, dividiram-se os temas das seguintes
maneiras (PCESP, 2008, p.45):
• Para a primeira série: transformação química na natureza e no
sistema produtivo.
•
Para a segunda série: materiais e
suas propriedades.
•
Para a terceira série: atmosfera, hidrosfera e biosfera como fontes de
materiais para uso humano.
Sobre os temas e seus desenvolvimentos, pode-se definir, segundo a
PCESP (2008):
•
Para o primeiro ano: as transformações químicas que ocorrem
cotidianamente aos nossos olhos e
aquelas induzidas para que os padrões de vida e de desenvolvimento
sejam respectivamente mantidos e
evoluídos. Espera-se que o aluno
tenha a noção fenomenológica de
mutação de um ou mais materiais em
novos compostos com propriedades
diferentes e sua importância social.
•
Para o segundo ano: aprofundamento na questão das propriedades e
Ciência e Cultura
•
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
composições dos materiais, já que
é a partir dessas propriedades que
se pode prever a formação de um
composto a partir de uma reação tal
qual a tendência de certa substância
apresentar interação com outra e sua
relevância, ampliando assim seu conhecimento sobre as transformações
e como elas acontecem.
Para o terceiro ano: a influência do
homem no meio ambiente e seus
resultados e consequências para o
próprio homem. A reversibilidade é
inserida nos conceitos de transformações químicas tanto quanto conceitos
de velocidade das reações e como o
homem obtém materiais e compostos
para que haja a compreensão da importância do equilíbrio químico.
Desse modo, para a disciplina de
Química, a PCESP faz jus ao que é proposto. Porém, o que fica em aberto é a execução
dessas ideias visto que o preparo dos professores e a disposição dos alunos podem
divergir em vertentes não naturais.
Tendo por entendida e revisada a
forma organizacional da PCESP no que se
refere à disciplina de Química, trataremos
com um olhar crítico em uma discussão
final a aplicabilidade da PCESP, tentando
fundamentar a situação de críticas constantes que levaram à elaboração deste trabalho.
Resultados e discussão
Finalmente, encerram-se aqui as
análises dos autores sob o pensamento de
que, com a mudança do foco de trabalho
do professor para o aluno, novos rumos foram dados à educação pública. A partir da
Reforma do Ensino Médio nos anos 2000,
intensificaram-se os processos para a criação de propostas curriculares e a busca por
materiais didáticos. O Estado de São Paulo,
65
Proposta curricular do estado de São Paulo para a disciplina de Química:
implantação, apresentação e discussão
por sua vez, desenvolveu seus próprios materiais, e a PCESP no ano de 2008, mas sem
a consulta apurada aos professores e gestores. Tal aspecto gerou uma forte postura de
protesto e transferência de responsabilidade
entre esses entes que compõem o âmbito
educacional.
Visivelmente, o Estado passou a ter
um papel de analista crítico em base de dados que não leva em conta o peso do aspecto
social. Todavia, isso não é algo solucionável
de imediato. Portanto, é indispensável que
o docente, dentro de seus nortes, abrace a
proposta para que haja uma mútua troca de
saberes entre os profissionais, as atitudes
competentes e os alunos.
De acordo com as fontes consultadas,
consideramos que as reclamações e os empecilhos colocados por docentes e gestores são
pivôs de uma grande discussão que permeia
a aplicação efetiva da PCESP a ponto de culminar num descaso com o aluno, visto que
as obrigações da escola vão além do que foi
citado ao longo dos conteúdos do trabalho.
Levou-se em conta, ainda, o aspecto relevante da capacitação do docente
para confrontar desafios como educação
inclusiva e desigualdade social, além da
perspectiva de se ter um bom entendimento
da proposta para que haja, então, um resultado positivo.
A Secretaria da Educação do Estado de
São Paulo afirma que oferece aos docentes,
em grande número, opções de formação continuada. Essa afirmação por parte do Estado
acarreta questões quanto às condições de trabalho, jornada de trabalho, salário, até muitas
outras que devem se fazer presentes para que
o docente sinta-se à vontade para buscar uma
formação continuada.
Esse caráter de reprovação que começa dentro da sala de aula chega aos gestores,
que repensam na utilização do material, e,
principalmente, aos alunos, que por sua vez
66
DOMINGUES et al.
reproduzem as palavras de seus mestres em
casa, abalando o potencial e a perspectiva
positiva da PCESP.
Um número considerável de docentes ainda critica negativamente a PCESP
e a gestão, colocando a cargo do aluno a
responsabilidade pela aprendizagem não
significativa. Todavia, essas atitudes caracterizam esses docentes como recíprocos à
forma em que o Estado tende a conduzir a
Educação.
No entendimento dos autores deste
trabalho, um Estado participativo na escola
pública, mas não autoritário (BARROSO,
2005) e unidades escolares motivadas
(RIBEIRO, 2008) são fatores que podem
tornar possível a construção de uma
identidade coletiva e compartilhada entre os
agentes da Educação ainda tendo a PCESP
não como obrigação, mas como um norte
à construção de todo conhecimento e toda
proposta pedagógica individual.
Isso acarretaria uma melhora na qualidade da Educação e tenderia a intensificar
as reformulações constantes dos currículos,
uma vez que se vive em uma era na qual
o avanço da tecnologia é exponencial, enquanto o avanço social é linear.
Conclusão
De tal modo, conclui-se que, de uma
forma objetiva e bem embasada quanto à
gestão e sua autonomia, a PCESP concretiza a ideia de um Estado com postura de
avaliador, que espera um maior preparo dos
docentes sem estabelecer condições para
que isso se realize. Esses docentes, em sua
maioria, justificam seu despreparo por não
ter os subsídios necessários e reprovam o
uso dos Cadernos do Professor (muitas vezes em forma de protesto) em vez de buscar
uma melhor condição de trabalho, uma vez
que é de vão esforço confrontar algo que
não é passível de uma mudança imediata.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Todos os aspectos estudados ressaltam a tamanha importância do Estado em
ser participativo, incentivador, investidor e
não apenas um avaliador. Em relação ao docente, sua posição quanto a quaisquer fatos
tem um peso ideológico incalculável pelo
fato de atuar profissionalmente na condição de formador de opinião.
Assim, definitivamente, só uma
postura alternativa de ambas as partes
pode mudar esse quadro — e a iniciativa dever partir do Estado como fez com
a PCESP. Só então poder-se-ia chegar a
uma conclusão quanto à efetividade concreta da Proposta Curricular do Estado de
São Paulo para a disciplina de Química.
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
KRAMER, S. Propostas pedagógicas ou
curriculares: Subsídios para uma leitura
crítica. Educação & Sociedade, ano
XVIII, n. 60, 1997.
LÜCK, H. Perspectivas da gestão escolar
e implicações quanto à formação de seus
gestores. Em Aberto, v. 17, n. 72, 2000,
p. 11-33.
MACEDO, E.F. Os temas transversais
nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Química Nova na Escola, n. 8, 1998,
p. 23-27.
Referências
BARROSO, J. O Estado a educação e
a regularização das políticas públicas.
Educação & Sociedade, v. 26, n. 92,
2005, p. 725-751.
MOURA, M.R.L. Reformas educacionais
e a Proposta Curricular do Estado de São
Paulo: Primeiras Aproximações. 2008.
Disponível em: <www.estudosdotrabalho.
org/anais6seminariodotrabalho/
marcilenemoura.pdf> Acesso em 27
set. 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei n.
9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB). Brasil: MEC; 2008.
PEREIRA, S.C. A proposta curricular do
estado de São Paulo e o cotidiano escolar.
Espaço e tempo GEOUSP, Edição
Especial, 2009, p. 71-78.
DOMINGUES, J.J.; TOSCHI, N.S.;
OLIVEIRA, F.F. A reforma do ensino
médio: a nova formulação curricular e a
realidade da escola pública. Educação &
Sociedade, ano XXI, n. 70, 2000, p. 73-79.
RIBEIRO, R. A autonomia proposta na
LDBEN e a nova proposta curricular das
escolas públicas do Estado de São Paulo.
Revista Ibero-Americana de Estudos em
Educação, v. 3, n. 1 e 2, 2008.
GUIMARAES,
Y.A.F.;
OLIVEIRA
JUNIOR, M.M.; SILVA, D.P.; ABIB,
M.L.V.S. A influência da proposta
curricular do Estado de São Paulo na prática
pedagógica dos professores de Química.
In: Anais VII Enpec – Encontro Nacional
de Pesquisa em Educação em Ciências,
Florianópolis, 2009, v. 1, p. 579-590.
SÃO PAULO. Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo. Proposta Curricular
do Estado de São Paulo: Química. São
Paulo: SEE; 2008.
Ciência e Cultura
VYGOTSKY, L.S. A construção do
pensamento e da linguagem. São Paulo:
Martins Fontes; 2001.
67
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de
sistemas de drenagem eficientes, debilidade ou desinteresse?
Urban floods: obstacles to implementation of effective
drainage systems, impotence or unconcern?
Thiago Rodrigo de Oliveira Alves1, Paulo Roberto Moreira Monteiro1
Curso de Engenharia Civil, Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) –
Barretos (SP), Brasil.
1
Resumo
Este trabalho teve por objetivo acompanhar a evolução dos sistemas de drenagem urbana, ao longo da
formação das cidades, tendo como foco os problemas relacionados às inundações. Foi realizada uma
revisão bibliográfica referente ao processo evolutivo do sistema de drenagem urbana e da formação das
cidades brasileiras, examinando-se os principais autores relacionados aos temas. Ao longo do processo
de expansão territorial no Brasil, diversas cidades cresceram de forma acelerada e sem planejamento,
expansão esta conduzida principalmente pela influência de características topográficas, econômicas e de
interações sociais. Isso resultou em sistemas de drenagem impróprios e deficientes, os quais refletem em
sérios problemas econômicos, ambientais e para o bem-estar da população. O governo tem a obrigação de
agir na prevenção e no combate de incidentes que possam vir a gerar danos à saúde da população, e as inundações urbanas estão entre os principais eventos danosos. Estudou-se também brevemente a influência
que a formação cultural brasileira pode apresentar sobre a administração pública atual quanto ao combate
e à mitigação de inundações urbanas, buscando respostas para os problemas existentes no planejamento
urbano brasileiro. Conclui-se que características culturais herdadas durante o processo de colonização
demonstram-se influentes na administração pública atual, principalmente na falta de planejamento e na
ausência de uma cultura de segurança, em que, muitas vezes, deixa-se de lado a prevenção e assume-se
um papel de vulnerabilidade após a ocorrência dos desastres hidrometeorológicos.
Palavras-chave: drenagem urbana; desastres naturais; plano diretor; políticas públicas.
Abstract
This paper aimed to monitor the development of urban drainage systems along with the formation of cities, focusing on the problems related to flooding. A literature review was conducted concerning the evolution process of urban drainage system and the formation of Brazilian cities, examining the main authors
related to the themes. Throughout the process of territorial expansion in Brazil, several cities grew rapidly
and without planning, expansion that was driven mainly by the influence of topographic and economic
features and social interactions. This resulted in improper and disabled drainage systems, which reflects
in serious problems regarding the economy, environmental and the welfare of the population. The gov-
Autor para correspondência: Thiago Rodrigo de Oliveira Alves – Avenida Professor Roberto Frade
Monte, 389 – Aeroporto – CEP: 14784-226 – Barretos (SP), Brasil – E-mail: [email protected]
Recebido em: 06/08/2014
Aceito para publicação em: 10/09/2015
Ciência e Cultura
69
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
ALVES et al.
ernment has the obligation to act in prevent and combating incidents that may come to generate damage
to the health of the population, and urban flooding are among the main damaging events. It was briefly
studied the influence that the Brazilian cultural formation can exercise over the current government as to
combat and mitigate urban floodings, seeking answers to the problems in the Brazilian urban planning. It
was conclude that cultural characteristics inherited during the colonization process show to be influential
in the current government, especially in the lack of planning and safety culture, often leaving aside the
prevention and assuming a vulnerability role after the occurrence of hydrometeorological disasters.
Keywords: urban drainage; natural disasters; master plan; public policy.
Introdução
Desastres naturais ocupam cada
dia mais destaque na mídia no Brasil,
principalmente as inundações, que se
apresentam por todo o território nacional.
Alcántara-Ayala (2002) define desastre natural como um evento natural com
capacidade de provocar danos físicos e socioeconômicos, gerados durante ou após
sua ocorrência. Cunha (2012) afirma que a
inundação é um desastre tipicamente brasileiro por afetar todas as regiões do país.
Um dos casos de inundação mais
marcantes registrados ultimamente no
Brasil ocorreu em Alagoas, entre os dias
16 e 20, durante o mês de junho no ano
de 2010.
De acordo com Souza (2011), as
cabeceiras dos rios Mundaú e Paraíba,
localizados entre os estados de Pernambuco e Alagoas, foram atingidas por uma
intensa chuva, resultante de um fenômeno
denominado Onda de Leste, aumentando
historicamente a vazão dos rios e inundando diversos municípios da região.
O incidente gerou graves consequências
socioambientais, causando a morte de
mais de 40 pessoas.
Além desse episódio, diversos
outros casos de inundações foram registrados ao longo das últimas décadas
no país. Conforme a Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico de 2008 (IBGE,
2010), entre 2004 e 2008, 2.274 mu-
70
nicípios declaram ter problemas com
inundações, e 60,7% destes confirmaram
haver ocupação urbana em áreas inundáveis naturalmente por cursos d’água.
Segundo relatório das Nações Unidas
e do Banco Mundial (2010), estima-se que
entre os anos de 1970 e 2010, aproximadamente, 3,3 milhões de pessoas morreram
em consequência de desastres naturais.
De acordo com relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007), comunidades urbanas de
baixa renda tendem a ser mais vulneráveis a
eventos extremos, especialmente comunidades presentes em áreas de risco.
Cunha (2012) afirma que comunidades com menor renda financeira são
mais vulneráveis à ocorrência de desastres
naturais, principalmente, pela falta de informações e treinamentos. Kobiyama et al.
(2004) sugerem a criação de grupos de autodefesa contra desastres naturais (GADN)
dentro das comunidades, com o objetivo de
atuar antes, durante e após os desastres.
Entende-se, segundo Parkinson e
Butler (2005), que o gerenciamento do
saneamento e das águas pluviais apresenta relação direta com o índice de doenças
transmissíveis.
Problemas relacionados a catástrofes, como no caso de inundações, podem
apresentar impactos diferentes de país
para país; sua condição econômica definirá o ritmo de reconstrução (ISDR, 2005).
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Holanda (1995) atribui diversas
características da sociedade portuguesa
diretamente associadas com a formação
cultural nacional. Mas, qual a influência
dessas características na atuação da administração política brasileira para o combate
a inundações urbanas? Quais os deveres e
limitações da administração pública quanto
à prevenção e ao combate às inundações?
O objetivo deste artigo foi, mediante
a revisão da bibliografia do tema inundações
urbanas, examinando-se os principais
autores relacionados ao tema, analisar a
atuação da administração pública no Brasil
e se características culturais herdadas pelo
processo de colonização portuguesa têm
relação com os sistemas de drenagem
ineficientes existentes atualmente no país.
Almejou-se encontrar respostas para os
eventos de inundações presentes cada vez
mais no dia a dia de toda a população,
propondo-se superficialmente estudos
futuros para a obtenção de melhorias no
combate a inundações urbanas.
Material e métodos
A pesquisa realizada neste trabalho
abrange uma análise multidisciplinar, envolvendo estudos nas áreas de Ciências
Hidrológicas, Engenharia Urbana, Políticas Públicas e Ciências Sociais.
A análise de todos os dados apresentados ao longo do artigo é realizada
pelos métodos indutivo e dedutivo. Quanto à metodologia, o trabalho fez uso do
método dialético, qualitativo, pois não se
busca enumerar estatisticamente a ocorrência de eventos, mas sim qualificar os
dados coletados referentes ao problema.
Foi realizada uma revisão bibliográfica concernente ao processo evolutivo do
sistema de drenagem urbana e da formação das cidades brasileiras, examinando os
principais autores relacionados aos temas.
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Também foram associados trabalhos
referentes à influência de características
culturais durante a colonização, discutindo
a relevância destas no combate e prevenção de inundações urbanas.
A pesquisa pode ser classificada como
bibliográfica e documental. As bases de
dados para a busca literária foram SciELO,
Periódicos Capes, livros relacionados às
áreas de conhecimento da pesquisa, além de
artigos na íntegra on-line.
Resultados e discussões
A importância da Ciência Hidrológica
De acordo com a Fundação Estadual
do Meio Ambiente (FEAM, 2006), historicamente, o sistema de drenagem urbana
pode ser dividido em três distintas fases:
Higienismo, Período da Racionalização e
Período Científico.
O Higienismo é caracterizado pela
grande preocupação com problemas de
saúde, no qual se evitavam locais com
água parada, os quais serviam como meio
de propagação de doenças.
No Período da Racionalização, graças aos avanços na realização de cálculos
hídricos, tornou-se possível a criação de
canais urbanos retificados e maiores, podendo-se assim promover uma evacuação
mais rápida das águas pluviais.
Por fim, no começo do século XX,
deu-se início ao Período Científico, no
qual, graças ao desenvolvimento de técnicas e, mais tarde, do avanço de programas
computacionais, pode-se separar a água
de chuva da água de esgoto.
Nota-se que, a partir desse período,
a rápida evacuação das águas pluviais não
é mais o objetivo principal dos sistemas
de drenagem, mas o estabelecimento de
uma retenção natural por meio de uma
nova visão sustentável.
71
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
Conforme Cruz et al. (2007) e
Butler e Parkinson (1997), são sistemas
de drenagem sustentáveis aqueles que
minimizam as perturbações a outras atividades sociais e a processos naturais.
Entende-se, mediante os dados mencionados, que as cidades formadas no Brasil
anteriormente ao século XX não apresentaram conscientização sobre a importância da
realização de projetos sob as perspectivas
desenvolvidas no Período Científico.
Segundo Chow (1964) e também
Villela e Matos (1975), Hidrologia é a
ciência responsável por estudar a ocorrência, a circulação e a distribuição da água
na terra, suas propriedades físicas e químicas, e as relações apresentadas com o
meio ambiente.
Essa definição pode ser complementada pela seguinte afirmação de Tucci
(2000, p. 25),
Hidrologia é uma ciência interdisciplinar que tem tido evolução significativa
em face aos problemas crescentes, resultado da ocupação das bacias, do
incremento significativo da utilização
da água e do resultante impacto sobre
o meio ambiente do globo.
Ainda segundo ele, profissionais de
diferentes áreas podem atuar nessa ciência em razão do amplo leque de subáreas
presentes na Hidrologia.
Vestena et al. (2002) enfatiza a importância da Ciência Hidrológica para
prevenir e mitigar os mais diversos desastres naturais relacionados à água.
Tendo em vista que diversos desastres
hidrológicos estão relacionados à quantidade e às características das águas, conclui-se
assim que, para o planejamento de ações de
combate e prevenção de inundações, a realização de estudos hidrológicos é um fator
72
ALVES et al.
significativo, demonstrando ser ponto de
partida para os demais estudos.
Contudo, diversos fatores assumem papel desafiador para a gestão
hídrica, intensificando a ocorrência de
inundações e dificultando a execução
de medidas corretivas.
Os desafios da gestão hídrica
Monteiro (1991) corrobora que as
enchentes e os deslizamentos não resultariam em danos tão significativos caso o
homem não ocupasse planícies inundáveis.
Canholli (2005) ressalva uma importante característica no processo de formação
das cidades, a necessidade da proximidade
de corpos hídricos. Segundo ele, as áreas
mais baixas, próximas às várzeas dos rios ou
beira-mar, são adotadas durante o processo
de urbanização, sendo utilizadas como meio
de transporte, fonte de alimento e para mitigação da sede dos animais.
Historicamente, a crescente urbanização desordenada tem contribuído para o
surgimento de áreas de risco de inundações e
alagamentos em grande número de cidades,
em todas as regiões brasileiras (CUNHA,
2012). Nota-se que, durante o processo de
formação das cidades brasileiras, a falta de
conhecimento hidrológico, não se dando a
devida atenção à dinâmica do movimento
das águas, associado à necessidade da proximidade com rios e córregos, instalando-se
em áreas de várzea, ocasionou ambientes
propícios à ocorrência de inundações.
O crescimento populacional é mais
um fator que se mostra diretamente ligado
à ocorrência de inundações; quanto maior
a população e o seu ritmo de crescimento,
maior são as possibilidades de inundação
em decorrência da maior impermeabilização do solo e da redução do tempo de
concentração, como também da maior vazão ocorrente (TUCCI, 2007).
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Observa-se, segundo Vestena (2008
apud ALEXANDER 1995), que a estimativa populacional mundial prevista para o
ano de 2050 é de 12,5 bilhões, o que contribuirá com um aumento significativo na
demanda por terras para ocupação e produção de alimentos, resultando na ocupação
de áreas instáveis e propícias à ocorrência
de desastres naturais, principalmente pelas
classes sociais menos favorecidas.
Nota-se, por meio dos dados analisados, que locais sujeitos à ocorrência de
incidentes com inundações perderão valor
de mercado, tornando-se um atrativo para
a população com renda inferior, pois esta
optará por habitar espaços mais acessíveis
economicamente.
De acordo com Machado (2008,
p. 96), a atividade produtiva, a qualidade de vida dos moradores e o patrimônio
ambiental são afetados pela estrutura urbanística das cidades.
Entende-se, segundo Cardoso Neto
(2006), que o processo de zoneamento urbano sem condições técnicas adequadas,
ou seja, com ausência de estudos hidrológicos, deficiência nas fiscalizações, falta de
regulamentações e diversos outros fatores,
destaca-se quanto a ocupações inadequadas do solo.
Como resultado, em muitos casos,
tem-se a ocupação de cabeceiras íngremes e várzeas de rios, acarretando em
áreas sujeitas futuramente a possíveis problemas de drenagem.
Diversos outros fatores demonstram-se influentes para o aumento de
desastres naturais, entre eles as mudanças
climáticas, o desmatamento e as alterações no ciclo hidrológico, deixando a
população à mercê das forças da natureza,
assumindo uma posição vulnerável.
A remoção de florestas mostra-se
a grande causadora de alterações no ciclo
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
hidrológico, conforme apontam diversos
experimentos realizados em microbacias experimentais por todo mundo. O aumento da
vazão dos cursos d’água locais é uma dessas
consequências (TRANCOSO et al., 2007).
O alto índice de impermeabilização
do solo, associado ao desmatamento e
ao aumento na taxa de sedimentos (principalmente materiais provenientes da
construção civil, como bota-foras), reflete
no desregulamento do ciclo hidrológico,
que passa a ter maiores picos e vazões.
Tais fatores estão associados ao
assoreamento das seções de drenagem,
reduzindo consideravelmente sua capacidade de escoamento.
Falconeri (2006) afirma que o Poder
Público deve zelar pelo correto funcionamento de atividades que possam causar
danos ao meio ambiente.
O governo também deve zelar pelo
bem-estar da população, e a ocorrência de
inundações proporciona situações prejudiciais à qualidade de vida dos moradores
das áreas atingidas e ao meio ambiente,
tornando-se um obstáculo para as administrações políticas existentes.
Dever/atuação das políticas públicas
O sistema de drenagem urbano está
diretamente relacionado com o saneamento básico de uma determinada região.
Qualquer erro em seu planejamento tende
a ocasionar danos à cidade, resultando em
queda na qualidade de vida da população
de diferentes formas. Pode, por exemplo,
interferir no bem-estar físico da população
pelo aumento no índice de proliferação
de doenças, no bem-estar psicológico
em decorrência do caos ocasionado pela
situação, e acarretar enormes prejuízos
financeiros em razão dos danos causados
ao patrimônio publico e privado, além de
muitas outras avarias.
73
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
Ribeiro (1995 apud Silva 1998, grifo nosso):
Numa perspectiva sociológica, um
desastre é entendido como um acontecimento não rotineiro que provoca uma
disrupção social, cujo seu grau de impacto reflete em grande parte, o tipo
e o grau de preparação de uma determinada comunidade para lidar com
os riscos naturais e tecnológicos.
Este é usualmente entendido como algo
de natureza ruinosa e desoladora que se
traduz numa situação de emergência,
para a qual é imprescindível uma intervenção imediata. (SILVA 1998, p.1).
Segundo Almeida (2009, p.1):
No que tange aos perigos ditos “naturais”,
há estatísticas que confirmam o crescimento das perdas humanas e econômicas
em todo o mundo, ao mesmo tempo em
que crescem a frequência e a magnitude
dos eventos naturais. Surge o questionamento: as perdas (humanas e econômicas)
têm aumentado em função do acréscimo
na frequência e magnitude dos eventos ou
pelo aumento na quantidade de pessoas
vulneráveis aos perigos naturais?.
Segundo Cunha (2012), a ocorrência de desastres naturais assume
papel desafiador para os governos, especialmente administrações municipais,
pelas sequelas ambientais, sociais e
econômicas. Podem-se citar entre essas
consequências, o aumento na proliferação
de doenças e a ocorrência de mortes.
Humenhuk (2004) corrobora que
todo cidadão tem direito a uma vida de
qualidade, afirmação esta reforçada pelo
artigo 196 da Constituição Federal (1988).
74
ALVES et al.
Art. 196. A saúde é direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. (grifos nossos)
O artigo 2º da Lei nº 8.080/90 estabelece que o Estado deve promover
indispensavelmente condições para que
o ser humano tenha uma vida saudável.
A ocorrência de inundações posiciona-se
como um obstáculo, pois essa catástrofe
ocasiona danos profundos ao bem-estar
da comunidade.
Analisando-se os dados mencionados ao longo do artigo, conclui-se que o
governo tem a obrigação de agir na prevenção e no combate de incidentes que
possam vir a gerar danos à saúde da população, e as inundações urbanas estão entre
os principais eventos danosos.
O Poder Público tem o dever de zelar pelo bom e correto funcionamento
das atividades que possam causar
danos ecológicos, vigiando e orientando os particulares para que estes
estejam sempre em acordo com as
normas. Caso essa vigilância esteja
sendo efetuada de maneira inadequada, e a omissão cause prejuízo para as
pessoas, o Poder Público deve responder solidariamente com o particular.
(FALCONERI, 2006, p. 9).
... a política pública resulta de decisões
tomadas pelos governos e as decisões
governamentais de não fazer nada são
tão políticas, tanto quanto aquelas para
fazer alguma coisa. (HOWLETT e
RAMESH, 2003, p. 5 a 10).
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Com o intuito de proteger a população, criou-se a Defesa Civil, também
denominada em muitos países “proteção
civil”, a qual, segundo Cunha (2012),
corresponde ao conjunto de ações de
prevenção, socorro, assistência e de reconstrução, tendo como objetivo evitar
ou minimizar os desastres, preservando o
bem-estar da comunidade.
Segundo o mesmo autor, a Defesa
Civil no Brasil é guiada por normas e legislações, entre elas a Política Nacional
de Defesa Civil, aprovada pela Resolução nº 2, de 12 de dezembro de 1994,
do Conselho Nacional de Defesa Civil
(CONDEC).
O planejamento da Defesa Civil é realizado por órgãos dos três níveis de governo,
coordenados pela Secretaria Nacional de
Defesa Civil, responsável por planejar e
coordenar as atividades realizadas.
Outra ferramenta que auxilia no
combate às inundações é o Plano Diretor
de Drenagem Urbana (PDDU). Segundo
a Fundação Estadual do Meio Ambiente
(2006, p. 25),
O Plano Diretor de Drenagem Urbana - PDDU é o conjunto de diretrizes
que determinam a gestão do sistema
de drenagem cujo objetivo é minimizar
o impacto ambiental devido ao escoamento das águas pluviais. O PDDU
deve priorizar as medidas não estruturantes, incluir a participação pública,
ser definido por sub-bacias urbanas e
ser integrado ao plano diretor de desenvolvimento urbano.
Seus principais objetivos são evitar
perdas econômicas, preservar ao máximo
o meio ambiente e zelar pelo bem-estar
da população. Analisando suas diretrizes, entende-se que cabe ao PDDU aliar
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
a ocupação territorial a um sistema de
distribuição fluvial eficiente, levando-se
em conta o tempo e o espaço disponível,
e priorizando medidas não estruturais.
Com isso, combatem-se as ocupações de
áreas irregulares e planeja-se corretamente a ocupação de áreas baixas, visando
prevenir problemas de drenagem futuros.
Para a realização do Plano Diretor de Drenagem Urbana, primeiramente
atribuem-se informações básicas denominadas “dados de entrada”, compostas por
dados da bacia hidrográfica, características da ocupação do solo, características
econômicas regionais, entre outros, as
quais servirão como base para o projeto.
Por sua vez, o plano não pode ser
desenvolvido individualmente, é necessário trabalhar ao lado de outros planos,
como o Plano de Desenvolvimento Urbano e o Plano de Saneamento e Limpeza
Urbana, o que dificulta ainda mais sua
correta implantação.
Entretanto, a administração política
nacional demonstra-se falha no combate
à ocorrência de inundações, que são cada
dia mais frequentes na vida do cidadão
brasileiro.
Alguns autores, como Tucci (2005),
afirmam que muitos prefeitos não veem
obras de drenagem com bons olhos, pois
sua realização não é notória para a população e confronta o interesse de grandes
proprietários de áreas de risco.
O gerenciamento atual não incentiva a
prevenção destes problemas, já que à
medida que ocorre a inundação o município declara calamidade pública e
recebe recurso a fundo perdido e não
necessita realizar concorrência pública
para gastar. Como a maioria das soluções sustentáveis passa por medidas
não estruturais, que envolvem res-
75
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
trições à população, dificilmente um
prefeito buscará este tipo de solução,
porque geralmente a população espera
por uma obra. Enquanto que, para implementar as medidas não estruturais,
ele teria que interferir em interesses
de proprietários de áreas de risco, que
politicamente é complexo a nível local.
(TUCCI, 2005, p. 30).
Observa-se, segundo ele, que a implantação de legislações restritivas com o
objetivo de proteger os mananciais apresenta muitas vezes resultados negativos.
Em razão da desvalorização econômica e
da necessidade de pagamento de impostos
sobre as áreas de risco, diversos proprietários incentivam a invasão dessas áreas pela
população de baixa renda, com o objetivo
de vender as áreas ao Poder Público.
Embora existam diversas cidades
planejadas no Brasil, a cultura de não se planejar é um fator influente durante a formação
de muitas das cidades brasileiras. A falta de
informação da população, aliada à ausência de uma cultura de segurança, tratando
desastres naturais como evento repentino
e inesperado, apresenta forte influência na
situação dos sistemas de combate a inundações existentes atualmente.
Tal situação é reforçada pelo comportamento da administração política nacional.
Mas, por que, ao contrário de muitos países, o Brasil não apresenta uma cultura de
prevenção e planejamento eficiente? Teriam
essas características culturais algum tipo de
relação com o processo de colonização do
Brasil pelos portugueses?
Raízes culturais e a administração
política nacional
Entende-se que a administração
pública nacional apresenta deficiências
quanto ao combate das inundações ur-
76
ALVES et al.
banas, como já visto, deixando a desejar
quanto à execução de fiscalizações, apresentação de regulamentações ineficazes e
investimentos insuficientes no combate e
prevenção a desastres hidrológicos.
De acordo com Seibel (2001), as
instituições públicas apresentam dificuldade em exercer suas funções de modo
social e organizado. Tal citação é reforçada
por diversos trabalhos sociológicos, destacando-se entre estes os de Sérgio Buarque
de Holanda (1995), que associa a frouxidão de laços sociais, consequentes da
colonização brasileira, a sua estrutura organizacional, de modo a impor maior valor
ao individualismo e não à coesão social.
Holanda (1995) atribui características da sociedade portuguesa, como o
espírito aventureiro e a falta de estabilidade, diretamente à formação cultural
brasileira. Ao contrário das colônias espanholas, que eram planejadas para
racionalizar espaço físico, de maneira
ordenada e eficiente, as colônias portuguesas apresentavam uma formação irregular,
a qual é conduzida por características topográficas e de interações sociais.
Ferreira et al. (2009, p. 8) corrobora a respeito da colonização do Brasil,
“promovida pelo espírito do português
aventureiro, que exibe a mobilidade e a
adaptabilidade, que nega a estabilidade e
o planejamento [...]”.
A falta de planejamento durante
o processo de formação de muitas das
cidades brasileiras, presente até os dias
atuais, é um dos fatores responsáveis
pela ocupação de áreas de risco e o desregulamento do ciclo hidrológico de uma
região, demonstrando relação direta com
as características culturais herdadas.
Araújo (2008, p. 31) afirma a respeito do improviso presente no processo
de formação das cidades coloniais:
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Havia, com efeito, um certo desapego
ao lugar o que se revelava no desleixo
da própria urbanização. Por mais de
um século os colonos quase sempre encararam o Brasil como coisa provisória
do ponto de vista pessoal, como terra
onde se podia facilmente enriquecer e
logo retornar à Metrópole.
Nota-se que a expansão territorial
de diversas cidades brasileiras apresenta as mesmas características das cidades
portuguesas descritas por Holanda (1995).
O processo de formação das cidades reflete
uma imagem de habitação provisória, sem
preocupações com a qualidade de vida
proveniente do espaço ocupado e sua interferência ao meio ambiente, de tal modo
que as características topográficas e sociais
definem sua trajetória de expansão, ou seja,
opta-se principalmente por áreas de fácil
acesso, planas e próximas a rios e lagos.
Outro fator relevante que está fortemente ligado à política administrativa atual
é o clientelismo — homens públicos que
muitas vezes agem para o benefício privado,
enternecendo as leis, para que instituições
públicas passem a atuar de maneira contrária
a suas funções sociais e políticas —, outro
fator que pode ser associado à ineficiência
da administração pública em exercer suas
funções, no caso em análise, no combate e
prevenção a inundações.
(...) a fragilidade das instituições públicas em exercer suas prerrogativas, em
realizar as funções para as quais foram
social e politicamente constituídas e
organizadas (SEIBEL, 2001, p.24).
Carmona Rodrigues, ex-presidente
da Câmara Municipal de Lisboa e mentor do Plano de Drenagem de Lisboa em
2008, comenta a respeito das inundações
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
ocorridas por toda a cidade de Lisboa nas
últimas semanas em entrevista para a página eletrônica do Diário de Notícias de
Portugal em 2014.
Segundo ele, a macrodrenagem
existente não acompanhou o crescimento
da cidade ao longo das últimas décadas,
aumentando consideravelmente o índice
de impermeabilização do solo, em decorrência das construções, e não investindo
em melhorias no sistema de drenagem,
apresentando redes coletoras de águas
pluviais antigas e com capacidade limitada. Para ele, o Plano de Drenagem de
Lisboa tem que avançar, pois, se isso não
acontecer, será devido à falta de vontade
política e não por motivos financeiros.
Entende-se, mediante os dados
apresentados, que, assim como o Brasil,
Portugal apresenta problemas de desinteresse político quanto ao planejamento
urbano e a investir em sistemas de prevenções, afirmações estas que demonstram a
simetria existente entre os dois países no
processo de formação das cidades e de
suas políticas administrativas.
Para Prado Júnior (2000), “de um
modo geral, pode-se afirmar que a administração portuguesa estendeu ao Brasil
sua organização e seu sistema, e não criou
nada de original para a colônia”. Faoro
(2000) complementa a ideia, afirmando
que, no processo de formação e colonização do país, encontram-se as respostas
para as agruras referentes ao poder público administrativo atual.
Entende-se, segundo Holanda (1995) e
Silva (2009), que o homem leva para a esfera
pública a visão do mundo obtida durante sua
formação. Percebe-se que o patrimonialismo
que se faz presente nos homens públicos, associado à tipologia do “homem cordial” de
Holanda, dificulta o entendimento dos domínios públicos para os privados.
77
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
Silva (2009, p. 11, grifo nosso):
A presença destas características, que
weberianamente falando são pré modernas, não pode ser considerado como
único fator causador de todos os males
brasileiros, mas com certeza se constitui
em problemas centrais diante dos quais
se devem pensar alternativas.
Desse modo, atribui-se que, em
razão dos fatores apresentados sobre a
administração existente, a realização de
obras públicas pode ser tomada como
elemento de divulgação política, adotado
como material de campanha.
Nota-se assim que problemas
sociais encontram-se diretamente associados a essas situações, de modo que obras
com maior destaque visual são frequentemente adotadas, tornando-se veículos de
campanha política, evitando-se obras não
estruturais e preventivas.
Outro fator cultural fortemente ligado à ocorrência das inundações é a
ausência de uma cultura de segurança.
Soriano (2009) alega que o Brasil não
apresenta uma cultura de segurança, empecilho para a efetivação da gestão de
risco, tomando providências apenas após
a ocorrência dos incidentes.
Para ele, a ausência de conhecimento
e monitoramento das ameaças naturais é um
dos elementos responsáveis pela ineficácia
da cultura de segurança. A Defesa Civil
demonstra-se insuficiente na execução de
medidas preventivas, atuando intensamente
após a ocorrência dos desastres.
Debarati Guha-Sapir, consultora
externa da ONU e diretora do Centro de
Pesquisa sobre Epidemiologia dos Desastres,
citada por Chade (2009), afirma que não há
vontade política no Brasil para preparar o
país para lidar com os desastres naturais.
78
ALVES et al.
O Brasil tem dinheiro suficiente para
lidar com o problema dos desastres naturais e há anos já poderia ter colocado
em funcionamento um sistema de prevenção. Mas a grande realidade é que
falta vontade política. [...] Isso poderia
ser evitado há anos. (apud CHADE,
2009, on-line)
O economista Gil Castello Branco,
secretário-geral da ONG Contas Abertas,
que faz um trabalho de monitoramento de
gastos públicos, em entrevista para a BBC
Brasil no ano de 2013, reforça as afirmações apresentadas. Para ele, o Brasil tem
um tipo de tradição de investir mais na
correção dos danos provocados pelas catástrofes do que de preveni-las.
Quando as tragédias acontecem, nós
já conhecemos o ritual: as autoridades
sobrevoam as áreas atingidas de helicóptero, prometem solidariedade às famílias
atingidas, declaram estado de emergência
e as verbas saem por medida provisória.
(apud QUERO, 2013, on-line)
Segundo ele, há interesses políticos
em agir posteriormente à ocorrência das catástrofes. “Politicamente (a prevenção) não
dá tantos votos ou reconhecimento político”.
Muitas vezes prevenir significa chegar
a uma área de encosta, em um dia de
sol, e comunicar a todos os moradores
que eles vão ser remanejados para outro local, às vezes distante de onde eles
já estão morando. Esta tarefa é mais
para os estadistas do que para os políticos, que veem só as próximas eleições.
(apud QUERO, 2013, on-line)
Claudio Gurgel (2013), economista
e professor de Administração Pública da
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Universidade Federal Fluminense (UFF),
afirma que a falta de força política das
comunidades carentes é um forte fator
responsável pelo descaso e esquecimento
destas pelo governo.
Não é um problema de natureza técnica. Ele se apresenta como um problema
de natureza técnica, mas efetivamente
é um problema de natureza política,
em que segmentos a serem beneficiados com essas providências não têm
voz. Essas comunidades não têm força
política para se representarem na execução dessas políticas públicas. (apud
QUERO, 2013, on-line)
Conclusão
Ao longo do processo de expansão territorial no Brasil, diversas cidades
cresceram de forma desordenada e sem
planejamento, expansão esta conduzida
principalmente pela influência de características topográficas e de interações sociais.
Isso resultou em sistemas de drenagem impróprios e deficientes, os quais refletem em
sérios problemas econômicos, ambientais
e para o bem-estar da população.
O governo tem a obrigação de agir
na prevenção e no combate de incidentes
que possam vir a gerar danos à saúde da
população, e as inundações urbanas estão
entre os principais eventos danosos.
A administração pública tem entre
os principais instrumentos para prevenir e
mitigar as inundações o cumprimento de
políticas de gestão de uso e ocupação do
solo, aliado ao acompanhamento do Plano Diretor de Drenagem Urbana, os quais
se demonstram fundamentais para que
a expansão territorial das cidades possa
ocorrer de forma planejada e em harmonia com a natureza.
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
A Defesa Civil também é outro
forte aliado no combate aos danos provenientes dos desastres naturais. Entretanto,
entende-se que o governo necessita de
uma melhor articulação entre os órgãos
públicos, abrangendo esferas municipais,
estaduais e federais.
Características culturais herdadas
durante o processo de colonização demonstram-se influentes na administração
pública atual, principalmente na falta de
planejamento e na ausência de uma cultura de segurança, muitas vezes deixando
de lado a prevenção e assumindo um papel de vulnerabilidade após a ocorrência
dos desastres hidrometeorológicos. Com
isso, pode-se afirmar que o desinteresse
por parte da administração pública em
executar medidas preventivas resulta na
sua debilidade durante a ocorrência de
inundações, podendo apenas reparar os
estragos provocados após o evento.
Referências
ALCÁNTARA-AYALA, I. Geomorphology,
natural hazards, vulnerability and prevention
of natural disasters in developing countries.
Geomorphology, v. 47, n. 2-4, 2002, p. 107124. Disponível em: <http://www.sciencedirect.
com/science/article/pii /S0169555X02000831>.
Acessado em 10 jun. 2014.
ALMEIDA, L.Q. Desastres Naturais:
no Brasil não há gestão de risco. Jornal
da Ciência, SBPC, 19 de maio de 2009.
Disponível em: <http://www.ecodebate.
com.br/2009/05/20/no-brasil-nao-hagestao-de-risco-artigo-de-lutiane-almeida/>.
Acessado em 19 jul. 2014.
ARAÚJO, E. O teatro dos vícios:
transgressão e transigência na sociedade
na sociedade urbana colonial. 3 ed. Rio
de Janeiro: José Olympio; 2008. 373 p.
79
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
BANCO
MUNDIAL;
NAÇÕES
UNIDAS. Natural hazards, unnatural
disasters: the economics of effective
prevention. Washington, EUA: Banco
Mundial; 2010.
BANHA, I. “Não é admissível Lisboa
inundada. Não são chuvas diluvianas”.
Diário de Notícias de Portugal. Portugal,
15 de outubro de 2014. Disponível
em: <http://www.dn.pt/inicio/portugal/
interior.aspx?content_id=4180489&
page=-1>. Acessado em 14 abr. 2015.
BRASIL – Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal,;1988. p 116-117.
BUTLER, D.; PARKINSON, J. Towards
Sustainable Urban Drainage. Water
Science and Technology, v. 35, n. 9, 1997,
p. 53-63.
CANHOLI, A.P. Drenagem urbana e
controle de enchentes. São Paulo: Oficina
de Textos; 2005.
CHADE, J. Especialista em desastres
naturais da ONU critica o Brasil: diretora do
Centro de Pesquisa sobre a Epidemiologia
dos Desastres diz que falta vontade
política ao país. O Estado de São Paulo,
22 de janeiro de 2009. Disponível em:
<http://sustentabilidade.estadao.com.br/
noticias/geral,especialista-em-desastresnaturais -da-onu-critica-o-brasil,311350>.
Acessado em 05 set. 2014.
CHOW, V.T. Handbook of Applied
Hydrology. New York: McGraw-Hill
Book Company; 1964. 1418 p.
CRUZ, M.A.S.; SOUZA, C.F.; TUCCI,
C.E.M. Controle da drenagem urbana no
80
ALVES et al.
Brasil: avanços e mecanismos para sua
sustentabilidade. In: Anais XVII Simpósio
Brasileiro de Recursos Hídricos, São
Paulo/SP, 2007. CD-ROM.
CUNHA, M.I.R. Inundações Brasileiras –
Uma questão de Política Pública. 2012.
FALCONERI, P.C. A responsabilidade
civil do Estado por omissão nos casos de
dano ambiental. Revista ADV Advocacia
Dinâmica: seleções jurídicas, 2006,
p. 1-3.
FAORO, R. Os Donos do Poder formação do
patronato político brasileiro. Col. Grandes
nomes do pensamento brasileiro. V. 1 e 2.
São Paulo, SP: Globo, Publifolha; 2000.
FERREIRA, A.L.; REIS, C.; MENDES,
F.; NISHIYAMA, G.; CHAVES, P.;
CALAIS, S. Análise de Raízes do
Brasil - Uma visão sobre a obra de Sérgio
Buarque de Holanda. Contemporâneos
– Revista de Artes e Humanidades, n.
3, 2009. DAH - Universidade Federal
de Viçosa. Disponível em: <http://
www.revistacontemporaneos.com.br/
n3/pdf/sergiobuarque.pdf>. Acesso em
16 abr. 2015.
FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO
AMBIENTE. Orientações básicas para
drenagem urbana. Belo Horizonte:
Fundação Estadual do Meio Ambiente
(FEAM); 2006.
HOLANDA, S.B. Raízes do Brasil. 26. ed.
São Paulo: Companhia das Letras; 1995.
HOWLETT, M.; RAMESH, M. Studying
Public Policy: Policy Cycles and Policy
Subsystems. Ontario: Oxford University
Press; 2003.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
HUMENHUK, H. O direito à saúde
no Brasil e a teoria dos direitos
fundamentais. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 227, 2004.
Disponível
em
<http://jus.com.br/
artigos/4839/o-direito-a-saude-no-brasile-a-teoria-dos-direitos-fundamentais>.
Acessado em 05 abr. 2014.
IPCC. Climate Change 2007: Impacts,
Adaptation
and
Vulnerability.
Contribution of Working Group II to
the Fourth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate
Change. Cambridge, UK: Cambridge
University Press; 2007. Disponível em:
<https://www.ipcc.ch/pdf/assessmentreport/ar4/wg2/ar4_wg2_full_report.
pdf>. Acessado em 15 set. 2014.
INSTITUTO
BRASILEIRO
DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE.
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico,
2008. Brasília: IBGE; 2010.
ISDR. Introduction – International Strategy
of Disaster Reduction. 2005. Disponível
em:
<http://www.unisdr.org./disasterstatistics/>. Acesso em 15 abr. 2013.
KOBIYAMA,
M.;
MANFROI,
O.J. Importância da modelagem e
monitoramento em bacias hidrográficas.
In: Curso Manejo de bacias hidrográficas
sob a perspectiva florestal, Apostila.
Curitiba: FUPEF; 1999. p. 81-88.
KOBIYAMA, M.; CHECCHIA, T.;
SILVA, R.V.; SCHRÖDER, P.H.;
GRANDO, A. REGINATTO, G.M.P.
Papel das comunidades e da universidade
no gerenciamento de desastres naturais.
In: Simpósio Brasileiro de Desastres
Naturais, 1., 2004, Florianópolis. Anais...
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p.
834-846. (CD-ROM)
MACHADO, E.G. Planejamento e agentes
urbanos no Brasil. Pensar, Fortaleza, v.
13, n. 1, 2008, p. 95-106.
MACHADO,
A.M.T.;
PENNA,
R.; SABEDOT, S. Conhecimento,
sustentabilidade
e
desenvolvimento
regional. Canoas: Centro Universitário La
Salle; 2006.
MONTEIRO,
C.A.F.
Clima
e
excepcionalismo: conjecturas sobre
o desempenho da atmosfera como
fenômeno geográfico. Florianópolis:
UFSC; 1991. 241p.
CARDOSO NETO, A. Sistemas Urbanos
de Drenagem. 2006. Disponível em: <http://
www.ana.gov.br/AcoesAdministrativas/
CDOC/ProducaoAcademica/Antonio%20
Cardoso%20Neto/Introducao_a_drenagem_
urbana.pdf> Acesso em 15 maio 2013.
PARKINSON, A.J.; BUTLER, J.C.
Potential impacts of climate change on
infectious diseases in the Arctic. Int.
J. Circumpolar Health, v. 64, 2005, p.
478-486.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil
Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense;
2000. p. 310.
QUERO, C. Prevenção a desastres
naturais ainda esbarra em ‘entraves
políticos’ no Brasil. BBC Brasil – Rio de
Janeiro, 18 de janeiro de 2013. Disponível
em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/
celular/noticias/2013/01/130118_
enchente_rio_cq_mdb.shtml>. Acessado
em 20 abr. 2014.
81
Inundações urbanas: obstáculos para a concretização de sistemas de drenagem
eficientes, debilidade ou desinteresse?
ALVES et al.
SEIBEL, E.J. Políticas Sociais e a questão
da debilidade institucional. Katálysis, n.
5, 2001, p. 23-32.
Acesso em 21 nov. 2014. Disponível em:
<http://www.revista.ufpe.br/rbgfe/index.
php/revista/article/view/221/178>
SILVA, D.S. Os Desastres não
são
Fatalidades
Incontornáveis,
Considerações sobre Planejamento e
Gestão de Crises em Vales a jusante de
Barragens. In: SANTOS, M.A.; SILVA,
D.S. (Orgs.) Risco e Gestão de Crises em
Vales a Jusante de Barragens. Lisboa,
Portugal: LNEC/IST; 1998.
TRANCOSO, R.; CARNEIRO FILHO,
A.; TOMASELLA, J. Amazônia,
desfloramento e água. Ciência Hoje, v.
40, n. 239, 2007, p. 30-37.
SILVA, R. Debilidade Institucional
Brasileira: Um Esboço Explicativo a Partir
das Raízes Fundantes da Nossa Sociedade.
In: I Seminário Nacional Sociologia &
Política UFPR, 2009. Disponível em:
<http://www.humanas.ufpr.br/site/evento/
Sociologia
Politica/GTs-ONLINE/GT2/
EixoV/Debilidade-Institucional-brasileiraRafaelSilva.pdf>. Acessado em 15 jan. 2015.
SORIANO, É. Os desastres naturais, a
cultura de segurança e a gestão de desastres
no Brasil. In: Seminário Internacional de
Defesa Civil/DEFENCIL, 5., 2009, São
Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo:
Secretaria Nacional de Defesa Civil;
2009. Disponível em:<http://www.ceped.
ufsc.br/sites/default/files/projetos/artigo_
anais
_eletronicos_defencil_19.pdf>.
Acessado em 08 mai. 2014.
SOUZA, J.C.O. Análise do evento
climático extremo ocorrido na região
leste de Alagoas: bacias hidrográficas dos
rios Mundaú e Paraíba do Meio. Revista
Brasileira de Geografia Física, 2011.
82
TUCCI, C.E.M. Hidrologia: ciência
e aplicação. Porto Alegre: Editora da
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (ABRH); 2000. p. 25-26.
TUCCI, C.E.M. Gestão de Águas Pluviais
Urbanas. Brasília: Ministério das Cidades/
Global Water Partnership/World Bank/
UNESCO; 2005.
TUCCI, C.E.M. Inundações Urbanas. Porto
Alegre: ABRH/RHAMA; 2007. 393p.
VESTENA, L.R.; KOBIYAMA, M.;
SANTOS, L.J.C. Considerações sobre
gestão ambiental em áreas cársticas. O
Espaço Geográfico em Análise, Curitiba,
UFPR, v. 6, n. 6, 2002. p. 81-93.
VESTENA, L.R. A importância da
hidrologia na prevenção e mitigação
de desastres naturais. Ambiência
Guarapuava, v. 4 n. 1, 2008, p.151162. Disponível em <http://revistas.
unicentro.br/index.php/ambiencia/article/
viewFile/295/1893>. Acessado em 02
ago. 2014.
VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia
aplicada. São Paulo: McGraw-Hill; 1975.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Densidade populacional e épocas de aplicação do
glyphosate em soja transgênica
Population density and application times of the glyphosate
in transgenic soybean
Rogério Farinelli1, Gabriel Meneguello1, Rafael Tadeu Alves Mancini1
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) – Barretos (SP), Brasil.
1
Resumo
O objetivo do trabalho foi avaliar o desempenho agronômico da cultura da soja transgênica na combinação de diferentes densidades populacionais e épocas de aplicação de glyphosate. O delineamento
experimental utilizado foi o de blocos ao acaso em esquema fatorial 4x2, sendo as densidades representadas por 250, 300, 350 e 400 mil plantas ha‑1, e as épocas de aplicação de glyphosate (480 g.L‑1 de sal de
isopropilamina) por 720 g i.a. ha‑1 + 480 g i.a. ha‑1 aplicados nos estádios V2 e no V4, e por 960 g i.a. ha‑1
aplicado no estádio V3. De acordo com os resultados obtidos, concluiu‑se que as densidades populacionais e as épocas de aplicação de glyphosate afetaram as características agronômicas e produtivas da soja
RR. As produtividades foram distintas, sendo superiores com a aplicação sequencial de 720 g i.a. ha‑1 +
480 g i.a. ha‑1 (estádio V2 e V4) com as densidades de 300.000 e 400.000 plantas ha‑1.
Palavras‑chave: Glycine max L.; cultivar RR; população de plantas; herbicida; produtividade.
Abstract
The objective of this study was to evaluate the agronomic performance of transgenic soybean in the
combination of different densities and application times of glyphosate. The experimental design was
a randomized block in factorial 4x2, the population densities being represented by 250, 300, 350 and
400 thousand plants ha‑1, and application times of glyphosate by 720 g i.a. ha‑1 + 480 g i.a. ha‑1 applied in
stadiums V2 and V4 and 960 g i.a. ha‑1 applied at V3. According to the results, it was concluded that the
population densities and application times affected the agronomic and yielding characteristics of RR soybean. Yields were distinct, being higher with the sequential application of 720 g i.a. ha‑1 + 480 g i.a. ha‑1
(stadiums V2 and V4) with densities of 300.000 and 4000.000 plants ha‑1.
Keywords: Glycine max L.; RR cultivation; plants population; herbicide; yielding.
Autor para correspondência: Rogério Farinelli – Avenida Professor Frade Monte, 389 –
CEP: 14783‑226 – Barretos (SP), Brasil – E‑mail: [email protected]
Recebido em: 26/01/2015
Aceito para publicação em: 24/04/2015
Ciência e Cultura
83
Densidade populacional e épocas de aplicação do glyphosate em soja transgênica
Introdução
Avanços na biotecnologia possibilitaram a criação de cultivares de soja
transgênica resistentes ao glyphosate – Roundup Ready® (soja RR). Essa
modalidade de soja representa uma descoberta revolucionária na tecnologia de
manejo de plantas daninhas, pois permite
o uso desse herbicida em pós‑emergência
da cultura (MONQUERO, 2005). Segundo Abrasem (2013), a área semeada com
cultivares de soja RR alcançou 90% da
área total na safra 2012/2013 no Brasil,
ou seja, 24,97 milhões de hectares. Este
total é 15% superior aos 21,65 milhões de
hectares cultivados na safra anterior, cuja
representatividade foi revisada para 86%.
Uma das práticas agrícolas muito recomendadas à cultura da soja é o emprego
adequado do arranjo espacial de plantas,
principalmente a densidade populacional.
Até a década de 1980, era comum cultivar a soja com 400.000 plantas ha‑1 ou até
mais. Uma maior população de plantas visava a garantir maior competição entre as
plantas, para aumentar a altura e sombrear
o solo em menos tempo e de forma uniforme, de forma a competir com as plantas
daninhas. Com o advento dos herbicidas de pós‑emergência e as semeadoras
de precisão, essas mudanças permitiram
reduzir para 300.000 plantas ha‑1 e, em
condições favoráveis ao acamamento,
para 200.000 a 250.000 plantas ha‑1.
De modo geral, cultivares de porte alto e
de ciclo longo requerem populações menores, sendo o inverso também verdadeiro
(EMBRAPA, 2010).
Na soja RR, apenas a formulação
de glyphosate Roundup Ready® (648 g.L‑1
de sal de isopropilamina e 480 g.L‑1 de
equivalente ácido) é registrada, e pode
ser utilizada em aplicações únicas ou
sequenciais. As doses e épocas das apli-
84
FARINELLI et al.
cações irão variar conforme as espécies e
populações de plantas daninhas presentes na lavoura, e também de acordo com
a tecnologia de aplicação do produtor.
No entanto, estudos relacionados a possíveis efeitos fitotóxicos de outros produtos
comercializados a base de glyphosate
são necessários, pois outras formulações
do herbicida poderão ser aplicadas e
ocasionar prejuízo à cultura e, consequentemente, perda de produtividade de grãos
(CORREA e DURIGAN, 2007).
É possível observar na literatura resultados importantes quanto à utilização
da soja RR, inclusive quando associada ao
estudo de população de plantas. Ludwing
et al. (2010) verificaram que o aumento da
densidade de plantas (250.000, 400.000 e
550.000 plantas ha‑1) não proporcionou
aumento na altura das plantas e na altura
de inserção da primeira vagem nas cultivares RR (A 6001 RG, Mágica, AL 72 e
A 8100 RG). Já os maiores valores de rendimento biológico foram observados na
densidade de semeadura de 550.000 plantas ha‑1. Esses resultados podem estar
relacionados às características intrínsecas
ao genótipo expressas nas condições de
cultivo em que o trabalho foi conduzido,
pois Neto et al. (2009) observaram alteração, tanto na altura de plantas, como na
altura da primeira vagem com aplicação
de herbicidas diferentes.
Correa e Durigan (2007) avaliaram
a seletividade das cultivares CD 214RR e
M‑SOY 8008RR a herbicidas à base de
glyphosate (Roundup Ready, Roundup
Transorb, Roundup Original, Roundup
WG, Polaris, Gliz, Glifosato Nortox e
Trop), na dose de 1,2 kg.ha‑1 de equivalente ácido de glyphosate. No estádio V3,
observaram que não ocorreu diferença
significativa entre os produtos, que não
influenciaram o desenvolvimento vegetaCiência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
tivo e reprodutivo das cultivares. Ainda,
afirmaram que as diferenças na produtividade das cultivares RR ocorreram em
função das características de cada uma e
não do uso dos de diferentes formulações.
O desempenho de cultivares de soja
sob condições de cultivo torna‑se fundamental na busca do entendimento do
manejo da cultura. Dessa forma, a época
de semeadura, a densidade de plantas e o
controle de plantas daninhas são práticas
que devem ser aprimoradas para maior
eficiência do sistema de produção. Sendo assim, a identificação de um arranjo
espacial de plantas que resulte em menor competição intraespecífica e permita
um melhor aproveitamento dos recursos
disponíveis para o crescimento e rendimento de grãos torna‑se imprescindível
(RAMBO et al., 2003).
Logo, o objetivo do presente trabalho foi avaliar densidades populacionais,
associadas a épocas de aplicação do herbicida glyphosate, no desempenho da
cultura da soja RR.
Material e Métodos
O experimento foi iniciado durante a safra primavera‑verão 2011/2012,
em área comercial consorciada à cultura da seringueira, em Colina (SP), onde
o solo foi classificado como Latossolo
vermelho distrófico, apresentando latitude de 21°41’S, longitude de 48°32’ e
600 metros de altitude. Segundo a classificação de Köeppen, o clima da região
é do tipo Cwa, definido como tropical
de altitude, com inverno seco e verão
quente e chuvoso (LOMBARDI NETO e
DRUGOWICH, 1994).
Os resultados da análise química do
solo da área experimental, na profundidade
de 0‑20 cm, realizada de acordo com a metodologia de Raij et al. (2001), apresentaram
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
os seguintes valores: pH (CaCl2)=5,4; M.O.
(g.kg‑1)=13; P (mg.dm‑3)=7; K (mmolc.
dm‑3)=1,8; Ca (mmolc.dm‑3)=18; Mg
(mmolc.dm‑3)=6; H+Al (mmolc.dm‑3)=16;
SB (mmolc.dm‑3)=25,8; CTC (mmolc.
dm‑3)=41,8 e V=61,7%.
Tendo em vista que a área experimental foi conduzida sob a forma de
consórcio com a cultura da seringueira
com idade de três anos, um sistema de produção muito utilizado na região de estudo,
foi avaliada a comunidade infestante da
área. Dessa forma, foi verificada a presença de trevo‑azedo (Oxalis latifólia Kunth),
carrapicho‑de‑carneiro (Acanthospermum
hispidium,DC.),capim‑pé‑galinha(Eleusine
indica, L.), capim‑colchão (Digitaria sanguinalis, L.Scop.) e trapoeraba (Commelina
benghalensis L.).
O preparo do solo foi realizado em 10 de novembro de 2011, com a
utilização de gradagem intermediária,
escarificação e, posteriormente, duas
gradagens niveladoras. A semeadura foi
realizada mecanicamente em 3 de dezembro de 2011, utilizando o espaçamento
de 0,5 m entre linhas e uma densidade de
500.000 sementes ha‑1. Na emergência
das plântulas, foram efetuados os desbastes em cada parcela a fim de promover
as densidades populacionais estudadas.
A cultivar de soja utilizada foi a BMX
Potência RR, que possui como características: ciclo semiprecoce, crescimento
indeterminado, flores brancas e pubescência cinza, hilo de coloração marrom claro,
resistência ao nematóide do cisto (raça 3),
ao acamamento e ao glyphosate. Além
disso, esta cultivar necessita de fertilidade do solo de média a alta e, segundo a
análise química, a área era recomendável
à aplicação do estudo.
Na adubação mineral de semeadura, foi utilizado o formulado 2‑20‑20 com
85
Densidade populacional e épocas de aplicação do glyphosate em soja transgênica
a quantidade de 350 kg.ha‑1, levando‑se
em consideração os resultados da análise
química do solo e as recomendações de
Mascarenhas e Tanaka (1997). As sementes foram tratadas previamente utilizando
fungicidas e inoculante recomendados à
cultura (EMBRAPA, 2010).
O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso em esquema
fatorial 4x2 (quatro densidades populacionais e duas épocas de aplicação de
glyphosate), perfazendo oito tratamentos
com quatro repetições.
As densidades populacionais foram representadas por: 250.000, 300.000,
350.000 e 400.000 plantas ha‑1. As épocas de aplicação de glyphosate (480 g.L‑1
de sal de isopropilamina – g.i.a) foram constituídas por 720 g i.a. ha‑1 +
480 g i.a. ha‑1 aplicados nos estádios V2
e V4 (1o trifólio e 3o trifólio completamente expandido, respectivamente), e
por 960 g i.a. ha‑1 aplicado no estádio V3
(2o trifólio). Cada parcela experimental
foi formada por cinco linhas de cinco
metros de comprimento, espaçadas em
0,5 m. A área útil foi formada pelas três
linhas centrais, eliminando‑se 0,5 m das
extremidades de cada linha.
Para a aplicação foi utilizado um
pulverizador costal pressurizado a CO2,
contendo uma barra de pulverização de
quatro bicos leques (modelo XR 110‑02),
espaçados em 0,5 m, pressão de 25 lpf pol‑2,
com volume de calda de 160 L.ha‑1 e
mantendo‑se uma altura de pulverização
de 0,4 m em relação às plantas de soja.
Os demais tratos culturais, como controle
de insetos‑praga e doenças, foram devidamente realizados segundo recomendações
de Embrapa (2010).
Durante o desenvolvimento do
trabalho foram realizadas as avaliações
de fitotoxicidade na soja aos 7 e 14 dias
86
FARINELLI et al.
após a aplicação (d.a.a.), atribuindo‑se
a cada unidade experimental uma nota,
utilizando‑se a escala de valores proposta pela European Weed Research
Council (EWRC, 1964), em que 1 é igual
a nenhum prejuízo e 9 significa morte da
planta. Juntamente, foi realizada a avaliação de controle (7 e 14 d.a.a.) por meio de
escala visual (EWRC, 1964) de 0 a 100%
(ausência de controle e controle total das
plantas daninhas, respectivamente), cuja
nota é atribuída à comunidade infestante
em geral na parcela.
Posteriormente, avaliou‑se o florescimento, compreendido em número
de dias entre a emergência das plântulas
até 50% das plantas da área útil de cada
parcela experimental entrarem no estádio R1, ou seja, apresentarem pelo menos
uma flor aberta na haste principal. A maturação fisiológica com o número de dias
compreendido entre a emergência das
plântulas até 50% das plantas da área útil
de cada parcela experimental no estádio
R8, ou seja, maturação plena.
No final do ciclo da cultura da soja,
foram coletadas dez plantas ao acaso na
área útil de cada parcela experimental,
objetivando avaliar os componentes morfológicos e produtivos. A altura de cada
planta foi determinada medindo‑se com
uma régua a distância compreendida
entre a superfície do solo e a extremidade apical da haste principal. A altura
de inserção da primeira vagem foi determinada medindo‑se com uma régua a
distância entre o nível do solo (colo da
planta) a inserção da primeira vagem.
O número de vagens por planta foi fornecido pela relação entre o número total
de vagens e o número total de plantas
da amostra. A porcentagem de vagens
chochas por planta foi estimada pela relação entre o número de vagens chochas
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
e o número total de plantas da amostra,
expressa em porcentagem. O número de
grãos por vagem foi avaliado pela relação entre o número total de grãos e o
número total de vagens.
A massa de 100 grãos foi determinada pela contagem de duas subamostras
de 100 grãos coletadas ao acaso por parcela experimental, seguida pela pesagem
das amostras. E a produtividade de grãos
foi analisada colhendo‑se as plantas da
área útil de cada parcela experimental,
com posterior trilha mecânica e pesagem dos grãos, sendo os dados obtidos
transformados em kg.ha‑1, considerando
13% de umidade determinado por meio
do método da estufa a 105±3°C por 24 h
(BRASIL, 2009).
Os resultados foram submetidos à
análise de variância utilizando o teste F
e as médias das densidades populacionais
das épocas de aplicação de glyphosate.
As interações significativas foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05),
utilizando o programa estatístico Sisvar
(FERREIRA, 2000).
Resultados e Discussão
As avaliações de intoxicação da
soja foram realizadas e não foi constatada
fitotoxicidade em nenhum dos tratamentos estudados. O mesmo foi observado
por Mancini (2012) e Feres (2014), que
testaram a mesma cultivar (BMX Potência RR) com a mesma formulação do
herbicida (480 g.L‑1 de sal de isopropilamina), em doses que variaram de 480 a
2.160 g i.a. ha‑1 aplicados nos estádios V2
ao V4. Mesmo assim, de acordo com Santos
et al. (2007), a aplicação de qualquer
herbicida sobre as plantas de soja causa
algum tipo de estresse, que pode ser mais
ou menos pronunciado dependendo de
genótipo da planta.
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
Em relação às avaliações de controle das plantas daninhas, os valores
permaneceram em 90% para todos os
tratamentos com aplicação de glyphosate, sendo superior aos resultados de Feres
(2014), que nas mesmas doses obteve um
controle de plantas daninhas de 71 a 81%,
em área sob pousio. Nos tratamentos sem
aplicação, o controle foi representado por
0%, em virtude da matocompetição. Por
isso, para ambas as características, não
foram efetuadas análises estatísticas.
O florescimento ocorreu aos 47 dias
após a emergência (d.a.e.) e a maturação
fisiológica aos 113 d.a.e, respectivamente,
para todos os tratamentos.
Para a altura de inserção de primeira vagem, não ocorreu efeito significativo
dos tratamentos (Tabela 1). Os valores
de 13 cm obtidos para esta característica foram satisfatórios, como também é
adequada para a colheita mecanizada,
pois minimiza as perdas nas operações de
corte e alimentação da máquina. Segundo Rezende e Carvalho (2007) e Heiffig
e Câmara (2006), as colhedoras mais modernas possuem a capacidade de efetuar a
colheita em plantas de soja apresentando
altura mínima de inserção de vagem de 10
a 12 cm.
No desdobramento da interação para
altura de plantas, verifica‑se que o valor
de 75,7 cm foi obtido com a utilização da
densidade de 300.000 plantas ha‑1 associada à aplicação sequencial de glyphosate
(Tabela 2), ao passo que nessa densidade,
com aplicação de 960 g i.a. ha‑1 no estádio
V3, a altura de plantas foi inferior. A altura
de plantas pode ser modificada à medida
que se eleva a densidade populacional,
em virtude da competição intraespecífica
por água, luz e nutrientes. No entanto, tal
fenômeno não foi verificado no presente
trabalho, uma vez que a diferença em rela-
87
Densidade populacional e épocas de aplicação do glyphosate em soja transgênica
ção ao porte da planta e à altura de vagem
são influenciadas por fatores ambientais,
práticas culturais e está fortemente relacionado com as cultivares de soja (HEIFFIG e
CÂMARA, 2006).
Correa e Durigan (2007) relataram que não ocorreram alterações no
desenvolvimento vegetativo das plantas
com o uso de formulações de glyphosate em cultivares de soja RR, no que diz
respeito à altura de plantas e de nós por
planta. Em relação à densidade de plan-
FARINELLI et al.
tas e cultivares de soja RR, Ludwing et al.
(2010) também não obtiveram nenhuma
alteração na altura e na inserção de primeira vagem com o aumento de 250.000
a 550.000 plantas ha‑1.
Os melhores resultados quanto
ao número de vagens por planta foram
alcançados com 250.000 e 300.000 plantas ha‑1 com a aplicação sequencial
(Tabela 3). Tal efeito não se assemelhou
ao resultado de Agostinetto et al. (2009a),
pois o número de vagens por planta foi
Tabela 1. Altura de plantas, altura de inserção de primeira vagem, número de vagens
por planta e porcentagem de vagens chochas por planta em função da densidade
populacional e épocas de aplicação de glyphosate em soja transgênica
Altura
Altura de
Vagens
Vagens
de
inserção de
por
chochas
Tratamentos
plantas primeira vagem planta por planta
cm
n
%
Densidades populacionais (D)
250.000 plantas ha‑1
70,0
13,0
39 a
1,7 ab
‑1
300.000 plantas ha
69,0
13,6
37 b
2,4 ab
350.000 plantas ha‑1
68,0
13,6
35 c
2,8 a
‑1
400.000 plantas ha
69,2
13,0
32 d
1,5 b
Teste F
1,08ns
1,07ns
82,68*
3,97**
Épocas de aplicação (E)
720 (V2) + 480g i.a ha‑1 (V4) 70,3 a
13,2
43 a
1,8
960 g i.a. ha‑1 (V3)
67,8 b
13,4
29 b
2,3
Teste F
10,77**
0,51ns
1596,50*
2,87ns
DxE
Teste F
26,15*
0,60ns
57,78*
2,65**
Média
69,0
13,3
36
2,1
CV (%)
3,04
7,40
2,74
40,21
Médias seguidas de letras distintas diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
*significativo a 1%, **significativo a 5%; ns: não significativo.
Tabela 2. Desdobramento da interação entre densidade populacional e épocas de
aplicação de glyphosate em soja transgênica para a altura de plantas (cm)
Densidades populacionais (plantas ha‑1)
Épocas de aplicação
250.000
300.000
350.000
400.000
720 (V2) + 480g i.a ha‑1 (V4)
68,5 bA
75,7 aA
68,7 bA
68,2 bA
960g i.a ha‑1 (V3)
71, 5 aA
62,2 bB
67,5 aA
70,2 aA
Médias seguidas de letras distintas minúsculas na linha e maiúsculas na coluna diferem entre si pelo teste
de Tukey (p<0,05).
88
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
superior na última época de aplicação
(50 d.a.e.) comparativamente às demais
épocas (25 e 35 d.a.e.). Isso se deve à
competição exercida pelas plantas daninhas que emergiram após a aplicação
do herbicida, na fase inicial de desenvolvimento da cultura, uma vez que o
glyphosate não apresenta efeito residual.
Porém, no presente trabalho, a aplicação
de 960 g i.a. ha‑1 prejudicou o desenvolvimento das vagens, representado pelo
número de vagens chochas (Tabela 3).
De modo geral, o acréscimo no
número de plantas por área diminuiu o
número de vagens por planta (Tabela 1),
pois a planta de soja nessas condições
apresenta menor número de ramificações,
menor número de axilas foliares e, consequentemente, menor formação de racemos
florais e, assim, menor número de vagens.
Tal ocorrência é correlacionada mais uma
vez com a competição por fatores edafoclimáticos pelas plantas de soja, o que também
foi verificado por Souza et al. (2010) em
razão do aumento da densidade populacional de 120.000 para 360.000 plantas ha‑1
em cultivares de soja RR.
Para a porcentagem de vagens
chochas, os tratamentos com 250.000
e 300.000 plantas ha‑1 na aplicação
720+480 g i.a. ha‑1 proporcionaram me-
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
nores valores médios (Tabela 3). Isto é
benéfico, pois se trata de um componente
da produção que afeta negativamente a produção da cultura da soja e é influenciado
por temperaturas altas, seca, como também por incidências de pragas e doenças.
Para o número de grãos por vagem
não foi realizada análise estatística, pois
não ocorreu variação de valores dos tratamentos (Tabela 4). Essa característica
é influenciada pelo genótipo e, segundo
Correa e Durigan (2007), as diferenças
não podem ser atribuídas aos herbicidas
empregados na soja.
Para a massa de 100 grãos não
ocorreu influência dos tratamentos nem
da interação densidades em relação a épocas de aplicação de glyphosate (Tabela 4).
Para Linzmeyer Junior et al. (2008), os
componentes da produção, representados
pelo número de vagens por planta, grãos
por vagem e massa de 100 grãos, também
não foram influenciados pela alteração da
densidade populacional.
Quanto à produtividade de grãos,
verifica‑se efeito isolado da densidade de
plantas e efeito da interação (Tabela 4).
Apesar do menor número de vagens por
planta obtido na maior densidade populacional com a aplicação sequencial
de glyphosate (Tabela 3), a utilização
Tabela 3. Desdobramento da interação entre densidades populacionais e épocas de
aplicação de glyphosate em soja transgênica para o número de vagens por planta e
porcentagem de vagens chochas por planta
Densidades populacionais (plantas ha‑1)
Épocas de aplicação
250.000
300.000
350.000
400.000
Número de vagens por planta
720 (V2) + 480g i.a ha‑1 (V4)
47 aA
48 aA
41 bA
36 cA
960g i.a ha‑1 (V3)
32 aB
27 bB
29 bB
28 bB
Porcentagem de vagens chochas por planta
720 (V2) + 480 g i.a. ha‑1 (V4)
1,5 bA
3,0 aA
1,4 bA
960 g i.a. ha‑1 (V3)
1,9 abA
2,6 abA
1,5 bA
Médias seguidas de letras distintas minúsculas na linha e maiúsculas na coluna diferem entre si pelo teste
de Tukey (p<0,05).
Ciência e Cultura
89
Densidade populacional e épocas de aplicação do glyphosate em soja transgênica
de 400.00 plantas ha‑1 neste modo de
aplicação promoveu a maior média de produtividade, com 3.380 kg.ha‑1 (Tabela 5).
Para a aplicação única com 960 g i.a. ha‑1
no estádio V3 ocorreu o inverso, ou seja,
na menor densidade populacional foi obtido o maior número de vagens por planta
(Tabela 4), e também melhor resultado
para a produtividade, com 3.326 kg.ha‑1
(Tabela 5). Contudo, utilizando as maiores densidades populacionais associadas à
aplicação de glyphosate de forma sequencial, foram alcançadas as maiores médias
de produtividades.
FARINELLI et al.
Rezende et al. (2004) constataram
que a densidade populacional afetou a
produtividade de grãos. Nas maiores densidades (acima de 500.000 plantas ha‑1),
as plantas ficaram mais adensadas, o
que acarretou uma maior competição
intraespecífica, levando as raízes a se
aprofundarem e se espalharem mais no
solo à procura de água. Contudo, a utilização da população de 400.000 plantas ha‑1
proporcionou ótima produtividade e um
menor índice de acamamento, o que
corrobora em parte os resultados do presente trabalho.
Tabela 4. Número de grãos por vagem, massa de 100 grãos e produtividade de grãos em
função da densidade populacional e épocas de aplicação de glyphosate em soja transgênica
Grãos por Massa de 100 Produtividade
Tratamentos
vagem
grãos
de grãos
n
g
kg.ha‑1
Densidades populacionais (D)
250.000 plantas ha‑1
3
13,0
2.969 a
300.000 plantas ha‑1
3
12,7
2.670 b
350.000 plantas ha‑1
3
12,8
3.103 a
‑1
400.000 plantas ha
3
13,0
3.125 a
Teste F
–
0,18ns
11,87*
Épocas de aplicação (E)
720 (V2) + 480 g i.a. ha‑1 (V4)
3
12,9
2.935
960 g i.a. ha‑1 (V3)
3
12,8
2.998
ns
Teste F
–
0,05
1,04ns
DxE
Teste F
–
0,31ns
22,91*
Média
3
12,9
2.967
CV (%)
–
6,13
5,03
Médias seguidas de letras distintas diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
*significativo a 1%.
Tabela 5. Desdobramento da interação entre densidades populacionais e épocas de
aplicação de glyphosate em soja transgênica para a produtividade de grãos (kg.ha‑1)
Densidades populacionais (plantas ha‑1)
Épocas de aplicação
250.000
300.000
350.000
400.000
720 (V2) + 480g i.a ha‑1 (V4)
2.712 bB 2.363 bB 3.287 aA 3.380 aA
960g i.a ha‑1 (V3)
3.326 aA 2.976 abA 2.919 abB 2.870 bB
Médias seguidas de letras distintas minúsculas na linha e maiúsculas na coluna diferem entre si pelo teste
de Tukey (p<0,05).
90
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Porém, os resultados na literatura
são conflitantes. Arce, Pedersen e Hartzler
(2009), sob densidade de 240.000 a
420.000 plantas ha‑1 para três cultivares, relataram que as densidades mais
altas proporcionam maior produtividade
de grãos, ainda mais sob efeito de competição com plantas daninhas. Ludwing
et al. (2010), nas densidades de 250.000,
400.000 e 550.000 plantas ha‑1 também
verificaram maior produtividade utilizando a maior densidade populacional.
Já para Linzmeyer Junior et al. (2008), a
produtividade não foi influenciada pela
alteração da densidade populacional.
A produtividade de soja RR, como
a soja convencional, é extremamente influenciada pelos anos agrícolas, devido
às condições edafoclimáticas disponíveis.
Souza et al. (2010) reportaram tal ocorrência, e os mesmos não verificaram efeito
de densidades populacionais (120.000 a
360.000 plantas ha‑1) em cultivares RR,
tampouco da aplicação de glyphosate em
pré‑semeadura e no estádio V4. Em outro
trabalho, Agostinetto et al. (2009b) concluíram que todas as formulações e doses de
glyphosate aplicadas no estádio V3 apresentam seletividade a cultivar de soja RR e não
alteraram a produtividade de grãos.
Segundo a Embrapa (2010), as variações de 200.000 a 500.000 plantas ha‑1,
normalmente, não influenciam o rendimento final da soja ou apresentam pouco
efeito significativo, aumentando ou reduzindo a produtividade dependendo de
diversos fatores (tais como condições
climáticas, épocas de semeadura e tecnologia adotada). Essa informação não
corrobora os resultados obtidos no presente trabalho, pois o aumento na densidade
populacional influenciou positivamente
(Tabela 4), havendo acréscimo de 17%
na produtividade de grãos (455 kg.ha‑1),
Ciência e Cultura
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
principalmente na variação de 300.000 a
400.000 plantas ha‑1.
Diante de todos os dados apresentados, salienta‑se que para os melhores
tratamentos obtidos nas interações significativas (Tabela 5), as produtividades
foram superiores a média nacional da safra 2010/2011, como também do estado de
São Paulo, que foi de 2.788 kg.ha‑1 (CONAB, 2012). Portanto, o experimento foi
conduzido em ambiente propício à cultura, em um solo de média fertilidade e com
práticas adequadas ao cultivo da soja.
Conclusões
As densidades populacionais e as
doses de aplicação de glyphosate afetaram as características agronômicas e
produtivas da soja RR. As produtividades
foram distintas, sendo superiores com a
aplicação sequencial de 720 g i.a. ha‑1 +
480 g i.a. ha‑1 (estádio V2 e V4) nas densidades de 300.000 e 400.000 plantas ha‑1.
Referências
ABRASEM. Soja transgênica ocupa 90%
da área plantada. Disponível em: <http:
//www.abrasem.com.br/soja‑transgenica
‑ocupa‑90‑da‑area‑plantada>. Acesso em:
16 set. 2013.
AGOSTINETTO, D.; DAL MAGRO, T.;
GALON, L.; MORAES, P. V. D.; TIRONI, S.
P. Resposta de cultivares de soja transgênica
e controle de plantas daninhas em função
de épocas de aplicação e formulações de
glyphosate. Planta Daninha, Viçosa, v. 27,
n. 4, p. 739‑746, 2009a.
AGOSTINETTO, D.; TIRONI, S. P.;
GALON, L.; DAL MAGRO, T. Desempenho
de formulações e doses de glyphosate em soja
transgênica. Revista Trópica, Chapadinha, v.
3, n. 2, p. 35‑41, 2009b.
91
Densidade populacional e épocas de aplicação do glyphosate em soja transgênica
ARCE, G. D.; PEDERSEN, P.;
HARTZLER, R. G. Soybean seeding
rate effects on weed management. Weed
Technology, Amsterdam, v. 23, n. 1, p.
17‑22, 2009.
BRASIL. Ministério da Agricultura,
Pecuária e abastecimento. Determinação
do grau de umidade. Regras para análise
de sementes, Brasília, 2009. 395p.
COMPANHIA
NACIONAL
DE
ABASTECIMENTO
–
CONAB.
Acompanhamento da safra brasileira
de grãos. Quinto levantamento –
Fevereiro/2012. Disponível em: <http://
www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/
arquivos/12_02_16_08_47_47_boletim_
portugues__fevereiro_2012.pdf >. Acesso
em: 10 ago. 2012.
CORREA, N. M.; DURIGAN, J. C.
Seletividade de diferentes herbicidas à
base de glyphosate a soja RR. Planta
Daninha, Viçosa, v. 25, n. 2, p. 375‑379,
2007.
EMPRESA
BRASILEIRA
DE
PESQUISA
AGROPECUÁRIA
–
Embrapa. Tecnologias de produção de
soja – região central do Brasil 2011.
Londrina: Embrapa Soja: Embrapa
Cerrados: Embrapa Agropecuária Oeste,
2010. 255p.
EUROPEAN
WEED
RESEARCH
COUNCIL – EWRC. Report of 3rd and
4rd meetings of EWRC. Cite of methods
in weed research. Weed Research,
Doorwerth, v. 4, p. 88, 1964.
FERES, P. A. Desempenho agronômico
da cultura da soja RR em função de
doses de glyphosate. (Trabalho de
92
FARINELLI et al.
Conclusão de Curso). Barretos: Centro
Universitário da Fundação Educacional
de Barretos, 2014. 30p.
FERREIRA, D. F. Manual do sistema
Sisvar
para
análises
estatísticas.
Lavras: Universidade Federal de Lavras,
Departamento Ciências Exatas, 2000. 66p.
HEIFFIG, L. S.; CÂMARA, G. M. de
S. Soja: colheita e perdas. Piracicaba:
ESALQ –Divisão de Biblioteca e
Documentação, 2006. 37p. (Série:
Produtor Rural).
LINZMEYER
JUNIOR,
R.;
GUIMARÃES, V. F.; SANTOS, D.;
BENCKE, M. H. Influência de retardante
vegetal e densidades de plantas
sobre o crescimento, acamamento e
produtividade da soja. Acta Scientiarum
Agronomy, Maringá, v. 30, n. 3,
p. 373‑379, 2008.
LOMBARDI NETO, F.; DRUGOWICH,
M. Manual técnico de manejo e
conservação de solo e água. Campinas:
CATI, 1994, v. 2. 168p.
LUDWING, M. P. DUTRAN, L. M. C.;
LUCCA FILHO, O. A.; ZABOT, L.;
UHRY, D.; JAUER, A. Características
morfológicas de cultivares de soja
convencionais e Roundup ReadyTM
em função da época e densidade de
semeadura. Ciência Rural, Santa Maria,
v. 40, n. 4, p. 759‑767, 2010.
MANCINI, R. T. A. Manejo de
aplicação de glyphosate na cultura da
soja trangênica. Barretos (Trabalho de
Conclusão de Curso). Barretos: Centro
Universitário da Fundação Educacional
de Barretos, 2012. 32p.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 11, nº 1, jan/jun - 2015 - ISSN 1980 - 0029
MASCARENHAS, H. A. A.; TANAKA, R.
T. Soja. In: RAIJ, B. van.; CANTARELLA,
H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M.
C. (Ed.). Recomendações de adubação
e calagem para o Estado de São Paulo.
2 ed. Campinas: Instituto Agronômico/
Fundação IAC, 1997. p. 202‑203 (Boletim
Técnico, 100).
fertilidade de solos tropicais. Campinas:
Instituto Agronômico, 2001. 285p.
MONQUERO, P. A. Plantas transgênicas
resistentes aos herbicidas: situação e
perspectivas. Bragantia, Campinas, v. 64,
n. 4, p. 517‑531, 2005.
REZENDE, P. M. de; GRIS C. F.; GOMES
L. L.; TOURINO M. C. C.; BOTREL E. P.
Efeito da semeadura a lanço e da população
de plantas no rendimento de grãos e outras
características da soja [Glycine max (L.)
Merrill]. Ciência e Agrotecnologia, Lavras,
v. 28, n. 3, p. 499‑504, 2004.
NETO, M. E. F.; PITELLI, R. A.; BASILE
E A. G.; TIMOSSI, P. C. Seletividade de
herbicidas pós‑emergentes aplicados na soja
geneticamente modificada. Planta Daninha,
Viçosa, v. 27, n. 2, p. 345‑352, 2009.
RAMBO, L. COSTA, J. A.; PIRES, J. L.
F.; PARCIANELLO, G.; FERREIRA,
F. G. Rendimento de grãos da soja em
função do arranjo de plantas. Ciência
Rural, Santa Maria, v. 33, n. 3, p.
405‑411, 2003.
RAIJ, B. van; ANDRADE, J. C.;
CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.
A. Análise química para avaliação da
Ciência e Cultura
REZENDE, P. M.; CARVALHO, E. A.
Avaliação de cultivares de soja [Glycine
max (L.) Merrill] para o sul de Minas
Gerais. Ciência e Agrotecnologia, Lavras,
v. 31, n. 6, p. 1616‑1623, 2007.
SANTOS, J. B. FERREIRA, E. A.; REIS,
M. R.; SILVA, A. A.; FIALHO, C. M.
T.; FREITAS, M. A. M. Avaliação de
formulações de glyphosate sobre soja
Roundup Ready. Planta Daninha, Viçosa,
v. 25, n. 1, p. 165-171, 2007.
SOUZA, C. A.; GAVA, F.; CASA, R. T.;
BOLZAN, J. M.; KUHNEM JUNIOR,
P. R. Relação entre densidade de plantas
e genótipos de soja Roundup ReadyTM.
Planta daninha, Viçosa, v. 28, n. 4,
p. 887‑896, 2010
93
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Finalidade
Página de Identificação
A Revista Ciência e Cultura é um periódico Multidisciplinar publicado semestralmente pelo Centro Universitário
da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB. A Revista
tem como objetivo divulgar os conhecimentos produzidos em
pesquisas desenvolvidas no UNIFEB e outras Instituições,
nas grandes áreas do conhecimento. Podem ser publicados
Trabalhos originais, Revisão de literatura, Relato de caso e
Desenvolvimento de metodologias ou técnicas, em português
ou inglês.
A página de identificação deverá conter as seguintes informações na ordem em que seguem com espaço de 1 (uma)
linha entre os itens:
 título em português e inglês de forma clara e concisa
(redigidos apenas com as iniciais maiúsculas); (Nomes científicos deverão ser grafados de acordo com o
Código Internacional de Nomenclatura, em itálico);
 área de conhecimento do trabalho;
 nome dos autores por extenso (redigidos apenas
com as iniciais maiúsculas);
 utilizar sobrescrito numérico para identificar a Instituição de origem dos autores;
 Iniciar a nomeação das instituições seguindo a mesma ordem estabelecida para a autoria do manuscrito;
 endereço de E-mail e telefone do autor
correspondente.
Política Editorial
O conteúdo dos arquivos será previamente avaliado
pelo Comitê Editorial. Caso seja necessário o manuscrito
será devolvido aos autores para alterações e adequações.
Após as modificações ou, no caso do manuscrito não precisar de modificações prévias, ele receberá um número de
protocolo e será enviado para os revisores “ad hoc”, capacitados e especializados na área especifica do conteúdo do
manuscrito. Os pareceres dos revisores serão encaminhados
aos autores para eventuais correções, sem conhecimento das
partes envolvidas nos processos de publicação e avaliação.
Somente serão aceitos para publicação, os manuscritos com
parecer final favorável.
Os manuscritos podem conter, em forma de agradecimento, o nome da agência financiadora e o número do processo.
Procedimento para envio do manuscrito
Os autores deverão preparar os manuscritos seguindo
as instruções abaixo. Os manuscritos deverão ser enviados
para o E-mail: [email protected] em formato doc ou docx, elaborado no editor de textos “Word for Windows” contendo
tabelas e figuras em formato que possibilite serem editados
e em alta qualidade.
O recebimento dos arquivos originais pela secretaria
da Revista não implica na obrigatoriedade da publicação do
manuscrito. O conteúdo do manuscrito deverá ser inédito
ou parcialmente inédito e não ter sido publicado ou enviado
para publicação em outro periódico.
O autor correspondente deverá enviar por e-mail, juntamente com os arquivos correspondentes ao manuscrito, a declaração
de Autorização da publicação e cessão dos direitos autorais
(em: www.unifeb.edu.br) à Revista Ciência e Cultura. Além dos
arquivos supracitados, os manuscritos que relatam experimentos
realizados com modelos em seres vivos devem vir acompanhados
do certificado de aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Instituição onde o autor desenvolveu a pesquisa ou
da Instituição onde os indivíduos da pesquisa foram recrutados,
conforme Resolução vigente do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde.
Preparação do Manuscrito
O texto, incluindo Resumo, Abstract, tabelas, figuras e referências, deverá ser redigido no Word for
Windows”, fonte “Times New Roman”, tamanho 12, espaçamento 1,5 cm, margem lateral esquerda de 3,0 cm,
margem direita 2,5 cm, superior e inferior com 2,5 cm e
papel tamanho A4. Parágrafos deverão conter tabulação
1,25 cm à esquerda.
Todas as páginas do manuscrito deverão ser numeradas a
partir da página de identificação, com total de até 20 páginas,
incluindo as figuras, tabelas e referências. As linhas do manuscrito devem ser numeradas sequencialmente, sem interrupções.
O manuscrito deverá indicar uma das seguintes áreas
de conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas,
Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Engenharias,
Ciências Humanas, Ciências Sociais e Aplicadas e Linguística,
Letras e Artes.
Resumo e Abstract
Esses itens deverão preceder o texto principal do trabalho, digitados sem tabulação e/ou recuo, com no máximo
250 palavras e em parágrafo único. Descreva brevemente a
introdução, o objetivo, material e métodos, os principais resultados e as conclusões.
Palavras chave e Keywords
Palavras chave e Keywords deverão ser redigidas logo
após espaço de 01 linha do Resumo e o Abstract, respectivamente, em número de 3 a 5, separadas por “ponto e vírgula”
( ; ) e “ponto final” ( . ) após a última palavra. As palavras
chave e keywords deverão ser grafadas em letras minúsculas,
exceto nomes próprios e científicos. Evite usar as mesmas
palavras usadas no título do trabalho.
Texto
O texto deverá apresentar os seguintes elementos:
Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão,
Conclusão e Referências.
Esses itens devem ser redigidos sem recuo, em negrito com inicial maiúscula (ex. Introdução). NÃO devem ser
numerados.
Introdução: deverá apresentar o “estado da arte” de forma
concisa e ao final, as hipóteses e os objetivos a serem avaliados.
Material e métodos: apresentados com detalhes suficientes para responder aos objetivos, confirmar ou refutar as
hipóteses, incluindo critérios para o controle das variáveis,
padronização do experimento, amostragem e delineamento
estatístico.
Resultados: apresentado em forma de texto, tabelas e
figuras, sem duplicidade de informações entre essas formas
de apresentação. O relato dos resultados deve ser conciso,
seguindo a ordem descrita no item Material e métodos.
Discussão: A discussão consiste em inferência de
hipóteses ou sugestões com base fundamentada nos resultados obtidos no próprio manuscrito confrontados com os
resultados encontrados na literatura. Limitações na metodologia deverão ser indicadas, bem como, implicações em
pesquisas futuras.
Conclusão: deve ser concisa e responder aos objetivos
do estudo de forma clara.
Agradecimento: este item é opcional e deve ser reservado para citação de instituições financiadoras e de apoio
material ou de pessoas que prestaram ajuda técnica.
Referências: usar o sistema Vancouver autor-data.
Todas as referências citadas no texto devem estar listadas
por ordem alfabética no item Referências. A lista de referência deve ser digitada sem recuo e/ou tabulação com
espaço de 01 linha entre as citações. Referências à comu-
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
nicação pessoal, trabalhos em andamento e/ou submetido à
publicação, bem como a citação de trabalhos apresentados
em eventos científicos no formato de resumo simples ou
expandido, Dissertação e Tese devem ser evitados. A correta citação das referências no texto assim como sua inserção
no item Referência é de responsabilidade dos autores do
manuscrito. Dar preferência às referências mais atualizadas e relevantes ao estudo.
No caso específico de artigo de Relato de Caso, o
texto deverá apresentar os seguintes elementos: Introdução,
Relato de Caso, Discussão, Conclusão e Referências. No
item Relado de Caso deverão ser apresentados detalhes suficientes do caso para responder aos objetivos, podendo ser
apresentadas tabelas e figuras, sem duplicidade de informações entre essas formas de apresentação.
Citações no texto
A citação de um autor no texto deve ser feita em
letras maiúsculas e minúsculas pelo sobrenome seguido
do ano de publicação entre parênteses, ex.: Lie (1990).
A citação de dois autores segue o mesmo padrão, porém
com a conjunção “e” entre os autores, ex.: Lie e Hire
(1990). Mais de dois autores, a citação deve ser indicada
pelo sobrenome do primeiro autor em letras minúsculas
seguido da expressão “et al.” e do ano entre parênteses,
ex.: Lie et al. (1990).
Citações no final de frase ou parágrafos:
Seguem as mesmas recomendações para as citações
no texto, porém o nome dos autores são grafados em letras
maiúsculas.
Ex.:
Taxas de arraçoamento incrementam a produção em
resposta à entrada de nutrientes (BOYD, 2004).
Elevada taxa de arraçoamento ocasiona aumento das concentrações de nutrientes, mesmo em sistemas de cultivo com
baixas densidades de estocagem (THAKUR e LIN, 2003).
O crescimento das populações de fitoplâncton e de
bactérias se deve ao incremento de nutrientes (REDDING
et al., 1997).
Documentos do mesmo autor publicados no mesmo
ano, acrescentar letras minúsculas após o ano, sem espaço:
[...] (REDDING et al., 1997a)
[...] (REDDING et al., 1997b)
REDDING et al. (1997a,b) [...]
Vários trabalhos de autores diferentes, indicar
em ordem cronológica a citação dos autores.
[...] (REDDING et al., 1997; THAKUR e LIN,
2003; BOYD, 2004) ou
Redding et al. (1997), Thakur e Lin (2003) e
Boyd (2004) observaram que [...]
Periódicos
Sobrenome Prenome(s) do(s) autor(es) (abreviados).
Título do artigo: subtítulo (se houver). Título do periódico,
volume, número do fascículo, ano de publicação, páginas.
Ex.:
LOE, H.; THEILADE, E.; JENSEN, S.B. Experimental gingivitis in man. Journal of Periodontology, v. 36, 1965, p. 177-187.
Livros e trabalhos acadêmicos
Autoria. Título: subtítulo (se houver). Edição (1a ed., não
precisa constar). Local de publicação: Editora; Ano. Paginação.
Ex.:
SILVA JÚNIOR, A.G. Modelos tecnoassistenciais
em saúde: o debate no campo da saúde coletiva. 2a ed. São
Paulo: Hucitec; 2006. 132 p.
Capítulo de livros:
Autoria do capítulo. Título do Capítulo. In: Autor do
livro. Título do Livro. Edição (1a ed., não precisa constar).
Local: Editora; Ano. p. página inicial-final.
Ex.:
ROJKO, J.L.; HARDY, W.D. Jr. Feline leukemia virus
and other retroviruses. In: SHERDING, R.G., editor. The
cat: diseases and clinical management. New York: Churchill
Livingstone; 1989. p. 229-332.
Trabalhos acadêmicos
Autoria. Título da obra: subtítulo (se houver) [grau].
Localidade: Instituição onde foi apresentada; ano.
Grau (mestrado - dissertação; tese - doutorado e
livre-docência, monografia - trabalho de conclusão de curso)
Ex:
PEREIRA, V.A.R. Variação sazonal nas concentrações
de aeroalérgenos em diferentes níveis de poluição ambiental
[tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de
Medicina; 2007.
Documento em formato eletrônico
Autoria. Título do trabalho. Título da publicação
[Descrição física do meio eletrônico]. Volume, número do
fascículo, ano de publicação, páginas (se houver) [data do
acesso da obra on-line]. Endereço eletrônico.
Ex.:
CONTI, M.B.; MARCHESI, M.C.; RUECA, F.;
FABI, T. Tumori gastrici nel cane: osservazioni personali.
Atti della Societa Italiana di Scienze Veterinarie, [CDROM]. 2004; 58.
ABOOD, S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. American
Journal of Nursing, v. 102, n. 6, 2002, p. 23. [acessado
em 12 ago. 2002]. Disponível em: http://journals.lww.
com/ajnonline/Abstract/2002/06000/Quality_Improvement_Initiative_in_Nursing_Homes.31.aspx
Tabelas e Quadros
Conter na parte superior legendas autoexplicativas e numeradas consecutivamente com algarismos arábicos na ordem em
que são citadas no texto. As notas explicativas deverão ser colocadas abaixo da tabela. Se a tabela e o quadro forem extraídos
de outros trabalhos, deverá ser mencionada a fonte de origem.
Figuras
Ilustrações como, fotografias, desenhos, gráficos e mapas são consideradas figuras, que deverão ser limitadas ao
mínimo indispensável e numeradas consecutivamente com
algarismos arábicos, na ordem em que são citadas no texto.
Deverão ser suficientemente claras para permitirem a sua
reprodução em 8,2 cm (largura da coluna do texto) ou 17,2
cm (largura da página) com resolução mínima de 300 dpi
(ou 1000 pixels). As legendas devem ser apresentadas na
parte inferior. No texto, a referência à figura, deve estar no
local considerado mais apropriado pelos autores. Não serão
publicadas figuras coloridas, a não ser em casos de absoluta
necessidade e, a critério do Comitê Editorial com recomendação expressa dos revisores. A impressão das páginas coloridas
será custeada pelos autores. Se houver figuras extraídas de outros trabalhos, deverão ser mencionadas as fontes de origem.
Abreviaturas, Siglas e Unidades de Medidas
Para unidades de medida deve seguir o Sistema Internacional (SI) de Medidas. Nomes de medicamentos e
materiais registrados, bem como produtos comerciais, devem aparecer em notas de rodapé; o texto deverá conter
somente nomes genéricos.
PRODUÇÃO EDITORIAL
ZEPPELINI
P U B L I S H E R S
Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César – São Paulo/SP - CEP 01415-000
Zeppelini – Tel: 55 11 2978-6686 – www.zeppelini.com.br
Instituto Filantropia – Tel: 55 11 2626-4019 – www.institutofilantropia.org.br
ISSN 1980-0029
CIÊNCIA
e
CULTURA
Revista Científica Multidisciplinar do
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barrretos
Ciência e Cultura
Vol.11 n.1
Jan-Jun 2015
Vol. 11 n.1
Jan-Jun 2015

Documentos relacionados