Jornal Sapiência CS3.indd

Transcrição

Jornal Sapiência CS3.indd
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009 • Nº 20 • ANO V
ISSN - 1809-0915
DROGAS: RESPONSABILIDADE DE TODOS
Fumo e Álcool: necessidade de políticas públicas permanentes
Páginas 4, 5, 6, 10, 11, 12 e 13
Renorbio propõe revolução
na produção científica e
tecnológica do Nordeste
Páginas 7, 8 e 9
Anabolizantes: pesquisa
busca nova técnica para
identificação
Páginas 15 e 16

2
EDITORIAL
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
O
Drogas: uso inevitável, mas não abuse!
termo droga vem sendo usado
desde a idade média, mas sua
origem é controversa, serve
para designar toda substância ou
matéria da qual se extrai ou com a
qual se prepara um medicamento ou
mesmo um veneno, pois existe um
estreito limite para um medicamento
se tornar um veneno e causar sérios
danos a saúde de quem os consome,
o que os difere é apenas a dose.
As drogas são capazes de
provocar profundas modificações
fisiológicas ou comportamentais nos
indivíduos, seu uso, sem a devida
orientação, oferece sérios riscos
aos seus consumidores.Explorar o
universo das drogas representa um
amplo espectro de ações, passa por
dramas sociais vividos por famílias
de viciados até descobrimento
de medicamentos que aliviam
sofrimentos ou mesmo curam
doenças avassaladoras.
Neste número, o Sapiência
buscou explorar produções
científicas nesta área e encontrou
importantes produções nas
instituições piauiense.
Talvez as duas drogas que
mais causam danos à sociedade, nas
suas mais diversas vertentes, sejam o
A
álcool e o fumo, a matéria das páginas
14, 15 e 16 demonstra um pouco
esta cruel realidade com trabalho
e dados epidemiológicos aqui em
Teresina, no Brasil e no mundo. Neste
tema, a Fapepi tem investido recursos
financeiros em pesquisas que procuram
contribuir para a solução deste terrível
problema de saúde da sociedade
brasileira, especialmente a piauiense.
A Dra. Lúcia Rosa, da UFPI, realizou
uma importante pesquisa para o Piauí
que teve como objetivo identificar os
fatores de risco para o uso de álcool
e outras drogas na adolescência,
nela a pesquisadora chega a diversas
conclusões muito interessantes, que
podem ser conferidas nas páginas 10,
11 e 12.
Em busca de resultados, além
dos limites normais humanos, os
atletas auxiliados por profissionais
das áreas de saúde buscam superar
recordes utilizando recursos artificiais
como os anabolizantes; além disso,
cidadãos comuns perseguem, na busca
de corpos mais belos, se submetem ao
uso destas drogas, ignorando os seus
efeitos deletérios. A ciência busca,
através de testes, identificar a droga
nos usuários de forma cada vez mais
fidedigna, objetivando intimidar ou
mesmo inviabilizar o seu uso. Este
tema está muito bem abordado
no trabalho do doutorando Marco
Antônio Pereira dos Santos, nas
páginas 15 e 16. O aluno é vinculado
ao doutorado da Rede Nordestina
de Biotecnologia (RENORBIO),
programa de doutorado, aprovado
pela Capes, que integra todos os
estados do Nordeste numa rede
virtual de ações, objetivando,
essencialmente, formar recursos
humanos altamente qualificados
para promover desenvolvimento
sócioeconômico, através da Ciência
e Tecnologia (Página 7). A Fapepi
é integrante desta Rede e garante
bolsas de doutorado para todos os
alunos que desenvolvem pesquisas
aqui no Piauí e que preenche o perfil
de bolsista.
O entrevistado nesta edição
do Sapiência é o médico Carlos
Henrique Nery Costa, que possui
doutorado em Harvard (EUA) e
há três anos coordena a Renorbio
(páginas 8 e 9). Nesta excelente
entrevista, ele comenta como
se originou a rede, os principais
desafios, as ações executadas e as
dificuldades enfrentadas.
Acácio Véras
Tabagismo e Câncer
proveit a n d o
o D i a
Mundial Sem
Ta b a c o , q u e
transcorreu no dia
31 de maio, como
um sério alerta
aos fumantes,
a Sociedade
Luiz Adelmo Lodi*
Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC), que
reúne os especialistas no tratamento
n ã o c i r ú rg i c o d e s s a d o e n ç a ,
empenha-se no cumprimento da
recomendação da Organização
Mundial de Saúde (OMS) para 2009:
“Mostre a verdade. Advertências
Sanitárias salvam vidas”. E a
verdade, no caso do Brasil, é dura
para os fumantes ativos ou passivos.
Apesar de estar diminuindo
no Brasil, a incidência do uso do
tabaco ainda é bastante alta. Entre
1989 e 2001, a prevalência de
fumantes caiu de 30% para 21%,
segundo levantamento realizado
pelo Instituto Nacional do Câncer
(INCA). Os resultados dessas
pesquisas mostraram, porém, que a
concentração do tabagismo é maior
na população de baixa renda e de
escassa escolaridade, certamente
pelo menor acesso a informação, a
educação e a assistência a saúde nas
classes sociais menos favorecidas.
Essas deficiências são potencializadas
por estratégias de mercado que
estimulam o consumo ao mesmo
tempo em que facilitam o acesso
dessas populações aos produtos
de tabaco, sobretudo os cigarros.
Apesar da redução percentual da
incidência do tabagismo ao longo
do tempo, é penoso constatar ainda
a ocorrência de 90% dos casos de
câncer no pulmão (entre os 10%
restantes, um terço é de fumantes
passivos) e de 30% das mortes
decorrentes de outros tipos de câncer
(de boca, laringe, faringe, esôfago,
pâncreas, rim, bexiga e colo de útero).
O controle do tabagismo no
Brasil poderia reduzir em um quase
terço (8.181 casos) os cânceres de
pulmão, que atingem 27.270 por ano,
segundo dados do Instituto Nacional
do Câncer (Inca) relativos a 2008.
Quando a doença ataca a cabeça e o
pescoço (14.160 casos anuais) sem
o uso do tabaco existiriam 4.248
doentes a menos. Também haveria
menos 3.165 casos entre os 10.550
vitimados por cânceres de esôfago
e 5.604 casos de câncer no colo
do útero do total atual de 18.680
vítimas anuais, como também 2.160
cânceres de pâncreas, entre os 7.200
atuais. Com a exceção de alguns
casos iniciais dos tumores de cabeça
e pescoço e do colo do útero que têm
um prognóstico favorável, a maioria
das demais neoplasias associadas
ao uso do tabaco é de prognóstico
muito grave, pois apresenta evolução
silenciosa e quando estes pacientes
são diagnosticados, já se encontram
em fase avançada da doença sendo
praticamente inviável a cura.
Deve-se assinalar que a
principal substância cancerígena
presente no tabaco é o alcatrão composto de mais de 40 substâncias
comprovadamente cancerígenas,
formadas a partir da combustão dos
derivados do tabaco. Entre elas,
o arsênio, níquel, benzopireno,
cádmio; resíduos de agrotóxicos,
substâncias radioativas, como o
Polônio 210, acetona, naftalina e até
fósforo P4/P6, substâncias usadas
para fabricação de veneno de rato. O
alcatrão, aliado à nicotina substância
psicoativa com grande potencial de
causar dependência física e também,
com acentuado efeito tóxico para o
organismo humano - forma à bombarelógio de efeito retardado que com
o decorrer dos anos, irá ceifar a
população muitas vezes ingênua, que
quando se inicia no uso do tabaco,
não faz a menor idéia do que lhe
espera com o decorrer dos anos.
* Médico da Fundação Mário Penna em
Belo Horizonte- MG
[email protected]
Nº 20 • Ano V • Junho de 2009
ISSN - 1809-0915
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3
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
O
Um admirável Cérebro Novo?
atual
debate
sobre o
doping cerebral
ganhou força
recentemente
após a publicação
de uma matéria
na revista Nature
João Ricardo Mendes
de Oliveira*
de Dezembro de
2008, ampliando assim a discussão
sobre a liberação de diversos
medicamentos que atualmente
são consumidos por estudantes
e profissionais de alta demanda
cognitiva, como plantonistas,
executivos, e também cientistas.
O procedimento consiste em
tentar aperfeiçoar, por meio do uso
de medicamentos prescritos em
algumas doenças neuropsiquiátricas,
o potencial do cérebro de pessoas
saudáveis. No entanto, estes remédios
só podem ser vendidos sob prescrição
médica e nunca devem ser usados
na ausência de sintomas. Assim, o
mercado negro tem crescido muito,
principalmente através de compras
via Internet.
As drogas mais comuns são
rivastigmina, modafinil, metilfenideto
e donezepil, prescritas para doença
de Alzheimer, transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade ou
transtornos do sono.
Os relatos anedóticos e
impressões pessoais de usuários
referem aumento da capacidade
de atenção, reflexo, diminuição
da distração e maior velocidade
na associação de idéias, chegando
eventualmente a uma resposta mais
rápida para diversas tarefas. Há uma
chance real de os indivíduos que
usam alguns destes medicamentos
aprenderem mais rápido ou com
menos esforço do que outros, mas
ainda faltam estudos controlados.
O doping intelectual pode
parecer um tema chocante, mas o
curioso é que todos fazemos ou
já fizemos uso de algum item cuja
promessa é exatamente aumentar
a performance mental, tal como
guaraná em pó, Gingko biloba,
refrigerantes à base de cola,
igualmente ricos em cafeína, além
das anfetaminas, e os mais diversos
“ e n e rg é t i c o s ” q u e p r o m e t e m
prolongar as noitadas do século
XXI.
Nossa posição em relação a
este tema foi publicada na edição de
29 de janeiro de 2009, juntamente
com colegas da França, EUA e
Inglaterra, incluindo um relato
anônimo de um pesquisador que
revelava fazer uso deste cognitive
enhancers e que defendia seu uso
para um melhor desempenho de suas
atividades.
Mas a segurança é a maior
preocupação neste momento, visto
que o uso indiscriminado de tais
medicamentos pode desencadear
quadros de insônia, ansiedade,
depressão ou mesmo psicose, além
dos efeitos colaterais inerentes a cada
uma destas drogas.
Empresas como a Helicon
Therapeutics, Cephalon and
Memory Pharmaceuticals estão
desenvolvendo e testando novas
drogas especificamente para estes
fins, em indivíduos saudáveis e que
teoricamente não apresentariam
os efeitos colaterais comuns aos
medicamentos atualmente usados.
A boa notícia é que esta busca
certamente vai repercutir no
tratamento de casos patológicos,
como nas demências.
Estamos já vivendo uma nova
realidade que se apresenta com uma
miríade de questões legais, éticas
e científicas, provavelmente sem
respostas definitivas ou prontas.
Além disso, há também
uma boa chance que a expectativa
de alguns e o medo de outros
em relação a estas drogas não
se concretizem. Estudos com
crianças superdotadas mostram que
outras habilidades cognitivas são
igualmente importantes ou até mais
que a tão valorizada “inteligência”
para um futuro bem sucedido,
tais como a disposição para se
superar, o estabelecimento de
metas desafiadoras, tenacidade nos
objetivos, autoconfiança, iniciativa
e também resistência à frustração.
* Prof. Pós-Doutor da Universidade
Federal de Pernambuco
[email protected]
Educação à distância: teoria e prática
P
a r a
categorização da
relação entre
processo educacional e desenvolvimento
cognitivo
Gildásio Guedes Fernandes*
em Educação
a Distância (EaD) via web, a
priori, é essencial a identificação
de elementos teóricos sobre os
processos de ensino e aprendizagem,
em busca de enquadramento das
questões relacionadas entre si
que pressupõem adequação de
elementos mediadores de interesse
pedagógico aos conceitos que
cercam a noção de usabilidade
dos sistemas computacionais
utilizados.
Sob este ponto de vista, o que
se discorre está na abordagem de
L. S. Vygotsky, ou simplesmente,
abordagem vygotskyana
ou socioconstrutivismo,
principalmente, no contexto da
mediação simbólica e da Zona
de Desenvolvimento Proximal
(ZDP), perspectiva promissora
e sustentabilidade teórica para a
consecução do objetivo central
enunciado no título deste artigo:
Educação a Distância: Teoria e
Prática.
Configura-se como tentativa de
focalização do socioconstrutivismo
com a prática educativa, com o
intento de produzir informações
sobre aspectos de implicações
educacionais atualizadas, que
contribuam com o estudo e a
comparação de elementos mediadores
do uso de interfaces computacionais.
Por exemplo, enquanto o termo
mediação, ganha, em Vygotsky,
diferentes denominações, como:
interação social, símbolo, signo,
instrumento, unidade, formação
de conceitos etc., nesta pesquisa,
corresponde à funcionalidade, à
usabilidade, à interatividade, ao
ícone computacinal entre outros, o
que permite traçar certa correlação,
buscando explorar elementos
teóricos capazes de fortalecer a
prática concreta dos processos
de ensino e aprendizagem em
atividades de uso e de aplicação
das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC).
A prática se concretiza com as
funções benfazejas do professor
conteudista e do tutor na dinâmica
das interações interpessoais e na
ação recíproca entre os alunos, os
agentes de EaD que são usuários
da internet com os objetos de
produção de novos conhecimentos,
para identificar elementos que,
de certa forma, estão diretamente
relacionados e complementam as
recomendações de ergonomia para
Interface Humano Computador
(IHC) quer seja no texto ou no
monitor de vídeo.
A prática deste docente, no
programa de EaD da Universidade
Federal do Piauí, começa com um
bom texto para cada disciplina
dos respectivos cursos, escrito
próprio para internet, que pode ser
considerado apropriado se contiver
no mínimo os elementos mediadores
que seguem: Alinhamento;
Continuidade, Contraste, Harmonia,
Pregnância, Proximidade entre
partes relacionadas, Repetição para
identificação do contexto, Simetria
e/ou assimetria e Tamanho.
O texto não é um parque de
diversão. O seu computador é ótimo,
mas nem todos têm a sua configuração
com o seu kit Multimídia; é preciso
usar a imaginação. Quase todos
usam o mesmo tipo de letra, no caso,
o mais comum, o tipo Times News
Roman, não é o mais adequado,
recomenda-se a Arial. Às vezes as
letras são tão pequenas e confusas
que irritam a visão depois de meia
hora de leitura. Maiores informações
sobre a teoria e prática de EaD
consulte a Tese de Doutorado Ergonomia Pedagógica da Interface
Humano-Computador: A Interface
de Ambientes Virtuais de Educação
(AVE) do autor deste texto.
* Prof. Dr. do Depto. de Informática
e Estatística da UFPI
[email protected]
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TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
Álcool e fumo: população ainda
A
prevenção primária sobre
o uso e efeito das drogas
ainda não faz parte da
cultura das famílias e das escolas,
apesar das drogas se configurarem
como um dos grandes males
sociais. O médico e mestre em
fisiologia humana, Francisco
Teixeira Andrade é professor
de Fisiologia da Universidade
Federal do Piauí estuda e trabalha
com prevenção primária há pelo
menos 25 anos. Ele entende que
o melhor caminho para evitar
que pelo menos mais pessoas se
tornem usuários das mais diversas
substâncias psicotrópicas é a
conscientização.
Para o professor, o caminho
que ele escolheu para alertar
a sociedade sobre os riscos
inerentes das drogas são por
meio de palestras, especialmente
voltadas para diretores e professores
de escolas públicas e particulares.
“São os educadores que podem e
devem informar, alertar e observar os
seus alunos quanto ao uso e ao perigo
que levam essas substâncias que
podem fatalmente levar o indivíduo à
dependência e até à morte”, disse.
Francisco Teixeira enfatiza em
suas palestras os efeitos destruidores
de todo o conjunto de psicotrópicos,
que agem no Sistema Nervoso Central
(SNC), produzindo alterações de
comportamento, humor e cognição.
Portanto, são substâncias que têm a
ação de aproximar, desenvolvendo
várias alterações no SNC, como a
de estimular, causar depressão e
perturbação no cérebro, dependendo
do tipo de droga a ser consumida, da
quantidade, do tempo e da frequência
do uso. No entanto, todo o conjunto de
substâncias psicotrópicas existentes
pode causar uma ou mais dessas
reações no cérebro.
O professor Francisco Teixeira
tem uma preocupação em especial com
o uso indiscriminado de dois tipos de
drogas na sociedade, que geralmente
nem os próprios profissionais de
saúde, nem os pais e nem o governo
consideram como tais: o álcool e o
Professor Francisco Teixeira trabalha com prevenção primária
tabaco. “Para a farmacologia, todas
são drogas. Não se pode excluir
álcool e o cigarro do grupo das
drogas; são legais para maiores
de idade, apesar de que a criança
compra qualquer uma delas. Separar
álcool e fumo das demais drogas
foi uma convenção social, porém
ambas estão incluídas no grupo das
Substâncias Psicotrópicas causadoras
de Adição”. Segundo o pesquisador,
as drogas, além de produzirem efeitos
básicos: estimulador, depressor e
perturbador, também causam adição,
do ponto de vista biológico, ou
seja, o indivíduo que usa droga
pode adquirir dependência química,
sensibilização, compulsão, perda
do controle executivo (deturpação
de comportamento) e recaída
(permanente busca). A adição é uma
síndrome que abrange um leque de
distúrbios, um dado preocupante é
que a adição possui componentes
irreversíveis, uma vez que o cérebro
guarda sensações para sempre
causadas pelo uso das drogas, segundo
a opinião de alguns autores. “A droga
dá uma sensação de agradabilidade
fora do comum, tem um contexto de
afetividade positivo, a princípio, que
o cérebro grava e perpetua”.
Francisco Teixeira explica, no
entanto, que é possível o resgate de
funções perdidas pelo SNC, entre
elas o controle executivo, por meio
do tratamento adequado, o que não
é possível é apagar determinadas
memórias. “No caso da perda do
controle executivo, significa a
incapacidade de evitar o uso, de
controlar doses e a frequência das
administrações. A recaída pode ser
exemplificada no caso da jovem que
ficou famosa com
o seu livro
“Christiane F. 15 anos
drogada e prostituída”, que,
recentemente, depois de 30
anos, voltou a usar drogas,
ou como o ex-alcoólico
diz para si: “Não posso
tomar o primeiro gole”.
Esses exemplos resumem
o eterno risco de recaída,
mostrando o exercício do
controle executivo ou do
autocontrole”.
“Parar de usar
droga não é um fenômeno
simplório”, alerta o
professor. Ele explica
que o tratamento é eficaz
quando há um equilíbrio
entre fatores de risco e
fatores de proteção. Para
ele, em primeiro lugar
o dependente precisa
conhecer o seu problema
para promover uma mudança, que
deve acontecer com uma equipe
gabaritada, que inclui o psicólogo,
psiquiatra, terapeuta, educador
físico, a família e a sociedade.
Uma mãe usuária de medicamento
psicotrópico ou um pai usuário de
álcool estão criando futuros filhos
usuários de drogas. Este é apenas
um fator de risco, o doméstico.
“Existem muitos outros fatores e
eles estão em todos os setores da
vida social”.
Êxtase está entre o grupo de drogas avaliadas na pesquisa
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TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
a desconhece os efeitos maléficos
Pais e Professores: quase 80% já experimentaram álcool e
fumo e menos de 40% os reconhecem como psicotrópicos
U
m levantamento preliminar
realizado no ano de 2008,
sobre o reconhecimento e
uso de psicotrópicos, voltados para
pais e professores de escolas públicas
e particulares de Teresina, revela
números alarmantes. A pesquisa
por amostragem, coordenada
pelo professor Francisco Teixeira
Andrade com ajuda de alunos da
UFPI, tem servido como fonte
e reforço de prevenção primária
em suas palestras. Ao todo, foram
entrevistadas 901 pessoas: 444
pais e 457 professores. Entre os
psicotrópicos da pesquisa estavam
o álcool, tabaco, solventes ou
inalantes, maconha, cocaína,
esteróides anabolizantes, hipnóticos
mais sedativos e estimulantes.
Do percentual de
experimentadores (não revela se são
usuários ou não), aproximadamente
88% de pais e 74% de mães
afirmaram terem experimentado
bebidas alcoólicas. Quanto aos
professores, 88% do sexo masculino
e 67% do sexo feminino também já
haviam experimentado.
Em relação ao tabaco,
afirmaram já ter experimentado
aproximadamente 50% de pais e
24% das mães e entre os professores
38% do sexo masculino e 23% do
sexo feminino. Quanto às demais
drogas mais experimentadas por
pais/mães e professores/professoras,
em média, foram: hipnóticos e
sedativos 20% e 19%; solventes
ou inalantes 12% e 10%; maconha
de 10% e 7% e cocaína 8% e 6%
respectivamente.
Quanto ao percentual de pais/
mães e professores/professoras que
reconhecem estas drogas citadas
na pesquisa como psicotrópico
ou entorpecente, o resultado
também é surpreendente e
preocupante, pois são percentuais
muito baixos, vejam os números:
CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS
para o álcool 34% e 37%; para o
tabaco 37% e 34%; para a cocaína
foi de 57% e 54% e para maconha
56% e 52% respectivamente.
Baseado nestes dados, o mestre
em fi siologia Francisco Teixeira
concluiu: “O álcool e o tabaco
são as drogas menos reconhecidas
como psicotrópicas. São também
as mais consumidas. Óbvio que
este não é o único motivo para
tanto consumo, mas é possível
que grande parte dos entrevistados
imagine, equivocadamente, que
somente drogas ilícitas sejam
psicotrópicas”.
Os dados epidemiológicos
são importantes para se criar
a cultura da prevenção e da
conscientização quanto ao uso
das drogas. Estima-se que,
nos Estados Unidos, gastamse aproximadamente
500 bilhões de dólares com os
problemas sociais e de saúde
decorrentes do uso de drogas,
com um total de 500 mil mortes
por ano. Dados da OMS de 2003
revelaram que no mundo inteiro
400 milhões de pessoas sofreram
distúrbios neurológicos ou mentais
e problemas psicossociais que
decorrem do uso de álcool e
outras drogas; no mesmo ano, 4
a 5 milhões de pessoas morreram
em todo mundo decorrentes de
doenças geradas pelo tabagismo;
no Brasil, foram 200 mil mortes. A
OMS e o Banco Mundial estimam
que os gastos com saúde pública
por causa do tabagismo são de
200 bilhões de dólares/ano no
mundo.
Francisco Teixeira Andrade
Prof. Ms. de Biofísica e Fisiologia da
UFPI e doutorando em Ciência Animal
no CCA da UFPI
[email protected]
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6
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Câncer de pulmão mata na mesma
proporção em que é adquirido
A
dependência à nicotina
é classificada pela
Organização Mundial da
Saúde como grupo de Transtornos
Mentais e de Comportamento, que
expõe os fumantes a cerca de 4.720
substâncias tóxicas. O tabagismo é
visto como um grande problema de
saúde pública, responsável por cerca
de cinco milhões de mortes em todo
o mundo. O fumo é responsável por
90% dos casos de câncer de pulmão
e está ligado à origem de tumores
malignos em oito órgãos (boca,
laringe, pâncreas, rins e bexiga,
além do pulmão, colo do útero e
esôfago).
Um estudo realizado pelo
Departamento de Saúde Pública
da Universidade Federal de Santa
Catarina – UNFSC – Florianópolis
(SC), com apoio do Ministério
da Saúde e INCA aponta que o
câncer de pulmão está entre os mais
freqüentes tipos de neoplasias, tanto
em países industrializados quanto em
países em desenvolvimento.
Apenas no ano 2000, surgiu
aproximadamente 1,2 milhão
de casos novos da doença
no mundo, sendo 3/4 deles
entre os homens. No mesmo
ano, cerca de um milhão de
pessoas morreram por câncer
de pulmão. De todos esses
óbitos, 45% ocorreram em
países menos desenvolvidos.
No Brasil, o INCA estimou,
para 2006, o surgimento de
mais de vinte e sete mil novos
casos de câncer de pulmão,
sendo 17.850 entre os homens e
9.320 entre as mulheres. Esses
valores correspondem a um risco
estimado de 19 casos novos a cada
100 mil homens e 10 casos novos a
cada 100 mil mulheres.
Além de altas taxas de
incidência e de mortalidade, o
câncer de pulmão apresenta elevada
letalidade. A taxa de sobrevida de
cinco anos de pacientes com a
doença é relativamente pequena,
com médias inferiores às taxas de
sobrevida de outras neoplasias,
como o câncer de cólon, de mama
e de próstata.A mortalidade por
câncer de pulmão correspondeu
a aproximadamente 12% da
mortalidade geral por neoplasias
no Brasil durante o período. A
tendência foi de aumento em ambos
os sexos e em todas as regiões,
exceto na população masculina do
sudeste, cujas taxas se mantiveram
estáveis entre 1979 e 2004. As
maiores taxas foram observadas
no sul e no sudeste. Entretanto, a
região nordeste foi a que apresentou
o maior aumento, seguida pelo
centro-oeste e o norte. Em todas
as regiões, o incremento nas taxas
de mortalidade foi maior entre as
mulheres.
O estudo concluiu que o aumento
na mortalidade por câncer de pulmão
no Brasil entre 1979 e 2004 exige
medidas públicas que minimizem
a exposição aos fatores de risco,
sobretudo ao tabaco e permitam
maior acesso aos serviços de saúde
para diagnóstico e tratamento.
Piauí tem alto índice de fumantes
N
o Brasil, ocorrem em média 200 mil mortes/ano em
conseqüência do tabagismo
e estima-se que haja 25 milhões de
fumantes no nosso país. De acordo
com a pesquisa do Ministério da
Saúde no país, de 2006, denominada Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (VIGITEL),
dos estados do Nordeste, o Piauí foi
o que apresentou o maior número de
fumantes adultos (18,3%).
A boa notícia é que esse percentual diminuiu para 14,8% em 2007
e para 12,6% em 2008. De fato, as
pesquisas revelam que o consumo
de cigarros entre os jovens caiu à
metade nos últimos 20 anos. O es-
tudo VIGITEL mostra que 14,8%
dos jovens entre 18 e 24 anos têm
o hábito de fumar. Em 1989, os jovens fumantes eram 29%.
A incidência da dependência à nico-
tina é de 70% a 90% entre os fumantes regulares. Segundo o Instituto
Nacional do Câncer (INCA), cerca
de 80% dos fumantes querem parar
de fumar, porém, somente 3% con-
seguem a cada ano. De acordo com
a coordenação da área de doenças e
agravos não transmissíveis do Ministério da Saúde, um dos fatores
mais importantes no controle do
tabagismo é evitar o início do vício entre adolescentes e jovens. A
Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, realizada há 20 anos, mostrou que 35% da população adulta
no Brasil eram fumantes. Segundo
o Vigitel 2008, esse índice caiu para
15%. Apesar de o Brasil estar entre
os países com menor incidência de
tabagismo do mundo, o objetivo é
reduzir esse número, em especial
entre os jovens e mulheres fumantes. Em 20 anos, metade dos fumantes abandonou o tabagismo.

7
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
O
Programa de Pós-graduação
da Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO
constitui-se como um processo
de pós-graduação revolucionário,
pioneiro e único no Brasil. Trata-se
de um consórcio entre 30 instituições
do Nordeste (NE) e do Espírito
Santo, que disponibilizam recursos
humanos altamente qualificados
e infraestrutura para a formação
de doutores em Biotecnologia.
Aprovado pela CAPES em 2006,
com conceito 5, o curso teve início
em setembro de 2006, com 04
áreas de concentração e 07 linhas
de pesquisa, além disso, conta
com cerca de 160 docentes dos
10 Estados envolvidos em temas
relacionados à Agropecuária, à
Saúde, à Biotecnologia Industrial e
aos Recursos Naturais de interesse
e importância para a Região NE. O
objetivo da RENORBIO é contribuir
para o aumento da qualidade e da
relevância da produção científica e
tecnológica em áreas relacionadas à
Biotecnologia, com vistas à inovação
e ao interesse socioeconômico do
País, em geral, e da região NE, de
forma a promover a transformação
do sistema de Ciência e Tecnologia
(C&T) em um sistema eficiente para
a inovação.
O processo de seleção de
projetos a serem financiados, via
de regra, é feito
na modalidade
de
Editais,
com chamadas
para submissão
de
propostas
que
objetivem
a
realização
de
atividades
de
Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação
(PD&I) nos temas relacionados
acima e que gerem impactos
socioeconômicos positivos para a
Região Nordeste, com reflexos na
FOTO: DIVULGAÇÃO
RENORBIO
Agente de desenvolvimento para o Nordeste
melhoria da qualidade de vida da
população.
Essa estratégia visa a integrar
os esforços de desenvolvimento
científico e tecnológico aos de
formação de recursos humanos,
visando, como efeito multiplicador,
a contribuir para o desenvolvimento
da região NE, ampliando os níveis
de investimentos aplicados à PD&I
em Biotecnologia.
No Brasil, a Biotecnologia
a base produtiva da economia
do País. Competitividade em
Biotecnologia
depende
da
inovação tecnológica que ocorre
nas
empresas.
Entretanto,
diferentemente
dos
países
desenvolvidos, a maior parte do
contingente de cientistas brasileiros
atua em instituições públicas de
pesquisa e não em empresas. O
que resulta deste contexto, é que
ainda que se tenha, com recursos
é uma área de forte aplicação
industrial
em
setores
que
representam parte considerável
das exportações nacionais e
integram, de forma relevante,
predominantemente
públicos,
relativo
sucesso
científico,
pouca conseqüência é obtida
em termos de desenvolvimento
tecnológico e seus impactos no
aumento na competitividade ou no
desenvolvimento social.
O Brasil é um dos maiores
detentores da biodiversidade. A
Região NE possui 42% da sua área
constituída pelo semi-árido; uma
região com clima e biodiversidade
únicos em todo o mundo. Essas
e outras características tornam o
cenário para a Biotecnologia muito
promissor.
No Piauí, o cenário da
RENORBIO conta com 14
docentes, sendo 06 permanentes
e 08 colaboradores e de 36
alunos divididos em 03 das
04 áreas de concentração da
Rede: Biotecnologia em Saúde,
Biotecnologia em Agropecuária,
Biotecnologia
em
Recursos
Naturais e Biotecnologia Industrial.
Vale ressaltar que nenhum dos
alunos do Piauí concluiu ainda o
Programa de Pós-graduação, pois
se encontram no terceiro ano de
curso.
Apesar do seu enorme sucesso
inicial, pode-se observar algumas
fragilidades
na
RENORBIO:
carência de reconhecimento pelas
lideranças políticas regionais;
carência de fluxo contínuo de
recursos para administração da rede
e projetos; falta de uma política
econômica para o setor biotecnologia
no NE a fim de aproveitar os
ganhos com os
investimentos em
conhecimento,
mão-de-obra
e
geração de um
pólo e de um
ciclo econômico,
entre outros. Estas
fragilidades
e
outros aspectos da
RENORBIO são
abordados pelo Dr. Carlos Henrique
Nery Costa, Coordenador Executivo
da Rede Nordeste de Biotecnologia,
em entrevista ao Sapiência nesta
edição.
8
ENTREVISTA: CARLOS NERY COSTA
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
Renorbio pode encontrar soluções para os
C
arlos Henrique Nery Costa, coordenador executivo do Programa de PósGraduação da Rede Nordeste de Biotecnologia - RENORBIO, é Doutor
em Ciências pela Universidade Harvard, em Boston, nos Estados Unidos;
Mestre em Doenças Tropicais pela Universidade de Brasília, onde se graduou.
Tem mais de 30 trabalhos científicos publicados e mais de 170 comunicações em
congressos científicos. Coordena a Residência Médica em Infectologia. é professor
na graduação, orienta alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado na UFPI,
onde é professor associado. Fora da academia, Carlos Costa ocupa o cargo de diretor
geral do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella; é pesquisador colaborador do
Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (Portugal),
é coordenador da Comissão de Implantação de Unidade da Fiocruz no Piauí – Fiocruz
do Sertão, consultor do Ministério da Saúde, pesquisador do CNPq e vice-presidente
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
biodiversidade regional e com
elevado valor comercial, a
invenção de vacinas e de técnicas
para o diagnóstico das doenças
que acometem a Região e o
desenvolvimento da indústria em
Biotecnologia.
Dr. Carlos Nery Costa: Renorbio encontrará soluções para muitos dos problemas do Nordeste
SAPIÊNCIA - De onde veio a
idéia de se criar a Renorbio?
Dr. Carlos Nery - A Renorbio foi
criada por um visionário. Percebendo
as dificuldades de desenvolvimento
do Nordeste, o agrônomo carioca de
origens nordestinas, Luiz Antônio
Barreto de Castro, secretário de
Políticas e Programas de Pesquisa
e Desenvolvimento, do Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT),
imaginou que a Biologia poderia
oferecer as chaves para a superação
da pobreza da Região. Este brilhante
lampejo, que teve a sua origem na
longa experiência do pesquisador
na Califórnia, resultou na criação da
Renorbio, por meio de uma portaria,
em 2004, do então ministro do MCT,
Eduardo Campos, atual governador
de Pernambuco.
SAPIÊNCIA - Como ele agiu
para conseguir esta enorme rede,
lá de um escritório em Brasília?
Dr. Carlos Nery - Luiz ABC,
como é conhecido, mobilizou-se
e conseguiu dos Fundos Setoriais
do MCT significativos recursos
para o apoio a projetos de pesquisa
em Biotecnologia no Nordeste.
Para dar consistência à estratégia
de redes, os projetos foram feitos
em consórcios regionais. Num
lance de mágica, enviou e-mails
para os pesquisadores da Região,
convidando-os para a tarefa inédita
de criação de um doutorado em
rede. A resposta entusiasmada dos
pró-reitores e de pesquisadores, os
pioneiros da Renorbio, resultou no
maior programa de doutorado do
Brasil e, se não também o maior,
um dos maiores em Biotecnologia
do mundo. Hoje, existem mais
de 380 alunos matriculados,
assistindo a aulas em salas de
vídeo-conferência ou deslocandose para os laboratórios do Nordeste.
A primeira tese foi recentemente
defendida.
SAPIÊNCIA - Como esta
rede pode realmente beneficiar o
Nordeste?
Dr. Carlos Nery - As
duas primeiras portas para o
desenvolvimento da Biotecnologia
no Nordeste foram criadas: o
fomento ao desenvolvimento das
idéias criativas e a formação de
pesquisadores locais. A partir
dessas sementes, a Biotecnologia
poderá dar os seus primeiros frutos:
soluções inteligentes para desafios
regionais.
SAPIÊNCIA - Pode especificar
mais que soluções e desafios são
estes?
Dr. Carlos Nery - A superação
das restrições ao desenvolvimento
do Nordeste é possível através da
Biotecnologia e da Renorbio. Bons
exemplos são a adaptação de espécies
regionais aos extremos ambientais
e o aumento da produtividade por
técnicas de engenharia genética.
Outros exemplos são a descoberta
de produtos naturais típicos da
SAPIÊNCIA - Mas, muitos
acham que a pobreza do Nordeste
depende essencialmente das
relações sócioeconômicas e
não de razões passíveis de
intervenção tecnológica...
Dr. Carlos Nery - O
principal elemento que restringe
as economias nordestinas é o
regime pluviométrico insuficiente
e irregular, cortejado por terras
pouco férteis e pela persistência de
uma estrutura agrária ultrapassada
e opressora. Com este sistema, a
economia nordestina entrou em
colapso. Assim, as chuvas incertas
são o principal estrangulador, mas
não o único da agricultura familiar
que, por sua vez, se constitui no
principal fundamento da economia
da região. Quando consorciada
com um sistema agrário dominado
pelo latifúndio e em um regime
de parceria de remuneração com
os parcos produtos das colheitas
miseráveis, o resultado é este:
trágico colapso econômico e
ecológico. A baixa produtividade
dos solos carentes de água não
permite o acúmulo de capital e,
na ausência de excedentes no
setor primário, não permite os
investimentos e o desenvolvimento
da indústria. Assim, há um nítido
excesso de mão-de-obra rural que
migra para as cidades devido à
baixa produtividade e que vem se
acentuando ao longo da história.
E o resultado é este que vemos:
fome, carências de expectativas
econômicas no campo, seguidas
pela emigração, miséria e violência
ENTREVISTA: CARLOS NERY COSTA
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
9

10
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
FOTOS: MARCIA CRISTINA
Fatores de risco são cruciais para levarem os
U
m estudo aprofundado
sobre as drogas no
Piauí, do ponto de vista
social, foi publicado em 2008,
sob a coordenação da professora
doutora em Serviço Social pela
UFRJ, Lúcia Cristina dos Santos
Rosa, na Universidade Federal do
Piauí. A pesquisa foi publicada em
livro, intitulada “Uso de álcool e
outras drogas na adolescência em
Teresina/Piauí”, com a participação
de Maria Lila Castro Lopes
de Carvalho, Manoel Valente
Figueiredo Neto, Alynne Patrício
de Almeida, Liana Cronemberger
Pereira, Denise Costa de Carvalho e
Christianne Grazielle Rosa Belfort.
O objetivo do estudo foi
identificar os fatores de risco para
o uso de álcool e outras drogas na
adolescência e foi financiado pelo
Programa Projetos e Pesquisas
para o Sistema Único de Saúde
– PPSUS, desenvolvido no Piauí
com recursos do CNPq, Ministério
da Saúde (MS) e da FAPEPI. Uma
das conclusões do estudo é que o
consumo de álcool e outras drogas
entre os jovens independe de classe
social. Outro aspecto é que os jovens
atingidos pelas drogas não contam
com um aparato estatal, preparado
com medidas sócioeducativas e
com atendimento especializado.
Os sujeitos da pesquisa foram os
coordenadores dos serviços de
atenção vinculados à área de saúde
e assistência social de Teresina,
cuja ação se centrava na atenção
ao dependente químico e também
as próprias pessoas dependentes
em tratamento ou em cumprimento
de
medidas
sócioeducativas,
vinculadas, portanto, às políticas
de saúde ou assistência social.
Quanto
ao
perfil
dos
dependentes químicos na pesquisa,
96% são do sexo masculino; com
relação à idade, 59% têm até 20 anos;
59% do universo são naturais de
Teresina; 64,% pararam os estudos
no ensino fundamental, apenas 9%
completaram o ensino fundamental
e 6% são analfabetos; 52%
afirmaram estarem desempregados;
70% são solteiros, 18% casados e
12% separados. Quanto à família,
40% têm por base a família
conjugal (desses 28% morando
com os pais e 12% coabitando
com a esposa e filhos) e 32,3%
são de famílias monoparentais,
chefiadas pela mulher, no geral a
mãe. “O que ocorre, em nível de
Brasil, e também no Piauí, é que
somente há poucos anos, a partir,
principalmente, dos anos 80, é que
o Estado passou a ver o usuário não
apenas como um infrator, mas como
um ser que precisa de tratamento
em diversas áreas, diferenciando
traficante, dependente e usuário
eventual. Então, historicamente, a
questão não foi tratada com medidas
sócioeducativas
adequadas”,
explicou Lúcia Rosa.
O estudo mostrou que, a partir
da década de 1980 até os dias
atuais, as políticas públicas no Piauí
têm se mostrado tímidas. A maioria
dos serviços para atendimentos aos
usuários de álcool e outras drogas
psicotrópicas é de iniciativa nãogovernamental
voltada para
NO
MASCULI
o
s
100 SEXO
96%
80
60
40
públicos adulto e masculino
concentrando-se na capital e com
pouco envolvimento da família.
Os
objetivos
específicos
da pesquisa foram identificar
a natureza dos fatores de risco
implicados no uso de álcool e
outras drogas na adolescência;
contribuir na proposição de
políticas públicas para minimizar
os fatores de risco presentes na
instalação da dependência química
entre os adolescentes de Teresina e
traçar um perfil da rede de serviços
de atenção a usuários de álcool e
outras drogas na capital piauiense.
Para a Profª. Drª. Lúcia Rosa, entre
os fatores de risco relacionados
com o problema, principalmente
do álcool, estão as amizades, os
meios de comunicação, problemas
familiares, entre outros.
A pesquisa começou no ano de
2005, com a aprovação do edital do
programa PPSUS e foi concluída em
2007. A partir dos dados coletados,
os coordenadores de serviços
de atenção aos adolescentes,
envolvidos na pesquisa, criaram o
Fórum Estadual sobre Drogas, em
dezembro de 2006, coordenado
pela Secretaria de Assistência
Social (SASC) e pela Comunidade
Terapêutica Fazenda da Paz,
entidade não governamental que
atua no atendimento de usuários
e dependentes químicos do sexo
masculino. O fórum teve como meta
a criação de uma lei estadual sobre
drogas, a Lei n° 5.775, a primeira do
Estado. “Com essa lei, duas ações
foram implementadas – a criação
da Coordenação Estadual sobre
S
Drogas e também criação
PLETO
SOLTEIRO
L INCOM
AMENTA
70% ENSINO FUND
A
N
de orçamento específico
SI
RE
TE
ANOS NATURAIS DE
64% ATÉ 20
para o combate,
59%
59%
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DESEMPR
tratamento,
52%
pesquisas
MILIA
EFE DE FA
MÃES CH
32,3%
20
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18%
DOS NCLUIRAM O ENTAL
CO
NDAM
SEPARA
12%
ENSINO
9%
PERFIL
DEPENDENTES QUÍMICOS
RELATADOS
NA PESQUISA
Perfil dos
dependentes
químicos
relatados
na pesquisa
FU
BETOS
ANALFA
6%

11
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
adolescentes a usarem álcool e outras drogas
FOTO: MARCIA CRISTINA
e prevenção, muito embora esses
recursos ainda não estejam sendo
disponibilizados
a
contento”,
destacou Lúcia Rosa.
Para se ter uma idéia da
carência de ações governamentais,
seja na esfera estadual ou
municipal, capazes de enfrentar
o problema, numa perspectiva de
saúde pública, somente em 2003 foi
criada a Coordenação de Atenção a
Dependentes Químicos, vinculada
à Secretaria de Assistência Social
e Cidadania do Piauí – SASC, que
atende adolescentes e jovens e suas
famílias, encaminhando os primeiros
para os devidos tratamentos. Em
2002, o Ministério da Saúde mudou
o conceito e passou a pensar em
políticas para o enfrentamento
do problema. “Até então, o uso
de álcool e outras drogas entre
adolescentes era uma questão mais
ligada à segurança pública, então
essas pessoas ficavam invisíveis”,
completa
a
pesquisadora.
Historicamente, no Piauí
e no Brasil são as instituições
filantrópicas (ONGs), sobretudo as
ligadas à Igreja, que têm atuado para
atender e tratar usuários de drogas.
“As igrejas ainda são fatores de
proteção; as crianças e adolescentes
que estão ligadas a grupos de
jovens estão mais afastadas das
drogas”, informa a pesquisadora.
Lúcia Rosa afirma que órgãos
como o CEBRID (Centro Brasileiro
de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas),
da
UNIFESP,
divulgam números que indicam cada
vez mais a precocidade dos jovens
consumidores de álcool e outras
drogas, mas ainda que o álcool é a
principal substância causadora de
dano a este contingente, talvez pela
separação que se faz entre o álcool
e outras drogas. “A separação se dá
primeiro porque é uma droga lícita
e de fácil acesso. Depois, porque o
apelo ao consumo de álcool é forte.
Nas novelas, nos filmes, se a pessoa
está estressada, toma logo um drink.
Beba com moderação, mas beba. A
bebida é associada à festa, alegria,
mulher
bonita. Numa festa de criança,
os adultos bebem, senão acham
chato. Vivemos numa sociedade
narcotizada e numa cultura
do analgésico. A indústria dos
A bebida é associada à festa,
alegria, mulher bonita.
Vivemos numa sociedade
marcotizada e numa cultura
do analgésico. A indústria
dos medicamentos coloca:
“se você está estressada, não
muder seu estilo de vida, tome
um medicamento”, declara
Lúcia Rosa.
medicamentos coloca: “se você
está estressada, não mude seu estilo
de vida, tome um medicamento.”.
O perfil da população
em situação de risco apresenta
características como: insatisfação
com a qualidade de vida;
saúde deficiente; fácil acesso
ao álcool e outras drogas e a
precária rede de relações sociais
na comunidade de origem.
Uma
saída
encontrada,
segundo
a
pesquisadora,
são
políticas
públicas
que estimulem crianças,
adolescentes e jovens ao
lazer saudável. “Por
exemplo, percebo
que os governos
poderiam
aproveitar de
forma correta
espaços
dos
p a r q u e s
públicos;
os
nossos
rios são mal
aproveitados,
não oferecendo
n e n h u m a
atividade
de
lazer
e
educativa,
como passeios;
as
praças
públicas
são
feitas de forma que as árvores
dão pouca sombra e não possuem
brinquedos, por isso são mal
aproveitadas”. Outro fator de risco
apontado na pesquisa é a própria
escola. “Os jovens que usam drogas
abandonam a escola. Mas eles
não se interessam porque a escola
não tem sido atrativa. Ela precisa
ser um ambiente alegre, onde o
conhecimento precisa ser passado
de maneira prazerosa; os professores
trabalham desestimulados. A escola
está formando para o vestibular e
não para a vida. Temos que educar
para habilidades sociais. A escola
não desafia o aluno a se superar.
Então se ele não tem a informação
certa por meio da mídia, se ele não
tem o lazer fácil, interativo, e nem a
escola, o adolescente tem aí vários
fatores de risco que facilitarão o
acesso fácil ao álcool e às demais
drogas”, explica Lúcia Rosa.
O uso de álcool entre
os adolescentes em Teresina
geralmente começa a partir dos
12 anos ou até antes. Os efeitos
deletérios são muitos porque
o adolescente está em fase de
desenvolvimento psíquico, em
processo de amadurecimento.
A família aparece na
pesquisa, como um fator de risco,
uma vez que está perdendo a
autoridade e a ausência da figura
masculina nos lares dificulta cada
vez mais o processo educacional.
Na pesquisa, dos 198 usuários
de
drogas
entrevistados,
44% disseram
ter um bom
relacionamento com o pai e
29% afirmaram que o pai havia
falecido, ou não tinha contato
ou abandonou a família; 18%
afirmaram ter relacionamento ruim
com a figura paterna. Com relação
à mãe, 44% disseram ter um bom
relacionamento e 37% disseram
ter um ótimo relacionamento,
sendo que apenas 7% disseram
ter um relacionamento ruim com
a mãe e 12% afirmaram que a mãe
ou faleceu ou não têm contato
ou a mesma abandonou o lar.
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12
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
Cobrança da masculinidade é um fator de risco
A
FOTO: MARCIA CRISTINA
Professora Dra. Lúcia Rosa
afirma no livro “Uso de
álcool e outras drogas na
adolescência em Teresina/Piauí”
que o desenraizamento cultural
e a cultura machista, também,
são fatores de risco, no conjunto
multidimensional do uso de drogas
entre os adolescentes. Isso se
explica pelo fato de o adolescente
está na transição da fase infantil
para a fase adulta e viver uma fase
de incertezas que culminam numa
série de problemas quando há uma
desestruturação social ao seu redor.
O que ocorre nos dias atuais
é uma crise da masculinidade
hegemônica
e
são
várias
masculinidades hoje. O metrosexual
teme assumir sua sensibilidade,
o homossexual teme expressar
seus sentimentos. A pesquisadora
afirma que ainda domina o modelo
patriarcal, aquele em que o homem
não pode demonstrar emoções.
“Ainda é cobrado desse homem
que seja ‘durão’, competitivo, que
tenha poder. Então, esses meninos
acabam tendo como modelos figuras
já bastante comprometidas com
o tráfico de drogas, que denotam
poder, sucesso e a figura com a arma
na mão. Então, em muitos casos a
figura masculina de referência, com
a ausência do pai ou do pai e mãe,
acaba sendo esta”, disse.
Na pesquisa, Lúcia Rosa
destaca a questão do gênero
como um fator de risco para
aproximar os adolescentes em
formação das drogas. “As famílias,
principalmente as mais carentes,
são multiproblemáticas e não têm a
figura do pai. Na minha avaliação, a
mãe, sozinha, não consegue dar esse
referencial masculino. O homem
quando fala com o filho, este escuta
diferente. Autoridade e limite são as
referências masculinas. Nem sempre
a mulher consegue exercer a figura
paterna, até porque historicamente
a mulher não é reconhecida como
figura de autoridade”, considera.
Outra conclusão, baseada em
estudos de outros autores sobre
gênero, é que a mulher avançou
muito e o homem ficou perdido
dentro da família. As mulheres já
não precisam, exclusivamente, do
homem como provedor econômico
único e a visão do homem que
sustenta a família e a mulher que
cuida do lar está meio estagnada.
“Em famílias chefiadas pela mulher,
as drogas em geral são mais usadas
entre o público masculino; as
meninas ainda são minoria,
muito embora o consumo
esteja
entre
elas
aumentando”,
concluiu.
A
pesquisa
revela que
a sociedade
quanto mais
se urbaniza,
mais
as
relações
f i c a m
impessoais,
m a i s
anônim a s ,
gerando
um isolamento social, uma ideologia
individualista. “O adolescente numa
família sem moldes de educação e
sem referenciais está, sem dúvida,
propenso às drogas. A personalidade
do próprio indivíduo, a autoestima,
a pressão e o medo são fatores de
risco no plano psíquico e espiritual
que podem inseri-lo às drogas”
afirma a pesquisadora. “O que
vemos como forma de minimizar
esses problemas vem de grupos da
sociedade civil, como os grupos de
hip-hop, atividade de percussão na
umbanda, no esporte, entre outras
ações. Outra forma de prevenção é
a profissionalização...” sugere Dra.
Lúcia Rosa.
O Governo do Estado tem
projeto de criar comunidades
terapêuticas
com
atividades
profissionalizantes. Para Lúcia
Rosa essa é uma política positiva.
“Falta tornar a família mais forte.
A família sente-se impotente e
vulnerável frente à problemática
das drogas entre os adolescentes. O
Estado precisa dar uma retaguarda
para a família, especialmente à
mãe, que tem que trabalhar fora
de casa e educar os filhos. Precisa
investir ainda na perspectiva de
discussão da masculinidade. O que
é ser homem hoje? Para ser homem
é preciso beber?”, questiona.
Um estigma com relação ao
adolescente usuário de droga é com
relação a ser bandido. “Deixa de ser
visto como adolescente e passa a ser
visto como a escória da sociedade.
Como ele não é respeitado, acaba
provocando o medo. Através do
medo, ele consegue o respeito, entre
aspas. No entanto, ele precisa ser
resgatado, porque ele foi excluído
e é vítima. Precisa-se mostrar a
ele que tem chance. Enquanto o
adolescente tiver esse estigma de
que ele é um marginal, ele vai levar
isso para o resto da vida. O medo
é o equivalente físico, real, do que
o respeito seria simbolicamente”
finaliza.
Lúcia Cristina dos Santos Roza
Profª Drª do Depto. de Serviço Social da
Universidade Federal do Piauí
[email protected]
De repressão à
política pública
N
o Brasil, a política de
drogas, primeiramente foi
materializada na Lei n°
6.368, de 1976, dispondo sobre
medidas de prevenção e repressão
ao tráfico ilícito e uso indevido
de substâncias entorpecentes.
Todas as ações estavam até os
anos de 1990, exclusivamente,
vinculada às pastas do Ministério
da Justiça, sob a égide de uma
lógica repressiva. O uso indevido
de álcool tinha relação periférica
no Ministério da Saúde, em função
do tratamento da dependência
química, preponderantemente, em
hospitais psiquiátricos, fato que
estigmatizava o dependente. Os
CAPSAD (Centros de Atenção
Psicossocial aos Usuários de Álcool
e outras Drogas) foram criados em
2001 no Piauí, primeiro em Teresina;
depois implantado um em Parnaíba
e outro em Picos. São dispositivos
da esfera administrativa, ligados
às prefeituras, da política setorial
de saúde. A lógica de atenção
dos CAPSAD está centrada na
reabilitação psicossocial, integração
e inclusão social. Em Teresina,
funciona no bairro Monte Castelo.
O
Hospital
Psiquiátrico
Areolino de Abreu, único público
do Estado, e o Sanatório Meduna,
serviço particular conveniado ao
SUS, também prestam serviço
ambulatorial aos dependentes
químicos. Embora haja restrições
à atenção ao dependente de álcool
e outras drogas em hospitais
psiquiátricos, não são raras
pessoas internadas no Areolino
de Abreu com este diagnóstico.
A rede de atendimento e
tratamento aos dependentes é
majoritariamente de entidades
não-governamentais. Em Teresina,
as existentes são o Grupo dos
Alcoólicos
Anônimos
(AA),
Amor Exigente (voltada para a
família), o Proerd (do grupo de
policiais militares que fazem
trabalho de prevenção nas escolas)
e os Narcóticos Anônimos. Dentre
as
comunidades
terapêuticas
estão o Sítio Reviver (para
mulheres usuárias de drogas),
da Igreja Católica, a Oficina da
Vida, a Comunidade Fazenda
da Paz (usuários masculinos), a
Comunidade Esperança e o Sítio
Betesda (da Igreja Evangélica).

13
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
Políticas em saúde pública contribuem para o êxito do
tratamento de usuários de álcool e outras drogas no Piauí
Profª. Drª. Telma Evangelista e Profª. Drª. Claudete Monteiro
P
or ser um problema
multidisciplinar, que envolve
várias áreas do conhecimento,
seja social, de justiça e de saúde
pública é que vários estudos já
foram publicados nacionalmente,
visando a encontrar respostas
que possam atingir êxito junto à
problemática do uso de álcool e
outras drogas. Sob a coordenação
da Profª Drª em Enfermagem da
UFPI Claudete Ferreira de Souza
Monteiro e sub-coordenação da
Profª. Drª. Telma Maria Evangelista
de Araújo, que realizaram em 2008
a pesquisa “Estudo de prevalência
sobre o uso de álcool e drogas
e co-morbidades associais entre
usuários dos CAPSAD no Piauí”,
focalizada nos três Centros de
Atenção Psicossocial Álcool e
Drogas - CAPSAD do Piauí: em
Teresina e nos municípios de
Parnaíba e de Picos.
O Ministério da Saúde criou
os CAPSAD, através do Programa
Nacional de Atenção Comunitária
Integrada aos Usuários de Álcool e
outras Drogas, com o objetivo de
criar uma rede de assistência com
ênfase na reabilitação e reinserção
social, voltado para ações de
promoção, prevenção, proteção à
saúde e educação, estabelecendo
estratégias de serviços extrahospitalares para essas pessoas.
Em decorrência do uso
de álcool e de outras drogas, o
indivíduo pode adquirir uma série
de doenças, originárias do uso ou
associadas a ele, como HIV/Aids,
Hepatite C e Cirrose Hepática. Na
pesquisa, foram utilizadas amostras
de exames clínicos e laboratoriais
de 56 usuários dos CAPSAD, no
período de maio a outubro de 2008,
quando foram coletadas amostras de
sangue para testes de Hepatite B e C
e provas da função hepática: taxas
de aminotransferases (alanino e
asparato – ALT e AST), bilirrubinas
total, direta e indireta e albumina,
além da sorologia para HIV/Aids,
sob supervisão dos pesquisadores
responsáveis pelo estudo.
As autoras do estudo atestam
que os dados da pesquisa são
importantes para orientar ações em
saúde na rede de atenção básica a
fim de prevenir a morbimortalidade
e o sofrimento individual e familiar
associados ao uso de substâncias
psicotrópicas.
Como resultados, a pesquisa
apontou que 84% eram do sexo
masculino, idade entre 30 e 49
anos, destes 55% eram solteiros;
80% tinham renda familiar menor
que três salários mínimos com
histórico familiar de consumo de
álcool e uso de tabaco; com menos
de oito anos de escolaridade. O
álcool liderou entre as substâncias
mais consumidas, com 54% dos
consumidores, seguido pelo uso serem afetados por doenças como
concomitante de álcool e outras o Hepatice e a Cirrose.
drogas, com 36% e o uso exclusivo
Com relação ao consumo
de drogas foi identificado 11% dos crônico e/ou excessivo de álcool,
usuários. Para o uso de álcool, a maior detectado pelos resultados dos
parcela foi de usuários atendidos no exames laboratoriais, pode causar
CAPSAD de Picos (40%); seguido uma variedade de problemas
de Parnaíba e Teresina com 30% hepáticos. Aproximadamente de
cada. O tipo de
15 a 20% dos
bebida alcoólica A pesquisa é importante para alcoólatras vão
mais utilizada foi
orientar ações em saúde na d e s e n v o l v e r
cachaça (82%)
hepatite, ou seja,
s e g u i d a d a rede de atenção básica a fim u m e m c a d a
de prevenir a morbirdade
cerveja (45%),
cinco alcoólatras
e
o
sofrimento
individual
e
run (32%) e
vai ter problemas
vodka (27%). Em familiar associados ao uso de de saúde graves
relação ao vinho
relacionados ao
substâncias psicotrópicas.
e uísque, estes
álcool, incluindo
apresentaram
esteatose,
percentuais
hepatite alcoólica
iguais de 16%. Para outro tipo e cirrose, ao passo que pacientes
de droga, a maconha aparece com cirrose têm maior chance de
em primeiro lugar, com 39%, desenvolver diabetes, problemas
seguida de craque (36%) e cocaína renais, úlceras no estômago e
(21%). Cola e solventes apresentam duodeno e infecções bacterianas
percentuais iguais (20%).
severas.
Com relação aos achados
As Dras. Claudete Monteiro
relacionados aos testes usados para e Telma Evangelista concluíram
avaliação de lesão hepatocelular, em sua pesquisa que os CAPSad,
que dizem respeito às taxas de hoje constituídos como referência
aminotransferases (AST e ALT) e no tratamento de álcool e drogas,
enzimas hepáticas. Grande parte vêm desde a sua implantação
dos usuários (30%) apresentou no Estado do Piauí, contribuindo
aumento considerável de ALT, para diminuir o estigma voltado as
sendo que em 40% destes, a razão pessoas com problemas decorrentes
AST/ALT foi maior que 2, o do uso dessas substâncias, antes
que sugere lesão por álcool. Nos encaminhados aos hospitais
demais usuários, os níveis de ambas psiquiátricos. Entretanto, o seu
tiveram aumentos equivalentes, sucesso depende da sua articulação
o que na prática clínica também com a rede de atenção básica,
sugere a prevalência de afecção uma vez que os serviços prestados
hepática, especialmente hepatopatia devem ir além do tratamento
alcoólica ou medicamentosa. Nos da dependência química, e de
demais usuários, os níveis de ambas atividades dirigidas para a mudança
tiveram aumentos equivalentes, de comportamento, devendo voltaro que na prática clínica também se também para intervenção das
sugere a prevalência de afecção complicações clínicas e surgimento
hepática, especialmente hepatopatia de patologias associadas e/ou
alcoólica ou medicamentosa.
decorrentes, como Hepatite B e C,
As bilirrubinas diretas foram Cirrose Hepática e outras, a fim de
mais alteradas que as indiretas diminuir a morbidade e mortalidade
com 12% e 10%, respectivamente. nesse grupo de risco.
Consideram-se alterações o
Claudete Ferreira de Souza Monteiro
aumento, a partir de 20% acima
Profª. Drª. Do Depto de Enfermagem da
dos valores normais, podendo
Universidade Federal do Piauí
[email protected]
acima desse índice alguns órgãos
TESES E LIVROS
14
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
Desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação
de As, Cu, Pb em cachaça por espectrometria de absorção
atômica em forno de grafite
Naise Mary Caldas
Pesquisador PNPD/Capes
Defesa: Universidade Estadual Paulista, 2008
[email protected]
O
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), segundo Instrução Normativa nº 13 de
29/06/2005 estabelece níveis máximos permitidos para
vários contaminantes orgânicos e inorgânicos em aguardente de
cana e cachaça. Para os contaminantes inorgânicos, esses teores
foram definidos em 0,1; 5,0 e 0,2 mg L-1 para arsênio (As), cobre
(Cu) e chumbo (Pb), respectivamente. Baseado nessa Instrução
Normativa, métodos analíticos foram desenvolvidos para a
determinação direta e simultânea de As, Cu e Pb em 36 amostras
de cachaça por espectrometria de absorção atômica em forno de
grafite (GF AAS) para fins de controle de qualidade. Um estudo
sistemático avaliando o desempenho de seis modificadores foi
realizado com o intuito de obter uma melhor compreensão da
interação dos analitos com o modificador para as análises. Os
modificadores tungstênio (W) e irídio (Ir) ambos com co-injeção
de paládio (Pd) e magnésio (Mg) foram selecionados como os
melhores modificadores. O modificador permanente Ir com coinjeção de Pd+Mg mostrou-se mais eficiente no prolongamento
da vida útil do tubo de grafite. Esse benefício foi significativo,
pois o tubo de grafite é o item que mais encarece os custos de
uma análise química por GF AAS. Porém, a calibração por ajuste
de matriz para este modificador mostrou-se mais complexa
(cachaça diluída 1+1, v/v) que para o modificador W com coinjeção de Pd+Mg cuja calibração é feita através de uma solução
de 10% (v/v) de etanol contendo 5,0 mg L-1 Ca, K, Mg e Na,
uma solução de fácil preparo e contendo reagentes de ampla
disponibilidade que permite calibrar o sistema de modo mais
repetitivo. Bismuto (Bi) e antimônio (Sb) foram utilizados como
padrões internos para os analitos. A avaliação da influência da
matriz de cachaça na absorbância de As, Bi, Cu, Pb e Sb revelou
que a padronização interna associada ao modificador W com
co-injeção de Pd+Mg minimizou as interferências de matriz,
melhorou a precisão e a exatidão dos resultados demonstrando
ser uma estratégia eficiente na análise direta de cachaça por
GF AAS. Das 36 amostras analisadas três excederam os teores
máximos permitidos para Cu e Pb estabelecidos pela Instrução
Normativa, sendo uma para ambos os elementos, uma para o
Cu e outra para o Pb.
Letramento e apropriação do gênero textual carta de
reclamação no contexto da educação de jovens e adultos
Potencial reprodutivo de caprinos com escroto bipartido:
Avaliação do processo espermatogênico em animais criados
no Estado do Piauí, Brasil
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Professora da Universidade Estadual do Piauí
Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009.
[email protected]
Antônio Augusto Nascimento Machado Júnior
Prof. Adj. da Universidade Federal do Piauí em Bom Jesus
Defesa: Universidade Federal do Piauí, 2009
[email protected] / [email protected]
O
s estudos sobre os modos como se constroem as
práticas de ensino-aprendizagem dos gêneros textuais
em contexto escolar têm sido objeto de vários
questionamentos. Neste estudo, investigamos a apropriação
do gênero textual carta de reclamação, por alunos dos 3º e 4º
blocos da Educação de Jovens e Adultos, participantes e nãoparticipantes de uma sequência didática, matriculados em duas
escolas públicas municipais de Teresina-PI, com o objetivo
de verificar quais elementos do gênero textual em estudo os
alunos aprendem por meio de atividades estruturadas para
este fim. Foi objetivo nosso também investigar a influência
que os eventos de letramento exercem sobre a apropriação
da escrita. As turmas selecionadas funcionaram como
grupo controle e experimental. No primeiro, a produção
escrita aconteceu como uma das atividades feitas pelo
professor da turma, ou seja, foi seguido o planejamento da
escola. No segundo grupo, atuamos também com a função
de professora e desenvolvemos uma sequência didática.
Após as análises quantitativas e qualitativas dos textos de
ambos os grupos, verificamos que o desenvolvimento do
tema, a continuidade tópica, os articuladores discursivoargumentativos, as relações discursivas e as modalizações
tiveram sua aprendizagem facilitada e contribuíram para a
construção do sentido nas produções dos alunos do grupo
experimental. Tais aspectos não foram constatados nos
textos produzidos pelos alunos do grupo controle. Sobre
a relação entre os eventos de letramento de que os sujeitos
participam e a apropriação da escrita constatamos que, quanto
mais significativa a participação dos sujeitos em eventos de
letramento nas suas variadas rotinas comunicativas, mais
fluência eles demonstraram na construção do gênero textual
em estudo. Do ponto vista mais propriamente teórico, o
trabalho buscou conjugar contribuições dos estudos aplicados
voltados para questões de ordem didático-pedagógica
com estudos enunciativo-discursivos, fundados em uma
concepção dialógica da linguagem tal qual proposta no
pensamento bakhtiniano.
Caderno de Políticas Públicas
Estado, políticas públicas e práticas sociais
Organizadores: Simone de Jesus Guimarães, Guiomar de Oliveira Passos e Inês
Sampaio Nery
161 páginas
R$ 21,00
[email protected] e [email protected]
Tornar público os resultados de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação
em Políticas Públicas da UFPI é o objetivo dessa produção, que traz artigos e textos
provenientes de dissertações ou teses defendidas no Programa. Os organizadores
buscaram revelar objetos de estudos que se colocam na inquietude permanente dos
saberes, práticas e vivências humanas e sociais.
Poesia de Agudeza em Portugal
Autora Maria do Socorro Fernandes de Carvalho
R$ 40,00
429 páginas
[email protected]
O livro é um estudo retórico da poesia lírica e satírica escrita em Portugal no
século XVII e procura responder alguns questionamentos feitos pela autora
com um conhecimento sério da literatura barroca, através de textos impressos e
manuscritos.
Olhos Espraiados
linguagem e literatura ao sol
Organização: Maria Auxiliadora F. Lima, Francisco Alves Filho e Maria do Socorro
F. de Carvalho
R$20,00
296 páginas
[email protected]
O livro reúne 14 artigos, em sua maioria, de professores e alunos do Mestrado em
Letras, os quais resultam e dialogam com as pesquisas e estudos em andamento
no Programa e dão conta de diferentes temáticas relativas aos estudos literários e
lingüísticos.
O
bjetivou-se avaliar a espermatogênese por meio da
análise morfológica, histométrica e ultraestrutural
do testículo, comparando-a entre os caprinos
com escroto bipartido e não bipartido. Foram utilizados
18 caprinos divididos em três grupos (n=6) segundo a
configuração escrotal: G I, caprinos com escroto não
bipartido; G II, caprinos com escroto bipartido em até 50 %
do comprimento testicular; G III, caprinos com bipartição
escrotal superior a 50 % do comprimento testicular. Os
testículos foram processados com técnica histológica para
microscopia de luz e microscopia eletrônica de varredura.
No epitélio seminífero foram caracterizados os estádios do
ciclo do epitélio seminífero, a freqüência relativa desses
estágios, a proporção volumétrica dos compartimentos
tubular e intersticial, diâmetro dos túbulos seminíferos, altura
do epitélio seminífero, número de células germinativas e
de Sertoli por secção transversal de túbulos, número total
de células de Sertoli e de Leydig e estimativa de produção
espermática diária dos caprinos. Com a microscopia
eletrônica de varredura foi realizado estudo dos processos
das células de Sertoli nos grupos pesquisados. Foi feita
análise de variância com teste SNK e calculo do coeficiente
de correlação de Pearson, ambos a 5 %. O número de
células germinativas e de Sertoli foi superior nos caprinos
com maior nível de bipartição escrotal e a razão entre essas
células permitiu a determinação do rendimento geral da
espermatogênese e do índice de células de Seroli que foram
maiores nesse grupo de animais. Os valores da densidade
de volume e altura do epitélio seminífero, comprimento
total dos túbulos seminíferos, número de células de Sertoli
e Leydig, e produção espermática diária foram superiores
nos caprinos do G III quando comparados com os animais
do G I e G II. Com relação à ultraestrutura das células de
Sertoli, identificou-se que, independe do grupo de caprinos,
os processos emergentes dessas células são de dois tipos, em
forma de camadas e finas cordas. Os caprinos com escroto
bipartido apresentam maior potencial reprodutivo frente aos
caprinos sem bipartição escrotal, pois aspectos ligados à
histometria e morfometria testicular direcionam para maior
capacidade de produção espermática nesses animais.
Mulheres Escritoras
Autor: Saulo Cunha de Serpa Brandão
R$ 10,00
[email protected]
A obra “Mulheres Escritoras” transcrita de forma prática para a versão em DVD teve
início em 2001 e concluída em 2008. No início, a proposta era levantar a existência
de mulheres que escreviam em jornais na cidade de Teresina-PI na primeira metade
do século XX. Os pesquisadores e bolsistas desse trabalho, que virou livro, ousaram
e decidiram digitalizar todos os artigos de mulheres encontrados em jornais a partir de
1875 até 1926. A falta de qualidade dos jornais fez com que o grupo optasse por essa
publicação em meio digital. O projeto foi financiado por UFPI, FAPEPI e CNPq.
O Que é Computador
Autor: Agenor Martins
R$ 17,00
102 páginas
[email protected]
O computador está definitivamente integrado em nosso dia-a-dia. Empresas,
profissionais, estudantes e a população em geral, todos já se familiarizaram com o
uso e a manipulação dessa tecnologia. Mas, mesmo com a habilidade de manuseio e
o conhecimento da potencialidade destes recursos, pouca gente se atreve a responder
à pergunta: como funciona um computador? E é esta resposta que o autor, se propõe
a oferecer, numa linguagem acessível ao grande público e tecnicamente correta.
Jornalismo Cidadão
Informa ou deforma ?
Autora Maria das Graças Targino
R$ 30,00
250 páginas
[email protected]
A obra apresenta a trajetória da imprensa no Brasil, desde o jornalismo literário até
os dias atuais, com o webjornalismo e o jornalismo cidadão. Com base em textos
divulgados nas páginas do Centro de Mídia Independente Brasil (CMI Brasil) via
Internet, busca respostas para questões contemporâneas, como morte ou sobrevivência
do autor; o fim ou mutação do jornalismo; se a mídia convencional determina ou
não a agenda dos meios alternativos, ou se estes intervêm no jornalismo tradicional,
entre outros assuntos.

15
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
FOTO: ROBERTA ROCHA
Anabolizantes: risco à saúde na busca pelo físico perfeito
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas e o orientando Marcos Antônio Perreira
V
ários fatores têm levado
pessoas comuns a usarem o
esporte e os anabolizantes
como meros instrumentos para
crescerem e ganharem massa
muscular: pressões sociais e
psicológicas, por exemplo, busca
cada vez mais veloz pelo “corpo
perfeito”; desejo de ser aceito em
uma sociedade onde o corpo virou
mercadoria e sinal de status.
A prática esportiva em
nome do prazer e da saúde fica em
segundo plano. Atletas se dopam
por recordes, prêmios e medalhas e
nas academias a competição é por
um corpo idealizado, associado ao
sucesso.
Os esteróides vendidos nas
farmácias são moléculas sintetizadas
em laboratório derivadas do
hormônio testosterona, ou seja, têm a
estrutura química muito semelhante
à da testosterona, mas com algumas
modificações que implicam em
alterações nas respostas dessa
substância no corpo. Desse modo, os
anabolizantes sintéticos apresentam
maior efeito anabólico (responsável
pelo aumento da massa muscular)
e menor efeito androgênico
(responsável pelo desenvolvimento
dos caracteres sexuais masculinos,
como o engrossamento da voz e
o crescimento de pêlos na face),
quando comparados aos efeitos da
testosterona.
Os anabolizantes foram
criados visando ao tratamento de
doenças que apresentavam quadros
severos de catabolismo. Assim
como todos os medicamentos, estes
só devem ser utilizados através de
prescrição e acompanhamento
médico. Apesar disso, o uso
indiscriminado e acima das doses
terapêuticas
de
anabolizantes
foi relatado, inicialmente, por
atletas, buscando uma melhora do
desempenho, e, posteriormente, por
praticantes de atividades físicas,
principalmente
os
praticantes
de musculação, com o objetivo
de aumentar a massa muscular e
diminuir a quantidade de gordura
do corpo com menor esforço e no
menor tempo possível.
A maioria das academias
tem como atividade física principal
a musculação. De acordo com
o professor de Educação Física,
André Luis, que possui mais de 06
anos de experiência na área, existe,
por parte dos jovens, uma busca de
um crescimento muscular rápido, e
por isso há quem recorra a drogas
para um ganho de massa muscular
mais acelerado
Ele ressalta que sempre
esclarece os alunos mais jovens
sobre os esteróides, pois são
eles que mais procuram
pela substância, além de
confundirem anabolizantes
com os suplementos.
“Acredito que a maioria
procura por imaturidade
e por não terem a
consciência dos males
que os anabolizantes
causam e que podem
deixar
sequelas
irreversíveis
para
o resto da vida.
Condicionamento
físico e ganhos
estéticos sem esforço não existem e
para isso é necessário muito treino e
dedicação”, afirmou André Luis.
Existem os anabolizantes
orais e os injetáveis. Como todo
medicamento, principalmente os de
venda controlada, os anabolizantes
só devem ser utilizados quando
prescritos pelos médicos, não
devendo ultrapassar a dose máxima
recomendada. Entretanto, as doses
utilizadas pelos atletas podem
variar de 10 a 200 vezes superiores
às doses recomendadas com fins
terapêuticos. O uso de altas doses
de anabolizantes pode promover
desde simples efeitos colaterais até
doenças graves. Dependendo da
dosagem, do indivíduo e do tempo
de tratamento, as alterações podem
ser irreversíveis e afetar diferentes
tecidos.
Os “anabolizantes naturais”
também são conhecidos como
suplementos alimentares. São
compostos formados por diferentes
substâncias, como: aminoácidos,
vitaminas,
minerais,
creatina,
albumina, dentre outras, que são
vendidos sem o mínimo controle
nas farmácias e nas lojas de
produtos naturais. Essas substâncias
possuem estrutura química e
mecanismos de estimulação do
crescimento muscular diferentes
dos anabolizantes esteróides.
Do mesmo modo, não devem ser
ingeridas sem prescrição e
acompanhamento
de
um
nutricionista ou
de um médico,
porque seus efeitos
em altas doses e
por longos períodos
ainda não foram bem
definidos. Além disso,
alguns estudos mostraram
que muitos suplementos não
promovem benefícios ergogênicos
(aumento do desempenho físico)
nem anabólicos, é mais adequado
substituí-los simplesmente por uma
dieta balanceada. Tendo em vista os
prejuízos dos anabolizantes, existe o
Projeto de Lei do Senado nº 198, do
ano de 1995, “que proíbe o uso de
substâncias anabolizantes, naturais
ou artificiais, com a finalidade de
aumento de massa corporal em
animais de abate” devido ao risco
para a saúde humana.
O instrutor físico de uma
academia da cidade, Paulo Júnior
lembra que as pessoas sedentárias
devem começar aos poucos uma
atividade física, mas mantendo uma
sequência durante um grande tempo,
assim conseguirão bons resultados
e de forma saudável. Sem contar
que é necessária uma avaliação
médica e física para que a pessoa
possa ser encaminhada à atividade
adequada. O instrutor se posiciona
totalmente contra o uso de qualquer
tipo de anabolizantes e alerta: “Os
jovens de hoje em dia procuram
utilizar suplementos e anabolizantes
para obterem resultados em curto
prazo, mas o resultado traz muitos
malefícios à saúde como câncer,
infertilidade, calvície, impotência
sexual entre outros”, conclui.

16
TERESINA - PI, JUNHO DE 2009
Nova técnica para detecção de anabolizantes
E
FOTO: ROBERTA ROCHA
m tempos de Olimpíadas,
infelizmente, o doping é
quase tão falado quanto às
conquistas douradas dos atletas.
Visando a um melhor resultado,
é cada vez mais frequente o uso
de esteróides anabolizantes (EAs)
em academias por parte de atletas
para ganho de massa muscular
e desempenho e por não atletas
para aprimoramento da estética.
Entretanto, tais recomendações
são contraindicadas tendo em vista
seus efeitos colaterais, tais como:
atrofia testicular, impotência
sexual,
desenvolvimento
de
mamas em homens, virilização em
mulheres, aumento da incidência
de câncer, diabetes, pressão alta,
mortes súbitas e inúmeros outros.
Levando em conta esta
temática, o Professor Marcos
Antônio Pereira dos Santos,
doutorando da Rede Nordeste
em Biotecnologia (RENORBIO),
iniciou uma pesquisa que tem
como objetivo analisar com
exatidão o uso desses esteróides no
controle de dopagem no esporte.
Utilizará como base substâncias
em matrizes complexas e a técnica
da cromatografia bidimensional
tradicional e compreensiva, de
forma a aumentar a sensibilidade,
seletividade
e
abrangência
em termos de diversidade de
substâncias.
Para Marcos Antônio, a
técnica na qual ele propõe aumenta os EAs e apresente laudos. Através
a exatidão nas medições, pois para desta pesquisa, será possível criar
ele, “a técnica utilizada atualmente, um novo diagnóstico tendo como
a CG/C/EMRI, é limitada pela viés as ferramentas da biologia
contribuição da matriz à razão molecular e química analítica de
isotópica de substâncias de forma a padronizar a aplicabilidade
interesse (ou seja, são quase do uso dos esteróides anabolizantes
idênticas no comportamento para rastrear essas substâncias.
químico, mas diferem na massa
A inovação desta pesquisa
atômica ou número de massa demonstra que por meio da biologia
e assim se
molecular,
comportam
é
possível
No Brasil, há uma carência
diferentemente
detectar melhor
de pesquisas e de laboratórios
no espectrógrafo
o
esteróide,
para a realização de
de massa, nas
pois o atleta
exame antidoping.
transformações
que faz uso da
A nova técnica piauiense
radioativas e nas
substância em
pode criar um diagnóstico por
propriedades
treinamentos é
meio da biologia molecular e
físicas). Já a
capaz de alterar
da química analítica.
utilização
da
o desempenho.
cromatografia
Desta
forma,
g a s o s a
a
técnica
bidimensional com combustão desenvolvida, a partir da pesquisa,
acoplada à espectrometria de ajudará de maneira eficaz a
massas por razão isotópica (CG- impedir a adulteração ou tentativa
CG/C/EMRI), pode aumentar a de adulterar qualquer parte do
exatidão dessas medições. Essa controle de doping do atleta.
técnica tem um grande caráter
Portanto, Marcos Antônio
inovador no controle de dopagem ressalta que a aplicabilidade desta
no esporte que sofre com as pesquisa ocasionará um grande
limitações impostas pela técnica impacto na área de dopagem no
atual, a qual conduz a inúmeros esporte, pois será uma opção para as
falso-negativos”.
federações esportivas realizarem a
No país, são poucos os análise de doping, além de orientar
centros que desenvolvem pesquisa os profissionais da área de saúde,
com antidoping, além de haver atletas e áreas afins do desporto
uma carência de laboratórios para a preservação da integridade
credenciados que examine, detecte física e mental de nossos atletas e
praticantes de atividade física.
A pesquisa já foi iniciada
e está sendo desenvolvida
utilizando a infraestrutura física
do departamento de química
da UFPI. Serão analisados um
grupo de indivíduos que faz uso
de esteróides e outro que não faz
uso da substância, avaliando a
alteração da expressa genética
para se chegar à diferença entre
os grupos por meio de um
parâmetro molecular. Além disso,
com a técnica da cromatografia
bidimensional
tradicional
e
compreensiva
será
possível
verificar a quantidade utilizada pelo
atleta e se é um hormônio natural
ou artificial. “Será analisado a
expressão genética antes e depois
da substância aplicada, pois o
hormônio só irá expressar o gene
anabólico”, explicou Marcos.
Para o orientador de Marcos,
o professor Dr. José Arimatéia
Dantas Lopes, o estudo que vem
sendo realizado já se destaca
por si só porque são poucas as
pesquisas nesta área. “Através
desta pesquisa, o Estado do
Piauí se insere entre os grandes
centros e coloca o nosso grupo de
pesquisa entre os grupos de ponta
no Brasil”, ressaltou Arimatéia.
Marcos Antônio Pereira dos Santos
Doutorando da Renorbio
[email protected]

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