Anexo - Conselho Económico e Social
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Anexo - Conselho Económico e Social
ANEXO INTERVENÇÕES DO PRESIDENTE DO CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL REFERENTE AO PERÍODO DA XI LEGISLATURA José Albino da Silva Peneda Lisboa, Junho de 2011 ANEXO INTERVENÇÕES DO PRESIDENTE DO CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL INTERVENÇÕES INSTITUCIONAIS Por ocasião da tomada de posse, em 22 de Dezembro de 2009 Senhor Presidente da Assembleia da República, Senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares Senhora Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social Senhor Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor Senhoras e Senhores Deputados, Senhores Representantes das Confederações Patronais Senhores Representantes das Confederações Sindicais, Senhores Conselheiros, Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Na pessoa de Vossa Excelência, Senhor Presidente, expresso o reconhecimento pela confiança que a Assembleia da República depositou na minha pessoa para exercer as funções de Presidente do Conselho Económico e Social. Soc A Constituição da República atribui ao CES uma função consultiva e uma outra função de concertação social. A função consultiva do CES é vasta e pode concretizar-se concretizar se através da elaboração de Pareceres sobre os ante projectos das grandes opções e dos planos de desenvolvimento económico, antes de serem aprovados pelo Governo e sobre quaisquer matérias de políticas económicas e sociais. Ao Conselho Económico e Social também compete apreciar as posições do país nas instâncias europeias, bem como sobre a forma como estão a ser utilizados os fundos comunitários. Ao conselho compete ainda apreciar regularmente a evolução da situação económica. O CES, dada a sua composição, é um órgão que representa os diversos interesses da sociedade portuguesa e, se funcionar ionar de forma eficiente, pode constituir-se constituir se numa ajuda preciosa para os órgãos de soberania do país, dado que os Pareceres imanados não devem, em princípio, espelhar interesses específicos ou sectoriais, mas antes devem reflectir o compromisso dos múltiplos e variados interesses representados no conselho. É meu propósito promover e procurar criar todas as condições para que os representantes dos diversos interesses e sectores presentes no CES possam analisar, confrontar e discutir as suas posições sobre todos os assuntos relevantes, com vista a construir consensos tão alargados quanto possível. O Conselho Económico e Social foi criado em 1992. Já passaram mais de dezassete anos. 2 Atendendo à experiência acumulada e às grandes mudanças que durante este período aconteceram nos diversos aspectos da vida económica e social parece ser altura de se proceder a um exame sobre a composição omposição e o funcionamento do Conselho. C Pela minha parte irei i procurar que este exercício venha a ter lugar e, se assim for entendido, encaminharei para Vossa Excelência as propostas que o Plenário do Conselho onselho entenda submeter à Assembleia da República. A outra função importante do CES tem a ver com a concertação concertaç social. Aqui trata-se trata do dar corpo à promoção do diálogo social e da negociação entre governo, sindicatos e associações patronais, exercida com base em negociações tripartidas entre representantes daquelas entidades com vista à regulamentação das relações relações de trabalho e da definição das políticas de rendimentos e preços, de emprego, formação profissional e protecção social. Com esse objectivo a lei criou no seio do CES a Comissão Permanente de Concertação Social que é presidida pelo Primeiro-ministro ministro e que funciona com plena autonomia, pelo que as suas deliberações em matéria de concertação social não carecem da aprovação do Plenário do Conselho. No entanto e nos termos legais, o Presidente do CES pode participar e intervir nas reuniões da Comissão Permanente de Concertação Social. Sobre este ponto quero dar conta que é minha intenção ter uma participação activa nessas sessões, no sentido de procurar assumir um papel que designaria de agente facilitador na busca de compromissos entre Parceiros Sociais e governo. A minha experiência de vida vem consolidando, cada vez com maior convicção, que os exercícios na busca de compromissos encerram virtualidades que estão muito longe de ser aproveitadas. Esta minha convicção ão ganha ainda mais força face aos problemas que o país enfrenta nos nossos dias, cuja abordagem não é compatível, nem com métodos simplistas, nem pela acção de um único agente por mais poder com que se possa apresentar. A natureza e gravidade dos problemas problemas que o país enfrenta no nosso tempo requerem grandes esforços na busca de compromissos entre órgãos de soberania e Parceiros Sociais. Sociais Todavia, esses compromissos só poderão ser eficazes se estiverem imbuídos de um espírito em que a partilha de responsabilidades ilidades entre os diferentes protagonistas evidencie uma clara convergência em torno de objectivos que a sociedade possa entender. É neste contexto que o CES deve promover a sensibilização e a compreensão dos resultados das acções diálogo social, para melhorar melh o seu impacto e promover o seu desenvolvimento. Aqui tem, Senhor Presidente, uma outra linha de acção que procurarei privilegiar durante o mandato que agora começa. Para além da função consultiva e de concertação foi mais recentemente atribuída, ao Conselho C Económico e Social uma função de outra natureza que se relaciona com o regime jurídico da arbitragem obrigatória que passou a constituir-se constituir se numa das formas de resolução de conflitos colectivos em matéria de relações laborais. O regime jurídico definido definido desde então prevê o seu funcionamento no âmbito do Conselho Económico e Social em que o conflito é decidido por um tribunal arbitral constituído especificamente para cada caso concreto. Neste ponto, o papel do conselho tem a ver com a criação das condições condições e meios para que os colégios arbitrais emitam decisões cuja natureza, podemos dizer, se aproxima das tomadas por um tribunal de primeira instância. A experiência dos últimos três anos parece encorajadora atendendo que a grande maioria das decisões dos colégios arbitrais foram tomadas por unanimidade. Pela minha parte não deixarei de incentivar os participantes no processo de arbitragem para que a sua acção se venha a revelar com eficácia acrescida. 3 Senhor Presidente, Senhoras e Senhores, Como consequência da crise financeira, económica e social o desemprego aumenta, a desconfiança instala-se se e deparamo-nos deparamo nos com um clima de intranquilidade, que não pode ser ignorado. Nestas circunstâncias, em que o desemprego grassa, o pior de tudo não é a perda de rendimento dos cidadãos afectados e das suas famílias. Muito pior é o que está por trás dessa situação e que tem a ver com a perda de confiança em si próprio e nos outros. Para largos estratos da nossa sociedade, e não tenhamos medo das palavras, há medo, me medo do futuro. E, prova disso, é que já há muito que não assistimos a pedidos de mais direitos ou de mais regalias. Hoje, a preocupação das pessoas não é lutar por mais direitos, mas sim tentar manter, a todo o custo, pelo menos, a situação actual. Ora, a, os medos só se vencem se existir disponibilidade para mudar. Mas quando as pessoas estão intranquilas e receosas é muito difícil que possam aceitar qualquer tipo de mudança. Perante este quadro, os dirigentes políticos, Parceiros Sociais e demais instituições instituições têm de estar preparados para conviver em ambientes onde os níveis de confiança tenderão a ser baixos e, todos sabemos que, sem confiança, é muito difícil combater os medos. Este combate não é fácil e só poderá ser vencido através dum esforço colectivo, colectivo, que não dispensa a orientação e o enquadramento por parte dos que têm do exercício do poder político uma noção muito criteriosa de serviço público. Esse caminho será tanto mais fácil de percorrer, quanto maior for o nível de confiança mútua. Ora, os os níveis de confiança serão tanto mais elevados, quanto mais intensificado for o diálogo entre os poderes públicos e os Parceiros Sociais. Definitivamente, os níveis de confiança serão tanto mais elevados, quanto mais arreigada estiver no tecido social uma verdadeira cultura de compromisso. E, quanto mais intenso for o diálogo social que possa dar conteúdo a essa cultura, maior transparência existirá nas decisões relacionadas com processos de ajustamento ou de reestruturação. Todavia, penso que o diálogo social deve tentar evitar duas armadilhas: Em primeiro lugar não se deve limitar à negociação colectiva. Aqui o diálogo social deve procurar ampliar o leque de temas em discussão porque, quanto maior for o espectro de negociação, maior é a probabilidade de se encontrar plataformas de compromisso entre as partes. Em segundo lugar, o diálogo não deve separar as questões sociais das económicas. Para que essa tendência se reforce é necessário que o diálogo e a concertação social passem a funcionar segundo um processo contínuo que vá para além do curto prazo e de reuniões isoladas. É aí que reside a importância de ter um programa de trabalho conjunto com um calendário e prazos específicos e, por isso os Parceiros Sociais e os diferentes interesses que participam part no CES devem habituar-se se a trabalhar com programas plurianuais. Só por esta via é que se pode imprimir ao diálogo social uma direcção estratégica que seja sustentável a médio e longo prazo. Quanto mais forte e estruturado for o diálogo social, maior será o grau de complementaridade, partilha e convergência entre os múltiplos factores, agentes, políticas e acções. Senhor Presidente residente da Assembleia da República, Senhoras e Senhores Deputados, Senhoras e Senhores, Andaremos ndaremos por maus caminhos se as políticas sociais forem entendidas como uma espécie de vassoura que vem recolher os “cacos” que outras políticas provocaram. 4 As políticas sociais não podem ser a expressão do consolo mínimo para aqueles que foram vítimas de outras políticas ou de outras decisões. decisões Quanto mais forte e estruturado for o diálogo social, mais facilmente as políticas sociais andarão, não a reboque, mas a par com as outras políticas, sejam elas económicas, sociais, culturais, ambientais ou europeias. Seguindo esta via o desenvolvimento poderá ter sentido. O CES pode desempenhar um papel incentivador nesse domínio e, pela minha parte, não deixarei de o promover sempre com a ideia de fomentar uma cultura de compromisso. osse dos membros do CES, 26 de Abril de 2010 Por ocasião da tomada de posse Senhoras e Senhores Conselheiros, A todos os Senhores Conselheiros hoje empossados quero desejar as maiores felicidades no mandato que agora iniciam e expressar a minha disponibilidade e a dos serviços serviços do Conselho para que o resultado do vosso trabalho venha a corresponder às expectativas das instituições que representam. Com este acto está quase a chegar ao fim o processo constitutivo do Conselho Económico e Social. Para a sua conclusão os Senhores hores Conselheiros agora empossados terão ainda de se pronunciar sobre três pontos. O primeiro, sobre as personalidades de reconhecido mérito a designar pelo Plenário para fazerem parte do Conselho. Enquanto Presidente do CES, mas igualmente como membro do d Plenário, é minha intenção propor à consideração dos Senhores Conselheiros as seguintes personalidades para integrarem o Conselho: Doutor Almeida Serra, Doutora Isabel Mota, Doutor João Salgueiro, Professor Doutor João Ferreira do Amaral, Doutor Nuno Vitorino Vitorino e Doutor Vítor Ramalho. Outro ponto a discutir na próxima sessão do Plenário tem a ver com a designação dos membros da mesa que dirigirá os trabalhos do Conselho. Finalmente, o Conselho terá ainda de decidir sobre a composição das duas Comissões que q a lei define como especializadas e permanentes: a Comissão de Política Económica e Social e a Comissão de Desenvolvimento Regional e de Ordenamento do Território. Estas deliberações deverão ser tomadas na Sessão Plenária do Conselho que terá lugar no próximo dia 7 de Maio, na sala do Senado da Assembleia da República. Esta cerimónia já vai longa e por isso não quero tecer muito mais considerações sobre o CES e seu funcionamento. Fá-lo-ei, ei, seguramente, noutras oportunidades. Gostaria apenas de fazer referências a duas prioridades que tenciono desenvolver com o vosso apoio. A primeira tem a ver com a revisão da lei do CES. Conforme é do conhecimento de todos a Lei nº 108/91, já foi objecto de várias alterações avulsas que versaram apenas sobre a composição compo do Conselho e da Comissão Permanente de Concertação Social. Volvidos que são quase vinte anos sobre a publicação de tal diploma e outra legislação complementar estamos na altura de reflectir sobre o quadro legal em vigor, tendo em conta que as mutações mutações no tecido social, entretanto ocorridas nas últimas duas décadas, foram muito profundas. 5 A curta experiência que levo de funções veio reforçar esta ideia e, por isso e pela minha parte, já dei início ao processo que tem como objectivo rever o enquadramento enquadramento legal em vigor. Nesse sentido, designei a Senhora Doutora Maria José Policarpo, consultora do meu gabinete, para coordenar os trabalhos e já solicitei a cada uma das instituições representadas no Conselho para fazerem o favor de designar um representante representante para se iniciar o exercício que consiste em identificar os pontos que possam carecer de revisão e o sentido da mesma. Com base neste trabalho, e numa segunda fase, procurarei desenvolver um processo de negociação com todas as instituições representadas das no Conselho com o objectivo de se vir a atingir o mais elevado grau de consenso possível na proposta final a submeter à apreciação da Assembleia da República. Uma outra prioridade tem a ver com possíveis Pareceres de iniciativa que terei oportunidade de propor em devido tempo ao Conselho. De acordo com a lei, para que o Conselho possa emitir Pareceres de sua própria iniciativa, terá de haver uma proposta aprovada por uma maioria de 2/3 dos membros do Conselho. Deste modo, as propostas de Parecer de iniciativa terão de se debruçar sobre matérias suficientemente abrangentes para que possa merecer o interesse da grande maioria das instituições aqui representadas. Também penso que nesses Pareceres não deve presidir a tentação de procurar efeitos imediatistas, imediatistas, mas antes reflectir e propor políticas e acções cuja aplicação temporal ultrapassa os períodos normais de uma legislatura. Um dos Pareceres que tenciono propor à consideração dos Senhores Conselheiros tem a ver com questões relacionadas com a competitividade competitividade das cidades e com o ordenamento do território. Ao fim e ao cabo trata-se se de estudar e propor medidas de política e instrumentos que, de forma sustentada e coerente, possam apontar para um menor desperdício na ocupação do espaço territorial, com aumento da qualidade de vida e possibilitando o acesso aos gestores dos centros urbanos, à escala respectiva, de instrumentos que permitam tornar esses centros mais competitivos, em termos de atracção de actividades e eventos que se reflictam de forma positiva posi nas suas realidades económicas, sociais e culturais. O outro Parecer que também espero que possa ir por diante tem a ver com a forma como o país vai lidar nas próximas décadas com os aspectos de natureza social que nos vão ser impostos, quanto mais não ão seja pelas tendências demográficas. Para termos uma ideia da grande transformação que irá ocorrer basta referir que a percentagem de pessoas com mais de 65 anos, sobre a população entre os 15 e 64 anos, vai passar dos actuais 25% para atingir, em 2050, 58%. Mais do dobro do que é hoje! Uma sociedade com uma estrutura etária em que o peso da população idosa será muito elevado será uma sociedade muito diferente daquela que hoje conhecemos. Esta evolução demográfica vai provocar alterações substanciais em muitos m aspectos, incluindo a concepção de políticas públicas, nomeadamente as que se referem às políticas fiscais, da segurança social, de imigração, do ordenamento do território, do ambiente, da educação, da cultura, das relações laborais, da família, dos tempos livres e do lazer. Como consequência da evolução demográfica sabemos que, no futuro, os problemas vão ser mais complexos, vão exigir metodologias de abordagem cada vez mais eficazes e sofisticadas, formas de coordenação de saberes diferenciados, melhor hor articulação entre entidades públicas, autarquias locais e sociedade civil e, para todo este acrescento de canseiras, é certo que vai haver menos dinheiro. A questão é a de saber como é que o país se vai organizar para dar resposta cabal a este tipo de problemas. Qual o papel do Estado, do sector privado, das Autarquias e do chamado terceiro sector nesta evolução? Também, e tal como no caso da proposta de Parecer que anteriormente referi, trata-se trata de procurar identificar todo um conjunto de recomendações, recomendações, seja de medidas de política ou de instrumentos, que possam enformar um pensamento coerente que seja útil à acção dos detentores do poder político. 6 Senhoras e Senhores Conselheiros, Sei bem que estamos num tempo em que os credores podem começar a bater bat à nossa porta e perguntar como é que o país vai pagar o que deve. Mas também devemos saber que esta situação não pode limitar a nossa capacidade de pensar colectivamente nas situações para as quais temos de encontrar respostas viáveis. Pela minha partee é meu desejo que o Conselho Económico e Social venha a contribuir para a descoberta dessas respostas, na base do desenvolvimento de uma cultura de compromisso entre as entidades aqui representadas pelos Senhores Conselheiros que agora acabam de iniciar funções. Por ocasião da apresentação presentação do Parecer sobre o Orçamento do Estado para 2011 na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República,, 12 de Novembro de 2010 Mais uma vez chamo a atenção para o curto espaço de tempo que o CES teve para produzir este Parecer. No CES estão representadas cerca de 30 organizações que tiveram apenas numa semana para estudar a Proposta de Orçamento de Estado, participar nas reuniões reuniões de trabalho com vista à sua análise e fazer aprovar em sessão plenária o documento que os Senhores Deputados já conhecem. Com o tempo que é dado para a elaboração deste tipo de Pareceres queria que os senhores deputados tomem consciência que se inviabiliza inviabiliza uma consulta adequada às entidades associadas nas instituições que fazem parte do Conselho Económico e Social. De qualquer modo o CES apresenta um Parecer que classifico de grande qualidade, que foi aprovado por todos os seus membros, com excepção dos representantes do Governo que se abstiveram na votação final. Para isso muito contribuiu o trabalho desempenhado pelo Relator do Parecer, aqui presente o Senhor Professor João Ferreira do Amaral. No entender do CES continuam a não ser visíveis nesta Proposta Proposta quaisquer melhorias significativas no processo de preparação do Orçamento. O CES fez um exame a Pareceres elaborados em anos transactos relativos à mesma matéria e constatou que relativamente a boa parte das conclusões se o seu conteúdo tivesse sido ouvido o a situação das finanças públicas não tinha chegado ao ponto em que se encontram. Por isso fizemos incluir como anexo ao presente Parecer alguns dos parágrafos que fazem parte de Pareceres anteriores. A título de exemplo, permito--me recordar quatro deles. 1. A evolução das exportações é crucial não só para alimentar a expansão do produto nacional. Mas também para moderar o processo de rápida subida do endividamento perante o exterior, pelo qual o nosso país tem estado a passar desde há vários anos. A persistir, persistir, essa subida pode vir a criar ameaças sérias ao crescimento futuro da economia nacional, não obstante as facilidades acrescidas de financiamento externo criadas pela entrada de Portugal na Zona Euro. (GOP-2000, (GOP pág.12). 7 2. O Estado tem vindo a criar iar uma dívida pública paralela. Trata-se Trata se de compromissos contratuais e financeiros do Estado que não são contabilizados como dívida pública e vão produzir encargos em futuros Orçamentos de Estado, como leasings, scuts, project finance, etc. Evitando agravar agrav o défice, o Governo coloca as “parcerias público/privadas”, concessionárias de auto-estradas, auto por exemplo, a contratar empréstimos para a construção e manutenção de estradas (…) (GOP-2002, (GOP pág.87). 3. Do lado da despesa tem sido evidente a tendência para o seu crescimento pouco controlado em Portugal (…) (GOP-2002, 2002, pág. 78). 4. O CES mostra grande preocupação pelo facto de, sendo Portugal o país da União Europeia onde se registam maiores desigualdades na distribuição do rendimento (10% dos mais ricos possuem 27,7% do rendimento gerado), não se vislumbrar (…) qualquer vontade política de alterar esta situação. (GOP-2003, 2003, pág. 89). Também queria expressar a ideia de que os processos que vêm sendo utilizados na preparação do Orçamento de Estado se encontram encontram desajustados em relação às necessidades actuais das finanças públicas e que se traduzem, em particular numa insuficiente avaliação da verdadeira utilização das despesas públicas previstas. Pelo contrário, existem indícios claros de alguma precipitação e menor reflexão na elaboração de diversos elementos constituintes da Proposta, o que parece apontar para uma consciencialização tardia das reais dificuldades da situação financeira portuguesa. Outra grande preocupação que o CES quer expressar tem a ver com com a deterioração que vem ocorrendo ao nível da máquina administrativa do Estado e dos perniciosos efeitos que daí decorrem sobre a gestão pública e privada. Na Proposta de OE não se vislumbram medidas que garantam uma melhor e mais eficiente gestão da Administração Administração Pública, sendo esta uma questão estratégica para o País. A evolução da última década veio revelar uma incapacidade de melhorar a gestão do aparelho do Estado, demonstrando que a implementação de medidas avulsas e cortes transversais e indiscriminados nados de despesa têm pouco ou nenhum efeito. De facto, não só não se conseguiu garantir uma efectiva poupança e o combate ao desperdício, como assistimos mesmo à degradação da qualidade de alguns serviços públicos. Quanto ao cenário macroeconómico para 2011 2011 ele não parece muito plausível. Há alguma dose de optimismo não suficientemente justificado nos valores apresentados para o crescimento das exportações e do aumento do PIB. O crescimento do emprego também parece que vai ser maior do que o previsto na Proposta oposta do Orçamento. A inflação parece subavaliada face ao aumento do IVA. E a previsão das receitas está também subavaliada. A opinião do CES é que é grande a possibilidade de vir a haver uma recessão económica em 2011. Isso justifica que as autoridades devam estar preparadas para a tomada de medidas correctoras se se verificar, ao longo do próximo ano, uma quebra significativa da produção e um aumento rápido do desemprego. Nesta proposta de Orçamento não transparece de forma clara nem uma dimensão económica, econ nem uma dimensão social, notando-se notando se a falta de medidas inovadoras que, mesmo sem aumentar a despesa ou reduzir a receita pública, pudessem dar corpo a uma estratégia de crescimento económico e emprego e de reequilíbrio das contas com o exterior. Existe iste um conjunto de actividades económicas de grande relevância para o País, quer em termos de exportações, quer de emprego e que actualmente atravessam momentos difíceis. 8 O CES entende que tais actividades deveriam merecer especial atenção por parte das políticas públicas e sugere que o Governo desenvolva negociações com os Parceiros Sociais no sentido de avaliar a possibilidade de redução da Taxa Social Única (TSU) a cargo da entidade empregadora, substituindo-se se essa receita por via do IVA social. A descida da TSU naquelas actividades exportadoras, de trabalho intensivo e de baixos salários deveria ser equacionada tendo presente os efectivos impactes económicos – situação económica e competitividade externa das empresas – e pelos seus impactes sociais, iais, nomeadamente em termos de emprego e de melhoria de baixos salários, tendo especialmente presente a Retribuição Mínima Nacional Garantida. A perda de receita do Estado poderia ser compensada por outras medidas de natureza fiscal e de combate à economia economia informal. A oportunidade para uma tomada de decisão deste tipo dificilmente se poderá repetir, dado o elevado valor que as taxas do IVA vão atingir (23% para a taxa normal). Há da nossa parte uma grande preocupação com o congelamento de todas as pensões, pensões mesmo as pensões sociais. Essa orientação revela uma forte insensibilidade social e é um desrespeito por acordos tripartidos celebrados em sede de concertação social, designadamente o Acordo sobre a Reforma da Segurança Social, que consensualizou regras automáticas de actualização de pensões. Acresce que tal decisão mina a confiança dos Parceiros Sociais e dificulta o desenvolvimento de uma cultura de compromisso, aspecto essencial para ultrapassar a crise. O CES entende que se poderia ir mais longe no combate ao desperdício, designadamente: - Através da renegociação das parcerias público-privadas, público privadas, assegurando a compatibilização da defesa do interesse público com a iniciativa privada, através de uma adequada repartição do risco; - Na moralização da vida pública, a todos os níveis, eliminando abusos existentes e comportamentos de esbanjamento e apropriação privada indevida ou injustificada dos recursos públicos, promovendo auditorias das despesas do Estado para assegurar maior transparência e eficiência cia na afectação de meios e maior rigor na fixação de objectivos, estratégias e recursos e capacidades a utilizar. - Na racionalização da aquisição de bens e serviços por parte das entidades da Administração Central, Regional e Local e do Sector Empresarial Empresarial do Estado (reduzindo substancialmente os encargos ou mesmo eliminando muitos deles, como os decorrentes de avenças e contratos, consultorias e pareceres, mudança precoce de frotas, etc.); - E ainda, na utilização do rigor e de regras de transparência transparência na gestão de recursos públicos, materiais e humanos, promovendo a defesa do interesse geral em prejuízo dos interesses privados que se apropriam e crescem à sombra da usurpação dos bens e serviços públicos. O CES considera positiva a criação de um imposto imposto sobre a actividade bancária mas não compreende porque é que não está previsto um valor de cobrança de receitas referentes a este imposto já em 2011. Torna-se se imperioso reestruturar o sistema financeiro tornando-o tornando o mais transparente e ao serviço da economia mia real. Há que penalizar a especulação e favorecer o investimento produtivo, o que significa que, numa época de escassez de crédito, os recursos financeiros têm de estar mais ao serviço de quem cria emprego e riqueza. Aqueles que especulam financeiramente financeirament têm de ser penalizados, aqueles que criam riqueza e emprego têm de ser apoiados. 9 Sobre os paraísos fiscais, o CES, tal como já disse no Parecer sobre o OE 2010, recomenda que as autoridades portuguesas colaborem em eventuais acções internacionais, com vista à sua eliminação ou controlo. O CES recomenda a publicação de uma lista exaustiva de perdões fiscais concedidos, com explicação da decisão e devendo ser apreciada pelo Tribunal de Contas. A transferência de Fundos de Pensões privados para o Estado Estado deveria ser feita num quadro de completa neutralidade, evitando-se evitando se a transferência de fundos subdotados comparativamente às suas responsabilidades. O CES Constata a fraca execução do QREN (17%) e do PRODER (26%) valores que deveriam ser muito superiores e andar na casa dos 35% e de 50%, respectivamente. O CES considera também que, a forma como a União Europeia inverteu as suas prioridades orçamentais desde Março do corrente ano, impondo objectivos de consolidação orçamental exagerados, não serão ão exequíveis sem consequências muito negativas quer sobre o projecto de integração europeia quer sobre a economia e a sociedade dos países mais débeis, deverá ser tido em conta pelo Governo para fundamentar as posições portuguesas nas negociações europeias europeia futuras neste e noutros domínios relevantes dos negócios comunitários. Dada a importância de garantir a sustentabilidade das finanças públicas no médio e longo prazo, o CES regista e aguarda a concretização da proposta de revisão à Lei do Enquadramento Orçamental, contida no Relatório do Orçamento do Estado para 2011, e manifesta, desde já, a sua disponibilidade para dar o seu parecer sobre a mesma. Por ocasião de um seminário com o título “A “ emancipação mancipação jovem: enquadramento sociosocio económico”, organizado o na Assembleia da República, 28 de Março de 2011 O tema deste colóquio fala da emancipação jovem. Por emancipação jovem entendo o momento em que se dá o “corte do cordão umbilical” no qual os jovens deixam de estar dependentes em termos económicos dos pais. pais. Este é um momento que só pode ser possível quando os jovens podem ter acesso a habitação própria e a emprego, pressupostos decisivos para a concretização das suas ambições. A emancipação jovem permite o acesso à plena cidadania política e social e, nesse n sentido, tratase de algo essencial à afirmação de um direito inalienável nas sociedades democráticas: a liberdade. Contudo, é indiscutível que a idade da emancipação tem vindo a aumentar, fenómeno que está relacionado com vários aspectos, nomeadamente nomeadamente com as dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, que veremos mais à frente, o que por sua vez leva ao prolongamento artificial e, por vezes, forçado na educação e ao adiamento da constituição de uma família. E este último aspecto tem um enorme impacto impacto na desfavorável evolução demográfica do nosso país. Durante esta crise, os jovens sofreram desproporcionadamente com a destruição de postos de trabalho. No terceiro trimestre de 2010, a taxa de desemprego média da OCDE entre os jovens era de 18,5%, um m recorde dos últimos 25 anos, e que significa quase mais 4 milhões de jovens no desemprego comparativamente a 2007. Nalguns países o desemprego entre os jovens chega a ser duas a três vezes superior ao dos adultos. Em França e Itália há um jovem desempregado desempreg em cada quatro jovens activos e em Espanha 40% dos jovens está no desemprego. 10 Por outro lado, muitos dos jovens empregados têm contratos a termo e são os primeiros a ser dispensados em situações de crise (cerca de 35% dos trabalhadores jovens na OCDE tinham contratos temporários em 2008) e muitas vezes parte deles não se qualifica para a recepção do subsídio de desemprego o que torna a sua situação ainda mais preocupante. Em Portugal, a maioria dos dois milhões de trabalhadores precários têm menos de 30 anos. Para além disso, os jovens menos qualificados tendem a trabalhar em sectores como a construção que foi dos fortemente afectados pela crise. Em 2010 nos países da OCDE, a proporção de jovens entre 15 e 24 anos que não estavam integrados nem no o sistema de educação, nem em formação nem no mercado de trabalho era de 12,5% (em 2008 era de 10,8%). Isto representa 17 milhões de jovens, 10 milhões dos quais eram inactivos e não estavam a estudar e cerca de 7 milhões estavam desempregados. onte adianta que as taxas de desemprego entre os jovens na Europa devem manter-se manter A mesma fonte acima dos 21% em 2011 e nos 20% em 2012, o que é superior à média da OCDE. No contexto de crise actual, uma proporção significativa e crescente da juventude, incluindo mesmo aqueles que, em tempos de crescimento económico, teriam sido bem sucedidos arrisca-se arrisca a entrar num desemprego prolongado com consequências negativas a longo-prazo, longo tanto a nível social como económico, deixando uma cicatriz marcante no seu percurso profissional, profiss nas suas qualificações, no seu rendimento e na sua auto-estima. auto estima. De facto, a experiência inicial no mercado de trabalho tem uma profunda influência no resto da vida activa de qualquer pessoa. A OCDE estima que a persistência da dificuldade em encontrar encontrar trabalho, que muitos jovens enfrentarão com maior agravamento nos próximos anos, acarreta riscos em termos de diferencial do seu salário, face aos seus comparáveis, que pode chegar aos 8%. A mesma fonte acrescenta que estes jovens podem não conseguir recuperar este diferencial durante um período de 20 anos. Mesmo antes da crise, na maioria dos países, apenas uma fracção da juventude conseguia entrar rapidamente para o mercado de trabalho depois de deixar o ensino. Nos países da OCDE cerca de 30% a 40% dos jovens que deixaram a escola estão em risco de passarem por uma transição tortuosa e longa da escola para o trabalho, em especial dois grupos: - O primeiro grupo inclui jovens sem diploma escolar provenientes de minorias ou que vivem em regiões desfavorecidas, sfavorecidas, rurais ou remotas. - O segundo grupo é constituído por jovens qualificados mas que enfrentam obstáculos significativos na procura de um emprego estável e vão passando por empregos temporários e desemprego mesmo durante períodos de forte crescimento cresc económico. A intervenção precoce é fundamental para ajudar jovens em risco e deve começar na educação pré-escolar escolar seguida de um apoio contínuo durante a escolaridade obrigatória com vista a incentivá-los los a obter um diploma do secundário. Esta qualificação é considerada como o requisito mínimo para se poder ter sucesso na procura e manutenção de um emprego, bem como para a continuação da formação dentro e fora do mercado de trabalho. Desejavelmente, um trabalho temporário deveria ser um trampolim trampolim para um emprego mais estável e não um beco sem saída para os jovens trabalhadores, mas a experiência mostra que as coisas não se passam assim, especialmente nos países do sul da Europa em que a segmentação do mercado de trabalho é perpetuada através de de um enquadramento regulamentar muito rigoroso no que diz respeito aos contratos sem termo. 11 A crise evidenciou que um dos problemas estruturais no mercado de trabalho dos jovens se relaciona com o facto de muitos deixarem o sistema educativo sem um diploma dipl reconhecido ou sem qualificações que vão de encontro às necessidades do mercado mercado de trabalho. É essencial que seja dada uma segunda oportunidade a estes jovens que abandonam precocemente o ensino através de uma formação no âmbito das novas tecnologias de de informação já que um regresso à escola pode revelar-se se contraproducente e as estratégias de ensino e formação fora da sala de aula combinadas com experiência de trabalho são provavelmente a melhor opção. Os subsídios estatais podem, temporariamente, incentivar os empregadores a contratarem jovens com poucas qualificações mas estes têm de ser muito bem direccionados, e com prioridade para as PMEs e para estágios formativos, pois caso contrário os contribuintes contribuintes estarão a subsidiar contratações que poderiam ter ocorrido mesmo sem subsídios. A transição da escola para o trabalho é mais difícil em países como o nosso cujo modelo de emancipação é "da escola para o trabalho". Esta transição é mais fácil em países onde a combinação do estudo com o trabalho é frequente. O desemprego entre os jovens, mesmo durante períodos de conjuntura favorável, está solidamente ligado a baixos níveis de educação. A facilitação de uma bem sucedida transição da escola para o trabalho trabalho e a melhoria das perspectivas profissionais são mais urgentes do que nunca já que corremos o risco de, no contexto da crise actual, haver uma geração perdida. Neste âmbito, as políticas devem procurar seis objectivos essenciais: i) Minimizar o abandono escolar; ii) Promover a combinação do estudo com o trabalho; iii) Garantir uma segunda oportunidade aos jovens para a obtenção de uma qualificação reconhecida; iv) Disponibilizar programas de assistência na procura de emprego (a título de exemplo, em 2009 o Japão duplicou o número de técnicos de assistência à procura de trabalho direccionados para os jovens diplomados do ensino secundário/universidade); v) Poderá também haver lugar a extensões temporárias das redes de protecção social vitais para prevenir enir a pobreza entre os jovens desempregados; vi) A promoção de estágios formativos bem como de formação profissional parecem também ser caminhos eficazes (contudo, mesmo em países onde este tipo de programas está bem enraizado e tinha sido bem sucedido, como a Áustria, Alemanha e Suíça, o desemprego jovem subiu consideravelmente no contexto da crise). Muitos governos têm apostado em programas de emprego para jovens. No entanto, no contexto económico actual e das crescentes pressões orçamentais, é essencial o envolvimento de todas as partes nomeadamente dos Parceiros Sociais, dos professores e dos pais e, naturalmente, da própria juventude na definição e execução das políticas públicas que abordam estas questões. A este respeito quero saudar os Parceiros Sociais Sociais pelo empenho e responsabilidade que demonstraram nas negociações que levaram ao acordo, aprovado em sede de concertação social, no passado dia 22 de Março. O texto deste acordo é muito abrangente. Aborda a competitividade, a redução do desemprego, o reforço das políticas activas de emprego e a melhoria do funcionamento do mercado do trabalho e, para cada um deles, estão elencadas medidas concretas, com prazos bem definidos. 12 No texto do acordo estão incluídas medidas da maior importância, que têm a ver com a melhoria da qualidade e eficiência dos serviços públicos de emprego; com a contratação e transição de jovens e de desempregados para o mercado de trabalho; com a aposta nas nas qualificações; e, com a promoção do empreendedorismo e da criação do próprio emprego. Sobre políticas activas de emprego e especialmente as que têm como alvo os mais jovens, o texto do acordo dificilmente poderia ser mais claro e exaustivo. Minhas Senhoras e Meus Senhores, Sem um clima generalizado de confiança é muito difícil que haja investimento em volume e qualidade que permita a criação de novos empregos. E para que haja investimento é preciso que surjam muitas e novas ideias porque tenhamos a noção de que uma só ideia não chega para mudar o país. A criação de novas ideias vive da colaboração saudável e sem temor no tecido social, outra maneira de afirmar a necessidade da confiança. Não será possível criar empregos sem a mobilização de muitas e diferentes ideias e será da interacção entre elas que as coisas poderão melhorar. Por isso é que o meu primeiro pensamento quando sou confrontado sobre o tema da criação de emprego é a necessidade de levar a cabo um processo sério de diálogo estruturado na nossa sociedade, nomeadamente entre as autoridades públicas e os Parceiros Sociais. Esta minha ideia não se baseia apenas em justificações de conjuntura. Explico. Podemos estar perante políticas públicas concebidas de modo excepcional por um conjunto nto de gurus de grande craveira intelectual. Para que essas políticas venham a ter sucesso é preciso, em primeiro lugar, que a opinião pública as aceite. Este é o trabalho dos políticos. Em muitas circunstâncias terão de anunciar e convencer a opinião pública pública de situações e medidas pouco simpáticas e explicar porque é que são necessárias. Essa é uma tarefa que só está ao alcance de quem está disposto a assumir riscos em nome de uma geração e não de uma ocasião. Mas isso pode não ser suficiente para o êxito êxito das políticas. Ainda falta toda a fase da sua concretização no terreno e é aqui que formas de diálogo estruturado podem ser de extrema utilidade. Por ocasião do Seminário sobre “O Futuro dos Serviços Sociais de Interesse Geral e os Desafios nas Convenções ções Colectivas na União Europeia”, Europeia organizado conjuntamente pelo CES e pelo Parlamento Europeu Sala do Senado da Assembleia da República, 1 de Abril de 2011 O seminário de hoje foca dois temas que, na minha opinião, reflectem uma das maiores tensões actuais tuais no seio da União Europeia e que se relaciona com a dualidade entre a integração dos mercados e os objectivos sociais da União. Estas tensões resultam da evolução legislativa na União, já que o Tratado de Lisboa introduziu formalmente o objectivo de alcançar uma “economia social de mercado altamente competitiva”, mas reflectem, sobretudo, o impacto da crise económica e das enormes pressões orçamentais vividas em vários Estados-Membros, Membros, nomeadamente Portugal. Nesta minha primeira intervenção farei uma curta introdução relativamente a ambos os temas e gostaria de começar pelo “Futuro dos Serviços Sociais de Interesse Geral”. 13 Os “Serviços Sociais de Interesse Geral” abarcam designadamente os serviços e cuidados de saúde, assistência social, formação profissional e serviços de emprego, habitação social, escolaridade obrigatória e infantários. Trata-se Trata se assim de serviços universais, directamente prestados ao cidadão, que desempenham um papel preventivo com vista à inclusão e coesão social e concretizam alguns lguns dos mais importantes direitos sociais fundamentais dos cidadãos. Em jeito de resenha do que a nível europeu se passou de mais relevante neste âmbito, nos últimos anos, quero destacar o amplo debate político que se tem vindo a gerar desde 2003, altura altur 1 em que se começou a preparar a “Directiva Europeia dos Serviços” . Depois de alguma controvérsia, esta directiva acabou por excluir os serviços sociais e económicos2 de interesse geral, não tendo estes ficado sujeitos à legislação europeia de concorrência. Em 2007, o então eurodeputado e meu colega e amigo Hasse Ferreira, que muito nos honra hoje com a sua presença, redigiu, no Parlamento Europeu, o relatório acerca dos “Serviços Sociais de Interesse Geral”, que mereceu um amplo consenso entre os parlamentares europeus. Desde esse ano, contudo, tiveram lugar na Europa e em Portugal grandes mudanças com impactos dramáticos nas nossas populações. As pressões orçamentaiss geradas pela crise económica europeia, agravada no nosso país por uma gravíssima crise de dívida soberana, estão a gerar uma grande tensão relativamente ao financiamento dos “Serviços Sociais de Interesse Geral”. Por outro lado, os elevados níveis de desemprego desemprego e de pobreza que se vivem um pouco por toda a Europa, sendo mais graves nuns países do que noutros, levaram ao aumento da procura por estes serviços. Isto gerou pressões adicionais sobre o Modelo Social Europeu, para além daquelas que já existiam e que se relacionavam sobretudo com a evolução demográfica. Foi neste contexto que, no início de Março deste ano3, o eurodeputado Proinsias De Rossa, apresentou o seu projecto de relatório sobre “O Futuro dos Serviços Sociais de Interesse Geral” que se espera pera seja aprovado em Plenário do Parlamento Europeu, no próximo mês de Junho. Uma palavra especial que quero deixar registada ao Deputado Proinsas De Rossa, que infelizmente não pode estar aqui hoje connosco e que comigo foi co-relator co relator do relatório sobre o Modelo Social Europeu, aprovado em 2007, em que se apontam algumas linhas sobre a necessidade da revisão desse modelo, adaptando-o adaptando o às realidades do tempo que vivemos mas nunca abdicando dos valores que estão na sua génese. Senhora Presidente, Senhores Deputados, Caros Amigos, Este é o momento para insistir naquilo que o Parlamento Europeu decidiu em Setembro de 2006. Há que repensar o Modelo Social Europeu preservando incondicionalmente os valores que estão na sua génese e salvando-o o de danos irreparáveis. 1 Antes dee ser denominada “Directiva dos Serviços” este acto legislativo foi conhecido como “Directiva Bolkestein”, nome do Comissário de então responsável pelo Mercado Interno. O Sr. Frederik Bolkestein é afecto ao partido liberal holandês que faz parte da família política dos liberais europeus, ALDE. 2 Os serviços de interesse geral económicos incluem os serviços de energia, comunicações, postais, transportes etc. 3 O prazo para propostas de alteração pelos restantes eurodeputados terminou no passado dia 23 de Março de 2011. 14 No relatório sobre o Modelo Social Europeu, no que respeita aos Serviços de Interesse Geral (SIG) e Serviços de Interesse Económico Geral (SIEG) ficou expresso o seguinte: “Os SIG e os SIEG constituem uma componente essencial do Modelo Social Europeu e são fundamentais para o acesso universal aos cuidados e saúde, à educação, aos transportes públicos e ao abastecimento de água e de energia; considera-se considera se essencial que, na reforma ref dos sistemas sociais da União Europeia, os SIG e os SIEG sejam respeitados, atendendo ao papel fundamental que desempenham não só no que respeita à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, mas também, a maximizar a eficiência das empresas e o seu acesso a a uma mão-de de-obra de qualidade”. O potencial político do Tratado de Lisboa e a actual situação de emergência nacional, e diria até que Europeia, podem ser utilizados da melhor forma com vista à renovação dos ”Serviços Sociais de Interesse Geral” quee são um pilar crucial do nosso Modelo Social. E é também fundamental repensar o modelo do seu financiamento e reorganização com vista à sua sustentabilidade, qualidade e acesso universal. A contribuição a nível económico e de criação de emprego dos serviços serviços de interesse geral não é de todo de menosprezar. Há estudos4 que estimam que este sector representa 26% (2.412 mil milhões de euros) do PIB da União Europeia e emprega 64 milhões de pessoas, um terço das quais nos serviços sociais e de saúde. Recordo que ue nos Estados Unidos, o sector que mais cria emprego, a seguir ao sector da segurança é o sector ligado aos serviços sociais de interesse geral. Quanto a ideias para o financiamento do nosso Modelo Social elas existem. Destaco uma dessas ideias, protagonizada protag pela ilustre Presidente da Comissão do Emprego e Assuntos Sociais do Parlamento Europeu, Madame Pervenche Berès, que temos a honra de ter hoje aqui connosco. Madame Berès afirma, num relatório do Parlamento Europeu, de que é autora, que um imposto europeu não superior a 0,5% sobre as transacções financeiras, permitiria angariar 200 mil milhões de euros anuais. Há ainda outros aspectos que merecem reflexão urgente e que se prendem com a necessidade de segurança jurídica relativamente ao enquadramento regulamentar aplicável a estes serviços bem como aos limites legais para a sua abertura à concorrência. As autoridades públicas que se dedicam à prestação dos “Serviços Sociais de Interesse Geral” necessitam de uma base legal gal clara sendo que, neste momento, o Tribunal de Justiça se depara com a tarefa de dirimir litígios caso a caso. De facto, continua a ser tema de debate actual a exacta interacção entre as normas da União Europeia relativamente a estes Serviços bem como a margem de manobra das autoridades nacionais e locais. Se por um lado, o Tratado de Lisboa5 reconhece os “Serviços de Interesse Económico Geral” como parte intrínseca do Modelo Social Europeu, por outro, o mesmo Tratado, afirma que devem ser respeitadas as competências dos Estados-Membros Membros para prestar e financiar estes serviços. 4 CEEP: Mapping of the Public services [Levantamento dos serviços http://www.ceep.eu/images/stories/pdf/Mapping/CEEP_mapping%20experts%20report.pdf http://www.ceep.eu/images/stories/pdf/Mapping/CEEP_mapping%20experts%20repo 5 TFUE, artigo 14. públicos]: 15 Adicionalmente, o protocolo6 anexo ao Tratado, enuncia a elevada qualidade, segurança, acessibilidade de preços, igualdade de tratamento e acesso universal relativamente a estes Serviços e a Carta dos Direitos Fundamentais7, que tem a mesma força jurídica dos Tratados, reconhece o direito de acesso a serviços sociais. Outra questão que suscita preocupação relaciona-se relaciona se com a aplicação dos encargos administrativos em matéria de de contratação pública no âmbito da União a associações de voluntariado e da economia social, com poucos recursos ou estruturas de gestão, e que prestam estes Serviços. O desafio que temos pela frente consiste em definir um enquadramento seguro mas flexível flexív para os “Serviços Sociais de Interesse Geral” de forma a assegurar que os objectivos sociais da União são suportados e não impedidos por regras estritas que devem enfocar outros sectores. Relativamente ao segundo tema que se prende com os “Desafios nas Convenções Colectivas na União Europeia” gostaria de dizer o seguinte: As decisões do Tribunal de Justiça Europeu relativamente aos casos “Laval”, “Viking”, “Rüffert” e “Luxemburgo” trouxeram à luz linhas de divisão, que alguns consideram fracturantes, entre e o mercado único e a dimensão social da União. Numa União Europeia, cujas diferenças nas condições sociais e de emprego são marcantes, é legítimo o receio de que, na inexistência de um equilíbrio claro entre liberdade de prestação de serviços e direitos os fundamentais dos trabalhadores, nomeadamente o direito à greve, estes últimos possam estar comprometidos. De facto, o actual enquadramento regulamentar relativo ao destacamento de trabalhadores para outro Estado-Membro Estado Membro enfrenta vários constrangimentos que ue ganham ainda mais relevo nestas condições. O que está em causa é como compatibilizar o direito de acção colectiva dos trabalhadores no mercado único com as liberdades económicas. A clarificação deste equilíbrio ainda não existe no direito primário e, prova rova disso, é que os litígios que surgem no âmbito do destacamento de trabalhadores, nomeadamente a nível de salários e de condições de trabalho, continuam a ser decididos caso a caso pelo Tribunal de Justiça. Trata-se se contudo de um exercício delicado no qual têm de ser contrabalançadas as diferentes posições dos Parceiros Sociais. Tal como disse no início da minha intervenção, o Tratado de Lisboa determina expressamente que a “economia social de mercado” é um objectivo da União e torna a Carta dos Direitos Direi Fundamentais vinculativa. No seu relatório de Maio de 2010, intitulado “Nova Estratégia para o Mercado Único”, o ex comissário Mário Monti, recomendava uma abordagem que garantisse que os sindicatos e os trabalhadores possam defender os seus interesses interesses e protejam os seus direitos de exercer uma acção colectiva sem serem indevidamente limitados pelas regras do mercado único, mas também sem que estas acções possam prejudicar o seu bom funcionamento. Uma via possível para a clarificação do actual enquadramento enquadramento regulamentar poderá incluir a facilitação do acesso à informação sobre direitos e obrigações, tanto de trabalhadores como das empresas, e o reforço da cooperação entre as administrações nacionais com vista à repressão de incumprimentos. 6 7 Protocolo nº 26. Artigo 34. 16 Mas é óbvio io que há posições divergentes quanto ao caminho a tomar: a Comissão Europeia e os representantes empresariais não julgam ser necessária uma revisão do actual enquadramento regulamentar e os sindicatos têm uma posição contrária reivindicando uma revisão urgente. ur Na perspectiva dos representantes dos trabalhadores a nível europeu, em particular a ETUC, as quatro liberdades do mercado único devem ser implementadas no enquadramento dos direitos fundamentais entre os quais o direito à negociação colectiva inclui inclui necessariamente o direito à greve. Por outro lado, os representantes empresariais, nomeadamente a Businesseurope, sugerem que seja alcançado um equilíbrio entre a liberdade de prestação de serviços, a necessidade de garantia de concorrência leal e uma adequada protecção dos trabalhadores destacados. Segundo estes representantes, esta protecção pode incluir as regras básicas do país que recebe o trabalhador destacado, nomeadamente no que diz respeito a pagamento mínimo ao trabalhador, sem a imposição de todo o enquadramento regulamentar desse país. Antes de terminar não quero deixar de me referir à situação do meu país. Portugal vive um momento muito difícil e não se pode dissociar o problema da economia portuguesa sem atender ao facto de estarmos inseridos dos no espaço do euro. Apesar de reconhecer o caminho que, durante o último ano, foi percorrido pelas instâncias europeias, no sentido de reformar mecanismos de supervisão, de coordenação económica e de prevenção para situações de crise, continuo a pensar pensar que os problemas de fundo continuam por resolver. Desde há muito que tenho a opinião que não é possível manter por muito tempo a moeda única num espaço geográfico onde não haja coesão económica. A busca dessa coesão não pode assentar quase exclusivamente exclusivamente nas políticas orçamentais. Por exemplo, é fundamental que haja a possibilidade de avançar com políticas anti-cíclicas, anti ou que contenham elementos de discriminação positiva, especialmente em países que sofrem de recessão económica. Como também se torna imprescindível a existência de uma única entidade emitente de dívida pública para toda a zona euro, de modo a que o valor das taxas de juro a pagar seja o mesmo para todo esse espaço. Como ainda se torna necessário um verdadeiro orçamento europeu que, de facto, não existe. Eu sei que este tipo de reformas tem grandes implicações institucionais na organização da Zona Euro e terá de passar por soluções de natureza mais federalista, mas essa evolução não será mais do que a consequência lógica da criação da moeda moeda única. Mais cedo do que tarde a Europa terá de encarar esta realidade. Se a vontade política for a de segurar o euro, estas reformas são inevitáveis e teremos um caminho mais aberto para poder conciliar aquilo que hoje parece impossível, ou seja, consolidação lidação orçamental com crescimento económico. Espero que esta minha intervenção vos tenha agudizado o apetite para o debate que vamos ter oportunidade de travar durante esta manhã. 17 Breve ensaio sobre a evolução das políticas económicas, sociais e europeias em Portugal, distribuído ao Presidente do Comité Económico e Social Social Europe e aos Membros do CES, 4 de Fevereiro de 2011 “É necessária uma política de austeridade. Mas impõe-se impõe que essa política de austeridade não recaia, especialmente, sobre as classes trabalhadoras. É preciso que ela se integre numa política de relançamento da nossa economia. Sem isto não há austeridade que valha a pena”. Francisco Sá Carneiro, 3 de Março de 1976 A situação a que o País chegou pode ser ultrapassada. Para isso há que entender as suas origens e aprender com os erros do passado. Há que modificar políticas. Há que ser mais activo nos centros de decisão da União Europeia e da Zona Euro e aí procurar influenciar influenciar as linhas de orientação que mais interessam ao nosso futuro colectivo. Mas é preciso que esse caminho se faça sem a desvalorização do factor trabalho, sem a redução dos salários, e sem desmantelar o Estado Social. Com opções correctas, com disciplina, disciplina, com mais poupança das famílias e das empresas, com a eliminação do descontrolo orçamental e com investimento nos sítios certos Portugal pode vencer a crise. Este texto pretende ser um modesto contributo para a discussão sobre essa caminhada, na direcção ecção de maior crescimento económico e de mais equidade social. As crises passadas e esta têm uma coisa em comum, o excessivo endividamento do País que resultou da ideia segundo a qual o reforço do papel do Estado e a redistribuição do rendimento, através das políticas orçamentais e salariais, bastavam para garantir que todos vivessem melhor. Foi a consequência dessa ideia que levou à intervenção do FMI no nosso país em 1978 e 1983. A única novidade da crise actual é que Portugal pertence ao clube da moeda única e isso faz toda a diferença, especialmente no que tem a ver com as receitas a aplicar. A capacidade de manobra é hoje muito menor do que a que o país teve à disposição em 1978 e 1983. Quanto à crise actual há que desmistificar dois pontos. O primeiro primeiro é de que a crise actual tem apenas origem à escala planetária. Ora isso em grande parte não é verdade. Os aspectos que mais determinaram a situação a que o País chegou são de origem nacional e europeia. O segundo ponto é que tudo aconteceu de repente e a crise chegou sem aviso. Também este ponto não é verdadeiro. 1. A situação a que o País chegou não tem apenas origem planetária A nível nacional temos de reconhecer que se adoptaram políticas erradas em momentos decisivos. Na segunda metade da década de 1990 e nos primeiros anos de adesão de Portugal ao euro assistiu-se a um período de crescimento da economia associado a baixas taxas de juro e a um aumento do crédito. Esta situação levou a uma forte expansão do consumo e ao consequente agravamento do nível de endividamento das famílias. Perante a explosão do consumo, a política p orçamental dever-se-ia ia ter tornado mais restritiva mas, pelo contrário, Portugal adoptou uma política expansionista e o aumento do consumo teve de ser alimentado por importações que, assim, criaram desequilíbrios externos preocupantes. O país não foi oi capaz de implementar as reformas estruturais que fortalecessem a oferta nacional e, para agravar as consequências deste incumprimento, o fraco crescimento da produtividade provocou perdas de competitividade. 18 É verdade que no período antes de Portugal Portugal ter entrado no Euro verificou-se verificou um aumento da despesa pública mas que nesse tempo foi mais do que compensada pelo ritmo de crescimento da economia do país, enquanto na segunda metade da década de 90 as folgas já não tinham origem no crescimento da economia onomia mas na baixa da factura da despesa do Estado com juros, cuja taxa passou de cerca de 13% para 4%! 2. A situação a que o País chegou não pode ser considerada uma surpresa. Ao contrário do que muitos afirmam, a situação a que o País chegou não pode ser considerada uma surpresa. Para confirmar este facto basta ler os três exemplos de avisos feitos pelo Conselho Económico e Social respectivamente, em 2000, 2002 e 2007, que a seguir se transcrevem: “A evolução das exportações é crucial não só para alimentar alimentar a expansão do produto nacional. Mas também para moderar o processo de rápida subida do endividamento perante o exterior, pelo qual o nosso país tem estado a passar desde há vários anos. A persistir, essa subida pode vir a criar ameaças sérias ao crescimento crescimento futuro da economia nacional, não obstante as facilidades acrescidas de financiamento externo criadas pela entrada de Portugal na Zona Euro”. (Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2000, pág.12). “O processo de modernização não se tem feito nem ao ritmo ritmo nem com a profundidade que seriam desejáveis, sendo geralmente reconhecido que o ritmo de transformações estruturais da economia portuguesa na última década não foi adequado.” adequado.” (Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2002, pág.72). “O CES considera com grande preocupação (…) que o baixo crescimento económico é acompanhado pelo agravamento do défice externo para níveis que não podem ser considerados sustentáveis, dado o ritmo galopante de endividamento do país em relação ao exterior, que se verifica desde 1996”. (Parecer Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2007, pág.9). A crise actual só é diferente num ponto. Porque pertencemos à zona euro, não podemos utilizar o instrumento usado nas outras crises, a desvalorização da moeda, mas as causas causas são as mesmas: aumento da procura interna estimulado por gastos públicos, aumento excessivo do crédito às famílias e aumento do endividamento externo. As outras crises foram ultrapassadas com o uso da desvalorização da moeda, que conduziu à diminuição dos salários reais. Mas os programas de estabilização nunca resolveram o fundamental que seria o aumento do investimento produtivo com ganhos de produtividade. Devido à incerteza quanto ao acesso ao crédito, acrescida da instabilidade cambial e monetária, a especulação financeira tornou-se se mais interessante do que o investimento produtivo. 3. Uma Nova Orientação para a Política Económica e para a Criação de Emprego Os elevados níveis de emprego e, tanto quanto possível, sem uma natureza de grande precariedade, de, são a única receita para que seja garantida com segurança o bem-estar bem económico e o equilíbrio social, para além do Estado poder ter meios para assegurar as funções de protecção social nas vicissitudes adversas da vida: doença, desemprego, velhice, incapacidade incapacidade e morte. Por isso, só podemos falar em saída da crise quando o desemprego se reduzir de forma significativa. Há três caminhos que, por si só, não permitem essa redução. Em primeiro lugar, não é possível sair da crise na base de políticas que conduzem conduzem a uma forte redução da procura interna pensando que é por aí que se diminui as importações e, por essa via, se reduz o défice externo e se garante o financiamento da dívida externa. A seguir este caminho, que é o proposto pela Comissão Europeia e corresponde corresponde à receita normal do FMI, o efeito sobre o desemprego será brutal. 19 Há autores, como é o caso do Prof. João Ferreira do Amaral que afirma que “se a procura interna baixasse 1% nos próximos cinco anos a taxa de desemprego aumentaria no mínimo para 17% da população activa no final desses cinco anos … propor cortes adicionais e profundos da procura interna na actual situação é perfeitamente irresponsável.”. Também não será a via da redução dos salários que permitirá adquirir ganhos de competitividade competitiv da nossa economia. A ser prosseguido este caminho os efeitos na diminuição da procura interna far-se-iam iam também sentir, haveria um aumento de problemas para as famílias endividadas e poder-se-ia ia desenvolver um processo de deflação, o que seria devastador devastador para a economia. Na última década a evolução dos salários não foi o principal factor responsável pela perda de competitividade. Essa evolução tem sido moderada como se pode verificar pela grande estabilidade da proporção de rendimentos salariais relativamente relativamente ao PIB, que é idêntica à verificada na zona euro. E se o custo unitário do trabalho é mais elevado em Portugal não se deve à evolução salarial, mas sim ao elevado nível de desemprego. se de uma ideia sem sentido e que nem Quanto à eventual revisão da legislação laboral trata-se sequer é desejada pelos Parceiros Sociais. Em primeiro lugar, a actual legislação foi revista há pouco tempo, na base de um consenso alargado e ainda não foram retiradas todas as vantagens que a mesma encerra em termos de negociação colectiva ou ao nível de empresa. Em segundo lugar, trata-se se de matérias que, dada a sua natureza, não podem estar a ser permanentemente alteradas porque necessitam de tempo de aplicação de forma a criar jurisprudência. Em terceiro lugar, a actual legislação contém elementos de flexibilidade mais que suficientes para adaptar a organização do trabalho das empresas às suas necessidades e dos mercados. Em quarto lugar, a criação de emprego não se resolve por via legislativa. Em quinto lugar, ugar, a eventual discrepância entre trabalhadores contratados a termo e sem termo só se resolve se a economia crescer de forma significativa porque serão os próprios empresários a querer reter os trabalhadores nas suas empresas. A via que permite a saída da crise com criação de emprego terá de ser baseada numa nova orientação da política económica, cujo princípio essencial será procurar colocar o capital ao serviço de quem cria riqueza e emprego. Esta nova orientação significa apoiar a produção dos sectores transaccionáveis e obriga a uma rotura com a prática seguida nos últimos anos, que conduziu o país a um ritmo de desindustrialização que foi dos mais elevados do planeta. Por esta via será possível possí aumentar as exportações e diminuir as importações, com criação de emprego. Esta nova orientação teria de traduzir a ideia de que o reequilíbrio das finanças públicas e crescimento económico não podem ser vistos como objectivos incompatíveis. Nesse sentido, s a par de uma consolidação orçamental, que poderia ser mais justa do que a que está em marcha, teria de ser criada uma discriminação positiva destinada a apoiar a produção dos sectores transaccionáveis. Esta nova política económica permitiria conciliar conciliar três objectivos importantes de forma simultânea. Primeiro, conduziria à inversão no ritmo de acumulação da dívida externa; segundo, não fomentaria a procura interna; e, terceiro, seria fomentadora da criação de emprego. Dado que a desvalorização da moeda moeda é uma medida que não pode ser considerada face à existência do euro, outros instrumentos, medidas e acções que corporizariam esta nova política económica deveriam ser considerados, através de uma discriminação positiva a favor da produção de bens transaccionáveis. 20 Como exemplos desse tipo de medidas a encarar no contexto desta nova orientação da política económica, que descriminaria de forma positiva a produção de bens transaccionáveis, podem-se podem apontar a redução do IRC; a criação de incentivos fiscais fiscais e financeiros ao investimento; a criação de um sistema simplificado para os licenciamentos dessas actividades, incluindo o sector agrícola; a redução da taxa social única em função do valor acrescentado; a criação de um sistema especial de concessão dee crédito através de departamento próprio a criar na Caixa Geral de Depósitos poderiam ser medidas a considerar. Nesta nova política económica deveria merecer lugar de destaque o combate à economia clandestina. Segundo um estudo recentemente divulgado pela pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto o volume de transacções feito em economia paralela é de cerca de 40 mil milhões de euros, o que equivale a 24,5% do PIB. Se esse valor fosse taxado a uma taxa de 20%, o que corresponderia a 8 mil milhões de euros, significaria que o défice do Orçamento do Estado passaria a ser menos de 3% do PIB! Estes valores reflectem a dimensão do fenómeno e por pouco que se possa admitir fazer nesta área os resultados não poderão deixar de ser muito positivos. Perante oss níveis de desemprego que se verificam uma grande mobilização dos instrumentos que podem favorecer as políticas activas de emprego são indispensáveis. A monitorização permanente do mercado de emprego, a maior agilização dos serviços e a aplicação diferenciada diferenc de medidas de acordo com a realidade regional são alguns dos aspectos que podem também ser objecto de análise em sede de concertação social. 4. A Importância do Diálogo Estruturado A sociedade portuguesa é hoje muito diferente de outros tempos. Apresenta Apresenta-se com uma maior diversidade, uma maior mobilidade, é mais complexa e é mais fragmentada. Assistimos ao surgimento de novas formas de organização que exercem pressão sobre os governos para que os processos de elaboração de políticas sejam alargados a novos participantes. A resposta a esta tendência só pode ser dada na base de um diálogo estruturado. Outra característica dos tempos modernos é a crescente importância das interdependências sejam financeiras, económicas, entre mercados ou processos. Este elevado nível de interdependência entre tudo e todos faz com que os processos de decisão se tenham tornado mais complexos porque têm, cada vez mais, de ter em consideração diferentes tipos de interesses, por vezes mesmo antagónicos. Uma adequada percepção do risco associado à tomada de decisões exige que se conheça com detalhe as motivações dos agentes envolvidos e isso só se consegue na base de um diálogo estruturado. Este nosso tempo obriga os governos a acompanhar e a tentar perceber e antecipar os interesses dos grupos na sociedade. A atitude adaptativa, que consiste em reagir às situações apenas quando elas se transformam em problemas, tem como resultado respostas insuficientes e tardias porque no momento em que os governos reagem a um dado problema problema normalmente o leque de opções já é muito reduzido. Uma maior capacidade para prever as aspirações da sociedade obriga à adopção de estratégia pró-activas pró activas que comprometam poderes públicos e os diversos agentes económicos e sociais. E essa percepção só se consegue na base de um diálogo estruturado. Finalmente, é cada vez mais claro para todos que a observância dos valores associados à liberdade, democracia e direitos humanos não se esgota nos actos eleitorais. No nosso tempo, a via para a paz e prosperidade obriga ao permanente desenvolvimento de uma cultura de compromisso assente na responsabilidade de cada uma das partes. Estes são alguns dos argumentos, baseados nas características da sociedade do nosso tempo, que podem explicar as virtualidades do diálogo estruturado, que mobilize a cooperação entre e todos os agentes envolvidos na concepção e execução das políticas económicas e sociais. 21 Na situação de crise que vivemos esta convicção sai ainda mais reforçada porque a resolução dos problemas que temos pela frente não é compatível, nem com métodos simplistas, nem com o resultado da acção de um único agente, por maior que seja o poder com que se apresente. Por todas estas razões, a prática do diálogo estruturado é o método que deve ser privilegiado. Esta visão de modernidade obriga a um grande esforço esforço das diferentes forças políticas e agentes económicos e sociais para se habituarem a distinguir o importante do acessório nas suas actividades quotidianas. Esta será a única atitude capaz de contribuir para que se atinja o objectivo mais importante: pôr pôr a economia do país a crescer a um ritmo que permita reduzir de forma muito significativa o volume de desemprego. E é neste contexto que o papel dos partidos políticos no Parlamento e dos parceiros sócias em sede de concertação social são determinantes. Para que a acção dos Parceiros Sociais no complexo exercício de concertação social possa ser eficaz há que definir e aceitar um conjunto de pressupostos fundamentais, de forma que o país não embarque em eros cometidos no passado recente. o a retirar desse passado recente é que a época da experiência neo-liberal neo A primeira lição fracassou e a suposta auto regulação do mercado é apenas uma teoria sem qualquer aderência à realidade porque, simplesmente e como ficou recentemente demonstrado, o mercado não é capaz, paz, por si só, de se auto regular. Daí que a intervenção dos poderes públicos seja decisiva para ultrapassar a situação a que o país chegou. A segunda lição decorre do excessivo papel desempenhado pelo sector financeiro nos últimos tempos. Todo o sistema financeiro tem de ser reestruturado, tornando-o tornando o mais transparente e ao serviço da economia real. Há que penalizar a especulação e favorecer o investimento produtivo. Aqueles que especulam financeiramente têm de ser penalizados, aqueles que criam riqueza e emprego têm de ser apoiados. A terceira lição a retirar do passado é que a economia tem se ser permanentemente escrutinada, auditada e avaliada. Só assim poderá ser entendida pela generalidade dos cidadãos. A quarta lição é que os governos e também as forças de oposição, especialmente as que se perfilam como alternativa, têm de banir dos seus discursos a utopia e as promessas de que tudo vai melhorar. Tais práticas apenas levam à desilusão e roubam a esperança em dias melhores porque já ninguém acredita dita nelas, nem em quem as profere. Só a verdade e a realidade é que podem oferecer esperança. As pessoas aceitam mais o concreto da evolução das suas vidas de que a apresentação de dossiers, por mais optimistas que sejam pintados. A quinta lição é que os compromissos e acordos celebrados entre Estado e outros parceiros não podem ser violados por qualquer das partes subscritoras. Por exemplo, um episódio que não podia acontecer, mas que aconteceu recentemente, foi a violação do acordo de concertação social no que se refere às pensões de reforma porque uma das partes, de forma unilateral e sem qualquer explicação, decidiu não cumprir o que estava acordado. Este tipo de atitudes tem necessariamente consequências negativas porque mina a confiança das partes envolvidas. en 5. Uma Política Europeia Mais Activa As questões europeias são infelizmente pouco debatidas no nosso país quando é certo que são as opções tomadas a nível europeu que cada vez mais condicionam o nosso futuro colectivo. Por isso vale a pena analisar o passado recente da zona euro, os previsíveis previsíveis cenários de evolução e qual a orientação estratégica que mais convém ao nosso País. 22 À escala europeia verificaram-se verificaram se erros de previsão, falhas de supervisão, ausência de mecanismos correctores e excessiva lentidão das instituições na resposta a situações situações de emergência. Estes factos também contribuíram para a situação a que o País chegou. A primeira década da existência do Euro foi bem sucedida. Foram onze os países fundadores da zona Euro, passaram depois a dezasseis e vários outros candidatos se perfilam. O Euro tornou-se tornou rapidamente uma moeda estável. É a segunda moeda de reserva do planeta. A moeda única permitiu garantir a estabilidade dos preços e, se não existisse, uma série de países que pertencem à zona Euro estariam a sofrer uma grave crise crise cambial. O Euro serviu, de facto, de excelente escudo protector, especialmente para os países mais vulneráveis, como é o caso de Portugal. O Euro nasceu ao contrário do estipulado na teoria da integração económica. A teoria diz que uma moeda única só surge urge depois da existência de um mercado único que, por sua vez, resulta da integração dos diferentes mercados dos Estados integrados. Segundo a teoria será este mercado que vai gerar uma moeda única, uma política fiscal mais federal, etc. Com o Euro não foi fo assim. O Euro surgiu sem mercado único. A verdade é que o mercado único europeu, embora seja muito falado não existe por completo. Por isso, o Euro, como muitos outros aspectos do projecto de integração europeia, é mais um caso único. Se os primeiros dez ez anos de vida do Euro apresentam inquestionáveis aspectos positivos há que olhar para a outra face da moeda e, a este respeito, a maior fragilidade associada ao Euro é que algumas das economias dos países da zona Euro não crescem, ou crescem muito pouco. E se essas economias não crescem não podem desempenhar bem o papel que se lhe exige nos tempos que correm, que é o de serem fortemente competitivas a nível planetário. Se a zona Euro perder influência em termos de competitividade face a outras regiões do planeta não valerá muito a pena continuar a falar dos valores notáveis e nobres que estão na essência do projecto europeu, da Europa social e de muitas boas intenções que tocam de perto todos aqueles que vêem no projecto de integração europeia a possibilidade possibilidade de tornar perenes práticas civilizacionais que atingiram o que de mais humano, livre e justo pode existir à face da Terra. Um eventual colapso do euro conduziria ao desmembramento de todo o projecto político da integração europeia, com consequências trágicas para todo o continente europeu e Portugal. Há duas causas principais que justificam o fraco crescimento económico da zona Euro. A primeira é o facto de existir uma moeda única mas não haver sistema económico europeu, nem sistema financeiro europeu, u, nem sequer uma adequada articulação entre os sistemas económicos e financeiros dos Estados Membros. Membro A segunda é que existe uma moeda única mas não há uma verdadeira política macroeconómica europeia. Quanto à primeira das causas, a inexistência ou fragilidade fragilidade de um sistema económico europeu a verdade é que cada país continua a defende os seus sectores estratégicos. O Reino Unido defende o sector financeiro, a Alemanha cuida da indústria de equipamento, que está a expandir para leste e a Escandinávia tentaa proteger o nicho de novas tecnologias. Não existe um sistema económico europeu. Existe uma clara falta de sinergia entre os sistemas económicos nacionais. Não temos empresas verdadeiramente europeias. Há empresas nacionais que se vão europeizando e globalizando. glo O mercado único, tal como evoluiu até agora, apresenta muitas vantagens. Desde logo, porque fez com que muitas empresas se tivessem tornado mais fortes porque beneficiaram de um mercado mais amplo, mais integrado e mais competitivo mas, em contrapartida, contrapartida, o mercado único não reforçou a especialização. Pelo contrário, reduziu-a, reduziu a, precisamente devido a uma grande competição dentro de cada sector. 23 Quanto ao sistema financeiro constata-se constata se que a União Europeia não tem capacidade para intervir. E não tem essa capacidade porque tudo o que é financeiro está segmentado pelos diferentes Estados-Membros. Membros. Para piorar a situação, a transparência nesses mercados mercados está muito longe do que seria desejável. Fica-se se com a ideia de que o Plano de Acção para os Serviços Financeiros criado em 1999, pelo Comissário Mário Monti, criar as condições para o surgimento de um verdadeiro e genuíno mercado europeu de serviços financeiros financeiros foi ficando pelo caminho. A integração financeira não está a acontecer só na UE. A tendência é a de acelerar o caminho para uma crescente globalização que vem sendo desenvolvida de forma desregulada. Esta desregulação tem de ser combatida de forma forma global e se a UE quer influenciar esse processo só o poderá fazer se tiver a sua própria casa arrumada e, nesse caso, poderá tornar-se tornar numa das forças dominantes. Apesar da evolução recente há que fazer um grande esforço para regular a supervisão financeira fin a nível europeu. Este é um dos casos onde os esforços feitos a nível exclusivamente nacional não fazem sentido. Este é claramente um ponto onde não pode haver lugar para meias tintas. Sem controlo das principais alavancas financeiras a nível europeu, europeu, nunca haverá política económica europeia, política industrial europeia, nem empresas europeias, nem muito menos mercado único europeu. A segunda causa que tem influenciado o fraco crescimento da Zona Euro tem a ver com o facto de existir uma moeda únicaa mas não haver uma verdadeira política macroeconómica europeia. Na zona Euro não há coerência entre política orçamental e monetária. A articulação entre políticas monetárias, orçamentais, fiscais e outras é muito débil. Na UE não existem políticas anti-cíclicas, anti cíclicas, o que manifestamente prejudica a inovação e o crescimento económico. O exemplo das PME onde as condições financeiras são decisivas, especialmente quando têm de pagar os empréstimos em tempo de fraca animação da actividade económica é um bom exemplo. lo. Para existir uma política macroeconómica europeia é necessário que exista um verdadeiro orçamento da União. Acontece que a contribuição máxima dos Estados-Membros Estados para o orçamento da União continua a ser de 1,24% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) desde as últimas duas décadas. Entretanto, e desde essa altura, a União ratificou três tratados, realizou três alargamentos e assumiu muito mais responsabilidades. Mas tão grave como a impossibilidade de com o orçamento actual existir uma política macroeconómica europeia é a questão do modelo de financiamento da EU. Actualmente, 85% dos recursos financeiros da União Europeia não são verdadeiros recursos próprios, pois têm origem nos orçamentos nacionais dos Estados-Membros. Estados Membros. As duas maiores fontes de receita, o IVA e as contribuições nacionais baseadas no RNB, são cobradas pelos Tesouros nacionais e são, por vezes, apresentadas como uma rubrica de despesa nos orçamentos nacionais. Desta forma, os Estados-Membros Membros tendem a julgar as políticas e iniciativas da UE mais mai em termos de retorno do investimento em comparação com as respectivas contribuições nacionais, em vez de analisarem essas despesas de um ponto de vista global atendendo ao valor das políticas levadas adas a cabo a nível europeu. Há assim que pensar num novo recurso próprio que tem que ultrapassar as desvantagens do actual sistema, em que há uma ausência de ligação mais directa com os cidadãos, uma grande dependência das contribuições vindas dos tesouros nacionais e uma complexidade injustificada. 24 rma do orçamento da UE não é matéria exclusiva do foro financeiro. Pelo contrário, é de A reforma largo alcance e é essencialmente política. Por isso, a sua discussão não pode ficar confinada exclusivamente ao Parlamento Europeu, ao Conselho e, muito menos, ao ECOFIN. ECOFI Uma das condições essenciais para o sucesso desta reforma tem a ver com o envolvimento dos actores e instituições políticas não só europeias, mas também nacionais, nomeadamente os parlamentos. O crescimento económico da Zona Euro não deverá ser muito elevado elevado nos tempos mais próximos, mas mais grave será o facto de alguns Estados Membro poderem viver anos de recessão, evidenciando um desequilíbrio regional dentro da Zona Euro. O resultado será o enfraquecimento das finanças públicas de alguns países. Com este pano de fundo podemos considerar vários cenários para a zona euro. No primeiro cenário, a dificuldade de financiamento enfrentada pelos países mais deficitários da zona obrigará à tomada de medidas drásticas, como seja os cortes nos gastos públicos públic e, ou, subidas de impostos. Este será o cenário que já está a ser vivido no nosso país e será ainda mais duramente sentido durante 2011. Este caminho encerra um perigo que é o grande risco do aprofundamento da recessão, o que em si mesmo pode impedir uma uma melhoria da situação fiscal. A perda de competitividade associada a um processo de recessão é um cocktail explosivo. É uma via que não conduz à esperança em dias melhores e pode gerar fenómenos de convulsão social incontroláveis. Um segundo cenário consiste nsiste em injectar dinheiro nos Estados-membros Estados membros mais vulneráveis da zona euro. Este cenário já aconteceu na Grécia e Irlanda e é acompanhado por condições restritivas à semelhança do que costuma fazer o FMI. O Fundo de Resgate no valor de 750 Mil Milhões dee euros, aprovado no Conselho Europeu é o instrumento orientado para acorrer a este tipo de situação. O que é certo é que tanto num caso como noutro estamos perante métodos de terapia curativa, sendo que, no caso do Fundo de Resgate, a Alemanha já avisou que este só pode ser utilizado em último caso, isto é, quando o doente já se encontrar em “como profundo”. O terceiro cenário conduziria à existência de um único emitente central para a emissão de divida pública, os chamados “euro bonds”. A dívida europeia europeia passaria a ter um único rating. Ainda que do ponto de vista da teoria económica este seja o cenário mais compatível com a sustentabilidade do euro a longo prazo, a sua concretização exigiria grandes mudanças políticas, desde logo uma integração política mais forte na zona euro, acompanhada de alguma forma de "federalismo fiscal. Este é o cenário que mais interessa a Portugal e chegou mesmo a ser proposto pelo Presidente do Euro Grupo, Jean Claude Juncker, juntamente com o Ministro italiano das Finanças, Giullio Tremonti, em vésperas do último Conselho Europeu. Perante a reacção negativa da Alemanha e a dura resposta do Presidente do Euro Grupo que acusou a Alemanha de comportamento antianti europeu estranha-se se a pouca visibilidade das posições, por exemplo, de Portugal e da Espanha nesta discussão. A criação dos “euro bonds” não pode ser interpretada como uma via facilitadora da vida dos incumpridores ou dos “povos malandros do Sul da Europa”. A criação dos “euro bonds” é a consequência lógica do processo político político que levou à criação do Euro. A criação dos “euro bonds” é um instrumento de carácter sistémico que vem dar corpo à ideia de que a crise da Zona Euro sendo uma crise sistémica só através de uma solução sistémica poderá ser resolvida. 25 A criação dos os “euro bonds” obriga a que os países da Zona Euro entrem por um caminho mais federalista no desenvolvimento do processo de construção europeia, mas as alternativas, perante os eventuais fortes desequilíbrios económicos e sociais que se podem vir a verificar, verifi são de muita precariedade e de muita insegurança sobre o futuro. Por vezes há a sensação que já foi esquecida a razão principal da criação do projecto europeu e convém relembrar que o maior objectivo desse projecto foi a criação de condições para a existência da paz num continente cuja história está cheia de conflitos e lutas fratricidas entre os povos da Europa e nunca perante um inimigo exterior. O processo de evolução da Zona Euro assemelha-se assemelha se a uma travessia de um rio através de uma ponte muito debilitada. Até agora apenas se atravessou metade do rio. Ou se avança decididamente em direcção à outra margem ou a ponte cai. Estar parado no meio da ponte equivale a manter apenas a disciplina orçamental. A verdade é que a adopção de políticas orçamentais, ais, ainda que correctas, não chega para podermos chegar à outra margem. Para chegar à outra margem, há que estimular o investimento de longo prazo em domínios estratégicos e colocar o sistema financeiro alinhado com essas opções, através de decisões concertadas. Para chegar à outra margem, a União Europeia precisa de tomar opções estratégicas noutras áreas para poder competir no Mundo e Portugal tem de estar preparado para essa discussão, nomeadamente ao nível das políticas da energia que devem assegurar assegurar uma oferta segura e a preços competitivos; da indústria, através da especialização estratégica com empresas que apostem no seu crescimento potencial, para além da sua competitividade interna; da agricultura, como sector estratégico, em termos de segurança segurança alimentar e comércio mundial; e da regularização dos aspectos referentes a bens públicos, como seja a água, clima, saúde, alimentação, o que obrigará a reformar a Organização Mundial de Comércio. Para chegar à outra margem Portugal deverá desenvolver uma forte ofensiva diplomática, com apoio de aliados naturais para esta causa, no sentido de convencer as Instituições europeias e todos os Estados que pertencem à Zona Euro que têm de interiorizar que reequilíbrio das finanças públicas e crescimento económico não podem ser vistos como objectivos incompatíveis. Para isso deveria ser possível montar um sistema de discriminação positiva para as regiões europeias mais desprotegidas. INTERVENÇÕES FEITAS SOBRE O TEMA DO DIÁLOGO E CONCERTAÇÃO SOCIAL As políticas sociais, Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Porto, 22 de Abril de 2010 Analisar qualquer aspecto da vida económica, política, social, ambiental ou cultural em Portugal só faz sentido se enquadrarmos o que se passa, a esse respeito, na vida da União Europeia. Assim, para falar das políticas sociais em Portugal é muito útil perceber a evolução da Europa nas últimas décadas. ecto político da União Europeia foi a paz e foi com os instrumentos da O grande objectivo do projecto guerra, o carvão e o aço, que se começou uma caminhada que chegou aos nossos dias. 26 O objectivo era construir a paz mas com valores associados à prosperidade, liberdade, democracia, respeito pelos direitos humanos e pelo Estado de direito, igualdade de todos perante a lei e solidariedade perante vicissitudes adversas da vida como o desemprego, a doença, a invalidez e a morte. Foram esses valores que estiveram na base dessa extraordinária extraordinária força que fez com que a União Europeia se tenha transformado num continente onde se desenvolveram processos, não só de integração económica, mas também de integração política e social, facto que não tem paralelo, nem noutra parte do Mundo, nem em qualquer qualquer outra época da história da humanidade. Foram ainda esses valores, que possibilitaram, mais recentemente, a livre integração no perímetro europeu de milhões de cidadãos, até há bem pouco tempo subjugados ao totalitarismo comunista. Poucos lugares no Mundo undo podem proporcionar ao ser humano retirar todas as consequências da sua condição de ser livre como acontece no espaço da União Europeia. Daí que direitos fundamentais e direitos sociais tenham um lugar central e possam ser considerados como uma das conquistas quistas mais avançadas desta caminhada. Mas o mundo mudou muito e de todos os factores de mudança, quero destacar dois que vieram afectar de modo muito sério o modelo social europeu: a evolução demográfica e a globalização. Vamos primeiro à demografia para par depois tratar da globalização. Quanto à evolução demográfica, Portugal envelhece e fá-lo fá lo a um ritmo superior à média europeia. Para termos uma ideia da grande transformação que irá ocorrer basta referir que a percentagem de pessoas com mais de 65 anos, sobre a população entre os 15 e 64 anos, vai passar dos actuais 25% para atingir, em 2050, 58,1%. Uma sociedade com uma estrutura etária em que o peso da população idosa será muito elevado será uma sociedade muito diferente daquela que hoje conhecemos. Portugal rtugal já deixou de ser, em larga medida, um país de emigração para ser mais um país de acolhimento e, perante a previsível evolução demográfica, o número dos que chegam vai aumentar de forma muito significativa, o que não deixará de colocar novos problemas problema em termos de inclusão social, especialmente à volta das grandes metrópoles. Esta evolução demográfica vai criar sérios problemas à sustentabilidade financeira do sistema de segurança social. A evolução demográfica vai provocar alterações substanciais em muitos aspectos, mesmo na concepção de políticas públicas, nomeadamente as que se referem às políticas fiscais, da segurança social, de imigração, do ordenamento do território, do ambiente, da educação, da cultura, das relações laborais, da família, dos tempos tempos livres e do lazer. Mas será nas questões associadas aos idosos e à integração dos imigrantes que se irão concentrar muitas das preocupações das políticas sociais do futuro. Daí que anteveja que o grande pilar de actuação para as políticas públicas, públicas no que respeita à inclusão social, se venha a focalizar nas questões ligadas ao acesso à educação, formação e emprego. Como consequência da evolução demográfica sabemos que, no futuro, os problemas vão ser mais complexos, vão exigir metodologias de abordagem abordagem cada vez mais sofisticadas, formas de coordenação de saberes diferenciados, melhor articulação entre entidades públicas, autarquias locais e sociedade civil e, para todo este acrescento de canseiras, é certo que vai haver menos dinheiro. Mesmo que venha nha a acontecer uma recuperação da economia, o que é difícil de prever e mais difícil de acontecer, basta atentar na evolução demográfica para todos perceberem que o País terá a maior das dificuldades em gerir recursos para cumprir as suas responsabilidades responsabilidade perante a população mais idosa. 27 A reforma da segurança social não é mais do que a expressão dessa realidade. Para já a sustentabilidade do sistema parece ter ficado assegurada da seguinte forma: o número de pensionistas vai aumentar, o bolo donde vão ser cortadas as fatias para os pensionistas não se tem a certeza se vai crescer logo as fatias do bolo a distribuir serão seguramente mais finas do que são hoje. Também por razões de economia de recursos mas não só, penso que faz todo o sentido que se venham ham a desenvolver políticas que valorizem a relação de proximidade e, nesse sentido, há todo um enorme caminho a desbravar no que respeita a uma mais eficaz cooperação entre Estado, Autarquias Locais e Instituições Particulares de Solidariedade Social. A tendência parece apontar para que o Estado, a nível central, se concentre no cumprimento das garantias individuais, passando para outros níveis da administração, que se encontram mais perto dos cidadãos, aquilo a que se convencionou designar de acção social. socia Durante as últimas décadas, as Autarquias Locais concentraram a sua acção, e de uma forma geral fizeram-no no bem, na construção de infra-estruturas infra estruturas de todo o tipo, com o objectivo de criar condições para o desenvolvimento das suas terras. Ao proceder a um exame sobre prioridades, seja em investimento, seja na acção quotidiana, a tendência parece apontar para que as questões relacionadas com as políticas sociais venham a ter uma acrescida importância na vida e acção das Autarquias Locais. Apesar de Portugal gal ser um país pequeno o facto de ser minhoto, beirão, alentejano, algarvio, açoriano ou madeirense continua a não ser apenas um mero acidente de nascimento, mas também uma forma própria de estar. E ainda bem que assim é. Por isso, pode fazer algum sentido que a abordagem de certos problemas sociais, incluindo as questões relacionadas com a inclusão social, se faça de acordo com os padrões culturais de cada comunidade, o que reforça ainda mais esta tendência para a proximidade. proximid Uma observação também sobre o papel do Estado. Tanto quanto é possível prever, a tendência aponta no sentido de uma contínua intervenção dos poderes públicos na definição e execução das políticas sociais. Continuo a pensar que, no que respeita às políticas políticas sociais, a presença do Estado continuará a ser determinante, muito embora admita que pode vir a ser desenvolvida na base de estilos de intervenção com características diferentes das actuais, por exemplo, que o Estado venha progressivamente a assumir assumir mais um papel de “Estado parceiro” do que o de “Estado patrão”. Também é verdade que esse papel poderá ser tanto mais relevante e eficaz quanto mais forte for a sociedade civil. Ora, a sociedade civil em Portugal é débil e, por isso maior importância se deve dar às Instituições Particulares de Solidariedade Social. O apoio do Estado a estas instituições tem de ser interpretado como um verdadeiro investimento na criação de redes de solidariedade que possam reforçar o papel das comunidades e das autoridades es locais nas políticas de inclusão social. Advogo assim que a existência de uma rede de solidariedade é um pressuposto para que o Estado possa vir a ser muito mais eficiente no que respeita às políticas sociais. O aumento dessa eficiência poderá tornar-se tornar e também em aumento de eficácia, se o Estado se concentrar naquelas funções onde deve ter a exclusividade, as funções normativas e de regulação. 28 A este respeito permito-me me citar de D. António Ferreira Gomes, antigo Bispo do Porto, que assim se exprimiu: “Tanto do Estado quanto seja necessário, tanto da liberdade cívico política quanto seja possível”. Olhemos agora para o outro factor que contribui para perturbar o equilíbrio do modelo social europeu, a globalização. A Europa, e também o nosso país, não têm têm convivido bem com a globalização. Perdemos competitividade durante toda uma década e essa evolução não pode deixar de ter consequências no domínio social, a começar pelo aumento do desemprego. Tomemos como exemplo a nossa região, o Norte de Portugal que, em muito pouco tempo, passou de uma das regiões mais industrializadas da Europa, para uma das mais pobres da mesma Europa. Só encontramos regiões mais pobres na Bulgária, Estónia, Lituânia, Letónia, Hungria, Polónia, Eslovénia e Roménia, ou seja no grupo grupo de países menos desenvolvidos da União mas que estão a crescer muito mais que nós e, por este andar, ultrapassar-nos-ão ultrapassar ão mais tarde ou mais cedo. É no Norte do país que a população recebe salários mais baixos e onde o desemprego tem maior expressão, a desconfiança instala-se instala e gera-se se um clima de intranquilidade e até de medo sobre o futuro. Prova disso é que já não assistimos há muito a manifestações a exigir mais regalias. As pessoas querem é manter o statu quo. quo Perante esta situação a União Europeia, Europeia, que há 10 anos atrás anunciava na Estratégia de Lisboa que ambicionava ser a região mais competitiva do mundo, lá vai reagindo como pode ao fenómeno da globalização, tenta adaptar-se, adaptar se, mas não dá mostras de controlar os aspectos mais decisivos do processo. Ora eu penso que a União Europeia não se pode limitar apenas a reagir perante o fenómeno da globalização. O que seria desejável é que, sem pôr em causa as vantagens do livre comércio mundial, este se fizesse de acordo com regras claras que todos cumprissem. Mas o que acontece é que alguns não cumprem, como é o caso da China. Temos de estar preparados para competir com quem produz na base de salários mais baixos mas nunca será possível competir com quem desvaloriza a moeda de forma artificial, não nã amortiza investimentos, não tem preocupações ambientais, nem sociais e de uma forma clara viola compromissos assumidos, como seja ultrapassar largamente as quotas de exportação para a União Europeia de produtos com origem chinesa. Ignorar isto é miopia política. A União Europeia poderá ser mais determinante, especialmente na forma como se posicionar face a questões decisivas que se irão desenvolver num quadro previsível onde Brasil, Rússia, Índia e China irão representar papéis fundamentais nos próximos anos. O conjunto destes países representará, nos próximos vinte anos, mais de metade da economia mundial. A paz social nesses países só poderá ser assegurada se as futuras potências mundiais dominantes puderem garantir o cumprimento dos direitos humanos humanos e o exercício das liberdades fundamentais, ao mesmo tempo que a integração dos mercados se for operando. Neste contexto, a Europa não pode apenas limitar-se limitar a assistir. Pelo contrário, deve assumir como uma das suas grandes prioridades a contribuição para para a busca de plataformas de equilíbrio social nas futuras grandes potências mundiais. Esta será porventura a tarefa mais nobre que a Europa pode desempenhar, porque é a que mais pode vir a contribuir para a paz no mundo e também a que melhor defende os nossos ssos interesses. 29 Se fiz esta digressão pelas políticas europeias é porque estou convicto que muitos dos nossos problemas dependem em larga medida das decisões que se tomam nas instâncias europeias. Independentemente do que temos que fazer internamente se, por exemplo, houvesse um maior controlo sobre as importações chinesas na Europa isso aliviaria muito as nossas dores. Uma maior exigência no cumprimento de regras que evitem certos tipos de dumping como o ambiental e social também aliviaria as nossas dores. d Mas poderia acrescentar mais. Por exemplo, uma reforma da política regional no sentido das verbas do FEDER serem afectadas não na base de critérios estáticos sobre o estado de desenvolvimento das regiões mas sim na base de critério dinâmicos. Significaria Signif esta alteração que, de acordo com o princípio da solidariedade, dever-se-ia dever ia privilegiar as regiões que durante vários anos têm vindo a baixar o seu produto por causa do fenómeno da globalização. Esse reforço de meios pode ser conseguido de várias formas, formas, um aumento absoluto e um aumento da majoração da comparticipação comunitária para os projectos a levar a cabo nessas regiões. Mas posso acrescentar mais algumas ideias sobre a necessidade de se insistir em reformas a nível da União Europeia que se forem forem levadas a cabo podem facilitar-nos facilitar a vida. O exemplo do Euro. Foram 10 Anos de sucesso de uma moeda estável que garantiu a estabilidade dos preços, passou a ser a segunda moeda de reserva do planeta e serviu de escudo protector para países como Portugal. Mas, na actual Zona Euro, por mais empenho que um país tenha não consegue atingir por si só resultados expressivos com políticas sociais, devido essencialmente a dois factores: fraco raco crescimento económico da maior parte dos países e mecanismos de articulação ticulação económica dispersos e confusos. O projecto europeu, e sobretudo o da zona Euro, parece estar assim a chegar ch a uma fase de maturidade e de toma de grandes decisões: - Ou os países pequenos e fragilizados, numa situação de incapacidade de saneamento de finanças públicas e de insolvência, deixam a moeda única o que arruinaria o projecto. - Ou passa a haver um único emitente central para a dívida pública que passaria a ser europeia e não nacional. Isto implicaria uma verdadeira coordenação de políticas orçamentais e logo uma integração política mais forte na Zona Euro, acompanhada de alguma forma de "federalismo fiscal". Esta segunda opção traria seguramente alguma perda de soberania orçamental mas parece-me parece a mais viável. ro deixar uma constatação que é a seguinte: enquanto a interdependência Para terminar quero económica é cada vez maior, a interdependência política ainda é muito frágil. Enquanto a interdependência económica não conhece barreiras, os Estados, que são supostos regular a economia, ia, continuam organizados como eram há 200 anos. Talvez seja este o maior dos desequilíbrios e o que representa a maior das dificuldades. A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO E DA CONCERTAÇÂO SOCIAL NESTE MOMENTO DE CRISE, publicado no Anuário dos Economistas, Economistas 2010 A minha experiência de vida faz-me faz me afirmar, cada vez com maior convicção, que os exercícios na busca de compromissos encerram virtualidades que estão muito longe de ser aproveitadas. 30 Esta minha convicção ganha ainda mais força face aos problemas que o país enfrenta nos nossos dias, cuja resolução não é compatível, nem com métodos simplistas, nem com o resultado da acção de um único agente, por mais poder com que se possa apresentar. De todos os problemas o mais sério é o alto nível de desemprego. E perante um cenário onde as medidas de consolidação orçamental porventura prolongar-se-ão prolongar ão no tempo mais do que seria desejável, é meu entendimento que dever-se-á dever á desde já, e apesar das condicionantes condi impostas pela consolidação orçamental, definir estratégias e caminhos com vista ao que é mais importante: promover o crescimento económico e a criação de emprego produtivo. Como pontos de agenda para a assumpção de possíveis compromissos entre os Parceiros Sociais, refiro preços e tarifas de alguns produtos com um grande impacte nos custos de produção das empresas como é o caso da energia, telecomunicações e água, algumas taxas municipais de valor injustificável, uma análise consistente dos projectos projectos estruturantes a serem financiados pelo sector público na próxima década, - nos aspectos que se relacionam com a criação de emprego e com o nível da incorporação de recursos, materiais e equipamentos de origem nacional - a dinamização de um programa dee combate à economia paralela, a exploração das potencialidades que podem resultar no que respeita à criação de emprego, por parte do chamado terceiro sector, ou economia social, no evitar as práticas abusivas da utilização do lay-off que deve ter como finalidade alidade a viabilidade das empresas e a salvaguarda e protecção do emprego. Não me parece nada aconselhável é promover a revisão do Código do Trabalho, mas antes explorar todas as possibilidades de enquadramento fornecidas por este, no que respeita ao desenvolvimento nvolvimento dos processos de contratação colectiva. As reformas da Zona Euro vão ter uma grande influência no nosso futuro colectivo. A criação de mais emprego também passa, em larga medida, por aí. Temos que reconhecer que os modelos de protecção social dos vários Estados-membros, Estados membros, designadamente o português, devem adaptar-se adaptar à nova realidade da Europa e do mundo. Mas, repensar o nosso modelo social não pode significar o desmantelamento dos valores em que ele assenta mas sim, se possível, reforçá-los reforçá e torná-los, na sua aplicação, económica e socialmente sustentáveis. Disso e de outras matérias tratou o Conselho Económico e Social no Parecer de iniciativa sobre o futuro da Zona Euro aprovado por uma larga maioria, na sessão plenária do dia 29 de Julho passado. passa A questão chave é saber se a Europa tem capacidade para gerir e controlar estas mudanças, e tal como ficou expresso naquele Parecer “assegurando assegurando o ordenamento positivo das actividades produtivas e do comércio no quadro da globalização, condição de sobrevivência sobrevivência do modelo social europeu e, ao mesmo tempo ser capaz de reconfigurar políticas e instituições de modo a evitar a deriva para a lógica do directório e o primado dos interesses nacionais mantendo, sem concessões, a exigência de conciliar o princípio princípio da liberdade da concorrência com o princípio da coesão económica e social”. Os Parceiros Sociais nacionais têm um conhecimento abrangente do tecido empresarial nacional e da realidade do nosso mercado de trabalho e, embora com interesses distintos, torna-se cada vez mais notório que enfrentam um desafio comum que, em síntese, pode ser definido do seguinte modo: contribuir para um processo de retoma económica sustentável, capaz de gear novos postos de trabalho, uma melhor qualificação dos nossos recursos recursos humanos e o aumento da competitividade da nossa economia. 31 Tenho vindo desde há muitos anos a lutar pelo fortalecimento do diálogo social porque acredito que este pode ser muito importante nomeadamente no que diz respeito a mais adaptabilidade dos trabalhadores rabalhadores através de um melhor equilíbrio entre flexibilidade e segurança, investimento em capital humano através de uma modernização do sistema educativo e de melhor acesso à formação ao longo da vida e maior incorporação no mercado de trabalho, sobretudo sobret dos grupos de pessoas mais vulneráveis como os jovens e as mulheres. Por outro lado, quanto mais intenso for o diálogo social maior será a transparência associada a decisões relacionadas com processos de ajustamento e de reestruturação. O diálogo social parece-me me também muito importante na resposta a desafios como a formação profissional, a organização do tempo de trabalho, a promoção da igualdade de oportunidades e o desenvolvimento de políticas de envelhecimento activo. Em relação a todas estas questões, os Parceiros Sociais estão em condições de mobilizarem uma vasta gama de instrumentos designadamente através de acordos estratégicos abrangentes bem como de Pareceres sobre temáticas relevantes, dos quais é exemplo o recente Parecer de iniciativa do Conselho Económico e Social sobre o “Futuro da Zona Euro”. Um aspecto importante que não posso deixar de referir é o facto de os acordos alcançados através do diálogo social terem em geral resultados mais eficazes e de maior compromisso já que conferem rem de alguma forma uma maior legitimidade às decisões e um sentimento de pertença que a legislação tradicional não consegue alcançar. O papel da concertação social em situações de crise económica: o caso português, Conferência dos TSD, Lisboa, 6 de Novembro de 2010 Começo por fazer uma declaração de interesse. Sou dos que acredita nas vantagens do diálogo e da concertação social. Estou convencido que as soluções geradas na base do compromisso são as que mais se coadunam com as características do nosso nos tempo. Explico porquê. As sociedades apresentam cada vez mais uma maior diversidade, uma maior mobilidade, são mais complexas e mais fragmentadas. Assistimos ao surgimento de formas de organização que exercem pressão sobre os governos para que os processos processos de elaboração de políticas sejam alargados a novos participantes. A resposta a esta tendência só pode ser dada na base de um diálogo estruturado. Outra característica dos tempos modernos é a crescente importância da interdependência. Interdependência financeira, interdependência económica, interdependência de mercados, interdependência de processos. Estes altos níveis de interdependência entre tudo e todos fez com que os processos de decisão se tenham tornado mais complexos porque têm, cada vez mais, de d ter em consideração diferentes tipos de interesses, às vezes mesmo antagónicos. Ora, uma adequada percepção do risco associado à tomada de decisões exige que se conheça com detalhe as motivações dos agentes envolvidos e isso só se consegue na base de um diálogo estruturado. Numa sociedade onde impera uma cultura de compromisso não há lugar para vencedores, nem vencidos. O vencedor é sempre o todo. Estes são alguns dos meus argumentos, baseados nas características da sociedade do nosso tempo, que explicam a minha convicção nas virtualidades do diálogo e da concertação. Acontece que no caso concreto do nosso país e na situação de crise que vivemos esta minha convicção sai ainda mais reforçada. 32 A resolução dos problemas que temos pela frente não é compatível, nem com métodos simplistas, nem com o resultado da acção de um único agente, por mais poder com que se possa apresentar. De todos os problemas o mais sério é o alto nível de desemprego e que gera perda de confiança em si próprio e nos outros. s. Quando as pessoas estão receosas é muito difícil que possam aceitar qualquer tipo de mudança. Perante este quadro, os dirigentes políticos, Parceiros Sociais e demais instituições têm de estar preparados para conviver em ambientes onde os níveis de confiança conf tenderão a ser baixos, e todos sabemos que sem confiança é muito difícil combater os medos. Este combate não é fácil e só poderá ser vencido através de um esforço colectivo. Esse caminho será tanto mais fácil de percorrer quanto maior for o nível de confiança mútua. Ora, parece-me parece claro que os níveis de confiança mútua serão tanto mais elevados quanto mais intensificado for o diálogo entre os poderes públicos e os Parceiros Sociais. Para não ficar a ideia que estou apenas a pairar sobre aspectos teóricos do diálogo e da concertação social apresento a título sugestivo uma possível agenda que não pretende esgotar todos os aspectos que poderão ser considerados. Como pano de fundo paraa o desenvolvimento de um diálogo estruturado ou do exercício da concertação social parece-me me importante que seja definido um quadro geral que por todos deve ser discutido e partilhado, sob pena de se vir a gerar apenas ruído, confusão e frustração. Para simplificação de análise consideremos dois sectores da economia. As chamadas “utilities” e o sector dos bens transaccionáveis. Durante os últimos anos as empresas do sector das “utilities” “ sempre puderam repercutir os custos nos preços do que foram produzindo produzindo sem grandes dificuldades, porque têm vivido num mercado protegido. O investimento aplicado nesses sectores, apesar da racionalidade e legitimidade por parte dos seus promotores, não deve corresponder, nas actuais circunstâncias do País, às prioridades da República. Pelo contrário, os sectores que produzem bens transaccionáveis, que tiveram que competir com o exterior e, por isso, não tiveram a mesma liberdade na fixação dos preços dos seus produtos, nem puderam beneficiar de medidas de política que foram adoptadas antes antes da entrada no Euro, como vinha acontecendo com a desvalorização da moeda, têm sido fortemente penalizados nos últimos anos. Nas actuais circunstâncias do País o interesse da República é dar toda a prioridade aos investimentos em bens transaccionáveis e essa deve ser a orientação geral da política económica do país. A sugestão da agenda que faço poderia ser focalizada em três eixos. Um primeiro eixo consistiria na definição de um programa focalizado nos factores mais decisivos com vista ao aumento daa competitividade. Elevar o nível de competitividade depende de muitas coisas. Depende seguramente de políticas públicas correctas, como por exemplo, de infra-estruturas, infra estruturas, duma administração pública transparente e eficiente, de políticas fiscais amigas do investimento, de leis laborais suficientemente flexíveis, de fontes de abastecimento de energia competitivas, de um sistema de educação e de formação profissional eficaz, de um sistema de justiça célere e credível, etc. 33 Também os aspectos ligados à qualidade, qualidade, inovação, educação, novas fontes de energia, ciência e tecnologia são essenciais para o aumento da competitividade. Mas, para efeitos do desenvolvimento do diálogo e da concertação, tentar alinhar as posições dos três factores mais decisivos para o aumento da competitividade é essencial. Refiro-me Refiro me ao trabalho, ao capital e à inovação. Se estes três factores – trabalho, capital e inovação – se organizarem em torno de objectivos claros, simples, e ambiciosos, o País pode ser fortemente competitivo. competitivo Os poderes públicos têm na sua mão a possibilidade de mobilizar estes três factores e dar-lhes dar condições para que possam desenvolver um exercício de compromisso, através da celebração de acordos de concertação que passariam por três fases. Em primeiro lugar, os poderes públicos teriam que mobilizar os sectores mais decisivos em termos de produção de bens transaccionáveis, para definir as taxas de crescimento nas quais estariam dispostos a apostar para os próximos cinco, ou dez anos, e quais as medidas de d políticas públicas que seriam necessárias para ajudar a atingir esse objectivo. Em segundo lugar, os poderes públicos teriam de conseguir a colaboração das Universidades, Centros de Investigação, Laboratórios e outras instituições para que a inovação possa desempenhar o seu papel, transformar o conhecimento em valor. A política de apoio poio do Estado a estas instituições deveria ser baseada no princípio de ser tanto mais elevada, quanto maior o seu grau de compromisso com os sectores em causa. Teria de existir um entendimento com os trabalhadores, onde ficariam definidas as condições de colaboração mútua em torno dos objectivos definidos. Caso se chegasse a um acordo estabelecerestabelecer se-ia ia um compromisso que responsabilizasse empresários, trabalhadores e os agentes que colaborariam nos processos de inovação. Os recursos financeiros existem e estão e disponíveis. Um segundo eixo da agenda teria a ver com a execução de um Programa de Combate à Economia Clandestina. De todos os lados chegam informações que a escalada dos valores associados à economia clandestina não para de aumentar, com manifesto prejuízo para as empresas e para os trabalhadores. Esta é uma matéria que, se bem abordada, pode trazer enormes vantagens para a economia do País. O terceiro eixo consistiria na análise dos projectos públicos estruturantes que, para além do impacte no desenvolvimento envolvimento do País, deveria merecer por parte dos Parceiros Sociais uma apreciação tendo em conta aspectos ligados à criação de emprego e à incorporação de recursos nacionais. Grande parte das soluções para os nossos problemas está condicionada por políticas po definidas a nível europeu. Por isso, faz todo o sentido que a nível nacional nos interroguemos sobre as orientações dessas políticas e tentemos perceber em que medida facilitam ou prejudicam os nossos interesses. Foi esse o objectivo do Parecer sobre sobre o “Futuro da Zona Euro”, aprovado recentemente pelo Plenário do CES O equilíbrio das finanças públicas é uma condição para a existência da moeda única. Mas também será um corolário lógico da existência da moeda única a criação de uma única entidade emitente em de dívida pública para toda a Zona Euro, para que haja um único “rating” para toda a dívida contraída nesse espaço. Este é um ponto que merece reflexão, tal como foi identificado nesse Parecer. 34 O equilíbrio das finanças públicas deve ser um objectivo objectivo a partilhar por todos os membros da Zona Euro, mas definir um número ou uma taxa igual para realidades tão distintas carece de sentido. Será um erro trágico tratar todas as regiões da Europa de uma forma igual. A riqueza da Europa assenta na diversidade. de. Esse é o seu ponto mais forte. Por isso é muito difícil compreender que a mesma receita de política económica tenha de ser aplicada da mesma forma, com a mesma metodologia e com as mesmíssimas percentagens a espaços territoriais com características muito mui diferentes. Esta é também matéria que deveria fazer parte de uma agenda de diálogo e concertação porque uma desejável ofensiva diplomática neste domínio, que me parece urgente e imprescindível, só teria a ganhar se fosse desenvolvida tendo por base um grande entendimento entre os Parceiros Sociais. Comecei por falar que vivemos num tempo de interdependências. E se é verdade que nos últimos tempos têm aumentado todos os tipos de interdependências, sejam elas de natureza económica, social, de mercados ou de processos produtivos, as interdependências políticas, no sentido das relações entre Estados, mesmo no caso da Europa, onde há um projecto de integração económica e política em curso, continuam a resistir, talvez porque os Estados continuam organizados como o eram há duzentos anos. Este é seguramente um dos grandes desequilíbrios do nosso tempo. Políticas activas de emprego, interrogações e respostas possíveis: que políticas e estratégias?, Seminário organizada pela UGT, Porto, 25 de Março de 2011 1. Promoção do emprego versus consolidação orçamental Este seminário trata de políticas activas de emprego mas permitam-me permitam me que, antes de abordar o tema concreto, possa expressar o meu pensamento sobre os factores e políticas que mais condicionam a criação dee emprego no nosso país. De uma forma muito breve começaria por dizer que o grande desafio que hoje se põe à economia portuguesa é saber como conciliar dois objectivos aparentemente incompatíveis: consolidação orçamental e crescimento económico. Se a taxa de juro exigida para a colocação da nossa dívida pública permanecer aos níveis actuais, o custo de financiamento do Estado será insustentável, o que tornará muito difícil a promoção do investimento e a criação de emprego. É verdade que a redução das taxas de juro sobre a nossa dívida soberana será tanto maior, quanto mais forte for a consolidação orçamental. Mas há que considerar que um enfoque exageradamente redutor na contracção dos défices orçamentais, sem enfrentar a necessidade da criação de emprego, ego, poderá ameaçar a recuperação económica e por essa via a própria consolidação orçamental. A OCDE estima que um declínio na taxa de desemprego de 1 ponto percentual poderia melhorar os saldos orçamentais entre 0,25% e 0,75% do PIB, nos países que pertencem pertencem a esta organização. Por outro lado, a mesma fonte afirma que estes países podem ter perdido mais de 4% do seu potencial de produção em resultado da crise sendo que metade desta quebra resulta do aumento do desemprego. Eu penso que não é possível criar criar emprego na base de políticas que conduzem a uma forte redução da procura interna pensando que é por aí que se diminui as importações e, por essa via, se reduz o défice externo e se garante o financiamento da dívida externa. 35 2. Reacção dos países da OCDE CDE face ao desemprego em resultado da crise A OCDE afirma que, mesmo em países com políticas favoráveis ao emprego, poderão decorrer ainda cinco anos para que o desemprego volte aos níveis pré-crise. pré Noutros países, o elevado desemprego poderá manter-se manter se por muito mais tempo. Por exemplo, nos países que conseguiram conter as perdas de emprego através da redução das horas de trabalho, as empresas têm margem suficiente para responder ao aumento da procura, aumentando as horas de trabalho, antes de começar começar a contratar novos trabalhadores. Como nas crises anteriores têm sido os grupos já de si mais vulneráveis a sofrerem mais com o aumento do desemprego, ou seja, os jovens, trabalhadores com poucas habilitações, temporários ou a tempo parcial e imigrantes. Estes devem ser grupos prioritários para as políticas activas de emprego já que o risco de perderem contacto com o mercado de trabalho é superior. Há quem advogue que, à medida que a recuperação económica tenha lugar, deve também procurar-se um melhor equilíbrio uilíbrio entre contratos de trabalho temporários e sem termo. Contudo, e para proteger os interesses dos trabalhadores, a protecção no emprego teria de ser reformulada como parte de um pacote abrangente. Isto significaria fornecer aos trabalhadores subsídios os de desemprego adequados durante os períodos de transição entre empregos – desde que estejam genuinamente à procura de trabalho – bem como garantir-lhes lhes formação adequada e apoio durante a sua procura de trabalho. A maioria dos países europeus tem vindo a tomar medidas como a ampliação de subsídios às empresas para encorajar a contratação, diminuição das suas contribuições para a segurança social, programas públicos de criação de emprego, promoção de formação e compensações aos trabalhadores por redução do seu horário de trabalho horas. Na Alemanha, utilizou-se utilizou muito o "work-sharing", sharing", através da redução do número de horas trabalhadas, o que permitiu controlar o aumento do desemprego. No curto prazo, estas medidas podem ter um impacto positivo mas devem ser temporárias e bem direccionadas, pois de outra forma podem revelar-se revelar se um obstáculo à recuperação económica ao discriminar positivamente empresas que podem não ser viáveis em detrimento de outras sim sustentáveis. 3. Políticas com vista à recuperação económica com criação de emprego Perante os níveis de desemprego que se verificam no nosso país uma grande mobilização dos instrumentos que podem favorecer as políticas activas de emprego são indispensáveis. Em primeiro lugar, o apoio do lado da procura procura tem que evoluir da mera preservação do emprego para a criação, em força, de postos de trabalho sobretudo tendo em vista a integração dos desempregados de longa duração e outros grupos vulneráveis. Existe uma grande margem no mercado de trabalho que pode ser aproveitada de forma inovadora, tendo em vista o potencial de criação de emprego, nomeadamente na área dos cuidados à população idosa, na reabilitação urbana ou na implementação de iniciativas “verdes” através também da reabilitação de edifícios para uma uma maior eficiência energética. Em segundo lugar, é necessário que os serviços públicos de emprego sejam de facto eficientes na reintegração rápida dos desempregados. A preocupante acumulação de desempregados de longa duração cria uma necessidade aguda de d apoio. 36 Em terceiro lugar, as políticas para evitar uma "geração perdida de jovens" são absolutamente obrigatórias. O desemprego entre os jovens é de cerca de 19% na OCDE, de 21% na União Europeia e de mais de 22% em Portugal. Com este propósito, é essencial desde os primeiros anos de ensino secundário, que o encaminhamento para o nível escolar seguinte seja feito de forma cada vez mais direccionada para as profissões associadas aos sectores estratégicos e que seja prestado aos alunos assistência na procura de emprego através de uma melhor cooperação entre escolas, centros de emprego e empresas locais. É na linha destes princípios que cerca de um quarto do texto do acordado esta semana entre as confederações patronais e a UGT é dedicado à redução do desemprego e ao reforço das medidas activas de emprego. 4. Sobre o acordo de concertação social de 22 de Março Esta é a primeira intervenção pública que faço depois de ter sido aprovado o acordo de concertação social no passado dia 22 de Março e é sobre sobre esse tema que gostaria de exprimir a minha opinião. A experiência mostra que as sociedades que incorporam no seu tecido social altos níveis de confiança são as que prosperam. Sem um clima generalizado de confiança é muito difícil que haja investimento em volume e qualidade que permita a criação de novos empregos. Significa isto que desde a fase da concepção até à execução das políticas públicas torna-se torna necessário desenvolver formas de interacção entre múltiplos agentes, não só no seio da administração o pública, mas também fora dela. E é minha opinião que essa necessidade ganha ainda mais força face aos desenvolvimentos que, nos últimos anos, se têm vindo a verificar na sociedade portuguesa. Uma maior capacidade para prever as aspirações da sociedade obriga à adopção de estratégia pró-activas activas que comprometam poderes públicos e os diversos agentes económicos e sociais. E essa percepção só se consegue na base de um diálogo estruturado. Estes são alguns dos argumentos, baseados nas características da sociedade sociedade do nosso tempo, que podem explicar as virtualidades do diálogo estruturado, que mobilize a cooperação entre todos os agentes envolvidos na concepção e execução das políticas económicas e sociais. Na situação de crise que vivemos esta minha convicção convicção sai ainda mais reforçada porque a resolução dos problemas que temos pela frente não é compatível, nem com métodos simplistas, nem com o resultado da acção de um único agente, por maior que seja o poder com que se apresente. Por tudo isto quero saudarr a UGT pelo empenho e responsabilidade que demonstrou nas negociações que levaram ao acordo, aprovado em sede de concertação social, no passado dia 22 de Março. 37 Porque este seminário tem a ver com políticas activas de emprego sobre esta matéria o texto text do acordo, sobre este ponto, dificilmente poderia ser mais claro e exaustivo. Nele estão incluídas medidas da maior importância e que tem a ver com a melhoria da qualidade e eficiência dos serviços públicos de emprego; com a contratação e transição de jovens jovens e de desempregados para o mercado de trabalho; com a aposta nas qualificações; e, com a promoção do empreendedorismo e da criação do próprio emprego. No discurso da minha tomada de posse como Presidente do Conselho Económico e Social disse o seguinte: “O diálogo social deve procurar ampliar os temas em discussão porque quanto maior for o espectro de negociação, maior é a probabilidade de se encontrar plataformas de entendimento. Em segundo lugar o diálogo não deve separar as questões sociais das económicas. económicas. Para que essa tendência se reforce é necessário que o diálogo e a concertação social passem a funcionar segundo um processo contínuo que vá para além do curto prazo e de reuniões isoladas”. Verifico com o maior dos gostos que todos estes meus desejos desejos foram cumpridos neste acordo. Com efeito, o texto do acordo não só é muito abrangente, como não separa as questões económicas das sociais e ainda consagra que as partes se comprometem relativamente a uma agenda futura de negociações. Este último aspecto o é, no meu entender, da maior importância porque significa que a vontade das partes é que o texto seja visto não como o fim dum processo, mas antes como uma fase de uma metodologia que se quer permanente e ao serviço da busca de compromissos. Por outras palavras – e esta é a leitura política correcta - as confederações patronais e a UGT expressam que o reforço de uma cultura de compromisso é essencial para que o país possa voltar a ter esperança em dias melhores. E este é o caminho certo. Diálogo social numa sociedade moderna: o caso português, Universidade Lusíada, 28 de Março de 2011 O convite que me foi feito para proferir algumas palavras nesta prestigiada Universidade, sendo à partida muito honroso e interessante, passou à categoria de irrecusável pelo facto de me ter sido feito por um velho amigo, o Professor Manuel Porto. Já vão algumas décadas em que por várias ocasiões, o Professor Manuel Porto e eu próprio, temos sido cúmplices à volta de causas, todas elas respeitantes à coisa coisa pública. Em todas elas partilhamos convicções. Nuns casos ganhamos, noutros casos diria que o problema ficou adiado para outra oportunidade. Mas o mais importante é a grata recordação que ficou de todas essas situações nas quais, pelo meu lado, sempree aprendi. Essas vivências estão registadas no activo do meu balanço e continuam a produzir um rendimento positivo que se vai acumulando ao capital da experiência da vida. O tema que o Professor Manuel Porto me pediu para desenvolver é sobre o diálogo social soc numa sociedade moderna. Desta formulação do tema decorre que se parte da premissa que as mudanças operadas nas sociedades do nosso tempo têm influenciado as formas de diálogo social. 38 Para que a minha intervenção não fique a pairar apenas por questões questões de carácter genérico decidi situar a minha análise focando o caso do nosso país. Nesta intervenção vou a utilizar a expressão diálogo estruturado porque quero distinguir esta forma de diálogo de outras, que podem ocorrer de forma esporádica como mero instrumento i de consulta e que, embora podendo conter aspectos positivos, não é no entanto encarada como método permanente de governação. O exercício de formas de diálogo estruturado como método de governação, pode ser de diferentes tipos, sendo que o mais elaborado de todos é aquele que, através de processos negociais entre o Governo e os Parceiros Sociais, pode possibilitar a obtenção de compromissos ou acordos, em que cada uma das partes assume a sua quota-parte quota parte de responsabilidades, no que respeita à execução ecução do que foi acordado. No caso português esta forma de diálogo teve consagração constitucional, através da criação do Conselho Económico e Social que, sendo um órgão de consulta do Governo e da Assembleia da República, alberga no seu seio uma comissão comissão especial designada de Comissão Permanente de Concertação Social, presidida pelo Primeiro-Ministro Primeiro Ministro e em que têm assento os representantes das confederações patronais e das confederações sindicais. É nesta comissão que participa, sem direito a voto, o Presidente do Conselho Económico e Social, que se desenvolve um processo de diálogo estruturado tripartido através do qual se procura a obtenção de entendimentos sobre diferentes aspectos da vida económica e social do país. Vários foram os casos em que, ao longo dos tempos, se obtiveram compromissos muito interessantes que permitiram avanços significativos em várias reformas que foram executadas num clima de paz social. Os casos mais recentes e de maior expressão foram, por exemplo, em 2006, a reforma da segurança social, em 2009, a revisão muito ampla da legislação laboral, que produziu o actual Código do Trabalho e esta semana o acordo sobre competitividade e emprego. Nesta fase tenho de fazer uma declaração de interesses, que é a seguinte: sou dos que acredita, de uma forma muito convicta, que o diálogo social é um instrumento que, se for abordado de forma adequada, pode ser decisivo, não só para a concepção, mas também para a concretização de políticas públicas. Confesso que sofro dessa profunda convicção. convic Não entendo o exercício da actividade política sem convicções. Para quem exerce actividade política parece-me parece me fundamental ser moldado, no mínimo, por duas ou três fortes convicções para, a partir daí, retirar todas as consequências para a acção. Exercer xercer actividade política sem convicções fundamentadas é puro oportunismo. Para que o diálogo estruturado seja consequente, nas actuais circunstâncias do país, é minha opinião que se deve definir e aceitar um conjunto de pressupostos fundamentais que decorrem, dec em larga medida, da génese do período de crise que atravessamos. A não ser assim, corre-se se o risco de estarmos perante situações que podem ter importantes efeitos mediáticos mas que, no final, se saldam apenas pela criação de ruído, confusão e frustração. 39 Minhas Senhoras e Meus Senhores, Excelências, Desde a fase da concepção até à execução das políticas públicas torna-se torna se necessário desenvolver formas de interacção entre múltiplos agentes, não só no seio da administração pública, mas também fora dela. Uma maior capacidade para prever as aspirações da sociedade obriga à adopção de estratégia pró-activas activas que comprometam poderes públicos e os diversos agentes económicos e sociais. E essa percepção só se consegue na base de um diálogo estruturado que mobilize a cooperação entre todos os agentes envolvidos na concepção e execução das políticas económicas e sociais. Na situação de crise que vivemos esta minha convicção sai ainda mais reforçada porque a resolução dos problemas que temos pela frente não é compatível, nem com métodos simplistas, nem com o resultado da acção de um único agente, por maior que seja o poder com que se apresente. De todos os problemas que vivemos em Portugal, o mais sério é o alto nível de desemprego. Perante este quadro, os dirigentes políticos, Parceiros Sociais e demais instituições têm de estar preparados para conviver em ambientes onde os níveis de confiança tenderão a ser baixos, e todos sabemos que sem confiança é muito difícil combater os medos. Este combatee não é fácil e só poderá ser vencido através de um esforço colectivo. Esta visão, que é de modernidade, obriga a um grande esforço das diferentes forças políticas e agentes económicos e sociais para se habituarem a distinguir o importante do acessório nas suas actividades quotidianas. Também gostaria de sublinhar que um dos factores que está relacionado com o diálogo social é a atitude. O diálogo social pressupõe exercícios de interacção entre as partes. Uma atitude passiva de qualquer das partes empobrece o exercício. O diálogo estruturado permite a possibilidade de vários intervenientes poderem participar na definição de estratégias ou linhas de orientação sobre o que se quer para o futuro. Significa isto que a participação em forma de diálogo estruturado pressupõe uma atitude que revela que não se está disponível para aguardar que as coisas aconteçam, seja por força da acção de outros ou pelo desejo do divino. Neste sentido, o diálogo social é também e em larga medida, uma das expressões mais autênticas do exercício de cidadania e da afirmação de valores essenciais essenciais à existência humana, como é a liberdade. Podemos dizer que o exercício de querer perspectivar o futuro é, em certo sentido, a história da humanidade. Houve quem sonhasse e planeasse a epopeia das descobertas, como houve quem fizesse o mesmo exercício cio para que o homem chegasse à Lua, ou para que tivéssemos chegado onde chegámos no mundo das telecomunicações. Todos aqueles caminhos foram percorridos, primeiro na base de uma ideia, ou se preferirem de um sonho, depois, surgiu uma inabalável vontade em em chegar à terra prometida ou aos objectivos definidos, mas nada ou muito pouco foi deixado à sorte do destino. 40 Por trás de cada um dos percursos houve sempre muito esforço, muito estudo, muita discussão, seguramente alguma desilusão, muitos sacrifícios sacrifícios foram pedidos, até em vidas humanas, mas os objectivos acabaram por ser alcançados. Mas seguramente que em todos esses processos houve formas de diálogo entre diferentes interesses e distintas áreas de saber. O sucesso da Escola de Sagres assentou nesse nesse método. Congregou pessoas de diferentes áreas, cartógrafos, marinheiros e cientistas. Perspectivar o futuro no sentido de que esse futuro pode ser determinado pela nossa acção no presente é, na sua essência, o que de mais nobre encerra a actividade política. política. Sendo um exercício muito estimulante, há que ter a consciência de que também se trata, nos dias de hoje, de uma tarefa complexa e difícil. Criar emprego e, tanto quanto possível, sem grande precariedade, é a única receita para que seja garantida com segurança o bem-estar bem estar económico e o equilíbrio social do nosso país, para além do Estado poder assegurar as funções de protecção social nas vicissitudes adversas da vida: doença, desemprego, velhice, incapacidade e morte. Por isso, só se pode de falar em saída da crise quando o desemprego se reduzir de forma significativa. Perante os níveis de desemprego que se verificam uma grande mobilização dos instrumentos que podem favorecer as políticas activas de emprego são indispensáveis. A monitorização rização permanente do mercado de emprego, a maior agilização dos serviços e a aplicação diferenciada de medidas de acordo com a realidade regional são alguns dos aspectos que deveriam ser abordados no quadro de uma política concertada entre trabalho, capital capit e inovação. Por outro lado, deveria fazer-se fazer se parte dos trabalhos com vista à definição de um possível compromisso e execução de um Programa de Combate à Economia Clandestina. Finalmente penso que há muitas razões que justificam uma renegociação do Quadro Comunitário de Apoio com as instâncias europeias, o chamado QREN. Com efeito, as condicionantes de hoje são substancialmente diferentes das que existiam quando esse quadro foi preparado. Os objectivos e as preocupações de hoje seguramente que merecem merecem uma prioridade diferente da que, ao tempo, foi estabelecida. Não se pode, no entanto, equacionar o problema da economia portuguesa sem atender ao facto de estarmos inseridos no espaço do euro mas não é possível manter por muito tempo a moeda única num espaço geográfico onde não haja coesão económica. Minhas Senhoras e Meus Senhores, Excelências, Portugal parece sofrer de uma espécie de falta de confiança crónica nas relações interpessoais. E sem um clima generalizado de confiança é muito difícil que sejam geradas novas ideias. 41 Mais uma vez é o reforço de mecanismos de diálogo que pode ajudar a este desiderato. Não é por acaso que os grandes profissionais das áreas criativas tendem a viverem perto uns dos outros em grandes cidades. A história de Silicon S Valley aí está para o provar. Um autor americano de nome Steve Jonhson tem investigado as origens das grandes ideias e chegou à conclusão que nenhuma ideia é uma ilha. Todas as ideias mais brilhantes nasceram sempre da interacção. Temos de ter a noção de que a criação de novas ideias vive da colaboração saudável e sem temor. A experiência mostra que as sociedades que incorporam no seu tecido social altos níveis de confiança são as que prosperam. Tenhamos a noção de que uma só ideia não mudará o país. A mudança desejável obriga à mobilização de muitas e diferentes ideias e será da interacção entre elas que as coisas poderão melhorar. Mais uma vez a necessidade de ser mobilizado o diálogo estruturado ado surge como indispensável. nos que o nosso país foi bem sucedido quando se abriu ao exterior e mal E a história ensina-nos sucedido quando se fechou sobre si mesmo. Portugal construiu o seu sucesso na base da informação. Foi o domínio da informação dos mares, m das grandes massas de terra e da forma de percorrer grandes distâncias com segurança que possibilitou o sucesso do país na época. A história parece estar a repetir-se. repetir se. O crescimento económico do nosso tempo está a ser impulsionado pelas novas tecnologias tecnologias de informação e pelo desenvolvimento de software e produtos de alta tecnologia. Para entrar neste ciclo não é preciso ter grandes massas de terra, de muitas matérias-primas matérias ou de valiosos recursos naturais. Neste tempo até penso que a pequena dimensão dimen e um bom clima até trazem vantagens. Todavia, faltam dois ingredientes fundamentais. Visão e confiança. Nenhum deles surge por decreto, nem pela vontade de um único homem ou instituição por mais poder com que se possa apresentar. Ao fim e ao cabo como o quase tudo na vida, depende de nós e da nossa capacidade de organização. Também, e por isso mesmo, mais uma vez o diálogo estruturado se revela um instrumento fundamental. Espero, Minhas Senhoras e Meus Senhores, ter-vos ter vos transmitido as razões que alimentam alimen esta minha forte convicção na necessidade de serem desenvolvidas formas de diálogo social no nosso país. 42 Relações do Sector Solidário com o Estado, Congresso das Instituições Particulares de Solidariedade Social, Santarém, 21 de Maio de 2011 1. Introdução Tratar o tema das relações do Estado com uma parte muito significativa e das mais dinâmicas da sociedade civil – o Sector Solidário - não é uma tarefa fácil. Convém, por isso, enquadrar a reflexão na base de alguns pressupostos, sob pena de nos perdermos na análise e na discussão. Saber quem somos, donde provimos e que valores e princípios nos regem parece-me me essencial para enquadrar uma reflexão séria sobre as relações do Sector Solidário com o Estado. Este será o primeiro ponto desta intervenção. De seguida, não podemos deixar de tentar perceber as condicionantes com que somos confrontados no tempo que vivemos. Elas são de vária natureza, são muito diferentes diferent das de outros tempos e estão a evoluir de uma forma muito rápida. Será tema para o segundo ponto. Finalmente, procurarei transmitir a minha visão sobre a forma como entendo que deveria evoluir o relacionamento entre o Estado e o Sector Solidário. em somos, Donde Provimos, os Nossos Valores 2. Quem Apesar de sermos um dos poucos povos da Europa para quem o mundo não nos é de todo estranho, pois calcorreámos ao longo da história os cinco continentes como poucos o fizeram, a verdade é que a Europa é a nossa raiz e nela estamos hoje económica, social e politicamente integrados. Foi por pertencermos à Europa que beneficiámos do florescimento do génio grego, da longa paz romana, da vaga pacificadora da era cristã, da lenta reconquista da cultura clássica depois dep das invasões bárbaras, da descoberta do novo mundo com as viagens oceânicas, do racionalismo do século XVIII e da filantropia de século XIX. Da Grécia, recebemos a disciplina do espírito. De Roma, herdámos a organização e a preocupação com a estabilidade. ade. Do cristianismo, recebemos aquilo que visa atingir profundamente a consciência. Todos os grandes movimentos culturais ou expressões artísticas, como o barroco ou o romantismo, ou económicas, como a revolução industrial, ou ideológicas, como o socialismo sociali ou a democracia cristã, ou mais recentemente, com a moeda única repercutiramrepercutiram-se transversalmente em todas as sociedades europeias. A Europa, de que nós fazemos parte, ao transformar o mais pequeno dos continentes no mais universal de todos evidenciou, evidenciou, de modo muito nítido, uma obra humana e até espiritual. São estes os traços mais marcantes das nossas origens. Foram estas raízes que ajudaram a perceber que a vida, dignidade e consciência da pessoa humana se tenha consolidado como o primeiro dos valores. O primado da pessoa humana deve sobrepor-se se a tudo. O ser humano deve ser sempre o fim e nunca o meio. Associado ciado a este valor surge um outro, a liberdade, tal como foi expressa pelo antigo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes: "Uma liberdade entendida como o crescimento do homem em cada pessoa humana, até à plenitude, até à posse e domínio da sua consciência consciênc e do seu destino inalienável e, para alguns, até transcendente”. 43 Minhas Senhoras e Meus Senhores, Só é livre quem vive numa sociedade de paz, de prosperidade, de vivência em democracia, de igualdade de todos perante a lei, no respeito pelo Estado de direito direito e pelos direitos humanos, beneficiando de uma verdadeira igualdade de oportunidades, com acesso à educação, formação, emprego, saúde, bem como a bens culturais e a tempos livres e, ainda, com protecção assegurada perante as vicissitudes adversas da vida como sejam a doença, a velhice, o desemprego, a invalidez ou a morte. A meu ver é a preservação e desenvolvimento destes valores que justifica a acção política, entendida como uma das formas mais nobres para ajudar a criar condições para a realização da pessoa humana em liberdade. Desenvolver uma acção política na base destes princípios exige aos seus protagonistas fortes convicções que sejam capazes de resistir a qualquer aragem adversa. Não entendo o exercício da actividade política sem convicções. Exercer actividade política sem convicções é puro oportunismo. Tudo poderia ser mais fácil se os valores precedessem em termos de importância os recursos, sejam eles físicos, financeiros ou tecnológicos mas nós sabemos que essa não é a tendência que se verifica erifica na realidade dos nossos dias. Essa é uma das razões para expressar a minha mais viva admiração a todos os que desempenham voluntariamente funções no Sector Solidário, em milhares de Instituições Particulares de Solidariedade Social no nosso País. País Aqueles que decidiram dedicar muito do seu tempo ao Sector Solidário dão a todos nós um sinal de que a vida não se esgota na visão pobre e redutora da posse e do uso de bens materiais, antes ganha outro sentido, mais rico e mais profundo, quando é dedicada dedicada à ajuda aos que mais precisam. 3. As condicionantes Portugal enfrenta vários tipos de condicionantes no que se refere ao desenvolvimento de políticas sociais. Vou comentar as que são para mim as mais importantes. São seis. A primeira condicionante que quero referir tem a ver com a evolução demográfica. Portugal já tem hoje uma taxa de dependência dos idosos entre as mais elevadas da Europa8, mas a tendência é para o seu agravamento, pois prevê-se prevê se que em 2060 vão residir no território nacional cerca de três idosos (mais de 64 anos) por cada jovem (menos de 15 anos)9,10, isto é, mais do dobro do valor actual. A população com 80 e mais anos de idade, passará dos actuais 4% para cerca de 16% em 2060.11 8 O rácio “população de 65+ anos/ pop.15-64” pop.15 64” atingiu 26,2%, em 2009, acima da média de 25,6% da UE, segundo o Relatório sobre a Situação Demográfica da Europa, divulgado este ano pela CE. 9 Fonte: Instituto nstituto Nacional de Estatística, Projecções de população residente em Portugal: 2008-2060, 2008 19 de Março de 2009. 10 Segundo cenário central que conjuga um conjunto de hipóteses consideradas como mais prováveis face aos recentes desenvolvimentos demográficos (INE). 11 Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Projecções de população residente em Portugal: 2008-2060, 2008 19 de Março de 2009. 44 Os mais idosos estão em situação cada vez mais vulnerável vulnerável face à solidão, vivem no isolamento nas grandes cidades, com autonomia reduzida, foram retirados da actividade económica e do convívio com os próximos e, muitos deles, estão ameaçados pela pobreza e a exclusão social. Esta evolução demográfica, a par par da incorporação da mulher no mercado de trabalho e de uma mobilidade geográfica acrescida das famílias, tem contribuído para a redução do apoio familiar tradicional às pessoas dependentes e a um forte aumento da procura de serviços de cuidados continuados.12 Face à grande carência de redes de suporte formais existe já um elevado número de cidadãos em situação de dependência e de grande fragilidade num contexto de exclusão social, situação cuja tendência se irá agravar. Adicionalmente a alteração do perfil perfil epidemiológico, caracterizado pelo aumento da prevalência de doenças de evolução prolongada e com elevado grau incapacitante, traduz-se traduz igualmente em necessidades crescentes de cuidados. Esta realidade vai ter um impacto crescente na despesa em cuidados os de saúde e de apoio social mas vai ter outras consequências como, por exemplo, obrigar a alterar de modo muito profundo as políticas públicas, conceber novos modelos de captação de fundos, de afectação de recursos, de organização e gestão da prestação de de cuidados. A segunda condicionante é a pobreza. Sabe-se Sabe que cerca de 18%13 da população vive em situação de pobreza, o décimo pior resultado da União Europeia. Mas mais grave é saber que a parte da população que, apesar de estar empregada, vive com um u rendimento abaixo do limiar da pobreza é, em Portugal, cerca de 12%, valor este que só é ultrapassado pela Roménia, Grécia e Polónia. A terceira condicionante do desenvolvimento social do País tem a ver com as desigualdades de rendimento. Em Portugal, a média dos salários mais altos é 6 vezes superior à média dos salários mais baixos. Na UE, apenas a Letónia, Roménia e Bulgária registam uma desigualdade superior à que se verifica em Portugal. É muito confrangedor saber que centenas de milhares de trabalhadores adores que têm sido lançados para o desemprego convivem, lado a lado, com despudoradas manifestações de riqueza, muitas vezes geradas por um sistema que alimenta o compadrio e a distribuição ilegítima, quando não ilegal, de benesses. A quarta condicionante é a sustentabilidade da segurança social. A reforma de 2007, nomeadamente, com a introdução do “factor de sustentabilidade” e a alteração da política fiscal quanto à tributação das pensões, não resolveu o problema de fundo. Limitou-se Limitou a adiá-lo e apenas garantiu a sustentabilidade do sistema por mais alguns anos. A quinta condicionante relaciona-se relaciona se com a evolução da política europeia, especialmente no que tem a ver com a Zona Euro. Desde 2008 que afirmo que a Europa insiste em tratar a crise da Zona Euro caso a caso, país a país, o que é errado. 12 Segundo um documento de trabalho da Organização Mundial da Saúde e do Milbank Memorial Fund (“Hacia un consenso internacional sobre los programas de cuidados de larga duración para las personas mayores”, 2002), os cuidados continuados podem ser definidos como o sistema de actividades levadas a cabo por cuidadores informais (familiares, amigos ou vizinhos) ou formais (profissionais de serviços de saúde e de assistência social), ou ambos, que procuram que uma pessoa que não é totalmente capaz de cuidar de si própria tenha a melhor qualidade de vida, autonomia, participação, realização pessoal e dignidade humana possível. 13 Fonte: Eurostat, “Living Conditions and Social Protection: at-risk-of-poverty at poverty rate after social transfers”, 2008 45 A crise do euro é sistémica e só com uma solução sistémica poderá ser resolvida. Os egoísmos nacionais têm sido nos últimos tempos os mais dominantes na política europeia o que, para países mais frágeis como Portugal, não augura nada de bom. Deixei para o fim deste ponto a maior de todas as condicionantes que tem a ver com o comportamento decepcionante da economia, especialmente na última década, que foi o pior da União Europeia (UE). Enquanto nos primeiros quinze anos de adesão à UE encurtámos para metade a distância que nos separava do crescimento médio da União, depois de 2010 marcámos passo, até regredimos e assim continuaremos, pelo menos, nos próximos dois anos. Esta evolução tem enormes consequências no domínio social, a começar pelo aumento do desemprego para valores res que hoje já são dramáticos. Para além da subida de cinco pontos percentuais da taxa de desemprego ocorrida entre finais de 2004 (7,1%) e primeiro trimestre de 2011 (12,4%), Portugal confronta-se confronta se hoje com um agravamento muito significativo do desemprego de jovens (de 15,8% para 27,8% no mesmo período) e com uma crescente incapacidade para integrar no mercado de trabalho aqueles que têm mais qualificações e os desempregados com mais idade. É frequente ouvirmos dizer que o maior problema do país é o desemprego desemprego e é verdade. Mas devemos ter a consciência que, a manterem-se manterem se os valores elevados do desemprego e do fenómeno de pobreza que lhe está associado, o que está verdadeiramente em causa é a perda de confiança nos cidadãos vítimas do desemprego e dos que os os rodeiam. Definitivamente, o que está em causa é a perda desse valor essencial de que vos falei no início desta intervenção, a liberdade, porque um cidadão que se vê impedido de aceder a instrumentos basilares que não lhe permita um relacionamento normal com os seus concidadãos não é um ser livre. Não entender isto tem um nome, miopia política! Foi por causa da evolução da economia portuguesa nos últimos anos que Portugal subscreveu com a UE e o Fundo Monetário Internacional um Memorando de Entendimento, que vai ter como consequência uma contracção sem precedentes no rendimento disponível das famílias e novos aumentos da taxa de desemprego. As famílias vão sentir um aperto nos seus orçamentos mensais como nunca foi visto. Só pela via da inflação, se esta se mantiver nos valores actuais, os trabalhadores por conta de outrem podem esperar uma desvalorização dos seus rendimentos de mais de 5%! Para quem está no desemprego as perspectivas são muito sombrias, já que também os apoios sociais deverão ser objecto de um corte significativo. Eu sei bem que a execução do plano acordado é incontornável mas não posso deixar de chamar a atenção para o facto de enquanto que a parte do plano que se refere aos sacrifícios que vão ser pedidos é muito clara, há pouca clareza na forma como esses sacrifícios vão ser repartidos e muito menos clareza ainda em tudo o que diz respeito aos benefícios que se podem esperar no médio prazo. Será muito difícil granjear um apoio social e político abrangente à execução de tal plano se não n se procurar minimizar os riscos que decorrem da ausência de uma percepção mais clara sobre a repartição dos sacrifícios e da consciência dos benefícios esperados. Sem curar destas duas componentes vai tornar-se tornar se muito difícil conter e diminuir a pressão dos interesses instalados e desbloquear impasses institucionais. E chegado a este ponto não posso deixar de comentar as notícias que nos dão conta que vão terminar as isenções de IRC e de IVA para as Instituições Particulares de Solidariedade Social, como omo consequência deste Memorando. 46 Este é um assunto que conheço bem. Lembro-me Lembro me perfeitamente dos argumentos que utilizei junto do Primeiro-Ministro Ministro de então, Cavaco Silva, e do Ministro das Finanças, na época, Miguel Cadilhe, para que as IPSS e as Santas Santas Casas de Misericórdia pudessem ser ressarcidas dos montantes referentes ao IVA, matéria que se consubstanciou no DecretoDecreto-lei 20/90, de 13 de Janeiro. Passados estes anos, penso que posso confessar que na altura não foi difícil convencer o PrimeiroPrimeiro Ministro stro e o Ministro das Finanças da bondade da solução. Bastou apenas usar o que tem de ser repetido agora, bom senso. Esperemos que esse ingrediente, o bom senso, ainda exista. A este respeito, por aqui me fico. 4. Relações do Sector Solidário com o Estado Estado exangue, economia doente, evolução demográfica desfavorável, desemprego e pobreza que não param de crescer, desigualdades de rendimentos a aumentar, uma União Europeia que ultimamente parece desorientada, em que os egoísmos nacionais ganham terreno face à solidariedade e um plano de recuperação das finanças públicas que vai ter consequência muito sérias, e ainda não muito bem explicadas, no domínio do social é, em traços muito gerais, o cenário com que temos de conviver no próximo futuro. Perante este quadro, os responsáveis do sector solidário têm de estar preparados para actuar em ambientes em que os níveis de confiança tenderão a ser baixos. E é sabido que sem confiança é muito difícil criar mecanismos que fomentem a auto-estima auto estima e a generalização generalizaçã de uma vontade capaz de ultrapassar os difíceis obstáculos com que estamos deparados. Este combate não é assim fácil de travar. É minha convicção que para podermos alimentar a esperança de o vencer há uma condição prévia que, se não for preenchida, tudo tud se torna muito mais difícil. Essa condição prévia tem a ver com a necessidade de organizar de forma inteligente e eficaz parcerias em que se partilhe responsabilidades entre o Estado e o Sector Solidário. Não se pode tolerar é que a cooperação entre o Estado e o Sector Solidário seja encarada como uma oportunidade que se dá aos privados, ou como um exercício de magnanimidade do Estado que faz o favor de autorizar outros a intervir, ou ainda como uma solução que vem resolver a escassez de meios financeiros ros à disposição do Estado. Esta visão é extremamente redutora e errada e, por isso, deve ser combatida. As parcerias entre o Estado e o Sector Solidário terão de assumir natureza pública que não estatal. Eu explico: o Estado não tem condições para desenvolver, desenvolver, como único prestador, as políticas e os sistemas sociais. O Estado só por si não pode, não tem meios e a sua acção normalmente gera muito desperdício. Se for criado um clima de cooperação assente na confiança recíproca entre o Estado e o Sector Solidário lidário na busca de um interesse de uma missão que é coincidente, poder-se-á poder economizar muito em termos de recursos, sejam eles físicos, financeiros, tecnológicos ou humanos e tirar partido da experiência acumulada de quem conhece o terreno em detalhe. Outra utra das condições para que as coisas possam correr bem é poder interiorizar que a mobilização do sector solidário será tanto mais conseguida, quanto mais simples forem as ideias ou os projectos, porque o entusiasmo será sempre tanto maior quanto mais as pessoas p sentirem que está ao seu alcance atingir os objectivos que, em conjunto, definiram. É verdade que é da mobilização e do entusiasmo que nasce a confiança. Mas a confiança só se consegue se a actuação acontecer muito perto das pessoas. 47 A maior parte dos graves problemas sociais que vivemos no nosso país precisam muito de soluções locais, de proximidade, de um olhar diferente, de um olhar, muitas vezes, olhos nos olhos. A actuação em termos de acção social tem de ir ao encontro das situações e dos do problemas e não esperar que eles degenerem em fenómenos, até se tornarem incontroláveis. A possibilidade de se poder inovar e conseguir obter soluções diferenciadas e adaptáveis às características dos reais problemas, que sabemos serem muito diferentes, de caso para caso e de região para região, é, nas actuais circunstâncias de verdadeira emergência nacional, a forma mais correcta de desenvolver políticas sociais. Os poderes públicos têm na sua mão a oportunidade de gerar esse espírito de ambição e de entusiasmo, baseado na motivação e confiança dirigidas para quem está perto dos problemas e das situações. De acordo com esta orientação, o Estado tem que ser muito mais competente nas tarefas de normalização, regulação e enquadramento. Mostra a experiência experiência recente que, no caso de Portugal e na política social, a atitude por parte do Estado tem sido contrária ao que, nas actuais circunstâncias deve ser feito porque continua a mostrar tendência para intervir no quotidiano, através de uma acção de permanente permanente controlo no detalhe, situação que fomenta a confusão, o desperdício, a desconfiança e a desmotivação. Em segundo lugar, esta atitude do Estado é castradora, porque não desenvolve sentimentos associados à autonomia, que são muitas vezes fundamentais para para criar motivação para a busca de novas soluções. Em terceiro lugar, essa contínua interferência, não sendo por vezes transparente, acaba, em muitas circunstâncias, por proteger os que têm mais fácil acesso ao poder político, o que gera suspeição, desmotivação vação e é fomentadora da desconfiança. Assim, o Estado tem de passar a pautar as suas intervenções no domínio dos sistemas sociais na base de formas e estilos de intervenção com características diferentes das actuais, por exemplo, onde o Estado venha progressivamente progressivamente a assumir mais um papel de “Estado parceiro e motivador” em vez de “Estado patrão”, característica com que o Estado português se tem vindo a identificar, nos tempos mais recentes. O estabelecimento de parcerias entre o Estado e o Sector Solidário Solidário apresenta ainda outras vantagens. Nesse sentido gostaria de referir uma frase do Senhor Padre Lino Maia Li que li há muito pouco tempo e que diz o seguinte: “A cooperação é a implementação eficaz do princípio da subsidiariedade”. Outro aspecto quee merece alguma análise tem a ver com a necessidade de quantificar as metas que se pretende alcançar. Penso que só pode ser gerido aquilo que é medido e tenho a opinião de que só através da quantificação de metas claras definidas a níveis local ou regional que todos entendam, que sejam ambiciosas e que sirvam de farol a tudo o que se tem de fazer é que se pode gerar cumplicidades e, desse modo, criar condições para um ambiente de entusiasmo em relação ao que há para fazer. Mas nunca será possível mobilizar ninguém e, muito menos criar entusiasmo nas organizações da sociedade civil, se o Estado andar permanentemente a mudar regras, a modificar critérios de financiamento ou a atrasar-se se no cumprimento dos compromissos que assumiu perante outros. 48 Estamos a falar de uma questão essencial e pouco cuidada no nosso país, a estabilidade e coerência entre as políticas públicas. Por exemplo, não pode acontecer que o Estado peça a uma Instituição Particular de Solidariedade Social que invista num dado equipamento e depois venha a mudar de ideias. Esta instabilidade deve ser eliminada porque fomenta o desânimo e a desconfiança. O financiamento do Sector Solidário é outro dos aspectos mais determinantes no seu relacionamento com o Estado. Uma excessiva dependência do Estado não permite uma verdadeira autonomia das instituições. Por isso, haverá que encarar formas alternativas de financiamento. Uma que poderia ser encarada, embora também de natureza pública, seria a resultante da revisão do Quadro Comunitário de Apoio. Há muitas razões que justificam uma renegociação do chamado QREN. As condicionantes de hoje são substancialmente diferentes das que existiam quando esse quadro foi preparado, porque as políticas sociais, especialmente as de carácter de emergência, devem merecer hoje maior prioridade da que, ao tempo, foi estabelecida. Outra forma que penso dever ser equacionada seria seria o desenvolvimento de empresas prestadoras de serviços sociais. Ultimamente fala-se se muito do conceito de inovação social. Tal como vi escrito numa entrevista do Senhor Padre Lino Maia, também eu vejo a inovação social essencialmente como o aprofundamento o de atitudes. Um relacionamento entre o Estado e o Sector Solidário pressupõe naturalmente a existência de interacção entre as partes. Uma atitude passiva de qualquer das partes empobrece o exercício, o que significa que o comportamento do Sector Solidário Solidário tem de ser baseado num tipo de atitude que revele de forma muito clara que não está disponível para aguardar que as coisas aconteçam, seja por força da acção de outros ou pelo desejo do divino. O maior desafio que o Sector Solidário enfrenta é ter de mostrar à sociedade portuguesa que é o motor da acção de emergência que nos próximos anos o país terá de pôr em marcha para acudir a muitos e variados problemas sociais em que passará a ser mais vulgar encontrar situações de autêntico desespero. É também por isso que o diálogo no seio do Sector Solidário é da maior importância. É por aí que se trocam experiências, se consegue rentabilizar meios e espaços e se ganham forças para poder ver o futuro com mais confiança. Minhas Senhoras e Meus Senhores, om o tema da confiança que vou terminar esta intervenção. E é com Perspectivar o futuro no sentido de que esse futuro pode ser determinado pela nossa acção no presente é, na sua essência, o que de mais nobre encerra a actividade política. Sendo este um exercício muito estimulante, tenho a consciência de que também se trata, nos dias de hoje, de uma tarefa complexa e difícil, especialmente para quem se dedica ao Sector Solidário. Acresce que no nosso país existe uma espécie de falta de confiança crónica nas relações relaç interpessoais, o que não facilita a execução de muitos aspectos que têm a ver com o desenvolvimento das políticas sociais no terreno. 49 Houve um académico americano que disse que nenhuma grande ideia é uma ilha. Esse académico demonstrou que todas as ideias mais brilhantes nasceram sempre da interacção. A inovação social implica assim muito diálogo, muita interacção entre as parte, muita procura de compromissos. Por isso, atribuo a maior das importâncias à interacção entre o Estado e o Sector Solidário Solidári e também ao diálogo que deve ser cada vez mais estruturado dentro deste Sector. Temos de ter a noção de que a criação de novas ideias vive da colaboração saudável e sem temor. A experiência mostra que as sociedades que incorporam no seu tecido social altos al níveis de confiança são as que prosperam. Na sociedade portuguesa dos nossos dias escasseiam dois ingredientes fundamentais. Visão e Confiança. Sabemos que nenhum deles surge por decreto, nem pela vontade de um único homem ou instituição por mais poder er com que se possa apresentar. A generalização de um clima onde predomine a Visão e a Confiança depende em larga medida de convicções, vontade, capacidade de organização e resultados. Por isso, a importância do papel do Sector Solidário pode ser assim muito muito mais decisiva do que a que resulta da sua acção nos sistemas sociais. O Sector Solidário é, no momento que o país vive, de extrema importância e a sua função tem de ser interpretado como um verdadeiro investimento na criação de redes de confiança solidária, sol o que muito pode contribuir, não só para diminuir a dor dos que mais sofrem, mas também para a alimentar a esperança a todos nós. 50 INTERVENÇÕES FEITAS NO O ESTRANGEIRO Adjusting family, education and employment policies to the new demographic pyramid, Budapeste, Hungria, 17 de Setembro de 2010 1. Demographic situation in the European Union 14, 15, 16 According to Eurostat, the population of the European Union will grow slowly until the year 2025, afterwards it will not change for around two decades, and in the year 2040 it will start slowly decreasing. However, there are differences between member states: in some of them the population will rise (Cyprus, Ireland, Luxembourg, the United Kingdom and Sweden) and in others it will decline (Bulgaria, Bulgaria, Latvia, Lithuania, Romania and Poland). Europe’s population is also projected to grow older. The share of the population aged 65 years and over will rise from 17% to 30% in 2060, and those aged 80 years and over will rise from 4% to 12%. In 2010, 10, Europe had 78 million children (below 14 years old). In 2060 this number is expected to decrease by around 7 million and the working age (15-64 (15 64 years) population to decrease by almost 50 million persons. Nowadays in Europe, there are 4 persons of working working age for every person aged 65 or more. In the year 2025, this ratio will decrease to “3 to 1” and in the year 2050 it will decrease to only “2 to 1”. This means that the current old-age old dependency17 ratio is around 26%, in the year 2025 it will increase se to 34% and in the year 2050 it will increase to 50%. 2. Factors responsible for this situation There are two factors responsible for the demographic evolution explained: The first is the increase in life expectancy. Since 1960, average life expectancy (then ( 60 years of age) has increased by five years for women and almost four years for men. The second factor is the decline in the birth rate. In recent decades fertility rates in Europe have fallen considerably. The fertility rate in Europe (1.68) is below the threshold needed to renew the population (around 2.1 children per woman), and in two Member States (Poland and Slovakia) is less than 1.5 children per woman. Additionally, several studies indicate that Europeans do not have as many children as they would like. This is connected to social and economic factors that lead to late emancipation, meaning that people have fewer children, later in life. 14 Eurostat “Population projections”, September 2010. Eurostat Newsrelease “Population projections 2008-2060”, 2008 August 2008. 16 Eurostat urostat Statistic in focus: Population and social conditions, July 2008. 17 Old-age dependency ratio is the number of persons aged 65 and over expressed as a percentage of the projected number of persons aged between 15 and 64. 15 51 Longer time in education, the cost of housing and the difficulty of obtaining stable employment in particular are keyy aspects in delaying the start of a family.18 A smaller and older labour force raises new challenges for the sustainability of social security systems, especially retirement pensions, and other public services such as those related to health and care for the elderly. 3. “Family friendly” policies International comparisons underline the effectiveness of family policies implemented by some Member States over several decades to create conditions supportive of people who wish to have children. Policies that promote economic growth and security in the labour market and which reconcile work and family life have been shown to contribute both to increased participation in the labour market and increased fertility in Europe. Northern European countries, which have have taken measures to make the organisation of working time more flexible, thereby allowing work to be reconciled with bringing up children, have recorded both high birth rates and high levels of female employment.19 These measures have been accompanied by others designed to ensure equality between women and men, the promotion of parental leave for both sexes and the provision of affordable childcare services.20 Mechanisms ensuring that people do not have to choose between a career and having children help to increase both fertility rates and employment. In some Member States job insecurity is more significant among young women. Raising the birth rate therefore includes promoting greater job security among the female working population, allowing them to have children and to bring them up without major interruptions in their careers and in their profile as contributors for social security for later pension rights. Wage convergence between men and women will also lead to a more balanced division of family and domestic responsibilities. More generally, facilitating the transition to adulthood by integrating young people into the labour market with a greater balance between the flexibility and security required to bring up children will allow them to advance their decision to start a family. The latter measure will also motivate young people to invest in their education so that they are better prepared to face the challenges of globalisation with better income prospects, which will in turn make it easier for them to realise their family plans. 18 ‘Report on a regulatory framework mework for measures enabling young women in the European Union to combine family life with a period of studies’. (2006/2276(INI)), European Parliament. 19 In Denmark (73%), Sweden (70%) and Netherlands (72%) more than 70% of women aged 15-64 15 were employed in 2009 (Eurostat Newsrelease, 4 August 2010). 20 ‘Promoting solidarity between the generations’, Communication from the Commission, COM(2007) 244. 52 4. “20” extra measures Besides the “family friendly” policies mentioned before, I would like to suggest 20 more measures that may also contribute to increase the birth rate.21 4.1. Financial incentives 1. Regular payments ts in the form of cash to people with children that could depend on the number of children. 2. Lump sum payments or loans. These could include payments to parents at the time of birth of a child (baby bonus or maternity benefit), on starting school or at some other age. These benefits could be subsidised from the second child. 3. Credits or benefits for people with young children and/or children with some type of dependency. These benefits could also be aimed at students with children. 4. Provision of subsidised or free goods and services related to education, health, sport or public transport in particular. 5. Flexibilisation of the rental market as a way of promoting access to housing. 4.2. Work and family initiatives 6. Maternity and paternity leave that would include the right to return to a position held when a child is born, irrespective of the type of employment contract. 7. The safeguarding of access to maternity leave for women with temporary or part-time part contracts and the self-employed. employed. 8. Promotion of the entry of young people, particularly women, into the labour market, and improvements in their career and income prospects. 9. Reorganisation of work, taking advantage of the new technologies to promote working from home. 10. Flexible working hours and short-term short term absences for resolving family related issues. 11. Promotion of more and better part-time part work for people with children. 12. Provision of subsidised or free childcare services (crèches) as an employment and family policy, including luding such services for job-seeking job seeking parents. This measure could be facilitated by transferring existing informal services to the formal economy, which would be an opportunity to create more employment and to collect more taxes. 13. Adaptation of care service working hours to parents’ working schedule. 14. Policies for equality between men and women in the labour market. 21 ‘The toolbox of public policies to impact on fertility - a global view’ (adapted), McDonald, P, Paper presented at the annual seminar of the European Observatory on Family Matters, Seville, Spain, 2000. 53 15. Promotion of older people’s participation in social and working life, making their professional activity compatible with helping helpi children and grandchildren. 4.3. Education, gender and child-friendly child initiatives friendly environments: stricter enforcement of traffic rules, greater safety 16. Promotion of child-friendly in residential areas, better public recreational facilities (playgrounds). (playgro 17. Comprehensive gender equality policies (gender mainstreaming) by removing the legal and institutional remnants of the male breadwinner model. The objective of this measure would be greater recognition and support for female inclusion in the labour labour market on the one hand, and greater recognition and support for men as parents on the other. 18. Inclusion in school curricula of subjects promoting equality between men and women and the balanced sharing of domestic and family responsibilities between betwee them. 19. Promotion of positive social attitudes towards children and parenting by ensuring that society supports people who want to have children, without creating inequities among the childless. 20. The principle of subsidiarity must be clearly applied applied by giving local authorities a leadership role due to their proximity to the real problems facing people and families. In order to optimise financial, human and infrastructure resources and to avoid the duplication of action, local authorities should be given greater responsibility, and naturally more resources, in implementing and managing family policies at local level particularly in terms of the provision of childcare services (crèches), education, leisure, sport and local public transport. Re-Integration Integration of excluded people into the labour market: specific measurements in different countries, EZA (European Centre for Workers’ Questions), Breslau, Polónia, 24 e 26 de Setembro de 2010 Most of the actions taken in the European Union for the re-integration re integration of excluded people in the labour market are funded by the European Social Fund. The main goal of these initiatives is to empower individuals and make them realize their potential by engaging in productive and rewarding employment, especially in order to decrease the risks of social exclusion and poverty. The most vulnerable/excluded groups in the labour market: • People up to 25 years of age without qualification or with a low level of qualification; • Older people (older than 50 years of age); • Minorities, inorities, disabled people, migrants and asylum seekers. Five ideas for the re-integration integration of those groups: 1. Rationalisation and optimisation of vocational training aiming at fewer but better programs truly directed to the job market needs; 2. Better intermediary iary work of the Employment and Professional Training Centres regarding the response to jobs offers namely through a closer link with the private sector; 3. Better professional counselling in the job search (preparing people for work interviews); 4. Promotion off “brokers” that can act as intermediaries between the Employment and Professional Training Centre or the Employer and the unemployed person; 5. Promoting own-employment employment through the setting up of micro or small enterprises. 54 It is needless to say that the qualification of workers is a good sign of what can be expected from the current and future competitiveness of a country’s economy and therefore it should be a priority for all of us. Vocational training can play a major role on the development of skills aimed at finding a job. Vocational training: additional information The situation of training in Europe is not homogeneous. In Scandinavian countries, a very high percentage of workers participate in training. This helps them to progress in their career caree and to quickly re-enter enter the market place in case they have been made redundant. It's the flexicurity model working. In southern Europe, however, the public effort for upgrading the qualifications of the population is quite recent and for this reason many many of the workers who are still active in the job market were not encompassed by this process. This means that, in these countries, the labour market is still incorporating people without compulsory education or without full secondary school. Therefore, the the focus of training is rather on basic skills. The main challenges We need a pragmatic approach: For workers to truly benefit from training they need to have minimum education attainment. Low education limits the potential of life-long life learning which leads ads to “remedial learning” and which in turn results in low education attainment and so on. It is a vicious cycle. Workers have to be motivated: It is not easy to motivate older workers, namely above 45 years old, to engage in training. However I believe that low receptiveness is related with the effectiveness and organisation of the education system and not with a “poor learning culture". Training curricula should be effective: In fact, training must have a practical orientation and be close to the needs of the business sector. However, sometimes this is not the case and therefore efforts should be made for training to achieve higher credibility and prestige both in the business world and amongst potential students. Access to training should be as broad as possible: The users that could benefit the most from training are usually the hardest ones to reach and motivate. I am referring to very low skilled workers with low IT knowledge or workers who live in isolated communities. Evaluation of training programmes should be promoted: We need to define clear objectives and performance indicators. These indicators should be “output” oriented such as the “entrances/re-entrances “entrances/re entrances in the job market”, the “average period between exit and entrance/re-entrance entrance/re in the job market”, “promotions and salary increases” or “transitions from a fixed term contract to an open ended one”. 55 The main priorities: We need a flexible training system: It is very important that workers are heard in the process so that training provides them with "ready to use" skills instead of theoretical knowledge. Social dialogue and the promotion of training: A "social pact" could help to gather enthusiastic consensus for the upgrade of workers' qualifications. This process should involve all all stakeholders namely enterprise associations, workers and public authorities and could be negotiated on a sector basis. Involvement of the local authorities: The local authorities should be given considerable autonomy to be involved in the planning, management agement and delivery of training because they know their population needs better than anyone else. The concept of the "education broker": Those brokers act as intermediaries between the training institution or the employer and the potential user who can be employed or unemployed. Conclusions given the current crisis We need to be more able to accept new challenges: With the rhythm of changes that we are all experiencing, training should be seen as a permanent component of our lives as it can helps us, citizens, to accept and face new challenges. Training can be a useful tool to increase self confidence: We can only fight our fears on the basis of trust in ourselves and in the others. Therefore, training is a precious tool to generate this kind of mindset minds and spirit. Training could be used to minimize risks: All changes involve risks. The question nowadays is trying to minimise the risks associated to change. From this standpoint, training can have a determinant role in mitigating those risks. Le rôle des conseils économiques et sociaux dans la promotion de l´économie sociale de marché, prospère et solidaire, Groupement d'Études et de Recherches sur la Méditerranée, Rabat, Marrocos, 21 de Janeiro de 2011 e Alger, 14 de Junho de 2011 1. Introduction J’ai ’ai la forte conviction qu’a l’heure l’heure actuelle les systèmes basés sur l`économie sociale de marché sont mieux placés que les autres à consolider la paix et la prospérité. Dans cette intervention je vais essayer de souligner l`importance qu` une nouvelle nouvell culture – laquelle j`appellerais de coopération, de négociation et de compromis – peut avoir dans les économies sociales de marché, dans le but de favoriser la naissance d`une ambiance dans laquelle puissent être développés des formes de dialogue structuré ré entre les gouvernements et les agents économiques et sociaux. Dans la partie finale de mon intervention j`aurais encore l`opportunité de définir un ensemble de présuppositions pour que l`exercice de cette forme de dialogue ne reste pas associé a des simples si figures de rhétorique sans aucun contenu pratique, mais contribue à la définition et le suivi des politiques économiques et sociales. 56 2. Les avantages d`un système base sur l`économie sociale de marché Un système basé sur le concept de “économie sociale de marché” est fondé sur l´idée que dans ce système il y a une complémentarité évidente entre les mécanismes du marché libre et l’équité sociale. En faite, l`économie sociale de marché exige non seulement une dimension matériel ou économique mais une ne autre aussi importante appelée de sociale ou humaine. Ainsi, le concept d'économie sociale de marché si, d'une part, couvre le souci de lutter contre les inégalités sociales, en créant les conditions pour l'égalité des chances, d'autre part, est préoccupé préoccupé par l'inefficacité, en ce qui concerne la répartition des ressources et dans ce sens devrait promouvoir une saine concurrence entre les différents acteurs économiques. Une économie sociale de marché ne présuppose ni la centralisation de l'activité économique, éco ni la déréglementation totale du marché sans aucune forme de redistribution des revenus. En fait, dans le concept d'économie sociale de marché, l'équité et l'efficacité ne sont pas considérés comme des alternatives mais comme des aspects complémentaires compléme et interdépendants. Le concept d'économie sociale de marché exige également l'existence d'une société où les êtres humains vivent dans la liberté, une liberté qui trouve ses limites dans le concept de justice et, par conséquent, l'économie sociale de marché ne peut pas vivre ni avec une société où il ya la liberté sans justice, ni avec une société où il y a de justice sans liberté. On est seulement libre quand ont vis dans une société de paix, de prospérité, en démocratie, dominé par l'égalité de tous t devant la loi, dans le respect de l`état de droit et des droits de l'homme, où chacun peut profiter de véritable égalité des chances à l'accès l'éducation, la formation et l'emploi. La solidarité est également un pilier fondamental d'une société basé sur sur l’économie sociale de marché, ce qui signifie que l'organisation des pouvoirs publiques doit prévoir et développer des systèmes, privés ou mixtes de protection contre les vicissitudes de la vie telles que la maladie, la vieillesse, le chômage, l`invalidité ou le décès. Le respect des valeurs associées à la liberté, la démocratie et les droits de l'homme ne se limite pas aux élections. A notre époque, le chemin pour la paix et la prospérité exige la mise en place de plates-formes formes pour permettre la tenue d'un dialogue structuré entre les gouvernements et les représentants des différents intérêts économiques et sociaux. Sera basé sur les processus de dialogue structuré qui on peut mobiliser la coopération entre les agents économiques, sociaux et autres, danss la conception et la mise en œuvre des politiques économiques et sociales. Il s'avère que dans la situation de crise que nous vivons cette conviction est renforcée parce que la solution des problèmes auxquels nous sommes confrontés n'est pas compatible ni n avec des méthodes simplistes, ni le résultat de l'action par un seul agent, même si son pouvoir est très grand. En effet, le phénomène de la mondialisation a conduit à la restructuration de presque tous les secteurs de l'économie, et a profonds changements changements dans les marchés du travail et dans les relations sociales, tout dans le but de rechercher des niveaux plus élevés de compétitivité. Définitivement, la mondialisation n'est pas une question d'économie. À cet égard, je cite le prix Nobel Joseph Stiglitz: tz: «Le débat sur la mondialisation est devenue si intense, non seulement en raison du bien-être être économique, mais aussi a cause de la nature de notre société, peut-être peut parce que ce qui est en question c´est la survie de cette société que nous connaissons si bien jusqu´ici." 3. Une nouvelle culture de coopération, négociation et compromis Dans ce cadre sera très important de développer une culture fondée sur la coopération, la négociation et le compromis qui occupera progressivement l'espace de la culture qui est basé sur le conflit. 57 Ce chemin sera beaucoup plus facile à parcourir si le niveau de confiance mutuelle est plus grand. Les niveaux de confiance seront plus élevés, s’il y a plus l'intensification du dialogue social. Il y aura une plus grande transparence dans les processus décisionnels liés à l'ajustement ou à la restructuration si le dialogue social est plus intense. Ainsi, les acteurs politiques, économiques et sociaux ne devraient pas manquer de tenir compte de la nécessité de réviser et de moderniser les mécanismes concernant la consultation et la participation des agents économiques et sociaux, pour être en mesure d'obtenir un cadre légal et efficace que peut promouvoir l'articulation d'un dialogue structuré. C'est dans ce contexte que le rôle joué par les conseils économiques et sociaux peut avoir une grande importance. Au moment où partout on voit des changements qui se vérifient à un rythme qui n'a jamais connu une autre période de l'histoire, on doit, par tous les moyens, essayer de minimiser mi les risques associés à ces changements. La façon la plus directe pour les réduire c´est par la promotion d'une meilleure sécurité dans le changement, parce que plus il y a de risques, plus la sécurité doit être assurée. La sécurité doit précéder la flexibilité, car seuls ceux qui sont sûr d’eux et des conditions qui les entourent, peuvent devenir plus flexibles. C'est ici que devrait fonctionner les systèmes de dialogue structuré qui permettrait une analyse commune des problèmes et, si possible, obtenir obt des plates-formes formes de compréhension entre les gouvernements et les partenaires sociaux pour la définition des responsabilités autour de stratégies qui décident de partager. Les caractéristiques des sociétés du temps présent sont très différentes de celles ce d` une période assez récente. Les sociétés d`aujourd'hui, se présentent avec une plus grande diversité et une plus grande mobilité. Sont plus complexes et fragmentés. Les migrations, les différences culturelles, économiques et les changements dans les structures familiales et sociales ont contribué à la diversité croissante dans la société. L'expansion des valeurs démocratiques a facilité aux individus et aux groupes d'intérêt la manifestation, l`organisation et la communication de leurs intérêts et ontt assisté à l'émergence de nouvelles formes d'organisation que jouent de la pression sur les gouvernements pour s'assurer que les processus d'élaboration des politiques sont étendus à de nouveaux participants. La réponse à cette tendance ne peut être donnée donnée que sur la base d'un dialogue structuré. Une autre caractéristique des temps modernes c`est l'importance croissante des interdépendances qu'elles soient financiers, économiques, entre les marchés ou les processus. Ce niveau élevé d'interdépendance entre tout et tout le monde détermine que les processus de prise de décision soient devenus plus complexes car ils doivent tenir en compte les différents intérêts, même les antagonistes. Une bonne perception des risques associés à la prise de décisions exige que qu l'on connaisse en détail les motivations des agents impliqués et cela ne peut être achevé que sur la base d'un dialogue structuré. Le moment présent exige que les gouvernements suivent et essayent de comprendre et d'anticiper les intérêts des groupes dans la société. L'approche adaptative, qui se traduit par une réaction aux situations dans la seule mesure qu´elles deviennent des problèmes, a donné lieu à des réponses inadéquates et retardés parce que le moment que les gouvernements réagissent à un problème pro donné, en général l'éventail des options est déjà très faible. Les gouvernements n'ont plus le monopole des services, ni le monopole de l'autorité. L'idée traditionnelle d'une autorité unique, avec des responsabilités pour la population d'un territoire territo défini et avec des ressources relativement fixes, n'existe plus. Au niveau international, les gouvernements abdiquent volontairement d`une part de son autorité, en échange d'une plus grande sécurité, de coopération et la poursuit des économies d'échelle. d'échell La mondialisation a ouvert la société à d'autres influences et à nouveaux modèles de gouvernance. 58 La démocratisation a exposé les citoyens à une plus grande variété d'utilisations possibles des nouvelles technologies, qui a fourni de nouvelles façons façons pour les groupes à organiser et à faire passer leurs messages aux électeurs. Bien que les groupes d'intérêt ne sont pas nouvelles, la prolifération et l'évolution du pouvoir d'influence de ces groupes est en train de pressionné les gouvernements et les pouvoirs publics dans le but d'élargir l'accès aux processus d'élaboration des politiques à de nouveaux partenaires et participants. Nous devons comprendre que les gouvernements ne sont qu'un “acteur” parmi plusieurs, ils aussi très puissants. La participation ipation accrue de ces groupes renforce le processus démocratique et place le gouvernement dans une meilleure position pour prévoir les désirs des citoyens, mais exige aussi qu'ils définissent les règles de participation. D'où l'importance d`accroitre le développement d des systèmes de dialogue structuré. Il est à espérer que les gouvernements jouent un rôle important dans de nouveaux domaines comme la sécurité alimentaire, la protection des consommateurs, la promotion de la concurrence, la réduction des coûts ts des soins de santé et la protection de l'environnement, entre autres responsabilités. Cette approche différente de l'activité des gouvernements a tendance à être élaboré dans un cadre beaucoup plus exigeante parce que la tendance est pour les gouvernements gouverneme de faire plus, mais en limitant l'obligation de le faire à moindre coût pour le contribuable. Ce processus de satisfaire plus de besoins collectifs avec moins de ressources exige une clarification des critères qui devraient être à la base de définition pour fixer les priorités et que chacun peut les comprendre. Dans ce processus politique, un dialogue structuré peut être un outil très efficace pour maintenir la paix sociale. Pour toutes ces raisons, la pratique du dialogue structuré est la méthode qui devrait être privilégiée. Ce point de vue, qui est un signe de modernité, exige un grand effort par les différentes forces politiques et les acteurs économiques et sociaux de s'habituer s'habituer à distinguer l'essentiel de l'accessoire dans leurs activités quotidiennes. Cette attitude sera en mesure de contribuer à la réalisation de l'objectif le plus important: faire l'économie de croître à un rythme qui permet de réduire très significativement significativement le volume du chômage, aspect essentiel pour parvenir à une économie de marché prospère et la solidarité sociale. Une culture fondée sur le dialogue, la négociation et le compromis seulement pourra contribuer à la promotion d'une économie sociale de marché prospère et unie si elle est développée en conformité avec les modèles culturels de chaque pays ou région. Sur ces questions sera toujours une erreur d'essayer d'importer des modèles ou d'essayer de définir un modèle unique. Mais il est importantt d`apprendre avec les expériences des autres et, dans ce sens, devrait être approfondi une coopération si étroite que possible entre les différents acteurs que dans chaque pays, cherchent à développer des formes de dialogue structuré. Cette réunion tenuee à Rabat sur le rôle consultatif et le rôle du Conseil économique et social dans les pays méditerranéens est un bon exemple. 4. Présuppositions pour un dialogue structuré plus efficace Un processus de dialogue structuré ne peut pas être réduit à un simple exercice de remplir les formalités de nature légale ou administrative. Si ont fait ce « chemin » le résultat sera une dévaluation du processus aux yeux de l'opinion publique et il ne sera qu`une petite étape jusqu` à remettre en question sa raison d'être. 59 L'affirmation d'une réalité politique forte fondée sur le dialogue, la négociation et le compromis ne sera possible que si, au départ, seront définies quelques présuppositions fondamentales. Comme exemples, je laisse ici quelques-unes quelques des présuppositions ésuppositions qui doivent être acceptées et qui ont été fondées sur les leçons qui sont tirées de l'expérience d'un passé très récent. La première leçon à tirer de ce passé récent, c'est que l'ère de l'expérience néolibérale a échoué et la soi-disant autorégulation régulation du marché est seulement une théorie sans aucune prise sur la réalité parce que, tout simplement, et comme a été démontré récemment, le marché ne peut pas, par luilui même, se auto réglementer. Par conséquent, l'intervention du gouvernement est essentielle esse pour surmonter la situation à laquelle le pays est arrivé. La deuxième leçon découle du rôle excessif joué par le secteur financier dans la période récente. Le système financier dans son ensemble doit être restructuré, le rendant plus transparent et au service l'économie réelle. Il faut pénaliser les spéculations et encourager les investissements productifs. En termes simples, nous devons mettre l'argent au service de ceux qui créent des richesses et d'emplois. Ceux qui spéculent doivent être pénalisés pénalisés financièrement, ceux qui créent des richesses et d'emplois doivent être pris en charge. La troisième leçon à tirer du passé est que l'économie doit être constamment surveillé, audité et évalué. C'est seulement ainsi qu`elle peut être entendu par la plupart des citoyens. La quatrième leçon est que les politiciens doivent exclure de ses discours l`utopie et les promesses que tout ira mieux. De telles pratiques ne mènent qu´à la désillusion et volent l'espoir de meilleurs jours, car personne ne les croit plus où les gens qui les prononcent. Seule la vérité et la réalité peuvent offrir l'espoir. Les gens acceptent mieux le concret en ce qui concerne l`évolution de leur vie que les dossiers même se ceux-ci ceux sont très optimistes. Integration and inclusion, sion, Have integration policies failed? What role for the EU?, Seminar of European Ideas Network and centre-right centre right Think Tanks and Political Foundations in Europe, Europe 26 de Janeiro de 2011 1. Social exclusion Social exclusion is perhaps a new name for an old reality that has to do with the inability of some of our fellow citizens to accede to basic instruments without which it becomes impossible to develop normal relationships in organized societies. My first remark is to underline that social cohesion can only be achieved in a society which respects fundamental values related with human rights. In the Europe Union, social cohesion and prosperity have been developed in the framework of what we call the European Social Model. The European Social Model relies relies on different national models based on common principles and values: peace, social justice, solidarity, freedom, democracy and respect of human rights. The planning and implementation of social policy belongs to Member States however, the Union has played d an important role in the search for conciliated solutions among countries in many aspects that have to do with social policies. 60 2. The social acquis in the EU The first social concerns at European level were born with the European Social Fund fifty years yea ago. In 1992 the Treaty of Maastricht confirmed the promotion of a high level of employment as one of the objectives of the EU. That goal, as well as the fight against social exclusion, was repeated in other fundamental texts like the Treaty of Amsterdam in 1997 and the Treaty of Nice in 2001. The Lisbon Strategy, in 2000, identified a set of challenges for the European Union which whi conciliated economic growth with social cohesion. The Treaty of Lisbon also states in its main provisions the fight against social exclusion and discrimination together with the promotion of social justice and solidarity. ategy have been recently enhanced through the “Europe 2020 strategy” The goals of the Lisbon Strategy which includes fundamental social targets namely reducing the population living below the poverty line by 25%, raising the employment rate to 75%, reducing early school leavers to fewer than han 10% and guaranteeing that 40% of young people have a school diploma. However, the tools to deliver the targets belong to the Member-States. Member States. And Members-States Members have no room for manoeuvre. 3. The challenges of the European Union The main drawback behind these strategies is that while the economic interdependence is growing, the political articulation is still very fragile. Let’s take the example of the euro: we have 10 years of success with stable currency and prices, the euro is the second reserve currency currency of the world and it has served as a protection shield for small countries like Portugal. However, the major weakness of the euro is that the economy of the euro zone countries does not grow or grows very slowly. If the euro zone loses influence in terms terms of world competitiveness it is not worth to keep on talking about the remarkable and noble values which are the essence of the European project. There is a single currency but no European economic system, nor financial system, not even a proper link between the economic and financial systems of the Member States. We don’t have truly European companies. We simply have national companies that are being Europeanized and globalised. The European Union has no ability to intervene in the financial system which is fragmented across Member States. The euro is not connected to a macroeconomic policy. In the euro zone there is no coherence between monetary and fiscal policy. The link between monetary, fiscal, tax and other policies is also very weak. 61 There are no anti-cyclical cyclical policies, which hampers innovation and economic growth. There is not a real budget of the Union. The maximum contribution of Member States remains at 1.24% since the last two decades. Currently, 85% of the funds of the Union’s budget are not really own resources because they come from the national budgets of Member States. The major revenue sources of the Union are presented in national budgets as “expenditure”. Instead, all countries should analyse that expenditure from a global perspective having into account the value of the policies at European level. The positive impact of low and stable interest rates has largely surpassed the negative impact of differences in competitiveness between between the countries of the Euro Zone. However, as the economies are contracting, the camouflage of those differences becomes increasingly difficult. The “2020 Strategy” arrives in the worst economic crisis for decades with mass unemployment. he “2020 Strategy” should be part of a new governance system that coordinates Above all, the economic policies, fiscal policies and reform programmes How can we have the Stability and Growth Pact separated from the “2020 Strategy” policy objectives? This was a deliberate choice under the pressure of some Member States e which feared that compliance with the Stability and Growth Pact could be at risk under the pretext of investment in the strategy. Integrating both policy fields would have been an opportunity to bind the “Europe 2020 Strategy” into a wider economic governance mechanism. It would also prepare the tools at EU level to deal with asymmetrical shocks. I believe the solution will come. The euro zone crisis is systemic and, as such, it can only be solved solv with a systemic solution. The image I have of the single currency’s development process is the one of a very fragile bridge. In this moment we are in the middle of the bridge. Either we all cross it or we all fall. The moment of courage that will allow allow us to fully cross the bridge has not arrived yet. But reality will force the arrival of that courage sooner or later. I believe that path will include the creation of a single issuer for the public debt of the euro zone as it has been proposed by the President President of the Eurogroup who has always had a visionary thought. This will certainly be a more federalist path which, amongst other things, would allow the independence of the Europe 2020 strategy from the public finance situation of Member-States. Member I would like to quote the French philosopher and sociologist Raymond Aron who, after the Second World War, mentioned that "the European Community is not an issue for one-day one only enthusiasm, it's the expression of the effort that has given sense to one life life and has set the goals for one generation". 62 4. Given the current circumstances, how can we foster social inclusion? I believe one of the most important causes of social exclusion is high unemployment. An inclusive labour market is a precious tool to promote promote social cohesion as employment may enable individuals to become self-sufficient self on a lasting basis. On the other hand, high employment is a pre-condition pre condition to fund social welfare and anti-poverty anti measures. This means that we need to provide pathways to employment for those who can work and a dignified life for those who cannot. Therefore, I believe that measures like the minimum income have to include incentives for people to move from social benefits into work. In brief we want more people at work and fewer on benefits. I would like to say a few words about some principles that I believe inclusion policies should respect. We should think about new measures to integrate people who are furthest from the labour market. They should be coordinated with other policies namely with tax policy, employment measures, education and training, childcare, housing, public transport and health services. We cannot treat social exclusion only as a "financial problem". We should also enforce the personal development off the individual. We should seek for a large consensus amongst all stakeholders regarding the need for an inclusive society. Local and regional authorities should become true planners and managers of social policy. We need effective links between social protection and active employment strategies. We should also think about incentives to avoid inactivity and the "poverty or unemployment trap". We should evaluate, on a regular basis, the measures implemented. 5. Final Remarks As a final remark I would like ke to remind you that the main goal of the European project was to achieve peace in a continent which had been destroyed by cruel fights that did not arise from the outside but from the inside. Because I am a European patriot, I believe we cannot sleep under under the shadow of History. The fight against social exclusion can and should be, in this twenty-first twenty first century, the most authentic expression of human freedom. 63 A EUROPA E O EURO A Estratégia Lisboa 2020 Seminario de consejos económicos y sociales de la Unión Europea: La estrategia de Lisboa a partir de 2010 en una Europa en cambio, cambio Madrid, 30 de Abril de 2010 Conferência no Palácio da Bolsa, Porto, 30 de Março de 2010 Assembleia da República, Lisboa, 25 de Maio de 2010. Abordagem dos desafios ao Programa Programa Nacional de Reformas, Centro Cultural de Belém, Lisboa, 16 de Fevereiro de 2011 1. Nota introdutória Definir estratégias ou linhas de orientação sobre o que queremos para o futuro só pode ser saudado como muito positivo. Para além de se tratar de uma uma atitude que revela que não se está disponível para aguardar que as coisas aconteçam, por força da acção de outros ou pelo desejo do divino, é também e em larga medida, uma das expressões mais autênticas do exercício de cidadania e da afirmação de valores essenciais à existência humana, como é a liberdade. Podemos dizer que o exercício de querer perspectivar o futuro é, em certo sentido, a história da humanidade. Houve quem sonhasse e planeasse a epopeia das descobertas, como houve quem fizesse o mesmo exercício para que o homem chegasse à Lua, ou para que tivéssemos chegado onde chegámos no mundo das telecomunicações. Todos aqueles caminhos foram percorridos na base de uma ideia ou se preferirem de um sonho. Depois, surgiu uma inabalável vontade em chegar chegar à terra prometida ou aos objectivos definidos, mas nada ou muito pouco foi deixado à sorte do destino. Por trás de cada um dos percursos houve sempre muito esforço, muito estudo, muita discussão, seguramente alguma desilusão, muitos sacrifícios foram pedidos, edidos, nalguns casos, até em vidas humanas, mas os objectivos acabaram por ser alcançados. Perspectivar o futuro no sentido de que esse futuro pode ser determinado pela acção do presente é, na sua essência, o que de mais nobre encerra a actividade política. política. Sendo um exercício muito estimulante, há que ter a consciência de que também se trata, nos dias de hoje, de uma tarefa complexa e difícil. A minha intervenção abordará dois planos, o europeu e o nacional. 2. O Plano Europeu Quanto ao primeiro dos planos - o europeu - vale a pena aprendermos com o passado em matéria de definições estratégicas para uma década e que se foram excelentes quanto à concepção e objectivos, o mesmo não se poderá dizer quanto aos resultados. Na Estratégia tégia de Lisboa tudo era prioritário, o que significa que nada foi prioritário. Nessa estratégia todos eram responsáveis, o que significa que ninguém foi responsável. Agora, no que respeita à Estratégia 2020, as metas definidas parecem ser mais consensuais, consensuais, mais realistas, deixa de haver uma excessiva proliferação de objectivos quantificados e incorporam-se incorporam as cinco principais áreas de debate actual: emprego, inovação, mudanças climáticas, energia e pobreza. Nesse sentido, quero assinalar como positiva esta orientação que emana das instâncias europeias. 64 Todavia, persistem alguns pontos menos positivos. É o facto das ferramentas para alcançar as metas pertencerem praticamente e em exclusivo aos Estados-Membros, Estados Membros, o que não permite à Comissão Europeia pilotarr o processo, mas apenas acompanhá-lo. acompanhá lo. Ora, a experiência mostra que as grandes reformas europeias só se concretizaram quando a Comissão assumiu a liderança dos processos como apontam os vários casos bem sucedidos, no tempo do Presidente Jacques Delors. Também gostaria de chamar a atenção para o facto da força das interdependências ser hoje cada vez mais forte a todos os níveis, sejam eles financeiros, de mercados ou de processos. Este é um tempo onde tudo influencia tudo, mas é também o tempo onde as interdependências in políticas continuam a manifestar-se manifestar se a um ritmo muito mais lento do que o que se verifica em todas as outras. Se bem repararmos, os Estados estão organizados como o eram há duzentos anos. É este desequilíbrio que explica, por exemplo, as muitas muitas dificuldades que a Europa encontra para encontrar o seu tempo, no nosso tempo. A minha visão aponta para que a “Estratégia 2020” deveria ser parte de um novo sistema de governação que, a nível europeu, fosse susceptível de coordenar as políticas económicas, econ fiscais e programas de reforma. Penso que a nível europeu se está a perder uma oportunidade para vincular a “Estratégia 2020“ a um mecanismo mais amplo da governação económica, pelo menos, a nível da zona euro. Essa seria uma via para, por exemplo, exemplo, preparar algo de fundamental como seja os instrumentos para lidar, a nível europeu com choques assimétricos, mas a União Europeia tem dados mostras de uma grande lentidão para tomar decisões relevantes nestas matérias, com evidentes prejuízos para países como Portugal. Depois desta breve incursão pelo andamento, na minha opinião, pouco satisfatório das políticas europeias proponho-me me concentrar-me concentrar me naquilo para que fui convidado, comentar o texto do Plano Nacional de Reforma na dimensão económica e social. soci 3. O Plano Nacional Em primeiro lugar, está bem explícito no texto a ideia de que o reequilíbrio das finanças públicas e crescimento económico não podem ser vistos como objectivos incompatíveis. Só podemos falar em saída da crise quando o país for capaz de criar emprego de forma significativa. Tenho de saudar como muito positiva a referência feita na página 7 das linhas de orientação em análise: “… a reforma do enquadramento jurídico-laboral jurídico concretizada por Portugal em 2009 teve como resultado a maior redução de rigidez formal ocorrida no conjunto dos países membros da OCDE desde 2003, colocando Portugal entre o nível da Alemanha e da França nos índices de flexibilidade no mercado laboral”. A via que permite a saída da crise com criação de emprego terá de ser baseada numa orientação da política económica que apoie os sectores produtores de bens transaccionáveis e obriga a uma rotura com a prática seguida nos últimos anos, que conduziu o país a um ritmo de desindustrialização que foi dos mais elevados do planeta. Esta via é clara e ambiciosamente apresentada no documento em análise, o que só pode ser considerado como um sinal também muito positivo. 65 Esta política económica pode permitir conciliar conciliar três objectivos importantes de forma simultânea. Primeiro, conduzirá à inversão no ritmo de acumulação da dívida externa; segundo, não fomentará excessivamente a procura interna; e, terceiro, será criadora de emprego. Todavia, se estou de acordo com c a orientação definida, atrevo-me me a sugerir que se ponha mais “fogo”” na acção, no sentido de criar um verdadeiro sistema de discriminação positiva a favor da produção de bens transaccionáveis. Nesse sentido, parecer-me-ia parecer ia altamente recomendável a referência, cia, por exemplo, à diminuição da taxa de IRC e da taxa social única para o sector exportador e a criação de um sistema especial de concessão de crédito, através de departamento próprio a criar, por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos ou se quisermos ser ainda mais ambiciosos criar uma instituição financeira como já propôs o Presidente do IACEP. 3.1 Pontos Omissos ou Pouco Desenvolvidos Gostaria de apontar cinco pontos que me parecem omissos ou pouco desenvolvidos no texto. Esses pontos são os seguintes: política fiscal, evolução demográfica, políticas de ordenamento do território associadas à pobreza, escrutínio da economia e a necessidade necessidade dum diálogo estruturado. Em primeiro lugar, sobre a evolução da política fiscal. É sabido que maior incidência fiscal nos impostos indirectos significa aumentar a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. Na parte em que se aborda as questões associadas ao combate à pobreza e às desigualdades sociais o tema da evolução da política fiscal deveria merecer uma menção específica, no sentido de registar uma palavra sobre a intenção de corrigir uma evolução que foi imposta pelas circunstâncias e que seguramente pode contribuir para o bom desempenho da consolidação orçamental, mas que poderia ser bem mais justa, através de uma melhor repartição dos sacrifícios. Esta melhor repartição de sacrifícios passa em larga medida por opções a serem tomadas em sede ede de política fiscal. Em segundo lugar, sugiro um maior desenvolvimento sobre as consequências da evolução demográfica. Nos próximos 50 anos manter-se-á manter á a tendência de envelhecimento demográfico. Em 2060 irão residir no território nacional cerca de três três idosos (mais de 64 anos) por cada jovem (menos de 15 anos)22,23, isto é, mais do dobro do valor registado em 2009. A população com 80 e mais anos de idade, poderá passar dos actuais 4% para valores entre 13% e 16% em 2060.24 O aumento da prevalência de doenças doenças de evolução prolongada e com elevado grau incapacitante, traduzir-se-áá igualmente em necessidades crescentes de cuidados. Por causa desta evolução demográfica a sociedade portuguesa num futuro não muito distante vai ser muito diferente do que é hoje e isso vai ter a maior das consequências em múltiplos aspectos, incluindo a orientação das políticas públicas na saúde, segurança social, fiscalidade, administração local, cultura, lazer, segurança, ordenamento do território e imigração. Em terceiro lugar, também me pareceria vantajoso incluir algumas orientações sobre as políticas de ordenamento do território, que mais directamente se relacionam com a pobreza. 22 Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Projecções de população residente em Portugal: 2008-2060, 2008 19 de Março de 2009. 23 Segundo cenário central que conjuga um conjunto de hipóteses consideradas como mais prováveis face aos recentes desenvolvimentos demográficos (INE). 24 Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Estatística, Projecções de população residente em Portugal: 2008-2060, 2008 19 de Março de 2009. 66 Nesse quadro o documento poderia apontar para a necessidade de se vir a definir uma espécie de d caderno de encargos que venha a abordar as desigualdades sociais em meio urbano, as periferias e áreas suburbanas e a “periferização” social dos centros urbanos e, também, os efeitos urbanos das dinâmicas sociais “pesadas” – como o envelhecimento, os novos os comportamentos sociais e familiares e o desemprego de pessoas qualificadas. Em quarto lugar, uma outra referência que me pareceria de grande alcance seria a da absoluta necessidade da economia vir a ser permanentemente escrutinada, auditada e avaliada. avaliada Só assim poderá ser entendida pela generalidade dos cidadãos. Em quinto lugar - esta é a minha forte convicção em termos de evidência política para o futuro – a importância do diálogo estruturado. É cada vez mais claro para todos que a observância dos valores associados à liberdade, democracia e direitos humanos não se esgota nos actos eleitorais. No nosso tempo, a via para a paz e prosperidade obriga ao permanente desenvolvimento de uma cultura de compromisso assente na responsabilidade de cada uma das partes. Estes são alguns dos argumentos, baseados nas características da sociedade do nosso tempo, que podem explicar as virtualidades do diálogo estruturado, que mobilize a cooperação entre todos os o agentes envolvidos na concepção e execução das políticas económicas e sociais. Na situação de crise que vivemos esta convicção sai ainda mais reforçada porque a resolução dos problemas que temos pela frente não é compatível, nem com métodos simplistas, nem com o resultado da acção de um único agente, por maior que seja o poder com que se apresente. Por todas estas razões, a prática do diálogo estruturado é o método que deve ser privilegiado. Esta visão de modernidade obriga a um grande esforço das diferentes forças políticas e agentes económicos e sociais para se habituarem a distinguir o importante do acessório nas suas actividades quotidianas. Esta será a atitude capaz de contribuir para que se atinja o objectivo mais importante: pôr a economia do país a crescer a um ritmo que permita reduzir de forma muito significativa o volume de desemprego. 4. Uma Política Europeia Mais Activa De todos os factores condicionantes para uma definição estratégica para o nosso país o maior tem a ver com as opções que serão decididas quanto à evolução da zona euro. Temos uma moeda única, mas não temos sistema económico económico europeu, nem sistema financeiro europeu, nem uma verdadeira política macroeconómica europeia e nem sequer uma adequada articulação entre os sistemas económicos e financeiros dos Estados Membros. Parece agora haver sinais que já há mais responsáveis europeus, europeus, a nível do Conselho, a perceber que a Zona Euro está perante uma crise sistémica que só pode ser resolvida através de soluções sistémicas. Sabemos que uma qualquer abordagem desse tipo obrigará a que a Europa caminhe para soluções mais federalistas as no projecto de construção europeia. A respeito de tendências federalistas não deixa de ser muito interessante observar que, sendo as políticas sociais da competência exclusiva dos Estados-Membros, Estados assiste-se se a uma pressão no sentido de nivelar práticas e procedimentos, por exemplo, a nível da da legislação laboral, através de forma mais ou menos encapotadas, de práticas federalistas. Para o provar basta verificar a reacção muito positiva da Comissão Europeia sobre a anunciada possibilidade de vir a ser reduzido o montante das indemnizações por despedimento d no nosso país. 67 Assistimos assim a um movimento em que se vai federalizando aquilo que é desnecessário e sempre pelos mínimos e não se federaliza aquilo que é urgente e necessário em termos de animação da actividade económica e de coesão social. socia 5. Nota Final Para terminar quero afirmar que a situação a que o País chegou pode ser ultrapassada. Para isso há que entender as suas origens e aprender com os erros do passado. Há que modificar políticas. Há que ser mais activo nos centros de decisão da União Europeia e da Zona Euro e aí procurar influenciar as linhas de orientação que mais interessam ao nosso futuro colectivo. Mas é preciso que esse caminho se faça sem a desvalorização do factor trabalho, sem a redução dos salários, e sem desmantelar o Estado Social. Com opções correctas, com disciplina, com mais poupança das famílias e das empresas, com a eliminação do descontrolo orçamental e com investimento nos sítios certos Portugal pode vencer a crise. Para terminar quero deixar uma referência que não tem a ver propriamente com a redacção do texto que nos é proposto, mas que deveria ser interiorizada pelos decisores políticos e que tem a ver com a absoluta necessidade de banir do discurso político a utopia e as promessas de que tudo vai melhorar. Tais práticas apenas levam à desilusão e roubam a esperança em dias melhores porque já ninguém acredita nelas, nem em quem as profere. Só a verdade e a realidade é que podem oferecer esperança. Não tenho dúvidas de que as pessoas aceitam mais o concreto da evolução das suas vidas de que a apresentação de dossiers, por mais optimistas que sejam pintados. As novas vestes da União Europeia – A nova governação económica da União Europeia, Auditório da Faculdade de Direito de Lisboa, 4 de Abril de 2011 As questões europeias as são infelizmente pouco debatidas no nosso país e isso acontece quando é sabido que as opções tomadas a nível europeu são das que mais condicionam o nosso futuro colectivo. Por isso, quero começar por saudar esta iniciativa do Instituto de Direito Económico Econó Financeiro e Fiscal da Faculdade de Direito e do Instituto Europeu. Foi também por ter constatado esta ausência de debate no nosso país sobre as políticas europeias, nomeadamente sobre a Zona Euro, que o Conselho Económico e Social, por minha proposta, a, debateu e aprovou, em Julho de 2010, um relatório sobre o “Futuro da Zona Euro”. O conteúdo desse relatório é muito crítico quanto ao modo como as instituições europeias têm lidado com a crise do euro. O Conselho Económico e Social considera que houve uma excessiva lentidão das instituições europeias na resposta a situações de emergência e que alguns países da Zona Euro assumiram posições que privilegiaram mais o interesse nacional de curto prazo em detrimento da própria salvaguarda da coesão da União Europeia. Nesse relatório são apresentadas pistas sobre os caminhos a seguir, nomeadamente a necessidade de reconfigurar políticas e instituições comunitárias de modo a evitar a deriva para a lógica do directório e para o primado dos interesses nacionais, nacionais, mantendo, sem concessões, a exigência de conciliar o princípio da liberdade de concorrência com o princípio da coesão económica e social. 68 Se olharmos para a história da primeira década da existência do euro, concluímos, à primeira vista, que se trata de uma história de sucesso. O euro rapidamente se tornou uma moeda estável, passou a ser a segunda moeda de reserva do planeta e permitiu garantir a estabilidade dos preços. Se o impacto positivo das taxas de juros relativamente baixas e estáveis na Zona Euro superou largamente o impacto negativo resultante de diferenças a nível de competitividade entre países membros, à medida que a economia se foi contraindo, os problemas começaram a surgir porque se tornou cada vez mais difícil camuflar aquelas diferenças. diferenç A crise económica tornou muito mais visíveis os potenciais desequilíbrios da Zona Euro, porque arrastou dificuldades bem mais acrescidas e complexas aos seus membros mais vulneráveis. Os investidores passaram a exigir progressivamente prémios mais elevados para comprar dívida desses Estados que estão agora a viver o pior dos mundos, uma grave falta de competitividade e taxas de juros elevadas. E o facto de alguns Estados virem a sofrer estagnação ou recessão económica pode levantar dúvidas sobre a sua solvência, ou sobre a sua capacidade para se manter na Zona Euro. Mas enganam-se se aqueles que pensam que a crise está confinada a esses Estados. A crise da Zona Euro tem a ver com toda essa região. É uma crise sistémica e, como tal, só pode ser resolvida res através de uma solução sistémica. A forma como o euro foi criado não ajuda à busca de uma solução. Na Zona Euro há uma moeda única mas não há um sistema económico europeu. Cada país continua a defender os seus sectores estratégicos. Na Zona Euro, há uma moeda única mas não há um sistema financeiro europeu. A este nível a União Europeia não tem capacidade para intervir. E não tem essa capacidade porque tudo o que é financeiro está segmentado pelos diferentes Estados-Membros. Estados Fica-se se com a ideia idei de que o Plano de Acção para o surgimento de um verdadeiro mercado europeu de serviços financeiros, pensado em 1999, pelo Comissário Mário Monti, foi ficando pelo caminho. Na Zona Euro, há uma moeda única mas não há uma verdadeira política macroeconómica macroeconómic europeia. Na Zona Euro a articulação entre políticas monetárias, orçamentais, fiscais e outras é muito débil. Na Zona Euro há uma moeda única mas não há um verdadeiro orçamento da União. A contribuição máxima dos Estados-Membros Estados para o orçamento da União ão continua a ser de 1,24% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) desde as últimas duas décadas. Entretanto, e desde essa altura, a União ratificou três tratados, realizou três alargamentos e assumiu muito mais responsabilidades. Mais grave é a questão do modelo de financiamento da União Europeia. Actualmente, 85% dos recursos financeiros da União não são verdadeiros recursos próprios, pois têm origem nos orçamentos nacionais dos Estados-Membros Estados Membros e são, por vezes, apresentadas como uma rubrica de despesa nos orçamentos nacionais. Os Estados tendem assim a julgar as políticas e iniciativas da UE mais em termos de retorno do investimento em comparação com as respectivas contribuições nacionais, em vez de analisar essas despesas de um ponto de vista global atendendo ao valor das políticas levadas a cabo a nível europeu. Nestas condições, há que reconhecer que o modelo de financiamento da União Europeia, como existe, está esgotado. 69 Estes são, entre outros, alguns dos problemas da Zona Euro que não estão resolvidos, nem pressinto que estão a caminho de o ser de uma forma coordenada e abrangente. Há que reconhecer que a criação de uma União Monetária sem a existência de uma união política, talvez tenha sido um erro. Foi uma ilusão pensar pensar que os critérios de Maastricht seriam suficientes para assegurar a estabilidade da Zona Euro e, por isso, estamos a pagar um preço altíssimo. É certo que durante o último ano foi percorrido pelas instâncias europeias um caminho no sentido de reformar mecanismos de supervisão, de coordenação económica e de prevenção para situações de crise. É a chamada governação económica. Um dos instrumentos anunciados é a criação de um único sistema integrado de vigilância para avaliar os aspectos orçamentais e económicos económicos e que deverá funcionar a partir do primeiro semestre de 2011. Falar de governação significa que há regras e procedimentos que têm de ser respeitados A União Económica e Monetária está cheia desses mecanismos, sendo que o critério de convergência é um dos mais importantes, porque define a qualidade de membro da Zona Euro. Tenho a maior das dúvidas sobre a forma como este critério foi concebido, porque ele assente exclusivamente na convergência nominal. Tomemos o exemplo da Espanha. Antes da crise estava em linha com todos os critérios de Maastricht. Apresentava um deficit aceitável e a dívida acumulada estava abaixo do exigido, mas a Espanha vinha a perder competitividade porque se tinha focado excessivamente na construção. Ora, este tipo de evolução evolução não é captado através de uma análise nominal. As propostas apresentadas para a governação económica europeia são, em minha opinião, limitadas. Desde logo, uma focagem excessiva na consolidação orçamental, sem atender à natureza da despesa pode ser contraproducente ntraproducente e é um convite à utilização de políticas pró-cíclicas, pró quando deveria ser o contrário. Nas propostas da União Europeia sobre a governação económica há dois aspectos omissos. O primeiro é que não se tem em consideração os investimentos associados a um potencial crescimento económico, e que iriam, a médio prazo, ajudar a consolidação orçamental pelo lado da receita. O chamado deficit virtuoso é tratado exactamente do mesmo modo que as despesas correntes sumptuárias. Na minha opinião, isto é um erro. A segunda omissão é a não consideração de medidas de incentivo à utilização dos estabilizadores automáticos. Também, na minha opinião, esta omissão é outro erro. Tenho muita dificuldade em perceber que a nível das instituições europeias não se queira entender esta coisa muito simples e objectiva, que é a seguinte: não é possível manter por muito tempo a moeda única num espaço onde não haja coesão económica. Se alguns Estados-Membros Membros vierem a sofrer anos consecutivos de recessão, acentuando desequilíbrios equilíbrios regionais dentro da Zona Euro acontecerá o enfraquecimento das finanças públicas desses Estados, o que torna a situação na Zona Euro insustentável. Nestas circunstâncias, no caso de Portugal e a bem da Zona Euro, há caminhos que não devem ser seguidos. 70 Tenhamos a consciência de que a perda de competitividade associada a um processo de recessão é um “cocktail”” explosivo. Trata-se Trata se de uma via que não conduz à esperança em dias melhores e pode gerar fenómenos de convulsão social incontroláveis. A via que permite a saída da crise com criação de emprego terá de ser baseada no apoio à produção dos sectores de bens e serviços transaccionáveis e obriga a uma rotura com a prática seguida nos últimos anos, que conduziu o país a um ritmo de desindustrialização desindustrialização que foi dos mais elevados do planeta. Esta orientação terá de traduzir a ideia de que o reequilíbrio das finanças públicas e crescimento económico não podem ser vistos como objectivos incompatíveis. Nesse sentido, a par de uma consolidação orçamental, ental, que poderia ser mais justa do que a que está em marcha, tal como o CES referiu no seu Parecer sobre o “Orçamento de Estado para 2011”, teria de ser criada uma discriminação positiva destinada a apoiar a produção dos bens e serviços transaccionáveis. Nos países da Zona Euro que sofrem de recessão económica é fundamental que haja a possibilidade de avançar com políticas anti-cíclicas, anti cíclicas, ou que contenham elementos de discriminação positiva. Não vislumbro nas decisões do Conselho Europeu de 24 e 25 de Março qualquer nota que vá nesse sentido, o que manifestamente prejudica o crescimento económico dos Estados mais fracos. Os resultados do último Conselho Europeu são uma desilusão, em termos de construção europeia. Como também não me canso de repetir que que se torna imprescindível a existência de uma única entidade emitente de dívida pública para toda a Zona Euro. A criação de uma entidade emitente de dívida pública para a Zona Euro é a consequência lógica do processo político que levou à criação do Euro. Hoje é claro que a ideia de existir uma moeda única e uma política monetária sem mais integração das políticas económicas, fiscais e sociais é uma ilusão. Não funciona. Eu sei que esta solução obriga a que os países da Zona Euro entrem por um caminho mais ma federalista no desenvolvimento do processo de construção europeia, mas as alternativas, perante os fortes desequilíbrios económicos e sociais que se podem vir a verificar, são de muita precariedade e de muita insegurança sobre o futuro. A respeito de tendências federalistas não deixa de ser muito interessante observar que, sendo as políticas sociais da competência exclusiva dos Estados-Membros, Estados assiste-se, se, nos últimos tempos, a uma pressão no sentido de nivelar práticas e procedimentos, por por exemplo, a nível da legislação laboral conduzindo a formas encapotadas de práticas federalistas. Para o provar basta verificar a reacção muito positiva da Comissão Europeia sobre a possibilidade de vir a ser reduzido o montante das indemnizações por despedimento despedimento no nosso país. Assistimos, assim, a um movimento em que se vai “federalizando”” no domínio social aquilo que é desnecessário e sempre pelos mínimos e não se “federaliza” “ ” aquilo que é urgente e necessário em termos de políticas económicas. ctuação da Comissão Europeia em todo este processo da crise de euro merece da minha parte A actuação algumas observações. A Comissão é a instituição a nível europeu que tem a obrigação de ter a visão do conjunto e, durante todo este processo, ainda não vi que tivesse apresentado uma proposta sistémica sobre a crise do euro. 71 Sabemos que há fortes divergências entre Estados-Membros Estados Membros e, precisamente por isso, é que a Comissão não se deve limitar a “secretariar” “ as reuniões do Conselho. Ainda está a tempo de apresentar uma proposta global e confrontar o Conselho com as suas responsabilidades. Comportamento diferente e bem mais construtivo foi o do Presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, que teve a coragem de apresentar aos seus pares uma proposta sobre a criação dos “euro-bonds”. O projecto europeu tem sido desenvolvido na base da liberdade e do equilíbrio. E isso tem tudo a ver com o modelo de governação económica porque nem o reequilíbrio das finanças públicas e crescimento económico podem ser vistos como objectivos objectivos incompatíveis, nem o conceito de solidariedade pode ficar limitado à distribuição de cheques. Solidariedade e coesão económica pressupõem um caminho que tem de ser percorrido em conjunto, na base de processos cooperação e não de imposição, em que se s tenha em consideração as diferenças entre os diversos Estados Membros e, insisto, se perceba que, sendo necessária uma forte disciplina orçamental ela não pode ir ao ponto de impedir que haja crescimento económico. Mais cedo do que tarde a Europa terá de d encarar esta realidade. OUTRAS POLÍTICAS Avaliação das políticas de ordenamento do território e de urbanismo, Conferência da Associação para o Desenvolvimento do Direito do Urbanismo, Porto, 27 de Novembro de 2010 Quero agradecer à Associação para o Desenvolvimento do Direito do Urbanismo e da Construção o convite para dirigir algumas palavras aos participantes deste encontro que se dedicou ao tema da avaliação das políticas de ordenamento do território e de urbanismo, abordado sob diferentes prismas,, europeu, nacional, regional e municipal. A excelência dos convidados que participaram nos trabalhos e tudo o que aqui foi dito deverá merecer cuidada reflexão por parte de todos os agentes públicos e privados que no dia-a-dia dia vão tomando múltiplas decisões ões com impacte no ordenamento do território e do urbanismo. Por isso, quero felicitar a Associação para o Desenvolvimento do Direito do Urbanismo e da Construção e todos os que estiveram envolvidos na organização deste encontro. O Conselho Económico e Social, a que tenho a honra de presidir, tem por obrigação elaborar Pareceres sobre temas que estão definidos na Lei ou que os órgãos de soberania, Governo e Assembleia da República, entendam solicitar. Mas para além dessas tarefas o CES pode elaborar Pareceres cuja origem decorra da sua própria iniciativa. Dentro deste quadro decidi, este ano, propor ao Plenário do CES a elaboração de três Pareceres de iniciativa. A todas estas propostas o órgão máximo do Conselho Económico e Social respondeu com um voto unânime. Um primeiro Parecer de Iniciativa já foi apreciado e votado antes do Verão e teve apenas um voto contra. Esse Parecer debruçou-se debruçou sobre o “Futuro da Zona Euro”. 72 Nesse Parecer é constatado o facto da d Zona Euro estar mal preparada para lidar com choques assimétricos porque os seus mecanismos de equilíbrio são insuficientes. Na Zona Euro a articulação entre políticas monetárias, orçamentais e outras, nomeadamente as sociais, é muito débil. Na Zona Euro a crise financeira e económica global revelou revelou uma grande falta de regulação dos mercados financeiros, mostrou falta de coordenação das políticas económicas e evidenciou a ausência de ferramentas na área social. O Parecer CES é ainda muito claro sobre os grandes objectivos que devem nortear a orientação ori política na zona euro. Em primeiro lugar, é preciso fazer crescer a economia no quadro da globalização. A não acontecer esse crescimento é o próprio modelo social europeu que está em causa e, por arrastamento, será o próprio projecto de integração económica política que corre o sério risco de desaparecer Em segundo lugar, deve evitar-se evitar se a lógica do directório e o primado dos interesses nacionais e particulares em desfavor do interesse europeu. Em terceiro lugar, há que conciliar a liberdade da concorrência concorrência com os princípios da coesão regional e social. Sem a observância simultânea deste tripé de orientações basilares será muito difícil levar a cabo as reformas no seio da Zona Euro e da União Europeia. Ainda no mesmo Parecer, o Conselho Económico e Social pronuncia-se se sobre a possibilidade de constituição de um sistema permanente de resolução de crises, de uma eventual criação de novos mecanismos comunitários de planeamento, coordenação e supervisão económica, orçamental e social, com vista a reduzir zir os desequilíbrios entre Estados-Membros Estados Membros e propõe que se avalie a possibilidade de criação de um mercado obrigacionista único com um único emitente central de dívida pública, que passaria a ser europeia e não nacional, e como consequência, beneficiaria de um mesmo e único “rating” para toda a Zona Euro. Euro O Plenário do CES decidiu ainda elaborar mais dois Pareceres de iniciativa. Um, irá abordar as consequências económicas, sociais e organizacionais decorrentes do aumento da população idosa. A fundamentação para a elaboração deste Parecer radica no envelhecimento acentuado da população portuguesa, o consequente aumento do número de idosos dependentes e alterações profundas na dimensão, estrutura e dinâmica das famílias que vão seguramente obrigar obriga à tomada de decisões cruciais em domínio de políticas públicas, nomeadamente as relacionadas com a saúde, segurança social, fiscalidade, administração local, cultura, lazer, segurança, ordenamento do território e imigração para além de uma mudança de paradigma paradigma cultural que passará nomeadamente pela valorização do idoso na sociedade. Nesse Parecer o CES vai tentar proceder à análise sobre as possíveis formas de evolução dos serviços que o Estado, Autarquias, sector privado, terceiro sector e as famílias devem d facilitar, no sentido de se tornarem mais eficazes face à tendência previsível dos problemas e situações decorrentes das necessidades da população dependente. Procurar-se-á Procurar á também analisar os efeitos na economia e no mercado de trabalho do potencial desenvolvimento desenvolvimento de um conjunto de actividades relacionadas com a prestação de serviços de apoio à população dependente. O outro Parecer de iniciativa aprovado pelo Plenário do CES tem como título “Competitividade “ das Cidades, Coesão Social e Ordenamento do Território” para cujo relator foi designado o Dr. Nuno Vitorino, personalidade conhecida de todos. 73 A fundamentação para a elaboração deste Parecer radica no facto das transformações estruturais mais marcantes nas sociedades contemporâneas integrarem, como componente destacada, os fenómenos complexos, diversificados e dinâmicos de ocupação do território pelas pessoas e pelas organizações. No nosso País estes fenómenos começaram por se evidenciar na elevada concentração nas aglomerações urbanas de Lisboa Lisb e do Porto, tendo-se se alargado a uma ocupação progressivamente mais intensa no litoral e envolvido, mais recentemente, o crescimento das cidades médias. Por outro lado, vemos que as actividades económicas não só conhecem uma concentração metropolitana mais ais acentuada do que a distribuição territorial da população, mas também correspondem a diferenças espaciais significativas na criação de emprego e na sua qualificação. A consideração de que a mencionada importância e a sua dimensão estrutural devem encontrar encon a adequada expressão nas políticas públicas nacionais, justificou a elaboração deste Parecer que, integrando uma dimensão analítica e de benchmarking,, estará especialmente focalizado para a prossecução de dois objectivos: Em primeiro lugar, promover a reflexão e o debate no CES e, subsequentemente, na sociedade e, em segundo lugar, estimular a criação de instrumentos de política nas seguintes quatro dimensões complementares fundamentais: Na dimensão económica, abrangendo a competitividade nacional, europeia e internacional das cidades portuguesas, o empreendedorismo, sobretudo no quadro das actividades culturais e criativas, as actividades comerciais e de serviços e a reabilitação e regeneração urbanas; Na dimensão social, abordando as desigualdades desigualdades sociais em meio urbano, as periferias e áreas suburbanas e a “periferização” social dos centros urbanos e, também, os efeitos urbanos das dinâmicas sociais “pesadas”, como são o caso do envelhecimento, dos novos comportamentos sociais e familiares e do desemprego esemprego de pessoas qualificadas; Na dimensão do ordenamento do território, incidindo no ordenamento do espaço urbano, na habitação, nas relações das cidades com os territórios envolventes e nas redes cooperativas de cidades; E, finalmente, a quarta dimensão a da governação urbana, envolvendo a eficácia e a eficiência, a participação e a descentralização e, bem assim, a capitalidade nacional e regional e a internacionalização. A estas dimensões outra se vai acrescentar que torna torna premente esta análise que é o facto de o custo da mobilidade irá registar um aumento significativo nas próximas décadas que reporá em novas bases o nosso conceito de utilização dos espaços para as diferentes funções que ele suporta tornando as distâncias-custo custo muito mais elevadas. Os trabalhos preparatórios para a elaboração deste Parecer decorrerão no seio da Comissão Especializada de Desenvolvimento e Ordenamento do Território do CES e espero ter um texto, ainda que preliminar, concluído antes do próximo pró Verão. É ainda intenção do CES organizar uma Conferência Internacional sobre o tema. 74 Estes três Pareceres de iniciativa do CES estão interligados porque as problemáticas europeias, sociais, de ordenamento do território, da competitividade das cidades cidades e do urbanismo não podem ser vistas como estanques na evolução das sociedades. As interdependências entre estas diferentes realidades são cada vez mais intensas e mais complexas. Se é verdade que as interdependências sejam elas financeiras, de mercados, merca de processos de produção se manifestam cada vez com maior vigor, acontece que no campo da interdependência entre políticas públicas as coisas parecem acontecer de forma muito mais lenta. Daí que o apelo à multidisciplinaridade e à busca de uma maior interacção interacção na concepção e execução das políticas públicas seja essencial. A abordagem de temas relacionados com o ordenamento do território e urbanismo pode servir de cadinho a exercícios de compatibilização entre diferentes áreas de saber e entre diferentes diferen “interesses sectoriais” porque é no espaço territorial que tudo acontece: crescimento económico, emprego, qualidade de vida, educação, segurança, infra-estruturas infra estruturas de tido o tipo e muito mais. Mas para que essa intercomunicabilidade flua não basta querer. querer. É preciso criar condições para que um diálogo estruturado permita que se vá progressivamente desenvolvendo uma cultura de compromisso que permita acomodar os diferentes interesses envolvidos. Essas condições podem ser preenchidas se retirarmos alguns ensinamentos do passado recente. Quero confessar que as questões associadas ao ordenamento do território e urbanismo são matéria a que sou particularmente sensível. Seguramente que a minha passagem pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Norte contribuiu largamente para perceber melhor as interdependências entre o ordenamento do território e urbanismo e o que se passa designadamente nos domínios do económico, do social e do institucional. Gostaria ostaria de deixar à vossa reflexão as consequências do facto de, nos últimos anos, as empresas do sector das chamadas “utilities” terem repercutido, sem aparente dificuldade, os custos nos preços do que foram produzindo. Isso aconteceu porque essas empresas, empresas, também chamadas produtoras de bens não transaccionáveis, viverem numa situação de quase monopólio, ou de mercado protegido. Pelo contrário, os sectores que produzem bens transaccionáveis, que têm de competir com o exterior não puderam beneficiar da mesma mesma liberdade na fixação dos preços dos seus produtos, nem da adopção de medidas de política que foram utilizadas antes da entrada no Euro, como vinha acontecendo com a desvalorização da moeda. Esta evolução teve consequências a vários títulos. Desde logo, a nível regional, onde aconteceu uma fortíssima penalização nas regiões onde a produção de bens transaccionáveis constitui a base das suas economias. O caso da região do norte é o mais claro exemplo. Esta região passou, em pouco mais de uma década, de d uma das mais industrializadas da Europa para uma das mais pobres e com a particularidade de todos os anos o seu PIB per capita cair de forma contínua. O Professor Vítor Bento no seu recente livro, “O nó cego da economia”, identifica esse ponto como “a alteração lteração dos termos de troca operado desde 1990 entre o Sector Transaccionável (em larga medida localizado em Lisboa) e o Não-Transaccionável Não Transaccionável (em larga medida localizado no Norte) e de que resultou uma significativa transferência de rentabilidade do primeiro primei para o segundo” (o.c. pág.13 e 14) … E acrescenta “O sector Transaccionável perdeu, entre 1985 e 2008 quase 15% do PIB, que foi transferido para o Sector Não Transaccionável” (o.c. pág.93). 75 Diz ainda Vítor Bento: “A consequência deste enviesamento é o atrofiamento do sector internacionalmente concorrencial (leia-se ( se em larga medida a Região do Norte), Norte uma considerável perda de potencial de crescimento económico do País, um défice externo sem solução e, portanto, um caminho irredutível de empobrecimento empobrecimento relativo do País (o.c. pág.14). Os investimentos feitos no sector dos bens não transaccionáveis foram seguramente baseados em critérios racionais e muito respeitáveis, mas teremos de concluir que, na verdade, não correspondem às prioridades da República. Repúb Mas as consequências desta evolução são mais vastas. Por exemplo na concentração de quadros e massa cinzenta nos sectores e produção de bens não transaccionáveis e na capital do País, desguarnecendo de quadros qualificados os sectores e empresas que mais deles precisam porque sujeitos a concorrência internacional. Por outro lado os concorrentes das nossas empresas exportadoras pelo facto de outros países terem uma maior pressão de custos sobre os seus produtores de bens não transaccionáveis, tem custos stos de contexto inferiores aos registados nas nossas empresas exportadoras." Ora, nós sabemos que a emigração é um fenómeno selectivo. Em regra geral são sempre os mais capazes e os mais dinâmicos os primeiros a sair para outras paragens. Vivemos de facto to num tempo de interdependências, num tempo onde tudo influencia tudo. Mas se há pouco referi que a interdependência entre a concepção e execução de políticas públicas parece andar de forma mais lenta, também é verdade que na Europa as interdependências de d todo o tipo vão aumentando enquanto as interdependências políticas são claramente muito mais lentas. Se bem repararem, num tempo em que tudo mudou os Estados continuam organizados como há duzentos anos! Talvez seja este o desequilíbrio mais difícil e o obstáculo mais forte que esta geração tem pela frente. E a busca de novas formas de organização dos Estados Esta levam, no caso português, à velha questão da regionalização. Penso que é um erro apresentar a regionalização como uma questão associada a reivindicações de carácter bairrista invocando argumentos de diversa natureza, incluindo a maior ou menor justiça no tratamento por parte do poder político das diferentes parcelas do território. A regionalização tem que ser vista como uma peça decisiva da reforma do Estado. O processo de reforma da regionalização só tem sentido ser levado a cabo se o conjunto da administração pública se tornar mais eficiente e mais barato. A regionalização, onalização, através das transferências de competências e de serviços da administração central ou municipal para o nível regional, terá de conduzir inevitavelmente à eliminação de muitas estruturas que se tornarão obsoletas e sem sentido útil. Ter-se-á Ter á de demonstrar d de forma muito transparente que as poupanças geradas com essas eliminações de estruturas e serviços serão mais do que suficientes para montar as novas administrações regionais. Nas actuais circunstâncias em que se encontra o País a regionalização regionalização não pode ser vista como um “luxo” ou mais um pretexto para a criação dos chamados “tachos”. Pelo contrário, a regionalização só ganha sentido se contribuir para a consolidação das finanças públicas. Mais uma vez são as interdependências a funcionar ou, dito doutra forma, e em termos de estratégia a seguir, colocar o objectivo da regionalização em linha com o objectivo que é mais importante para o colectivo. 76 É por isso que carece de sentido a criação das chamadas regiões piloto, mesmo que se invoque o pretexto da análise da experiência. Não estamos em tempo de gastar o dinheiro público em experiências que nascem como tais mas acabam como definitivas. Veja-se Veja se o exemplo de Bruxelas que ainda hoje é a capital provisória da União Europeia. Com a criação de uma qualquer região piloto não se eliminaria nenhuma estrutura ou serviço da administração central. Logo a criação desse tipo de regiões conduziria de forma directa ao aumento da despesa pública, o que nos tempos que correm não pode ser tolerado. Minhass Senhoras e Meus Senhores, Mais uma vez agradeço o convite para estar presente nesta cerimónia de encerramento que me deu a oportunidade de tentar explicar, provavelmente de forma maçadora o que move, nas actuais circunstâncias da vida política portuguesa portuguesa o Conselho Económico e Social e também o pensamento do seu Presidente. Fórum de Recursos Humanos, Lisboa, 28 de Abril de 2011 Olhando para os títulos dos painéis que vão ocupar este dia e meio de trabalho é fácil perceber a elevada ambição que os organizadores organizadores quiseram emprestar a este Fórum. Ambição que se expressa ainda com mais força na excelência dos oradores e moderadores convidados. Parabéns pois à Recursos Humanos Magazine, a quem agradeço o convite para me associar à abertura dos trabalhos. Perdoar-me-ão ão se, na qualidade de “outsider”, puder tecer algumas considerações sobre um ponto que resulta da minha experiência de concepção e gestão de políticas públicas e que penso pode ser transportado para o sector privado. Refiro-me Refiro ao desenvolvimento o de formas de diálogo estruturado. Utilizo a expressão diálogo estruturado porque quero distinguir esta forma de diálogo de outras, que podem ocorrer de forma esporádica como mero instrumento de consulta e que, embora podendo conter aspectos positivos, não é no entanto encarada como método permanente de gestão. Falo de diálogo estruturado como um método que pretende promover um sentimento de apropriação e responsabilidade por parte dos colaboradores duma dada organização. Sou dos que acreditam, de uma forma forma muito convicta, que o diálogo estruturado é um instrumento que, se for abordado de forma adequada, pode ser decisivo, não só para a concepção, mas também para a gestão de políticas, sejam elas públicas ou privadas. Confesso que sofro dessa profunda convicção. Abro aqui um parêntesis para dizer que não entendo o exercício de actividade nas áreas da política e da gestão sem convicções. Exercer essas actividades sem convicções fundamentadas é, na minha maneira de ver e de ser, puro oportunismo. Tenho para mim que a evolução da sociedade moderna reclama, cada vez com argumentos mais fortes, que o diálogo estruturado deva ser encarado como um verdadeiro instrumento de gestão. A adopção do exercício do diálogo estruturado como ferramenta de gestão tem obviamente consequências ao nível de organização das empresas. Desde logo, o responsável pelo exercício tem de ser dotado de um nível de competência e ocupar uma posição hierárquica capaz de influenciar a empresa ao mais alto nível. 77 Neste enquadramento, a função gestão de recursos humanos que esteve durante muito tempo associada sobretudo a questões administrativas, que se relacionavam com contratos e pagamentos, passa a pertencer definitivamente ao passado. Neste enquadramento, o Gestor de Recursos Humanos os deve ter uma qualificação suficientemente abrangente e possuir competências horizontais que lhe permitam também gerir e lidar com pessoas, carreiras, motivações, alegrias, frustrações, ansiedades e até desesperos. Neste enquadramento, o Gestor de Recursos os Humanos pode ser um verdadeiro parceiro estratégico da administração e um patrocinador da abertura à mudança entre os colaboradores da empresa. Falar de diálogo estruturado só tem sentido numa óptica de mudança. Mas falar de mudança é também falar de confiança. A falta de confiança anda associada normalmente ao medo da mudança. Ora, os medos só se vencem se existir disponibilidade para mudar. Quando as pessoas estão receosas é muito difícil que possam aceitar qualquer tipo de mudança. Nos tempos que correm a batalha pela conquista da confiança não é fácil de vencer. Também aqui o exercício de formas de diálogo estruturado pode ser decisivo porque me parece claro que os níveis de confiança poderão ser tanto mais elevados, quanto mais intensificado for f o diálogo estruturado. É mais um argumento a favor desta ferramenta. No entanto, entanto para que o diálogo estruturado seja consequente, é minha opinião que se deve definir e aceitar um conjunto de pressupostos fundamentais. Destaco três. O primeiro dos pressupostos ssupostos é que o exercício de diálogo sério exige, antes de tudo, recato. A este respeito, saber ouvir é essencial. O segundo pressuposto tem a ver com a impossibilidade de serem violados compromissos e acordos estabelecidos. Quando isso acontece a confiança confiança pode ficar seriamente comprometida e mostra a experiência que para voltar a recuperá-la recuperá la leva muito tempo e às vezes torna-se torna mesmo impossível voltar para trás. O terceiro pressuposto tem a ver com a verdade. Nos tempos que vivemos só a verdade é que pode oferecer esperança. No exercício de diálogo estruturado deve por isso ser afastado qualquer tipo de cenário idílico que não tenha aderência à verdade e à realidade realidade concreta. Um outro factor que pode influenciar os resultados do diálogo estruturado é a atitude. É que o exercício pressupõe interacção entre as partes. Uma atitude passiva de qualquer das partes sempre empobrece o exercício. O diálogo estruturado não é mais do que uma forma de tentar, em conjunto, atingir o melhor para o grupo. Para isso é preciso perspectivar um futuro e ter a consciência de que as metas definidas para esse futuro podem ser alcançadas. Este exercício de querer perspectivar o futuro futuro não é nenhuma novidade. Podemos mesmo afirmar que, em certo sentido, é a história da humanidade. Houve quem sonhasse e planeasse a epopeia das descobertas, como houve quem fizesse o mesmo exercício para que o homem chegasse à Lua, ou para que tivéssemoss chegado onde chegamos no mundo das telecomunicações. Todos aqueles caminhos foram percorridos, primeiro na base de uma ideia ou se preferirem de um sonho, depois, surgiu uma inabalável vontade em chegar à terra prometida ou aos objectivos definidos, mas nada ou muito pouco foi deixado à sorte do destino. Por trás de cada um dos percursos houve sempre muito esforço, muito estudo, muita discussão, seguramente alguma desilusão, muitos sacrifícios foram pedidos, até em vidas humanas, mas os objectivos acabaram acabar por ser alcançados. 78 Mas seguramente que em todos esses processos houve formas de diálogo entre diferentes interesses e distintas áreas de saber. O sucesso da Escola de Sagres assentou nesse método. Congregou pessoas de diferentes áreas, cartógrafos, marinheiros marinheiros e cientistas. Perspectivar o futuro no sentido de que esse futuro pode ser determinado pela nossa acção no presente é, na sua essência, o que de mais nobre encerra a actividade política e de gestão. Sendo um exercício muito estimulante, há que ter a consciência de que também se trata, nos dias de hoje, de uma tarefa complexa e difícil especialmente num país como o nosso, em que parece que sofremos de uma espécie de falta de confiança crónica nas relações interpessoais. E sem um clima generalizado do de confiança é muito difícil que seja possível obter resultados com base no diálogo estruturado e, através desse exercício, gerar o mais importante, novas ideias. ALGUNS DOS ARTIGOS RTIGOS PUBLICADOS EM JORNAIS “A pobreza e a liberdade”, Diário de Notícias, Notíci 18 de Maio de 2010 “Dos valores ao valor do euro”, Jornal de Notícias, 18 de Maio de 2010 “Políticas sociais”, Voz das misericórdias, 18 de Maio de 2010 “Emprego e desemprego”, Jornal de Notícias, 14 de Julho de 2010 “O diálogo social e o euro”, Jornal Veris, 24 de Agosto de 2010 “E agora?”, Jornal Público, 8 de Outubro de 2010 “O Norte tem transferido muita riqueza para Lisboa” jornal de Notícias, 21 de Janeiro de 2011 “Ninguém quis ouvir”, Jornal de Notícias, 8 de d Abril de 2011 “O Futuro do Euro”, Porto Sempre (revista da Câmara Municipal do Porto), 1 de Maio de 2011 “O Futuro da Zona Euro”, Jornal Público, 8 de Abril de 2011 “O Ministro das Finanças Europeu”, Jornal Público, 10 1 de Junho de 2011 79