Edição 09 Revista Mundo Acadêmico Janeiro a Junho de 2013
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Edição 09 Revista Mundo Acadêmico Janeiro a Junho de 2013
ISSN 1984-7564 MUNDO ACADÊMICO Faculdade Norte Capixaba de São Mateus – UNISAM v. 5 n. 9 janeiro/junho – 2013 - Semestral Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Diretor Geral Fernando Bom Costalonga Coordenadora Financeiro Célia Maria Pertel Coordenadora Acadêmica/de Graduação Elen Karla Trés Coordenadores de Curso Administração Sandrelia Cerutti Carminati Análise Desenvolvimento de Sistemas Temistocles Alves Rocha Engenharia de Produção Mecânica/Engenharia Civil/Engenharia Química Allan Costa Jardim Engenharia Engenharia Civil/Engenharia Química Marielly Campos Chaves Peluchi Pedagogia/Letras Iosana Aparecida Recla de Jesus Petróleo e Gás Elen Karla Trés Serviço Social Ana Paula Peçanha Presidente da Comissão Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Comissão Editorial Elen Karla Trés Allan Costa Jardim Iosana Aparecida Recla de Jesus Eliene Maria Gava Ferrão Renata Altoé Dadalto Sandrelia Cerutti Carminati Tereza Barbosa Rocha Endereço para correspondência Rod. Othovarino Duarte, s/nº, Bairro Park Washington, São Mateus-ES, CEP.: 29930-000 e-mail: [email protected] Capa Ary José Fernandes Júnior M965 Mundo Acadêmico / Faculdade Norte Capixaba de São 2013 – São Mateus:UNISAM, 2013. Mateus – v.5, n.9, Semestral ISSN 1984-7564 1. Pesquisa acadêmica – periódicos. 2. Gestão. 3. Exatas. I. Faculdade Norte Capixaba de São Mateus CDD 001.891 CDU: 001.891(05) EDITORIAL A revista científica Mundo acadêmico é uma iniciativa da Faculdade Norte Capixaba de São Mateus que possibilita a divulgação de artigos e resumos de contribuições relevantes para a comunidade científica das diversas áreas de estudo que abrange a Instituição. Portanto, tratase de um veículo de publicação acadêmica semestral, cujo público-alvo são professores e alunos de graduação e pós-graduação. Diante disso, a Instituição almeja que a revista científica Mundo Acadêmico contribua para o fomento contínuo da prática da investigação, e promova o crescimento educacional. MUNDO ACADÊMICO SUMÁRIO ARTIGOS A experiência do programa adolescente aprendiz na empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda no município de São Mateus no ano de 2012................................................................................................................................... 07 Milena Machado Queiroz Charles Travezani de Jesus Atuação do assistente social: estudo de caso em uma empresa privada no município de São Mateus.................................................................................................................... 30 Gilmara Giraldeli da Rocha Lucia Possebon da Silva Damaceno Josete Pertel A atuação do fórum Estadual LGBT e a participação no controle social da política de DST’S/AIDS no estado do espírito santo................................................................... 48 Carla Gomes Neiva Ralf Barros dos Santos Considerações acerca do ensino-aprendizagem eficaz de Língua Inglesa e Portuguesa......................................................................................................................... 66 Elisângela De Jesus Borlini Neilde Moraes Gomes Josete Pertel Estratégia de produção um diferencial competitivo..................................................... 83 Krisley Ferrareze Conceição O valor e os valores da educação................................................................................... 94 Rosana de Fátima Izidoro Duarte ISSN 1984-7564 7 A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA ADOLESCENTE APRENDIZ NA EMPRESA NORDESTE TRANSPORTES ESPECIALIZADOS LTDA NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS NO ANO DE 2012. Milena Machado Queiroz1 Charles Travezani de Jesus2 RESUMO Este estudo teve como objetivos analisar o processo de trabalho do adolescente aprendiz e suas peculiaridades, conhecer a experiência dos adolescentes no processo de atividade laboral, identificar e analisar a percepção dos adolescentes aprendizes em relação à importância do trabalho e identificar se a empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda segue as normativas referentes à legislação trabalhista da criança e do adolescente. O foco desse trabalho é a Lei 10.097 de 19 de dezembro de 2000, onde foi feita uma breve análise prosseguindo com argumentos sobre a flexibilização e a precarização da força de trabalho, associando estas ideias às atividades laborais exercidas pelos aprendizes. Realizou-se um estudo de caso com os adolescentes aprendizes inseridos na empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda, com a profissional da referida instituição responsável pelos jovens e com o professor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano, que tem por objetivo fornecer capacitação profissional. O processo de análise de dados foi dividido em duas etapas, sendo elas: construção do perfil dos adolescentes e apresentação e análise das respostas dos mesmos. Como resultados da análise identificou-se que os adolescentes acreditam que o programa contribuirá na própria vida profissional; as empresas acolhedoras não possuem habilidade para trabalhar com os aprendizes; bem como a instituição qualificadora não realizam atividades teóricas compatíveis com a prática laboral. PALAVRAS-CHAVE: Mercado de trabalho. Jovem. Formação profissional. ABSTRACT This study aimed to analyze the working process of the adolescent learner and their peculiarities, to understand the experience of adolescents in the process of labor activity, identify and analyze the perceptions of adolescent learners about the importance of work and identify if the company Nordeste Transportes Especializados Ltda follows the regulations concerning labor legislation of the child and adolescent. The focus of this work is the Law 10.097 of 19 December 2000, where he made a brief analysis pursuing arguments about flexibility and casualization of the workforce, linking these ideas to work activities performed by apprentices. We conducted a case study with adolescent apprentices entered the company Nordeste Transportes Especializados Ltda, with the professional of the institution responsible for youth and the teacher of the Brazilian Institute of Human Development, which aims to provide professional training. The process of data analysis was divided into two stages, namely: building the profile of adolescents and the presentation and analysis of the responses of 1 Graduada em Serviço Social e Pós-graduanda em Planejamento de Projetos Sociais pela Faculdade Norte Capixaba de São Mateus 2 Mestre em Política Social pela Universidade Federal do Espírito Santo. 8 the same. The results of the analysis identified that adolescents believe that the program will contribute in their own life; companies do not have warm ability to work with learners, as well as the qualifying institution does not conduct activities consistent with the theoretical labor practice. Keywords: labor market. Young. Vocational training. 1 INTRODUÇÃO Historicamente o trabalho infantil3 foi tido como normal, inclusive as famílias e a sociedade sempre pensaram o trabalho como uma maneira de formar “cidadãos de bem”. Entretanto, o trabalho infantil se apoiou em práticas degradantes e se configurou como uma forma de violência contra crianças e adolescentes. A exploração do trabalho infantil ainda existe, mas nas últimas décadas tem sido combatida graças ao avanço das leis que protegem a criança e o adolescente e às novas formas de inserção produtiva dos adolescentes. Tal inserção vai ser o tema central do presente trabalho. No Brasil, iniciativas como o programa adolescente aprendiz tem buscado proporcionar aos adolescentes uma forma regulada e adequada de inserção produtiva. A contratação de aprendizes é uma imposição legal, como diz o artigo 429 da CLT: Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. Contratar um aprendiz deve ou pelo menos deveria ser um ato - além do cumprimento da lei - que visa a combater o desemprego entre os jovens e contribuir para o desenvolvimento do mesmo. Deveria ajudar na formação do jovem como pessoa e dar condições para que ele se torne independente e mostrar para si mesmo e para a família que seus objetivos e a definição dos rumos profissionais estão sendo alcançados. Conforme mencionado anteriormente, a contratação de aprendiz ultrapassa o cumprimento da lei, como cita Wantowsky (2004): A contração do menor aprendiz é também uma questão de responsabilidade social. Uma vez que tem por intenção a captação de jovens e consequentemente novos talentos, através da criação de postos de trabalho, visando reduzir o desemprego no Brasil e, principalmente, conceder oportunidade e experiência para o trabalho, e inclusão social, pois é isso que os jovens almejam. 3 O conceito de trabalho infantil está definido no Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador (2004), e transcrito a seguir: “o trabalho infantil refere-se às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos, independentemente da sua condição ocupacional”. 9 O trabalho exercido por um adolescente aprendiz é regulamentado pela Lei 10.097/2000 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, no Capítulo V: do direito à Profissionalização e à Proteção no trabalho (arts. 60 a 69). A experiência do programa adolescente aprendiz se configura em uma tentativa de resposta a uma conjuntura que ainda se apresenta de forma degradante para crianças e adolescentes, isso porque ainda é possível encontrar os mesmos em condições de trabalho desumano. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2008) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o trabalho infantil diminuiu, mas ainda é realidade para 993 mil crianças, com faixa etária de 5 a 13 anos. Conforme Santos (2010, p. 15) “o adolescente procura trabalho para, com seus rendimentos, ajudar no provimento de sua família”. Diante de toda essa situação, notase a importância das políticas públicas e medidas legais que visem à proteção do trabalhador adolescente. Mas o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECRIAD) criado em 13 de julho de 1990, estabelece importantes diretrizes para a proteção da atividade laboral na adolescência. Segundo o ECRIAD (Brasil, 1990), é proibido o trabalho a menores de 14 anos, exceto na condição de aprendiz. Por sua vez, a contratação de aprendizes, regulamentada pelo Decreto no 5598/2005 (Brasil, 2005), assegura formação técnico-profissional e realização de atividades compatíveis. A Lei da Aprendizagem, nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000, decreta proibição de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 16 anos. Porém esse trabalho não pode prejudicar o adolescente em sua formação psicológica, física, emocional ou educacional, conforme art. 428, Lei nº 10.097: Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação. O Programa Adolescente Aprendiz na empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda inicia-se no processo seletivo que foi planejado em novembro de 2011 e executado em dezembro de 2012. A empresa Nordeste está situada na Rod. BR-101, s/n - KM 68, São Mateus/ES. A mesma presta serviços a Petróleo Brasileiro S/A, realizando transportes de granéis líquidos como: petróleo, água oleosa, diesel e gasolina A. Seu percurso operacional abrange os seguintes municípios: São Mateus, Conceição da Barra, Linhares, Vitória, Jaguaré e Anchieta. Documentos internos registram um quantitativo de no mínimo 230 funcionários, sendo eles: supervisores, supervisor de manutenção, técnicos de segurança do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, assistente social, médico do trabalho, 10 motoristas carreteiro, operadores, auxiliares de serviços gerais e auxiliares de manutenção e 11 aprendizes.4 Desde o início, o Serviço Social se encontra presente na empresa, por exigência contratual, atuando com o foco na saúde do trabalhador, atendendo aos funcionários e os seus dependentes além de acompanhar os adolescentes aprendizes. O processo seletivo para o ingresso dos adolescentes aprendizes foi elaborado pela estagiária de Serviço Social e Assistente Social da Instituição e se desenvolveu em 02 etapas, sendo a 1ª: Avaliação de documentos, Entrevista, Redação - Ser aprendiz e Prova de informática, executado nessa respectiva ordem. E a 2ª etapa sendo: Reunião de apresentação dos aprendizes selecionados na Universidade Vale do Cricaré5, junto ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano e com os pais, com a finalidade de realizar a contratação dos adolescentes, conforme consta na Consolidação das Leis do Trabalho, art. 430, inciso II: As entidades mencionadas neste artigo deverão contar com estrutura adequada ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, de forma a manter a qualidade do processo de ensino, bem como acompanhar e avaliar os resultados. Foram contratados 11 adolescentes, sendo 05 meninas e 06 meninos. Os aprendizes executam atividades administrativas, sendo que no período matutino 04 ficam no setor de Recursos Humanos e 02 no setor de Supervisão Operacional; e no turno vespertino 03 ficam no Recursos Humanos e 02 no setor de Supervisão Operacional. Os adolescentes são acompanhados pela Assistente Social, sendo que a mesma realiza reuniões de acompanhamento frequentemente, mantendo o acompanhamento dos aprendizes, da família e da escola regular. Percebeu-se que as instituições qualificadoras de aprendizagem e de acolhimento dos aprendizes, respectivamente Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano e Nordeste Transporte Especializados Ltda, não possuíam um bom relacionamento, resultando em uma prática degradante aos jovens. Identificou-se que o adolescente aprendiz é aquele oriundo das camadas mais carentes da população e que busca na oportunidade do trabalho uma fonte de complementação de renda e um caminho de inserção no mercado de trabalho. Com base nisso, conclui-se que, apesar de a experiência do Programa Adolescente Aprendiz ser realizada de forma precarizada, a mesma é de extrema importância na vida do adolescente, e de seus pais que são os maiores incentivadores. 4 As informações sobre a empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda foram cedidas pela assistente social da mesma, a Sra. Rosimar de Oliveira Silva. 5 A Universidade Vale do Cricaré é uma instituição de ensino superior que aluga suas dependências para o funcionamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, localizada na Av. Forno Velho, Bairro Universitário - São Mateus/ES. 11 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O PROGRAMA ADOLESCENTE TRABALHO PRECÁRIO? APRENDIZ: APRENDIZAGEM OU Em 19 de dezembro de 2000 é promulgada a Lei da Aprendizagem, através da Lei n.º 10.097, que altera alguns artigos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) passando a ter o seguinte objetivo: "Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos." Somente será permitido adolescente a partir dos quatorze anos trabalhar mediante contrato de aprendizagem e estando o mesmo em um curso de formação técnicoprofissional, como afirma a Lei 10.097, art. 428: Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação. Esse curso de formação-técnico profissional pode ser ofertado pelo Sistema S (Serviço Nacional de Aprendizagem – SENAI; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC; Serviço Nacional de Aprendizagem de Transporte – SENAT; Serviço Nacional de Aprendizagem Rural e Serviço Nacional de Aprendizagem de Cooperativismo – SESCOOP), caso não possua vagas ou cursos abertos, essa formação pode ser ofertado pelas seguintes instituições, conforme CLT (1943, p. 127): Art. 430 - [...] I – Escolas Técnicas de Educação; II – entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente é entendido como um dos “órgãos formuladores de políticas, de caráter deliberativo e controladores das ações, com participação popular paritária, por meio de organizações representativas” Mariani (apud SILVA et al., 2001). Suas principais atribuições são: garantir a efetivação dos direitos das crianças e adolescentes; fiscalizar o cumprimento das políticas públicas para a infância e à adolescência; promover a articulação entre os diversos setores que integram a rede de proteção à criança e ao adolescente e registrar as entidades governamentais e não governamentais que atuam no atendimento de crianças e adolescentes. É de extrema importância o cumprimento desse artigo, para que o programa de aprendizagem possa proporcionar conhecimentos ao adolescente e não prejudicá-lo em qualquer aspecto, seja ele físico, psicológico ou moral. Como afirma Rangel e Vago (2010): 12 A exigência de que o ofício ou profissão demande formação profissional se funda no fato de que a aprendizagem deve propiciar ao adolescente a aquisição de conhecimentos que se traduzam em melhores e maiores condições dele ingressar e permanecer com sucesso no mercado de trabalho, e que ao mesmo tempo fortaleça seu processo educacional, tornando possível seu prosseguimento, como já frisado alhures. Demais disso, deve ser adequada ao mercado de trabalho, de modo a assegurar uma capacitação real, que possa romper com a perpetuação do ciclo de pobreza e utilização do trabalho infantil desqualificado, gerando mais pobreza. Entretanto, com o intuito de proteger o adolescente, há alguns aspectos legais que impossibilitam certos tipos de trabalhos, conforme o ECRIAD (1989, p.18): Art. 67 - Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho: I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; Il - perigoso, insalubre ou penoso; lII - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; IV - realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola. De acordo com a CLT, art. 428 (1943) para ser adolescente aprendiz é necessário preencher requisitos mínimos, como: a) Idade de 14 anos e menor de 18 anos; b) Inscrição em programa de aprendizagem; c) Estar matriculado e frequentando o ensino fundamental. Essa legislação tem como finalidade proporcionar aos adolescentes uma possibilidade de ingressar no mercado de trabalho de uma forma que o mesmo possa ser acompanhado em um processo de formação profissional. Porém, essa mão de obra legalmente permitida também está inserida no modo de produção como um trabalho precário, pois de acordo com IANNI (1992, p. 48), a estratégia capitalista “dissolve, recobre ou recria formas de vida e trabalho, de ser e pensar, em âmbito local, regional, nacional e internacional”. A estratégia capitalista utilizada nas últimas décadas é a flexibilização do trabalho, definido assim por Marcelino (apud SILVA 2002, p.190): A flexibilização não é opção, é consequência do sistema produtivo atual. A automação e a evolução da informática criam a produção sem trabalho. Se é verdade que este modelo ainda não chegou ao seu auge, excluindo totalmente o trabalho humano, o certo é que já deu neste sentido um avanço grandioso. Da extinção do emprego, caminha-se para extinção do trabalho. Portanto, a flexibilização leva a um maior distanciamento da humanização do trabalho, concebido como mera mercadoria a ser negociada conforme a conveniência do capital (MARCELINO, 2011). Sendo assim, como é de conveniência do capital continuar com a produção a todo vapor e ter (ou não ter) pequenos gastos com a força de trabalho, insere-se o adolescente no mercado de trabalho, como uma mão de obra barata. 13 O adolescente aprendiz ingressa nas empresas recebendo uma bolsa simbólica, exercendo muitas vezes atividades que deveriam estar sendo exercidas por profissionais com carteira assinada – protegidos por lei – e que significariam uma maior despesa para o empregador. Como já dito antes, a inserção do adolescente no mercado de trabalho é regulamentado pela Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece em seu art. 402: “Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos”, porém em 2005 é alterado pelo Decreto nº 5.598, de 1º de dezembro, que passa a vigorar da seguinte forma no art. 2º: “Aprendiz é o maior de quatorze anos e menor de vinte e quatro anos que celebra contrato de aprendizagem”. Com isso abriu-se um precedente para o ingresso de adolescentes no mercado de trabalho. A Lei ainda estabelece que, para ser inserido no mercado de trabalho o adolescente deverá receber uma formação técnico profissional, que de acordo com o Decreto 5.598, art 6º: Entendem-se por formação técnico-profissional metódica para os efeitos do contrato de aprendizagem as atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho. Parágrafo único. A formação técnico-profissional metódica de que trata o caput deste artigo realiza-se por programas de aprendizagem organizados e desenvolvidos sob a orientação e responsabilidade de entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica definidas no art. 8o deste Decreto. As entidades qualificadas, porém, nem sempre executam atividades teóricas compatíveis com a prática, resultando em um exercício laboral de maneira precarizada, assumindo atividades que não refletem a proposta inicial de harmonia entre o homem e o trabalho, uma vez que precocemente assume tarefas que fogem de sua alçada, para condicionalmente, desta forma, manter-se no mercado de trabalho (MARCELINO, 2011). A legalização referente ao trabalho dos aprendizes tem como lema central a questão da qualificação profissional para inserir-se no mercado de trabalho, sendo mais uma forma de alienar o cidadão, pois se não houver a devida qualificação, a culpa de estar sem trabalho é do mesmo, pois não obteve interesse em realizar (MARCELINO, 2011). Assim, conhecendo os argumentos da exploração e utilização de trabalho mais barato, podemos afirmar que o trabalho do adolescente, como visto hoje, é reflexo do modelo de mercantilização de tudo, até mesmo da força de trabalho mais frágil. Marcelino (apud MOURA, 1982) afirma que “o trabalho de mulheres e crianças ocorre apenas onde a mão- de- obra é mais desqualificada e barata”. Esse cenário é específico de países cuja economia não é desenvolvida, sendo que o trabalho é mais viável que investimentos diversos como, por exemplo, em educação, cujo retorno é à longo prazo Marcelino (apud BROWN et al, 2002; BASU, 1998). O resultado deste sistema é um trabalhador condenado a ser escravo do sistema, trabalhando apenas para se sustentar e reproduzir-se. 14 Entendemos que, a flexibilização no mercado de trabalho é uma enorme vantagem para o capital e, para o governo também, pois soa como um “tapa buraco” para ocupar o lugar das políticas públicas de incentivo a educação e a qualificação profissional dos adolescentes e jovens, que deveriam existir de fato para proporcionar condições dignas de crescimento e formação laboral. Sendo assim, esse caráter flexibilizador não apenas de direitos trabalhistas, mas de direitos de proteção à criança e ao adolescente (MARCELINO, 2011) estão cada vez mais presentes no mercado e nas instituições qualificadoras de aprendizagem. A partir do próximo capítulo iremos compreender como se dá esse processo contraditório na empresa Nordeste, buscando perceber a importância daquele espaço para os adolescentes e a forma como o mesmo é conduzido pelas entidades responsáveis (a própria nordeste e o IBDH). Para isso analisaremos informações que expressem tal relação junto aos vários atores desse cenário, inclusive os adolescentes. 3 METODOLOGIA 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Examinando os objetivos do trabalho, a metodologia escolhida será a pesquisa qualitativa, caracterizada por Lakatos e Marconi (2011, p. 269) como: A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc. Terá também caráter exploratório, sendo realizada através da pesquisa bibliográfica e estudo de campo, sendo fundamentadas principalmente com questionários que serão aplicados aos adolescentes aprendizes. Andrade (2001, p. 124), define: A pesquisa exploratória é o primeiro passo de todo trabalho científico. São finalidades de uma pesquisa exploratória, sobre tudo quando bibliografia, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto, facilitar a delimitação de um tema de trabalho, definir os objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou descobrir o novo tipo de enfoque para o trabalho que se tem em mente. Através das pesquisas exploratórias avalia-se a possibilidade de desenvolver uma boa pesquisa sobre determinado assunto. 3.2 TÉCNICAS PARA COLETA DE DADOS A técnica de coleta de dados escolhida na elaboração desse trabalho foi o levantamento bibliográfico, que, segundo Marconi; Lakatos (2006, p. 43), “[...] trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, 15 publicações avulsas e a imprensa escrita”, como forma de revisar os conteúdos já publicados que abordam a temática em questão, oferecendo subsídio à pesquisa. Também será realizado nesta pesquisa um Estudo de Campo, que os autores Marconi; Lakatos (2011, p.276) “[...] referem-se ao levantamento com mais profundidade de determinado caso ou grupo humano sob todos os seus aspectos”. 3.3 FONTES PARA COLETA DE DADOS Nesta pesquisa trabalhou-se com fontes primárias e secundárias, a fim de coletar os dados necessários. De acordo com Richardson (2012, p. 253): Uma fonte primária é aquela que teve uma relação física direta com os fatos analisados, existindo um relato ou registro da experiência vivenciada. [...] Uma fonte secundária é aquela que não tem uma relação direta com o acontecimento registrado, senão através de algum elemento intermediário. Foi necessária a utilização da fonte primária, através de entrevista com a profissional da Nordeste, com o professor do IBDH e com os adolescentes aprendizes. A utilização da fonte secundária foi feita através de livros, artigos, legislações referentes à infância e adolescência, teses e dissertações de mestrado. 3.4 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA PESQUISADA A pesquisa foi realizada no Município de São Mateus/ES, com os adolescentes inseridos no programa adolescente aprendiz na empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda, no ano de 2012, bem como com técnicos das instituições envolvidas nesse processo. Para tanto foi aplicado 11 questionários junto aos adolescentes e 02 entre os técnicos. 3.5 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS A pesquisa foi feita com os adolescentes aprendizes, com a profissional da empresa Nordeste Transportes Ltda e com o professor dos adolescentes no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano. Como instrumento de coleta de dados serão utilizados questionários que, conforme Richardson (2012), os questionários cumprem pelo menos duas funções: descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social. O questionário aplicado com os adolescentes é semi-estruturado, ou seja, combinam perguntas abertas e fechadas, que de acordo com Richardson (2012): 16 As perguntas fechadas, destinadas a obter informação sociodemográfica do entrevistado (sexo, escolaridade, idade, etc.) e respostas de identificação de opiniões (sim – não, conheço – não conheço, etc.), e as perguntas abertas destinadas a aprofundar as opiniões do entrevistador. Os questionários aplicados junto ao profissional da Nordeste e o professor do IBDH são abertos, que conforme Richardson (2012) destinam-se a aprofundar-se mais as opiniões dos entrevistados. A aplicação dos questionários teve aproximadamente 30 minutos de duração, após se explicitar o motivo e a finalidade da pesquisa. As entrevistas foram realizadas na própria empresa Nordeste nos períodos da manhã e tarde, com todos os adolescentes aprendizes, totalizando 11 pessoas. 3.6 POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS Após a análise dos dados coletados através das entrevistas, foi realizada a tabulação, apresentação, análise e interpretação. De acordo com Bardin (1979, p. 29): A análise de conteúdo é definida como: um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Em seguida apresentaram-se os dados analisados e interpretados, que serviram de base para embasamento das informações apresentadas para conclusão do tema abordado. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 4.1 AS ENTIDADES QUE RECEBEM OS ADOLESCENTES E A VISÃO DOS RESPONSÁVEIS POR ESSE PROCESSO. Antes de analisarmos as informações concedidas pelos adolescentes aprendizes é preciso caracterizar as instituições responsáveis pelo acompanhamento e acolhimento dos mesmos. Na presente pesquisa essas entidades são o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano e a Empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda., respectivamente. A empresa Nordeste Transportes Especializados Ltda. é uma instituição de caráter privado, dependente administrativamente e juridicamente da Petrobras - Petróleo Brasileiro - S/A, financiada pelos seus proprietários. O espaço que ocupa é alugado, localizando-se na Rodovia BR 101 - Km 68, Bairro Nova Esperança - São Mateus/ES, CEP: 29937-310. 17 Sua ação se dirige à Petrobras - Petróleo Brasileiro - S/A, realizando a prestação de serviços de Transporte Rodoviário de petróleo e granéis líquidos como: água oleosa, diesel e gasolina A, em âmbito nacional. Possui 243 trabalhadores, 07 funcionários afastados pelo Instituto Nacional de Seguro Social - INSS, 01 aposentado e 01 funcionário disponibilizado ao sindicato. Devido aos 243 colaboradores da referida empresa, a função que continha a maior quantidade de funcionários e que demanda formação profissional era a de motorista carreteiro, portanto o Decreto 5.598/2000, em seu art. 9º estabelece que: Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. Nem todas as funções existentes dentro da empresa fazem parte da base de cálculos para contratação dos aprendizes, conforme Decreto 5.598/2000, art. 10º, § 1o: § 1o Ficam excluídas da definição do caput deste artigo as funções que demandem, para o seu exercício, habilitação profissional de nível técnico ou superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de direção, de gerência ou de confiança, nos termos do inciso II e do parágrafo único do art. 62 e do § 2o do art. 224 da CLT. Cumprindo uma prerrogativa legal, a empresa Nordeste possui 11 adolescentes aprendizes, inscritos em um programa de aprendizagem com formação técnico profissional, que segundo a Lei no 10.097/2000 no seu art. 428, § 4o “caracteriza-se por atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho”. Além de serem acompanhados por profissionais de vários setores – dependendo das atividades que desempenham - os adolescentes aprendizes ficavam sob a responsabilidade da Assistente Social e a estagiária de Serviço Social, que realizavam atividades periódicas de acompanhamento dos aprendizes, como: acompanhamento dos mesmos no IBDH, avaliação do desenvolvimento profissional, avaliação do relacionamento entre adolescente aprendiz e seu supervisor. Conforme a fala da profissional responsável pelo acompanhamento dos adolescentes, o processo de seleção realizado pela empresa é feito da seguinte forma: O processo se deu em 4 etapas: análise de documentos, entrevista, redação e prova de informática. Na empresa Nordeste, os adolescentes ficavam sob a responsabilidade da Assistente Social, conforme a fala: Eles possuem os supervisores diretos, que os acompanham nas atividades diárias e a supervisão geral, que trabalha com os adolescentes assuntos gerais além do treinamento, visitas, reuniões, etc. 18 Algumas reuniões eram realizadas conforme a necessidade, por exemplo: atendimento individual, esclarecimento sobre novas normas, como: o horário do café da manhã e conversas na hora do expediente; resolução de problemas com o cartão de ponto; resolução de problemas com o cartão de vale-transporte. As reuniões realizadas com os aprendizes eram de extrema importância, pois se constituíram como os únicos mecanismos que a Assistente Social e a estagiária de Serviço Social - responsáveis pelos adolescentes - possuíam para acompanhá-los de forma efetiva. Mas o processo de aprendizagem não se realiza só no dia a dia da empresa, sendo necessária a ação de uma segunda instituição que realiza o acompanhamento pedagógico, no caso do presente trabalho o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano (IBDH). Como dito no capítulo anterior, os Serviços Nacionais de Aprendizagem são responsáveis por oferecem cursos de formação teórico e profissional, caso o esses não disponham vagas ou cursos de acordo com a demanda das instituições empresariais, os aprendizes podem ser matriculados em outras instituições, conforme a CLT (1943, p. 127): Art. 430 - [...] I – Escolas Técnicas de Educação; II – entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano tem por objetivo implementar a formação profissional para adolescentes do Município de São Mateus, proporcionando a inserção no mundo do trabalho agregado aos valores da cidadania (IBDH, 2012). Em relação ao processo de acompanhamento dos adolescentes na instituição qualificadora de formação técnico-profissional, a CLT (1943, p. 127) estabelece: Art. 430 - [...] § 1o As entidades mencionadas neste artigo deverão contar com estrutura adequada ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, de forma a manter a qualidade do processo de ensino, bem como acompanhar e avaliar os resultados. No IBDH esse acompanhamento dos adolescentes aprendizes é realizado pelo professor, que possui formação em Ciências Contábeis, pós-graduado em Auditoria, Controladoria e Perícia. Segundo esse profissional, o qual nomearemos de entrevistado 1, no IBDH o processo de seleção dos aprendizes funciona da seguinte maneira: O processo de seleção dos menores aprendizes funciona da seguinte maneira, com base na Lei 10.097/2000. Os candidatos preenchem a uma ficha para se candidatar a uma vaga no programa, essas fichas são reportadas ao IBDH – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Humano, e quando conforme os calendários pré-estabelecido, abrem os processos de seleção, algumas empresas, entram em contato com o IBDH, solicitando, que enviem a eles os 19 candidatos para participarem das entrevistas, aqueles candidatos que se enquadram no perfil da empresa, são contratados, e iniciam o programa do menor aprendiz. Ainda segundo o professor: (...) os adolescentes são acompanhados por uma equipe de coordenadores pedagógicos, que visitam os locais de aulas em tempos pré-estabelecidos, além de manter uma comunicação direta com a empresa, para ver como está o andamento e o aprendizado, bem como o interesse dos mesmos nas tarefas desenvolvidas. O objetivo principal, é sempre orientar ao aprendiz a ter uma vida digna diante da sociedade. (Entrevistado 1) De acordo com o inciso III do parágrafo 4º da portaria 615/2007, alterado pelo art. 1º da portaria nº 1.003/2008, os conteúdos de formação humana e científica devem estar contemplados no curso de Aprendizagem Profissional. O IBDH ministra as seguintes disciplinas, conforme o quadro abaixo: Disciplinas/Núcleo Comum 1. Noções de Direito e Cidadania 2. Relações Interpessoais e Ética Profissional 3. Língua Portuguesa 4. Matemática 5. Geografia e História do Espírito Santo 6. Empreendedorismo e Protagonismo Juvenil 7. Administração Geral 8. Saúde e Segurança no Trabalho 9. Informática Básica Sub total 1 C/H 36 36 42 34 34 30 114 62 32 420 Disciplina/Profissionalizante Administração Empresarial Sub total 2 Práticas na empresa 60 480 720 Total Fonte: (IBDH, 2012) 1200 São disciplinas que proporcionam a formação do indivíduo, tanto no quesito profissional quanto no humano e científico. Dessa forma, acredita-se que o processo de aprendizagem passa pela relação dos adolescentes com essas duas instituições, pois as mesmas fazem parte de um mesmo processo. No relacionamento entre empresa e IBDH, o Entrevistado 1 (professor do IBDH) diz que: O profissionalismo é a chave de tudo, no relacionamento entre as instituições, destacam-se o respeito, e a boa comunicação, quando se trata de dúvidas, todas são esclarecidas de imediato, e nos acompanhamentos uma instituição compreende a outra, fazendo assim o nome do programa ir cada vez mais longe. Contraditoriamente, o Entrevistado 2 relata que: 20 Não considerava uma boa relação, uma vez que a empresa enxergava os adolescentes como um “estorvo”, ou seja, algo totalmente imposto pelo MT e que eles deveriam cumprir. Tanto que eles não tinham estrutura alguma para trabalhar (nem física e nem pessoal). Alguns eram mal aproveitados e só iam para cumprir horário uma vez que a empresa (grande parte dos supervisores) não se interessava em ensiná-los. Frente às presentes falas percebe-se que há uma contradição, pois ao mesmo tempo em que o professor afirma uma boa relação entre as instituições a profissional da Nordeste atesta que há falta de comunicação. Percebesse que há uma falta de intervenção do IBDH junto à empresa, e isso dificulta o trabalho de sensibilização sobre a importância do processo de aprendizagem e o papel da Nordeste nesse processo. Comprova-se que, os adolescentes são enxergados como um estorvo, através das falas seguintes, quando perguntados: “QUAL A SUA RELAÇÃO COM O SEU SUPERVISOR IMEDIATO?” “Mais ou menos.” (Aprendiz 06) “Não muito boa, razoável.” (Aprendiz 10) Assim, percebe-se que a empresa contrata os adolescentes apenas como uma imposição legal do Ministério do Trabalho e que, não há nenhum tido de capacitação para lidar com esses jovens. Conforme a fala do entrevistado 2: Não só a empresa que eu atuava, mas as outras empresas a falta de preparo em trabalhar com este público era imensa. O que poderia acarretar diretamente no futuro profissional dos adolescentes uma vez que certas coisas que eles viam ou presenciavam batia de frente com tudo que eu enquanto supervisora geral tentava pregar para eles. Era como se eu ficasse uma tarde inteira falando sobre a importância do bom relacionamento dentro do ambiente de trabalho e dois minutos depois eles se deparassem com situações totalmente opostas a esta. Analisando a fala acima, percebemos que a falta de preparo das empresas para trabalhar com o público adolescente é grande. Contraditoriamente, o entrevistado 1 diz que “no relacionamento entre as instituições, destacam-se o respeito, e a boa comunicação”, entretanto, essa realidade não condiz com a realidade. Devido ao fato de não ter essa boa comunicação entre as empresas, e de não existir um trabalho especial para as instituições acolhedoras, é que o adolescente é considerado como um “estorvo”, e assim é reproduzida a mão de obra barata (MARCELINO, 2011). Levando em conta que as instituições de capacitação e formação profissional recebem incentivos financeiros do governo, a visão do Entrevistado 1 é totalmente diferente da que foi citada acima: Existem como muitas pessoas na vida, aqueles que desperdiçam uma séria de oportunidades, no programa de aprendizes também não é diferente, existem aqueles aprendizes que não levavam a sério o programa, e com isso trazia uma certa indisposição por parte ate mesmo de algumas empresas, mas o IBDH tem procurado conscientizá-los sobre a importância do primeiro emprego, e como isso marcará a vida. Hoje a visão tem melhorado e muito. O que podemos perceber aqui é uma responsabilização dos adolescentes nos casos de fracasso. Analisando o histórico da legislação infantil, notamos que desde novo a 21 criança e/ou adolescente é inserido no mercado de trabalho, a fim de que não ficassem à margem da criminalidade (MARCELINO, 2011). Como dito no capítulo anterior, o programa de aprendizagem criado pelo governo é um “tapa-buraco” no lugar de políticas públicas de incentivo à educação e qualificação profissional, em que os adolescentes dedicariam tempo integral aos estudos. Sendo assim, o adolescente é inserido no mercado de trabalho como uma mão de obra barata, pois, além das empresas cumprirem a legislação trabalhista, o sistema capitalista continuará a todo vapor, tendo menos gastos com a força de trabalho (MARCELINO, 2011). Porém, mesmo sendo legalizado o acompanhamento dos aprendizes por uma entidade qualificadora, nem sempre as mesmas executam atividades teóricas compatíveis com a prática (MARCELINO, 2011). Esvaziando o conteúdo pedagógico do processo de aprendizagem levando o mesmo a se reproduzir apenas como um emprego precário. E o que era para ser um programa de aprendizagem e formação técnica profissional, acaba por se tornar em uma precarização do trabalho, condenando o trabalhador a ser escravo do sistema vigente, pois necessita disso para reproduzir-se e sobreviver (MARCELINO, 2011). Mesmo acontecendo dessa forma, o programa adolescente aprendiz se mostra importante para os adolescentes e seus pais, pois permite que os mesmos possam contribuir economicamente em sua família. Esse fato se dá principalmente porque os adolescentes pertencem a uma classe trabalhadora que sofre cada vez mais com a pobreza provocada pela exploração do trabalho. 4.2 OS ADOLESCENTES APRENDIZES E SUA PERCEPÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM. Uma vez que já conhecemos um pouco da rotina de acompanhamentos dos jovens por parte da empresa Nordeste e do IBDH, onde percebemos a precariedade do acompanhamento realizado junto a esses adolescentes agora, se faz necessário conhecer quem é esse jovem e como ele enxerga esse processo. Para isso a presente pesquisa parte da análise dos dados coletados junto a esses adolescentes mediante a aplicação de um questionário semi-estruturado. A partir desses dados chegamos ao seguinte perfil: A faixa etária está entre 15 a 17 anos, sendo que a maior parte deles possui 16 anos. Dentre os entrevistados pode-se detectar que 60% dos adolescentes aprendizes são do sexo masculino, fruto de um perfil preferencial pela empresa. A renda familiar per capita está em 02 salários mínimos. 22 Os mesmos residem no município de São Mateus, em bairros considerados periféricos. A partir dessa análise, podemos perceber que os adolescentes em questão são oriundos da classe trabalhadora, sendo filhos de soldador, pedreiro, desempregados, donas de casa, motorista carreteiro, cobrador de ônibus, aposentados e auxiliar de serviços gerais. A maior parte dos adolescentes está considerando o Programa Adolescente Aprendiz como o primeiro emprego. Desde novos são conduzidos a um processo formativo que os direciona para o mercado de trabalho, pelo fato de seus genitores não possuírem condições econômicas de proverem seu sustento e educação de qualidade, logo, é necessário que os jovens comecem a trabalhar, a fim de contribuírem na renda familiar e poderem comprar coisas de cunho pessoal. Portanto, é notório o incentivo dos pais aos adolescentes a ingressarem no mercado de trabalho tão jovens. Como podemos perceber no gráfico acima, a maior parte dos adolescentes teve incentivo por parte dos pais, conforme podemos perceber na resposta do Aprendiz 08: “Sim, minha mãe sempre me incentivou.” (Aprendiz 08) Percebemos que o incentivo dos pais aos adolescentes em relação à inserção no Programa Aprendiz fundamenta-se pela falsa ilusão de que, conseguindo essa vaga esse será o seu primeiro emprego, e que essa oportunidade não deve ser desperdiçada. Conforme Marcelino (2011, p.68) incutir mitos de que o trabalho enobrece, é fazer com que os jovens amadureçam antes da hora, assumindo responsabilidades que deveriam ser dos adultos, prejudicando sua saúde e sua mente. Além de terem o incentivo de seus pais, os adolescentes julgam necessária a própria inserção no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar, confirmamos ao perguntar “VOCÊ CONTRIBUI COM O SEU SALÁRIO EM CASA? COMO?” “Sim, comprando alimentos para casa.” (Aprendiz 03) “Sim. No pagamento de contas.” (Aprendiz 05) “Sim, comprando minhas coisas.” (Aprendiz 07) Os pais julgam que o melhor para seus filhos é que os mesmos estejam trabalhando, porque o trabalho causa retorno imediato para o sustento diário da família; o filho que trabalha faz a renda da família aumentar diretamente e a curto prazo (MARCELINO, 2011) . Entretanto, todo esse bombardeio de incentivo dos pais ao ilusório “primeiro emprego” pode estar prejudicando-os, conforme Marcelino (2011, p. 99): no caso específico do aprendiz, ao desgaste para a execução de outras atividades que são inerentes a esta condição de trabalho, e furtando o objetivo pedagógico do ofício proposto. Como já foi citado no capítulo anterior, o objetivo pedagógico do Programa Adolescente Aprendiz é a formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação (LEI nº 10.097, 2000). 23 E essa formação técnico-profissional metódica dos adolescentes deveria ser realizada pelo IBDH. E assim como nos foi apresentado pelo representante da referida instituição, mas contraditoriamente, ao questionarmos os adolescentes sobre quais atividades eles aprendem e realizam no IBDH, contrariam a fala do referido profissional. Quando perguntados “QUAIS ATIVIDADES VOCÊ REALIZA NO IBDH? DESCREVA-AS.” “Copiar assuntos relacionados ao trabalho, direitos e deveres dos aprendizes, epi’s, segurança no trabalho, comportamento no ambiente de trabalho, etc.” (Aprendiz 01) “Matéria para copiar no quadro, as aulas não são dinâmicas, a explicação é só na quarta-feira.” (Aprendiz 03) “Raramente vou ao IBDH, e quando vou copio muitas atividades.” (Aprendiz 04) “Aprendemos a preencher cheque, como se vestir e se comportar em uma entrevista ou o seu ambiente de trabalho, os direitos dos trabalhadores, EPIS de segurança.” (Aprendiz 07) “Aprendo a preencher cheques, o comportamento ideal no local de trabalho, uso correto de EPI’S nas empresas.” (Aprendiz 08) Analisando as falas acima, percebemos que as atividades são de caráter técnico, mecanizado, ou seja, as mesmas não proporcionam nenhuma formação profissional de cunho pedagógico. Ao mesmo tempo em que não se percebe um acompanhamento mais próximo por parte do IBDH, também podemos perceber que as atividades realizadas na empresa não proporcionam aos adolescentes grandes perspectivas. Verifiquemos as falas dos adolescentes em relação às atividades realizadas na empresa: “Separo cartões de ponto, contracheques, notas fiscais, UNIMED, organizo pastas de funcionários, tiro cópias, seguro-desemprego, etc.” (Aprendiz 01) “Fico na sala do médico, separando cartões de ponto, separando contracheque, faço malotes, separo notas fiscais.” (Aprendiz 04) “Muitas, controlo as NCP (Nota de Controle de Petróleo); às vezes separo contracheques e cartões de ponto.” (Aprendiz 05) “Separação de cartões de pontos, contracheques e às vezes ajudamos o médico.” (Aprendiz 10) Entretanto, os jovens buscam uma oportunidade de se inserirem no mercado de trabalho e atribuem ao trabalho um papel importante na sua vida, com caráter de formação, que é contraditório frente às palavras de Pereira (apud MARCELINO, 2011, p. 68): Existe uma falsa visão do trabalho como fator de formação da criança e do adolescente, como se fosse a única porta para que tenham mais oportunidade no futuro e não fiquem na rua, sujeitos a violência e a marginalidade. No entanto, o trabalho precoce prejudica o desenvolvimento sadio da criança e do adolescente, assim como os afasta da escola, tirando suas chances de se preparar para o trabalho digno (na época e na idade certa) e para cidadania plena. Pereira (apud MARCELINO, 2011) retrata que o trabalho precoce prejudica o desenvolvimento escolar do adolescente, que antes de trabalhar tinha tempo integral 24 para os estudos e trabalhando, o mesmo tem que se “dividir” entre os horários da escola e do trabalho. Vejamos as opiniões dos adolescentes: “Difícil, pois o tempo é pouco.” (Aprendiz 03) “Um pouco complicado, pois preciso, muitas vezes de estar na escola no momento em que trabalho.” (Aprendiz 05) “É difícil, pois não há tempo suficiente para fazer as atividades da escola.” (Aprendiz 07) “Difícil, estou com muitas notas baixas.” (Aprendiz 09) Percebemos que, mais da metade dos adolescentes está passando por dificuldades na vida escolar, resultando em notas baixas e uma “vida corrida e cansativa”. Além de trabalharem e estudarem na escola regular, os adolescentes ainda realizam cursos de qualificação profissional, com o objetivo de estarem cada vez mais preparados para permanecerem no mercado de trabalho. Analisemos o que diz Marcelino (2011, p.30): A questão da qualificação profissional para o mercado de trabalho, grande bandeira da legislação do trabalho dos adolescentes nas empresas, é mais uma forma de mascarar e alienar o trabalhador, “colocando a culpa da exploração do trabalho ou da ausência de empregos no próprio trabalhador”, que estaria, em tese, sem a devida qualificação para o exercício do labor, o que amedronta os jovens adolescentes e os obriga a precocemente ingressarem no mercado. O medo de não estarem preparados para o mercado de trabalho é presente nos jovens, por isso desde cedo os mesmos já realizam cursos de qualificação profissional. Confirmaremos isso a partir das falas dos adolescentes: “Já fiz. Secretariado, computação e manutenção de CPU, fiz para ter uma base profissional.” (Aprendiz 01) “Sim. Eletrotécnica, Informática, assistente administrativo. Para ingressar na escola federal e melhorar minha experiência.” (Aprendiz 05) “Já fiz. Gestão empresarial, porque vai me ajudar muito na minha carreira profissional.” (Aprendiz o 07) “Sim. Porque o mercado de trabalho hoje, não exige mais, somente o 2º grau.” (Aprendiz 08) “Sim. Gestão ambiental, segurança do trabalho e inglês.” (Aprendiz 09) Percebemos o quanto o Programa Adolescente Aprendiz não cumpre seus objetivos previstos em lei, ou seja, a inserção dos adolescentes no mercado de trabalho acaba sendo uma mão de obra barata. Porém, mesmo com esse cenário os aprendizes acreditam fielmente que essa experiência foi proveitosa, confira as respostas da pergunta “FALE UM POUCO DE SUA EXPERIÊNCIA COMO ADOLESCENTE APRENDIZ.” “Uma experiência que vou levar pra toda vida. Como aprendiz já tenho um pensamento mais profissional. Aqui conheci várias pessoas, aprendi sobre algumas profissões mais abertamente e na prática eu aprendi muita coisa.” (Aprendiz 01) “Minha experiência foi das melhores, pois aprendi muitas coisas, e irá me ajudar muito na minha capacitação.” (Aprendiz 02) “Muito interessante, pois temos desde “menor” ter responsabilidade com certas coisas, aprendi e aprimorei vários conhecimentos adquiridos no decorrer de outros cursos e apliquei nesse programa.” (Aprendiz 05) 25 “Apesar de todos os meus erros e acertos como menor aprendiz, eu agradeço pela oportunidade, pois muitos queriam estar em meu lugar.” (Aprendiz 10) Notamos nas falas acima, que os adolescentes acreditam que a experiência como adolescente aprendiz contribuirá significativamente na vida profissional, sentem-se privilegiados por serem inseridos no mercado de trabalho através do programa. Além disso, os mesmos acreditam que o programa adolescente aprendiz irá contribuir em sua vida profissional. Vejamos as falas dos jovens, quando perguntados: “VOCÊ ACHA QUE O PROGRAMA ADOLESCENTE APRENDIZ VAI CONTRIBUIR EM SUA VIDA PROFISSIONAL? COMO?” “Vai e muito, pois ganhamos experiências dentro desses meses, nos ajudará bastante no futuro.” (Aprendiz 01) “Sim. O programa aprendiz ele me incentiva muito, pois comecei a dar mais valor a mim mesmo. Ele está me preparando para o mercado de trabalho.” (Aprendiz 02) “Sim. Mais experiência em minha vida profissional e noção de como é a ‘vida de um trabalhador’.” (Aprendiz 05) “Sim, tenho uma base agora de como funciona o mercado de trabalho, e já tenho um pouco de experiências para o mesmo.” (Aprendiz 10) Notamos que os adolescentes encaram a aprendizagem como uma iniciativa séria, e que ele contribuirá em sua vida profissional. Conforme Amazarray et al. (apud Sarriera e cols., 2001) as primeiras experiências laborais constituem o jovem em formação, pois servem como um modelo de referência, e é isso que os adolescentes acreditam que a experiência da aprendizagem trouxe para a vida deles. Portanto, para definir um perfil de adolescente aprendiz podemos dizer que ele possui faixa etária de 15 a 17, sem distinção de sexo, seus pais advêm da classe trabalhadora, possuem renda familiar de 01 a 02 salários mínimos, residem em bairros periféricos, nunca trabalharam antes e possuem total incentivo dos pais quanto à inserção no mercado de trabalho. Concluímos que, o trabalhador aprendiz é aquele oriundo das camadas mais carentes da população e que busca na oportunidade do trabalho uma fonte de complementação de renda e um caminho de inserção no mercado de trabalho. 5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO 5.1 CONCLUSÃO A presente pesquisa buscou estudar a condição de trabalho aprendiz, figura jurídica que permitida legalmente através da Lei 10.097/2000 e Decreto 5.598/2005, no nosso país, que os menores entre os 14 e 18 anos incompletos de idade exerçam uma atividade laboral em empresas, mas em condição especial de aprendizado. Na justificativa da presente pesquisa, foram feitas as seguintes indagações: Será que o adolescente está inserido no mercado de trabalho conforme as prerrogativas exigidas na Lei da Aprendizagem e no ECRIAD? Será que as atividades laborais não estão prejudicando o adolescente, ao invés de contribuir em sua formação profissional? Será que o 26 adolescente aprendiz está sendo inserido no campo profissional por iniciativa própria ou pela família? Será que o adolescente consegue enxergar a real importância do trabalho em sua vida? Com base no referencial teórico e a realização do questionário dos adolescentes, com a profissional da Nordeste e com o professor do IBDH, poderemos responder as perguntas acima. A Lei 10.097/2000 diz que é proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, sendo a partir dos quatorze anos, e que essa atividade laboral não poderá ser realizada em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a frequência à escola. Analisando a faixa etária dos jovens e, devido ao acompanhamento escolar frequentemente realizado pelo IBDH e pela profissional da Nordeste, concluímos que esses quesitos legalmente são preenchidos. Em relação às atividades laborais exercidas pelos aprendizes, buscou-se verificar se as mesmas estavam contribuindo na formação profissional ou se não eram prejudiciais a saúde. Constatou-se que, as atividades não eram prejudiciais, entretanto as mesmas não contribuíam em sua formação profissional, pois eram de caráter técnico, mecanizado, ou seja, as mesmas não proporcionam nenhuma formação profissional de cunho pedagógico. Observou-se que o adolescente aprendiz está sendo inserido no campo profissional por iniciativa dos pais, que julgam importante a experiência do primeiro emprego. Além disso, os mesmos são direcionados para o mercado de trabalho, pelo fato de que seus genitores não possuírem condições econômicas de proverem seu sustento e educação de qualidade, portanto é necessário que os jovens comecem a trabalhar, a fim de contribuírem na renda familiar. Preocupou-se em compreender se o adolescente conseguia enxergar a real importância do trabalho em sua vida, e constatou-se que sim. Eles percebiam o quanto a experiência da aprendizagem estava sendo proveitosa, e quanto ela irá contribuir no futuro profissional, sendo esse o primeiro emprego, servindo como um modelo de referência. Sentiam-se privilegiados por serem inseridos no mercado de trabalho através do programa de aprendizagem. Além da iniciativa dos pais, os próprios adolescentes almejavam conquistar uma vaga no mercado de trabalho, pois além dessa inserção, os mesmos procuravam se especializar, pois acreditavam que estando cada vez mais qualificados e preparados teriam condições melhores de permanecerem no mercado de trabalho. A discussão sobre a mercantilização do trabalho discutida no referencial teórico remete à ideia do quanto a legislação brasileira é desrespeitada quando admitem que menores de 18 anos ingressem no mercado de trabalho, mesmo que em condições especiais, configurando assim a utilização do adolescente como uma mão de obra barata, mantendo a produção capitalista e tendo menos gastos com a força de trabalho. 27 Foi possível compreender que o trabalho do adolescente é uma forma precarização do trabalho, pois, mesmo sendo legalizado os mesmos estão sendo qualificados por empresas que não possuem condições de estarem em funcionamento, além de não terem um profissional capacitado para realizar as atividades teóricas, resultando em exercício laboral que não condizem com a proposta inicial do programa. Assim, conhecendo os argumentos da exploração e utilização de trabalho mais barato, podemos afirmar que o trabalho do adolescente, como visto hoje, é reflexo do modelo de mercantilização. Esse cenário possui caráter flexibilizador, pois ao usar o adolescente como força de trabalho a baixo custo, o programa aprendiz perde seu caráter de formação técnica profissional e passa a formar e fornecer profissionais a curto prazo. Sendo assim, esse caráter flexibilizador não apenas de direitos trabalhistas, mas de direitos de proteção à criança e ao adolescente (MARCELINO, 2011) estão cada vez mais presentes no mercado e nas instituições qualificadoras de aprendizagem. E por fim, quanto à hipótese levantada foi comprovada que, o adolescente que é inserido no Programa Adolescente Aprendiz tem por interesse próprio a iniciativa de se inscrever, visando uma conquista de autonomia, liberdade e certa independência, ao ganhar remuneração pelo esforço dedicado ao trabalho. Entretanto, há outra realidade. Os adolescentes saem em buscam dessa autonomia e acabam se deparando com a outra face do Programa Adolescente Aprendiz. Os mesmos são colocados em atividades degradantes e que não contribuíram em sua formação técnico - profissional, não são valorizados e possuem uma mal remuneração. Considera-se a hipótese verdadeira. 5.2 RECOMENDAÇÕES Neste trabalho se verificou a concepção que os adolescentes aprendizes possuem frente a própria inserção no mercado de trabalho. Os mesmo acreditam que estando exercendo atividades laborais, possuem mais condições de contribuírem na renda familiar e, qualificarem-se cada vez mais para permanecerem no mercado de trabalho. Entretanto os mesmos são inseridos como força de trabalho barata, em uma lógica de mercantilização do capital, ocorre-se a flexibilização dos direitos sociais e dos direitos referentes à criança e/ou adolescente. Percebe-se também que a instituição qualificadora de aprendizagem não detém de estrutura e profissionais qualificados para trabalharem com os adolescentes e, a instituição acolhedora (empresa Nordeste) não tem habilidade para trabalhar com este público. Com base no que foi pesquisado, o grande desafio, é reformular o Programa Adolescente Aprendiz, para que as instituições qualificadoras tenham profissionais especializados para trabalhar com os aprendizes e com as empresas. Outro ponto que deve modificado é a fiscalização do cumprimento da lei, ou seja, os órgãos competentes deveriam atuar mais rigidamente a fim de extinguirem empresas se utilizam de práticas que não condizem com o objetivo da aprendizagem. Para estudos futuros, recomenda-se pesquisar sobre: as vantagens e desvantagens do primeiro emprego na vida do adolescente, o programa adolescente aprendiz como uma mão de obra barata e as lacunas da lei da aprendizagem. 28 6 REFERÊNCIAS 1. AMAZARRAY, M. R. et al. Aprendiz versus Trabalhador: Adolescentes em Processo de Aprendizagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, Vol. 25 n. 3, p. 329-338, jul. a dez. 2009. 2. ANDRADE, M. M. Introdução a metodologia do trabalho cientifico. S. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 3. BARDIN, L.. Análise de construção de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. 4. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Rio de Janeiro, 1943. 5. BRASIL. Decreto nº 5.598, de 1º de dezembro de 2005. Regulamenta a contratação de aprendizes e dá outras providências. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, 1º de dezembro de 2005. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5598.htm>. Acesso em 10 mar. 2012. 6. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente & Legislação Congêneres. Vitória: Ministério Público do Estado do Espírito Santo, 2011. 7. BRASIL. LEI Nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000. Altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10097.htm>. Acesso em: 05 mai. 2012. 8. IANNI, O.. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992. 9. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia =1455&id_pagina>. Acesso em 25 mai. 2012. 10. LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. de A.. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas S.A, 2011. 11. MARCELINO, C. P. S.. A mercantilização do trabalho juvenil pela via dos contratos de aprendizagem. Dissertação (Mestrado) – UFPB/PPGA, João Pessoa. 2011. 12. MARIANI, G. C. de A.. “Jovens de projetos”: um estudo de caso sobre os jovens do Programa Jovem Aprendiz no município de Vitória/ES. Dissertação (Mestrado) - UFES, Espírito Santo. 2010. 13. RANGEL, P. 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Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=384> Acesso em: 05 mai. 2012. 30 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA PRIVADA NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS – ES Gilmara Giraldeli da Rocha6 Lucia Possebon da Silva Damaceno7 Josete Pertel8 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo conhecer como é concretizado o processo de intervenção e mediação realizado pelos assistentes sociais dentro das instituições privadas, como eles têm atuado perante tantos conflitos gerados entre empregadores e empregados, seus projetos inseridos, desafios e estratégicas utilizadas para a amenização desses conflitos causados pelo próprio sistema capitalistas. Nesse mesmo processo, é fundamental dizer que é um grande desafio para os profissionais do Serviço Social em estar prontos para aplicar seus métodos interventivos com facilidade na intenção de amenizar problemas de relacionamento coletivo. Este trabalho foi realizado através de uma pesquisa exploratória, estudo de caso e um questionário aplicado à assistente social da empresa que nos respondeu de acordo com seu método de intervenção dentro da empresa na qual trabalha. Decorreu como fonte de entrevista para elaborar os dados buscando conhecer como se desenvolve todo o processo de intervenção juntamente com a sociedade e município no qual está inserido. Esta pesquisa respondeu às expectativas esperadas em relação à atuação e processo interventivo do profissional de Serviço Social nesta área empresarial, mostrando de forma clara e objetiva como este profissional deve lidar com os conflitos que surgem no cotidiano desta empresa, sua atuação, projetos inseridos e suas atribuições, buscando assim contemplar ambas as classes empregado e empregador. Palavras-Chave: Assistente. Intervenção e Pesquisa. ABSTRACT This study aims to understand how the process is implemented intervention and mediation conducted by social workers in private institutions, as they have worked before so many conflicts generated between employers and employees, their projects included, challenges and strategies used for alleviating these conflicts caused by the capitalist system. In the same case, it is essential to say that is a big challenge for professional Social Work must be ready to apply their methods interventional facility with the intention of mitigating problems of collective relationship. This work was carried out through an exploratory case study and a questionnaire administered to the social worker that the company responded according to their method of intervention 6 Pós-graduadas em Gestão Pública da Assistência Social da Faculdade Norte Capixaba de São Mateus Pós-graduadas em Gestão Pública da Assistência Social da Faculdade Norte Capixaba de São Mateus 8 Doutora em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professora da Faculdade Norte Capixaba de São Mateus 7 31 within the company you work for. Interview took place as a source of data to develop in order to learn how it develops throughout the intervention process with the company and the municipality in which it is inserted. This research answered the expectations regarding the expected performance and the intervention process of professional social work in this business area, showing clearly and objectively how this professional must deal with the conflicts that arise in the daily life of the company, its activities, and their projects included assignments, thus seeking to include both classes employee and employer. Keywords: Assistant. Intervention and Research. 1 INTRODUÇÃO O assistente social é um profissional que tem conquistado um campo de trabalho bem amplo na sua atividade desde o surgimento do serviço social. É herdeiro de uma cultura profissional que carrega fortes marcas confessionais em sua formação histórica e alguns de seus traços se atualizam no presente, por meio de um discurso profissional laico que reatualiza a herança conservadora de origem. Enfrenta muitos desafios para implementação das políticas públicas como o direito social do cidadão, precisa buscar novos conhecimentos, ser eficaz na sua atuação de intermediador solucionando os conflitos das desigualdades sociais, acompanhando as mudanças e as novas estratégias do serviço social em questão. A origem do serviço social como profissão tem, pois, a marca profunda do capitalismo e do conjunto de adversidades como a alienação e a contradição, pois foi neste vasto contexto que foi desenvolvido como uma importante estratégia de controle social, reproduzindo as práticas sociais repressoras, conservadoras e confessionais nos mecanismos produzidos pela classe dominante para garantir a marcha expansionista da consolidação do sistema capitalista. Hoje o serviço social está regulamentado por lei e o profissional segue com sua profissão cumprindo um regimento de ética e objetividade. Percebemos que com o passar dos anos, vem criando um ambiente mais amplo, impondo mais respeito, embora ainda haja preconceito pelo surgimento do mesmo, mas estamos em constante evolução. Após muitos anos de luta a profissão de serviço social foi regulamentada pela Lei nº 8662/93, e tem hoje seu próprio código de ética profissional dos assistentes sociais e o Conselho Regional de Serviço Social – CRESS. Assim afirma Mota (1998, p. 65): [...] O serviço social também é assumido como instrumento de intervenção nos “problemas sociais”, entendidos como situações de carências do trabalhador que interferem na produtividade da força de trabalho. Acima, Mota afirma que o serviço social na empresa lida com os “problemas sociais”, e baseado nesse problema que o assistente social irá desenvolver seu trabalho, fazendo 32 com que a carência e os problemas sejam supridos por algo necessário para o trabalhador e para a reprodução de sua força de trabalho. Com isso, as empresas começaram a contratar o serviço do assistente social para atuar com o intuito de controlar os conflitos gerados por esta situação. Podemos dizer que o assistente social utiliza de seus métodos de intervenção profissional para tentar eliminar ou minimizar qualquer tipo de conflito, levando em consideração sempre o diálogo entre ambas as partes, deixando claro para empregador e empregado seus direitos e seus deveres mediante a sociedade ou instituição na qual está inserida. Atualmente sua forma de atuação é bem expansiva e expressiva; antes era apenas caridade, hoje se trabalha com asilos, hospitais, empresas privadas, públicas, escolas, faculdades, penitenciária, dentre outros, fundamentando a intervenção como um mecanismo de defesa nos estágios governamentais. Ao analisar o trabalho do assistente social em empresas privadas, deve-se voltar para aos anos de 1970, onde se iniciou a carreira desse profissional dentro das empresas. A partir desse momento veio os avanços tecnológicos em nosso país, aonde o capitalismo veio à tona e o crescimento das empresas evoluiu de forma surpreendente. Com isso tornaram-se crescente os conflitos e insatisfação dos empregados e dos empregadores. A atuação do assistente social na empresa privada é bem diversificada, exigindo do profissional um alto nível de conhecimento das situações de vulnerabilidade social, frisando através desse conhecimento os meios em que ele possa intervir. O Assistente Social é requisitado na empresa como mediador devido suas estratégias profissionais de intervenção entre empregado e empregador, de sua demonstração de afeto ao realizar seus procedimentos no atendimento nas diversas áreas sociais do usuário, sendo reconhecido como um profissional que realiza uma análise através de estudo social envolvendo a vida do usuário e da família por completo nas diversas questões sociais. Simões (2005, p. 194): Descreve em seu livro que quando o assistente social torna disponível para a população sua atenção, o seu cuidado, o seu compromisso, a sua dedicação, o seu carisma, ele disponibiliza atributos pessoais que são instrumentalizados como recursos profissionais, que fundamenta a auto - satisfação e a estima dos assistentes sociais sendo atraídos para as tarefas de auxiliar o usuário e sua família. Neste sentido esta pesquisa analisa como se caracteriza o papel de mediação entre o profissional de Serviço Social em relação ao empregado e empregador. Esta pesquisa tem como objetivo geral conhecer o papel do Assistente Social na empresa privada como mediador entre empregado e empregador, no processo de reprodução das relações sociais visando à profissão como especialização do trabalho coletivo. 33 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta investigação tem o caráter exploratório. Dessa forma, pode-se ter uma aproximação a mais no campo de atuação profissional, assim, podendo conhecer a realidade do trabalho do assistente social na empresa privada e ter uma maior base para responder aos objetivos gerais e específicos. Foram utilizadas técnicas de pesquisa bibliográfica e estudo de caso, desta forma, foi realizado um estudo de caso que propiciou um conhecimento mais próximo da realidade do profissional de Serviço Social no campo de atuação na empresa privada. Empregou-se empregou um questionário aberto sem identificação, para assim não expor o entrevistado e o mesmo se sentir à vontade ao responder o questionário. Pretende-se com esse questionário adquirir maior informação sobre o conteúdo abordado, com pequenas perguntas bem objetivas e claras, fazendo com que o entrevistado aproxime a sua resposta com sua realidade profissional. 2.4 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA PESQUISADA A pesquisa será realizada em uma empresa privada no Município de São Mateus-ES, no ano de 2011, com o objetivo de analisar o trabalho do Assistente Social. 3 ENSAIO TEÓRICO A presente pesquisa irá demonstrar o trabalho o assistente social na empresa privada no Município de São Mateus-ES, abordando uma determinada empresa privada, realizando entrevista com assistente social da mesma, para saber na prática como realmente se dá o papel do profissional de Serviço Social em seu ambiente de trabalho empresarial. Este trabalho abordou tanto a prática profissional como a teoria, fazendo um paralelo entre ambas, assim conseguiu levar ao leitor uma ampla realidade do trabalho do assistente social, fazendo com que o próprio leitor veja a prática e teoria deste profissional. Sua trajetória no mundo e no Brasil não foi tão simples, passou por diversos conflitos e situações para hoje ser reconhecido como profissão, principalmente nos tempos da ditadura militar e avanço tecnológico. Após muitos anos de luta a profissão de Serviço Social foi regulamentada pela Lei a nº 8662/93, e hoje tem seu próprio Código de ética profissional dos Assistentes Sociais e o Conselho Regional de Serviço Social – CRESS, Assim as empresas começaram a chamar os assistentes sociais para trabalharem, para controlar o conflito, portanto podemos afirmar que o real trabalho deste profissional em uma empresa privada é como mediador de conflitos, fazendo com o que o trabalhador se sinta satisfeito com a empresa onde trabalha. Outro papel fundamental é passar para os empregados os seus direitos e deveres como trabalhador de acordo com a Constituição Federal, e direitos presentes na Previdência Social. 34 Para conseguir fazer todo esse papel, o assistente social usa seus métodos como intervenção profissional, que somente através desta intervenção ele consegue eliminar ou minimizar conflitos, os mais utilizados são diálogos entre os próprios empregados e se necessário com seus familiares, e palestras educativas. 4 REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 UMA REFLEXÃO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO O trabalho se constitui como categoria que possibilita o salto ontológico das formas préhumanas para o ser social. Ele está no centro do processo de humanização do homem. Para apreender sua essencialidade é preciso vê-lo como momento de surgimento do pôr teleológico (surgimento de sua finalidade) quanto como protoforma da práxis social. O trabalho é constitutivo do ser social, mas o ser social não se reduz ou esgota no trabalho. Quanto mais se desenvolve o ser social, mais as suas objetivações transcendem o espaço ligado diretamente ao trabalho, quanto mais rico o ser social, tanto mais diversificadas e complexas são as suas objetivações. A categoria de práxis permite apreender a riqueza do ser social desenvolvido: verifica-se na e pela práxis, como, para além das suas objetivações primárias, constituídas pelo trabalho, o ser social se projeta e se realiza nas objetivações materiais e ideais da ciência (...) construindo um mundo de produtos, obras e valores – um mundo social, humano, enfim, em que a espécie humana se converte inteiramente em gênero humano. (...) a categoria de práxis revela o homem como ser criativo e autoprodutivo: ser da práxis, o homem é produto e criação da sua auto-atividade, ele é o que (se) fez e (se) faz (NETTO; BRAZ, 2007, p. 44). Assim, reconhecidamente como classe que vende sua força de trabalho, o assistente social encontra-se inserido em todos os aspectos que envolvem todos os trabalhadores da divisão social e técnica do trabalho (NETTO, 2004), demonstrando a força destruidora do capital frente aos direitos sociais, políticos, econômicos, entre outros, duramente conquistados pelas lutas capitaneadas pelas vanguardas da resistência presentes nos quadros da classe operária brasileira. Desse modo, o trabalho profissional surge neste contexto, produzido pelas forças dominantes, em uma tentativa de sufocar o processo revolucionário que se aproximava, por meio da prática social, definindo para o serviço social seu objeto de intervenção, ou seja, os problemas sociais que passou a sofrer intervenção do profissional. Segundo Netto (1991) na estrutura vigente, a classe trabalhadora encontra-se no sustentáculo das demais classes dominante devido á venda de força de trabalho que gera mais valia que, por sua vez, gera mais lucro. Pode-se dizer que devido às mudanças sobrevindas no mundo do trabalho, mudanças essas que interferem diretamente nas demandas impostas ao Serviço Social, há a necessidade de se conhecer essa categoria que: “... além de indispensável para a compreensão da atividade econômica, faz referência ao próprio modo de ser dos 35 homens e da sociedade.” (NETTO; BRAZ, 2007, p.29). As condições de existência e reprodução da sociedade se obtêm numa interação com a natureza: a sociedade, através dos seus membros, transforma matérias naturais em produtos que atendem às suas necessidades. Essa transformação é realizada em virtude do trabalho. Para tanto, o homem se vale da objetivação, que transforma a finalidade previamente construída na consciência em um produto objetivo. O Serviço Social é desafiado por esse contexto tão adverso por seu lugar específico na divisão sócio-técnica do trabalho. A profissão precisa adensar esse debate para que a partir de análises concretas com base na realidade, possa contribuir para o enfrentamento teórico-prático de forma crítica e com competência. Nesse pensamento, Iamamoto (2008, p. 26), Requer que os fenômenos e processos sociais sejam re-traduzidos na esfera do pensamento, que procura apreendê-los nas suas múltiplas relações e determinações, isto é, em seu processo de constituição e de transformação, pleno de contradições e mediações (em sua totalidade). Não se pode pensar em uma “prática profissional” como prática do indivíduo isolado, desvinculado da trama social que cria sua necessidade e condiciona seus efeitos na sociedade. Onde a mesma é tida como uma relação singular entre o assistente social e o usuário de seus serviços, com frágil conhecimento das expressões da questão social e das políticas sociais correspondentes. Quando a formação universitária privilegia a construção de estratégias, técnicas e formação de habilidades, centrando-se no como fazer, a partir da justificativa de que o Serviço Social é uma “profissão voltada à intervenção no social”, está fadada a criar um profissional que, aparentemente sabe fazer, mas não consegue explicar as razões, o conteúdo, a direção social e os efeitos de seu trabalho na sociedade. Os assistentes sociais interferem nas relações sociais cotidianas, no atendimento às variadas expressões da questão social, tidas como experimentadas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pelos seus direitos. Um desafio da profissão é romper com os vieses ora fatalistas, ora messiânicos presentes no discurso de alguns assistentes sociais, tal como se constata no cotidiano profissional. O outro desafio é participar de um empreendimento coletivo, que permita, de fato, trazer para o centro do debate, o exercício e também o trabalho cotidiano do assistente social. O pensar dialético das profissões como movimento; organização, saber, regulamentação exige uma análise concreta da realidade concreta, na qual existe uma pluralidade de dimensões da ação profissional, que implica tanto a relação com as forças do capital, como a relação de poder particularizada nas organizações, a relação com os usuários, à relação com os movimentos sociais e segmentos diferenciados das sociedades na prestação de serviços. (FALEIROS, 2008, p. 37). Verifica-se uma ampla retração dos recursos institucionais para acionar a defesa dos direitos e dos meios de acessá-los. São muitos os desafios atuais. O maior deles é tornar esse projeto um guia efetivo para o exercício profissional e consolidá-lo por meio de sua implementação efetiva, ainda que na contramão da maré neoliberal, a partir 36 de suas próprias contradições e das forças políticas que possam somar na direção por ele apontada(...) Exige-se uma análise acurada das reais condições e relações sociais em que se efetiva a profissão, num radical esforço de integrar o dever ser com a objetivação desse projeto, sob o risco de se deslizar para uma proposta idealizada, porque abstraída da realidade histórica, elidindo as particularidades, determinações e mediações que incidem no processamento dessa especialização do trabalho coletivo. (IAMAMOTO, 2008, p. 233). 4.2 EVOLUÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Este capítulo abordará sobre a evolução do Serviço Social no Brasil e suas transformações, como por exemplo, métodos de trabalho, locais de trabalho, serviço social em empresas privadas, princípios e lei do Serviço Social. Segundo afirmação de Iamamoto (2008, p. 121), Todos sabemos que o Serviço Social se institucionaliza como profissão rompendo as fronteiras da mera filantropia, como um dos recursos mobilizados pelo Estado, pelo empresariado, com efetivo apoio da Igreja, para atuar na “questão social” num contexto de transição do capitalismo competitivo para o capitalismo monopolista. Percebe-se que com o passar do tempo o Serviço Social evoluiu muito, tanto no sentido da profissão como seus métodos de trabalho. Hoje não se busca apenas profissional executivo, mas busca-se cada vez mais um profissional eficaz, eficiente, propositivo e criativo. Sua evolução foi tamanha que “o ano de 1936 marca o início do Serviço Social no Brasil, com a criação da primeira escola em São Paulo pelo CEAS – Centro de Estudos e Ação Social afirma” Sá (1995, p. 65), começando assim a surgir às primeiras escolas de formação do profissional, e “no dia 13 de junho de 1953, foi aprovada a Lei nº 1.889, regulamentando o ensino do Serviço Social em nível superior [...]” afirma Sá (1995, p. 94). A partir então, a profissão é caracterizada de nível superior, com o diploma registrado no Conselho Regional de Serviço Social – CRESS. Hoje o Serviço Social é reconhecido como profissão liberal através da Lei nº 8662/93, e regulamentado pelo Código de Ética profissional dos Assistentes Sociais que tem como seus princípios fundamentais: a liberdade como valor ético central e das demandas políticas; defesa dos direitos; garantia dos direitos civil, sociais e políticos; defesa da democracia e participação popular; equidade e justiça social; eliminação de todas as formas de preconceitos e discriminação social e racional; garantia do pluralismo, respeitando as concordâncias da profissão; compromisso com a qualidade dos serviços prestados e exercício da profissão sem preconceitos de raça, etnia e religião. Como diz Iamamoto “Pensar em Serviço Social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo contemporâneo para decifrá-lo e participar da sua recriação (2007, p. 19)”, o Serviço Social na contemporaneidade segue com as questões sociais, construções de projetos, a prática e inserção do profissional do mercado de trabalho, 37 suas diretrizes e políticas públicas e sociais, os conflitos com as questões sociais e mínimas sociais, suas demandas e barreiras de efetivação das mesmas. De acordo com Iamamoto (2007, p. 28), Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. Hoje, sua forma de atuação é expansiva, antes caridade, na contemporaneidade se trabalha em asilos, hospitais, empresas privadas e públicas, escolas, faculdades, penitenciárias, prefeituras, com adolescentes em conflitos com e Lei, dependentes químicos, trabalho interventivo entre outros como do próprio ramo em defesa do mesmo como, por exemplo, Sistema único de Saúde (SUAS), Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), participação em Conselhos Municipais, Estaduais, Federais e Conferências nos três níveis de governo. 4.3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM EMPRESAS PRIVADAS A origem do serviço social como profissão se legitima e se institucionaliza como prática vinculada á chamada questão social. Dessa forma, o estudo do surgimento da profissão não se reduz á questão social em si, mas está atrelado ao seu tratamento na transição da sociedade capitalista á ordem do monopólio, isto é, nas peculiaridades que ultrapassam as formas tradicionais de produzir e reproduzir sua gênese, e que encobrem os antagonismos que permeiam esse processo e legitima seu significado na divisão social e técnica do trabalho. A concepção de questão social mais difundida no serviço social é a de Iamamoto e Carvalho (1988, p. 77): A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção além da caridade e da repressão. O assistente social não produz riqueza, porém é um profissional que participa coletivamente entre a técnica de produção e trabalho. Trabalho este, que gera condições necessárias para o crescimento da empresa. Nessa área o profissional precisa ter uma visão diferenciada sobre as condições em seu trabalho, deixando claro que viver o serviço social não é resultado instantâneo, e sim, reduzir os espaços entre sociedade capitalista e cotidiana. Iamamoto diz que (2007, p. 70), 38 O serviço social é atividade que, para se realizar no mercado, depende das instituições empregadoras, nas quais o assistente social dispõe de uma relativa autonomia no exercício do seu trabalho. Dela resulta que nem todos os trabalhos desses profissionais são idênticos, o que revela a importância dos componentes ético-políticos no exercício da profissão. [...] A inserção do serviço social na área empresarial ocorre a partir das décadas de 1950 e 1960, com o crescimento industrial no Brasil. Ela atende aos interesses da classe dominante que inclui empregadores ou donos de fábrica e indústrias ao próprio Estado como garantias da eficiência da produtividade e do compromisso dos trabalhadores no cumprimento de suas funções dentro da empresa na qual está inserida. Essa expansão do mercado de trabalho para o serviço social encontra resposta nas constantes transformações que vem sofrendo a sociedade planetária com os avanços tecnológicos, a globalização e a reestruturação produtiva, que incidem diretamente nas relações sociais, nas relações de trabalho e na economia. Do período de sua inclusão como profissão na década de 1930 até o final de 1970, o serviço social era uma profissão cuja atividade restringia-se a ações burocráticas, assistencialistas e voltadas para os interesses do Estado e da burguesia. Ele possui características no ambiente profissionais bem amplas, sua função é realizar um papel social que envolva o bem-estar da sociedade de forma simples e objetiva, dispondo de suas habilidades técnicas e éticas, propondo alternativas que possam viabilizar ou até mesmo sensibilizar o usuário. Segundo Mota (1998), os serviços sociais dentro da empresa devem-se a preservação da qualidade da força de trabalho dos empregados, a qual pode ser afetada pelas carências materiais e comportamentos divergentes que interfiram no processo organizativo da produção. Para garantir uma sintonia do serviço social com os tempos atuais, é necessário romper com a visão endógena, focalista, uma visão de “dentro” do serviço social, prisioneiras em seus muros internos. Alargar os horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do estado em suas relações com a sociedade; não para perder ou diluir suas particularidades profissionais, mas, ao contrário, para melhor apreendê-lo na história da sociedade da qual ele é parte e expressão”. (IAMAMOTO, 2007, p. 20). A partir da década de 1990, ampliam-se os espaços de debates sobre o serviço social, o trabalho e o exercício profissional. No âmbito desse exercício propõe extrapolar a visão reducionista presa nos muros do serviço social. Abriu-se então a aproximação com a realidade social, conhecendo e reconhecendo como espaço de novas possibilidades de construção de propostas de trabalho e da dinâmica das relações sociais de produção da sociedade capitalista. Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. (IAMAMOTO, 2007, p. 20) 39 Os assistentes sociais tinham atuações preestabelecidas por programas criados nos altos escalões e desenvolviam seu exercício profissional, restritos a um grupo de tarefas predefinidas, atendendo ás rotinas das instituições. A partir da década de 1990, ampliam-se os espaços de debates sobre o serviço social, o trabalho e o exercício profissional. No âmbito desse exercício propõe extrapolar a visão reducionista presa nos muros do serviço social. Abriu-se então a aproximação com a realidade social, conhecendo e reconhecendo como espaço de novas possibilidades de construção de propostas de trabalho e da dinâmica das relações sociais de produção da sociedade capitalista. Conforme afirma Faleiros (2002) a construção do objeto do serviço social hoje se faz dentro do contexto institucional, no exercício do poder profissional, no confronto de estratégias de sobrevivência e vivencia com as cobranças da reprodução e as formas de inteligência, representadas e manifestadas de interesses, analogias das organizações. O que exige dos profissionais de serviço social dentro do ambiente privado é um atendimento relacionado as novas demandas impostas ao desenvolvimento do capitalismo e as transformações que a tecnologia trouxe, dando aceleração que buscam determinar o trabalho por meio de inovações e novas organizações voltadas para a total produção e gestão do trabalho. No espaço empresarial, o serviço social foi mobilizado para detectar e atenuar as tensões provenientes da intensificação do processo da exploração da força de trabalho e do movimento da resistência dos trabalhadores. O profissional assumiu a execução de serviços sociais, pautado numa ação educativa e integrativa, visando suprir carências, solucionar problemas sociais, prevenir conflitos e, com base na atividade assistencial, buscou o enquadramento nas relações sociais vigentes, reforçando a mútua colaboração entre capital e trabalho. (CESAR, 1999, p. 170). O serviço social na empresa, tem o sentido de atualizar-se como objeto da profissão, tomando partido dos benefícios sociais proporcionados por quem requisita, na condição de atuar dentro das inclusões da sociedade, interpessoais, e grupais, articulando nova estrutura para promover a efetividade das ações assistenciais que dispõe a empresa, buscando promover a qualidade de vida no trabalho. A sociedade, dentro de uma perspectiva do senso comum, ainda vê na profissão do serviço social algo sem status, sem prestígio, sem perspectiva de salário atraente e sem o verdadeiro reconhecimento do sentido da profissão, que extrapole a ideia da caridade e do voluntariado. O serviço social, em sua prática, dispõe de condições potencialmente privilegiadas, pela proximidade que tem ao dia a dia das classes subalternas, de recriar aquela prática profissional nos rumos aventados, exigindo que a formação universitária possa dotar os assistentes sociais de subsídios teóricos, éticos e políticos que lhe permitam – se assim o desejam – contribuir, de mãos dadas, para o trajeto histórico em rumo aos novos tempos. (IAMAMOTO, 1998, p.200). 40 Tempos em que o assistente social adquire um comprometimento direto com a defesa dos direitos sociais, com os calores ético-humanistas, com a justiça social e a equidade, com os valores de liberdade, igualdade e democracia e com a construção da cidadania coletiva que permita aos sujeitos sociais fazerem a sua própria história e suas escolhas. Com isso, o serviço social, apesar de ser considerada uma profissão liberal, fortalece o perfil de uma categoria na qual grande parcela dos profissionais vende sua força de trabalho. A questão social pode ser, de acordo com Iamamoto (2007, p. 27), A questão social é [...] o conjunto das expressões das desigualdades sociais da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. As mudanças que acontecem no espaço interno das empresas ocasionam grandes efeitos na rotina de um profissional de serviço social. Com novas estratégias e gestões para atuar no controle de qualidade dos produtos, acarreta um aglomerado processo de reorganização, visando à melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. No equilíbrio interno e externo do ramo empresarial o profissional de serviço social realiza seu processo de intervenção por meio de duas classes, onde a função social é a produção de bens e serviços como garantia de bem-estar, e a função social espalha de modo satisfeito a garantia do equilíbrio interno dos trabalhadores. Mediante esses fatos, Mota (1998) destaca que a exigência do profissional de assistência social por parte da empresa vem confirmar que a expansão do capital provoca nascimento de necessidades sociais, fazendo com que a mesma se sinta na obrigação de contratar um profissional qualificado para realizar um trabalho assistencial e educativo junto ao empregado e seus familiares. Mota define que (1998) "ao ingressar nas empresas os assistentes sociais, via de regra, se deparam como o encargo de ratificar sua utilidade na solução de 'problemas sociais', mediante construção de uma identidade de intenções profissionais e empresariais”. Que os interesses capitalistas no desenvolvimento das ações assistenciais, confirmam que "o serviço social na empresa é polarizada entre a convivência objetiva com as condições de vida e trabalho do empregado e as prerrogativas da entidade". Nessa perspectiva, Mota (1998) diz que o serviço social é requisitado pela empresa como ação profissional que legitime seus interesses e atendam suas necessidades. Desse modo, o assistente social é inserido na equipe técnica de recursos humanos, sendo chamado a intervir nas problemáticas do trabalhador, no "trato" dos "Problemas Sociais" mediante a requisição interinstitucional. A autora argumenta ainda que, para realizar uma ação transformadora, o assistente social tem que compreender que, sobre as origens de sua requisição pela empresa, ele pode negar a dominação do requisitante, à medida que constrói junto com o trabalhador um projeto político alternativo que não se restringe ao âmbito localista da empresa. 41 Pode-se destacar no setor de trabalho e produção, a exigência do assistente social pela empresa para atuar junto aos trabalhadores, seja gerenciado ou mesmo implantando serviços sócios assistenciais na busca de melhorias no modo de produção, coloca o indivíduo como peça importante de suas características como produto importante no processo de produção. De acordo com Abreo e Fávaro (apud Andrade 1999), com a implantação de programas de qualidade de vida no trabalho, o assistente social tem como função o monitoramento do processo e a instrumentalização de ações gerenciais, em busca de melhorias contínuas na Qualidade de Vida no Trabalho. O profissional de assistência social será devidamente contratado por parte das empresas, pois a profissão cresce constantemente se diferenciando das demais, novas alternativas vão se criando e o profissional fica então mais conhecido no mercado de trabalho. O que muda é o meio de intervenção que vai se aprimorando de acordo com a necessidade de cada trabalhador ou empresa, tendo com base as estratégias de competitividade de uma política de parceria fundada entre empresa e trabalhador. 4.4 O PROCESSO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM EMPRESAS CAPITALISTAS Foi focado o estudo em tentar entender o porquê da intervenção, quais os métodos utilizados em seus principais casos, como o assistente social lida com os conflitos na empresa, qual realmente o seu papel, todos esses assuntos serão abordados. Sabe-se que um dos principais papéis do profissional de Serviço Social é lidar com a intervenção, ele auxilia o cidadão de forma que faz com que a própria pessoa consiga pensar em alguma forma de sair do problema, na empresa é um pouco diferente, o assistente social faz o papel de mediador, fazendo com que o empregado se sinta familiarizado, pensando que realmente a empresa se preocupa com o seu bem estar e de sua família, sem se dá conta no “jogo de interesse” que tem por traz dessa familiarização. O serviço social na empresa, tem o sentido de atualizar-se como objeto da profissão, tomando partido dos benefícios sociais proporcionados por quem requisita, na condição de atuar dentro das inclusões da sociedade, interpessoais, e grupais, articulando nova estrutura para promover a efetividade das ações assistenciais que dispõe a empresa, buscando promover a qualidade de vida no trabalho. O método mais utilizado dentro do ambiente empresarial para efetuar a intervenção é diálogo entre todos empregados, quando houver necessidade utilizam-se também palestras educativas em prol de causar uma sensibilização do trabalhador e uma aproximação dele consigo mesmo. 42 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Conforme mencionando por Vergara (2000, p. 49): “O estudo de caso “é o circunscrito a uma ou poucas unidades, entendidas essas uma pessoa, uma família, um produto, uma empresa, um órgão público ou mesmo um país”. A empresa pesquisada é de caráter privativo, situada no Município de São Mateus-ES, e foi fundada no Estado da Bahia no ano de 1964, tendo como seu único cliente e influente na conjuntura atual a empresa Petrobrás – Petróleo Brasileiro-S/A. Tem como atividades desenvolvidas os serviços de transportes rodoviários de petróleo e seus derivados e água oleosa, CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas, nº 49.30.2-03, grau de riscos “4”, atualmente encontra-se 236 funcionários entres eles sócios e fundadores que buscam sempre atender sua clientela com competência. Nesta empresa encontram-se suas necessidades sociais que são a saúde, dependência com álcool e outras drogas, educação, habitação, acessória, recreação, auxílio econômico, assistencial, previdenciário e outros. Sua situação social e política lhe deram origem de acordo com a necessidade de adequação ao mercado de trabalho. Hoje seu trabalho é focado no carregamento e descarregamento de petróleo, mas antes era apenas com transportes de cargas secas (guindastes). Onde o objetivo principal é realizar com qualidade sua atividade de transporte de petróleo e seus derivados, visando sempre atingir as expectativas dos seus clientes, e manter seu nome entre os melhores no mercado de trabalho, e ter a menor diminuição de acidente de trabalho. 5.1 ANÁLISE DOS DADOS 5.1.1 Entrevista com profissional de Serviço Social na empresa privada no ramo de transportes no Município de São Mateus-ES O assistente social entrevistado é do sexo feminino, formada na Universidade Federal do Espírito Santo. Essa entrevista foi por meio de questionário que teve como objetivo principal conhecer as atribuições do Assistente Social na empresa privada no ramo de transportes no Município de São Mateus – ES, como mediador entre empregado e empregador no período de Janeira a Julho de 2011. Ao iniciar o questionário começasse sobre as atribuições do assistente social na empresa privada. 1. Quais as atribuições apresentadas ao profissional de Serviço Social na empresa privada de Transporte no Município de São Mateus-ES? Resposta: Dentro de minhas atribuições estão: Visitas domiciliares, acompanhamento de área, Atendimento no ponto de apoio, palestra de motivação e informação (com foco na saúde do trabalhador e na qualidade de vida); Desenvolvimento de programas 43 sociais; Acompanhamento afastamento (INSS e acidente de trabalho); Acompanhamento hospitalar, Monitoramento do plano de saúde; levantamento de perfil sócio econômico; Treinamento e seleção; levantamento de recursos existentes; manter contato com a rede sócio assistencial do município (saúde, educação e assistência). Essas atribuições acima descritas pela assistente social são fundamentais para o acompanhamento dos colaboradores da empresa, pois o profissional de serviço social demonstra-se preocupado com diversos aspectos dos funcionários, atendendo no quer for preciso, informatizando-os, se preocupando com a família. Isso é fundamental, pois, esses colaboradores veem o assistente social como ponto de apoio e segurança. 2. Como se dá o papel de Assistente Social na empresa privada devido aos enfoques capitalistas, e suas maneiras de atuação? Resposta: A questão da lucratividade é vista em primeiro plano, a dificuldade está em convencer os dirigentes que o trabalhador é um sujeito de direitos. Uma outra dificuldade é reflexo dessa reestruturação produtiva que é a consequência da terceirização principalmente na vida do trabalhador em que os direitos a ele fornecidos são vistos enquanto benesse, não se levando em consideração a questão da mais valia. De acordo com a resposta acima, o assistente social tem de enfrentar uma citação muito difícil, pois, as empresas muita vezes não veem o trabalhador como sujeito de direitos e sim como um máquina que produz capitalismo, e por isso o profissional de serviço social atua para fazer mostrar aos empregadores os direitos dos empregados e sua importância além da produção capitalista. 3. Quais sãos os métodos utilizados pelo Assistente Social para diminuir os conflitos dentro da empresa privada? Resposta: Diálogos abertos entre envolvidos; tentar passar de forma mais amena algumas questões postas pelo empregador. 4. Como se caracteriza o trabalho de mediação entre o profissional de Serviço Social em relação ao empregado e empregador? Resposta: Uma relação conflituosa uma vez que os empregados querem que o AS “lute” por seus direitos (individuais e não coletivos) não importando a consequência para o outro. E o empregador acha que a AS enquanto profissional contratada está ali para “distencionar” a relação entre empregado e empregador, uma relação de domesticação. Pode-se afirma que profissional de serviço social também é chamado nas empresas para diminuir os conflitos causados entre os empregados e empregadores, pois os trabalhadores lutam pelos seus direitos; enquanto os empregadores, pelo seu capital. Afirma Seixas (2007, p. 56), O serviço social é uma profissão intrinsecamente determinada pelas condições sociais em que se realiza, atendendo contraditoriamente as 44 demandas da empresa e do trabalho; sua particularidade, nos setores geridos pelo capital, sempre constituiu na busca de respostas mediadoras para a situação de conflito. E o exercício profissional do Assistente Social é atuar nesta contradição capital /trabalho no modo de produção capitalista. E são nessas buscas de respostas que os assistentes sociais criam estratégicas para diluir esses problemas ditos “domésticos” entre essas duas classes. 5. Quais os projetos inseridos dentro da empresa pelo profissional de Serviço Social? Resposta: Programa de saúde e qualidade de vida do trabalhador no qual periodicamente algumas temáticas são trabalhadas; Visitas domiciliares (entrega de kit de nascimento) para filhos de funcionários recém nascidos; Prevenção ao alcoolismo e dependência química e de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. Segundo Seixas (2007, p. 58), Na empresa privada o (a) Assistente Social é selecionado para administrar benefícios, atuar em programas, com a finalidade de atender o trabalhador em suas necessidades, para que possa produzir mais e melhor, com mais eficiência e produtividade, dentro da ordem vigente do capita. O Serviço Social participa tanto do processo de produção e reprodução dos interesses de preservação do capital, quanto das respostas às necessidades de sobrevivência do trabalhador. Sendo assim, o assistente social vê essas novas estratégias como programas inseridos dentro da empresa, pois como o profissional tende a favorecer essas duas classes “empregadas e empregador” ele deve utilizar métodos estratégicos. 6. Quais as principais dificuldades enfrentadas nesse tipo de trabalho? Resposta: Correlação de forças e os conflitos interpessoais são hoje as maiores dificuldade enfrentadas. Isso porque a questão da competitividade é muito presente, os setores são poucos, mas consigo verificar nestes a busca por um objetivo comum (coletivo). 6 CONCLUSÃO O Serviço Social sempre foi chamado pelas empresas para eliminar focos de tensões sociais, criarem um comportamento produtivo da força de trabalho, contribuindo para reduzir o absenteísmo, viabilizar benefícios sociais, atuar em relações humanas na esfera do trabalho. O profissional de Assistente Social precisa conhecer a necessidade de compreender novas possibilidades e meios de atuar profissionalmente via qualificação profissional, onde seu objetivo principal é colocar em prática todas as técnicas de trabalho profissional na empresa exigindo o compromisso ético-político profissional e a habilidade técnico-operativa na utilização dos instrumentos da profissão, nos serviços na área de políticas sociais, programas e a realização de projetos sociais. 45 O objetivo da proposta de pesquisa foi respondido quando o Assistente Social utilizou de seu método de intervenção no processo de reprodução das relações sociais analisando e identificando os conflitos gerados dentro da empresa, conhecendo suas possibilidades mediante o trabalho coletivo. Assim como, as ações do Assistente Social na empresa, que é saber lidar com os meios de intervenção, dando auxílio ao cidadão de forma que ele se sinta capaz de resolver os problemas dentro ou fora do ambiente de trabalho, sendo o assistente social o mediador de tudo isso. Os principais desafios e dificuldades enfrentados são conflitos interpessoais por motivo da competitividade. Por isso, é exigido um profissional que analise criticamente a categoria trabalho com capacidade de criar perspectivas e estratégias de intervenção profissional, como o diálogo aberto entre todos os envolvidos com o propósito de amenizar questões entre trabalhador e funcionários, ou através de palestras motivacionais, gincanas. Portanto é necessário um assistente social comprometido com a classe trabalhadora, com a participação social e com os movimentos sociais coletivos, com capacidade de analisar os processos conhecendo os projetos inseridos dentro da empresa pelo profissional de Serviço Social, e que possua competência para definir estratégias de modo á intervir em ações de inovação. Dentre os projetos inseridos dentro da empresa estão a saúde e qualidade de vida melhor para o trabalhador, visitas a domicílios, entrega de kits para recém-nascidos e prevenção ao alcoolismo, drogas e doenças. 7 REFERÊNCIAS 1. ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 2. ALMEIDA, Ney Luiz T. de. Considerações para o exame do processo de trabalho do Serviço Social. Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n.52, dez 1996. 3. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 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A construção do projeto ético-político do serviço social – CFESS, ABEPSS, CEAD-UNB. Capacitação em Serviço Social e Política Social – Reprodução Social, trabalho e serviço social (02). Brasília: UNB, 1999. 24. NETTO, José Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia política uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2007. 25. NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2009. 26. PEREIRA, Isadora de Souza Modesto. O Serviço Social e sua produção teórica: os reflexos de diferentes perspectivas na revista Serviço Social e Sociedade. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: < http://web.intranet.ess.ufrj.br/monografias/103128921.pdf>. Acesso em: 13 set. 2011. 27. SÁ, Jeanete Liasch Martins de. Conhecimento e currículo em serviço social: análise das contradições. São Paulo: Cortez, 1995. 28. SEIXAS, Selma Sergio Andrade. As Expressões do Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social e as Particularidades do Trabalho em Empresas Privadas. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Pernambuco. Serviço Social, 2007. 29. Serviço Social em Revista / publicação do Departamento de Serviço Social, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual de Londrina. – Vol. 4 n. 1 (Jul/Dez. 2001) – Londrina : Ed. UEL, 2003. 30. SIMÕES, Pedro. Assistentes sociais e religião: um estudo Brasil/Inglaterra. São Paulo: Cortez, 2005. 31. SANT’ANA, Raquel Santos. O desafio da implantação do projeto ético-político do serviço social. Revista serviço social e sociedade, São Paulo, n. 62, p. 73-92, mar. 2000. 32. VERGARA, Sylva Constant. Projetos e relatórios de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2000. 48 A ATUAÇÃO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT E A PARTICIPAÇÃO NO CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE DST’S/AIDS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Carla Gomes Neiva9 Ralf Barros dos Santos10 RESUMO Juntamente com o crescimento do movimento de reforma sanitária e redemocratização do país, surge a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a AIDS, em 1983. E neste momento da história, os homossexuais foram os mais atingidos pela epidemia, somando o estigma e o preconceito que vem marcando negativamente este segmento da sociedade. Contudo, os homossexuais protagonizaram respostas em relação ao enfrentamento da epidemia da AIDS, propondo políticas públicas estratégicas para o controle da doença. Nesta mesma década, surgem legislações específicas legitimando o Sistema Único de Saúde (SUS) e criando mecanismos de controle social objetivando o acompanhamento pela sociedade civil das políticas públicas, também, no campo da saúde. A abertura democrática do país ampliou horizontes de participação popular nas proposições de políticas sociais e, a partir disso, muitas formas de participação da sociedade civil se configuram, sendo os FÓRUNS, uma delas. Diante do exposto, o referente trabalho tem como objetivo abordar a importância do controle social da política de saúde, especificamente o Programa de DST/AIDS, bem como a análise da importância da participação do Fórum Estadual LGBT (lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) no controle social desta política, considerando o seu histórico de protagonismo em relação às políticas públicas em DST’s/AIDS, e também, para LGBT’s. Através do emprego da pesquisa bibliográfica, este trabalho buscou as informações pertinentes ao tema. Além disso, a pesquisa de campo, a pesquisa descritiva e a pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, buscou através de questionários respondidos pelos membros do colegiado do FÓRUM ESTADUAL (ES) LGBT, analisar a atuação deste, bem como suas formas de participação e proposições na política de DST’s/AIDS do estado do Espírito Santo. Concluiu-se nesse estudo a importância desta instância de participação popular, principalmente deste grupo em relação ao rompimento das formas de discriminação e preconceito, e o quanto que podem protagonizar importantes mudanças na condução das políticas de DST’s/AIDS e LGBT no Estado do Espírito Santo. Palavras-Chave: Homossexuais. Sociedade Civil. Política de Saúde. Movimento Social. 9 Graduada em Serviço Social, Especialista em Administração e Planejamento de Projetos Sociais e em Atenção Primária à Saúde. Professora da Faculdade Norte Capixaba de São Mateus. 10 Graduado em Serviço Social pela Faculdade Norte Capixaba de São Mateus 49 ABSTRACT Along with the growth of the movement for sanitary reform and democratization of the country, there is the Acquired Immune Deficiency Syndrome, AIDS in 1983. And at this moment of history, homosexuals have been the hardest hit by the epidemic, adding stigma and prejudice that has marked this segment of society negatively. However, homosexuals staged responses to the face of the AIDS epidemic, proposing public policy strategies to control the disease. In that same decade, there specific legislation legitimizing the Health System and creating mechanisms of social control aiming monitoring by civil society public policy, too, in the health field. The country's democratic opening horizons broadened popular participation in social policy propositions and, from that, many forms of civil society participation are configured, and the FORUMS, some of them. Given the above, the referent paper addresses the importance of social control of health policy, specifically the Program of STD / AIDS, as well as the analysis of the importance of the participation of the State Forum on LGBT social control of this policy, considering its historical role in relation to public policies on STDs / AIDS, and also to LGBT's. Through literature, this study sought information relevant to the theme. In addition, fieldwork descriptive, exploratory qualitative approach sought through questionnaires answered by members of the collegiate FORUM STATE (ES) LGBT analyze the performance of this as well as their forms of participation and propositions in politics STD / AIDS in the state of Espírito Santo. We observed the importance of this instance of popular participation, especially this group in relation to the disruption of the forms of discrimination and prejudice, and how they can star in important changes in the conduct of policies STD / AIDS and LGBT in the state of Espirito Santo. Keywords: Homosexuals, Civil Society, Health Policy, Social Movement. 1 INTRODUÇÃO Na década de 80 chega ao Brasil à epidemia de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), crescendo assustadoramente o número de pessoas sendo contaminadas. É a partir do surgimento da AIDS que o segmento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) foi se tornando cada vez mais discriminado, uma vez que no início da epidemia no Brasil, este segmento manteve o nível elevado de infecções pelo vírus HIV. Conforme Rossi (2002, p. 24), “é o estigma que marca os homossexuais de forma negativa, sendo eles vistos como ‘marginais’ – pervertidos, criminosos e pecadores – pela sociedade em geral”. Com a promulgação da Constituição de 1988 e a criação do Sistema Único de Saúde em 1990, foi possível afirmar o acesso à saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas, que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua proteção, promoção e recuperação (BRASIL, 2008). Esses movimentos também abriram caminhos para a participação da sociedade na construção das políticas sociais, incluindo a política de saúde, que fortalece os espaços 50 de participação com a regulamentação dos Conselhos. Na concepção de ampliação da democracia representativa, novos espaços vêm se constituindo, além dos conselhos, como os fóruns, orçamentos participativos, ONGs, e outros que se constituem como espaços de participação da sociedade civil nas proposições de efetivação das políticas públicas sociais. Nessa perceptiva, os grupos de luta contra a AIDS possuem uma trajetória diferente de outras entidades que atuam na área de saúde. Grupos que atuam na área de saúde, normalmente, são marcados pelas desigualdades sociais e reivindicam condições materiais concretas que interferem no fator saúde. Já os grupos de luta contra a AIDS são fortemente influenciados pelas experiências individuais com a soropositividade e por isso reclamam, para além de condições materiais, por transformações subjetivas, tanto individuais como coletivas (MIRANDA, 2007). Desta forma, a presente pesquisa se propõe a conhecer a atuação do Fórum Estadual de DST AIDS como espaço de construção coletiva da política Estadual de DST/AIDS. Torna-se importante saber como o Fórum atua considerando-o como espaço de participação da sociedade civil qual a sua contribuição no controle social da política de saúde, mais especificamente, a política estadual de DST/AIDS. O estudo procurou evidenciar que a articulação dos movimentos sociais, especificamente o LGBT, constitui-se importante para a efetivação da participação e representatividade deste segmento social no processo de garantia de direitos. Também para mostrar que a estratégia do Fórum se confirma como eficaz neste processo. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 LGBT – CAMINHOS DE PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA Vários grupos sociais emergiram na década de 70, tantos rurais, como urbanos, a fim de buscar novos rumos políticos para o Brasil que vivenciava o período da repressão da ditadura militar. Os chamados novos movimentos sociais se articulavam e se ampliavam para lutar por uma “nova cidadania” e contra o contexto de iniquidades e exclusão social. O surgimento do movimento homossexual no país ocorreu nesse contexto favorável de mobilização da sociedade. Caracterizado como importante ator social na luta contra a AIDS e pioneiro na reivindicação de respostas governamentais voltadas ao enfrentamento da epidemia, tal movimento teve forte expressão na década de 80 (PEREIRA; NICHIATA, 2011, p. 3250). Historicamente, a AIDS esteve vinculada à homossexualidade, sendo em seu início chamada de “peste gay” ou “câncer gay”, o que reforçou ao preconceito e a discriminação. Conforme Pereira e Nichiata: No Brasil, na cidade de São Paulo, as condições políticas favoráveis e a efervescência da mobilização social, no fim da década de 1970 e no início da década de 80, foram decisivas para a formação do movimento homossexual 51 com forte influência norte-americana. O contexto político, no período de surgimento da AIDS no Brasil, era de abertura política conquistada após 21 anos de regime ditatorial. Houve, nesse período, uma grande interação entre os diversos movimentos sociais, e o movimento homossexual manteve relação direta com as causas feministas e dos negros (PEREIRA; NICHIATA, 2011, p. 3251). O primeiro grupo organizado a partir do movimento homossexual denominava-se SOMOS - Grupo de Afirmação Sexual – em São Paulo, e tinha como um de seus objetivos protestar contra o terror e o estigma difundidos pelas forças reacionárias na relação da AIDS com a homossexualidade. Nos anos de 1985 a 1989, diversas iniciativas da sociedade civil foram voltadas exclusivamente às questões da AIDS, período de franca expansão das ONGs (PEREIRA; NICHIATTA, 2011). Sobre a criação de uma Política específica para o enfretamento das DST/AIDS, explica Fonseca: No caso brasileiro, em 1986, foi criado o "Programa Nacional de DST e AIDS" (hoje denominado Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais), vinculado ao Ministério da Saúde. Contando com parcerias diversas com ONGs AIDS e LGBT, o governo federal começou a apoiar a realização de campanhas para prevenção do HIV/AIDS focadas na ideia de "sexo seguro" e dirigidas para segmentos sociais diversos, além de viabilizar uma política de acesso gratuito a medicamentos, insumos e tratamentos, integrante do SUS, o que inclui ainda ações governamentais destinadas à quebra de patentes de antirretrovirais (Mello &Perilo, 2008). Tais iniciativas asseguraram ao Brasil reconhecimento internacional no que diz respeito à prevenção do hiv e tratamento das pessoas com AIDS, além de significativa redução dos custos com internações e mortalidade de infectadas (FONSECA, 2005 apud MELLO et al, 2011, p.18). Mello et al (2011) diz que muitas organizações receberam recursos públicos, especialmente por meio de editais do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde, para a realização de atividades de prevenção do HIV/AIDS junto à população LGBT, o que viabilizou a criação e o funcionamento de dezenas de grupos no país, que passaram a contar com sedes alugadas, aquisição de equipamentos, além de remuneração e profissionalização de parte de suas lideranças. Estes recursos também foram responsáveis por boa parte do financiamento das atividades que proporcionaram grande visibilidade social às demandas do movimento LGBT no Brasil, especialmente por meio da organização de paradas do orgulho e de eventos de educação/conscientização voltados ao combate à homofobia em todas as esferas da vida social e, especialmente, no âmbito dos serviços de saúde, educação e segurança. Em relação às políticas públicas e políticas de saúde, Mello et al (2011, p.14) explica que: Tendo como ponto de partida esse entendimento preliminar de políticas públicas e políticas de saúde, o ano de 2004 pode ser considerado um marco no que diz respeito a iniciativas governamentais voltadas à promoção da cidadania da população LGBT e ao combate à homofobia, haja vista o lançamento pelo governo federal do "Programa Brasil sem Homofobia Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual" (BSH). 52 Pode-se ver que o ano de 2004 foi o momento da história que movimento LGBT obteve políticas de enfretamento a violência e a discriminação deste segmento de sociedade. Segundo Mello et al (2011), das três ações relativas à saúde, a principal delas talvez seja a formalização do Comitê Técnico Saúde da População de Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais, do Ministério da Saúde, com o objetivo de estruturar uma Política Nacional de Saúde para essa população. As outras duas reportam-se à produção de conhecimentos sobre saúde da população LGBT e à capacitação de profissionais de saúde para o atendimento a essa população. Tendo em vista também o enfretamento ao preconceito em relação à orientação sexual. Não somente políticas de enfrentamento da homofobia, mais também houve avanços nas políticas públicas de saúde voltada a população LGBT. Podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento de AIDS e DST entre Gays. Percebemos um avanço em relação às políticas de saúde voltadas para o segmento LGBT, pois esta população na década de 80 foi a mais atingida pela epidemia de AIDS. Sobre o Movimento LGBT, Martins et al (2012, p.32) define com clareza: é o esforço ao longo da história para obter compreensão e tratamento igual para LGBT. A expressão é usada frequentemente para designar as lutas contra a discriminação, pelos direitos legais. Integram esse movimento as organizações que levam a cabo essas lutas e que defendem, explicitamente, os direitos humanos de homossexuais em todo o mundo. Mas todas as conquistas relacionadas ao segmento LGBT, não foram fáceis. Pois foi um processo longo e que perdura até os dias atuais. Sendo que existem ainda muitas demandas a serem implantadas políticas públicas. Martins et al (2012, p. 28-29) descreve a vulnerabilidade que o segmento LGBT tem em relação às DST’s /AIDS: De acordo com a Organização Mundial da Saúde, vulnerabilidade é a maior possibilidade de exposição ou infecção pelo HIV e de sofrer consequências desnecessárias pela doença. A realidade do risco de infecção por via bi/homossexual é 11 vezes maior do que entre a categoria heterossexual e até junho de 2008, um total cumulativo de 93.744 casos de AIDS foi notificado no Brasil na categoria bi e homossexual, representando 18,5% do total de casos, segundo dados do Departamento DST e AIDS do Ministério da Saúde. Por isso, as políticas de prevenção como o uso e preservativo masculino, gel Lubrificante, apoio a eventos de cidadania LGBT, ajudam na promoção da saúde da comunidade LGBT que é vulnerável a AIDS e reduz, em muito, custos com remédios e internações hospitalares. Vemos então, um investimento do Ministério da Saúde em relação à distribuição de preservativos e gel lubrificantes para o segmento LGBT. Também o apoio aos manifestos LGBT que tem como objetivo criar visibilidade e reivindicar políticas públicas. 53 Ao longo do tempo, as lutas e as manifestações organizadas pelo Movimento LGBT em todos os estados brasileiros sensibilizaram comunicadores e agregaram aliados. Mas ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelo movimento e pela imprensa para garantir uma transmissão de informações com maior qualidade e comprometimento com as causas sociais (MARTINS et al, 2012). Os Fóruns são espaços de debate e articulação da sociedade civil, conforme Faria (2006, p. 381): Acredita-se que o processo de decisão de um governo deve ocorrer mediante a participação e a deliberação de indivíduos racionais em fóruns amplos de debate e negociação. Essa deliberação não deve resultar de um processo agregativo das preferências fixas e individuais, mas sim de um processo de comunicação, em espaços públicos, que antecede e auxilia a própria formação da vontade (preferências) dos cidadãos. Montaño e Duriguetto (2011, p. 339) definem claramente sobre os Novos Movimentos Sociais: “para os chamados NMS os objetivos de lutas já não estão diretamente vinculados à questão da exploração, mas ao acesso ao consumo de bens e serviços (objetivo reformista-mercantil: reivindicação por serviços sociais e infraestrutura etc.), à defesa de direitos humanos, políticos e sociais (objeto político), podendo sim alguns orientar também para a transformação da ordem (objetivo revolucionário). Percebemos que os novos movimentos sociais não carregam um viés revolucionário, mais sim lutam pela permanência das políticas públicas vigentes, ou pela ampliação dos direitos já existentes que possam atender a todos os segmentos da sociedade. 3 METODOLOGIA A pesquisa, em questão, teve como objetivo geral estudar a atuação do Fórum Estadual LGBT e a participação do Movimento LGBT, mais especificamente o Fórum Estadual LGBT, no controle social da política de DST’s/AIDS no Estado do Espírito Santo e consequentemente como objetivos específicos Identificar a relação entre o movimento LGBT e a sociedade civil no controle da epidemia de AIDS no Estado do Espírito Santo; Descrever as ações do Fórum Estadual LGBT e sua contribuição para o controle social da política de AIDS no Estado do Espírito Santo; Reconhecer o Movimento LGBT dentro do contexto dos novos movimentos sociais. Elegemos como técnica para a coleta de dados a pesquisa bibliográfica e documental, e a pesquisa de campo. Considera-se que com estas técnicas o objetivo geral e os objetivos específicos poderão ser atingidos de forma clara, tendo em vista que o tema é bastante complexo. E como fonte de coleta de dados, foram utilizadas neste estudo, como fontes secundárias, as bibliografias e documentos relacionados aos temas LGBT, HIV/AIDS, Políticas de Saúde, Controle Social, entre outros, que já foram publicados. E como fonte primária, os questionários (instrumento de coleta de dados) aplicados para 54 os membros do colegiado do Fórum Estadual LGBT que estiveram presente em no mínino 50% das reuniões ordinárias realizada uma vez a cada mês, no 1º semestre de 2012, bem como documentos do FÓRUM que são de acervo próprio e não foram publicados. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS / ESTUDO DE CASO 4.1 OBJETO DE ESTUDO DA PESQUISA – FÓRUM ESTADUAL LGBT O Fórum Estadual em Defesa dos Direitos de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) foi fundado 2005 no município de Vitória no Estado do Espírito Santo, começando suas ações à nível municipal. Depois se tornando uma articulação estadual de entidades governamentais, não governamentais e da sociedade civil de luta pelos direitos dos LGBT, com o objetivo principal de valorização da diversidade sexual. As reuniões acontecem sempre na primeira segunda-feira de cada mês, às 13 horas, sem local fixo, podendo ser presidida em qualquer cidade do Estado do Espírito Santo. Em média participam 15 membros por reunião. As pessoas que querem ser membros do Fórum e participar das reuniões devem ter entendimento sobre a temática direitos humanos e cidadania, e as entidades devem ter atividades desenvolvidas na área de direitos humanos e cidadania LGBT. As solicitações de novos membros são avaliadas e aprovadas pelo colegiado do Fórum LGBT. Com a redemocratização na década de 80, houve uma aproximação da sociedade civil na administração dos recursos públicos. E o Fórum se tornou um espaço de debate da sociedade com o objetivo de melhorar a articulação política perante o governo, e garantindo assim a implementação de políticas públicas para o seguimento LGBT. O questionário foi enviado via correio eletrônico no mês de setembro de 2012 para o colegiado do Fórum Estadual LGBT. Foram respondidos 04 (quatro) questionários, sendo que o colegiado e composto por 6 (seis) pessoas. Entrevistando assim 67% (sessenta e sete por cento) do colegiado do Fórum Estadual LGBT. Por motivos de candidaturas no período eleitoral não foi possível o preenchimento de 2 (dois) questionários. 4.2 QUANTO À IDADE DOS MEMBROS DO COLEGIADO TABELA 1 – FAIXA ETÁRIA DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT Descrição Faixa etária de 0 a 20 anos Faixa etária de 21 a 40 anos Faixa etária de 41 a 60 anos Faixa etária de 61 a 80 anos Total Frequência Absoluta 0 4 0 0 4 Frequência Relativa (%) 0% 100% 0% 0% 100% 55 De acordo com os dados apresentados na tabela 1, 100% dos participantes do colegiado do Fórum Estadual LGBT possuem entre 21 a 40 anos. Notamos, portanto, que todos os participantes têm a faixa etária de 21 a 40 anos de idade totalizando em 100% dos participantes. Fica claro que o colegiado do fórum e composto por adultos que a acompanharam o período a redemocratização no Brasil na década de 80 e o surgimento da epidemia da AIDS. 4.3 QUANTO À ORIENTAÇÃO SEXUAL DO COLEGIADO DO FÓRUM TABELA 2 – ORIENTAÇÃO SEXUAL DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT Descrição Heterossexual11 Bissexual12 Homossexual13 Transexual14 Total Frequência Absoluta 0 0 3 1 4 Frequência Relativa (%) 0% 0% 75% 25% 100% De acordo com os dados apresentados na tabela 2, 75% dos participantes do colegiado do Fórum Estadual LGBT tem a orientação sexual homossexual, 25 % tem a orientação sexual transexual. Fica evidente que a maioria do colegiado é composto por homossexuais, tendo a ausência de heterossexuais e bissexuais. O fato da maioria do colegiado do Fórum Estadual LGBT ser homossexual significa um processo mais participativo e efetivo deste público, até mesmo para a conjuntura que ser formou o movimento LGBT. 4.4 EM RELAÇÃO À IDENTIDADE DE GÊNERO DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT TABELA 3 – IDENTIDADE DE GÊNERO DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT Descrição Masculino Feminino Total Frequência Absoluta 2 2 4 Frequência Relativa (%) 50% 50% 100% De acordo com os dados apresentados na tabela 3, 50% dos participantes do colegiado do Fórum Estadual LGBT se identificam com a identidade de gênero masculino, os outros 50% se identificam com a identidade de gênero15 feminina. 11 Pessoa que sente atração por pessoas do sexo oposto. Pessoa que sente atração pelos dois sexos. 13 Pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo. 14 Transexual é um indivíduo que sente-se mal com o sexo biológico, o sexo que nasceu. 12 56 Desta forma, nota-se a igualdade da identidade de gênero masculino e feminina no colegiado do Fórum Estadual LGBT. 4.5 MUNICÍPIOS DE ORIGEM DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT TABELA 4 – MUNICÍPIO ONDE RESIDE O COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT Descrição Vitória Serra Outros Total Frequência Absoluta 2 2 0 4 Frequência Relativa (%) 50% 50% 0% 100% De acordo com os dados apresentados no gráfico 4 e tabela 4, 50% dos participantes do colegiado do Fórum Estadual LGBT reside no município de Vitória, e os outros 50% residem no município da Serra. Observou-se que ambos os municípios concentram-se na região metropolitana, não havendo nenhum membro do colegiado que resida no interior do Estado do Espírito Santo. 4.6 EM RELAÇÃO À ESCOLARIDADE DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT TABELA 5 – FAIXA ETÁRIA DO COLEGIADO DO FÓRUM ESTADUAL LGBT Descrição Ensino Médio Ensino Superior Mestrado Doutorado Total Frequência Absoluta 1 2 1 0 4 Frequência Relativa (%) 25% 50% 25% 0% 100% De acordo com os dados apresentados na tabela 5, 25% dos participantes do colegiado do Fórum Estadual LGBT tem o ensino médio completo, 50% tem o ensino superior completo, 25% possui mestrado. Em relação à escolaridade, detectamos que o colegiado do Fórum Estadual LGBT tem o nível avançado de escolaridade. 15 identidade de gênero se refere ao gênero em que a pessoa se identifica (i.e, se ela se identifica como sendo um homem, uma mulher ou se ela vê a si como fora do convencional), mas pode também ser usado para referir-se ao gênero que certa pessoa atribui ao indivíduo tendo como base o que tal pessoa reconhece como indicações de papel social de gênero (roupas, corte de cabelo, etc.) 57 4.7 QUANTO AO TEMPO DE EXISTÊNCIA DO FÓRUM, E SUA PARTICIPAÇÃO Somente 1 (um) participante não soube responder sobre o ano da formação do Fórum (“Não sei dizer há quanto existe o fórum”, participante D), os demais souberam exatamente o ano de criação, (“O Fórum Estadual LGBT existe há aproximadamente 6 anos” - participante B; “[...] desde o gérmen de sua formação. [...] Isso data o ano de 2005 – participante A; “mais o fórum surgiu em 2006” – participante C). Já em relação ao tempo de participação, somente 1 (um) dos participantes está no Fórum desde a sua criação, os demais estão entre 2 a 4 anos participando. Nota-se que o colegiado Fórum é formado por participantes que na sua maioria não acompanharam a sua criação, mas que sensibilizados e preocupados com o segmento LGBT, que tanto ainda sofre estigma e preconceito, estão presentes nesta instância tão importante para discussão de políticas públicas para este segmento. 4.8 SOBRE A IMPORTÂNCIA DO FÓRUM NO CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE AIDS NO ESTADO DO ES Somente 1 (um) dos participantes disse que não é atribuição do Fórum efetuar o controle social da política de AIDS no Estado (“Não sei se é atribuição do fórum assumir o controle social de políticas públicas no ES... Vejo mais como um espaço de articulação e debates de pessoas e entidades que, de alguma maneira, querem construir o avanço na promoção de direitos de LGBT. Acho que controle social é papel de conselho formalmente constituído por decreto. O fórum pode participar e contribuir com o controle social, mas não vejo como uma das suas atribuições.” –participante D), sendo de competência dos conselhos. Conforme Correia: Foi institucionalizada na Lei 8.142/90, através das Conferências que têm como objetivo avaliar e propor diretrizes para a política de saúde nas três esferas de governo, e através dos Conselhos, que são instâncias colegiadas de caráter permanente e deliberativo, com composição paritária entre os representantes dos segmentos dos usuários, que congregam setores organizados na sociedade civil, e os demais segmentos (gestores públicos e privados e trabalhadores da saúde), e que objetivam tal controle (CORREIA, 2009, p.15). Os demais participantes disseram que e de extrema importância à participação do Fórum no controle social da política de AIDS no Estado do Espírito Santo (“[...]é muito importante, porque atua diretamente com as políticas de prevenção às DST/AIDS.[...] Importante também é que o fórum está sempre por dentro das discussões sobre a PAM {Programação Anual de Metas}, recurso destinado ao controle das DST/AIDS.” – participante A; “O Fórum é um espaço importante e poderia colaborar significativamente. Temos tido ações pontuais. Na minha avaliação a atuação junto a DST/Aids está bastante prejudicada.” – participante B; “[...]Nossa população LGBT ainda sofre com muita baixa estima isto prejudica em todos os sentidos [...] temos ainda muita coisa para fazer prevenir nossa população do risco de contrair DST e aids elevar a alta estima e o tratamento de quem já vive com DST e AIDS.” – participante 58 C), criando ações pontuais de enfretamento as DST/AIDS, e de orientação ao uso de insumos de prevenção. Conforme Sposati e Lobo (1992, p 373): O que se quer salientar é a compreensão da presença popular na política de saúde, na condição de uma exercício de democracia direta. O controle social é, a princípio, uma forma de interlocução regulada e institucionalizada que já tem um considerável grau de aceitação de legitimidade. Observou-se que existe uma preocupação do colegiado do Fórum Estadual LGBT em relação à Política de AIDS no Estado do Espírito Santo, tendo em vista que é um seguimento de sociedade que até os dias atuais carregam o estigma de que a AIDS e a “peste gay”. 4.9 SOBRE O QUE CONSIDERAM COMO CONTROLE SOCIAL Quando perguntado o que você considera como controle social, todos os participantes responderam de maneira clara e coerente sobre a temática (“[...] Trata-se de toda a ação de controle em que os organismos da sociedade civil exercem sobre as ações do poder público. [..] O controle social poderá ser exercido por solicitações das entidades, por auditorias formalizadas por elas ou até mesmo, quando se tratar de casos mais extremos, com ações movidas junto ao Ministério Público, visando o atendimento de todas as ações propostas.” – participante A; “[...] O acompanhamento e a fiscalização da elaboração e execução do orçamento público.” – participante B; “[...] controle social e um conjunto de trabalhos do poder publico e da sociedade civil, trabalhando para diminuição de algo que esta afetando negativamente a sociedade em geral.” – participante C; “Participação, debates, fiscalização, acompanhamento, proposição e contribuição nas políticas públicas constituídas ou em vias de se constituir.” – participante D). Sendo um mecanismo de implantação e implementação de políticas públicas e de controle e fiscalização de gastos públicos, resumindo, sendo um espaço deliberativo. Conforme Correia: Nesta concepção, conclui-se que o controle social poderá acontecer via políticas públicas. Desta forma, o controle social na perspectiva das classes subalternas visa a atuação de setores organizados na sociedade civil que as representam, na gestão das políticas públicas no sentido de controlá-las para que atendam, cada vez mais, às demandas e aos interesses dessas classes. Neste sentido, o controle social envolve a capacidade que as classes subalternas, em luta na sociedade civil, têm para interferir na gestão pública, orientando as ações do Estado e os gastos estatais na direção dos interesses destas classes, tendo em vista a construção de sua hegemonia (CORREIA, 2009, p.06). Nota-se que todos os membros do colegiado do Fórum Estadual LGBT sabem do que se trata o controle social, e de que maneira funciona e de que modo a sociedade pode se organizar perante este mecanismo de suma importância. Há nos relatos a concepção de que o controle social não é somente exercido pelo órgão legitimado que são os Conselhos. Entende-se que mesmo que não seja função do Fórum 59 o exercício mais direto do controle social, eles o exercem a partir do momento que se reúnem, discutem, debatem, apresentam proposições como uma forma de interferência na gestão pública. 4.10 DESAFIOS QUE O CONTROLE SOCIAL ENFRENTA NA ATUALIDADE EM RELAÇÃO À IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Todos os participantes concordam que faltam cidadãos que realmente participam das instâncias de controle social, e que estejam capacitados para ocupar estes espaços (“[...] a busca constante do conhecimento sobre os instrumentos disponíveis para o efetivo controle social. Outro desafio é a ausência de pessoas para fazer esse controle mais preciso. Algumas entidades e organismos possuem pessoas que estão muito envolvidas com diversas atividades dentro e fora delas e por isso apresentam dificuldade em poder se dedicar ao controle social” – participante A; “[...] é a dificuldade com a organização e associação de pessoas. Faltam pessoas preparadas e com competência para o entendimento da gestão pública.” – participante B; “[...] Forma novas lideranças” – participante C; “Organização do debate e implementação das atribuições.” – participante D. Ressalta Bravo e Correria acercar da importância da sociedade civil e o controle social: Há a necessidade de qualificar a expressão controle social a partir da compreensão da relação entre Estado e sociedade civil. A concepção de Estado e sociedade civil está pautada em Gramsci para qualificar a referida expressão com vistas a potencializar as lutas sociais no campo da saúde, principalmente diante da predominância da concepção liberal posta no debate atual acerca da sociedade civil (BRAVO; CORREIA, 2009, p.135). Percebe-se que existe uma preocupação do colegiado do Fórum em relação à participação da sociedade civil nas instâncias de controle social, e também da necessidade de trazer mais membros. Sendo que as pessoas que já estão ocupando estes espaços estão envolvidas em diversas atividades, havendo a sobrecarga de trabalho. 4.11 SOBRE O ENGAJAMENTO EM UM MOVIMENTO SOCIAL Quando perguntando aos participantes se considera engajado em um movimento social, 3 (três) participantes disseram que sim, consideram-se movimento social (“Sim, porque o fórum estadual é um importante espaço de debate onde os temas relacionados aos direitos de LGBT são largamente discutidos. Trata-se de um movimento social que congrega ONG's e OG's dispostos a dar efetividade na luta pela conquista desses direitos.” – participante A; “Sim, me considero engajado no movimento social de defesa de direitos humanos e no movimento social LGBT. A justificativa é que dedico parte de meu tempo para participar e organizar reuniões e atividades relacionadas a esses movimentos. Atualmente, sou um dos coordenadores do Fórum Estadual LGBT (no momento, licenciado). Também integro o Centro de Direitos Humanos da Serra. Participo de reuniões, fóruns, seminários, conferências, manifestos e eventos correlatos” – participante B; “Sim me considero engajada no movimento LGBT, pois 60 participo de todas as discussões que envolve esta minha população. E represento ela sempre que sou chamada” – participante C). Conforme Montaño e Duriguetto (2011, p. 331): O desempenho dos movimentos é destacado e valorizado no plano da afirmação e constituição de suas identidades, da livre organização, das práticas democráticas e participativas de base, enfatizando a comunidade, a amizade, a solidariedade e o direito à diversidade e respeito à individualidade. Somente um dos participantes disse que não se vê enquanto movimento social, (“Mais ou menos. Não me percebo como militante e não me conforta essa posição. Também não faz parte dos meus planos me tornar uma ‘militante LGBT’. Participo do fórum pela comunhão de princípios éticos compartilhados entre mim e o fórum e pelo reconhecimento do estreitamento do diálogo da Psicologia com as questões LGBT” – participante D). Constatou-se que a maioria dos participantes a partir do momento que luta por direitos sociais e direitos humanos considera-se movimento social. Segundo Gonh (2008, p.49) “O reconhecimento seria uma luta por ampliação de direitos”. 4.12 MEMBROS DO FÓRUM ESTADUAL LGBT Foi perguntado aos participantes como se constitui o Fórum Estadual LGBT, 2 (dois) responderam como e composto o Fórum de maneira geral, relatando qual o perfil de pessoas que participam das reuniões, (“Principalmente de Organizações Não Governamentais e Organizações Governamentais. Além das ONG's registradas, existem grupos que participam que ainda não são ou talvez nem terão registros públicos. Existem ainda instituições de ensino, sindicatos, entidades de classe e órgãos estaduais e de diversos municípios. Embora não de maneira explícita e demarcada, temos também a presença de partidos políticos, onde membros filiados sempre trazem questão relacionadas aos debates internos desses partidos.Além de tudo isso, existem ainda pessoas que participam das reuniões e atividades do fórum e que são desvinculadas de organizações, sendo participantes independentes.” – participante A; “O Fórum Estadual LGBT é hoje constituído por pessoas e representantes de organizações, governamentais e não governamentais” – participante B. Os demais participantes responderam como e composto o colegiado do Fórum Estadual LGBT, (“O fórum estadual tem seis coordenadores três femininos e três masculinos.” – participante C; “Coordenação colegiada eleita por dois anos. Cada coordenador possui uma função de referência” – participante D). Observou-se que todo o colegiado do Fórum Estadual LGBT tem ciência de como e composto o Fórum, em consonância com os princípios norteadores do Fórum Estadual LGBT. 61 4.13 PARTICIPAÇÃO E REPRESENTATIVIDADE NO CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE (COMO SE DÁ ESSA REPRESENTATIVIDADE E ESSA REPRESENTATIVIDADE É RECONHECIDA EFETIVAMENTE) Dos participantes, 3 (três) disseram que não existe representatividade do Fórum Estadual LGBT no Conselho Estadual de Saúde, (“Não existem representantes do fórum estadual no Conselho Estadual de Saúde. Provavelmente, alguns dos militantes participem, mas representam outras entidades, [...] Mesmo assim, quando essas pessoas estão lá, elas defendem das questões LGBT” – participante A; “Não. Atualmente não temos representação deste fórum junto ao Conselho de Saúde. O que temos é assento na Câmara Técnica DST/AIDS. Mas não temos ocupado esse espaço com regularidade.” – participante B; “Não tenho conhecimento de que temos vagas no conselho de saúde” – participante C). Somente 1 (um) dos participantes não sabe se existe alguma representatividade do Fórum no Conselho Estadual de Saúde, (“Acho que não. Mas não estou segura da minha resposta. É possível que algum membro do fórum esteja no conselho estadual de saúde.” – participante D). Ficou evidente que nenhum dos membros do colegiado do Fórum Estadual LGBT tem representatividade no Conselho Estadual de Saúde. Sendo que é de grande importância a participação deste segmento de sociedade no conselho, pois existem ações em saúde especificas para este público que devem ser debatidas e executadas. 4.14 DESAFIOS ENFRENTADOS ATUALMENTE PELO FÓRUM LGBT Houve variadas respostas quando perguntando os desafios enfrentados atualmente pelo Fórum Estadual LGBT, (“A meu ver, a despolitização de alguns de seus membros” – participante A; “O maior desafio é a união de esforços. Ainda que seja um Fórum pequeno e com poucas pessoas, o Fórum constitui-se como espaço de poder que gera disputas entre grupos. Outro desafio é ampliar a participação da sociedade civil. O Fórum Estadual tem encontrado dificuldades em fomentar a organização de novos grupos e organizações não governamentais. Também coloca-se como desafio a articulação junto aos organismos governamentais” – participante B; “Acredito que conscientizar os grupos , ONGs LGBT do estado que temos que trabalhar em conjunto dentro do fórum para fazer ações, separadas elas funcionam e não conseguimos desta forma conscientizar nossa população sobre as dificuldades e pré conceitos na nossa sociedade” ; “Os mesmos que enfrentam todos as entidades e organizações em prol dos direitos de LGBT hoje no país” – participante D. Constatou-se que faltam pessoas que realmente estejam participando e que estejam engajadas no Fórum Estadual LGBT. Conforme relata Bravo e Correia (2012, p 147): A efetivação do controle social das classes subalternas está para além da atuação dos segmentos sociais no espaço institucional dos conselhos, requer a articulação das forças políticas que representam os interesses das classes subalternas em torno de um projeto para a sociedade, que tenha como horizonte o rompimento com a sociabilidade do capital. 62 Para efetivação do controle social, é preciso que a comunidade tenha ciência para que e como funciona este mecanismo. O mesmo acontece com o segmento LGBT, faltam pessoas engajadas que possam somar nas discussões. 5 CONCLUSÃO A saúde como direito de todos e dever Estado é princípio fundamentado na nossa Carta Magna, que deve nortear todas as ações de saúde em território brasileiro, e é fruto da luta democrática deste país. Nesse caminho do direito à saúde da população e do dever do Estado em concedê-la, configuram - se os movimentos sociais como manifestações de atores políticos no cumprimento deste princípio, e principalmente dos deveres do Estado diante da questão social e suas variadas expressões. A AIDS é uma séria questão de saúde pública onde devem ser implementadas políticas públicas efetivas e de qualidade. E relacionado à epidemia da AIDS encontra-se um movimento social, inicialmente os Homossexuais, hoje o movimento LGBT, que protagonizou políticas estratégicas neste campo da saúde pública, que ainda perduram. Em relação ao primeiro item dos objetivos específicos podemos considerar que, com a participação da sociedade civil na defesa de direitos e no cumprimento dos deveres do Estado, novos espaços de participação se configuram, a fim de discutir, debater, pensar e propor políticas. Embora com algumas críticas, o Fórum é realmente um espaço de participação nas proposições em políticas públicas. Especificamente o Fórum Estadual LGBT é um espaço de luta pelos direitos LGBT’s, em consonância com a Constituição Federal/88, que veda qualquer forma de preconceito e discriminação pela pessoa humana. Este é um dos objetivos principais do Fórum, discutir políticas públicas que atendam às demandas deste segmento de sociedade. Relacionado a este fato, atendendo o terceiro item dos objetivos específicos, o grupo que participou da pesquisa se acha participante de um forte movimento social, embora alguns não se sintam “militantes”, e aí, o que podemos entender por militância? Será que é aquele que dedica seu tempo exclusivamente para as questões deste grupo? Mesmo assim, entendem que o fórum é um importante espaço de mobilização social e importante movimento social a partir da concepção de que, se lutam por direitos sociais e direitos humanos, consideram-se movimento social. Pode-se observar que o Colegiado do Fórum Estadual LGBT é composto por pessoas com mais de 30 anos de idade, sendo que os mesmos estiveram presentes no momento histórico do Brasil, a redemocratização. A partir dai percebe-se que o colegiado é formado por pessoas que querem manter o que foi conquistado pelos movimentos sociais e, consequentemente, garantir políticas públicas para o segmento LGBT. O fato de estarem no Fórum desde a sua formação é um ponto bastante positivo, pois é um grupo que tem certa afinidade e experiência neste campo. 63 Atendendo o segundo item dos objetivos específicos, este trabalho teve como foco principal, a partir das respostas dos membros do colegiado do Fórum Estadual LGBT, perceber como se dá a atuação deste Fórum, e como participam do controle social da política de AIDS do Estado do Espírito Santo, uma vez que este segmento ainda é um grupo de vulnerabilidade quanto à infecção de HIV, e faz parte de grupos organizados/ONGS que recebem incentivos financeiros para trabalharem no campo da prevenção e promoção às DST’s/AIDS, conforme Portaria N.º 2313, de 19 de dezembro de 2002. A pesquisa demonstrou que o grupo entende que o controle social direto e legitimado é realizado pelo Conselho de Saúde, mas que não deixam de exercer o controle social quando se organizam para pensar e propor ações para o segmento, em defesa de seus direitos. Atendendo o objetivo geral, partindo do princípio de que o controle social é fruto da participação e mobilização de sujeitos sociais para propor, fiscalizar, pensar, debater, mesmo que não sejam o grupo que legitimamente exerça o controle social direto sobre a política pública de saúde, no caso, o Conselho, penso ser importante a participação de membros do Fórum Estadual LGBT no Conselho de Saúde do Estado, especificamente discutindo as políticas de DST’S/HIV/AIDS. Pode-se constatar que o Fórum Estadual LGBT tem ciência que deve ter a participação mais atuante no controle social da política de AIDS, sendo que não existe representação deste grupo no conselho estadual de saúde. Com a participação do Fórum Estadual LGBT dentro do conselho estadual de saúde, este segmento de sociedade poderia articular melhorias na qualidade do atendimento de saúde e implantação e implementação de programas específicos para o segmento. Também pode-se perceber que há uma preocupação em relação à política de AIDS no Estado do Espírito Santo. Devendo o segmento LGBT apresentar ações estratégicas com o recurso destinado pelo MS ao PROGRAMA DST/AIDS do Estado para o desenvolvimento de ações de prevenção e promoção em DST /AIDS incluindo direitos humanos. O grupo relatou que desconhece membros do Fórum que participam do Conselho Estadual de Saúde e, se existem, representam outras entidades que defendem as questões LGBT. O que existe é a participação de membros do Fórum Estadual LGBT na Câmara Técnica Estadual de AIDS, e entendemos que essa é uma forma de participação no Controle Social da Política de HIV do Estado, pois as Câmaras Técnicas subsidiam os Conselhos nas avaliações técnicas relacionadas aos temas em pauta pertinentes a política de AIDS. A pesquisa ainda demonstrou alguns desafios do Fórum como a dificuldade de trazer mais pessoas para este espaço de discussão política de grande importância para este segmento de sociedade que tanto sofre preconceito. Isso sugere pensar algumas estratégias novas para agregar novos participantes como melhor divulgação sobre o Fórum, ou talvez a realização das reuniões de forma itinerante já que foi observado que 64 a maioria dos membros do colegiado é da região metropolitana. É uma proposta pensar em estratégias para agregar novos membros principalmente do interior do Estado. Seria interessante a permanência desse espaço do Fórum na Câmara Técnica, bem como a participação de algum membro do Fórum efetivamente participando no Conselho Estadual de Saúde. Isso poderia tornar melhor a consolidação de direitos para esse segmento, principalmente relacionadas à política de DST’s/ AIDS. Também inserir no colegiado pessoas com orientação sexual diferente para garantir melhor representatividade. Consequentemente, divulgar mais as ações e atuações do Fórum no Estado do Espírito Santo. Recomendam-se, ainda, novos estudos, novas pesquisas, que ajudem a compreender as novas estruturas dos novos movimentos sociais na atualidade que tem seus objetivos vinculados a defesa de direitos humanos, políticos e sociais. 6 REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Direitos humanos e HIV/AIDS: avanços e perspectivas para enfrentamento da epidemia no Brasil. Brasília, 2008. 2. BRAVO, Maria Inês Souza; CORREIA, Maria Valéria Costa. Desafios do controle social na atualidade . Serviço Social e Sociedade. 2012, n.109, pp. 126150. ISSN 0101-6628. 3. CORREIA, Maria Valéria Costa. Controle Social na Saúde. 2009. Disponível em: <http//:www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto1-6.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2012. 4. FARIA, Cláudia Feres. Fóruns participativos, controle democrático e a qualidade da democracia no Rio Grande do Sul: a experiência do governo Olívio Dutra (1999-2002). OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, vol. 12, nº 12, Novembro, 2006, p. 378-406. 5. MARTINS, Ferdinando et al. Manual de comunicação LGBT. Curitiba: Ajir Artes. 2012. 6. MELLO, Luiz et al. Políticas de saúde para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil: em busca de universalidade, integralidade e equidade. Sexualidad, Salud y Sociedad, Rio de Janeiro, dez. 2011. 7. MIRANDA, Adriana Andrade. Movimentos sociais, AIDS e cidadania: o direito à saúde no Brasil a partir das lutas sociais. Dissertação (Mestrado em Direito) Universidade de Brasília, Brasília, 2007. 65 8. MONTAÑO, Carlos. DURIGUETO, Maria Lúcia. Estado, Classe e Movimento Social. São Paulo: Cortez, Biblioteca Básica de Serviço Social, 2011. 9. PEREIRA, Adriana Jimenez; NICHIATA, Lúcia Yasuko Izumi. A sociedade civil contra a Aids: demandas coletivas e políticas públicas. Ciênc. saúde coletiva. 2011, vol.16, n.7, pp. 3249-3257. ISSN 1413-8123. 10. ROSSI, l (Org.). Guia de prevenção das DST/AIDS e cidadania para homossexuais. Brasília: Editora MS, 2002. 11. SPOSATI, Aldaíza; LOBO, Elza. Controle social e políticas de saúde. Caderno de Saúde Pública. 1992, vol.8, n.4, pp. 366-378. ISSN 0102-311X. 66 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO ENSINO-APRENDIZAGEM EFICAZ DE LÍNGUA INGLESA E PORTUGUESA Elisângela De Jesus Borlini16 Neilde Moraes Gomes17 Josete Pertel18 RESUMO A experiência docente em Língua Inglesa e portuguesa revela que a aprendizagem não parece ser aprazível para alguns discentes, pois demonstram desinteresse pelas aulas. Este trabalho tem como objetivo principal, descobrir modos de desenvolver aulas que despertem nos alunos a motivação para aprender línguas. Para atingi-lo, foi necessário investigar bibliograficamente sobre interesse, motivação, didática, metodologia, planejamento, plano e as qualidades fundamentais para que um docente possa ser considerado bom profissional. Esses estudos constam nos primeiro, segundo, terceiro capítulos respectivamente. Os resultados apontam que interesse e motivação são sinônimos, embora haja divergências entre psicólogos sobre a importância da motivação no processo ensino-aprendizagem. Motivação é uma força interna originada por emoções, capazes de estabelecer sinapses, que são importantes para a aprendizagem. A didática sistematiza e organiza o ensino, estabelecendo o vínculo entre teoria e prática; enquanto a metodologia faz o juízo de realidade. O planejamento é o processo mental que envolve análise, reflexão e previsão, e o plano é o resultado do primeiro. Tanto a didática quanto a metodologia, o planejamento e o plano são fundamentais para o bom desempenho docente. Os atributos de bons professores amparam-se em três pontos: a saúde física, psicológica e moral do docente; a competência técnica e humanística; e a consciência ecológica que o profissional deve ter. O quarto capítulo contém sugestões de atividades motivadoras. Conclui-se o trabalho refletindo sobre a importância do profissional de Língua Inglesa buscar ou criar atividades motivadoras para corrigir a idéia de que o aluno é o culpado pela sua desmotivação nas aulas. Palavras- chave: Motivação. Atividades Motivadoras. Didática. Metodologia. ABSTRACT The teaching experience in English and Portuguese reveals that learning does not seem to be pleasant for some students, as they show disinterest in school. This work has as main goal, find ways to develop lessons that arouse the students' motivation to learn languages. To reach it, it was necessary to investigate Bibliographically on interest, motivation, teaching, methodology, planning, and plan the fundamental qualities for a 16 Graduada em Letras (Português/Inglês); Pós-Graduada em Literatura Portuguesa e Brasileira Pós-Graduada em Literatura Portuguesa e Brasileira; Pós-Graduada em Docência do ensino Superior (UNISAM); Graduada em Letras (Português/Inglês); Graduanda em Serviço Social pela Faculdade Norte Capixaba de São Mateus. 18 Doutora em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professora da Faculdade Norte Capixaba de São Mateus 17 67 teacher to be considered good professional. These studies contained in the first, second, third chapters respectively. The results indicate that interest and motivation are synonymous, although there is disagreement among psychologists about the importance of motivation in teaching-learning process. Motivation is an internal force caused by emotions, able to establish synapses, which are important for learning. The systematizes and organizes didactic teaching, establishing the link between theory and practice, while the methodology is the judgment of reality. Planning is the mental process that involves analysis, reflection and prediction, and the plan is the result of the first. Both as didactic methodology, planning and plan are fundamental to good teaching performance. The attributes of good teachers bolster on three points: the physical, psychological and moral teaching, technical expertise and humanistic, and ecological awareness that the professional should have. The fourth chapter contains suggestions for motivating activities. We conclude the work by reflecting on the importance of professional English language search or create motivating activities to correct the idea that the student is to blame for their lack of motivation in the classroom. Keywords: Motivation. Motivational activities. Didactic. Methodology. 1 INTRODUÇÃO Acredita-se que a maioria das populações do mundo busca estudar a Língua Inglesa para acompanhar as informações advindas dos avanços científicos e tecnológicos, que ocorrem e se renovam diariamente, sendo registradas, originalmente, nesse idioma. Ignorar tais informações pode significar perder chances de curas e de melhorias de negócios e de processos. Obtê-las, portanto, é essencial para quem não queira estar alienado ou desatualizado, mas para tal é necessário que se busque aprender a língua de Shakespeare. Conscientes disso, as escolas de ensino fundamental e/ou médio, públicas ou particulares, costumam oferecer aulas de Língua Inglesa com carga horária de uma ou duas horas semanais, o que, de certa forma, expressa o grau de importância que as autoridades brasileiras lhe conferem: pequeno para que a aprendizagem se efetive satisfatoriamente. A experiência docente revela que enquanto a aprendizagem desse idioma é aprazível para uns, não parece sê-lo para outros, posto que alguns discentes demonstram desinteresse pelas aulas, frustrando os docentes que anseiam não apenas por satisfazer ao sistema, à escola ou a si mesmo, mas, sobretudo ao maior número possível de alunos. Além disso, o desinteresse pelas aulas de Língua Portuguesa também é grande e, junto com outros fatores, é causa de uma aprendizagem ineficiente. Diante desses fatores e considerando a missão de docentes de Língua Inglesa e Língua Portuguesa, surgem os seguintes questionamentos: Como desenvolver aulas que visem a motivar todos ou a maioria dos alunos? Quais são os requisitos necessários para que 68 alguém se motive a aprender algo? Quais são os atributos necessários para o desempenho de bom professor? O que será necessário considerar ao se planejar essas aulas? Entende-se que essas questões precisam ser respondidas, por isso o presente trabalho tem como objetivo, descobrir estratégias de desenvolver aulas que despertem nos alunos a motivação para aprender a língua Inglesa e Língua Portuguesa. Ao atingi-lo, acreditase que será necessário investigar o que vem a ser interesse, motivação, didática, metodologia, planejamento, plano e, também, as qualidades fundamentais para que um docente possa ser considerado bom profissional. Este trabalho exigirá pesquisas bibliográficas em autores que falem sobre esses assuntos, abordando as opiniões de estudiosos da área, importante para o estudo em questão. Acredita-se que os resultados advindos deste trabalho permitirão que não apenas professores de língua inglesa e língua portuguesa, mas docentes de um modo geral, consigam ministrar aulas mais satisfatórias para os seus alunos e para si próprios, agregando conhecimento e aprendizagem para alunos e professores. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CONSIDERAÇÕES INTERNAS 2.1.1 Interesse Pressupõe-se que o principal objetivo de um professor seja que seus alunos consigam transformar em conhecimentos as informações que lhes são repassadas durante as aulas. Nem sempre tais objetivos são atingidos e acredita-se que um dos motivos seja o desinteresse dos discentes. Tal crença fundamenta-se em uma outra: para que um indivíduo aprenda algo é necessário que ele queira assim. Em outras palavras, ninguém consegue ensinar nada a uma pessoa que não tenha interesse em aprender. É sabido que há diversas teorias e métodos que possibilitam a aprendizagem eficaz e é permitido a cada professor adaptá-los às suas disciplinas. Em tese, os conhecimentos acerca de procedimentos didáticos ensinados durante as graduações deveriam funcionar e facilitar a aprendizagem de todos os discentes. O que se observa, entretanto, em situações em que os alunos resistem aos esforços do professor no sentido de conseguir que se interessem, prestem atenção às informações ou aos comandos, é que os docentes atribuem a culpa aos discentes, com rotulações como: displicentes, inconsequentes, imaturos, desinteressados ou desmotivados para a aprendizagem. 69 Há de se inquirir, pelo menos, o que vem a ser interesse e motivação. Segundo Haydt (2002, p.75), desde 33 a 95 d. C., Quitiliano já estudava o interesse no processo educativo. Ela ainda relata outras pessoas que estudaram sobre o assunto. Juan Luis Vives, que viveu de 1492 a 1540, já chamava a atenção dos educadores para o valor da atenção e do interesse no ato de aprender, fazendo considerações sobre a influência da emoção e dos sentimentos no funcionamento da inteligência e da memória. Em pleno século XVI, ele fazia referência ao que hoje em dia a terminologia educacional moderna denomina a influência da área afetiva no campo cognitivo. O autor cita Pestalozzi, informando que ele viveu de 1746 a 1827 e que o mesmo ressaltava a necessidade de o educador fazer uma sondagem sistemática acerca do interesse do educando, de modo a conhecer os interesses característicos de cada faixa etária e, assim, poder aproveitá-los na orientação do processo de aprendizagem. Stanley Hall, que teria vivido 80 anos, de 1844 a 1924, também é citado por Haydt (2002, p. 75). Esse autor diz que Hall “[...] preconizava que o organismo age e reage em função de estímulos internos, dinâmicos e persistentes, que são os motivos do comportamento”. Ele defendeu a “[...] idéia de que os interesses variavam de acordo com as diversas fases do desenvolvimento, passando por uma evolução”. Assim, “[...] os interesses próprios de cada etapa deveriam ser usados para nortear as atividades escolares daquela fase”. Claparede também é citado por Haydt (2002, p.75-76). Ele teria feito um estudo sobre a evolução dos interesses humanos, visando a sistematizar o que era dominante em cada fase do desenvolvimento biopsicológico do indivíduo. Claparede afirmou que “[...] o individuo age impulsionado pelo interesse do momento, que funciona como a causa ou motivo do comportamento e liga as necessidades às reações adaptativas para satisfazêlas”. Depreende-se, então, que o interesse é um sinônimo de motivação, mas exige investigações sobre “o que é” e “como ocorre”, buscando responder ao objetivo principal deste trabalho: descobrir modos de desenvolver aulas que despertem nos alunos a motivação para aprender a Língua Inglesa e Portuguesa. Nota-se claramente que muitos alunos se mostram tímidos, se mantendo calados a todo instante durante a aula, principalmente por ‘medo’ de errar a pronúncia de determinadas palavras, e ser motivo de risos dos colegas. Necessitando dessa forma de estratégias novas de ensinar inglês e trabalhar esses fatores em sala de aula, quebrando todas as barreiras existentes. Importante levantar em sala de aula com os alunos, os medos e barreiras existentes, para assim conseguir estudar novas estratégias para conseguir trabalhar de forma a cumprir com a meta de ensinar e despertar no aluno o interesse. Uma ferramenta muito importante que pode ser eficiente é empregar a informática no ensino de inglês e português, com jogos e atividades recreativas, agregando a 70 brincadeira junto às atividades de ensino. Com recursos de pronúncia, que podem abrir caminhos novos para a motivação. 2.1.2 Motivação Sobre motivação e aprendizagem, Ausubel (1980, p. 333) mostra as contradições dos psicólogos acerca da importância da primeira no ensino-aprendizagem, dizendo que: Poucas questões teóricas em psicologia provocaram controvérsia mais acalorada do que a do papel da motivação na aprendizagem. As posições variam enormemente, desde a afirmação de que aprendizagem alguma pode ter lugar sem motivação até a negação completa de que a motivação constitua uma variável significativa no processo de aprendizagem. O peso da evidência indica que, embora a motivação constitua um fator altamente significativo na aprendizagem e a facilite enormemente, ela não é de modo algum uma condição indispensável. Essa posição de Ausubel parece explicar por que, mesmo diante de aulas monótonas, existam alunos que aprendam sem maiores problemas. Considerando que esses são exceções, resta saber exatamente o que vem a ser motivação. Em Vernon (1971, p. 11) encontra-se a seguinte definição: “A motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes”. A partir da ideia de “força interna”, deduz-se que seja um processo intrínseco e que não seja possível ao ser humano motivar o outro. O que poderá, então, o professor fazer para que essa força seja acionada? Fornecendo pistas sobre isto, Gentile (2005) diz que quando um aluno está emocionalmente envolvido com o conteúdo, ele aprende mais. Dessa forma, o papel do professor seria o de planejar suas aulas de forma a despertar emoções. Fazê-lo, entretanto, requer que se descubra como emocionar alguém. A mesma autora discorre sobre o funcionamento do cérebro humano, dizendo que ele é formado por bilhões de neurônios e que cada um pode se conectar a, pelo menos, outros 100 mil semelhantes. Assim, é possível gerar quatrilhões de contatos, ou sinapses, mas suas ocorrências são dependentes de emoções. Etimologicamente, emoção é uma palavra originária do latim motio como na palavra movimento, significando, então, agitação de sentimentos. Damásio (apud GENTILE, 2005, p. 55) define as emoções como “[...] um conjunto complexo de reações químicas e neurais”. Então, as emoções “[...] afetam o modo de operação de inúmeros circuitos cerebrais e a variedade de reações emocionais”, sendo “[...] responsável por mudanças profundas do corpo e do cérebro”. Gentile (2005, p. 55) diz ainda que “Além de provocar alterações nos músculos, na cor da pele e nos batimentos cardíacos, situações emocionantes ativam o sistema límbico, 71 parte do cérebro responsável pelas emoções”. O sistema límbico, por sua vez, é formado pelo tálamo, hipotálamo, hipocampo e amídala, responsáveis por sinapses associadas às boas sensações. As boas sensações ou emoções chegam ao cérebro por meio da visão, da audição, do tato, do olfato e do paladar, portanto, é importante conhecer o que pode sensibilizar as menores unidades cerebrais: os neurônios. Especificamente sobre isso, as leituras em Gentile (2005, p. 54) informam que o cérebro humano possui bilhões de neurônios e que cada um deles é formado por dendritos, axônio e núcleo e que: O lugar onde os dendritos de um neurônio encontram o axônio do outro é conhecido como área sináptica. Nesse espaço não existe contato físico entre as células. Elas se ligam por meio de partículas de sódio, cálcio, potássio e cloreto, cheios de energia, que entram e saem dos neurônios, produzindo impulsos nervosos ou eletroquímicos chamados potenciais de ação. Ela informa que durante as sinapses ocorre a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, serotonina e noradrenalina, que ajudam a formar os circuitos neuronais e complementa dizendo que: A cada nova informação recebida, sinapses são criadas e configuram-se novas redes entre os neurônios, que guardam informações separadas, mas conectadas entre si. Esses circuitos são ativados sempre que uma dessas informações é requisitada para resgatar um aprendizado. Para que isso aconteça, as informações precisam estar guardadas como memória de longo prazo. Elas são armazenadas na superfície do cérebro, que, como em um arquivo bem organizado, coloca cada informação em uma "pasta” (GENTILE, 2005, p. 54). Sobre o funcionamento do cérebro durante as aulas de idiomas, Gentile (2005, p. 54) diz que: [...] quando uma criança lê, faz funcionar diversos circuitos cerebrais, como os que armazenam o vocabulário, a gramática, o discurso, sem contar todas as informações contidas na interpretação da imagem, por exemplo. Cada uma dessas funções tem um lugar certo no cérebro. Ribeiro (apud GENTILE, 2005, p. 55) diz aponta “Despertar emoções é uma forma de fazer os estudantes prestarem atenção. Sem concentração, o cérebro não armazena nada”. Assim, o professor deve “estar atento” para “[...] abrir as portas sensoriais, linguísticas e cognitivas para o novo conteúdo”. Gentile (2005, p. 55) ressalta ainda que: A atenção é produto da ação da noradrenalina, que ajuda a deixar os sentidos voltados para a realização de uma atividade e turbina a superfície do cérebro (córtex), onde ficam as memórias. Todo esse processo é desencadeado por decisão da pessoa em se concentrar (com a ordem para a noradrenalina ser distribuída vindo do lobo pré-frontal, parte do córtex responsável pelas operações mentais sofisticadas) ou por estímulos externos. 72 A partir desses conhecimentos e considerando que não haja distúrbios neurológicos, são questionáveis as queixas docentes sobre o desinteresse ou a desmotivação de alunos, quando apontam como causas a displicência, a inconsequência ou a imaturidade. Segundo Piaget (apud PILLETE, 2006, p. 34), “[...] a maturação cerebral fornece certo número de potencialidade (possibilidades) que se realizam, mais cedo ou mais tarde (ou nunca), em função das experiências e do meio social”. Face a todo o exposto, deduz-se que a desmotivação discente pode ser fruto do desconhecimento docente acerca do que fazer para estimular os neurônios para que os alunos se emocionem e façam as sinapses necessárias à aprendizagem, ou pior, pode ser uma consequência da falta de criatividade, de planejamento e/ou entusiasmo daquele que se propõe a ser professor. Pensando assim, Pillete (2006, p. 33) diz que: Através de uma variedade de recursos e procedimentos, o professor pode criar uma situação favorável à aprendizagem. Para criar essa situação o professor deve: - Conhecer os interesses atuais dos alunos para mantê-los ou orientá-los. - Buscar uma motivação suficientemente vital, forte e duradoura para conseguir do aluno uma atividade interessante e alcançar o objetivo da aprendizagem. Portanto, o educador pode e deve incentivar o aluno, a ponto de despertar sua atenção e seu interesse, orientando e canalizando positivamente as fontes motivacionais. O conhecimento acerca de interesse ou motivação pode não ser suficiente se o educador desconhecer as recomendações didáticas e metodológicas inerentes ao bom professor, por isso faz-se necessário conhecê-las melhor. 2.2 CONSIDERAÇÕES DIDÁTICAS E METODOLÓGICAS A didática e a metodologia estudam os métodos de ensino, mas elas apresentam diferenças de ponto de vista. Definindo e diferindo ambas, Pillete (2006, p. 43) destaca que “A didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos de ensino. Podemos dizer que a Metodologia nos dá juízo de realidade, e Didática nos dá juízo de valor”. A partir dessa diferenciação, concluímos que podemos ser metodologistas sem ser didáticos, mas não podemos ser didáticos sem ser metodologistas, pois não podemos julgar sem conhecer. Por isso, o estudo da Metodologia é importante por uma razão muito simples: para escolher o método mais adequado de ensino precisamos conhecer os métodos existentes. Sobre a didática, Veiga (2001, p. 22) diz que seu papel é “[...] fundamental no currículo de formação de professores” e que ela é “[...] o instrumento de uma prática pedagógica reflexiva e crítica, contribuindo para a formação da consciência crítica”. 73 Segundo o autor citado anteriormente, a didática nos oferece sugestões de como realizar o planejamento de um curso com a participação dos alunos: como envolver os alunos nessa atividade, levando em conta os interesses deles e o programa da matéria a ser ensinada; como selecionar assuntos interessantes; como variar as técnicas das aulas a fim de que facilitem a participação dos alunos, a aprendizagem e a integração do grupo; como fazer a ligação entre a teoria e a prática, entre os conhecimentos científicos e a realidade do dia-a-dia do aluno; como fazer para que o processo de avaliação deixe de ser apenas amedrontador para o aluno, transformando-se em incentivo ao seu desenvolvimento. Esse autor acrescenta, ainda, que “A didática também exerce função importante na sistematização e organização do ensino, ao procurar estabelecer o vínculo entre teoria e prática” (VEIGA, 2001, p. 22). É sabido que esse vínculo requer que as ações sejam eficientes e estas, por sua vez, exigem planejamento e plano. Sobre a distinção desses dois termos, Haydt (2002, p. 94) afirma que: Planejar é analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de ação para superar as dificuldades ou alcançar os objetivos desejados. Portanto, o planejamento é um processo mental que envolve análise, reflexão e previsão. Nesse sentido, planejar é uma atividade tipicamente humana, e está presente na vida de todos os indivíduos, nos mais variados momentos. O planejamento contribui para a concretização dos objetivos visados, promove a eficiência do ensino, garante maior segurança na direção de ensino e garante economia de tempo e energia. Quanto ao termo “plano”, Haydt (2002, p. 95) diz que ele “[...] é o resultado, é a culminância do processo mental de planejamento. O plano, sendo um esboço das conclusões resultantes do processo mental de planejar, pode ou não assumir uma forma escrita”. Uma entrevista com Grünewald (2006) permitiu ratificar informações acerca do planejamento e do plano docentes, suas etapas e considerações. Essa autora diz que a qualquer docente é exigida a elaboração de um planejamento e um plano de ensino escrito, que deve ser feito anual ou semestralmente, além de um planejamento e um plano diário de aulas. A autora informa que “[...] preferencialmente eles devem ser escritos, após terem sido eficazmente pensados. Essa é a melhor forma de se evitar a monotonia e a improvisação, que são nocivos ao despertar de motivações“. Grünewald (2006) ainda argumenta que antes de o professor elaborar o seu planejamento e seu plano de aula, é necessário que ele “[...] conheça os interesses dos alunos para que consiga estabelecer sintonia de idéias e pensar em alternativas capazes de motivar forte e vitalmente os seus discípulos”. Acrescenta também que: Durante a elaboração do seu plano de aula, o docente deve selecionar o conteúdo a ser trabalhado, pensando se os alunos já possuem os prérequisitos para a devida compreensão, imaginando se o conteúdo é 74 apropriado para o trabalho na turma, prevendo se por meio dele será possível atingir o objetivo geral proposto (GRUNEWALD, 2006). Portanto, ao pensar em ministrar aulas, o professor jamais deve fazê-lo sem um planejamento e plano cuidadoso, sem questionar-se sobre a melhor forma de trabalhar o conteúdo, ou sem pensar sobre a reação dos alunos face aos desafios ou tarefas que lhe forem propostos. Um outro ponto importante, durante a elaboração de um plano de aula, é pensar nos recursos, métodos e procedimentos, que devem ser atraentes, significativos e capazes de despertar a motivação que levará à aprendizagem. 2.3 ATRIBUTOS DE BONS PROFESSORES É relevante enfatizar que o professor, ao se propor a ensinar, deve considerar, inicialmente, o que diz Castorina (2001, p. 96) acerca do processo de aquisição de conhecimentos. O processo de aquisição dos conhecimentos na sala de aula é uma apropriação dos conteúdos curriculares, estabelecendo-se uma relação sistemática entre o saber que é ensinado, os processos cognitivos dos alunos nessa apropriação e a intervenção dos programas. Assim, o professor deve ser o mediador para levar os alunos a captar as informações ao seu redor, considerando o seguinte esquema. Sistema Educacional Família Educador Sociedade Aluno Assim, é necessário considerar que o aluno está inserido num sistema educacional que engloba a família, os docentes e a sociedade, que devem interagir com os discentes, destes obtendo retroalimentação para que novos objetivos e metas sejam traçados e a aprendizagem se processe. Nesse processo, os mestres têm papel fundamental. 75 Considera-se importante ressaltar a diferença entre professor e mestre, feita a partir de Tiba (1998). O professor é aquele que exerce uma função consagrada em sala de aula, sendo fonte de informação e responsável pela ordem na classe. Mestre é quem ministra seu conhecimento sem fazê-lo de forma autoritária. De acordo com Tiba (1998, p. 62), “Professores têm alunos; mestre, discípulos, que procuram quase imitá-los”. Ele ainda afirma que: “O professor é aquele que exerce sua função como um computador. O mestre é um computador que tem alma” e, para ele, “[...] não basta conhecer bem a matéria”. Tiba (1998, p. 64) oferece algumas dicas para que um professor se transforme em mestre: 1 - Estar integrado em relação a si mesmo: sentir-se física, psicologia e eticamente bem; estar capacitado para atingir seus objetivos; estar receptivo a tudo o que possa melhorar ainda mais sua função; 2 - Entender o aluno: considerar a etapa do desenvolvimento na qual ele se encontra; levar em conta dificuldades e facilidades específicas no aprendizado; inteirar-se dos interesses pessoais que possam ajudá-lo no aprendizado. 3 - Conhecer o ecossistema vigente: empenhar-se pela melhora do ambiente e das condições de trabalho; estar informado sobre tudo o que possa atingir o professor, o aluno e seus relacionamentos, como drogas, violência dentro e fora da escola, dificuldades socioeconômicas, mercado de trabalho etc.; praticar a cidadania. Observa-se que o mestre idealizado por Tiba está sobre três tripés: ele consigo mesmo, ele com o discente e ele com o meio em que vive. O primeiro exige saúde física, psicológica e moral. Ao considerar que a saúde física é quase sempre dependente do sujeito, a psicológica é dependente do sujeito e dos fatores externos, e a moral é fruto de educação, ou seja, da história de vida do mestre; não se considera um tripé exatamente fácil de obtenção. O segundo tripé requer que o mestre tenha formação sólida e humanística, pois ele deverá saber o que se processa cognitivamente na cabeça de seus alunos, para que depreenda em que “etapa do desenvolvimento eles se encontram”. Há de ter, também, um conhecimento vasto de sua disciplina para que saiba o que é pré-requisito ou não e, portanto, o que é fácil ou não. Além disso, há de ter disposição para informar-se sobre os interesses dos seus alunos, quaisquer que sejam suas faixas etárias. Observa-se, então, que o mestre ideal não pode ser alguém que tenha se preocupado apenas em adquirir competência em termos dos conteúdos específicos que tenha estudado. O terceiro tripé tem a ver com o sujeito consciente de sua importância e da de seus pares na preservação e qualidade de vida neste planeta. Depreende-se, então, que o professor ideal deverá ser saudável, competente não apenas em sua disciplina, didática e metodologia, mas no que preconizam a psicologia, a 76 filosofia, a ética, a moral, e a ecologia. Ou seja, alguém tecnicamente competente, que se cuida, respeita o próximo e o planeta onde vive. Se as escolas precisam de mestres e se as graduações nem sempre os formam, é necessário que cada um que se proponha a ensinar busque o seu aprimoramento para que não seja considerado apenas um “professor”. 2.4 SUGESTÕES MOTIVADORAS Os conhecimentos acerca de interesse, motivação, didática, metodologia e os atributos de bons professores são importantes, mas pouco adianta se o professor desconhecer maneiras de tornar uma aula motivadora. Assim, é preciso buscar em experiências bem sucedidas, em exemplos, as atividades ou estratégias que sejam capazes de motivar os alunos para a aprendizagem. Retomando o que disse Ribeiro (apud GENTILE, 2005, p. 55) sobre a importância de “Despertar emoções”, pois essa “[...] é uma forma de fazer os estudantes prestarem atenção. Sem concentração, o cérebro não armazena nada”; infere-se que as portas sensoriais, linguísticas e cognitivas para o novo conteúdo sobre as quais fala o referido autor, podem ser abertas por atividades lúdicas e aprazíveis. Também, considera-se importante recordar que as emoções motivam e as informações obtidas em Gentile (2005) quando informa que as boas sensações ou emoções chegam ao cérebro por meio da visão, da audição, do tato, do olfato e do paladar. Portanto, isso deve ser considerado ao se propor atividades aos alunos. Elas devem ser capazes de emocionar e acredita-se que o farão se forem lúdicas. Entres as atividades lúdicas, acredita-se que aquelas em formato de jogos sejam boas estratégias metodológicas, pois são capazes de envolver, entusiasmar, alegrar, despertar prazer e esforço espontâneo, que são todos requisitos importantes para a aprendizagem eficaz. Corroborando isso, Teixeira (1995, p. 49) diz que: O jogo é um fator didático altamente importante; mais do que um passatempo, ele é elemento indispensável para o processo de ensinoaprendizagem. Educação pelo jogo deve, portanto, ser a preocupação básica de todos os professores que têm intenção de motivar seus alunos ao aprendizado. Nessa concepção, Amorim e Magalhães (2003) sugerem, divertidamente, uma centena de atividades lúdicas, capazes de despertar o interesse dos alunos. Entre elas, há uma a ser utilizada em início de aulas, chamada “Cinco Minutos de aquecimentos”. Inicialmente o professor deve escrever perguntas no quadro, em língua inglesa, de forma a despertar a curiosidade dos alunos para o tema da aula. Após checar a compreensão das perguntas, o docente deve solicitar que os discentes pensem sobre o tema da lição ou assuntos interessantes a ele relacionados. A seguir, solicita-se que eles 77 elaborem cinco perguntas pessoais relativas ao assunto pensado, evitando, entretanto, aquelas que possam ser respondidas com um simples “sim” ou “não”, como forma de desenvolver a oralidade e a escrita, fugindo ao simples “Yes” ou ”No”. As autoras listam os demais passos da seguinte forma: 3. Peça a eles que, em pares, conversem sobre as perguntas propostas, mas sem a necessidade de repeti-las oralmente. Ou seja, deixe claro que o que está escrito não é um questionário, mas sim um guia para a conversa que eles deverão ter na língua estrangeira. Peça a eles que finjam que o colega é um japonês encontrado numa viagem, e que o único idioma mais ou menos em comum entre vocês é o inglês. Se alguém não souber a palavra adequada a ser usada, poderá recorrer à mímica ou a desenhos, mas “não vale” usar o português, nem pedir ajuda ao professor. Diga, também, que não é preciso cobrir todas as perguntas, ou seja, que não há problema algum em ficar falando todo o tempo sobre o mesmo tópico: o objetivo é simular uma conversa comum, em que um assunto “puxa” o outro, e só se muda de assunto quando não há mais o que dizer sobre ele. 4. O papel do professor é apenas caminhar entre os alunos, evitando que eles usem a língua materna, e não o de corrigir ou ensinar vocabulário. Ao fim dos cinco minutos (ou menos, já que o tempo estipulado deverá estar de acordo com nível de proficiência da turma), retome dúvidas que surgiram durante a conversa, seja de vocabulário, estrutura ou gramática. 5. Inicie o trabalho proposto para o dia, encorajando os alunos a manter a mesma postura de comunicar-se (agora não obrigatória, mas preferencialmente) na língua estrangeira (AMORIM; MAGALHÃES, 2003, p. 23). As referidas autoras apresentam, ainda, variações dessa atividade, sendo uma delas a seguinte: Se os alunos estiveram muito preocupados, entusiasmados ou interessados em algo relativo à sua vida pessoal, como uma prova difícil, um feriadão que se aproxima ou a festa do fim de semana anterior, deixe-os falar sobre isso desde que o assunto proposto seja relevante à turma em geral (AMORIM; MAGALHÃES, 2003, p. 23). E sugerem o seguinte: Prometa algum tipo de prêmio (mas nunca “pontos” na nota!) se a turma conseguir, como um todo, conversar pelo tempo estipulado só na língua estrangeira, por exemplo, sorteie um bombom ou mesmo deixe que eles escolham uma atividade prazerosa (música, jogo ou vídeo) para a aula seguinte. Enfatize, entretanto, que a adesão tem de ser de 100%. No caso de apenas parte dos alunos conseguirem resistir à tentação da língua materna, anote seus nomes e, quando a atividade terminar, parabenize-os frente à turma. Você também pode elaborar, previamente, pequenos círculos de papel imitando “buttons” com os dizeres (na língua estrangeira) “Eu fiz o meu professor feliz hoje”, e grudar com fita adesiva na roupa daqueles cujo nome anotou (AMORIM; MAGALHÃES, 2003, p. 23). Percebe-se um grande valor motivacional nessa atividade, porque o aluno é convidado a construir ativamente o seu conhecimento. Um ponto considerado importantíssimo é a sugestão das autoras no que concerne aos “buttons” com dizeres como “Eu fiz meu 78 professor feliz hoje” a serem afixados com fita adesiva nos alunos que se esforçaram mais. Esse “button”, por ser um recurso visual capaz de impactar ou emocionar, pode despertar, nos demais alunos, o desejo de um dia também receber um igual ou similar, revelando-se como algo simples, mas bastante motivador para a aprendizagem. Uma outra atividade sugerida por Amorim e Magalhães (2003) é um jogo de bingo e tem, como objetivo, trabalhar o vocabulário dos alunos. Os passos recomendados são os seguintes: 1. Tenha pronto ou peça que os alunos preparem à mão livre em uma folha de caderno uma grade com 16 “cédulas”, mais ou menos assim (com escala aumentada para meio ofício): 2. Organize duas listas de 16 palavras relativas ao conteúdo que está sendo ensinado: família, tipos de comida, animais, cores... As listas deverão ter as mesmas palavras, mas em ordem diferente. 3. Faça um ditado usando a primeira lista, mas peça que, em vez de escrever as palavras uma em baixo da outra, os alunos as “espalhem” aleatoriamente dentro dos espaços da grade. 4. depois de lidas todas as palavras, e consequentemente depois que os 16 espaços estiverem ocupados, explique aos alunos que as palavras serão lidas novamente, mas não na mesma ordem. Eles deverão assinalá-las na grade à medida em que forem sendo ditas. 5. Estipule qual vai ser o “padrão” do bingo, ou seja, que vencerá quem primeiro conseguir formar a letra “L” (todas as células da primeira linha vertical e da última horizontal), ou “O” (todas as células, exceto as quatro do “miolo”), ou “C” (primeira e última linhas horizontais, primeira vertical), ou “X” (duas diagonais), ou ainda “U” (primeira e última na vertical, última na horizontal). 6. Para dificultar, pode-se exigir do candidato a vencedor que todas as palavras dentro do formato-padrão estejam escritas corretamente, ou ainda que ele saiba todos os significados (AMORIM; MAGALHÃES, 2003, p. 60). Observa-se que o aluno participa ativamente dessa atividade, construindo a cartela, escrevendo as palavras ditadas no local que quiser e marcando-as quando o jogo estiver em ação. Nota-se, também, que os critérios de funcionamento do bingo são claros, quando se pede que os discentes disponham as palavras ditadas aleatoriamente na cartela e quando se apresentam as opções para vencer: os modelos L, O, C, W ou U. Brincando, então os alunos podem ter motivação para internalizar as 16 palavras escolhidas para fixação da aprendizagem. Saber de fato uma língua estrangeira é dominá-la em termos de quatro habilidades: a de ler e interpretar, escrever, decodificar o que ouve e falar. Assim o professor deve propor atividades que propiciem o desenvolvimento de todas. Amorim e Magalhães (2003, p. 79 112) sugerem atividades para desenvolver habilidades de tradução e uma delas é aliada ao ensino de música. As recomendações são as seguintes: 1. De preferência no computador, faça uma tabela com duas colunas e o número de linhas compatível com o número de versos da música escolhida para a atividade. 2. Na coluna da esquerda, escreva a letra, sendo um verso em cada linha, seguido de parênteses. 3. Na coluna da direita, traduza os versos numa ordem diferente da qual eles são cantados na LÊ, precedidos de números. 4. divida a turma em pares de alunos (senão você precisará de um número muito grande de cópias), e dê cada dupla uma folha. Eles terão de combinar as frases em português com as suas correspondentes na Língua Inglesa, escrevendo os números no lugar correto. Letra de exemplo: Yesterday (The Betles) Yesterday ( ) 1. Ela não diria All my troubles seemed so far away 2. Agora eu sinto falta de ontem ( ) Now it looks as though they’re here 3. Eu disse algo errado to stay ( ) Oh, I believe in yesterday ( ) 4. todos os meus problemas pareciam longe Why she had to go, I don’t know ( ) 5. Por que ela teve de ir, eu não sei She wouldn’t say ( ) 6. Ontem I said something wrong ( ) 7. Agora parece que eles estão aqui Now I long for yesterday ( ) 8. Ah, eu acredito em ontem (= no passado) 4. Corrija e toque a música para os alunos possam descansar... cantando! Uma vez mais, retoma-se Gentile (2005) quando diz que as emoções motivam e chegam ao cérebro por meios visuais, auditivos, tátil, olfativo e/ou gustativo. Ora, uma música aciona o canal auditivo e pode causar prazer em quem a ouve, revelando-se, então, uma atividade de grande potencial motivador. Caberá ao professor buscar a canção que melhor motive os seus alunos, portanto, será preciso conhecer suas preferências e interesses. Outra sugestão de atividade em Amorim e Magalhães (2003) é destinada ao ensino das formas verbais, é um jogo denominado “Passe adiante”. Ela requer a utilização de três folhas de cartolina de cores diferentes e três canetinhas de cores variadas, além de vários cartões contendo diferentes verbos no infinitivo. 1. Seguindo a disposição das cadeiras na sala, vá apontando para cada aluno em ordem e atribuindo-lhe uma de três cores. No caso de os alunos estarem dispostos em semicírculo, por exemplo, comece em uma das extremidades e vá dizendo: azul, verde, amarelo; azul, verde, (etc...) até que todas as pessoas tenham “recebido” uma cor. Peça então que os alunos se juntem de acordo com a cor que lhes foi atribuída, formando três grupos distintos: o dos azuis, o dos amarelos e o dos verdes (AMORIM; MAGALHÃES, 2003, p.149). 80 Observa-se que esse primeiro passo é uma boa alternativa para o agrupamento de alunos, evitando-se os alunos mais fortes somem forças, deixando os mais fracos sozinhos. Os segundo, terceiro e quarto passos são operacionais e esclarecem as regras de funcionamento do jogo: 2. Antes do início da atividade, afixe na mesma parede, com uma distância de aproximadamente 80 cm, os painéis (folhas de cartolina ou papel cartaz) de cores diferentes. À frente de cada um deles, os grupos deverão formar filas paralelas. Dê uma canetinha, também de cor diversa, ao primeiro aluno de cada grupo e coloque um montinho de aproximadamente 10 cartões contento verbos atrás do último de cada fila. Cada monte terá verbos diferentes e será disposto com a parte escrita para baixo. 3. Os últimos serão os primeiros: pegarão um cartão, lerão o verbo e cochicharão as três formas verbais correspondentes para os próximos à sua frente. Estes podem questionar a informação que receberam antes de passarem-na adiante, mas ao discutir estarão perdendo tempo, pois tal e qual uma corrida de revezamento, um aluno tem de passar adiante a sua informação o mais rápido possível, até que o primeiro do seu grupo, que está com a caneta, possa escrevê-la no painel. Quando isso ocorrer, esta pessoa deverá passar a canetinha para o colega atrás de si, ir rapidamente para o fim da fila, pegar um cartão e reiniciar o “passe adiante”. 4. Quando o primeiro grupo tiver terminado seus cartões, encerra-se a correria: cada equipe deverá passar o seu painel para um outro grupo para que o revise e aponte possíveis erros. O ideal é que cada painel passe pelos três grupos: o que o fez e os outros dois que o corrigirão. Dessa maneira, dificilmente um erro passará despercebido. Mesmo assim, depois que todos estiverem novamente sentados, comente sobre os verbos que pareceram gerar mais problemas e, naturalmente, mencione o grupo mais rápido e aquele que menos erros fez. (Se é verdade que a pressa é inimiga da perfeição, dificilmente será o mesmo...) (AMORIM; MAGALHÃES, 2003, p. 149). A análise desse jogo permite dizer que seu caráter de revezamento desperta emoção por meio da ação motora de correr, da prontidão para saber os verbos e socializá-los com os demais colegas. Assim, parece ser uma atividade bastante motivadora. A utilização de atividades iguais ou similares podem ser o que se busca para conseguir a motivação dos alunos. Assim, as salas de aulas podem se transformar em locais de prazer, emoção e aprendizagem. O que se percebe, entretanto, é que os professores que não forem linguisticamente capacitados, ou não entenderem que é necessário investir financeiramente nessa causa, continuarão culpando os alunos por não aprenderem a Língua Inglesa ou a Língua Portuguesa em suas aulas muitas vezes maçantes. É importante salientar que a brincadeira do bingo serve também para a aprendizagem de vocabulário de Língua Portuguesa; a dos verbos pode ser aplicada com os modos e tempos verbais de Língua Portuguesa, assim como o uso do computador. Além disso, podem-se buscar outros meios de trabalhar conteúdos de Língua Inglesa e Portuguesa para despertar o interesse dos alunos. 81 3 CONCLUSÃO Ao buscar atingir o objetivo deste trabalho que é o de descobrir estratégias de desenvolver aulas que despertem nos alunos a motivação para aprender a Língua Inglesa e Portuguesa, fez-se necessário investigar sobre interesse, motivação, didática, metodologia, planejamento, plano, e atributos de bons professores. Interesse e motivação são sinônimos, apesar de Ausubel (1980) apontar as divergências entre os psicólogos sobre a sua importância para a aprendizagem. Segundo ele, alguns profissionais de psicologia consideram-na essencial, mas não a veem como indispensável, já que há alunos que aprendem independentemente delas. Descobriu-se que a motivação é uma força interna originada por emoções, conduzidas pelos canais visual, auditivo, tátil, olfativo e gustativo, aos neurônios que, então, estabelecem contatos ou sinapses importantes para a aprendizagem. Assim, as desmotivações discentes podem ser consequências de práticas docentes que ignoram essas informações ou que tenham falhas na didática, na metodologia, no planejamento ou nos atributos de bons professores. Viu-se que a didática exerce a função de sistematizar e organizar o ensino e procura estabelecer o vínculo entre teoria e prática; enquanto a metodologia faz o juízo de realidade. Ambas são tão importantes para a ação docente quanto o planejamento e o plano, sendo o primeiro um processo mental que envolve análise, reflexão e previsão, e o segundo o resultado do primeiro. Concluiu-se que os planejamentos e planos devem ser cuidadosamente pensados, considerando os interesses dos alunos e as bases que possuem para sustentar as novas informações. Eles devem ser preferencialmente escritos para que se evite a improvisação e se cumpra uma etapa para motivar os alunos. No que concerne aos atributos de bons professores, constatou-se que eles se apoiam em três exigências: a que considera importante a saúde física, psicológica e moral do docente; a que fala de sua formação, que deve ser sólida e humanística; e, por fim, a que tem a ver com um profissional consciente de sua importância e da de seus pares na preservação e qualidade de vida neste planeta. Depreende-se, então, que o professor ideal deverá ser saudável, competente não apenas em sua disciplina, didática e metodologia, mas no que preconizam a psicologia, a filosofia, a ética, a moral e a ecologia. Ou seja, alguém tecnicamente competente, que se cuida, respeita o próximo e o planeta onde vive. Por fim, ao se buscar sugestões de atividades motivadoras, atingiu-se o objetivo principal deste trabalho: há gente, no Brasil, como Amorim e Magalhães, que já pensaram e sistematizaram exemplos de atividades que podem revelar-se bastante motivadoras. Considera-se essencial que os professores busquem desenvolver suas próprias criatividades e desenvolvam atividades similares, pois, em face de todo o estudo, 82 conclui-se que a sua não utilização perpetuará o equívoco de que a culpa do desinteresse ou desmotivação durante as aulas de inglês e de português seja, antes de tudo, do aluno. 4 REFERÊNCIAS 1. AMORIM, Vanessa; MAGALHÃES, Vivian. Cem aulas sem tédio. 9. ed. Porto Alegre: Instituto Padre Réus, 2003. 2. AUSUBEL, David P. Psicologia educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericano, 1980. 3. CASTORINA, José Antônio et al. Piaget-Vigotsky: novas contribuições para o debate. 6. ed. São Paulo: Ática, 2001. 4. GENTILE, Paula. É assim que se aprende. Revista Nova Escola. 179 ed. São Paulo: Abril. jan/fev. 2005. 5. GRÜNEWALD, Norma Astréa Nunes. Entrevista em 06 de junho de 2006, durante a elaboração do presente trabalho. 6. HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. 7. ed. São Paulo: Ática, 2002. 7. PILLETE, Claudino. Didática geral. 23. ed. São Paulo: Ática, 2006. 8. TEXEIRA, Carlos E. J. A ludicidade na escola. São Paulo: Loyola, 1995. 9. TIBA, Içami. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempo de globalização. São Paulo: Gente, 1998. 10. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. A prática pedagógica do professor de didática. 6. ed. São Paulo: Papirus, 2001. 11. VERNON, M. D. Motivação humana. Tradução de Luiz Carlos Luchetti. Petrópolis: Vozes, 1971. 83 ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO – UM DIFERENCIAL COMPETITIVO Krisley Ferrareze Conceição19 RESUMO A Estratégia de produção tornou-se um importante diferencial competitivo diante dos grandes desafios impostos pelo mercado. As empresas precisam buscar continuamente estratégias para ganhar destaque. Torna-se necessário produzir mais com cada vez menos recursos financeiros, numa busca frequente de atingir desempenho sempre superior em várias dimensões, como o baixo custo, alta qualidade, velocidade e flexibilidade. O sistema de produção escolhido pela empresa é extremamente importante para que ela se posicione no mercado de acordo com seus objetivos. A implantação do JIT (Just-in-time) também pode ser ferramenta para alavancar melhorias dentro da empresa, se implantado de forma consciente produzindo somente o essencial, na quantidade necessária, e quando for preciso atendendo a justo tempo seus clientes. A utilização de ferramentas eficazes de controle de produção, materiais e estoques como o Sistema Kanban podem ajudar a empresa nesse processo de diferenciação no mercado. Portanto, as escolhas da empresa sobre o que fazer e o que não fazer constitui a essência de sua estratégia. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como as empresas podem buscam um diferencial competitivo diante dos seus concorrentes na forma que conduzem o seu processo produtivo. Neste estudo foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas, se utilizou o Estudo de Caso e fontes primárias e secundárias. Conclui-se que não importa se a empresa produz produtos ou serviços, As técnicas e sistemas de produção são válidas para todo tipo de empresa. Porém é preciso ter conhecimento e habilidade para escolher o melhor sistema que se identifique com cada empresa e adaptá-lo para as suas necessidades. Palavras-chave: Sistemas de Produção. JIT. Sistema Kanban. ABSTRACT: Strategy production has become an important competitive advantage in the face of challenges posed by the market. Companies must continually seek strategies to gain prominence. It is necessary to produce more with fewer financial resources in a common quest to achieve ever higher performance in various dimensions such as low cost, high quality, speed and flexibility. The production system chosen by the company is extremely important for it to be positioned in the market according to your goals. The implementation of JIT (Just-in-time) can also be a tool to leverage improvements within the company deployed consciously producing only what is needed, in the quantity 19 Graduada em Administração de Empresas com ênfase em Comércio Exterior pela UNIVEN, Pós Graduanda em Administração pela UNIVEN 84 needed, and when necessary given fair time customers. The use of effective tools for production control, materials and inventory as the Kanban System can help the company in the process of differentiation in the market. Therefore, the choices of the company on what to do and what not to do is the essence of your strategy. The present work aims to demonstrate how companies can seek a competitive edge on their competitors in order to drive the production process. This study developed literature searches, we used the Case Study and primary sources and secundárias. Conclui that no matter if the company produces products or services techniques and production systems are valid for all types of companies. But one must have knowledge and ability to choose the best system that identifies with each company and adapt it to your needs. Keywords: Production Systems. JIT. Kanban system. 1 INTRODUÇÃO Os sistemas de produção muito têm se desenvolvido e ocupado caráter fundamental na vida das empresas, pois quando aplicados de maneira favorável podem possibilitar melhorias no processo produtivo bem como promover crescimento contínuo.“Para atingir seus objetivos, os sistemas produtivos devem exercer uma série de funções operacionais, desempenhadas por pessoas, que vão desde o projeto dos produtos, até o controle dos estoques, recrutamento e treinamento de funcionários, aplicação dos recursos financeiros, distribuição dos produtos etc.” (TUBINO 2000, p.17). Nesse sentido, o presente trabalho pretende demonstrar a importância das empresas se conhecerem e terem acesso a prática de ferramentas que possam possibilitar melhorias no seu processo produtivo bem como saber aplicá-las para promover diferencial competitivo diante dos seus correntes na forma que conduzem os seus processos produtivos e para tecer algumas considerações finais na última parte. Neste estudo foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas, utilizando como objeto de análise para fundamentação do tema, informações em livros, revistas, periódicos e artigos. Também se utilizou o Estudo de Caso, pois o tema proposto consistiu-se em estudar profundamente as estratégias de produção como um diferencial competitivo. Buscando em fontes primárias e secundárias atender os objetivos propostos. Na primeira parte do trabalho serão apresentados alguns sistemas de produção, o JIT, o Sistema Kanban, o Planejamento e Controle da produção e, sobretudo como essas ferramentas devem ser aplicadas na empresa considerando suas características, o tipo de produção, o tamanho, os objetivos entre outros. Slack (1997) diz que é a produção que coloca em prática as estratégias das empresas, pois você não pode tocar uma estratégia; não pode visualizá-la; mas você pode ver como a produção se comporta na prática. Em seguida será feita uma avaliação sobre os impactos que a utilização de ferramentas e sistemas de produção traz pra incrementar as estratégias das empresas sendo um diferencial competitivo e na última parte apresenta as considerações finais. 85 2 REFERENCIAL TEÓRICO Serão apresentados alguns conceitos embasados na argumentação de diversos autores que servirão de fundamento para a análise do tema, ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO – um diferencial competitivo, proposto neste trabalho. De acordo com Tubino (1999, p. 18), “A função Produção consiste em adicionar valor aos bens ou serviços durante o processo de transformação”. O processo produtivo consiste em transformar insumos em produtos ou serviços para a comercialização destes pela empresas. Sendo assim a função de Produção é o centro dos sistemas produtivos, mas não é necessariamente a mais importante. Apesar de todas as outras funções como o marketing, contábilfinanceira, desenvolvimento de produtos ou serviços, as funções de apoio, entre outras precisarem estar ligadas à função produção, não quer dizer que a organização depende mais dela do que das outras funções. O que deve haver para que a organização tenha êxito tanto na função produção como nas demais funções é a interação sincronizada entre todas as atividades. Para garantir que essas funções trabalhem em perfeita harmonia, é necessário fazer um planejamento prévio de como ocorrerão todas as atividades realizadas na empresa, afim de que todos os objetivos propostos pela organização sejam alcançados, propiciando para que todos os esforços praticados pelas funções alcancem resultados favoráveis para a empresa. De acordo com o Russomano (2000, p. 49), “O Planejamento e Controle da Produção é função de apoio de coordenação das várias atividades de acordo com os planos de produção, de modo que os programas preestabelecidos possam ser atendidos nos prazos e quantidades. ” Sendo assim é necessário a elaboração de um Plano de Produção que irá controlar as atividades e decidir como empregar da melhor maneira os recursos de produção e assegurar que a execução dos objetivos propostos seja cumprida em tempo, quantidade e recursos corretos. É o Plano de Produção que irá integrar dados de diversas áreas e transformá-los em informações que dêem base para que o processo produtivo trabalhe ordenadamente com as demais funções e gere resultados satisfatórios para a empresa. “O Sistema de Planejamento e Controle da Produção se ocupa do planejamento e controle de todos os aspectos da produção, inclusive do gerenciamento de materiais, da programação de máquinas e pessoas e da coordenação de fornecedores e clienteschave.” (VOLLMANN ET all, 2006, p. 25). Diante das constantes mutações do mercado no contexto atual faz-se necessário estar bem atento ao Planejamento e Controle da Produção visto que as atividades mudam ao longo do tempo e precisam adaptar-se incessantemente afim de sempre responder rapidamente as mudanças no ambiente da empresa, ou às exigências dos clientes, ou à novas oportunidades ou até a problemas específicos da organização.Portanto não há um único modelo de Planejamento e Controle da Produção a ser seguido e muito menos um modelo que se aplique para todos os tipos de empresa. O Planejamento e Controle da Produção devem ser construídos de acordo com as características da empresa, o tipo de produção, o tamanho, os objetivos entre outros buscando maximizar com ele vantagens diante do mercado para a organização. 86 2.1 SISTEMAS DE PRODUÇÃO De acordo com Chiavenato (2005), cada empresa adota um sistema de produção para realizar as suas operações e produzir seus produtos ou serviços da melhor maneira possível e, com isso, garantir sua eficiência e eficácia. O sistema de produção é a maneira pela qual a empresa organiza seus órgãos e realiza suas operações de produção, adotando uma interdependência lógica entre todas as etapas do processo produtivo, desde o momento em que os materiais e matérias-primas saem do almoxarifado até chegar ao depósito como produto acabado. Na realidade, para que isso aconteça, as entradas e os insumos que vêm dos fornecedores ingressam na empresa por meio do almoxarifado de materiais e matériasprimas, sendo ali estocados até a sua eventual utilização pela produção. A produção processa e transforma os materiais e matérias-primas em produtos acabados para serem estocados no depósito até a sua entrega aos clientes e consumidores. A interdenpendência entre o almoxarifado, a produção e o depósito é muito grande: qualquer alteração em um deles provoca influências sobre os demais, como se fossem vasos comunicantes. Eles são os três subsistemas do sistema de produção intimamente inter-relacionados e interdependentes. Basicamente, os três subsistemas do sistema de produção - o almoxarifado, a produção e o depósito - devem trabalhar de maneira coordenada, balanceados e ajustados entre si. Existem três tipos de sistemas de produção: a produção sob encomenda, a produção em lotes e a produção contínua. Figura 1- Esquema de um Sistema de Produção Fonte: Slack (2009) 2 2 SISTEMA DE PRODUÇÃO SOB ENCOMENDA Tubino (2009, p.12), Afirma que...”Sistemas sob Encomenda, tem como finalidade a montagem de um sistema produtivo voltado para o atendimento de necessidades específicas dos clientes, com demandas baixas, tendendo para a unidade.” Slack (2009) acrescenta que com muita frequência, o período de tempo para fazer o produto ou serviço é relativamente longo, como é o intervalo entre a conclusão de cada produto ou serviço. 87 2. 3 SISTEMA DE PRODUÇÃO EM LOTES Tubino (2009) ...”sistemas de produção em lotes caracterizam pela produção de um volume médio de bens e serviços padronizados em lotes, sendo que cada lote segue uma série de operações que necessita ser programada à medida que as operações anteriores forem sendo realizadas.” Como o nome indica, cada vez que um processo em lotes produz um produto, é produzido mais do que uma unidade. Dessa forma, cada parte da operação tem períodos em que se está repetindo, pelo menos enquanto o “lote” ou a “batelada” está sendo processada. (SLACK, 2009, p. 94) 2.4 SISTEMA DE PRODUÇÃO CONTÍNUA Os sistemas de produção contínuos são empregados quando existe alta uniformidade na produção e demanda de bens ou serviços, fazendo com que os produtos e os processos produtivos sejam totalmente interdependentes, favorecendo a sua automatização. (TUBINO, 2009, p. 97). Slack (2009), Processos contínuos muitas vezes estão associado a tecnologias relativamente inflexíveis, de capital intenso com fluxo altamente previsível. Exemplos de processos contínuos são as refinarias petroquímicas, centrais elétricas, siderúrgicas e algumas fábricas de papéis. Vê-se que existem vários sistemas produtivos, cada empresa vai adotar o seu sistema de acordo com o grau de padronização dos produtos, o tipo de operações necessárias e a natureza do produto. A partir daí a empresa pode estabelecer seus objetivos de produção e planejar seus procedimentos para garantir a eficiência e eficácia dos bens ou serviços por ela produzidos. De acordo com Tubino (2000), para atingir seus objetivos os sistemas produtivos precisam exercer funções operacionais que vão desde o projeto de produtos até a distribuição dos produtos passando por uma série de outras funções. Entretanto o sucesso de um sistema produtivo depende principalmente da boa relação entre as funções básicas: Finanças, Produção e Marketing. 88 Figura 2-Funções básicas de um sistema de produção. Fonte: Tubino (2000) 2.8 CONCEITOS ESTRATÉGICOS DE PRODUÇÃO JIT A filosofia JIT surgiu na década de 60 no Japão, foi aplicada inicialmente em particular na Toyota Motors Company. Nos anos 80, com o avanço da economia japonesa e o reconhecimento do Japão como padrão de excelência, a filosofia JIT passou a receber maior atenção e ganhou o mundo ocidental com glória.(TUBINO 2000). O sistema Just in time, proporciona uma maior redução de custo, pois não necessita de tanto investimento em imobilizado e participação de muitos empregados envolvidos no processo e consequentemente gera aumento de receita. Uma das grandes vantagens do JIT além da melhoria da rentabilidade é poder gerar um atendimento de acordo com a demanda do cliente, seguindo as suas necessidades, com menor investimento em recursos. Isso é conseguido através de aplicação de alguns preceitos tais como preparo rápido de máquinas, disposição física de máquinas, redução de estoques, círculos de controle de qualidade, lotes de produção pequenos, qualidade absoluta, produção “puxada” ao invés da produção “empurrada”, manutenção preventiva e outros. Tubino (2000) diz que, empurrar a produção significa elaborar periodicamente, para atender um programa de produção completo, deste à compra da matéria-prima até a montagem do produto acabado, e transmiti-los aos setores responsáveis através da emissão de ordem de compra, fabricação e montagem. “Puxar a produção significa não produzir até que o cliente (interno ou externo) de seu processo solicite a produção de determinado item” (TUBINO, 2000, p. 105). O JIT por incluir aspectos de toda a administração que inclui projeto do produto, engenharia de métodos, gestão de materiais, controle da qualidade e gestão de recursos humanos. 89 Embora o JIT venha encontrando grande sucesso na produção de automóveis, motocicletas, aparelhos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, dentre outros, não há impedimentos para aplicá-lo, desde que com adaptações necessárias, sejam também utilizadas em outros tipos de empresas. Inclusive parte de sua filosofia pode ser aplicada também na prestação de serviços. Portanto, falar em JIT significa produzir bens e serviços não antes para que não se transforme em estoques, e nem depois para que os clientes não precisem esperar, mas sim no momento exato. Significa satisfazer às necessidades dos clientes; eliminar desperdícios; melhorar continuamente; envolver totalmente as pessoas e a organização e visibilidade. Para que a implementação do JIT seja alcançada com sucesso, reduzindo o custo de manufatura e melhorando a produtividade bem como tornar a produção mais flexível pela redução dos leads times, outras ferramentas como o sistema Kanban precisam ser implementados. 2.9 SISTEMA KANBAN Para Tubino (2000) o Kanban significa um cartão ou outro sistema de sinalização como luzes ou caixas vazias que sinaliza e controla os fluxos de produção, compras e estoques na empresa, uma metodologia econômica e muito eficiente. Desenvolvido na década de 60 pelos engenheiros da Toyota Motors Cia, com o objetivo de tornar as atividade do sistema produtivo. Segundo Ohno (1996, p. 201), os dois tipos de pilares do “Sistema Toyota de Produção”são o Just in Time e a automação com toque humano, ou autonomação. A ferramenta empregada para operar o sistema é o Kanban. Os Kanbans transitam entre os setores de armazenagens e produção dos produtos substituindo formulários e outras formas de solicitar peças, permitindo que a produção se realize Just in Time. O Sistema Kanban permite que a entrega da produção possa ser rápida, ele opera através do sistema de “puxar” a produção e através dele que o cliente que conduz a produção da empresa.O Kanban diminui estoques, regulariza o fluxo, o controle e as faltas de materiais, diminuindo os custos da empresa. O sistema Kanban foi inspirado pelo sistema de reposição de estoque do supermercado, repondo somente o que foi vendido, reduzindo assim os estoques, o que é a sua principal característica. 90 Figura 3- Sistema Kanban Fonte : Adaptado aos conceitos de Ohno (1996). Figura 4- Cartão kanban de produção. Fonte: Tubino (2009) 3 ESTUDO DE CASO A Pavão Comércio de Móveis localizada na Rua XV de Novembro, Centro, Vila Pavão – ES, CEP 29843-000. A Móveis Pavão atua há 11 anos no município de Vila Pavão com a venda de móveis em geral, eletrodomésticos e colchões além de artigos para decoração.Atualmente conta com uma equipe de 7 funcionários além de 2 gestores da empresa. A entrega fica a cargo de uma equipe da própria loja proporcionando rapidez na entrega dos produtos, principal diferencial da empresa. Conforme senso do IBGE (2007), Vila Pavão, com 19 anos de emancipação, situa-se na Macrorregião Noroeste e microrregião Noroeste II do Estado do Espírito Santo, possui 15 comunidades e é dividido em três regiões e o município possui 8.705 habitantes. Os principais fornecedores da Pavão Comércio de Móveis estão localizados no Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Por estar localizada bem no interior do Estado, a empresa encontra dificuldades de receber mercadorias e em virtude disso precisa ter um bom relacionamento com os fornecedores comprometidos com prazos e bom 91 gerenciamento e controle do processo de compras até a entrega das mercadorias à casa dos clientes. O Sistema de Produção geralmente utilizado pelos fornecedores da Pavão Comércio de Móveis é o sistema de produção em lotes, por se tratar de uma produção previamente mensurada para atender um determinado volume de vendas previsto para um determinado período de tempo. 3.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS Pode ser observado e constato que a Pavão Comércio de Móveis trabalha as funções produção, finanças e marketing de forma harmoniosa o que tem gerado bom andamento das atividades na empresa. A empresa possui Planejamento Estratégico construído de acordo com suas características, o que facilita a flexibilidade de suas atividades para movimentação de acordo com as necessidades surgidas. A empresa obedece aos conceitos e técnicas da filosofia JIT, segundo Tubino (2000), pois o objetivo dela é: Satisfazer as necessidades dos clientes, pois ela entende e responde aos anseios dos seus clientes; Eliminar desperdícios, visto que a empresa analisa as atividades realizadas e elimina aquelas que não agregam valor ao produtivo. Melhorar continuamente, porque a cada dia que passa a empresa consegue ser mais competitiva em seu ramo; Envolver totalmente as pessoas, visto que a empresa conta com Consultoria especializada para dar treinamentos que consigam e envolver toda equipe no compromisso pela participação de todos no crescimento da empresa, pois as pessoas são valiosas e estão em primeiro lugar. Organização e visibilidade, pois o layout dos setores das empresas são muito bem organizados proporcionando maior visibilidade de forma que qualquer situação anormal seja notada imediatamente. Visto que a maioria de seus fornecedores trabalham com o sistema de lotes a Pavão Comércio de Móveis utiliza o controle do estoque se baseando nos parâmetros dos Sistema Kanban e possui o estoque mínimo para que assim controle seus estoques de acordo com o consumo dos seus clientes e a entrega dos seus fornecedores e não falte produtos para a comercialização. Também possui alguns fornecedores que são atacadistas para entregas mais imediatas caso ocorra algum evento externo fora do planejamento da empresa para que não faltem produtos para venda de maneira alguma e sua entrega possa ser feita rapidamente para seus clientes. A empresa consegue assim utilizar ferramentas e sistemas importantes da produção para incrementar sua Estratégia e se tornar a cada dia mais lucrativa, eficaz, eficiente, e forte perante seus concorrentes, sendo competitiva por se apoiar em bases sólidas da produção para alavancar a qualidade dos seus serviços. 92 4 CONCLUSÃO Verificou-se neste estudo que não importa se a empresa produz produtos ou serviços. As técnicas e sistemas de produção são válidas para todo tipo de empresa. Porém é preciso ter conhecimento e habilidade para escolher o melhor sistema que se identifique com a empresa e adaptá-lo para as suas necessidades, assim a empresa terá maiores chances de ter um bom desempenho com a implantação do sistema e consequentemente obter melhores resultados. É de extrema importância para o sucesso produtivo que não só os sistemas de produção sejam aperfeiçoados, mas que as pessoas possam incorporar as boas práticas. É necessário que haja uma transformação organizacional para estimular a melhoria contínua tanto dos sistemas e técnicas de produção como das pessoas que fazem parte da empresa. Portanto, fica evidenciado neste estudo que muitas empresas obtêm vantagens competitivas por conhecerem as técnicas de produção e sobretudo por saberem analisar a sua empresa e aplicar o melhor sistema de acordo com o tipo de produção, de tamanho da empresa, a espécie de produtos etc.,e conseguem envolver de maneira geral todas as pessoas que dela fazem parte nesse processo contínuo de melhoria 5 REFERÊNCIAS 1. ANDRADE, Maria Margarida de; Introdução à metodologia do trabalho cientifico. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2001. 2. CHIAVENATO, Idalberto. Administração da produção. Ed. Campus, 2005. 3. MACEDO, Mariano de Matos. Gestão da produtividade nas empresas. Disponível em:<http://www.fae.edu/intelligentia/artigos/lerArtigo.asp?lngIdArtigo=1215&lngI dAre a=179>. Setembro de 2002. Acesso em: 24 jun 2010. 4. ONHO, T. O sistema toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. 5. RUSSOMANO, Victor Henrique. PCP: planejamento e controle da produção. 6.ed. Rev. São Paulo: Pioneira, 2000. 6. SLACK, Nigel; et al. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1997. 7. TUBINO, Dalvio Ferrari. Sistemas de produção: a produtividade no chão de fábrica. Porto Alegre: Bookman, 1999. 8. ______. Manual de planejamento e controle da produção. São Paulo: Atlas, 2000. 93 9. VOLLMANN, Thomas E. Sistemas de planejamento e controle da produção para gerenciamento da cadeia de suprimentos/tradução Sandra de Oliveira. - 5. ed. – Porto Alegre: Bookman, 2006. 648 p.: Il. P&b; 10. WIKIPÉDIA, A Enciclopédia livre. 11. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrat%C3%A9gia>.Acesso em: 15 jun 2010. 12. WIKIPÉDIA, A Enciclopédia livre; dados básicos sobre Vila Pavão. disponível em: < http://pt.wikipedia.org/Vila Pavão >. Acesso em: 02 jul 2010 94 O VALOR E OS VALORES DA EDUCAÇÃO Rosana de Fátima Izidoro Duarte20 RESUMO O artigo aborda um tema muito amplo, “o valor e os valores da educação” mas de forma bem simplificada, pois, ao falar de valor nem sequer conseguimos encontrar um número finito de sinónimos, e também é valido dizer que com o passar dos tempos, seu conceito é reformulado aumentando, diminuindo ou alterando seu significado. Trilhamos um caminho onde partilhamos a ideia de que não há “educação” desvinculada de” valor” assim como não há “valor” sem o envolvimento e comprometimento da educação. No entanto, defendemos que escola e a família devem ser parceiras indissociáveis neste processo uma vez que a educação assim como na escola, também acontece fora dela. Palavras-chave: Valor. Educação. Família. Escola. Professor. ABSTRACT The article covers a very broad topic, "the value and values of education" but in a much simplified because, in speaking of value cannot even find a finite number of synonyms, and is also valid to say that with the passage of time its concept is reformulated increasing, decreasing or changing its meaning. Tread a path where we share the idea that there is no "education" unlinked "value" as there is no "value" without the involvement and commitment of education. However, we argue that school and family should be inseparable partners in this process as well as education in school, it also happens elsewhere. Keywords: Value. Education. Family. School. Teacher. 1 INTRODUÇÃO Cortella (2000, p. 45), afirma que: “A preocupação com os valores é tão antiga como a humanidade, só a partir do século XIX surge como disciplina escolar. Axiologia ou teoria dos valores, que se ocupa das relações que se estabelecem entre as coisas, seres vivos ou mesmo ideias e a pessoa que os aprecia”. Quando nos deparamos com situações em que envolvem “valores”, logo nos reportamos à educação como sendo a base deste fundamento. Tal educação não limita-se àquela aprendida nos bancos escolares, ela vai além, pois nossas aprendizagens acontecem dentro e fora da escola. Como nos diz Savater (2010), “O homem torna-se homem através da aprendizagem (p.13). 20 Licenciada em Pedagogia - habilitação: Supervisão escolar para Ensino Fundamental e Médio. Pósgraduada em Supervisão escolar. Pós-graduada em Pedagogia Empresarial 95 Defendemos que a família, a escola e a sociedade são as responsáveis pela aprendizagem, em especial, a aprendizagem de valores, que acompanharão os sujeitos em sua trajetória de vida. Que valores enfatizamos? Educação? Respeito? Moral? Ética? Cidadania? Na verdade todos os valores que podem ser transferidos na formação dos seres como ser individual e coletivo. Acreditamos que um ser sem valores é como um saco vazio, uma folha em branco, onde tudo e qualquer coisa possa ser embutido, de forma a não fazer diferença em sua vida, e o pior, acarretar em coisas ruins, pensamentos e ações banais, para si e para/com os outros a sua volta. Como primeiro passo, apresentamos a importância da transmissão de valores, em seguida, buscamos alguns dos significados que a palavra “valor” pode apresentar, na sequência refletimos sobre a quem compete a transmissão de valores e por fim, como sabemos se os valores aprendidos estão sendo colocados em prática. Falar de valor, nesta era em que vivemos desperta-nos para uma discussão necessária acerca dos mais diversos comportamentos vivenciados ou desejados em nosso dia-a-dia que por vezes nos levam ao seguinte questionamento: De que forma os valores contribuem para uma vida melhor? Os valores nos conduzem a atos justos, do bem, da justiça, da verdade, entre outros, e sua transmissão torna-se tão necessária hoje como foi em tempos passados, onde nem que fosse por imposição, os valores eram exercidos como sinônimos de respeito, educação, cultura, ética, moral, cidadania e todos os demais termos ligados a uma postura correcta diante da sociedade, do meio ambiente e principalmente, diante de si mesmo. Atribuímos à escola, um papel importantíssimo na transmissão de valores, pois sendo esta uma responsável pela formação de seres pensantes, que esses seres sejam dotados de valores éticos, morais e sociais entre outros. Como afirma Reimão (2011, p. 374) Os valores estão intimamente ligados à existência e actividade humanas, pois estas só alcançam sentido através dos valores, só os valores dão sentido à vida do homem, no seu fundamento e no seu processo; são características da acção humana, enquanto esta pressupõe determinadas escolhas no conjunto dos dilemas que marcam a vida do homem; são paradigmas mentais que, convertidos em critérios de juízo, configuram a expressão do bem. Faremos então uma analogia ao pensamento de Reimão, conforme citado acima, e nos deteremos em alguns pontos: primeiramente, quando diz que “só os valores dão sentido à vida do homem”. Em consenso com esta afirmativa, partilharemos outras questões: O que são valores? A quem compete a transmissão dos valores? Como eles devem ser transmitidos e ainda, como sabemos se estão sendo colocados em prática? Algumas considerações se fazem necessárias. 2 O QUE SÃO VALORES Entre as diversas leituras que fizemos, na busca de um significado para a palavra “valor”, recorremos ao artigo Goergen (2005), que de início, diz-nos que não há um só, 96 mas muitos sentidos para o termo valor, apropriando-se de André Lalande (1999) que no seu Vocabulário técnico e crítico da Filosofia. a) característica das coisas que consiste em serem elas mais ou menos estimadas ou desejadas por um sujeito ou, mais comumente, por um grupo de sujeitos determinados. Este é um significado subjetivo. b) Característica das coisas que consiste em merecerem elas maior ou menor estima. Este é um significado objetivo. c) Característica das coisas que consiste em elas satisfazerem um certo fim. Trata-se do caráter objetivo/hipotético. d) Característica de coisas que consiste no fato de, em determinado grupo social e em determinado momento, serem trocadas por uma quantidade determinada de uma mercadoria tomada como unidade. e) Preço que se estima do ponto de vista normativo deva ser pago por um determinado objeto ou serviço (justo valor). f) A significação não só literal, mas efetiva e implícita que possuem uma palavra ou expressão (Lalande, 1999, verbete ‘valores’). Desde a antiguidade este termo é utilizado e seu significado tem sido reformulado a cada entendimento que o ser humano passa a ter das coisas ou situações que o cercam. Diante da apresentação, consideramos valor como um sentimento que se manifesta de forma explícita em cada atitude, ação ou pensamento que desenvolvemos em nossa vida nas mais diversas situações. Sentimento este que nos leva ao desencadeamento de atitudes concretas face a situações que julgamos serem corretas ou desejadas com a finalidade de justiça, respeito, ética, moral ou de cidadania. 3 A QUEM COMPETE A TRANSMISSÃO DOS VALORES? Entre as diversas ambiências humanas a escola tem sido escolhida pelo estado e pela família para ser propagadora do ensino e formação das pessoas. Sendo assim, cabe a ela, o dever de transmitir aos indivíduos de forma axiológica a questão em causa “valores”. A escola por sua vez, também tem um papel fundamental na elaboração e execução dos conteúdos a aplicarem de forma a garantir o desenvolvimento de uma prática persuasiva na formação dos educandos no que diz respeito aos valores, pois consideramos que o conteúdo da educação só poderá considerar-se educativo se confirmando de forma conducente a algo desejável como aqui já colocamos, a formação de valores. Esse trabalho se faz muito intimamente com os professores por terem acesso direto com os alunos ao mundo do conhecimento e cabe a eles, de forma eloquente trabalhar os diversos sentidos da palavra valor levando seus alunos a prática como forma de aprendizagem. 97 Reportemo-nos a Sathya Sai Baba, educador indiano, cuja compaixão, sabedoria e generosidade produziam mudanças de caráter e conduta em seus seguidores. Tendo como base princípios de valores, fundou um grande número de escolas em todo o mundo, que tinham em seus projetos pedagógicos, como principal primícia, a transformação do indivíduo através de práticas de valores humanos. Aplicavam o Programa de Educação em Valores Humanos que propõe o resgate da condição humana a partir da escola. Segundo Sai Baba (1999) “Todo educador, desde tempos imemoriais, tem enfatizado que a verdadeira educação deve conduzir à construção do carácter do estudante. Em verdade, declara-se que “o fim da educação é o carácter”. A palavra “carácter” tem sido definida de várias formas, por vários especialistas, filósofos, educadores, etc. Entretanto, Sai Baba (1999), define carácter, em relação a educação, como sendo “unidade entre pensamento, palavra e acção”. Não pode haver dúvida, então, de que o fim do processo educativo deve ser a “integração do homem”. Este fato infelizmente, vem sendo ignorado pelos planeadores educacionais. O resultado é o mundo a beira da total desintegração.” (p.3). "Educação sem carácter é como uma fruta sem suco ou como uma vaca que não fornece leite", explica Sai Baba. "É por esta razão que o professor só pode ensinar após colocar em prática seus ensinamentos. Assim ele estará estabelecendo um ideal para o mundo. Um professor pode ensinar bem, pode mostrar métodos fáceis, mas se sua conduta não estiver de acordo com o que ele diz, ninguém o seguirá, ninguém se importará com ele. (...)” Para desempenhar seu verdadeiro papel, todo educador deve acreditar no que ensina, na capacidade e no desejo de aprender de seus educandos, levando-os a descoberta de todo potencial que possuem, levando-os a acreditar que podem e devem fazer diferença no mundo, que podem ser melhores como seres humanos e principalmente, que coloquem em prática todos os conceitos e modelos que aprenderam nos livros, na escola, na família e que estão voltados para o bem de si próprio e do outro. Sai Baba (1999), também nos chama atenção em relação aos pilares responsáveis pela formação de valores a serem colocados em prática no dia-a-dia na vida dos seres quando nos diz que: “O pai, mãe e o professor são os principais responsáveis pela formação do futuro de um país”. Mais uma vez, vemos a escola, na figura do professor, como responsável na formação de valores. A educação familiar tem um grande contributo para o resultado final de todo e qualquer ser humano. Como diz Savater (2010, p. 21): por isso que aquilo que se aprende no interior da família possui uma força persuasiva, indelével, que, nos casos favoráveis, leva ao acrisolamento de princípios moralmente estimáveis que resistirão mais tarde às tempestades da vida, mas que nos casos desfavoráveis, faz com que se enraízem preconceitos que posteriormente se revelarão quase inextirpáveis ( p. 21). 98 São os princípios morais aprendidos ou não na família que serão trabalhados na escola e pela escola, de forma coletiva, onde resultarão em atitudes e reflexões que contribuirão para a formação de caráter em cada ser envolvido. 4 COMO SABER SE OS VALORES ADQUIRIDOS ESTÃO SENDO COLOCADOS EM PRÁTICA? Citaremos um exemplo muito prático: ao voltar da faculdade, há dias atrás, deparamonos com um lindo jovem na estação do comboio, aparentemente vindo da escola (pois trazia consigo uma mochila e uns livros) e ao entrar no comboio ocupou três cadeiras: numa sentou-se, noutra colocou seus pés e numa terceira, “jogou” seu material de escola e ainda para completar, tirou os ténis (talvez pensasse que os pés descalços sobre a cadeira, fosse menos ofensivo ou não agredisse ao respeito). Então ao olhar aquela situação, perguntamo-nos: onde está a falha, na família, na escola, no professor, nos livros, ou será que no sistema? Ou ainda, o que esse jovem entendeu sobre os valores que com certeza lhe foram transmitidos? Não sabemos se conseguimos encontrar aqui respostas para essas perguntas mas defendemos que é certo que o trabalho do professor tem sido de suma importância na formação de conceitos que contribuem de forma axiomática na formação de cada um de seus educandos no entanto, cabe ressaltar a participação da família que é ou deveria ser o berço de cada ser antes e durante sua inserção na entidade educacional da qual ficará grande parte de sua vida. Muitos estudiosos hoje, como no passado, buscam entender e explicar os diversos comportamentos do ser em sociedade, suas respostas aos conceitos e práticas vividas, o respeito, a ética, a moral entre muitos outros valores. O sentido das coisas é a sua referência ao mundo dos valores que assim se inserem na história e são realizados pelos homens. Esta posição, seguida por muitos filósofos, reconhece, de um lado, que o valor está presente ao homem e suas atividades na forma de um dever ser e, por outro, supõe que seja independente e indiferente ao mundo humano. Nesse sentido, o valor é uno, universal e eterno, em contraposição à multiplicidade, particularidade e mutabilidade das manifestações concretas das quais deveriam ser a regra. Competência moral só alcança aquele que aprende, por meio de esforço próprio, a agir com responsabilidade e não aquele que aprendeu fórmulas teóricas sem relevância prática. O ser humano não é um ser moral por natureza, mas precisa ser educado para a moralidade. A educação ocupa um lugar de destaque porque pretende dar uma orientação e um sentido ao ser humano como um todo; ela, de certo modo, perpassa transversalmente todas as dimensões da formação humana. Desde um ponto de vista geral, podemos dizer que a educação busca formar um ser humano capaz de lidar com o meio e com os outros seres humanos. É a aquisição das disposições necessárias para a adaptação do ser humano ao meio no qual as pessoas devem viver. Se tradicionalmente esta adaptação tinha um caráter fixo, 99 hoje, por conta da realidade em permanente mudança, é uma adaptação sempre inacabada. Em relação ao comportamento moral, este não se esgota na decisão de como viver individualmente e no contexto de uma comunidade, mas de decidir qual a melhor forma de fazê-lo, isto é, quais os valores que devem orientar os comportamentos das pessoas na sua vida particular e social. Sabemos que não existem consensos naturais a respeito dos valores que deveriam orientar o comportamento individual e social das pessoas. Para as situações concretas que exigem decisões morais abre-se sempre a possibilidade de vários caminhos dentre os quais é preciso escolher, tendo em vista o pessoalmente desejável e o socialmente justo. Em muitos casos, surgem conflitos em função de interesses, pontos de vista, convicções políticas, religiosas, ideológicas etc. Pode-se dizer que esta conflitualidade é inerente à própria natureza da moral. Estes conflitos precisam ser trabalhados de modo a se alcançar propostas adequadas para os indivíduos e para a coletividade. Tais propostas se cristalizam na forma de conteúdos morais na cultura que são transmitidos de geração em geração, mas que também estão sujeitos a serem criticados e revistos, na medida em que se revelarem inadequados aos desejos individuais e aos interesses coletivos que se transformam. Sabemos que por ser um ser social, e viver num mundo em constante mudança, os valores, conhecimentos e preconceitos mudam, porque os seres humanos se modificam conforme o avanço das ciências e a repercussão no modo de viver. A história do homem através dos tempos demonstra que valores e conhecimentos não têm existência autónoma, dependem, para realizar-se, de pessoas inteligentes que os elaborem, atribuindo-lhes significados e dando-lhes suporte de manifestação através de uma comunicabilidade inteligível. Á escola, cabe então, por excelência, a missão de ensinar valores no mais completo âmbito da palavra corroborando assim sua missão. 5 CONCLUSÃO Diante da reflexão, entendemos que muito há de se fazer na sociedade em busca do resgate dos valores, que como normas essenciais muito contribuem para uma vida saudável. Os valores humanos precisam ser recuperados e reforçados no indivíduo diariamente e a família deve contribuir cumprindo com o seu papel, aplicando na prática todos os conceitos relacionados a valores humanos de forma a garantir a formação do sujeito. E como afirma Savater (2010, p. 15), A instituição educativa aparece quando o que há para ensinar é um saber científico, não simplesmente empírico e tradicional, como as matemáticas superiores, a astronomia ou a gramática. À medida que as sociedades vão evoluindo culturalmente, os conhecimentos vão-se tornando mais abstratos e complexos, pelo que é difícil ou impossível que qualquer membro do grupo os possua de modo suficiente para poder ensiná-los As escolas precisam buscar soluções que possam contribuir para a mudança do comportamento dos nossos estudantes. Considerando que os valores são norteadores da 100 conduta, da ética e da moral desses estudantes, e que o indivíduo aprende por excelência através de exemplos, neste caso, vividos por seus educadores. Relembramos ser de suma importância a aplicação de um currículo que contemple os valores básicos e fundamentais para a formação dos sujeitos envolvidos. Um outro aspecto relevante em todo o processo educativo, é a disciplina que caberia aqui uma longa discussão, mas vamos ser breves e objetivos nos guiando apenas pela reflexão a luz de Savater (2011) quando nos diz “Será necessário recordar que não é possível qualquer processo educativo sem qualquer coisa de disciplina? É um ponto em que coincidem a experiência dos primitivos ou dos antigos, a dos modernos e a dos contemporâneos, por muito que uns ou outros difiram noutros aspectos”(p.34). Esse pensamento leva-nos a compreensão de que a educação é todo um processo, que de forma sistemática ou não, é responsável pela formação dos sujeitos ao longo dos tempo e afirmamos mais uma vez que os valores que são transmitidos sejam na educação familiar ou na instituição escolar farão toda a diferença na formação do ser humano enquanto indivíduo e enquanto sociedade, refletindo em seu comportamento nas mais diversas situações no meio em que vive. 6 BIBLIOGRAFIA CORTELLA, M. S. A. Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológicos e Políticos. São Paulo: Cortez,, 2000. GOERGEN, P. Educação e Valores no Mundo Contemporâneo. Educação e Sociedade. Campinas, vol. 26, n. 92, p. 983-1011, Especial - Out. Recuperado em 05 de Janeiro de 2011 no sitio http://www.cedes.unicamp.br. 2005. MARTINELLI, M. Conversando Sobre Educação em Valores Humanos. São Paulo: Peirópolis, 1999 REIMÃO, C.M. Ainda Darwin – Evolução, Ética e Direitos Humanos – Acta de Colóquio. Universidade Lusíada Editora, 2011 SAI Baba, Sathy Educação em Valores Humanos – Manual para o Professor. Rio de Janeiro: Centro Sathya Sai de Educação em Valores Humanos, 2001. SAVATER, F.; CASTILLO, R., M.; CRATO, N.; DAMIÃO, H. O Valor de Educar, o Valor de Instruir. Porto. Porto Editora, 2010 101 Mundo Acadêmico Apresentação A revista Mundo Acadêmico publica trabalhos técnicos culturais, científicos e/ou acadêmicos, nas áreas ligadas aos cursos oferecidos de graduação, desde que atenda aos objetivos da Instituição. Admite-se, de preferência, autor pertencente à Faculdade, sem limitar, contudo, as contribuições e intercâmbios externos, julgados pelo Conselho Editorial, de valor para a Revista e, sobretudo, para a sociedade brasileira. 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