CORTIÇA E ARQUITETURA BUENO 253mmx253mm.indd

Transcrição

CORTIÇA E ARQUITETURA BUENO 253mmx253mm.indd
Título livro
Cortiça e Arquitetura
Uma Edição da Euronatura, 2011.
Capa
Fotografia Pavilhão Centro de Portugal ( Coimbra )
Fotógrafo: Jesús García
Autora
Fernanda Chiebao
Revisão de textos
Ana Filipa Beato
Cristiano Jorge Vieira da Costa Pires
Eclair de Fátima Balotari Chiebao
Fábio Balotari Chiebao
Helder Coelho
Hugo Costa
Pedro Lima Gaspar
Conselho consultivo
Gláucio Gonçalves
Ignacio García Pereda
Luís Manuel da Costa Cabral e Gil
Desenho gráfico
Jesús García
Rubén Ulloa
Fotografía
Jesús García
Impressão
Espaço Gráfico. Lda
R. Coronel Luna de Oliveira, nº 6- A/B
1900-167 Lisboa
Depósito legal
ISBN: 978-972-98932-7-8
Centro para o Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentado
A presente obra de investigação resultou-se do apoio e da partilha de informação
e conhecimento de diversas pessoas, que, com responsabilidade, compromisso e
seriedade, tornaram possível a concretização deste projeto.
Primeiramente, estou muito grata à colaboração de toda a equipe da Euronatura
envolvida neste trabalho, especialmente de seu idealizador, o engenheiro Ignacio
García Pereda, e da investigadora e coordenadora de projetos, Stefania Mattarello.
Sou agradecida ao auxílio prestado pelos membros do Conselho Consultivo e
pelos revisores de texto, que, por meio da sua distinção intelectual e dos seus
conhecimentos acadêmicos, contribuíram na retificação e no enriquecimento do
conteúdo deste livro.
Estou também muito grata a todos que contribuíram, tanto direta como indiretamente,
nos processos de levamento de dados históricos referentes às instituições estudadas;
aos habilidosos designers Jesús García e Rubén Ulloa Sánchez, realizadores de um
trabalho digno de grande destaque; aos gabinetes de arquitetura, pela disponibilização
de materiais informativos das obras investigadas, e pelos construtivos comentários
e sugestões para o melhoramento desta obra; e a todos os amigos e colegas que
acompanharam a finalização deste longo e laborioso projeto.
Agradeço aos patrocinadores deste livro pelo apoio seu financeiro, fator essencial para
transformar em realidade o sonho de ter este projeto desenvolvido e concretizado.
Por fim, gostaria de exprimir a minha mais profunda gratidão pelo apoio familiar
incondicional recebido durante os últimos meses de intenso trabalho, dos meus pais
e do meu irmão, que, mesmo à longínqua distância, acompanharam o desfecho desta
obra.
O
presente livro tem o intuito de informar, conscientizar,
Nesse
promover, assim como desmitificar, o uso da cortiça
publicação do livro sobre a Junta Nacional da Cortiça
nas novas e modernas propostas arquitetónicas, destacando
(1936-1972), o segundo volume dessa coleção, lançado
as potencialidades desta matéria-prima como material de
em 2009, cuja efetuação redespertou o interesse no uso
construção. Essa temática é abordada, particularmente,
da cortiça na arquitetura. A Junta Nacional da Cortiça
sob o ponto de vista técnico-informativo, cuja abrangência
- instituição fundada nos primórdios do Estado Novo,
de ação oferece um amplo leque de soluções para o uso
que desempenhou um papel de capital importância no
diversificado da cortiça na arquitetura, como, por exemplo,
gerenciamento da indústria corticeira de Portugal por mais
em revestimentos interno e externo de paredes, tetos e
de 35 anos - criou, nos seus primeiros anos de existência, um
pavimentos, e até mesmo no próprio design de móveis.
laboratório de pesquisas absolutamente pioneiro na Europa
contexto,
é
importante
mencionar
também
a
(Pereda, 2010). A sua prioridade no âmbito da pesquisa
O interesse na cortiça pela Euronatura, Organização Não-
concentrou-se na viabilização e na implementação do uso
Governamental (ONG) de ambiente sem fins lucrativos
da cortiça como material de construção, o que incitou
fundada em 1997, com políticas dirigidas para o direito
um dos seus fundadores, o engenheiro Almeida Garret, a
ambiental
inicia-se
visitar os melhores laboratórios dos Estados Unidos com o
em 2006, o ano em que foi publicado “Joaquim Vieira
propósito de aperfeiçoar as técnicas de manejo da cortiça,
Natividade (1899 - 1968) - Ciência e Política do Sobreiro
e a incentivar o uso deste material na construção de casas
e da Cortiça”. Esta obra biográfica sobre o engenheiro
económicas durante o governo de António de Oliveira
agrónomo e silvicultor Joaquim Vieira Natividade constitui
Salazar.
e
o
desenvolvimento
sustentável,
o primeiro volume da coleção “História, Cultura e Política
Florestal”, da Euronatura.
O terceiro e mais recente volume dessa coleção, intitulado
Mulheres Corticeiras, de Stefania Mattarello, relata as
experiências laborais e pessoais das mulheres do setor
corticeiro, e mostra-nos que o valor e a aplicação da
É importante evidenciar que os primeiros contatos diretos
cortiça vão muito além do uso desta matéria-prima como
com a cortiça usada na construção, realizados durante as
mero isolador de garrafas de vinho.
primeiras visitas aos edifícios investigados, permitiram-me
considerar o seu aspecto físico, a sua integração, aplicação
Este estudo investigativo deu-se nos primeiros meses
e eficácia num contexto pragmático. Tais considerações
de 2010, com a minha chegada à Euronatura através da
serviram-me, indubitavelmente, de estímulo e orientação
participação do programa Leonardo da Vinci, um programa
durante o progresso dos estudos, através dos quais
de estágio internacional promovido pela União Europeia.
procurei ressaltar as potencialidades da cortiça como
O apoio extensivo que recebi do programa mencionado
material de construção.
acima, e, mais tarde, de um projeto de natureza semelhante
do Serviço Voluntariado Europeu (SVE), foi imprescindível
No decorrer da investigação, sucedendo as pesquisas
para a realização do presente trabalho.
bibliográficas, foram realizadas visitas a diversas obras
arquitetónicas em que a cortiça foi usada como material
Para concretizar este projeto, foi selecionada uma equipa
de construção, das quais se destacam as seguintes:
de profissionais que constituem o Conselho Consultivo,
Observatório do Sobreiro e da Cortiça, em Coruche (10
com o objetivo de lograr o maior grau de excelência e
de março de 2010), Convento dos Capuchos, em Sintra
exatidão dos conteúdos publicados. Para tal, tive a honra
(12 de abril de 2010), Eco-cabana, em Cascais (15 de
de contar com o apoio dos engenheiros Luís Manuel da
abril de 2010), Armazém Quinta do Portal, em Sabrosa
2
e Ignacio García Pereda . Ademais,
(21 de abril de 2010), Logadega, em Évora (17 de maio
salientando meu país de origem, o Brasil, foi feito também
de 2010), Colégio Pedro Arrupe, em Lisboa (18 de maio
um convite ao profissional que se ocupa das questões da
de 2010). Além das obras mencionadas, estão ainda
arquitetura sustentável desse mesmo conselho, o arquiteto
presentes neste livro descrições de outras obras; contudo,
Costa Cabral e Gil
3
Gláucio Gonçalves .
por razões associadas à logística do projeto, a análise in
Fotografia Jesús García
1
loco restringiu-se apenas a uma parcela do número total
Durante as sessões de entrevistas, quando perguntados
de edifícios estudados.
sobre o porquê do uso da cortiça como parte do conjunto de
materiais ordinários usados na construção, os arquitetos em
Deve-se notar que, a despeito de estarem incluídas algumas
questão discorreram acerca da necessidade da utilização
obras arquitetónicas realizadas fora de Portugal, como é
de um material natural na arquitetura, que dispusesse de
o caso do Pavilhão de Portugal na Expo de Shangai 2010,
qualidades físicas e químicas particulares, cuja obtenção
projetado pelo arquiteto português Carlos Couto, neste
não contribuísse para a degradação ambiental.
livro, foi dada maior atenção às obras levadas a cabo em
território português. Nesse contexto, considerou-se ainda
A partir das informações e do conhecimento adquiridos
relevante fazer menção de algumas obras que obtiveram
das incessantes leituras, do estudo e da análise in loco
considerável notoriedade, mas que não foram realizadas,
dos edifícios, bem como do contato próximo com os
como, por exemplo, o projeto Abrigo em Cortiça (CBS - Cork
autores
Block Shelter, em inglês), do jovem arquiteto português
responsabilidade de coordenar um estudo dessa magnitude
David Mares, vencedor do concurso internacional de
conduziu-me ainda a uma outra etapa, na qual fomentei o
design denominado Shelter Competition, promovido pelo
estabelecimento de uma relação próxima com gabinetes
Museu Guggenheim de Nova Iorque, em 2009.
de arquitetura e seus responsáveis. Tencionou-se, desse
dos
projetos
investigados
neste
trabalho,
a
modo, adquirir a colaboração direta desses contatos nesta
Subseguiu-se uma série de entrevistas com os autores e
investigação, com a disponibilização de diversos tipos de
responsáveis pelos projetos incluídos neste livro, que, com
material informativo, tais como fotografias e imagens 3D
muita simpatia e disposição, responderam a uma variedade
de projetos arquitetônicos, e memoriais descritivos das
de perguntas e relataram suas opiniões a respeito do uso da
obras estudadas.
cortiça na arquitetura. Uma grande parte das entrevistas foi
realizada em Lisboa; as restantes aconteceram em cidades
Finalmente,
com
no norte do país, sempre com avidez e a expectativa
investigativos
de alcançar as respostas para as inúmeras dúvidas que
gradualmente desenvolvido, ajustado e consolidado com o
surgiram com as primeiras leituras. Graças à cooperação e
apoio de todos os intervenientes mencionados nesta obra,
anuência dos autores, foi-me possível transmitir de forma
que tem, como um de seus propósitos, o intento de divulgar
correta, precisa e coerente, o conteúdo de cada projeto.
o uso da cortiça - uma das grandes riquezas naturais
do
o
adiantamento
presente
trabalho,
dos
o
processos
projeto
portuguesas e do mundo mediterrâneo - na arquitetura.
foi
Evidentemente, a consolidação deste livro ressalta e
reafirma a importância da difusão e do incentivo do uso
dessa matéria-prima como uma alternativa ecológica portanto, sem implicações degradantes para o ambiente
- de material de construção para as futuras edificações.
Percorrer tal caminho significa, acima de tudo, pôr em
prática o conceito de arquitetura sustentável.
Fernanda Chiebao
1
É licenciado em engenharia química pelo Instituto Superior Técnico (IST) de Portugal, e Meste em química orgânica tecnológica pela Universidade Nova de Lisboa (UNL). É autor de
8 livros relacionados com a história, tecnologia, normalização e aplicação da cortiça na arquitetura, bem como com a relação cortiça-vinho. É co-autor do verbete Cork da Ullmann’s
Encyclopedia of Chemical Technology. Até julho de 2009, foi autor ou co-autor de 114 trabalhos técnicos, científicos e de divulgação, publicados em Portugal e no exterior. Incluem-se
ainda teses e monografias, e 125 comunicações em conferências, congressos, encontros e simpósios nacionais e internacionais.
2
É autor de dois livros sobre a história corticeira: Joaquim Vieira Natividade (1899 - 1968) e Junta Nacional da Cortiça (1936-1972), ambos publicados pela Euronatura, nos anos de 2008 e
2009, respectivamente.
3
É o arquiteto-fundador do Espaço Brasileiro de Arquitetura (EB-A), e designer de interiores, especializado em Planejamento de Empreendimentos Sustentáveis - ANAB Brasil. Escreve
artigos para o jornal Estado de São Paulo, na coluna “Mercado imobiliário e sustentabilidade”, e para o sítio eletrônico do Portal Terra, no espaço “Reciclar conceitos em primeiro lugar”. É
também renomado pelos projetos desenvolvidos para as empresas Esso e Angola LNG.
Fotografia Jesús García
11
“
Um bom arquiteto, competente dentro do seu campo de
responsabilidade,
é
aquele
que
dá
uma
resposta
eficaz.
Circunstâncias várias, entre as quais o empenho, a convicção
e a resistência podem facilitar um salto qualitativo, traduzindose num edifício brillhante que se destaca ou se torna invisível.
É, muitas vezes, mais difícil de conceber um edifício que se
apaga.
”
Álvaro Siza
14
O
presente livro divide-se em dois grandes temas,
A arquitetura denominada sustentável fundamenta-se em
que estão patentes no seu próprio título: Cortiça e
diversos parâmetros de construção, com o desenvolvimento
Arquitetura.
e o uso de técnicas e materiais naturais que priorizam
a eficiência energética e a eco-sustentabilidade, cuja
O primeiro dos temas é dedicado às características
implementação resulte numa considerável atenuação do
da
impacto ambiental negativo oriundo das edificações.
cortiça
como
matéria-prima,
material
originário,
principalmente, da casca do sobreiro (Quercus suber), no
qual são especificamente abordadas as suas qualidades
Nesse contexto, é importante fazer menção da elevada taxa
intrínsecas, bem como as técnicas usadas no processo
de consumo de energia final 4 dos edifícios em Portugal,
de descortiçamento. Ademais, são brevemente discutidos
correspondente a cerca de 30% do consumo nacional médio
o desenvolvimento histórico e as particularidades dessa
de energia final. Ainda, na Europa, cerca de 40% do consumo
árvore florestal na indústria corticeira em Portugal, país de
energético total - segundo os valores da energia final - e
maior produção, transformação e exportação de cortiça do
cerca de 30% das emissões de dioxido de carbono (CO2),
mundo.
têm origem no parque edificado. Os dados mencionados
revelam claramente a necessidade de percorrer caminhos
O segundo tema, por seu turno, aborda as características
alternativos, em que a prática da arquitetura sustentável,
e aplicações de uma vasta gama de produtos constituídos
com a utilização de materiais naturais e eco-sustentáveis
de cortiça, usados no setor da construção para diversos
para a redução do impacto ambiental deletério proveniente
fins, dos quais são destacados os aglomerados de cortiça
das construções, corresponda a uma estratégia viável e
utilizados para o isolamento térmico e a absorção acústica
preferencial no sector da construção 5 .
num edifício. São também abordadas as singularidades da
aplicação da cortiça nas edificações investigadas neste
O bem-estar oferecido pelo meio físico num edifício
trabalho, partindo das obras de caráter histórico às obras
depende de uma série de fatores, mas, sobretudo, das
contemporâneas, das quais as últimas servem de exemplos
suas características ambientais, tais como temperatura,
aos novos conceitos para o uso da cortiça na arquitetura.
iluminação e qualidade do ar. De facto, são essas variáveis
Por fim, são apresentados e discutidos os conceitos de
que constituem os principais parâmetros numa abordagem
arquitetura sustentável.
eco-sustentável num projeto de arquitetura, e que têm
4
A energia final corresponde à quantidade de energia - como, por exemplo, a energia sob forma de eletricidade - disponível para uso em uma edificação. Estudo
realizado entre dezembro de 2004 e Março de 2006 pelo Centro de Investigação sobre a Economia Portuguesa ( CISEP)
5
Pinheiro, M. D., Ambiente e construção sustentável ( Instituto do Ambiente, Amadora 2006).
15
estimulado o uso de materiais naturais na construção - em
particular, para o isolamento térmico em edifícios.
Nessa contextura, consideradas as particularidades da
cortiça, um material natural, durável, eco-sustentável e de
ampla aplicabilidade, torna-se evidente a compatilidade
desta matéria-prima com os conceitos fundamentais da
arquitetura sustentável.
Em assentimento e incentivo ao uso de materiais naturais e
renováveis - a cortiça, em particular - nas novas propostas
arquitetónicas,
a
concretização
do
presente
projeto
tem o modesto desígnio de ampliar e partilhar o atual
conhecimento relativo ao uso da cortiça na arquitetura. Para
tal propósito, neste livro, a temática Cortiça e Arquitetura
é apresentada e discutida com o auxílio de fotografias,
ilustrações, tabelas, fórmulas matemáticas e definições,
com o intento de facilitar a compreensão desta valiosa e
promissora combinação para a arquitetura sustentável.
01
18
C
ortiça,
parênquima suberoso originado pelo meristema súbero-felodérmico do sobreiro 6
(Quercus
suber L.), constituindo o revestimento do seu tronco e ramos (Gil, 1998).
O habitat natural desta espécie situa-se na zona mediterrânica Europeia e no Norte de África. Em
Portugal os sobreiros encontram-se disseminados por todo o território nacional, em povoamentos puros e
mistos, mas com predominância a sul do rio Tejo.
Espaço florestal composto de sobreiros, denominado “montado”, é normalmente um sistema agro-silvopastoril,
onde simultaneamente com produção de cortiça se faz o pastoreio e culturas agrícolas.
Os montados de sobro têm sido um grande aliado para a fauna e a flora selvagens. Cite-se que 42 espécies
de aves dependem destes, incluindo algumas espécies raras e em vias de extinção. Refira-se também que em
apenas 1 m² de montado foram identificadas 60 espécies de plantas. Outras referências apontam o montado
de sobro como o habitat de 140 espécies de plantas e 55 espécies de animais, facto eventualmente inigualável
a nível europeu 7 .
Para além da produção florestal e das atividades associadas à extracção de cortiça ,existem outras atividades
como a caça, a apicultura, a apanha de cogumelos e ervas aromáticas e medicinais de grande importância nas
regiões do montado.
O contributo ambiental
do montado é caracterizado pela capacidade fixadora de CO2, da adaptação em
solos económicamente inviáveis, de modo a impedir o processo de desertificação, com o aumento da taxa de
infiltração das águas da chuva.
A extração da cortiça decorre nos meses de primavera e verão , em meados de maio até o final de agosto. Nesse
período a árvore encontra-se fisiologicamente ativa na produção de cortiça, o que torna fácil a separação da
camada de células de cortiça recentes do tronco.
O corte é feito manualmente com machado, por golpes sucessivos ao longo de linhas verticais e horizontais, em
volta da árvore, o que permite retirar a cortiça em grandes pranchas, processo importante que determinará
a qualidade da matéria-prima. Logo após a extração da casca, o tronco do sobreiro é marcado com o último
algarismo, referente ao ano da tiragem.
Cada fase de extração da casca do sobreiro, a matéria-prima recebe denominações diferentes. A primeira a
ser retirada chama-se “cortiça virgem”, uma cortiça muito irregular. A segunda designa-se por “secundeira”
e, apesar de ser um pouco mais regular que a anterior, tem utilidade reduzida.
Por fim, a “amadia” – a
mais regular de todas, extraída a cada 9 anos. Esta é a matéria prima principal para o fabrico dos diversos
subprodutos da cortiça.
19
Ao Montado só lhe foi reconhecido maior valor quando, a partir do século XVIII, passou a ser visto como
gerador de um bem valioso, a cortiça, que teve uma enorme expansão, com a sua procura a partir de finais
do século XIX como matéria prima para o fabrico de vedantes (Silva, 2008/2009).
Entretanto, foi somente no século XX que a produção corticeira em Portugal teve grande crescimento. O
aumento na produção foi acompanhado de um grande desenvolvimento da indústria de transformação da
cortiça pois, em 1925, 90% deste material não sofria qualquer elaboração industrial importante. Este facto
deve-se à Guerra Civil Espanhola e às confrontações armadas na Argélia, reduzindo significativamente a
produção nesses países, tendo sido Portugal a responder à procura 8 .
Atualmente, o desenvolvimento da indústria corticeira tem vindo a fomentar acções de reflorestação, apesar
de apenas a área de montado no Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo apresentar um crescimento positivo na última
década ( Silva, 2008/2009).
“
6
Esperemos que, num futuro próximo, nós, portugueses,sejamos capazes de
arrancar ao nosso sobreiro alguns segredos importantes que é muito possível
que ele ainda guarde. Talvez ele um dia revele se a sua cortiça – dádiva de
Deus, milagre da Natureza – pode ainda servir para algo ainda mais importante
do que as rolhas e do aproveitamento do quanto deriva da sua fabricação e se
assim for, oxalá que sejam portugueses a descobrir-lo 9 .
”
O sobreiro é uma árvore de porte médio, com uma copa ampla e altura média de 15 a 20 metros, podendo atingir, em casos extremos, os 25 metros. A raiz principal profunda bastante
no solo em busca de humidade nas camadas mais fundas, razão que lhe permite viver em regiões relativamente pouco chuvosas. ANTÓNIO, Nuno Cruz ‐ O Montado de Sobro e os seus
produtos. Consult. 2001. 08.25, em http://naturlink.sapo.pt/
7
Disponível em disponível em <www.portalflorestal.com>. Acesso 10.08.2011.
8
OLIVEIRA, Manuel Alves de; e OLIVEIRA, Leonel A Cortiça. Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Corticeira Amorim S.G.P.S., Printer Portuguesa, Lda., Maio, 2000.
9
PERES, Carlos Reminiscências de há 50 anos. Boletim Cortiça, Suplemento do nº600. Lisboa: Instituto dos Produtos Florestais, 1988, pp 75.
20
A primeira tiragem da cortiça, chamada “ desbóia”, pode
árvore, que acelera nos dois/três primeiros meses, depois
ser feita quando a árvore tem entre 25 a 30 anos. A cortiça
se reduz durante o estio e parte do outono, e quase cessa
extraída, denomina-se, então, cortiça “virgem” e nesta
nos primeiros meses de inverno. Cerca de dois terços do
primeira remoção obtêm-se cortiça dura, pouco elástica,
crescimento suberoso anual realizam-se durante o primeiro
irregular e compacta. Somente na terceira tiragem, quando
período.
a árvore tem mais de 40 anos, se consegue cortiça de
qualidade superior.
Ao examinarmos no microscópio,
verificamos que as
células da cortiça produzidas durante o período primaveril
A cortiça extraída apresenta-se sob a forma de “pranchas”
são mais altas do que largas e têm membranas delgadas.
caso possua forma semi-tubular de grandes dimensões,
A última assentada de células de cortiça, formada antes
ou de “bocados” quando consistir apenas em pedaços de
da árvore entrar em repouso invernal, é constituída por
menores dimensões (Gil, 2005).
células achatadas e com membranas espessas. Esta
alteração gradual da espessura das membranas e das
Como planta lenhosa, o seu ciclo anual compreende duas
dimensões menores das células, produzidas no Outono,
fases: a atividade vegetativa, que se inicia na primavera
origina diferentes colorações na prancha, visíveis nas
até ao final do outono e o período de repouso invernal, que
camadas e extractos anuais.
se prolonga pelos meses de novembro a fevereiro, em que
a cortiça é menos produtiva.
Depois do período invernal de repouso, a atividade
da
assentada
geradora
recomeça,
produzindo
novas
Nas duas fases que caraterizam o ciclo anual desta árvore,
assentadas de células durante a primavera, verão e outono
somente uma delas interessa à produção suberosa, com
e consequentemente paralisa-se no inverno.
duração aproximada de oito meses. O desenvolvimento
da cortiça acompanha a intensidade de crescimento da
21
Há alguns séculos atrás o sobreiro cobria de forma mais
homogénea todo país. Na época dos descobrimentos
houve o um aumento no consumo de madeira, devido
ao crescimento da população e à necessidade
France
Atlantic Ocean
da sua
utilização na construção de navios, originando assim, o
abate de sobreiros e a crescente colheita e comércio da
Italy
cortiça.
Spai n
Portugal produz anualmente uma média de 150 mil toneladas
de cortiça, valor que representa 50% da produção mundial.
Esta é a matéria prima que alimenta uma indústria de
Mediterranean Sea
grande importância para a economia nacional, transforma
cerca de 70% da cortiça produzida no mundo 10 .
North Africa
A maior área florestal está localizada ao sul do rio Tejo,
no Ribatejo, Alentejo e Algarve, regiões que representam
quase 90% da produção nacional. Por outro lado, as
indústrias corticeiras
concentram-se mais nos distritos
de Aveiro e Setúbal, onde a percentagem é significativa,
alcançando os 75% e 13% 11 .
Imagen: Rubén Ulloa
Desde o início do século XX, que os governos dos países
corticeiros
se conscientizaram
da necessidade de
desenvolver políticas corticeiras, de proteção e valorização
deste material.
10
FORUM Projectos, 2005. A utilização e a valorização da propriedade industrial no sector da cortiça.
11
Sector da Cortiça em números 2009. ( APCOR,Cork Information Bureau).
22
Práticas precipitadas e impróprias na gestão do montado,
Unidos da América, possuidores dos melhores laboratórios
como o descortiçamento prematuro e intensivo,
corticeiros do mundo, desde os anos 20.
foram
corrigidas a partir de 1920, com o surgimento das primeiras
leis que regulam as práticas de tiragem e gestão florestal.
O mercado da cortiça viu-se enriquecido com algumas
Além disso, o papel dos governos foi crucial em momentos
descobertas realizadas na primeira metade do século XX,
de perturbações económicas, como o caso da crise de
quando John Smith verificou que os grãos de cortiça, em
1929.
aquecimento e confinados ou comprimidos se aglomeravam,
originando a cortiça aglomerada pura expandida.
Nas épocas de crise, como nos anos 30 ou em épocas
de guerra, como nos anos da guerra civil espanhola e da
Outro avanço no sector foi a descoberta de Charles
segunda guerra mundial, a cortiça passou a ser um produto
Mcmanus em 1909, com a mistura de cola ou resina com
estratégico, e a fileira da cortiça portuguesa ganhou
grãos de cortiça, originando o aglomerado composto.
notoriedade. Até esse momento, a maior parte da cortiça
A fabricação de novos produtos permitiu
era transformada fora do país, e a indústria nacional não
resíduos gerados pela indústria rolheira.
deixava de ser pequena e artesanal.
A mecanização cresceu nas unidades fabris e uma maior
capacidade produtiva, no caso das rolhas, foi proporcionada
pelo uso de maquinarias mais eficientes. Na década de
40, com o decréscimo do sector na Catalunha (Espanha) e
mais tarde nos Estados Unidos da América, Portugal ganha
importância na transformação e exportação de produtos, e
demarca-se como potência mundial da cortiça.
Na primeira metade do século XX, a prancha de cortiça era o
principal produto desta fileira nacional, sendo matéria prima
destinada aos países responsáveis pela transformação
do produto: Reino Unido (o grande transformador no
século XIX), Espanha (Catalunha), Alemanha, França,
Suíça, Rússia, Polónia, Checoslováquia, México, Japão e
Austrália. Entre esses paises, se destacaram os Estados
aproveitar os
23
Em épocas anteriores ao nascimento de Cristo, a cortiça
Em Portugal utiliza-se a cortiça desde a constituição do
já era utilizada em bóias nas artes da pesca e em sapatos,
país, na construção, aplicada como isolante térmico,
aplicações estas que de algum modo ainda hoje se mantêm.
impedindo a entrada de frio e humidade no edifício, como
Em 3000 a.C., na China utilizava-se a cortiça para aparelhos
nos casos conhecidos, Convento dos Capuchos em Sintra,
de pesca, tal como acontecia com os egípcios, babilónios,
ano de 1560 e Carmelitas no Buçaco em 1628.
assírios, fenícios e persas .
Entretanto, demais obras e propriedades da cortiça serão
12
descritas no decorrer dos próximos capítulos, com o
No Egito foi encontradas em sarcófagos milenares, cortiça
intuito de fortalecer a imagem da cortiça como elemento
utilizada como tampões nas ânforas , como forma de
construtivo empregue em obras históricas e obras de
vedação. Na Grécia, apesar de não se encontrarem mais
caráter contemporáneo.
13
sobreiros, a sua existência no passado foi confirmada por
registro da descoberta do filósofo Teofrasto ( séculos IV
A cortiça faz parte da cultura humana como material
a III a.C), a cortiça era também utilizada para bóias de
técnico desde sempre, quer seja como vedante, isolante
pesca.
ou flutuador. Ainda
hoje se acredita que não há melhor
material natural ou sintético para substituí-la. Entretanto
Entretanto, foram os romanos que alargaram o leque
é necessário atualizar, explorar a matéria prima e
de utilização da cortiça, na criação de cortiços para as
partido das suas potencialidades, reconhecendo nela um
abelhas, por ser má condutora de calor, nas redes de
material promissor e projetado para o futuro.
pescas, vedante de vasilhas, cobertura de habitações e
até mesmo no fabrico de calçado feminino 14 .
Na antiguidade a cortiça foi encontrada como material em
mobiliários, em reforços de móveis e objectos de pequeno
porte, tais como: berços, caixas, cofres, leitos, forros de
arcas e portas.
12
Mestre, A., Campelo, M. da G.,Silva, M., Velhinho, R., 2006. Sector e materias de cortiça. (Dossier Info Cortiça, Susdesign).
13
s.f. Vaso antigo com duas asas, que servia para a conservação e o transporte dos líquidos e das sementes. Acesso: 10.08.2011 http://www.dicio.com.br/anfora/.
14
Oliveira, M.A. de; e Oliveira, L. A Cortiça. Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Corticeira Amorim S.G.P.S., Printer Portuguesa, Lda., Maio, 2000.
tirar
02
26
O
presente capítulo dedica-se à apresentação das potencialidades da cortiça na arquitetura, e à reafirmação deste
material natural, eficiente e de ampla aplicabilidade, que, à face das exigências atuais do setor da construção,
apresenta-se como uma alternativa apropriada e eco-sustentável de material de construção. Ademais, este
capítulo tem o intuito específico de informar, com modéstia, os profissionais da área de construção sobre os benefícios da
aplicação dessa matéria-prima.
Entretanto é possível notar variedade de aplicabilidade da cortiça ao longo da história, quando empregada em coberturas
exteriores, em casas de habitação tipo popular, em construções secundárias e abrigos temporários. Esteve presente
também em coberturas em telha-vã 15 para o isolamento no interior de conventos, igrejas e aposentos no interiores de
castelos. Além de, desempenhar o papel de revestimento no interior de silos, em pavimentos, paredes divisórias, paredes
associadas à terra e tabiques. Como isolante acústico, esteve associada à madeira e tabiques externos.
Atualmente, considerando toda a potencialidade da aplicabilidade da cortiça, pode-se dizer que, a utilização desta matériaprima como material de construção é relativamente limitada, restringindo-se, praticamente, à produção de aglomerados
técnicos, usados em juntas de dilatação no intuito de atenuar as variações térmicas de estruturas em betão, e em
revestimentos interiores dos edifícios - paredes, tetos e pavimentos - como isolamento térmico e acústico.
Acredita-se que, isso decorra da carência de divulgação, por parte dos fabricantes, dos novos produtos em cortiça
disponíveis no mercado da construção, assim como, do desconhecimento dos profissionais do setor da construção, que
julgam não ter ciência das potencialidades de aplicação da cortiça.
De facto, considerando as propriedades físico-químicas da cortiça e suas potencialidades de aplicação, é pertinente
reconhecer e incentivar o uso desta matéria-prima renovável nas prospostas de arquitetura, a fim de minimizar o impacte
ambiental deletério proveniente das edificações, em benefício tanto do ambiente, bem como da sociedade.
15
Mestre, A., Campelo, M. da G.,Silva, M., Velhinho, R., 2006. Sector e materias de cortiça. (Dossier Info Cortiça, Susdesign).
27
A
cortiça é uma matéria-prima originária do sobreiro (Quercus suber), uma espécie quercínea
mediterrânea de crescimento lento e longevidade duradoura, cujas propriedades são conhecidas
desde a antiguidade. Os fenícios e os gregos, por exemplo, povos de grande distinção na
navegação marítima e nas intensas atividades mercantis, já demonstravam interesse pela cortiça, que
era empregada como meio vedante de ânforas 16 . Os romanos, por seu turno, faziam uso dessa matériaprima renovável como elemento flutuador em redes de pesca.
Na Sardenha, a segunda maior ilha do mar mediterrâneo, as referências mais antigas sobre a utilização
da cortiça remontam ao II e I milênios a.C., e revelam que alguns povoados, defendidos por muralhas
e torres de fortificação, empregavam uma associação de placas de cortiça e terra para o levantamento
de paredes.
Deve-se notar que, apesar da extração da casca do sobreiro ser uma prática milenar, foi apenas no
final do século XIX, com a descoberta, por John Smith 17 , da singular propriedade da cortiça granulada
de aglutinar-se e formar aglomerados quando submetida a altas temperaturas, que a aplicação desta
matéria-prima tornou-se mais ampla. Nas últimas décadas, dada a necessidade de servir-se de um
material que atendesse aos requisitos de funcionalidade e conforto em uma edificação, a cortiça adquiriu,
inclusivamente, um papel de destaque na arquitetura.
Com a ampliação do conhecimento sobre as peculiaridades físicas da cortiça, em particular quanto à sua
resistência ao desgaste, impermeabilidade e capacidade de isolamentos térmico e acústico, juntamente
com o advento de técnicas inovativas para a sua aplicação nas propostas arquitetônicas, a cortiça
adquiriu considerável relevância como material de revestimento.
A partir da década de 1930, durante o governo de António de Oliveira Salazar, fomentou-se o uso da
cortiça na construção de casas econômicas e de obras de caráter público. Dentre as obras públicas
construídas durante o salazarismo, em que a cortiça foi usada como material de construção, destacamse o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o Hospital de São João, no Porto. Ademais, o Hospital de
Repouso de Lisboa, renomeado diversas vezes, e atualmente designado Hospital Pulido Valente, em
homenagem ao Professor Doutor Franciso Pulido Valente, serviu-se dessa matéria-prima, nesse mesmo
período, como material de revestimento para os isolamentos térmico e acústico da sua estrutura.
28
Impulsionado pelos benefícios e pelas vantagens da utilização da cortiça na arquitetura, bem como pela
necessidade de elaborar produtos diversificados que destacassem a beleza natural desta matéria-prima, o
mercado da indústria corticeira pôs-se a desenvolver aglomerados de cortiça para revestimentos - como, por
exemplo, o aglomerado negro de cortiça - e peças de cortiça natural. Por meio da sua trituração em diferentes
dimensões e da adição de pigmentos e texturas, em uma infinidade de procedimentos de fabricação, a cortiça
distingue-se em uma larga gama de produtos para a construção.
Com efeito, existe uma significativa quantidade e variedade de produtos de revestimentos disponíveis no
mercado de materiais de construção. Contudo, é importante salientar que, devido às suas qualidades inerentes,
das quais se destacam a sua durabilidade, elasticidade, impermeabilidade e qualidade de renovação natural, a
cortiça apresenta-se como um material vantajoso e eco-sustentável. Além disso, considerando o seu processo
inócuo de extração, a viável recuperação de subprodutos durante o seu processamento industrial, e a sua
versatilidade de aplicação, essa matéria-prima apresenta-se como um material de excelência incontestável.
Nesse contexto, considerando o estabelecimento e o desenvolvimento da indústria cortiçeira, e suas
implicações sociais e econômicas na história contemporânea de Portugal, é importante reconhecer ainda
o valor contribuitivo da cortiça no desenvolvimento urbano, na prosperidade comercial (embora, por vezes,
instável), tanto regional como nacional, bem como no estímulo intelectual e cultural em defesa da presença
desta matéria-prima na construção.
16
Vaso antigo com duas asas, que servia para a conservação e o transporte de líquidos e sementes. (Definição obtida do sítio eletrônico www.dicio.com.br/anfora/).
17
John Smith foi um fabricante estadunidense de coletes salva-vidas, que descobriu a propriedade aglutinante dos grânulos de cortiça quando aquecidos em elevada temperatura.
P
or definição, um edifício é uma construção de certa
importância
diversos
e
caráter
elementos
permanente,
estruturais,
tais
composta
como
de
paredes,
coberturas e pisos, que serve para a proteção e/ou
isolamento do meio externo.
No que respeita à temperatura interna de uma edificação,
o seu conforto térmico depende de uma série de fatores,
tanto de conceitos quantificáveis, tais como temperatura,
velocidade do ar atmosférico e humidade, como de conceitos
não-quantificáveis, tais como hábitos, comportamento e
estado mental dos ocupantes 18 . Todas essas variáveis
exercem, evidentemente, influência na climatização de
quaisquer ambientes.
É importante ter presente que a capacidade calorífica
de um edifício, bem como as condições físicas locais,
influenciam, de modo significativo, na obtenção de um
ambiente interior termicamente confortável. É notório que
quanto maior a capacidade calorífica de um edifício, maior a
sua estabilidade térmica - portanto, o seu conforto térmico
- perante as variações de temperatura no exterior. Além
disso, em locais de intensa radiação solar e/ou elevada
humidade, deve-se considerar ainda a taxa de ventilação
de superfície. Neste caso, para obter-se o conforto térmico
de um edifício, é aconselhável a interposição de materiais
nas suas estruturas, tais como paredes, tetos e pavimentos,
de modo a facilitar a dissipação do calor e a secagem da
humidade retida nas suas superfícies.
Fotografia Jesús García
29
30
O
isolamento térmico tem como função principal o
e obrigar o reforço nas fundações, nos vigamentos dos
aumento da resistência térmica da envolvente do
tetos e
nas estruturas. Para além disso, apresentar
edifício, de forma a reduzir as trocas de calor entre o edifício
resistência a ação de altas temperaturas, de modo a, não
e o exterior, reduzindo as necessidades de aquecimento
ser um material
e arrefecimento, assim como o risco de condensações
elimine nenhum tipo de odor.
(Silva, 2006).
Entretanto, é
Neste contexto, é relevante compreender um dos conceitos
isolantes térmicos são classificados quanto a sua natureza
regidos pela física, que determina os três mecanismos de
– mineral, vegetal ou sintética- e quanto a sua estrutura-
propagação de calor : condução, convecção e irradiação.
fibrosa, celular ou mista. Ademais, é notório
Porém, a transmissão de calor que ocorre
aglomerado negro de cortiça, material em estudo, define-
nos edifícios
inflamável nem combustível e que não
importante evidenciar que os materiais
que, o
provém basicamente da propagação de calor por condução,
se como um material vegetal de estrutura celular
cuja a intensidade varia segundo a condutibilidade térmica
apresenta coeficiente de condutividade térmica (0, 035
dos materiais empregados e da espessura do elemento da
Kcal/ m.h.°C- 0, 038 Kcal/ m.h.°C), de valor inferior aos
envolvente.
demais materiais, apresentados na tabela a seguir.
e que
De facto, conferem aos isolantes térmicos as funções de
Nesse contexto, as características naturais da cortiça,
conservar a energia, através da redução das perdas de
como a porosidade (característica medida pelo grau
calor, de
de compressão a que o material é exposto),
previnir as condensações em superfícies com
leveza,
temperatura inferior ao ponto de orvalho e de reduzir as
elasticidade, resistência ao fogo, à putrefação e água,
flutuações térmicas dos espaços, de modo a, aumentar o
contribuem para que o material desempenha o papel de
conforto térmico do ambiente.
bom
isolante térmico. Além desses fatores positivos, a
cortiça torna-se um material de fácil manuseio ao corte
A definição de um bom isolante térmico , dentre outras,
e a sua aplicação, o que possibilita diversos encaixes e
é designada pelo baixo coeficiente de condutibilidade
diferentes espessuras, com resistência mecânica elevada
térmica, expresso em (w/m.°C), com peso específico
(módulo de ruptura à flexão 1,5 Kg/ Km²) no desempenho
relativamente baixo, a fim de, evitar o aumento das cargas
das suas distintas funções.
18
Para os propósitos deste estudo, este livro trata exclusivamente dos fatores quantificáveis.
31
Material
Condutibilidade
térmica
Kcal/mh°C
O coeficiente de condutibilidade térmica do
material — λ — é definido como sendo “o fluxo
de calor que passa, na unidade de tempo,
através da unidade de área de uma parede com
espessura unitária e dimensões suficientemente
Argamassa de cimento
2200
1,20
Concreto
2300
1,30
2400
1,75
Alvenaria com blocos de concreto
furados
1000
0,43
temperatura unitária” (Gomes, 1962).
Alvenaria com lajotas de barro
1000
0,40
Neste contexto, o valor do coeficiente
Alvenaria de tijolos maciços
1400
0,52
condutibilidade térmica ( λ )
1800
0,68
Madeira (Pinho)
Fibra-cimento
2026
0,68
Madeira seca
450
0,12 a 0,18
Espuma de cimento
400
0,12
500
0,16
600
0,20
800
0,25
200
0,040
300
0,050
Cortiça
120
0,035
Ripado em madeira
de pinho; tabique
de terra
Espumas plásticas
160
0,038
Placas de aglomerado
negro de cortiça
Fibras de madeira
16-25
0,030-0,035
Reboco a cal e areia
Lã de vidro ou lã mineral
30-200
0,035
Argila expandida
100-200
0,050 a 0,055
Argamassa de argila expandida
200
0,085
Silicato de cálcio ou óxido de magnésio
100-200
0,046 a 0,055
grandes para que fique eliminada a influência
de contorno, quando se estabelece, entre os
parâmetros dessa parede, uma diferença de
de
depende da
densidade do material, da natureza química e
da humidade do mesmo.
Va l o r e s p r á t i c o s p a r a c á l c u l o c o n f o r m e n o r m a
DIN 4108. Isolamento térmico na construção.
Fonte:
http://www.texsa.com.br/Livro%2009.htm
32
A
Q= K x A x (ΔT/ L)
Q = intensidade do fluxo de calor em W (J/s)
K = condutibilidade térmica do material
A = área atravessada pelo fluxo de calor em (m²)
ΔT = diferença de temperaturas ( T1-T2)V
L = espessura (m)
B
Q= U x A x ΔT
Q = taxa de energia transferida Watt (W)= J/s
U = coeficiente de transferência de calor
( W/m². K) .
A quantidade de calor que atravessa uma parede depende da condutibilidade
térmica do material, nesse caso, representado pela letra (K), da área da parede (A),
da diferença de temperatura entre o interior da habitação (T2) e exterior (T1) e da
espessura da parede (L). Os valores numéricos de k variam numa larga faixa, em
função da constituição química, estado físico e temperatura do material. Logo, quando
o valor de K é elevado, logo o material é definido como condutor térmico e, quando
o valor de K é baixo, o material é denominado isolante térmico.
O coeficiente de transferência de calor está relacionado com a quantidade de energia
(sob forma de calor) que passa durante um segundo em 1 m² de superfície. Esta
fórmula é normalmente utilizada quando se tem diferentes materiais e espessuras.
A = área (m²)
ΔT = diferença de temperaturas ( T1-T2)
U= K/L
C
K x A x (ΔT/ L) = U x A x ΔT
D
Q= -( λ. A). dt/de
A= área en m2
R= gradiente de temperatura °C
19
Todavia, a junção das duas fórmulas, da condutividade térmica do material (K) e do
coeficiente de transferência de calor (U), gera uma nova fórmula.
Lei de Fourier
Designado pela Lei de Fourier19 , o cálculo da transmissão de calor é determinado
pelo valor da condutibilidade térmica (λ) do material em questão, considerando a área
do elemento da envolvente em m², e pelo fator gradiente de temperatura.
A lei de Fourier foi estabelecida em 1811 pelo matemático e físico francês Jean Baptiste Joseph, mais conhecido por barão de Fourier. Este publicou uma teoria
de propagação do calor, onde introduziu as séries trigonométricas (séries de Fourier). [Consult. 2011-08-09]. Disponível em http://www.infopedia.pt/lei-de-fourier.
33
De acordo com a tabela ao lado, verificase,
através
dos
valores
apresentados,
a
PAREDE
RESISTÊNCIA
U
Parede d e alvenaria de c alcáreo com
0,40m (espessura)
2,797
0,397
Parede d e betão a rmado c om 0 ,20m
(espessura) isolada com espaço de ar
de 8cm e 1/2 vez de tijolo furado
3,136
0,319
Madeira
Parede d(Pinho)
e betão a rmado c om 0 ,20m
(espessura) isolada com 1 1/2 polegada
de aglomerado negro de cortiça
6,549
0,153
Paredede
d eaglomerado
betão a rmado c om 0 ,20m
Placas
(espessura).
Isolada com 1 polegada de
negro
de cortiça
aglomerado negro de cortiça
Ripado em madeira
de pinho; tabique
Parede
de
terra d e alvenaria de c alcáreo com
1m (espessura)
Reboco a cal e areia
4,882
0,205
5,369
0,186
potencialidade do aglomerado puro de cortiça,
no papel de isolante térmico, quando aplicado
em
paredes
de
alvenaria
ou
betão
reduz
consideravelmente a necessidade de utilizar
espessuras superiores em paredes, na obtenção
de um conforto térmico ideal no interior do
edifício.
Nesse contexto, como mostra a tabela, uma
parede de fachada construída em betão com
20 cm de espessura e isolada com placas
de
aglomerado
negro
de
1
½
polegadas,
apresentaria uma resistência total superior
a
uma parede em alvenaria de calcário, com um
metro de espessura.
Além disso, a aplicação da placa de aglomerado
negro de 1 polegada de espessura, numa parede
de betão de 20 cm de espessura resultaria no
aumento de 42,6 % de isolamento térmico do
edifício, quando comparada a uma parede de
alvenaria de 40 cm de espessura 20 .
“
F o n t e : B o l e t i m J u n t a N a c i o n a l d a C o r t i ç a , 8 6 , 11 .
Não é suficiente que um material isolante tenha um coeficiente de condutividade baixo, também é
necessário que o conserve através do tempo e durante sua colocação definitiva.
Paya, Miguel
20
Oliveira C. M., 1945. O isolamento térmico da construção urbana. Boletim Junta Nacional da Cortiça, 86, 3-9.
”
34
É
de grande relevância a compreensão dos termos
T corresponde ao tempo medido em segundos, V é o
que envolvem os conceitos da acústica no campo
volume da sala medido em m³ e A corresponde a área em
arquitetónico.
O
primeiro
termo,
refere a capacidade que certos
isolamento
acústico
m². Contudo, foi possível definir que a reverberação é o
materiais de construção
tempo medido da intensidade sonora a partir da queda de
apresentam, na finalidade de impedirem a propagação das
60dB, no momento em que a fonte sonora é desligada.
ondas sonoras de um local ao outro. Por seu turno, absorção
acústica, é o termo utilizado para definir os materiais de
As questões que envolvem o termo acústica são bastante
construção que possuem o papel de minimizar a reflexão
complexas,
das ondas sonoras, consequentemente reduzindo o nível
concepção de projetos deste gênero, salas de música,
de reverberação.
teatro, cinema, dentre outros, a realização de cálculos
de
facto,
é
importante
ter
presente
na
matemáticos e estudo dos materiais que melhor absorvem
No fim do século XIX nos Estados Unidos da America, o
o som, para que o tempo de reverberação da sala não seja
físico Wallace Clement Sabine
excessivo, de modo a evitar a audição deficiente.
21
realiza uma descoberta
que revolucionou o campo da acústica arquitetónica.
Tal acontecimento,
definia a relação existente entre a
Um dos materiais absorvedores aconselhável no tratamento
qualidade acústica, as dimensões da sala e a capacidade
acústico de ambientes é o aglomerado expandido de cortiça,
de absorção das superfícies presentes.
que através da estrutura porosa absorve parte da energia
sonora incidente, de modo a, reduzir consideravelmente o
Após várias experiências realizadas na sala de concertos
tempo de reverberação.
da Fogg Lecture Hall, no intuito de avaliar o tempo
de reverberação do som sobre várias frequências, na
A fim de usufruir ainda mais das propriedades do aglomerado
presença de diferentes materiais, Sabine concluiu que
de cortiça, fabricantes desenvolveram um novo produto
o corpo humano reduzia consideravelmente o tempo de
que concilia o aglomerado expandido de cortiça com a
reverberação, o equivalente a seis cadeiras estofadas.
fibra de coco, matéria-prima ecológica e reciclável, que
Deste
realizados
juntos apresentam excepcionais performances acústicas,
por Sabine portou a definir formalmente o tempo de
na redução substancial dos níveis sonoros de impacto e
reverberação, através da fórmula T= 0,161. V/A, em que
aéreos.
21
modo,
a
importância
dos
estudos
Wallace Clement Sabine (13 de Junho de 1868 - 10 de Janeiro1919) foi um físico norte-americano que fundou o campo da arquitetura acústica. Graduou-se
pela Universidade de Ohio em 1886. Sabine foi consulente de acústica no Symphony Hall em Boston, considerada uma das três melhores salas de Concerto do
mundo. Disponível em http://pt.wikipedia.org. Acesso 12.08.2011.
35
Para além da contribuição do aglomerado expandido de
cortiça no fenômeno de reverberação, o material possui
poder absorvente no tratamento de ruídos de percussão,
na atenuação da transmissão dos ruídos provenientes dos
pavimentos, que através do fator elasticidade impede as
trepidações exteriores, originárias das fundações e paredes
de suporte do edifício.
Entretanto, a fim de evitar essas vibrações decorrentes
de factores externos, as placas de cortiça são aplicadas
na fundação dos edifícios, em sapatas corridas ou em
estruturas constituídas de materiais muito rígidos, que
através
da
sua
compressão
e
dilatação
conseguem
transformar a energia vibrática em calor.
Já no que concerne às construções de grande porte como
as juntas de dilatação em pontes, o aglomerado composto
(granulados de cortiça e resinas) material flexível, através do
processo de dilatação e compressão, impede a propagação
das trepidações na construção e evita fissuras, permitindo
a movimentação de materiais rígidos, sem sofrer qualquer
alteração nas suas características.
Com o propósito de viabilizar soluções menos dispendiosas,
industrial, com o emprego do aglomerado composto, de
densidade entre 180-200Kg/m³, no piso das maquinarias,
com a finalidade de absorver os ruídos e consequentemente
diminuir a perda de rendimento e energia, provocadas
pelas vibrações transmitidas no solo e no ar.
Fotografia Jesús García
técnicos e especialistas na área realizaram estudos no setor
Aglomerado negro de cortiça
36
Neutraliza os dois principais inimigos das instalações
frigoríficas: o calor e a humidade, com utilização do
aglomerado de cortiça de alta compressão.
Produto resistente devido à perfeita coesão dos seus
grânulos e à excelente relação que existe entre os
coeficientes de dureza e elasticidade. Material que não
apodrece, apresenta resistência a ácidos, não permite
a proliferação de micro-organismos e retarda a ação do
fogo.
Existe a possibilidade de construir tectos falsos com as
placas de cortiça instaladas numa estrutura com perfis
em forma de T, pendurada no tecto com encaixes de ferro
galvanizado.
Utilizada sobretudo como material para enchimento em
caixas de ar ao construir tabiques ou paredes, sendo eficaz
na maior parte dos casos em separações de andares de
edifícios.
Produto à base de serradura da cortiça usado na cobertura
de pavimentos, dando-lhes um aspecto acolhedor, como uma
pasta resinosa obtida da oxidação da mistura da serradura
em pó e óleo de linhaça. A sua importância encontra-se em
proporcionar resistência ao desgaste e consequentemente
longa duração.
Elemento construtivo que constitui a fachada e não interfere
na resistência da estrutura, com espessura reduzida e como
painéis forrados, tem como papel principal o isolamento do
local ou divisões internas e externas, além de apresentar
resistência aos agentes atmosféricos e químicos.
As placas adquirem um papel altamente decorativo quando
apresentado num acabamento à base de tinta branca
lavável, com uma superfície lisa ou estriada. Estes tectos
destacam-se pela absorção de ruídos em cerca de 50 %,
Na sua estrutura celular vemos células microscópicas
elevada.
resistência elástica permanente. As placas de cortiça evitam
impedem a condensação de água, em caso de humidade
fechadas e cheias de ar que conferem à cortiça uma
a ressonância, fenómeno caracterizado peloconsiderável
aumento de intensidade vibratória das máquinas.
ISOLAMENTO INTERNO
PAVIMENTO
COBERTURA
COBERTURA INCLINADA
38
> Vantagens
O parquet de cortiça proporciona pisos
> Vantagens
Excelente isolamento térmico
Adequado conforto acústico
> Aplicação
Um dos modos de realizar o isolamento
térmico pelo interior consiste em aplicar
as placas de cortiça, por colagem ou por
fixação mecânica.
A fixação do isolante à face exterior do
pano interior, entre as placas de ICB e o
pano exterior, mantendo-se, deste modo,
um espaço de ar drenado e ventilado
para o exterior.
confortáveis, naturais, ecológicos, higiénicos,
resistentes, macios, agradáveis e de fácil
manutenção.
> Flutuante
A grande vantagem do produto é a
facilidade de instalação. O piso flutuante
apresenta várias camadas, sendo uma
delas o medium density fireboard (MDF).
A espessura das placas pode variar de
10,5 mm a 12 mm.
> Vantagens
O aglomerado de cortiça expandida
(ICB) desempenhanda as funções de
isolante térmico e de suporte do sistema
de impermeabilização. Suas vantagens
está em resistir a temperaturas elevadas
e resistência mecânica ( compressão e
coesão).
COBERTURA
COBERTURA PLANA
PAREDE
PAREDE
FACHADA - ETICS
DECORATIVA
39
> Vantagens
Ótimo isolante térmico ( previne
bruscas variações de temperatura)
Impermeável ( não absorve água
por capilaridade).
Minimiza o peso da cobertura.
Quando aplicada em terraços é
possível obter condições favoráveis
para um bom de isolamento
acústico a sons de percussão (e.g.)
circulação de pessoas, queda de
objectos.
> Vantagens
> Vantagens
Variedades
e
de
composições
texturas,
que
cores,
valoriza
o
ambiente.
Permitir a melhoria das condições de
conforto térmico e acústico.
> Aplicação
O material pode ser fornecido em
placas, com 3mm de espessura, e
acabamentos supercificais em óleo,
cera ou verniz. Desta forma, é aplicado
à parede com auxílio de uma massa
adesiva.
Reduz as pontes térmicas.
Diminui o risco de condensações.
Aumenta a inércia térmica interior
dos edifícios.
Maior economia de energia.
Diminuição
da
espessura
das
paredes exteriores.
Reduz o peso das paredes
Aumenta a protecção face às agressões dos agentes atmosféricos.
Melhora a impermeabilidade das paredes.
Concede uma grande variedade de
soluções de acabamento.
PAREDE
REVESTIMENTO DA FACHADA
> Vantagens
Isolamento
térmico
de
paredes
simples pelo exterior evita as pontes
térmicas.
Aproveita a inércia térmica das
paredes necessária para manter
uma temperatura mais ou menos
constante no interior.
Solução menos dispendiosa.
02
42
O
capítulo Obras irá tratar de projetos arquitetónicos que utilizaram a cortiça como parte integrante ao material
de construção. Para melhor compreender a evolução da aplicação da cortiça, estas obras foram divididas em 3
grandes temas: obras históricas, obras contemporáneas e obras Cork composites.
As obras históricas serviram como ponto de partida às demais obras e foram pioneiras em usufruir das características
físico-químico da cortiça, na obtenção de melhores resultados no isolamento térmico e acústico nos edifícios.
De facto, as construções encontradas na região do Alentejo, nos arredores de Montemor-o-Novo, cuja referência é uma
das mais antigas registadas, datada no ano de 1669, empregavam a cortiça como material de construção maioritário
(alvenaria de cortiça) ou integrada à outros materiais, como adobe, taipa ou pedra.
Um levantamento feito na herdada da Cascata constatou três diferentes sistemas de construção, dentre os quais, dois
deles utilizavam a cortiça aplicada nas paredes do palheiro da cocheira, em pedaços grandes, com os espaços preenchidos
de terra e pedra e, eventualmente, pedaços menores de cortiça. Esse sistema construtivo é denominado “alvenaria de
pedaços de cortiça”, caracterizado por aparentar uma parede de pedra, nas dimensões das peças e suas configurações,
para além, das faces da cortiça expostas à agentes atmosféricos, adquirindo uma tonalidade cinzenta.
Verificou-se também nas paredes do palheiro na herdada da Cascata, na herdada da Gralheira e na residência em Santo
André, um outro sistema de construção em que a cortiça foi empregue, denominado-se “alvenaria de pranchas de cortiça”
na utilização da cortiça em maiores dimensões, sendo maioritária, sob forma de pranchas e colocada na horizontal, tendo
a terra como ligante.
A presença da cortiça em obras históricas tem contribuído na divulgação das suas características físico-químico, através
da capacidade de manter inalterada as suas propriedades isolantes, térmico e acústico, no decorrer dos anos.
Seguem-se as obras de carácter contemporáneo, à essas, confere o utilizo do aglomerado puro expandido ao novo método
de aplicação empregue nas alçadas do edifícios. O projeto pioneiro, Pavilhão Centro de Portugal, projetado para a feira
internacional de 2000 em Hannover na Alemanha, destacou-se pela implementação do aglomerado puro expandido, sem
qualquer aditivo sobre as placas, nas paredes exteriores do edifício.
Por seu turno, o capítulo Obras Cork composites dedica-se a uma singela descrição de obras nacionais e internacionais,
que utilizaram o aglomerado composto, produto resultante da combinação da cortiça com certos materiais, tais como a
borracha, o plástico, o asfalto, o cimento, o gesso, a caseína, a resina e colas, aplicado aos pavimentos, a fim, de obter
melhores resultados quanto a absorção sonora de sons de impactos e aéreos.
CONveNTO DOS CAPUCHOS
1560
43
Fonte: http://palacio-de-sintra.blogspot.com
O Convento dos Capuchos, cujo nome original era Convento
da Santa Cruz da Serra de Sintra, localizado em Sintra,
fundado por D. Álvaro de Castro (filho do vice-rei da índia)
no ano de 1560.
Em 1834 com a extinção das Ordens Monásticas, a
comunidade
Convento,
o
franciscana
qual
foi
viu-se
adquirido
obrigada
pelo
“
a
deixar
Visconde
o
de
Monserrate”- Joaquim José Pinheiros de Vasconcelos e
posteriormente em posse do Estado Português.
O projecto é caracterizado pela simplicidade, equivalente
ao modo de vida dos frades franciscanos. Os
ambientes
internos eram compostos de celas-dormitórios, biblioteca,
sala do capítulo (para reuniões), refeitório, cozinha e casa
de banho, todos com dimensões muito pequenas.
44
Foi construído também em perfeita harmonia com a natureza
que o circunda, incluindo o uso de materiais locais, como as
enormes fragas de granitos e cortiça extraída dos sobreiros
existentes. Deste modo, a cortiça teve um papel relevante
como isolante térmico nos tectos, com a função de protegêlos das condensações, que se formam nos períodos de frio,
além de proporcionar conforto térmico quando empregada
no pavimento, portas, janelas e mobiliários.
Neste caso, a fixação da cortiça era feita por pregos em
tabulados corridos de madeira, sobrepostos ao
construtivo como
material
pedras e tijolos. Contudo, devido ao
mau estado de conservação, no século XX, as cascas de
cortiça que cobriam todo o pavimento foram retiradas e
substituídas pelas tijoleiras (pavimentação vermelha).
Segundo a
entrevista
realizada
pela
arquiteta, existe
um projecto em fase de estudos para a área que abrange o
F o n t e : w w w. u s e f i l m . c o m
Convento dos Capuchos da autoria do arquitecto João Cruz
Alves, denominado “Convento de Santa Cruz da Serra de
Sintra- Plano Global de reintegração”, com o propósito de
restaurar o Convento e integrá-lo às atividades turística,
recreativas e desportivas.
Fonte: http://palacio-de-sintra.blogspot.com
Entre outras obras religiosas:
1542
45
Convento da Arrábida
F
undado em 1542 pelo Frei Martinho de
Santa Maria e construído pelo Duque de
Aveiro, D. João de Lencastre ( 1501-1571),
proprietário de toda a Serra. O complexo que
albergaria os frades foi construído por pessoas
leigas, que desconheciam o modo de vida dos
frades, na construção de espaços de proporções
inadequadas aos habitantes. Neste caso a cortiça
foi empregada como material de revestimento
das celas-dormitórios do Convento.
1628
Fonte: http://puraexperiencia.blogspot.com
Convento de Santa Cruz do Buçaco
F
undado em 1628, pretendia ser uma obra de arte
que englobasse a mata onde estava implantado. Tal
responsabilidade ficaria a cargo dos monges para conservá-
la e valorizá-la. Nota-se, porém, a presença da cortiça no
revestimento de portas e bancos, bem como o forro de
tectos e elementos estruturais.
F o n t e : w w w. w i k i p e d i a . c o m
1864
CHALÉ DA CONDESSA D’EDLA
46
O
Fonte : Parques de Sintra
chalet da Condessa Edla foi construído pelo Rei D. Fernando II
para a sua segunda mulher, Elise Hensler - Condessa d’Edla, entre
1864-1869, na zona oriental do Parque da Pena, seguindo o modelo dos
Chalets de montanha das regiões Alpinas do Norte da Europa, envolvidos
sempre
por jardins, com inúmeras espécies botânicas proveniente de
todo o mundo.
Trata-se de um edifício construído com base numa planta arquitectônica
rigorosamente simétrica, orientada efectivamente para o Palácio da Pena,
rectangular no pavimento térreo, em forma de cruz no primeiro andar,
contornado por uma varanda com alvenaria exterior, a imitar tábuas de
madeira horizontais.
47
Trabalhada com arte, a cortiça torna-se decoração no
contorno dos vãos de portas e janelas em forma de arcos
“góticos”,
incluindo
uma
que decorava a fachada,
enquadramento silvestre.
espécie
de
hera
centenária
integrando o edifício no seu
Fonte : Parques de Sintra
O Chalet apresentava no seu interior um grande salão, com
quatro troncos de hera em estuque finamente modelados,
enriquecidos por nervuras em cobre, que escalonavam os
cantos das paredes e entrelaçavam nas cornijas as suas
ramagens cobertas de folhas. Já um dos quartos no primeiro
andar, o do Rei, contava com encastoamento feito de cortiça
pintada em multicores, conferindo-lhe o espírito mourisco
da Serra. Merece também destaque o quarto da Condessa,
no primeiro andar, de frente para o do Rei, separando-os
com o vão de escadaria com a parede pintada as Armas de
Saxe e de Portugal, e já ao fim da escadaria de madeira
Fonte : Parques de Sintra
Após décadas de abandono, o edifício foi intencionalmente
alvo de incêndio e grande parte foi destruído com a queda
da cobertura, escadarias, paredes, restando apenas as
estruturas autoportantes.
havia uma pintura arcádica dum pastor a tocar flauta.
50
P
or seu turno, Obras Contemporâneas, pretende descrever, de forma concisa, novas e modernas
propostas arquitetónicas, no intuito de destacar o novo método de aplicação do aglomerado
puro expandido nas alçadas dos edifícios.
Neste contexto, a descrição das demais obras é resultado das entrevistas realizadas aos arquitetos ou
responsáveis e da análise in loco realizada durante o processo de investigação. Desta forma, as obras
selecionadas foram posicionadas no mapa, seguindo o critério definido pelo eixo Norte-Sul do país.
Tais obras destacam-se por utilizar placas de aglomerado puro expandido como material de revestimento
externo nas alçadas dos edifícios, sem fazer uso de qualquer produto ou material de construção
aplicado sobre as placas. Esse método inovador, placas de aglomerado puro expandido, aplicado nas
paredes externas, esteve presente pela primeira vez no Pavilhão Centro de Portugal, projetado para a
Feira internacional de Hannover- Alemanha em 2000, o qual contribuiu para o emprego do aglomerado
puro expandido às demais obras relatadas nesse exemplar.
51
A
casa
Cork,
projectada
Esposende-Portugal
é
a
pelos
Arquitectos
primeira
Anónimos,
habitação
no
em
território
nacional Português a expor a cortiça como acabamento final à vista
e no seu tratamento original de fabricação.
O
material
conquistou
rapidamente
adeptos
Ficha técnica
CASA CORK
Arquitetura:
na
equipe
de
construtores: não carecendo de mão de obra especializada,
Arquitectos Anónimos ®
e Paulo Teodósio
muito fácil ao corte e leve no transporte, comparado com os seus
directos competidores, é realmente muito convincente; em grandes
superfícies de revestimento pode poupar muito tempo e mão de
Local: Esposende- Portugal
obra.
Cliente: Maria Helena Ramos/ Hernâni Lopes
Uma das características mais assinaláveis do bloco de cortiça é
Data da construção: 2005-2007
coberturas sem aditivos nem prescrições especiais.
Área de Construção: 288 m 2
a sua aplicabilidade como encapotamento total: em paramentos e
Data do projecto: 2004-2005
Área de implantação: 157,5 m 2
Estrutura: Ricardo Fonseca
Fotografia: Ivo Canelas ©
52
Da organização espacial, o rectângulo de 7 x 21 metros desenvolve-se em 3 pisos, sendo o piso inferior, serviços,
garagem lavanderia e o piso superior pequeno quartos (reduzidos ao mínimo), aceitável na habitação corrente em
Portugal. O piso intermédio é uma espécie de interlocutor: uma espinha dorsal que atravessa longitudinalmente
a construção, organizando-a espacialmente: remetendo circulações para área central resgata
área útil para os aposentos e para a grande sala que exibe a escada como elemento dinâmico,
contradizendo ortogonalidade. Essa linha de circulação interior tem como extremos o contacto da
casa com exterior, resolvendo-se a sua articulação com o terreno nas suas cotas naturais intactas.
Essas passagens fazem-se por duas antecâmaras que para além de áreas de transição desfazem a
excessiva ideia de corredor; funcionalmente são amigas da climatização natural interior,
retendo o ar (frio ou quente) do exterior.
O bloco de aglomerado de cortiça também potenciou o espírito de síntese que os
arquitectos quiseram incutir de raiz: a casa re “veste-se” com apenas dois materiais
encerrando-se completamente em si mesma na cortiça e na chapa perfurada como
segunda pele a todos os vãos.
53
“
É, por natureza, um edifício “disciplinado”. São as próprias
necessidades funcionais, espaciais e térmicas que lhe
determinam a expressão. Surge isolado no espaço: disciplina
extensível ao território.
Ficha técnica
”
ARMAZÉM
Arquiteto:
Álvaro Siza
Porto, 18 de Novembro de 2008
Álvaro Siza
S
ituada em Celeirós do Douro, Sabrosa, a Quinta do Portal investiu
cerca de oito milhões de euros na reestruturação das vinhas,
na ampliação da adega e na construção do Armazém de Estágio e
Local: Celeirós do Douro, Sabrosa - Portugal
nasce nas vinhas do Douro, fundindo-se e transformando-se em
Data do projecto/ construção: 2005-2008
utilizados, como o xisto e a cortiça, que acompanham as cores e o
Área de Construção: 4.722,25 m 2
Envelhecimento de Vinhos. Um projecto inovador e sofisticado que
Cliente: Quinta do Portal
paisagem, através da própria metamorfose dos materiais naturais
Área de implantação: 2.051,5 m 2
estado de espírito de cada estação do ano.
Fotografia: www.skyscrapercity.com
Revista Casabella, 2009
54
O sonho do proprietário da Quinta do Portal, Eugénio
Branco, torna-se realidade ao oferecer uma obra-prima da
arquitectura à idílica região do Douro e ao mundo. Com
a conclusão do armazém de estágio e envelhecimento
de vinhos da Quinta do Portal, surge mais um notável e
impressionante projecto da autoria de Siza Vieira, sendo
um dos dois projectos ligados ao vinho a que se associou
em toda a sua carreira.
Nasce, assim, um novo pólo de atracção turística no Douro,
com Centro de Visitas, auditório e sala de provas.
Um
complemento de vanguarda e excelência ao já existente
pólo turístico da Quinta do Portal, a Casa das Pipas. Uma
requintada unidade de turismo rural, vencedora dos mais
prestigiados prémios na área do enoturismo, como o Best of
Wine Tourism 2007, na categoria de alojamento, o Galardão
Internacional
Chave
Verde
atribuído
pela Associação
Bandeira Azul da Europa, e mais recentemente o Best of
Wine Tourism 2009 na categoria de Práticas Sustentáveis
de Enoturismo.
Nessa obra, o arquiteto reforça a sua capacidade em
harmonizar a sua arquitetura ao contexto, às características
físicas e às tradições.
O desenho do volume compacto, ligado à adega existente
e integrado na topografia acidentada do terreno, permite
ao usuário estacionar seu veículo no interior do lote, com
acesso direto na lateral do edifício, garantindo o movimento
de carga e descarga sem interferir com o tráfego da via
principal.
55
O projecto é composto por 4 pisos, sendo que os dois primeiros são dedicados à elaboração do vinho.
O primeiro piso na realidade é um subsolo, minimizando o impacto volumétrico, utilizado no espaço para
engarrafamento. No piso superior a área é dedicada ao depósito do vinho em grandes tonéis.
os barris e
Capacidade de vasilhas:
Piso O
Dependendo da disposição e níveis de empilhamento,
existe capacidade em manter em stock, para além
dos 19 tonéis, 1.100 a 2.000 barricas, ou seja,
640.000 a 800.000 litros.
Piso 1
Mantendo a configuração a dois níveis e apenas nos
corredores centrais, a capacidade é de 600 barricas
(180.000
litros).
Mas
utilizando
a
capacidade
máxima, com corredores laterais e a cinco níveis
de empilhamento, é possível incluirmos 3.040
barricas.
Os outros dois pavimentos, respectivamente os 3°
e 4° andares são destinados aos visitantes para
degustação dos vinhos e um auditório com sala de
projecção.
56
Como material de construção são empregue no edifício, o
cimento armado aparente em paredes e tectos, pilares em
aço, pedra xisto, como material de revestimento aplicado
na parte inferior do edifício e o aglomerado puro expandido
revestindo a parte superior. Além disso, o último volume,
de cor laranja, através das suas curvas apresenta a leveza,
que realçam a beleza do vale português.
Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira
Nasceu em Matosinhos a 25 de Junho de 1933 e é
internacionalmente conhecido como Siza Vieira. Licenciou-se na
Escola Superior de Belas Artes do Porto e é actualmente o mais
conceituado e premiado arquiteto contemporâneo português.
Fotografia Jesús García
57
C
Ficha técnica
oncebido pelos arquitetos, Álvaro Siza Vieira e
Eduardo Souto de Moura, com o propósito de participar
PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL
nas típicas feiras internacionais,caracterizadas pelo utilizo
Arquiteto:
de pavilhões desmontáveis. Estas exposições assumem
Álvaro Siza e
uma importância relevante no que concerne a palcos de
Eduardo Soto Moura
afirmação internacional dos países participantes, através
de espaços de intercâmbio cultural, de aprofundamento de
cooperação entre os povos e de estímulo à investigação e
ao desenvolvimento científico e tecnológico. Portugal não
poderia deixar de prestar o seu contributo às questões
implicadas no tema da Expo 2000. Portanto,além de
proporcionar o conhecimento dos aspectos culturais,
sociais, naturais e paisagísticos, pretendendo-se explorar
as questões ambientais.
Local: Coimbra- Portugal
Data: 2000 Hannover/ 2003 Coimbra
Data da Conclusão: Maio 2000
Área de Terreno: 2.051,5 m 2
Área Construida: 4.722,25 m 2
Fotografia: Jesús García
58
Por este motivo, o impacto ecológico do edifício português
tornou-se
uma
prioridade,
na
compatibilização
entre
as atividades humanas e a natureza, entre a tradição e
a modernidade e, simultaneamente evoca a luz e o mar
português.
O projeto apresenta seu formato é em L,
com cobertura
ondulada, forma orgânica, feita em tela sintética dupla, de
modo a permitir a entrada de luz, assim como o isolamento
térmico, a criar boas condições acústicas.
Exteriormente, o Pavilhão é revestido em cortiça e parte
do edifício é revestido em azulejos. Este aglomerado de
cortiça oferece boas condições de durabilidade no exterior,
operando como isolante térmico que interage com o meio,
da alteração de cor que o material apresenta quando
exposto à intempéries.
Desde 2003, o Pavilhão encontra-se montado dentro de
um parque, em Coimbra, servindo de apoio a atividades de
exposição , música, aulas, etc.
O pavilhão prima pela originalidade e pelo sucesso na
harmonia entre a modernidade e o respeito pela tradição,
aliando as mais altas tecnologias à inovação no uso de
materiais naturais, de modo a traduzir a necessidade em
consolidar a sustentabilidade, entre as relações com o
Fotografia Jesús García
homem, o ambiente e a tecnologia.
59
“
Pensamos que o mais interessante em arquitetura não é
resolver problemas, é resolver problemas criticamente.
De uma forma que questione as práticas correntes da
construção e, se é permitida esta ambição, da sociedade em
que vivemos.
”
Plano B Arquitetos
Junho 2007
A
Ficha técnica
Residência
plano b
arquitetura
Arquitetura:
Plano B (Eduardo Carvalho,
Francisco Freire, Luís Gama)
Local: Arruda dos Vinhos
residência, em questão, está implantada onde anteriormente
existia as ruínas de um edifício, localizada na Arruda dos
Vinhos, numa reserva ecológica. Desta forma, a fim de manter a
implantação existente, o projeto contou com 60 m²
construção e impermeabilização.
de área de
Área: 60 m²
Data: 2005-2008
Fotografia: Sandra Pereira; Plano B arquitetura
Fonte de informação: Coelho, J.P., 2010. Casa em Arruda
dos Vinhos- Plano B Arquitectos. (tese de licenciatura em
Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa).
60
Os materiais de construção empregue no novo edifício
A aplicação do aglomerado puro expandido de cortiça foi
existente, tais como, a pedra, a terra e a madeira. Desta
o qual acreditava que a aplicação de um material natural
procuraram fazer analogia aos materiais aplicados na obra
forma, a estrutura da casa foi composta por madeiras
de eucalipto de secção 20x10cm espaçadas de 60 cm
entre elas, por paredes em taipa, compostas por terra e
palha, com total de 20 cm de espessura, com o propósito
de absorver a humidade provocada no inverno e para o
arrefecimento no verão.
Planta de Fundação
uma escolha feita em conjunto com o proprietário da obra,
respeitaria os valores da reserva ecológica. Deste modo,
o material foi aplicado na face externa das paredes, com
5 cm de espessura e
fêmea.
encaixado num sistema macho e
61
Seguindo a lógica do isolamento térmico, os vidros
fixos da casa receberam um tratamento para evitar as
grandes trocas de energia com o exterior e atingirem as
características semelhantes as paredes internas com 20
cm de espessura.
O conjunto de componentes da casa - laje e fundações,
paredes, vãos
envidraçados e cobertura - apresentam
ótimos coeficientes de transmissão. Isto significa, que
a casa funciona bem ao nível térmico e cumpre bem um
eficiente papel.
Detalhe da aplicação da cortiça
62
Tipo
Espessura
R Resistência
térmica
PAREDES EXTERIORES
Chapas de
policarbonato
ondulado
0,004
2,9
0,0014
0,472
397,892
Estrutura metálica de
tubos galvanizados
0,025x0,025
--
0,16
--
--
0,10
0,23
0,43
--
--
Placas de aglomerado
negro de cortiça
0,05
0,045
1,11
2,421
--
Ripado em madeira
de pinho; tabique
de terra
0,20
0,92
0,22
--
--
Reboco a cal e areia
0,025
0,7
0,04
--
--
MDF hidrófugo
0,008
0,5
0,016
2,230
--
OSB 4
0,011
0,20
0,055
--
--
ISOLAMENTO
Madeira (Pinho)
PAREDES INTERIORES
F o n t e : C o e l h o , J . P. , 2 0 1 0 . C a s a e m A r r u d a d o s V i n h o s - P l a n o B A r q u i t e c t o s .
63
C
Ficha técnica
oruche é o maior concelho produtor de cortiça. Isso se
explica a construção do Observatório, nessa área.
Observatório do sobreiro e
da cortiça
O local de implantação do edifício, zona industrial, é
uma
área
descaracterizada
arquitectónicamente,
Arquiteto:
pois
Manuel Couceiro
os edifícios envolventes não foram alvo de preocupação
estética ou de composição, o que de partida desbenefecia
a configuração do edifício proposto, a ter-se optado desde
início por uma geometria marcante e arrojada, que adquiriu
a expressão máxima nas fachadas revestidas a cortiça.
Local: Coruche- Portugal
O facto de estar situado na zona industrial, próximo
Data do Projecto: 2006-2007
observatório a verificação diária das alterações que
Fotos e esquiços: cedidas pelo próprio Arq.
intervenção de manutenção, isto será de fácil acesso.
Fonte de informação: Arq. Susana Couceiro
das fabricas transformadoras de cortiça, permite ao
Data da Conclusão: Maio 2009
ocorrem, na produção da cortiça e caso necessite, alguma
Manuel Couceiro
Como originalidade do Observatório encontramos o uso
de cortiça como revestimento das fachadas, tornando-se
novidade, reforçada por uma fachada ventilada, e criada
exatamente para ser a imagem de marca do edifício, de
modo a identificá-lo e associá-lo rapidamente à temática
da cortiça.
Foi a primeira vez que o arquiteto pensou e utilizou a
cortiça, quer nas suas vertentes mais usuais (isolamentos),
quer em novas aplicações e linguagens, aplicando-a com
mestria e de forma inovadora, reforçando o potencial do
material.
O edifício começou a ser construído em Julho de 2007
e foi inaugurado em Maio de 2009, sendo o projecto de
2006/2007.
O protótipo da fachada foi executado no decorrer do
projecto de execução (1 ano antes da obra), para se aferir
com precisão a estereotomia pretendida, indo ao encontro
das dimensões fornecidas pela natureza e sem impor
regras industrializadas.
65
Planta Piso 1
67
Alçada Nascente
O protótipo permitiu criar uma regra para as fachadas, onde se introduziram
os vãos que ficam enquadrados na esterotomia, contudo aparentemente essa
lógica não é perceptível.
A ideia em utilizar materiais naturais nos
acabamentos e constituições do
edifício, permite melhor enquadramento temático da cortiça na sua produção
natural.
A cor das janelas é tradicional da região e permite criar contraste com as
tonalidades naturais da cortiça, denotando dinâmica e vitalidade ao edifício.
O edifício adquire uma metáfora relacionada ao sobreiro, ao utilizar 2 tipos
de cortiça, a virgem e a amadia, e no topo existirem uns elementos de
sombreamento, como conotação à folhagem.
68
O facto do auditório ser revestido a cortiça, ter painéis
com relevo e terem sido pintados frescos sobre a cortiça,
também exemplifica grande inovação.
Esquisso Arquiteto Manuel Couceiro
69
Ficha técnica
O
conceito da Eco-cabana surgiu da parceria entre a
Agência
Municipal
de Ambiente
Cascais
ECO - CABANA
Natura,
Câmara Municipal de Cascais e Barbini Arquitectos,
os
quais a definiram como uma habitação de pegada ecológica
mínima, decorrente do utilizo de materiais reciclados ou
barbiniarquitectos
Arquitetura:
Barbini arquitectos
recicláveis, bem como, a energias renováveis.
Vencedores do concurso “Ideias Verdes”, promovido pelo
Expresso e pela Água do luso em 2007, a construção do
protótipo só teve início em dezembro de 2009. Localizada
entre o Parque Marechal Carmona e o Museu do Mar, a
eco-cabana alberga atualmente o primeiro Greenhotspot de
Cascais, disponibilizando de informações e sugestões de
atividades e percursos no Parque Natural Sintra-Cascais.
Promotor: Câmara Municipal de Cascais e
Cascais Natura
Revestimento exterior em cortiça: Amorim
isolamentos, S.A.
Construção: Carmo
Domótica: JGdomótica
Energias renováveis: Alternative4U
Fotografia: Barbini Arquitectos
70
A realização do protótipo serviu
para apurarem questões técnicas
relacionadas
com
o
processo
construtivo, que posteriormente
será transposto para a criação
diferentes
tipologias
(Open
Space, T2, Camaratas, unidades
de campo…).
Relativamente ao método construtivo,
o protótipo apresenta
uma estrutura em
madeira, sobre a qual é aplicado o revestimento
interno em OSB 22 , e exterior em cortiça, aplicada
num sistema de encaixes com fixação mecânica,
de modo a ocultar o sistema de fixação.
A Eco-cabana dispõe-se de sistemas de captação de
energia limpa, solar e eólica e a captação de águas
pluviais, através do sistema de autociclismo. Esses
sistemas fazem referimento ao próprio conceito
defendido pelo projeto, quanto a minimização do
22
OSB - (Oriented Strand Board) é um painel estrutural de tiras de madeira orientadas perpendicularmente, em diversas camadas, o que aumenta sua resistência
mecânica e rigidez. Essas tiras são unidas com resinas aplicadas sob altas temperatura e pressão. Através desse processo de engenharia automatizado, os
painéis permanentemente controlados e testados para verificar seus níveis de acordo com os padrões de qualidade. Disponível site: http://montagge.com.br.
Acesso 24.08.2011.
71
impacto ambiental em áreas protegidas, a conservação e a
preservação da natureza.
Além
disso,
todos
esses
sistemas
aplicados
à
eco-
cabana contam com o controle energético, os chamados
eco-créditos, sistema interno que auxilia os usuários a
quantidade de recursos fornecidos pela natureza, que
estão disponíveis para o consumo.
72
73
Ficha técnica
A
Adega da Logowines situa-se numa faixa de
ADEGA LOGOWINES
Arquitetura:
terreno, com 3,5 ha, pertencente à Herdade da
Leonor Duarte Ferreira/ Miguel Passos
Pimenta em São Miguel de Machede no Concelho de
de Almeida /pmc Arquitectos
Évora.
Com uma configuração rectangular de 110m por 27m,
compõe-se um volume revestido a painéis de cortiça,
interceptado por 3 “caixas” cinza, que organizam as
principais zonas funcionais da adega.
por
dois
pisos,
estando
um
deles
parcialmente enterrado com intuito de aproveitar as
melhores
condições
climatéricas/ambientais
para
a produção, vinificação, conservação e estágio de
vinho.
Data do Projecto: 2005/2007
Data da Obra: 2007/2009
Área de implantação: 3.102m 2
A adega tem o total de 3780,00 m² de construção,
distribuídos
Local: Herdade da Pimenta, São Miguel de Machede, Évora Portugal
Área de Construção: 3.780m 2
Estruturas: João Prego
Paisagismo: Filipa Cardoso de Menezes / Catarina Assis Pacheco / Fe
C Arquitetura Paisagística
Especialidades: Procale
Construtor: Prediobra
Fiscalização: Procale
Fotografia: PMC Arquitectos
74
Implantação do edifício
A adega assume-se como uma ligação formal entre as
Interiormente, a grande nave com 9,5m de pé direito livre,
dado às fachadas, com uma forte marcação de linhas
produção inovador, com cubas sobrepostas, que potenciam
tradições do lugar e a dinâmica dos nossos dias. O ritmo
horizontais, com recurso a várias espessuras dos painéis de
revestimento em cortiça, onde se fundem as fenestrações
para iluminação natural interior é reforçado pelo natural
foi projectada com o objectivo de desenvolver um método de
o sistema de gravidade, evitando a contínua bombagem do
vinho durante as várias fases do processo de vinificação.
comportamento do material escolhido, provocando um jogo
A zona de recepção do vinho localizada no piso superior,
de um edifício evolutivo, que sofre mutações ao longo do
no piso semienterrado e onde se pode encontrar um
de texturas, tons e sombras, que contribuem para a ideia
tempo, numa clara alusão ao processo de maturação do
vinho durante o período de fabricação.
separa as áreas de vinificação e conservação, localizadas
pequeno laboratório de apoio ao funcionamento da adega.
O volume, ao nível do piso inferior, está equipado ainda
com uma sala de estágio para
400 meias pipas, um armazém
de estágio de garrafas, uma linha
de enchimento e um armazém
de
secos
e
expedição
com
700,00m2. Um laboratório central,
para análise e provas, uma sala
de
refeições
e
os
vestiários/
balneários para os funcionários,
formam
as
restantes
áreas
técnicas do conjunto edificado.
75
Piso 1, Piso 0 e Alçada
76
No piso superior, que ocupa a área das duas
“caixas” localizadas a nascente, fica a área de
enoturismo e zona administrativa, com espaço de
recepção, zona de provas, um ponto de vendas,
e conjunto de gabinetes e salas de reunião.
Estes espaços têm forte relação com o exterior,
quer através dos grandes envidraçados que
abrem sobre as vinhas existentes na envolvente
do
edifício,
quer
através
do
pátio
interior,
preparado para ser utilizado diariamente num
ambiente
acolhedor
e
intimista,
trabalha ou visita a adega.
para
quem
77
“
Ficha técnica
Mar enquanto corpo uno, transparente, com brilhos
e reflexos, que funciona como elemento de ligação
entre continentes; Continentes que surgem como
corpos maciços, pousados sobre a leveza do mar.
COLEGIO PEDRO ARRUPE
Arquitetura:
”
Gonçalo Rangel de Lima
Jorge Matos Alves
Pedro Neto Ferreira
A
ideia para este projecto nasce do pressuposto de
uma vertente educacional com ligação ao mar e à
sustentabilidade. Mar enquanto elemento de ligação entre
continentes; continentes que surgem enquanto corpos
sustentáveis.
Local:
Lisboa- Portugal
Cliente: ALRISA - Sociedade Imobiliária, S.A.
Data da construção: 2009-2010
Área de Construção: 17.500 m2
Fotografia: fornecidas pelo GJP Arquitectos
Paisagismo: Jardim do Paço
78
O desenvolvimento do edifício baseia-se num conjunto
de blocos independentes, interligados por uma membrana
transparente,
exteriores
que
cria
cobertos,
um
conjunto
garantindo
as
de
passadiços
necessidades
de
circulação. Esta pele envolve o piso térreo de todos
os blocos e circula entre eles, criando a ilusão de um
embasamento unificado, sobre o qual pousam alguns
corpos de aspecto mais encerrado e pesado.
Na concretização desta ideia, foram adoptados 2 materiais,
o tijolo de vidro e o aglomerado negro de cortiça.
Piso 1 e Piso 2
79
O
tijolo
de
vidro,
na
caracterização do mar no
embasamento, surge como
material transparente, com
reflexo e com brilho, que
permite a passagem de
luz, onde deixa ver e
ser visto, numas zonas
mais,
noutras
menos,
consoante o tijolo mais
liso
e
transparente
ou
translúcido. Como o próprio
mar, não é homogéneo,
embora aparente ser.
Detalhe da aplicação da cortiça
A cortiça surge como revestimento exterior das fachadas
nos pisos superiores dos blocos, que parecem pousar
sobre o embasamento em tijolo de vidro. A escolha deste
aglomerado remonta à preocupação com a sustentabilidade,
por ser um material natural, que garante não só uma
excelente capacidade de isolamento térmico, como funciona
perfeitamente como revestimento exterior, interagindo com
as condições atmosféricas e clareando ou escurecendo,
com o sol ou a chuva, respectivamente.
Esta capacidade remete-nos para a imagem dos continentes
em mudança, em evolução, em transfiguração.
As coberturas vegetais são outro tema a abordar neste
projecto, também com a preocupação da sustentabilidade.
80
Na concretização desta ideia, foram adoptados
Esta capacidade remete-nos para a imagem
negro de cortiça.
em transfiguração.
2 materiais, o tijolo de vidro e o aglomerado
dos continentes em mudança, em evolução,
O tijolo de vidro, na caracterização do mar
As
transparente,
preocupação da sustentabilidade.
no
embasamento,
com
surge
como
reflexo,
com
material
brilho,
permite a passagem de luz, deixa ver e ser
visto, numas zonas mais, outras menos,
consoante o tijolo mais liso e transparente
ou translúcido. Como o próprio mar, não é
homogéneo, embora aparente ser.
A cortiça surge como revestimento exterior
das fachadas nos pisos superiores dos
blocos,
que
parecem
pousar
sobre
o
embasamento em tijolo de vidro. A escolha
deste aglomerado remonta à preocupação
com a sustentabilidade, por ser um material
natural, que garante não só uma excelente
capacidade de isolamento térmico, como
funciona perfeitamente como revestimento
exterior, que interage com as condições
atmosféricas, clareando ou escurecendo,
com o sol ou a chuva.
coberturas
vegetais
são
outro
tema
a abordar neste projecto, também com a
81
“
Portugal, uma praça para o mundo;
Portugal, energias para o mundo
Ficha técnica
”
PAVILHÃO PORTUGUÊS
Arquitetura:
Carlos Couto
A Expo 2010 teve como tema “Melhor Cidade, Melhor
Qualidade de Vida”,
foi maior evento internacional
organizado pela China, depois dos Jogos Olímpicos de
Pequim de 2008. O evento contava a presença de mais de
240 países e organizações internacionais numa área de
528 hectares, ao longo das duas margens do rio Huangpu,
afluente do rio Yangtze, que atravessa Shanghai.
Local: Shanghai, China
Data da Conclusão: Maio 2010
Construtora: PAL Asia Consult, sediada em Macau.
Área construída: 2000 m²
Fotos: www.portugalexpo2010.com.pt
82
O arquiteto português
Carlos Couto criou uma obra
de 2000 m² revestida em aglomerado puro de cortiça,
como meio de reforçar os conceitos de inovação e as
boas práticas ambientais, integrando-os
sustentabilidade.
ao conceito de
“Portugal, uma praça para o mundo; Portugal, energias
para o mundo”.
O edifício
reflete o conceito de sustentabilidade nas
cidades contemporáneas, realçando-o como elemento-chave
das políticas nacionais em termos económico-ambiental.
Deste
modo,
situado
numa
posição
privilegiada
da
83
Expo, o edifício concebido em forma de paralelepípedo
ponteagudo, possuía no seu interior seis áreas funcionais:
área Protocolar, área Expositiva, Centro de negócios, área
comercial, área administrativa e área técnica.
Entretanto, a área expositiva abordava questões que
envolviam relações históricas entre Portugal e a China,
através de documentos, réplicas e obras de arte.
02
86
D
ezenas de milhões de células prismáticas por centímetro cúbico, preenchidas com um gás semelhante ao
ar atmosférico, são o que conferem à cortiça a eficácia no isolamento a ruídos de impacto, e a particular
resistência e resiliência à compressão, que lhe permite recuperar quase completamente a sua forma e tamanho
originais após um choque ou deformação.
A cortiça granulada, com as suas propriedades inerentes, aglutina-se quando unida quimicamente a certos
materiais, tais como a borracha, o plástico, o asfalto, o cimento, o gesso, a caseína, a resina e colas, formando
uma combinação homogénea denominada aglomerado composto, constituinte de uma ampla gama de produtos
usados para diversos propósitos. Dos aglomerados compostos resultantes da combinação da cortiça com os
materiais mencionados acima, destaca-se a mistura da cortiça com a borracha - conhecida pelo termo inglês
cork rubber.
87
N
o
que
respeita
ao
isolamento
acústico
numa
O segundo tipo, transmissão de ruídos aéreos, é referente
mensuráveis que requerem redução para a obtenção de um
cómodos contíguos de um edifício, cuja fonte sonora faz
edificação, existem dois tipos de transmissão de ruído
ambiente agradável e cumpridor de legislação: transmissão
de ruídos de impacto e transmissão de ruídos aéreos.
O primeiro tipo refere-se à transmissão de ruídos causados
à propagação de ruídos produzidos no exterior ou em
vibrar o ar diretamente. São exemplos de ruídos aéreos,
as ondas sonoras provenientes da televisão, do rádio e de
conversas em voz alta.
por qualquer tipo de impacto desferido contra uma superfície
Para a atenuação do nível sonoro de ruídos aéreos, é
ou o contato e atrito da sola dura de um calçado com o
o uso de materiais construtivos de massa e espessuras
de separação, como por exemplo, o bater de uma porta
pavimento. Este tipo de transmissão de ruídos é uma parte
da construção que vibra primeiramente e, que transmite,
em seguida, essas vibrações ao meio edificado através
da propagação de ondas sonoras difundidas por corpos
sólidos.
A redução efetiva da transmissão de ruídos de impacto
e das vibrações resultantes desse impacto faz-se com a
interposição de um elemento elástico, como por exemplo,
aconselhável, no caso da construção de paredes duplas,
distintas,
intercalados
com
Segundo
os
de
elevada porosidade.
códigos
absorventes
construção
em
acústicos
Portugal,
de
a
intensidade sonora da transmissão de ruídos de impacto
deve ser inferior a 60 decibéis (dB), enquanto que para a
transmissão de ruídos aéreos, o valor do isolamento deve
ser superior a 50 decibéis (dB).
o aglomerado de cortiça, entre o piso e a laje do edifício,
de modo a garantir uma completa independência de contato
entre essas duas superfícies. A intensidade do nível sonoro
da transmissão de ruídos marginais - potências sonoras
originárias das estruturas adjacentes - por sua vez, é
reduzida com a aplicação do aglomerado de cortiça na
descontinuidade entre a betonilha do piso e as paredes
circundantes.
F o n t e : w w w. l a r g e m i n d . p t
88
A
Amorim Cork Composites (ACC) é uma subsidiária da
Com efeito, são apresentados e discutidos neste trabalho
indústria da cortiça e uma das mais internacionais empresas
em que foram utilizados produtos AcoustiCORK ® , do tipo
Corticeira Amorim, S.G.P.S., S.A., a líder mundial da
portuguesas. Ademais, seguidora de padrões ambientais
e sócio-económicos rigorosos relativamente à extração
dessa matéria-prima renovável de valor inestimável, a
Amorim Cork Composites (ACC) empenha-se na pesquisa
alguns projetos, tanto de âmbito nacional como internacional,
Underlay, como uma alternativa aos produtos de origem
sintética, para a obtenção de um
técnico no isolamento sonoro.
melhor desempenho
e no desenvolvimento tecnológico a fim de desenvolver
produtos inovadores e de alto valor acrescentado, incluindo
a produção de materiais em cortiça para a construção.
Os materiais em cortiça desenvolvidos pela Amorim Cork
Composites (ACC) são classificados de acordo com os
propósitos aos quais se prestam, nas seguintes categorias:
AcoustiCORK ® (para isolamento a ruídos de impacto e
isolamento térmico), ExpandaCORK (para absorção da
dilatação em elementos de betão), Isophone (para absorção
sonora e revestimento de parede) e ACM - Acoustic Core
Materials (para painéis modulares). Neste capítulo, serão
abordadas exclusivamente as particularidades dos produtos
AcoustiCORK ® , que estão, por sua vez, subdivididos nos
tipos aplicativos Underlay
23
, Underscreed e Underfloor
heating, dos quais o primeiro tipo receberá o maior
enfoque.
23
F o n t e : w w w. l a r g e m i n d . p t
O termo underlay de cortiça refere-se ao produto obtido da combinação da cortiça com a resina, comumente instalado abaixo de diversos tipos de pavimento,
tais como flutuante, parquet, cerâmico, vinílico e alcatifa, e que proporciona a redução do ruído de impacto, melhoramento no isolamento térmico e maior
conforto ao caminhar.
89
N
o projeto deste bar-café, em São Martinho do Porto,
optou-se por utilizar o produto AcoustiCORK ® T61,
com o intuito de reduzir o nível sonoro de ruídos de impacto
dos pavimentos cerâmicos, melhorar o seu isolamento
térmico e a sua absorção acústica, bem como reforçar a
sua resistência à compreesão para prevenir o surgimento
de fissuras na sua estrutura.
Ficha técnica
Bohémia Café
Localidade: São Martinho do Porto, Região de Lisboa e Vale do Tejo
Produto: AcoustiCORK ® T61 - 5mm
Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 16dB
Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica, 0,043 W/m°K;
resistência térmica, 0,132 m²°K/W
90
O
Cacou Caffé é um estabelecimento moderno localizado
na cidade de Aveiro, em Portugal. Com tendências
minimalistas, este edifício possui o produto AcoustiCORK®
T11 Underlay aplicado na parte inferior do seu pavimento
de madeira colada, um subpavimento constituído de cortiça
aglomerada, que concede ao piso uma redução significativa
na transmissão de ruídos de impacto e um aumento de sua
capacidade de isolamento térmico.
Uma particularidade na estruturação deste produto está na
utilização de uma barreira sonora periférica de 45mm de
altura, a fim de reduzir a intensidade de propagação de
ruídos de impacto lateral.
Ficha técnica
Cacou CafFé
Localidade: Aveiro, Região Centro, Sub-região do Baixo Vouga
Produto: AcoustiCORK ® T11 - 3mm
Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 26dB
Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/
m°K; resistência térmica: 0,077 m²°K/W.
91
N
este edifício residencial lisboeta foi aplicado o produto
AcoustiCORK ® T11, de 12mm de espessura, colocado
na parte inferior do pavimento, com o propósito de conferir
ao piso uma melhoria da sua capacidade de isolamento
térmico.
Ficha técnica
Edifício Residencial
Localidade: Largo das Belas Artes, Lisboa, Região de Lisboa e Vale
do Tejo
Produto: AcoustiCORK ® T11 - 12mm
Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 26dB
Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/
m°K; resistência térmica: 0,077 m²°K/W
92
O
Novotel, um luxuoso hotel de 4 estrelas na capital
da Turquia, utiliza um sub-pavimento AcoustiCORK ®
C11, material natural e eco-sustentável, capaz de reduzir
consideravelmente a transmissão de ruídos de impacto nos
pavimentos flutuantes.
Quanto à sua estruturação, o produto AcoustiCORK ® C11
é aplicado sobre uma película de polietileno de baixa
densidade que cobre toda a superfície dos pavimentos, bem
como as paredes circundantes e as juntas laterais, com
alturas pré-definidas de 50mm e 100mm, respectivamente.
Ficha técnica
Novotel
Localidade: Istambul, Turquia
Produto: AcoustiCORK ® C11 - 2mm
Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 20dB
Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica, 0,043 W/
m°K; resistência térmica, 0,051 m²°K/W
93
C
oncluída no ano de 2009, a construção do estádio
Green Point foi motivada pela eleição da Cidade do
Cabo como sede do Campeonato do Mundo de Futebol de
2010. Neste complexo de grandes dimensões, foi utilizado
o produto AcoustiCORK ® T11, como subpavimento das
estruturas em madeira laminada colada que cobre os
corredores de acesso às salas VIP, com o intuito de atenuar
o nível sonoro da transmissão de ruídos de impacto e
simultaneamente, melhorar o isolamento térmico do piso.
Ficha técnica
Estádio Green Point
Localidade: Cidade do Cabo, África do Sul
Produto: AcoustiCORK ® T11 - 3mm
Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 26dB
Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/
m°K; resistência térmica: 0,077 m²°K/W.
94
A
T61
torre Al Habtoor, um enorme arranha-céu localizado na
cidade de Abu Dhabi, possui o produto AcoustiCORK ®
utilizado
como
subpavimento
para
pavimentos
cerâmicos, com o intuito de melhorar o isolamento acústico
de ruídos de impacto, e prevenir o aparecimento de fissuras
no piso.
Ficha técnica
Torre Al Habtoor
Localidade: Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos
Produto: AcoustiCORK ® T61 - 5mm
Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 16dB
Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/
m°K; resistência térmica: 0,132 m²°K/W.
02
98
A
noção de arquitetura sustentável, inserida no contexto da arquitetura e envolvendo o ambiente e o
edificado, reveste-se de grande atualidade e apresenta como ponto de partida o desenvolvimento do
conceito de construção sustentável e dos seus benefícios.
O conceito de desenvolvimento sustentável deve ser intrínseco à dinâmica de construção sustentável,
abrangendo aspectos ambientais, sociais e economicos. A procura de equilíbrio deve ser efectuada através
de maior eficiência, reduzindo a intensidade em materiais e energia e valorizando a dinâmica ambiental
(Pinheiro, 2006).
O sector da construção apresenta impactes ambientais importantes, associadas aos aspectos negativos das
quatros fases associadas a um qualquer edificio - concepção, construção, operação e desactivação. Importa
assim, disponibilizar alternativas simples adaptadas ao local e alternativas aos materiais de construção
que auxiliem a concretização de projectos de carácter sustentável. De um ponto de vista ambiental, a
sustentabilidade passa pelo desenvolvimento de projectos termicamente mais eficientes, através de melhores
condições ambientais interiores, obtidas com um menor consumo energético, conduzindo a um menor impacte
ambiental.
“
Por desenvolvimento sustentável entende-se o desenvolvimento que satisfaz
as necessidades actuais sem comprometer a capacidade das gerações
futuras para satisfazerem as suas próprias necessidades.
”
(World Commission on Environment and Development, 1987)
“
N
99
Todos podemos fazer alguma coisa, e o que fizermos agora
conta mais do que em qualquer outro momento da história.
”
John Elkington e Julia Hailes
o final do século XIX, surge um novo material de
Para amenizar os resultados negativos causados ao ambiente,
para as crescentes exigências funcionais dos materiais
sobre Sustentabilidade [“The First International Conference
Porém, com o passar dos anos, foram surgindo defeitos e
aborda as questões relativas à construção sustentável,
se julgava económico e eterno, revelou as suas fraquezas:
do emprego de recursos renováveis e da maximização da
construção, o betão, que aparentava ser a solução
realizou-se em 1994 a primeira Conferência Internacional
– economia, resistência e durabilidade (Mateus, 2004).
on Sustainable Construction”], na Flórida, E.U.A., que
anomalias no betão armado e este material, que de início
com o objectivo de propor ambientes saudáveis, através
(a) a sua limitada durabilidade, muito dependente de
reutilização de recursos naturais.
os elevados consumos energéticos dispendidos durante o
Entretanto, o termo “construção sustentável” é usado
– e durante as operações de demolição e de reciclagem,
descrever as responsabilidades das indústrias para com o
exigidos por esta tecnologia (Mateus, 2004).
de construção, os produtos e o processo de construção
É somente em meados do século XX que se iniciam as
novo critério de sustentabilidade.
salubridade. A partir do início dos anos 80, observa-se um
Este novo conceito introduziu uma nova composição
em que prevalecem as questões do bem-estar material,
determinado por apenas três factores: qualidade, tempo
onerosas intervenções de manutenção e de reabilitação; (b)
fabrico dos materiais que o compõem – cimento e agregados
pela primeira vez pelo professor Kibert 24
bem como, (c) a elevada quantidade de recursos naturais
tema sustentabilidade. A prioridade era analisar os materiais
primeiras
preocupações
associadas
a
em 1994, para
das edificações tradicionais para então compará-los com o
questões
de
grande aumento no progresso tecnológico e económico,
no triângulo adaptado à indústria da construção – antes
independentemente dos prejuízos causados à natureza.
e custo – e que passa a abranger aspectos referentes,
24
Charles Kibert : professor na Faculdade de Projecto, Construção e Planeamento da Universidade da Florida. É co-fundador da Cross Creek Initiative, empresa
sem fins lucrativos que tem como objetivo implementar os princípios da sustentabilidade na construção. Disponível em : www.fec.unicamp.br/.
25
Agenda 21 local: é um documento resultante da CNUMAD, também conhecida como cimeira da Terra, que decorreu no Rio de Janeiro em 1992. A Agenda 21
é um documento de referência que define medidas orientadoras necessárias neste século para que se concretize a transição para a sustentabilidade (Pereira,
2009).
100
por exemplo, à qualidade ambiental. Desta forma, a
construção
sustentável
soma
a
essas
temáticas
as
preocupações ambientais relacionadas com o consumo
footprint], desenvolvida por W. Rees e Matis Wackernagel
(Wackernagel e Rees, 1995).
de recursos naturais, as emissões de poluentes, a saúde
O
cujo desafio principal é o de contribuir para a qualidade de
valores estatísticos, seguidamente convertidos em valores
e a biodiversidade, o que constitui um novo paradigma,
vida, para o desenvolvimento económico e para a equidade
social (Agenda 21).
A Agenda 21
25
local é um processo participativo e multi-
sectorial, com vista a atingir os seus objectivos ao nível
local, através da preparação e implementação de um plano
estratégico de acção a longo prazo, dirigido às prioridades
locais,
respeitando
(Pinheiro, 2006).
o
desenvolvimento
sustentável
Em Portugal, grande parte dos municípios desenvolve e
implementa a Agenda 21 Local, a qual, por vezes, tem sido
conceito
de
pegada
ecológica
tem
por
base
a
caracterização das actividades e dos respectivos fluxos em
espaciais. Estes valores podem ser comparados com a
disponibilidade de espaço existente no país ou no mundo, de
forma a suportar as restantes actividades, com a obtenção
de uma indicação da eventual sustentabilidade. Através
destes cálculos é possível comparar as necessidades da
humanidade com a capacidade bioprodutiva e regenerativa
do planeta, de modo a avaliar a sustentabilidade praticada
atualmente. Entretanto, o mínimo de sustentabilidade só
ocorre quando a pegada ecológica da
humanidade for
menor que a capacidade biológica produtiva do planeta
( Pinheiro, 2006).
designada por Plano Municipal de Ambiente: declaração de
Assim, a construção sustentável de novos edifícios, das
acções delineadas sejam feitas com o consentimento dos
poderá dar inicio a uma etapa decisiva, no sentido de
intenções que permite assegurar que as realizações das
actores locais.
As atividades humanas, a procura de áreas construídas e
recursos que motivam, exercem pressão sobre o espaço e
respectivas infra-estruturas e da renovação dos existentes
melhorar o desempenho ambiental das cidades e da
qualidade de vida dos seus cidadãos.
Os estudos realizados pelo United States Green Building
26
afeta o ecossistema. De entre as abordagens existentes
Council , a partir dos conceitos de construção sustentável,
o eventual efeito daqui resultante, destacam-se as que
qualidade de vida e da saúde dos ocupantes de escritórios
surgidas nos últimos anos, no sentido de compreender
tentam comparar o consumo e a pressão das actividades
com o território necessário para as suportar. Neste caso,
encontra-se a designada pegada ecológica [ecological
26
apontaram resultados significativos como a melhoria da
em edifícios verdes de 2% a 16% mais produtivos e também
no progresso da aprendizagem de 40% dos estudantes
em escolas, que apresentavam a iluminação natural como
U.S. Green Building Council : organização sem fins lucrativo. Disponível em http://www.usgbc.org/. Acesso: 12.08.2011.
101
Atualmente 50% da população global vive em centros
Quando se abordam os efeitos da construção, muitas vezes
pessoas passam cerca de 90% do seu tempo nos edifícios
negativos e incomodidades associados à obra em si, isto é,
urbanos e estima-se que, no continente europeu, as
(Tirone, 2009).
O sector construtivo é o grande responsável pela emissão
dos gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera (valor
centra-se a análise numa parte importante dos efeitos
à fase de construção, quando grande parte dos benefícios
se associam à fase de operação. Esta percepção pode
conduzir a uma abordagem reducionista (Pinheiro, 2006).
estimado em 40%). Esta situação deve-se essencialmente
A primeira fase do ciclo de vida do edifício corresponde
aplicação em obra e à energia consumida nas fases de
provavelmente a fase mais importante do processo, na
à produção de materiais de construção, à sua posterior
construção, operação e manutenção (Tirone, 2009). Em
Portugal os resíduos de construção e de demolição atingem
os 4.555.000 ton/ano dos quais apenas menos de 5% são
reutilizados
27
.
É através destes dados alarmantes, que a área da construção
civil tenta procurar respostas com a utilização de materiais
sustentáveis, que possuam capacidade de entrar no ciclo
produtivo com maior aproveitamento e menos consumo de
energia, até o términe do tempo de vida do edifício.
Os impactes dos edifícios, tal como as infra-estruturas,
reflectem-se de formas diferentes nas fases do seu ciclo
de vida:
Concepção- Construção- Operação- Desativação
26
27
à etapa de planeamento e concepção de projeto. É
qual se inclui o levantamento das condições que permitem
executar o projeto e suas atividades de licenciamento,
com uma escala temporal medida em meses, podendo
por vezes atingir alguns anos. As decisões referentes ao
local, fornecedores, materiais de construção, necessidade
energética, entre outras,
serão refletidas nas fases
posteriores do ciclo de vida da construção.
Para evitar que os impactes ambientais associados a má
gestão dessa primeira fase interfiram direta ou indiretamente
nas demais etapas, é importante considerar os seguintes
requisitos:
• Optar por materiais de origem local
• Ter atenção aos materiais de origem reciclada
• Verificar se os materiais são ambientalmente certificados
• Preferir materiais que possam ser renováveis
• Lembrar sempre que os materiais têm um tempo de vida
U.S. Green Building Council : organização sem fins lucrativo. Disponível em http://www.usgbc.org/. Acesso: 12.08.2011.
Amoeda, R., 2009. Projectar para a Desconstrução. ( Conferências, Ordem dos Arquitectos, Secção Regional Norte).
102
limitado e que um dia terão de ser substituídos, optando
Após a conclusão da fase de concepção, inicia-se a etapa
• Estudar a escolha de madeiras de origem certificada,
e das soluções fundamentais previstas na primeira fase
por soluções de fácil renovação
geralmente com origem em florestas controladas
• Consultar o valor no Regulamento das Características de
Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE)
28
isolamento térmico adequado à região
para o
• Promover a redução da transmissão de calor e frio através
de caixilharias e vidros
• Permitir ventilação através das caixilharias
•
29
Garantir o isolamento junto ao solo com materiais que
não apodreçam com a humidade
• Definir cores claras na fachada e cobertura
•
Evitar tintas no interior que emitam COV’s (compostos
orgânicos voláteis)
• Gerir os resíduos produzidos em obra.
Além destas considerações, importa mencionar outros
fatores simples que contribuem para a elaboração de
projetos mais sustentáveis e que privilegiem questões de
conforto e economia. Entre eles, destacam-se:
- Optimização da iluminação, da ventilação, do conforto
energia e aquecimento
28
alternativas construtivas bem definidas na fase anterior, o
resultado é visível na fase de construção, favorecendo uma
baixa produção de resíduos em obra.
A fase de construção é determinada pelas ações que
vão desde o início da construção propriamente dita até
à ocupação pelo proprietário, envolvendo questões do
processo construtivo,
associado à intervenção do local,
alteração do uso do solo, consumo de matérias-primas,
energia e água, e as prováveis alterações no ambiente
natural ou construído.
Esta fase origina os impactes mais relevantes e alterações
significativas no ambiente num curto período de tempo,
se analisarmos os efeitos causados na ocupação do
solo, na alteração dos ecossistemas e na paisagem. No
caso das estruturas edificadas, estima-se que o impacte
20% do impacte de um edifício, em todo o seu ciclo de vida
- Uso de telhados e muros verdes
- Captação de energia solar de modo a convertê-la
para um melhor desempenho do edifício. Assim, com as
ambiental devido aos materiais represente cerca de 10-
- Captação e reaproveitamento de águas pluviais
acústico e térmico
da construção, que envolve a aplicação das estratégias
em
(Edwards e Bennet, 2003).
A etapa seguinte do ciclo de vida do edifício é a fase
de operação, que se estende desde a ocupação pelos
indivíduos até ao final da utilização do empreendimento.
RCCTE: é um dos três Decretos-Lei, DL 80/2006, que no seu conjunto faz a transposição para Portugal da Directiva, enquadrando o SCE ( Sistema Nacional de
Certificação Energértica e Qualidade do Ar Interior nos Edifícios). Freitas, V. P., 2007.
29
Caixilharias: conjunto de caixilhos (moldura de madeira ou metal para painéis) de uma construção. Disponível em http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-ao/
caixilharia. Acesso: 12.08.2011.
103
Nesta etapa podem incluir-se as operações de manutenção e
A última fase do ciclo de vida da construção é a desativação
No decorrer dos anos, na fase de ocupação e de utilização do
acréscimo de produção de resíduos, em função da forma
renovações pontuais, com carácter periódico e preventivo.
edifício, lenta mas progressivamente, o impacto ambiental
torna-se expressivo, levando em conta que a maior parte
dos equipamentos de climatização e de refrigeração (ar
condicionado, frigoríficos), libertam no ar resíduos que
causam danos significativos.
É, pois, durante a fase de operação do edificado que se
verifica a maior intensidade de emissões de GEE (Gases
de Efeito de Estufa), se comparados à fase de construção,
associada
essencialmente
a
consumos
aquecimento de água e produção de resíduos.
energéticos,
Em Portugal segundo dados do balanço energético nacional
de 1999, a operação dos edifícios corresponde a cerca de
22% do consumo final de energia. Representa um consumo
total de 3,5 Mtep (milhões de toneladas equivalente
de petróleo), sendo 13% dos edifícios residenciais e os
restantes 9% referentes aos de serviços (DGE, 2002:6).
O ambiente interior – onde se incluem o conforto, a saúde
e a segurança dos utilizadores associados aos edifícios
– é também um aspecto importante a ser considerado no
impacte ambiental. Cerca de 30% de todos os edifícios
novos e remodelados apresentam baixa qualidade do
ar interior, devido a emissões nocivas, a deficientes
condições de humidade e de ventilação, as quais geram
o aparecimento de agentes patogénicos (Augenbroe e
Pearce, 1998; Bourdeau et al, 1998).
do edifício e traduz-se num processo importante no
de eliminação ou de substituição. Os principais impactes
negativos gerados por esta fase decorrem do nível de
energia, de emissões de ruídos e de vibrações, e da produção
de resíduos provenientes dos materiais construtivos.
Em síntese, as pressões humanas sobre o ambiente são
crescentes e as actividades de criação de ambientes
construídos são elevadas. Os edifícios, em particular se
considerados no seu ciclo de vida, são uma das áreas
mais importantes em termos ambientais. Os impactes da
construção no ambiente global, bem como dos edifícios,
ainda não estão totalmente difundidos na indústria da
construção e nas autoridades públicas (Gaspar, 2004).
104
“
O clima urbano é produzido pela acção do homem sobre a natureza e relaciona-se com a produção
de condições diferenciadas de conforto / desconforto térmico, a poluição do ar, as chuvas intensas,
as inundações e os desmoronamentos de vertentes dos morros – eventos de grande custo social
”
Fotografia Jesús García
Lombardo,1985.
105
P
ara compreender melhor o funcionamento de um edifício é necessário considerar os seus elementos
“envolventes” (paredes, coberturas, pavimentos, janelas e portas), que desempenham o papel de
filtrar a passagem de luz, ar, ruídos e energia entre o exterior e interior. Assim, através dos cálculos
específicos de balanço térmico, é possível contabilizar as trocas de calor que ocorrem no edificado.
O conforto térmico depende de factores quantificáveis – temperatura e velocidade do ar, humidade, etc., e
de factores não quantificáveis (ocupantes) – estado mental, hábitos, educação, etc.
Assim, as preferências de conforto das pessoas variam bastante consoante a sua adaptação particular ao
ambiente local (Khedari et al, 2000).
A intensa transformação do meio natural através do processo de urbanização causou os mais evidentes e
graves impactes na contaminação e na transformação do clima urbano, gerando uma inevitável perda de
qualidade de vida dos habitantes das cidades.
Com o objectivo de obter um ambiente interior dos edifícios termicamente confortável para os seus ocupantes,
as normas sobre conforto térmico são actualmente uma ferramenta essencial. Inicialmente estas normas
tinham como principal preocupação definir as condições de conforto térmico, sem ter em conta os consumos
energéticos necessários para atingir o conforto. Devido aos cada vez mais evidentes problemas ambientais
e à necessidade de um desenvolvimento sustentável, estas normas de conforto térmico têm de considerar
formas de o atingir com o menor consumo energético possível (Nicol e Humphreys, 2002).
A necessidade de isolamento térmico nos edifícios é cada vez mais notória, uma vez que os requisitos de
conforto térmico e de eficiência energética estão cada vez mais restritos quanto à qualidade do ambiente
interior do edifício e ao impacto ambiental.
106
C
omo abordado no capítulo cortiça na construção com
Pelo contrário, durante o Inverno, a necessidade é de
acontece sempre no sentido de um elemento de temperatura
insolação, fazendo uso de materiais que possuam grande
o tema isolamento térmico, a transmissão de calor
elevada para o de temperatura mais baixa, assim a
quantidade de calor que o elemento “quente” cede, é igual
a quantidade de calor que o elemento “frio” recebe.
aquecimento e a intenção é a de aproveitar o máximo de
capacidade calorífica, através do isolamento térmico, no
exterior do edifício, de modo a manter o calor interno e
reduzir a condensação na face interna das paredes.
A energia dispendida de uma habitação está diretamente
Julgando a importância das duas estações do ano, existem
envolventes, perante as condições climáticas externas.
a compreensão do comportamento do edifício nestas
relacionada com o nível de isolamento dos elementos
Assim sendo, quando o material construtivo não for isolante,
é aconselhável a aplicação um isolante térmico que reforce
duas fórmulas distintas que podem ser aplicadas para
estações do ano.
a capacidade do material construtivo e que proteja o interior
das condições ambientais externas.
VERÃO
A cortiça caracteriza-se por apresentar um coeficiente
de condutividade térmica relativamente baixo. A título
de exemplo, refira-se que um dos produtos derivados da
cortiça, o aglomerado de cortiça expandido, aplicado como
isolante térmico, possui o coeficiente de condutibilidade
λ=0,035 W/m.°C 30
de 90-140 Kg/ m³.
e uma massa volúmica aparente seca
É através do balanço energético dos edifícios, nos períodos
Q aquec.= Qcond. + Qvento + QGI + Qrad.sol
Q aquec.= necessidades de aquecimento
Qrad.sol = ganhos térmicos devidos à radiação solar
QGI= ganhos térmicos devidos aos equipamentos
de Verão e de Inverno, que os fluxos de calor se distinguem.
interiores.
térmico nas edificações, a necessidade é de arrefecimento,
Qcond.= trocas de calor
No verão, quando a insolação se torna causa do desconforto
adoptado pelos métodos de sombreamento por vegetação,
isolamento exterior, ventilação natural, isolamento térmico
em coberturas, entre outros.
107
INveRNO
A
Q arref.= Qcond. + Qvento - QGI - Qrad.sol
humidade
nos
edifícios
é
muito
problemática,
originando a redução da eficiência energética, aumento
Q aquec.= necessidades de aquecimento
dos gastos em manutenção, problemas de durabilidade e
Qrad.sol = ganhos térmicos devidos à radiação solar
acção da humidade é o factor com maior peso na limitação
redução do conforto. A degradação dos edifícios devida à
da sua vida útil. A humidade nos edifícios pode ter origem
QGI = ganhos térmicos devidos aos equipamentos
em (Ashrae, 1997) 32 :
interiores.
• Humidade de construções : refere-se à humidade que se
Qcond.= trocas de calor
manifesta imediatamente na fase posterior à construção,
referente ao processo de maturação do betão.
• Humidade do terreno : proveniente do solo, através das
fundações ou paredes por ascensão capilar.
Para responder às crescentes exigências de conforto
• Humidade de precipitação : infiltração provocada pela
preocupações com o consumo de energia e com a protecção
• Humidade de condensação : humidade proveniente da
dos edifícios, de modo a minimizar as trocas de calor com
• Humidade por causas fortuitas : causas acidentais,
higrotérmico 31 ,
que
estão
intimamente
associadas
às
ambiental, é necessário isolar termicamente a envolvente
o exterior, com a consequente redução das necessidades
de aquecimento/arrefecimento e diminuição dos riscos de
ocorrência de condensações (Freitas, 2002).
acção da chuva e do vento.
saturação do vapor de água.
inundações, tubos partidos, etc.
Dentre
todas
as
causas
de
humidades
referidas
anteriormente, a mais frequente nos edifícios é a humidade
de condensação. De forma a evitar a ocorrência das
condensações é necessário ventilar – diminui os níveis de
humidade interiores; e isolar – aumento da temperatura
das paredes e consequentemente diminuição do grau de
saturação (Silva, 2006).
31
32
Higrotérmico : Relativo à água e ao calor. Disponível em : http://www.priberam.pt. Acesso 23.08.2011.
Ashrae: American Society of Heating, Refrigeration and Air-Conditioning Engineers. Organização internacional fundada em 1894 tem a missão de promover
os aparelhos de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração para servir a humanidade e também a sustentabilidade através da investigação, dos
padrões de escrita, publicação e educação. Disponível em: http://www.ashrae.org/. Acesso 23.08.2011.
108
A
s pontes térmicas podem ser entendidas como o fluxo
de calor que passa perpendicularmente às superfícies,
A
inércia térmica é um fenómeno que se refere às
transferências
calor
a
capacidade
elementos, aumentando o risco de condensação e o
contrariar as variações de temperatura no seu interior, ou
devido a (Ben-Nakhi, 2003):
• Alterações nas propriedades térmicas da envolvente
do edifício na direcção lateral – interface entre os
elementos estruturais e os materiais de enchimento de
paredes;
• Alterações de espessura da construção – um envidraçado
inserido numa parede;
• Diferença entre a área superficial interior e exterior –
calorífica
térmica
volumétrica
crescimento de bolor. As pontes térmicas podem ocorrer
capacidade
e
através da condução térmica e da diferença de temperatura,
reduzindo de certa forma a temperatura superficial dos
(ou
de
volumétrica). A
inércia térmica de um edifício é a capacidade do mesmo de
seja, de reduzir a transferência ou transmissão de calor.
Isto acontece devido à sua capacidade de acumular calor
nos elementos construtivos. A velocidade de absorção e a
quantidade de calor absorvida determina a inércia térmica
de um edifício. Ela influencia o comportamento do edifício,
tanto de Inverno, ao determinar a capacidade de utilização
dos ganhos solares, como de Verão, ao influenciar a
capacidade do edifício absorver os picos de temperatura.
Considerando as acções térmicas exteriores que variam
cantos;
periodicamente (temperatura, radiação solar), o efeito da
do edifício – tubagem de água quente.
conforto térmico.
• Produção de calor dentro de um elemento da construção
inércia termica torna-se imprescindível para alcançar o
A fim de minimizar ou evitar os efeitos negativos das pontes
A inércia térmica é determinada em função da massa
resistência térmica pontual, com a aplicação de isolamento
um corpo de maior calor específico acumula ou liberta a
térmicas,
primeiramente
aconselha-se
um
reforço
da
no local de ocorrência, ou, como segunda opção, a aplicação
de materiais isolantes ou não em toda envolvente, com o
propósito de aumentar a resistência da mesma.
térmica do edifício, ou seja, do calor armazenado. Assim,
mesma quantidade de energia, com menor variação de
temperatura. Para a maioria dos materiais de construção,
o calor específico está situado entre 0.85 a 0.95 KJ/Kg.ºC,
excepto a madeira, cujo calor específico está situado entre
1.7 a 3.0 KJ/Kg.ºC (Silva, 2006).
109
Por motivo de complexidade de cálculo do efeito da
Ventilação natural: é o movimento de ar dentro de um
da necessidade da utilização de sistemas de equações
controlado por meio de aberturas, como portas, janelas,
inércia térmica no comportamento térmico do edifício e
dinâmicos, de forma a conseguir contabilizar todos os
fluxos energéticos ao longo do tempo, este capítulo limitase apenas às descrições acima apresentadas.
ambiente, provocado por ventos externos e que pode ser
etc. A quantidade de ar que passa através das aberturas
depende da diferença de temperatura interior e exterior.
As janelas, além de proporcionarem iluminação natural,
permitem controlar a quantidade de ar que entra no edifício.
As aberturas presentes nos telhados são protegidas por
uma cobertura, que impede a entrada de chuva e reversão
do ar que sai.
Ventilação forçada: denominada ventilação mecânica,
ocorre com a introdução de ventiladores, condutas de
admissão e de exaustão. Um ventilador pode insuflar ar
A
num ambiente, tomando ar externo, ou extrair ar desse
ventilação dos edifícios é cada vez mais um factor com
enorme importância no desempenho energética das
mesmo ambiente para o exterior. Quando um ventilador
funciona no sentido de extracção do ar de um ambiente é
habitações. Principalmente com a mudança das técnicas
comumente designado por exaustor (Oliveira).
foi aumentada a estaqueidade da envolvente dos edifícios,
Inovar na Arquitectura, no campo da sustentabilidade,
( Silva, 2006).
que
de construção, em que, para reduzir as perdas de calor,
reduzindo assim a taxa de infiltração de ar nas habitações
As trocas de ar entre o edifício e o exterior podem ser
divididas em dois mecanismos – Ventilação e Infiltração.
Enquanto a infiltração é entrada de ar fortuito, através de
fendas ou aberturas não intencionais, a ventilação é entrada
de ar intencional entre o edifício e o exterior, através das
janelas, grelhas. A ventilação pode ainda ser classificada
como natural ou forçada (Ashrae, 1997):
significa adoptar novas práticas, métodos ou tecnologias,
sejam
inovadoras
ou
que
produzam
resultados
inovadores na relação do Homem com o meio ambiente.
110
”
Fotografia Jesús García
“
Inovar na Arquitectura, no campo da sustentabilidade, significa adoptar novas
práticas, métodos ou tecnologias, que sejam inovadoras ou que produzam
resultados inovadores na relação do Homem com o meio ambiente.
C
111
om o presente livro pretendeu-se abordar e discutir as qualidades intrínsecas da cortiça, matéria-prima
originária, principalmente, da casca do sobreiro (Quercus suber), bem como reafirmar a importância
desta árvore florestal no desenvolvimento histórico da indústria corticeira em Portugal.
O contributo ambiental do montado, sistema de caráter agrossilvipastoril de elevada biodiversidade, é
caracterizado pela sua capacidade fixadora de dioxido de carbono (CO2) e pela sua adaptação a solos
economicamente inviáveis. Além disso, pelo fato dos seus processos vitais aumentarem a taxa de infiltração
das águas da chuva no solo, o que impedem os processos naturais de desertificação, o montado apresenta-se
como um grande aliado na preservação da fauna e da flora selvagens.
Até alguns séculos atrás, a distribuição do sobreiro em Portugal estendia-se por todo o seu território, em um
modo praticamente uniforme. Atualmente, a maior área florestal do país, na qual se encontra essa espécie
quercínea, restringe-se às regiões localizadas a sul do rio Tejo - Ribatejo, Alentejo e Algarve -, e perfaz
quase 90% da produção nacional de cortiça. Não obstante o desflorestamento dos últimos séculos, Portugal
destaca-se como o maior produtor, transformador e exportador de cortiça do mundo.
Sob o ponto de vista técnico-informativo, o conteúdo do presente trabalho apresentou e discutiu as
potencialidades e as vantagens da aplicação da cortiça na arquitetura. Ademais, por meio de exemplos
de obras de caráter histórico e contemporâneo em que a cortiça foi usada como material de construção,
tencionou-se ainda reafirmar e incentivar o uso desta matéria-prima como uma alternativa eco-sustentável
nas propostas arquitetônicas.
É notória a presença da cortiça na cultura de povos antigos, tais como os fenícios, os gregos e os romanos,
que já demonstravam interesse por esta matéria-prima renovável, seja como meio vedante, isolante ou como
elemento flutuador. Embora a extração da cortiça seja uma prática milenar, foi apenas no final do século XIX,
quando do desenvolvimento de uma técnica, por John Smith, para a produção do aglomerado puro expandido
de cortiça, que o mercado corticeiro foi fortalecido, enriquecido e ampliado.
Posteriormente, no decorrer do século XX, certos acontecimentos históricos, tais como a Guerra Civil Espanhola
e a Guerra da Argélia, propiciaram o aumento da produção de cortiça em Portugal, e, subsequentemente, um
desenvolvimento significativo do setor industrial para a transformação desta matéria-prima.
112
Nas últimas décadas, dada a necessidade de servir-se de um material que atendesse aos requisitos de
funcionalidade e conforto em uma edificação, o mercado da indústria corticeira pôs-se a desenvolver
aglomerados de cortiça para revestimentos - como, por exemplo, o aglomerado negro de cortiça - e peças de
cortiça natural.
É sabido que o setor da construção é o principal responsável pela emissão de gases do efeito estufa (GEE)
na atmosfera, com uma parcela correspondente a 40% do total das emissões de gases causadores do efeito
estufa. Isto deve-se essencialmente à produção de materiais de construção, à sua posterior aplicação em
obras e à energia consumida nas fases de construção, operação e manutenção ( Tirone, 2009).
Considerando a viabilidade e a idealidade do uso de materiais ecológicos e renováveis, é sensato, e, sobretudo,
necessário percorrer caminhos eco-sustantáveis na arquitetura, que priorizem a redução do consumo energético,
e, consequentemente, a atenuação do impacto ambiental deletério oriundo das edificações. Neste contexto,
é relevante ter presente as potencialidades de aplicação da cortiça na arquitetura sustentável, que, dadas as
suas singularidades inerentes, das quais se destacam a sua durabilidade, elasticidade, impermeabilidade e
qualidade de renovação natural, apresenta-se como um material de construção por excelência.
114
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