UM MUNDO MAIS PERIGOSO

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UM MUNDO MAIS PERIGOSO
~
MAKRON
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CAPÍTULO 14
UM MUNDO MAIS PERIGOSO
m um número crescente de nações industrializadas e emergentes, o deslocamento
tecnológico e o desemprego estão levando a um dramático ªumen.to.de criminali~
de violência aleatória, dando um claro presságio dos tempos de ~aQjI!d-ªd.§ que estão por
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têm demonstrado uma correlação inquietante entre o aumento do
desemprego e o de crimes violentos. No estudo de Merva e Fowles, citado anteriormente,
os pesquisadores descobriram que, nos Estados Unidos, um aumento de 1% no desemprego
resulta num aumento de 6,7% em homicídios, aumento de 3,4% em crimes violentos e
aumento de 2,4% em crime contra a propriedade. Nas 30 principais áreas metropolitanas
abrangi das em seu estudo, os economistas da Universidade de Utah estimam que entre
meados de 1900 a meados de 1992, o aumento de 5,5% para 7,5% no desemprego resultou
no acréscimo de 1.459 homicídios, 62.607 crimes violentos (incluindo arrombamentos,
assalto e assassinato), e 223.500 crimes contra a propriedade (incluindo roubo, furto e
roubo de veículos motorizados).'
E
O estudo de Merva e Fowles mostrou também uma correlação impressionante
entre a desigualdade crescente de salários e a maior atividade criminal. Entre 1979 e 1988,
as 30 áreas metropolitanas estudadas tiveram um aumento de 5% na desigualdade salarial.
A distância crescente entre os possuidores e os não possuidores foi acompanhada por um
aumento de 2,05% em crimes violentos, aumento de 1,87% em invasões de propriedade,
aumento de 4,21% em assassinatos, aumento de 1,79% em roubos, aumento de 3,1% em
1
Merva, Mary e Fowles, Richard. Eftects of Diminished Economic Opportunites
Washington, D.e.: Economic Policy Institute, 16 de outubro, 1992, pp. 1-2.
on Social Stress.
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assaltos à mão armada, aumento de 1,95% em furto e roubo, e aumento de 2,21 % em roubo
de veículos. Ao final de 1992, mais de 833.593 americanos estavam encarcerados em
prisões estaduais e federais, um aumento de 59.460 sobre o ano anterior.ê
George Dismukes, que cumpre atualmente pena de 16 anos por assassinato.
expressou a raiva e frustração de muitos entre a população carcerária, num depoimento
contundente publicado na revista Newsweek na primavera de 1994. Dismukes lembrou ao
restante da América:
Nós, os prisioneiros, somos a vergonha da América. O verdadeiro crime aqui é o de
vossa insensatez. Milhões de pessoas neste país definham desperdiçadas, ociosas ... A
sociedade não tem utilidade para elas lá fora, por isso paga para prendê-Ias, sem
oportunidades ou reabilitação espiritual... Digo-vos, presunçosos e satisfeitos: Cuidado ... Nosso número está crescendo, seus custos aumentando rapidamente. Construir
prisões maiores e melhores... não soluciona as razões por trás dos problemas e da
loucura. Apenas torna o vozerio mais alto e as eventuais conseqüências mais terríveis
pàfã lõfios, quando elas finalmente ocorrem.Í
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o deslocamento tecnológico e a perda de oportunidades de emprego afetou
principalínente os jovens do país, contribuindo para a proliferação de uma violenta nova
subcultura criminal. Os índices de desemprego entre os adolescentes da cidade de Nova
lorque subiram para 40% no primeiro trimestre de 1993. Os números foram o dobro do
registra dos dois anos antes e os piores dos 25 anos em que as estatísticas foram levantadas.
No restante do país, o desemprego entre adolescentes foi de quase 20% em 1993.4 Grande
parte do aumento do desemprego entre os adolescentes pode ser atribuído à introdução das
novas tecnologias que estão substituindo os cargos tradicionalmente ocupados por eles.
O crescente desemprego e a perda de esperança num futuro melhor estão entre as
razões pelas quais dezenas de milhares de adolescentes estão se voltando para uma vida de
crime e de violência. A polícia estima que mais de 270 mil estudantes portam armas nas
escolas diariamente nos Estados Unidos e um estudo recente realizado pela Escola de Saúde
Pública de Harvard descobriu que 59% das crianças da sexta até a décima segunda séries
afirmaram que "conseguiriam uma arma, se quisessem". Muitas crianças armam-se po
medo. Mais de três milhões de crimes ocorrem a cada ano nas escolas. As escolas de noss
país estão transformando-se rapidamente em fortalezas armadas, com corredores patrulhados por forças de segurança e monitorados por equipamento de vigilância de alta tecnolo-
2
Ibid., p. 11; "Natiou's Prison Population Rises 7,2%", Washington Post, 10 de maio, 1993.
3
"Life on the Shelf', Newsweek, 2 de maio, 1994, p. 14.
4
"Youth Joblessness Is at Record Higb in New York City", New York Times, 4 de junho, 1993, seçã
metropolitana.
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gia. Câmeras ocultas, máquinas de raios-X e detectores de metal estão tomando-se rotina
em muitas escolas. Com o aumento dramático de assassinatos a esmo, algumas escolas
começaram a incluir "alertas de código amarelo" no treinamento contra incêndios, desde o
jardim de infância até a décima segunda séries. "Precisamos ensinar aos alunos como
proteger-se quando as balas começam a voar", diz um especialista em segurança escolar. O
aumento dos custos da segurança está colocando sérias restrições no orçamento do ensino,
já duramente atingido pelo déficit orçamentário e pela diminuição da receita de impostos. O
sistema de ensino da cidade de Nova Iorque atualmente opera a décima primeira força de
segurança dos Estados Unidos, com mais de 2.400 seguranças.'
A atual Secretária de Justiça, Janet Reno, chamou a violência entre adolescentes
"o maior problema criminal atualmente na América". Entre 1987 e 1991, o número de
adolescentes presos por assassinato nos Estados Unidos aumentou 85%. Em 1992, quase
um milhão de jovens entre as idades de 12 e 14 anos foram "estuprados, roubados ou
assaltados, muitas vezes por seus próprios colegas"."
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Em Washington, D.e., onde várias centenas de jovens foram assassinados a tiros
nos últimos cinco anos e onde assassinatos a esmo nas escolas e nas ruas é uma ocorrência
comum, um número crescente de jovens está planejando seu próprio funeral - um novo
fenômeno macabro que está preocupando pais, dirigentes de escolas e psiquiatras. Jessica,
com 11 anos de idade, já disse a seus pais e amigos o que gostaria de usar em seu próprio
funeral. "Acho que o vestido do meu baile na escola é o mais bonito de todos", disse a
jovem durante uma entrevista a um repórter do Washington Posto "Quando eu morrer, quero
estar bem vestida para a minha família." Pais e orientadores pedagógicos das escolas dizem
que crianças na faixa de dez anos, têm dado instruções sobre o que querem usar e as músicas
que gostariam que fossem tocadas em seus funerais". Algumas até mesmo já informaram
aos parentes e amigos o tipo de coroas de flores que gostariam de ter. Douglas Marlowe,
psiquiatra do hospital da Universidade Hahnemann, na Filadélfia, diz que "quando elas (as
crianças) começam a planejar seus próprios funerais, é porque perderam as esperanças"."
Ocasionalmente, a atividade criminal adolescente passa de atos individuais de
terrorismo a tumultos em larga escala, como foi o caso em Los Angeles, em 1992. Muitos
dos delinqüentes, que incendiaram centenas de casas e lojas, que espancaram transeuntes
inocentes e que lutaram com a polícia, eram membros de gangues de adolescentes de rua.
5
"Shootout in the Schools", Time, 20 de novembro, 1989, p. 116; "Reading, Writing and Intervention",
Security Management, agosto, 1992, p. 32.
6
"Wild in the Streets", Newsweek, 2 de agosto, 1993, p. 43.
7
"Getting Ready to Die Young", WashingtonPost, 1· de novembro, 1993, p. AI.
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Estima-se que mais de 130 mil adolescentes na grande Los Angeles são membro
gangues." Analfabetos, desempregados e nas ruas, esses jovens tornaram-se uma poder,
força social, capaz de aterrorizar a vizinhança e comunidades inteiras.
Los Angeles tem sido duramente atingida pela reestruturação corporativa, pe
automação, por transferência de fábricas e por perda de empregos no setor da defesa.
distrito Centro-Sul, epicentro dos distúrbios, perdeu mais de 70 mil empregos nas décadas
1970 e 1980, elevando o índice de pobreza a níveis recordes." Atualmente, o desemprego
em 10,4% no condado de Los Angeles, enquanto entre os negros chega a 50% nos arredores
Embora o fator desencadeadar dos distúrbios em Los Angeles tenha sido o veredicto de culpado aos quatro policiais, pelo vergonhoso espancamento do afro-americano Rodn .
King, documentado em videoteipe, foi o crescente desemprego, a pobreza e a sensação
impotência que insuflou a fúria coletiva dos residentes no centro da cidade. Um observa
político ressaltou que, "o primeiro tumulto multirracial do país ocorreu tanto em função
fome e de frustrações, quanto pelos cassetetes e por Rodney King". 10
Gangues de adolescentes começam a proliferar nos subúrbios do país e, da m
forma, a incidência de crimes violentos. Comunidades outrora seguras, estão tornando-se
agora zonas de guerra, com registros de estupros, tiroteios, tráfico de drogas e roubos. Y
próspero condado de Westchester, vizinho da cidade de Nova lorque, a polícia registra
surgimento de mais de 70 gangues de classe média rivais nos últimos anos." Gangue
adolescentes suburbanas estão surgindo com crescente freqüência em todo o país.
aumento do índice de criminalidade está assustando a população suburbana. Segundo
pesquisa realizada em 1993 pela TIME/CNN, 30% dos pesquisados "consideram o c .
suburbano no mínimo tão sério quanto o crime urbano - o dobro do número de entrevis
dos que fizeram essa afirmação cinco anos antes".12
Residentes nos subúrbios estão reagindo ao aumento da criminalidade com me
das de segurança cada vez maiores. Só em 1992, mais de 16% de todos os proprietário
residências nos Estados Unidos instalaram sistemas de segurança eletrônicos. Proprietári
de classe média estão instalando até mesmo detectares de movimento e circuitos interno
TV, outrora considerados itens de segurança de alta tecnologia e caros, restritos às residê: cias dos muito ricos. Alguns estão instalando "campainhas de vídeo", para avisar sobre
presença de intrusos.P
8
"Unhealed Wounds", Time, 19 de abril, 1993, p. 30.
9
Ibid., p. 28.
10
Wacquant, Loic. ''When Cities Run Riot", UNESCO Courier, fevereiro 1993, p. 10.
11
"Gang Membership Grows in Middle-Class Suburbs", New York Times, 24 de julho, 1993, p. 25,
metropolitana.
12
"Danger in the Safety Zone", Time, 23 de agosto, 1993, p. 29.
13
IDid., p. 32.
Cap.14
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A arquitetura suburbana também está começando a mudar, refletindo a nova
preocupação com segurança pessoal. "Estamos falando sobre o desenvolvimento de1Qnalezas particulares", diz Mark Boldassare, professor de Planejamento Urbano e Regional na }
Universidade da Califórnia, em Irvine. Boldassare e outros arquitetos dizem que o aço e
concreto estão tomando-se rapidamente os materiais preferidos, juntamente com janelas de
12 polegadas, cercas de três metros e meio e sistemas de câmeras de segurança giratórias.
"Construções mascaradas", casas com fachadas simples, até mesmo soturnas, disfarçando
um interior opulento, tãffibém estão tomando-se populares entre os moradores preocupados
com sua segurança."
Muitas comunidades suburbanas estão aumentando a segurança residencial com a
contratação de guardas de segurança particulares para a vigilância dos bairros. Um número
crescente de bairros estão sendo murados, com uma única via de acesso com guarita. Os
residentes precisam mostrar cartões de identificação para poder entrar. Em outros bairros,
os residentes literalmente compraram suas ruas da prefeitura e bloquearam-nas com portões
de ferro e guardas de segurança. Ainda em outras cidades, os bairros residenciais estão
sendo cercados com a construção de "cul-de-sacs" de concreto". 16
Edward Blakely, professor do Departamento de Planejamento Urbano e Regional
na Universidade da Califórnia, em Berkeley, estima que entre três a quatro milhões de
pessoas já vivem dentro de comunidades residenciais muradas. Já chega a 500 mil o número
de californianos vivendo atualmente em comunidades fechadas e 50 novas estão em
construção, segundo Blakely. Muitas das comunidades muradas têm instalados sistemas de
segurança de última geração para afastar intrusos. Em Santa Clarita, Califórnia, ao norte de
Los Angeles, qualquer automóvel que tente atravessar a entrada sem autorização, é parado
por cilindros de metal ejetados do chão para o fundo do carro. Blakely diz que o crescimento de comunidades fechadas reflete ranto uma preocupação com a segurança pessoal,
quanto "uma omissão da responsabilidade cívica". Para um número cada vez maior de
americanos ricos, viver em comunidades fechadas é uma forma de "intemalizar suas
posições e privilégios econômicos, sem permirir que outros compartilhem"P
Salários reduzidos, desemprego crescendo continuamente e aumento da polarização de ricos e pobres está transformando partes do país numa cultura fora-da-lei. Enquanto
a maior parte dos americanos vê o desemprego e o crime como as questões mais urgentes
que o país precisa enfrentar, poucos estão dispostos a admitir a relação inseparável que
existe entre ambos. À medida que a Terceira Revolução Industrial se dissemina na econo14
"A City Behind Walls", Newsweek, 5 de outubro, 1992. p. 69.
15
N. T.: Do francês, beco sem saída.
16
Louv, Richard, America Il. Boston: Houghton Mifflin, 1983, p. 233.
17
"Enclosed Communities: Havens, ar Worse?". Washington Post, 9 de abril, 1994, p. El.
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mia, automatizando cada vez mais os setores industrial e de serviços, forçando milhões
operários e de trabalhadores administrativos ao desemprego, a criminalidade e prin
palmente o crime violento, vai aumentar. Presos em uma espiral descendente e com men
redes de segurança para amortecer sua queda, um número crescente de americanos dese
pregados e não empregáveis, voltar-se-âo ao crime por necessidade de sobrevivênci
Excluídos da nova aldeia global de alta tecnologia, encontrarão maneiras de voltar furtiv
mente e tomar pela força o que lhes está sendo negado pelas forças do mercado.
Desde 1987, segundo um Relatório do FBI sobre criminalidade, o furto em loj
de conveniência aumentou 27%, roubos a bancos aumentaram 50%, roubos a empreendimentos comerciais aumentaram 31% e os crimes violentos aumentaram 24%.18 Não é de
estranhar que a indústria da segurança no país esteja entre os setores que mais crescem na
economia. Com ocnme ecõiiOr:õ.i~almente
beirando a assombrosa cifra de US$ L
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bilhões por ano, os proprietários de residências e a indústria estão desembolsando bilhõ __
em segurança.'?
Atualmente, o setor de segurança particular gasta mais do que a polícia e
segurança pública e emprega duas vezes e meia mais funcionários. Estima-se que, até fin
da década, o setor da segurança particular crescerá a uma taxa anual de 2,3%, o que equival
a mais do dobro do índice de crescimento na segurança pública. Atualmente, a indústria
segurança particular está entre as dez maiores no setor de serviços, juntamente co
sistemas de informação eletrônica, software de computador, serviços profissionais d
computador e processamento de dados. Por volta do ano 2000, estima-se que os gastos co
segurança particular superem os US$ 100 bilhóes.P
UM PROBLEMA GLOBAL
A crescente violência que acontece nas ruas dos Estados Unidos está sendo vivenciada por
outros países industrializados em todo o mundo. Em outubro de 1990, em Vaux-en-Velin,
cidade de trabalhadores de baixa renda, próxima a Lyon, centenas de jovens tomaram as
ruas, enfrentando a polícia e as tropas de choque, durante mais de três dias. Embora
tumulto tivesse se iniciado com a morte de um adolescente atropelado por um carro da
polícia, tanto os residentes locais quanto funcionários do governo atribuíram a culpa pel
18
"Reengineering
19
"Security Industry Trends: 1993 and Beyond", Security Management, dezembro, 1992, p. 29.
Security's Role", Security Management, novembro, 1993, p. 38.
20
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Capo14
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237
tumulto ao desemprego crescente e à pobreza. Os jovens atiraram pedras nos carros,
incendiaram estabelecimentos comerciais e feriram várias pessoas. Quando o tumulto
acabou, os prejuízos somavam US$ 120 milhões."
Em Bristol, Inglaterra, em julho de 1992, a violência irrompeu em decorrência de
um acidente estranhamente similar àquele ocorrido em Vaux-en-Velin. Um carro da polícia
havia atropelado e matado dois adolescentes que haviam roubado uma motocicleta da
polícia. Centenas de jovens tumultuaram a área comercial, destruindo propriedades comeriais. Mais de 500 soldados das tropas de elite tiveram de ser chamados para conter os
revoltosos.F
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O sociólogo francês Loic Wacquant. que fez um estudo minucioso dos distúrbiQs
urbanos em cidades do primeiro mundo, diz que, em praticamente todos os casos, as
omunidades onde ocorrem os distúrbios compartilham de um mesmo -Eerfil soc~o.
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maioria são antigas comunidades de trabalhadores que foram deixadas para trás na tranição de uma sociedade antes manufatureira para outra baseada na informação. Segundo
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residentes de áreas operárias esmorecidas, a reorganização das economias capitalistas - visível na mudança da manufatura para os serviços baseados na informação, o impacto das tecnologias eletrônica e de automação nas fábricas e escritórios e a
TOsãodos sindicatos ... têm se traduzido em índices anormalmente altos de desemprego e
regressão nas condições materíais'"> Wacquant acrescenta que o fluxo crescente de imigrantes para comunidades pobres restringe ainda mais as oportunidades de emprego e os
erviços públicos, aumentando as tensões entre os residentes que são forçados a competir
por uma fatia menor do bolo econômico.
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Um número crescente de políticos e de partidos políticos - principalmente na
Europa - tem alimentado a preocupação da classe trabalhadora e das comunidades pobres,
explorando seus receios xenofóbicos de que os imigrantes tomem seus preciosos empregos.
Em recente pesquisa realizada na Alemanha.. onde 76% dos estudantes do colegial disseram
estar preocupados em ficar desempregados, os jovens estão tomando as ruas em violentos
protestos políticos dirigidos a grupos imigrantes, a quem acusam de tomar os empregos aos
alemães. Liderados por gangues neo-nazistas, a violência tem se espalhado por toda a
Alemanha. Em 1992, 17 pessoas foram mortas em dois mil incidentes violentos distintos,
em que líderes neo-nazistas culpavam os imigrantes e os judeus pelo aumento do desemprego. Em 1992, dois partidos neo-fascistas de direita, a União do Povo Alemão e o Partido
.1
"When Cities Run Riot", p. 8.
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238
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Republicano, cujo líder foi um ex-oficial da SS, no Terceiro Reich de Hitler, ganharam
assentos em dois parlamentos estaduais, pela primeira vez, apelando para receios xenofóbicos e ao anti-semitismo."
Na Itália, o Partido Neo-Fascista da Aliança Nacional obteve inesperados 13,5o/é
dos votos na eleição nacional em março de 1994, tornando-se o terceiro partido mais forte
na Itália. O líder do partido, Gianfranco Fini, foi saudado com gritos de "Duce! Duce:
Duce!" por centenas de jovens na comemoração pela vitória, evocando imagens sombria:
da era Mussolini nas décadas de 1930 e 1940. Pesquisadores políticos na Itália afirmam que
grande parte do apoio desse partido vem de jovens desempregados e revoltados."
Na Rússia, o partido neo-fascista de VIadimir Zhirinovsky, os Democratas Liberais, teve surpreendentes 25% dos votos na primeira eleição pós-soviética para escolher o
parlamento nacional. Na França, os seguidores de Jean-Marie Le Pen obtiveram vitórias
políticas similares, alimentando os receios xenofóbicos de que imigrantes possam tomar o
empregos dos franceses natos."
Raramente, em seus pronunciamentos públicos, qualquer líder de extrema direita
levanta a questão do desemprego em função dos avanços tecnológicos. Mesmo assim, são
as forças da reengenharia, do downsizing e da automação que estão acarretando os maiore
efeitos na eliminação dos empregos nas comunidades operárias em todo país industrializado. A crescente maré migratória do leste para o oeste na Europa e do sul para o norte
nas Américas reflete em parte a mudança na dinâmica da economia global e o surgimento
de uma nova ordem mundial, que está forçando milhões de trabalhadores a atravessarem
fronteiras nacionais à procura de um suprimento cada vez menor de empregos nos setores
industrial e de serviços.
A combinação de deslocamento tecnológico e de pressão da população continua a
onerar a capacidade de sustentação das inúmeras comunidades urbanas. As crescente
dificuldades e tensões crescentes estão levando a convulsões sociais espontâneas e ato
coletivos de violência aleatória. Os habitantes dos núcleos centrais de cidades em paíse
industrializados agora têm mais em comum com os habitantes de cortiços dos países em
desenvolvimento do que com os novos trabalhadores cosmopolitas que vivem nos subúrbios e regiões serni-rurais a apenas algumas milhas de distância.
Nathan Gardels, editor do New Perspectives Quarterly, resumiu a disposição de
ânimos reinante em termos extraordinariamente similares aos argumentos usados para
caracterizar o sofrimento dos negros urbanos há apenas 30 anos, quando foram erradicados,
primeiro pelas novas tecnologias agrícolas no Sul e, depois, por tecnologias mecânicas e de
Furies", Newsweek, 7 de dezembro, 1992, p. 3l.
24
"Germany's
25
"Italy's Neo-Fascists Gain Dramatically",
26
"Every Man a Tsar", The New Yorker, 27 de dezembro, 1993.
Washington Post, 31 de março, 1994, p. A25.
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239
ntrole numérico nas fábricas do norte. "Do ponto de vista do mercado ,diz Gardels, "as
- eiras crescentes de desempregados enfrentam um destino pior do que no colonialismo: a
elevância econômica." Tudo se resume, ustenta Gardels, a que "nós não precisamos do
e eles têm e eles não podem comprar o que nós vendemos". Gardels prevê um futuro cada
'ez mais anárquico e sombrio - um mundo habitado por "fragmentos de ordem e fileiras de
andemônio't."
Alguns especialistas militar acreditam que estamos entrando num novo e perigoso período da história, caracterizado pelo que eles chamam de conflito de baixa intensidade: conflitos entre gangues de terroristas. bandidos, guerrilhas etc. O historiador militar
_ artin van Creveld diz que as distinçõe entre guerra e crime vão ficar mescladas e até
mesmo desmoronar, à medida que o bandos de proscritos, alguns com vagas metas
líticas, ameaçarem a aldeia global com atentados, seqüestros e massacres." No novo
ambiente de conflito de baixa intensidade, o exército e as forças policiais nacionais tomar- -ão cada vez mais impotentes para dominar ou até mesmo coibir a violência e darão lugar
forças de segurança particulare que serão pagas para garantir zonas seguras para as
lasses de elite da aldeia global da alta tecnologia.
A transição para a Terceira Revolução Industrial coloca em questão muitas de
nossas noções tão bem-cuidadas sobre o ignificado e direção do progresso. Para os
otimistas, presidentes das corporaçõe . profissionais futuristas e líderes políticos de vanguarda, a aurora da Era da Informação inatiza uma era dourada de produção ilimitada e
urvas crescentes de consumo, de novo e mais rápidos avanços na ciência e tecnologia, de
mercados integrados e gratificaçõe imediatas.
Para outros, o triunfo da tecnologia parece mais uma praga amarga, um réquiem
para aqueles que serão forçados à redundância pela nova economia global e pelos impresionantes avanços na auto mação que estão eliminando tantos seres humanos do processo
econômico. Para eles, o futuro está repleto de medo e não de esperança, de fúria crescente
e não de expectativas. Sentem que o mundo está passando por eles, e sentem-se impotentes
para intervir em seu próprio benefício. para exigir sua inclusão legítima na nova ordem
global da alta tecnologia. São os párias da aldeia lobal. Rejeitados pelas forças em ação e
forçados a definhar à margem da existência terrena, são as hordas cuja índole coletiva é tão
isposição de
. usados para
erradicado
cânicas e de
27
Gardels, Nathan. "Capitalism's
New Order", Washington Post, 11 de abril, 1993, p. C4.
28
Van Creveld, Martin. The Transformation ofWar .. ova Iorque: Free Press, 1991. Numa entrevista, em
24 de março de 1994, o assessor da Lincoln E1ectric para o CEO, Richard Solow, adverte que o maior
problema que os Estados Unidos vão enfrentar é a crescente polarização do país em dois países - um,
uma próspera sociedade de primeiro mundo e o outro, uma cultura pauperizada de terceiro mundo. Ele
diz que melhorar a educação da crescente ubclasse sem proporcionar empregos, poderia tão facilmente
levar a revoltas como a reformas, argumentando que com a educação vem liderança e com a liderança
vem o potencial para uma resistência organizada. Sobow diz que "eventualmente veremos uma revolução", e acrescenta, "e acredito que será sangrenta".
240
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imprevisível quanto os ventos políticos em mutação - uma massa humana cuja sorte e cuj
destino tendem cada vez mais à convulsão e à revolta sociais, contra um sistema que os
tornou praticamente invisíveis.
Às vésperas do terceiro milênio, a civilização encontra-se vacilante entre dois
mundos muito diferentes, um utópico e cheio de promessas, o outro real e repleto de perigo.
Em debate está o próprio conceito do trabalho. Como pode a humanidade começar a
preparar para um futuro no qual a maior parte do trabalho formal terá sido transferido de
seres humanos para máquinas? Nossas instituições políticas, convenções sociais e relaçõ __
econômicas baseiam-se em seres humanos vendendo seu trabalho como um bem no mercado aberto. Agora que o valor de mercadoria desse trabalho está se tornando cada vez
menos importante na produção e na distribuição de bens e serviços, novas abordagens pa
garantir a renda e o poder aquisitivo terão de ser implementadas. Alternativas ao trabalh
formal precisarão ser encontradas para empregar energias e talentos das gerações futuras.
No período de transição para uma nova ordem, as centenas de milhões de trabalhador
afetados pela reengenharia da economia global precisarão ser aconselhados e cuidado
Suas dificuldades exigirão atenção imediata e constante, se quisermos evitar conflitos
sociais em escala global.
Dois cursos específicos de ação terão de ser vigorosamente trilhados, se as naçõ __
industrializadas quiserem ser bem-sucedidas na transição para uma economia pós-mercad
no século XXI.
Primeiro, os ganhos de produtividade decorrentes da
logias de racionalização do tempo e do trabalho terão de ser
trabalhadores. Avanços dramáticos em produtividade precisarão
ções igualmente dramáticas no número de horas trabalhadas
salários para assegurar uma demanda eficaz pela produção e
frutos do progresso tecnológico.
introdução de novas tecnorepartidas com milhões dê
ser compensados por redue aumentos constantes de
uma distribuição justa dos
Segundo, a diminuição da massa de emprego na economia do mercado formal e
redução dos gastos do governo no setor público exigirão que se dê mais atenção ao tercei
setor: a economia de não-mercado. É ao terceiro setor - a economia social- que as pessoas
irão voltar-se no próximo século, para ajudar a administrar necessidades pessoais e sociais
que já não podem mais ser administradas nem pelo mercado nem por decretos legislativo
Esta é a arena em que homens e mulheres explorarão novos papéis e responsabilidades
encontrarão novos significados para suas vidas, agora que o valor de mercado de seu tem
está desaparecendo. A transferência parcial de lealdades e de comprometimentos pessoais
para longe do mercado e do setor público, rumo à economia informal pressagia mudança!
fundamentais em alinhamentos institucionais e um novo pacto social, tão diferentes daquele
que tem governado a era de mercado quanto este que, por sua vez, é diferente da organização feudal da era medieval que a precedeu.
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