Uso de quelantes de ferro na sobrecarga de ferro
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Uso de quelantes de ferro na sobrecarga de ferro
ESTA PALESTRA NÃO PODERÁ SER REPRODUZIDA SEM A REFERÊNCIA DO AUTOR. XIII Jornada Cearense de Hematologia e Hemoterapia Aderson Araújo MD phD Hematologista Hemope - Recife Sumário Introdução: Sobrecarga de ferro transfusional ; Diagnóstico da sobrecarga de ferro transfusional; Uso dos quelantes de ferro na Doença Falciforme Desferoxamina / Deferiprone / Deferasirox Monitoramento e eventos adversos; Conclusões ↑ Saturação de transferrina • Transfusões de sangue frequentes, ou • Eritropoese ineficaz levando a um aumento da absorção do ferro Subsequente formação de NTBI/LPI no plasma Hipófise Paratireoide Tireoide Coração Transferrin saturation % 100% 30% Toxicidade do ferro nos órgãos Normal: sem produção de NTBI Fe Fe Fe Sobrecarga de ferro Fe Fe Fígado Pâncreas Gonadas Fe Fe Consequências do Excesso de Ferro Aumento Ferro “livre” (NTBI, LPI) Geração de Radicais Hidroxilas Peroxidação Lipídica Lesão de Organelas Fragilidade lisossomal Alteração enzimática Morte Celular TGF-β 1 Síntese de Colágeno Fibrose LPI = labile plasma iron; TGF = transforming growth factor. Cohen AR & Porter JB. In: Steinberg MH, et al, eds. Cambridge University Press;2001:979–1027. Variável Ferritina (ng/mL) CHF (mg Fe/g ps) T2* (ms) Sobrecarga de Ferro Normal < 300 Leve Moderada ≥ 300 a ≥ 1000 a < 1000 < 2500 Grave ≥ 2500 <3 3a7 >7 a <15 ≥ 15 ≥ 20 ≥ 14 a < 20 ≥8 a < 14 <8 CHF=concentração hepática de ferro Olivieri & Brittenham, 1997 Blood. 89; 739-761. Fibrose, Cirrose Hepática, Doença Cardíaca Diabetis Mellitus, e Morte Precoce Miocardiopatia, etc Quelação de Ferro Objetivos da terapia quelante? Quando iniciar a terapia quelante? Qual agente quelante? Como utilizá-lo e até quando? Como fazer o monitoramento dos parâmetros de sobrecarga de ferro e de possíveis eventos adversos? TALASSEMIA, DOENÇA FALCIFORME, MIELODISPLASIA Objetivos da Terapia Quelante Impedir o acúmulo patológico de ferro no organismo • Iniciar o tratamento ferroquelante antes que a quantidade de ferro do organismo seja excessiva • Manter o balanço de ferro (Fe excretado ≥ Fe transfundido) neutro Prevenir dano tecidual resultante do aumento do ferro livre Diminuir a entrada do NTBI nos tecidos e o tempo de exposição do ferro livre no plasma e nos tecidos. Sobrecarga de Ferro em Doença Falciforme (DF) Repetidas transfusões de sangue promovem acúmulo de ferro ; 80 Serum ferritin < 100 μg/L; TS < 50% (N = 21) Serum ferritin > 1,500 μg/L; TS > 50% (N = 14) Patients (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 3+ Crises/year Organ failure Mortality Pacientes com baixos níveis de ferritina e saturação de transferrina tem menor incidência de crises dolorosas,falência de órgãos e morte quando comparado aqueles que tem sobrecarga de ferro Harmatz P ,2000 Ballas S,2001 DOENÇA FALCIFORME Estudo Multicêntrico Americano demonstrou que 60% dos pacientes teriam recebido transfusão em algum momento de sua vida. Com o aumento na sobrevida, a terapia transfusional pode ocorrer por longos períodos, promovendo a sobrecarga de ferro corporal. Esta sobrecarga é um grande determinante da morbidade na Doença Falciforme,pois pode aumentar ou acelerar os efeitos imunomodulatórios do sangue e a imunossupressão causada pela própria doença. (Ballas S.Seminars Hematol,2001) (Thein SL ,2005) SOBRECARGA DE FERRO E DOENÇA FALCIFORME Parece razoável que efeitos tóxicos da sobrecarga de ferro em pacientes com doença falciforme sejam similares aos que ocorrem em pacientes com talassemia. Contudo pode haver diferenças: (Kwiatkowski JL and Cohen A , Hematol Oncol Clin N Am, 2004) Harmatz mostrou disfunção gonadal e valores aumentados de ALT mais frequentes em pacientes com talassemia quando comparados com pacientes falciformes em transfusão e com concentração de ferro hepático similar. (Harmatz P ,Butensky E et al, 2002) SOBRECARGA DE FERRO E DOENÇA FALCIFORME Wood mostrou T2*menor em pacientes talassêmicos quando comparados com pacientes falcêmicos (poucos com história transf.> que 13 anos ) (Wood JC et al Blood 2004 ) SOBRECARGA DE FERRO E DOENÇA FALCIFORME 1. Vichinsky e col compararam as várias disfunções orgânicas em estudo piloto com 30 pac. talassêmicos e 43 pac. falciformes, cujos valores da biopsia hepática eram similares e notaram: Níveis maiores de ferritina em pac. falciformes ; Os fatores preditivos mais significativos para a presença de doença cardíaca ou endócrina secundária à sobrecarga de ferro eram a tempo de exposição ao ferro e o tipo de hemoglobinopatia. Fisiopatologia da Doença Falciforme e seu estado inflamatório crônico pode ser fator protetor (liberação mais restrita do ferro) Am J Hematol 2005 ; 80:70-74. Sobrecarga de ferro e DF Causas de morte em 141 pacientes adultos com DF1 7.0% morreram devido sobrecarga de ferro e 11.4% de cirrose 43.8% de pacientes com cirrose morreram de sobrecarga de ferro comparado com 2.4% de pac. sem cirrose (p < 0.001) O estudo multicêntrico de sobrecarga de ferro com 199 pac falciformes transfundidos 2 Correlação positiva entre gravidade da sobrecarga de ferro (ferritina) e a frequencia de hospitalização; Pacientes que morreram começaram terapia transfusional e quelação mais tardiamente do que aqueles que sobreviveram; 1. Darbari DS, et al. Am J Hematol. 2006;81:858-63. 2. Fung EB, et al. Am J Hematol. 2007;82:255-65. Discrepância na avaliação da sobrecarga de ferro entre talassêmicos e falciformes Fung EB, et al. Transfusion. 2008;48:1971-80. AVALIAÇÃO DA SOBRECARGA DE FERRO A ferritina deve ser feita de forma seriada,contudo ela pode ter sua acurácia comprometida. Inflamação ,infecção,doença hepática pode elevar os valores de ferritina,enquanto deficiência de acido ascórbico pode diminuir. Isto é relevante para o paciente com DF que pode ter os valores de ferritina elevados por semanas após um episódio de crise vaso-oclusiva. (Brownell A et al,1986 ; Vichinsky,2001;Kwiatkowski JL,2004); Ballas SK, Semin Hematol 2001 Para melhor monitoramento da terapia quelante pode-se usar ferritina,mas deve usar outro método complementar que pode ser a RNM hepática e cardíaca. (Karam LB, Disco D et al. Pediatr Blood Cancer 2007) Quando iniciar terapia quelante Guideline NIH 2002 1 recomenda iniciar terapia quelante quando: Pacientes tenham recebido mais de 120 ml/kg de concentrados de hemácia Ferritina sérica basal >1000ng/dl; LIC ≥ 7 mg Fe/g peso seco; Guideline UK 2008 2 recomenda iniciar terapia quelante (DFO ou DFX) quando : •Pacientes tenham recebido mais de 20 transfusões de concentrados de hemácia •LIC ≥ 7 mg Fe/g peso seco; 1. The management of sickle cell disease. NIH Publication No. 02-2117. Bethesda, MD: NIH; 2002. 2. Standards for the clinical care of adults with sickle cell disease. Sickle Cell Society, UK; 2008. DESFERRIOXAMINA : Dose de tratamento varia de 20-50 mg/Kg/dia em infusão de 8 a 12 horas s.c. (vit.C associado); Tratamento de difícil adesão devido a necessidade de infusão sc , com edema e dor no local de aplicação. Eventos adversos: Toxicidade Oftalmológica ,com maior probabilidade devido a vasculopatia; Retardo de crescimento,que se acentua com deficiência de zinco, comum em paciente com DF. ( Vichinsky,2001; Kwiatkowsky JL et al ,2004 ) DEFERIPRONE : É um quelante oral que é aprovado para uso clínico em muitos países. Na ANVISA não tem registro para uso em DF. Dose varia de 75-100mg/Kg/dia 3x ao dia ; Eventos adversos:neutropenia,agranulocitose, Nauséas,vomitos, artropatias; Cuidado quando usar concomitante ao Hidroxiuréia DEFERIPRONE EVENTOS ADVERSOS Agranulocitose ocorreu em 1% dos pacientes; Neutropenia variou de 3,6 a 8,5% dos pacientes. Ocorreu com maior freqüência em pacientes com o baço presente. Time at onset of neutropenia or agranulocytosis during therapy w ith deferiprone Monitorar com Contagem semanal de hemograma (neutrófilos) Se febre : suspender DFP e repetir Hemograma. Se infecção grave ,usar G_CSF Cohen A et al Blood ,2003; Galanello R Terap Cl Risk Manag,2007; 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78 84 Time (months) at onset Poucos estudos com uso de Deferiprone em doentes falciformes (1) e apenas um relato de caso em terapia combinada(2). (1)Voskaridou E,Douskou M et al,Ann Hematol 2005 (2)Tsironi M, Polonifi et al, EJ Hematol,2005 Deferasirox : Um novo quelante oral de ferro Quelante de ferro tridentado oral: Estudo fase II(0109) em Doença falciforme teve como objetivo primário,avaliar função renal (segurança e tolerabilidade) e como objetivo secundário avaliar a eficácia. Nick H et al. Curr Med Chem 2003; Vichinsky E et al. Br J Haematol 2006 OH O N N N OH * HO * Fe * Deferasirox therapy in SCD induces dose-dependent changes in iron burden Serum ferritin Change in serum ferritin (µg/L) LIC Change in LIC (mg Fe/g dw) 4 2 0 -2 -4 -6 Deferasirox (n=54) DFO (n=113) -8 3000 2000 1000 0 -1000 -2000 -3000 -4000 -5000 Deferasirox (n=33) DFO (n=83) -10 Deferasirox 5 DFO <25 10 20 25–35 35–50 Doses (mg/kg/day) Vichinsky E et al. Blood 2005;106(11):abst 313 30 ≥50 Deferasirox DFO 5 <25 10 20 25–35 35–50 Doses (mg/kg/day) 30 ≥50 Study 109 Serum ferritin (µg/L) 200 Deferasirox dose (mg/kg/day) 25 100 0 20 −100 −200 15 −300 −400 10 −500 −600 Mean deferasirox dose (mg/kg/day) Median change in serum ferritin levels (µg/L) Median change in serum ferritin levels 5 −700 −800 BL 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 68 69 71 58 61 49 Time (months) Patients 132 120 115 109 112 88 BL = baseline. 85 91 81 0 Vichinsky E, et al. Poster presented at ASH 2008:[poster 525]; Vichinsky E, et al. Haematologica. 94:[abstract 200]. Efficacy and importance of compliance with deferasirox in a paediatric haematology centre Age (years) Number (%) 0–5 5 (8) 6–10 17 (29) 11+ 37 (63) Diagnosis SCD Thalassaemia 48 (81) 4 out of 59 patients were managed for ≥ 12 months with deferasirox 3 (5) Serum ferritin (µg/L) (mean ± SD) 2,117 ± 1,307 LIC (mg Fe/g dry wt) (mean ± SD) 14.7 ± 1.8 Months on transfusions prior to deferasirox treatment (mean ± SD) Retrospective review of 59 paediatric patients (48 with SCD) with significant iron overload at Texas Children’s Hematology Center 44 ± 37.5 Serum ferritin levels decreased in 44% of compliant patients “Outside of clinical trials, deferasirox can be utilized safely as an oral iron chelator, although adherence to therapy still presents a challenge” 53% had received prior deferoxamine Raphael JL, et al. Pediatr Blood Cancer. 2009;52:616-20. Como monitorar o paciente com Deferasirox Frequência dos eventos adversos no uso do Deferasirox nos estudos clínicos Eventos adversos Freqüência (%) 36 Observações Gastro- intestinal (náuseas,vômitos, diarréia e dor abdominal) 26 Leve a moderada;transitória ,autolimitada ;dose dependente; Eritema de pele 7 Leve a moderada;transitória ,autolimitada ;dose dependente; Aumento não progressivo da creatinina sérica Leve, maior variação dentro da normalidade. Dose dependente Frequência dos eventos adversos no uso do Deferasirox nos estudos clínicos Eventos adversos Elevação das transaminases Perda de audição em altas freqüências e opacidade lenticular Freqüência (%) 2 Observações <1 Não comumente observada em pacientes usando DFX Maioria tem elevação previa antes do tratamento com DFX. Incomum quando maior que 10x o limite superior da normalidade (0,3%) Deferasirox Summary of Product Characteristics Deferasirox :Segurança Aumento leve não progressivo, dose- dependente nos níveis de creatinina sérica (36,4% no grupo-DFX x 22,2% no grupo-DFO). Houve pacientes que tiveram níveis de creatinina acima dos limites normais em ambos os grupos(2,3% x 3,2%). 30 % dos pacientes em ambos os grupos tiveram relação proteinúria/creatinina >0,2mg / mg no basal e não houve mudança ao longo do estudo. Vichinsky E et al. Br J Haematol 2006,136:501-8. Safety profile of deferasirox in patients with SCD: 3.5-year follow-up Overall, 67 patients (50.8%) had an AE considered by the investigator to be drug-related, the most frequent of which affected the gastrointestinal system Most common (> 4% overall) drug-related AE, by severity AE Nausea Diarrhoea Vomiting Abdominal pain Frequency, n (%) 20 (15.2) 14 (10.6) 8 (6.1) 6 (4.5) Mild 15 (11.4) 9 (6.8) 5 (3.8) 5 (3.8) Severity, n (%) Moderate 5 (3.8) 4 (3.0) 3 (2.3) 1 (0.8) Severe – 1 (0.8) – – Five patients (3.8%) had an increase in alanine aminotransferase > 10 x ULN on at least one visit; baseline levels were already above ULN in two patients Nine patients (6.8%) had two consecutive increases in serum creatinine that were both > 33% above baseline and ULN; however, there were no progressive increases AE = adverse event. Vichinsky E, et al. Poster presented at ASH 2008:[poster 525]; Vichinsky E, et al. Haematologica. 94:[abstract 200]. Dotted line represents serum ferritin threshold of 2,500 µg/L 4,000 SF level associated with significant negative outcomes 3,500 3,000 2,500 2,000 1,500 1,000 500 Mean LIC ± SD in year prior to study entry (mg Fe/g dry wt) Median serum ferritin at entry (μg/L) Estudo EPIC /2409 _DF 25 Dotted line represents LIC threshold of 7 mg Fe/g dry wt 20 15 10 5 0 0 All TM TI Prior iron chelation therapy (%) MDS AA SCD Rare DBA All TM TI MDS AA (n = 125) (n = 92) (n = 4) (n = 16) (n = 5) SCD Rare DBA (n = 6) (n = 2) All (N = 1,744) TM (n = 937) TI (n = 84) MDS (n = 341) AA (n = 116) SCD (n = 80) Rare (n = 43) DBA (n=14) 58.6 66.7 78.6 40.2 26.7 62.5 55.8 71.4 1.6 1.3 – 4.1 – 1.3 2.3 – Deferoxamine /deferiprone 16.7 25.0 4.8 7.0 5.2 12.5 11.6 14.3 Other 0.3 0.4 – 0.3 – – – – None 23.0 7.0 16.7 48.4 68.1 23.8 30.2 14.3 Deferoxamine Deferiprone Cappellini MD, et al. Haematologica. [Epub ahead of print 2009 Nov 30]. Cappellini MD, et al. Blood. 2008;112:abstract 3880. Poster presentation. Com a melhora da sobrevida dos pacientes falciformes é possível que cada vez mais pacientes precisem de transfusão e assim mais pacientes poderão desenvolver sobrecarga de ferro e mais estudos serão necessários para avaliar as peculiaridades da patologia ,inclusive com relação aos órgãos –alvo relacionados a doença falciforme e a sobrecarga de ferro,ao stress oxidativo e ao estado inflamatório crônico. Conclusões Sobrecarga de ferro secundária à transfusão é um problema comum na doença falciforme(DF), já que a maioria deles terá recebido uma quantidade significativa de transfusões até a vida adulta; O metabolismo e o tráfico do ferro são diferentes na DF e estudos são necessários para avaliar qual o impacto da sobrecarga de ferro na morbidade e sobrevida destes pacientes; A quelação de ferro já é disponível para estes pacientes e deve ser individualizada para potencializar resultados favoráveis.
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