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“Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros,
vede não vos consumais também uns aos outros.”
(Gálatas 5:15)
A primeira regra simples é: “Não Cause Dano.”
Não é tão complicado. Até mesmo uma criança
pode entender o que isso significa, e é aplicável a
qualquer um em qualquer etapa da vida. E quando
praticada, opera maravilhas na transformação do
mundo à nossa volta. Muitos de nós já observamos
e experimentamos a luta que é para resolver questões
complexas e difíceis. Percebi que quando essa
primeira regra simples era lembrada, ela muitas vezes
me impedia de proferir uma palavra incorreta ou
considerar uma resposta incorreta.
Também percebi que este primeiro passo simples,
quando praticado, pode fornecer um lugar seguro
para estar enquanto o trabalho difícil e fiel do discernimento é feito. Quando aceitamos que não prejudicaremos aqueles com quem discordamos,
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conversa, diálogo, e a descoberta do novo discernimento se faz possível. Quando as nossas palavras e
ações são guardadas por esta primeira regra simples,
temos tempo e espaço para pensar nas conseqüências
antes que uma palavra seja dita ou uma ação tomada.
Cada um de nós sabe de grupos que estão presos
em conflitos, às vezes por questões sérias e às vezes
por questões bobas. Mas o conflito é verdadeiro, as
divisões profundas, e as conseqüências muitas vezes
podem ser devastadoras. Se, contudo, todos que
estão envolvidos pudessem concordar em não causar
dano, o clima no qual o conflito está se direcionando
é imediatamente mudado. Como que é mudado?
Bem, se não devo causar dano, não posso mais fofocar sobre o conflito. Não posso mais falar afrontosamente dos envolvidos no conflito. Não posso mais
manipular os fatos do conflito. Não posso mais minimizar aqueles que não concordam comigo e devo
honrar a cada um como um filho de Deus.
Guardarei meus lábios, minha mente e meu coração
para que a minha língua não afronte, prejudique ou
fira outro filho de Deus. Não devo causar dano, mesmo
enquanto busco um bem comum.
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Pode-se acreditar facilmente, que aquele que
teve este amor no seu coração não faria nenhum mal aos seus vizinhos. Seria impossível
para ele, consientemente e deliberadamente,
fazer algum dano a qualquer pessoa. Ele estaria
bem distante de crueldade e mal, de qualquer
injusta ou desagrado. Com o mesmo cuidado
ele “estabeleceu um freio em sua boca, e
guardou a porta dos seus lábios,” para que não
ofendesse com a língua, contra a justiça, ou
contra a compaixão ou a verdade. Ele abandonou toda mentira, falsidade e fraude; nenhuma malícia foi encontrada na sua boca. Ele
não falou nenhuma maldade de pessoa alguma
nem uma palavra desamável saiu alguma vez
dos seus lábios. (“Sermão 4, Cristandade nas
Escrituras,” em Works, volume 5; página 41)
Este ato de desarmamento, deixando de lado as
nossas armas e o nosso desejo de causar dano, é esclarecedor em outros modos também. Descobrimos
que estamos em terra comum, habitamos um espaço
comum e precioso, compartilhamos uma fé comum,
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ceiamos em uma mesa comum, e temos uma medida igual do amor ilimitado de Deus. Quando
estou determinado a não lhe causar dano, perco o
meu medo de você; e sou capaz de vê-lo e ouvi-lo
mais claramente. Desarmado da possibilidade de
causar dano, encontramos um lugar bom e sólido
para prevalecer e, em conjunto, buscar o caminho
para a fidelidade ao Deus.
Quando este primeiro passo não é tomado, normalmente não é porque não é compreendido ou
porque é muito simples, mas muitas vezes esse passo
não é dado porque ele exige demais no caminho em
direção ao domínio próprio e a uma fé muito profunda que Deus vai conduzir e dar poder ao fiel. Para
aceitar a dar este primeiro passo, para a maioria de
nós, significa concordar com uma teologia e uma
prática muito rigorosa para o nosso tímido e manso
compromisso. Se este passo é tão simples e tão facil
de entender, por quê então tanta gente causa tanto
dano? Porque essa não é uma regra fácil; e ela realmente exige uma confiança radical na presença de
Deus, poder, sabedoria, e orientação e uma obediência radical à liderança de Deus. A prática da nossa fé
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no mundo necessita da nossa determinação mais profunda, da nossa maior fé, a nossa firme confiança, e
uma medida muito grande da graça de Deus.
Uma segunda razão pela qual este passo não é
dado pode ser por que nos ligamos a certa ideologia
ou teologia ao invés de nos ligar a Jesus Cristo tanto
como nosso Senhor como Salvador. Podemos ter
permitido que a nossa lealdade a uma posição
teológica supere a nossa lealdade a Jesus Cristo.
Podemos estar tão seguros que “o nosso caminho” é
o único e direito que às vezes não consideramos que
o caminho de Deus pode ser diferente do nosso
próprio caminho. Esquecemos a importância de entender claramente o Deus com o qual nos conectamos quando decidimos seguir o caminho de Jesus.
O ato de abandonar o caminho do mundo e seguir
o caminho de Jesus é um ato muito corajoso que necessita uma consideração honesta, cuidadosa, e
coberta de muita oração. Não é uma decisão inconseqüente. O próprio Jesus nos disse para considerarmos cuidadosamente o preço do discipulado: “Pois
qual de vós querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver
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se tem com que a acabar?... Assim, pois, qualquer de
vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode
ser meu discípulo” (Lucas 14:28, 33).
Seguir a Jesus é seguir um Deus que se fez conhecido nas Santas Escrituras, na história, natureza, e
no nosso mais profundo ser, e - na maior parte - na
vida, morte, e ressurreição de Jesus de Nazaré. Seguir
a Jesus é seguir aquele que confia totalmente na bondade de Deus, no seu amor, e no envolvimento íntimo nos assuntos da humanidade. Seguir a esse Jesus
é desejar ser com ele na nossa vida e na nossa morte.
Para alguns de nós, essa escolha é muito assustadora
e muito exigente; então seguimos à distância ou nos
desviamos. Mas profundamente no silêncio dos nossos corações, sabemos que realmente queremos seguir
a Jesus. De fato, sabemos que seguir a Jesus é o melhor caminho para nós para vivemos abundantemente
e fielmente. Sabemos que este é o único caminho para
vivermos uma vida pacífica, alegre e frutuosa. No profundo dos nossos corações sabemos que essa é a vida
que queremos viver. Nós realmente queremos seguir
a Jesus, mesmo que isso signifique abandonar a nossa
posição favorita ou as nossas posses preferidas;
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portanto oramos pela graça de sermos fiéis quando
dizemos sim ao convite à fidelidade.
Pode haver outra razão pela qual não prestamos
atenção nessa fase tão importante da vida cristã —
tememos as suas conseqüências. Abandonar os caminhos do mundo pelo caminho de Jesus é um passo
radical. Apesar deste passo ser bem simples e fácil de
se entender, não é tão fácil de ser realizado. Entendemos que ele pode nos conduzir aonde não desejamos ir. Será que estamos realmente prontos para
abandonar o poder político para dar lugar ao poder
do amor de Deus? Será que estamos prontos para
abandonar a nosso bem mais estimado — a certeza
de que temos razão e os outros não? Será que
podemos confiar em Deus o suficiente para seguir
os caminhos do Espírito e não os caminhos do
mundo? Se decidirmos seguir este caminho, seremos
vistos como fracos e à mercê de outros e não como
poderosos e no controle de cada situação? Se escolhermos este caminho, a nossa posição será corroída
e o nosso ponto perdido? O risco parece ser tão
grande e muitas vezes os nossos medos falam mais
alto do que a nossa fé.
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Será que é possível viver neste mundo complexo
e violento sem fazer dano algum? Será que temos
que dar a outra face àqueles que distorcem a verdade
pelo uso seletivo dos fatos de alguma situação dada?
Será que é sábio não causar dano àqueles que procuram nos prejudicar, ou nosso futuro, ou a nossa reputação? Será que somos capazes de limitar a nossa
resposta de um jeito que não é destrutivo àqueles
que usam palavras falsas e violentas procurando nos
prejudicar e destruir? Será que é possível dizer a verdade em amor e bondade quando outros parecem
dizer meia verdade em raiva e ódio?
É um caminho desafiante para se andar. Até uma
leitura casual do Evangelho sugere que Jesus ensinou
e praticou um modo de viver que não causou dano.
A sua vida, sua maneira de viver, e seus ensinamentos demonstraram muito bem esta primeira regra
simples. E ao invés de inventar algo novo, John Wesley buscou o que Jesus ensinou e o incorporou na
sua estrutura de viver fielmente:
Mantenha-se perto, eu vos imploro, de todos
os meios da graça. Esforça-te para andar em
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todas as ordens e mandamentos de Deus sem
culpa... “Acrescente à sua fé virtude; a virtude
conhecimento; ao conhecimento temperança;
a temperança paciência; a paciência santidade; a santidade[...] bondade; a[…] bondade
caridade.” (“Jornal de 6 de Maio de 1760, até
o dia 28 de Outubro de 1762,” em Works,
volume 3; página 88)
Há muitas razões pelas quais achamos difícil adotar
a primeira dessas três regras simples. Mas a boa notícia é que não temos que fazer esta viagem sozinhos.
Há sempre àquele que está conosco. Ele não só está lá,
mas também nos enche com a Presença do Espírito e
Poder, para praticar a nossa fé com integridade e fidelidade àquele que procuramos seguir. Esta verdade
está no coração da Personificação e do Pentecostes. A
boa notícia é que é possível praticar um modo de viver
que está em harmonia com a vida de Jesus e sobreviver,
e até prosperar, em um mundo como o nosso. É tanto
um desafio como um modo recompensador de viver;
e cada um de nós, com a ajuda de Deus, pode viver tal
vida completa, fielmente, e alegremente.
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Wesley disse que para continuar no caminho da
salvação, que é viver em harmonia com Deus, devemos começar “não causando dano, evitando a qualquer maldade, especialmente aquela que é
geralmente praticada” (Livro de Disciplina, 2004;
¶103). Porém, Wesley não estava sozinho no seu discernimento sobre este elemento essencial de uma
resposta fiel a Jesus Cristo.
Thomas á Kempis no livro ‘Imitação de Cristo’
mostra uma grande preocupação com a tranqüilidade com qual caímos no pecado em resposta à
nossa relação com outros. Na sua tradução deste
livro clássico, William C. Creasy interpreta a preocupação do autor como segue:
Não podemos confiar muito em nós mesmos,
porque muitas vezes estamos em falta de graça
e compreensão. A luz dentro de nós é pequena,
e até a deixamos se extinguir por falta de
cuidado. Além disso, muitas vezes não conseguimos notar quão cegos somos no nosso interior; por exemplo, freqüentemente fazemos o
que é errado, e fazemos as coisas ficarem piores,
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