IMAGEM CORPORAL E GÊNERO: UM ESTUDO COM
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IMAGEM CORPORAL E GÊNERO: UM ESTUDO COM
Recebido em: 28/02/2009 Emitido parece em: 23/03/2009 Artigo original. IMAGEM CORPORAL E GÊNERO: UM ESTUDO COM UNIVERSITÁRIOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1 1,2 1 Ana Paula Díscola , Luciana Almeida Lima , Flávio Rebustini , 1 1 Maria Leocadia Ladeira Cintra de Campos Miranda , Alexandra CecchiTotti . RESUMO A interferência midiática, a quase instantaneidade da comunicação entre as diferentes culturas e a associação da “imagem” ao sucesso têm gerado uma excessiva preocupação com o desenvolvimento intensivo de práticas relativas do culto ao corpo nas últimas décadas, o que tem provocado uma série de alterações e complicações quanto à imagem corporal e autoconceito, promovendo distorções e patologias na relação com o corpo. Considerando a importância da atuação dos profissionais de saúde nesse âmbito, temos buscado investigar a percepção que os estudantes de Educação Física apresentam sobre seus corpos. Um estudo anterior com esta população revelou uma autoimagem adequada (DÍSCOLA, LIMA e REBUSTINI, 2007), porém, quando analisados em relação ao gênero, percebe-se que as educadoras físicas revelam distorções de imagem corporal, comprovando a maior suscetibilidade do gênero feminino às influências sociais e midiáticas na busca por um corpo excessivamente magro. Considerando o papel que desempenharão junto à população, considera-se de extrema importância que essas futuras profissionais sejam orientadas no que se refere à relação estabelecida com seus corpos. Palavras chave: Imagem corporal, gênero, juventude, estudantes de Educação Física. ABSTRACT The interference of the media and the almost faster communication among so many different cultures and the association’s image to success has generated an excessive concern with the intense development of practices related to worship and body at the last recent decades, this has caused a number of changes and complications about a body image and promoting self distortions and pathologies in relation with the body. Considering the importance of the performance of professionals in the health program, we investigate the perception that students physical education present in their bodies. A previous study with all of this population showed us an appropriate self image (DÍSCOLA, LIMA e REBUSTINI, 2007), however, when analyzed with regard to gender, we find that the physical educators show distortions of self concept and body image, showing the greatest female susceptibility to social and media influences the search for a body too thin. Considering the role they will play with the population, it is the utmost importance that these future professionals are oriented as regards the relationship established with their bodies. Key words: Body image, gender, youth, Physical Education students. INTRODUÇÃO Nota-se que cada vez mais a mídia, um dos agentes socializadores mais significativos da contemporaneidade, valoriza o corpo escultural e veicula a mensagem de que beleza, um corpo magro e “malhado” é uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais os aspectos físicos parecem ser o único sinônimo válido para serem bem sucedidos na vida profissional, com os amigos e na vida amorosa. Isto ocorre porque nas últimas décadas ser fisicamente perfeito tem se convertido num dos objetivos principais das sociedades desenvolvidas. Não podemos atribuir à mídia, entretanto, condição exclusiva na determinação desses comportamentos. Sabemos que no que se refere à formação da imagem e autoconceito ocorre uma multiplicidade de interferências, com a presença de fatores familiares, sociais, culturais, psíquicos e emocionais. De qualquer modo, o que ocorre é que a necessidade de ter um corpo “aceito” por todos, um corpo “perfeito”, muitas vezes leva jovens a criarem uma obsessão em perseguir este ideal. Tendo em vista apenas este objetivo; os jovens apresentam com frequência desvios de comportamento, durante o Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.8, nº 1 – 2009 - ISSN: 1981-4313 119 processo, na medida em que consideram e não avaliam as possíveis consequências de seus atos. É nesse quadro que se instaura a distorção da autoimagem a tal ponto que se sentem gordos mesmo estando com 38 Kg, ou seja, a pessoa estabelece uma relação fantasiosa com o próprio corpo na qual enxerga suas proporções corporais alteradas, como por exemplo, jovens magros encontram, em seu corpo, gorduras localizadas que na verdade não existem. Existem diversas formas de manifestação destes distúrbios, como pessoas que passam o dia sem comer, provocam vômitos e diarréias com o auxílio de remédios e ainda existem aqueles que passam um período exacerbado nas academias, fazendo uma quantidade excedente de exercícios e ingerindo fórmulas que aumentam e aceleram o aparecimento de músculos. Investigações epidemiológicas vêm mostrando nos últimos anos um aumento considerável no número de pessoas acometidas por Transtornos Dismórficos Corporal em que a insatisfação corporal é crescente (BALLONE, 2004). Calcula-se que a prevalência dessa doença está na população adolescente e juvenil, mas casos consideráveis vêm se apresentando também em adultos jovens. A população feminina, particularmente, mostra-se ainda mais suscetível às distorções de imagem corporal e práticas que evidenciam eterna insatisfação com o corpo. Concordando com Russo (2005), a busca deste corpo perfeito está gerando excessos e preocupando profissionais da área de saúde e do desporto, porém, nem por isso esses profissionais revelam-se refratários a essas influências e distorções. Estudos com essa população mostram-se importantes, pois somente um olhar crítico dos professores sobre essa busca compulsiva pela beleza física, poderá coibir os excessos a que estamos assistindo hoje. Imagem Corporal • • • Segundo Thompson (1996) o conceito de imagem corporal envolve três componentes: Perceptivo, que se relaciona com a precisão da percepção da própria aparência física, envolvendo uma estimativa do tamanho corporal e do peso; Subjetivo, que envolve aspectos como satisfação com a aparência, o nível de preocupação e ansiedade a ela associada; Comportamental, que focaliza as situações evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência corporal. Capisano (1992) complementa que a imagem do corpo se estruturaliza em nossa mente, no contato do indivíduo consigo mesmo e com o mundo que o rodeia. Sob o primado do inconsciente, entram em sua formação contribuições anatômicas, fisiológicas, neurológicas, sociológicas, etc. A imagem corporal não é mera sensação ou imaginação. É a figuração do corpo em nossa mente. A imagem do corpo é unidade passível de transformação, onde todos os sentidos entram em colaboração. É a nossa visão global que delineia o nosso corpo em relação à situação do mundo externo. É a imagem corporal que permite distinguir-se em relação aos outros e consequentemente estabelecer relações mais verdadeiras. É com a imagem corporal que o indivíduo constrói gradualmente a consciência subjetiva do próprio corpo por meio dos juízos de valor com uma conotação afetiva (corpo bonito-feio, bom-ruim, etc) julgamentos que garantirão ao menos a integridade e a evolução da pessoa, continua o autor. Em Fernandes (2006), encontramos a definição de imagem corporal como a figura que se forma para o sujeito, no interior do seu aparelho psíquico, do tamanho e da forma de seu próprio corpo e os sentimentos suscitados a partir daí. Essa figura interna do corpo, por assim dizer, inclui a visão de um todo, assim como a percepção das sensações experimentadas nesse todo ou em parte dele. Essa unidade foi chamada de esquema corporal. A esse esquema corporal associa-se uma imagem tridimensional, absolutamente singular e variável, não só de um sujeito a outro, como também ao longo da vida de um mesmo sujeito. Desse modo, a imagem corporal integra as informações visuais e táteis que vêm do exterior do sujeito, a percepção e interpretação de estímulos provenientes do interior do corpo, como, por exemplo, fome, sono e desejo e, ainda, a experiência subjetiva com o próprio corpo. Em cada momento, cada atitude emocional confere determinado modelo postural. O esquema do corpo é dinâmico, obedecendo ora a correntes construtivas da vida, ora a correntes destrutivas, em contínuo movimento de autoconstrução e autodestruição. Segundo Mataruna (2004) a imagem corporal se desenvolve desde o nascimento até a morte, dentro de uma estrutura complexa e subjetiva, sofrendo modificações que implicam na construção contínua, e reconstrução incessante, resultante do processamento de estímulos. 120 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.8, nº 1 – 2009 - ISSN: 1981-4313 Em termos de saúde e patologia da imagem corporal podemos variar desde satisfação na forma como o sujeito se percebe, a insatisfações que ocasionam distorções da autoimagem - em que o indivíduo insiste em ver algumas deformidades em si: nariz muito grande, espinhas, etc.,- até transtornos derivados da excessiva preocupação com o corpo, ocasionando distúrbios que podem ser classificados como Transtorno Dismórfico Corporal, definido por Ballone (2004) como característico de indivíduos que sofrem de ideias persistentes sobre o modo como percebem a própria aparência corporal, apresentando uma opinião patológica a respeito do próprio corpo. Nesses, enquadram-se os casos de Anorexia, Bulimia e Vigorexia. O Transtorno Dismórfico Corporal parece ser diagnosticado com frequência aproximadamente igual em homens e mulheres, iniciando-se em geral na adolescência de forma gradual ou súbita e seu curso é flutuante e crônico. A idade de início mais comum do Transtorno Dismórfico Corporal também é no final da adolescência ou início da idade adulta. A média de idade está em torno dos 20 anos, não sendo raro que o diagnóstico seja feito mais tardiamente (BALLONE, 2004). Estes dados confirmam a vulnerabilidade da população jovem, conforme exposto acima. Em estudo anterior (DÍSCOLA, LIMA e REBUSTINI, 2007) afirmamos a importância de estudar a percepção da imagem corporal em estudantes universitários da área da saúde, por serem em sua maioria jovens sofrendo influências desses estímulos sociais. Sobre a imagem corporal e o gênero, encontramos em Nunes, et al. (2001) que estudos realizados em países em diferentes estágios de desenvolvimento sugerem que grupos jovens, especialmente do sexo feminino, apresentam com frequência insatisfação com a imagem corporal e mesmo uma imagem negativa, temor à obesidade e tendência a utilizarem diferentes técnicas para controle do peso. A cultura da magreza determina valores e normas que, por sua vez, condicionam atitudes e comportamentos relacionados ao tamanho do corpo, à aparência e ao peso, de modo que muitas mulheres fazem dieta e sentem-se insatisfeitas com o seu corpo mesmo quando não estão acima do peso normal. Segundo Ballone (2004), a pressão cultural por manter-se magro, seja apenas para atender a um padrão estético ou pela exigência de certas profissões (moda, esportes), aliada à presença de uma baixa autoestima, torna o indivíduo mais propenso a desenvolver um transtorno alimentar. E essa busca incessante pela beleza é mais comum em mulheres, e começa na adolescência. Fernandes (2006) afirma que o aumento da incidência dos transtornos alimentares na população feminina está intimamente relacionada às mudanças nos padrões de beleza e às exigências sociais. Assim, atualmente evidencia-se uma cultura do emagrecimento, na qual para obter êxito e aceitação social, o indivíduo (principalmente as mulheres) deve estar dentro deste padrão estético imposto pela sociedade. Os casos de transtornos alimentares parecem ter uma prevalência bem maior em sociedades industrializadas, nas quais existe abundância de alimentos e, ser magro parece ser mais atraente. Considerando as implicações de gênero na relação com a imagem corporal, buscou-se nesse estudo investigar a percepção que estudantes de Educação Física apresentam em relação a seus corpos. Método Foram entrevistados 68 estudantes universitários do curso de Educação Física da Universidade do Grande ABC – UniABC, sendo que destes 48 pertenciam ao sexo masculino e 20 ao sexo feminino. A população masculina apresentou as seguintes médias: idade 23,52 anos, peso 67,73 kg, altura 1,73, IMC 21,53. E a feminina, as médias de: idade 25,5, peso 63,4, altura 1,67 e IMC 22,63. Para o cálculo do 2 IMC real foi utilizada a fórmula padrão IMC = Peso/altura . A avaliação foi feita por meio de um questionário contendo questões objetivas e subjetivas, bem como a utilização do instrumento Silhouette Matching Task ou Teste de Avaliação da imagem corporal (Marsh e Roche, 1996), composto por 12 imagens corporais. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.8, nº 1 – 2009 - ISSN: 1981-4313 121 Figura 1. Silhouette Matching Task. Neste, foi-lhes solicitado que apontassem com qual imagem se identificavam, com qual das imagens gostariam de se parecer no futuro e ainda qual delas representava o tipo ideal pelo qual se interessariam. Essas respostas foram analisadas comparativamente em relação a outras do questionário: grau de satisfação com o corpo; frequência com que costuma olhar-se no espelho, reação frente ao que vê no espelho; interesse por assuntos relacionados ao corpo; se faria algum tipo de cirurgia plástica. O questionário permitia complementações que evidenciassem o interesse maior por saúde ou estética. A análise adotada foi a de descrição geral dos dados apresentada por meio de frequências simples e relativas. Assim, para que pudéssemos verificar as possíveis diferenças existentes entre os gêneros recorremos ao cálculo de prevalência dos parâmetros utilizando a seguinte fórmula: número de sujeitos com determinada característica dividido pelo número total de sujeitos avaliados multiplicado por cem. Descrição dos Resultados Tabela 1. Caracterização da amostra de estudantes de Educação Física da UniABC. Número de Voluntários Media de Idade Peso Médio Altura Media ICM Media Classificação de IMC Médio Masculino 48 23,52 67,73 1,73 21,53 Normal Feminino 20 25,50 63,40 1,67 22,63 Normal Gênero Tabela 2. Com qual das imagens você se identifica hoje? Imagem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 122 Feminino 0% 10% 5% 0% 10% 15% 25% 10% 10% 10% 0% 5% Masculino 12,50% 16,67% 4,17% 6,25% 12,50% 10,42% 25% 6,25% 6,25% 0% 0% 0% Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.8, nº 1 – 2009 - ISSN: 1981-4313 Nessa questão podemos notar que a maioria dos sujeitos tanto do gênero feminino quanto masculino (25%) identificam-se com a imagem 07, considerada adequada em termos de constituição corporal. Tabela 3. Com qual das imagens você gostaria de se parecer no futuro? Imagem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Feminino 5% 5% 35% 10% 5% 15% 20% 0% 5% 0% 0% 0% Masculino 4,17% 10,42% 6,25% 8,33% 10,42% 22,92% 29,17% 6,25% 2,08% 0% 0% 0% Como podemos observar, evidencia-se aqui diferença entre os gêneros. As mulheres gostariam de se tornar bem mais magras de como se percebem atualmente (35% escolheram o tipo 3), enquanto os homens manter-se-iam como são (29,17 % apontaram o tipo 7). Tabela 4. Atualmente qual seu grau de satisfação com o seu corpo? Descrição Completamente Insatisfeito Insatisfeito Bem Satisfeito Completamente Satisfeito Feminino 0% 25% 35% 40% 0% Masculino 0% 14,58% 43,75% 35,42% 6,25% Em relação à satisfação com seu corpo ambos os gêneros não relatam insatisfação: 40% das pesquisadas se dizem satisfeitas e 43,75% dos homens afirmam sentir-se bem em relação ao seu corpo. Tabela 5. Você costuma olhar-se no espelho? Descrição Feminino Masculino Sim 100% 95,83% Não 0% 4,17% Em sua grande maioria, tanto as mulheres (100%) quanto os homens (95,83%) fazem uso do espelho. Tabela 6. Com que frequência você costuma se olhar no espelho? Descrição Muito Frequente Frequente De vez em quando Raramente Nunca Feminino 30% 40% 25% 5% 0% Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.8, nº 1 – 2009 - ISSN: 1981-4313 Masculino 12,50% 41,67% 22,92% 6,25% 0% 123 Como na questão anterior, ambos os gêneros respondem que frequentemente se olham no espelho (40% das mulheres e 41,67 % dos homens). Tabela 7. Você se interessa por assuntos relacionados ao corpo? Descrição Feminino Masculino Sim 75% 91,67% Não 25% 8,33% 75% das mulheres e 91,67 dos homens afirmam interessar-se por assuntos relacionados ao corpo. Tabela 8. Qual o modelo da pessoa pela qual você se interessa ou se interessaria? Imagem Feminino Masculino 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10% 5% 15% 10% 15% 30% 5% 5% 0% 5% 0% 0% 2,08% 6,25% 14,58% 12,50% 27,88% 12,50% 18,75% 6,25% 0% 0% 0% 0% O modelo de pessoa ideal para as mulheres apresenta-se como o tipo 6 (30%), considerado normal, e para os homens é o tipo 5 (27,88%), também considerado normal. Tabela 9. Você faria algum tipo de cirurgia plástica para melhorar a satisfação com seu corpo? Descrição Feminino Masculino Sim 75% 35,42% Não 25% 64,58% Evidencia-se aqui insatisfação das mulheres em relação ao seu corpo, uma vez que 75% delas fariam uso da cirurgia plástica, enquanto os homens, em sua maioria (64,58%), não recorreriam a esse procedimento. Buscando uma síntese no entrecruzamento dos dados de cada gênero, podemos definir que na população investigada a maioria dos estudantes de Educação Física do sexo masculino percebe-se com um corpo dentro dos padrões adequados (tipo 7) e mostra-se satisfeito com ele, uma vez que não pretende mudar. Revelam-se satisfeitos quando se veem no espelho, não fariam cirurgia plástica, demonstram interesse por assuntos relacionados a corpo e buscam atividade física para condicionamento físico e saúde. Apontam como modelo ideal para relacionamento uma parceira tipo 5, ou seja, dentro dos padrões de normalidade. Não evidenciam, portanto, distorções de imagem corporal nem relações inadequadas com a percepção subjetiva de corpos, contrariando dados de literatura que afirmam que os homens tendem a subestimar suas dimensões corporais independente do IMC que apresentem (KAKESHITA e ALMEIDA, 2006). Já as estudantes, futuras educadoras físicas, evidenciam insatisfações com seus corpos e submissão aos padrões impostos pela ditadura estética da excessiva magreza (tipo ideal é o 3). Apesar de afirmarem estar satisfeitas com seu corpo (tabela 4) revelam contradições em seus hábitos e aspirações, pois, na grande maioria, fariam cirurgia plástica e o interesse demonstrado por assuntos relacionados ao corpo remetem-nas, em sua maioria, a informações de cunho estético. Por outro lado, 124 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.8, nº 1 – 2009 - ISSN: 1981-4313 essa distorção de um tipo físico ideal parece restringir-se às relações estabelecidas com seus próprios corpos, uma vez que apontam o tipo 6 (mediano) como ideal para relacionamento. Os dados obtidos na presente pesquisa, assim como dados encontrados na literatura indicam diferenças em relação à satisfação Corporal entre sexos. Um estudo realizado com 102 estudantes de Educação Física da PUC de Campinas (RUSSO, 2005) indicou uma maior preocupação por parte do gênero feminino com relação ao medo de ganhar peso e desejo de emagrecer, corroborando nossa investigação, pois, apesar de muitos estudos evidenciarem a população feminina com mais probabilidades de apresentarem distorções de imagem corporal, isto não é unanimidade na literatura. Em alguns estudos, encontramos não haver diferenças significativas entre gêneros (DAMASCENO, et al, 1995). Em Machado et al. (2007) constatou-se que a maioria dos estudantes universitários do curso de Educação Física analisados possuem distorção de sua autoimagem corporal sendo ela menor ou maior em relação ao real, porém, admitem limitações no estudo ao não separar por gênero a avaliação dos resultados. De qualquer maneira, a evidência de que os estudantes de Educação Física mostram-se afetados por essa cultualização ao corpo a ponto de apresentarem distorções de imagem corporal levanos a sugerir que estratégias sejam tomadas no sentindo de favorecer a estes estudantes a discussão e reflexão sobre as questões que podem estar levando a população em geral e eles mesmos a não terem uma percepção real de sua autoimagem. CONCLUSÃO Concordamos que a exaltação da magreza na sociedade contemporânea, com corpos tão esguios quanto inalcançáveis pela maioria da população, configura uma situação de permanente insatisfação pessoal (KAKESHITA e ALMEIDA, 2006). Porém, ainda que mudanças sociais evidenciem que a população masculina também se mostra influenciada pelos ditames do culto ao corpo característico dos dias atuais, nossa pesquisa identificou que as mulheres ainda revelam maior suscetibilidade aos efeitos dessa cultualização e são mais afetadas por essa insatisfação, mostrando-se mais propensas a distorções de imagem corporal. Estudos mais aprofundados junto a essa população merecem ser realizados em função da influência que essas jovens irão desempenhar em seus futuros alunos ou clientes. REFERÊNCIAS BALLONE, G.J. Transtorno Dismórfico Corporal http://www.psiqweb.med.br/, com Acesso em 22 fev. 2009. e Muscular. 2004. Disponível em CAPISANO, H.F. Imagem Corporal In: MELLO FILHO, J. Psicossomática Hoje. 1. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1992. DAMASCENO, V. O.; LIMA, J.R.P.; VIANNA, J.M.; VIANNA, V.R.A.; NOVAES, J.S. Tipo físico ideal e satisfação com a imagem corporal de praticantes de caminhada. 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