ViVacidade - Grandes Construções

Transcrição

ViVacidade - Grandes Construções
especial
construção, infraestrutura, concessões e sustentabilidade
a Feira 03
3Edição
e Congresso
/ 2015 Internacional de Edificações & Obras de Infraestrutura
Serviços, Materiais e Equipamentos
VivaCidade
Projetos transformam cidades
em ambientes mais acessíveis
aos portadores de deficiências
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Suplemento - VivaCidade
Melhor infraestrutura
urbana, mais qualidade de vida
A realização de megaeventos esportivos, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, além de sua importância esportiva
mundial, representa também a oportunidade de os países-sede de impulsionarem
sua infraestrutura urbana com amplitude
ímpar. Um dos melhores exemplos dessa renovação urbana proporcionada por
uma Olimpíada ocorreu em Barcelona,
em 1992.
É fundamental destacar que a transformação de Barcelona foi resultado de
um planejamento rigoroso e projetos de
revitalização que transcorreram desde o
início da década de 1980. A compreensão
dessa importância do planejamento e do
projeto na renovação urbana caracterizou
as gestões do geógrafo e sociólogo Jordi
Borja, prefeito de Barcelona entre 1983 e
1995. De certa forma, é o que vem ocorrendo com o Rio de Janeiro desde quando
foi escolhida, em outubro de 2009, para
sediar os Jogos Olímpicos de 2016. O Rio
de Janeiro que emergirá das obras que
hoje se espalham pelos quatro cantos da
cidade certamente será uma cidade que
oferecerá melhor qualidade de vida aos
seus habitantes e aos milhares de turistas
estrangeiros que a visitam. Quase certamente, o fluxo de visitantes internacionais deverá aumentar significativamente,
pós-jogos, mesmo que muita coisa ainda
precise ser feita para transformar o Rio de
Janeiro numa “cidade maravilhosa” em todos os sentidos.
Tendo como mote justamente a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos
de 2016 e seus impactos positivos, no Rio
e nas mais de 100 cidades qualificadas
para recepcionar delegações internacionais, buscamos mostrar a importância
SS Cidades passam a se equipar para melhor atender a todos
desse evento numa questão essencial: as
práticas de sustentabilidade e acessibilidade para os cidadãos, em especial para
aqueles portadores de deficiências. Para
estes, será de importância capital a entrada em vigor, em janeiro de 2016, da
Lei 13.146/2015, a Lei de Proteção aos
Direitos da Pessoa com Deficiência. Alguns exemplos já são vistos em cidades
como Londrina (PR), Uberlândia (MG)
e as paulistas Caraguatatuba, São José dos
Campos e Socorro, que vêm adotando
conceitos de sustentabilidade e acessibilidade em áreas fundamentais, como transporte público, infraestrutura urbana e até
mesmo no turismo.
Esse também é o mote do programa
VivaCidade, lançado pelo Sindicato da
Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco),
que procura encontrar, premiar e divulgar
os melhores exemplos de boas práticas
entre os municípios brasileiros, buscando
exibi-los numa vitrine que pode servir de
inspiração a outras prefeituras e administradores. Neste suplemento especial da
Revista Grandes Construções, esses são
os temas abordados, com ênfase na sustentabilidade, acessibilidade e garantia
dos direitos das pessoas com deficiência.
Boa leitura!
Novembro/Dezembro 2015 / 3
Suplemento - VivaCidade
Ir e vir, sem barreiras
Mobilidade nas vias urbanas e acessibilidade no transporte público
Nas vias urbanas do país, quem tem
algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida, seja ela temporária ou permanente, encontra dificuldades em fazer
valer o direito básico de ir e vir. Os desafios aparecem na porta de casa. A péssima
condição das calçadas faz com que aquilo que deveria ser via de locomoção se
transforme em barreira física, limitando
a liberdade e comprometendo garantias
constitucionais.
Os obstáculos são inúmeros, como revelou o levantamento Calçadas do Brasil,
produzido pelo Portal Mobilize. Tendo
avaliado passeios em 12 capitais brasileiras, em regiões de grande circulação de
pessoas, o estudo mostrou uma realidade
na qual pavimentos desnivelados, com
buracos e degraus são a regra. Nas 110 calçadas avaliadas, a livre circulação de pedestres e cadeirantes era comprometida por
remendos feitos por concessionárias de
serviços e pela existência de árvores, postes, e até barracas de comércio informal
ao longo dos trajetos. A falta de rampas ou
ainda rampas com projetos inadequados
também eram comuns.
O estudo foi feito em 2012, mas segundo o jornalista e coordenador do estudo,
Marcos de Sousa, o quadro geral continua
praticamente inalterado. “Houve pequenos avanços, mas pontuais. Os bons exemplos, infelizmente, permanecem como
exceções”. A maior parte dos problemas,
explica, ocorrem porque, de um lado, o
poder público não assume a gestão de calçadas localizadas em áreas estratégicas e,
de outro, a fiscalização sobre os proprietários é ineficiente.
Nesse sentido, iniciativas como as implantadas em São José dos Campos (SP)
e em de Londrina (PR) apontam caminhos interessantes a serem trilhados. Na
cidade do interior paulista, o programa
Calçada Segura prioriza a orientação,
com visitas de equipes educativas e técnicas aos proprietários de imóveis. Na
abordagem, são detalhados os parâmetros para execução e manutenção as calçadas, segundo a lei municipal específica sobre o assunto, que determina, por
exemplo, que os passeios no setor central
e subcentros devem ser feitas com blocos
intertravados ou placas de concreto. A
notificação de irregularidades só ocorre
após essas primeiras ações.
De forma semelhante, Londrina estabeleceu em lei municipal os padrões das
calçadas que devem ser seguidos em diferentes regiões, além de características
gerais, como inclinação e localização das
rampas de acesso, de forma a atender os
requisitos da norma técnica de acessibilidade (a NBR 9050 foi atualizada em
setembro deste ano). Dentro do projeto Calçada para Todos, foi estabelecida
ainda a obrigatoriedade de inclusão de
faixa de piso tátil nos passeios da região central da cidade, onde há a maior
circulação de pedestres. Atividades de
sensibilização fazem igualmente parte
da iniciativa e incluem, além da distribuição de cartilha explicativa, contatos
com profissionais de arquitetura e engenharia, representantes de construtoras e
comerciantes.
Transporte urbano –
ônibus e metrô
Saindo das calçadas e embarcando no
transporte público, outros desafios se
FOTO: Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina
TT Calçada na área central de Londrina: cidade estabeleceu padrões para os passeios em regiões da cidade.
4 / Grandes Construções
FOTO: Assessoria de Comunicação do Metrô
SS No Metrô de São Paulo funcionários são treinados para prestar assistêcia ao usuário com necessidade especiais
elevadores e plataformas elevatórias, a implantação de piso tátil e a adequação de
sanitários públicos, calçadas e acessos. Em
diversos pontos das estações estão sendo
instalados mapas táteis, e o novos trens
passaram a contar com alarme sonoro e
visual indicando o fechamento das portas,
além de maior quantidade de assentos preferenciais.
Para além das adaptações físicas, cha-
FOTO: Assessoria de Comunicação do Metrô
apresentam. Já a partir de dezembro do
ano passado, considerando o prazo de
dez anos estabelecido pelo decreto federal
5.296/2004 (Lei de Acessibilidade), todo
o sistema de transporte coletivo das cidades – o que inclui veículos, pontos de parada, terminais e sistema viário – deveria
estar pronto para atender às necessidades
de todos os cidadãos.
Nenhuma das capitais alcançou a meta
até o momento. E mesmo nos municípios que comemoram avanços, as melhorias estão geralmente relacionadas à
adaptação dos veículos. Nesse quesito,
o destaque é para Uberlândia, em Minas
Gerais, a primeira cidade brasileira a ter
100% dos ônibus urbanos acessíveis. Na
maior metrópole do país, a porcentagem
de coletivos acessíveis é de 80% dos
quase 15 mil veículos. O planejamento
da SPTrans é que a partir de uma nova
licitação para operação do sistema – o
edital foi lançado em outubro – toda a
frota que circula em São Paulo passe a
oferecer condições para as viagens de
pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Meio de transporte de cerca de 30 milhões de paulistanos, o Metrô destinou
R$ 83 milhões nos últimos oito anos para
tornar suas instalações acessíveis ao trânsito dos passageiros. Entre as melhorias
realizadas, destacam-se a instalação de
ma a atenção o trabalho de atendimento
aos usuários que frequentam o Metrô.
De acordo com Cecília Guedes, chefe do
Departamento de Relacionamento com
o Cliente, são realizados diariamente de
1600 a 1800 atendimentos, que incluem
a assistência a cegos, cadeirantes, idosos e
outros passageiros com mobilidade reduzida para que possam embarcar nos trens
e circular pelas estações com segurança.
Para apoiar a mobilidade desses passageiros, os três mil funcionários operativos
recebem treinamentos anuais – cerca de
400 deles são formados em LIBRAS, o
que facilita a comunicação com os deficientes auditivos.
Valendo-se da tradição de diálogo permanente com os usuários, o Metrô vem
buscado adequar sua estrutura às demandas desse público. Como exemplo, Cecília
cita as alterações realizadas no trajeto do
piso tátil, que agora levam também até
as escadas em algumas estações. “Os trajetos são direcionados ao elevador, mas
eles queriam ter mais uma opção, por uma
questão de autonomia”, conta. Também
por sugestão dos passageiros, passarão a
ser veiculadas vinhetas nas tevês dos trens
sempre que houver intercorrências na
operação, de forma que usuários com deficiência auditiva também possam ficar a
par do que está ocorrendo.
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Suplemento - VivaCidade
CIDADES APONTAM CAMINHOS
PARA A INCLUSÃO
Conheça as experiências de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e Caraguatatuba, no litoral
paulista. Com ações em várias frentes, incluindo legislações específicas, os municípios
estão conseguindo, pouco a pouco, garantir que todos os cidadãos circulem livremente
para ir ao trabalho, frequentar a escola e ter acesso ao lazer e à cultura
Uberlândia, no Triângulo Mineiro, foi
a primeira cidade brasileira a alcançar o
índice de 100% dos ônibus urbanos totalmente adaptados para transportar pessoas com necessidades especiais. O terminal central do município, onde todos os
dias circulam cerca de 30 mil pessoas,
também está equipado para o livre acesso dos cidadãos. As calçadas do entorno
têm piso tátil, o prédio conta com escadas
rolantes e elevadores e as plataformas são
dotadas de barreiras de proteção, liberando espaço somente para embarque e
desembarque.
No município, o movimento pela melhoria da mobilidade urbana começou há
cerca de 20 anos – foi impulsionado pelas
entidades de pessoas com necessidades
especiais, ganhou apoio em escolas e universidades e foi tomado como prioridade
pelo poder público. Tanto que o comprometimento com o tema ultrapassa as
várias administrações. “Cada governo é
uma fase. O importante é não abandonar
o caminho”, diz o prefeito Gilmar Machado, que assumiu o cargo na última eleição.
Além do comprometimento do poder
público e da sociedade civil, outros dois
fatores contribuíram para sucesso do projeto de inclusão social em Uberlândia:
leis e fiscalização. “É importante também
orientar a população. Temos uma parceria com o Crea para que os engenheiros
recebam informações sobre normas e
requisitos de acessibilidade”, conta o prefeito. Segundo ele, um dos diferenciais da
cidade foi elaborar leis passíveis de cumprimento, e que foram avançando nas exigências ao longo do tempo.
Na área específica de edificações, ne-
6 / Grandes Construções
SS Já é possível comprovar uma mudança de postura, com políticas inclusivas em diversos municípios brasileiros
nhum alvará é liberado para novas edificações comerciais se não contemplarem
equipamentos e estrutura que favoreça a
acessibilidade. Obras executadas nas esquinas devem ter rebaixamento de guias
para acessibilidade de cadeirantes. E a
prefeitura também faz a sua parte, dando
o exemplo: projetos de escolas, ginásios,
hospitais e outros equipamentos públicos
só são executados após o aval da Superintendência da Pessoa com Deficiência e
Mobilidade Urbana. O órgão, criado em
2009, tem entre suas atribuições a condução, juntamente com outras secretarias,
das políticas públicas voltadas à pessoa
com deficiência.
O conceito de inclusão está presente
também nas escolas. Quase a totalidade
delas, garante a prefeitura, atende aos
requisitos de acessibilidade, possuindo
rampas, piso tátil, banheiros adaptados e
salas especiais para atividades específicas.
Estão matriculados na rede municipal 1,4
mil alunos, entre zero a 25 anos de idade,
com surdez, deficiência visual, intelectual, física, múltipla, transtorno global de
desenvolvimento, transtorno do espectro
autista, altas habilidades e superdotação.
Para o atendimento qualificado desses
alunos, a prefeitura possui em seu centro de formação de educadores um Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas
(NADH), que conta com 35 professores
capacitados para dar atendimento especializado nas salas de aula.
O próximo grande projeto da cidade é
a construção do Parque da Longevidade,
o primeiro do Brasil com atividades totalmente voltadas ao público da terceira
idade. O projeto prevê um espaço 100%
acessível, equipado com pista de caminhada com corrimão, banheiros e bebe-
douros, academia ao ar livre, mesas de
jogos de cartas e tabuleiros, e quiosques
com sombras espalhados por todo o trajeto, proporcionando diversos pontos
para parada e descanso para idosos e outros usuários.
Caraguá: cidade encontra sua vocação
A cidade de Caraguatatuba, balneário
localizado no litoral norte de São Paulo,
que atualmente possui mais de 100 mil
habitantes, recebe todo ano novos moradores. São idosos e pessoas com deficiência que conhecem as oportunidades
da cidade e buscam mais qualidade de
vida. Há 4 anos quando uma secretaria
especial para esta área foi criada, o município passou por uma grande restruturação criando programas especiais para
atender esse público. São mais de quinze
programas que envolvem desde a Mobilidade Urbana (95% dos ônibus são
acessíveis) até academias, praças sensoriais e o primeiro programa do Brasil de
praia acessível, cujo propósito é garantir
o contato com a praia e o mar às pessoas
com deficiência.
Este projeto conta com seis cadeiras
anfíbias (equipamento que supera a
areia, entra e flutua na água), tendas e
esteiras, profissionais de educação física, além de uma equipe capacitada, que
recebe o usuário e o acompanha no banho de mar e na realização de atividades
recreativas.
A atleta Cristiane de Siqueira, de 45
SS Iniciativas atendem ao grupo de portadores de deficiências e idosos
anos, que tem sequelas de poliomielite
na perna esquerda e mora em Caraguá
desde 2012 escolheu a cidade justamente por ela oferecer muitas oportunidades para pessoas com deficiência. “Aqui
somos todos iguais. Não sofremos preconceito e somos muito bem atendidos
e recebidos. É mais qualidade de vida
com dignidade”, afirmou. Hoje em dia,
Cris Fox é atleta nas modalidades dardo,
disco, peso e handbike, onde se tornou
a 1ª mulher brasileira a competir nesta
modalidade no paratriathlon.
A população idosa no Brasil cresce a
cada década, assim como o número de
pessoas com deficiência. De acordo com
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país possui 23 milhões de idosos, o que significa 11,21%,
e 45,6 milhões de pessoas com algum
tipo de deficiência, ou seja, 23,9%. Em
Caraguá, a cidade segue a estimativa do
país. Em 2060, a expectativa é que o número de idosos aumente três vezes mais.
Este crescimento está relacionado à taxa
de fecundidade que estava alta há dez
anos. Outro fator importante é a qualidade de vida que melhora com o passar
dos anos.
A secretária municipal dos Direitos
da Pessoa com Deficiência e do Idoso,
Ivy Monteiro Malerba, acredita que este
conjunto de ações que já conferiu a cidade um prêmio estadual e outro federal é
uma obrigação de todo município e que
o espaço urbano não pode ser deficiente.
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3a Feira e Congresso Internacional de
Edificações & Obras de Infraestrutura.
Serviços, Materiais e Equipamentos
CIDADES EM
MOVIMENTO:
SOLUÇÕES
CONSTRUTIVAS
PARA OS
MUNICÍPIOS
BRASILEIROS.
A CONSTRUCTION EXPO 2016 nasce do apoio direto de 135 entidades do Construbusiness e das principais construtoras do País. A
feira reunirá toda a cadeia de serviços, materiais e equipamentos voltados aos segmentos da construção brasileira, afim de estimular
e apoiar os municípios na realização dos projetos de infraestrutura que irão potencializar os negócios e alimentar o mercado com
novas oportunidades.
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público e privado;
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Suplemento - VivaCidade
A entrada em vigor, em janeiro de 2016, da Lei 13.146/2015,
a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, deve
beneficiar as 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, segundo o Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número representa
23,9% da população do país.
Esse enorme contingente de pessoas com deficiência no Brasil, quase um quarto dos brasileiros, já contava com instrumentos legais de proteção. Entre eles, uma das principais iniciativas
que dão garantias ao trabalhador com deficiência é a Lei de Cotas. Criada em 24 de julho de 1991, estabelece em seu Artigo
93 que a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada
a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com pessoas com deficiência e reabilitadas, na proporção do número total de funcionários. Apesar da exigência legal de cotas para trabalhadores
com deficiência, a participação de deficientes no mercado de
trabalho, em 2010, ainda era baixa quando comparada à das
pessoas sem deficiência. Do total de 86,4 milhões de pessoas,
de 10 anos ou mais, ocupadas em 2010, 20,4 milhões eram pessoas com deficiência.
Se a participação das pessoas com deficiência no mercado de
trabalho ainda era relativamente baixa em 2010, o equivalente
a 23,6% do total, em números absolutos esse percentual é expressivo, comprovando a necessidade urgente de melhorias nas
cidades brasileiras em relação à mobilidade e acessibilidade para
garantir os direitos desses cidadãos. “A aprovação da LBI será
um marco na vida da pessoa com deficiência, não só no que diz
respeito à acessibilidade, mas em todos os pontos nela tratados”, afirma Rodrigo Rosso, jornalista e publicitário, diretor da
Revista Reação (publicação dirigida a pessoas com deficiência,
familiares e profissionais do setor) e presidente da Associação
Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços
para Pessoas com Deficiência (Abridef).
Pessoas com deficiência
na população brasileira
Tipo de deficiência
Total de pessoas
Percentual da
população
Visual
35,7 milhões
18,6%
Motora
13,2 milhões
7,0%
Auditiva
9,7 milhões
5,1%
Mental ou intelectual
2,6 milhões
1,4%
Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010
10 / Grandes Construções
FOTO: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Nova legislação deve
melhorar a vida das
pessoas com deficiência
SS Brasil possui 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Na
foto, a paratleta Roseane Ferreira dos Santos, medalista de bronze nos Jogos
de Toronto 2015.
Para Rosso, essa é uma lei bastante completa e necessária. Nela,
a acessibilidade e a mobilidade urbana têm capítulos exclusivos.
Há o Capítulo X – do direito ao transporte e à mobilidade – e
também o Título III, com quatro Capítulos em vários temas da
acessibilidade. A mobilidade e a acessibilidade são citadas em praticamente todos os capítulos da nova lei.
“O grande diferencial da LBI é que ela passa a considerar
a falta de acessibilidade como discriminação e, portanto, crime”, avalia o consultor em meio ambiente acessível Edison
Passafaro, instrutor e auditor da ABNT para normas relativas
à acessibilidade. A legislação, acrescenta o especialista, reforça
preceitos trabalhados em outros documentos como o decreto
nº 5296/2004 (este regulamenta leis anteriores que priorizam
o atendimento a pessoas com necessidades especiais e estabelecem critérios para a promoção da sustentabilidade) e a Lei
de 12587/2012 (Mobilidade Urbana), sobretudo no que diz
respeito ao chamado desenho universal. “O conceito, também
presente na revisão recente da NBR 9050, nada mais é do que
projetar espaços e ambientes para todas as pessoas”, explica.
Arquitetos e engenheiros, orienta Passafaro, devem trabalhar
sempre visando à diversidade. “É preciso pensar no projeto
como um sistema, que poderá ser utilizado por qualquer pessoa”, diz, e complementa: “os profissionais dessas áreas precisam se atentar sobre a responsabilidade técnica, porém social,
de seguir que está na legislação, nas normas de acessibilidade;
e também para a possível responsabilização jurídica e penal decorrente do seu descumprimento”.
TURISMO
PARA
TODOS
Recepção de turistas com necessidades especiais exige pacote amplo
de melhorias na infraestrutura das cidades
O Brasil espera receber um milhão de
turistas estrangeiros no ano olímpico.
Durante os meses de realização dos Jogos, a expectativa é que o fluxo de pessoas varie de 300 a 500 mil pelas cidades
onde vão ocorrer as competições (além
do Rio de Janeiro, outras cinco capitais
brasileiras estarão envolvidas no megaevento) e em vários destinos pelo país. Por
conta das Paraolimpíadas, é esperado que
parte desse contingente seja de pessoas
com necessidades especiais. Os Jogos de
Londres receberam quatro mil atletas
paralímpicos, recorde histórico que deve
ser superado na edição de 2016.
Caminhando para o segundo grande
evento esportivo em dois anos, o Brasil
ainda tem desafios de bom tamanho para
garantir o acesso de pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida às atividades turísticas. O Cristo Redentor,
principal cartão-postal do país, é considerado uma atração de baixa acessibilidade: embora conte com elevadores e
operação especial para a movimentação
de cadeirantes, não contempla soluções,
por exemplo, para cegos, como descrições em braile ou guias auditivos. Visando justamente correções para os Jogos
Olímpicos, a prefeitura do Rio lançou em
setembro o programa Rotas Acessíveis. O
objetivo é adaptar o percurso de dez dos
principais pontos turísticos da cidade,
com instalação de pavimento de concreto nos acessos às atrações, nivelamento
de vias e calçadas, instalação de rampas e
piso tátil, além da readequação de vagas
de estacionamento e pontos de ônibus.
Dentro de um pacote ideal de turismo
acessível, hotéis, restaurantes e aeroportos também devem estar aptos para recepcionar a diversidade. No caso específico dos terminais, investimentos tanto
para dotá-los da infraestrutura necessária
como na qualificação de pessoal são urgentes, como indicou levantamento do
Conselho de Arquitetura e Urbanismo
(CAU) realizado às vésperas da Copa do
Mundo. Em vistorias realizadas nos principais aeroportos de oito capitais brasileiras, a equipe do Conselho se deparou
com problemas como a carência de equipamentos específicos (caso do ambulifts,
uma espécie de elevador para o cadeirante ir da pista à porta do avião), além da
inexistência de piso tátil, de informativos
em braile e pessoal capacitado em linguagem libras, entre outras situações que
dificultam a autonomia do público com
necessidades especiais.
“O turismo no Brasil não é acessível
porque as cidades também não são”, relaciona o consultor em meio ambiente
acessível, Edison Passafaro, também ins-
trutor e auditor da ABNT para as normas relacionadas ao assunto. Cadeirante
há mais de 20 anos, Edison acredita que
o país perde muito ao não enxergar os
45 milhões de brasileiros com deficiência como um mercado interessante para
ações de turismo. “Não existe lugar no
mundo totalmente acessível. Mas há sociedades onde a inclusão econômica e social é melhor trabalhada, onde se entende
que todas as pessoas podem produzir e
consumir, independente de características físicas e sensoriais. ”
Algumas cidades já percebem o potencial econômico da diversidade. Entre elas,
Socorro (SP), localizada na Serra da Mantiqueira. O município iniciou há cerca de
10 anos trabalho envolvendo o trade turístico a fim de incluir as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida em
atividades de aventura. Por lá, arvorismo,
canoagem, rafting, rapel e outras modalidades podem ser desfrutadas com segurança
por todos os visitantes. Cerca de 30% da
rede hoteleira é adaptada, sendo que dois
hotéis na cidade são totalmente acessíveis.
Nos restaurantes, cardápios em braile e,
nas ruas, semáforos com sinais sonoros e
calçadas niveladas. Cerca de 600 mil turistas visitam anualmente a cidade, três vezes
mais do que há 10 anos, informa o diretor
de Turismo, Acácio Zavanella.
Novembro/Dezembro 2015 / 11
Suplemento - VivaCidade
Um monumento ao
esporte paralímpico
Entrelaçado por rampas, o Centro Paralímpico Brasileiro,
em São Paulo, vai reunir esporte, acessibilidade e tecnologia
para atletas e pessoas com mobilidade reduzida
Uma rampa circular no centro do terreno de 145 mil m² dá o tom do que o Lauro
Miquelin quis expor ao projetar o Centro
Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, localizado às margens da Rodovia Imigrantes
e vizinho do Parque das Águas. Sócio do
escritório L+M Gets, Lauro é responsável
por uma das obras mais importantes do
mundo no que diz respeito à integração
entre tecnologia, engenharia, arquitetura,
acessibilidade e esporte.
Fruto de uma parceria entre o Governo
do Estado de São Paulo e o Governo Federal, o Centro Paralímpico teve suas obras
iniciadas em dezembro de 2013, a partir
de um investimento de no valor de R$
264,7 milhões para obras – sendo R$ 145
milhões do governo federal e R$ 119,7 milhões do governo estadual – e outros R$
24 milhões para equipamentos (R$ 20 milhões federais e R$ 4 milhões estaduais).
Com uma área construída de 90 mil m², o
espaço foi dividido em cinco setores, todos interligados por rampas, aptos a receber 15 modalidades paraolímpicas: atletis-
12 / Grandes Construções
mo, basquete em cadeira de rodas, bocha,
esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5,
futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô,
natação, rúgbi em cadeira de rodas, tênis
de mesa, tênis em cadeira de rodas, triatlo
e voleibol sentado.
O primeiro setor é destinado à recepção principal, um estacionamento com
380 vagas disponíveis e quadras de tênis
em cadeiras de roda. No setor 2, os atletas
poderão encontrar um espaço dedicado ao
vôlei, basquete, rúgbi e futebol de 5. No setor 3 está a piscina. O local, aliás, apresenta uma série de inovações no conceito de
treinamento e competição paraolímpica.
Fornecidas pela Myrtha Pools, empresa
italiana fundada na década de 60, a piscina, com tamanho de 52m x 25m x 3m, é
formada com peças pré-moldadas em aço
inox e manta PVC, estrutura utilizada nos
Jogos Olímpicos de 2012, em Londres.
Além disso, a composição recebeu um instrumento chamado “Bulkhead”, uma espécie de ponte rolante com dois metros de
largura, que pode dividir a piscina em duas
partes. Ademais, luzes de LED em oito cores foram instaladas no fundo e funcionam
como sinalização para os atletas.
O setor 4 tem o ginásio para a prática
do judô, esgrima, bocha, goalboall, tênis
de mesa, com doze mesas no local, e futebol de 7. No 5º e último ambiente, está o
centro de pesquisa e medicina do esporte,
área fitness e uma pista de atletismo outdoor, que busca a certificação da classe
1 na Federação Internacional de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês). O Centro
também conta com vestiários, dormitórios, restaurantes, cozinha, copa e áreas de
convivência, para os quase 300 atletas que
passarão por lá na preparação para os Jogos Paralímpicos do ano que vem, no Rio
de Janeiro.
Unir toda a estrutura do Centro de
maneira equilibrada e satisfatória, para
um público com mobilidade reduzida,
foi um dos principais desafios no projeto
desenvolvido pela L+M. Como construir
um prédio, definir os acessos às quadras
e outros espaços sem prever escadas, tão
FOTOS: SINAENCO/GUILHERME HENRIQUE
TT Centro Paralímpico, em São Paulo: obras estão em fase de conclusão
comuns em qualquer empreendimento?
Lauro Miquelin afirma que o resultado
final (o Centro está com 97% das obras
concluídas) mostra que o projeto inicial
respondeu às expectativas criadas por todos os envolvidos. Cerca de 22 profissionais, entre projetistas, tecnólogos e designers estiveram relacionados ao Centro de
alguma maneira.
“Ninguém precisa usar a escada se não
quiser. Se você utiliza cadeiras de rodas
ou for um pedestre que não queira escadas, você pode acessar todos os pontos
do Centro Olímpico sem subir ou descer
um degrau sequer. E esse é a grande sacada do propósito desse centro: não depender de escadas. A presença da rampa
é um ‘depoimento’. A rampa central, vista
de longe, está em helicoidal. Você pode ir
passeando pelo prédio através dela”, afirma Lauro Miquelin
O ‘depoimento’ citado por Lauro na
concepção do Centro Paralímpico é fruto
de um estudo aprofundado, aliado à sensibilidade em atender as especificidades
das pessoas com mobilidade reduzida em
um local tão amplo e com tantas vias de
acesso. Além das rampas, todo o complexo é servido de elevadores que também
auxiliam na locomoção dos usuários. Ele
também ressalta que uma equipe de projetistas visitou instalações no exterior para
reunir as melhores referências possíveis.
“Qualquer boa arquitetura parte do
propósito do estudo sobre o ser humano.
Como fazer isso? Entendendo o propósito
de superação desses atletas e entendendo
os requisitos técnicos, como raias de uma
piscina paraolímpica, o tipo de revestimento para quadra do futebol de 7. Quando você entende esses conceitos, essas
diferenças, você transforma o que nós chamamos de restrição, para uma plataforma
impressionante de superação. ”
Tecnologia: mais um aliado da
acessibilidade
Áreas de captação de água da chuva,
paredes verdes. A proximidade do Centro com o Parque Fontes do Ipiranga, por
exemplo, trouxe uma responsabilidade a
mais: a integrar o espaço esportivo à natureza existente. As paredes verdes servem para diminuir o calor e aumentar a
umidade do ar. Placas de captação da luz
solar também foram incluídas no empreendimento: grande parte da água quente que será utilizada nos vestiários será
proveniente do aquecimento solar. Além
disso, a face oeste do edifício tem fachada ‘ameboide’. O formato ajuda a atenuar
a incidência de calor, diminuir o barulho
viário no entorno das quadras e ainda
serve como referência sobre o Centro Paralímpico. A cor alaranjada da fachada foi
inspirada em uma mescla de tons alusivas
ao dourado da medalha de ouro, ao avermelhado, da medalha de bronze.
Outro setor importante do Centro Paralímpico tem chamado a atenção de atletas
e dirigentes de federações: a área tecnológica. Com mais de 20 de laboratórios, o
espaço promete se tornar uma nova referência entre os complexos esportivos da
América Latina. Espaços dedicados para
treinamento de força, recuperação física e
ciência do esporte receberam uma atenção
especial. Tratamentos com hidroterapia
também realizados em uma sala com quatro banheiras hidroginástica.
“Nós fizemos um estudo com o pessoal
da Secretária e Pessoa com Deficiência do
Estado de São Paulo para saber o propósito do Centro. Como colocar à disposição
do para-atleta a questão da tecnologia, no
âmbito do alto desempenho, ao mesmo
TT Circulação pelos espaços internos é feita através de rampas e elevadores
SS Fachada ameboide na face oeste: formato
ajuda a atenuar a incidência de calor e ruído viário
tempo do treinamento e do suporte para o
esporte em alta qualidade? Aí entra nossa
expertise de saúde, porque a competição
é feita por pessoas que precisam se superar”, ressalta Lauro Miquelin, que credita
à tecnologia agregada ao projeto coloca o
Centro Paralímpico Brasileiro como um
dos melhores do planeta.
“Saúde, qualidade de vida, bem-estar e
alto desempenho dão tom no Centro de
Treinamento. Se não seria só mais um centro de treinamento para paratletas ou atletas olímpicos. Esse é o único Centro com
esses laboratórios para o atleta paralímpico ter condições de atender e aferir o seu
desempenho e como ele vai se superar”,
reforça Lauro Miquelin.
Com previsão de entrega para o primeiro semestre de 2016, o Centro Paralímpico, em São Paulo, pode ser o grande passo
para colocar o Brasil em um nível ainda
mais alto no quesito competitividade. Para
Mizael Conrado, vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro e bicampeão
paralímpico nos jogos de Atenas-2004 e
Pequim-2008, a nova estrutura pode ajudar a compor um novo cenário esportivo.
“O Centro garante aos atletas condições
de treinamento similares às encontradas
nas principais competições do mundo. Ele
iguala o Brasil. Nós ficamos em 7º lugar
nas Olímpiadas de Londres. Os seis países
(China, Rússia, Grã-Bretanha, Austrália,
Ucrânia e Estados Unidos) que ficaram à
frente do Brasil têm um Centro de Treinamento, completo ou por modalidade.
Vamos desenvolver nossos atletas na área
esportiva e psicológica, com a infraestrutura que será oferecida”, conclui Mizael
Conrado.
Novembro/Dezembro 2015 / 13
entrevista
José Roberto Bernasconi, Presidente do Sinaenco
Transformação
urbana a partir dos
bons exemplos
Campanha VivaCidade, do Sinaenco, irá identificar e premiar boas
práticas que levam à melhoria da qualidade de vida nas cidades
A importância da acessibilidade em todos os setores da
infraestrutura brasileira, nos espaços de uso coletivo, públicos e privados, e a aprovação da Lei 13.146/2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que instituiu
as exigências de espaços e serviços acessíveis em diversas
áreas e cuja entrada em vigor ocorrerá em janeiro de 2016,
coincidindo com o ano de realização dos Jogos Olímpicos no
Rio de Janeiro, são analisados pelo presidente do Sinaenco,
José Roberto Bernasconi. Para ele, é fundamental dotar as
cidades brasileiras de infraestrutura sustentável e acessível.
“O grau de civilização de uma sociedade é medido também
pela forma como ela trata as pessoas com deficiência. ”
Como o senhor avalia a situação atual do Brasil?
Vivemos tempos tumultuados no Brasil, com problemas na política e na economia. Porém, se a sociedade estiver consciente, ela se mobiliza e pode provocar
mudanças positivas. Um exemplo dessa capacidade
está nas mobilizações espontâneas que aconteceram
em junho de 2013 e tiveram enorme repercussão em
todo o país. É importante lembrar que essas mobilizações de 2013 tiveram início devido à profunda insatisfação da sociedade com o transporte público e o
aumento das tarifas de ônibus e com a qualidade dos
serviços públicos oferecidos em diversas cidades e estados brasileiros. É importante destacar que mobilidade significa também acessibilidade, num sentido mais
geral: de oferecer equipamentos e espaços acessíveis
e de permitir o acesso de amplos setores da população
a serviços essenciais e importantes, como a educação,
a saúde, ao trabalho e ao lazer, entre outros.
E como a campanha VivaCidade, idealizada e desenvolvida pelo Sinaenco, se insere nesse quadro?
Diante dessa realidade e tendo como mote a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro,
jogos que terão o suporte de cerca de 100 outras cidades, que hospedarão delegações dos diversos países
que participarão da Olimpíada, decidimos no Sinaenco, em parceria com entidades e instituições, realizar
uma campanha permanente, que batizamos de VivaCidade. Essa campanha destina-se, por intermédio da
captação de projetos e de obras inspiradoras à melhoria da infraestrutura de nossas principais urbes, em
todo o país, a discutir e a debater, com entidades,
14 / Grandes Construções
gestores públicos e com a participação da sociedade,
o papel dos bons exemplos, das boas práticas, para a
melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. A ideia
central é de que bons exemplos – que existem, em
maior ou menor grau, em todo o país – devem ser
utilizados como referência e motivação a todos, servindo como contraponto e potencial solução para a
resolução dos inúmeros problemas em diversas áreas
dos nossos municípios. O projeto VivaCidade, assim,
se propõe a pesquisar e a premiar esses bons exemplos, colaborando para sua ampla divulgação, por intermédio das mídias parceiras e geral.
Essa campanha foi definida a partir de uma constatação básica e já conhecida: a vida das pessoas acontece na cidade. E é nelas que os cidadãos moram, se
locomovem ao trabalho, em busca dos serviços públicos, ao estudo, ao lazer e às compras, entre outras
atividades, sejam elas metrópoles ou pequenos municípios. Os problemas, que são enormes e também
conhecidos, vão desde a dificuldade na mobilidade
urbana, à falta de espaços públicos adequados, de
calçadas e espaços públicos e privados acessíveis, entre diversas outros, que impedem, principalmente às
pessoas com algum tipo de deficiência, de ter acesso
ao direito constitucional de ir e vir, à saúde e à educação, entre outros.
Qual a sua avaliação sobre a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, em
julho deste ano?
Com a edição da Lei 13.146/2015, a Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), cuja observância torna-se
obrigatória a partir de 6 de janeiro de 2016, a acessibilidade passou a ser uma questão relevante da atualidade no Brasil. E a edição dessa lei tornou-se ainda
mais importante por sua data de entrada em vigor
coincidir com o ano de realização dos Jogos Olímpicos
2016. Nosso país tem mais de 40 milhões de pessoas
com algum tipo de deficiência. E é importante lembrar que, com o progressivo aumento da perspectiva
de anos de vida para todos os brasileiros, teremos
cada vez mais pessoas com algum tipo de deficiência,
de limitação, também em função da idade avançada.
Por isso, é também cada vez mais premente a necessidade de dotar as cidades brasileiras de infraestrutura inclusiva, que contemple esse enorme contingente
populacional.
E como essa lei e a necessidade de contemplar as
necessidades das pessoas com deficiência impactam no projeto de arquitetura e de engenharia?
Impactam bastante. A partir de janeiro de 2016, os
projetos de arquitetura e de engenharia devem observar os preceitos do denominado Desenho Universal,
também conhecido como arquitetura inclusiva. Essa
lei institui, entre outras obrigações, a elevação do
percentual de banheiros acessíveis, por exemplo, de
3% para 5%, com reflexos em prédios comerciais, de
hotelaria, hospitalares etc. E o mesmo deve ocorrer
em empreendimentos habitacionais de uso multifamiliar, assim como toda e qualquer construção, reforma,
ampliação ou mudança de uso de edificações abertas
ao público, de uso público ou privadas de uso coletivo
deverão ser executadas de modo a serem acessíveis.
Essa lei é fundamental para garantir a acessibilidade em todos os equipamentos, públicos e privados,
de uso coletivo. E a maioria das cidades brasileiras
ainda não está preparada para atender às exigências
dessa nova lei. Porém, há municípios brasileiros, dos
mais diversos portes, que já estão desenvolvendo programas públicos relacionados à acessibilidade em diversas áreas, como o transporte público, conjuntos
habitacionais, prédios públicos, praças, calçadas e
equipamentos de lazer, entre outros. Essas iniciativas
devem ser destacadas e difundidas, até para servir de
inspiração a outras cidades. É o que buscamos fazer
com o programa VivaCidade.
Como os Jogos Olímpicos de 2016 podem ajudar a
impulsionar a melhoria da acessibilidade nas cidades brasileiras?
Pela enorme relevância e audiência mundial que
os Jogos Olímpicos têm, eles certamente poderão se
constituir num poderoso efeito multiplicador dos conceitos e preceitos da acessibilidade em todo o país
e até internacionalmente. O Brasil vem conquistando recordes memoráveis na conquista de medalhas
nos Jogos Paralímpicos, como aconteceu nos Jogos
Parapanamericanos, realizados em agosto último em
Toronto, Canadá, quando a delegação brasileira conquistou 257 medalhas, das quais 109 de ouro, 74 de
prata e outras 74 de bronze. Trata-se do melhor rendimento do país em toda a história do evento. Essa
conquista soma-se a outras, anteriores, nas quais os
atletas paralímpicos brasileiros tiveram papel destacado. Evidentemente, a realização dos Jogos Paralímpicos 2016, no Rio de Janeiro, serão também uma oportunidade para discutir qual será o legado dos Jogos
Olímpicos para o país e às cidades brasileiras. E esse
é também um grande mote para estimular as cidades,
seus administradores e habitantes, a compreenderem
a importância da acessibilidade para a melhoria da
qualidade de vida de todos. É importante destacar
que uma das medidas do grau de civilização de uma
sociedade é a forma como ela trata seus deficientes.
Acessibilidade é um conceito fundamental. E acessibilidade significa também mobilidade, que permite o
acesso aos serviços públicos, especialmente às camadas mais carentes da nossa sociedade. Por isso, uma
sociedade mais justa é também uma sociedade mais
acessível, em todos os sentidos, permitindo a integração e a fruição dos espaços e serviços públicos a
todos, em especial, àqueles que mais precisam.
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