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I
A
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E
M
S
O
técnica
M
I
T
Ó
Dave Stewart
N
o mundo efêmero e de curta
duração da música popular, é
bom saber que existem certos
elementos duradouros que resistiram ao
teste do tempo. Um destes componentes
duradouros é o arranjo clássico de metais
de pop/soul, um item musical que mantém
sua relevância, vivacidade e atrativo há mais
de meio século.
Embora eu não esteja aqui para
ensinar história, vale a pena lembrar
que muitos componentes fundamentais
de arranjos de metais contemporâneos
são baseados em um roteiro musical
estabelecido nos anos 1960. Na metade
dessa década, o cenário do soul nos EUA
estava a todo vapor e as paradas estavam
repletas de tracks inovadores de artistas
como Otis Redding, Wilson Pickett e
James Brown. Dê uma olhada no box ‘20
Arranjos Clássicos de Metais’ e você verá
uma lista cronológica de gravações deste
período que foram bastante influentes
em moldar o desenvolvimento do arranjo
de metais de pop.
Note que eu estou usando a palavra
‘pop’ em seu sentido mais amplo,
significando a vasta extensão da música
popular (em vez de música clássica, ópera,
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Metais Top
Esta nova série de quatro partes explica tudo que
você precisa saber sobre criar arranjos de metais
para vários gêneros.
música de gaita de fole armênia ou canto
difônico tuvano). Isso obviamente abrange
uma enorme quantidade de gêneros,
mas, hoje em dia, é mais provável que
você encontre metais baseados em soul
nos gêneros contemporâneos de R&B,
funk, Latin, urban, rap, hip-hop, ska,
reggae, blues rock e pop mainstream
(minhas desculpas para quaisquer estilos
que eu tiver deixado de fora sem querer).
Tendo dito isso, eu não gosto muito de
categorização musical, então, se você
quiser adicionar alguns metais de funk a
uma composição de canto difônico tuvano
tradicional, vá em frente - e boa sorte!
Táticas de metais
Nesta matéria, eu explicarei algumas
ideias musicais básicas que aparecem
em arranjos de metais de pop, com a
intenção de lhe encorajar a criar os seus
próprios arranjos avançados. Para auxiliar
Edição 59 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r
quem não sabe ler música, incluímos uma
captura de tela de piano-roll do Logic Pro
com cada exemplo musical. Quem sabe
ler música deve lembrar que um ponto
escrito em cima de uma nota colcheia
indica que ela deve ser tocada como uma
nota semicolcheia (isso evita incluir várias
pausas trabalhosas).
A não ser que você faça parte da
minoria de músicos que sabe elaborar
uma tabela de acordes e pode pagar
músicos de sessão para gravá-las, você
precisa de certas ferramentas para lhe
ajudar: especificamente, uma DAW ou
sequenciador hardware, alguns sons
de metais apropriados (veja a seção
‘Mandadas’ mais adiante) e um teclado
MIDI no qual tocar as suas ideias. Se você
não toca teclado, um controlador de
guitarra ou instrumento de sopro MIDI
serve, mas note que o segundo só pode
tocar linhas únicas, não acordes.
técnica
a r r a n j o s pa r a m e ta i s
Alguns compositores para filmes e
TV contornam o problema de teclado
inserindo notas diretamente na página de
partitura de seu sequenciador software.
Embora já tenha ouvido esboços de
orquestra convincentes que foram criados
desta maneira, eu não recomendo isso
para composição de metais de pop - este
material depende, em grande medida, de
sensação humana, então funciona melhor
quando tocado em um instrumento, e
não por meio de uma série elaborada de
cliques do mouse.
Bancando o advogado do diabo,
existe outra maneira menos trabalhosa
de lidar com a tarefa: você pode seguir
o exemplo de Prodigy e Sugababes e
samplear um arranjo de metais de uma
gravação antiga, como estes conjuntos
fizeram (respectivamente) com ‘Stand Up’
(incluindo o intervalo instrumental alto e
antêmico de ‘One Way Glass’ da banda
Manfred Mann Chapter) e ‘Girls’, que
faz uso liberal de uma frase de metais
extremamente cativante de ‘Here Come
The Girls’ de Ernie K-Doe. Entretanto, a
não ser que você tenha um convincente
advogado especialista em música e
bastante dinheiro para acalmar os
detentores de direitos originais, é melhor
evitar esse caminho.
Uma abordagem menos legalmente
perigosa é comprar uma biblioteca
de samples de frases de metais prégravadas e colá-las sobre um track de
apoio na sua DAW. Embora seja fácil
de fazer e aparentemente gratificante,
essa abordagem trivial carece de
criatividade e costuma inverter a
situação - você acaba tentando fazer
o seu track combinar com as frases, e
não o contrário. É muito melhor usar a
sua imaginação, pensar em alguns riffs
de metais próprios e tocá-los no seu
sequenciador, mesmo se você precisar
fazer isso um compasso de cada vez,
tocando devagar com um dedo (não há
nenhuma vergonha nisso). Pelo menos
assim você não repetirá as mesmas
frases pré-gravadas igual a todo mundo!
20 Arranjos Clássicos de Metais
Eis um ‘Top 20’ de gravações datando de meados dos anos 1960 que apresentam arranjos de
metais icônicos. Frequentemente criados na hora pelos músicos na sessão de gravação, estas
partes de metais enganosamente simples, mas muito cativantes, definiram um modelo musical
que perdura até hoje. A audição destes tracks é recomendada para todos os arranjadores de metais
aspirantes e para fãs da era de ouro do soul!
1. ‘Dancing In The Street’ (Martha & The Vandellas) 1964
2. ‘Papa’s Got A Brand New Bag’ ( James Brown) 1965
3. ‘In The Midnight Hour’ (Wilson Pickett) 1965
4. ‘I Can’t Turn You Loose’ (Otis Redding) 1965
5. ‘I Got You (I Feel Good)’ ( James Brown) 1965
6. ‘Rescue Me’ (Fontella Bass) 1965
7. ‘Uptight (Everything’s Alright)’ (Stevie Wonder) 1965
8. ‘Hold On I’m Comin’’ (Sam & Dave) 1966
9. ‘Land Of 1000 Dances’ (Wilson Pickett) 1966
10. ‘Knock On Wood’ (Eddie Floyd) 1966
11. ‘Road Runner’ ( Junior Walker & the All Stars) 1966
12 ‘Mustang Sally’ (Wilson Pickett) 1966
13. ‘Respect’ (Aretha Franklin) 1967
14. ‘Soul Man’ (Sam & Dave) 1967
15. ‘Tell Mama’ (Etta James) 1967
16. ‘Dance To The Music’ (Sly & the Family Stone) 1967
17. ‘Hard to Handle’ (Otis Redding) 1968
18. ‘It’s Your Thing’ (The Isley Brothers) 1969
19. ‘Vehicle’ (The Ides Of March) 1970
20. ‘Move On Up’ (Curtis Mayfield) 1970
Se você conseguir encontrá-la online, escute a agitada versão de ‘I Can’t Turn You Loose’ no
programa de TV ‘Ready Steady Go!’ do Reino Unido de 1966.
Instrumentação
Metais de pop usam terminologia
e instrumentação diferentes de metais
de orquestra (‘de música clássica’). No
mundo do pop, trompetes, trombones e
saxofones são misturados, com todos os
instrumentos chamados indistintamente
de ‘horns’ (ou seja, “metais”). Em
círculos de orquestra, ‘horn’ significa
trompa, aquele complexo pedaço
de tubo redondo com uma grande
campânula cônica e bocal saliente.
Alguns compositores modernos usam
saxofones em obras sinfônicas, mas uma
seção de metais de orquestra tradicional
contém apenas trompetes, trombones,
trompas e tubas. Esta diferença crucial
marca a principal distinção entre metais
de orquestra e de pop: sem o timbre
distinto, fino e um pouco estridente
do saxofone, metais de música clássica
têm uma qualidade tímbrica pura,
homogênea e refinada que evoluiu
ao longo de centenas de anos. Em
comparação, uma seção de metais de
pop é basicamente uma invenção do
século XX que, por causa dos saxes,
pode produzir um som mais harmonioso,
Este multi do Kontakt usa dois instrumentos solo da biblioteca
de samples Chris Hein Horns Vol. 2. Uma mandada de
sustentação de trompete é sobreposta com um trompete
de staccato para reforçar o attack. Com as duas mandadas
configuradas no mesmo canal de MIDI, notas curtas tocadas
produzem um efeito de staccato, enquanto notas mais longas
acionam um som sustentado com um forte attack. Neste multi,
a mesma técnica é aplicada a um saxofone tenor solo (operando
em um canal de MIDI diferente das mandadas de trompete).
w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r / Edição 59
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técnica
A r r a n j o s pa r a m e ta i s
O saxofone está presente por padrão na
maioria das seções de metais de pop/soul,
enquanto que sua presença em conjuntos de
orquestra é mais incomum.
complexo, insinuante e sensual.
Conjuntos de metais contemporâneos
variam de tamanho de um único músico
(normalmente um músico de trompete,
trombone ou sax) até cinco metais
(trompete, sax alto, sax tenor, trombone
e sax barítono). A instrumentação e os
tamanhos de seção variam: é comum
ouvir um único músico de metais tocando
um solo de jazz ao longo de um track,
enquanto muitas bandas incluem apenas
dois músicos - exemplos típicos incluem
trompete e sax, trompete e trombone e
dois saxes. Trios de trompete, sax alto e
tenor também são comuns. A única regra
que podemos aplicar aqui é dizer que uma
seção de mais do que cinco músicos está
entrando no território de big band de jazz,
o que é algo que eu tratarei mais tarde
nesta série.
Mandadas
Como primeiro passo em direção a criar
um arranjo de metais, eu sugiro usar um
som de trompete, pelo simples motivo de
que muitas vezes um trompete toca a parte
mais alta em um arranjo, e é esta linha
superior que se comunica com os ouvintes
e dá ao arranjo sua personalidade. Se você
estiver usando um teclado ou instrumento
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virtual de DAW como a sua fonte de som,
tente encontrar um trompete solo de
som simples com um attack forte e uma
sustentação uniforme. Talvez você precise
passar por dúzias de presets de metais
de orquestra fracos para encontrá-lo, mas
provavelmente existirá um trompete ali
com a energia, atitude e attack corretos.
Além de oferecer um conjunto de
trompetes solo, as estações de trabalho
de teclado de hoje em dia normalmente
contêm mandadas de seção de trompete
de dois músicos ou mais. Para os
propósitos de esboçar um arranjo, é
aceitável usar tal mandada, contanto que
os instrumentos nela sejam tocados em
uníssono (ou seja, todos os trompetes
tocam a mesma nota). Você deve evitar
presets de ‘metais de pop’ que incluem
uma mistura de instrumentos diferentes,
e nunca use mandadas com oitavas
embutidas, já que elas ficam terrivelmente
confusas quando você constrói acordes
e linhas de harmonia. Se você não tiver
certeza se está ouvindo oitavas, compare o
preset em questão com uma mandada de
trompete solo e escute cuidadosamente
para tentar encontrar indícios de uma
nota mais baixa abaixo do pitch principal.
Eu também não recomendo o uso de
mandadas e samples com acordes
embutidos, já que eles ficam muito óbvios
e lhe impedem de criar os seus próprios
voicings de acordes!
A alternativa a trabalhar com um
teclado ou instrumento de DAW é usar
uma biblioteca de samples; eu listei alguns
exemplos em um box nesta matéria.
Embora instrumentos sampleados tenham
o potencial para soarem mais realistas e
profissionais do que uma mandada de
sintetizador, eles exigem mais esforço do
usuário. O primeiro obstáculo é navegar
por listas intermináveis de mandadas
para encontrar um simples trompete solo
tocável: bibliotecas de samples de metais
de pop invariavelmente oferecem uma
opção de notas sustentadas e entregas
de staccato curtas, além de outros
estilos com nomes obscuros como
‘decrescendo’, ‘trinado’ ou ‘crescendo’,
que eu explicarei em uma futura matéria.
Para começar, um trompete solo
convencional é suficiente.
Já que estou no assunto de instrumentos
baseados em samples, eis uma dica útil: ao
trabalhar com samples, você pode reforçar
attacks de notas sobrepondo uma mandada
de staccato ou marcato em uma mandada
de sustentação. Configure as mandadas de
Edição 59 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r
Exemplos 1 a 5. Não seja enganado pela
simplicidade destas batidas de nota única e
notas duplas - elas podem ser muito eficientes.
staccato e sustentação para o mesmo canal
de MIDI e faça experimentações com seus
volumes relativos para obter a combinação
ideal. (O truque nem sempre funciona,
mas, com sorte, você acabará tendo uma
combinação geral que você pode usar para
notas curtas e longas.)
Pontuação
Se escutar alguns arranjos clássicos dos
anos 1960 listados no box já mencionado,
você notará que, na verdade, os músicos
de metais não tocam muito; depois de
começar a canção com um forte tema
melódico, muitas vezes eles ficam em
segundo plano e só reaparecem no
intervalo instrumental intermediário.
Quando eles tocam, muitas vezes as partes
são esparsas e simples, deixando bastante
espaço para o vocal. Wayne Jackson
da The Memphis Horns (uma dupla de
trompete e sax que escreveu e tocou as
partes de metais em várias gravações da
nossa lista) resumiu a filosofia da seguinte
técnica
a r r a n j o s pa r a m e ta i s
Exemplos 6 e 7. Frases de notas
repetidas como estas prendem a
atenção do ouvinte.
maneira: “Não atrapalhe o cantor.”
Sábias palavras. Felizmente, você pode
evitar isso mantendo o seu arranjo de
metais adequado e simples nas passagens
em que o vocalista estiver cantando: espere
a linha de vocal acabar (por exemplo, no
final de um refrão) e depois insira uma
acentuação de nota única de staccato
alta - parabéns! Você acabou de criar o seu
primeiro arranjo de metais.
Outros exemplos desta pontuação
rítmica de nota única são mostrados nos
exemplos dois a cinco. Você pode colocar
as acentuações simples de batidas duplas
mostradas nos exemplos dois e três mais
ou menos em qualquer lugar no compasso,
enquanto os exemplos quatro e cinco
também são boas frases rítmicas gerais.
Além de ser a maneira perfeita de adicionar
um ‘ponto de exclamação’ musical ao final
de uma linha de vocal, tais interjeições
acentuadas são concisas o suficiente
para inserir atrás de um vocal sem risco
indevido de ofuscar o cantor. Entretanto,
se você quiser que os metais toquem um
tema rítmico que chame mais atenção,
qualquer uma das frases de notas repetidas
nos exemplos seis e sete representa
uma maneira dramática de terminar uma
passagem.
Frases melódicas curtas
Exemplos 8 a 12. Cinco riffs melódicos curtos,
com os dois últimos apresentando uma nota
sustentada no final.
Podemos estender esta ideia inserindo
um pouco de movimento melódico nas
nossas frases rítmicas: os exemplos oito
a 12 mostram cinco exemplos de frases
melódicas curtas, sendo que as duas
últimas apresentam uma nota sustentada
no final do riff. Para estes exemplos, eu usei
a escala de notas brancas em Ré menor
de Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si e Dó (exemplo
13); para obter um efeito mais forte e
mais sério, você pode excluir o Mi e o Si e
usar a escala de blues pentatônica em Ré
menor de Ré, Fá, Sol, Lá e Dó (exemplo
14). Se quiser, você pode adicionar a nota
extremamente de blues de Lá bemol,
usada tradicionalmente como nota de
passagem para os pitches adjacentes de
Lá ou Sol.
Frases simples de blues soam bem em
metais de pop, o que é um lembrete de
onde o estilo musical fundamental veio de fato, a escala de blues é um som tão
familiar neste contexto que você pode até
inserir ocasionais frases de blues em tom
menor sobre um acorde maior sem que
isso soe incorreto!
Você notará nestes exemplos que
muitas vezes existem espaços entre as
notas e que algumas frases terminam antes
do final do compasso. Estes espaços e
pausas são importantes: eles definem a
forma rítmica de frases, abrem espaço para
outros instrumentos e ajudam a enfatizar o
contraste entre notas longas e curtas que
é uma característica muito importante da
composição de metais. Ao criar um arranjo,
você deve prestar muita atenção em onde
você começa e acaba notas, já que isso tem
um impacto significativo na sensação geral.
Fortes temas melódicos
Em algum ponto em um arranjo, os
metais devem ficar em destaque e se
sobressair; caso contrário, não faz sentido
tê-los. As ótimas gravações da época
do soul eram comandadas por melodias
de metais memoráveis. Como Wayne
Jackson disse: “Talvez no meio da canção,
os metais tocam um tema tão forte que
fica inesquecível.” Esse certamente foi
o caso com ‘Knock On Wood’, ‘In The
Midnight Hour’ e ‘Hold On I’m Comin’’,
sendo que todas incluem introduções
e pontes de metais empolgantes e
irresistivelmente cativantes.
Se quiser voltar no tempo e compor
um intervalo de metais tão incrivelmente
melódico que as pessoas farão fila para
sampleá-lo pelos próximos 50 anos, você
deve obedecer à regra de ouro e mantê-lo
simples. Como diz o velho clichê, menos
O exemplo 13 mostra uma escala white-note em
Ré Menor de Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si e Dó usadas
nos exemplos 8-12, com o exemplo 14 mostrando
uma escala de Ré Menor pentatonica blues em
Ré, Fá, Sol, Lá e Sol. A “blue note”adicional lá
bemol (em parenteses) é tradicionalmente usada
como passagem entre vindo do Lá ou Sol.
w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r / Edição 59
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técnica
A r r a n j o s pa r a m e ta i s
A escala pentatônica em Ré maior de Ré,
Mi, Fá sustenido, Lá e Si tem um som alegre,
simples e proclamatório.
é mais - em vez de incluir todas as notas
existentes, você pode se restringir à escala
pentatônica em Ré maior de Ré, Mi, Fá
sustenido, Lá e Si (exemplo 15), que tem
um som alegre, simples e proclamatório.
Os exemplos 16 e 17 são exemplos de
fortes frases melódicas criadas com esta
simples escala maior de cinco notas.
Obviamente, escolher a escala correta
para as suas melodias depende dos
acordes usados na música, mas, como
muitas canções incluindo metais de pop
são baseadas em simples sequências de
acordes homogêneas, é possível compor
melodias que permanecem na mesma
escala maior ou menor durante a canção
inteira. Isso tem semelhanças no mundo
do rock, onde muitas vezes os guitarristas
Estas frases melódicas fortes foram criadas com a
simples escala maior pentatônica de cinco notas
em Ré maior (veja o exemplo 15).
repetem a mesma frase durante um
conjunto de mudanças de acorde (com, é
preciso ser dito, resultados ocasionalmente
dolorosos).
A canção ‘One Way Glass’ já
mencionada é um bom exemplo: durante
uma sequência de acordes de (por
exemplo) Ré, Dó, Sol e Ré, a linha de
metais permanece em uma escala maior de
seis notas de Ré, Mi, Fá sustenido, Sol, Lá
e Si (nenhuma sétima é usada). Portanto,
a maravilhosa melodia largamente
pentatônica que surge não deve seu
sucesso a uma série de notas de jazz, e
sim a um tema melódico forte, focado e
intencionalmente simples com um ótimo
ritmo cativante.
Adicionando uma parte mais
grave
Como mencionado anteriormente,
muitas bandas incluem uma seção de
metais de trompete e sax tenor. Apesar
56
Timing
de seu tamanho, este conjunto modesto
pode fazer um som alto, e esse som é
fácil de obter: simplesmente duplicamos
a parte de trompete com um sax tenor
tocando uma oitava abaixo. Sendo um
instrumento fisicamente maior e de pitch
mais baixo, o sax tenor teria dificuldade
de tocar uma melodia no registro alto do
trompete, mas abaixar sua parte em uma
oitava funciona muito bem, adicionando
força, aspereza e coloração (e, para
passagens mais comedidas, um timbre
intermitente e aveludado) ao timbre puro
e estridente do trompete. As extensões
de execução do trompete e do sax tenor
são mostradas abaixo.
Além de reforçar a parte de trompete,
o sax tenor pode adicionar harmonias
simples sob uma linha superior. Eu vou
falar mais sobre este assunto na matéria
do mês que vem, mas, por enquanto,
eu lhe deixarei com a frase de funk do
exemplo 18 - este motivo fantástico (que
eu sempre associo ao James Brown)
Ao sequenciar as suas partes de
metais, eu recomendo que você não use
quantização (a correção automática de
notas de acordo com um grid de timing
exato). Embora seja ótimo que linhas de
baixo, percussão e baterias programadas
e algumas partes rítmicas de sintetizador
ou teclado sejam quantizadas, outros
elementos do track precisam manter seu
timing humano natural, senão tudo acaba
soando mecânico e computadorizado.
Um aspecto negativo desta abordagem
naturalista é que erros de timing óbvios
inevitavelmente ocorrem de vez em
quando. A maneira para lidar com isso é
usar o editor de notas do seu sequenciador
para localizar as notas problemáticas e
arrastá-las para frente ou para trás no
tempo, usando movimentos pequenos,
até elas parecerem corretas com o track.
Não seja enganado a pensar que um
evento que fica exatamente na batida deve
é baseado em um intervalo de quinta
abemolada (também conhecido como
‘trítono’) que oscila rapidamente para
cima e para baixo em um semitom. Neste
caso específico (composto no tom de
Lá), a linha superior de trompete alterna
entre uma terça menor e maior (Dó e Dó
sustenido), enquanto o sax tenor abaixo
se move entre uma sexta e uma sétima
abemolada (Fá sustenido e Sol). Você
pode inverter os intervalos para que a
sexta e a sétima toquem a linha superior
com as terças arranjadas abaixo, como
mostrado no exemplo 19.
estar ‘correto’ - com muita frequência,
uma entrada um pouco atrasada ajuda
a criar uma sensação descontraída e
notas tocadas um pouco antes da batida
podem adicionar urgência e empolgação.
O segredo aqui (se é que se pode ser
chamado assim) é não contar com os seus
olhos, e sim usar os seus ouvidos.
Se você estiver ajustando o timing
de um acorde, é boa prática preservar
a posição relativa de suas notas
componentes selecionando todas elas e
as movendo como uma unidade - assim,
você preserva as minúsculas diferenças
Exemplo 18. Enquanto a linha superior de
trompete alterna entre uma terça menor e maior,
o sax tenor abaixo se move entre uma sexta e uma
sétima abemolada.
Os intervalos no exemplo 18 podem ser
invertidos, para que a sexta e a sétima toquem a
linha superior com as terças arranjadas abaixo.
Edição 59 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r
técnica
a r r a n j o s pa r a m e ta i s
de timing entre pitches que ocorrem
naturalmente em um acorde tocado. Isso
pode parecer metódico ou exigente, mas
este tipo de questões sutis de microtiming pode ter um efeito cumulativo
sobre a sensação rítmica geral.
Reunindo os elementos
Para ilustrar como as várias interjeições
acentuadas, frases rítmicas e linhas
de melodia já descritas podem ser
combinadas em um conjunto coerente,
eu criei o arranjo de metais mostrado no
exemplo 20 - ele está no tom de Ré, usa
um ritmo de 115bpm e é baseado em uma
sequência simples de 12 compassos, como
o refrão do single ‘Mercy’ de 2008 da Duffy
(e, antes disso, inúmeras canções de blues
desde o início dos tempos).
Eu optei intencionalmente por
uma sensação retrô neste arranjo para
demonstrar como frases clássicas de soul
podem ser sequenciadas. Um arranjo
contemporâneo provavelmente focaria
mais em figuras rítmicas sincopadas
à custa do material melódico - esta
mudança estilística reflete a evolução do
soul dos anos 1960 aos estilos de funk
dos anos 1970 mais baseados em notas
semicolcheias que perduram até hoje.
Esta míni composição funciona bem com
trompete tocando a linha superior e sax
tenor duplicando a mesma parte uma
oitava abaixo (exceto para os acordes nos
compassos seis, nove, 10 e 12, onde o sax
toca as harmonias mais baixas).
Eu incluí as mudanças de acorde onde
elas ocorrem - note que, embora estes
acordes sejam nominalmente maiores, a
linha de metais frequentemente apresenta
uma terça menor (Fá), o que cria um pouco
de tensão harmônica e uma ótima sensação
de blues. O arranjo começa de maneira
tradicional com um forte tema melódico
- tomara que você também reconheça
algumas das outras ideias musicais já
descritas nesta matéria
Metais na sua DAW
Ao procurar sons de metais ‘de pop’ para usar na sua DAW, tente evitar bibliotecas de orquestra.
Embora algumas contenham estilos de execução que podem funcionar em um contexto de pop,
suas entregas normalmente não possuem a atitude ousada e desinibida necessária para o pop e seus
menus de articulação e instrumentação provavelmente conterão omissões significativas. Abaixo
listamos algumas das melhores bibliotecas e instrumentos de metais que apresentam estilos de
execução com keyswitching otimizados para pop, soul, R&B, funk e big band de jazz. Todos eles
foram bem recebidos pela comunidade de sampling e, com programação inteligente, adicionam
realismo e cor às suas tabelas de metais. (Avaliações da SOS em parênteses).
Instrumentos de samples
•
Chris Hein Horns Vols. 1-4
•
Big Fish Audio First Call Horns (http://sosm.ag/big-fish-firstcall-horns)
•
Big Fish Audio Vintage Horns
•
Fable Sounds Broadway Big Band (http://sosm.ag/fablesounds-broadway)
•
Vir2 Instruments Mojo Horn Section (http://sosm.ag/vir2-mojo-horns)
•
Native Instruments Session Horns (http://sosm.ag/ni-session-horns)
Instrumentos modelados
A Sample Modelling oferece um conjunto impressionante de instrumentos solo, incluindo Trumpet,
Trombone e vários saxofones (http://sosm.ag/sample-modelling-trumpet e http://sosm.ag/samplemodelling-solo-wind-brass).
Bibliotecas de frases
Eu não gosto muito de frases pré-gravadas, mas recomendo a biblioteca de samples Memphis Horns
(http://sosm.ag/memphis-horns), criada por Wayne Jackson (trompete) e Andrew Love (sax tenor).
Gravados pelos caras que definiram o estilo, este abrangente léxico de frases de metais de soul tem a
vantagem de total autenticidade e também é um ótimo recurso educativo.
simultaneamente falo sobre estilos de
metais datando de meio século atrás,
mas veja bem: como eu disse no começo
da matéria, em vez de serem artefatos
esquecidos varridos pelas marés do tempo,
os preceitos musicais históricos dos metais
de pop sobrevivem em arranjos modernos,
continuam soando legais e mantêm uma
ligação vital com o passado que seria
insensato ignorar.
Compreenda também que esta matéria
é planejada como uma introdução: da
mesma maneira que você aprenderia
alguns acordes e algumas escalas básicas
em um instrumento e tocaria um blues
de 12 compassos antes de passar para
uma tabela de jazz complicada, os simples
exemplos musicais mencionados são
planejados como pontos de partida dos
quais, tomara, você pode prosseguir para
construir os seus próprios arranjos. Em
outras palavras, você precisa aprender
a andar antes de conseguir correr, e eu
espero que esta matéria ajude a fornecer
um pouco de progresso!
No mês que vem, eu vou apresentar
os instrumentos de metais mais graves,
explorar o maravilhoso mundo do funk,
falar sobre como construir acordes
para conjuntos de metais maiores, dar
uma olhada no papel de keyswitches
em bibliotecas de samples de metais e
examinar maneiras de adicionar expressão
e realismo a mandadas de metais de
sintetizador e instrumentos de metais
sampleados. Eu também vou dar algumas
dicas sobre como guitarristas, baixistas,
tecladistas e bateristas podem adaptar suas
partes para integrá-las com sucesso a uma
seção de metais.
Retrô versus novo
Pode parecer contraditório que eu
enfatize a necessidade por raciocínio
musical criativo e original enquanto
Este arranjo de metais de 12 compassos de estilo
retrô no tom de Ré mostra como interjeições
acentuadas, frases rítmicas e linhas de melodia
podem ser combinadas em um conjunto coerente.
Um trompete toca a linha superior, com o sax tenor
duplicando a parte de trompete uma oitava abaixo
(exceto para os acordes nos compassos 6, 9, 10 e 12,
onde o sax toca as harmonias mais baixas).
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