- Programa de Pós
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA ÁREA DE GEOLOGIA COSTEIRA E SEDIMENTAR FATORES METEOROLÓGICOS, OCEANOGRÁFICOS, MORFODINÂMICOS, GEOLÓGICOS E URBANOS RELACIONADOS À INCIDÊNCIA DE AFOGAMENTOS NAS PRAIAS DA COSTA ATLÂNTICA DE SALVADOR por MÁRIO PEREIRA DE CARVALHO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO dezembro de 2002 RESUMO A segurança do banho de mar na cidade de Salvador, como em qualquer outra grande cidade tropical costeira, onde a freqüência de banhistas é elevada, é sempre preocupante. Números conservadores, fornecidos pelo órgão de salva-vidas local, indicam que são registrados, em média, por ano, 1.586 acidentes na costa atlântica, sendo que este total deve ser cerca de 20% maior, uma vez que nem todas as ocorrências são registradas, a julgar pelo entendimento dos próprios salva-vidas. A maioria dos acidentados é composta por jovens com idades que variam entre 5 e 18 anos. Felizmente, o patrulhamento exercido, principalmente pela Coordenadoria de Salvamentos Marítimos da Prefeitura de Salvador (SALVAMAR) e também pelo Corpo de Bombeiros do Estado da Bahia, resulta em um índice de óbitos de apenas 1%. Embora pareça pequeno, na cidade de Sydney (Austrália), este índice é ainda menor, ou seja, cerca de 0,5%. A análise de 10.697 operações de salvamento, realizadas entre os anos de 1994 e 2000, na costa atlântica da cidade de Salvador, acrescida dos depoimentos dos salvavidas, mostram três fatos bem marcantes: 1) as correntes de retorno são responsáveis por cerca de 70% dos acidentes, 2) aproximadamente 77% dos acidentes ocorrem em praias do estágio morfodinâmico Intermediário, 3) cerca de 43% dos acidentes ocorrem durante a primavera. O fato de as correntes de retorno serem as responsáveis diretas pela maior parte dos acidentes não surpreende e é bem conhecido em diversas cidades do mundo, como no Rio de Janeiro, Florianópolis, San Diego, Miami, Sidney, etc, e está documentado, por exemplo, pelos serviços de salva-vidas dos Estados Unidos e Austrália (United States Lifesaving Association & Surf Life Saving). Também já era esperado que a maior parte dos acidentes acontecessem em praias do estágio morfodinâmico Intermediário, uma vez que nestas são desenvolvidas as condições propícias à geração das correntes de retorno, como será abordado adiante O fato que surpreende é a concentração de acidentes na primavera, já que durante o verão é que são registradas as maiores taxas de freqüência pública das praias. A análise de uma série de fatores meteorológicos, oceanográficos, morfodinâmicos praiais, geológicos e urbanos, relativos à costa atlântica de Salvador, permite estabelecer uma série de relações de causa e efeito que explicam estas concentrações verificadas. O papel das correntes de retorno nos acidentes é muito óbvio, uma vez que se trata de um 2 fluxo, na maioria das vezes de velocidade elevada, que transporta o banhista da praia para o mar e que geralmente é difícil de ser detectado por este. Por sua vez, a alta concentração de acidentes que é registrada nas praias do estágio morfodinâmico Intermediário pode ser explicada basicamente pelos seguintes fatores: 1) o perfil marcadamente ondulado da zona de surfe, típico deste estágio praial, com a formação de canais, bancos e depressões circulares, favorece o desenvolvimento de correntes de retorno e cria fatores de risco isolados, neste caso os canais e as depressões; 2) a existência de um amplo espaço subaéreo, formado sobretudo no berma e na zona de espraiamento, é capaz de acomodar um elevado número de banhistas; 3) as ondas predominantemente do tipo deslizante, que quebram progressivamente, sem causar grandes impactos, encorajam o banhista a penetrar na zona de surfe, expondo-se aos seus riscos inerentes. Em relação à primavera, ainda em comparação ao verão, a conjunção de quatro fatores ambientais explica a alta concentração de acidentes: 1) é demonstrado, pelos dados relativos à altura e período das ondas, conjugados às direções predominantes dos ventos oceânicos ao longo do ano, que a média da altura das ondas verificadas durante a primavera é, no mínimo, cerca de 10% maior do que esta média verificada durante o verão, e por conseqüência, a velocidade das correntes geradas dentro da zona de surfe também é mais elevada; 2) os ventos costeiros, que muitas vezes aceleram as correntes e sobreelevam a altura das ondas, também são cerca de 17% mais velozes durante a primavera; 3) em função desta hidrodinâmica mais forte, e também por herança das fortes ondas do inverno, o perfil da zona de surfe torna-se mais ondulado, com a formação freqüente de canais, bancos e depressões circulares, o que favorece o desenvolvimento de correntes de retorno e de fatores de risco isolados; 4) é verificado também que a amplitude média das marés é cerca de 8% superior. Outros fatores, de natureza sedimentológica, geológica e urbana, ainda que de forma indireta, também contribuem para a ocorrência dos acidentes, como a granulometria fina da areia de determinadas praias, que, ao produzir um piso bem compactado, favorece a prática de esportes e torna o ato de caminhar mais agradável, atraindo um grande número de banhistas. Da mesma forma o controle tectônico, que, ao determinar a direção da linha de costa, faz com que determinados segmentos fiquem, durante uma significativa parte do tempo, parcialmente abrigados contra a ação das ondas, enquanto que outros fiquem frontalmente expostos a estas. Por fim, fatores de natureza urbana, como os índices de poluição orgânica das praias, as condições de 3 acesso para pedestres e para veículos, as opções de lazer de cada praia, etc, são fatores que influenciam diretamente nas taxas de ocupação das praias por parte dos banhistas, acabando por refletir nos índices de acidentes. 4 ABSTRACT The safety of sea bathing in the city of Salvador – Bahia - Brazil, as in any other large coastal tropical city, where the bathers’ frequency always is raised, is preoccupying. Conservative figures, supplied by the local surf life saving agency, indicate that about 1,586 drowning accidents are registered per year in the atlantic coast, and this total must be about 20% greater, once not all the occurrences are reported. The majority of the victims is young varying between five and eighteen years old. Happily, the exerted patrolling, mainly by the Coordenadoria de Salvamentos Marítimos de Salvador – SALVAMAR – (Coordination of Surf Life Saving of Salvador) and also by the Corpo de Bombeiros do Estado da Bahia (Firemen Group of the State of Bahia), results in an death’s rate of 1%. Although it seems small, in the city of Sydney (Australia), this index is only about 0,5%. The analysis of 10,697 rescue operations, carried through between the years of 1994 and 2000, in the atlantic coast of Salvador, supported by the life-guard observations, shows three well defined points: 1) the rip currents are responsible for about 70% of the accidents, 2) approximately 77% of the accidents occur in the intermediate beach state, 3) about 43% of the accidents occur during the spring. The fact of the rip currents is directly responsible for the mostly of the accidents is not a surprise and it is well known in many cities of the world, as in Rio de Janeiro and Florianópolis (Brazil), San Diego and Miami (USA), Sidney (Australia), etc, and this is registered by the surf life saving services of the United States and Australia (United States Lifesaving Association & Surf Life Saving), for example. Also it is already expected that most of the accidents happened in intermediate beach state, because the propitious conditions to the generation of rip currents, as it will be described ahead. The fact that surprises is the concentration of accidents in the spring time, since during the summer the maximum public frequency at the beaches is recorded. The analysis of meteorological, oceanographical, beach morphodynamics, geological and urban data, relative to the atlantic coast of Salvador, allows to establish a series of cause and effect relationships that could explain these verified concentrations. The rule of rip currents in the accidents is very obvious, once it is represented by a rapid speed flow, that pushes the swimmer from the beach to the sea, and that it is generally difficult of being realized by them. In turn, the high accidents’ concentration that is registered in Intermediate beach state can be explained basically by the following factors: 5 1) the rough surf zone profile, typical of this beach state, with the formation of bars, troughs and depressions, favors the rip current development and creates isolated factors of risk, in this case the troughs and depressions; 2) the occurrence of an ample aerial space, formed over all in the berm and the swash zone, is capable to accomodate a high number of swimmers; 3) the predominant spilling waves type, which breaks progressively, with no heavy impact, encourages the swimmer to enter the surf zone. In relation to the spring, still in comparison with the summer, the conjunction of four ambient factors explains the high concentration of accidents: 1) it is demonstrated, for the height and period wave data, conjugated to the predominant oceanic winds directions through the year, that the mean wave height is about 10% higher in the spring than in the summer, and in consequence, the speed of wave-generated currents in the surf zone also are higher; 2) the coastal winds, that many times speed up the currents, also are about 17% faster during the spring (Instituto Nacional de Meteorologia – INMET - National Meteorology Institute); 3) by this stronger hydrodynamics, and by the inheritance of the strong winter waves, the surf zone profile becomes more waved shape, with the formation of bars, troughs and depressions, which favors the rip currents development and others isolated risk factors; 4) at last, the mean amplitude tide is about 8% larger. Other indirect factors, of sedimentological, geological and urban nature, also contribute for the drowning occurrence, as the fine sand granulometry of certain beaches, that produces a well compact floor, favors the sports practical and becomes the act to walk more pleasant, attracting then a great number of swimmers. The different directions of the shoreline, determined by tectonic control, produces some segments that are, during a significative part of the year, partially sheltered against the waves action, while others are directly exposed to these. Finally, factors of urban nature, like the organic pollution indices of the beaches, the access conditions for pedestrians and vehicles, the leisure options of each beach, etc, are factors that directly influence the swimmers occupation of beaches, reflecting in the indices of accidents. 6 AGRADECIMENTOS Expresso meus agradecimentos ao então Coordenador da SALVAMAR, Capitão da Polícia Militar Washington Damasceno, pelo apoio prestado no início dos trabalhos e a todo o corpo de salva-vidas desta Coordenadoria, em especial aos salva-vidas Ariobaldo Arandiba dos Santos (que me acompanhou em quase todas as praias estudadas), Márcio de Jesus Dantas, Jorge Cerqueira e Frederico Albert Meyer, pelo interesse que sempre demonstraram em elucidar as questões que iam surgindo. A Francisco Jorge Brito e Cláudio Emílio Pelozzi (CONDER) pelo auxílio em georreferenciar as ortofotos-aéreas, Inácio de Medeiros Delgado e José Einá Batista Santos (CPRM) pela disponibilização de equipamentos da CPRM, a Moacyr Moura Marinho (CBPM) pelos impressos deste trabalho, a João Batista Guimarães Teixeira (UFBA) pela revisão da parte do texto escrita em inglês e a Antônio Joanílsom Costa Borges (IBGE), pela orientação relativa ao tratamento estatístico dos dados. DEDICATÓRIA Dedico esta Dissertação de Mestrado, em especial, à memória do meu irmão Marcus Pereira de Carvalho, falecido enquanto mergulhava no Farol da Barra, à minha esposa Olívia e meus filhos queridos Tito e Pedro, a meus pais, Maria Celeste Pereira de Carvalho e Celso Júlio de Carvalho (in memoriam), meus irmãos Marta e Márcio, e a todos aqueles que freqüentam as praias por diferentes opções de lazer, esperando contribuir com este trabalho no sentido de aumentar a segurança do banho de mar, fazendo com que cada vez menos pessoas estejam sujeitas aos riscos de um afogamento. 7 ÍNDICE RESUMO ABSTRACT AGRADECIMENTOS/DEDICATÓRIA ÍNDICE.................................................................................................................................(i) ÍNDICE DAS FIGURAS E TABELAS .................................................................................(ii) ÍNDICE DOS ANEXOS......................................................................................................(iii) Pág. I - INTRODUÇÃO ...............................................................................................................19 II - HISTÓRICO...................................................................................................................21 III - GEOLOGIA..................................................................................................................23 IV - FISIOGRAFIA..............................................................................................................25 V - SISTEMA DE CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA...........................................................30 VI - VENTOS......................................................................................................................30 VII - ONDAS .......................................................................................................................31 VII.1 - Origem.................................................................................................................31 VII.2 - Dinâmica..............................................................................................................32 VII.3 - Transformações...................................................................................................33 VII.3.1 - Refração.......................................................................................................33 VII.3.2 - Empinamento ou Shoaling...........................................................................37 VII.3.3 - Interferência.................................................................................................37 VII.3.4 - Difração........................................................................................................38 VII.3.5 - Reflexão.......................................................................................................39 VII.3.6 - Quebramento...............................................................................................39 VII.4 - Tipos de Ondas...................................................................................................43 8 VIII - CORRENTES DA ZONA DE SURFE........................................................................44 VIII.1 - Correntes de Fundo ou Undertow......................................................................44 VIII.2 – Correntes Longitudinais ou Longshore Currents...............................................45 VIII.3 – Correntes de Retorno ou Rip Currents..............................................................46 IX - AMPLITUDE E CORRENTES DE MARÉS.................................................................48 X - RESPOSTA DO SEDIMENTO AOS AGENTES HIDRODINÂMICOS..........................50 X.1 - Variações na Forma do Perfil de Praia Ortogonais à Linha de Costa...................52 X.2 - Variações na Forma do Perfil de Praia Longitudinais à Linha de Costa...............54 X.3 - Variações na Dimensão do Empilhamento Vertical do Perfil de Praia..................55 X.4 - Variações Sazonais na Forma do Perfil de Praia..................................................55 X.5 - Variações na Forma do Perfil de Praia Provocadas por Tempestades.................56 X.6 - Relações entre a Altura das Ondas e a Forma do Perfil de Praia.........................57 XI - ESTÁGIOS MORFODINÂMICOS DE PRAIAS – A Classificação de Wright & Short (1984)...........................................................................................................................57 XI.1 – Estágio Dissipativo...............................................................................................61 XI.2 – Estágio Intermediário...........................................................................................62 XI.2.1 – Banco e Cava Longitudinais.........................................................................63 XI.2.2 – Banco e Cava Rítmicos................................................................................63 XI.2.3 – Banco Transversal e Correntes de Retorno.................................................63 XI.2.4 – Crista Canal ou Terraço de Maré Baixa.......................................................63 XI.3 – Estágio Refletivo..................................................................................................64 XII – METODOLOGIA........................................................................................................65 XII.1 – Levantamento dos Registros de Acidentes........................................................65 XII.2 – Levantamento do Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador...................65 XII.3 – Levantamento das Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da Zona de Surfe.....................................................................................................65 XII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento.............................................67 9 XII.5 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas..................68 XII.6 – Elaboração de Diagramas de Refração de Ondas.............................................68 XII.7 – Levantamento de Dados Referentes à Direção/Velocidade/Freqüência dos Ventos Costeiros, Insolação e Precipitação Pluvial............................................68 XII.8 – Levantamento de Dados referentes à Amplitude das Marés..............................69 XII.9 – Levantamento de dados Referentes às Condições de Balneabilidade..............69 XII.10 - Levantamento das Condições de Acesso às Praias.........................................69 XIII – RESULTADOS..........................................................................................................69 XIII.1 - Registros de Acidentes – O que Revelam..........................................................69 XIII.2 – Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador...............................................73 XIII.3 - Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da Zona de Surfe na Área Estudada....................................................................................................74 XIII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento............................................75 XIII.5 – Diagramas de Refração de Ondas....................................................................77 XIII.5.1 – Ondas de Leste – N90º..............................................................................77 XIII.5.2 – Ondas de Sudeste – N135º........................................................................78 XIII.5.3 – Ondas de Nordeste – N45º........................................................................78 XIII.5.4 – Ondas de Sul-Sudeste – N157º.................................................................79 XIII.6 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas.................80 XIII.6.1 - Praia do Farol da Barra...............................................................................82 XIII.6.2 - Praia do Salvador Praia Hotel.....................................................................84 XIII.6.3 - Praia da Paquera........................................................................................85 XIII.6.4 - Praia de Ondina..........................................................................................86 XIII.6.5 - Praia da Bacia das Moças..........................................................................87 XIII.6.6 - Praia do Rio Vermelho................................................................................88 XIII.6.7 - Praia da Paciência......................................................................................89 XIII.6.8 - Praia de Sant’ana........................................................................................90 10 XIII.6.9 - Praia do Buracão........................................................................................91 XIII.6.10 - Praia de Amaralina....................................................................................92 XIII.6.11 - Praia da Pituba..........................................................................................94 XIII.6.12 - Praia do Jardim dos Namorados...............................................................96 XIII.6.13 - Praia de Armação.....................................................................................97 XIII.6.14 - Praia de Aratubaia....................................................................................99 XIII.6.15 - Praias dos Artistas – Corsário.................................................................101 XIII.6.16 - Praias de Patamares - 3ª Ponte..............................................................102 XIII.6.17 - Praia da Mordomia..................................................................................103 XIII.6.18 - Praia de Jaguaribe..................................................................................104 XIII.6.19 - Praia de Piatã..........................................................................................106 XIII.6.20 - Praias de Placafor - Sereia de Itapuã.....................................................108 XIII.6.21 - Praia do Porto.........................................................................................110 XIII.6.22 - Praia da Rua E........................................................................................111 XIII.6.23 - Praia da Rua K........................................................................................111 XIII.6.24 - Praia do Farol de Itapuã..........................................................................112 XIII.6.25 - Praia do Porto de Leocádio.....................................................................113 XIII.6.26 - Praia da Pedra do Sal.............................................................................114 XIII.6.27 - Praia da Caveira.....................................................................................115 XIII.6.28 - Praia do Catussaba.................................................................................116 XIII.6.29 - Praia do Flamengo..................................................................................118 XIII.6.30 - Praias de Stella Maris – Aleluia..............................................................119 XIII.7 – Relações entre a Granulometria da Zona de Espraiamento e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas..........................................................121 XIII.8 - Relações entre a Declividade da Zona de Espraiamento e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas..........................................................123 11 XIII.9 - Relações entre a Altura Média de Quebra das Ondas e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas............................................................124 XIII.10 – Principais Fatores de Risco da Zona de Surfe na Área Estudada.................125 XIII.11 – Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e o Clima de Ondas em Alto-Mar......................................................................................128 XIII.12 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Forma Sazonal do Perfil da Zona de Surfe na Área Estudada................................................130 XIII.13 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Velocidade dos Ventos Costeiros na Área Estudada........................................................131 XIII.14 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Dinâmica das Marés..............................................................................................................133 XIII.15 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e as Taxas de Insolação na Área Estudada..........................................................................134 XIII.16 - Relações entre a Altura Média das Ondas e a Ocorrência de Acidentes, ao longo do Ano e da Linha de Costa na Área Estudada...................................135 XIII.17 – Relações entre as Condições de Balneabilidade das Praias e a Ocorrência de Acidentes na Área Estudada..........................................................................139 XIII.18 - Relações entre as Condições de Acesso às Praias e a Ocorrência de Acidentes na Área Estudada........................................................................141 XIII.19 - Fatores Relacionados à Concentração de Acidentes nas Praias do Estágio Morfodinâmico Intermediário na Área Estudada..........................................144 XIII.20 - Fatores Geológicos de Grande Escala e suas Relações com a Ocorrência de Acidentes na Área Estudada..........................................................................146 XIII.21 - Grau de Risco Potencial das Praias Estudadas (GRPo)................................147 XIV – CONCLUSÕES.......................................................................................................158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................164 12 ÍNDICE DAS FIGURAS Figura 1 - Mapa de Localização Figura 2 - Vista Aérea de uma Zona de Surfe Figura 3 - Perfil Esquemático de uma Zona de Surfe Figura 4 - Posto Salva-Vidas da SALVAMAR Figura 5 - Salva-Vidas da SALVAMAR e do Corpo de Bombeiros Figura 6 - Mapa Geológico Simplificado da Península de Salvador e Áreas Circunvizinhas Figura 7 - Promontório do Morro do Cristo Figura 8 - Afloramentos de Rochas Precambrianas na Face da Praia do Buracão, Salvador-Ba Figura 9 - Afloramentos de Conglomerados e Bancos de Arenitos na Zona de Surfe da Praia do Clube Espanhol, Salvador-Ba Figura 10 - Afloramentos de Bancos de Arenitos Submersos na Praia de Stella Maris, Salvador-Ba Figura 11- Os Quatro Setores da Linha de Costa Atlântica de Salvador Figura 12 – Mozaico Aéreo do Setor 1 Figura 13 - Exemplo de Costa Rochosa no Setor 1 Figura 14 - Mozaico Aéreo do Setor 2 Figura 15 - Mozaico Aéreo do Setor 3 Figura 16 - Mozaico Aéreo do Setor 4 Tabela I - Freqüência Anual Média das Principais Direções de Ventos Formadores de Ondas na Área Estudada Figura 17 - Modelo Teórico do Mecanismo de Formação das Ondas pelos Ventos Figura 18 - Elementos Geométricos das Ondas Figura 19 - Vista Aérea da Refração Sofrida pelas Ondas Figura 20 - Modelo Teórico da Refração de Ondas Figura 21 - Modelo Teórico da Dispersão da Energia das Ondas por Efeito da Refração Figura 22 - Modelo Teórico da Convergência e Divergência dos Raios -de-Onda por Efeito da Refração Figura 23 - Vista Aérea da Convergência dos Raios-de-Onda entre as Praias de Piatã e Placafor, Salvador-Ba. Figura 24a - Modelo Teórico da Interferência Construtiva das Ondas Figura 24b - Modelo Teórico da Interferência Destrutiva das Ondas 13 Figura 25 - Modelo Esquemático da Difração das Ondas na Praia da Pituba, Salvador-Ba. Figura 26 - Quebramento de uma Onda - Teoria de Stokes Figura 27 - Quebramento de uma O nda - Teoria da Onda Solitária Figura 28 - Gráfico para Obtenção do Coeficiente de Empinamento (Ks) Figura 29 - Tipos de Quebramento das Ondas Figura 30 - Modelo Esquemático das Correntes de Fundo ou “Undertow” Figura 31 - Exemplo de Correntes Longitudinais ou “Longshore Currents” na praia de Jaguaribe, Salvador-Ba. Figura 32 - Formação de Corrente de Retorno ou “Rip Currents” na Praia de Jaguaribe, Salvador-Ba. Figura 33 - Modelo Esquemático de Corrente de Retorno Induzida por um Afloramento Rochoso Figura 34 – Modelo Esquemático da Formação de Correntes de Retorno por Sistemas Circulatórios Figura 35 – Modelo Esquemático Simplificado da Dinâmica Sedimentar na Zona de Surfe Figura 36 - Vista Aérea de Bancos e Canais Longitudinais Figura 37 – Perfil de Equilíbrio de Bruun Figura 38 – Modelo Esquemático dos Perfis de Verão, Outono, Inverno e Primavera Figuras 39a e 39b – Os Estágios Morfodinâmicos de Praias (Wright & Short 1984) Figura 40 – Vista Aérea de Praia Dissipativa Figura 41 – Exemplo de Praia Intermediária Figura 42 – Exemplo de Praia Refletiva Tabela II – Tipo de Acesso às Praias Tabela III - Distribuição Anual do Número de Acidentes Registrados entre 1994 e 2000 Tabela IV - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas dos Registros de Acidentes de Outubro de 1998 Tabela V - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas dos Registros de Acidentes de Novembro de 1998 Tabela VI – Distribuição Mensal dos Acidentes Registrados entre 1994 e 2000, suas Participações Relativas e Médias Sazonais Figura 43 - Médias Mensais de Acidentes no Período 1994-2000 Tabela VII - Médias Percentuais de Acidentes nas Praias Patrulhadas pela SALVAMAR no Período 1997-2000 14 Tabela VIII - Freqüência Média Mensal das Principais Direções de Ventos Formadores de Ondas Tabela IX - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento das Praias Estudadas Figura 44 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Leste - N90º Figura 45 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Sudeste - N135º Figura 46 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Nordeste - N45º Figura 47 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Sul-Sudeste - N157º Figura 48 - Praia do Farol da Barra, Salvador-Ba. Figura 49 - Praia do Salvador Praia Hotel, Salvador-Ba. Figura 50 - Praia da Paquera, Salvador-Ba. Figura 51 - Praia de Ondina, Salvador-Ba. Figura 52 - Praia da Bacia das Moças, Salvador-Ba. Figura 53 - Praia do Rio Vermelho, Salvador-Ba. Figura 54 - Praia da Paciência, Salvador-Ba. Figura 55 - Praia de Sant’ana, Salvador-Ba. Figura 56 - Praia do Buracão, Salvador-Ba. Figura 57 - Praia de Amaralina, Salvador-Ba. Figura 58 - Praia da Pituba, Salvador-Ba. Figura 59 - Modelo Esquemático do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia da Pituba Figura 60 - Praia do Jardim dos Namorados, Salvador-Ba. Figura 61- Praia de Armação, Salvador-Ba. Figura 62 - Praia de Aratubaia, Salvador-Ba. Figura 63 - Modelo Esquemático do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia de Aratubaia Figura 64 - Praias dos Artistas - Corsário, Salvador-Ba. Figura 65 - Praias de Patamares - 3ª Ponte, Salvador-Ba. Figura 66 - Praia da Mordomia, Salvador-Ba. Figura 67 - Praia de Jaguaribe, Salvador-Ba. Figura 68 - Praia de Piatã, Salvador-Ba. Figura 69 - Praias de Placafor - Sereia de Itapuã, Salvador-Ba. Figura 70 - Modelo Esquemático do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia de Placafor Figura 71 - Praia do Porto, Salvador-Ba. 15 Figura 72 - Praia da Rua E, Salvador-Ba. Figura 73 - Praia da Rua K, Salvador-Ba. Figura 74 - Praia do Farol de Itapuã, Salvador-Ba. Figura 75 - Praia do Porto de Leocádio, Salvador-Ba. Figura 76 - Praia da Pedra do Sal, Salvador-Ba. Figura 77 - Modelo Esquemático de Parte do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia da Pedra do Sal, Salvador-Ba. Figura 78 - Praia da Caveira, Salvador-Ba. Figura 79 - Praia do Catussaba, Salvador-Ba. Figura 80 - Praia do Flamengo, Salvador-Ba. Figura 81 - Modelo Esquemático de Corrente de Retorno na Praia do Flamengo Figura 82 - Praias de Stella Maris - Aleluia, Salvador-Ba. Tabela X - Distribuição Relativa dos Estágios Morfodinâmicos Praiais na Área Estudada Tabela XI - Relações entre a Granulometria da Zona de Espraiamento e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Tabela XII - Relações entre a Declividade Média da Zona de Surfe e os Estágios Morfodinâmicos Praiais (Wright & Short 1984) Tabela XIII - Relações entre a Declividade da Zona de Espraiamento e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Tabela XIV - Relações entre a Altura Média de Quebra das Ondas e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Tabela XV - Experimentos com Flutuadores em Correntes de Retorno nas Praias da Caveira e Flamengo Figura 83 - Modelo Esquemático de um Resgate Efetuado na Praia de Aleluia, SalvadorBa. Tabela XVI - Média Mensal Ponderada da Altura e da Energia das Ondas Incidentes de Alto-Mar Figura 84 - Média Ponderada Mensal da Energia das Ondas Incidentes de Alto-Mar Tabela XVII - Velocidade Média Mensal e Sazonal dos Ventos Costeiros Figura 85 - Comparação entre as Médias Mensais de Acidentes, de Velocidade dos Ventos Costeiros e da Energia das Ondas Incidentes de Alto-Mar Figura 86 - Modelo Esquemático de Fator de Risco Induzido pela Preamar na Praia de Jaguaribe, Salvador-Ba. Tabela XVIII - Insolação Média Mensal e Sazonal 16 Figura 87 - Comparação entre a Insolação Média Mensal e a Ocorrência de Acidentes Tabela XIX - Altura Média das Ondas (extraídas dos diagramas de refração) em cada Setor da Linha de Costa Figura 88 – Comparação entre a Altura Média das Ondas (extraídas dos diagramas de refração) em cada Setor da Linha de Costa e a Ocorrências de Acidentes Tabela XX - Altura Média de Quebra das Ondas (visualmente estimadas) em cada Setor da Linha de Costa Figura 89 – Comparação entre a Altura de Quebra das Ondas (visualmente estimadas) em cada Setor da Linha de Costa e a Ocorrências de Acidentes Tabela XXI – Condições de Balneabilidade das Praias Monitoradas pelo Centro de Recursos Ambientais (CRA) Figura 90 - Comparação entre as Condições de Balneabilidade das Praias e a Ocorrência de Acidentes Tabela XXII - Condições de Acesso às Praias Estudadas Figura 91 - Comparação entre as Condições de Acesso às Praias e a Ocorrência de Acidentes Tabela XXIII - Relações entre os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas e a Ocorrência de Acidentes Figura 92 - Comparação entre a Ocorrência dos Diversos Estágios Morfodinâmicos Praiais e a Ocorrência de Acidentes Figura 93 – Percentual Médio de Acidentes nos Quatro Setores da Linha de Costa Atlântica de Salvador Tabela XXIV - Principais Fatores de Risco, suas Intensidades e Elementos que Dificultam as Operações de Resgate nas Praias Estudadas Tabela XXV - Grau de Risco Potencial (GRPo) de uma Praia Tabela XXVI - Grau de Risco Potencial (GRPo) das Praias Estudadas Figura 94 - Distribuição ao Longo da Linha de Costa do Grau de Risco Potencial (GRPo) das Praias Estudadas Figura 95 - Comparação entre o Grau de Risco Potencial (GRPo) das Praias Estudadas e a Ocorrência de Acidentes Figura 96 - Pluviosidade Média Mensal em Salvador 17 ÍNDICE DOS ANEXOS • Anexo I – Diagrama de Refração das Ondas de Leste - N90º - com as Correntes de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia • Anexo II - Diagrama de Refração das Ondas de Sudeste - N135º - com as Correntes de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia • Anexo III - Diagrama de Refração das Ondas de Nordeste - N45º - com as Correntes de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia • Anexo IV - Diagrama de Refração das Ondas de Sul-Sudeste - N157º - com as Correntes de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia 18 I - INTRODUÇÃO A cidade de Salvador ocupa uma península banhada a leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pelas águas da Baía de Todos os Santos. Possui cerca de 47 km lineares de costa dotada de dezenas de belas praias que durante a maior parte do ano apresentam águas transparentes e tépidas, representando a principal opção de lazer para a sua população de 2,5 milhões de habitantes. O clima tropical, com temperaturas médias mensais em torno de 25,7º C e cerca de 200 horas de sol por mês (INMET), estimula a ida de milhares de banhistas para as praias, quando então é registrado um elevado número de pré-afogamentos e afogamentos* dentro da zona de surfe**, sobretudo na costa atlântica (Fig. 1), que é o alvo desta Dissertação de Mestrado. * O pré-afogamento é a ocorrência que não evoluiu para o óbito, ou seja: para o afogamento. Doravante ambos, pré-afogamento e afogamento, serão designados apenas por acidentes. ** A expressão zona de surfe designa a faixa da zona costeira compreendida entre o ponto de arrebentação das ondas, do lado do oceano, e o início da zona de espraiamento, na face da praia (Figs. 2 e 3). A costa atlântica de Salvador tem 38º30’ início no Farol da Barra e es tende-se no sentido leste- nordeste, até a divisa com o ea Ár cerca de 26,7 km o lineares. Destes, 17,9 km, aproxi- nt ic t ud es medindo a ad tlâ Farol da Barra Salvador madamente, são constituídos por cerca de 30 praias arenosas, em- Oc e 13º00’ Município de Lauro de Freitas, an oA Baía de todos os Santos 0 7Km quanto que o restante é formado por trechos rochosos, sem sedi- Figura 1 - Mapa de localização mentos, por promontórios e tam bém por trechos que apresentam muitos afloramentos rochosos na face da praia praticamente impedindo a sua utilização para o banho. As praias são dominadas por ondas e submetidas a um regime de micromaré (segundo a classificação de Davis & Hayes 1984), com a amplitude média em torno de 1,7 m (Lessa et al, 2001). Vários autores, em estudos anteriores (Zenkovich 1967; Allen 1970; Wright & Short 1984), identificaram o potencial de risco que as correntes geradas pelas ondas, dentro da 19 zona de surfe, representam para os banhistas. Em trabalho mais recente, Short & Hogan (1994) estabeleceram várias relações entre estas correntes, os estágios morfodinâmicos praiais e os acidentes envolvendo banhistas. Neste sentido, tornam-se necessárias a identificação e a compreensão dos mecanismos gerais dos diversos agentes hidrodinâmicos que atuam dentro da zona de surfe, nos diferentes estágios morfodinâmicos praiais que ocorrem na costa atlântica de Salvador, para que seja feita uma análise correta da situação que envolve a segurança das praias, para o banho. Adicionalmente, outros autores analisaram as transformações que as ondas e as correntes podem sofrer pela ação dos ventos costeiros (Masselink & Pattiaratchi 1998), pela ação das brisas marinhas (Masselink & Pattiaratchi 1998) e pelos efeitos causados pela dinâmica das marés (Short & Hogan 1994). Por sua vez, a fisiografia da linha de costa, a geomorfologia e o padrão de dispersão sedimentar, dentro do ambiente praial, interagem com os elementos hidrodinâmicos, modificando a sua ação inicial. Outros fatores, como a dimensão das praias, as condições de acesso e de balneabilidade, entre outros, são responsáveis pela freqüência dos banhistas e consequentemente influenciam nos índices de acidentes. Todos estes fatores serão aqui considerados, com o objetivo de atingir-se a maior abrangência possível a respeito da segurança das praias para o banho. zona de surfe Figura 2 - A zona de surfe tem inicio no ponto de arrebentação, do lado do oceano, indo até o início da zona de espraiamento, na face da praia (http://www. coastal.udel.edu). 20 Figura 3 - A zona de surfe em perfil (Komar 1998) II - HISTÓRICO Em 1973 foi criado o serviço de salva-vidas de Salvador, que esteve então a cargo do Corpo de Bombeiros do Estado da Bahia. Em 1979 foi criada a Coordenadoria de Salvamentos Marítimos da Prefeitura de Salvador – SALVAMAR, que passou a patrulhar toda a costa atlântica, substituindo o Corpo de Bombeiros nesta área, cuja ação ficou restrita às praias internas da Baía de Todos os Santos. A partir de 1998, o Corpo de Bombeiros voltou a patrulhar um pequeno trecho da costa atlântica, de aproximadamente 6 km, compreendido entre o Farol da Barra e a Pituba. A SALVAMAR dispõe hoje de cerca de 70 salva-vidas e os dois órgãos juntos, montam em média, na costa atlântica, 23 postos (Figs. 4 e 5) entre os meses de novembro e março e 18 postos no restante do ano. Excluindo cerca de 1.000 m de praias, que, devido aos altos índices de poluição orgânica, não apresentam condições de balneabilidade, verifica-se então uma distribuição média, entre novembro e março, de 1 posto a cada 813 m e no restante do ano, 1 posto a cada 1.038 m. Apesar de ser insuficiente, a ação destes homens, algumas vezes auxiliados por outros banhistas e também por barraqueiros, resulta num índice de óbitos de apenas 1%. No âmbito nacional, nunca antes foi realizado um estudo sistemático que procurasse relacionar os diversos fatores que estão envolvidos com os acidentes que ocorrem na zona de surfe, nem tão pouco as suas localizações, dentro das praias. Visando preencher esta lacuna, esta dissertação de mestrado foi elaborada, e poderá vir a se constituir em um efetivo instrumento de utilidade pública, além do que, algumas das conclusões de caráter técnico aqui alcançadas, poderem vir a contribuir também para o 21 melhor entendimento de determinados processos, e suas conseqüências, que se desenvolvem dentro da zona de surfe da área estudada. Figura 4 - Posto salva-vidas montado pela SALVAMAR na praia de Patamares. Figura 5 - Salva-vidas da SALVAMAR, de camisas amarelas e do Corpo de Bombeiros, de camisas vermelhas, durante uma preleção. 22 III - GEOLOGIA A geologia da penín- 38º30’ sula de Salvador é constituída, na sua maior parte, por terrenos granulíticos de idade arqueana a protero- Baía de Todos os Santos zóica inferior, de composição lâ nt ico essencialmente quartzo-feldspática, que formam o Alto At 13º00’ ce a no de Salvador, unidade perten- O cente ao Complexo Jequié 0 7Km (Lima et al. 1981). A oeste, sob contato estrutural, locali- Quaternário Terciário Cretáceo Precambriano Figura 6 - Mapa geológico simplificado da península de Salvador e áreas cincunvizinhas zam -se os arenitos e folhelhos, de origem flúvio-lacus tre e idade cretácica, que pertencem à Bacia do Recôncavo (Fig. 6). Sobre as rochas granulíticas, e principalmente na parte centro-oeste da península, afloram sedimentos areno-argilosos, de origem essencialmente fluvial e idade terciária, que compõem a Formação Barreiras. Nas praias da costa atlântica, que constituem a área estudada, encontram-se depositados sedimentos essencialmente arenosos, inconsolidados, de idade quaternária (Fig. 6), constituídos de areias quartzosas, com granulometria variando de grossa a fina e predominantemente média, sendo que em alguns trechos, quantidades menores de feldspatos, minerais máficos e fragmentos de conchas encontram -se presentes (Bittencourt 1975). É muito comum, sobretudo nesta parte da costa, aflorar nas praias, as rochas do embasamento precambriano, formando promontórios (Fig. 7), ou de forma dispersa, ao longo da face da praia (Fig. 8). Sobre estes afloramentos, muitas vezes encontram-se depositadas, camadas submétricas de arenitos, conglomerados (Fig. 9) e construções coralinas, de idade quaternária. Na parte norte da área estudada, ainda dentro das praias, é relativamente comum ocorrerem bancos de arenito, que geralmente permanecem submersos durante a preamar (Fig. 10). As praias internas à Baía de Todos os Santos são constituídas por sedimentos mais finos, de composição areno-siltosa. 23 Figura 7 - Promontório do Morro do Cristo, que limita a praia do Farol da Barra a leste (Anexo I) Figura 8 - Afloramentos de rochas precambrianas dispersos ao longo da face da praia do Buracão (Anexo I) Figura 9 - Afloramento de conglomerados e bancos de arenito sobrepostos a rochas precambrianas aflorando na zona de surfe da pequena praia situada logo abaixo do Clube Espanhol (Anexo I) 24 Figura 10 - Bancos de arenito aflorando logo abaixo da linha da baixa-mar na praia de Stella Maris (Anexo I) IV - FISIOGRAFIA Fisiograficamente, a costa atlântica de Salvador apresenta quatro segmentos distintos, aqui chamados de setores, que se caracterizam por apresentarem diferentes direções de linha de costa, além de possuírem diferentes quantidades de afloramentos de rochas precambrianas, ao longo das praias e das zonas de surfe. Estes dois fatores, além de alterarem a paisagem, que por sí só já justificaria a divisão aqui proposta, interferem bastante no padrão hidrodinâmico da zona de surfe, interferindo assim, também, na segurança das praias para o banho, como será demonstrado no decorrer desta dissertação. As falhas da Barra e de Itapuã, de idade mesozóica (Wanderley & Graddi 1995), são responsáveis por promover esta modificação na direção da linha de costa, truncando a sua direção original, sudoeste-nordeste, e gerando segmentos com direções aproximadamente leste-oeste (Fig. 11 e Anexo I), onde afloram predominantemente o embasamento precambriano, o que resulta em trechos rochosos, destituídos de sedimentos, ou na formação de praias curtas e embaiadas, do tipo de enseada, que são limitadas em suas extremidades pelas rochas precambrianas. Outro efeito decorrente desta tectônica é a geração, nestes segmentos de direção leste-oeste, de áreas abrigadas contra a ação das ondas de leste e de nordeste, que compõem, junto com 25 outras direções de ondas incidentes, o clima de ondas da costa atlântica, como será descrito em capítulo posterior. 38º30’ Baía de Todos os Santos 13º00’ Setor 4 Setor Setor 3 Falha de Itapuã Setor 2 1 Barra Falha da n ea c O t ico n tlâ A o 0 7Km Figura 11 - Mapa geológico simplificado da área em torno à faixa estudada, mostrando as falhas da Barra e de Itapuã e os quatro setores da linha de costa atlântica de Salvador Setor 1 - Farol da Barra/Ponta de Itapuãzinho; Setor 2 - Itapuãzinho/Praia de Piatã; Setor 3 – Praia de Placafor/ Praia do Flamengo; Setor 4 – Praia do Flamengo/Lauro de Freitas. O Setor 1 apresenta direção geral leste-oeste, mede cerca de 7,3 km de extensão, e está compreendido entre o Farol da Barra, a oeste, e a ponta de Itapuãzinho, a leste, esta localizada no bairro de Amaralina (Fig. 12). Corresponde ao próprio plano da Falha da Barra e por isto apresenta uma costa rochosa (Fig. 13), com poucas praias, muitas do tipo enseada, geralmente separadas entre sí por promontórios constituídos de rochas precambrianas cristalinas, que, em alguns locais, sustentam falésias de até 15 m de altura, como no trecho compreendido entre o Morro do Cristo e o início da praia de Ondina, abaixo do Clube Espanhol, e também entre a praia da Paciência e a praia de Sant'ana (Anexo I). É muito comum que estas rochas aflorem também nas praias, tanto nas áreas emersas quanto nas submersas. 26 N Itapuâzinho Farol da Barra 0 500 m Precambriano Figura 12 – Mosaico de ortofotos -aéreas mostrando o Setor 1. Trecho bastante rochoso da costa atlântica de Salvador, que apresenta direção geral E-W e freqüentes afloramentos de rochas precambrianas cristalinas. Está compreendido entre o Farol da Barra e a ponta de Itapuãzinho. Figura 13 - Costa rochosa aflorando no Setor 1, próximo à praia do Clube Espanhol (Anexo I) O Setor 2 apresenta direção geral sudoeste-nordeste, mede cerca de 11 km de extensão e está compreendido entre a Ponta de Itapuãzinho e a extremidade norte da praia de Piatã (Fig. 14). Tem por principal característica a existência de praias relativamente longas e retilíneas, algumas com cerca de 4,8 km de comprimento (praias dos Artistas-Piatã, Anexo I). Os afloramentos de rochas precambrianas são relativamente escassos e não apresenta falésias, porém é relativamente com um, sobretudo na parte nordeste deste setor, a ocorrência de bancos de arenito, quase sempre submersos. 27 P. de Piatã N Itapuâzinho Precambriano 0 300 m Figura 14 – Praias relativamente longas e retilíneas, com uma menor ocorrência de afloramentos de rochas precambrianas, caracterizam o Setor 2. Os limites do Setor 3 estão estabelecidos em função da influência que a Falha de Itapuã exerce sobre a fisiografia, com a freqüente exposição de rochas precambrianas, que muito limitam o comprimento das praias, favorecendo o desenvolvimento de praias de enseada. Circunda a ponta de Itapuã e por isto apresenta três segmentos com direções distintas, dois destes estão inseridos na enseada de Itapuã e apresentam direções WSW ENE e NW -SE, respectivamente. O terceiro segmento está fora desta enseada, mais diretamente exposto ao Oceano Atlântico, e apresenta direção geral SW-NE (Fig. 15). O setor como um todo tem início na extremidade norte da praia de Piatã, prolongando-se até a Praia do Flamengo, totalizando cerca de 6,2 Km de extensão. 28 N 0 200 m Flamengo Itapuã Precambriano Praia. de Piatã Figura 15 – O Setor 3 apresenta freqüentes afloramentos de rochas precambrianas cristalinas, o que resulta em um grande número de praias, muitas das quais curtas e embaiadas, do tipo de enseada. O Setor 4 tem início logo após a praia N do Flamengo e se estende na direção SW NE até a divisa com o Município de Lauro de Freitas, totalizando cerca de 2,2 Km. É 0 120m de todos o mais retilíneo, constituído na verdade por uma única praia, apesar de possuir diferentes denominações populares. Está mais afastado da zona de influFlamengo ência da Falha de Itapuã e, provavelmente por isto, praticamente não exibe afloramen- Divisa Salvador/Lauro de Freitas Bancos de arenito tos do precambriano cristalino. É contudo Figura 16 – Setor 4, formado por uma única praia, aproximadamente retilínea, com freqüentes afloramentos de bancos de arenitos e inexistência do Precambriano cristalino. freqüente a ocorrência de bancos de arenitos emersos e submersos, aflorando paralelamente à face da praia (Fig. 16). 29 V - SISTEMA DE CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA A costa de Salvador está situada dentro do campo de ventos alísios do Atlântico Sul, com direções predominantes de leste, sudeste e nordeste, que está relacionado à célula de alta pressão que ocorre entre a América do Sul e a África (Bigarella 1972 apud Bittencourt et al 2000). Outro importante elemento da circulação atmosférica desta região é o avanço periódico das frentes-frias polares, que ocorre predominantemente nos meses do outono e do inverno, causando fortes ventos com direção sul-sudeste. Estes ventos, esporadicamente, podem ser parcialmente bloqueados durante eventos de El Niño (Martin et al. 1998). A distribuição média dos ventos ao longo do ano, sobre o oceano, em frente à costa de Salvador, é apresentada na Tabela I. Direção Predominante dos Ventos Freqüência Média Anual N 90º 42 % N 135º 30 % N 45º 16 % N 180º 6% Tabela I - Freqüência anual média das principais direções de ventos formadores de ondas que incidem sobre a costa atlântica de Salvador (DHN 1993). VI – VENTOS A importância dos ventos, ao se estudar a segurança das praias, para o banho, reside no fato de serem estes os elementos que inicialmente geram, em alto-mar, as ondas que irão se propagar em todas as direções, incidindo e quebrando nas zonas costeiras, quando então geram correntes e outros fatores de risco para o banho, dentro da zona de surfe. Ao atingirem a superfície dos oceanos causam principalmente turbulência, transferindo parte de sua energia para a água, que se propaga então sob a forma de ondas. A geração de ondas depende fundamentalmente da velocidade e da duração dos ventos e da área sobre a qual estes incidem, área esta que é conhecida como pista (Komar 1998). 30 Além de elementos geradores de ondas, podem ser também modificadores destas, quando, ao incidirem diretamente sobre a zona costeira, modificam tanto as ondas inicialmente geradas em alto-mar quanto as correntes geradas por estas ondas, dentro da zona de surfe. Hubertz (1986) registrou uma triplificação na velocidade das correntes geradas pelas ondas, devida à ação dos ventos costeiros. Davis & Fox (1972) demonstram que os ventos costeiros podem aumentar ou diminuir a altura de quebra das ondas e consequentemente a velocidade das correntes, dentro da zona de surfe. Masselink & Pattiarachi (1998), estudando os efeitos causados pelas brisas marinhas na dinâmica costeira, mediram aumentos significativos na altura das ondas e na velocidade das correntes longitudinais. As brisas marinhas, originadas na parte da tarde dos dias quentes, podem também produzir fortes efeitos no padrão das ondas, com conseqüências para o desenvolvimento morfodinâmico das praias (Masselink & Pattiarachi 1998). Estas brisas são geradas pelas diferenças de temperatura entre o continente e o oceano, que criam gradientes de pressão próximos à costa (Inman & Filloux 1960). A intensidade destas brisas é proporcional às diferenças de temperatura (Hsu 1988, apud Masselink & Pattiaratchi 1998), e são mais fortes durante a parte da tarde dos dias quentes das regiões tropicais e semitropicais (Masselink & Pattiaratchi 1998). A combinação, na parte da tarde, entre brisas marinhas e marés de enchente de sizígia, pode produzir ciclos quinzenais de alta energia (Inman & Filloux 1960). A ocorrência de brisas marinhas pode também alterar uma série de parâmetros oceanográficos da zona de surfe, como a altura, o período, a direção e o tipo das ondas, além da velocidade e da direção das correntes, bem como a largura da zona de arrebentação, e por conseqüência, toda a morfodinâmica praial, podendo inclusive modificar o estágio morfodinâmico da praia, assemelhando-se às vezes aos efeitos causados por uma tempestade de nível médio (Masselink & Pattiaratchi 1998). Estas brisas marinhas são bastante comuns em Salvador, sendo popularmente conhecidas com o nome de "viração" e são fortes e freqüentes a partir da metade da tarde dos dias quentes de verão. VII - ONDAS VII.1 - Origem As ondas, como já anteriormente citado, resultam da ação dos ventos sobre a superfície do mar. Estes, ao induzirem uma pressão de cima para baixo, provocam um movimento de baixo para cima, efeito conhecido como empuxo. Em seguida, a força da gravidade, atuando de cima para baixo, age no sentido de restaurar a posição original e a 31 onda então é propagada pela superfície da água, transportando a energia adquirida dos ventos (Sica 1999) (Fig. 17). Figura 17 - Mecanismo de formação das ondas de gravidade. Inicialmente pela ação dos ventos, em seguida pelo empuxo e por fim pela força da gravidade, que atua a fim de restaurar a posição original (Sica 1999). A zona de origem das ondas pode estar muito longe da costa ou próxima a ela. A altura e o período das ondas dependem da velocidade e da duração dos ventos, bem como da distância percorrida pelos mesmos (Komar 1998). Deste modo, as ondas dependem inicialmente das modificações atmosféricas, mais notadamente das variações barométricas (Davis & Fox 1972). VII.2 - Dinâmica Em alto-mar, nas águas profundas, onde a profundidade (h) é maior que a metade do comprimento de onda (L0), o movimento das partículas segue a orientação de órbitas circulares, com um eixo horizontal, órbitas estas que vão diminuindo em tamanho para o fundo. Estas partículas vão e voltam para o mesmo ponto, não havendo, até então, deslocamento de massa (Komar 1998). Ao penetrar em águas progressivamente mais rasas, o movimento orbital começa a interagir com o fundo e a forma até então circular do movimento é deformada, assumindo uma geometria elíptica. A profundidade (h) a partir da qual isto se inicia é cerca de 50% do comprimento da onda (L) e marca o início das águas intermediárias (Trenhaile 1997) (Fig. 18). 32 Figura 18 - Elementos geométricos das ondas (Komar 1998) VII.3 – Transformações A partir das águas intermediárias - quando a profundidade eqüivale à metade do comprimento da onda - até o ponto de arrebentação, as ondas, como conseqüência da interação com o fundo, sofrem uma série de transformações progressivas na sua direção, comprimento, altura, e forma. É a partir desta profundidade que têm inicio os fenômenos da refração, do empinamento e da interferência. A difração é um outro fenômeno que pode ou não ocorrer antes ou depois da quebra, a partir da qual pode existir também a reflexão. VII.3.1 - Refração A refração das ondas ocorre logo que estas começam a interagir com o fundo (h = L/2) e quando as isóbatas relativas a este fundo apresentam direções diferentes das cristas das ondas, ou seja: é o mesmo efeito físico que acontece com um feixe de luz, ou de qualquer outro tipo de onda, quando o seu meio de propagação é alterado. Nestas condições, a parte da crista da onda que passa sobre a zona mais profunda apresenta uma velocidade horizontal (C) maior, em função de uma menor fricção com o fundo, o que provoca a rotação desta parte da crista em torno da zona mais rasa (Komar 1998), modificando progressiva e substancialmente a trajetória originada em alto-mar e fazendo com que a crista se ajuste geometricamente à batimetria (Bascom 1953). A refração das ondas marinhas é matematicamente demonstrada pela Lei de Snell-Descartes (Trenhaile 1997): sem α 0 / C 0 = sen αr / C r , 33 onde α 0 é o ângulo formado entre a frente-de-onda incidente em alto-mar e uma determinada isóbata e α r é o ângulo formado entre a frente-de-onda refratada e a mesma isóbata. C0 é a velocidade horizontal da onda incidente em alto-mar e Cr é a velocidade horizontal da onda refratada. Esta expressão mostra o decréscimo que ocorre com a velocidade horizontal e com o ângulo formado entre as ondas e as isóbatas, quando estas começam a interagir, modificando a trajetória das ondas iniciada em alto-mar (Figs. 19 e 20). Esta parte da onda já está quebrando. A fricção c/ o fundo reduz a velocidade horizontal C1 e o comprimento L1. A refração desloca a trajetória original da crista,diminuindo progressivamente o ângulo entre esta e a linha de costa. Esta parte da crista ainda não está quebrando. C2 e L2 são maiores. Maior também é o ângulo entre esta parte da crista e a linha de costa . L2 L1 Figura 19 – A partir das águas intermediárias, e quando a direção das cristas não coincide com a das isóbatas, as ondas sofrem refração, que modifica sua trajetória original. (a batimetria aqui é paralela à linha de costa - adaptado de Komar 1998). Figura 20 – Exatamente a mesma situação observada em campo, na figura 20, foi esboçada aqui por Ippen (1966). 34 A refração, além de modificar a direção de propagação das ondas, pode também reduzir as suas alturas, ao promover o transporte da mesma quantidade de energia por uma extensão linear maior, ao longo da crista (Komar 1998 - Fig. 21) Figura 21 - A conservação do fluxo de energia das ondas (E) entre dois raios-de-onda que vão se distanciando (S), por efeito da refração, diminui a densidade de energia e a altura da onda (H) (Komar 1998). Quando a batimetria é ondulada, a refração pode provocar a convergência das ondas de encontro às feições que representam relevos submarinos positivos em relação à sua vizinhança, como promontórios, tômbolos, bancos de areia, etc, concentrando a energia e provocando uma sobreelevação na altura de quebra das ondas, ou pode provocar o oposto, ou seja: uma divergência das ondas, que acontece quando estas passam sobre feições que representam um relevo negativo em relação à sua vizinhança, como enseadas, canais, depressões, etc, resultando numa dispersão de energia com a conseqüente redução na altura das ondas. Nos pontos aonde venha a ocorrer convergência, a energia liberada pelo quebramento das ondas será concentrada, gerando correntes longitudinais e de retorno mais fortes, enquanto que nas zonas de divergência serão criadas áreas calmas, quase sem ondas e/ou correntes (Figs. 22 e 23). Para Munk 35 & Traylor (1947), a refração é o principal mecanismo de controle da altura de quebra das ondas sobre uma praia. Refração Promontório Praia abrigada Praia abrigada Figura 22 - Convergência e divergência dos raios -de-onda produzidas pela refração, ao passarem por sobre promontórios e enseadas (adaptado de Bascom 1953). Figura 23 – Afloramen tos rochosos situados na zona de surfe das praias de Piatã e Placafor (Salvador-Ba., agosto de 1998 - Anexo I), que provocam a refração e a convergên cia dos raios -de-onda para estes pontos. Como as ondas incidentes de alto-mar representam a principal entrada de energia para o ambiente praial (Wright & Short 1984) e como estas sofrem alterações relativas às suas alturas e direções, causadas pela refração, alterando assim a morfodinâmica das praias (Goldsmith 1976), torna-se necessário traçar diagramas de refração de ondas a fim de obter as novas direções e alturas. Trata-se de uma ferramenta gráfica que mostra os pontos de convergência e de divergência dos raios-de-onda ao longo da linha de costa, além das suas alturas, auxiliando na localização das correntes longitudinais e de retorno. 36 VII.3.2 - Empinamento ou Shoaling Ao atingir as águas rasas, onde a profundidade é inferior à vigésima parte do comprimento das ondas, estas começam a empinar e a sofrer também uma série de transformações, conhecidas como empinamento de fundo ou "shoaling transformations", que reduzem o comprimento da onda (L) e a velocidade horizontal (C), aumentando a altura da onda (H) e onde só o período (T) permanece constante, culminando com o quebramento da onda (Trenhaile 1997). Matematicamente, estas transformações podem ser representadas da seguinte forma: Em águas rasas, a velocidade horizontal (C) depende da profundidade (h): C = (gh)1/2 (Komar 1998) Como (h) decresce progressivamente, então (C) também decresce. A redução da velocidade horizontal (C) retarda então o avanço da onda, reduzindo a distancia (L) entre esta e a onda que vem atrás. A fim de conservar constante o fluxo de energia (P) que traz das águas profundas para as rasas, a densidade de energia (E) da onda aumenta, compensando a desaceleração do movimento horizontal (C) (Komar 1998). P = ECg Como a densidade de energia (E) é relacionada ao quadrado da altura da onda (H2): E = ( pgH2 ) / 8 (Munk & Traylor 1947), onde p é a densidade da água, então a altura da onda (H) aumenta nas águas rasas (Trenhaile 1997; Komar 1998). Caso este aumento venha a superar a redução que pode ser causada pela refração, então a altura de quebra da onda será maior que a altura da onda incidente de alto-mar, quando isto ocorre, as velocidades das correntes longitudinais e de retorno são ampliadas. A dimensão do empinamento depende fundamentalmente da declividade do fundo e, de acordo com Komar (1998), da permeabilidade dos sedimentos. VII.3.3 - Interferência Quando duas ou mais séries de ondas, de diferentes direções, incidem simultaneamente sobre uma mesma área, a resultante pode ser uma onda de altura maior ou menor do que a das ondas iniciais. Quando as ondas das diferentes séries têm o mesmo período, as cristas e cavas coincidem, ocorrendo então uma interferência construtiva, e a resultante é uma onda de maior altura (Fig. 24-a). O contrário, ou seja: quando as ondas têm períodos diferentes, a crista de uma coincide total ou parcialmente com a cava da outra, ocorrendo então uma interferência destrutiva, e a resultante é uma onda de menor altura (Enc. Britânica 1994) (Fig. 24-b). 37 a b Figura 24 - a) ondas incidentes de diferentes direções, com diferentes alturas e iguais períodos (linhas vermelhas tracejadas), geram uma interferência construtiva, na qual a onda resultante (azul), apresenta uma altura superior à das ondas originais; b) ondas incidentes de diferentes direções, com diferentes alturas e períodos, geram uma interferência destrutiva, na qual a onda resultante (azul), apresenta uma altura intermediária às das ondas originais (Enc. Britânica 1994). Na costa atlântica de Salvador, freqüentemente há interferência de duas ou até de mais direções de ondas, provocada pela pluralidade de direções de ventos que podem ocorrer simultâneamente na área, e também pelos efeitos da refração, que gera convergência ou divergência dos raios -de-onda contra feições avançadas da linha de costa, no caso os promontórios, por exemplo, e contra feições mais profundas, podendo gerar interferência construtiva ou destrutiva, com conseqüências para a segurança da praia, para o banho. VII.3.4 - Difração Este fenômeno ocorre quando há algum tipo de obstáculo físico à propagação das ondas, fazendo com que haja uma transferência lateral de energia, ao longo da crista (Komar 1998). Este obstáculo pode ser representado por um afloramento rochoso emerso, uma pequena ilha, um quebra-mar, etc. É comum a ocorrência de afloramentos rochosos emersos ou semi-submersos em muitas das praias da costa atlântica de Salvador, sobretudo nas praias da Pituba e de Placafor (Anexo I), onde a difração é então verificada clareza (Fig. 25). 38 rocha praia difração rocha difração raio-de-onda rocha frente-de-onda Figura 25 - A difração provoca uma transferência lateral de energia ao longo das cristas das ondas logo após estas passarem pelos afloramentos semi-submersos que ocorrem na zona de surfe da praia da Pituba (Anexo I) (diagrama feito a partir de ortofotos aéreas) VII.3.5 - Reflexão É provocada pelo choque das ondas contra alguma superfície demasiadamente inclinada, como escarpas, falésias, faces de praias muito inclinadas, bancos emersos, quebra-mares, etc., fazendo com que parte da energia da onda seja refletida de volta (Trenhaile 1997). Na questão da segurança de praia, pode vir a se constituir num fator de risco, pelo fato de transportar o banhista para o fundo. O novo padrão de ondas, criado a partir das águas intermediárias, e sobretudo dentro da zona de surfe, por efeito de todos os mecanismos de transformação acima descritos, tem conseqüências importantes para a questão da segurança das praias. VII.3.6 - Quebramento O mecanismo que provoca o quebramento das ondas ainda não está definitivamente estabelecido (Komar 1998). Existem duas teorias que explicam este momento. Uma delas defende que isto ocorre quando a velocidade horizontal (C) torna-se inferior à velocidade orbital (W), o que causa uma tendência de inversão da geometria 39 elíptica, isto é, o diâmetro maior tende a se posicionar na vertical, a onda então se eleva verticalmente e quebra (Teoria de Stokes, Trenhaile 1997) (Fig. 26). C H w Figura 26 - À esquerda, antes de quebrar, as velocidades horizontal (C) e orbital (W) estão em equilíbrio. À direita, a fricção com o fundo reduz (C), (W) torna-se então relativamente maior, a geometria elíptica se verticaliza e a onda então quebra (Teoria de Stokes). De acordo com a outra teoria, conhecida como da “onda solitária“, a resultante horizontal da velocidade orbital (U) da crista, em águas rasas, é maior do que esta mesma resultante (U) na base da onda, fazendo com que a crista se projete para frente, perca sustentação e então quebre (Trenhaile 1997) (Fig. 27). U crista = g( h + H )1/2 é maior que U base = g( h-H )1/2 (Komar 1998) Figura 27 - Em águas rasas, a resultante horizontal da velocidade orbital (U) na crista é maior do que esta mesma resultante na base, o que provoca instabilidade, com a conseqüente quebra da onda (teoria da onda solitária) Ambas as teorias sugerem que o quebramento das ondas ocorre quando é atingido um ponto crítico na relação entre a altura da onda (H) e a profundidade da lâmina d’água no ponto onde a onda quebra (hb). Este valor crítico varia entre 0,6 e 1,2 , com moda em 40 torno de 0,78 (Munk & Traylor 1947). O ponto de quebramento das ondas também pode ser influenciado pela existência de correntes fluviais, por correntes marinhas geradas próximas à costa (Horikawa 1988, apud Trenhaile 1997), e também pelos ventos costeiros, que, a depender de onde estiverem soprando, podem antecipar ou retardar o instante da quebra (Trenhaile 1997). Ao quebrarem, no início da zona de surfe, as ondas dissipam a energia que vêm transportando desde o alto-mar, gerando então turbulência e colocando grandes quantidades de sedimento em suspensão para depois se transformarem em correntes que transportam energia e matéria através da zona de surfe, constituindo-se nos principais fatores de risco para os banhistas. A altura de quebra das ondas depende fundamentalmente da altura da onda incidente em alto-mar e dos efeitos provocados pela refração e pelo empinamento (Dean & Dalrymple 1998). Os efeitos provocados pela fricção com o fundo também agem no sentido de reduzir a altura de quebra e dependem da granulometria do sedimento e das formas de leito (Wright & Short 1984). Sob condições de sedimentos grossos, com freqüentes marcas de corrente, esta redução geralmente situa-se em torno de, apenas, 0,01% a 0,05% e sob condições de sedimentos mais finos e com formas de leito pouco onduladas, a redução é ainda menor (Wright & Short 1984). A literatura especializada disponibiliza diversas fórmulas matemáticas para calcular a altura de quebra das ondas (Hb ) e a energia por estas liberada (E), que podem ser aplicadas quando a linha de costa é retilínea com isóbatas paralelas (Komar 1998). Dentre estas, podem ser citadas: H b = H 0 . Kr . Ks (Dean & Dalrymple 1998) E = (ρgHb 2 )/8 (Shore Protection Manual 1984), onde H 0 é a altura da onda incidente em alto-mar, Kr é o coeficiente de refração, K s é o coeficiente de empinamento, ρ é a densidade da água do mar e g é a aceleração da gravidade. O coeficiente de empinamento (Ks) mede o quanto a altura de quebra da onda aumentou em relação à sua altura em alto-mar e pode ser obtido no eixo das ordenadas da figura 28. 41 10 3 2 ondas incidentes de 1 Hb / H 0 alto-mar 0,1 águas rasas águas interme- águas profundas diárias 0,01 0,001 0,01 0,05 0,1 0,5 1 hb / L0 Figura 28 - Gráfico para obtenção do coeficiente de empinamento (Ks), que aumenta a altura das ondas incidentes de alto-mar, no domínio das águas rasas ( Komar 1998). Na figura 28 (hb ) é a profundidade na qual a onda quebra e (L0) é o comprimento da onda incidente em alto-mar e são dados por: hb = H 0 / 0,78 (Munk & Traylor 1947) 2 L0 = g.T / 2π (Komar 1998), onde T é o período das ondas em alto-mar. Por sua vez, o coeficiente de refração (Kr) é obtido da seguinte relação: Kr = (cos α 0 / cos α r )1/2 (Komar 1998), onde α 0 é o ângulo formado entre a frente-de-onda incidente em alto-mar e a isóbata, e α r é o ângulo formado entre a frente-de-onda refratada e a isóbata, podendo ser obtido a partir da Lei de Snell-Descartes: sen α 0 / C0 = sen αr / Cr (Trenhaile 1997), onde C 0, que corresponde à velocidade horizontal da onda em alto-mar, é obtido da fórmula: C0 = gt/2π (Komar 1998). Por sua vez, a velocidade da onda refratada (Cr ) é obtida da expressão: C r = (ghb )1/2 (Komar 1998). 42 VII.4 - Tipos de Ondas As ondas diferem quanto à sua forma de quebrar, o que resulta, principalmente, da altura da onda incidente de alto-mar (H0), do seu comprimento (L0) e da declividade do relevo submarino (Komar 1998) (Fig. 29). Segundo estes critérios, são identificados quatro tipos de ondas: Deslizante, Mergulhante, Frontal e Ascendente (Fig. 29). Figura 29 – Diferentes tipos de ondas, quanto à sua forma no instante da quebra (Trenhaile 1997). As do tipo Deslizante quebram de forma suave e progressiva ao longo da zona de surfe, como resultado de fundos pouco inclinados (Komar 1998). As do tipo Mergulhante são o oposto, isto é, quebram quase que repentinamente, ao se chocarem contra fundos muito inclinados, formando um tubo e projetando toda a crista de uma só vez, lançando quase que a totalidade da massa d'água para frente e dissipando quase que instantaneamente toda a energia (Komar 1998). As ondas ascendentes não chegam a quebrar propriamente, ascendendo sobre a face da praia, e resultam de fundos com declividade ainda mais elevada. As ondas frontais são intermediárias entre as Mergulhantes e as Ascendentes (Komar 1998). Experiências realizadas em tanques de provas, resultaram na determinação de uma medida adimensional que também classifica os diferentes tipos de ondas. Esta medida é conhecida como número de Iribarren, sendo representado pela fórmula: ξ 0 = S / (H0/L0)1/2 (Komar 1998), onde S é a declividade do relevo submarino na zona de arrebentação e H 0 e L0 são a altura da onda e o seu comprimento em alto-mar, respectivamente. A correspondência deste número com a classificação baseada apenas na forma de quebra, de três tipos de ondas, apresentada acima, é a seguinte: • Ondas deslizantes - número de Iribarren é menor que 0,5 (Komar 1998). 43 • Ondas mergulhantes - número de Iribarren situa-se entre 0,5 e 3,3 (Komar 1998). • Ondas ascendentes - número de Iribarren é maior que 3,3 (Komar 1998). VIII - CORRENTES DA ZONA DE SURFE Zenkovich (1967) observou que existem dois grupos diferentes de correntes dentro da zona de surfe. O primeiro grupo é restrito a esta zona e é mais dominante. É gerado pelos ventos e pelas ondas, depende fundamentalmente do padrão destas e da geomorfologia, emersa e submersa. Por sua maior energia e sua localização restrita à zona de surfe, produz efeitos mais marcantes no desenvolvimento morfodinâmico das praias (Zenkovich 1967). O segundo grupo, mais disperso, é formado por outros elementos, como as marés, as descargas dos rios, as diferenças na densidade da água do mar, diferenças na pressão atmosférica, etc. Não se restringe apenas à zona de surfe, tem uma amplidão espacial maior, possui uma freqüência temporal também maior e pode ser acompanhado por distâncias mais longas, porém tem menor energia (Zenkovich 1967). Os ventos e as ondas empurram a massa d’água de encontro à face da praia, causando um sobreelevação da água, fenômeno este conhecido como empilhamento ou "wave setup". Esta elevação momentânea do nível do mar gera um gradiente de pressão gravitacional. A água então pode tomar um entre três rumos, ou todos ao mesmo tempo. Uma parte retorna predominantemente pelo fundo, produzindo uma segregação vertical na lâmina d'água, com direção ortogonal, ou oblíqua, à linha de costa e é conhecida como corrente de fundo ou "undertow" ; outra parte flui paralelamente à praia, são as correntes longitudinais ou "longshore currents"; e um terceiro tipo retorna, deslocando toda a coluna d'água, com direção ortogonal ou oblíqua à linha de costa e é conhecido como corrente de retorno ou "rip current" (Komar 1998). VIII.1 – Correntes de Fundo ou Undertow As correntes de fundo (Fig. 30) podem ser as principais responsáveis pelo transporte de sedimentos em direção à plataforma, durante uma tempestade, e consequentemente, podem ter fundamental importância no processo de formação dos bancos externas (Aagaard & Greenwood 1994). Como se trata de uma corrente que flui pelo fundo, não se constitui em um fator de grave risco para os banhistas. 44 Figura 30 - A parte da água que retorna pelo fundo, após as ondas quebrarem sobre a face da praia, é conhecida como corrente de fundo ou "undertow" (Komar 1998) Ondas Corrente de fundo ou “undertow” Fundo VIII.2 – Correntes Longitudinais ou Longshore Currents As correntes longitudinais são o resultado da incidência das ondas, de forma oblíqua, contra a face da praia, gerando um fluxo que tem direção aproximadamente paralela à esta (Fig. 31). Isto pode acontecer também quando as ondas incidem ortogonalmente contra a face da praia, da seguinte maneira: em determinados pontos de uma linha de costa, onde há uma forte convergência dos raios -de-onda, o resultado é o empilhamento da massa d’água nestes pontos (wave setup), criando assim um gradiente de pressão gravitacional, paralelo à linha de costa, pelo o qual a água flui, do local de ondas mais altas para o de ondas mais baixas, formando então as correntes longitudinais. Direção da face da praia Frentes-de-onda Corrente longitudinal Figura 31 - A incidência das ondas de forma oblíqua contra face da praia, gera correntes aproximadamente paralelas à esta, que são denominadas de correntes longitudinais (Praia de Jaguaribe, Salvador – Ba. CONDER 1998) 45 VIII.3 – Correntes de Retorno ou Rip Currents A corrente de retorno representa o regresso, pelo fundo e pela superfície, da massa d’água que é empilhada pelas ondas, contra a face da praia. Sua força, ou intensidade, depende fundamentalmente da altura de quebra das ondas e da geomorfologia, sobretudo quando sofre algum tipo de confinamento, tendo então sua velocidade bastante ampliada. Constitui-se de uma faixa de água relativamente estreita dentro da zona de surfe - com largura da ordem de alguns a poucas dezenas de metros - que flui da face da praia em direção à zona de arrebentação (Fig. 32), passando pelas ondas incidentes, quando então induz uma diminuição na altura de quebra destas, e finaliza próximo ao ponto de arrebentação, onde cessa sua energia. Muitas vezes se desenvolve quando uma corrente longitudinal é desviada por alguma feição geomorfológica submersa ou emersa, como bancos de areia, afloramentos rochosos, etc., fazendo com que o fluxo se dê em direção à zona de arrebentação (Fig. 33). Pode ser também resultante de sistemas circulatórios que se desenvolvem dentro da zona de surfe, produzidos por diferentes gradientes de pressão gravitacional existentes ao longo e perpendiculares à linha de costa, gerados por diferenças altimétricas entre os locais de empilhamento e os de depressão (wave setdown) (Komar 1998) (Fig. 34). Figura 32 - Corrente de retorno sendo formada na Praia de Jaguaribe (Anexo I, Salvador-Ba.) 46 praia corrente longitudinal raios -de-onda rocha corrente de retorno Figura 33 - O desvio imposto por um afloramento rochoso, contra uma corrente longitudinal, pode gerar uma corrente de retorno. praia empilhamento corrente longitudinal empilhamento depressão corrente de retorno depressão Figura 34 - Corrente de retorno originada por sistemas circulatórios Como já foi mencionado, estas correntes são responsáveis pela maior parte dos acidentes registrados dentro da zona de surfe, em praias de todo o mundo. Na Austrália, na região de Sydney, por exemplo, Short & Hogan (1994) analisando as condições descritas em 689 operações de salvamento, constataram que estas correntes tinham sido responsáveis diretas por 89% destas ocorrências. No estado da Flórida (USA), mais que 70% dos acidentes são atribuídos à ação das correntes de retorno (Warning Coordination Meteorologist National Weather Service, Miami). Nos Estados Unidos, como um todo, a United States Lifesaving Association (USLA) atribui cerca de 80% dos acidentes às correntes de retorno (www.usla.org). Em Salvador, apesar de não haver a mesma rotina de descrição, os salva-vidas atribuem a estas correntes a causa direta de pelo menos 70% dos acidentes. No Rio de Janeiro, comunicações verbais do órgão de salvamento local, indicam números semelhantes. Short & Hogan (1994) utilizando flutuadores e teodolitos, efetuaram uma série de medidas da velocidade destas correntes em nove praias de Sydney e registraram valores 47 entre 0,5 m/s e 1,5 m/s. Estas medidas foram feitas durante o verão, com alturas de quebra de ondas entre 0,5 e 1,5 m e sob regime de micro-maré, segundo a classificação de Davis & Hayes (1984). Nas praias da Caveira e do Flamengo, em Salvador (Anexo I), sob condições de ondas e marés semelhantes, foram, no presente trabalho, estimadas experimentalmente velocidades máximas de 0,9 m/s, com média de 0,6 m/s. Sabendo-se que nadadores de nível olímpico, como Gustavo Borges, por exemplo, atingem, nas águas paradas de uma piscina, sem turbulência e com o auxílio do impulso inicial, a marca de 1,8 m/s (www.gustavoborges.com.br), e que um nadador de habilidades medianas atinge, também em piscina, 1,2 m/s, em média (Federação Baiana de Natação), conclui-se que a grande maioria dos banhistas corre sério risco de vida quando dentro destas correntes. Short & Hogan (1994) verificaram que a velocidade das correntes de retorno é diretamente proporcional à altura de quebra das ondas, porém, quando esta altura varia entre 0,5 m e 1,5 m, a velocidade não é muito modificada. Já a partir de 1,5 m de altura, o aumento na velocidade é significativo, tendo sido registrado valores de 2,9 m/s, para alturas de quebra próximas a 3 m (Short & Hogan 1994). Bozhich & Dzhunkovskii (1949, apud Zenkovich 1967), já alertavam para o fato de tais correntes se constituírem em um importante fator de risco para os banhistas. Durante a vazante da maré, e a depender da geomorfologia impor um confinamento à massa d’água, estas velocidades podem se intensificar ainda mais, com incrementos entre 33% e 48% (Short & Hogan 1994). Um efeito positivo destas correntes é o de promover a renovação da água do mar dentro da zona de surfe, transportando a água próxima à face da praia para a zona de arrebentação, que será substituída por águas mais limpas da antepraia e da plataforma (Nordstrom 1991). IX - AMPLITUDE E CORRENTES DE MARÉS A variação do nível do mar, causada pelas marés, pode produzir vários efeitos sobre a morfodinâmica de praias. Modificações diárias, representadas pela preamar e baixamar, deslocam a posição do ponto de arrebentação, da superfície de espraiamento, e da zona de surfe como um todo. Modificações quinzenais, representadas pelas marés de sizígia e quadratura, ampliam ou reduzem estes efeitos. A existência de uma superfície intermareal tem reflexos tanto na parte subaérea da praia quanto no perfil submarino e estes efeitos são mais pronunciados em condições extremas, como marés de sizígia combinadas com tempestades. 48 A onda de maré produz correntes que têm um mesmo período que esta e variam conforme as características da maré, da configuração da costa e da batimetria (Ippen 1966). Estas correntes tendem a ser retilíneas e de “mão dupla”, quando próximas à costa, e rotatórias, em mar aberto (King 1972). Na superfície tendem a ter a mesma velocidade da onda de maré, enquanto que em profundidade esta velocidade é reduzida pela fricção com o fundo (Zenkovich 1967). A direção e a intensidade das correntes de marés em costas abertas, e em áreas confinadas, são diferentes. Nas primeiras, as correntes fluem paralelamente à linha de costa, alternando direções opostas com a enchente e com a vazante. Em áreas confinadas, as correntes são mais fortes nas saídas para o mar e a direção depende da configuração local da costa (Zenkovich 1967). Estas correntes, quando próximas à costa, sofrem distorções e podem adquirir uma natureza gravitacional (Zenkovich 1967). Nas costas abertas e de pouc a declividade, a superfície intermareal pode ser bastante larga. Durante a enchente, a onda de maré vai de encontro à força da gravidade existente no aclive do perfil da praia, enquanto que logo após a preamar, uma componente gravitacional e ortogonal à linha de costa é desenvolvida, sendo então mais forte do que em alto-mar. Como a velocidade desta componente é diretamente proporcional à rapidez com que a maré vaza, ela será máxima na metade da descida e mínima durante a estofa. Neste caso, a maré se comporta como uma onda que é refletida a partir de uma costa inclinada (Zenkovich 1967). Este efeito da maré, produzido durante a vazante, pode também ser percebido quando parte da água fica parcialmente represada em canais paralelos à linha de costa, intensificando a força das correntes longitudinais (Komar 1998). Short & Hogan (1994), como já foi citado, registraram incrementos entre 33 e 48% na velocidade das correntes de retorno, durante a vazante e Sonu (1972, apud Komar 1998) também observou a aceleração que as correntes de retorno podem sofrer durante a vazante. Na costa atlântica de Salvador este mesmo efeito, de aceleração das correntes de retorno durante a vazante, é observado, principalmente nas praias do tipo enseada, comuns no Setor 3 da linha de costa local, enquanto que os efeitos da estofa, quando reduz a velocidade das correntes, são observados em todas as praias (corpo de salvavidas da SALVAMAR, com. pessoal). 49 X - RESPOSTA DO SEDIMENTO AOS AGENTES HIDRODINÂMICOS Sob a ação dos diversos agentes hidrodinâmicos que atuam na zona de surfe, o sedimento move-se constantemente e quase sempre com intensidade, nas três dimensões da praia (Fig. 35). Transporte longitudinal para fora da praia Transporte ortogonal para dentro da praia Em do p se ilha di m m en e n to to Transporte ortogonal para fora da praia s da n O Ventos Transporte longitudinal para dentro da praia Figura 35 - Movimentação tridimensional do sedimento, dentro da zona de surfe, por ação dos agentes hidrodinâmicos Este transporte intenso gera um grande dinamismo na geomorfologia, que por sua vez transforma os próprios agentes hidrodinâmicos, com reflexos sobre a segurança da praia, para o banho. A constância desta movimentação depende da duração e da freqüência dos agentes ambientais. A intensidade do transporte sedimentar é resultante da interação da força dos fluxos, produzidos principalmente pelas ondas e representados pelas correntes, com a força da gravidade e com a força de inércia das partículas, que, por sua vez, depende da granulometria, do selecionamento, da densidade e da forma dos grãos. A rugosidade do fundo e a declividade do perfil submarino também são importantes na dinâmica sedimentar (Wright & Short 1984), sendo que a rugosidade do fundo aumenta o atrito, e consequentemente a inércia, enquanto que a resultante da força da gravidade é diretamente proporcional à declividade do perfil de praia, dificultando o transporte em direção à praia e o favorecendo em direção ao mar. A granulometria, o selecionamento e a forma dos grãos determinam a permeabilidade do sedimento e, junto com a inércia, a sua mobilidade. Sedimentos arenosos grossos, bem arredondados e bem selecionados têm uma maior mobilidade. 50 A densidade e a forma do grão, para um determinado fluxo, determinam a velocidade de decantação e também influenciam na velocidade do transporte. As ondas, quando começam a interagir com o fundo (h = +- L/2, Trenhaile 1997), e especialmente quando quebram, retiram sedimento do fundo e o mantêm em suspensão, transportando-o em seguida (King 1972). A maior parte deste sedimento porém, é transportado pelas correntes costeiras (King 1972). A direção do transporte depende do ângulo de incidência entre as ondas e/ou correntes, com a linha de praia. Como quase sempre existe uma componente do fluxo paralela à linha de praia, devido à obliqüidade das ondas ou à existência de gradientes de pressão lateral formados pelos diferentes empilhamentos de água ao longo da linha de costa, quase sempre haverá transporte ortogonal e longitudinal à linha de costa. Por fim, a terceira dimensão é a variação vertical no volume de sedimentos, que sofre contribuição tanto do transporte longitudinal quanto do transversal. A morfodinâmica de praias já é estudada por pesquisadores alemães desde a primeira metade do século XIX (Bruun & Gerritsen 1960). Mais tarde, seguiram -se outros objetivos e aplicações diferentes para as pesquisas, como os esforços da 2ª Guerra Mundial, que previam a defesa da costa e o desembarque anfíbio nas praias (Zenkovich 1967); os estudos dirigidos para a engenharia de portos e canais; as tentativas de previsão e medida do impacto que o transporte sedimentar pode causar a estruturas costeiras artificiais; e ciência na sua forma pura. Uma das referências importantes para os estudos atuais é o conceito, introduzido em 1979, por Wright et al. (apud Wright & Short 1984), de “estágio morfodinâmico de praia” para referir-se às assembléias deposicionais completas, os processos de redistribuição de sedimentos e as assinaturas de processos hidrodinâmicos associados à praias arenosas, dominadas por ondas, sob condições de micromaré (< 2m). Estes autores destacam dois estágios extremos: Refletivo e Dissipativo. Posteriormente, Wright & Short (19 84), estudando praias do sudeste da Austrália, ampliam este conceito para seis estágios, conduzindo a uma classificação que abrange um estágio de praias refletivas; quatro estágios de praias intermediárias; e um estágio de praias dissipativas. A fim de fornecer um parâmetro quantitativo para cada um dos estágios, os autores utilizam o parâmetro ambiental Ω , proposto por Dean (1973, apud Komar 1998) e revisto por Dalrymple & Thompson (1977, apud Komar 1998), que relaciona a altura de quebra e o período das ondas com a velocidade média de decantação da partícula sedimentar, dentro da zona de surfe. 51 Nos anos 90 surge um novo campo de aplicação para a morfodinâmica de praias, que é a segurança dos banhistas dentro da zona de surfe. Em 1987, C. L. Hogan, um salva-vidas, inicia um estudo piloto sobre as áreas de risco utilizando os registros de salvamentos de uma série de praias em Sidney - Austrália. Short & Hogan (1994) desenvolvem então um trabalho sistemático baseado em séries históricas de fotografias aéreas, obtidas entre 1928 e 1990. Usando estes dados e apoiando-se nos seis estágios morfodinâmicos de praia, propostos por Wright & Short (1984), os referidos autores analisam as formas dinâmicas existentes, identificando os principais fatores de risco associados a cada um dos seis estágios. Propõem então uma série de definições e de índices a fim de caracterizar e dimensionar os principais fatores de risco existentes na zona de surfe. Parte desta metodologia será utilizada no presente trabalho. X.1 - Variações na Forma do Perfil de Praia Ortogonais à Linha de Costa O transporte de sedimentos tem início em um local mais profundo do que o ponto de arrebentação, mesmo das ondas de tempestade (Larson & Kraus 1994). Esta profundidade é chamada de profundidade de fechamento, ou “closure depth”. A maior parte do transporte é feito então em suspensão, pela ação das ondas que levantam o sedimento, e pelas correntes que o transportam (King 1972). Dentro da zona de surfe, o transporte se torna mais complexo, devido à grande turbulência, provocada sobretudo pelas ondas, e devido à grande quantidade de sedimento em suspensão. O volume transportado é então diretamente proporcional à altura e ao comprimento das ondas, e inversamente proporcional à declividade do perfil (King 1972). Davis & Fox (1972), monitorando praias no Lago Michigan durante um período de 28 dias, verificaram que durante períodos de energia mais elevada, correntes geradas pelo cizalhamento do vento sobre a água, podem, por si sós, deslocar o sedimento. Larson & Kraus (1994), analisando perfis levantados durante 11 anos, na praia de Duck – Carolina do Norte, concluíram que em profundidades superiores a 5m, fora do ponto de arrebentação, a correlação entre perfis paralelos é muito boa ( > 70%), indicando que a variação na movimentação de sedimentos é pequena a partir deste ponto, nesta praia. Este fato tem sido de grande utilidade para obras de engenharia. Observaram também que é gerado um selecionamento granulométrico, com as frações mais grossas depositadas próximo à linha de costa, tornando-se mais finas à medida em que se 52 afastam desta, e que, dentre todos os fatores analisados, o quebrar das ondas é o que mais altera a forma do perfil (Larson & Kraus 1994). O transporte ortogonal pode formar grandes bancos de areia, paralelos à face da praia e separados entre sí por canais longitudinais (Komar 1998-Fig. 36). Podem ser geradas uma ou mais séries de bancos paralelos, com a série mais externa balizando a posição do ponto de arrebentação. A série mais interna possui uma maior mobilidade, pelo fato de estar sujeita à ação das ondas por períodos mais prolongados de tempo (Larson & Kraus 1994). Estes mesmos autores monitoraram a dinâmica de dois grandes bancos longitudinais, com o centro do externo localizado à cerca de 300 m da linha de costa e o interno ficando em torno de 100 m. As modificações na forma Figura 36 - Bancos longitudinais criados sobretudo pelo transporte ortogonal à linha de costa (Komar 1998) do banco interno foram mais freqüentes que no banco externo e a velocidade do movimento horizontal também. O externo só era afetado por ondas de grandes tempestades, enquanto que o interno sofria a ação de ondas durante todo o ano, o que explica sua maior mobilidade. Estes bancos, e o sedimento como um todo, migram ao longo do perfil, em um movimento de ida e vinda que depende da elevação do nível do mar e do nível de energia das ondas e das correntes. Sob níveis altos, o movimento se dá em direção à antepraia, sob níveis baixos, dá-se em direção à face da praia (Komar 1998). Esta dinâmica está representada no Perfil de Equilíbrio de Bruun (1962) (Fig. 37). 53 Figura 37 – Perfil de Equilíbrio de Bruun (1962, apud Larson & Krauss 1995). O nível do mar 1 corresponde a um período de menor energia, onde as ondas têm um caráter acrescional. O nível 2 corresponde a períodos de maior energia, durante os quais o sedimento é retirado da face da praia e depositado na antepraia, ou na plataforma. Este mecanismo tem sido validado, por diversos autores, para diferentes freqüências temporais de variação do nível do mar e do nível de energia das ondas. Sallenger & Holman (1985) o registraram em eventos de curta duração, no caso, em períodos de tempestades. Larson & Kraus (1994) demonstraram a existência de um perfil de equilíbrio em eventos de média duração, no caso o verão e o inverno. Outros autores têm constatado também esta dinâmica em eventos de maior amplitude temporal, como as transgressões e regressões marinhas. Em algumas situações, elementos estranhos, como afloramentos rochosos submersos, podem interferir nesta dinâmica, rompendo o equilíbrio (Thieler et al 1995). X.2 - Variações na Forma do Perfil de Praia Longitudinais à Linha de Costa O transporte longitudinal é geralmente feito pelas ondas e suas correntes resultantes que incidem obliquamente contra a face da praia. A ação conjunta de ondas e correntes longitudinais amplia bastante o transporte sedimentar (Beach & Sternberg 1992) e este é inversamente proporcional ao ângulo formado entre os raios -de-onda e a linha de costa (Zenkovich 1967). Os sistemas circulatórios, também responsáveis por gerar correntes longitudinais, não são resultantes da incidência oblíqua das ondas contra a face da praia, como já foi explicado, e também geram transporte sedimentar longitudinalmente à linha de costa, ainda que sem a mesma eficácia das ondas incidentes oblíquas. O transporte longitudinal desloca lateralmente a posição dos bancos submersos, modificando desta forma a posição das correntes de retorno que fluem entre estes bancos. Outro efeito gerado por este tipo de transporte na morfodinâmica de praias é o desenvolvimento de esporões que podem provocar a convergência dos raios-de-onda, 54 concentrando energia em sua extremidade e influindo assim na segurança da praia para o banho. Na costa atlântica de Salvador é verificado que a deriva litorânea predominante se faz de nordeste para sudoeste (Bittencourt et al. 2000). X.3 - Variações na Dimensão do Empilhamento Vertical do Perfil de Praia Estas são geradas, pelo ganho ou pela perda de sedimentos, decorrentes da dinâmica litorânea. O perfil, como um todo, geralmente possui uma dinâmica de equilíbrio, com áreas cedendo sedimentos para outras. Larson & Kraus (1994), analisando as variações ao longo do perfil de praia, desde o banco mais externo até a zona de espraiamento, na praia de Duck – Carolina do Norte, observaram que a maior variação vertical ocorre dentro da zona de surfe, e que há uma declividade relativamente mais forte nos primeiros 180 m horizontais próximos à face da praia, a partir dos quais, a declividade torna-se menor. Verificaram também que a forma dos perfis mínimo, médio e máximo, para esta praia em particular, muda muito pouco, o que mais uma vez confirma a existência de um equilíbrio na dinâmica do perfil. X.4 - Variações Sazonais na Forma do Perfil de Praia As estações do ano são caracterizadas por apresentar modificações atmosféricas que geram respostas imediatas no padrão das ondas, das correntes, e, consequentemente, no transporte sedimentar nas praias. Larson & Kraus (1994) verificaram a ocorrência de uma série de variações, na forma do perfil de praia, associadas às diferentes estações do ano. Durante a primavera e o verão, por exemplo, longos períodos de baixa energia produzem um transporte sedimentar maior em direção à costa e o banco interno pode soldar-se à face da praia ou ter o seu volume bastante reduzido. Já durante o outono e o inverno, ondas maiores erodem a face da praia e o berma e este sedimento, transportado pelas correntes de fundo, aumenta o volume dos bancos interno e externo, resultando em um perfil de forma mais ondulada. Verificaram também que as maiores profundidades são atingidas durante o verão, na parte final do perfil, próximo à profundidade de fechamento. No inverno, a declividade da face da praia é máxima, onde são registradas as maiores diferenças para com os perfis de verão. O sedimento transita sazonalmente entre as partes interna e externa do perfil, atingindo o volume máximo, na parte interna, ao final do verão. Durante o inverno a profundidade de fechamento do perfil é deslocada para profundidades 55 maiores. A forma dos perfis de primavera e outono são quase idênticas e representam feições intermediárias entre as de verão e de inverno (Fig. 38). Komar (1998), reconhecendo esta forte correlação, propõe a denominação de perfil de verão, ou tipoberma, e perfil de inverno, ou tipo-barra. Perfil de verão Perfil de inverno Perfil de primavera Figura 38 - Perfis de verão, primavera e inverno, levantados na praia de Duck, Carolina do Norte (modificado de Larson & Kraus 1994), que servem como um modelo comparativo para as praias da costa atlântica de Salvador. X.5 - Variações na Forma do Perfil de Praia Provocadas por Tempestades Davis & Fox (1972) observaram que durante as grandes tempestades, devido às altas taxas de energia, ainda que ocorrendo durante um curto intervalo de tempo, e que não se repete com freqüência, pode haver significativas modificações na geometria do perfil de praia, que demandarão intervalos de tempo bem superiores a fim de restaurar o equilíbrio inicial, e que estas modificações começam a ocorrer poucas horas após o início da tempestade. Larson & Kraus (1994) observaram que o transporte de sedimentos predomina da parte interna para a externa do perfil, podendo haver erosão até mesmo do cordão-duna, devido à grande sobreelevação do nível do mar. 56 X.6 - Relações entre a Altura das Ondas e a Forma do Perfil de Praia Como já foi mencionado, as ondas e as correntes são os fatores que mais influenciam na dinâmica da zona de surfe. Fundamentalmente, a altura das ondas é o elemento preponderante, uma vez que a energia das mesmas é diretamente proporcional ao quadrado de suas alturas (Davis & Fox 1972). A forma do perfil é também controlada pelo nível do mar. Mas este nível, na zona de surfe, depende não apenas da dinâmica das marés, mas também da altura e do período das ondas, bem como da forma do perfil e da distribuição granulométrica do sedimento. O nível do mar e a forma do perfil de praia determinam qual a parte do perfil que será mais atingida pelas ondas e qual a quantidade de sedimento que será movida para que o perfil atinja as condições de equilíbrio diante do regime de ondas reinante. É uma série grande de fatores que dificulta o estabelecimento de uma relação simples entre o regime de ondas e a forma do perfil (Larson & Kraus 1994). XI - ESTÁGIOS MORFODINÂMICOS DE PRAIA – A Classificação de Wright & Short (1984) A Morfodinâmica de Praias estuda as relações que existem entre os diversos agentes dinâmicos, que incidem sobre uma praia e a sua geomorfologia. Os principais agentes são os ventos, as ondas, as correntes geradas pelas ondas e os efeitos gerados pela dinâmica das marés. Como já foi citado, Wright & Short (1984), estudando praias do sudeste da Austrália, conceberam um modelo para classificar as praias arenosas, dominadas por ondas e submetidas a um regime de micromaré (< 2 m, segundo a classificação de Davis & Hayes - 1985). Este modelo é bastante utilizado e baseia-se em uma classificação visual e descritiva de uma série de feições geomorfológicas e hidrodinâmicas associadas, que caracterizam cada um dos seis estágios propostos. A classificação procura abranger grande parte das características de uma praia, como a ocorrência, o número e a forma dos bancos de areia, dos canais e das cúspides, e os seus posicionamentos espaciais; a declividade da face da praia e a granulometria média do sedimento na zona de surfe; a largura da zona de arrebentação e os tipos de ondas predominantes, entre outros (Fig. 39). Ao relacionar a granulometria do sedimento com o clima de ondas, o modelo permite que seja estabelecida, como é a proposta dos autores, uma correlação entre os diversos estágios de praia e o parâmetro quantitativo Ω, proposto por Dean (1973, apud Komar 57 1998) e revisto por Dalrymple & Thompson (1977, apud Komar 1998), que relaciona o clima de ondas e a granulometria do sedimento na fórmula: Ω = Hb / ( WsT ), onde H b é a altura de quebra das ondas, T o período, e Ws é a velocidade de decantação das partículas dentro da zona de surfe. O modelo de Wright & Short, aqui apresentado, é um aperfeiçoamento de vários conceitos anteriormente estabelecidos, tais como “praias refletivas” ou “de inverno”, “praias dissipativas” ou “de verão”, “perfil de ondulação” e “perfil de tempestade”, etc. A lógica de sua proposta permite que vários outros parâmetros quantitativos sejam relacionados aos seis estágios. Muehe (1998), monitorando praias no litoral norte do Rio de Janeiro, durante 24 meses, concluiu que a duração, a velocidade e a largura da zona de espraiamento mantêm correspondências bem estabelecidas com os estágios morfodinâmicos e sugere a adoção de um novo parâmetro, denominado de ∆, no qual relaciona as características das ondas na zona de surfe e na face da praia, com a declividade, a fim de comparar com os estágios morfodinâmicos propostos por Wright & Short (1984). 58 DISSIPATIVO Zona de Arrebentação Externa Domínio Dissipativo Zona de Arrebentação Interna Banco Interno Zona de Arrebentação Interna Praia INTERMEDIÁRIO – Banco e Cava Longitudinais Domínio Refletivo Zona de Arrebentação Externa Domínio Dissipativo Zona de Arrebentação Interna Banco Externo Zona de Arrebentação Interna Rip Domínio Refletivo INTERMEDIÁRIO – Banco e Praia A Rítmicos Domínio Dissipativo A C A Rip Rip B Domínio Refletivo Rip C D Domínio Dissipativo D B Figura 39 a - Estágios Morfodinâmicos de Praia Dissipativo e Intermediário (Wright & Short 1984) 59 INTERMEDIÁRIO – Bancos Transversais, Correntes de Retorno ondas A C Rip Rip Domínio Dissipativo ondas PM Rip Rip BM A B PM B D BM C D INTERMEDIÁRIO – Crista e Canal/Terraço de Maré Baixa ondas ondas PM BM tterraço A B B REFLETIVO cúspides Figura 39 b - Estágios Morfodinâmicos de Praia Intermediário e Refletivo (Wright & Short 1984) 60 As principais características modais de cada um dos estágios são : XI.1 - Estágio Morfodinâmico de Praia Dissipativo (Fig.40) • A declividade média do perfil na zona de surfe é baixa, em torno de 1º . • Uma larga zona de surfe (10 2 m), causa a dissipação da energia das ondas em direção à praia. As ondas atingem a face da praia com alturas de decímetros. • Caracterizada por apresentar bancos e canais longitudinais. • O relevo submarino é relativamente plano. • A granulometria do sedimento situa-se na faixa da areia fina. • As ondas predominantes são do tipo Deslizante. • Predomina a segregação vertical do fluxo (correntes de fundo). • As correntes de retorno são de intensidade fraca. • O parâmetro ambiental Ω é alto, situando-se entre 6 e 30 • Baixa possibilidade de variação temporal do estágio de praia. • Baixa mobilidade temporal do perfil da zona de surfe. • Grande estoque de sedimento mantido na parte submersa do perfil. Figura 40 - Exemplo típico de praia dissipativa, onde se observa uma larga zona de surfe formada por ondas deslizantes que quebram sobre sucessivos e paralelos bancos longitudinais (sul do delta do Rio São Francisco, fotografia cedida por Dominguez, J.M.L.) 61 XI.2 - Estágio Morfodinâmico de Praia Intermediário (Fig.41) • A declividade do perfil da zona de surfe varia bastante, situando-se entre 1º,5 e 5º,5 • Vários bancos e canais submersos, predominado os bancos oblíquos sobre os longitudinais. • Zona de surfe menos larga que o estágio dissipativo (10 1 m). • Praias com cúspides amplas (101 m a 102 m). • Granulometria do sedimento situa-se na faixa da areia média. • Ondas dos tipos Deslizante e Mergulhante. • Mescla componentes dissipativos e refletivos. • Apresenta correntes longitudinais, e de retorno, com velocidades relativamente elevadas. • O parâmetro ambiental Ω situa-se entre 1 e 6. • Possibilidade média de variação temporal do estágio de praia. • Alta mobilidade temporal do perfil de praia e do perfil da zona de surfe. • Estoques médios de sedimentos, mantidos entre o berma e a zona de arrebentação. Figura 41 - Exemplo de praia intermediária, caracterizada por uma zona de surfe não muito larga, sem o paralelismo das cristas das ondas como é verificado nas praias dissipativas. 62 O estágio morfodinâmico de praia Intermediário é subdividido ainda em quatro outros sub-estágios: XI.2.1 - Banco e Cava Longitudinais • O relevo banco-cava é mais pronunciado do que no estágio Dissipativo. • As ondas incidentes quebram progressivamente sobre o banco, reformam-se na cava e voltam a quebrar abruptamente sobre a face da praia. • Ondas dos tipos Mergulhante e Ascendente. • Reflexão das ondas na face da praia. • Fracas correntes de retorno XI.2.2 - Banco e Cava Rítmicos • O relevo banco-cava é ainda mais pronunciado do que no sub-estágio anterior. • O padrão e o tipo das ondas é semelhante ao sub-estágio anterior. • A face da praia é caracterizada por grandes cúspides (10 2 m) e por embaiamentos. • As correntes de retorno são de intensidade moderada. XI.2.3 - Banco Transversal e Corrente de Retorno • Os bancos quase que se soldam à face da praia e são intercalados por canais por onde fluem fortes correntes de retorno. • É o tipo de praia que oferece o maior risco para os banhistas. • Sobre os bancos as ondas quebram de forma Mergulhante. • Nas áreas intercaladas aos bancos as ondas são do tipo Deslizante. XI.2.4 - Crista Canal ou Terraço de Maré Baixa • Apresenta um terraço plano quase sempre soldado à face da praia. • Na maré baixa predominam condições dissipativas sobre o terraço. • Na maré alta predominam condições refletivas sobre a face da praia. • Fracas correntes de retorno. 63 XI.3 - Estágio Morfodinâmico de Praia Refletivo (Fig. 42) • A ação das ondas se restringe a uma faixa muito estreita da face da praia. • Declividade da face da praia ≥ 6º. • As ondas tendem a ser refletidas de volta para o mar. • É comum a existência de pequenas cúspides. • A topografia submarina é plana, com freqüentes marcas onduladas de correntes. • Estreita zona de surfe ( 101 m). • Granulometria do sedimento situa-se na faixa da areia grossa. • Ondas dos tipos Ascendente e Frontal. • O parâmetro ambiental Ω é baixo, situando-se entre 0 e 1 • Alta possibilidade de variação temporal do estágio de praia. • Baixa mobilidade temporal do perfil da zona de surfe. • Baixo estoque de sedimento, acumulado na parte exposta do perfil. Figura 42 - Exemplo de praia refletiva, onde se observa a existência de uma estreita zona de surfe localizada bem próxima à face da praia 64 XII - METODOLOGIA XII.1 - Levantamento dos Registros de Acidentes Foram disponibilizados pela SALVAMAR os registros mensais dos acidentes ocorridos entre os anos de 1994 e 2000, que totalizam 10.697 ocorrências e que permitem traçar a distribuição temporal destes ao longo do ano. Entre 1997 e 2000, este órgão relacionou os acidentes às praias nas quais ocorreram, permitindo observar a sua distribuição espacial ao longo da linha de costa. A freqüência mensal foi então adotada como referência para todos os outros parâmetros ambientais e urbanos que mantêm relações com os acidentes, como a direção/velocidade/freqüência dos ventos costeiros, as taxas de insolação/precipitação e as condições de balneabilidade. XII.2 - Levantamento do Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador Não existem medições feitas diretamente por equipamentos a cerca da altura, período e direção das ondas incidentes de alto-mar sobre a costa atlântica de Salvador. Um método que já foi empregado por outros autores (Bittencourt et al. 2000, Silva et al. 2001) e que aqui é adotado, utiliza da altura e do período das ondas visualmente observados em alto-mar a partir de navios, plataformas de exploração de petróleo, etc, (US Navy 1978), e conjuga-os às quatro direções predominantes de ventos que sopram sobre o oceano, medidos principalmente a partir de navios e estações meteorológicas costeiras (DHN 1993). XII.3 - Levantamento das Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da Zona de Surfe Para classificar as praias de acordo com o modelo de estágios morfodinâmicos de praias (Wright & Short 1984) aqui adotado, e também para localizar as principais correntes de retorno que apresentam uma disposição espacial relativamente fixa, ao longo do tempo, foi executado um levantamento dos bancos, canais, depressões, afloramentos rochosos, cúspides, desembocaduras de rios, tipo e altura de quebra das ondas e, quando possível, feita uma estimativa da largura das zonas de surfe. Para tanto, foram inicialmente interpretadas 51 ortofotos-aéreas, na escala de 1:8.000, geradas em agosto de 1998 para a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia – CONDER. Em seguida, entre novembro de 1999 e janeiro de 2001, foram realizados vários caminhamentos ao longo da linha de costa, no mais das vezes acompanhado de 65 membros da SALVAMAR, quando foram visualmente registradas e estimadas as diversas feições acima mencionadas. Neste período percorreu-se todas as praias em repetido número de vezes, que variou de acordo com o grau de complexidade morfodinâmica e com o potencial de risco para o banho de cada praia. Procurou-se levantar os dados durante as diferentes condições meteorológicas e hidrodinâmicas que caracterizam as quatro estações do ano, com uma concentração maior no verão e na primavera, por representarem épocas mais propícias para o banho de mar e quando ocorre a maior parte dos acidentes. Todas as medidas geradas neste levantamento foram estimadas visualmente, com exceção da extensão das praias que foi extraída das ortofotos-aéreas, com escala controlada. Algumas feições levantadas, como afloramentos de rochas cristalinas, bancos de arenito, desembocaduras de rios e correntes de retorno espacialmente fixas, foram lançadas, in loco, sobre os “overlays” previamente fotointerpretados. A geomorfologia submersa foi quase sempre inferida a partir do posicionamento e padrão de quebramento das ondas, método utilizado por vários autores (Komar 1998), às vezes também por mergulhos e também pela experiência dos salva-vidas e do próprio autor. As direções das correntes longitudinais e de retorno foram obtidas, principalmente, com a utilização de flutuadores, através também de fotointerpretação e, em praias mais extensas, com a ajuda dos diagramas de refração de ondas, além de serem discutidas com os membros da SALVAMAR. A intensidade, ou velocidade destas correntes, foi estimada qualitativamente e está baseada num conjunto de três diferentes critérios: i) comparação visual entre o deslocamento dos flutuadores dentro das correntes nas diversas praias com o deslocamento cronometrado do mesmo tipo de flutuador em correntes de retorno bem definidas, localizadas nas praias da Caveira e do Flamengo (Anexo I) (Tabela XV); ii) relação direta entre a velocidade destas correntes e a altura de quebra das ondas, visualmente estimadas; iii) depoimento dos salva-vidas. Os resultados gerados por estes três critérios de estimativa foram então divididos em duas categorias de intensidade, ou seja: uma intensidade forte que pode transportar a maioria dos banhistas, causando acidentes, e uma intensidade fraca que pode ser vencida pela maioria dos banhistas. Algumas das feições geomorfológicas submersas foram lançadas, quando possível, sobre os “overlays”. 66 Foi medida a declividade da zona de espraiamento, em pontos que refletiam uma boa representatividade da praia como um todo. Nestes mesmos pontos, foram coletadas amostras de sedimentos para análise granulométrica. Foi realizado um sobrevôo, a cerca de 470 m de altura e a uma velocidade média de 130 km/h, durante a baixa-mar, em fevereiro de 2001, com os objetivos principais de estimar as taxas de freqüência pública das praias e de registrar feições geomorfológicas submersas e plumas produzidas por correntes de retorno. Com as ortofotos-aéreas foi gerado um mosaico georeferenciado pelo software ER MAPPER 6.0 sobre o qual as correntes de retorno levantadas foram editadas com o software Arc View 3.2. Os resultados deste levantamento, impressos na escala 1:20.000, foram apresentados e discutidos com cerca de 40 salva-vidas da SALVAMAR. XII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento Com o objetivo de comparar a distribuição da granulometria dos sedimentos da zona de espraiamento com os diversos estágios morfodinâmicos praiais, foram coletadas 39 amostras de sedimentos, durante os diferentes caminhamentos feitos ao longo das praias. Em cada uma destas, a depender do seu comprimento, foi obtida uma ou mais amostras, contendo cerca de 400 grs. de sedimentos, retirados entre a superfície e aproximadamente 10 cm de profundidade, na zona de espraiamento, aproximadamente na ilnha da maré média (Anexo I). Em seguida, no laboratório, foram efetuados os seguintes procedimentos : - Retirada do sal, com a utilização de água destilada; - Secagem em estufa a uma temperatura de 50 ºC; - Quarteamento manual; - Pesagem em balança digital, separando aproximadamente 100g de cada amostra; - Agitação mecânica, onde cada amostra foi disposta em um jogo de 12 peneiras com aberturas de 1/2 phi, de acordo com a escala de classificação de Wentworth (1922 apud Reineck & Singh 1980), variando de - 2 a 4 phi, por 10 minutos; - Pesagem do conteúdo de cada peneira e acondicionamento em sacos com a identificação da amostra e da fração granulométrica correspondente. Os resultados foram processados com o software SYSGRAN, método Folk & Ward (1957), fornecendo valores da média, classe granulométrica e teores de cascalho, areia e silte. 67 XII. 5 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Como já foi mencionado, a determinação dos estágios morfodinâmicos praiais está baseada no modelo proposto por Wright & Short (1984). Para tanto, foram utilizados os dados levantados durante os caminhamentos, quais sejam: as feições geomorfológicas e hidrodinâmicas da zona de surfe, a declividade e a granulometria da zona de espraiamento, além das informações obtidas durante a realização de um sobrevôo. XII.6 - Elaboração de Diagramas de Refração de Ondas Foram elaborados quatro diagramas de refração de ondas, um para cada direção predominante de onda (Bittencourt et al. 2000), sendo que a altura e o período das ondas incidentes de alto-mar foram extraídos do Marine Climatic Atlas of the World, Volume IV (U.S. Navy 1978). As freqüências de incidência dessas direções de ondas foram consideradas como sendo as dos ventos correspondentes que predominam em frente à costa de Salvador, publicadas no Atlas de Cartas Piloto (DHN-Marinha do Brasil 1993). Estas freqüências já foram anteriormente apresentadas na tabela I – item V. A batimetria foi extraída de cartas náuticas publicadas pela Marinha do Brasil, na escala de 1:308.000, cuja menor isóbata é de 10m. Foi feita, todavia, uma interpolação com o software Arc View 3.2, com intervalos de 2,5m, até a isóbata de 5m. Os dados foram processados pelo software MIKE 21, módulo NSW (Nearshore Spectral Waves), com resolução de 50 m, sem considerar os efeitos provocados pela fricção com o fundo, pelos fatos de, além de ser este um fator inexpressivo (Wrigth & Short 1984), não existirem dados a cerca da granulometria do sedimento submerso. XII.7 - Levantamento de Dados Referentes à Direção/Velocidade/Freqüência dos Ventos Costeiros, Insolação e Precipitação Pluvial Junto ao Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, foram adquiridos os dados referentes à direção, velocidade e freqüência dos ventos costeiros, disponíveis apenas para o período de 1997 a 2000. Em relação à insolação e precipitação pluvial, os mesmos foram obtidos no site http://www.inmet.gov.br, para o período de 1995 a 2000. Todos estes dados são coletados diariamente às 09:00, 15:00 e 21:00 hs, na estação meteorológica de Ondina, situada a 61 m de altitude e a cerca de 700 m recuados da linha de costa, defronte à praia de Ondina (Anexo I), na cidade de Salvador. 68 XII.8 - Levantamento de Dados Referentes à Amplitude das Marés Foram obtidos, para o período compreendido entre os anos de 1994 e 2000, a partir do software WX Tide 32, de registro livre no site http://www.wxtide32.com XII.9 - Levantamento de Dados Referentes às Condições de Balneabilidade O Centro de Recursos Ambientais – CRA, forneceu os dados relativos à poluição orgânica das praias, para o período 1997-2000, que são calculados através da determinação da densidade de coliformes fecais presentes na água do mar, resultantes da presença de esgotos sanitários, rios ou redes de drenagem de águas pluviais. A amostragem é semanal e os resultados classificam a praia como Própria ou Imprópria. XII.10 - Levantamento das Condições de Acesso às Praias Estas condições foram estabelecidas a partir de observações feitas nos próprios locais, quando foram consideradas as condições de acesso para veículos particulares, para transportes coletivos e para pedestres. Foram então estabelecidos quatro tipos de acessos, com as suas respectivas pontuações (Tabela II). Tipo de Acesso Características Ruim Difícil acesso p/ o pedestre. Não há acesso para veículos. Não há grande disponibilidade de transporte público. Pequena área de Regular estacionamento para veículos particulares. Facilidade de transporte público. Bom Sem grandes áreas de estacionam ento para veículos particulares. Disponibilidade de transporte público e de estacionamento para veículos Muito bom particulares. Facilidade de acesso para pedestres Pontuação 1 2 3 4 Tabela II - Tipos de acesso às praias XIII - RESULTADOS XIII.1 - Registros de Acidentes – O que Revelam No período entre 1994 e 2000 foram registradas cerca de 10.697 operações de salvamento (Tabela III). Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 N.º de acidentes 1.561 1.594 2.172 1.598 963** 1.463 1.346 Tabela III - Distribuição anual do número de acidentes registrados dentro do período 1994-2000 (SALVAMAR). 69 Como se pode observar nesta tabela, houve no ano de 1998 um número de acidentes registrados bem inferior aos verificados nos outros anos. Tal fato deveu-se à paralisação parcial no ato de registrar os acidentes, por parte dos salva-vidas, durante os meses de outubro e novembro deste ano, em função de reivindicações trabalhistas, embora um número muito maior de resgates tivesse sido efetivamente realizado. Tal ato gerou uma subnumeração que foi aqui corrigida pelo Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas (Murteira 1990), relativas aos meses em questão e depois totalizadas para o ano de 1998. Consistiu portanto dos seguintes cálculos (Tabelas IV e V): Y = a + bx + cx2 “Y“ (acidentes registrados no mês de outubro) (equação da parábola) 0 205 205 = a + 0b + 0 c 1995 1 606 606 = a + b + c 1996 2 540 540 = a + 2b + 4c 1997 3 158 158 = a + 3b + 9c 1998 4 Parcialmente registrados --- 1999 5 227 227 = a + 5b + 25c 2000 6 240 240 = a + 6b + 36c Ano “X“ 1994 2 Tabela IV - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas (Murteira 1990), utilizado para corrigir a subnumeração dos registros de acidentes relativos ao mês de outubro de 1998. Y = a + bx + cx2 “Y“ (acidentes registrados no mês de novembro) (equação da parábola) Ano “X“ 1994 0 216 216 = a + 0b + 0 c 1995 1 96 96 = a + b + c 1996 2 170 170 = a + 2b + 4c 1997 3 275 275 = a + 3b + 9c 1998 4 Parcialmente registrados --- 1999 5 160 160 = a + 5b + 25c 2000 6 142 142 = a + 6b + 36c 2 Tabela V - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas (Murteira 1990), utilizado para corrigir a subnumeração dos registros de acidentes relativos ao mês de novembro de 1998. Foram então encontrados os valores de 329 e 215 acidentes para os meses de outubro e novembro de 1998, respectivamente, o que atribui um valor total para este ano de 1.367 acidentes e de 11.101 acidentes para o total do período analisado neste trabalho 70 que corresponde ao intervalo compreendido entre os anos de 1994 e 2000. Desta forma, todas as análises feitas adiante considerarão estes ajustamentos. Os meses que apresentam as maiores incidências de acidentes registrados, são, em ordem decrescente, outubro, setembro e janeiro, com médias de 329, 199 e 192, que eqüivalem a 20,8% ; 12,6% e 12,1% do total, respectivamente, enquanto que os que registraram as menores incidências são abril, maio e junho, com 55, 39 e 36, respectivamente (Tabela VI, Fig. 43). Pode-se observar então que há uma nítida concentração de acidentes verificados durante a primavera – considerando-se aqui que esta estação engloba totalmente os meses de setembro, outubro e novembro, uma vez que a apresentação dos dados, por parte da SALVAMAR, é mensal. Portanto a média de acidentes que é verificada na primavera, é de cerca de 710 registros, que correspondem a 44,8% do total anual, enquanto que durante o verão, aqui considerado como englobando totalmente os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, esta média é de 483 acidentes, ou 30,5% do total, no outono esta média é de 11,1% e no inverno de 13,6% (Tabela VI). Estes resultados surpreendem pelo fato de ser o verão a estação que detém a maior freqüência de banhistas em Salvador. Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Total Média Mensal Média Mensal (%) Média de cada estação Número de Acidentes Mai. Jun. Jul. Ago. Set. 105 77 188 70 194 47 8 28 194 233 11 58 222 66 126 25 56 100 45 156 42 4 26 75 145 27 26 93 68 401 14 25 51 35 139 271 254 708 553 1.394 Dez 56 98 313 86 86 117 124 880 Jan. 121 151 205 274 136 154 306 1.347 Fev. 174 61 279 227 122 123 169 1.155 Mar 71 35 146 95 101 34 90 572 Abr. 84 37 36 101 86 33 11 388 126 192 165 82 55 39 36 101 79 7,9 12,1 10,4 5,2 3,5 2,4 2,3 6,4 5,0 Verão 30,5% Outono 11,1% Inverno 13,6% Out. 205 606 540 158 329 227 240 2.305 Nov. 216 96 170 275 215 160 142 1.274 199 329 182 12,6 20,8 11,5 Total 1.561 1.594 2.172 1.598 1.367 1.463 1.346 11.101 Primavera 44,8% Tabela VI - Distribuição mensal dos registros de acidentes verificados durante o período de 1994 a 2000, suas respectivas participações relativas e médias sazonais. 71 350 primavera 250 cidentes Número de a 300 verão 200 150 100 50 0 Figura 43 - Médias mensais de acidentes registrados no período 1994-2000, na área estudada. No período entre 1997 e 2000 a SALVAMAR registrou 5.774 acidentes, quando indicou também, diferentemente dos registros relativos ao período 1994-1997, as praias nas quais estes ocorreram. Observa-se então que as praias onde foram registrados os maiores números de acidentes foram Jaguaribe (32,4%), Piatã (22,5%), Armação (6,6%) e Farol da Barra (5,8%) (Tabela VII) (Anexo I). Setor 4 3 (parte externa) 3 (parte interna) 2 1 Praia Percentual Médio de Acidentes Aleluia 1,8% Stella Maris Flamengo 4,2% 3,8% Pedra do Sal 1,1% Camping 0,8% Farol de Itapuã 5,1% Sereia 0,4% Placafor 0,2% Piatã 22,5% Jaguaribe 32,4% Patamares Artistas 3,0% 4,4% Pituaçú 1,0% Corsário Armação 1,3% 6,6% Pituba 0,3% Amaralina 0,4% Rio Vermelho 0,1% Ondina 4,8% Farol da Barra 5,8% Tabela VII - Distribuição dos percentuais médios de acidentes registrados entre 1997 e 2000 nas praias patrulhadas pela SALVAMAR (para a localização das praias, ver o anexo I). 72 XIII.2 - Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador Como já foi mencionado anteriormente, o clima de ondas local é derivado da incidência dos ventos alísios de leste, sudeste e nordeste, além daqueles trazidos pelas frentes-frias de sul-sudeste, cujas freqüências médias anuais já foram apresentadas na tabela I. A tabela VIII, apresentada a seguir, mostra as freqüências médias mensais consideradas como representativas da incidência dessas ondas, conforme dados extraídos da DHN (1993), relativos aos ventos que as geram, além de suas respectivas alturas em águas profundas (US Navy 1978). As freqüências relativas à direção dos ventos que acompanham as frentes-frias, S1570, são assumidas como aquelas correspondentes aos ventos de S1800 (Bitencourt et al. 2000). Mês Jan Direção Predominante Direção Predominante Direção Predominante Direção Predominante de Onda de Onda de Onda de Onda 0 0 0 0 N 90 N 135 N 45 N 157 Freqüência Altura Freqüência Altura Freqüência Altura Freqüência Altura Média Média em Média Média em Média Média em Média Média em Mensal Águas Mensal Águas Mensal Águas Mensal Águas (%) Profundas (%) Profundas (%) Profundas (%) Profundas 49 1,0 m 14 1,5 m 26 1,0 m 3 1,5 m Fev 49 1,0 m 18 1,5 m 22 1,0 m 3 1,5 m Mar 52 1,0 m 27 1,5 m 12 1,0 m 4 1,5 m Abr 42 1,0 m 33 1,5 m 10 1,0 m 7 1,5 m Mai 35 1,0 m 40 1,5 m 8 1,0 m 11 1,5 m Jun Jul 33 36 1,0 m 1,0 m 50 43 1,5 m 1,5 m 6 5 1,0 m 1,0 m 9 13 1,5 m 1,5 m Ago 45 1,0 m 40 1,5 m 5 1,0 m 10 1,5 m Set Out 49 46 1,0 m 1,0 m 28 20 1,5 m 1,5 m 14 25 1,0 m 1,0 m 7 5 1,5 m 1,5 m Nov 40 1,0 m 12 1,5 m 35 1,0 m 3 1,5 m Dez 40 1,0 m 10 1,5 m 37 1,0 m 3 1,5 m Tabela VIII - Freqüência média mensal das quatro direções predominantes de ventos geradores de ondas e suas respectivas alturas em alto-mar, ao longo do ano, na área estudada (DHN 1993). As ondas de leste incidem, em média, durante cerca de 42% do ano, sendo de todas a direção que predomina (DHN 1993). Apresentam alturas em alto-mar aproximadamente de 1,0 m e período de 5,0 s (US Navy 1978). São freqüentes durante todo o ano e mais concentradas nos meses de janeiro a abril e de agosto a dezembro, quando é a direção que predomina (DHN 1993) (Tabela VIII). De acordo com as fórmulas apresentadas abaixo, começam a interagir com o fundo a uma profundidade de cerca de 20 m e quebrar a partir de 1,3 m, aproximadamente. 73 L0 = gT2 / 2π = ± 40 m (Komar 1998) h = L0 / 2 = ± 20 m (Trenhaile 1997) hb = H 0 / 0,78 = ± 1,3 m (Munk & Traylor 1947) As ondas de sudeste incidem em média durante cerca de 30% do ano (DHN 1993), com altura e período em alto-mar de 1,5 m e 6,5 s (US Navy 1978), predominantemente. São também freqüentes durante todo o ano, mas só predominam durante os meses de maio, junho e julho (DHN 1993) (Tabela VIII). Começam a interagir com o fundo a uma profundidade em torno de 33 m e quebrar a partir de 1,9 m. As ondas de nordeste ocorrem durante cerca de 16% do ano, principalmente a partir do final da primavera e durante o verão, nos meses de outubro a fevereiro (DHN 1993) (Tabela VIII). Apresentam alturas em alto-mar predominantemente de 1,0 m e período de 5,0 s (US Navy 1978). Começam a interagir com o fundo acerca da isóbata de 20 m e quebram a partir de uma profundidade de 1,3 m, aproximadamente. As ondas de sul-sudeste ocorrem durante cerca de 6% do ano, trazidas pelas frentes-frias de outono/inverno, são mais freqüentes nos meses de maio a agosto (DHN 1993) (Tabela VIII). São observadas alturas predominantes em alto-mar de 1,5 m, com 6,5 s de período (US Navy 1978). Começam a interagir com o fundo a uma profundidade em torno de 33 m e quebrar a partir de 1,9 m, aproximadamente. XIII.3 - Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da Zona de Surfe Como já foi mencionado, este levantamento objetivou fornecer elementos que possibilitassem classificar os diversos estágios morfodinâmicos praiais verificados na área estudada, e que serão descritos detalhadamente a seguir, além de localizar as principais correntes de retorno aí atuantes, tanto as que apresentam um posicionamento espacial relativamente fixo ao longo do tempo, quanto as que possuem um caráter transitório no seu posicionamento, podendo ser visualisadas nos Anexos I, II, III e IV. De uma forma geral, percebe-se que na costa atlântica de Salvador, o clima de ondas normalmente gera correntes longitudinais que fluem de NE para SW, o que está de acordo com a direção da deriva litorânea observada por Bittencourt et al (2000), com as correntes de retorno fluindo geralmente para SE. As ondas de sudeste ocasionalmente invertem o fluxo das correntes longitudinais no Setor 4 e na parte externa do Setor 3 (Anexo II), quando fluem de SW para NE, retornando para leste/sudeste. As ondas de sulsudeste quase sempre invertem o fluxo destas correntes no Setor 4, na parte externa do 74 Setor 3 e ocasionalmente no Setor 2, fluindo também de SW para NE e retornando para leste/sudeste (Anexo IV). Muitas vezes o retorno é controlado pela presença de afloramentos rochosos, emersos e/ou submersos, que são freqüentes nas praias de Salvador e que desviam o fluxo em retorno ao ponto de arrebentação (Anexos I, II, III e IV). A velocidade destas correntes é proporcional à altura de quebra das ondas incidentes, sendo mais intensas entre os meses de maio e outubro, e, como já citado, são responsáveis pela maioria dos acidentes envolvendo banhistas dentro da zona de surfe. Observações visuais da geomorfologia e do padrão de quebra das ondas, bem como em monitoramento realizado por Farias et al (1985) na praia de Armação, situada na costa atlântica de Salvador, permitem perceber que durante a primavera e o verão, de uma maneira geral, o transporte sedimentar é feito em direção à face da praia, culminando no verão com a junção do banco interno à face da praia, quando a menor declividade é então verificada nesta parte do perfil. Durante o outono e o inverno, o transporte sedimentar se dá, de uma maneira ger al, da face da praia em direção ao ponto de arrebentação, com a formação, ou com o crescimento do banco externo, e o conseqüente aumento na declividade da face da praia. É também verificada a existência de perfis suaves e planos no verão, que contrastam com relevos ondulados, formados por bancos e canais, no inverno, enquanto que a primavera e o outono exibem formas intermediárias. Até mesmo informações mais indiretas mostram que há uma migração do sedimento na direção ortogonal à face da praia, dentro da zona de surfe. Os pescadores sabem que determinados animais, como os polvos, por exemplo, desaparecem da zona de arrebentação no inverno porque as rochas em que habitam tornam-se cobertas por sedimentos, sedimentos estes que foram retirados da face da praia. Já no final da primavera e início do verão, estes animais começam a retornar para a zona de arrebentação, a fim de reocupar suas antigas habitações que tornaram a ficar expostas. Este comportamento dos polvos, e de outros animais marinhos, como lagostas e determinados peixes, é localmente conhecido como “arribação”. XIII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento das Praias Estudadas Os sedimentos da zona de espraiamento são compostos quase que exclusivamente de areia, com mais de 99%. Cerca de 53,9% das praias são constituídas por areias de granulometria média, 28,2% de granulometria fina e 17,9% de granulometria grossa (Tabela IX). 75 Areia fina Cascalho % 0,00 Areia % 100,00 Silte % 0,00 2,26 Areia fina 0,00 99,99 0,01 1,81 Areia média 0,02 99,98 0,00 4 1,63 Areia média 0,00 99,99 0,01 5 1,36 Areia média 0,00 100,00 0,00 6 1,06 Areia média 0,13 99,87 0,00 Catussaba 7 1,11 Areia média 0,00 100,00 0,00 Caveira 8 0,91 Areia grossa 0,04 99,96 0,00 Praia Amostra Média (phi) Fração Aleluia 1 2,11 Aleluia 2 Stella Maris 3 Stella Maris Flamengo Flamengo 9 0,67 Areia grossa 0,85 99,15 0,00 10 0,96 Areia grossa 0,00 100,00 0,00 Farol de Itapuã 11 0,86 Areia grossa 0,10 99,90 0,00 Rua K 12 1,85 Areia média 0,00 99,38 0,62 Porto 13 1,87 Areia média 0,00 99,99 0,01 Sereia 14 2,16 Areia fina 0,00 99,99 0,01 Placafor 15 2,05 Areia fina 0,00 99,99 0,01 Piatã 16 2,69 Areia fina 0,00 99,99 0,01 Piatã 17 2,61 Areia fina 0,00 99,99 0,01 Jaguaribe 18 2,47 Areia fina 0,00 99,99 0,01 Mordomia 19 2,01 Areia fina 0,00 100,00 0,00 3ª Ponte Norte 20a 1,70 Areia média 0,04 99,96 0,00 3ª Ponte Sul 20b 1,50 Areia média 0,07 99,93 0,00 Patamares 21 1,51 Areia média 0,04 99,96 0,00 Artistas 22 2,34 Areia fina 0,00 100,00 0,00 Artistas/Aratubaia 23 2,19 Areia fina 0,00 99,99 0,01 Armação norte 24 1,48 Areia média 0,20 99,80 0,00 Armação centro 25 1,73 Areia média 0,00 100,00 0,00 Armação sul 26 1,00 Areia grossa 0,02 99,98 0,00 Jd. Namorados 27 0,90 Areia grossa 0,07 99,93 0,00 Pituba norte 28 1,77 Areia média 0,00 99,99 0,01 Pituba sul 29 1,58 Areia média 0,06 99,94 0,00 Amaralina 30 1,29 Areia média 0,01 99,99 0,00 Buracão 31 0,86 Areia grossa 0,01 99,99 0,00 Santana Pedra do Sal Porto do Leocádio 32 1,02 Areia média 0,03 99,95 0,02 Paciência 33 1,59 Areia média 0,00 100,00 0,00 Rio Vermelho 34 1,32 Areia média 0,03 99,95 0,02 Bacia das Moças 35 1,45 Areia média 0,00 100,00 0,00 Ondina 36 1,88 Areia média 0,00 100,00 0,00 Paquera 36-a 1,48 Areia média 0,00 100,00 0,00 Salvador 37 1,42 Areia média 0,35 99,65 0,00 Farol da Barra 38 1,96 Areia média 0,00 100,00 0,00 Tabela IX - Análise granulométrica da zona de espraiamento das praias estudadas (para a localização das praias e das amostras ver o Anexo I). 76 XIII.5 - Diagramas de Refração de Ondas XIII.5.1 - Ondas de Leste – N90º Este diagrama (Fig. 44) mostra que há uma grande redução na altura destas ondas dentro do Setor 1 e também na parte interna à enseada de Itapuã, no Setor 3. No Setor 1, isto se deve, de uma maneira geral, ao fato de os ângulos, formados entre as frentes-deonda incidentes de alto-mar e a batimetria (α 0) (Anexo I), serem quase que ortogonais entre sí. Na parte interna do Setor 3, além de ocorrer aproximadamente este mesmo efeito, existe ainda a grande proteção que a ponta de Itapuã exerce sobre este trecho costeiro, gerando aí uma zona de sombra. Nos Setores 2 e 4, os ângulos menores, entre as frentes-de-onda e a batimetria, causam uma menor refração, reduzindo menos a altura das ondas. São verificadas sobreelevações isoladas , causadas pela convergência dos raios-de-onda contra pontos avançados da linha de costa, como nas praias do Jardim dos Namorados (Setor 2) e Aleluia (Setor 4). Setor 4 Aleluia Setor 3 Setor 2 Baía de Todos os Santos Ponta de Itapuã Jardim Namorados Setor 1 raios -de-onda em alto -mar N Altura de ondas 0 3 km <0,5 0,5 – 0,7 0,7 – 1 >1 m Figura 44 - Diagrama de refração das ondas incidentes de leste na costa atlântica de Salvador (N90º) 77 XIII.5.2 - Ondas de Sudeste – N135º Este diagrama de refração (Fig. 45) mostra que a altura das ondas incidentes de alto-mar é bastante preservada dentro dos setores 2 e 4 e na parte externa do Setor 3, mantendo-se entre 1,0 e 1,5 m, em função dos baixos ângulos formados entre as frentesde-onda e a batimetria (α 0) (Anexo II). Em determinados pontos avançados da linha de costa, ocorre uma sobreelevação na altura, o que se verifica na “Pedra que Ronca”, situada em Itapuã, entre as praias de Piatã e Placafor, nas praias do Jardim dos Namorados e Pituba e na ponta de Itapuãzinho (em vermelho na Fig. 45). Na quase totalidade do Setor 1 e na parte interna do Setor 3 há redução na altura das ondas, em função dos maiores ângulos formados entre as frentes-de-onda e a batimetria (Anexo II), que aumentam os efeitos da refração. Setor 4 Piatã/Placafor 0 Pedra que Ronca Setor 2 Jardim Namorados Baía de Todos os Santos Setor 3 3 km Setor 1 raios -de-onda em alto-mar Pituba Ponta de Itapuãzinho N Altura de ondas 0,5 0,5 – 1 1 – 1,5 >1,5 m Figura 45 - Diagrama de refração das ondas incidentes de sudeste na costa atlântica de Salvador (N135º) XIII.5.3 - Ondas de Nordeste – N45º Os altos ângulos, formados entre as frentes-de-onda de nordeste e a batimetria (Anexo III), em todos os setores, dispersa a energia, reduzindo a altura das ondas. Além disso, as pontas de Itapuãzinho e de Itapuã protegem grandes segmentos da linha de 78 costa contra a incidência destas ondas, formando extensas zonas de sombra nos setores 1 e 2, respectivamente, resultando nas menores alturas de quebra verificadas durante todo o ano na costa atlântica de Salvador (Fig. 46). Setor 4 Setor 3 0 3 km Ponta de Itapuã Setor 2 Baía de Todos os Santos Setor 1 Ponta de Itapuãzinho raios -de-onda em alto-mar N Altura de ondas <0,2 0,2 – 0,5 0,5 – 0,7 0,7 - 1m Figura 46 - Diagrama de refração das ondas incidentes de nordeste na costa atlântica de Salvador (N45º) XIII.5.4 - Ondas de Sul-Sudeste – N157º Estas ondas atingem quase que frontalmente toda a linha de costa, sofrendo muito pouco os efeitos da refração (Fig. 47), resultando assim nas maiores alturas de quebra verificadas na costa atlântica de Salvador. Os mesmos pontos avançados da linha de costa, mencionados na descrição do diagrama de refração das ondas de sudeste, ou seja, a “Pedra que Ronca”, em Itapuã, a pequena ponta que separa as praias de Piatã e Placafor, as praias do Jardim dos Namorados e Pituba e a ponta de Itapuãzinho (Fig. 47), provocam a convergência dos raios-de-onda com uma conseqüente sobreelevação na 79 altura destas. As alturas de ondas visualmente observadas durante a realização deste trabalho, neste período, foram significativamente maiores do que as obtidas a partir do diagrama de refração, alcançando em muitas praias a marca de 3 m, como por exemplo em Jaguaribe, Stella Maris e Aleluia (Fig. 47). Stella Maris-Aleluia Setor 4 0 3 km Setor 3 Jaguaribe Setor 2 Pituba Piatã/Placafor Pedra que Ronca Jardim Namorados Setor 1 raios -de-onda em alto-mar N Itapuãzinho Altura de ondas 0,5 – 1 1–2 >2 m Figura 47 - Diagrama de refração das ondas incidentes de sul-sudeste na costa atlântica de Salvador (N157º) XIII.6 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Uma característica comum à maioria das praias da costa atlântica de Salvador é a ocorrência freqüente de afloramentos rochosos, emersos e submersos, tanto na parte subaérea da praia como na zona de surfe, principalmente nos setores 1 e 3 da linha de costa (Figs. 7, 8, 9, 10, 12, 13 e 15). Os afloramentos submersos podem provocar mudanças na posição do ponto de arrebentação, bem como interferir nos padrões de refração das ondas, e mesmo induzir difração. Interferem assim, na morfodinâmica da zona de surfe, principalmente, e no desenvolvimento da praia como um todo, dificultando, quando ocorrem, a aplicação do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais, proposto por Wright & Short (1984), e aqui adotado. Exemplos bem marcantes são encontrados na maioria das praias, como por exemplo: Farol da Barra (Fig. 48), Salvador Praia Hotel (Fig. 49), Paquera (Fig. 50), Ondina (Fig. 51), Bacia das Moças (Fig. 80 52), Rio Vermelho (Fig. 53), Paciência (Fig. 54), Sant’ana (Fig. 55), Buracão (Fig. 56), Pituba (Fig. 58), Mordomia (Fig. 66), Placafor-Sereia (Fig. 69), Porto (Fig. 71), Rua K (Fig. 73), Farol de Itapuã (Fig. 74), Porto de Leocádio (Fig. 75), Pedra do Sal (Fig. 76), Caveira (Fig. 78), Catussaba (Fig. 79) e Flamengo (Fig. 80). É importante salientar que as características aproximadas das ondas e correntes na zona de surfe e na face da praia, descritas adiante para cada uma das praias analisadas, não refletem exatamente aquelas que podem ser deduzidas a partir dos diagramas de refração de ondas anteriormente descritos. Isto porque estes diagramas referem-se ao clima de ondas projetado até a isóbata de 5,0 m, bem como pelo fato de as informações relativas à batimetria, a partir do qual eles foram gerados, terem sido extraídas de cartas náuticas com escala aproximada de 1:300.000, escala esta bem menor do que aquela em que foram observadas individualmente as praias. Desta forma, as descrições das características das ondas e correntes feitas a seguir foram baseadas fundamentalmente nas avaliações feitas diretamente durante as visitas às praias e também com o apoio das informações fornecidas pelos salva-vidas. Também deve-se levar em conta que, nas descrições seguintes, as menções às direções das ondas incidentes ao longo da costa como sendo de nordeste, leste, sudeste e sul-sudeste não têm um caráter estrito, referindo-se apenas às direções estimadas na observação visual feita em relação ao comportamento das mesmas ao largo, após a zona de surfe, o que os diagramas de refração constantes nos anexos de I a IV dão uma indicação aproximada. Nas avaliações qualitativas efetuadas em relação à intensidade das correntes de retorno, conforme mencionado anteriormente, considerou-se como “fracas” aquelas que, nas estimativas feitas diretamente, com a utilização dos flutuadores e com o auxílio dos salva-vidas, não se constituem em perigo para os banhistas, no sentido de que podem ser facilmente vencidas pelos mesmos, o contrário caracterizando uma corrente aqui considerada como sendo “forte”. Será constatado que alguns trechos costeiros não são descritos adiante, uma vez que não oferecem riscos de acidentes, porque, embora com praias arenosas presentes, têm na sua frente uma contínua barreira de afloramentos rochosos contíguos à praia, que impedem o banho. Tal é o caso, por exemplo, do trecho situado entre as praias do Catussaba e Flamengo (Anexo I). Por outro lado, será observado que, por dificuldades técnicas, os limites das fotos oblíquas obtidas no sobrevôo relativas às praias aqui analisadas não coincidem exatamente com os limites definidos nas ortofotos-aéreas apresentadas nos anexos de I a IV. 81 Os anexos I, II, III e IV auxiliam na localização das praias e também no posicionamento das correntes geradas dentro da zona de surfe, pelas quatro direções predominantes de ondas incidentes de alto-mar. Setor 1 É representado por uma linha de costa rochosa (Figs. 7, 8, 9, 12 e 13), na qual despontam poucas praias, muitas do tipo enseada. Sua direção geral E-W o protege totalmente das ondas de nordeste, e parcialmente das de leste, expondo-o quase que frontalmente às ondas de sudeste e principalmente às de sul-sudeste (Figs. 46, 44, 45 e 47 – anexos III, I, II e IV, respectivamente). XIII.6.1 - Praia do Farol da Barra Morro do Cristo S pequena barra submersa N corrent de retorno bancos de arenito Figura 48 - Praia do Farol da Barra (Anexo I) Esta praia apresenta vários afloramentos rochosos emersos e submersos, constituídos por rochas cristalinas precambrianas e também por bancos de arenitos de idade quaternária. Estes últimos estão mais concentrados parte central da Figura 48, apresentam -se com cerca de 40 m de largura e, em especial durante a baixa-mar, atenuam bastante o impacto das ondas sobre a face da praia, sendo totalmente submersos durante a preamar. Os afloramentos rochosos, como um todo, ocupam cerca 82 de três quartos do comprimento total da praia, que é de aproximadamente 617 m. Na pequena parte livre de afloramentos rochosos, com cerca de 150 m de comprimento, a ocorrência de cúspides é rara e quando ocorrem são curtas (100 m) e mal definidas, existindo ainda uma pequena barra submersa, com cerca de 60 m de largura, aproximadamente, que é formada eventualmente na parte central deste segmento, como produto da saída de um pequeno córrego. A declividade da zona de espraiamento, medida no trecho livre da praia, foi de 6º. A granulometria do sedimento da zona de espraiamento situa-se na faixa da areia média (Tabela IX, AM-38). Os tipos predominantes de ondas são Mergulhante e Frontal e a zona de surfe geralmente mede cerca de 50 m de largura. As ondas de leste e sudeste geralmente quebram com alturas entre 0,5 e 1,0 m, respectivamente. A refração induzida no centro da zona de surfe, pela pequena barra submersa, provoca uma convergência dos raios-de-onda, fazendo com que estas quebrem com sentidos quase que opostos, algumas de leste para oeste e outras de oeste para leste. Como a direção original das ondas incidentes vem do quadrante sudeste, o volume d'água retorna então pelo lado oeste da praia, com intensidade fraca, quando as ondas são de leste e com intensidade forte, quando estas são de sudeste, escavando um canal ao lado do afloramento de arenito (Fig. 48, anexos I e II). Durante as frentes -frias de outono/inverno, são visualmente observadas ondas de sul-sudeste de até 3,0 m de altura. Nestes períodos, a convergência anteriormente descrita dos raios -de-onda, induzida pela pequena barra submersa, praticamente desaparece. O sentido das correntes longitudinais torna-se de leste para oeste, e o retorno se dá, com forte intensidade, pelo mesmo canal acima descrito, constituindo-se sempre no principal fator de risco para os banhistas (Anexo IV). Ao vários afloramentos rochosos, submersos e semisubmersos na zona de surfe, interferem no padrão hidrodinâmico, inviabilizando a classificação desta praia de acordo com o modelo de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. 83 XIII.6.2 - Praia do Salvador Praia Hotel S N corrente de retorno Figura 49 - Pequena praia situada nos fundos do Salvador Praia Hotel (Anexo I) Pequena praia situada nos fundos deste hotel, no bairro de Ondina. É caracterizada por apresentar vários afloramentos de rochas precambrianas, dispostos ao longo da face da praia. Mede cerca de 56 metros de comprimento. Apresenta declividade de 11º e areia de granulometria média (Tabela IX, AM-37). Encontra-se bastante abrigada da ação das ondas de leste e nordeste, sendo atingida pelas de sudeste e de sul-sudeste. Quando de sudeste, as ondas geralmente quebram com alturas entre 0,5 e 1,0 m, e sob os ventos de sul-sudeste estas alcançam alturas de quebra de até 2,0 m, possivelmente também, como na praia do Farol da Barra, sobreelevadas pelos fortes ventos trazidos pelas frentes-frias. As ondas são predominantemente dos tipos Deslizante e Frontal, gerando correntes longitudinais que fluem de E para W, retornando com forte intensidade pelo lado do afloramento oeste da praia, sendo este o principal fator de risco (Fig. 49, anexos II e IV). A zona de surfe é muito estreita, apresentando a praia características refletivas. Outro elemento de risco é a força de quebra das ondas frontais e o seu conseqüente repuxo. 84 XIII.6.3 - Praia da Paquera corrente de retorno N Figura 50 - Praia da Paquera (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada, com comprimento aproximado de 92 m (Fig. 50), declividade de 11º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-36a). É limitada por dois grandes afloramentos emersos de rochas precambrianas, existindo ainda um outro localizado no centro da face da praia. Praticamente faz parte da praia de Ondina, descrita a seguir, apenas desta separada por um afloramento de rochas precambrianas, que fica exposto durante a baixa-mar. No restante do tempo o mar avança sobre a face da praia, conectando as duas zonas de surfe através de uma estreita passagem, quando isola o afloramento de leste, criando um pequeno tômbolo. A direção da linha de costa, e uma sucessão de pequenos promontórios situados à leste (Anexos I e III, Fig. 50) protegem esta praia da ação das ondas de leste. As ondas de sudeste e de sul-sudeste quebram com alturas entre 0,5 e 1,0 m, respectivamente, e sempre de forma Deslizante, formando então uma zona de surfe com poucas dezenas de metros de largura. Refratam e penetram pelas duas praias gerando correntes que se unem e que retornam pelo canto leste da praia da Paquera, entre o afloramento do centro da praia e o do lado leste, formando uma forte corrente de retorno, com elevado grau de risco para os banhistas (Fig. 50, anexos II e IV). Esta situação só não acontece durante a baixa-mar, quando as correntes de retorno nas duas praias (Paquera e Ondina) têm trajetórias distintas. Em função do grande número de afloramentos rochosos, emersos e submersos, fica comprometida a classificação do estágio morfodinâmico praial. 85 XII.6.4 - Praia de Ondina corrente de retorno N Figura 51 - Praia de Ondina (Anexo I) Praia do tipo enseada, medindo cerca de 208 m de comprimento, com declividade de 10º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-36). Apresenta vários e dispersos afloramentos do precambriano cristalino, submersos na zona de surfe, durante a preamar. As ondas de leste e de sudeste são sempre do tipo Deslizante, quebrando com alturas em torno de 0,5 m, e cerca de 1,5 m, respectivamente, gerando correntes de intensidade fraca, para as ondas de leste e de intensidade forte, para as ondas de sudeste e que retornam pela extremidade oeste da praia, ao lado dos afloramentos rochosos (Fig. 51, anexos I e II). As ondas de sul-sudeste são também do tipo Deslizante e podem atingir alturas mais elevadas, superiores mesmo a 2,0 m, quebrando sobre os afloramentos submersos mais externos, localizados à leste, na zona de surfe e na antepraia. Nestas ocasiões estas ondas geram correntes de forte intensidade que retornam pelo mesmo ponto das acima descritas (Fig. 51, Anexo IV), constituindo-se assim no principal fator de risco. A zona de surfe é muito irregular, resultante do grande número de afloramentos submersos de rochas precambrianas que aí ocorrem e que interferem no padrão morfodinâmico, impedindo a sua classificação segundo o modelo de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. 86 XII.6.5 - Praia da Bacia das Moças S N corrente de retorno Figura 52 - Praia da Bacia das Moças (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada, medindo cerca de 105 m de comprimento e limitada lateralmente por afloramentos de rochas precambrianas, muitos também submersos na zona de surfe e na antepraia (Fig. 52). Apresenta declividade de 6º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-35). A direção da linha de costa e uma sucessão de afloramentos rochosos situados à leste desta praia, a protegem da ação das ondas de leste (Fig. 52, Anexo I). As ondas de sudeste, após sofrerem refração sobre estes afloramentos, se dirigem para a face da praia, quebrando de forma Deslizante, com alturas inferiores à 0,5 m, quando geram correntes de intensidade desprezível que retornam pela posição mostrada na figura 52. O ângulo formado entre as frentes -de-onda de sul-sudeste e os contornos batimétricos dos afloramentos rochosos, provoca uma menor refração, fazendo com que estas ondas quebrem, também de forma Deslizante, com alturas aproximadas de 0,5 m, quando então geram fracas correntes longitudinais que fluem de leste para oeste, retornando pelo lado dos afloramentos rochosos situados na extremidade oeste da praia (Fig. 52, Anexo IV), constituindo-se assim num fator de risco de grau baixo e que só ocorre sob estas condições de ondas. 87 Trata-se de uma praia que, por ser relativamente bem abrigada, quase sem ondas durante a maior parte do ano, não apresenta a premissa básica, no caso as ondas, que seria necessária para enquadrá-la no modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. XII.6.6 - Praia do Rio Vermelho S N corrente de retorno Figura 53 - Praia do Rio Vermelho (Anexo I) Situada imediatamente a leste da Bacia das Moças, é apenas desta separada por um conjunto de afloramentos de rochas precambrianas existente na face da praia (Fig. 53). Mede cerca de 390 m de comprimento, apresenta declividade de 7º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-34). As cúspides são raras e curtas, medindo em torno de 100 m. Afloramentos submersos do precambriano são encontrados na zona de surfe e na antepraia. Pelo fato desta praia ser mais extensa, e por conseguinte menos abrigada que a anterior, os efeitos da refração sobre as ondas na parte central da praia, causados pelos afloramentos rochosos que a limitam, são menores, resultando em alturas de quebra superiores, atingindo cerca de 0,5 m quando sob ondas de leste, 1,0 m sob ondas de sudeste e chegando mesmo a atingir a 2,0 m, sob as condições de ondas de sul-sudeste, quando são sobreelevadas pelos fortes ventos trazidos pelas frentes-frias de outono/inverno. O tipo de onda predominante é o Deslizante e a zona de surfe varia entre 40 e 80 m de largura. 88 As correntes resultantes fluem sempre de leste para oeste e retornam, com fraca intensidade quando as ondas são de leste e com forte intensidade quando de sudeste ou de sul-sudeste, pelo lado leste dos afloramentos rochosos (anexos I, II e IV), afloramentos estes situados no canto oeste da praia, constituindo-se assim no principal fator de risco para os banhistas. A grande ocorrência de afloramentos rochosos submersos na zona de surfe e na antepraia induz à formação de diferentes pontos de arrebentação que interferem no padrão hidrodinâmico da zona de surfe, dificultando o enquadramento desta praia em um dos estágios morfodinâmicos de praia apresentados pelo modelo aqui adotado. XIII.6.7 - Praia da Paciência S N corrente de retorno Figura 54 - Praia da Paciência (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada, limitada por afloramentos de rochas precambrianas (Fig. 54). Apresenta comprimento de aproximadamente 130 m, declividade de 10º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-33). As cúspides, quando ocorrem, são curtas, medindo em torno de alguns metros. São muito freqüentes os afloramentos submersos de rochas precambrianas, na zona de surfe e na antepraia. O cabo do Meridien, situado a leste (Anexo I), protege-a quase que totalmente contra a ação das ondas de leste, quando são verificadas alturas que não atingem a 0,5 m. 89 As ondas de sudeste e de sul-sudeste, ao sofrerem refração, convergem para os afloramentos rochosos laterais, um pouco mais para os situados na parte leste da praia onde sobreelevam aí mais as alturas do que nas da parte oeste, chegando a alcançar 0,5 m pelas ondas de SE e 1,0 m pelas de SSE, resultando na geração de correntes longitudinais que fluem de leste para oeste, retornando com fraca intensidade pelo lado do afloramento rochoso situado a oeste da praia (anexos II e IV). Sob a ação destas ondas, é gerada uma zona de surfe de poucas dezenas de metros de largura, e a praia então apresenta características refletivas, enquanto que no resto do ano praticamente não apresenta ondas. XIII.6.8 - Praia de Sant’ana S N corrente de retorno Figura 55 - Praia de Sant'ana (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada, medindo cerca de 162 m de comprimento e bastante abrigada da ação das ondas por afloramentos rochosos do precambriano (Fig. 55). Apresenta uma declividade de 9º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-32). Praticamente sem ondas durante todo o ano, constitui-se em porto para uma pequena frota de pesca artesanal e em uma das mais calmas praias de toda a costa atlântica de Salvador, embora o alto nível de poluição orgânica, conseqüência do esgotamento sanitário e pluvial, desaconselhem o seu uso para o banho. 90 Como ocorre com a praia da Paciência, a direção da linha de costa e o cabo do Meridien a protegem completamente das ondas de nordeste e de leste, respectivamente (anexos III e I). As ondas de sudeste sofrem forte refração nas vizinhanças deste cabo e também por alguns afloramentos submersos, quebrando de forma deslizante, com alturas inferiores a 0,5 m. As ondas de sul-sudeste, após terem parte de sua energia dissipada por alguns afloramentos rochosos semi-submersos, como o banco da Torrefação (Anexo IV), convergem para os afloramentos emersos que limitam a praia a leste, quebrando com alturas em torno de 0,5 m e gerando correntes que fluem de leste para oeste, quando então retornam, com fraca intensidade, pelo canto oeste da praia, ao lado do outro conjunto de afloramentos emersos, constituindo-se desta maneira no único, e fraco, fator de risco para os banhistas. Em raros episódios de alta energia, quando os fortes ventos trazidos pelas frentes frias do outono/inverno são combinados com preamares de sizígia, estas ondas passam sobre os afloramentos submersos e atingem a face da praia com alturas próximas a 1,0 m. Nestas condições, a praia então desenvolve características refletivas e os fatores de risco, representados pelo repuxo das ondas e por correntes longitudinais e de retorno, têm suas intensidades ampliadas. XII.6.9 - Praia do Buracão corrente de retorno N Figura 56 - Praia do Buracão (Anexo I) 91 Esta pequena praia mede cerca de 170 m de comprimento, apresenta declividade de 8º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-31). A direção da linha de costa e a existência de um promontório situado a leste (Anexos III e I), a protegem das ondas de nordeste e, em parte, das de leste, quando estas últimas alcançam alturas máximas de 0,5 m. As ondas de sudeste, ao sofrerem refração, convergem para o citado promontório e quebram, de forma Deslizante, com alturas em torno de 1,0 m, gerando correntes que fluem de E para W retornando com forte intensidade pela extremidade oeste da praia (Fig. 56), constituindo-se em um importante fator de risco para o banho. As ondas de sul-sudeste se dirigem quase que frontalmente para a face da praia (Anexo IV), sofrendo pouca refração e quebrando, de forma predominantemente Frontal, com alturas que podem alcançar até 2,0 m. Nestas circunstâncias, geram correntes longitudinais, que, assim como sob as ondas de sudeste, fluem de leste para oeste, retornando com forte intensidade pelo canto oeste da praia, constituindo-se no principal fator de risco desta praia. A zona de surfe, desenvolvida por ondas de sudeste e de sulsudeste, varia entre 30 e 50 m de largura. Durante a maior parte do ano esta praia apresenta características refletivas. XIII.6.10 - Praia de Amaralina S corrente de retorno corrente de retorno N corrente de retorno ITAPUÃZINHO Figura 57 - Praia de Amaralina (Anexo I) Esta é a última e mais extensa praia do Setor 1. Mede cerca de 878 m de comprimento e apresenta declividade de 13º, com granulometria de areia média (Tabela 92 IX, AM-30). As cúspides, quando presentes, são curtas, medindo alguns metros. São abundantes os afloramentos emersos e submersos de rochas precambrianas, sobretudo na zona de surfe e na antepraia, gerando diferentes pontos de quebra das ondas. A direção da linha de costa e a existência de um promontório a leste, a ponta de Itapuãzinho (Fig. 57, anexos III e I), a protegem completamente das ondas de nordeste, e em parte das de leste, que quebram de formas Deslizante e Mergulhante, com alturas em torno de 0,5 m, gerando um fraco repuxo a partir da face da praia. As ondas de sudeste, ao se aproximarem da ponta de Itapuãzinho, sofrem refração e convergem para este. A grande extensão da praia permite que parte destas ondas se dirija para a face da praia, quebrando de formas Mergulhante e Frontal, com um pouco mais de 1,0 m de altura e gerando desta forma, tanto correntes longitudinais quanto também um repuxo mais forte a partir da face da praia, constituindo-se no principal fator de risco para os banhistas. As correntes longitudinais fluem de leste para oeste, retornando com fraca intensidade por entre determinados afloramentos rochosos submersos que ocorrem na parte central da zona de surfe. As ondas de sul-sudeste, por apresentarem um ângulo menor de incidência com a batimetria, sofrem menos os efeitos da refração e quebram com alturas de até 2,0 m, em diferentes pontos, de formas Deslizante e Mergulhante, quando então geram um forte repuxo a partir da face da praia, constituindo-se em um importante fator de risco. As ondas deslizantes geram correntes longitudinais que apresentam os mesmos sentidos acima descritos, retornando porém com forte intensidade pelos mesmos pontos, constituindo-se também em forte fator de risco de grau elevado. A geometria da zona de surfe não é muito regular, em função de alguns afloramentos rochosos submersos que antecipam o ponto de quebra das ondas, mas num contexto geral esta praia pode ser classificada como sendo do tipo refletiva. Setor 2 Apresenta uma direção geral SW -NE, sendo constituído por uma linha de costa ligeiramente retilínea, com praias relativ amente extensas (Fig. 14). É exposto a quase todas as direções de ondas, com exceção das de nordeste, pela proteção que a ponta de Itapuã lhe faz, quando então é gerada uma zona de sombra que atinge quase todo o setor (Figs. 44, 45, 46 e 47). 93 XII.6.11 - Praia da Pituba Plataforma do Clube Português Afloramentos rochosos semisubm,ersos N Ponta de Itapuãzinho Figura 58 - Praia da Pituba (Anexo I) Esta praia apresenta cerca de 1.578 m de comprimento e está limitada a oeste pela ponta de Itapuãzinho e a leste por uma plataforma rasa, localizada por detrás do Clube Português (Anexo I), plataforma esta que fica submersa durante a preamar e que é constituída por arenitos e conglomerados quaternários, além de crostas algais (Nolasco 1987), sobrepostos a rochas precambrianas (Fig. 58). A declividade da zona de espraiamento, em dois pontos medidos, foi de 5º e 8º e a granulometria é de areia média (Tabela IX, AM-29 e AM-28). A ocorrência de cúspides é comum e são de tamanho médio (101 m). A plataforma citada amplia ainda mais a proteção, sobre esta praia, que a ponta de Itapuã já exerce sobre o Setor 2, como um todo, contra a ação das ondas de leste e de nordeste (anexos I e III), gerando então uma zona de sombra sobre a parte nordeste da praia da Pituba. Este fato, e mais a existência de um conjunto semisubmerso de afloramentos de rochas precambrianas, situado no meio da zona de surfe, induz a uma divisão desta praia, a partir deste conjunto de rochas, em dois segmentos distintos, um situado a nordeste e o outro a sudoeste, que, apesar de apresentarem padrões hidrodinâmicos semelhantes, são de intensidades distintas (Fig. 58). A proteção criada pela plataforma, contra as ondas de leste, não chega a evitar que parte destas venha a incidir sobre a face da praia do segmento sudoeste, sofrendo antes refração e difração pelos afloramentos rochosos da zona de surfe, alcançando alturas de quebra em torno de 0,5 m. As correntes longitudinais geradas fluem então de nordeste 94 para sudoeste, retornando com fraca intensidade pelo lado leste da ponta de Itapuãzinho (Fig. 58 e Anexo I). A refração sofrida pelas ondas de sudeste e de sul-sudeste resulta na convergência destas em direção à plataforma rasa do Clube Português, em direção à ponta de Itapuãzinho e aos afloramentos semi-submersos do centro da zona de surfe, gerando zonas de relativa calma próximas à face da praia dos dois segmentos acima descritos. As ondas que passam sobre os afloramentos semi-submersos, ou que sofrem difração por entre estes, atingem a face da praia em frente, quebrando de forma Deslizante, com alturas máximas de 1,0 m. Forma-se então um sistema de correntes longitudinais e de retorno, conforme está esquematizado na figura 59, cuja intensidade maior é de NE para SW, no segmento nordeste, e de SW para NE, no segmento sudoeste, com forte intensidade de retorno pelo lado sudoeste do segmento nordeste, constituindo-se no principal fator de risco para os banhistas (Fig. 59). O tipo predominante de onda é o Deslizante e os vários afloramentos rochosos semisubmersos interferem bastante no padrão hidrodinâmico da zona de surfe, dificultando a sua classificação nos estágios morfodinâmicos praiais. praia rocha 0 100 m correntes geradas pelas ondas frentes-de-onda difração rocha semisubmersa N Ponta de Itapuãzinho Figura 59 - Padrão hidrodinâmico esquemático da zona de surfe da praia da Pituba, sob ondas de sudeste e de sul-sudeste. 95 XIII.6.12 - Praia do Jardim dos Namorados Jardim de Alá corrente de retorno gerada pelas ondas de sulsudeste N corrente de retorno gerada pelas ondas de leste e sudeste Jardim dos Namorados Figura 60 – Praia do Jardim dos Namorados (Anexo I) Esta praia está limitada, a sudoeste pelo pequeno promontório do Jardim dos Namorados e a nordeste pelo promontório do Jardim de Alá, apresenta comprimento de aproximadamente 552 m (Fig. 60), declividade de 13º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-27). É comum a ocorrência de cúspides que variam de médias (10 1 m) a curtas (10 0 m). Na sua extremidade nordeste desemboca o maior rio que corta a cidade de Salvador, o Camurugipe. Parte das ondas de leste converge para o promontório do Jardim de Alá e outra parte se dirige para a face da praia, quebrando de forma deslizante, com aproximadamente 0,5 m de altura. Geram então correntes que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com fraca intensidade pelo lado leste do promontório do Jardim dos namorados (Anexo I, Fig. 60). As ondas de sudeste sofrem pouca refração, dirigindo-se quase que frontalmente para a face da praia, quando quebram de formas Deslizante e Mergulhante, com alturas entre 1,0 m e 1,5 m, gerando um forte repuxo a partir da face da praia, podendo gerar também, quando os ângulos de incidência se afastam da ortogonal, correntes longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com forte intensidade pelo lado do promontório do Jardim dos Namorados, constituindo-se, desta forma, o repuxo e as correntes de retorno, nos principais fatores de risco para os banhistas. 96 As ondas de sul-sudeste sofrem uma maior refração, se comparadas às de sudeste, e convergem, parte para o promontório do Jardim dos Namorados, parte para o promontório do Jardim de Alá, e outra parte para a face da praia, onde quebram de forma predominantemente Mergulhante, e também Deslizante, com alturas em torno de 1,5 m, gerando um forte repuxo e correntes que fluem de sudoeste para nordeste, retornando com forte intensidade pelo promontório do Jardim de Alá (Anexo IV, Fig. 60). A zona de surfe, excluindo um ponto de arrebentação localizado a nordeste, sobre afloramentos rochosos submersos, mede cerca de 20 m de largura e a praia é, na maior parte do tempo, do tipo Refletiva. O elevado nível de poluição orgânica, decorrente do despejo de esgotos sanitários não tratados, diretamente no Rio Camurugipe, torna esta praia completamente desaconselhável para o banho. XIII.6.13 - Praia de Armação Esta é uma das mais extensas praias da costa atlântica de N Salvador, mede cerca de 2.874 m e está limitada a sudoeste pelo promontório do Jardim de Alá e a nordeste pela foz do corrente de retorno com posicionamento transitório Rio das Pedras (Anexo I, Fig. 61). Por ser relativamente lon- banco de arenito semisubmerso ga, foi amostrada em três pontos distintos e eqüidistantes entre sí, que revelaram valores corrente de retorno com posicionamento relativamente fixo de declividade de 8º, 8º e 10º, e granulometria de areia média, média e grossa, respectivamente nas amostra AM-24, Figura 61 - Praia de Armação (Anexo I) 97 AM-25 e AM-26 (Tabela IX, Anexo I). As cúspides, comuns, variam de médias (101) a amplas (102 m). A cerca de 400 m, a partir do inicio sudoeste da praia, em frente à sede do Esporte Clube Vitória, ocorrem afloramentos submersos de bancos de arenito, paralelos à face da praia (Fig. 61). No restante, estes afloramentos são pequenos, dispersos e raros. As ondas de nordeste, embora sofram uma forte refração, em função dos altos ângulos formados entre suas frentes e as isóbatas, quebram de forma Deslizante com alturas inferiores a 0,5 m contra a face da praia, gerando correntes que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com fraca intensidade por entre bancos de areia (Anexo III), em posições que variam bastante ao longo do tempo, ou pela extremidade sudoeste do banco de arenito supracitado (Fig. 61). As ondas de leste apresentam alturas de quebra de até 1,0 m, de forma Deslizante, quando geram correntes longitudinais no sentido NE -SW, retornando com fraca intensidade por entre bancos de areia, em posições variáveis, e quase sempre pela extremidade sudoeste do mesmo banco de arenito já citado (Fig. 61, Anexo I). As ondas de sudeste, originalmente mais elevadas em alto-mar e sofrendo menos os efeitos da refração, uma vez que apresentam menores ângulos com as isóbatas (Fig. 45), quebram com alturas entre 1,5 m e 2,0 m, de formas Mergulhante e Deslizante, quando geram correntes longitudinais que, tanto podem fluir para nordeste, quanto para sudoeste, a depender da configuração local do perfil submerso, retornando com forte intens idade por entre bancos de areia ou pelas extremidades do banco de arenito localizado em frente à sede do Esporte Clube Vitória. Estas ondas produzem também, às vezes, um forte repuxo a partir da face da praia, nas imediações deste banco de arenito. Uma parte das ondas de sul-sudeste converge para o promontório do Jardim de Alá (Anexo IV), quebrando de forma Mergulhante e Deslizante, e gerando correntes que fluem com sentido inverso aos demais, ou seja: de sudoeste para nordeste, retornando com forte intensidade por entre bancos de areia e também pela extremidade nordeste do banco de arenito já citado. A outra parte das ondas se dirige para a praia, quebrando de formas Mergulhante e Deslizante, com alturas de até 2,0 m e mantendo o sentido das correntes longitudinais, fluindo de sudoeste para nordeste, retornando com forte intensidade por entre bancos de areia. É possível que alguns dos bancos de arenito submersos na zona de surfe, paralelos à face da praia, sejam responsáveis pela formação de alguns dos canais longitudinais, comuns nesta praia. Observa-se que estes canais eventualmente impõem um 98 confinamento físico às correntes longitudinais e, quando isto ocorre, verifica-se uma aceleração das correntes. As correntes longitudinais e de retorno, em especial quando condicionadas pelo banco de arenito submerso, localizado em frente à sede do Esporte Clube Vitória e apontada na figura 61, são os principais fatores de risco para os banhistas. A zona de surfe geralmente apresenta de 30 a 40 m de largura e esta praia pode ser classificada como sendo do tipo "Intermediário com banco e cava longitudinais", apesar de apresentar um pequeno segmento, localizado no início sudoeste, com características refletivas. XIII.6.14 - Praia de Aratubaia Desembocadura do Rio das Pedras Praia de Aratubaia N Figura 62 - Praia de Aratubaia (Anexo I) Pequena praia, de comprimento aproximadamente igual a 45 m, localizada imediatamente a nordeste da desembocadura do Rio das Pedras (Fig. 62, Anexo I), aqui destacada em função do alto grau de risco que representa para os banhistas, pois trata-se de uma praia aparentemente calma, onde, todavia, existe uma forte corrente de retorno. Apresenta uma declividade de 8º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-23). O relevo submarino, inferido pela posição e pela forma de quebra das ondas, bem como pelas informações dos salva-vidas, aparenta ser constituído por dois bancos de areia e uma zona central mais profunda situada entre estes dois bancos de areia (Fig. 63). As ondas de leste e de sudeste quebram, de forma Deslizante, com alturas médias entre 1,0 m e 1,5 m, respectivamente, transportando lateralmente o sedimento no sentido nordeste-sudoeste (Fig. 63). Este sedimento, provavelmente barrado pelo molhe hidráulico criado pelo Rio das Pedras, forma então o banco de areia situado mais a 99 sudoeste. Este banco então antecipa o ponto de quebramento das ondas, favorecendo o desenvolvimento de uma corrente de retorno que, por sua vez, é acelerada por uma outra corrente que é gerada pelas ondas ao quebrarem sobre o outro banco de areia, situado a nordeste (Fig. 63, Anexos I, II e III), constituindo-se em um fator de risco de grau elevado. As ondas de sul-sudeste, quebrando também de forma Deslizante, com alturas em torno de 1,5 m, sobre o banco de areia situado a sudoeste, geram correntes que fluem pela face da praia no sentido sudoeste-nordeste retornando no sentido sudeste pela flanco sudoeste do afloramento rochoso semisubmerso (Anexo IV). A geomorfologia da zona de surfe e a corrente gerada pelo Rio das Pedras interferem no desenvolvimento morfodinâmico desta praia, dificultando a classificação do estágio praial. N correntes geradas pelas ondas Rio das Ped ras rocha banco de areia frente-de-onda Figura 63 - Padrão hidrodinâmico esquemático das correntes geradas pelas ondas de E e SE na praia de Aratubaia. 100 XIII.6.15 - Praias dos Artistas - Corsário N corrente de retorno Figura 64 - Parte das praias dos Artistas -Corsário (Anexo I) Estas praias, juntas, (Fig. 64) medem cerca de 1.800 m de comprimento e não apresentam uma separação muito nítida entre sí, fazendo parte de um segmento praial mais extenso, localizado entre as praias de Aratubaia e Placafor (Anexo I). Como a SALVAMAR adota estas denominações, o mesmo procedimento será aqui seguido. Apresenta declividade de 3º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-22). Tratase de uma praia aproximadamente retilínea, com poucas cúspides, que variam de dimensões médias (101 m) a amplas (102 m). Na parte sudoeste, bancos de arenito afloram descontinuamente por cerca de 1.000 m de extensão, logo abaixo da linha da baixa-mar média. As ondas de nordeste quebram de forma Deslizante com alturas médias de cerca de 0,5 m, gerando correntes longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com fraca intensidade por espaços existentes entre os bancos de arenito, preferencialmente, ou por entre bancos de areia. As ondas de leste e de sudeste quebram com alturas médias que variam entre 1,0 e 1,5 m, de forma Deslizante, e geram correntes longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste e, às vezes, de sudoeste para nordeste, quando geradas pelas ondas de sudes te, retornando com forte intensidade por entre espaços abertos nos bancos de arenito, preferencialmente, ou também por entre bancos de areia. Pela dificuldade de mapear os bancos de arenito submersos, o posicionamento das correntes de retorno nos 101 anexos I, II e IV e na figura 64 corresponde apenas à daquelas correntes fixas que puderam ser identificadas com a ajuda dos salva-vidas. As ondas de sul-sudeste quebram de forma Deslizante, com alturas que variam entre 1,5 e 2,0 m, gerando correntes longitudinais que fluem com sentido inverso ao regionalmente observado, isto é, de sudoeste para nordeste e retornam, geralmente com forte intensidade, pelos mesmos pontos acima descritos, constituindo-se no principal fator de risco para os banhistas (Anexo I). É com um a ocorrência de algumas áreas calmas, sem ondas, formadas na frente dos bancos de arenito, durante a baixa-mar, sob quaisquer condições de ondas. O estágio morfodinâmico desta praia pode ser classificado como sendo do tipo "Intermediário com banco e praia rítmicos" e as feições geomorfológicas e hidrodinâmicas acima descritas são também observadas até a praia de Jaguaribe. XIII.6.16 - Praias de Patamares - 3ª Ponte N corrente de retorno de posicionamento transitório Desembocadura do Rio Jaguaribe Figura 65 - Segmento norte das praias de Patamares -3ª Ponte, exibindo a desembocadura do Rio Jaguaribe na parte inferior esquerda da foto (Anexo I). Segundo segmento da praia Artistas-Piatã. Mede cerca de 1.380 m de comprimento e está dividida em duas partes pela desembocadura do Rio Jaguaribe. A parte situada a sul do rio mede cerca de 750 m, apresenta declividade de 6º, granulometria de areia média (Tabela IX, AM-21 e AM-20b) e é caracterizada por apresentar bancos de arenito semisubmersos na face da praia e na zona de surfe, que atenuam a energia de quebra das ondas sobre a face da praia (Anexo I). A outra parte, situada a norte do rio (Fig. 65), 102 mede cerca de 630 m de comprimento, apresenta declividade de 4º e granulometria de areia média (AM-20a). A ocorrência de cúspides é relativamente freqüente, sendo de tamanho médio (101 m), em ambas as partes. Apesar de também apresentar bancos de arenito semisubmersos, estes são bem mais esporádicos e de menor dimensão. As ondas de nordeste, leste, sudeste e sul-sudeste costumam quebrar com alturas de, aproximadamente, 0,5 m 1,0 m, 1,5 m e 2,0 m, respectivamente. O tipo de quebra é sempre o Deslizante e é comum a ocorrência de correntes de retorno de forte intensidade, fluindo por entre aberturas existentes nos bancos de arenito, mais notadamente na parte sul da praia, ou por entre bancos de areia, mais comumente encontrados na parte norte. Pelas mesmas dificuldades apontadas em relação à praia anterior, a figura 65 e os anexos I, II e IV apresentam apenas as correntes de retorno fixas que puderam ser localizadas. A existência de bancos de arenito semisubmersos, mais notadamente na parte sul da praia, interfere no padrão hidrodinâmico da zona de surfe, sobretudo durante a baixamar, quando gera áreas calmas em frente a estes afloramentos, inviabilizando a aplicação do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. Já na parte norte da praia, a ocorrência destes afloramentos não é tão freqüente, como já citado, e portanto não interferem tanto no desenvolvimento hidrodinâmico da zona de surfe, permitindo que seja adotado o modelo de classificação aqui utilizado, segundo o qual, este trecho pode ser classificado como sendo do tipo "Intermediário com banco e praia rítmicos". XIII.6.17 - Praia da Mordomia bancos de arenito semisubmersos corrente de retorno N Figura 66 - Praia da Mordomia (Anexo I) 103 Este é o terceiro segmento da praia Artistas-Piatã. Trata-se de um pequeno trecho de praia, com 175 m de comprimento (Fig. 66), muito freqüentado por banhistas, em virtude de existir aí uma grande área calma, formada em frente a afloramentos rochosos, sobretudo durante a baixa-mar. Apresenta declividade de 4º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-19). A ocorrência de cúspides é relativamente freqüente, sendo de tamanho médio (101 m). O tipo de ondas que predomina é o Deslizante e tem características semelhantes às da praia anterior, embora com altura de quebra ligeiramente inferior. Durante a vazante, em especial, algumas correntes de retorno fluem com forte intensidade, quando geradas pelas ondas de sudeste e sul-sudeste, por espaços abertos existentes entre os afloramentos rochosos (Fig. 66) e com fraca intensidade quando são geradas pelas ondas de leste. A classificação do estágio morfodinâmico desta praia fica prejudicada em função da interferência que os bancos de arenitos produzem no padrão hidrodinâmico da zona de surfe. Também em relação a esta praia, devem ser consideradas as mesmas observações relativas às duas praias anteriores. XIII.6.18 - Praia de Jaguaribe praia de Piatã N corrente de retorno com posicionamento transitório Praia de Jaguaribe corrente de retorno com posicionamento relativamente fixo Figura 67 - Praia de Jaguaribe (Anexo I). 104 Este é o quarto segmento da praia Artistas-Piatã, sendo a praia de maior freqüência pública de toda a costa atlântica de Salvador e onde também é registrado o maior número de acidentes, com uma média de 32,4 % do total. Mede cerca de 1.250 m de comprimento (Fig. 67), apresenta declividade de 2º, com granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-18). A ocorrência de cúspides é relativamente comum, variando de dimensões médias (101 m) a amplas (102 m). Afloramentos rochosos, na face da praia, são muito raros e pequenos, sendo geralmente expostos, durante curtos intervalos de tempo, após períodos prolongados de alta energia, que acontecem mais notadamente no outono/inverno. Já na zona de surfe, a ocorrência destes afloramentos é mais freqüente (Fig. 67), embora também sejam cobertos pelo sedimento no final da primavera e durante todo o verão. A largura da zona de surfe também é a maior de toda a costa de Salvador, com cerca de 200 m no verão e 300 m no inverno. Em ambas as ocasiões verifica-se uma dissipação de ondas do tipo Deslizante, que chegam à face da praia com alturas de alguns decímetros. Raramente ocorrem ondas do tipo Mergulhante. O relevo da zona de surfe é caracterizado, no verão, pela existência de pelo menos duas faixas paralelas de bancos longitudinais e oblíquos de areia, separados entre-sí por canais. No inverno ocorrem três faixas paralelas de bancos de areia. Estes bancos apresentam alta mobilidade espacial durante os períodos de energia mais elevada do outono/inverno, quando se verifica um sistema hidrodinâmico que envolve diferentes direções de correntes fluindo dentro da zona de surfe, embora, predominantemente, as correntes longitudinais fluam de nordeste para sudoeste, sob as direções de ondas de leste e sudeste, e exceto sob as de sul-sudeste, que invertem a direção destas correntes, quando então fluem de sudoeste para nordeste. Sob a ação das ondas de sudeste e de sul-sudeste, que quebram, em média, respectivamente com 1,5 m e 2,0 m de altura, podendo as últimas atingirem a 3,0 m, as correntes de retorno fluem com forte intensidade pelos canais existentes entre os bancos de areia, que estão em constante mudança. Sob as ondas de leste, geralmente com 1,0 m de altura de quebra, a intensidade destas correntes varia entre fraca e forte, e sob ondas de nordeste, geralmente com 0,5 de altura, estas correntes quase sempre apresentam fraca intensidade, retornando também por entre os bancos de areia. Os principais fatores de risco são as correntes longitudinais, as de retorno e as depressões semicirculares formadas no sedimento, que ultrapassam a altura dos banhistas. 105 Esta praia, em toda a costa de Salvador, é a que apresenta o maior número de características do estágio Dissipativo, como a grande largura da zona de surfe, a baixa declividade constante da face da praia e a granulometria fina dos sedimentos da zona de espraiamento, ao mesmo tempo apresenta também, características do estágio Intermediário, como a ocorrência de bancos de areia oblíquos com correntes de retorno associadas, além de um perfil marc adamente ondulado da zona de surfe, sendo que as características do estágio Intermediário predominam ao longo do tempo. XIII.6.19 - Praia de Piatã N fraca corrente de retorno gerada pelas ondas de SE e SSE Figura 68 - Praia de Piatã (Anexo I) Último segmento da praia Artistas/Piatã. Mede cerca de 360 m de comprimento, apresenta declividade de 2º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-16). A ocorrência de cúspides é rara e, quando acontece, medem em torno de 10 1 m. Ocorrem muitos afloramentos de rochas precambrianas, submersos na zona de surfe (Fig. 68). Um grande afloramento rochoso, quase sempre emerso (Fig. 68), separa esta praia da seguinte, além de protegê-la, juntamente com a ponta de Itapuã, situada logo a nordeste, da ação das ondas de nordeste e de leste (Fig. 68, Anexos III e I). Durante a primavera e o verão, que são períodos caracterizados pela incidência predominante destas duas direções de ondas, forma-se então uma zona de sombra que é 106 muito procurada pelos banhistas. Nestes períodos, principalmente durante a primavera, a existência de depressões circulares e de canais, comuns na zona de surfe, constituem-se nos principais fatores de risco para o banho. Durante o outono/inverno, principalmente, as ondas de sudeste e de sul-sudeste não são barradas pelas feições acima descritas e quebram de forma Deslizante e raramente Mergulhante, com, no máximo, 1,0 m de altura. Nestas ocasiões, quando a preamar chega a encobrir o afloramento rochoso maior, situado na extremidade leste da praia (Fig. 68), parte da massa d'água retorna com intensidade mais forte do que de costume, pelo canto leste da praia, constituindo-se em um fator de risco significativo. De qualquer modo, grande parte dos acidentes aí registrados, durante todo o ano, está relacionada à adultos alcoolizados ou a crianças e outros banhistas que, por não possuirem uma boa habilidade de nado, têm dificuldade em sair dos canais e das depressões, sendo encobertos pela lâmina d’água, exigindo a pronta e constante intervenção dos salva-vidas. Trata-se de uma praia que, por ser em parte abrigada, quase sempre sem ondas, não se encaixa no modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. Setor 3 Constitui-se de um segmento muito rochoso da linha de costa, formado em grande parte por pequenas praias, do tipo enseada, que são limitadas lateralmente, em ambas as extremidades, por afloramentos de rochas precambrianas (Anexo I), além destes serem comuns, também, submersos na zona de surfe. O iníco deste setor é representado pela enseada de Itapuã, que apresenta duas direções de linha de costa: uma sudoeste-nordeste e outra noroeste-sudeste (Anexo I). Em seguida, este setor volta a apresentar uma direção sudoeste-nordeste, sendo também caracterizado por apresentar muitas praias do tipo enseada (Fig. 15 e Anexo I). A grande freqüência de afloramentos rochosos interfere no padrão hidrodinâmico de todas as praias deste setor, inviabilizando as suas classificações de acordo com o modelo de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. 107 XIII.6.20 - Praias de Placafor - Sereia praia da Sereia N praia de placafor Figura 69 - Praias de Placafor-Sereia (Anexo I) Estas praias são contíguas e ocupam um pouco mais da metade da enseada de Itapuã, estando situadas na parte oeste desta (Fig. 69, Anexo I). Medem cerca de 1.170 m de comprimento e apresentam declividades de 2º e 3º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-15 e AM-14). A ocorrência de afloramentos de rochas precambrianas, emersos e submersos, é muito freqüente, especialmente na zona de surfe e na antepraia (Anexo I). Sobre a praia de Placafor, que corresponde à metade oeste deste trecho praial, a ponta de Itapuã (Anexo I) exerce uma proteção efetiva contra as ondas de nordeste e não tanto contra as de leste, que penetram na enseada, refratando e quebrando com alturas inferiores a 0,5 m, quando geram correntes de velocidade desprezível, que fluem de nordeste para sudoeste. As ondas de sudeste e de sul-sudeste penetram na praia de Placafor (anexos II e IV), quebrando antes, porém, com alturas de 1,0 e 1,5 m, aproximadamente, sobre afloramentos rochosos semi-submersos, dissipando parte da energia e gerando difração, reformando-se e quebrando novamente, originando então vários sentidos de correntes longitudinais que retornam, com fraca intensidade, pelos lados dos afloramentos rochosos (Fig. 70, anexos II e IV). A ponta de Itapuã protege ainda mais efetivamente a parte da praia referente à Sereia de Itapuã da ação das ondas de nordeste e de leste (Figs. 46 e 44, anexos III e I, 108 respectivamente), e estas, quando quebram, o fazem de forma Deslizante, com alturas inferiores à 0,5 m, resultando em níveis muito baixos de energia. As ondas de sudeste penetram na praia da Sereia e parte destas refrata, convergindo para os afloramentos de rochas precambrianas situados a nordeste da praia, enquanto que a outra parte das ondas atinge a face da praia, quebrando, de forma deslizante, com alturas em torno de 0,5 m, gerando correntes longitudinais que fluem de leste para oeste e que retornam, com fraca intensidade, pelos lados dos afloramentos rochosos semisubmersos (Anexo II). As ondas de sul-sudeste refratam menos e quebram de forma deslizante com maior altura, entre 0,5 e 1,0 m, gerando correntes longitudinais que fluem com o mesmo sentido daquelas induzidas pelas ondas de sudeste, retornando com forte intensidade pelos lados de alguns afloramentos rochosos semi-submersos que ocorrem próximos à face da praia, constituindo-se assim no único fator de risco para os banhistas. Os vários afloramentos rochosos submersos e semisubmersos, que ocorrem em ambas as praias, ao anteciparem o ponto de quebramento das ondas, geram refração e difração, interferindo no desenvolvimento morfodinâmico da zona de surfe, não permitindo a classificação destas praias segundo o modelo de estágios morfodinâmicos de praia aqui adotado. Na praia da Sereia, este efeito é ainda mais forte devido à efetiva proteção que a ponta de Itapuã exerce contra as ondas incidentes de leste e nordeste, o que gera uma zona calma, sem ondas, durante cerca de 58% do ano (Tabela I). A existência de esgotos sanitários, despejados diretamente nestas praias, desaconselham o seu uso para o banho, principalmente na Sereia. praia de Placafor difração corrente de retorno corrente de retorno difração frente-de-onda rocha N 0 50 m 109 Figura 70 - Padrão hidrodinâmico esquemático das correntes na zona de surfe da praia de Placafor, sob ondas de sudeste e de sul-sudeste. XIII.6.21 - Praia do Porto Praia da Sereia Praia do Porto N Figura 71 - Praia do Porto (Anexo I) Pequena praia, medindo cerca de 60 m de comprimento (Fig. 71), situada na parte interna da enseada de Itapuã. É quase que uma continuidade da praia da Sereia, desta separada por pequenos afloramentos de rochas precambrianas. A proteção dos afloramentos rochosos que a limitam lateralmente, somada ao fato de estar situada na parte interna da enseada de Itapuã, tornam-na uma praia praticamente sem ondas durante todo o ano, sem que haja uma efetiva renovação de suas águas, aumentando ainda mais o nível de poluição orgânica e fazendo com que os banhistas a evitem. Esta praia não foi amostrada para análise granulométrica nem teve a sua declividade medida, devido ao fato de ser uma extenção da praia da Sereia de Itapuã e portanto apresentar as mesmas características geomorfológicas desta, além de não ser freqüentada por banhistas. 110 XIII.6.22 - Praia da Rua E N Figura 72 - Praia da Rua E (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada, com comprimento em torno de 85 m (Fig. 72), declividade de 5º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-13). Localizada dentro da enseada de Itapuã, encontra-se completamente protegida das ondas de leste e de nordeste (anexos I e III). As ondas de sudeste e de sul-sudeste, ao penetrarem na enseada, sofrem refração e ainda dissipam parte da energia sobre os vários afloramentos rochosos submersos, quebrando, de forma deslizante, com alturas inferiores a 0,5 m. As raras correntes geradas são de fraca intensidade, fazendo desta praia um lugar bastante seguro para os banhistas, embora os altos índices de poluição orgânica, resultantes do esgotamento sanitário e pluvial a tornem de uso impróprio para o banho. XIII.6.23 - Praia da Rua K corrente gerada pela quebra das ondas na praia vizinha S N Figura 73 - Praia da Rua K (Anexo I), mostrando a corrente gerada pela quebra das ondas na praia vizinha, que flue através de uma abertura existente na rocha. 111 Mede cerca de 200 m de comprimento, apresenta declividade de 8º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-12). Está situada dentro da enseada de Itapuã, por detrás da ponta de Itapuã (Anexo I), que a protege totalmente das ondas de leste e de nordeste (anexos I e III), e quase que totalmente das ondas de sudeste e de sul-sudeste (anexos II e IV), tornando-a bastante adequada para, além do banho, abrigar a pequena frota de barcos da colônia de pesca de Itapuã. Seria bastante segura para o banho se não fosse pela existência esporádica de uma corrente gerada pela quebra das ondas na praia vizinha, situada a nordeste, que flue através de uma fratura aberta na rocha (Fig. 73) que separa as duas praias (anexos I, II, III e IV). Esta corrente, quando gerada pelas ondas de SE e SSE, é de forte intensidade e de fraca intensidade quando gerada pelas outras direções de ondas. XIII.6.24 - Praia do Farol de Itapuã correntes de retorno gerada pelas ondas de Se e SSE corrente de retorno gerada pelas ondas de leste N Figura 74 - Praia do Farol de Itapuã (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada, medindo cerca de 70 m de comprimento, e limitada em ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas (Fig. 74). Apresenta declividade de 9º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-11). É a primeira praia, no sentido nordeste, situada fora da enseada de Itapuã, e portanto exposta diretamente à ação de todas as direções de ondas (anexos I, II, III e IV). A face da praia apresenta uma forma ligeiramente côncava, e a parte submersa a ela contígua forma uma espécie de canal, sem bancos de areia e com bastante marcas de corrente de pequeno porte. 112 A direção da linha de costa e um afloramento rochoso situado a nordeste protegem esta praia contra a ação das ondas de nordeste, criando então uma zona de sombra (Fig. 74, Anexo III). As ondas de leste convergem para o afloramento situado a nordeste da praia, quebrando com alturas em torno de 1,0 m e gerando uma corrente que flui de nordeste para sudoeste pela face da praia, retornando com forte intensidade pelo lado do afloramento situado a sudoeste, em direção ao ponto de arrebentação (Fig. 74, Anexo I). A praia está francamente exposta às ondas de sudeste e de sul-sudeste, que convergem para os afloramentos rochosos de ambos os lados, quebrando de formas Deslizante e Mergulhante com alturas de até 2,0 m e gerando dois sistemas de correntes que fluem paralelamente à face da praia, mas com sentidos opostos e que retornam fortemente pelo centro da praia em direção à zona de arrebentação (Fig. 74, anexos II e IV). O principal fator de risco é a forte corrente de retorno que se desenvolve no centro da praia, gerada principalmente pelas ondas de sudeste e de sul-sudeste, fazendo desta praia uma das mais perigosas de toda a costa atlântica de Salvador. A existência de afloramentos rochosos, avançados em direção ao mar, em ambos os lados da praia (Fig. 74), provoca a convergência dos raios -de-onda contra sí, o que praticamente livra a face da praia da quebra direta das ondas, inviabilizando assim a aplicação do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. Este mesmo efeito é observado nas praias do Porto de Leocádio, Pedra do Sal, Caveira, Catussaba e Flamengo, que serão descritas a seguir. 113 XIII.6.25 - Praia do Porto de Leocádio correntes de retorno N Figura 75 - Praia do Porto de Leocádio (Anexo I) Pequena praia do tipo enseada (Fig. 75), medindo cerca de 90 m. Em decorrência de fortes chuvas que ocorreram nas duas ocasiões em que estivemos nesta praia, a mesma não pôde ser amostrada para a análise granulométrica, nem teve a sua declividade medida, sendo porém observado que, de uma maneira geral, apresenta as mesmas características hidrodinâmicas e de risco verificadas na praia do Farol de Itapuã. XIII.6.26 - Praia da Pedra do Sal corrente de retorno N Figura 76 - Praia da Pedra do Sal (Anexo I) 114 Praia com cerca de 150 m de comprimento (Fig. 76), declividade de 11º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-09). É limitada em ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas com níveis de arenitos sobrepostos. O padrão de quebramento das ondas evidencia a existência de um alto fundo, localizado na parte central da zona de surfe (Fig. 77). As ondas de nordeste, e sobretudo as de leste e sudeste refratam e convergem em direção ao afloramento rochoso situado a nordeste da praia e, também, em direção ao alto fundo (Fig. 77), quebrando de forma Deslizante e as vezes Mergulhante, com alturas em torno de 0,5 m, 1,0 m e entre 1,5 e 2,0 m, respectivamente. Estes dois polos de convergência de raios-de-onda geram então, entre eles, um baixo gradiente de pressão, representado por uma zona estreita e relativamente abrigada da ação das ondas por onde as correntes retornam com forte intensidade (Fig. 77). A ação desta corrente de retorno acabou por escavar um canal situado na extremidade nordeste da praia, que pode inclusive ser reconhecido por fotografia aérea (Fig. 77), tratando-se de um fator de elevado grau de risco, embora esta praia não seja patrulhada. N Alto fundo raios-de-onda correntes geradas pelas ondas Frente-de-onda Figura 77 - Padrão hidrodinâmico verificado na zona de surfe da praia da Pedra do Sal, válido para as ondas de leste, sudeste, nordeste e correntes de retorno associadas. 115 As ondas de sul-sudeste quebram, de forma Deslizante e também Mergulhante, com alturas de até 2,0 m, gerando correntes de sentido sudoeste-nordeste, retornando com forte intensidade pelo mesmo canal localizado na extremidade nordeste da praia. XIII.6.27 - Praia da Caveira corrente de retorno N Figura 78 - Praia da Caveira (Anexo I) Pequena praia, com cerca de 40 m de comprimento, do tipo enseada, limitada em ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas (Fig. 78). Apresenta declividade de 17º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-08). As ondas, derivadas de todas as quatro direções, refratam predominantemente em direção aos afloramentos situados à nordeste, quebrando com alturas similares à da praia anteriormente descrita e gerando um fluxo de nordeste para sudoeste que é desviado pelos afloramentos situados à sudoeste, retornando então com forte intensidade, em sentido sudoeste, constituindo-se talvez, na mais perigosa praia de toda a costa atlântica de Salvador. Durante a preamar, as ondas passam entre as rochas situadas a nordeste e a face da praia, intensificando ainda mais a velocidade desta corrente de retorno. Apesar do grande perigo que esta praia oferece, a mesma não é patrulhada, mas a existência de uma caveira visivelmente gravada num dos afloramentos de rocha (daí o nome da praia) e as constantes advertências por parte dos proprietários de barracas e 116 moradores reduzem bastante o número de acidentes aí verificados, embora, de acordo com depoimentos dos salva-vidas, uma vez iniciados sejam de difícil intervenção, levando quase sempre ao óbito. XIII.6.28 - Praia do Catussaba corrente de retorno com posicionamento relativamente fixo corrente de retorno com posicionamento transitório N corrente de retorno com posicionamento transitório Figura 79 - Praia do Catussaba (Anexo I) Mede cerca de 700 m de comprimento, apresenta declividade de 11º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-7). É limitada por afloramentos de rochas precambrianas, que ocorrem também na parte central da praia (Fig. 79). As ondas de leste e nordeste quebram, de forma predominantemente Deslizante, com alturas em torno de 1,0 e 0,5 m respectivamente, quando então geram correntes longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com fraca intensidade por locais variáveis, a partir da face da praia, no sentido sul (anexos I e III). As ondas de sudeste quebram, também de forma Deslizante e às vezes Mergulhante, com alturas em torno de 1,5 m, gerando correntes que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com forte intensidade por pontos variáveis, no sentido sul. As ondas de sul-sudeste quebram com alturas de até 2,0 m, de formas Deslizante e Mergulhante e geram correntes que fluem de sudoeste para nordeste, retornando com 117 forte intensidade, no sentido sudeste, por pontos variáveis e também pelo lado do afloramento rochoso que limita a praia a nordeste (Fig. 79 - Anexo IV) XIII.6.29 - Praia do Flamengo corrente de retorno N Figura 80 - Parte nordeste da praia do Flamengo (Anexo I) Última praia do Setor 3 e também uma das mais perigosas de toda a costa atlântica de Salvador (Fig. 80). Mede cerca de 170 m de comprimento, apresenta declividades de 10º e 14º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-06 e AM-05). É limitada em ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas (Anexo I). As ondas de leste, sudeste e sul-sudeste, sob refração, convergem para os dois afloramentos rochosos laterais da praia, quebrando de forma predominantemente Deslizante, com alturas em torno de 1,0 , 1,5 e 2,0 m, respectivamente. Como o afloramento situado a sudoeste apresenta uma área submersa maior, provoca então uma maior convergência das ondas para este ponto, produzindo correntes que fluem de sudoeste para nordeste, retornando com forte intensidade, no sentido sul, pelo lado do afloramento situado na extremidade nordeste da praia (Fig. 81). Como estas ondas juntas, representam cerca de 78% da distribuição total de ondas durante o ano (Tabela I), as suas correntes de retorno acabaram por escavar um canal no sedimento, ao lado sudoeste do afloramento rochoso de nordeste, que se mantém ativo durante todo o ano (Fig. 81). As ondas de nordeste sofrem uma refração muito grande, devido aos altos ângulos entre as suas frentes e a batimetria, com a conseqüente diminuição na altura de quebra, 118 quebrando de forma Deslizante, com alturas inferiores a 0,5 m. Consequentemente, as correntes geradas também tornam -se mais fracas, retornando de imediato pelo mesmo canal situado a nordeste da praia, ou, quando ultrapassam este canal, retornam pela extremidade sudoeste da praia (Fig. 81, Anexo III). rocha emersa praia corrente de retorno fraca corrente de retorno gerada pelas ondas de NE frentes-de-onda N rocha submersa 0 Figura 81 - Padrão hidrodinâmico esquemático predominante na zona de surfe da praia do Flamengo. 50 m Setor 4 Este último segmento está fora da zona de influência da Falha de Itapuã e provavelmente por isto, praticamente não apresenta afloramentos de rochas precambrianas, e como conseqüência, também não apresenta praias do tipo enseada, tão comuns nos setores 1 e 3. É caracterizado por apresentar praias moderadamente retilíneas e longas, exibindo muitas vezes afloramentos de bancos de arenito, situados na face da praia e na zona de surfe, submersos durante a maior parte do tempo (Fig. 16, Anexo I). É constituído basicamente de duas praias, Stella Maris e Aleluia que de fato são uma só, diferenciadas apenas por denominações locais e também pelos registros da SALVAMAR. 119 XIII.6.30 - Praias de Stella Maris e Aleluia N corrente de retorno com posicionamento transitório Figura 82 - Vista de parte das praias de Stella Maris e Aleluia (Anexo I). O posicionamento da corrente de retorno acima assinalado é m eramente ilustrativo em virtude da dificuldade de se mapear as brechas existentes entre os bancos de arenito e, também, em função do posicionamento variável dos bancos de areia. Estas praias são moderadamente retilíneas e longas (Fig. 82), se estendendo além da divisa com o município de Lauro de Freitas, mas até este ponto medem cerca de 2,4 km de comprimento. Apresentam declividades que variam entre 3º e 5º, com granulometria fina e média, respectivamente (Tabela IX, AM-4, AM-3, AM-2 e AM-1). Costumam apresentar cúspides com dimensões de 101 m e é muito freqüente, como já citado, a ocorrência, na face da praia e na zona de surfe, de bancos alongados e descontínuos de arenito, dispostos paralelamente à direção da face da praia e que ficam submersos sobretudo durante a preamar. As ondas de nordeste, embora sofram uma grande refração, em função do alto ângulo entre suas frentes e a batimetria (Fig. 46, Anexo III), quebram de forma Deslizante, com alturas em torno de 0,5 m, gerando correntes longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com fraca intensidade, por entre as descontinuidades existentes entre os bancos de arenito ou por entre os bancos de areia. As ondas de leste sofrem uma menor refração, em função do menor ângulo com a batimetria e quebram com alturas mais elevadas, em torno de 1,0 m (Fig. 44), também de forma Deslizante, gerando correntes longitudinais que fluem com o mesmo sentido, nordeste-sudoeste (Anexo I), e que retornam com forte intensidade sob as mesmas circunstâncias acima descritas. 120 As ondas de sudeste incidem quase que frontalmente contra a face da praia, preservando quase toda a altura de alto-mar (Fig. 45) e, sobrelevadas pelo empinamento, quebram de forma Deslizante e Mergulhante, com 1,5 m a 2,0 m de altura. Geram correntes que fluem de nordeste para sudoeste e também de sudoeste para nordeste (Anexo II), a depender da direção local da face da praia, retornando com forte intensidade sob as mesmas circunstâncias acima descritas. As ondas de sul-sudeste têm um comportamento semelhante às de sudeste (Fig. 47), porém, sobreelevadas pelos fortes ventos trazidos pelas frentes -frias, quebram geralmente com 2,0 m de altura, podendo alcançar até 3,0 m, gerando correntes, que quase sempre fluem de sudoeste para nordeste (Anexo IV), retornando com forte intensidade sob as mesmas circunstâncias acima descritas. Os bancos de arenito, quando existentes, interferem no desenvolvimento morfodinâmico, sobretudo quando antecipam a posição do ponto de quebra das ondas, criando áreas calmas nas suas frentes, tornando difícil a classificação do estágio morfodinâmico praial. Em locais onde esta interferência não é tão pronunciada ou mesmo inexistente, observa-se a ocorrência simultânea de características dissipativas e intermediárias, como a existência de uma zona de surfe quase sempre bem desenvolvida, com largura da ordem de 102 m, além de bancos e canais longitudinais e oblíquos, sendo que as características intermediárias são predominantes ao longo do tempo. Em relação à extensão total das praias estudadas, que é de 19,7 km, a distribuição dos estágios morfodinâmicos praiais está representada na Tabela X. Estágio Morfodinâmico Praial Percentual de Ocorrência na Área Estudada Dissipativo 0% Intermediário 56% Refletivo 13% Não se enquadram no modelo 31% Tabela X - Distribuição relativa dos estágios morfodinâmicos praiais na estensão total da área estudada. XIII.7 - Relações entre a Granulometria da Zona de Espraiamento e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Wright & Short (1984) analisando praias do sudoeste da Australia, observaram que há uma forte relação entre o diâmetro médio dos sedimentos da zona de surfe e o estágio morfodinâmico praial, como já foi anteriormente apresentada. Praias caracterizadas por 121 apresentar sedimentos grossos geralmente desenvolvem características refletivas, enquanto que os sedimentos médios são mais representativos dos estágios morfodinâmicos intermediários enquanto que sedimentos finos relacionam-se mais ao estágio Dissipativo. O diâmetro do grão é uma das variáveis no cálculo do parâmetro ambiental (Ω ), que por sua vez apresenta uma boa correspondência com o estágio morfodinâmico praial, (Wright & Short 1984 ; Wright, Short & Green 1985). Ω = Hb / ( WsT ) (Dean 1973 apud Komar 1998 ; Dalrymple & Thompson 1977), onde H b é a altura de quebra das ondas, T é o período e Ws é a velocidade de decantação das partículas dentro da zona de surfe. Por sua vez, Ws = (D2 ⁄ 18 ) x (σ - ρ ⁄ η ) x g (Dyer 1986), onde σ é a densidade da partícula, ρ é a densidade da água do mar, D é o diâmetro do grão e η é a viscosidade da água do mar (sem considerar os efeitos da turbulência dentro da zona de surfe). Como Ω depende do diâmetro do grão (D), fica então demonstrada a correlação que existe entre a granulometria e o estágio morfodinâmico praial. Nas praias da costa atlântica de Salvador, como já citado, foi analisada a granulometria dos sedimentos da zona de espraiamento, sabendo que estes guardam uma boa correlação com os sedimentos da zona de surfe, em geral. Verifica-se então que as praias refletivas, ou aquelas que apresentam zonas de surfe pouco desenvolvidas, ou irregulares, apresentam também areias de granulometria média a grossa, na zona de espraiamento. Foi observado também que as praias do estágio Intermediário apresentam areias de granulometria fina a média (Tabela XI), o que está de acordo com o modelo adotado. Acreditamos que uma zona de surfe mais desenvolvida deve propiciar um maior retrabalhamento, com a conseqüente diminuição do diâmetro do grão. Praia Aleluia Granulometria Estágio morfodinâmico Praial Areia fina Intermediário Stella Maris Areia média Intermediário Flamengo Areia média Sem classificação / Zona de surfe irregular Catussaba Caveira Areia média Areia grossa Sem classificação / Zona de surfe irregular Sem classificação / Zona de surfe irregular Pedra do Sal Areia grossa Sem classificação / Zona de surfe irregular 122 Porto de Leocádio Areia grossa Sem classificação / Zona de surfe irregular Farol de Itapuã Areia grossa Sem classificação / Zona de surfe irregular Rua K Areia média Praia abrigada Porto Sereia Areia média Areia fina Praia abrigada Praia abrigada Placafor Areia fina Sem classificação / Zona de surfe irregular Piatã Jaguaribe Areia fina Areia fina Intermediário Mordomia Areia fina Intermediário Areia média Intermediário Patamares -3ª Ponte* Intermediário Artistas Areia fina Intermediário Aratubaia Areia fina Sem classificação / Zona de surfe irregular Armação Areia média Intermediário Jardim dos Namorados Areia grossa Refletivo Pituba Areia média Sem classificação / Zona de surfe irregular Amaralina Buracão Areia média Areia grossa Refletivo Características Refletivas Santana Areia média Refletivo Paciência Rio Vermelho Areia média Areia fina Refletivo Sem classificação / Zona de surfe irregular Bacia das Moças Areia média Praia abrigada Ondina Areia média Sem classificação / Zona de surfe irregular Paquera Areia média Sem classificação / Zona de surfe irregular Salvador Praia Hotel Areia média Sem classificação / Zona de surfe irregular Farol da Barra Areia média Sem classificação / Zona de surfe irregular Tabela XI - Correlação entre a granulometria da areia da zona de espraiamento e os estágios morfodinâmicos das praias estudadas. * As amostras coletadas na praia da 3ª Ponte apresentam uma forte influência de areias fluviais, grossas, depositadas na desembocadura do Rio Jaguaribe. XIII.8 - Relações entre a Declividade da Zona de Espraiamento e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas. Wright & Short (1984) observaram que existe também uma boa correlação entre a declividade média do fundo na zona de surfe e o estágio morfodinâmico praial, como já anteriormente citado, e que está expresso na Tabela XII: Estágio Morfodinâmico Praial Declividade Correspondente Dissipativo < 1,2º Intermediário Refletivo 1,2º a 5,4º > 5,4º Tabela XII - Relação entre a declividade média do fundo na zona de surfe e o estágio morfodinâmico praial (Wright & Short 1984). 123 De acordo com estes autores, pequenas declividades estão associadas com o desenvolvimento de praias dissipativas, declividades mais acentuadas com praias refletivas, e declividades intermediárias estão associadas aos quatro estágios morfodinâmicos intermediários. Nas praias da costa atlântica de Salvador, em que foi possível determinar o estágio morfodinâmico praial, esta correlação, aqui no caso com a declividade da zona de espraiamento, foi também verificada, com a única exceção da praia de Armação, que apresenta, em segmentos localizados, discordâncias quanto às associações mencionadas (Tabela XIII). Praia Aleluia Declividade da Zona de Espraiamento 3º Estágio Morfodinâmico Praial Intermediário Stella Maris 5º Intermediário Jaguaribe 2º Intermediário Mordomia Patamares / 3ª Ponte 4º 6º Intermediário Intermediário 3º Intermediário 8º e 10º 13º Intermediário Refletivo Artistas Armação Jardim dos Namorados Amaralina Buracão Paciência 13º Refletivo 8º Características Refletivas 10º Refletivo Tabela XIII - Relação entre a declividade da zona de espraiamento e o estágio morfodinâmico das praias em que foi possível caracterizá-lo, na área estudada. XIII.9 - Relações entre a Altura Média de Quebra das Ondas e os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas Como já foi mencionado, o fato de existir um grande número de afloramentos rochosos, submersos e emersos, dispostos irregularmente na zona de surfe das praias da área estudada, torna difícil a classificação destas de acordo com o modelo de estágios morfodinâmicos aqui adotado, uma vez que as ondas quebram de modo disperso dentro desta zona, interferindo no desenvolvimento da morfodinâmica praial. Nas praias em que este efeito não é tão grande, observa-se que existe uma tendência, de praias caracterizadas por apresentar, em média, as ondas com as maiores alturas de quebra (visualmente observadas -Tabela XIV), serem as do tipo Intermediário, enquanto que aquelas outras caracterizadas por apresentar ondas com alturas de quebra menores serem do tipo Refletivo (Tabela XIV). 124 Praia Estágio Morfodinâmico Praial Stella Maris –Aleluia Intermediário Freqüência Anual Média e Altura Média de Quebra das Altura Média Ondas Ponderada Anual de Leste Sudeste Nordeste SulQuebra das 42% 30% 16% Sudeste Ondas 6% 1,0 m 1,7 m 0,7 m 2,0 m 1,2 m Jaguaribe Intermediário/Dissipati vo 1,0 m 1,5 m 0,5 m 2,0 m 1,1 m Mordomia Intermediário 0,7 m 1,0 m 0,5 m 1,5 m 0,8 m Patamares3ª Ponte Intermediário 1,0 m 1,5 m 0,5 m 2,0 m 1,1 m ArtistasCorsário Intermediário 1,0 m 1,5 m 0,5 m 1,7 m 1,1 m Armação Intermediário 1,0 m 1,7 m 0,5 m 2,0 m 1,2 m Jardim dos Namorados Refletivo 0,5 m 1,2 m sem ondas 1,7 m 0,7 m Amaralina Refletivo 0,5 m 1,2 m sem ondas 1,7 m 0,7 m Paciência Refletivo sem ondas 0,5 m sem ondas 1,0 m 0,2 m Tabela XIV - Relação entre a altura média de quebra das ondas, visualmente estimadas, e o estágio morfodinâmico das praias estudadas. XIII.10 - Principais Fatores de Risco da Zona de Surfe na Área Estudada Ainda que não haja dados computados pela SALVAMAR, os salva-vidas, baseados em vários anos de experiência, creditam às correntes de retorno a responsabilidade por cerca de 70% dos acidentes registrados, seguidas das depressões no fundo e do repuxo e impacto das ondas, constituindo-se estes nos principais fatores de risco para o banho na costa atlântica de Salvador. Nesta parte da costa, como já foi citado, o clima de ondas normalmente gera correntes longitudinais que fluem de NE para SW, com correntes de retorno em direção à SE. As ondas de sudeste ocasionalmente invertem o fluxo das correntes longitudinais no Setor 4 e na parte nordeste do Setor 3, quando fluem de SW para NE, retornando para leste. As ondas de sul-sudeste quase sempre invertem o fluxo no Setor 4, na parte nordeste do Setor 3 e ocasionalmente no Setor 2, fluindo também de SW para NE e retornando para leste (anexos I, II, III e IV). Muitas vezes o retorno é controlado pela presença de afloramentos rochosos, emersos e/ou submersos, que são freqüentes nas praias de Salvador e que desviam o fluxo, geralm ente aumentando a sua velocidade, em direção ao ponto de arrebentação (anexos I, II, III e IV). A velocidade destas correntes é 125 proporcional ao clima de ondas local, sendo mais intensas entre os meses de maio e outubro e, como já citado, são responsáveis pela maioria dos acidentes. Vários fatores contribuem para o elevado potencial de risco das correntes de retorno, como a natureza pulsante do fluxo – que ora apresenta-se lento, ora bastante rápido – a depender da altura de quebra das ondas, que pode variar em questão de minutos, iludindo o banhista. Muitas vezes estas correntes superam a velocidade de nado da maioria dos banhistas, transportando a vítima para longe da praia, em direção a locais profundos, que ultrapassam sua altura. Experimentos realizados durante este trabalho, com flutuadores, em algumas correntes de retorno bem definidas, localizadas nas praias da Caveira e do Flamengo (Figs. 78 e 80, Anexo I), sob condições de ondas provenientes de leste, com alturas de quebra ligeiramente superiores a 1,0 m, revelaram velocidades máximas iguais ou superiores à velocidade máxima alcançada por um dos salva-vidas, quando nadando dentro da zona de surfe e fora da corrente de retorno, e velocidades médias iguais ou ligeiramente inferiores a esta mesma velocidade do salva-vidas (Tabela XV). Praia Caveira Dia 28/06/00 Hora 10:25 Direção das Ondas leste T Hb (s) (m) 5 1,3 1,52m (enchendo) 1,3 0,76m (enchendo) Condições da Maré Duração Vmáx Vméd (s) (m/s) (m/s) 300 0,8 0,6 Vmáx SalvaVidas 0,6 Flamengo 28/06/00 08:30 leste 5 240 0,6 0,4 Tabela XV - Resultados dos experimentos feitos com flutuadores nas praias da Caveira e do Flamengo, a fim de estimar as velocidades máximas e médias das correntes de retorno. Outro aspecto também importante, que contribui para o elevado grau de risco das correntes de retorno, é o fato de estas correntes geralmente escavarem um canal no seu leito, que na maior parte das vezes ultrapassa a altura dos banhistas, e estes, ao serem transportados costa-afora, tentam retornar para a praia nadando contra a corrente, cansando-se e aproximando-se do afogamento. As correntes de retorno são particularmente perigosas, além das razões mencionadas acima, também pelo fato de, ao contrário das ondas, não serem visíveis, e, ao fluírem por locais onde geralmente não há ondas, transmitirem uma falsa impressão de segurança, atraindo os banhistas justamente para estes pontos. Durante um trabalho de 126 campo, na praia de Aleluia, ocorreu uma operação de salvamento, na qual o banhista, até então seguramente posicionado sobre um pequeno banco de areia, tentou retornar para a praia por uma trajetória afastada das ondas, por onde a corrente de retorno fluía (Fig. 83). Em aproximadamente 3 min, o banhista foi transportado por cerca de 100 m (Fig. 83), mas a intervenção do salva-vidas Ariobaldo Arandiba, que acompanhava o trabalho, foi bem sucedida. corrente de retorno raio-de-onda frente-de-onda banco de areia salva-vidas banhista Figura 83 - Salvamento de um banhista que abandona um banco de areia para voltar à praia e entra em uma corrente de retorno (praia de Stella Maris, Salvador – Ba. 2000) Na área estudada, estas correntes geralmente ocorrem nas praias intermediárias, fluindo por entre bancos de areia, e naquelas do tipo enseada, onde, sob a ação de ondas relativamente altas, a corrente longitudinal é barrada pelos afloramentos rochosos limitantes, como já foi descrito, aumentando assim a velocidade da corrente e o seu respectivo potencial de risco. O segundo fator de risco mais importante, em número de acidentes provocados, são as depressões existentes no fundo, próximas à face da praia, que são geralmente produzidas durante os períodos de ondas mais elevadas, no início e meio da primavera e durante o outono e inverno. Estas porém, quando isoladas, ou seja, na ausência de correntes, vitimam mais as crianças, ou qualquer banhista que não possua uma boa habilidade de nado, e também adultos alcoolizados. Este tipo de acidente ocorre principalmente nas praias intermediárias, onde a baixa declividade do perfil de praia permite que o banhista avance pela zona de surfe até ser surpreendido por uma destas depressões. O terceiro fator de risco que mais se destaca, o impacto provocado pelas ondas, principalmente pelas mergulhantes e frontais, mais também pelas deslizantes e que 127 costuma derrubar o banhista e mantê-lo no fundo, por força da carga da massa d’água, é o denominado “caldo”, e pode ser encontrado em qualquer tipo de praia, desde que as condições de ondas sejam relativamente severas. XIII.11 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e o Clima de Ondas em Alto-Mar A primavera e o verão apresentam taxas altas de insolação e de temperatura atmosférica (INMET) e por isto registram uma grande afluência de banhistas para as praias. O verão, devido ao calor ainda mais intenso e também por tratar-se de um período de férias, atrai um número ainda maior de banhistas, o que poder-se-ía supor gerar um número de acidentes também maior, mas não é o que acontece, uma vez que são registrados, como já citado, 44,8% de acidentes na primavera, contra 30,5% no verão (Fig. 43). Um dos motivos desta maior ocorrência de acidentes na primavera deve estar relacionado à densidade de energia mais elevada, dentro da zona de surfe, gerada por ondas maiores, que por sua vez podem gerar correntes de retorno com velocidades mais elevadas. O clima de ondas que predomina na primavera – nos meses de setembro, outubro e novembro - é constituído, basicamente, em média, por cerca de 45% de ondas de leste, seguidas de 25% de nordeste, 20% de sudeste e 5% de sul-sudeste, além de outras direções de ventos, que, por não produzirem muitos reflexos sobre a zona de surfe, no que tange a gerar ondas, como os ventos de norte e de noroeste, não estão sendo aqui considerados (Tabela VIII - DHN 1993). Durante o verão – nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro - o clima de ondas é constituído, em média, por 46% de ondas de leste, 28% de nordeste, 14% de sudeste e 3% de sul-sudeste, além de um pequeno percentual dos mesmos ventos acima excluídos (Tabela VIII - DHN 1993). Foi aqui tentada uma aproximação, ponderando-se as alturas destas ondas em altomar pelas suas respectivas freqüências durante o ano, quando verificou-se que, em média, durante a primavera, a partir do alto-mar, são transportados potencialmente cerca de 1.610 N/m2 de energia, que irão incidir sobre a zona de surfe, com uma altura média de ondas de cerca de 1,13 m, enquanto que durante o verão, esta média de energia é de cerca de 1.466 N/m2 , com uma altura média de ondas de 1,08, ou seja: potencialmente, há quase 10% a mais de energia de ondas, em alto-mar, na primavera, do que no verão (Tabela XVI - Fig. 84). Para este cálculo foi utilizada a fórmula: E = gσH b2/8, 128 já anteriormente apresentada, onde E é a energia, g é a aceleração da gravidade, σ é a densidade da água em frente às praias de Salvador, que é aproximadamente igual a 1.025 (com. verbal do Prof. Guilherme Lessa) e Hb , neste caso, é a altura das ondas incidentes em alto-mar (US Navy 1998). Na verdade, esta diferença de energia é ainda maior, pois não está sendo aqui considerado os efeitos que a refração provoca, sobretudo nas ondas de leste e de nordeste, ao reduzir bastante as suas alturas de quebra (Figs. 44 e 46), uma vez que estas duas direções compõem cerca de 74% do clima de ondas do verão (DHN 1993), enquanto que na primavera estas mesmas ondas perfazem um total menor, de cerca de 70% (DHN 1993). Mês Altura e freqüência média das ondas de leste em alto-mar (1m) % Altura e Altura e freqüência freqüência média das média das ondas de ondas de nordeste em sudeste em alto-mar alto-mar (1m) % (1,5m) % Altura e freqüência média das ondas de sul-sudeste em alto-mar (1,5m) % Altura média ponderada das ondas em alto-mar (m) Energia média das ondas em alto-mar 2 E = gσHb /8 (N/m 2 ) Dez 40 37 10 3 1,07 1.439 Jan 49 26 14 3 1,09 1.493 Fev 49 22 18 3 1,08 1.466 Mar 52 12 27 4 1,16 1.700 Abr 42 10 33 7 1,21 1.862 Mai 35 8 40 11 1,27 2.031 Jun 33 6 50 9 1,30 2.124 Jul 36 5 43 13 1,29 2.087 Ago 45 5 40 10 1,25 1.964 Set 49 14 28 7 1,18 1.750 Out 46 25 20 5 1,13 1.605 Nov 40 35 12 3 1,08 1.475 Energia média das ondas em alto-mar em cada estação 2 (N/m ) Verão 1.466 Outono 1.864 Inverno 2.058 Primavera 1.610 Tabela XVI - Distribuição mensal e sazonal das médias ponderadas das alturas das ondas e da energia por estas transportadas, em alto-mar, em frente à costa atlântica de Salvador 129 2.200 2.100 2.000 1.900 2 Energia (N/m) primavera 1.800 1.750 1.700 1.605 verão 1.600 1.493 1.475 1.500 1.466 1.439 1.400 Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Figura 84 - Média mensal ponderada da densidade de energia das ondas em alto-mar, em frente à 2 costa atlântica de Salvador, em N/m XIII.12 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Forma Sazonal do Perfil da Zona de Surfe na Área Estudada. Como já foi mencionado, a forma do perfil submerso de uma praia varia de acordo com as estações do ano. A primavera costuma exibir formas intermediárias entre o perfil plano do verão e o marcadamente ondulado do inverno (Fig. 38). Em Salvador, apesar de não ter sido levantado estes perfis durante este trabalho, as observações visuais da face da praia e do padrão de quebramento das ondas, além do trabalho realizado por Farias et al (1985) na praia de Armação, levam a crer que esta mesma dinâmica aí ocorre, com a formação de canais e bancos longitudinais e oblíquos, além de depressões circulares na zona de surfe, o que poderia ser causado conjuntamente pela ação direta do clima de ondas da primavera e pela herança dos altos níveis de energia do inverno. Adicionalmente, em questionário distribuído a cerca de 20 salva-vidas da SALVAMAR, a grande maioria destes confirmou esta interpretação. A formação dos canais longitudinais, e, principalmente, dos oblíquos, cria condições propícias para o desenvolvimento de correntes de retorno, além de se constituírem, junto com as depressões circulares, em fatores de risco isolados, uma vez que a lâmina d’água sobre estes pode ultrapassar a altura dos banhistas. Desta forma, a dinâmica do inverno e da primavera produzem 130 modificações na forma do perfil, dentro da zona de surfe, que favorecem a ocorrência de acidentes. XIII.13 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Velocidade dos Ventos Costeiros na Área Estudada. Muitas vezes os ventos que incidem sobre a zona costeira apresentam direção e velocidade diferentes daqueles que geram as ondas em alto-mar. Durante a primavera, em Salvador, a velocidade média mensal registrada dos ventos costeiros, dentro do período 1997/2000, foi de 2,1 m/s, (Tabela XVII, Fig. 85 - INMET). No verão, esta média, estabelecida dentro do mesmo período, diminuiu para 1,8m/s, ou seja: cerca de 17% menor (Tabela XVII, Fig. 85 - INMET). Esta maior velocidade dos ventos costeiros, incidindo sobre a zona de surfe, na primavera, pode aumentar a altura das ondas e consequentemente a velocidade das correntes longitudinais e de retorno, podendo explicar, em parte, a diferença no número de acidentes ocorridos entre a primavera e o verão (estudos mais precisos são necessários para verificar esta suposição). Contudo, esta correlação não pode levar em consideração apenas a variação na velocidade dos ventos costeiros, e compará-la diretamente com o número de acidentes, uma vez que, durante os meses nos quais predominam os ventos mais intensos, abrilagosto, é verificado um baixo número de acidentes, neste caso, como se verá adiante, devido às baixas taxas de insolação (INMET), que não estimulam a ida dos banhistas às praias (Fig. 87). A figura 85 mostra que não é suficiente que haja apenas picos de energia, gerados por ondas e ventos, para que o número de acidentes seja elevado, e sim, também, uma maior freqüência de banhistas, que é motivada pela altas taxas de insolação da primavera e do verão. Ano Dez (m/s) Jan (m/s) Fev (m/s) Mar (m/s) Abr (m/s) Mai (m/s) Jun (m/s) Jul (m/s) Ago (m/s) Set (m/s) Out (m/s) Nov (m/s) 1997 1,9 1,5 1,5 1,5 1,4 2,3 1,3 2 2 1,8 2,1 1,9 1998 2,1 1,8 1,9 1,9 2 2 2,8 2,6 2,1 2,1 2,1 1,9 1999 1,7 2 1,6 1,9 2,1 2,1 2,1 2,3 2,8 2 2,3 2,2 2000 1,9 1,7 1,7 1,7 1,8 2 2,4 2,3 2,3 2,4 2,2 2 1,9 1,8 1,7 1,8 1,8 2,1 2,2 2,3 2,3 2,1 2,2 2,0 Média Mensal (m/s) Média da Estação (m/s) Verão 1,8 Outono 1,9 Inverno 2,3 Primavera 2,1 Tabela XVII - Distribuição da velocidade média mensal e sazonal dos ventos costeiros na área estudada (INMET). 131 Média mensal do número de acidentes (1997-2000) 2 5 0 Verão 30,5% Primavera 44,8% 2 0 0 acidentes 1 5 0 1 0 0 50 0 D E Z J A N F E V M A R A B R M A I J U N J U L A G O S E T O U T N O V O U T N O V Velocidade média mensal dos ventos costeiros (1997-2000) 2,40 inverno 2,30 2,20 velocidade (m/s) 2,10 2,00 1,90 1,80 1,70 1,60 D E Z J A N F E V M A R A B R M A I J U N JUL A G O S E T Médias mensais da densidade de energia das ondas em alto-mar , em frente à costa atlântica de Salvador 2.200 inverno 2.100 2.000 Energia (N/m 2) 1.900 1.800 1.700 1.600 1.500 1.400 Dez Jan F e v Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Figura 85 - Comparação entre a média mensal de acidentes, registrados entre 1997 e 2000 (linha vermelha), a velocidade média mensal dos ventos costeiros, em m/s, registrada entre 1997 e 2000 (linha 2 verde) e a média ponderada mensal do nível de energia das ondas incidentes de alto-mar, em N/m (linha azul) 132 XIII.14 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Dinâmica das Marés na Área Estudada. Como já foi mencionado nos ítens VII.3 e VIII, as correntes de retorno, a depender também da geomorfologia local, podem ser aceleradas durante o período de vazante da maré, com incrementos entre 33% e 48%, nos casos avaliados por Short & Hogan (1994). Nas praias de Salvador, embora não tenha sido feito nenhum experimento nesse sentido, o testemunho dos salva-vidas, baseado na vivência do dia-a-dia, leva a crer que este efeito também aí se observa. Durante a primavera, no período compreendido entre 1994 e 2000, a amplitude média das marés, em comparação com o verão, foi cerca de 8% maior (WXTide32), o que, naturalmente, amplia os seus efeitos, incluindo aí, possivelmente, a aceleração das correntes de retorno. Outro efeito induzido pela dinâmica das marés e que pode produzir reflexos sobre a segurança da praia é a variação que é gerada no tamanho da área intermareal. Durante a preamar, sobretudo em marés de sizígia, a área seca da praia - onde os banhistas se concentram - fica reduzida, fazendo com que os mesmos, eventualmente, numa praia com características intermediárias, por exemplo, entrem na zona de surfe, expondo-se aos diversos fatores de risco, como as correntes, o repuxo e o quebramento das ondas, sendo que este último fator ocorre sobretudo nas praias refletivas. Ainda durante a preamar, o simples aumento da lâmina d’água constitue-se em mais um fator de risco, sobretudo para aqueles banhistas que não apresentam uma boa habilidade de nado, pelo fato de que, ao penetrarem na água, poderem ser mais facilmente encobertos. Este aumento da profundidade irá dificultar também a visualização dos canais submersos que encontram-se situados mais próximos à face da praia, por onde as correntes também fluem, fato este que pode ser verificado com freqüência nas praias de Jaguaribe, Stella Maris e Aleluia (Fig. 86). Neste sentido, a dinâmica das marés pode influenciar de várias maneiras na ocorrência de acidentes. 133 praia preamar banco interno canal interno canal externo banco externo baixamar Figura 86 - Modelo esquemático de fator de risco induzido pela preamar, onde o canal e o banco internos ficam submersos, dificultando a sua visualização por parte dos banhistas (praia de Jaguaribe, Salvador-Ba.). XIII.15 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e as Taxas de Insolação na Área Estudada As altas taxas de insolação que são verificadas durante a primavera, as maiores do ano (Tabela XVIII, Fig. 87), induzem a ida de milhares de pessoas às praias e consequentemente contribuem para a ocorrência de acidentes, mas não justificam o fato de ser esta estação a que detém o maior número de acidentes registrados, cerca de 44,8% do total (Tabela III), uma vez que a freqüência de banhistas durante o verão, resultante de ser um período tradicionalmente de férias, é ainda mais elevada, e que a diferença de insolação, entre a primavera e o verão, é de cerca de apenas 3% (Tabela XVIII), além do que, a ocorrência de acidentes depende também da existência, da natureza e da intensidade dos fatores de risco. Neste sentido, não há, assim, influência a maior, na primavera, da quantidade de insolação que possa justificar o fato do número de acidentes ser mais elevado nesta estação do que no verão. 1997 Dez (hs) 215 Jan (hs) 230 Fev (hs) 155 Mar (hs) 150 Abr (hs) 180 Mai (hs) 150 Jun (hs) 155 Jul (hs) 165 Ago (hs) 200 Set (hs) 235 Out (hs) 240 Nov (hs) 245 1998 235 245 225 270 230 175 120 165 215 247 267 200 1999 204 271 205 243 198 145 152 185 175 218 192 175 2000 193 234 215 235 160 163 145 175 161 192 273 222 245,0 200,0 224,5 192,0 158,3 143,0 172,5 187,8 223,0 243,0 210,5 Ano Média 211,8 Mensal Média da Estação Verão 218,9 Outono 191,6 Inverno 167,8 Primavera 225,5 Tabela XVIII - Distribuição da insolação média mensal e sazonal, em horas/sol, na área estudada (INMET). 134 Horas de Sol 250 225 200 175 150 125 FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV JAN DEZ 300 Acidentes 250 200 150 100 50 0 JAN DEZ Figura 87 - O gráfico de cima mostra a média mensal de insolação, registrada entre 1995 e 2000 (INMET). O gráfico de baixo mostra as médias mensais de acidentes, registrados entre 1994 e 2000. Observa-se que as curvas têm comportamentos bastante semelhanteses. XIII.16 - Relações entre a Altura Média das Ondas e a Ocorrência de Acidentes, ao Longo do Ano e da Linha de Costa na Área Estudada A distribuição, ao longo de cada um dos setores da linha de costa, da altura média das ondas (Tabela XIX), extraídas dos diagramas de refração de ondas (Figs. 44, 45, 46 e 47), na isóbata de 5 m, e ponderadas pela suas freqüências médias anuais de ocorrência (Tab. I), quando comparadas com a distribuição, também ao longo dos mesmos setores da linha de costa, das médias anuais de acidentes (Tabela VII), mostra que não há uma relação uniforme entre os setores da linha de costa que exibem as maiores alturas médias de ondas e os que detêm os números mais elevados de acidentes (Fig. 88). Nota: para esta comparação foram excluídos os seguintes dados: 1) as ondas de SSE e os registros de acidentes referentes ao inverno, que correspondem a um período de muita chuva e relativo frio, com a conseqüente baixa afluência de banhistas; 2) a parte interna do Setor 3 que praticamente nã o apresenta ondas durante todo o ano. Neste sentido, a comparação aqui realizada corresponde ao clima de ondas que predomina durante cerca de 88% do ano, correspondendo principalmente ao período compreendido entre a primavera e o outono. 135 A relação entre a altura média das ondas e a ocorrência de acidentes, registrados em cada setor, é diretamente proporcional dentro dos Setores 1 e 2, os quais, durante a primavera e o verão, apresentam alturas médias de ondas de 0,3 m e 0,7m, respectivamente. A partir desta altura de 0,7m, a relação torna-se inversa, com o número de acidentes decrescendo, a despeito do aumento da energia (Fig. 88). Altura média das ondas de N 90º Altura média das ondas de N 135º Altura média das ondas de N 45º Freqüência média anual (42%) Freqüência média anual (30%) Freqüência média anual (16%) 1 0,2 m 0,5 m 0,0 m 0,3 m 2 0,6 m 1,0 m 0,2 m 0,7 m 3 (parte externa) 0,7 m 1,3 m 0,5 m 0,9 m 4 1,3 m 1,3 m 0,7 m 1,2 m Setor Altura média anual das ondas na isóbata de 5 m (ponderada pelas freqüências) Tabela XIX - Altura média das ondas, entre a primavera e o outono, em cada setor, extraídas dos diagramas de refração de ondas, na isóbata de 5 m. 136 1 0,8 (m) Altura Média das Ondas na Isóbata de 5 m 1,2 0,6 0,4 0,2 1 2 3 4 Setores da Costa Atlântica 80 Percentual Médio de Acidentes 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 Setores da Costa Atlântica Figura 88 - Comparação entre a altura média anual das ondas de leste, sudeste e nordeste, em cada setor da linha de costa, extraídas dos diagramas de refração de ondas, na isóbata de 5 m (gráfico de cima, em azul) e a média anual de acidentes, verificada em cada um dos setores da linha de costa estudada (gráfico de baixo, em vermelho). As setas marcam o início de divergência do andamento das duas curvas, que acontece a partir da altura de onda de 0,7 m. Da mesma forma, a distribuição da altura média de quebra das ondas, também ponderadas pelas suas freqüências médias anuais de ocorrência (Tabela I), em cada um dos setores da linha de costa, visualmente obtidas a partir das estimativas realizadas em cada praia, durante o ano, excluindo o inverno (Tabela XX), quando comparadas à distribuição média anual dos acidentes, em cada um dos setores, mostra que a mesma tendência acima descrita se repete (Fig. 89), ou seja: que quase nunca os níveis mais altos de energia, produzidos pela quebra de ondas superiores a 0,8 m de altura, estão diretamente relacionados à ocorrência de acidentes. 137 Altura média de quebra das ondas de N 90º Altura média de quebra das ondas de N 135º Altura média de quebra das ondas de N 45º Freqüência média anual (42%) Freqüência média anual (30%) Freqüência média anual (16%) 1 0,2 m 0,5 m 0m 0,4 m 2 0,6 m 1,0 m 0,2 m 0,8 m 3 (parte externa) 0,7 m 1,3 m 0,5 m 1,1 m 4 1,3 m 1,3 m 0,7 m 1,2 m Setor Altura média anual de quebra das ondas (ponderada pelas freqüências) Tabela XX - Altura média de quebra das ondas, entre a primavera e o outono, em cada setor da linha de costa estudada (visualmente estimadas). Altura Média de Quebra das Ondas 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 1 2 3 4 Setores da Costa Atlântica 80 Percentual Médio de Acidentes 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 Setores da Costa Atlântica Figura 89 - Comparação entre a altura média de quebra das ondas de leste, sudeste e nordeste, visualmente estimadas em cada setor, entre a primavera e o outono (gráfico de cima, em azul), e a média anual de acidentes, verificados em cada um dos setores da linha de costa estudada (gráfico de baixo, em vermelho). As setas marcam o início de divergência no andamento das duas curvas, que acontece a partir da altura de quebra de ondas de 0,8 m. 138 O resultado destas duas comparações sugere que, a partir de uma determinada altura média de ondas, que aparente e aproximadamente é de 0,7 m, na isóbata de 5 m, antes de quebrar, ou de 0,8 m, durante a quebra, o banhista pode começar a se sentir intimidado em entrar na zona de surfe, diminuindo assim a quantidade de acidentes. Por outro lado, praias abrigadas, que praticamente não apresentam ondas durante todo o ano, registram, obviamente, números muito baixos de acidentes, e estes, quando ocorrem, estão relacionados à banhistas que não possuem muita habilidade de nado, quase sempre crianças, que se deslocam sozinhas para áreas nas quais a profundidade da água é superior às suas alturas, ou à adultos alcoolizados. Excluindo-se estes dois tipos de acidentes, verifica-se então que parece existir uma faixa de energia, na zona de surfe, na qual os acidentes ocorrem, e, mais notadamente, dentro da qual estes variam de forma diretamente proporcional. Nas praias da costa atlântica de Salvador, parece que esta faixa de energia inicia-se um pouco acima do zero, ou seja: é necessário que existam pelo menos ondas, para, mesmo que pequenas (< 0,5m), venham a gerar correntes e remobilizar o sedimento do fundo, criando desta forma os fatores de risco, e o limite superior desta faixa de energia, corresponde a, aproximadamente, uma altura de quebra entre 0,5 e 1,0 m, visualmente estimada entre a primavera e o outono. XIII.17 - Relações entre as Condições de Balneabilidade das Praias e a Ocorrência de Acidentes na Área Estudada Algumas praias, apesar de apresentarem fatores de risco elevados, apresentam baixos índices de acidentes, devido à alta taxa de poluição orgânica, causada por rios, esgotos sanitários e rede pluvial, que, visível à maior parte da população, reduz a freqüência de banhistas, diminuindo assim o número de acidentes. Porém, uma vez eliminados estes agentes poluentes, a possibilidade de ocorrerem acidentes tenderá a se elevar. Praias extensas, com muito espaço físico, como Armação e 3ª Ponte (Anexo I), por exemplo, deveriam atrair uma quantidade muito maior de banhistas, e, por apresentarem fatores de risco elevados, deveriam gerar números maiores de acidentes, mas os altos índices de coliformes fecais encontrados em suas águas (Tabela XXI - CRA 2000), reduzem sobremaneira a afluência de banhistas e consequentemente a ocorrência de acidentes. A praia do Jardim dos Namorados (Anexo I), localizada em uma área bastante populosa mas com águas extremamente poluídas, também registra a mesma tendência, de baixa freqüência de banhistas acompanhada de poucos acidentes (Tabela XXI). 139 1997 Praia Farol da Barra Ondina Rio Vermelho Sant'ana 1998 1999 2000 Média Própria Imprópria Própria Imprópria Própria Imprópria Própria Imprópria Própria Imprópria 56 44 86 14 100 0 95 5 84% 16% 41 59 72 28 79 21 81 19 68% 32% 23 77 47 53 52 48 76 24 50% 50% 2 98 6 94 3 97 24 76 9% 91% Amaralina 51 49 83 17 83 17 89 11 77% 23% Pituba 33 67 78 22 45 55 86 14 61% 39% 0 100 0 100 0 100 0 100 0% 100% 41 59 33 67 14 86 86 14 44% 56% Armação Norte 18 82 6 94 7 93 32 68 16% 84% Artistas 69 31 56 44 41 59 92 8 65% 35% 3ª Ponte 28 72 11 89 10 90 11 89 15% 85% 77 23 86 14 100 0 97 3 90% 10% 64 36 75 25 83 17 89 11 78% 22% 5 95 0 100 4 96 8 92 4% 96% 67 33 75 25 46 54 92 8 70% 30% 97 3 100 0 100 0 97 3 99% 1% Jardim dos Namorados Armação Sul Jaguaribe / Piatã Placafor Sereia Farol de Itapuã Stella Maris / Aleluia Tabela XXI - Condições de balneabilidade das praias monitoradas pelo Centro de Recursos Ambientais (CRA) na área estudada, entre os anos de 1997 e 2000 (em percentagem - CRA 2000) A análise da figura 90 mostra, para as praias que são monitoradas pelo Centro de Recursos Ambientais (CRA), que as curvas de balneabilidade e de acidentes mantêm aproximadamente uma mesma tendência, com exceção das praias de Amaralina e Pituba. 140 100% acidentes e balneabilidade médios 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Stella Maris/Aleluia F.Itapoã Sereia Placafor Piatã Jaguaribe 3ª Ponte Corsário* Artistas Armação Jd.Namorados Pituba Amaralina Sant'ana Rio Vermelho Ondina Farol da Barra Figura 90 - Comparação entre as condições de balneabilidade das praias monitoradas pelo Centro de Recursos Ambientais (CRA), entre os anos de 1997 e 2000 (linha azul) e a ocorrência anual média de acidentes verificados nestas mesmas praias, neste mesmo período (linha vermelha) XIII.18 - Relações entre as Condições de Acesso às Praias e a Ocorrência de Acidentes na Área Estudada As condições de acesso a uma determinada praia influenciam diretamente nas taxas de freqüência à mesma e por conseguinte, no eventual número de acidentes. Quanto mais facilitado for o acesso, maior será a possibilidade de afluência de banhistas e, dessa forma, maiores as possibilidades de ocorrerem acidentes. Porém, existe um fator limitante, que é o potencial de risco de cada praia, o qual é composto unicamente pelos fatores de risco aí existentes. Praias bastante seguras, como as das Ruas K e E (Anexo I), por exemplo, anteriormente citadas, continuarão a apresentar baixos índices de acidentes, mesmo que a freqüência de banhistas seja bastante elevada. Por outro lado, praias que apresentam vários, ou mesmo poucos fatores de risco, mas de graus elevados, como fortes correntes de retorno, relevo muito ondulado na zona de surfe, forte repuxo das ondas, etc, apresentarão índices de acidentes que crescerão de maneira rápida e proporcional ao aumento na freqüência de banhistas. De acordo com a metodologia aqui adotada para determinar e classificar as condições de acesso às praias da costa atlântica de Salvador (Tabela II), as praias em questão foram classificadas em graus que variam de 1 a 4, correspondendo respectivamente a acessos considerados como ruins, regulares, bons e muito bons, como mostra a Tabela XXII. 141 Praia Condição de Acesso 3 (Bom) Stella Maris-Aleluia Flamengo 2 (Regular) Catussaba 2 (Regular) Caveira 2 (Regular) Pedra do Sal 2 (Regular) Porto de Leocádio 2 (Regular) Farol de Itapuã 2 (Regular) Rua K 2 (Regular) Rua E 2 (Regular) Porto 2 (Regular) 3 (Bom) Placafor /Sereia Piatã 4 (Muito Bom) Jaguaribe 4 (Muito Bom) Mordomia 4 (Muito Bom) Patamares -3º Ponte 3 (Bom) Artistas-Corsário 3 (Bom) Aratubaia 3 (Bom) Armação 3 (Bom) 2 (Regular) Jardim dos Namorados Pituba 4 (Muito Bom) Amaralina 3 (Bom) Buracão 1 (Ruim) Sant’ana 2 (Regular) Paciência 2 (Regular) Rio Vermelho 2 (Regular) Bacia das Moças 2 (Regular) Ondina 3 (Bom) Paquera 3 (Bom) Salvador Praia Hotel 1 (Ruim) Farol da Barra 3 (Bom) Tabela XXII - Ranqueamento das condições de acesso às praias estudadas (para entendimento dos índices ver Tabela II) A análise da figura 91, onde estão representadas as condições de acesso às praias da costa atlântica de Salvador e suas respectivas médias anuais de acidentes, mostra que há uma razoável semelhança entre estas duas curvas. 142 0 1 0,5 Farol da Barra Corsário Armação Jardim dos Namorados Pituba Amaralina Buracão Santana Rio Vermelho Ondina Salvador Praia Hotel 143 Piatã Placafor Sereia Farol de Itapoã Camping Pedra do Sal Flamengo Stella Maris Aleluia Piatã Placafor Sereia Farol de Itapoã Camping Pedra do Sal Flamengo Stella Maris Aleluia Jaguaribe 1,5 Patamares/3ª Ponte 2 Jaguaribe 2,5 Patamares/3ª Ponte 3 Artistas 3,5 Artistas 4 Pituaçú 4,5 Pituaçú Corsário Armação Jardim dos Namorados Pituba Amaralina Buracão Santana Rio Vermelho Ondina Salvador Praia Hotel 0,0 Farol da Barra Condições de Acesso Percentual de Acidentes 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 Figura 91 - A linha vermelha mostra as médias anuais de acidentes, verificados em cada uma das praias, dentro do período 1997-2000. A linha azul mostra as condições de acesso às praias estudadas, quantificadas de acordo com os critérios apresentados na Tabela II. XIII.19 - Fatores Relacionados à Concentração de Acidentes nas Praias do Estágio Morfodinâmico Intermediário na Área Estudada Comparando-se o número de acidentes registrados em cada praia com o seu respectivo estágio morfodinâmico, verifica-se que existe uma concentração de acidentes em praias do tipo Intermediário. Embora estas representem, cerca de 56% da extensão total da costa atlântica (Tabela X), concentram um número ainda maior de acidentes, com cerca de 77% dos registros, em média (Tabela XXIII e Fig. 92). Praia Estágio Morfodinâmico Praial PercentualMédio de Acidentes Intermediário Intermediário 1,8% 4,2% Flamengo não se enquadra no modelo 3,8% Catussaba não se enquadra no modelo 0,8% Caveira não se enquadra no modelo sem registros Pedra do Sal não se enquadra no modelo 1,1% Porto de Leocádio não se enquadra no modelo sem registros Farol de Itapuã não se enquadra no modelo 5,1% Rua K não se enquadra no modelo sem registros Rua E Porto não se enquadra no modelo não se enquadra no modelo sem registros sem registros Placafor /Sereia não se enquadra no modelo 0,6% Piatã Jaguaribe Intermediário Intermediário 22,5% 32,4% Mordomia Intermediário sem registros Patamares/3º Ponte Intermediário 3,0% Artistas/Corsário Intermediário 6,7% Aratubaia não se enquadra no modelo sem registros Armação Intermediário 6,6% Aleluia Stella Maris Jardim dos Namorados Refletiva sem registros não se enquadra no modelo 0,3% Amaralina Buracão Refletiva abrigada c/ característica refletivas 0,4% sem registros Sant’ana abrigada c/ característica refletivas sem registros Paciência Rio Vermelho abrigada c/ característica refletivas não s e enquadra no modelo sem registros 0,1% abrigada sem registros Pituba Bacia das Moças Ondina não se enquadra no modelo 4,8% Paquera não se enquadra no modelo sem registros abrigada c/ característica refletivas sem registros não se enquadra no modelo 5,8% Salvador Praia Hotel Farol da Barra Tabela XXIII - Relação entre as características morfodinâmicas das praias estudadas e as médias anuais de acidentes, registrados no período 1997-2000 (SALVAMAR) 144 90% 80% 70% 60% 50% % Estágio Morfodinâmico das Praias 40% Média Anual dos Acidentes 30% 20% 10% 0% Intermediárias não se enquadram no modelo Refletivas Dissipativas Estágios Morfodinâmicos de Praias Figura 92 - Comparação entre as características morfodinâm icas das praias estudadas e a ocorrência de acidentes. A linha azul mostra o percentual dos estágios morfodinâmicos praiais em relação à extensão total das praias estudadas. A linha vermelha mostra a respectiva distribuição relativa dos acidentes, registrados entre 1997 e 2000 (SALVAMAR). Vários fatores podem contribuir para gerar esta concentração. Evidentemente, para que aconteçam acidentes em números expressivos é necessário não somente que existam fatores de risco para o banho nas praias, mas, também, que haja uma grande afluência de banhistas. Do ponto de vista atrativo, as praias do tipo Intermediário congregam determinados aspectos físicos que contribuem para serem freqüentadas por um grande número de banhistas. A baixa declividade da face da praia, por exemplo (Tabela XIII), propicia a formação de uma larga zona de espraiamento, criando um espaço físico suficientemente grande para acomodar um grande número de pessoas. Tambem a granulometria típica do sedimento - entre fina e média (Tabela XI) – por sua vez, favorece a formação de um piso plano e bem compactado, que tornam o ato de caminhar mais agradável, facilitando a prática de esportes e atraindo, por conseguinte, um grande número de freqüentadores. Por outro lado, determinadas características geomorfológicas e hidrodinâmicas, inerentes ao estágio morfodinâmico Intermediário, favorecem a ocorrência de acidentes, como a forma marcadamente ondulada do perfil submerso – tanto no sentido longitudinal quanto no transversal - com bancos e canais de grande mobilidade temporal, criam um 145 ambiente instável e perigoso, tanto pelo desenvolvimento de correntes longitudinais e de retorno quanto pelo aparecimento repentino, para os banhistas, de locais mais profundos que podem ultrapassar as suas alturas. A corrente de retorno, que é o principal fator de risco de uma praia, e que é característica deste estágio morfodinâmico, costuma localizarse em áreas embaiadas, formadas entre bancos de areia, onde, devido à maior profundidade, e à circulação da própria corrente, as ondas geralmente não se desenvolvem em altura, criando uma zona relativamente calma e pseudo-abrigada, por onde o banhista geralmente é tentado a entrar, expondo-se ao risco da corrente de retorno. Outro fator que contribui para a ocorrência de acidentes, embora aparentemente paradoxal, é a baixa declividade do perfil da zona de surfe, que é mais uma característica deste tipo de praia (Tabela XIII) e que permite ao banhista penetrar bastante na zona de surfe, expondo-se aos fatores de riscos, ao mes mo tempo em que, o tipo de onda que normalmente se desenvolve sobre estes fundos de baixa declividade, que é o Deslizante, não assusta o banhista, pelo fato de não causar grandes impactos, uma vez que vem se dissipando progressivamente pela zona de surfe, mas que, de qualquer maneira, gera correntes longitudinais e de retorno. Embora não tenha sido feita nenhuma medida da declividade da zona de surfe durante a realização do presente trabalho, está-se aqui assumindo, e as observações realizadas a partir do padrão de quebramento das ondas confirma, que tal declividade corresponde, aproximadamente, à declividade da zona de espraiamento, esta sim medida durante este trabalho e que demonstrou apresentar uma boa correlação com os estágios morfodinâmicos praiais, como já foi mencionado. XIII.20 - Fatores Geológicos de Grande Escala e suas Relações com a Ocorrência de Acidentes na Área Estudada Ao analisar-se a direção e a natureza geológica de cada um dos setores da linha da costa atlântica de Salvador, observa-se que a influência legada pela tectônica do Mesozóico resultou em proteger, em especial, o Setor 1 e parte do Setor 3 (a enseada de Itapuã), da ação direta das ondas de leste e de nordeste (Figs. 44 e 46, respectivamente), que, ocorrendo somadas durante cerca de 58% do ano (Tabela I), geram uma boa parte da energia e dos fatores de risco associados, dentro da zona de surfe. Esta proteção faz com estes dois setores registrem, comparativamente aos demais, baixos índices de acidentes (Fig. 93). Além disto, o grande número de afloramentos de rochas 146 precambrianas cristalinas, que no mais das vezes formam promontórios, favorece a formação de praias curtas e embaiadas, do tipo enseada, nas quais, pelas suas dimensões, não é possível acomodar um número muito grande de banhistas, o que acaba por influenciar, também, na ocorrência de acidentes. Número de acidentes registrados por kilômetro linear, durante 1997-2000 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Setor 1 Setor 2 Setor 3 Setor 4 Figura 93 - Distribuição do número de acidentes por quilômetro linear, verificados em cada um dos quatro setores da área estudada, durante o período 1997-2000. XIII.21 - Grau de Risco Potencial das Praias Estudadas (GRPo) O Grau de Risco Potencial, aqui denominado de GRPo, é um conceito inédito, proposto neste trabalho, que procura avaliar semi-quantitativamente o risco potencial modal de cada praia para o banho, englobando para tanto os diversos fatores ambientais que ocorrem em cada uma das praias e que têm relação direta com o risco do banho de mar, como a existência e a intensidade das correntes de retorno, a existência de depressões, o impacto e o repuxo das ondas, a altura de quebra das ondas e a dificuldade das operações de salvamento. Por risco potencial modal, deve-se entender que é o risco inerente, intrínseco a cada uma das praias estudadas, independentemente dos números de acidentes que são aí registrados, e que representam uma condição de 147 risco que geralmente é encontrada durante quase todo o ano, especialmente durante os períodos da primavera, verão e parte do outono, que são os períodos com a maior freqüência de banhistas às praias, condição de risco esta gerada pelas ondas de sudeste, leste e nordeste que juntas representam cerca de 88% da distribuição das ondas ao longo do ano (Tabela I). Pelo fato de não terem sido quantificados os fatores aqui considerados em relação a esse assunto, tal aproximação encerra, portanto, um certo grau de subjetividade, estando apoiada fundamentalmente em dois aspectos, que são: o grau do fator de risco principal da praia, e o grau de dificuldade da operação de salvamento. Neste trabalho, como já mencionado anteriormente, a existência e os tipos de fatores de risco com suas respectivas intensidades, identificados nas praias, foram determinados através de seguidas observações visuais feitas in loco; através de experimentos realizados com flutuadores; através da análise visual das ondas na zona de surfe; do exame dos diagramas de refração de ondas e também pelo depoimento dos salva-vidas. Os fatores de risco identificados em cada uma das praias estudadas estão descritos no ítem XIII.6 e apresentados resumidamente na Tabela XXIV, a seguir. Nas praias em que existem correntes de retorno com velocidades estimadas tanto como fortes quanto como fracas, a depender da altura das ondas, como na praia de Jaguaribe, por exemplo, para efeito de utilização desta tabela foi considerada corrente forte, por encerrar um risco maior. Hb (m) Praia Fatores de Risco E SE NE Stella Maris Aleluia 1,0 1,5-2,0 0,5 Flamengo 1,0 1,5 < 0,5 Catussaba 1,0 1,5 0,5 Caveira 1,0 1,5-2,0 0,5 Pedra do Sal 1,0 1,5-2,0 0,5 1,0 1,5-2,0 0 1,0 1,5-2,0 0 Rua K 0 0 0 Rua E Porto Sereia 0 0 0 < 0,5 0 0,5 0 0 0 Porto de Leocádio Farol de Itapuã Principal Outros Fortes correntes de retorno Forte corrente de retorno Fortes correntes de retorno Forte corrente de retorno Forte corrente de retorno Forte corrente de retorno Forte corrente de retorno Corrente com intensidade fraca Depressões Canais longitudinais profundos; depressões 148 Repuxo Repuxo Repuxo Repuxo Repuxo Repuxo Afloramentos rochosos que podem dificultar o resgate Submersos Emersos e submersos Emersos e submersos Emersos e submersos Emersos e submersos Emersos e submersos Emersos e submersos - Submersos Fracas correntes de Emersos e Placafor Piatã Jaguaribe < 0,5 1,0 0 Depressões 0 0,5-1,0 0 Depressões 0,5 Correntes de retorno com intensidade forte e fraca 0,5-1,0 1,5 Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Forte corrente de retorno Fortes correntes de retorno Mordomia 0,5-1,0 1,0 0,5 Patamares-3ª Ponte 0,5-1,0 1,5 0,5 ArtistasCorsário 0,5-1,0 1,0 0,5 Aratubaia 0,5-1,0 1,0 0,5 Armação 0,5-1,0 1,5 0,5 Jardim dos Namorados 0,5 1,0-1,5 0 Repuxo Pituba 0,5 0,5-1,0 0 Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Amaralina 0,5 1,0-1,5 0 Repuxo Buracão 0,5 1,0 0 Repuxo Sant’ana 0 < 0,5 0 < 0,5 0,5 0 0 < 0,5 0 Ondina 0,5 1,5 0 Paquera 0 0,5 0 Salvador 0 0,5-1,0 0 Rio Vermelho Bacia das Moças Fracas correntes de retorno Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Fracas correntes de retorno Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Correntes de retorno com intensidade forte e fraca Forte corrente de 149 retorno Fracas correntes de retorno Fracas correntes de retorno submersos Emersos e submersos - Canais longitudinais e oblíquos profundos; depressões - Depressões Emersos e submersos Correntes induzidas pelo Rio Jaguaribe; depressões - Depressões Submersos - - Canais longitudinais profundos; repuxo Impacto das ondas frontais; corrente de retorno com forte intensidade Depressões Impacto das ondas frontais; correntes de retorno com forte intensidade Impacto das ondas frontais; corrente de retorno com forte intensidade Submersos - Emersos e submersos - - - - Depressões Emersos e submersos - - Repuxo Emersos e submersos Impacto das ondas; repuxo Emersos e submersos Impacto das ondas Emersos Praia Hotel Farol da Barra 0,5 1,0 0 retorno Corrente de retorno com forte intensidade frontais; repuxo Impacto das ondas frontais; depressões Emersos e submers os Tabela XXIV - Principais fatores de risco, suas intensidades, elementos que podem dificultar as operações de salvamento e altura média de quebra das ondas de leste, sudeste e nordeste, visualmente estimadas, em cada uma das praias estudadas. Quanto ao grau do fator de risco principal, este foi estabelecido através da observação visual da geomorfologia e da hidrodinâmica da zona de surfe de cada uma das praias estudadas; através de experimentos realizados com flutuadores; através da análise das condições de ondas na zona de surfe e a partir do depoimento dos salvavidas. Foram então estabelecidos, baseando-se na análise individual feita para cada uma das praias, dois níveis de risco, classificados como sendo do tipo BAIXO (grau 1) e ALTO (grau 3) que estão apresentados na Tabela XXV, a seguir, e que representam a provável dificuldade que o banhista tem em superar o fator de risco principal encontrado em uma determinada praia. a) Grau do Fator de Risco Principal b) Gau de Dificuldade da Operação de Salvamento c) Grau de Risco Potencial = a) x b) BAIXO (1) BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) BAIXO (1) MÉDIO (2) BAIXO (2) BAIXO (1) ALTO (3) MÉDIO (3) ALTO (3) BAIXO (1) MÉDIO (3) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) Tabela XXV - Determinação do Grau de Risco Potencial (GRPo) de uma praia. Assim, por exemplo, o grau do fator de risco principal das praias do Farol de Itapuã, Porto de Leocádio, Pedra do Sal, Caveira e Flamengo, que representam a totalidade da parte externa do Setor 3 (Anexo I), foi considerado como sendo ALTO (Tabela XXVI), devido à alta velocidade do fator de risco principal, no caso as correntes de retorno que aí se desenvolvem. Já as praias de Aleluia, Stella Maris e Jaguaribe, apesar de não apresentarem correntes de retorno com velocidades tão elevadas, apresentam também um grau de risco ALTO para estas correntes (Tabela XXVI), uma vez que o caráter 150 migratório destas, resultante do deslocamento dos bancos de areia e dos canais, surpreende constantemente os banhistas. Já as praias da Sereia e Placafor apresentam graus do tipo BAIXO (Tabela XXVI) pelo fato de os principais fatores de risco aí existentes tratarem-se de depressões formadas no sedimento que não apresentam o mesmo potencial de risco das correntes de retorno. A determinação do grau do fator de risco principal de cada uma das praias está apoiada nas descrições apresentadas no ítem XIII.6 e apresentados resumidamente na tabela XXVI, a seguir. Quanto ao grau de dificuldade da operação de salvamento, este representa o somatório de todas as dificuldades que o salva-vidas encontra para resgatar a vítima dentro da zona de surfe, como por exemplo, a extensão do deslocamento que ele será obrigado a cumprir, o tipo e a altura de quebra das ondas, a força do repuxo das ondas, a profundidade da lâmina d’água, a existência de rochas, muitas vezes incrustadas por carapaças de moluscos ou por ouriços que podem dificultar a saída do salva-vidas com o resgatado, etc. O grau de dificuldade da operação de salvamento foi então estabelecido através da análise da geomorfologia e das condições hidrodinâmicas da zona de surfe, sendo posteriormente discutido com os próprios salva-vidas. A partir desta discussão foram estabelecidos três níveis de dificuldade, classificados como sendo do tipo BAIXO (nível 1), que não apresenta praticamente alguma destas dificuldades, MÉDIO (nível 2) que apresenta algumas destas e ALTO (nível 3), que congrega todas as dificuldades acima descritas (Tabela XXVI). Assim, por exemplo, a praia de Piatã (Anexo I) foi considerada como sendo de BAIXO grau de dificuldade (Tabela XXVI) porque os resgates são feitos muito próximos à face da praia e sob condições hidrodinâmicas bastante amenas, uma vez que o fator de risco principal é representado pela existência de depressões no sedimento e não pela ação de correntes de retorno (Tabela XXIV). Já a praia de Jaguaribe (Anexo I) foi considerada como de MÉDIO grau de dificuldade porque as correntes de retorno, que são os principais fatores de risco desta praia (Tabela XXIV), normalmente não apresentam velocidades das mais elevadas,quando comparadas com as praias da parte externa do Setor 3, por exemplo. Além disso, a profundidade da lâmina d’água que aí é registrada, não é muito grande (função da baixa declividade – Tabela XIII), e o seu fundo é predominantemente formado por areia, praticamente sem afloramentos de rochas, o que facilita o resgate. No outro extremo, a praia da Caveira (Anexo I), apresenta um ALTO grau de dificuldade (Tabela XXVI), devido à grande velocidade da corrente de retorno que aí ocorre, o que normalmente obriga o salva-vidas a vencer um longo trajeto para alcançar o banhista em apuros, e mais ainda devido à 151 existência de afloramentos de rochas incrustadas por ouriços e carapaças de moluscos, por onde o salva-vidas terá de sair com o resgatado. Desta forma, a análise referente às dificuldades das operações de salvamento para cada praia, foi feita aproveitando a larga experiência dos salva-vidas no seu dia-a-dia, o que não poderia deixar de ser considerado no presente trabalho tendo em vista a utilidade pública que estas informações detêm, mesmo considerando os seus caráteres intuitivo e subjetivo. Naturalmente, cada uma das informações fornecidas pelos salva-vidas foram confrontadas com observações realizadas durante este trabalho a cerca dos diversos aspectos hidrodinâmicos e geomorfológicos de cada praia, a fim de avaliar a consistência dessas informações. A determinação do grau de dificuldade das operações de salvamento em cada uma das praias está, neste sentido, baseada nas descrições apresentadas no ítem XIII.6 e, resumidamente, na tabela XXIV. A multiplicação do grau do fator de risco principal de uma determinada praia pelo grau de dificuldade da operação de salvamento que aí é comumente realizada resulta no aqui considerado Grau de Risco Potencial desta praia, originando então cinco níveis, que são: MUITO BAIXO (1), BAIXO (2), MÉDIO (3), ALTO (6) e MUITO ALTO (9) (Tabela XXV). De acordo com as premissas então estabelecidas, o Grau de Risco Potencial (GRPo) das praias estudadas está apresentado na tabela XXVI e na figura 94. Praia Aleluia Stella Maris Flamengo Catussaba Caveira Pedra do Sal Porto de Leocádio Farol de Itapuã Rua K Fator de Risco Principal Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente entre afloramentos a) Grau do Fator de Risco Principal b) Grau de Dificuldade da Operação de Salvamento c) Grau de Risco Potencial = a) x b) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) BAIXO (1) MÉDIO (2) BAIXO (2) 152 Rua E Porto Sereia Placafor Piatã Jaguaribe Mordomia Patamares -3ª Ponte Artistas-Corsário Aratubaia Armação Jardim dos Namorados Pituba Amaralina Buracão Sant’ana Paciência Rio Vermelho Bacia das Moças Ondina Paquera rochosos Desprezível Desprezível Depressões Corrente de retorno Depressões Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Corrente de retorno Repuxo Corrente de retorno Repuxo Corrente de retorno Desprezível Repuxo Corrente de retorno Desprezível Corrente de retorno Corrente de retorno BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) BAIXO (1) MÉDIO (2) BAIXO (2) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) BAIXO (1) BAIXO (1) MUITO BAIXO (1) ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) ALTO (3) BAIXO (1) MÉDIO (3) Salvador Praia Hotel Repuxo ALTO (3) ALTO (3) MUITO ALTO (9) Farol da Barra Corrente de retorno ALTO (3) MÉDIO (2) ALTO (6) Tabela XXVI - Principais fatores de risco, seus respectivos graus de risco, graus de dificuldade das operações de salvamento e o Grau de Risco Potencial (GRPo) das praias da costa atlântica de Salvador. 153 Praia de Aleluia Ponta de Itapuã Desembocadura do Rio Jaguaribe Salvador Desembocadura do Rio das Pedras N Farol da Barra Oceano Atlântico Itapuãzinho 0 GRPo – Muito Baixo GRPo – Médio GRPo – Baixo GRPo – Alto 1 2 3km GRPo – Muito Alto Figura 94 - Grau de Risco Potencial (GRPo) das praias estudadas. A tabela XXVI e a figura 94 mostram que todas as praias situadas na parte externa do Setor 3, (Farol de Itapuã, Porto de Leocádio, Pedra do Sal, Caveira, Catussaba e Flamengo - Anexo I) apresentam Graus de Risco Potencial do tipo MUITO ALTO. Acreditamos que isto se deve à existência de vários promontórios formados por rochas cristalinas que favorecem o desenvolvimento de praias curtas e embaiadas, do tipo enseada, geomorfologia que, quando submetida à ação das ondas, confina a energia por estas geradas, produzindo geralmente fortes correntes de retorno que não se dissipam ao fluirem pelos flancos rígidos dos citados promontórios. A natureza predominantemente rochosa deste trecho da costa, com vários pequenos promontórios, (Anexo I) vem ainda a dificultar o resgate, uma vez que o salva-vidas não tem muitos locais seguros por onde sair com o banhista resgatado, a não ser pelas próprias rochas, que, além de provocarem contra sí a convergência dos raios-de-onda, costumam ainda estar incrustadas por ouriços e carapaças de moluscos, elevando ainda mais o Grau de Risco Potencial (GRPo) destas praias. No outro extremo da segurança encontra-se a parte interna deste mesmo Setor 3, formado pela Enseada de Itapuã (Anexo I) que, como visto anteriormente, está totalmente protegido das ondas de leste e nordeste e parcialmente das de sudeste, tanto pela sua própria direção WSW -ENE e NW-SE, quanto ainda pela proteção adicional que a ponta 154 de Itapuã lhe proporciona (Anexo I). As praias aí situadas (Placafor, Sereia, Porto e Rua E) apresentam Graus de Risco Potencial do tipo MUITO BAIXO (Tabela XXVI, Figura 94), com a única exceção da praia da Rua K, que apresenta do tipo BAIXO e que na verdade deve a ocorrência de seu único fator de risco à existência de uma fratura aberta nas rochas que limitam esta praia a leste, e por onde fluem as correntes que são geradas pela quebra das ondas na praia vizinha, como já foi descrito. Também toda a extensão do Setor 4 (Anexo I) apresenta Grau de Risco Potencial do tipo MUITO ALTO (Tabela XXVI, Figura 94), devido, sobretudo, à constante exposição à ação das ondas de leste, sudeste e nordeste, bem como, adicionalmente, à existência de canais longitudinais relativamente profundos, que são a conseqüência da exumação de bancos de arenito que ocorrem paralelamente à face da praia, por onde os banhistas têm suas alturas ultrapassadas pela lâmina d’água e também por onde as correntes longitudinais tornam-se confinadas, aumentando suas velocidades. O Setor 2 (Anexo I) apresenta praias com Graus de Risco Potencial que variam desde BAIXO até MUITO ALTO, com predomínio de ALTO e MUITO ALTO (Tabela XXVI, Figura 94). Com direção praticamente idêntica à da parte externa do Setor 3 e a todo o Setor 4, também está bastante exposto à ação das ondas de leste e de sudeste, mas a baixa ocorrência de promontórios e de bancos longitudinais de arenitos não favorece o confinamento da energia das ondas nem dificulta as operações de salvamento, como é verificado nestes outros dois setores da linha de costa, além do que, a ponta de Itapuã, como já foi descrito, exerce uma efetiva proteção contra a ação das ondas de nordeste, muito freqüentes durante o verão. O Setor 1 (Anexo I) apresenta Graus de Risco Potencial ainda mais variados, indo desde MUITO BAIXO até MUITO ALTO (Tabela XXVI, Figura 94), pois aí ocorrem tanto os fatores que o aumentam, como os promontórios rochosos, por exemplo, quanto, simultaneamente, fatores que o reduzem, neste caso a direção geral da linha de costa, E-W, que protege este setor completamente da ação das ondas de nordeste, bastante das de leste e ainda atenua a ação das de sudeste. A Figura 95 relaciona o Grau de Risco Potencial das praias patrulhadas pela SALVAMAR com os seus respectivos índices de acidentes registrados entre 1997 e 2000. Esta figura mostra que há uma relativa concordância entre estes dois parâmetros e que as poucas discordâncias apresentadas podem ser explicadas pela análise de diversos fatores que já foram abordados neste trabalho. Nas praias de Patamares-3ª Ponte, por exemplo, ocorre um distanciamento das duas curvas (Fig. 95) que é resultante da baixa 155 frequência de banhistas que aí é registrada em função dos altos níveis de poluição orgânica (Tabela XXI). As praias de Jaguaribe-Mordomia também apresentam um distanciamento das duas curvas em função da altíssima frequência de banhistas, atraídos pela grande beleza cênica, amplas dimensões e ótimas condições de acesso (Tabela XXII) bem como das características especiais dos fatores de risco aí encontrados, representados por correntes de retorno que constantemente migram lateralmente a partir de diferentes pontos e por muitas depressões que constantemente surpreendem os banhistas. O mesmo distanciamento das duas curvas ocorre na praia de Piatã, o que é devido, também, à altíssima frequência de banhistas, resultante dos mesmos fatores acima descritos, e que deve ainda uma boa parte dos acidentes aí registrados não a fatores exclusivamente ambientais e sim, também, à adultos alcoolizados e crianças que não posuem uma boa habilidade de nado, de acordo com informações prestadas pela SALVAMAR. Observa-se contudo que já existe uma tendência declinante na figura 95, de ambos os parâmetros analisados (GRPo e nº de acidentes), quando se analisa esta praia. Outra discordância é detectada na praia da Pedra do Sal, que é devida à baixa frequência de banhistas, que por sua vez é resultante da relativamente difícil condição de acesso (Tabela XXII). Já as praias do Rio Vermelho, Amaralina e Pituba, que também apresentam um distanciamento das duas curvas, tal fato pode ser atribuído ao bom conhecimento dos fatores de risco e de suas localizações por parte dos banhistas que a freqüentam, comumente formados por moradores destes próprios bairros (trabalhos neste sentido devem ser desenvolvidos a fim de testar esta suposição). 156 Grau de Risco Potencial e Percentual Médio de Acidentes 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 Aleluia Flamengo Pedra do Sal Farol de Itapuã Sereia Placafor Piatã Jaguaribe-Mordomia Patamares-3ª Ponte Artistas-Corsário Armação Pituba Amaralina Rio Vermelho Ondina Farol da Barra 0 Stella Maris 3 Figura 95 - A linha azul apresenta os valores de GRPo das praias patrulhadas pela SALVAMAR, enquanto que a linha vermelha apresenta os percentuais anuais médios de acidentes registrados nestas mesmas praias, dentro do período 1997-2000. Pode-se concluir então que a freqüência de banhistas, embora seja um fator de menor importância, quando comparada à existência e intensidade dos fatores de risco, deve também ser levada em consideração quando estuda-se a segurança das praias, para o banho. Para tanto, foram feitas várias tentativas na área estudada com o objetivo de estimar esta freqüência, procurando-se os diversos órgãos públicos da administração estadual e municipal, que contudo não dispunham deste tipo de dado, além de realizar-se um sobrevôo sobre todas as praias, mas que as condições meteorológicas de então não favoreceram a realização do objetivo uma vez que este dia apresentou-se parcialmente nublado com uma freqüência anormalmente baixa de banhistas. Esta freqüência de banhistas, uma vez bem estabelecida, pode, junto com o Grau de Risco Potencial, motivar a criação de um novo parâmetro, o Grau de Risco Público, que refletirá com maior precisão o grau de risco de cada praia. 157 XIV - CONCLUSÕES 1. O tectonismo que atuou durante o Mesozóico, representado na área estudada principalmente pelas falhas da Barra e de Itapuã (Fig. 11), gerou diferentes direções na linha de costa e expôs rochas do embasamento precambriano cristalino, ao longo e em torno de suas zonas de ocorrência. Estes elementos provocaram acentuadas mudanças nas características cênicas locais, bem como na interação destes diferentes segmentos da linha de costa com os diversos agentes hidrodinâmicos que atuam sobre o ambiente praial, permitindo que seja feita uma divisão da linha da costa atlântica de Salvador em quatro setores distintos (Fig. 11). Os Setores 1 e 3 apresentam direções gerais da linha de costa predominantemente este-oeste e também sudoeste-nordeste (Figs. 12 e 15, respectivamente). São de natureza rochosa, com diversas praias curtas e embaiadas, do tipo enseada e separadas entre sí por pequenos promontórios de rochas precambrianas. O sedimento da zona de espraiamento nestes setores é predominantemente grosso (Tabela IX), devido sobretudo à proximidade das rochas-fonte. A direção da linha de costa protege muitas das praias de grande parte da ação das ondas de leste e de nordeste. Os Setores 2 e 4 são mais extensos e apresentam direções gerais sudoeste-nordeste (Figs. 14 e 16). Por estarem mais afastados das zonas de influência das duas falhas supracitadas, quase não apresentam afloramentos de rochas cristalinas, o que favorece a formação de praias relativamente longas e de formato retilíneo. A direção geral da linha de costa expõe estes segmentos à ação da maior parte das ondas, durante todo o ano, gerando praias com zonas de surfe melhor desenvolvidas e com sedimentos na zona de espraiamento de granulometria eminentemente fina (Tabela IX), enquanto que o estágio morfodinâmico praial que aí predomina é o Intermediário (Tabela X). 2. A grande quantidade de afloramentos emersos e submersos, sobretudo de rochas precambrianas, resultante da tectônica mesozóica, mas também de bancos de arenito de idade quaternária, interferem no desenvolvimento morfodinâmico das praias, pois geram refração, difração e dissipação da energia das ondas, resultando em zonas de surfe com formatos muito irregulares. Isto, em muitos casos, inviabiliza a aplicação do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais, elaborado por Wright & Short (1979) e aqui adotado. 158 3. A primavera é uma estação que apresenta, simultaneamente, e em proporções relativamente elevadas, duas variáveis, ou conjuntos de variáveis, que influenciam diretamente na ocorrência de acidentes, que são: altas taxas de freqüência pública às praias e fatores de risco, daí a sua taxa de acidentes ser a maior dentre as quatro estações do ano, com cerca de 44,8% do total. A freqüência pública elevada é motivada por altas taxas de insolação (Tabela XVIII, Fig. 87), por baixa precipitação pluviométrica (Fig. 96), por boas condições de balneabilidade (Tabela XXI) e pela existência de alguns feriados, como o Dia da Independência e o da Criança, que produzem a segunda maior freqüência de banhistas do ano, só inferior à do verão. 350 300 ml 250 200 150 100 50 0 Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Figura 96 - Pluviosidade média mensal em Salvador, registrada durante o período 1997-2000 (INMET) Analisando-se a outra variável que é responsável pela geração de acidentes, no caso a existência de fatores de risco, foi possível identificar quatro tipos de fatores ambientais, que geram risco, e que comprovadamente ocorrem com maior intensidade durante a primavera do que durante o verão, na área estudada, que são: 1) a altura média das ondas incidentes em alto-mar, 2) a forma ondulada do perfil da zona de surfe, 3) a velocidade dos ventos costeiros, 4) a variação da amplitude das marés. O primeiro e talvez mais importante, representado pela altura média das ondas incidentes de alto-mar, é, durante a primavera, de acordo com os dados aqui utilizados a cerca da altura média das ondas ponderadas pelas suas respectivas freqüências ao longo do ano (US Navy 1978 e DHN 1993), e já anteriormente apresentados (Tabela XVI, Fig. 84), de 1,13 m na primavera, enquanto que durante o verão esta altura média é de 1,08 m, ou, transformando esta altura de onda em 159 densidade de energia, de cerca de 1.605 N/m 2 na primavera, enquanto que no verão esta mesma densidade de energia é de 1.466 N/m 2, ou seja, cerca de 10% a maior. Estas ondas mais elevadas têm a capacidade de gerar correntes mais velozes na zona de surfe e portanto mais perigosas para os banhistas. O segundo fator ambiental em ordem de importância para a geração do grande número de acidentes verificado na primavera é atribuído à forma típica do perfil da zona de surfe que se desenvolve nesta estação e que é representado por uma forma intermediária entre o suave e plano perfil do verão e o ondulado perfil do inverno. Este perfil, ao apresentar um relevo com bancos e canais, favorece a convergência dos raios-de-onda, com a concentração de energia, sobre os bancos, e o fluxo das correntes, pelos canais adjacentes, formando um ambiente propício para o desenvolvimento das correntes de retorno, além de induzir o surgimento freqüente de depressões que também se constituem, por sí sós, em um fator de risco para os banhistas. O terceiro fator ambiental é representado pela velocidade dos ventos costeiros que pode causar uma sobreelevação na altura das ondas e até mesmo acelerar as correntes geradas dentro da zona de surfe. Em Salvador, durante a primavera, no período 1997-2000, foi registrada uma velocidade média de 2,1 m/s, que é cerca de 23% maior que a velocidade média de 1,7 m/s (INMET), verificada durante o verão, no mesmo período (Tabela XVII). Por fim, o quarto e último fator ambiental identificado e que pode contribuir para a maior incidência de acidentes que é verificada durante a primavera, é a diferença que existe na amplitude média das marés entre esta estação e a do verão. Durante os meses de setembro e outubro, no período 1994-2000, esta amplitude média foi aproximadamente 8% maior do que a mesma registrada nos meses de janeiro e fevereiro deste mesmo período. Esta maior amplitude das marés pode causar uma ligeira aceleração das correntes de retorno durante a vazante (Short & Hogan 1998), além de reduzir a superfície seca da praia durante a preamar, expondo os banhistas a vários fatores de risco, como ao espraiamento (runup), às diversas correntes existentes dentro da zona de surfe e ao impacto resultante do quebramento das ondas. 4. A distribuição geográfica dos acidentes verificados entre os anos de 1997 e 2000, ao longo da área estudada, mostra que cerca de 77% destes ocorreram em praias do 160 estágio morfodinâmico Intermediário, que por sua vez perfaz em cerca de 56% de toda a extensão linear das praias (Tabela XXIII, Fig. 92), mostrando assim que há, efetivamente, uma concentração de acidentes neste tipo morfodinâmico de praia. A ocorrência de uma série de características morfodinâmicas, inerentes a este estágio praial, ajuda a entender esta concentração de acidentes que é registrada. A baixa declividade da zona de espraiamento deste tipo morfodinâmico de praia (Tabela XIII), por exemplo, associada à fina granulometria dos sedimentos arenosos (Tabela IX), favorecem a formação de um piso plano e bem compactado que é ideal para o ato de caminhar e para a prática de esportes, atraindo consequentemente, no caso de Salvador, um grande número de banhistas para estas praias. Esta mesma baixa declividade (Tabela XIII), que se prolonga pela zona de surfe adentro, proporciona uma vasta área para o banho, transmitindo ao banhista uma sensação de segurança, vez que a profundidade aí ocorrente, de uma maneira geral, é reduzida, não ultrapassando a altura do banhista, fazendo com que um grande número destes avance pela zona de surfe. As ondas do tipo Deslizante, que predominam na zona de surfe deste tipo de praia, quebram de uma determinada forma que não produzem grandes impactos sobre os banhistas, e a efetiva e progressiva dissipação de energia destas ondas na zona de surfe, resultante do fundo pouco inclinado, reduz progressivamente a altura destas ondas a poucos decímetros na face da praia, sendo assim mais um fator de atração para os banhistas. A forma típica do perfil da zona de surfe, com a predominância de bancos de areia e canais, longitudinais e oblíquos à face da paia, favorece o desenvolvimento de correntes de retorno, que por sua vez, por estarem condicionadas à localização destas feições sedimentares, os bancos e os canais, apresentam, as correntes de retorno, uma dinâmica bastante variável no tempo e no espaço, desorientando o banhista quanto às suas localizações dentro da zona de surfe. Além destas feições geomorfológicas de maior dimensão, os bancos de areia e os canais, ocorrem ainda diversas pequenas depressões de formato semicircular no sedimento do fundo da zona de surfe e que também se constituem em um fator de risco relativamente elevado, principalmente para aquele tipo de banhista que não possui uma boa habilidade de nado, que, quando ao cair em uma depressão deste tipo, tem rapidamente a sua altura ultrapassada pela da lâmina d’água. É verificado ainda, que ocorre neste tipo de praia, um determinado nível de energia de quebra das ondas, representado por alturas médias anuais em torno de 1,0 m (Tabela XIV), que é suficiente para gerar correntes de forte intensidade, mas que, ao 161 dissiparem-se progressivamente pela zona de surfe, não amedrontam os banhistas, expondo estes à ação das correntes que encontram-se aí presentes. Outro aspecto é o efeito causado no perfil da zona de surfe pela hidrodinâmica da primavera, quando é gerado um perfil marcadamente ondulado, com várias bancos de areia, canais e depressões, e que, apesar de ter este efeito incidência sobre todas as praias, tem uma ação maior em praias do estágio morfodinâmico Intermediário, devido ao grande volume de sedimento que aí é estocado na zona de surfe, o que favorece, de acordo com (Wright & Short 1984), que haja uma grande mobilidade tridimensional do perfil da zona de surfe. 5. As praias de Jaguaribe e Piatã apresentam uma série de fatores, de diferentes naturezas, que favorecem a grande concentração de acidentes, cerca de 55% (Tabela VII), que são aí registrados. Além dos fatores supracitados, ou seja, aqueles que são inerentes ao estágio morfodinâmico praial Intermediário, no qual estas praias estão classificadas, outros atuam ainda no sentido de favorecer que haja uma grande freqüência de banhistas, a maior de toda a área estudada, no caso o amplo espaço físico, as boas condições de balneabilidade (Tabela XXI), as boas condições de acesso (Tabela XXII), as diversas opções de lazer, representadas pela existência de quiosques, prática de esportes, etc, e uma grande beleza cênica (Figs. 67 e 68). 6. Tudo indica que há uma faixa de energia, gerada pela altura de quebra das ondas, na qual os acidentes ocorrem. O seu limite inferior é próximo a 0,5 m de altura, suficientemente forte para gerar correntes dentro da zona de surfe e suas consequentes modificações sobre o relevo submarino, e o limite superior é próximo a 0,8 m (Tabela XX, Fig. 89), altura a partir da qual, os banhistas, amedrontados, evitam entrar na zona de surfe, reduzindo assim o número de acidentes. 7. A proposta de definição de um novo parâmetro que visa auxiliar os estudos a cerca da segurança das praias, aqui chamado de Grau de Risco Potencial (GRPo), e a sua aplicação na área estudada, reproduzem o alto potencial de risco que as praias situadas na parte externa do Setor 3 e em todo o Setor 4 apresentam, em oposição ao baixo potencial de risco que a parte interna do Setor 3 apresenta, enquanto que os setores 2 e 1, mormente este último, varia bastante. 162 8. As poucas discordâncias apresentadas na relação entre o Grau de Risco Potencial das praias e os seus respectivos registros de acidentes (Fig. 95) motivam então a criação de um novo parâmetro, para a questão da segurança das praias, que leve em consideração, além do Grau de Risco Potencial, a freqüência de banhistas observada em uma determinada praia. Desta forma, a comparação entre este novo parâmetro e os registros de acidentes, em cada praia, deverá mostrar comportamentos mais semelhantes, constituindo-se em mais uma ferramenta para o gerenciamento costeiro, no tocante à questão específ ica da segurança das praias para o banho. 163 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS § Aagaard, T. and Greenwood, B., 1994, Suspended sediment transport and the role of infragravity waves in a barred surf zone, Marine Geology 118, 23-48. § Allen, J. R. 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