- Programa de Pós

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
ÁREA DE GEOLOGIA COSTEIRA E SEDIMENTAR
FATORES METEOROLÓGICOS, OCEANOGRÁFICOS,
MORFODINÂMICOS, GEOLÓGICOS E URBANOS
RELACIONADOS À INCIDÊNCIA DE AFOGAMENTOS NAS
PRAIAS DA COSTA ATLÂNTICA DE SALVADOR
por
MÁRIO PEREIRA DE CARVALHO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
dezembro de 2002
RESUMO
A segurança do banho de mar na cidade de Salvador, como em qualquer outra
grande cidade tropical costeira, onde a freqüência de banhistas é elevada, é sempre
preocupante. Números conservadores, fornecidos pelo órgão de salva-vidas local,
indicam que são registrados, em média, por ano, 1.586 acidentes na costa atlântica,
sendo que este total deve ser cerca de 20% maior, uma vez que nem todas as
ocorrências são registradas, a julgar pelo entendimento dos próprios salva-vidas. A
maioria dos acidentados é composta por jovens com idades que variam entre 5 e 18 anos.
Felizmente,
o
patrulhamento
exercido,
principalmente
pela
Coordenadoria
de
Salvamentos Marítimos da Prefeitura de Salvador (SALVAMAR) e também pelo Corpo de
Bombeiros do Estado da Bahia, resulta em um índice de óbitos de apenas 1%. Embora
pareça pequeno, na cidade de Sydney (Austrália), este índice é ainda menor, ou seja,
cerca de 0,5%.
A análise de 10.697 operações de salvamento, realizadas entre os anos de 1994 e
2000, na costa atlântica da cidade de Salvador, acrescida dos depoimentos dos salvavidas, mostram três fatos bem marcantes: 1) as correntes de retorno são responsáveis
por cerca de 70% dos acidentes, 2) aproximadamente 77% dos acidentes ocorrem em
praias do estágio morfodinâmico Intermediário, 3) cerca de 43% dos acidentes ocorrem
durante a primavera.
O fato de as correntes de retorno serem as responsáveis diretas pela maior parte
dos acidentes não surpreende e é bem conhecido em diversas cidades do mundo, como
no Rio de Janeiro, Florianópolis, San Diego, Miami, Sidney, etc, e está documentado, por
exemplo, pelos serviços de salva-vidas dos Estados Unidos e Austrália (United States
Lifesaving Association & Surf Life Saving).
Também já era esperado que a maior parte dos acidentes acontecessem em praias
do estágio morfodinâmico Intermediário, uma vez que nestas são desenvolvidas as
condições propícias à geração das correntes de retorno, como será abordado adiante
O fato que surpreende é a concentração de acidentes na primavera, já que durante
o verão é que são registradas as maiores taxas de freqüência pública das praias.
A análise de uma série de fatores meteorológicos, oceanográficos, morfodinâmicos
praiais, geológicos e urbanos, relativos à costa atlântica de Salvador, permite estabelecer
uma série de relações de causa e efeito que explicam estas concentrações verificadas. O
papel das correntes de retorno nos acidentes é muito óbvio, uma vez que se trata de um
2
fluxo, na maioria das vezes de velocidade elevada, que transporta o banhista da praia
para o mar e que geralmente é difícil de ser detectado por este.
Por sua vez, a alta concentração de acidentes que é registrada nas praias do
estágio morfodinâmico Intermediário pode ser explicada basicamente pelos seguintes
fatores: 1) o perfil marcadamente ondulado da zona de surfe, típico deste estágio praial,
com a formação de canais, bancos e depressões circulares, favorece o desenvolvimento
de correntes de retorno e cria fatores de risco isolados, neste caso os canais e as
depressões; 2) a existência de um amplo espaço subaéreo, formado sobretudo no berma
e na zona de espraiamento, é capaz de acomodar um elevado número de banhistas; 3) as
ondas predominantemente do tipo deslizante, que quebram progressivamente, sem
causar grandes impactos, encorajam o banhista a penetrar na zona de surfe, expondo-se
aos seus riscos inerentes.
Em relação à primavera, ainda em comparação ao verão, a conjunção de quatro
fatores ambientais explica a alta concentração de acidentes: 1) é demonstrado, pelos
dados relativos à altura e período das ondas, conjugados às direções predominantes dos
ventos oceânicos ao longo do ano, que a média da altura das ondas verificadas durante a
primavera é, no mínimo, cerca de 10% maior do que esta média verificada durante o
verão, e por conseqüência, a velocidade das correntes geradas dentro da zona de surfe
também é mais elevada; 2) os ventos costeiros, que muitas vezes aceleram as correntes
e sobreelevam a altura das ondas, também são cerca de 17% mais velozes durante a
primavera; 3) em função desta hidrodinâmica mais forte, e também por herança das fortes
ondas do inverno, o perfil da zona de surfe torna-se mais ondulado, com a formação
freqüente de canais, bancos e depressões circulares, o que favorece o desenvolvimento
de correntes de retorno e de fatores de risco isolados; 4) é verificado também que a
amplitude média das marés é cerca de 8% superior.
Outros fatores, de natureza sedimentológica, geológica e urbana, ainda que de
forma indireta, também contribuem para a ocorrência dos acidentes, como a
granulometria fina da areia de determinadas praias, que, ao produzir um piso bem
compactado, favorece a prática de esportes e torna o ato de caminhar mais agradável,
atraindo um grande número de banhistas. Da mesma forma o controle tectônico, que, ao
determinar a direção da linha de costa, faz com que determinados segmentos fiquem,
durante uma significativa parte do tempo, parcialmente abrigados contra a ação das
ondas, enquanto que outros fiquem frontalmente expostos a estas. Por fim, fatores de
natureza urbana, como os índices de poluição orgânica das praias, as condições de
3
acesso para pedestres e para veículos, as opções de lazer de cada praia, etc, são fatores
que influenciam diretamente nas taxas de ocupação das praias por parte dos banhistas,
acabando por refletir nos índices de acidentes.
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ABSTRACT
The safety of sea bathing in the city of Salvador – Bahia - Brazil, as in any other
large coastal tropical city, where the bathers’ frequency always is raised, is preoccupying.
Conservative figures, supplied by the local surf life saving agency, indicate that about
1,586 drowning accidents are registered per year in the atlantic coast, and this total must
be about 20% greater, once not all the occurrences are reported. The majority of the
victims is young varying between five and eighteen years old. Happily, the exerted
patrolling, mainly by the Coordenadoria de Salvamentos Marítimos de Salvador –
SALVAMAR – (Coordination of Surf Life Saving of Salvador) and also by the Corpo de
Bombeiros do Estado da Bahia (Firemen Group of the State of Bahia), results in an
death’s rate of 1%. Although it seems small, in the city of Sydney (Australia), this index is
only about 0,5%.
The analysis of 10,697 rescue operations, carried through between the years of
1994 and 2000, in the atlantic coast of Salvador, supported by the life-guard observations,
shows three well defined points: 1) the rip currents are responsible for about 70% of the
accidents, 2) approximately 77% of the accidents occur in the intermediate beach state, 3)
about 43% of the accidents occur during the spring.
The fact of the rip currents is directly responsible for the mostly of the accidents is
not a surprise and it is well known in many cities of the world, as in Rio de Janeiro and
Florianópolis (Brazil), San Diego and Miami (USA), Sidney (Australia), etc, and this is
registered by the surf life saving services of the United States and Australia (United States
Lifesaving Association & Surf Life Saving), for example. Also it is already expected that
most of the accidents happened in intermediate beach state, because the propitious
conditions to the generation of rip currents, as it will be described ahead. The fact that
surprises is the concentration of accidents in the spring time, since during the summer the
maximum public frequency at the beaches is recorded.
The
analysis
of
meteorological,
oceanographical,
beach
morphodynamics,
geological and urban data, relative to the atlantic coast of Salvador, allows to establish a
series of cause and effect relationships that could explain these verified concentrations.
The rule of rip currents in the accidents is very obvious, once it is represented by a rapid
speed flow, that pushes the swimmer from the beach to the sea, and that it is generally
difficult of being realized by them. In turn, the high accidents’ concentration that is
registered in Intermediate beach state can be explained basically by the following factors:
5
1) the rough surf zone profile, typical of this beach state, with the formation of bars,
troughs and depressions, favors the rip current development and creates isolated factors
of risk, in this case the troughs and depressions; 2) the occurrence of an ample aerial
space, formed over all in the berm and the swash zone, is capable to accomodate a high
number of swimmers; 3) the predominant spilling waves type, which breaks progressively,
with no heavy impact, encourages the swimmer to enter the surf zone.
In relation to the spring, still in comparison with the summer, the conjunction of four
ambient factors explains the high concentration of accidents: 1) it is demonstrated, for the
height and period wave data, conjugated to the predominant oceanic winds directions
through the year, that the mean wave height is about 10% higher in the spring than in the
summer, and in consequence, the speed of wave-generated currents in the surf zone also
are higher; 2) the coastal winds, that many times speed up the currents, also are about
17% faster during the spring (Instituto Nacional de Meteorologia – INMET - National
Meteorology Institute); 3) by this stronger hydrodynamics, and by the inheritance of the
strong winter waves, the surf zone profile becomes more waved shape, with the formation
of bars, troughs and depressions, which favors the rip currents development and others
isolated risk factors; 4) at last, the mean amplitude tide is about 8% larger.
Other indirect factors, of sedimentological, geological and urban nature, also
contribute for the drowning occurrence, as the fine sand granulometry of certain beaches,
that produces a well compact floor, favors the sports practical and becomes the act to walk
more pleasant, attracting then a great number of swimmers. The different directions of the
shoreline, determined by tectonic control, produces some segments that are, during a
significative part of the year, partially sheltered against the waves action, while others are
directly exposed to these. Finally, factors of urban nature, like the organic pollution indices
of the beaches, the access conditions for pedestrians and vehicles, the leisure options of
each beach, etc, are factors that directly influence the swimmers occupation of beaches,
reflecting in the indices of accidents.
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AGRADECIMENTOS
Expresso meus agradecimentos ao então Coordenador da SALVAMAR, Capitão da
Polícia Militar Washington Damasceno, pelo apoio prestado no início dos trabalhos e a
todo o corpo de salva-vidas desta Coordenadoria, em especial aos salva-vidas Ariobaldo
Arandiba dos Santos (que me acompanhou em quase todas as praias estudadas), Márcio
de Jesus Dantas, Jorge Cerqueira e Frederico Albert Meyer, pelo interesse que sempre
demonstraram em elucidar as questões que iam surgindo. A Francisco Jorge Brito e
Cláudio Emílio Pelozzi (CONDER) pelo auxílio em georreferenciar as ortofotos-aéreas,
Inácio de Medeiros Delgado e José Einá Batista Santos (CPRM) pela disponibilização de
equipamentos da CPRM, a Moacyr Moura Marinho (CBPM) pelos impressos deste
trabalho, a João Batista Guimarães Teixeira (UFBA) pela revisão da parte do texto escrita
em inglês e a Antônio Joanílsom Costa Borges (IBGE), pela orientação relativa ao
tratamento estatístico dos dados.
DEDICATÓRIA
Dedico esta Dissertação de Mestrado, em especial, à memória do meu irmão
Marcus Pereira de Carvalho, falecido enquanto mergulhava no Farol da Barra, à minha
esposa Olívia e meus filhos queridos Tito e Pedro, a meus pais, Maria Celeste Pereira de
Carvalho e Celso Júlio de Carvalho (in memoriam), meus irmãos Marta e Márcio, e a
todos aqueles que freqüentam as praias por diferentes opções de lazer, esperando
contribuir com este trabalho no sentido de aumentar a segurança do banho de mar,
fazendo com que cada vez menos pessoas estejam sujeitas aos riscos de um
afogamento.
7
ÍNDICE
RESUMO
ABSTRACT
AGRADECIMENTOS/DEDICATÓRIA
ÍNDICE.................................................................................................................................(i)
ÍNDICE DAS FIGURAS E TABELAS .................................................................................(ii)
ÍNDICE DOS ANEXOS......................................................................................................(iii)
Pág.
I - INTRODUÇÃO ...............................................................................................................19
II - HISTÓRICO...................................................................................................................21
III - GEOLOGIA..................................................................................................................23
IV - FISIOGRAFIA..............................................................................................................25
V - SISTEMA DE CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA...........................................................30
VI - VENTOS......................................................................................................................30
VII - ONDAS .......................................................................................................................31
VII.1 - Origem.................................................................................................................31
VII.2 - Dinâmica..............................................................................................................32
VII.3 - Transformações...................................................................................................33
VII.3.1 - Refração.......................................................................................................33
VII.3.2 - Empinamento ou Shoaling...........................................................................37
VII.3.3 - Interferência.................................................................................................37
VII.3.4 - Difração........................................................................................................38
VII.3.5 - Reflexão.......................................................................................................39
VII.3.6 - Quebramento...............................................................................................39
VII.4 - Tipos de Ondas...................................................................................................43
8
VIII - CORRENTES DA ZONA DE SURFE........................................................................44
VIII.1 - Correntes de Fundo ou Undertow......................................................................44
VIII.2 – Correntes Longitudinais ou Longshore Currents...............................................45
VIII.3 – Correntes de Retorno ou Rip Currents..............................................................46
IX - AMPLITUDE E CORRENTES DE MARÉS.................................................................48
X - RESPOSTA DO SEDIMENTO AOS AGENTES HIDRODINÂMICOS..........................50
X.1 - Variações na Forma do Perfil de Praia Ortogonais à Linha de Costa...................52
X.2 - Variações na Forma do Perfil de Praia Longitudinais à Linha de Costa...............54
X.3 - Variações na Dimensão do Empilhamento Vertical do Perfil de Praia..................55
X.4 - Variações Sazonais na Forma do Perfil de Praia..................................................55
X.5 - Variações na Forma do Perfil de Praia Provocadas por Tempestades.................56
X.6 - Relações entre a Altura das Ondas e a Forma do Perfil de Praia.........................57
XI - ESTÁGIOS MORFODINÂMICOS DE PRAIAS – A Classificação de Wright & Short
(1984)...........................................................................................................................57
XI.1 – Estágio Dissipativo...............................................................................................61
XI.2 – Estágio Intermediário...........................................................................................62
XI.2.1 – Banco e Cava Longitudinais.........................................................................63
XI.2.2 – Banco e Cava Rítmicos................................................................................63
XI.2.3 – Banco Transversal e Correntes de Retorno.................................................63
XI.2.4 – Crista Canal ou Terraço de Maré Baixa.......................................................63
XI.3 – Estágio Refletivo..................................................................................................64
XII – METODOLOGIA........................................................................................................65
XII.1 – Levantamento dos Registros de Acidentes........................................................65
XII.2 – Levantamento do Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador...................65
XII.3 – Levantamento das Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da
Zona de Surfe.....................................................................................................65
XII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento.............................................67
9
XII.5 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas..................68
XII.6 – Elaboração de Diagramas de Refração de Ondas.............................................68
XII.7 – Levantamento de Dados Referentes à Direção/Velocidade/Freqüência dos
Ventos Costeiros, Insolação e Precipitação Pluvial............................................68
XII.8 – Levantamento de Dados referentes à Amplitude das Marés..............................69
XII.9 – Levantamento de dados Referentes às Condições de Balneabilidade..............69
XII.10 - Levantamento das Condições de Acesso às Praias.........................................69
XIII – RESULTADOS..........................................................................................................69
XIII.1 - Registros de Acidentes – O que Revelam..........................................................69
XIII.2 – Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador...............................................73
XIII.3 - Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da Zona de Surfe na
Área Estudada....................................................................................................74
XIII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento............................................75
XIII.5 – Diagramas de Refração de Ondas....................................................................77
XIII.5.1 – Ondas de Leste – N90º..............................................................................77
XIII.5.2 – Ondas de Sudeste – N135º........................................................................78
XIII.5.3 – Ondas de Nordeste – N45º........................................................................78
XIII.5.4 – Ondas de Sul-Sudeste – N157º.................................................................79
XIII.6 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas.................80
XIII.6.1 - Praia do Farol da Barra...............................................................................82
XIII.6.2 - Praia do Salvador Praia Hotel.....................................................................84
XIII.6.3 - Praia da Paquera........................................................................................85
XIII.6.4 - Praia de Ondina..........................................................................................86
XIII.6.5 - Praia da Bacia das Moças..........................................................................87
XIII.6.6 - Praia do Rio Vermelho................................................................................88
XIII.6.7 - Praia da Paciência......................................................................................89
XIII.6.8 - Praia de Sant’ana........................................................................................90
10
XIII.6.9 - Praia do Buracão........................................................................................91
XIII.6.10 - Praia de Amaralina....................................................................................92
XIII.6.11 - Praia da Pituba..........................................................................................94
XIII.6.12 - Praia do Jardim dos Namorados...............................................................96
XIII.6.13 - Praia de Armação.....................................................................................97
XIII.6.14 - Praia de Aratubaia....................................................................................99
XIII.6.15 - Praias dos Artistas – Corsário.................................................................101
XIII.6.16 - Praias de Patamares - 3ª Ponte..............................................................102
XIII.6.17 - Praia da Mordomia..................................................................................103
XIII.6.18 - Praia de Jaguaribe..................................................................................104
XIII.6.19 - Praia de Piatã..........................................................................................106
XIII.6.20 - Praias de Placafor - Sereia de Itapuã.....................................................108
XIII.6.21 - Praia do Porto.........................................................................................110
XIII.6.22 - Praia da Rua E........................................................................................111
XIII.6.23 - Praia da Rua K........................................................................................111
XIII.6.24 - Praia do Farol de Itapuã..........................................................................112
XIII.6.25 - Praia do Porto de Leocádio.....................................................................113
XIII.6.26 - Praia da Pedra do Sal.............................................................................114
XIII.6.27 - Praia da Caveira.....................................................................................115
XIII.6.28 - Praia do Catussaba.................................................................................116
XIII.6.29 - Praia do Flamengo..................................................................................118
XIII.6.30 - Praias de Stella Maris – Aleluia..............................................................119
XIII.7 – Relações entre a Granulometria da Zona de Espraiamento e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas..........................................................121
XIII.8 - Relações entre a Declividade da Zona de Espraiamento e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas..........................................................123
11
XIII.9 - Relações entre a Altura Média de Quebra das Ondas e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas............................................................124
XIII.10 – Principais Fatores de Risco da Zona de Surfe na Área Estudada.................125
XIII.11 – Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e o Clima de
Ondas em Alto-Mar......................................................................................128
XIII.12 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Forma Sazonal
do Perfil da Zona de Surfe na Área Estudada................................................130
XIII.13 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Velocidade
dos Ventos Costeiros na Área Estudada........................................................131
XIII.14 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Dinâmica das
Marés..............................................................................................................133
XIII.15 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e as Taxas de
Insolação na Área Estudada..........................................................................134
XIII.16 - Relações entre a Altura Média das Ondas e a Ocorrência de Acidentes, ao
longo do Ano e da Linha de Costa na Área Estudada...................................135
XIII.17 – Relações entre as Condições de Balneabilidade das Praias e a Ocorrência de
Acidentes na Área Estudada..........................................................................139
XIII.18 - Relações entre as Condições de Acesso às Praias e a Ocorrência de
Acidentes na Área Estudada........................................................................141
XIII.19 - Fatores Relacionados à Concentração de Acidentes nas Praias do Estágio
Morfodinâmico Intermediário na Área Estudada..........................................144
XIII.20 - Fatores Geológicos de Grande Escala e suas Relações com a Ocorrência de
Acidentes na Área Estudada..........................................................................146
XIII.21 - Grau de Risco Potencial das Praias Estudadas (GRPo)................................147
XIV – CONCLUSÕES.......................................................................................................158
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................164
12
ÍNDICE DAS FIGURAS
Figura 1 - Mapa de Localização
Figura 2 - Vista Aérea de uma Zona de Surfe
Figura 3 - Perfil Esquemático de uma Zona de Surfe
Figura 4 - Posto Salva-Vidas da SALVAMAR
Figura 5 - Salva-Vidas da SALVAMAR e do Corpo de Bombeiros
Figura 6 - Mapa Geológico Simplificado da Península de Salvador e Áreas Circunvizinhas
Figura 7 - Promontório do Morro do Cristo
Figura 8 - Afloramentos de Rochas Precambrianas na Face da Praia do Buracão,
Salvador-Ba
Figura 9 - Afloramentos de Conglomerados e Bancos de Arenitos na Zona de Surfe da
Praia do Clube Espanhol, Salvador-Ba
Figura 10 - Afloramentos de Bancos de Arenitos Submersos na Praia de Stella Maris,
Salvador-Ba
Figura 11- Os Quatro Setores da Linha de Costa Atlântica de Salvador
Figura 12 – Mozaico Aéreo do Setor 1
Figura 13 - Exemplo de Costa Rochosa no Setor 1
Figura 14 - Mozaico Aéreo do Setor 2
Figura 15 - Mozaico Aéreo do Setor 3
Figura 16 - Mozaico Aéreo do Setor 4
Tabela I - Freqüência Anual Média das Principais Direções de Ventos Formadores de
Ondas na Área Estudada
Figura 17 - Modelo Teórico do Mecanismo de Formação das Ondas pelos Ventos
Figura 18 - Elementos Geométricos das Ondas
Figura 19 - Vista Aérea da Refração Sofrida pelas Ondas
Figura 20 - Modelo Teórico da Refração de Ondas
Figura 21 - Modelo Teórico da Dispersão da Energia das Ondas por Efeito da Refração
Figura 22 - Modelo Teórico da Convergência e Divergência dos Raios -de-Onda por Efeito
da Refração
Figura 23 - Vista Aérea da Convergência dos Raios-de-Onda entre as Praias de Piatã e
Placafor, Salvador-Ba.
Figura 24a - Modelo Teórico da Interferência Construtiva das Ondas
Figura 24b - Modelo Teórico da Interferência Destrutiva das Ondas
13
Figura 25 - Modelo Esquemático da Difração das Ondas na Praia da Pituba, Salvador-Ba.
Figura 26 - Quebramento de uma Onda - Teoria de Stokes
Figura 27 - Quebramento de uma O nda - Teoria da Onda Solitária
Figura 28 - Gráfico para Obtenção do Coeficiente de Empinamento (Ks)
Figura 29 - Tipos de Quebramento das Ondas
Figura 30 - Modelo Esquemático das Correntes de Fundo ou “Undertow”
Figura 31 - Exemplo de Correntes Longitudinais ou “Longshore Currents” na praia de
Jaguaribe, Salvador-Ba.
Figura 32 - Formação de Corrente de Retorno ou “Rip Currents” na Praia de Jaguaribe,
Salvador-Ba.
Figura 33 - Modelo Esquemático de Corrente de Retorno Induzida por um Afloramento
Rochoso
Figura 34 – Modelo Esquemático da Formação de Correntes de Retorno por Sistemas
Circulatórios
Figura 35 – Modelo Esquemático Simplificado da Dinâmica Sedimentar na Zona de Surfe
Figura 36 - Vista Aérea de Bancos e Canais Longitudinais
Figura 37 – Perfil de Equilíbrio de Bruun
Figura 38 – Modelo Esquemático dos Perfis de Verão, Outono, Inverno e Primavera
Figuras 39a e 39b – Os Estágios Morfodinâmicos de Praias (Wright & Short 1984)
Figura 40 – Vista Aérea de Praia Dissipativa
Figura 41 – Exemplo de Praia Intermediária
Figura 42 – Exemplo de Praia Refletiva
Tabela II – Tipo de Acesso às Praias
Tabela III - Distribuição Anual do Número de Acidentes Registrados entre 1994 e 2000
Tabela IV - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas dos Registros de
Acidentes de Outubro de 1998
Tabela V - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas dos Registros de
Acidentes de Novembro de 1998
Tabela VI – Distribuição Mensal dos Acidentes Registrados entre 1994 e 2000, suas
Participações Relativas e Médias Sazonais
Figura 43 - Médias Mensais de Acidentes no Período 1994-2000
Tabela VII - Médias Percentuais de Acidentes nas Praias Patrulhadas pela SALVAMAR
no Período 1997-2000
14
Tabela VIII - Freqüência Média Mensal das Principais Direções de Ventos Formadores de
Ondas
Tabela IX - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento das Praias Estudadas
Figura 44 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Leste - N90º
Figura 45 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Sudeste - N135º
Figura 46 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Nordeste - N45º
Figura 47 - Diagrama de Refração das Ondas Incidentes de Sul-Sudeste - N157º
Figura 48 - Praia do Farol da Barra, Salvador-Ba.
Figura 49 - Praia do Salvador Praia Hotel, Salvador-Ba.
Figura 50 - Praia da Paquera, Salvador-Ba.
Figura 51 - Praia de Ondina, Salvador-Ba.
Figura 52 - Praia da Bacia das Moças, Salvador-Ba.
Figura 53 - Praia do Rio Vermelho, Salvador-Ba.
Figura 54 - Praia da Paciência, Salvador-Ba.
Figura 55 - Praia de Sant’ana, Salvador-Ba.
Figura 56 - Praia do Buracão, Salvador-Ba.
Figura 57 - Praia de Amaralina, Salvador-Ba.
Figura 58 - Praia da Pituba, Salvador-Ba.
Figura 59 - Modelo Esquemático do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia da
Pituba
Figura 60 - Praia do Jardim dos Namorados, Salvador-Ba.
Figura 61- Praia de Armação, Salvador-Ba.
Figura 62 - Praia de Aratubaia, Salvador-Ba.
Figura 63 - Modelo Esquemático do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia de
Aratubaia
Figura 64 - Praias dos Artistas - Corsário, Salvador-Ba.
Figura 65 - Praias de Patamares - 3ª Ponte, Salvador-Ba.
Figura 66 - Praia da Mordomia, Salvador-Ba.
Figura 67 - Praia de Jaguaribe, Salvador-Ba.
Figura 68 - Praia de Piatã, Salvador-Ba.
Figura 69 - Praias de Placafor - Sereia de Itapuã, Salvador-Ba.
Figura 70 - Modelo Esquemático do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na Praia de
Placafor
Figura 71 - Praia do Porto, Salvador-Ba.
15
Figura 72 - Praia da Rua E, Salvador-Ba.
Figura 73 - Praia da Rua K, Salvador-Ba.
Figura 74 - Praia do Farol de Itapuã, Salvador-Ba.
Figura 75 - Praia do Porto de Leocádio, Salvador-Ba.
Figura 76 - Praia da Pedra do Sal, Salvador-Ba.
Figura 77 - Modelo Esquemático de Parte do Padrão Hidrodinâmico da Zona de Surfe na
Praia da Pedra do Sal, Salvador-Ba.
Figura 78 - Praia da Caveira, Salvador-Ba.
Figura 79 - Praia do Catussaba, Salvador-Ba.
Figura 80 - Praia do Flamengo, Salvador-Ba.
Figura 81 - Modelo Esquemático de Corrente de Retorno na Praia do Flamengo
Figura 82 - Praias de Stella Maris - Aleluia, Salvador-Ba.
Tabela X - Distribuição Relativa dos Estágios Morfodinâmicos Praiais na Área Estudada
Tabela XI - Relações entre a Granulometria da Zona de Espraiamento e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Tabela XII - Relações entre a Declividade Média da Zona de Surfe e os Estágios
Morfodinâmicos Praiais (Wright & Short 1984)
Tabela XIII - Relações entre a Declividade da Zona de Espraiamento e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Tabela XIV - Relações entre a Altura Média de Quebra das Ondas e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Tabela XV - Experimentos com Flutuadores em Correntes de Retorno nas Praias da
Caveira e Flamengo
Figura 83 - Modelo Esquemático de um Resgate Efetuado na Praia de Aleluia, SalvadorBa.
Tabela XVI - Média Mensal Ponderada da Altura e da Energia das Ondas Incidentes de
Alto-Mar
Figura 84 - Média Ponderada Mensal da Energia das Ondas Incidentes de Alto-Mar
Tabela XVII - Velocidade Média Mensal e Sazonal dos Ventos Costeiros
Figura 85 - Comparação entre as Médias Mensais de Acidentes, de Velocidade dos
Ventos Costeiros e da Energia das Ondas Incidentes de Alto-Mar
Figura 86 - Modelo Esquemático de Fator de Risco Induzido pela Preamar na Praia de
Jaguaribe, Salvador-Ba.
Tabela XVIII - Insolação Média Mensal e Sazonal
16
Figura 87 - Comparação entre a Insolação Média Mensal e a Ocorrência de Acidentes
Tabela XIX - Altura Média das Ondas (extraídas dos diagramas de refração) em cada
Setor da Linha de Costa
Figura 88 – Comparação entre a Altura Média das Ondas (extraídas dos diagramas de
refração) em cada Setor da Linha de Costa e a Ocorrências de Acidentes
Tabela XX - Altura Média de Quebra das Ondas (visualmente estimadas) em cada Setor
da Linha de Costa
Figura 89 – Comparação entre a Altura de Quebra das Ondas (visualmente estimadas)
em cada Setor da Linha de Costa e a Ocorrências de Acidentes
Tabela XXI – Condições de Balneabilidade das Praias Monitoradas pelo Centro de
Recursos Ambientais (CRA)
Figura 90 - Comparação entre as Condições de Balneabilidade das Praias e a Ocorrência
de Acidentes
Tabela XXII - Condições de Acesso às Praias Estudadas
Figura 91 - Comparação entre as Condições de Acesso às Praias e a Ocorrência de
Acidentes
Tabela XXIII - Relações entre os Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas e a
Ocorrência de Acidentes
Figura 92 - Comparação entre a Ocorrência dos Diversos Estágios Morfodinâmicos
Praiais e a Ocorrência de Acidentes
Figura 93 – Percentual Médio de Acidentes nos Quatro Setores da Linha de Costa
Atlântica de Salvador
Tabela XXIV - Principais Fatores de Risco, suas Intensidades e Elementos que Dificultam
as Operações de Resgate nas Praias Estudadas
Tabela XXV - Grau de Risco Potencial (GRPo) de uma Praia
Tabela XXVI - Grau de Risco Potencial (GRPo) das Praias Estudadas
Figura 94 - Distribuição ao Longo da Linha de Costa do Grau de Risco Potencial (GRPo)
das Praias Estudadas
Figura 95 - Comparação entre o Grau de Risco Potencial (GRPo) das Praias Estudadas e
a Ocorrência de Acidentes
Figura 96 - Pluviosidade Média Mensal em Salvador
17
ÍNDICE DOS ANEXOS
•
Anexo I – Diagrama de Refração das Ondas de Leste - N90º - com as Correntes de
Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia
•
Anexo II - Diagrama de Refração das Ondas de Sudeste - N135º - com as Correntes
de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia
•
Anexo III - Diagrama de Refração das Ondas de Nordeste - N45º - com as Correntes
de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia
•
Anexo IV - Diagrama de Refração das Ondas de Sul-Sudeste - N157º - com as
Correntes de Retorno Associadas e o Grau de Risco Potencial de cada Praia
18
I - INTRODUÇÃO
A cidade de Salvador ocupa uma península banhada a leste pelo Oceano Atlântico
e a oeste pelas águas da Baía de Todos os Santos. Possui cerca de 47 km lineares de
costa dotada de dezenas de belas praias que durante a maior parte do ano apresentam
águas transparentes e tépidas, representando a principal opção de lazer para a sua
população de 2,5 milhões de habitantes. O clima tropical, com temperaturas médias
mensais em torno de 25,7º C e cerca de 200 horas de sol por mês (INMET), estimula a
ida de milhares de banhistas para as praias, quando então é registrado um elevado
número de pré-afogamentos e afogamentos* dentro da zona de surfe**, sobretudo na
costa atlântica (Fig. 1), que é o alvo desta Dissertação de Mestrado.
* O pré-afogamento é a ocorrência que não evoluiu para o óbito, ou seja: para o afogamento.
Doravante ambos, pré-afogamento e afogamento, serão designados apenas por acidentes.
** A expressão zona de surfe designa a faixa da zona costeira compreendida entre o ponto de
arrebentação das ondas, do lado do oceano, e o início da zona de espraiamento, na face da praia
(Figs. 2 e 3).
A costa atlântica de Salvador tem
38º30’
início no Farol da Barra e es tende-se
no
sentido
leste-
nordeste, até a divisa com o
ea
Ár
cerca
de
26,7
km
o
lineares. Destes, 17,9 km, aproxi-
nt
ic
t ud
es
medindo
a
ad
tlâ
Farol
da
Barra
Salvador
madamente, são constituídos por
cerca de 30 praias arenosas, em-
Oc
e
13º00’
Município de Lauro de Freitas,
an
oA
Baía
de todos os
Santos
0
7Km
quanto que o restante é formado
por trechos rochosos, sem sedi-
Figura 1 - Mapa de localização
mentos, por promontórios e tam bém por trechos que apresentam muitos afloramentos rochosos na face da praia
praticamente impedindo a sua utilização para o banho. As praias são dominadas por
ondas e submetidas a um regime de micromaré (segundo a classificação de Davis &
Hayes 1984), com a amplitude média em torno de 1,7 m (Lessa et al, 2001).
Vários autores, em estudos anteriores (Zenkovich 1967; Allen 1970; Wright & Short
1984), identificaram o potencial de risco que as correntes geradas pelas ondas, dentro da
19
zona de surfe, representam para os banhistas. Em trabalho mais recente, Short & Hogan
(1994) estabeleceram várias relações entre estas correntes, os estágios morfodinâmicos
praiais e os acidentes envolvendo banhistas. Neste sentido, tornam-se necessárias a
identificação e a compreensão dos mecanismos gerais dos diversos agentes
hidrodinâmicos que atuam dentro da zona de surfe, nos diferentes estágios
morfodinâmicos praiais que ocorrem na costa atlântica de Salvador, para que seja feita
uma análise correta da situação que envolve a segurança das praias, para o banho.
Adicionalmente, outros autores analisaram as transformações que as ondas e as
correntes podem sofrer pela ação dos ventos costeiros (Masselink & Pattiaratchi 1998),
pela ação das brisas marinhas (Masselink & Pattiaratchi 1998) e pelos efeitos causados
pela dinâmica das marés (Short & Hogan 1994). Por sua vez, a fisiografia da linha de
costa, a geomorfologia e o padrão de dispersão sedimentar, dentro do ambiente praial,
interagem com os elementos hidrodinâmicos, modificando a sua ação inicial. Outros
fatores, como a dimensão das praias, as condições de acesso e de balneabilidade, entre
outros, são responsáveis pela freqüência dos banhistas e consequentemente influenciam
nos índices de acidentes. Todos estes fatores serão aqui considerados, com o objetivo de
atingir-se a maior abrangência possível a respeito da segurança das praias para o banho.
zona de surfe
Figura 2 - A zona de surfe tem inicio no ponto de arrebentação, do lado do oceano, indo até o início da zona
de espraiamento, na face da praia (http://www. coastal.udel.edu).
20
Figura 3 - A zona de surfe em perfil (Komar 1998)
II - HISTÓRICO
Em 1973 foi criado o serviço de salva-vidas de Salvador, que esteve então a cargo
do Corpo de Bombeiros do Estado da Bahia. Em 1979 foi criada a Coordenadoria de
Salvamentos Marítimos da Prefeitura de Salvador – SALVAMAR, que passou a patrulhar
toda a costa atlântica, substituindo o Corpo de Bombeiros nesta área, cuja ação ficou
restrita às praias internas da Baía de Todos os Santos. A partir de 1998, o Corpo de
Bombeiros voltou a patrulhar um pequeno trecho da costa atlântica, de aproximadamente
6 km, compreendido entre o Farol da Barra e a Pituba.
A SALVAMAR dispõe hoje de cerca de 70 salva-vidas e os dois órgãos juntos,
montam em média, na costa atlântica, 23 postos (Figs. 4 e 5) entre os meses de
novembro e março e 18 postos no restante do ano. Excluindo cerca de 1.000 m de praias,
que, devido aos altos índices de poluição orgânica, não apresentam condições de
balneabilidade, verifica-se então uma distribuição média, entre novembro e março, de 1
posto a cada 813 m e no restante do ano, 1 posto a cada 1.038 m. Apesar de ser
insuficiente, a ação destes homens, algumas vezes auxiliados por outros banhistas e
também por barraqueiros, resulta num índice de óbitos de apenas 1%.
No âmbito nacional, nunca antes foi realizado um estudo sistemático que
procurasse relacionar os diversos fatores que estão envolvidos com os acidentes que
ocorrem na zona de surfe, nem tão pouco as suas localizações, dentro das praias.
Visando preencher esta lacuna, esta dissertação de mestrado foi elaborada, e poderá vir
a se constituir em um efetivo instrumento de utilidade pública, além do que, algumas das
conclusões de caráter técnico aqui alcançadas, poderem vir a contribuir também para o
21
melhor entendimento de determinados processos, e suas conseqüências, que se
desenvolvem dentro da zona de surfe da área estudada.
Figura 4 - Posto salva-vidas montado pela SALVAMAR na praia de Patamares.
Figura 5 - Salva-vidas da SALVAMAR, de camisas amarelas e do Corpo de Bombeiros, de camisas
vermelhas, durante uma preleção.
22
III - GEOLOGIA
A geologia da penín-
38º30’
sula de Salvador é constituída, na sua maior parte,
por terrenos granulíticos de
idade arqueana a protero-
Baía
de Todos os
Santos
zóica inferior, de composição
lâ
nt
ico
essencialmente quartzo-feldspática, que formam o Alto
At
13º00’
ce
a
no
de Salvador, unidade perten-
O
cente ao Complexo Jequié
0
7Km
(Lima et al. 1981). A oeste,
sob contato estrutural, locali-
Quaternário
Terciário
Cretáceo
Precambriano
Figura 6 - Mapa geológico simplificado da península de Salvador e
áreas cincunvizinhas
zam -se os arenitos e folhelhos, de origem flúvio-lacus tre e idade cretácica, que
pertencem à Bacia do Recôncavo (Fig. 6).
Sobre as rochas granulíticas, e principalmente na parte centro-oeste da península,
afloram sedimentos areno-argilosos, de origem essencialmente fluvial e idade terciária,
que compõem a Formação Barreiras.
Nas praias da costa atlântica, que constituem a área estudada, encontram-se
depositados sedimentos essencialmente arenosos, inconsolidados, de idade quaternária
(Fig. 6), constituídos de areias quartzosas, com granulometria variando de grossa a fina e
predominantemente média, sendo que em alguns trechos, quantidades menores de
feldspatos, minerais máficos e fragmentos de conchas encontram -se presentes
(Bittencourt 1975). É muito comum, sobretudo nesta parte da costa, aflorar nas praias, as
rochas do embasamento precambriano, formando promontórios (Fig. 7), ou de forma
dispersa, ao longo da face da praia (Fig. 8). Sobre estes afloramentos, muitas vezes
encontram-se depositadas, camadas submétricas de arenitos, conglomerados (Fig. 9) e
construções coralinas, de idade quaternária. Na parte norte da área estudada, ainda
dentro das praias, é relativamente comum ocorrerem bancos de arenito, que geralmente
permanecem submersos durante a preamar (Fig. 10). As praias internas à Baía de Todos
os Santos são constituídas por sedimentos mais finos, de composição areno-siltosa.
23
Figura 7 - Promontório do Morro do Cristo, que limita a praia do Farol da Barra a leste (Anexo I)
Figura 8 - Afloramentos de rochas precambrianas dispersos ao longo da face da praia do Buracão (Anexo I)
Figura 9 - Afloramento de conglomerados e bancos de arenito sobrepostos a rochas precambrianas
aflorando na zona de surfe da pequena praia situada logo abaixo do Clube Espanhol (Anexo I)
24
Figura 10 - Bancos de arenito aflorando logo abaixo da linha da baixa-mar na praia de Stella Maris (Anexo I)
IV - FISIOGRAFIA
Fisiograficamente, a costa atlântica de Salvador apresenta quatro segmentos
distintos, aqui chamados de setores, que se caracterizam por apresentarem diferentes
direções de linha de costa, além de possuírem diferentes quantidades de afloramentos de
rochas precambrianas, ao longo das praias e das zonas de surfe. Estes dois fatores, além
de alterarem a paisagem, que por sí só já justificaria a divisão aqui proposta, interferem
bastante no padrão hidrodinâmico da zona de surfe, interferindo assim, também, na
segurança das praias para o banho, como será demonstrado no decorrer desta
dissertação.
As falhas da Barra e de Itapuã, de idade mesozóica (Wanderley & Graddi 1995), são
responsáveis por promover esta modificação na direção da linha de costa, truncando a
sua direção original, sudoeste-nordeste,
e
gerando
segmentos
com
direções
aproximadamente leste-oeste (Fig. 11 e Anexo I), onde afloram predominantemente o
embasamento precambriano, o que resulta em trechos rochosos, destituídos de
sedimentos, ou na formação de praias curtas e embaiadas, do tipo de enseada, que são
limitadas em suas extremidades pelas rochas precambrianas. Outro efeito decorrente
desta tectônica é a geração, nestes segmentos de direção leste-oeste, de áreas
abrigadas contra a ação das ondas de leste e de nordeste, que compõem, junto com
25
outras direções de ondas incidentes, o clima de ondas da costa atlântica, como será
descrito em capítulo posterior.
38º30’
Baía
de Todos os
Santos
13º00’
Setor
4
Setor
Setor 3 Falha de Itapuã
Setor 2
1
Barra
Falha da
n
ea
c
O
t ico
n
tlâ
A
o
0
7Km
Figura 11 - Mapa geológico simplificado da área em torno à faixa estudada, mostrando as falhas da
Barra e de Itapuã e os quatro setores da linha de costa atlântica de Salvador
Setor 1 - Farol da Barra/Ponta de Itapuãzinho; Setor 2 - Itapuãzinho/Praia de Piatã; Setor 3 – Praia de
Placafor/ Praia do Flamengo; Setor 4 – Praia do Flamengo/Lauro de Freitas.
O Setor 1 apresenta direção geral leste-oeste, mede cerca de 7,3 km de extensão, e
está compreendido entre o Farol da Barra, a oeste, e a ponta de Itapuãzinho, a leste, esta
localizada no bairro de Amaralina (Fig. 12). Corresponde ao próprio plano da Falha da
Barra e por isto apresenta uma costa rochosa (Fig. 13), com poucas praias, muitas do tipo
enseada, geralmente separadas entre sí por promontórios constituídos de rochas
precambrianas cristalinas, que, em alguns locais, sustentam falésias de até 15 m de
altura, como no trecho compreendido entre o Morro do Cristo e o início da praia de
Ondina, abaixo do Clube Espanhol, e também entre a praia da Paciência e a praia de
Sant'ana (Anexo I). É muito comum que estas rochas aflorem também nas praias, tanto
nas áreas emersas quanto nas submersas.
26
N
Itapuâzinho
Farol da Barra
0
500 m
Precambriano
Figura 12 – Mosaico de ortofotos -aéreas mostrando o Setor 1. Trecho bastante rochoso da costa atlântica de
Salvador, que apresenta direção geral E-W e freqüentes afloramentos de rochas precambrianas cristalinas.
Está compreendido entre o Farol da Barra e a ponta de Itapuãzinho.
Figura 13 - Costa rochosa aflorando no Setor 1, próximo à praia do Clube Espanhol (Anexo I)
O Setor 2 apresenta direção geral sudoeste-nordeste, mede cerca de 11 km de
extensão e está compreendido entre a Ponta de Itapuãzinho e a extremidade norte da
praia de Piatã (Fig. 14). Tem por principal característica a existência de praias
relativamente longas e retilíneas, algumas com cerca de 4,8 km de comprimento (praias
dos Artistas-Piatã, Anexo I). Os afloramentos de rochas precambrianas são relativamente
escassos e não apresenta falésias, porém é relativamente com um, sobretudo na parte
nordeste deste setor, a ocorrência de bancos de arenito, quase sempre submersos.
27
P. de Piatã
N
Itapuâzinho
Precambriano
0
300 m
Figura 14 – Praias relativamente longas e retilíneas, com uma menor ocorrência de afloramentos de rochas
precambrianas, caracterizam o Setor 2.
Os limites do Setor 3 estão estabelecidos em função da influência que a Falha de
Itapuã exerce sobre a fisiografia, com a freqüente exposição de rochas precambrianas,
que muito limitam o comprimento das praias, favorecendo o desenvolvimento de praias de
enseada. Circunda a ponta de Itapuã e por isto apresenta três segmentos com direções
distintas, dois destes estão inseridos na enseada de Itapuã e apresentam direções WSW ENE e NW -SE, respectivamente. O terceiro segmento está fora desta enseada, mais
diretamente exposto ao Oceano Atlântico, e apresenta direção geral SW-NE (Fig. 15). O
setor como um todo tem início na extremidade norte da praia de Piatã, prolongando-se até
a Praia do Flamengo, totalizando cerca de 6,2 Km de extensão.
28
N
0
200 m
Flamengo
Itapuã
Precambriano
Praia. de Piatã
Figura 15 – O Setor 3 apresenta freqüentes afloramentos de rochas precambrianas cristalinas, o que resulta
em um grande número de praias, muitas das quais curtas e embaiadas, do tipo de enseada.
O Setor 4 tem início logo após a praia
N
do Flamengo e se estende na direção SW NE até a divisa com o Município de Lauro
de Freitas, totalizando cerca de 2,2 Km. É
0 120m
de todos o mais retilíneo, constituído na
verdade por uma única praia, apesar de
possuir diferentes denominações populares. Está mais afastado da zona de influFlamengo
ência da Falha de Itapuã e, provavelmente
por isto, praticamente não exibe afloramen-
Divisa Salvador/Lauro
de Freitas
Bancos de arenito
tos do precambriano cristalino. É contudo
Figura 16 – Setor 4, formado por uma única praia,
aproximadamente retilínea, com freqüentes
afloramentos de bancos de arenitos e inexistência do
Precambriano cristalino.
freqüente a ocorrência de bancos de arenitos emersos e submersos, aflorando paralelamente à face da praia (Fig. 16).
29
V - SISTEMA DE CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA
A costa de Salvador está situada dentro do campo de ventos alísios do Atlântico
Sul, com direções predominantes de leste, sudeste e nordeste, que está relacionado à
célula de alta pressão que ocorre entre a América do Sul e a África (Bigarella 1972 apud
Bittencourt et al 2000). Outro importante elemento da circulação atmosférica desta região
é o avanço periódico das frentes-frias polares, que ocorre predominantemente nos meses
do outono e do inverno, causando fortes ventos com direção sul-sudeste. Estes ventos,
esporadicamente, podem ser parcialmente bloqueados durante eventos de El Niño (Martin
et al. 1998).
A distribuição média dos ventos ao longo do ano, sobre o oceano, em frente à costa
de Salvador, é apresentada na Tabela I.
Direção Predominante dos Ventos
Freqüência Média Anual
N 90º
42 %
N 135º
30 %
N 45º
16 %
N 180º
6%
Tabela I - Freqüência anual média das principais direções de ventos formadores de ondas que incidem sobre
a costa atlântica de Salvador (DHN 1993).
VI – VENTOS
A importância dos ventos, ao se estudar a segurança das praias, para o banho,
reside no fato de serem estes os elementos que inicialmente geram, em alto-mar, as
ondas que irão se propagar em todas as direções, incidindo e quebrando nas zonas
costeiras, quando então geram correntes e outros fatores de risco para o banho, dentro
da zona de surfe. Ao atingirem a superfície dos oceanos causam principalmente
turbulência, transferindo parte de sua energia para a água, que se propaga então sob a
forma de ondas. A geração de ondas depende fundamentalmente da velocidade e da
duração dos ventos e da área sobre a qual estes incidem, área esta que é conhecida
como pista (Komar 1998).
30
Além de elementos geradores de ondas, podem ser também modificadores destas,
quando, ao incidirem diretamente sobre a zona costeira, modificam tanto as ondas
inicialmente geradas em alto-mar quanto as correntes geradas por estas ondas, dentro da
zona de surfe. Hubertz (1986) registrou uma triplificação na velocidade das correntes
geradas pelas ondas, devida à ação dos ventos costeiros. Davis & Fox (1972)
demonstram que os ventos costeiros podem aumentar ou diminuir a altura de quebra das
ondas e consequentemente a velocidade das correntes, dentro da zona de surfe.
Masselink & Pattiarachi (1998), estudando os efeitos causados pelas brisas marinhas na
dinâmica costeira, mediram aumentos significativos na altura das ondas e na velocidade
das correntes longitudinais. As brisas marinhas, originadas na parte da tarde dos dias
quentes, podem também produzir fortes efeitos no padrão das ondas, com conseqüências
para o desenvolvimento morfodinâmico das praias (Masselink & Pattiarachi 1998). Estas
brisas são geradas pelas diferenças de temperatura entre o continente e o oceano, que
criam gradientes de pressão próximos à costa (Inman & Filloux 1960). A intensidade
destas brisas é proporcional às diferenças de temperatura (Hsu 1988, apud Masselink &
Pattiaratchi 1998), e são mais fortes durante a parte da tarde dos dias quentes das
regiões tropicais e semitropicais (Masselink & Pattiaratchi 1998). A combinação, na parte
da tarde, entre brisas marinhas e marés de enchente de sizígia, pode produzir ciclos
quinzenais de alta energia (Inman & Filloux 1960). A ocorrência de brisas marinhas pode
também alterar uma série de parâmetros oceanográficos da zona de surfe, como a altura,
o período, a direção e o tipo das ondas, além da velocidade e da direção das correntes,
bem como a largura da zona de arrebentação, e por conseqüência, toda a morfodinâmica
praial, podendo inclusive modificar o estágio morfodinâmico da praia, assemelhando-se
às vezes aos efeitos causados por uma tempestade de nível médio (Masselink &
Pattiaratchi 1998). Estas brisas marinhas são bastante comuns em Salvador, sendo
popularmente conhecidas com o nome de "viração" e são fortes e freqüentes a partir da
metade da tarde dos dias quentes de verão.
VII - ONDAS
VII.1 - Origem
As ondas, como já anteriormente citado, resultam da ação dos ventos sobre a
superfície do mar. Estes, ao induzirem uma pressão de cima para baixo, provocam um
movimento de baixo para cima, efeito conhecido como empuxo. Em seguida, a força da
gravidade, atuando de cima para baixo, age no sentido de restaurar a posição original e a
31
onda então é propagada pela superfície da água, transportando a energia adquirida dos
ventos (Sica 1999) (Fig. 17).
Figura 17 - Mecanismo de formação das ondas de gravidade.
Inicialmente pela ação dos ventos, em seguida pelo empuxo e por fim pela força
da gravidade, que atua a fim de restaurar a posição original (Sica 1999).
A zona de origem das ondas pode estar muito longe da costa ou próxima a ela. A
altura e o período das ondas dependem da velocidade e da duração dos ventos, bem
como da distância percorrida pelos mesmos (Komar 1998). Deste modo, as ondas
dependem inicialmente das modificações atmosféricas, mais notadamente das variações
barométricas (Davis & Fox 1972).
VII.2 - Dinâmica
Em alto-mar, nas águas profundas, onde a profundidade (h) é maior que a metade
do comprimento de onda (L0), o movimento das partículas segue a orientação de órbitas
circulares, com um eixo horizontal, órbitas estas que vão diminuindo em tamanho para o
fundo. Estas partículas vão e voltam para o mesmo ponto, não havendo, até então,
deslocamento de massa (Komar 1998). Ao penetrar em águas progressivamente mais
rasas, o movimento orbital começa a interagir com o fundo e a forma até então circular do
movimento é deformada, assumindo uma geometria elíptica. A profundidade (h) a partir
da qual isto se inicia é cerca de 50% do comprimento da onda (L) e marca o início das
águas intermediárias (Trenhaile 1997) (Fig. 18).
32
Figura 18 - Elementos geométricos das ondas (Komar 1998)
VII.3 – Transformações
A partir das águas intermediárias - quando a profundidade eqüivale à metade do
comprimento da onda - até o ponto de arrebentação, as ondas, como conseqüência da
interação com o fundo, sofrem uma série de transformações progressivas na sua direção,
comprimento, altura, e forma. É a partir desta profundidade que têm inicio os fenômenos
da refração, do empinamento e da interferência. A difração é um outro fenômeno que
pode ou não ocorrer antes ou depois da quebra, a partir da qual pode existir também a
reflexão.
VII.3.1 - Refração
A refração das ondas ocorre logo que estas começam a interagir com o fundo (h =
L/2) e quando as isóbatas relativas a este fundo apresentam direções diferentes das
cristas das ondas, ou seja: é o mesmo efeito físico que acontece com um feixe de luz, ou
de qualquer outro tipo de onda, quando o seu meio de propagação é alterado. Nestas
condições, a parte da crista da onda que passa sobre a zona mais profunda apresenta
uma velocidade horizontal (C) maior, em função de uma menor fricção com o fundo, o que
provoca a rotação desta parte da crista em torno da zona mais rasa (Komar 1998),
modificando progressiva e substancialmente a trajetória originada em alto-mar e fazendo
com que a crista se ajuste geometricamente à batimetria (Bascom 1953). A refração das
ondas marinhas é matematicamente demonstrada pela Lei de Snell-Descartes (Trenhaile
1997):
sem α 0 / C 0 = sen αr / C r ,
33
onde α 0 é o ângulo formado entre a frente-de-onda incidente em alto-mar e uma
determinada isóbata e α r é o ângulo formado entre a frente-de-onda refratada e a mesma
isóbata. C0 é a velocidade horizontal da onda incidente em alto-mar e Cr é a velocidade
horizontal da onda refratada.
Esta expressão mostra o decréscimo que ocorre com a velocidade horizontal e com
o ângulo formado entre as ondas e as isóbatas, quando estas começam a interagir,
modificando a trajetória das ondas iniciada em alto-mar (Figs. 19 e 20).
Esta parte da onda já está quebrando. A fricção
c/ o fundo reduz a velocidade horizontal C1 e o
comprimento L1. A refração desloca a trajetória
original da crista,diminuindo progressivamente
o ângulo entre esta e a linha de costa.
Esta parte da crista ainda não
está quebrando. C2 e L2 são
maiores. Maior também é o
ângulo entre esta parte da crista
e a linha de costa .
L2
L1
Figura 19 – A partir das águas intermediárias, e quando a direção das cristas não coincide com a das
isóbatas, as ondas sofrem refração, que modifica sua trajetória original.
(a batimetria aqui é paralela à linha de costa - adaptado de Komar 1998).
Figura 20 –
Exatamente a
mesma situação observada em
campo, na figura 20, foi
esboçada aqui por Ippen
(1966).
34
A refração, além de modificar a direção de propagação das ondas, pode também
reduzir as suas alturas, ao promover o transporte da mesma quantidade de energia por
uma extensão linear maior, ao longo da crista (Komar 1998 - Fig. 21)
Figura 21 - A conservação
do fluxo de energia das ondas (E)
entre dois raios-de-onda que vão se
distanciando (S), por efeito da
refração, diminui a densidade de
energia e a altura da onda (H)
(Komar 1998).
Quando a batimetria é ondulada, a refração pode provocar a convergência das
ondas de encontro às feições que representam relevos submarinos positivos em relação à
sua vizinhança, como promontórios, tômbolos, bancos de areia, etc, concentrando a
energia e provocando uma sobreelevação na altura de quebra das ondas, ou pode
provocar o oposto, ou seja: uma divergência das ondas, que acontece quando estas
passam sobre feições que representam um relevo negativo em relação à sua vizinhança,
como enseadas, canais, depressões, etc, resultando numa dispersão de energia com a
conseqüente redução na altura das ondas. Nos pontos aonde venha a ocorrer
convergência, a energia liberada pelo quebramento das ondas será concentrada, gerando
correntes longitudinais e de retorno mais fortes, enquanto que nas zonas de divergência
serão criadas áreas calmas, quase sem ondas e/ou correntes (Figs. 22 e 23). Para Munk
35
& Traylor (1947), a refração é o principal mecanismo de controle da altura de quebra das
ondas sobre uma praia.
Refração
Promontório
Praia
abrigada
Praia
abrigada
Figura 22 - Convergência e divergência dos raios -de-onda produzidas pela refração, ao passarem por sobre
promontórios e enseadas (adaptado de Bascom 1953).
Figura 23 – Afloramen tos rochosos situados na zona
de surfe das praias de Piatã e
Placafor (Salvador-Ba., agosto
de 1998 - Anexo I), que provocam a refração e a convergên cia dos raios -de-onda para
estes pontos.
Como as ondas incidentes de alto-mar representam a principal entrada de energia
para o ambiente praial (Wright & Short 1984) e como estas sofrem alterações relativas às
suas alturas e direções, causadas pela refração, alterando assim a morfodinâmica das
praias (Goldsmith 1976), torna-se necessário traçar diagramas de refração de ondas a
fim de obter as novas direções e alturas. Trata-se de uma ferramenta gráfica que mostra
os pontos de convergência e de divergência dos raios-de-onda ao longo da linha de costa,
além das suas alturas, auxiliando na localização das correntes longitudinais e de retorno.
36
VII.3.2 - Empinamento ou Shoaling
Ao atingir as águas rasas, onde a profundidade é inferior à vigésima parte do
comprimento das ondas, estas começam a empinar e a sofrer também uma série de
transformações, conhecidas como empinamento de fundo ou "shoaling transformations",
que reduzem o comprimento da onda (L) e a velocidade horizontal (C), aumentando a
altura da onda (H) e onde só o período (T) permanece constante, culminando com o
quebramento da onda (Trenhaile 1997). Matematicamente, estas transformações podem
ser representadas da seguinte forma: Em águas rasas, a velocidade horizontal (C)
depende da profundidade (h):
C = (gh)1/2
(Komar 1998)
Como (h) decresce progressivamente, então (C) também decresce. A redução da
velocidade horizontal (C) retarda então o avanço da onda, reduzindo a distancia (L) entre
esta e a onda que vem atrás. A fim de conservar constante o fluxo de energia (P) que traz
das águas profundas para as rasas, a densidade de energia (E) da onda aumenta,
compensando a desaceleração do movimento horizontal (C) (Komar 1998).
P = ECg
Como a densidade de energia (E) é relacionada ao quadrado da altura da onda (H2):
E = ( pgH2 ) / 8 (Munk & Traylor 1947),
onde p é a densidade da água, então a altura da onda (H) aumenta nas águas rasas
(Trenhaile 1997; Komar 1998). Caso este aumento venha a superar a redução que pode
ser causada pela refração, então a altura de quebra da onda será maior que a altura da
onda incidente de alto-mar, quando isto ocorre, as velocidades das correntes longitudinais
e de retorno são ampliadas. A dimensão do empinamento depende fundamentalmente da
declividade do fundo e, de acordo com Komar (1998), da permeabilidade dos sedimentos.
VII.3.3 - Interferência
Quando duas ou mais séries de ondas, de diferentes direções, incidem
simultaneamente sobre uma mesma área, a resultante pode ser uma onda de altura maior
ou menor do que a das ondas iniciais. Quando as ondas das diferentes séries têm o
mesmo período, as cristas e cavas coincidem, ocorrendo então uma interferência
construtiva, e a resultante é uma onda de maior altura (Fig. 24-a). O contrário, ou seja:
quando as ondas têm períodos diferentes, a crista de uma coincide total ou parcialmente
com a cava da outra, ocorrendo então uma interferência destrutiva, e a resultante é uma
onda de menor altura (Enc. Britânica 1994) (Fig. 24-b).
37
a
b
Figura 24 - a) ondas incidentes de diferentes direções, com diferentes alturas e iguais períodos (linhas
vermelhas tracejadas), geram uma interferência construtiva, na qual a onda resultante (azul), apresenta uma
altura superior à das ondas originais; b) ondas incidentes de diferentes direções, com diferentes alturas e
períodos, geram uma interferência destrutiva, na qual a onda resultante (azul), apresenta uma altura
intermediária às das ondas originais (Enc. Britânica 1994).
Na costa atlântica de Salvador, freqüentemente há interferência de duas ou até de
mais direções de ondas, provocada pela pluralidade de direções de ventos que podem
ocorrer simultâneamente na área, e também pelos efeitos da refração, que gera
convergência ou divergência dos raios -de-onda contra feições avançadas da linha de
costa, no caso os promontórios, por exemplo, e contra feições mais profundas, podendo
gerar interferência construtiva ou destrutiva, com conseqüências para a segurança da
praia, para o banho.
VII.3.4 - Difração
Este fenômeno ocorre quando há algum tipo de obstáculo físico à propagação das
ondas, fazendo com que haja uma transferência lateral de energia, ao longo da crista
(Komar 1998). Este obstáculo pode ser representado por um afloramento rochoso
emerso, uma pequena ilha, um quebra-mar, etc. É comum a ocorrência de afloramentos
rochosos emersos ou semi-submersos em muitas das praias da costa atlântica de
Salvador, sobretudo nas praias da Pituba e de Placafor (Anexo I), onde a difração é então
verificada clareza (Fig. 25).
38
rocha
praia
difração
rocha
difração
raio-de-onda
rocha
frente-de-onda
Figura 25 - A difração provoca uma transferência lateral de energia ao longo das cristas
das ondas logo após estas passarem pelos afloramentos semi-submersos que ocorrem
na zona de surfe da praia da Pituba (Anexo I) (diagrama feito a partir de ortofotos aéreas)
VII.3.5 - Reflexão
É provocada pelo choque das ondas contra alguma superfície demasiadamente
inclinada, como escarpas, falésias, faces de praias muito inclinadas, bancos emersos,
quebra-mares, etc., fazendo com que parte da energia da onda seja refletida de volta
(Trenhaile 1997). Na questão da segurança de praia, pode vir a se constituir num fator de
risco, pelo fato de transportar o banhista para o fundo.
O novo padrão de ondas, criado a partir das águas intermediárias, e sobretudo
dentro da zona de surfe, por efeito de todos os mecanismos de transformação acima
descritos, tem conseqüências importantes para a questão da segurança das praias.
VII.3.6 - Quebramento
O mecanismo que provoca o quebramento das ondas ainda não está
definitivamente estabelecido (Komar 1998). Existem duas teorias que explicam este
momento. Uma delas defende que isto ocorre quando a velocidade horizontal (C) torna-se
inferior à velocidade orbital (W), o que causa uma tendência de inversão da geometria
39
elíptica, isto é, o diâmetro maior tende a se posicionar na vertical, a onda então se eleva
verticalmente e quebra (Teoria de Stokes, Trenhaile 1997) (Fig. 26).
C
H
w
Figura 26 - À esquerda, antes de quebrar, as velocidades horizontal (C) e orbital (W) estão em equilíbrio. À
direita, a fricção com o fundo reduz (C), (W) torna-se então relativamente maior, a geometria elíptica se
verticaliza e a onda então quebra (Teoria de Stokes).
De acordo com a outra teoria, conhecida como da “onda solitária“, a resultante
horizontal da velocidade orbital (U) da crista, em águas rasas, é maior do que esta mesma
resultante (U) na base da onda, fazendo com que a crista se projete para frente, perca
sustentação e então quebre (Trenhaile 1997) (Fig. 27).
U crista = g( h + H )1/2
é maior que
U
base
= g( h-H )1/2
(Komar 1998)
Figura 27 - Em águas rasas, a resultante horizontal da velocidade orbital (U) na crista é maior do que esta
mesma resultante na base, o que provoca instabilidade, com a conseqüente quebra da onda (teoria da onda
solitária)
Ambas as teorias sugerem que o quebramento das ondas ocorre quando é atingido
um ponto crítico na relação entre a altura da onda (H) e a profundidade da lâmina d’água
no ponto onde a onda quebra (hb). Este valor crítico varia entre 0,6 e 1,2 , com moda em
40
torno de 0,78 (Munk & Traylor 1947). O ponto de quebramento das ondas também pode
ser influenciado pela existência de correntes fluviais, por correntes marinhas geradas
próximas à costa (Horikawa 1988, apud Trenhaile 1997), e também pelos ventos
costeiros, que, a depender de onde estiverem soprando, podem antecipar ou retardar o
instante da quebra (Trenhaile 1997).
Ao quebrarem, no início da zona de surfe, as ondas dissipam a energia que vêm
transportando desde o alto-mar, gerando então turbulência e colocando grandes
quantidades de sedimento em suspensão para depois se transformarem em correntes
que transportam energia e matéria através da zona de surfe, constituindo-se nos
principais fatores de risco para os banhistas.
A altura de quebra das ondas depende fundamentalmente da altura da onda
incidente em alto-mar e dos efeitos provocados pela refração e pelo empinamento (Dean
& Dalrymple 1998). Os efeitos provocados pela fricção com o fundo também agem no
sentido de reduzir a altura de quebra e dependem da granulometria do sedimento e das
formas de leito (Wright & Short 1984). Sob condições de sedimentos grossos, com
freqüentes marcas de corrente, esta redução geralmente situa-se em torno de, apenas,
0,01% a 0,05% e sob condições de sedimentos mais finos e com formas de leito pouco
onduladas, a redução é ainda menor (Wright & Short 1984).
A literatura especializada disponibiliza diversas fórmulas matemáticas para calcular
a altura de quebra das ondas (Hb ) e a energia por estas liberada (E), que podem ser
aplicadas quando a linha de costa é retilínea com isóbatas paralelas (Komar 1998).
Dentre estas, podem ser citadas:
H b = H 0 . Kr . Ks (Dean & Dalrymple 1998)
E = (ρgHb 2 )/8 (Shore Protection Manual 1984),
onde H 0 é a altura da onda incidente em alto-mar, Kr é o coeficiente de refração, K s é o
coeficiente de empinamento, ρ é a densidade da água do mar e g é a aceleração da
gravidade.
O coeficiente de empinamento (Ks) mede o quanto a altura de quebra da onda
aumentou em relação à sua altura em alto-mar e pode ser obtido no eixo das ordenadas
da figura 28.
41
10
3
2
ondas incidentes de
1
Hb / H 0
alto-mar
0,1
águas rasas
águas
interme-
águas profundas
diárias
0,01
0,001
0,01
0,05
0,1
0,5
1
hb / L0
Figura 28 - Gráfico para obtenção do coeficiente de empinamento (Ks), que aumenta a altura das ondas
incidentes de alto-mar, no domínio das águas rasas ( Komar 1998).
Na figura 28 (hb ) é a profundidade na qual a onda quebra e (L0) é o comprimento da
onda incidente em alto-mar e são dados por:
hb = H 0 / 0,78 (Munk & Traylor 1947)
2
L0 = g.T / 2π (Komar 1998), onde T é o período das ondas em alto-mar.
Por sua vez, o coeficiente de refração (Kr) é obtido da seguinte relação:
Kr = (cos α 0 / cos α r )1/2 (Komar 1998),
onde α 0 é o ângulo formado entre a frente-de-onda incidente em alto-mar e a isóbata, e α r
é o ângulo formado entre a frente-de-onda refratada e a isóbata, podendo ser obtido a
partir da Lei de Snell-Descartes:
sen α 0 / C0 = sen αr / Cr (Trenhaile 1997),
onde C 0, que corresponde à velocidade horizontal da onda em alto-mar, é obtido da
fórmula:
C0 = gt/2π (Komar 1998).
Por sua vez, a velocidade da onda refratada (Cr ) é obtida da expressão:
C r = (ghb )1/2 (Komar 1998).
42
VII.4 - Tipos de Ondas
As ondas diferem quanto à sua forma de quebrar, o que resulta, principalmente, da
altura da onda incidente de alto-mar (H0), do seu comprimento (L0) e da declividade do
relevo submarino (Komar 1998) (Fig. 29). Segundo estes critérios, são identificados
quatro tipos de ondas: Deslizante, Mergulhante, Frontal e Ascendente (Fig. 29).
Figura 29 – Diferentes tipos de ondas, quanto à sua forma no instante da quebra (Trenhaile 1997).
As do tipo Deslizante quebram de forma suave e progressiva ao longo da zona de
surfe, como resultado de fundos pouco inclinados (Komar 1998).
As do tipo Mergulhante são o oposto, isto é, quebram quase que repentinamente, ao
se chocarem contra fundos muito inclinados, formando um tubo e projetando toda a crista
de uma só vez, lançando quase que a totalidade da massa d'água para frente e
dissipando quase que instantaneamente toda a energia (Komar 1998).
As ondas ascendentes não chegam a quebrar propriamente, ascendendo sobre a
face da praia, e resultam de fundos com declividade ainda mais elevada.
As ondas frontais são intermediárias entre as Mergulhantes e as Ascendentes
(Komar 1998).
Experiências realizadas em tanques de provas, resultaram na determinação de uma
medida adimensional que também classifica os diferentes tipos de ondas. Esta medida é
conhecida como número de Iribarren, sendo representado pela fórmula:
ξ
0
= S / (H0/L0)1/2 (Komar 1998),
onde S é a declividade do relevo submarino na zona de arrebentação e H 0 e L0 são a
altura da onda e o seu comprimento em alto-mar, respectivamente. A correspondência
deste número com a classificação baseada apenas na forma de quebra, de três tipos de
ondas, apresentada acima, é a seguinte:
•
Ondas deslizantes - número de Iribarren é menor que 0,5 (Komar 1998).
43
•
Ondas mergulhantes - número de Iribarren situa-se entre 0,5 e 3,3 (Komar
1998).
•
Ondas ascendentes - número de Iribarren é maior que 3,3 (Komar 1998).
VIII - CORRENTES DA ZONA DE SURFE
Zenkovich (1967) observou que existem dois grupos diferentes de correntes dentro
da zona de surfe. O primeiro grupo é restrito a esta zona e é mais dominante. É gerado
pelos ventos e pelas ondas, depende fundamentalmente do padrão destas e da
geomorfologia, emersa e submersa. Por sua maior energia e sua localização restrita à
zona de surfe, produz efeitos mais marcantes no desenvolvimento morfodinâmico das
praias (Zenkovich 1967).
O segundo grupo, mais disperso, é formado por outros elementos, como as marés,
as descargas dos rios, as diferenças na densidade da água do mar, diferenças na
pressão atmosférica, etc. Não se restringe apenas à zona de surfe, tem uma amplidão
espacial maior, possui uma freqüência temporal também maior e pode ser acompanhado
por distâncias mais longas, porém tem menor energia (Zenkovich 1967).
Os ventos e as ondas empurram a massa d’água de encontro à face da praia,
causando um sobreelevação da água, fenômeno este conhecido como empilhamento ou
"wave setup". Esta elevação momentânea do nível do mar gera um gradiente de pressão
gravitacional. A água então pode tomar um entre três rumos, ou todos ao mesmo tempo.
Uma parte retorna predominantemente pelo fundo, produzindo uma segregação vertical
na lâmina d'água, com direção ortogonal, ou oblíqua, à linha de costa e é conhecida como
corrente de fundo ou "undertow" ; outra parte flui paralelamente à praia, são as correntes
longitudinais ou "longshore currents"; e um terceiro tipo retorna, deslocando toda a coluna
d'água, com direção ortogonal ou oblíqua à linha de costa e é conhecido como corrente
de retorno ou "rip current" (Komar 1998).
VIII.1 – Correntes de Fundo ou Undertow
As correntes de fundo (Fig. 30) podem ser as principais responsáveis pelo
transporte de sedimentos em direção à plataforma, durante uma tempestade, e
consequentemente, podem ter fundamental importância no processo de formação dos
bancos externas (Aagaard & Greenwood 1994). Como se trata de uma corrente que flui
pelo fundo, não se constitui em um fator de grave risco para os banhistas.
44
Figura 30 - A parte da
água que retorna pelo
fundo, após as ondas
quebrarem sobre a face da
praia, é conhecida como
corrente de fundo ou
"undertow" (Komar 1998)
Ondas
Corrente de fundo
ou “undertow”
Fundo
VIII.2 – Correntes Longitudinais ou Longshore Currents
As correntes longitudinais são o resultado da incidência das ondas, de forma
oblíqua, contra a face da praia, gerando um fluxo que tem direção aproximadamente
paralela à esta (Fig. 31). Isto pode acontecer também quando as ondas incidem
ortogonalmente contra a face da praia, da seguinte maneira: em determinados pontos de
uma linha de costa, onde há uma forte convergência dos raios -de-onda, o resultado é o
empilhamento da massa d’água nestes pontos (wave setup), criando assim um gradiente
de pressão gravitacional, paralelo à linha de costa, pelo o qual a água flui, do local de
ondas mais altas para o de ondas mais baixas, formando então as correntes longitudinais.
Direção da face da praia
Frentes-de-onda
Corrente longitudinal
Figura 31 - A incidência das ondas de forma oblíqua contra face da praia, gera correntes
aproximadamente paralelas à esta, que são denominadas de correntes longitudinais (Praia de
Jaguaribe, Salvador – Ba. CONDER 1998)
45
VIII.3 – Correntes de Retorno ou Rip Currents
A corrente de retorno representa o regresso, pelo fundo e pela superfície, da massa
d’água que é empilhada pelas ondas, contra a face da praia. Sua força, ou intensidade,
depende fundamentalmente da altura de quebra das ondas e da geomorfologia, sobretudo
quando sofre algum tipo de confinamento, tendo então sua velocidade bastante ampliada.
Constitui-se de uma faixa de água relativamente estreita dentro da zona de surfe - com
largura da ordem de alguns a poucas dezenas de metros - que flui da face da praia em
direção à zona de arrebentação (Fig. 32), passando pelas ondas incidentes, quando então
induz uma diminuição na altura de quebra destas, e finaliza próximo ao ponto de
arrebentação, onde cessa sua energia. Muitas vezes se desenvolve quando uma corrente
longitudinal é desviada por alguma feição geomorfológica submersa ou emersa, como
bancos de areia, afloramentos rochosos, etc., fazendo com que o fluxo se dê em direção
à zona de arrebentação (Fig. 33). Pode ser também resultante de sistemas circulatórios
que se desenvolvem dentro da zona de surfe, produzidos por diferentes gradientes de
pressão gravitacional existentes ao longo e perpendiculares à linha de costa, gerados por
diferenças altimétricas entre os locais de empilhamento e os de depressão (wave setdown) (Komar 1998) (Fig. 34).
Figura 32 - Corrente de retorno sendo formada na Praia de Jaguaribe (Anexo I, Salvador-Ba.)
46
praia
corrente longitudinal
raios -de-onda
rocha
corrente de retorno
Figura 33 - O desvio imposto por um afloramento rochoso, contra uma corrente longitudinal, pode gerar uma
corrente de retorno.
praia
empilhamento
corrente longitudinal
empilhamento
depressão
corrente de retorno
depressão
Figura 34 - Corrente de retorno originada por sistemas circulatórios
Como já foi mencionado, estas correntes são responsáveis pela maior parte dos
acidentes registrados dentro da zona de surfe, em praias de todo o mundo. Na Austrália,
na região de Sydney, por exemplo, Short & Hogan (1994) analisando as condições
descritas em 689 operações de salvamento, constataram que estas correntes tinham sido
responsáveis diretas por 89% destas ocorrências. No estado da Flórida (USA), mais que
70% dos acidentes são atribuídos à ação das correntes de retorno (Warning Coordination
Meteorologist National Weather Service, Miami). Nos Estados Unidos, como um todo, a
United States Lifesaving Association (USLA) atribui cerca de 80% dos acidentes às
correntes de retorno (www.usla.org). Em Salvador, apesar de não haver a mesma rotina
de descrição, os salva-vidas atribuem a estas correntes a causa direta de pelo menos
70% dos acidentes. No Rio de Janeiro, comunicações verbais do órgão de salvamento
local, indicam números semelhantes.
Short & Hogan (1994) utilizando flutuadores e teodolitos, efetuaram uma série de
medidas da velocidade destas correntes em nove praias de Sydney e registraram valores
47
entre 0,5 m/s e 1,5 m/s. Estas medidas foram feitas durante o verão, com alturas de
quebra de ondas entre 0,5 e 1,5 m e sob regime de micro-maré, segundo a classificação
de Davis & Hayes (1984). Nas praias da Caveira e do Flamengo, em Salvador (Anexo I),
sob condições de ondas e marés semelhantes, foram, no presente trabalho, estimadas
experimentalmente velocidades máximas de 0,9 m/s, com média de 0,6 m/s. Sabendo-se
que nadadores de nível olímpico, como Gustavo Borges, por exemplo, atingem, nas
águas paradas de uma piscina, sem turbulência e com o auxílio do impulso inicial, a
marca de 1,8 m/s (www.gustavoborges.com.br), e que um nadador de habilidades
medianas atinge, também em piscina, 1,2 m/s, em média (Federação Baiana de Natação),
conclui-se que a grande maioria dos banhistas corre sério risco de vida quando dentro
destas correntes. Short & Hogan (1994) verificaram que a velocidade das correntes de
retorno é diretamente proporcional à altura de quebra das ondas, porém, quando esta
altura varia entre 0,5 m e 1,5 m, a velocidade não é muito modificada. Já a partir de 1,5 m
de altura, o aumento na velocidade é significativo, tendo sido registrado valores de 2,9
m/s, para alturas de quebra próximas a 3 m (Short & Hogan 1994). Bozhich &
Dzhunkovskii (1949, apud Zenkovich 1967), já alertavam para o fato de tais correntes se
constituírem em um importante fator de risco para os banhistas.
Durante a vazante da maré, e a depender da geomorfologia impor um confinamento
à massa d’água, estas velocidades podem se intensificar ainda mais, com incrementos
entre 33% e 48% (Short & Hogan 1994).
Um efeito positivo destas correntes é o de promover a renovação da água do mar
dentro da zona de surfe, transportando a água próxima à face da praia para a zona de
arrebentação, que será substituída por águas mais limpas da antepraia e da plataforma
(Nordstrom 1991).
IX - AMPLITUDE E CORRENTES DE MARÉS
A variação do nível do mar, causada pelas marés, pode produzir vários efeitos sobre
a morfodinâmica de praias. Modificações diárias, representadas pela preamar e baixamar, deslocam a posição do ponto de arrebentação, da superfície de espraiamento, e da
zona de surfe como um todo. Modificações quinzenais, representadas pelas marés de
sizígia e quadratura, ampliam ou reduzem estes efeitos. A existência de uma superfície
intermareal tem reflexos tanto na parte subaérea da praia quanto no perfil submarino e
estes efeitos são mais pronunciados em condições extremas, como marés de sizígia
combinadas com tempestades.
48
A onda de maré produz correntes que têm um mesmo período que esta e variam
conforme as características da maré, da configuração da costa e da batimetria (Ippen
1966). Estas correntes tendem a ser retilíneas e de “mão dupla”, quando próximas à
costa, e rotatórias, em mar aberto (King 1972). Na superfície tendem a ter a mesma
velocidade da onda de maré, enquanto que em profundidade esta velocidade é reduzida
pela fricção com o fundo (Zenkovich 1967).
A direção e a intensidade das correntes de marés em costas abertas, e em áreas
confinadas, são diferentes. Nas primeiras, as correntes fluem paralelamente à linha de
costa, alternando direções opostas com a enchente e com a vazante. Em áreas
confinadas, as correntes são mais fortes nas saídas para o mar e a direção depende da
configuração local da costa (Zenkovich 1967). Estas correntes, quando próximas à costa,
sofrem distorções e podem adquirir uma natureza gravitacional (Zenkovich 1967). Nas
costas abertas e de pouc a declividade, a superfície intermareal pode ser bastante larga.
Durante a enchente, a onda de maré vai de encontro à força da gravidade existente no
aclive do perfil da praia, enquanto que logo após a preamar, uma componente
gravitacional e ortogonal à linha de costa é desenvolvida, sendo então mais forte do que
em alto-mar. Como a velocidade desta componente é diretamente proporcional à rapidez
com que a maré vaza, ela será máxima na metade da descida e mínima durante a estofa.
Neste caso, a maré se comporta como uma onda que é refletida a partir de uma costa
inclinada (Zenkovich 1967). Este efeito da maré, produzido durante a vazante, pode
também ser percebido quando parte da água fica parcialmente represada em canais
paralelos à linha de costa, intensificando a força das correntes longitudinais (Komar
1998). Short & Hogan (1994), como já foi citado, registraram incrementos entre 33 e 48%
na velocidade das correntes de retorno, durante a vazante e Sonu (1972, apud Komar
1998) também observou a aceleração que as correntes de retorno podem sofrer durante a
vazante.
Na costa atlântica de Salvador este mesmo efeito, de aceleração das correntes de
retorno durante a vazante, é observado, principalmente nas praias do tipo enseada,
comuns no Setor 3 da linha de costa local, enquanto que os efeitos da estofa, quando
reduz a velocidade das correntes, são observados em todas as praias (corpo de salvavidas da SALVAMAR, com. pessoal).
49
X - RESPOSTA DO SEDIMENTO AOS AGENTES HIDRODINÂMICOS
Sob a ação dos diversos agentes hidrodinâmicos que atuam na zona de surfe, o
sedimento move-se constantemente e quase sempre com intensidade, nas três
dimensões da praia (Fig. 35).
Transporte longitudinal
para fora da praia
Transporte ortogonal
para dentro da praia
Em
do p
se ilha
di m
m en
e n to
to
Transporte ortogonal
para fora da praia
s
da
n
O
Ventos
Transporte longitudinal
para dentro da praia
Figura 35 - Movimentação tridimensional do sedimento, dentro da zona de surfe, por ação dos agentes
hidrodinâmicos
Este transporte intenso gera um grande dinamismo na geomorfologia, que por sua
vez transforma os próprios agentes hidrodinâmicos, com reflexos sobre a segurança da
praia, para o banho. A constância desta movimentação depende da duração e da
freqüência dos agentes ambientais.
A intensidade do transporte sedimentar é resultante da interação da força dos
fluxos, produzidos principalmente pelas ondas e representados pelas correntes, com a
força da gravidade e com a força de inércia das partículas, que, por sua vez, depende da
granulometria, do selecionamento, da densidade e da forma dos grãos.
A rugosidade do fundo e a declividade do perfil submarino também são importantes
na dinâmica sedimentar (Wright & Short 1984), sendo que a rugosidade do fundo
aumenta o atrito, e consequentemente a inércia, enquanto que a resultante da força da
gravidade é diretamente proporcional à declividade do perfil de praia, dificultando o
transporte em direção à praia e o favorecendo em direção ao mar.
A granulometria, o selecionamento e a forma dos grãos determinam a
permeabilidade do sedimento e, junto com a inércia, a sua mobilidade. Sedimentos
arenosos grossos, bem arredondados e bem selecionados têm uma maior mobilidade.
50
A densidade e a forma do grão, para um determinado fluxo, determinam a
velocidade de decantação e também influenciam na velocidade do transporte.
As ondas, quando começam a interagir com o fundo (h = +- L/2, Trenhaile 1997), e
especialmente quando quebram, retiram sedimento do fundo e o mantêm em suspensão,
transportando-o em seguida (King 1972). A maior parte deste sedimento porém, é
transportado pelas correntes costeiras (King 1972).
A direção do transporte depende do ângulo de incidência entre as ondas e/ou
correntes, com a linha de praia. Como quase sempre existe uma componente do fluxo
paralela à linha de praia, devido à obliqüidade das ondas ou à existência de gradientes de
pressão lateral formados pelos diferentes empilhamentos de água ao longo da linha de
costa, quase sempre haverá transporte ortogonal e longitudinal à linha de costa.
Por fim, a terceira dimensão é a variação vertical no volume de sedimentos, que
sofre contribuição tanto do transporte longitudinal quanto do transversal.
A morfodinâmica de praias já é estudada por pesquisadores alemães desde a
primeira metade do século XIX (Bruun & Gerritsen 1960). Mais tarde, seguiram -se outros
objetivos e aplicações diferentes para as pesquisas, como os esforços da 2ª Guerra
Mundial, que previam a defesa da costa e o desembarque anfíbio nas praias (Zenkovich
1967); os estudos dirigidos para a engenharia de portos e canais; as tentativas de
previsão e medida do impacto que o transporte sedimentar pode causar a estruturas
costeiras artificiais; e ciência na sua forma pura. Uma das referências importantes para os
estudos atuais é o conceito, introduzido em 1979, por Wright et al. (apud Wright & Short
1984), de “estágio morfodinâmico de praia” para referir-se às assembléias deposicionais
completas, os processos de redistribuição de sedimentos e as assinaturas de processos
hidrodinâmicos associados à praias arenosas, dominadas por ondas, sob condições de
micromaré (< 2m). Estes autores destacam dois estágios extremos: Refletivo e
Dissipativo. Posteriormente, Wright & Short (19 84), estudando praias do sudeste da
Austrália, ampliam este conceito para seis estágios, conduzindo a uma classificação que
abrange um estágio de praias refletivas; quatro estágios de praias intermediárias; e um
estágio de praias dissipativas. A fim de fornecer um parâmetro quantitativo para cada um
dos estágios, os autores utilizam o parâmetro ambiental Ω , proposto por Dean (1973,
apud Komar 1998) e revisto por Dalrymple & Thompson (1977, apud Komar 1998), que
relaciona a altura de quebra e o período das ondas com a velocidade média de
decantação da partícula sedimentar, dentro da zona de surfe.
51
Nos anos 90 surge um novo campo de aplicação para a morfodinâmica de praias,
que é a segurança dos banhistas dentro da zona de surfe. Em 1987, C. L. Hogan, um
salva-vidas, inicia um estudo piloto sobre as áreas de risco utilizando os registros de
salvamentos de uma série de praias em Sidney - Austrália. Short & Hogan (1994)
desenvolvem então um trabalho sistemático baseado em séries históricas de fotografias
aéreas, obtidas entre 1928 e 1990. Usando estes dados e apoiando-se nos seis estágios
morfodinâmicos de praia, propostos por Wright & Short (1984), os referidos autores
analisam as formas dinâmicas existentes, identificando os principais fatores de risco
associados a cada um dos seis estágios. Propõem então uma série de definições e de
índices a fim de caracterizar e dimensionar os principais fatores de risco existentes na
zona de surfe. Parte desta metodologia será utilizada no presente trabalho.
X.1 - Variações na Forma do Perfil de Praia Ortogonais à Linha de Costa
O transporte de sedimentos tem início em um local mais profundo do que o ponto de
arrebentação, mesmo das ondas de tempestade (Larson & Kraus 1994). Esta
profundidade é chamada de profundidade de fechamento, ou “closure depth”. A maior
parte do transporte é feito então em suspensão, pela ação das ondas que levantam o
sedimento, e pelas correntes que o transportam (King 1972).
Dentro da zona de surfe, o transporte se torna mais complexo, devido à grande
turbulência, provocada sobretudo pelas ondas, e devido à grande quantidade de
sedimento em suspensão. O volume transportado é então diretamente proporcional à
altura e ao comprimento das ondas, e inversamente proporcional à declividade do perfil
(King 1972).
Davis & Fox (1972), monitorando praias no Lago Michigan durante um período de
28 dias, verificaram que durante períodos de energia mais elevada, correntes geradas
pelo cizalhamento do vento sobre a água, podem, por si sós, deslocar o sedimento.
Larson & Kraus (1994), analisando perfis levantados durante 11 anos, na praia de
Duck – Carolina do Norte, concluíram que em profundidades superiores a 5m, fora do
ponto de arrebentação, a correlação entre perfis paralelos é muito boa ( > 70%), indicando
que a variação na movimentação de sedimentos é pequena a partir deste ponto, nesta
praia. Este fato tem sido de grande utilidade para obras de engenharia. Observaram
também que é gerado um selecionamento granulométrico, com as frações mais grossas
depositadas próximo à linha de costa, tornando-se mais finas à medida em que se
52
afastam desta, e que, dentre todos os fatores analisados, o quebrar das ondas é o que
mais altera a forma do perfil (Larson & Kraus 1994).
O transporte ortogonal pode formar
grandes bancos de areia, paralelos à face
da praia e separados entre sí por canais
longitudinais (Komar 1998-Fig. 36). Podem
ser geradas uma ou mais séries de bancos
paralelos, com a série mais externa balizando a posição do ponto de arrebentação. A
série mais interna possui uma maior mobilidade, pelo fato de estar sujeita à ação das
ondas por períodos mais prolongados de
tempo (Larson & Kraus 1994). Estes mesmos autores monitoraram a dinâmica de
dois grandes bancos longitudinais, com o
centro do externo localizado à cerca de 300
m da linha de costa e o interno ficando em
torno de 100 m. As modificações na forma
Figura 36 - Bancos longitudinais criados sobretudo
pelo transporte ortogonal à linha de costa (Komar
1998)
do banco interno foram mais freqüentes
que no banco externo e a velocidade do
movimento horizontal também. O externo só era afetado por ondas de grandes
tempestades, enquanto que o interno sofria a ação de ondas durante todo o ano, o que
explica sua maior mobilidade. Estes bancos, e o sedimento como um todo, migram ao
longo do perfil, em um movimento de ida e vinda que depende da elevação do nível do
mar e do nível de energia das ondas e das correntes. Sob níveis altos, o movimento se dá
em direção à antepraia, sob níveis baixos, dá-se em direção à face da praia (Komar
1998). Esta dinâmica está representada no Perfil de Equilíbrio de Bruun (1962) (Fig. 37).
53
Figura 37 – Perfil de Equilíbrio de Bruun (1962, apud Larson & Krauss 1995). O nível do mar 1 corresponde a
um período de menor energia, onde as ondas têm um caráter acrescional. O nível 2 corresponde a períodos
de maior energia, durante os quais o sedimento é retirado da face da praia e depositado na antepraia, ou na
plataforma.
Este mecanismo tem sido validado, por diversos autores, para diferentes
freqüências temporais de variação do nível do mar e do nível de energia das ondas.
Sallenger & Holman (1985) o registraram em eventos de curta duração, no caso, em
períodos de tempestades. Larson & Kraus (1994) demonstraram a existência de um perfil
de equilíbrio em eventos de média duração, no caso o verão e o inverno. Outros autores
têm constatado também esta dinâmica em eventos de maior amplitude temporal, como as
transgressões e regressões marinhas. Em algumas situações, elementos estranhos,
como afloramentos rochosos submersos, podem interferir nesta dinâmica, rompendo o
equilíbrio (Thieler et al 1995).
X.2 - Variações na Forma do Perfil de Praia Longitudinais à Linha de Costa
O transporte longitudinal é geralmente feito pelas ondas e suas correntes
resultantes que incidem obliquamente contra a face da praia. A ação conjunta de ondas e
correntes longitudinais amplia bastante o transporte sedimentar (Beach & Sternberg 1992)
e este é inversamente proporcional ao ângulo formado entre os raios -de-onda e a linha de
costa (Zenkovich 1967).
Os sistemas circulatórios, também responsáveis por gerar correntes longitudinais,
não são resultantes da incidência oblíqua das ondas contra a face da praia, como já foi
explicado, e também geram transporte sedimentar longitudinalmente à linha de costa,
ainda que sem a mesma eficácia das ondas incidentes oblíquas.
O transporte longitudinal desloca lateralmente a posição dos bancos submersos,
modificando desta forma a posição das correntes de retorno que fluem entre estes
bancos. Outro efeito gerado por este tipo de transporte na morfodinâmica de praias é o
desenvolvimento de esporões que podem provocar a convergência dos raios-de-onda,
54
concentrando energia em sua extremidade e influindo assim na segurança da praia para o
banho.
Na costa atlântica de Salvador é verificado que a deriva litorânea predominante se
faz de nordeste para sudoeste (Bittencourt et al. 2000).
X.3 - Variações na Dimensão do Empilhamento Vertical do Perfil de Praia
Estas são geradas, pelo ganho ou pela perda de sedimentos, decorrentes da
dinâmica litorânea. O perfil, como um todo, geralmente possui uma dinâmica de equilíbrio,
com áreas cedendo sedimentos para outras.
Larson & Kraus (1994), analisando as variações ao longo do perfil de praia, desde o
banco mais externo até a zona de espraiamento, na praia de Duck – Carolina do Norte,
observaram que a maior variação vertical ocorre dentro da zona de surfe, e que há uma
declividade relativamente mais forte nos primeiros 180 m horizontais próximos à face da
praia, a partir dos quais, a declividade torna-se menor. Verificaram também que a forma
dos perfis mínimo, médio e máximo, para esta praia em particular, muda muito pouco, o
que mais uma vez confirma a existência de um equilíbrio na dinâmica do perfil.
X.4 - Variações Sazonais na Forma do Perfil de Praia
As estações do ano são caracterizadas por apresentar modificações atmosféricas
que
geram
respostas
imediatas
no
padrão
das
ondas,
das
correntes,
e,
consequentemente, no transporte sedimentar nas praias.
Larson & Kraus (1994) verificaram a ocorrência de uma série de variações, na forma
do perfil de praia, associadas às diferentes estações do ano. Durante a primavera e o
verão, por exemplo, longos períodos de baixa energia produzem um transporte
sedimentar maior em direção à costa e o banco interno pode soldar-se à face da praia ou
ter o seu volume bastante reduzido. Já durante o outono e o inverno, ondas maiores
erodem a face da praia e o berma e este sedimento, transportado pelas correntes de
fundo, aumenta o volume dos bancos interno e externo, resultando em um perfil de forma
mais ondulada. Verificaram também que as maiores profundidades são atingidas durante
o verão, na parte final do perfil, próximo à profundidade de fechamento. No inverno, a
declividade da face da praia é máxima, onde são registradas as maiores diferenças para
com os perfis de verão. O sedimento transita sazonalmente entre as partes interna e
externa do perfil, atingindo o volume máximo, na parte interna, ao final do verão. Durante
o inverno a profundidade de fechamento do perfil é deslocada para profundidades
55
maiores. A forma dos perfis de primavera e outono são quase idênticas e representam
feições intermediárias entre as de verão e de inverno (Fig. 38). Komar (1998),
reconhecendo esta forte correlação, propõe a denominação de perfil de verão, ou tipoberma, e perfil de inverno, ou tipo-barra.
Perfil de verão
Perfil de inverno
Perfil de primavera
Figura 38 - Perfis de verão, primavera e inverno, levantados na praia de Duck, Carolina do Norte (modificado
de Larson & Kraus 1994), que servem como um modelo comparativo para as praias da costa atlântica de
Salvador.
X.5 - Variações na Forma do Perfil de Praia Provocadas por Tempestades
Davis & Fox (1972) observaram que durante as grandes tempestades, devido às
altas taxas de energia, ainda que ocorrendo durante um curto intervalo de tempo, e que
não se repete com freqüência, pode haver significativas modificações na geometria do
perfil de praia, que demandarão intervalos de tempo bem superiores a fim de restaurar o
equilíbrio inicial, e que estas modificações começam a ocorrer poucas horas após o início
da tempestade.
Larson & Kraus (1994) observaram que o transporte de sedimentos predomina da
parte interna para a externa do perfil, podendo haver erosão até mesmo do cordão-duna,
devido à grande sobreelevação do nível do mar.
56
X.6 - Relações entre a Altura das Ondas e a Forma do Perfil de Praia
Como já foi mencionado, as ondas e as correntes são os fatores que mais
influenciam na dinâmica da zona de surfe. Fundamentalmente, a altura das ondas é o
elemento preponderante, uma vez que a energia das mesmas é diretamente proporcional
ao quadrado de suas alturas (Davis & Fox 1972).
A forma do perfil é também controlada pelo nível do mar. Mas este nível, na zona de
surfe, depende não apenas da dinâmica das marés, mas também da altura e do período
das ondas, bem como da forma do perfil e da distribuição granulométrica do sedimento. O
nível do mar e a forma do perfil de praia determinam qual a parte do perfil que será mais
atingida pelas ondas e qual a quantidade de sedimento que será movida para que o perfil
atinja as condições de equilíbrio diante do regime de ondas reinante. É uma série grande
de fatores que dificulta o estabelecimento de uma relação simples entre o regime de
ondas e a forma do perfil (Larson & Kraus 1994).
XI - ESTÁGIOS MORFODINÂMICOS DE PRAIA – A Classificação de Wright
& Short (1984)
A Morfodinâmica de Praias estuda as relações que existem entre os diversos
agentes dinâmicos, que incidem sobre uma praia e a sua geomorfologia. Os principais
agentes são os ventos, as ondas, as correntes geradas pelas ondas e os efeitos gerados
pela dinâmica das marés.
Como já foi citado, Wright & Short (1984), estudando praias do sudeste da Austrália,
conceberam um modelo para classificar as praias arenosas, dominadas por ondas e
submetidas a um regime de micromaré (< 2 m, segundo a classificação de Davis & Hayes
- 1985). Este modelo é bastante utilizado e baseia-se em uma classificação visual e
descritiva de uma série de feições geomorfológicas e hidrodinâmicas associadas, que
caracterizam cada um dos seis estágios propostos. A classificação procura abranger
grande parte das características de uma praia, como a ocorrência, o número e a forma
dos bancos de areia, dos canais e das cúspides, e os seus posicionamentos espaciais; a
declividade da face da praia e a granulometria média do sedimento na zona de surfe; a
largura da zona de arrebentação e os tipos de ondas predominantes, entre outros (Fig.
39). Ao relacionar a granulometria do sedimento com o clima de ondas, o modelo permite
que seja estabelecida, como é a proposta dos autores, uma correlação entre os diversos
estágios de praia e o parâmetro quantitativo Ω, proposto por Dean (1973, apud Komar
57
1998) e revisto por Dalrymple & Thompson (1977, apud Komar 1998), que relaciona o
clima de ondas e a granulometria do sedimento na fórmula:
Ω = Hb / ( WsT ),
onde H b é a altura de quebra das ondas, T o período, e Ws é a velocidade de decantação
das partículas dentro da zona de surfe.
O modelo de Wright & Short, aqui apresentado, é um aperfeiçoamento de vários
conceitos anteriormente estabelecidos, tais como “praias refletivas” ou “de inverno”,
“praias dissipativas” ou “de verão”, “perfil de ondulação” e “perfil de tempestade”, etc. A
lógica de sua proposta permite que vários outros parâmetros quantitativos sejam
relacionados aos seis estágios. Muehe (1998), monitorando praias no litoral norte do Rio
de Janeiro, durante 24 meses, concluiu que a duração, a velocidade e a largura da zona
de espraiamento mantêm correspondências bem estabelecidas com os estágios
morfodinâmicos e sugere a adoção de um novo parâmetro, denominado de ∆, no qual
relaciona as características das ondas na zona de surfe e na face da praia, com a
declividade, a fim de comparar com os estágios morfodinâmicos propostos por Wright &
Short (1984).
58
DISSIPATIVO
Zona de Arrebentação Externa
Domínio Dissipativo
Zona de Arrebentação Interna
Banco Interno
Zona de Arrebentação Interna
Praia
INTERMEDIÁRIO – Banco e Cava Longitudinais
Domínio Refletivo
Zona de Arrebentação Externa
Domínio Dissipativo
Zona de Arrebentação Interna
Banco Externo
Zona de Arrebentação Interna
Rip
Domínio Refletivo
INTERMEDIÁRIO – Banco e Praia
A Rítmicos
Domínio Dissipativo
A
C
A
Rip
Rip
B
Domínio
Refletivo
Rip
C
D
Domínio Dissipativo
D
B
Figura 39 a - Estágios Morfodinâmicos de Praia Dissipativo e Intermediário (Wright & Short 1984)
59
INTERMEDIÁRIO – Bancos
Transversais, Correntes de Retorno
ondas
A
C Rip
Rip
Domínio Dissipativo
ondas
PM
Rip
Rip
BM
A
B
PM
B
D
BM
C
D
INTERMEDIÁRIO – Crista e Canal/Terraço de Maré Baixa
ondas
ondas
PM
BM
tterraço
A
B
B
REFLETIVO
cúspides
Figura 39 b - Estágios Morfodinâmicos de Praia Intermediário e Refletivo (Wright & Short 1984)
60
As principais características modais de cada um dos estágios são :
XI.1 - Estágio Morfodinâmico de Praia Dissipativo (Fig.40)
•
A declividade média do perfil na zona de surfe é baixa, em torno de 1º .
•
Uma larga zona de surfe (10 2 m), causa a dissipação da energia das ondas em
direção à praia. As ondas atingem a face da praia com alturas de decímetros.
•
Caracterizada por apresentar bancos e canais longitudinais.
•
O relevo submarino é relativamente plano.
•
A granulometria do sedimento situa-se na faixa da areia fina.
•
As ondas predominantes são do tipo Deslizante.
•
Predomina a segregação vertical do fluxo (correntes de fundo).
•
As correntes de retorno são de intensidade fraca.
•
O parâmetro ambiental Ω é alto, situando-se entre 6 e 30
•
Baixa possibilidade de variação temporal do estágio de praia.
•
Baixa mobilidade temporal do perfil da zona de surfe.
•
Grande estoque de sedimento mantido na parte submersa do perfil.
Figura 40 - Exemplo típico de praia dissipativa, onde se observa uma larga zona de surfe formada por ondas
deslizantes que quebram sobre sucessivos e paralelos bancos longitudinais (sul do delta do Rio São
Francisco, fotografia cedida por Dominguez, J.M.L.)
61
XI.2 - Estágio Morfodinâmico de Praia Intermediário (Fig.41)
•
A declividade do perfil da zona de surfe varia bastante, situando-se entre 1º,5 e 5º,5
•
Vários bancos e canais submersos, predominado os bancos oblíquos sobre os
longitudinais.
•
Zona de surfe menos larga que o estágio dissipativo (10 1 m).
•
Praias com cúspides amplas (101 m a 102 m).
•
Granulometria do sedimento situa-se na faixa da areia média.
•
Ondas dos tipos Deslizante e Mergulhante.
•
Mescla componentes dissipativos e refletivos.
•
Apresenta correntes longitudinais, e de retorno, com velocidades relativamente
elevadas.
•
O parâmetro ambiental Ω situa-se entre 1 e 6.
•
Possibilidade média de variação temporal do estágio de praia.
•
Alta mobilidade temporal do perfil de praia e do perfil da zona de surfe.
•
Estoques médios de sedimentos, mantidos entre o berma e a zona de arrebentação.
Figura 41 - Exemplo de praia intermediária, caracterizada por uma zona de surfe não muito larga, sem o
paralelismo das cristas das ondas como é verificado nas praias dissipativas.
62
O estágio morfodinâmico de praia Intermediário é subdividido ainda em quatro
outros sub-estágios:
XI.2.1 - Banco e Cava Longitudinais
• O relevo banco-cava é mais pronunciado do que no estágio Dissipativo.
• As ondas incidentes quebram progressivamente sobre o banco, reformam-se na
cava e voltam a quebrar abruptamente sobre a face da praia.
• Ondas dos tipos Mergulhante e Ascendente.
• Reflexão das ondas na face da praia.
• Fracas correntes de retorno
XI.2.2 - Banco e Cava Rítmicos
• O relevo banco-cava é ainda mais pronunciado do que no sub-estágio anterior.
• O padrão e o tipo das ondas é semelhante ao sub-estágio anterior.
• A face da praia é caracterizada por grandes cúspides (10 2 m) e por embaiamentos.
• As correntes de retorno são de intensidade moderada.
XI.2.3 - Banco Transversal e Corrente de Retorno
• Os bancos quase que se soldam à face da praia e são intercalados por canais por
onde fluem fortes correntes de retorno.
• É o tipo de praia que oferece o maior risco para os banhistas.
• Sobre os bancos as ondas quebram de forma Mergulhante.
• Nas áreas intercaladas aos bancos as ondas são do tipo Deslizante.
XI.2.4 - Crista Canal ou Terraço de Maré Baixa
• Apresenta um terraço plano quase sempre soldado à face da praia.
• Na maré baixa predominam condições dissipativas sobre o terraço.
• Na maré alta predominam condições refletivas sobre a face da praia.
• Fracas correntes de retorno.
63
XI.3 - Estágio Morfodinâmico de Praia Refletivo (Fig. 42)
• A ação das ondas se restringe a uma faixa muito estreita da face da praia.
• Declividade da face da praia ≥ 6º.
• As ondas tendem a ser refletidas de volta para o mar.
• É comum a existência de pequenas cúspides.
• A topografia submarina é plana, com freqüentes marcas onduladas de correntes.
• Estreita zona de surfe ( 101 m).
• Granulometria do sedimento situa-se na faixa da areia grossa.
• Ondas dos tipos Ascendente e Frontal.
• O parâmetro ambiental Ω é baixo, situando-se entre 0 e 1
• Alta possibilidade de variação temporal do estágio de praia.
• Baixa mobilidade temporal do perfil da zona de surfe.
• Baixo estoque de sedimento, acumulado na parte exposta do perfil.
Figura 42 - Exemplo de praia refletiva, onde se observa a existência de uma estreita zona de surfe localizada
bem próxima à face da praia
64
XII - METODOLOGIA
XII.1 - Levantamento dos Registros de Acidentes
Foram disponibilizados pela SALVAMAR os registros mensais dos acidentes
ocorridos entre os anos de 1994 e 2000, que totalizam 10.697 ocorrências e que
permitem traçar a distribuição temporal destes ao longo do ano. Entre 1997 e 2000, este
órgão relacionou os acidentes às praias nas quais ocorreram, permitindo observar a sua
distribuição espacial ao longo da linha de costa.
A freqüência mensal foi então adotada como referência para todos os outros
parâmetros ambientais e urbanos que mantêm relações com os acidentes, como a
direção/velocidade/freqüência dos ventos costeiros, as taxas de insolação/precipitação e
as condições de balneabilidade.
XII.2 - Levantamento do Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador
Não existem medições feitas diretamente por equipamentos a cerca da altura,
período e direção das ondas incidentes de alto-mar sobre a costa atlântica de Salvador.
Um método que já foi empregado por outros autores (Bittencourt et al. 2000, Silva et al.
2001) e que aqui é adotado, utiliza da altura e do período das ondas visualmente
observados em alto-mar a partir de navios, plataformas de exploração de petróleo, etc,
(US Navy 1978), e conjuga-os às quatro direções predominantes de ventos que sopram
sobre o oceano, medidos principalmente a partir de navios e estações meteorológicas
costeiras (DHN 1993).
XII.3
-
Levantamento
das
Principais
Feições
Geomorfológicas
e
Hidrodinâmicas da Zona de Surfe
Para classificar as praias de acordo com o modelo de estágios morfodinâmicos de
praias (Wright & Short 1984) aqui adotado, e também para localizar as principais
correntes de retorno que apresentam uma disposição espacial relativamente fixa, ao
longo do tempo, foi executado um levantamento dos bancos, canais, depressões,
afloramentos rochosos, cúspides, desembocaduras de rios, tipo e altura de quebra das
ondas e, quando possível, feita uma estimativa da largura das zonas de surfe. Para tanto,
foram inicialmente interpretadas 51 ortofotos-aéreas, na escala de 1:8.000, geradas em
agosto de 1998 para a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia –
CONDER. Em seguida, entre novembro de 1999 e janeiro de 2001, foram realizados
vários caminhamentos ao longo da linha de costa, no mais das vezes acompanhado de
65
membros da SALVAMAR, quando foram visualmente registradas e estimadas as diversas
feições acima mencionadas. Neste período percorreu-se todas as praias em repetido
número de vezes, que variou de acordo com o grau de complexidade morfodinâmica e
com o potencial de risco para o banho de cada praia. Procurou-se levantar os dados
durante as diferentes condições meteorológicas e hidrodinâmicas que caracterizam as
quatro estações do ano, com uma concentração maior no verão e na primavera, por
representarem épocas mais propícias para o banho de mar e quando ocorre a maior parte
dos acidentes. Todas as medidas geradas neste levantamento foram estimadas
visualmente, com exceção da extensão das praias que foi extraída das ortofotos-aéreas,
com escala controlada. Algumas feições levantadas, como afloramentos de rochas
cristalinas, bancos de arenito, desembocaduras de rios e correntes de retorno
espacialmente fixas, foram lançadas, in loco, sobre os “overlays” previamente
fotointerpretados.
A geomorfologia submersa foi quase sempre inferida a partir do posicionamento e
padrão de quebramento das ondas, método utilizado por vários autores (Komar 1998), às
vezes também por mergulhos e também pela experiência dos salva-vidas e do próprio
autor.
As direções das correntes longitudinais e de retorno foram obtidas, principalmente,
com a utilização de flutuadores, através também de fotointerpretação e, em praias mais
extensas, com a ajuda dos diagramas de refração de ondas, além de serem discutidas
com os membros da SALVAMAR. A intensidade, ou velocidade destas correntes, foi
estimada qualitativamente e está baseada num conjunto de três diferentes critérios: i)
comparação visual entre o deslocamento dos flutuadores dentro das correntes nas
diversas praias com o deslocamento cronometrado do mesmo tipo de flutuador em
correntes de retorno bem definidas, localizadas nas praias da Caveira e do Flamengo
(Anexo I) (Tabela XV); ii) relação direta entre a velocidade destas correntes e a altura de
quebra das ondas, visualmente estimadas; iii) depoimento dos salva-vidas. Os resultados
gerados por estes três critérios de estimativa foram então divididos em duas categorias de
intensidade, ou seja: uma intensidade forte que pode transportar a maioria dos banhistas,
causando acidentes, e uma intensidade fraca que pode ser vencida pela maioria dos
banhistas. Algumas das feições geomorfológicas submersas foram lançadas, quando
possível, sobre os “overlays”.
66
Foi medida a declividade da zona de espraiamento, em pontos que refletiam uma
boa representatividade da praia como um todo. Nestes mesmos pontos, foram coletadas
amostras de sedimentos para análise granulométrica.
Foi realizado um sobrevôo, a cerca de 470 m de altura e a uma velocidade média de
130 km/h, durante a baixa-mar, em fevereiro de 2001, com os objetivos principais de
estimar as taxas de freqüência pública das praias e de registrar feições geomorfológicas
submersas e plumas produzidas por correntes de retorno.
Com as ortofotos-aéreas foi gerado um mosaico georeferenciado pelo software ER
MAPPER 6.0 sobre o qual as correntes de retorno levantadas foram editadas com o
software Arc View 3.2. Os resultados deste levantamento, impressos na escala 1:20.000,
foram apresentados e discutidos com cerca de 40 salva-vidas da SALVAMAR.
XII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento
Com o objetivo de comparar a distribuição da granulometria dos sedimentos da
zona de espraiamento com os diversos estágios morfodinâmicos praiais, foram coletadas
39 amostras de sedimentos, durante os diferentes caminhamentos feitos ao longo das
praias. Em cada uma destas, a depender do seu comprimento, foi obtida uma ou mais
amostras, contendo cerca de 400 grs. de sedimentos, retirados entre a superfície e
aproximadamente 10 cm de profundidade, na zona de espraiamento, aproximadamente
na ilnha da maré média (Anexo I). Em seguida, no laboratório, foram efetuados os
seguintes procedimentos :
- Retirada do sal, com a utilização de água destilada;
- Secagem em estufa a uma temperatura de 50 ºC;
- Quarteamento manual;
- Pesagem em balança digital, separando aproximadamente 100g de cada amostra;
- Agitação mecânica, onde cada amostra foi disposta em um jogo de 12 peneiras com
aberturas de 1/2 phi, de acordo com a escala de classificação de Wentworth (1922 apud
Reineck & Singh 1980), variando de - 2 a 4 phi, por 10 minutos;
- Pesagem do conteúdo de cada peneira e acondicionamento em sacos com
a
identificação da amostra e da fração granulométrica correspondente.
Os resultados foram processados com o software SYSGRAN, método Folk & Ward
(1957), fornecendo valores da média, classe granulométrica e teores de cascalho, areia e
silte.
67
XII. 5 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Como já foi mencionado, a determinação dos estágios morfodinâmicos praiais está
baseada no modelo proposto por Wright & Short (1984). Para tanto, foram utilizados os
dados levantados durante os caminhamentos, quais sejam: as feições geomorfológicas e
hidrodinâmicas da zona de surfe, a declividade e a granulometria da zona de
espraiamento, além das informações obtidas durante a realização de um sobrevôo.
XII.6 - Elaboração de Diagramas de Refração de Ondas
Foram elaborados quatro diagramas de refração de ondas, um para cada direção
predominante de onda (Bittencourt et al. 2000), sendo que a altura e o período das ondas
incidentes de alto-mar foram extraídos do Marine Climatic Atlas of the World, Volume IV
(U.S. Navy 1978). As freqüências de incidência dessas direções de ondas foram
consideradas como sendo as dos ventos correspondentes que predominam em frente à
costa de Salvador, publicadas no Atlas de Cartas Piloto (DHN-Marinha do Brasil 1993).
Estas freqüências já foram anteriormente apresentadas na tabela I – item V. A batimetria
foi extraída de cartas náuticas publicadas pela Marinha do Brasil, na escala de 1:308.000,
cuja menor isóbata é de 10m. Foi feita, todavia, uma interpolação com o software Arc
View 3.2, com intervalos de 2,5m, até a isóbata de 5m. Os dados foram processados pelo
software MIKE 21, módulo NSW (Nearshore Spectral Waves), com resolução de 50 m,
sem considerar os efeitos provocados pela fricção com o fundo, pelos fatos de, além de
ser este um fator inexpressivo (Wrigth & Short 1984), não existirem dados a cerca da
granulometria do sedimento submerso.
XII.7 - Levantamento de Dados Referentes à Direção/Velocidade/Freqüência
dos Ventos Costeiros, Insolação e Precipitação Pluvial
Junto ao Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, foram adquiridos os dados
referentes à direção, velocidade e freqüência dos ventos costeiros, disponíveis apenas
para o período de 1997 a 2000. Em relação à insolação e precipitação pluvial, os mesmos
foram obtidos no site http://www.inmet.gov.br, para o período de 1995 a 2000. Todos
estes dados são coletados diariamente às 09:00, 15:00 e 21:00 hs, na estação
meteorológica de Ondina, situada a 61 m de altitude e a cerca de 700 m recuados da
linha de costa, defronte à praia de Ondina (Anexo I), na cidade de Salvador.
68
XII.8 - Levantamento de Dados Referentes à Amplitude das Marés
Foram obtidos, para o período compreendido entre os anos de 1994 e 2000, a partir
do software WX Tide 32, de registro livre no site http://www.wxtide32.com
XII.9 - Levantamento de Dados Referentes às Condições de Balneabilidade
O Centro de Recursos Ambientais – CRA, forneceu os dados relativos à poluição
orgânica das praias, para o período 1997-2000, que são calculados através da
determinação da densidade de coliformes fecais presentes na água do mar, resultantes
da presença de esgotos sanitários, rios ou redes de drenagem de águas pluviais. A
amostragem é semanal e os resultados classificam a praia como Própria ou Imprópria.
XII.10 - Levantamento das Condições de Acesso às Praias
Estas condições foram estabelecidas a partir de observações feitas nos próprios
locais, quando foram consideradas as condições de acesso para veículos particulares,
para transportes coletivos e para pedestres. Foram então estabelecidos quatro tipos de
acessos, com as suas respectivas pontuações (Tabela II).
Tipo de Acesso
Características
Ruim
Difícil acesso p/ o pedestre. Não há acesso para veículos.
Não há grande disponibilidade de transporte público. Pequena área de
Regular
estacionamento para veículos particulares.
Facilidade de transporte público.
Bom
Sem grandes áreas de estacionam ento para veículos particulares.
Disponibilidade de transporte público e de estacionamento para veículos
Muito bom
particulares. Facilidade de acesso para pedestres
Pontuação
1
2
3
4
Tabela II - Tipos de acesso às praias
XIII - RESULTADOS
XIII.1 - Registros de Acidentes – O que Revelam
No período entre 1994 e 2000 foram registradas cerca de 10.697 operações de
salvamento (Tabela III).
Ano
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
N.º de acidentes
1.561
1.594
2.172
1.598
963**
1.463
1.346
Tabela III - Distribuição anual do número de acidentes registrados dentro do período 1994-2000
(SALVAMAR).
69
Como se pode observar nesta tabela, houve no ano de 1998 um número de
acidentes registrados bem inferior aos verificados nos outros anos. Tal fato deveu-se à
paralisação parcial no ato de registrar os acidentes, por parte dos salva-vidas, durante os
meses de outubro e novembro deste ano, em função de reivindicações trabalhistas,
embora um número muito maior de resgates tivesse sido efetivamente realizado. Tal ato
gerou uma subnumeração que foi aqui corrigida pelo Método de Ajustamento à Parábola
pelas Médias ou Somas (Murteira 1990), relativas aos meses em questão e depois
totalizadas para o ano de 1998. Consistiu portanto dos seguintes cálculos (Tabelas IV e
V):
Y = a + bx + cx2
“Y“
(acidentes registrados no mês de outubro)
(equação da parábola)
0
205
205 = a + 0b + 0 c
1995
1
606
606 = a + b + c
1996
2
540
540 = a + 2b + 4c
1997
3
158
158 = a + 3b + 9c
1998
4
Parcialmente registrados
---
1999
5
227
227 = a + 5b + 25c
2000
6
240
240 = a + 6b + 36c
Ano
“X“
1994
2
Tabela IV - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas (Murteira 1990), utilizado para corrigir
a subnumeração dos registros de acidentes relativos ao mês de outubro de 1998.
Y = a + bx + cx2
“Y“
(acidentes registrados no mês de novembro)
(equação da parábola)
Ano
“X“
1994
0
216
216 = a + 0b + 0 c
1995
1
96
96 = a + b + c
1996
2
170
170 = a + 2b + 4c
1997
3
275
275 = a + 3b + 9c
1998
4
Parcialmente registrados
---
1999
5
160
160 = a + 5b + 25c
2000
6
142
142 = a + 6b + 36c
2
Tabela V - Método de Ajustamento à Parábola pelas Médias ou Somas (Murteira 1990), utilizado para corrigir
a subnumeração dos registros de acidentes relativos ao mês de novembro de 1998.
Foram então encontrados os valores de 329 e 215 acidentes para os meses de
outubro e novembro de 1998, respectivamente, o que atribui um valor total para este ano
de 1.367 acidentes e de 11.101 acidentes para o total do período analisado neste trabalho
70
que corresponde ao intervalo compreendido entre os anos de 1994 e 2000. Desta forma,
todas as análises feitas adiante considerarão estes ajustamentos.
Os meses que apresentam as maiores incidências de acidentes registrados, são,
em ordem decrescente, outubro, setembro e janeiro, com médias de 329, 199 e 192, que
eqüivalem a 20,8% ; 12,6% e 12,1% do total, respectivamente, enquanto que os que
registraram as menores incidências são abril, maio e junho, com 55, 39 e 36,
respectivamente (Tabela VI, Fig. 43). Pode-se observar então que há uma nítida
concentração de acidentes verificados durante a primavera – considerando-se aqui que
esta estação engloba totalmente os meses de setembro, outubro e novembro, uma vez
que a apresentação dos dados, por parte da SALVAMAR, é mensal. Portanto a média de
acidentes que é verificada na primavera, é de cerca de 710 registros, que correspondem a
44,8% do total anual, enquanto que durante o verão, aqui considerado como englobando
totalmente os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, esta média é de 483 acidentes, ou
30,5% do total, no outono esta média é de 11,1% e no inverno de 13,6% (Tabela VI).
Estes resultados surpreendem pelo fato de ser o verão a estação que detém a maior
freqüência de banhistas em Salvador.
Ano
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Total
Média
Mensal
Média
Mensal (%)
Média de
cada
estação
Número de Acidentes
Mai. Jun. Jul. Ago. Set.
105
77
188
70
194
47
8
28
194
233
11
58
222
66
126
25
56
100
45
156
42
4
26
75
145
27
26
93
68
401
14
25
51
35
139
271 254 708 553 1.394
Dez
56
98
313
86
86
117
124
880
Jan.
121
151
205
274
136
154
306
1.347
Fev.
174
61
279
227
122
123
169
1.155
Mar
71
35
146
95
101
34
90
572
Abr.
84
37
36
101
86
33
11
388
126
192
165
82
55
39
36
101
79
7,9
12,1
10,4
5,2
3,5
2,4
2,3
6,4
5,0
Verão
30,5%
Outono
11,1%
Inverno
13,6%
Out.
205
606
540
158
329
227
240
2.305
Nov.
216
96
170
275
215
160
142
1.274
199
329
182
12,6
20,8
11,5
Total
1.561
1.594
2.172
1.598
1.367
1.463
1.346
11.101
Primavera
44,8%
Tabela VI - Distribuição mensal dos registros de acidentes verificados durante o período de 1994 a 2000,
suas respectivas participações relativas e médias sazonais.
71
350
primavera
250
cidentes
Número de a
300
verão
200
150
100
50
0
Figura 43 - Médias mensais de acidentes registrados no período 1994-2000, na área estudada.
No período entre 1997 e 2000 a SALVAMAR registrou 5.774 acidentes, quando
indicou também, diferentemente dos registros relativos ao período 1994-1997, as praias
nas quais estes ocorreram. Observa-se então que as praias onde foram registrados os
maiores números de acidentes foram Jaguaribe (32,4%), Piatã (22,5%), Armação (6,6%)
e Farol da Barra (5,8%) (Tabela VII) (Anexo I).
Setor
4
3 (parte externa)
3 (parte interna)
2
1
Praia
Percentual Médio de
Acidentes
Aleluia
1,8%
Stella Maris
Flamengo
4,2%
3,8%
Pedra do Sal
1,1%
Camping
0,8%
Farol de Itapuã
5,1%
Sereia
0,4%
Placafor
0,2%
Piatã
22,5%
Jaguaribe
32,4%
Patamares
Artistas
3,0%
4,4%
Pituaçú
1,0%
Corsário
Armação
1,3%
6,6%
Pituba
0,3%
Amaralina
0,4%
Rio Vermelho
0,1%
Ondina
4,8%
Farol da Barra
5,8%
Tabela VII - Distribuição dos percentuais médios de acidentes registrados entre 1997 e 2000 nas praias
patrulhadas pela SALVAMAR (para a localização das praias, ver o anexo I).
72
XIII.2 - Clima de Ondas da Costa Atlântica de Salvador
Como já foi mencionado anteriormente, o clima de ondas local é derivado da
incidência dos ventos alísios de leste, sudeste e nordeste, além daqueles trazidos pelas
frentes-frias de sul-sudeste, cujas freqüências médias anuais já foram apresentadas na
tabela I. A tabela VIII, apresentada a seguir, mostra as freqüências médias mensais
consideradas como representativas da incidência dessas ondas, conforme dados
extraídos da DHN (1993), relativos aos ventos que as geram, além de suas respectivas
alturas em águas profundas (US Navy 1978). As freqüências relativas à direção dos
ventos que acompanham as frentes-frias, S1570, são assumidas como aquelas
correspondentes aos ventos de S1800 (Bitencourt et al. 2000).
Mês
Jan
Direção Predominante Direção Predominante Direção Predominante Direção Predominante
de Onda
de Onda
de Onda
de Onda
0
0
0
0
N 90
N 135
N 45
N 157
Freqüência
Altura
Freqüência
Altura
Freqüência
Altura
Freqüência
Altura
Média
Média em
Média
Média em
Média
Média em
Média
Média em
Mensal
Águas
Mensal
Águas
Mensal
Águas
Mensal
Águas
(%)
Profundas
(%)
Profundas
(%)
Profundas
(%)
Profundas
49
1,0 m
14
1,5 m
26
1,0 m
3
1,5 m
Fev
49
1,0 m
18
1,5 m
22
1,0 m
3
1,5 m
Mar
52
1,0 m
27
1,5 m
12
1,0 m
4
1,5 m
Abr
42
1,0 m
33
1,5 m
10
1,0 m
7
1,5 m
Mai
35
1,0 m
40
1,5 m
8
1,0 m
11
1,5 m
Jun
Jul
33
36
1,0 m
1,0 m
50
43
1,5 m
1,5 m
6
5
1,0 m
1,0 m
9
13
1,5 m
1,5 m
Ago
45
1,0 m
40
1,5 m
5
1,0 m
10
1,5 m
Set
Out
49
46
1,0 m
1,0 m
28
20
1,5 m
1,5 m
14
25
1,0 m
1,0 m
7
5
1,5 m
1,5 m
Nov
40
1,0 m
12
1,5 m
35
1,0 m
3
1,5 m
Dez
40
1,0 m
10
1,5 m
37
1,0 m
3
1,5 m
Tabela VIII - Freqüência média mensal das quatro direções predominantes de ventos geradores de ondas e
suas respectivas alturas em alto-mar, ao longo do ano, na área estudada (DHN 1993).
As ondas de leste incidem, em média, durante cerca de 42% do ano, sendo de
todas a direção que predomina (DHN 1993). Apresentam alturas em alto-mar
aproximadamente de 1,0 m e período de 5,0 s (US Navy 1978). São freqüentes durante
todo o ano e mais concentradas nos meses de janeiro a abril e de agosto a dezembro,
quando é a direção que predomina (DHN 1993) (Tabela VIII). De acordo com as fórmulas
apresentadas abaixo, começam a interagir com o fundo a uma profundidade de cerca de
20 m e quebrar a partir de 1,3 m, aproximadamente.
73
L0 = gT2 / 2π = ± 40 m (Komar 1998)
h = L0 / 2 = ± 20 m (Trenhaile 1997)
hb = H 0 / 0,78 = ± 1,3 m (Munk & Traylor 1947)
As ondas de sudeste incidem em média durante cerca de 30% do ano (DHN 1993),
com altura e período em alto-mar de 1,5 m e 6,5 s (US Navy 1978), predominantemente.
São também freqüentes durante todo o ano, mas só predominam durante os meses de
maio, junho e julho (DHN 1993) (Tabela VIII). Começam a interagir com o fundo a uma
profundidade em torno de 33 m e quebrar a partir de 1,9 m.
As ondas de nordeste ocorrem durante cerca de 16% do ano, principalmente a partir
do final da primavera e durante o verão, nos meses de outubro a fevereiro (DHN 1993)
(Tabela VIII). Apresentam alturas em alto-mar predominantemente de 1,0 m e período de
5,0 s (US Navy 1978). Começam a interagir com o fundo acerca da isóbata de 20 m e
quebram a partir de uma profundidade de 1,3 m, aproximadamente.
As ondas de sul-sudeste ocorrem durante cerca de 6% do ano, trazidas pelas
frentes-frias de outono/inverno, são mais freqüentes nos meses de maio a agosto (DHN
1993) (Tabela VIII). São observadas alturas predominantes em alto-mar de 1,5 m, com
6,5 s de período (US Navy 1978). Começam a interagir com o fundo a uma profundidade
em torno de 33 m e quebrar a partir de 1,9 m, aproximadamente.
XIII.3 - Principais Feições Geomorfológicas e Hidrodinâmicas da Zona de Surfe
Como já foi mencionado, este levantamento objetivou fornecer elementos que
possibilitassem classificar os diversos estágios morfodinâmicos praiais verificados na área
estudada, e que serão descritos detalhadamente a seguir, além de localizar as principais
correntes de retorno aí atuantes, tanto as que apresentam um posicionamento espacial
relativamente fixo ao longo do tempo, quanto as que possuem um caráter transitório no
seu posicionamento, podendo ser visualisadas nos Anexos I, II, III e IV.
De uma forma geral, percebe-se que na costa atlântica de Salvador, o clima de
ondas normalmente gera correntes longitudinais que fluem de NE para SW, o que está de
acordo com a direção da deriva litorânea observada por Bittencourt et al (2000), com as
correntes de retorno fluindo geralmente para SE. As ondas de sudeste ocasionalmente
invertem o fluxo das correntes longitudinais no Setor 4 e na parte externa do Setor 3
(Anexo II), quando fluem de SW para NE, retornando para leste/sudeste. As ondas de sulsudeste quase sempre invertem o fluxo destas correntes no Setor 4, na parte externa do
74
Setor 3 e ocasionalmente no Setor 2, fluindo também de SW para NE e retornando para
leste/sudeste (Anexo IV). Muitas vezes o retorno é controlado pela presença de
afloramentos rochosos, emersos e/ou submersos, que são freqüentes nas praias de
Salvador e que desviam o fluxo em retorno ao ponto de arrebentação (Anexos I, II, III e
IV). A velocidade destas correntes é proporcional à altura de quebra das ondas
incidentes, sendo mais intensas entre os meses de maio e outubro, e, como já citado, são
responsáveis pela maioria dos acidentes envolvendo banhistas dentro da zona de surfe.
Observações visuais da geomorfologia e do padrão de quebra das ondas, bem
como em monitoramento realizado por Farias et al (1985) na praia de Armação, situada
na costa atlântica de Salvador, permitem perceber que durante a primavera e o verão, de
uma maneira geral, o transporte sedimentar é feito em direção à face da praia,
culminando no verão com a junção do banco interno à face da praia, quando a menor
declividade é então verificada nesta parte do perfil. Durante o outono e o inverno, o
transporte sedimentar se dá, de uma maneira ger al, da face da praia em direção ao ponto
de arrebentação, com a formação, ou com o crescimento do banco externo, e o
conseqüente aumento na declividade da face da praia. É também verificada a existência
de perfis suaves e planos no verão, que contrastam com relevos ondulados, formados por
bancos e canais, no inverno, enquanto que a primavera e o outono exibem formas
intermediárias. Até mesmo informações mais indiretas mostram que há uma migração do
sedimento na direção ortogonal à face da praia, dentro da zona de surfe. Os pescadores
sabem que determinados animais, como os polvos, por exemplo, desaparecem da zona
de arrebentação no inverno porque as rochas em que habitam tornam-se cobertas por
sedimentos, sedimentos estes que foram retirados da face da praia. Já no final da
primavera e início do verão, estes animais começam a retornar para a zona de
arrebentação, a fim de reocupar suas antigas habitações que tornaram a ficar expostas.
Este comportamento dos polvos, e de outros animais marinhos, como lagostas e
determinados peixes, é localmente conhecido como “arribação”.
XIII.4 - Análise Granulométrica da Zona de Espraiamento das Praias Estudadas
Os sedimentos da zona de espraiamento são compostos quase que exclusivamente
de areia, com mais de 99%. Cerca de 53,9% das praias são constituídas por areias de
granulometria média, 28,2% de granulometria fina e 17,9% de granulometria grossa
(Tabela IX).
75
Areia fina
Cascalho
%
0,00
Areia
%
100,00
Silte
%
0,00
2,26
Areia fina
0,00
99,99
0,01
1,81
Areia média
0,02
99,98
0,00
4
1,63
Areia média
0,00
99,99
0,01
5
1,36
Areia média
0,00
100,00
0,00
6
1,06
Areia média
0,13
99,87
0,00
Catussaba
7
1,11
Areia média
0,00
100,00
0,00
Caveira
8
0,91
Areia grossa
0,04
99,96
0,00
Praia
Amostra
Média (phi)
Fração
Aleluia
1
2,11
Aleluia
2
Stella Maris
3
Stella Maris
Flamengo
Flamengo
9
0,67
Areia grossa
0,85
99,15
0,00
10
0,96
Areia grossa
0,00
100,00
0,00
Farol de Itapuã
11
0,86
Areia grossa
0,10
99,90
0,00
Rua K
12
1,85
Areia média
0,00
99,38
0,62
Porto
13
1,87
Areia média
0,00
99,99
0,01
Sereia
14
2,16
Areia fina
0,00
99,99
0,01
Placafor
15
2,05
Areia fina
0,00
99,99
0,01
Piatã
16
2,69
Areia fina
0,00
99,99
0,01
Piatã
17
2,61
Areia fina
0,00
99,99
0,01
Jaguaribe
18
2,47
Areia fina
0,00
99,99
0,01
Mordomia
19
2,01
Areia fina
0,00
100,00
0,00
3ª Ponte Norte
20a
1,70
Areia média
0,04
99,96
0,00
3ª Ponte Sul
20b
1,50
Areia média
0,07
99,93
0,00
Patamares
21
1,51
Areia média
0,04
99,96
0,00
Artistas
22
2,34
Areia fina
0,00
100,00
0,00
Artistas/Aratubaia
23
2,19
Areia fina
0,00
99,99
0,01
Armação norte
24
1,48
Areia média
0,20
99,80
0,00
Armação centro
25
1,73
Areia média
0,00
100,00
0,00
Armação sul
26
1,00
Areia grossa
0,02
99,98
0,00
Jd. Namorados
27
0,90
Areia grossa
0,07
99,93
0,00
Pituba norte
28
1,77
Areia média
0,00
99,99
0,01
Pituba sul
29
1,58
Areia média
0,06
99,94
0,00
Amaralina
30
1,29
Areia média
0,01
99,99
0,00
Buracão
31
0,86
Areia grossa
0,01
99,99
0,00
Santana
Pedra do Sal
Porto do Leocádio
32
1,02
Areia média
0,03
99,95
0,02
Paciência
33
1,59
Areia média
0,00
100,00
0,00
Rio Vermelho
34
1,32
Areia média
0,03
99,95
0,02
Bacia das Moças
35
1,45
Areia média
0,00
100,00
0,00
Ondina
36
1,88
Areia média
0,00
100,00
0,00
Paquera
36-a
1,48
Areia média
0,00
100,00
0,00
Salvador
37
1,42
Areia média
0,35
99,65
0,00
Farol da Barra
38
1,96
Areia média
0,00
100,00
0,00
Tabela IX - Análise granulométrica da zona de espraiamento das praias estudadas (para a localização das
praias e das amostras ver o Anexo I).
76
XIII.5 - Diagramas de Refração de Ondas
XIII.5.1 - Ondas de Leste – N90º
Este diagrama (Fig. 44) mostra que há uma grande redução na altura destas ondas
dentro do Setor 1 e também na parte interna à enseada de Itapuã, no Setor 3. No Setor 1,
isto se deve, de uma maneira geral, ao fato de os ângulos, formados entre as frentes-deonda incidentes de alto-mar e a batimetria (α 0) (Anexo I), serem quase que ortogonais
entre sí. Na parte interna do Setor 3, além de ocorrer aproximadamente este mesmo
efeito, existe ainda a grande proteção que a ponta de Itapuã exerce sobre este trecho
costeiro, gerando aí uma zona de sombra. Nos Setores 2 e 4, os ângulos menores, entre
as frentes-de-onda e a batimetria, causam uma menor refração, reduzindo menos a altura
das ondas. São verificadas sobreelevações isoladas , causadas pela convergência dos
raios-de-onda contra pontos avançados da linha de costa, como nas praias do Jardim dos
Namorados (Setor 2) e Aleluia (Setor 4).
Setor 4
Aleluia
Setor 3
Setor 2
Baía de
Todos os
Santos
Ponta de Itapuã
Jardim
Namorados
Setor 1
raios -de-onda em alto -mar
N
Altura de ondas
0
3 km
<0,5
0,5 – 0,7 0,7 – 1
>1 m
Figura 44 - Diagrama de refração das ondas incidentes de leste na costa atlântica de Salvador (N90º)
77
XIII.5.2 - Ondas de Sudeste – N135º
Este diagrama de refração (Fig. 45) mostra que a altura das ondas incidentes de
alto-mar é bastante preservada dentro dos setores 2 e 4 e na parte externa do Setor 3,
mantendo-se entre 1,0 e 1,5 m, em função dos baixos ângulos formados entre as frentesde-onda e a batimetria (α 0) (Anexo II). Em determinados pontos avançados da linha de
costa, ocorre uma sobreelevação na altura, o que se verifica na “Pedra que Ronca”,
situada em Itapuã, entre as praias de Piatã e Placafor, nas praias do Jardim dos
Namorados e Pituba e na ponta de Itapuãzinho (em vermelho na Fig. 45). Na quase
totalidade do Setor 1 e na parte interna do Setor 3 há redução na altura das ondas, em
função dos maiores ângulos formados entre as frentes-de-onda e a batimetria (Anexo II),
que aumentam os efeitos da refração.
Setor 4
Piatã/Placafor
0
Pedra que
Ronca
Setor 2
Jardim
Namorados
Baía de Todos
os Santos
Setor 3
3 km
Setor 1
raios -de-onda em alto-mar
Pituba
Ponta de
Itapuãzinho
N
Altura de ondas
0,5
0,5 – 1
1 – 1,5
>1,5 m
Figura 45 - Diagrama de refração das ondas incidentes de sudeste na costa atlântica de Salvador (N135º)
XIII.5.3 - Ondas de Nordeste – N45º
Os altos ângulos, formados entre as frentes-de-onda de nordeste e a batimetria
(Anexo III), em todos os setores, dispersa a energia, reduzindo a altura das ondas. Além
disso, as pontas de Itapuãzinho e de Itapuã protegem grandes segmentos da linha de
78
costa contra a incidência destas ondas, formando extensas zonas de sombra nos setores
1 e 2, respectivamente, resultando nas menores alturas de quebra verificadas durante
todo o ano na costa atlântica de Salvador (Fig. 46).
Setor 4
Setor 3
0
3 km
Ponta de
Itapuã
Setor 2
Baía de
Todos os
Santos
Setor 1
Ponta de
Itapuãzinho
raios -de-onda em alto-mar
N
Altura de ondas
<0,2
0,2 – 0,5 0,5 – 0,7 0,7 - 1m
Figura 46 - Diagrama de refração das ondas incidentes de nordeste na costa atlântica de Salvador (N45º)
XIII.5.4 - Ondas de Sul-Sudeste – N157º
Estas ondas atingem quase que frontalmente toda a linha de costa, sofrendo muito
pouco os efeitos da refração (Fig. 47), resultando assim nas maiores alturas de quebra
verificadas na costa atlântica de Salvador. Os mesmos pontos avançados da linha de
costa, mencionados na descrição do diagrama de refração das ondas de sudeste, ou seja,
a “Pedra que Ronca”, em Itapuã, a pequena ponta que separa as praias de Piatã e
Placafor, as praias do Jardim dos Namorados e Pituba e a ponta de Itapuãzinho (Fig. 47),
provocam a convergência dos raios-de-onda com uma conseqüente sobreelevação na
79
altura destas. As alturas de ondas visualmente observadas durante a realização deste
trabalho, neste período, foram significativamente maiores do que as obtidas a partir do
diagrama de refração, alcançando em muitas praias a marca de 3 m, como por exemplo
em Jaguaribe, Stella Maris e Aleluia (Fig. 47).
Stella Maris-Aleluia
Setor 4
0
3 km
Setor 3
Jaguaribe
Setor 2
Pituba
Piatã/Placafor
Pedra que
Ronca
Jardim
Namorados
Setor 1
raios -de-onda em alto-mar
N
Itapuãzinho
Altura de ondas
0,5 – 1
1–2
>2 m
Figura 47 - Diagrama de refração das ondas incidentes de sul-sudeste na costa atlântica de Salvador
(N157º)
XIII.6 - Determinação dos Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Uma característica comum à maioria das praias da costa atlântica de Salvador é a
ocorrência freqüente de afloramentos rochosos, emersos e submersos, tanto na parte
subaérea da praia como na zona de surfe, principalmente nos setores 1 e 3 da linha de
costa (Figs. 7, 8, 9, 10, 12, 13 e 15). Os afloramentos submersos podem provocar
mudanças na posição do ponto de arrebentação, bem como interferir nos padrões de
refração das ondas, e mesmo induzir difração. Interferem assim, na morfodinâmica da
zona de surfe, principalmente, e no desenvolvimento da praia como um todo, dificultando,
quando ocorrem, a aplicação do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos
praiais, proposto por Wright & Short (1984), e aqui adotado. Exemplos bem marcantes
são encontrados na maioria das praias, como por exemplo: Farol da Barra (Fig. 48),
Salvador Praia Hotel (Fig. 49), Paquera (Fig. 50), Ondina (Fig. 51), Bacia das Moças (Fig.
80
52), Rio Vermelho (Fig. 53), Paciência (Fig. 54), Sant’ana (Fig. 55), Buracão (Fig. 56),
Pituba (Fig. 58), Mordomia (Fig. 66), Placafor-Sereia (Fig. 69), Porto (Fig. 71), Rua K (Fig.
73), Farol de Itapuã (Fig. 74), Porto de Leocádio (Fig. 75), Pedra do Sal (Fig. 76), Caveira
(Fig. 78), Catussaba (Fig. 79) e Flamengo (Fig. 80).
É importante salientar que as características aproximadas das ondas e correntes na
zona de surfe e na face da praia, descritas adiante para cada uma das praias analisadas,
não refletem exatamente aquelas que podem ser deduzidas a partir dos diagramas de
refração de ondas anteriormente descritos. Isto porque estes diagramas referem-se ao
clima de ondas projetado até a isóbata de 5,0 m, bem como pelo fato de as informações
relativas à batimetria, a partir do qual eles foram gerados, terem sido extraídas de cartas
náuticas com escala aproximada de 1:300.000, escala esta bem menor do que aquela em
que foram observadas individualmente as praias. Desta forma, as descrições das
características das ondas e correntes feitas a seguir foram baseadas fundamentalmente
nas avaliações feitas diretamente durante as visitas às praias e também com o apoio das
informações fornecidas pelos salva-vidas. Também deve-se levar em conta que, nas
descrições seguintes, as menções às direções das ondas incidentes ao longo da costa
como sendo de nordeste, leste, sudeste e sul-sudeste não têm um caráter estrito,
referindo-se apenas às direções estimadas na observação visual feita em relação ao
comportamento das mesmas ao largo, após a zona de surfe, o que os diagramas de
refração constantes nos anexos de I a IV dão uma indicação aproximada. Nas avaliações
qualitativas efetuadas em relação à intensidade das correntes de retorno, conforme
mencionado anteriormente, considerou-se como “fracas” aquelas que, nas estimativas
feitas diretamente, com a utilização dos flutuadores e com o auxílio dos salva-vidas, não
se constituem em perigo para os banhistas, no sentido de que podem ser facilmente
vencidas pelos mesmos, o contrário caracterizando uma corrente aqui considerada como
sendo “forte”.
Será constatado que alguns trechos costeiros não são descritos adiante, uma vez
que não oferecem riscos de acidentes, porque, embora com praias arenosas presentes,
têm na sua frente uma contínua barreira de afloramentos rochosos contíguos à praia, que
impedem o banho. Tal é o caso, por exemplo, do trecho situado entre as praias do
Catussaba e Flamengo (Anexo I). Por outro lado, será observado que, por dificuldades
técnicas, os limites das fotos oblíquas obtidas no sobrevôo relativas às praias aqui
analisadas não coincidem exatamente com os limites definidos nas ortofotos-aéreas
apresentadas nos anexos de I a IV.
81
Os anexos I, II, III e IV auxiliam na localização das praias e também no
posicionamento das correntes geradas dentro da zona de surfe, pelas quatro direções
predominantes de ondas incidentes de alto-mar.
Setor 1
É representado por uma linha de costa rochosa (Figs. 7, 8, 9, 12 e 13), na qual
despontam poucas praias, muitas do tipo enseada. Sua direção geral E-W o protege
totalmente das ondas de nordeste, e parcialmente das de leste, expondo-o quase que
frontalmente às ondas de sudeste e principalmente às de sul-sudeste (Figs. 46, 44, 45 e
47 – anexos III, I, II e IV, respectivamente).
XIII.6.1 - Praia do Farol da Barra
Morro do Cristo
S
pequena barra submersa
N
corrent de retorno
bancos de arenito
Figura 48 - Praia do Farol da Barra (Anexo I)
Esta praia apresenta vários afloramentos rochosos emersos e submersos,
constituídos por rochas cristalinas precambrianas e também por bancos de arenitos de
idade quaternária. Estes últimos estão mais concentrados parte central da Figura 48,
apresentam -se com cerca de 40 m de largura e, em especial durante a baixa-mar,
atenuam bastante o impacto das ondas sobre a face da praia, sendo totalmente
submersos durante a preamar. Os afloramentos rochosos, como um todo, ocupam cerca
82
de três quartos do comprimento total da praia, que é de aproximadamente 617 m. Na
pequena parte livre de afloramentos rochosos, com cerca de 150 m de comprimento, a
ocorrência de cúspides é rara e quando ocorrem são curtas (100 m) e mal definidas,
existindo ainda uma pequena barra submersa, com cerca de 60 m de largura,
aproximadamente, que é formada eventualmente na parte central deste segmento, como
produto da saída de um pequeno córrego. A declividade da zona de espraiamento,
medida no trecho livre da praia, foi de 6º. A granulometria do sedimento da zona de
espraiamento situa-se na faixa da areia média (Tabela IX, AM-38). Os tipos
predominantes de ondas são Mergulhante e Frontal e a zona de surfe geralmente mede
cerca de 50 m de largura.
As ondas de leste e sudeste geralmente quebram com alturas entre 0,5 e 1,0 m,
respectivamente. A refração induzida no centro da zona de surfe, pela pequena barra
submersa, provoca uma convergência dos raios-de-onda, fazendo com que estas
quebrem com sentidos quase que opostos, algumas de leste para oeste e outras de oeste
para leste. Como a direção original das ondas incidentes vem do quadrante sudeste, o
volume d'água retorna então pelo lado oeste da praia, com intensidade fraca, quando as
ondas são de leste e com intensidade forte, quando estas são de sudeste, escavando um
canal ao lado do afloramento de arenito (Fig. 48, anexos I e II).
Durante as frentes -frias de outono/inverno, são visualmente observadas ondas de
sul-sudeste de até 3,0 m de altura. Nestes períodos, a convergência anteriormente
descrita dos raios -de-onda, induzida pela pequena barra submersa, praticamente
desaparece. O sentido das correntes longitudinais torna-se de leste para oeste, e o
retorno se dá, com forte intensidade, pelo mesmo canal acima descrito, constituindo-se
sempre no principal fator de risco para os banhistas (Anexo IV).
Ao vários afloramentos rochosos, submersos e semisubmersos na zona de surfe,
interferem no padrão hidrodinâmico, inviabilizando a classificação desta praia de acordo
com o modelo de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado.
83
XIII.6.2 - Praia do Salvador Praia Hotel
S
N
corrente de retorno
Figura 49 - Pequena praia situada nos fundos do Salvador Praia Hotel (Anexo I)
Pequena praia situada nos fundos deste hotel, no bairro de Ondina. É caracterizada
por apresentar vários afloramentos de rochas precambrianas, dispostos ao longo da face
da praia. Mede cerca de 56 metros de comprimento. Apresenta declividade de 11º e areia
de granulometria média (Tabela IX, AM-37).
Encontra-se bastante abrigada da ação das ondas de leste e nordeste, sendo
atingida pelas de sudeste e de sul-sudeste. Quando de sudeste, as ondas geralmente
quebram com alturas entre 0,5 e 1,0 m, e sob os ventos de sul-sudeste estas alcançam
alturas de quebra de até 2,0 m, possivelmente também, como na praia do Farol da Barra,
sobreelevadas pelos fortes ventos trazidos pelas frentes-frias. As ondas são
predominantemente dos tipos Deslizante e Frontal, gerando correntes longitudinais que
fluem de E para W, retornando com forte intensidade pelo lado do afloramento oeste da
praia, sendo este o principal fator de risco (Fig. 49, anexos II e IV). A zona de surfe é
muito estreita, apresentando a praia características refletivas. Outro elemento de risco é a
força de quebra das ondas frontais e o seu conseqüente repuxo.
84
XIII.6.3 - Praia da Paquera
corrente de retorno
N
Figura 50 - Praia da Paquera (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada, com comprimento aproximado de 92 m (Fig. 50),
declividade de 11º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-36a). É limitada por
dois grandes afloramentos emersos de rochas precambrianas, existindo ainda um outro
localizado no centro da face da praia. Praticamente faz parte da praia de Ondina, descrita
a seguir, apenas desta separada por um afloramento de rochas precambrianas, que fica
exposto durante a baixa-mar. No restante do tempo o mar avança sobre a face da praia,
conectando as duas zonas de surfe através de uma estreita passagem, quando isola o
afloramento de leste, criando um pequeno tômbolo.
A direção da linha de costa, e uma sucessão de pequenos promontórios situados à
leste (Anexos I e III, Fig. 50) protegem esta praia da ação das ondas de leste.
As ondas de sudeste e de sul-sudeste quebram com alturas entre 0,5 e 1,0 m,
respectivamente, e sempre de forma Deslizante, formando então uma zona de surfe com
poucas dezenas de metros de largura. Refratam e penetram pelas duas praias gerando
correntes que se unem e que retornam pelo canto leste da praia da Paquera, entre o
afloramento do centro da praia e o do lado leste, formando uma forte corrente de retorno,
com elevado grau de risco para os banhistas (Fig. 50, anexos II e IV). Esta situação só
não acontece durante a baixa-mar, quando as correntes de retorno nas duas praias
(Paquera e Ondina) têm trajetórias distintas.
Em função do grande número de afloramentos rochosos, emersos e submersos, fica
comprometida a classificação do estágio morfodinâmico praial.
85
XII.6.4 - Praia de Ondina
corrente de retorno
N
Figura 51 - Praia de Ondina (Anexo I)
Praia do tipo enseada, medindo cerca de 208 m de comprimento, com declividade
de 10º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-36). Apresenta vários e dispersos
afloramentos do precambriano cristalino, submersos na zona de surfe, durante a preamar.
As ondas de leste e de sudeste são sempre do tipo Deslizante, quebrando com
alturas em torno de 0,5 m, e cerca de 1,5 m, respectivamente, gerando correntes de
intensidade fraca, para as ondas de leste e de intensidade forte, para as ondas de
sudeste e que retornam pela extremidade oeste da praia, ao lado dos afloramentos
rochosos (Fig. 51, anexos I e II).
As ondas de sul-sudeste são também do tipo Deslizante e podem atingir alturas
mais elevadas, superiores mesmo a 2,0 m, quebrando sobre os afloramentos submersos
mais externos, localizados à leste, na zona de surfe e na antepraia. Nestas ocasiões
estas ondas geram correntes de forte intensidade que retornam pelo mesmo ponto das
acima descritas (Fig. 51, Anexo IV), constituindo-se assim no principal fator de risco.
A zona de surfe é muito irregular, resultante do grande número de afloramentos
submersos de rochas precambrianas que aí ocorrem e que interferem no padrão
morfodinâmico, impedindo a sua classificação segundo o modelo de estágios
morfodinâmicos praiais aqui adotado.
86
XII.6.5 - Praia da Bacia das Moças
S
N
corrente de retorno
Figura 52 - Praia da Bacia das Moças (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada, medindo cerca de 105 m de comprimento e limitada
lateralmente por afloramentos de rochas precambrianas, muitos também submersos na
zona de surfe e na antepraia (Fig. 52). Apresenta declividade de 6º e granulometria de
areia média (Tabela IX, AM-35).
A direção da linha de costa e uma sucessão de afloramentos rochosos situados à
leste desta praia, a protegem da ação das ondas de leste (Fig. 52, Anexo I).
As ondas de sudeste, após sofrerem refração sobre estes afloramentos, se dirigem
para a face da praia, quebrando de forma Deslizante, com alturas inferiores à 0,5 m,
quando geram correntes de intensidade desprezível que retornam pela posição mostrada
na figura 52.
O ângulo formado entre as frentes -de-onda de sul-sudeste e os contornos
batimétricos dos afloramentos rochosos, provoca uma menor refração, fazendo com que
estas ondas quebrem, também de forma Deslizante, com alturas aproximadas de 0,5 m,
quando então geram fracas correntes longitudinais que fluem de leste para oeste,
retornando pelo lado dos afloramentos rochosos situados na extremidade oeste da praia
(Fig. 52, Anexo IV), constituindo-se assim num fator de risco de grau baixo e que só
ocorre sob estas condições de ondas.
87
Trata-se de uma praia que, por ser relativamente bem abrigada, quase sem ondas
durante a maior parte do ano, não apresenta a premissa básica, no caso as ondas, que
seria
necessária
para
enquadrá-la
no
modelo
de
classificação
de
estágios
morfodinâmicos praiais aqui adotado.
XII.6.6 - Praia do Rio Vermelho
S
N
corrente de retorno
Figura 53 - Praia do Rio Vermelho (Anexo I)
Situada imediatamente a leste da Bacia das Moças, é apenas desta separada por
um conjunto de afloramentos de rochas precambrianas existente na face da praia (Fig.
53). Mede cerca de 390 m de comprimento, apresenta declividade de 7º e granulometria
de areia média (Tabela IX, AM-34). As cúspides são raras e curtas, medindo em torno de
100 m. Afloramentos submersos do precambriano são encontrados na zona de surfe e na
antepraia.
Pelo fato desta praia ser mais extensa, e por conseguinte menos abrigada que a
anterior, os efeitos da refração sobre as ondas na parte central da praia, causados pelos
afloramentos rochosos que a limitam, são menores, resultando em alturas de quebra
superiores, atingindo cerca de 0,5 m quando sob ondas de leste, 1,0 m sob ondas de
sudeste e chegando mesmo a atingir a 2,0 m, sob as condições de ondas de sul-sudeste,
quando são sobreelevadas pelos fortes ventos trazidos pelas frentes-frias de
outono/inverno. O tipo de onda predominante é o Deslizante e a zona de surfe varia entre
40 e 80 m de largura.
88
As correntes resultantes fluem sempre de leste para oeste e retornam, com fraca
intensidade quando as ondas são de leste e com forte intensidade quando de sudeste ou
de sul-sudeste, pelo lado leste dos afloramentos rochosos (anexos I, II e IV), afloramentos
estes situados no canto oeste da praia, constituindo-se assim no principal fator de risco
para os banhistas.
A grande ocorrência de afloramentos rochosos submersos na zona de surfe e na
antepraia induz à formação de diferentes pontos de arrebentação que interferem no
padrão hidrodinâmico da zona de surfe, dificultando o enquadramento desta praia em um
dos estágios morfodinâmicos de praia apresentados pelo modelo aqui adotado.
XIII.6.7 - Praia da Paciência
S
N
corrente de retorno
Figura 54 - Praia da Paciência (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada, limitada por afloramentos de rochas precambrianas
(Fig. 54). Apresenta comprimento de aproximadamente 130 m, declividade de 10º e
granulometria de areia média (Tabela IX, AM-33). As cúspides, quando ocorrem, são
curtas, medindo em torno de alguns metros. São muito freqüentes os afloramentos
submersos de rochas precambrianas, na zona de surfe e na antepraia.
O cabo do Meridien, situado a leste (Anexo I), protege-a quase que totalmente
contra a ação das ondas de leste, quando são verificadas alturas que não atingem a 0,5
m.
89
As ondas de sudeste e de sul-sudeste, ao sofrerem refração, convergem para os
afloramentos rochosos laterais, um pouco mais para os situados na parte leste da praia
onde sobreelevam aí mais as alturas do que nas da parte oeste, chegando a alcançar 0,5
m pelas ondas de SE e 1,0 m pelas de SSE,
resultando na geração de correntes
longitudinais que fluem de leste para oeste, retornando com fraca intensidade pelo lado
do afloramento rochoso situado a oeste da praia (anexos II e IV). Sob a ação destas
ondas, é gerada uma zona de surfe de poucas dezenas de metros de largura, e a praia
então apresenta características refletivas, enquanto que no resto do ano praticamente não
apresenta ondas.
XIII.6.8 - Praia de Sant’ana
S
N
corrente de retorno
Figura 55 - Praia de Sant'ana (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada, medindo cerca de 162 m de comprimento e
bastante abrigada da ação das ondas por afloramentos rochosos do precambriano (Fig.
55). Apresenta uma declividade de 9º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-32).
Praticamente sem ondas durante todo o ano, constitui-se em porto para uma
pequena frota de pesca artesanal e em uma das mais calmas praias de toda a costa
atlântica de Salvador, embora o alto nível de poluição orgânica, conseqüência do
esgotamento sanitário e pluvial, desaconselhem o seu uso para o banho.
90
Como ocorre com a praia da Paciência, a direção da linha de costa e o cabo do
Meridien a protegem completamente das ondas de nordeste e de leste, respectivamente
(anexos III e I).
As ondas de sudeste sofrem forte refração nas vizinhanças deste cabo e também
por alguns afloramentos submersos, quebrando de forma deslizante, com alturas
inferiores a 0,5 m.
As ondas de sul-sudeste, após terem parte de sua energia dissipada por alguns
afloramentos rochosos semi-submersos, como o banco da Torrefação (Anexo IV),
convergem para os afloramentos emersos que limitam a praia a leste, quebrando com
alturas em torno de 0,5 m e gerando correntes que fluem de leste para oeste, quando
então retornam, com fraca intensidade, pelo canto oeste da praia, ao lado do outro
conjunto de afloramentos emersos, constituindo-se desta maneira no único, e fraco, fator
de risco para os banhistas. Em raros episódios de alta energia, quando os fortes ventos
trazidos pelas frentes frias do outono/inverno são combinados com preamares de sizígia,
estas ondas passam sobre os afloramentos submersos e atingem a face da praia com
alturas próximas a 1,0 m. Nestas condições, a praia então desenvolve características
refletivas e os fatores de risco, representados pelo repuxo das ondas e por correntes
longitudinais e de retorno, têm suas intensidades ampliadas.
XII.6.9 - Praia do Buracão
corrente de retorno
N
Figura 56 - Praia do Buracão (Anexo I)
91
Esta pequena praia mede cerca de 170 m de comprimento, apresenta declividade
de 8º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-31).
A direção da linha de costa e a existência de um promontório situado a leste
(Anexos III e I), a protegem das ondas de nordeste e, em parte, das de leste, quando
estas últimas alcançam alturas máximas de 0,5 m.
As ondas de sudeste, ao sofrerem refração, convergem para o citado promontório e
quebram, de forma Deslizante, com alturas em torno de 1,0 m, gerando correntes que
fluem de E para W retornando com forte intensidade pela extremidade oeste da praia (Fig.
56), constituindo-se em um importante fator de risco para o banho.
As ondas de sul-sudeste se dirigem quase que frontalmente para a face da praia
(Anexo IV), sofrendo pouca refração e quebrando, de forma predominantemente Frontal,
com alturas que podem alcançar até 2,0 m. Nestas circunstâncias, geram correntes
longitudinais, que, assim como sob as ondas de sudeste, fluem de leste para oeste,
retornando com forte intensidade pelo canto oeste da praia, constituindo-se no principal
fator de risco desta praia. A zona de surfe, desenvolvida por ondas de sudeste e de sulsudeste, varia entre 30 e 50 m de largura. Durante a maior parte do ano esta praia
apresenta características refletivas.
XIII.6.10 - Praia de Amaralina
S
corrente de retorno
corrente de retorno
N
corrente de retorno
ITAPUÃZINHO
Figura 57 - Praia de Amaralina (Anexo I)
Esta é a última e mais extensa praia do Setor 1. Mede cerca de 878 m de
comprimento e apresenta declividade de 13º, com granulometria de areia média (Tabela
92
IX, AM-30). As cúspides, quando presentes, são curtas, medindo alguns metros. São
abundantes os afloramentos emersos e submersos de rochas precambrianas, sobretudo
na zona de surfe e na antepraia, gerando diferentes pontos de quebra das ondas.
A direção da linha de costa e a existência de um promontório a leste, a ponta de
Itapuãzinho (Fig. 57, anexos III e I), a protegem completamente das ondas de nordeste, e
em parte das de leste, que quebram de formas Deslizante e Mergulhante, com alturas em
torno de 0,5 m, gerando um fraco repuxo a partir da face da praia.
As ondas de sudeste, ao se aproximarem da ponta de Itapuãzinho, sofrem refração
e convergem para este. A grande extensão da praia permite que parte destas ondas se
dirija para a face da praia, quebrando de formas Mergulhante e Frontal, com um pouco
mais de 1,0 m de altura e gerando desta forma, tanto correntes longitudinais quanto
também um repuxo mais forte a partir da face da praia, constituindo-se no principal fator
de risco para os banhistas. As correntes longitudinais fluem de leste para oeste,
retornando com fraca intensidade por entre determinados afloramentos rochosos
submersos que ocorrem na parte central da zona de surfe.
As ondas de sul-sudeste, por apresentarem um ângulo menor de incidência com a
batimetria, sofrem menos os efeitos da refração e quebram com alturas de até 2,0 m, em
diferentes pontos, de formas Deslizante e Mergulhante, quando então geram um forte
repuxo a partir da face da praia, constituindo-se em um importante fator de risco. As
ondas deslizantes geram correntes longitudinais que apresentam os mesmos sentidos
acima descritos, retornando porém com forte intensidade pelos mesmos pontos,
constituindo-se também em forte fator de risco de grau elevado.
A geometria da zona de surfe não é muito regular, em função de alguns
afloramentos rochosos submersos que antecipam o ponto de quebra das ondas, mas num
contexto geral esta praia pode ser classificada como sendo do tipo refletiva.
Setor 2
Apresenta uma direção geral SW -NE, sendo constituído por uma linha de costa
ligeiramente retilínea, com praias relativ amente extensas (Fig. 14).
É exposto a quase todas as direções de ondas, com exceção das de nordeste, pela
proteção que a ponta de Itapuã lhe faz, quando então é gerada uma zona de sombra que
atinge quase todo o setor (Figs. 44, 45, 46 e 47).
93
XII.6.11 - Praia da Pituba
Plataforma do Clube
Português
Afloramentos rochosos
semisubm,ersos
N
Ponta de Itapuãzinho
Figura 58 - Praia da Pituba (Anexo I)
Esta praia apresenta cerca de 1.578 m de comprimento e está limitada a oeste pela
ponta de Itapuãzinho e a leste por uma plataforma rasa, localizada por detrás do Clube
Português (Anexo I), plataforma esta que fica submersa durante a preamar e que é
constituída por arenitos e conglomerados quaternários, além de crostas algais (Nolasco
1987), sobrepostos a rochas precambrianas (Fig. 58). A declividade da zona de
espraiamento, em dois pontos medidos, foi de 5º e 8º e a granulometria é de areia média
(Tabela IX, AM-29 e AM-28). A ocorrência de cúspides é comum e são de tamanho médio
(101 m).
A plataforma citada amplia ainda mais a proteção, sobre esta praia, que a ponta de
Itapuã já exerce sobre o Setor 2, como um todo, contra a ação das ondas de leste e de
nordeste (anexos I e III), gerando então uma zona de sombra sobre a parte nordeste da
praia da Pituba. Este fato, e mais a existência de um conjunto semisubmerso de
afloramentos de rochas precambrianas, situado no meio da zona de surfe, induz a uma
divisão desta praia, a partir deste conjunto de rochas, em dois segmentos distintos, um
situado a nordeste e o outro a sudoeste, que, apesar de apresentarem padrões
hidrodinâmicos semelhantes, são de intensidades distintas (Fig. 58).
A proteção criada pela plataforma, contra as ondas de leste, não chega a evitar que
parte destas venha a incidir sobre a face da praia do segmento sudoeste, sofrendo antes
refração e difração pelos afloramentos rochosos da zona de surfe, alcançando alturas de
quebra em torno de 0,5 m. As correntes longitudinais geradas fluem então de nordeste
94
para sudoeste, retornando com fraca intensidade pelo lado leste da ponta de Itapuãzinho
(Fig. 58 e Anexo I).
A refração sofrida pelas ondas de sudeste e de sul-sudeste resulta na convergência
destas em direção à plataforma rasa do Clube Português, em direção à ponta de
Itapuãzinho e aos afloramentos semi-submersos do centro da zona de surfe, gerando
zonas de relativa calma próximas à face da praia dos dois segmentos acima descritos. As
ondas que passam sobre os afloramentos semi-submersos, ou que sofrem difração por
entre estes, atingem a face da praia em frente, quebrando de forma Deslizante, com
alturas máximas de 1,0 m. Forma-se então um sistema de correntes longitudinais e de
retorno, conforme está esquematizado na figura 59, cuja intensidade maior é de NE para
SW, no segmento nordeste, e de SW para NE, no segmento sudoeste, com forte
intensidade de retorno pelo lado sudoeste do segmento nordeste, constituindo-se no
principal fator de risco para os banhistas (Fig. 59).
O tipo predominante de onda é o Deslizante e os vários afloramentos rochosos
semisubmersos interferem bastante no padrão hidrodinâmico da zona de surfe,
dificultando a sua classificação nos estágios morfodinâmicos praiais.
praia
rocha
0
100 m
correntes geradas pelas
ondas
frentes-de-onda
difração
rocha semisubmersa
N
Ponta de Itapuãzinho
Figura 59 - Padrão hidrodinâmico esquemático da zona de surfe da praia da Pituba, sob ondas de sudeste e
de sul-sudeste.
95
XIII.6.12 - Praia do Jardim dos Namorados
Jardim de
Alá
corrente de retorno gerada
pelas ondas de sulsudeste
N
corrente de retorno gerada
pelas ondas de leste e sudeste
Jardim dos Namorados
Figura 60 – Praia do Jardim dos Namorados (Anexo I)
Esta praia está limitada, a sudoeste pelo pequeno promontório do Jardim dos
Namorados e a nordeste pelo promontório do Jardim de Alá, apresenta comprimento de
aproximadamente 552 m (Fig. 60), declividade de 13º e granulometria de areia grossa
(Tabela IX, AM-27). É comum a ocorrência de cúspides que variam de médias (10 1 m) a
curtas (10 0 m). Na sua extremidade nordeste desemboca o maior rio que corta a cidade
de Salvador, o Camurugipe.
Parte das ondas de leste converge para o promontório do Jardim de Alá e outra
parte se dirige para a face da praia, quebrando de forma deslizante, com
aproximadamente 0,5 m de altura. Geram então correntes que fluem de nordeste para
sudoeste, retornando com fraca intensidade pelo lado leste do promontório do Jardim dos
namorados (Anexo I, Fig. 60).
As ondas de sudeste sofrem pouca refração, dirigindo-se quase que frontalmente
para a face da praia, quando quebram de formas Deslizante e Mergulhante, com alturas
entre 1,0 m e 1,5 m, gerando um forte repuxo a partir da face da praia, podendo gerar
também, quando os ângulos de incidência se afastam da ortogonal, correntes
longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com forte intensidade pelo
lado do promontório do Jardim dos Namorados, constituindo-se, desta forma, o repuxo e
as correntes de retorno, nos principais fatores de risco para os banhistas.
96
As ondas de sul-sudeste sofrem uma maior refração, se comparadas às de sudeste,
e convergem, parte para o promontório do Jardim dos Namorados, parte para o
promontório do Jardim de Alá, e outra parte para a face da praia, onde quebram de forma
predominantemente Mergulhante, e também Deslizante, com alturas em torno de 1,5 m,
gerando um forte repuxo e correntes que fluem de sudoeste para nordeste, retornando
com forte intensidade pelo promontório do Jardim de Alá (Anexo IV, Fig. 60).
A zona de surfe, excluindo um ponto de arrebentação localizado a nordeste, sobre
afloramentos rochosos submersos, mede cerca de 20 m de largura e a praia é, na maior
parte do tempo, do tipo Refletiva.
O elevado nível de poluição orgânica, decorrente do despejo de esgotos sanitários
não tratados, diretamente no Rio Camurugipe, torna esta praia completamente
desaconselhável para o banho.
XIII.6.13 - Praia de Armação
Esta é uma das mais extensas praias da costa atlântica de
N
Salvador, mede cerca de 2.874
m e está limitada a sudoeste
pelo promontório do Jardim de
Alá e a nordeste pela foz do
corrente de retorno
com posicionamento transitório
Rio das Pedras (Anexo I, Fig.
61). Por ser relativamente lon-
banco de arenito
semisubmerso
ga, foi amostrada em três pontos distintos e eqüidistantes
entre sí, que revelaram valores
corrente de retorno com
posicionamento relativamente
fixo
de declividade de 8º, 8º e 10º,
e granulometria de areia média,
média e grossa, respectivamente nas amostra AM-24,
Figura 61 - Praia de Armação (Anexo I)
97
AM-25 e AM-26 (Tabela IX, Anexo I). As cúspides, comuns, variam de médias (101) a
amplas (102 m). A cerca de 400 m, a partir do inicio sudoeste da praia, em frente à sede
do Esporte Clube Vitória, ocorrem afloramentos submersos de bancos de arenito,
paralelos à face da praia (Fig. 61). No restante, estes afloramentos são pequenos,
dispersos e raros.
As ondas de nordeste, embora sofram uma forte refração, em função dos altos
ângulos formados entre suas frentes e as isóbatas, quebram de forma Deslizante com
alturas inferiores a 0,5 m contra a face da praia, gerando correntes que fluem de nordeste
para sudoeste, retornando com fraca intensidade por entre bancos de areia (Anexo III),
em posições que variam bastante ao longo do tempo, ou pela extremidade sudoeste do
banco de arenito supracitado (Fig. 61).
As ondas de leste apresentam alturas de quebra de até 1,0 m, de forma Deslizante,
quando geram correntes longitudinais no sentido NE -SW, retornando com fraca
intensidade por entre bancos de areia, em posições variáveis, e quase sempre pela
extremidade sudoeste do mesmo banco de arenito já citado (Fig. 61, Anexo I).
As ondas de sudeste, originalmente mais elevadas em alto-mar e sofrendo menos
os efeitos da refração, uma vez que apresentam menores ângulos com as isóbatas (Fig.
45), quebram com alturas entre 1,5 m e 2,0 m, de formas Mergulhante e Deslizante,
quando geram correntes longitudinais que, tanto podem fluir para nordeste, quanto para
sudoeste, a depender da configuração local do perfil submerso, retornando com forte
intens idade por entre bancos de areia ou pelas extremidades do banco de arenito
localizado em frente à sede do Esporte Clube Vitória. Estas ondas produzem também, às
vezes, um forte repuxo a partir da face da praia, nas imediações deste banco de arenito.
Uma parte das ondas de sul-sudeste converge para o promontório do Jardim de Alá
(Anexo IV), quebrando de forma Mergulhante e Deslizante, e gerando correntes que fluem
com sentido inverso aos demais, ou seja: de sudoeste para nordeste, retornando com
forte intensidade por entre bancos de areia e também pela extremidade nordeste do
banco de arenito já citado. A outra parte das ondas se dirige para a praia, quebrando de
formas Mergulhante e Deslizante, com alturas de até 2,0 m e mantendo o sentido das
correntes longitudinais, fluindo de sudoeste para nordeste, retornando com forte
intensidade por entre bancos de areia.
É possível que alguns dos bancos de arenito submersos na zona de surfe, paralelos
à face da praia, sejam responsáveis pela formação de alguns dos canais longitudinais,
comuns nesta praia. Observa-se que estes canais eventualmente impõem um
98
confinamento físico às correntes longitudinais e, quando isto ocorre, verifica-se uma
aceleração das correntes. As correntes longitudinais e de retorno, em especial quando
condicionadas pelo banco de arenito submerso, localizado em frente à sede do Esporte
Clube Vitória e apontada na figura 61, são os principais fatores de risco para os banhistas.
A zona de surfe geralmente apresenta de 30 a 40 m de largura e esta praia pode ser
classificada como sendo do tipo "Intermediário com banco e cava longitudinais", apesar
de apresentar um pequeno segmento, localizado no início sudoeste, com características
refletivas.
XIII.6.14 - Praia de Aratubaia
Desembocadura
do Rio das Pedras
Praia de Aratubaia
N
Figura 62 - Praia de Aratubaia (Anexo I)
Pequena praia, de comprimento aproximadamente igual a 45 m, localizada
imediatamente a nordeste da desembocadura do Rio das Pedras (Fig. 62, Anexo I), aqui
destacada em função do alto grau de risco que representa para os banhistas, pois trata-se
de uma praia aparentemente calma, onde, todavia, existe uma forte corrente de retorno.
Apresenta uma declividade de 8º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-23).
O relevo submarino, inferido pela posição e pela forma de quebra das ondas, bem
como pelas informações dos salva-vidas, aparenta ser constituído por dois bancos de
areia e uma zona central mais profunda situada entre estes dois bancos de areia (Fig. 63).
As ondas de leste e de sudeste quebram, de forma Deslizante, com alturas médias
entre 1,0 m e 1,5 m, respectivamente, transportando lateralmente o sedimento no sentido
nordeste-sudoeste (Fig. 63). Este sedimento, provavelmente barrado pelo molhe
hidráulico criado pelo Rio das Pedras, forma então o banco de areia situado mais a
99
sudoeste. Este banco então antecipa o ponto de quebramento das ondas, favorecendo o
desenvolvimento de uma corrente de retorno que, por sua vez, é acelerada por uma outra
corrente que é gerada pelas ondas ao quebrarem sobre o outro banco de areia, situado a
nordeste (Fig. 63, Anexos I, II e III), constituindo-se em um fator de risco de grau elevado.
As ondas de sul-sudeste, quebrando também de forma Deslizante, com alturas em
torno de 1,5 m, sobre o banco de areia situado a sudoeste, geram correntes que fluem
pela face da praia no sentido sudoeste-nordeste retornando no sentido sudeste pela
flanco sudoeste do afloramento rochoso semisubmerso (Anexo IV).
A geomorfologia da zona de surfe e a corrente gerada pelo Rio das Pedras
interferem no desenvolvimento morfodinâmico desta praia, dificultando a classificação do
estágio praial.
N
correntes geradas pelas ondas
Rio
das
Ped
ras
rocha
banco de areia
frente-de-onda
Figura 63 - Padrão hidrodinâmico esquemático das correntes geradas pelas ondas de E e SE na
praia de Aratubaia.
100
XIII.6.15 - Praias dos Artistas - Corsário
N
corrente de retorno
Figura 64 - Parte das praias dos Artistas -Corsário (Anexo I)
Estas praias, juntas, (Fig. 64) medem cerca de 1.800 m de comprimento e não
apresentam uma separação muito nítida entre sí, fazendo parte de um segmento praial
mais extenso, localizado entre as praias de Aratubaia e Placafor (Anexo I). Como a
SALVAMAR adota estas denominações, o mesmo procedimento será aqui seguido.
Apresenta declividade de 3º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-22). Tratase de uma praia aproximadamente retilínea, com poucas cúspides, que variam de
dimensões médias (101 m) a amplas (102 m). Na parte sudoeste, bancos de arenito
afloram descontinuamente por cerca de 1.000 m de extensão, logo abaixo da linha da
baixa-mar média.
As ondas de nordeste quebram de forma Deslizante com alturas médias de cerca de
0,5 m, gerando correntes longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando
com fraca intensidade por espaços existentes entre os bancos de arenito,
preferencialmente, ou por entre bancos de areia.
As ondas de leste e de sudeste quebram com alturas médias que variam entre 1,0 e
1,5 m, de forma Deslizante, e geram correntes longitudinais que fluem de nordeste para
sudoeste e, às vezes, de sudoeste para nordeste, quando geradas pelas ondas de
sudes te, retornando com forte intensidade por entre espaços abertos nos bancos de
arenito, preferencialmente, ou também por entre bancos de areia. Pela dificuldade de
mapear os bancos de arenito submersos, o posicionamento das correntes de retorno nos
101
anexos I, II e IV e na figura 64 corresponde apenas à daquelas correntes fixas que
puderam ser identificadas com a ajuda dos salva-vidas.
As ondas de sul-sudeste quebram de forma Deslizante, com alturas que variam
entre 1,5 e 2,0 m, gerando correntes longitudinais que fluem com sentido inverso ao
regionalmente observado, isto é, de sudoeste para nordeste e retornam, geralmente com
forte intensidade, pelos mesmos pontos acima descritos, constituindo-se no principal fator
de risco para os banhistas (Anexo I).
É com um a ocorrência de algumas áreas calmas, sem ondas, formadas na frente
dos bancos de arenito, durante a baixa-mar, sob quaisquer condições de ondas.
O estágio morfodinâmico desta praia pode ser classificado como sendo do tipo
"Intermediário com banco e praia rítmicos" e as feições geomorfológicas e hidrodinâmicas
acima descritas são também observadas até a praia de Jaguaribe.
XIII.6.16 - Praias de Patamares - 3ª Ponte
N
corrente de retorno
de posicionamento
transitório
Desembocadura do Rio Jaguaribe
Figura 65 - Segmento norte das praias de Patamares -3ª Ponte, exibindo a desembocadura do Rio Jaguaribe
na parte inferior esquerda da foto (Anexo I).
Segundo segmento da praia Artistas-Piatã. Mede cerca de 1.380 m de comprimento
e está dividida em duas partes pela desembocadura do Rio Jaguaribe. A parte situada a
sul do rio mede cerca de 750 m, apresenta declividade de 6º, granulometria de areia
média (Tabela IX, AM-21 e AM-20b) e é caracterizada por apresentar bancos de arenito
semisubmersos na face da praia e na zona de surfe, que atenuam a energia de quebra
das ondas sobre a face da praia (Anexo I). A outra parte, situada a norte do rio (Fig. 65),
102
mede cerca de 630 m de comprimento, apresenta declividade de 4º e granulometria de
areia média (AM-20a). A ocorrência de cúspides é relativamente freqüente, sendo de
tamanho médio (101 m), em ambas as partes. Apesar de também apresentar bancos de
arenito semisubmersos, estes são bem mais esporádicos e de menor dimensão.
As ondas de nordeste, leste, sudeste e sul-sudeste costumam quebrar com alturas
de, aproximadamente, 0,5 m 1,0 m, 1,5 m e 2,0 m, respectivamente. O tipo de quebra é
sempre o Deslizante e é comum a ocorrência de correntes de retorno de forte intensidade,
fluindo por entre aberturas existentes nos bancos de arenito, mais notadamente na parte
sul da praia, ou por entre bancos de areia, mais comumente encontrados na parte norte.
Pelas mesmas dificuldades apontadas em relação à praia anterior, a figura 65 e os
anexos I, II e IV apresentam apenas as correntes de retorno fixas que puderam ser
localizadas.
A existência de bancos de arenito semisubmersos, mais notadamente na parte sul
da praia, interfere no padrão hidrodinâmico da zona de surfe, sobretudo durante a baixamar, quando gera áreas calmas em frente a estes afloramentos, inviabilizando a aplicação
do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado. Já na parte
norte da praia, a ocorrência destes afloramentos não é tão freqüente, como já citado, e
portanto não interferem tanto no desenvolvimento hidrodinâmico da zona de surfe,
permitindo que seja adotado o modelo de classificação aqui utilizado, segundo o qual,
este trecho pode ser classificado como sendo do tipo "Intermediário com banco e praia
rítmicos".
XIII.6.17 - Praia da Mordomia
bancos de arenito
semisubmersos
corrente de retorno
N
Figura 66 - Praia da Mordomia (Anexo I)
103
Este é o terceiro segmento da praia Artistas-Piatã. Trata-se de um pequeno trecho
de praia, com 175 m de comprimento (Fig. 66), muito freqüentado por banhistas, em
virtude de existir aí uma grande área calma, formada em frente a afloramentos rochosos,
sobretudo durante a baixa-mar. Apresenta declividade de 4º e granulometria de areia fina
(Tabela IX, AM-19). A ocorrência de cúspides é relativamente freqüente, sendo de
tamanho médio (101 m). O tipo de ondas que predomina é o Deslizante e tem
características semelhantes às da praia anterior, embora com altura de quebra
ligeiramente inferior.
Durante a vazante, em especial, algumas correntes de retorno fluem com forte
intensidade, quando geradas pelas ondas de sudeste e sul-sudeste, por espaços abertos
existentes entre os afloramentos rochosos (Fig. 66) e com fraca intensidade quando são
geradas pelas ondas de leste. A classificação do estágio morfodinâmico desta praia fica
prejudicada em função da interferência que os bancos de arenitos produzem no padrão
hidrodinâmico da zona de surfe. Também em relação a esta praia, devem ser
consideradas as mesmas observações relativas às duas praias anteriores.
XIII.6.18 - Praia de Jaguaribe
praia de Piatã
N
corrente de retorno com
posicionamento transitório
Praia de Jaguaribe
corrente de retorno com
posicionamento relativamente
fixo
Figura 67 - Praia de Jaguaribe (Anexo I).
104
Este é o quarto segmento da praia Artistas-Piatã, sendo a praia de maior freqüência
pública de toda a costa atlântica de Salvador e onde também é registrado o maior número
de acidentes, com uma média de 32,4 % do total.
Mede cerca de 1.250 m de comprimento (Fig. 67), apresenta declividade de 2º, com
granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-18). A ocorrência de cúspides é relativamente
comum, variando de dimensões médias (101 m) a amplas (102 m).
Afloramentos rochosos, na face da praia, são muito raros e pequenos, sendo
geralmente expostos, durante curtos intervalos de tempo, após períodos prolongados de
alta energia, que acontecem mais notadamente no outono/inverno. Já na zona de surfe, a
ocorrência destes afloramentos é mais freqüente (Fig. 67), embora também sejam
cobertos pelo sedimento no final da primavera e durante todo o verão.
A largura da zona de surfe também é a maior de toda a costa de Salvador, com
cerca de 200 m no verão e 300 m no inverno. Em ambas as ocasiões verifica-se uma
dissipação de ondas do tipo Deslizante, que chegam à face da praia com alturas de
alguns decímetros. Raramente ocorrem ondas do tipo Mergulhante.
O relevo da zona de surfe é caracterizado, no verão, pela existência de pelo menos
duas faixas paralelas de bancos longitudinais e oblíquos de areia, separados entre-sí por
canais. No inverno ocorrem três faixas paralelas de bancos de areia. Estes bancos
apresentam alta mobilidade espacial durante os períodos de energia mais elevada do
outono/inverno, quando se verifica um sistema hidrodinâmico que envolve diferentes
direções de correntes fluindo dentro da zona de surfe, embora, predominantemente, as
correntes longitudinais fluam de nordeste para sudoeste, sob as direções de ondas de
leste e sudeste, e exceto sob as de sul-sudeste, que invertem a direção destas correntes,
quando então fluem de sudoeste para nordeste.
Sob a ação das ondas de sudeste e de sul-sudeste, que quebram, em média,
respectivamente com 1,5 m e 2,0 m de altura, podendo as últimas atingirem a 3,0 m, as
correntes de retorno fluem com forte intensidade pelos canais existentes entre os bancos
de areia, que estão em constante mudança.
Sob as ondas de leste, geralmente com 1,0 m de altura de quebra, a intensidade
destas correntes varia entre fraca e forte, e sob ondas de nordeste, geralmente com 0,5
de altura, estas correntes quase sempre apresentam fraca intensidade, retornando
também por entre os bancos de areia. Os principais fatores de risco são as correntes
longitudinais, as de retorno e as depressões semicirculares formadas no sedimento, que
ultrapassam a altura dos banhistas.
105
Esta praia, em toda a costa de Salvador, é a que apresenta o maior número de
características do estágio Dissipativo, como a grande largura da zona de surfe, a baixa
declividade constante da face da praia e a granulometria fina dos sedimentos da zona de
espraiamento, ao mesmo tempo apresenta também, características do estágio
Intermediário, como a ocorrência de bancos de areia oblíquos com correntes de retorno
associadas, além de um perfil marc adamente ondulado da zona de surfe, sendo que as
características do estágio Intermediário predominam ao longo do tempo.
XIII.6.19 - Praia de Piatã
N
fraca corrente de retorno
gerada pelas ondas de SE e SSE
Figura 68 - Praia de Piatã (Anexo I)
Último segmento da praia Artistas/Piatã. Mede cerca de 360 m de comprimento,
apresenta declividade de 2º e granulometria de areia fina (Tabela IX, AM-16). A
ocorrência de cúspides é rara e, quando acontece, medem em torno de 10 1 m. Ocorrem
muitos afloramentos de rochas precambrianas, submersos na zona de surfe (Fig. 68). Um
grande afloramento rochoso, quase sempre emerso (Fig. 68), separa esta praia da
seguinte, além de protegê-la, juntamente com a ponta de Itapuã, situada logo a nordeste,
da ação das ondas de nordeste e de leste (Fig. 68, Anexos III e I).
Durante a primavera e o verão, que são períodos caracterizados pela incidência
predominante destas duas direções de ondas, forma-se então uma zona de sombra que é
106
muito procurada pelos banhistas. Nestes períodos, principalmente durante a primavera, a
existência de depressões circulares e de canais, comuns na zona de surfe, constituem-se
nos principais fatores de risco para o banho.
Durante o outono/inverno, principalmente, as ondas de sudeste e de sul-sudeste
não são barradas pelas feições acima descritas e quebram de forma Deslizante e
raramente Mergulhante, com, no máximo, 1,0 m de altura. Nestas ocasiões, quando a
preamar chega a encobrir o afloramento rochoso maior, situado na extremidade leste da
praia (Fig. 68), parte da massa d'água retorna com intensidade mais forte do que de
costume, pelo canto leste da praia, constituindo-se em um fator de risco significativo.
De qualquer modo, grande parte dos acidentes aí registrados, durante todo o ano,
está relacionada à adultos alcoolizados ou a crianças e outros banhistas que, por não
possuirem uma boa habilidade de nado, têm dificuldade em sair dos canais e das
depressões, sendo encobertos pela lâmina d’água, exigindo a pronta e constante
intervenção dos salva-vidas.
Trata-se de uma praia que, por ser em parte abrigada, quase sempre sem ondas,
não se encaixa no modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui
adotado.
Setor 3
Constitui-se de um segmento muito rochoso da linha de costa, formado em grande
parte por pequenas praias, do tipo enseada, que são limitadas lateralmente, em ambas as
extremidades, por afloramentos de rochas precambrianas (Anexo I), além destes serem
comuns, também, submersos na zona de surfe.
O iníco deste setor é representado pela enseada de Itapuã, que apresenta duas
direções de linha de costa: uma sudoeste-nordeste e outra noroeste-sudeste (Anexo I).
Em seguida, este setor volta a apresentar uma direção sudoeste-nordeste, sendo também
caracterizado por apresentar muitas praias do tipo enseada (Fig. 15 e Anexo I).
A grande freqüência de afloramentos rochosos interfere no padrão hidrodinâmico de
todas as praias deste setor, inviabilizando as suas classificações de acordo com o modelo
de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado.
107
XIII.6.20 - Praias de Placafor - Sereia
praia da Sereia
N
praia de placafor
Figura 69 - Praias de Placafor-Sereia (Anexo I)
Estas praias são contíguas e ocupam um pouco mais da metade da enseada de
Itapuã, estando situadas na parte oeste desta (Fig. 69, Anexo I). Medem cerca de 1.170 m
de comprimento e apresentam declividades de 2º e 3º e granulometria de areia fina
(Tabela IX, AM-15 e AM-14). A ocorrência de afloramentos de rochas precambrianas,
emersos e submersos, é muito freqüente, especialmente na zona de surfe e na antepraia
(Anexo I).
Sobre a praia de Placafor, que corresponde à metade oeste deste trecho praial, a
ponta de Itapuã (Anexo I) exerce uma proteção efetiva contra as ondas de nordeste e não
tanto contra as de leste, que penetram na enseada, refratando e quebrando com alturas
inferiores a 0,5 m, quando geram correntes de velocidade desprezível, que fluem de
nordeste para sudoeste.
As ondas de sudeste e de sul-sudeste penetram na praia de Placafor (anexos II e
IV), quebrando antes, porém, com alturas de 1,0 e 1,5 m, aproximadamente, sobre
afloramentos rochosos semi-submersos, dissipando parte da energia e gerando difração,
reformando-se e quebrando novamente, originando então vários sentidos de correntes
longitudinais que retornam, com fraca intensidade, pelos lados dos afloramentos rochosos
(Fig. 70, anexos II e IV).
A ponta de Itapuã protege ainda mais efetivamente a parte da praia referente à
Sereia de Itapuã da ação das ondas de nordeste e de leste (Figs. 46 e 44, anexos III e I,
108
respectivamente), e estas, quando quebram, o fazem de forma Deslizante, com alturas
inferiores à 0,5 m, resultando em níveis muito baixos de energia.
As ondas de sudeste penetram na praia da Sereia e parte destas refrata,
convergindo para os afloramentos de rochas precambrianas situados a nordeste da praia,
enquanto que a outra parte das ondas atinge a face da praia, quebrando, de forma
deslizante, com alturas em torno de 0,5 m, gerando correntes longitudinais que fluem de
leste para oeste e que retornam, com fraca intensidade, pelos lados dos afloramentos
rochosos semisubmersos (Anexo II).
As ondas de sul-sudeste refratam menos e quebram de forma deslizante com maior
altura, entre 0,5 e 1,0 m, gerando correntes longitudinais que fluem com o mesmo sentido
daquelas induzidas pelas ondas de sudeste, retornando com forte intensidade pelos lados
de alguns afloramentos rochosos semi-submersos que ocorrem próximos à face da praia,
constituindo-se assim no único fator de risco para os banhistas.
Os vários afloramentos rochosos submersos e semisubmersos, que ocorrem em
ambas as praias, ao anteciparem o ponto de quebramento das ondas, geram refração e
difração, interferindo no desenvolvimento morfodinâmico da zona de surfe, não permitindo
a classificação destas praias segundo o modelo de estágios morfodinâmicos de praia aqui
adotado. Na praia da Sereia, este efeito é ainda mais forte devido à efetiva proteção que a
ponta de Itapuã exerce contra as ondas incidentes de leste e nordeste, o que gera uma
zona calma, sem ondas, durante cerca de 58% do ano (Tabela I).
A existência de esgotos sanitários, despejados diretamente nestas praias,
desaconselham o seu uso para o banho, principalmente na Sereia.
praia de Placafor
difração
corrente de
retorno
corrente de retorno
difração
frente-de-onda
rocha
N
0
50 m
109
Figura 70 - Padrão
hidrodinâmico esquemático das
correntes na zona de surfe da
praia de Placafor, sob ondas de
sudeste e de sul-sudeste.
XIII.6.21 - Praia do Porto
Praia da Sereia
Praia
do Porto
N
Figura 71 - Praia do Porto (Anexo I)
Pequena praia, medindo cerca de 60 m de comprimento (Fig. 71), situada na parte
interna da enseada de Itapuã. É quase que uma continuidade da praia da Sereia, desta
separada por pequenos afloramentos de rochas precambrianas.
A proteção dos afloramentos rochosos que a limitam lateralmente, somada ao fato
de estar situada na parte interna da enseada de Itapuã, tornam-na uma praia
praticamente sem ondas durante todo o ano, sem que haja uma efetiva renovação de
suas águas, aumentando ainda mais o nível de poluição orgânica e fazendo com que os
banhistas a evitem.
Esta praia não foi amostrada para análise granulométrica nem teve a sua
declividade medida, devido ao fato de ser uma extenção da praia da Sereia de Itapuã e
portanto apresentar as mesmas características geomorfológicas desta, além de não ser
freqüentada por banhistas.
110
XIII.6.22 - Praia da Rua E
N
Figura 72 - Praia da Rua E (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada, com comprimento em torno de 85 m (Fig. 72),
declividade de 5º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-13).
Localizada dentro da enseada de Itapuã, encontra-se completamente protegida das
ondas de leste e de nordeste (anexos I e III).
As ondas de sudeste e de sul-sudeste, ao penetrarem na enseada, sofrem refração
e ainda dissipam parte da energia sobre os vários afloramentos rochosos submersos,
quebrando, de forma deslizante, com alturas inferiores a 0,5 m. As raras correntes
geradas são de fraca intensidade, fazendo desta praia um lugar bastante seguro para os
banhistas, embora os altos índices de poluição orgânica, resultantes do esgotamento
sanitário e pluvial a tornem de uso impróprio para o banho.
XIII.6.23 - Praia da Rua K
corrente gerada pela quebra
das ondas na praia vizinha
S
N
Figura 73 - Praia da Rua K (Anexo I), mostrando a corrente gerada pela quebra das ondas na praia vizinha,
que flue através de uma abertura existente na rocha.
111
Mede cerca de 200 m de comprimento, apresenta declividade de 8º e granulometria
de areia média (Tabela IX, AM-12).
Está situada dentro da enseada de Itapuã, por detrás da ponta de Itapuã (Anexo I),
que a protege totalmente das ondas de leste e de nordeste (anexos I e III), e quase que
totalmente das ondas de sudeste e de sul-sudeste (anexos II e IV), tornando-a bastante
adequada para, além do banho, abrigar a pequena frota de barcos da colônia de pesca de
Itapuã. Seria bastante segura para o banho se não fosse pela existência esporádica de
uma corrente gerada pela quebra das ondas na praia vizinha, situada a nordeste, que flue
através de uma fratura aberta na rocha (Fig. 73) que separa as duas praias (anexos I, II,
III e IV). Esta corrente, quando gerada pelas ondas de SE e SSE, é de forte intensidade e
de fraca intensidade quando gerada pelas outras direções de ondas.
XIII.6.24 - Praia do Farol de Itapuã
correntes de retorno gerada
pelas ondas de Se e SSE
corrente de retorno
gerada pelas ondas
de leste
N
Figura 74 - Praia do Farol de Itapuã (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada, medindo cerca de 70 m de comprimento, e limitada
em ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas (Fig. 74).
Apresenta declividade de 9º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-11). É a
primeira praia, no sentido nordeste, situada fora da enseada de Itapuã, e portanto exposta
diretamente à ação de todas as direções de ondas (anexos I, II, III e IV). A face da praia
apresenta uma forma ligeiramente côncava, e a parte submersa a ela contígua forma
uma espécie de canal, sem bancos de areia e com bastante marcas de corrente de
pequeno porte.
112
A direção da linha de costa e um afloramento rochoso situado a nordeste protegem
esta praia contra a ação das ondas de nordeste, criando então uma zona de sombra (Fig.
74, Anexo III).
As ondas de leste convergem para o afloramento situado a nordeste da praia,
quebrando com alturas em torno de 1,0 m e gerando uma corrente que flui de nordeste
para sudoeste pela face da praia, retornando com forte intensidade pelo lado do
afloramento situado a sudoeste, em direção ao ponto de arrebentação (Fig. 74, Anexo I).
A praia está francamente exposta às ondas de sudeste e de sul-sudeste, que
convergem para os afloramentos rochosos de ambos os lados, quebrando de formas
Deslizante e Mergulhante com alturas de até 2,0 m e gerando dois sistemas de correntes
que fluem paralelamente à face da praia, mas com sentidos opostos e que retornam
fortemente pelo centro da praia em direção à zona de arrebentação (Fig. 74, anexos II e
IV).
O principal fator de risco é a forte corrente de retorno que se desenvolve no centro
da praia, gerada principalmente pelas ondas de sudeste e de sul-sudeste, fazendo desta
praia uma das mais perigosas de toda a costa atlântica de Salvador.
A existência de afloramentos rochosos, avançados em direção ao mar, em ambos
os lados da praia (Fig. 74), provoca a convergência dos raios -de-onda contra sí, o que
praticamente livra a face da praia da quebra direta das ondas, inviabilizando assim a
aplicação do modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais aqui adotado.
Este mesmo efeito é observado nas praias do Porto de Leocádio, Pedra do Sal, Caveira,
Catussaba e Flamengo, que serão descritas a seguir.
113
XIII.6.25 - Praia do Porto de Leocádio
correntes de retorno
N
Figura 75 - Praia do Porto de Leocádio (Anexo I)
Pequena praia do tipo enseada (Fig. 75), medindo cerca de 90 m. Em decorrência
de fortes chuvas que ocorreram nas duas ocasiões em que estivemos nesta praia, a
mesma não pôde ser amostrada para a análise granulométrica, nem teve a sua
declividade medida, sendo porém observado que, de uma maneira geral, apresenta as
mesmas características hidrodinâmicas e de risco verificadas na praia do Farol de Itapuã.
XIII.6.26 - Praia da Pedra do Sal
corrente de retorno
N
Figura 76 - Praia da Pedra do Sal (Anexo I)
114
Praia com cerca de 150 m de comprimento (Fig. 76), declividade de 11º e
granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-09). É limitada em ambas as extremidades
por afloramentos de rochas precambrianas com níveis de arenitos sobrepostos. O padrão
de quebramento das ondas evidencia a existência de um alto fundo, localizado na parte
central da zona de surfe (Fig. 77).
As ondas de nordeste, e sobretudo as de leste e sudeste refratam e convergem em
direção ao afloramento rochoso situado a nordeste da praia e, também, em direção ao
alto fundo (Fig. 77), quebrando de forma Deslizante e as vezes Mergulhante, com alturas
em torno de 0,5 m, 1,0 m e entre 1,5 e 2,0 m, respectivamente. Estes dois polos de
convergência de raios-de-onda geram então, entre eles, um baixo gradiente de pressão,
representado por uma zona estreita e relativamente abrigada da ação das ondas por onde
as correntes retornam com forte intensidade (Fig. 77). A ação desta corrente de retorno
acabou por escavar um canal situado na extremidade nordeste da praia, que pode
inclusive ser reconhecido por fotografia aérea (Fig. 77), tratando-se de um fator de
elevado grau de risco, embora esta praia não seja patrulhada.
N
Alto fundo
raios-de-onda
correntes geradas
pelas ondas
Frente-de-onda
Figura 77 - Padrão hidrodinâmico verificado na zona de surfe da praia da Pedra do Sal, válido para as ondas
de leste, sudeste, nordeste e correntes de retorno associadas.
115
As ondas de sul-sudeste quebram, de forma Deslizante e também Mergulhante,
com alturas de até 2,0 m, gerando correntes de sentido sudoeste-nordeste, retornando
com forte intensidade pelo mesmo canal localizado na extremidade nordeste da praia.
XIII.6.27 - Praia da Caveira
corrente de retorno
N
Figura 78 - Praia da Caveira (Anexo I)
Pequena praia, com cerca de 40 m de comprimento, do tipo enseada, limitada em
ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas (Fig. 78). Apresenta
declividade de 17º e granulometria de areia grossa (Tabela IX, AM-08).
As ondas, derivadas de todas as quatro direções, refratam predominantemente em
direção aos afloramentos situados à nordeste, quebrando com alturas similares à da praia
anteriormente descrita e gerando um fluxo de nordeste para sudoeste que é desviado
pelos afloramentos situados à sudoeste, retornando então com forte intensidade, em
sentido sudoeste, constituindo-se talvez, na mais perigosa praia de toda a costa atlântica
de Salvador. Durante a preamar, as ondas passam entre as rochas situadas a nordeste e
a face da praia, intensificando ainda mais a velocidade desta corrente de retorno.
Apesar do grande perigo que esta praia oferece, a mesma não é patrulhada, mas a
existência de uma caveira visivelmente gravada num dos afloramentos de rocha (daí o
nome da praia) e as constantes advertências por parte dos proprietários de barracas e
116
moradores reduzem bastante o número de acidentes aí verificados, embora, de acordo
com depoimentos dos salva-vidas, uma vez iniciados sejam de difícil intervenção, levando
quase sempre ao óbito.
XIII.6.28 - Praia do Catussaba
corrente de retorno
com posicionamento
relativamente fixo
corrente de retorno
com posicionamento transitório
N
corrente de retorno
com posicionamento transitório
Figura 79 - Praia do Catussaba (Anexo I)
Mede cerca de 700 m de comprimento, apresenta declividade de 11º e
granulometria de areia média (Tabela IX, AM-7). É limitada por afloramentos de rochas
precambrianas, que ocorrem também na parte central da praia (Fig. 79).
As ondas de leste e nordeste quebram, de forma predominantemente Deslizante,
com alturas em torno de 1,0 e 0,5 m respectivamente, quando então geram correntes
longitudinais que fluem de nordeste para sudoeste, retornando com fraca intensidade por
locais variáveis, a partir da face da praia, no sentido sul (anexos I e III).
As ondas de sudeste quebram, também de forma Deslizante e às vezes
Mergulhante, com alturas em torno de 1,5 m, gerando correntes que fluem de nordeste
para sudoeste, retornando com forte intensidade por pontos variáveis, no sentido sul.
As ondas de sul-sudeste quebram com alturas de até 2,0 m, de formas Deslizante e
Mergulhante e geram correntes que fluem de sudoeste para nordeste, retornando com
117
forte intensidade, no sentido sudeste, por pontos variáveis e também pelo lado do
afloramento rochoso que limita a praia a nordeste (Fig. 79 - Anexo IV)
XIII.6.29 - Praia do Flamengo
corrente de retorno
N
Figura 80 - Parte nordeste da praia do Flamengo (Anexo I)
Última praia do Setor 3 e também uma das mais perigosas de toda a costa atlântica
de Salvador (Fig. 80). Mede cerca de 170 m de comprimento, apresenta declividades de
10º e 14º e granulometria de areia média (Tabela IX, AM-06 e AM-05). É limitada em
ambas as extremidades por afloramentos de rochas precambrianas (Anexo I).
As ondas de leste, sudeste e sul-sudeste, sob refração, convergem para os dois
afloramentos rochosos laterais da praia, quebrando de forma predominantemente
Deslizante, com alturas em torno de 1,0 , 1,5 e 2,0 m, respectivamente. Como o
afloramento situado a sudoeste apresenta uma área submersa maior, provoca então uma
maior convergência das ondas para este ponto, produzindo correntes que fluem de
sudoeste para nordeste, retornando com forte intensidade, no sentido sul, pelo lado do
afloramento situado na extremidade nordeste da praia (Fig. 81). Como estas ondas juntas,
representam cerca de 78% da distribuição total de ondas durante o ano (Tabela I), as
suas correntes de retorno acabaram por escavar um canal no sedimento, ao lado
sudoeste do afloramento rochoso de nordeste, que se mantém ativo durante todo o ano
(Fig. 81).
As ondas de nordeste sofrem uma refração muito grande, devido aos altos ângulos
entre as suas frentes e a batimetria, com a conseqüente diminuição na altura de quebra,
118
quebrando de forma Deslizante, com alturas inferiores a 0,5 m. Consequentemente, as
correntes geradas também tornam -se mais fracas, retornando de imediato pelo mesmo
canal situado a nordeste da praia, ou, quando ultrapassam este canal, retornam pela
extremidade sudoeste da praia (Fig. 81, Anexo III).
rocha emersa
praia
corrente de retorno
fraca corrente
de retorno gerada
pelas ondas de NE
frentes-de-onda
N
rocha
submersa
0
Figura 81 - Padrão hidrodinâmico
esquemático predominante na zona
de surfe da praia do Flamengo.
50 m
Setor 4
Este último segmento está fora da zona de influência da Falha de Itapuã e
provavelmente
por
isto,
praticamente
não
apresenta
afloramentos
de
rochas
precambrianas, e como conseqüência, também não apresenta praias do tipo enseada, tão
comuns nos setores 1 e 3. É caracterizado por apresentar praias moderadamente
retilíneas e longas, exibindo muitas vezes afloramentos de bancos de arenito, situados na
face da praia e na zona de surfe, submersos durante a maior parte do tempo (Fig. 16,
Anexo I). É constituído basicamente de duas praias, Stella Maris e Aleluia que de fato são
uma só, diferenciadas apenas por denominações locais e também pelos registros da
SALVAMAR.
119
XIII.6.30 - Praias de Stella Maris e Aleluia
N
corrente de retorno
com posicionamento transitório
Figura 82 - Vista de parte das praias de Stella Maris e Aleluia (Anexo I). O posicionamento da corrente de
retorno acima assinalado é m eramente ilustrativo em virtude da dificuldade de se mapear as brechas
existentes entre os bancos de arenito e, também, em função do posicionamento variável dos bancos de areia.
Estas praias são moderadamente retilíneas e longas (Fig. 82), se estendendo além
da divisa com o município de Lauro de Freitas, mas até este ponto medem cerca de 2,4
km de comprimento. Apresentam declividades que variam entre 3º e 5º, com
granulometria fina e média, respectivamente (Tabela IX, AM-4, AM-3, AM-2 e AM-1).
Costumam apresentar cúspides com dimensões de 101 m e é muito freqüente, como já
citado, a ocorrência, na face da praia e na zona de surfe, de bancos alongados e
descontínuos de arenito, dispostos paralelamente à direção da face da praia e que ficam
submersos sobretudo durante a preamar.
As ondas de nordeste, embora sofram uma grande refração, em função do alto
ângulo entre suas frentes e a batimetria (Fig. 46, Anexo III), quebram de forma Deslizante,
com alturas em torno de 0,5 m, gerando correntes longitudinais que fluem de nordeste
para sudoeste, retornando com fraca intensidade, por entre as descontinuidades
existentes entre os bancos de arenito ou por entre os bancos de areia.
As ondas de leste sofrem uma menor refração, em função do menor ângulo com a
batimetria e quebram com alturas mais elevadas, em torno de 1,0 m (Fig. 44), também de
forma Deslizante, gerando correntes longitudinais que fluem com o mesmo sentido,
nordeste-sudoeste (Anexo I), e que retornam com forte intensidade sob as mesmas
circunstâncias acima descritas.
120
As ondas de sudeste incidem quase que frontalmente contra a face da praia,
preservando quase toda a altura de alto-mar (Fig. 45) e, sobrelevadas pelo empinamento,
quebram de forma Deslizante e Mergulhante, com 1,5 m a 2,0 m de altura. Geram
correntes que fluem de nordeste para sudoeste e também de sudoeste para nordeste
(Anexo II), a depender da direção local da face da praia, retornando com forte intensidade
sob as mesmas circunstâncias acima descritas.
As ondas de sul-sudeste têm um comportamento semelhante às de sudeste (Fig.
47), porém, sobreelevadas pelos fortes ventos trazidos pelas frentes -frias, quebram
geralmente com 2,0 m de altura, podendo alcançar até 3,0 m, gerando correntes, que
quase sempre fluem de sudoeste para nordeste (Anexo IV), retornando com forte
intensidade sob as mesmas circunstâncias acima descritas.
Os bancos de arenito, quando existentes, interferem no desenvolvimento
morfodinâmico, sobretudo quando antecipam a posição do ponto de quebra das ondas,
criando áreas calmas nas suas frentes, tornando difícil a classificação do estágio
morfodinâmico praial. Em locais onde esta interferência não é tão pronunciada ou mesmo
inexistente, observa-se a ocorrência simultânea de características dissipativas e
intermediárias, como a existência de uma zona de surfe quase sempre bem desenvolvida,
com largura da ordem de 102 m, além de bancos e canais longitudinais e oblíquos, sendo
que as características intermediárias são predominantes ao longo do tempo.
Em relação à extensão total das praias estudadas, que é de 19,7 km, a distribuição
dos estágios morfodinâmicos praiais está representada na Tabela X.
Estágio Morfodinâmico Praial
Percentual de Ocorrência na Área Estudada
Dissipativo
0%
Intermediário
56%
Refletivo
13%
Não se enquadram no modelo
31%
Tabela X - Distribuição relativa dos estágios morfodinâmicos praiais na estensão total da área estudada.
XIII.7 -
Relações entre a Granulometria da Zona de Espraiamento e os
Estágios Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Wright & Short (1984) analisando praias do sudoeste da Australia, observaram que
há uma forte relação entre o diâmetro médio dos sedimentos da zona de surfe e o estágio
morfodinâmico praial, como já foi anteriormente apresentada. Praias caracterizadas por
121
apresentar sedimentos grossos geralmente desenvolvem características refletivas,
enquanto que os sedimentos médios são mais representativos dos estágios
morfodinâmicos intermediários enquanto que sedimentos finos relacionam-se mais ao
estágio Dissipativo.
O diâmetro do grão é uma das variáveis no cálculo do parâmetro ambiental (Ω ), que
por sua vez apresenta uma boa correspondência com o estágio morfodinâmico praial,
(Wright & Short 1984 ; Wright, Short & Green 1985).
Ω = Hb / ( WsT )
(Dean 1973 apud Komar 1998 ; Dalrymple & Thompson 1977),
onde H b é a altura de quebra das ondas, T é o período e Ws é a velocidade de
decantação das partículas dentro da zona de surfe.
Por sua vez,
Ws = (D2 ⁄ 18 ) x (σ - ρ ⁄ η )
x
g (Dyer 1986),
onde σ é a densidade da partícula, ρ é a densidade da água do mar, D é o diâmetro do
grão e η é a viscosidade da água do mar (sem considerar os efeitos da turbulência dentro
da zona de surfe).
Como Ω depende do diâmetro do grão (D), fica então demonstrada a correlação que
existe entre a granulometria e o estágio morfodinâmico praial.
Nas praias da costa atlântica de Salvador, como já citado, foi analisada a
granulometria dos sedimentos da zona de espraiamento, sabendo que estes guardam
uma boa correlação com os sedimentos da zona de surfe, em geral. Verifica-se então que
as praias refletivas, ou aquelas que apresentam zonas de surfe pouco desenvolvidas, ou
irregulares, apresentam também areias de granulometria média a grossa, na zona de
espraiamento. Foi observado também que as praias do estágio Intermediário apresentam
areias de granulometria fina a média (Tabela XI), o que está de acordo com o modelo
adotado. Acreditamos que uma zona de surfe mais desenvolvida deve propiciar um maior
retrabalhamento, com a conseqüente diminuição do diâmetro do grão.
Praia
Aleluia
Granulometria
Estágio morfodinâmico Praial
Areia fina
Intermediário
Stella Maris
Areia média
Intermediário
Flamengo
Areia média
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Catussaba
Caveira
Areia média
Areia grossa
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Pedra do Sal
Areia grossa
Sem classificação / Zona de surfe irregular
122
Porto de Leocádio
Areia grossa
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Farol de Itapuã
Areia grossa
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Rua K
Areia média
Praia abrigada
Porto
Sereia
Areia média
Areia fina
Praia abrigada
Praia abrigada
Placafor
Areia fina
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Piatã
Jaguaribe
Areia fina
Areia fina
Intermediário
Mordomia
Areia fina
Intermediário
Areia média
Intermediário
Patamares -3ª Ponte*
Intermediário
Artistas
Areia fina
Intermediário
Aratubaia
Areia fina
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Armação
Areia média
Intermediário
Jardim dos Namorados
Areia grossa
Refletivo
Pituba
Areia média
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Amaralina
Buracão
Areia média
Areia grossa
Refletivo
Características Refletivas
Santana
Areia média
Refletivo
Paciência
Rio Vermelho
Areia média
Areia fina
Refletivo
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Bacia das Moças
Areia média
Praia abrigada
Ondina
Areia média
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Paquera
Areia média
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Salvador Praia Hotel
Areia média
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Farol da Barra
Areia média
Sem classificação / Zona de surfe irregular
Tabela XI - Correlação entre a granulometria da areia da zona de espraiamento e os estágios
morfodinâmicos das praias estudadas.
* As amostras coletadas na praia da 3ª Ponte apresentam uma forte influência de areias fluviais,
grossas, depositadas na desembocadura do Rio Jaguaribe.
XIII.8 - Relações entre a Declividade da Zona de Espraiamento e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas.
Wright & Short (1984) observaram que existe também uma boa correlação entre a
declividade média do fundo na zona de surfe e o estágio morfodinâmico praial, como já
anteriormente citado, e que está expresso na Tabela XII:
Estágio Morfodinâmico Praial
Declividade Correspondente
Dissipativo
< 1,2º
Intermediário
Refletivo
1,2º a 5,4º
> 5,4º
Tabela XII - Relação entre a declividade média do fundo na zona de surfe e o estágio morfodinâmico praial
(Wright & Short 1984).
123
De acordo com estes autores, pequenas declividades estão associadas com o
desenvolvimento de praias dissipativas, declividades mais acentuadas com praias
refletivas, e declividades intermediárias estão associadas aos quatro estágios
morfodinâmicos intermediários.
Nas praias da costa atlântica de Salvador, em que foi possível determinar o estágio
morfodinâmico praial, esta correlação, aqui no caso com a declividade da zona de
espraiamento, foi também verificada, com a única exceção da praia de Armação, que
apresenta, em segmentos localizados, discordâncias quanto às associações mencionadas
(Tabela XIII).
Praia
Aleluia
Declividade da Zona de
Espraiamento
3º
Estágio Morfodinâmico Praial
Intermediário
Stella Maris
5º
Intermediário
Jaguaribe
2º
Intermediário
Mordomia
Patamares / 3ª Ponte
4º
6º
Intermediário
Intermediário
3º
Intermediário
8º e 10º
13º
Intermediário
Refletivo
Artistas
Armação
Jardim dos Namorados
Amaralina
Buracão
Paciência
13º
Refletivo
8º
Características Refletivas
10º
Refletivo
Tabela XIII - Relação entre a declividade da zona de espraiamento e o estágio morfodinâmico das praias em
que foi possível caracterizá-lo, na área estudada.
XIII.9 - Relações entre a Altura Média de Quebra das Ondas e os Estágios
Morfodinâmicos das Praias Estudadas
Como já foi mencionado, o fato de existir um grande número de afloramentos
rochosos, submersos e emersos, dispostos irregularmente na zona de surfe das praias da
área estudada, torna difícil a classificação destas de acordo com o modelo de estágios
morfodinâmicos aqui adotado, uma vez que as ondas quebram de modo disperso dentro
desta zona, interferindo no desenvolvimento da morfodinâmica praial. Nas praias em que
este efeito não é tão grande, observa-se que existe uma tendência, de praias
caracterizadas por apresentar, em média, as ondas com as maiores alturas de quebra
(visualmente observadas -Tabela XIV), serem as do tipo Intermediário, enquanto que
aquelas outras caracterizadas por apresentar ondas com alturas de quebra menores
serem do tipo Refletivo (Tabela XIV).
124
Praia
Estágio
Morfodinâmico Praial
Stella Maris
–Aleluia
Intermediário
Freqüência Anual Média e Altura Média de Quebra das Altura Média
Ondas
Ponderada
Anual de
Leste
Sudeste
Nordeste
SulQuebra das
42%
30%
16%
Sudeste
Ondas
6%
1,0 m
1,7 m
0,7 m
2,0 m
1,2 m
Jaguaribe
Intermediário/Dissipati
vo
1,0 m
1,5 m
0,5 m
2,0 m
1,1 m
Mordomia
Intermediário
0,7 m
1,0 m
0,5 m
1,5 m
0,8 m
Patamares3ª Ponte
Intermediário
1,0 m
1,5 m
0,5 m
2,0 m
1,1 m
ArtistasCorsário
Intermediário
1,0 m
1,5 m
0,5 m
1,7 m
1,1 m
Armação
Intermediário
1,0 m
1,7 m
0,5 m
2,0 m
1,2 m
Jardim dos
Namorados
Refletivo
0,5 m
1,2 m
sem ondas
1,7 m
0,7 m
Amaralina
Refletivo
0,5 m
1,2 m
sem ondas
1,7 m
0,7 m
Paciência
Refletivo
sem ondas
0,5 m
sem ondas
1,0 m
0,2 m
Tabela XIV - Relação entre a altura média de quebra das ondas, visualmente estimadas, e o estágio
morfodinâmico das praias estudadas.
XIII.10 - Principais Fatores de Risco da Zona de Surfe na Área Estudada
Ainda que não haja dados computados pela SALVAMAR, os salva-vidas, baseados
em vários anos de experiência, creditam às correntes de retorno a responsabilidade por
cerca de 70% dos acidentes registrados, seguidas das depressões no fundo e do repuxo
e impacto das ondas, constituindo-se estes nos principais fatores de risco para o banho
na costa atlântica de Salvador.
Nesta parte da costa, como já foi citado, o clima de ondas normalmente gera
correntes longitudinais que fluem de NE para SW, com correntes de retorno em direção à
SE. As ondas de sudeste ocasionalmente invertem o fluxo das correntes longitudinais no
Setor 4 e na parte nordeste do Setor 3, quando fluem de SW para NE, retornando para
leste. As ondas de sul-sudeste quase sempre invertem o fluxo no Setor 4, na parte
nordeste do Setor 3 e ocasionalmente no Setor 2, fluindo também de SW para NE e
retornando para leste (anexos I, II, III e IV). Muitas vezes o retorno é controlado pela
presença de afloramentos rochosos, emersos e/ou submersos, que são freqüentes nas
praias de Salvador e que desviam o fluxo, geralm ente aumentando a sua velocidade, em
direção ao ponto de arrebentação (anexos I, II, III e IV). A velocidade destas correntes é
125
proporcional ao clima de ondas local, sendo mais intensas entre os meses de maio e
outubro e, como já citado, são responsáveis pela maioria dos acidentes.
Vários fatores contribuem para o elevado potencial de risco das correntes de
retorno, como a natureza pulsante do fluxo – que ora apresenta-se lento, ora bastante
rápido – a depender da altura de quebra das ondas, que pode variar em questão de
minutos, iludindo o banhista. Muitas vezes estas correntes superam a velocidade de nado
da maioria dos banhistas, transportando a vítima para longe da praia, em direção a locais
profundos, que ultrapassam sua altura. Experimentos realizados durante este trabalho,
com flutuadores, em algumas correntes de retorno bem definidas, localizadas nas praias
da Caveira e do Flamengo (Figs. 78 e 80, Anexo I), sob condições de ondas provenientes
de leste, com alturas de quebra ligeiramente superiores a 1,0 m, revelaram velocidades
máximas iguais ou superiores à velocidade máxima alcançada por um dos salva-vidas,
quando nadando dentro da zona de surfe e fora da corrente de retorno, e velocidades
médias iguais ou ligeiramente inferiores a esta mesma velocidade do salva-vidas (Tabela
XV).
Praia
Caveira
Dia
28/06/00
Hora
10:25
Direção
das Ondas
leste
T
Hb
(s)
(m)
5
1,3
1,52m
(enchendo)
1,3
0,76m
(enchendo)
Condições
da Maré
Duração
Vmáx
Vméd
(s)
(m/s)
(m/s)
300
0,8
0,6
Vmáx
SalvaVidas
0,6
Flamengo
28/06/00
08:30
leste
5
240
0,6
0,4
Tabela XV - Resultados dos experimentos feitos com flutuadores nas praias da Caveira e do Flamengo, a fim
de estimar as velocidades máximas e médias das correntes de retorno.
Outro aspecto também importante, que contribui para o elevado grau de risco das
correntes de retorno, é o fato de estas correntes geralmente escavarem um canal no seu
leito, que na maior parte das vezes ultrapassa a altura dos banhistas, e estes, ao serem
transportados costa-afora, tentam retornar para a praia nadando contra a corrente,
cansando-se e aproximando-se do afogamento.
As correntes de retorno são particularmente perigosas, além das razões
mencionadas acima, também pelo fato de, ao contrário das ondas, não serem visíveis, e,
ao fluírem por locais onde geralmente não há ondas, transmitirem uma falsa impressão de
segurança, atraindo os banhistas justamente para estes pontos. Durante um trabalho de
126
campo, na praia de Aleluia, ocorreu uma operação de salvamento, na qual o banhista, até
então seguramente posicionado sobre um pequeno banco de areia, tentou retornar para a
praia por uma trajetória afastada das ondas, por onde a corrente de retorno fluía (Fig. 83).
Em aproximadamente 3 min, o banhista foi transportado por cerca de 100 m (Fig. 83),
mas a intervenção do salva-vidas Ariobaldo Arandiba, que acompanhava o trabalho, foi
bem sucedida.
corrente de retorno
raio-de-onda
frente-de-onda
banco de areia
salva-vidas
banhista
Figura 83 - Salvamento de um banhista que abandona um banco de areia para voltar à praia e entra em uma
corrente de retorno (praia de Stella Maris, Salvador – Ba. 2000)
Na área estudada, estas correntes geralmente ocorrem nas praias intermediárias,
fluindo por entre bancos de areia, e naquelas do tipo enseada, onde, sob a ação de ondas
relativamente altas, a corrente longitudinal é barrada pelos afloramentos rochosos
limitantes, como já foi descrito, aumentando assim a velocidade da corrente e o seu
respectivo potencial de risco.
O segundo fator de risco mais importante, em número de acidentes provocados, são
as depressões existentes no fundo, próximas à face da praia, que são geralmente
produzidas durante os períodos de ondas mais elevadas, no início e meio da primavera e
durante o outono e inverno. Estas porém, quando isoladas, ou seja, na ausência de
correntes, vitimam mais as crianças, ou qualquer banhista que não possua uma boa
habilidade de nado, e também adultos alcoolizados. Este tipo de acidente ocorre
principalmente nas praias intermediárias, onde a baixa declividade do perfil de praia
permite que o banhista avance pela zona de surfe até ser surpreendido por uma destas
depressões.
O terceiro fator de risco que mais se destaca, o impacto provocado pelas ondas,
principalmente pelas mergulhantes e frontais, mais também pelas deslizantes e que
127
costuma derrubar o banhista e mantê-lo no fundo, por força da carga da massa d’água, é
o denominado “caldo”, e pode ser encontrado em qualquer tipo de praia, desde que as
condições de ondas sejam relativamente severas.
XIII.11 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e o Clima
de Ondas em Alto-Mar
A primavera e o verão apresentam taxas altas de insolação e de temperatura
atmosférica (INMET) e por isto registram uma grande afluência de banhistas para as
praias. O verão, devido ao calor ainda mais intenso e também por tratar-se de um período
de férias, atrai um número ainda maior de banhistas, o que poder-se-ía supor gerar um
número de acidentes também maior, mas não é o que acontece, uma vez que são
registrados, como já citado, 44,8% de acidentes na primavera, contra 30,5% no verão
(Fig. 43). Um dos motivos desta maior ocorrência de acidentes na primavera deve estar
relacionado à densidade de energia mais elevada, dentro da zona de surfe, gerada por
ondas maiores, que por sua vez podem gerar correntes de retorno com velocidades mais
elevadas. O clima de ondas que predomina na primavera – nos meses de setembro,
outubro e novembro - é constituído, basicamente, em média, por cerca de 45% de ondas
de leste, seguidas de 25% de nordeste, 20% de sudeste e 5% de sul-sudeste, além de
outras direções de ventos, que, por não produzirem muitos reflexos sobre a zona de surfe,
no que tange a gerar ondas, como os ventos de norte e de noroeste, não estão sendo
aqui considerados (Tabela VIII - DHN 1993). Durante o verão – nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro - o clima de ondas é constituído, em média, por 46% de ondas de leste,
28% de nordeste, 14% de sudeste e 3% de sul-sudeste, além de um pequeno percentual
dos mesmos ventos acima excluídos (Tabela VIII - DHN 1993).
Foi aqui tentada uma aproximação, ponderando-se as alturas destas ondas em altomar pelas suas respectivas freqüências durante o ano, quando verificou-se que, em
média, durante a primavera, a partir do alto-mar, são transportados potencialmente cerca
de 1.610 N/m2 de energia, que irão incidir sobre a zona de surfe, com uma altura média
de ondas de cerca de 1,13 m, enquanto que durante o verão, esta média de energia é de
cerca de 1.466 N/m2 , com uma altura média de ondas de 1,08, ou seja: potencialmente,
há quase 10% a mais de energia de ondas, em alto-mar, na primavera, do que no verão
(Tabela XVI - Fig. 84). Para este cálculo foi utilizada a fórmula:
E = gσH b2/8,
128
já anteriormente apresentada, onde E é a energia, g é a aceleração da gravidade, σ é a
densidade da água em frente às praias de Salvador, que é aproximadamente igual a
1.025 (com. verbal do Prof. Guilherme Lessa) e Hb , neste caso, é a altura das ondas
incidentes em alto-mar (US Navy 1998).
Na verdade, esta diferença de energia é ainda maior, pois não está sendo aqui
considerado os efeitos que a refração provoca, sobretudo nas ondas de leste e de
nordeste, ao reduzir bastante as suas alturas de quebra (Figs. 44 e 46), uma vez que
estas duas direções compõem cerca de 74% do clima de ondas do verão (DHN 1993),
enquanto que na primavera estas mesmas ondas perfazem um total menor, de cerca de
70% (DHN 1993).
Mês
Altura e
freqüência
média das
ondas de
leste em
alto-mar
(1m) %
Altura e
Altura e
freqüência
freqüência
média das
média das
ondas de
ondas de
nordeste em sudeste em
alto-mar
alto-mar
(1m) %
(1,5m) %
Altura e
freqüência
média das
ondas de
sul-sudeste
em alto-mar
(1,5m) %
Altura
média
ponderada
das ondas
em alto-mar
(m)
Energia
média das
ondas em
alto-mar
2
E = gσHb /8
(N/m 2 )
Dez
40
37
10
3
1,07
1.439
Jan
49
26
14
3
1,09
1.493
Fev
49
22
18
3
1,08
1.466
Mar
52
12
27
4
1,16
1.700
Abr
42
10
33
7
1,21
1.862
Mai
35
8
40
11
1,27
2.031
Jun
33
6
50
9
1,30
2.124
Jul
36
5
43
13
1,29
2.087
Ago
45
5
40
10
1,25
1.964
Set
49
14
28
7
1,18
1.750
Out
46
25
20
5
1,13
1.605
Nov
40
35
12
3
1,08
1.475
Energia
média das
ondas em
alto-mar em
cada
estação
2
(N/m )
Verão
1.466
Outono
1.864
Inverno
2.058
Primavera
1.610
Tabela XVI - Distribuição mensal e sazonal das médias ponderadas das alturas das ondas e da energia por
estas transportadas, em alto-mar, em frente à costa atlântica de Salvador
129
2.200
2.100
2.000
1.900
2
Energia (N/m)
primavera
1.800
1.750
1.700
1.605
verão
1.600
1.493
1.475
1.500
1.466
1.439
1.400
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Figura 84 - Média mensal ponderada da densidade de energia das ondas em alto-mar, em frente à
2
costa atlântica de Salvador, em N/m
XIII.12 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a Forma
Sazonal do Perfil da Zona de Surfe na Área Estudada.
Como já foi mencionado, a forma do perfil submerso de uma praia varia de acordo
com as estações do ano. A primavera costuma exibir formas intermediárias entre o perfil
plano do verão e o marcadamente ondulado do inverno (Fig. 38). Em Salvador, apesar de
não ter sido levantado estes perfis durante este trabalho, as observações visuais da face
da praia e do padrão de quebramento das ondas, além do trabalho realizado por Farias et
al (1985) na praia de Armação, levam a crer que esta mesma dinâmica aí ocorre, com a
formação de canais e bancos longitudinais e oblíquos, além de depressões circulares na
zona de surfe, o que poderia ser causado conjuntamente pela ação direta do clima de
ondas da primavera e pela herança dos altos níveis de energia do inverno.
Adicionalmente, em questionário distribuído a cerca de 20 salva-vidas da SALVAMAR, a
grande maioria destes confirmou esta interpretação. A formação dos canais longitudinais,
e, principalmente, dos oblíquos, cria condições propícias para o desenvolvimento de
correntes de retorno, além de se constituírem, junto com as depressões circulares, em
fatores de risco isolados, uma vez que a lâmina d’água sobre estes pode ultrapassar a
altura dos banhistas. Desta forma, a dinâmica do inverno e da primavera produzem
130
modificações na forma do perfil, dentro da zona de surfe, que favorecem a ocorrência de
acidentes.
XIII.13 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a
Velocidade dos Ventos Costeiros na Área Estudada.
Muitas vezes os ventos que incidem sobre a zona costeira apresentam direção e
velocidade diferentes daqueles que geram as ondas em alto-mar. Durante a primavera,
em Salvador, a velocidade média mensal registrada dos ventos costeiros, dentro do
período 1997/2000, foi de 2,1 m/s, (Tabela XVII, Fig. 85 - INMET). No verão, esta média,
estabelecida dentro do mesmo período, diminuiu para 1,8m/s, ou seja: cerca de 17%
menor (Tabela XVII, Fig. 85 - INMET). Esta maior velocidade dos ventos costeiros,
incidindo sobre a zona de surfe, na primavera, pode aumentar a altura das ondas e
consequentemente a velocidade das correntes longitudinais e de retorno, podendo
explicar, em parte, a diferença no número de acidentes ocorridos entre a primavera e o
verão (estudos mais precisos são necessários para verificar esta suposição).
Contudo, esta correlação não pode levar em consideração apenas a variação na
velocidade dos ventos costeiros, e compará-la diretamente com o número de acidentes,
uma vez que, durante os meses nos quais predominam os ventos mais intensos, abrilagosto, é verificado um baixo número de acidentes, neste caso, como se verá adiante,
devido às baixas taxas de insolação (INMET), que não estimulam a ida dos banhistas às
praias (Fig. 87). A figura 85 mostra que não é suficiente que haja apenas picos de
energia, gerados por ondas e ventos, para que o número de acidentes seja elevado, e
sim, também, uma maior freqüência de banhistas, que é motivada pela altas taxas de
insolação da primavera e do verão.
Ano
Dez
(m/s)
Jan
(m/s)
Fev
(m/s)
Mar
(m/s)
Abr
(m/s)
Mai
(m/s)
Jun
(m/s)
Jul
(m/s)
Ago
(m/s)
Set
(m/s)
Out
(m/s)
Nov
(m/s)
1997
1,9
1,5
1,5
1,5
1,4
2,3
1,3
2
2
1,8
2,1
1,9
1998
2,1
1,8
1,9
1,9
2
2
2,8
2,6
2,1
2,1
2,1
1,9
1999
1,7
2
1,6
1,9
2,1
2,1
2,1
2,3
2,8
2
2,3
2,2
2000
1,9
1,7
1,7
1,7
1,8
2
2,4
2,3
2,3
2,4
2,2
2
1,9
1,8
1,7
1,8
1,8
2,1
2,2
2,3
2,3
2,1
2,2
2,0
Média
Mensal
(m/s)
Média da
Estação
(m/s)
Verão
1,8
Outono
1,9
Inverno
2,3
Primavera
2,1
Tabela XVII - Distribuição da velocidade média mensal e sazonal dos ventos costeiros na área estudada
(INMET).
131
Média mensal do número de acidentes (1997-2000)
2 5 0
Verão 30,5%
Primavera
44,8%
2 0 0
acidentes
1 5 0
1 0 0
50
0
D E Z
J A N
F E V
M A R
A B R
M A I
J U N
J U L
A G O
S E T
O U T
N O V
O U T
N O V
Velocidade média mensal dos ventos costeiros (1997-2000)
2,40
inverno
2,30
2,20
velocidade (m/s)
2,10
2,00
1,90
1,80
1,70
1,60
D E Z
J A N
F E V
M A R
A B R
M A I
J U N
JUL
A G O
S E T
Médias mensais da densidade de energia das ondas em alto-mar , em frente à costa
atlântica de Salvador
2.200
inverno
2.100
2.000
Energia (N/m 2)
1.900
1.800
1.700
1.600
1.500
1.400
Dez
Jan
F e v
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Figura 85 - Comparação entre a média mensal de acidentes, registrados entre 1997 e 2000 (linha
vermelha), a velocidade média mensal dos ventos costeiros, em m/s, registrada entre 1997 e 2000 (linha
2
verde) e a média ponderada mensal do nível de energia das ondas incidentes de alto-mar, em N/m (linha
azul)
132
XIII.14 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e a
Dinâmica das Marés na Área Estudada.
Como já foi mencionado nos ítens VII.3 e VIII, as correntes de retorno, a depender
também da geomorfologia local, podem ser aceleradas durante o período de vazante da
maré, com incrementos entre 33% e 48%, nos casos avaliados por Short & Hogan (1994).
Nas praias de Salvador, embora não tenha sido feito nenhum experimento nesse sentido,
o testemunho dos salva-vidas, baseado na vivência do dia-a-dia, leva a crer que este
efeito também aí se observa. Durante a primavera, no período compreendido entre 1994 e
2000, a amplitude média das marés, em comparação com o verão, foi cerca de 8% maior
(WXTide32), o que, naturalmente, amplia os seus efeitos, incluindo aí, possivelmente, a
aceleração das correntes de retorno.
Outro efeito induzido pela dinâmica das marés e que pode produzir reflexos sobre a
segurança da praia é a variação que é gerada no tamanho da área intermareal. Durante a
preamar, sobretudo em marés de sizígia, a área seca da praia - onde os banhistas se
concentram - fica reduzida, fazendo com que os mesmos, eventualmente, numa praia
com características intermediárias, por exemplo, entrem na zona de surfe, expondo-se
aos diversos fatores de risco, como as correntes, o repuxo e o quebramento das ondas,
sendo que este último fator ocorre sobretudo nas praias refletivas.
Ainda durante a preamar, o simples aumento da lâmina d’água constitue-se em
mais um fator de risco, sobretudo para aqueles banhistas que não apresentam uma boa
habilidade de nado, pelo fato de que, ao penetrarem na água, poderem ser mais
facilmente encobertos.
Este aumento da profundidade irá dificultar também a visualização dos canais
submersos que encontram-se situados mais próximos à face da praia, por onde as
correntes também fluem, fato este que pode ser verificado com freqüência nas praias de
Jaguaribe, Stella Maris e Aleluia (Fig. 86). Neste sentido, a dinâmica das marés pode
influenciar de várias maneiras na ocorrência de acidentes.
133
praia
preamar
banco interno
canal interno
canal externo
banco externo
baixamar
Figura 86 - Modelo esquemático de fator de risco induzido pela preamar, onde o canal e o banco internos
ficam submersos, dificultando a sua visualização por parte dos banhistas (praia de Jaguaribe, Salvador-Ba.).
XIII.15 - Relações entre a Concentração de Acidentes na Primavera e as Taxas
de Insolação na Área Estudada
As altas taxas de insolação que são verificadas durante a primavera, as maiores do
ano (Tabela XVIII, Fig. 87), induzem a ida de milhares de pessoas às praias e
consequentemente contribuem para a ocorrência de acidentes, mas não justificam o fato
de ser esta estação a que detém o maior número de acidentes registrados, cerca de
44,8% do total (Tabela III), uma vez que a freqüência de banhistas durante o verão,
resultante de ser um período tradicionalmente de férias, é ainda mais elevada, e que a
diferença de insolação, entre a primavera e o verão, é de cerca de apenas 3% (Tabela
XVIII), além do que, a ocorrência de acidentes depende também da existência, da
natureza e da intensidade dos fatores de risco. Neste sentido, não há, assim, influência a
maior, na primavera, da quantidade de insolação que possa justificar o fato do número de
acidentes ser mais elevado nesta estação do que no verão.
1997
Dez
(hs)
215
Jan
(hs)
230
Fev
(hs)
155
Mar
(hs)
150
Abr
(hs)
180
Mai
(hs)
150
Jun
(hs)
155
Jul
(hs)
165
Ago
(hs)
200
Set
(hs)
235
Out
(hs)
240
Nov
(hs)
245
1998
235
245
225
270
230
175
120
165
215
247
267
200
1999
204
271
205
243
198
145
152
185
175
218
192
175
2000
193
234
215
235
160
163
145
175
161
192
273
222
245,0
200,0
224,5
192,0
158,3
143,0
172,5
187,8
223,0
243,0
210,5
Ano
Média
211,8
Mensal
Média da
Estação
Verão
218,9
Outono
191,6
Inverno
167,8
Primavera
225,5
Tabela XVIII - Distribuição da insolação média mensal e sazonal, em horas/sol, na área estudada (INMET).
134
Horas de Sol
250
225
200
175
150
125
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
JAN
DEZ
300
Acidentes
250
200
150
100
50
0
JAN
DEZ
Figura 87 - O gráfico de cima mostra a média mensal de insolação, registrada entre 1995 e 2000 (INMET). O
gráfico de baixo mostra as médias mensais de acidentes, registrados entre 1994 e 2000. Observa-se que as
curvas têm comportamentos bastante semelhanteses.
XIII.16 - Relações entre a Altura Média das Ondas e a Ocorrência de Acidentes,
ao Longo do Ano e da Linha de Costa na Área Estudada
A distribuição, ao longo de cada um dos setores da linha de costa, da altura média
das ondas (Tabela XIX), extraídas dos diagramas de refração de ondas (Figs. 44, 45, 46 e
47), na isóbata de 5 m, e ponderadas pela suas freqüências médias anuais de ocorrência
(Tab. I), quando comparadas com a distribuição, também ao longo dos mesmos setores
da linha de costa, das médias anuais de acidentes (Tabela VII), mostra que não há uma
relação uniforme entre os setores da linha de costa que exibem as maiores alturas médias
de ondas e os que detêm os números mais elevados de acidentes (Fig. 88).
Nota: para esta comparação foram excluídos os seguintes dados: 1) as ondas de SSE e os
registros de acidentes referentes ao inverno, que correspondem a um período de muita chuva e
relativo frio, com a conseqüente baixa afluência de banhistas; 2) a parte interna do Setor 3 que
praticamente nã o apresenta ondas durante todo o ano. Neste sentido, a comparação aqui
realizada corresponde ao clima de ondas que predomina durante cerca de 88% do ano,
correspondendo principalmente ao período compreendido entre a primavera e o outono.
135
A relação entre a altura média das ondas e a ocorrência de acidentes, registrados
em cada setor, é diretamente proporcional dentro dos Setores 1 e 2, os quais, durante a
primavera e o verão, apresentam alturas médias de ondas de 0,3 m e 0,7m,
respectivamente. A partir desta altura de 0,7m, a relação torna-se inversa, com o número
de acidentes decrescendo, a despeito do aumento da energia (Fig. 88).
Altura média das
ondas de N 90º
Altura média das
ondas de N 135º
Altura média das
ondas de N 45º
Freqüência média
anual (42%)
Freqüência média
anual (30%)
Freqüência média
anual (16%)
1
0,2 m
0,5 m
0,0 m
0,3 m
2
0,6 m
1,0 m
0,2 m
0,7 m
3 (parte
externa)
0,7 m
1,3 m
0,5 m
0,9 m
4
1,3 m
1,3 m
0,7 m
1,2 m
Setor
Altura média anual das
ondas na isóbata de 5 m
(ponderada pelas
freqüências)
Tabela XIX - Altura média das ondas, entre a primavera e o outono, em cada setor, extraídas dos diagramas
de refração de ondas, na isóbata de 5 m.
136
1
0,8
(m)
Altura Média das Ondas na Isóbata de 5 m
1,2
0,6
0,4
0,2
1
2
3
4
Setores da Costa Atlântica
80
Percentual Médio de Acidentes
70
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
Setores da Costa Atlântica
Figura 88 - Comparação entre a altura média anual das ondas de leste, sudeste e nordeste, em cada setor
da linha de costa, extraídas dos diagramas de refração de ondas, na isóbata de 5 m (gráfico de cima, em azul)
e a média anual de acidentes, verificada em cada um dos setores da linha de costa estudada (gráfico de
baixo, em vermelho). As setas marcam o início de divergência do andamento das duas curvas, que acontece
a partir da altura de onda de 0,7 m.
Da mesma forma, a distribuição da altura média de quebra das ondas, também
ponderadas pelas suas freqüências médias anuais de ocorrência (Tabela I), em cada um
dos setores da linha de costa, visualmente obtidas a partir das estimativas realizadas em
cada praia, durante o ano, excluindo o inverno (Tabela XX), quando comparadas à
distribuição média anual dos acidentes, em cada um dos setores, mostra que a mesma
tendência acima descrita se repete (Fig. 89), ou seja: que quase nunca os níveis mais
altos de energia, produzidos pela quebra de ondas superiores a 0,8 m de altura, estão
diretamente relacionados à ocorrência de acidentes.
137
Altura média de
quebra das ondas
de N 90º
Altura média de
quebra das ondas
de N 135º
Altura média de
quebra das ondas
de N 45º
Freqüência média
anual (42%)
Freqüência média
anual (30%)
Freqüência média
anual (16%)
1
0,2 m
0,5 m
0m
0,4 m
2
0,6 m
1,0 m
0,2 m
0,8 m
3 (parte
externa)
0,7 m
1,3 m
0,5 m
1,1 m
4
1,3 m
1,3 m
0,7 m
1,2 m
Setor
Altura média anual de
quebra das ondas
(ponderada pelas
freqüências)
Tabela XX - Altura média de quebra das ondas, entre a primavera e o outono, em cada setor da linha de
costa estudada (visualmente estimadas).
Altura Média de Quebra das Ondas
1,3
1,2
1,1
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
1
2
3
4
Setores da Costa Atlântica
80
Percentual Médio de Acidentes
70
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
Setores da Costa Atlântica
Figura 89 - Comparação entre a altura média de quebra das ondas de leste, sudeste e nordeste, visualmente
estimadas em cada setor, entre a primavera e o outono (gráfico de cima, em azul), e a média anual de
acidentes, verificados em cada um dos setores da linha de costa estudada (gráfico de baixo, em vermelho).
As setas marcam o início de divergência no andamento das duas curvas, que acontece a partir da altura de
quebra de ondas de 0,8 m.
138
O resultado destas duas comparações sugere que, a partir de uma determinada
altura média de ondas, que aparente e aproximadamente é de 0,7 m, na isóbata de 5 m,
antes de quebrar, ou de 0,8 m, durante a quebra, o banhista pode começar a se sentir
intimidado em entrar na zona de surfe, diminuindo assim a quantidade de acidentes. Por
outro lado, praias abrigadas, que praticamente não apresentam ondas durante todo o ano,
registram, obviamente, números muito baixos de acidentes, e estes, quando ocorrem,
estão relacionados à banhistas que não possuem muita habilidade de nado, quase
sempre crianças, que se deslocam sozinhas para áreas nas quais a profundidade da água
é superior às suas alturas, ou à adultos alcoolizados. Excluindo-se estes dois tipos de
acidentes, verifica-se então que parece existir uma faixa de energia, na zona de surfe, na
qual os acidentes ocorrem, e, mais notadamente, dentro da qual estes variam de forma
diretamente proporcional. Nas praias da costa atlântica de Salvador, parece que esta
faixa de energia inicia-se um pouco acima do zero, ou seja: é necessário que existam pelo
menos ondas, para, mesmo que pequenas (< 0,5m), venham a gerar correntes e
remobilizar o sedimento do fundo, criando desta forma os fatores de risco, e o limite
superior desta faixa de energia, corresponde a, aproximadamente, uma altura de quebra
entre 0,5 e 1,0 m, visualmente estimada entre a primavera e o outono.
XIII.17 - Relações entre as Condições de Balneabilidade das Praias e a
Ocorrência de Acidentes na Área Estudada
Algumas praias, apesar de apresentarem fatores de risco elevados, apresentam
baixos índices de acidentes, devido à alta taxa de poluição orgânica, causada por rios,
esgotos sanitários e rede pluvial, que, visível à maior parte da população, reduz a
freqüência de banhistas, diminuindo assim o número de acidentes. Porém, uma vez
eliminados estes agentes poluentes, a possibilidade de ocorrerem acidentes tenderá a se
elevar. Praias extensas, com muito espaço físico, como Armação e 3ª Ponte (Anexo I),
por exemplo, deveriam atrair uma quantidade muito maior de banhistas, e, por
apresentarem fatores de risco elevados, deveriam gerar números maiores de acidentes,
mas os altos índices de coliformes fecais encontrados em suas águas (Tabela XXI - CRA
2000), reduzem sobremaneira a afluência de banhistas e consequentemente a ocorrência
de acidentes. A praia do Jardim dos Namorados (Anexo I), localizada em uma área
bastante populosa mas com águas extremamente poluídas, também registra a mesma
tendência, de baixa freqüência de banhistas acompanhada de poucos acidentes (Tabela
XXI).
139
1997
Praia
Farol da
Barra
Ondina
Rio Vermelho
Sant'ana
1998
1999
2000
Média
Própria Imprópria Própria Imprópria Própria Imprópria Própria Imprópria Própria Imprópria
56
44
86
14
100
0
95
5
84%
16%
41
59
72
28
79
21
81
19
68%
32%
23
77
47
53
52
48
76
24
50%
50%
2
98
6
94
3
97
24
76
9%
91%
Amaralina
51
49
83
17
83
17
89
11
77%
23%
Pituba
33
67
78
22
45
55
86
14
61%
39%
0
100
0
100
0
100
0
100
0%
100%
41
59
33
67
14
86
86
14
44%
56%
Armação
Norte
18
82
6
94
7
93
32
68
16%
84%
Artistas
69
31
56
44
41
59
92
8
65%
35%
3ª Ponte
28
72
11
89
10
90
11
89
15%
85%
77
23
86
14
100
0
97
3
90%
10%
64
36
75
25
83
17
89
11
78%
22%
5
95
0
100
4
96
8
92
4%
96%
67
33
75
25
46
54
92
8
70%
30%
97
3
100
0
100
0
97
3
99%
1%
Jardim dos
Namorados
Armação Sul
Jaguaribe /
Piatã
Placafor
Sereia
Farol de
Itapuã
Stella Maris /
Aleluia
Tabela XXI - Condições de balneabilidade das praias monitoradas pelo Centro de Recursos Ambientais
(CRA) na área estudada, entre os anos de 1997 e 2000 (em percentagem - CRA 2000)
A análise da figura 90 mostra, para as praias que são monitoradas pelo Centro de
Recursos Ambientais (CRA), que as curvas de balneabilidade e de acidentes mantêm
aproximadamente uma mesma tendência, com exceção das praias de Amaralina e Pituba.
140
100%
acidentes e balneabilidade médios
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Stella Maris/Aleluia
F.Itapoã
Sereia
Placafor
Piatã
Jaguaribe
3ª Ponte
Corsário*
Artistas
Armação
Jd.Namorados
Pituba
Amaralina
Sant'ana
Rio Vermelho
Ondina
Farol da Barra
Figura 90 - Comparação entre as condições de balneabilidade das praias monitoradas pelo Centro de
Recursos Ambientais (CRA), entre os anos de 1997 e 2000 (linha azul) e a ocorrência anual média de
acidentes verificados nestas mesmas praias, neste mesmo período (linha vermelha)
XIII.18 - Relações entre as Condições de Acesso às Praias e a Ocorrência de
Acidentes na Área Estudada
As condições de acesso a uma determinada praia influenciam diretamente nas
taxas de freqüência à mesma e por conseguinte, no eventual número de acidentes.
Quanto mais facilitado for o acesso, maior será a possibilidade de afluência de banhistas
e, dessa forma, maiores as possibilidades de ocorrerem acidentes. Porém, existe um fator
limitante, que é o potencial de risco de cada praia, o qual é composto unicamente pelos
fatores de risco aí existentes. Praias bastante seguras, como as das Ruas K e E (Anexo
I), por exemplo, anteriormente citadas, continuarão a apresentar baixos índices de
acidentes, mesmo que a freqüência de banhistas seja bastante elevada. Por outro lado,
praias que apresentam vários, ou mesmo poucos fatores de risco, mas de graus
elevados, como fortes correntes de retorno, relevo muito ondulado na zona de surfe, forte
repuxo das ondas, etc, apresentarão índices de acidentes que crescerão de maneira
rápida e proporcional ao aumento na freqüência de banhistas.
De acordo com a metodologia aqui adotada para determinar e classificar as
condições de acesso às praias da costa atlântica de Salvador (Tabela II), as praias em
questão foram classificadas em graus que variam de 1 a 4, correspondendo
respectivamente a acessos considerados como ruins, regulares, bons e muito bons, como
mostra a Tabela XXII.
141
Praia
Condição de Acesso
3 (Bom)
Stella Maris-Aleluia
Flamengo
2 (Regular)
Catussaba
2 (Regular)
Caveira
2 (Regular)
Pedra do Sal
2 (Regular)
Porto de Leocádio
2 (Regular)
Farol de Itapuã
2 (Regular)
Rua K
2 (Regular)
Rua E
2 (Regular)
Porto
2 (Regular)
3 (Bom)
Placafor /Sereia
Piatã
4 (Muito Bom)
Jaguaribe
4 (Muito Bom)
Mordomia
4 (Muito Bom)
Patamares -3º Ponte
3 (Bom)
Artistas-Corsário
3 (Bom)
Aratubaia
3 (Bom)
Armação
3 (Bom)
2 (Regular)
Jardim dos Namorados
Pituba
4 (Muito Bom)
Amaralina
3 (Bom)
Buracão
1 (Ruim)
Sant’ana
2 (Regular)
Paciência
2 (Regular)
Rio Vermelho
2 (Regular)
Bacia das Moças
2 (Regular)
Ondina
3 (Bom)
Paquera
3 (Bom)
Salvador Praia Hotel
1 (Ruim)
Farol da Barra
3 (Bom)
Tabela XXII - Ranqueamento das condições de acesso às praias estudadas (para entendimento dos índices
ver Tabela II)
A análise da figura 91, onde estão representadas as condições de acesso às praias
da costa atlântica de Salvador e suas respectivas médias anuais de acidentes, mostra
que há uma razoável semelhança entre estas duas curvas.
142
0
1
0,5
Farol da Barra
Corsário
Armação
Jardim dos Namorados
Pituba
Amaralina
Buracão
Santana
Rio Vermelho
Ondina
Salvador Praia Hotel
143
Piatã
Placafor
Sereia
Farol de Itapoã
Camping
Pedra do Sal
Flamengo
Stella Maris
Aleluia
Piatã
Placafor
Sereia
Farol de Itapoã
Camping
Pedra do Sal
Flamengo
Stella Maris
Aleluia
Jaguaribe
1,5
Patamares/3ª Ponte
2
Jaguaribe
2,5
Patamares/3ª Ponte
3
Artistas
3,5
Artistas
4
Pituaçú
4,5
Pituaçú
Corsário
Armação
Jardim dos Namorados
Pituba
Amaralina
Buracão
Santana
Rio Vermelho
Ondina
Salvador Praia Hotel
0,0
Farol da Barra
Condições de Acesso
Percentual de Acidentes
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
Figura 91 - A linha vermelha mostra as médias anuais de acidentes, verificados em cada uma das praias,
dentro do período 1997-2000. A linha azul mostra as condições de acesso às praias estudadas, quantificadas
de acordo com os critérios apresentados na Tabela II.
XIII.19 - Fatores Relacionados à Concentração de Acidentes nas Praias do
Estágio Morfodinâmico Intermediário na Área Estudada
Comparando-se o número de acidentes registrados em cada praia com o seu
respectivo estágio morfodinâmico, verifica-se que existe uma concentração de acidentes
em praias do tipo Intermediário. Embora estas representem, cerca de 56% da extensão
total da costa atlântica (Tabela X), concentram um número ainda maior de acidentes, com
cerca de 77% dos registros, em média (Tabela XXIII e Fig. 92).
Praia
Estágio Morfodinâmico Praial
PercentualMédio de Acidentes
Intermediário
Intermediário
1,8%
4,2%
Flamengo
não se enquadra no modelo
3,8%
Catussaba
não se enquadra no modelo
0,8%
Caveira
não se enquadra no modelo
sem registros
Pedra do Sal
não se enquadra no modelo
1,1%
Porto de Leocádio
não se enquadra no modelo
sem registros
Farol de Itapuã
não se enquadra no modelo
5,1%
Rua K
não se enquadra no modelo
sem registros
Rua E
Porto
não se enquadra no modelo
não se enquadra no modelo
sem registros
sem registros
Placafor /Sereia
não se enquadra no modelo
0,6%
Piatã
Jaguaribe
Intermediário
Intermediário
22,5%
32,4%
Mordomia
Intermediário
sem registros
Patamares/3º Ponte
Intermediário
3,0%
Artistas/Corsário
Intermediário
6,7%
Aratubaia
não se enquadra no modelo
sem registros
Armação
Intermediário
6,6%
Aleluia
Stella Maris
Jardim dos Namorados
Refletiva
sem registros
não se enquadra no modelo
0,3%
Amaralina
Buracão
Refletiva
abrigada c/ característica refletivas
0,4%
sem registros
Sant’ana
abrigada c/ característica refletivas
sem registros
Paciência
Rio Vermelho
abrigada c/ característica refletivas
não s e enquadra no modelo
sem registros
0,1%
abrigada
sem registros
Pituba
Bacia das Moças
Ondina
não se enquadra no modelo
4,8%
Paquera
não se enquadra no modelo
sem registros
abrigada c/ característica refletivas
sem registros
não se enquadra no modelo
5,8%
Salvador Praia Hotel
Farol da Barra
Tabela XXIII - Relação entre as características morfodinâmicas das praias estudadas e as médias anuais de
acidentes, registrados no período 1997-2000 (SALVAMAR)
144
90%
80%
70%
60%
50%
%
Estágio Morfodinâmico
das Praias
40%
Média Anual dos
Acidentes
30%
20%
10%
0%
Intermediárias
não se enquadram
no modelo
Refletivas
Dissipativas
Estágios Morfodinâmicos de Praias
Figura 92 - Comparação entre as características morfodinâm icas das praias estudadas e a ocorrência
de acidentes. A linha azul mostra o percentual dos estágios morfodinâmicos praiais em relação à extensão
total das praias estudadas. A linha vermelha mostra a respectiva distribuição relativa dos acidentes,
registrados entre 1997 e 2000 (SALVAMAR).
Vários fatores podem contribuir para gerar esta concentração. Evidentemente, para
que aconteçam acidentes em números expressivos é necessário não somente que
existam fatores de risco para o banho nas praias, mas, também, que haja uma grande
afluência de banhistas. Do ponto de vista atrativo, as praias do tipo Intermediário
congregam determinados aspectos físicos que contribuem para serem freqüentadas por
um grande número de banhistas. A baixa declividade da face da praia, por exemplo
(Tabela XIII), propicia a formação de uma larga zona de espraiamento, criando um espaço
físico suficientemente grande para acomodar um grande número de pessoas. Tambem a
granulometria típica do sedimento - entre fina e média (Tabela XI) – por sua vez, favorece
a formação de um piso plano e bem compactado, que tornam o ato de caminhar mais
agradável, facilitando a prática de esportes e atraindo, por conseguinte, um grande
número de freqüentadores.
Por outro lado, determinadas características geomorfológicas e hidrodinâmicas,
inerentes ao estágio morfodinâmico Intermediário, favorecem a ocorrência de acidentes,
como a forma marcadamente ondulada do perfil submerso – tanto no sentido longitudinal
quanto no transversal - com bancos e canais de grande mobilidade temporal, criam um
145
ambiente instável e perigoso, tanto pelo desenvolvimento de correntes longitudinais e de
retorno quanto pelo aparecimento repentino, para os banhistas, de locais mais profundos
que podem ultrapassar as suas alturas. A corrente de retorno, que é o principal fator de
risco de uma praia, e que é característica deste estágio morfodinâmico, costuma localizarse em áreas embaiadas, formadas entre bancos de areia, onde, devido à maior
profundidade, e à circulação da própria corrente, as ondas geralmente não se
desenvolvem em altura, criando uma zona relativamente calma e pseudo-abrigada, por
onde o banhista geralmente é tentado a entrar, expondo-se ao risco da corrente de
retorno.
Outro fator que contribui para a ocorrência de acidentes, embora aparentemente
paradoxal, é a baixa declividade do perfil da zona de surfe, que é mais uma característica
deste tipo de praia (Tabela XIII) e que permite ao banhista penetrar bastante na zona de
surfe, expondo-se aos fatores de riscos, ao mes mo tempo em que, o tipo de onda que
normalmente se desenvolve sobre estes fundos de baixa declividade, que é o Deslizante,
não assusta o banhista, pelo fato de não causar grandes impactos, uma vez que vem se
dissipando progressivamente pela zona de surfe, mas que, de qualquer maneira, gera
correntes longitudinais e de retorno. Embora não tenha sido feita nenhuma medida da
declividade da zona de surfe durante a realização do presente trabalho, está-se aqui
assumindo, e as observações realizadas a partir do padrão de quebramento das ondas
confirma, que tal declividade corresponde, aproximadamente, à declividade da zona de
espraiamento, esta sim medida durante este trabalho e que demonstrou apresentar uma
boa correlação com os estágios morfodinâmicos praiais, como já foi mencionado.
XIII.20 - Fatores Geológicos de Grande Escala e suas Relações com a
Ocorrência de Acidentes na Área Estudada
Ao analisar-se a direção e a natureza geológica de cada um dos setores da linha da
costa atlântica de Salvador, observa-se que a influência legada pela tectônica do
Mesozóico resultou em proteger, em especial, o Setor 1 e parte do Setor 3 (a enseada de
Itapuã), da ação direta das ondas de leste e de nordeste (Figs. 44 e 46, respectivamente),
que, ocorrendo somadas durante cerca de 58% do ano (Tabela I), geram uma boa parte
da energia e dos fatores de risco associados, dentro da zona de surfe. Esta proteção faz
com estes dois setores registrem, comparativamente aos demais, baixos índices de
acidentes (Fig. 93). Além disto, o grande número de afloramentos de rochas
146
precambrianas cristalinas, que no mais das vezes formam promontórios, favorece a
formação de praias curtas e embaiadas, do tipo enseada, nas quais, pelas suas
dimensões, não é possível acomodar um número muito grande de banhistas, o que acaba
por influenciar, também, na ocorrência de acidentes.
Número de acidentes registrados por kilômetro linear, durante 1997-2000
400
350
300
250
200
150
100
50
0
Setor 1
Setor 2
Setor 3
Setor 4
Figura 93 - Distribuição do número de acidentes por quilômetro linear, verificados em cada um dos quatro
setores da área estudada, durante o período 1997-2000.
XIII.21 - Grau de Risco Potencial das Praias Estudadas (GRPo)
O Grau de Risco Potencial, aqui denominado de GRPo, é um conceito inédito,
proposto neste trabalho, que procura avaliar semi-quantitativamente o risco potencial
modal de cada praia para o banho, englobando para tanto os diversos fatores ambientais
que ocorrem em cada uma das praias e que têm relação direta com o risco do banho de
mar, como a existência e a intensidade das correntes de retorno, a existência de
depressões, o impacto e o repuxo das ondas, a altura de quebra das ondas e a
dificuldade das operações de salvamento. Por risco potencial modal, deve-se entender
que é o risco inerente, intrínseco a cada uma das praias estudadas, independentemente
dos números de acidentes que são aí registrados, e que representam uma condição de
147
risco que geralmente é encontrada durante quase todo o ano, especialmente durante os
períodos da primavera, verão e parte do outono, que são os períodos com a maior
freqüência de banhistas às praias, condição de risco esta gerada pelas ondas de sudeste,
leste e nordeste que juntas representam cerca de 88% da distribuição das ondas ao longo
do ano (Tabela I). Pelo fato de não terem sido quantificados os fatores aqui considerados
em relação a esse assunto, tal aproximação encerra, portanto, um certo grau de
subjetividade, estando apoiada fundamentalmente em dois aspectos, que são: o grau do
fator de risco principal da praia, e o grau de dificuldade da operação de salvamento.
Neste trabalho, como já mencionado anteriormente, a existência e os tipos de
fatores de risco com suas respectivas intensidades, identificados nas praias, foram
determinados através de seguidas observações visuais feitas in loco; através de
experimentos realizados com flutuadores; através da análise visual das ondas na zona de
surfe; do exame dos diagramas de refração de ondas e também pelo depoimento dos
salva-vidas. Os fatores de risco identificados em cada uma das praias estudadas estão
descritos no ítem XIII.6 e apresentados resumidamente na Tabela XXIV, a seguir. Nas
praias em que existem correntes de retorno com velocidades estimadas tanto como fortes
quanto como fracas, a depender da altura das ondas, como na praia de Jaguaribe, por
exemplo, para efeito de utilização desta tabela foi considerada corrente forte, por encerrar
um risco maior.
Hb (m)
Praia
Fatores de Risco
E
SE
NE
Stella Maris Aleluia
1,0
1,5-2,0
0,5
Flamengo
1,0
1,5
< 0,5
Catussaba
1,0
1,5
0,5
Caveira
1,0
1,5-2,0
0,5
Pedra do Sal
1,0
1,5-2,0
0,5
1,0
1,5-2,0
0
1,0
1,5-2,0
0
Rua K
0
0
0
Rua E
Porto
Sereia
0
0
0
< 0,5
0
0,5
0
0
0
Porto de
Leocádio
Farol de
Itapuã
Principal
Outros
Fortes correntes de
retorno
Forte corrente de
retorno
Fortes correntes de
retorno
Forte corrente de
retorno
Forte corrente de
retorno
Forte corrente de
retorno
Forte corrente de
retorno
Corrente com
intensidade fraca
Depressões
Canais longitudinais
profundos; depressões
148
Repuxo
Repuxo
Repuxo
Repuxo
Repuxo
Repuxo
Afloramentos
rochosos que
podem dificultar
o resgate
Submersos
Emersos e
submersos
Emersos e
submersos
Emersos e
submersos
Emersos e
submersos
Emersos e
submersos
Emersos e
submersos
-
Submersos
Fracas correntes de
Emersos e
Placafor
Piatã
Jaguaribe
< 0,5
1,0
0
Depressões
0
0,5-1,0
0
Depressões
0,5
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
0,5-1,0
1,5
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Forte corrente de
retorno
Fortes correntes de
retorno
Mordomia
0,5-1,0
1,0
0,5
Patamares-3ª
Ponte
0,5-1,0
1,5
0,5
ArtistasCorsário
0,5-1,0
1,0
0,5
Aratubaia
0,5-1,0
1,0
0,5
Armação
0,5-1,0
1,5
0,5
Jardim dos
Namorados
0,5
1,0-1,5
0
Repuxo
Pituba
0,5
0,5-1,0
0
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Amaralina
0,5
1,0-1,5
0
Repuxo
Buracão
0,5
1,0
0
Repuxo
Sant’ana
0
< 0,5
0
< 0,5
0,5
0
0
< 0,5
0
Ondina
0,5
1,5
0
Paquera
0
0,5
0
Salvador
0
0,5-1,0
0
Rio Vermelho
Bacia das
Moças
Fracas correntes
de retorno
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Fracas correntes
de retorno
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Correntes de
retorno com
intensidade forte e
fraca
Forte corrente de
149
retorno
Fracas correntes de
retorno
Fracas correntes de
retorno
submersos
Emersos e
submersos
-
Canais longitudinais e
oblíquos profundos;
depressões
-
Depressões
Emersos e
submersos
Correntes induzidas
pelo Rio Jaguaribe;
depressões
-
Depressões
Submersos
-
-
Canais longitudinais
profundos; repuxo
Impacto das ondas
frontais; corrente de
retorno com forte
intensidade
Depressões
Impacto das ondas
frontais; correntes de
retorno com forte
intensidade
Impacto das ondas
frontais; corrente de
retorno com forte
intensidade
Submersos
-
Emersos e
submersos
-
-
-
-
Depressões
Emersos e
submersos
-
-
Repuxo
Emersos e
submersos
Impacto das ondas;
repuxo
Emersos e
submersos
Impacto das ondas
Emersos
Praia Hotel
Farol da
Barra
0,5
1,0
0
retorno
Corrente de
retorno com forte
intensidade
frontais; repuxo
Impacto das ondas
frontais; depressões
Emersos e
submers os
Tabela XXIV - Principais fatores de risco, suas intensidades, elementos que podem dificultar as operações
de salvamento e altura média de quebra das ondas de leste, sudeste e nordeste, visualmente estimadas, em
cada uma das praias estudadas.
Quanto ao grau do fator de risco principal, este foi estabelecido através da
observação visual da geomorfologia e da hidrodinâmica da zona de surfe de cada uma
das praias estudadas; através de experimentos realizados com flutuadores; através da
análise das condições de ondas na zona de surfe e a partir do depoimento dos salvavidas. Foram então estabelecidos, baseando-se na análise individual feita para cada uma
das praias, dois níveis de risco, classificados como sendo do tipo BAIXO (grau 1) e ALTO
(grau 3) que estão apresentados na Tabela XXV, a seguir, e que representam a provável
dificuldade que o banhista tem em superar o fator de risco principal encontrado em uma
determinada praia.
a) Grau do Fator de Risco
Principal
b) Gau de Dificuldade da
Operação de Salvamento
c) Grau de Risco Potencial =
a) x b)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
BAIXO (1)
MÉDIO (2)
BAIXO (2)
BAIXO (1)
ALTO (3)
MÉDIO (3)
ALTO (3)
BAIXO (1)
MÉDIO (3)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
Tabela XXV - Determinação do Grau de Risco Potencial (GRPo) de uma praia.
Assim, por exemplo, o grau do fator de risco principal das praias do Farol de Itapuã,
Porto de Leocádio, Pedra do Sal, Caveira e Flamengo, que representam a totalidade da
parte externa do Setor 3 (Anexo I), foi considerado como sendo ALTO (Tabela XXVI),
devido à alta velocidade do fator de risco principal, no caso as correntes de retorno que aí
se desenvolvem. Já as praias de Aleluia, Stella Maris e Jaguaribe, apesar de não
apresentarem correntes de retorno com velocidades tão elevadas, apresentam também
um grau de risco ALTO para estas correntes (Tabela XXVI), uma vez que o caráter
150
migratório destas, resultante do deslocamento dos bancos de areia e dos canais,
surpreende constantemente os banhistas. Já as praias da Sereia e Placafor apresentam
graus do tipo BAIXO (Tabela XXVI) pelo fato de os principais fatores de risco aí existentes
tratarem-se de depressões formadas no sedimento que não apresentam o mesmo
potencial de risco das correntes de retorno. A determinação do grau do fator de risco
principal de cada uma das praias está apoiada nas descrições apresentadas no ítem
XIII.6 e apresentados resumidamente na tabela XXVI, a seguir.
Quanto ao grau de dificuldade da operação de salvamento, este representa o
somatório de todas as dificuldades que o salva-vidas encontra para resgatar a vítima
dentro da zona de surfe, como por exemplo, a extensão do deslocamento que ele será
obrigado a cumprir, o tipo e a altura de quebra das ondas, a força do repuxo das ondas, a
profundidade da lâmina d’água, a existência de rochas, muitas vezes incrustadas por
carapaças de moluscos ou por ouriços que podem dificultar a saída do salva-vidas com o
resgatado, etc. O grau de dificuldade da operação de salvamento foi então estabelecido
através da análise da geomorfologia e das condições hidrodinâmicas da zona de surfe,
sendo posteriormente discutido com os próprios salva-vidas. A partir desta discussão
foram estabelecidos três níveis de dificuldade, classificados como sendo do tipo BAIXO
(nível 1), que não apresenta praticamente alguma destas dificuldades, MÉDIO (nível 2)
que apresenta algumas destas e ALTO (nível 3), que congrega todas as dificuldades
acima descritas (Tabela XXVI). Assim, por exemplo, a praia de Piatã (Anexo I) foi
considerada como sendo de BAIXO grau de dificuldade (Tabela XXVI) porque os resgates
são feitos muito próximos à face da praia e sob condições hidrodinâmicas bastante
amenas, uma vez que o fator de risco principal é representado pela existência de
depressões no sedimento e não pela ação de correntes de retorno (Tabela XXIV). Já a
praia de Jaguaribe (Anexo I) foi considerada como de MÉDIO grau de dificuldade porque
as correntes de retorno, que são os principais fatores de risco desta praia (Tabela XXIV),
normalmente não apresentam velocidades das mais elevadas,quando comparadas com
as praias da parte externa do Setor 3, por exemplo. Além disso, a profundidade da lâmina
d’água que aí é registrada, não é muito grande (função da baixa declividade – Tabela
XIII), e o seu fundo é predominantemente formado por areia, praticamente sem
afloramentos de rochas, o que facilita o resgate. No outro extremo, a praia da Caveira
(Anexo I), apresenta um ALTO grau de dificuldade (Tabela XXVI), devido à grande
velocidade da corrente de retorno que aí ocorre, o que normalmente obriga o salva-vidas
a vencer um longo trajeto para alcançar o banhista em apuros, e mais ainda devido à
151
existência de afloramentos de rochas incrustadas por ouriços e carapaças de moluscos,
por onde o salva-vidas terá de sair com o resgatado.
Desta forma, a análise referente às dificuldades das operações de salvamento para
cada praia, foi feita aproveitando a larga experiência dos salva-vidas no seu dia-a-dia, o
que não poderia deixar de ser considerado no presente trabalho tendo em vista a utilidade
pública que estas informações detêm, mesmo considerando os seus caráteres intuitivo e
subjetivo. Naturalmente, cada uma das informações fornecidas pelos salva-vidas foram
confrontadas com observações realizadas durante este trabalho a cerca dos diversos
aspectos hidrodinâmicos e geomorfológicos de cada praia, a fim de avaliar a consistência
dessas informações.
A determinação do grau de dificuldade das operações de salvamento em cada uma
das praias está, neste sentido, baseada nas descrições apresentadas no ítem XIII.6 e,
resumidamente, na tabela XXIV.
A multiplicação do grau do fator de risco principal de uma determinada praia pelo
grau de dificuldade da operação de salvamento que aí é comumente realizada resulta no
aqui considerado Grau de Risco Potencial desta praia, originando então cinco níveis, que
são: MUITO BAIXO (1), BAIXO (2), MÉDIO (3), ALTO (6) e MUITO ALTO (9) (Tabela
XXV).
De acordo com as premissas então estabelecidas, o Grau de Risco Potencial
(GRPo) das praias estudadas está apresentado na tabela XXVI e na figura 94.
Praia
Aleluia
Stella Maris
Flamengo
Catussaba
Caveira
Pedra do Sal
Porto de Leocádio
Farol de Itapuã
Rua K
Fator de Risco
Principal
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente entre
afloramentos
a) Grau do Fator
de Risco
Principal
b) Grau de
Dificuldade da
Operação de
Salvamento
c) Grau de Risco
Potencial = a) x
b)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
BAIXO (1)
MÉDIO (2)
BAIXO (2)
152
Rua E
Porto
Sereia
Placafor
Piatã
Jaguaribe
Mordomia
Patamares -3ª
Ponte
Artistas-Corsário
Aratubaia
Armação
Jardim dos
Namorados
Pituba
Amaralina
Buracão
Sant’ana
Paciência
Rio Vermelho
Bacia das Moças
Ondina
Paquera
rochosos
Desprezível
Desprezível
Depressões
Corrente de
retorno
Depressões
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
Repuxo
Corrente de
retorno
Repuxo
Corrente de
retorno
Desprezível
Repuxo
Corrente de
retorno
Desprezível
Corrente de
retorno
Corrente de
retorno
BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
BAIXO (1)
MÉDIO (2)
BAIXO (2)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
BAIXO (1)
BAIXO (1)
MUITO BAIXO (1)
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
ALTO (3)
BAIXO (1)
MÉDIO (3)
Salvador Praia
Hotel
Repuxo
ALTO (3)
ALTO (3)
MUITO ALTO (9)
Farol da Barra
Corrente de
retorno
ALTO (3)
MÉDIO (2)
ALTO (6)
Tabela XXVI - Principais fatores de risco, seus respectivos graus de risco, graus de dificuldade das
operações de salvamento e o Grau de Risco Potencial (GRPo) das praias da costa atlântica de Salvador.
153
Praia de Aleluia
Ponta de Itapuã
Desembocadura do
Rio Jaguaribe
Salvador
Desembocadura
do Rio das Pedras
N
Farol da Barra
Oceano Atlântico
Itapuãzinho
0
GRPo – Muito Baixo
GRPo – Médio
GRPo – Baixo
GRPo – Alto
1
2
3km
GRPo – Muito Alto
Figura 94 - Grau de Risco Potencial (GRPo) das praias estudadas.
A tabela XXVI e a figura 94 mostram que todas as praias situadas na parte externa
do Setor 3, (Farol de Itapuã, Porto de Leocádio, Pedra do Sal, Caveira, Catussaba e
Flamengo - Anexo I) apresentam Graus de Risco Potencial do tipo MUITO ALTO.
Acreditamos que isto se deve à existência de vários promontórios formados por rochas
cristalinas que favorecem o desenvolvimento de praias curtas e embaiadas, do tipo
enseada, geomorfologia que, quando submetida à ação das ondas, confina a energia por
estas geradas, produzindo geralmente fortes correntes de retorno que não se dissipam ao
fluirem pelos flancos rígidos dos citados promontórios. A natureza predominantemente
rochosa deste trecho da costa, com vários pequenos promontórios, (Anexo I) vem ainda a
dificultar o resgate, uma vez que o salva-vidas não tem muitos locais seguros por onde
sair com o banhista resgatado, a não ser pelas próprias rochas, que, além de provocarem
contra sí a convergência dos raios-de-onda, costumam ainda estar incrustadas por
ouriços e carapaças de moluscos, elevando ainda mais o Grau de Risco Potencial (GRPo)
destas praias.
No outro extremo da segurança encontra-se a parte interna deste mesmo Setor 3,
formado pela Enseada de Itapuã (Anexo I) que, como visto anteriormente, está totalmente
protegido das ondas de leste e nordeste e parcialmente das de sudeste, tanto pela sua
própria direção WSW -ENE e NW-SE, quanto ainda pela proteção adicional que a ponta
154
de Itapuã lhe proporciona (Anexo I). As praias aí situadas (Placafor, Sereia, Porto e Rua
E) apresentam Graus de Risco Potencial do tipo MUITO BAIXO (Tabela XXVI, Figura 94),
com a única exceção da praia da Rua K, que apresenta do tipo BAIXO e que na verdade
deve a ocorrência de seu único fator de risco à existência de uma fratura aberta nas
rochas que limitam esta praia a leste, e por onde fluem as correntes que são geradas pela
quebra das ondas na praia vizinha, como já foi descrito.
Também toda a extensão do Setor 4 (Anexo I) apresenta Grau de Risco Potencial
do tipo MUITO ALTO (Tabela XXVI, Figura 94), devido, sobretudo, à constante exposição
à ação das ondas de leste, sudeste e nordeste, bem como, adicionalmente, à existência
de canais longitudinais relativamente profundos, que são a conseqüência da exumação
de bancos de arenito que ocorrem paralelamente à face da praia, por onde os banhistas
têm suas alturas ultrapassadas pela lâmina d’água e também por onde as correntes
longitudinais tornam-se confinadas, aumentando suas velocidades.
O Setor 2 (Anexo I) apresenta praias com Graus de Risco Potencial que variam
desde BAIXO até MUITO ALTO, com predomínio de ALTO e MUITO ALTO (Tabela XXVI,
Figura 94). Com direção praticamente idêntica à da parte externa do Setor 3 e a todo o
Setor 4, também está bastante exposto à ação das ondas de leste e de sudeste, mas a
baixa ocorrência de promontórios e de bancos longitudinais de arenitos não favorece o
confinamento da energia das ondas nem dificulta as operações de salvamento, como é
verificado nestes outros dois setores da linha de costa, além do que, a ponta de Itapuã,
como já foi descrito, exerce uma efetiva proteção contra a ação das ondas de nordeste,
muito freqüentes durante o verão.
O Setor 1 (Anexo I) apresenta Graus de Risco Potencial ainda mais variados, indo
desde MUITO BAIXO até MUITO ALTO (Tabela XXVI, Figura 94), pois aí ocorrem tanto
os fatores que o aumentam, como os promontórios rochosos, por exemplo, quanto,
simultaneamente, fatores que o reduzem, neste caso a direção geral da linha de costa,
E-W, que protege este setor completamente da ação das ondas de nordeste, bastante
das de leste e ainda atenua a ação das de sudeste.
A Figura 95 relaciona o Grau de Risco Potencial das praias patrulhadas pela
SALVAMAR com os seus respectivos índices de acidentes registrados entre 1997 e 2000.
Esta figura mostra que há uma relativa concordância entre estes dois parâmetros e que
as poucas discordâncias apresentadas podem ser explicadas pela análise de diversos
fatores que já foram abordados neste trabalho. Nas praias de Patamares-3ª Ponte, por
exemplo, ocorre um distanciamento das duas curvas (Fig. 95) que é resultante da baixa
155
frequência de banhistas que aí é registrada em função dos altos níveis de poluição
orgânica (Tabela XXI). As praias de Jaguaribe-Mordomia também apresentam um
distanciamento das duas curvas em função da altíssima frequência de banhistas, atraídos
pela grande beleza cênica, amplas dimensões e ótimas condições de acesso (Tabela
XXII) bem como das características especiais dos fatores de risco aí encontrados,
representados por correntes de retorno que constantemente migram lateralmente a partir
de diferentes pontos e por muitas depressões que constantemente surpreendem os
banhistas. O mesmo distanciamento das duas curvas ocorre na praia de Piatã, o que é
devido, também, à altíssima frequência de banhistas, resultante dos mesmos fatores
acima descritos, e que deve ainda uma boa parte dos acidentes aí registrados não a
fatores exclusivamente ambientais e sim, também, à adultos alcoolizados e crianças que
não posuem uma boa habilidade de nado, de acordo com informações prestadas pela
SALVAMAR. Observa-se contudo que já existe uma tendência declinante na figura 95, de
ambos os parâmetros analisados (GRPo e nº de acidentes), quando se analisa esta praia.
Outra discordância é detectada na praia da Pedra do Sal, que é devida à baixa
frequência de banhistas, que por sua vez é resultante da relativamente difícil condição de
acesso (Tabela XXII). Já as praias do Rio Vermelho, Amaralina e Pituba, que também
apresentam um distanciamento das duas curvas, tal fato pode ser atribuído ao bom
conhecimento dos fatores de risco e de suas localizações por parte dos banhistas que a
freqüentam, comumente formados por moradores destes próprios bairros (trabalhos neste
sentido devem ser desenvolvidos a fim de testar esta suposição).
156
Grau de Risco Potencial e Percentual Médio de Acidentes
33
30
27
24
21
18
15
12
9
6
Aleluia
Flamengo
Pedra do Sal
Farol de Itapuã
Sereia
Placafor
Piatã
Jaguaribe-Mordomia
Patamares-3ª Ponte
Artistas-Corsário
Armação
Pituba
Amaralina
Rio Vermelho
Ondina
Farol da Barra
0
Stella Maris
3
Figura 95 - A linha azul apresenta os valores de GRPo das praias patrulhadas pela SALVAMAR, enquanto
que a linha vermelha apresenta os percentuais anuais médios de acidentes registrados nestas mesmas
praias, dentro do período 1997-2000.
Pode-se concluir então que a freqüência de banhistas, embora seja um fator de
menor importância, quando comparada à existência e intensidade dos fatores de risco,
deve também ser levada em consideração quando estuda-se a segurança das praias,
para o banho. Para tanto, foram feitas várias tentativas na área estudada com o objetivo
de estimar esta freqüência, procurando-se os diversos órgãos públicos da administração
estadual e municipal, que contudo não dispunham deste tipo de dado, além de realizar-se
um sobrevôo sobre todas as praias, mas que as condições meteorológicas de então não
favoreceram a realização do objetivo uma vez que este dia apresentou-se parcialmente
nublado com uma freqüência anormalmente baixa de banhistas. Esta freqüência de
banhistas, uma vez bem estabelecida, pode, junto com o Grau de Risco Potencial, motivar
a criação de um novo parâmetro, o Grau de Risco Público, que refletirá com maior
precisão o grau de risco de cada praia.
157
XIV - CONCLUSÕES
1. O tectonismo que atuou durante o Mesozóico, representado na área estudada
principalmente pelas falhas da Barra e de Itapuã (Fig. 11), gerou diferentes direções
na linha de costa e expôs rochas do embasamento precambriano cristalino, ao longo e
em torno de suas zonas de ocorrência. Estes elementos provocaram acentuadas
mudanças nas características cênicas locais, bem como na interação destes
diferentes segmentos da linha de costa com os diversos agentes hidrodinâmicos que
atuam sobre o ambiente praial, permitindo que seja feita uma divisão da linha da costa
atlântica de Salvador em quatro setores distintos (Fig. 11).
Os Setores 1 e 3 apresentam direções gerais da linha de costa predominantemente
este-oeste e também sudoeste-nordeste (Figs. 12 e 15, respectivamente). São de
natureza rochosa, com diversas praias curtas e embaiadas, do tipo enseada e
separadas entre sí por pequenos promontórios de rochas precambrianas. O
sedimento da zona de espraiamento nestes setores é predominantemente grosso
(Tabela IX), devido sobretudo à proximidade das rochas-fonte. A direção da linha de
costa protege muitas das praias de grande parte da ação das ondas de leste e de
nordeste.
Os Setores 2 e 4 são mais extensos e apresentam direções gerais sudoeste-nordeste
(Figs. 14 e 16). Por estarem mais afastados das zonas de influência das duas falhas
supracitadas, quase não apresentam afloramentos de rochas cristalinas, o que
favorece a formação de praias relativamente longas e de formato retilíneo. A direção
geral da linha de costa expõe estes segmentos à ação da maior parte das ondas,
durante todo o ano, gerando praias com zonas de surfe melhor desenvolvidas e com
sedimentos na zona de espraiamento de granulometria eminentemente fina (Tabela
IX), enquanto que o estágio morfodinâmico praial que aí predomina é o Intermediário
(Tabela X).
2. A grande quantidade de afloramentos emersos e submersos, sobretudo de rochas
precambrianas, resultante da tectônica mesozóica, mas também de bancos de arenito
de idade quaternária, interferem no desenvolvimento morfodinâmico das praias, pois
geram refração, difração e dissipação da energia das ondas, resultando em zonas de
surfe com formatos muito irregulares. Isto, em muitos casos, inviabiliza a aplicação do
modelo de classificação de estágios morfodinâmicos praiais, elaborado por Wright &
Short (1979) e aqui adotado.
158
3. A primavera é uma estação que apresenta, simultaneamente, e em proporções
relativamente elevadas, duas variáveis, ou conjuntos de variáveis, que influenciam
diretamente na ocorrência de acidentes, que são: altas taxas de freqüência pública às
praias e fatores de risco, daí a sua taxa de acidentes ser a maior dentre as quatro
estações do ano, com cerca de 44,8% do total. A freqüência pública elevada é
motivada por altas taxas de insolação (Tabela XVIII, Fig. 87), por baixa precipitação
pluviométrica (Fig. 96), por boas condições de balneabilidade (Tabela XXI) e pela
existência de alguns feriados, como o Dia da Independência e o da Criança, que
produzem a segunda maior freqüência de banhistas do ano, só inferior à do verão.
350
300
ml
250
200
150
100
50
0
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Figura 96 - Pluviosidade média mensal em Salvador, registrada durante o período 1997-2000 (INMET)
Analisando-se a outra variável que é responsável pela geração de acidentes, no caso
a existência de fatores de risco, foi possível identificar quatro tipos de fatores
ambientais, que geram risco, e que comprovadamente ocorrem com maior
intensidade durante a primavera do que durante o verão, na área estudada, que são:
1) a altura média das ondas incidentes em alto-mar, 2) a forma ondulada do perfil da
zona de surfe, 3) a velocidade dos ventos costeiros, 4) a variação da amplitude das
marés. O primeiro e talvez mais importante, representado pela altura média das
ondas incidentes de alto-mar, é, durante a primavera, de acordo com os dados aqui
utilizados a cerca da altura média das ondas ponderadas pelas suas respectivas
freqüências ao longo do ano (US Navy 1978 e DHN 1993), e já anteriormente
apresentados (Tabela XVI, Fig. 84), de 1,13 m na primavera, enquanto que durante o
verão esta altura média é de 1,08 m, ou, transformando esta altura de onda em
159
densidade de energia, de cerca de 1.605 N/m 2 na primavera, enquanto que no verão
esta mesma densidade de energia é de 1.466 N/m 2, ou seja, cerca de 10% a maior.
Estas ondas mais elevadas têm a capacidade de gerar correntes mais velozes na
zona de surfe e portanto mais perigosas para os banhistas.
O segundo fator ambiental em ordem de importância para a geração do grande
número de acidentes verificado na primavera é atribuído à forma típica do perfil da
zona de surfe que se desenvolve nesta estação e que é representado por uma forma
intermediária entre o suave e plano perfil do verão e o ondulado perfil do inverno.
Este perfil, ao apresentar um relevo com bancos e canais, favorece a convergência
dos raios-de-onda, com a concentração de energia, sobre os bancos, e o fluxo das
correntes, pelos canais adjacentes, formando um ambiente propício para o
desenvolvimento das correntes de retorno, além de induzir o surgimento freqüente de
depressões que também se constituem, por sí sós, em um fator de risco para os
banhistas.
O terceiro fator ambiental é representado pela velocidade dos ventos costeiros que
pode causar uma sobreelevação na altura das ondas e até mesmo acelerar as
correntes geradas dentro da zona de surfe. Em Salvador, durante a primavera, no
período 1997-2000, foi registrada uma velocidade média de 2,1 m/s, que é cerca de
23% maior que a velocidade média de 1,7 m/s (INMET), verificada durante o verão,
no mesmo período (Tabela XVII).
Por fim, o quarto e último fator ambiental identificado e que pode contribuir para a
maior incidência de acidentes que é verificada durante a primavera, é a diferença que
existe na amplitude média das marés entre esta estação e a do verão. Durante os
meses de setembro e outubro, no período 1994-2000, esta amplitude média foi
aproximadamente 8% maior do que a mesma registrada nos meses de janeiro e
fevereiro deste mesmo período. Esta maior amplitude das marés pode causar uma
ligeira aceleração das correntes de retorno durante a vazante (Short & Hogan 1998),
além de reduzir a superfície seca da praia durante a preamar, expondo os banhistas
a vários fatores de risco, como ao espraiamento (runup), às diversas correntes
existentes dentro da zona de surfe e ao impacto resultante do quebramento das
ondas.
4. A distribuição geográfica dos acidentes verificados entre os anos de 1997 e 2000, ao
longo da área estudada, mostra que cerca de 77% destes ocorreram em praias do
160
estágio morfodinâmico Intermediário, que por sua vez perfaz em cerca de 56% de toda
a extensão linear das praias (Tabela XXIII, Fig. 92), mostrando assim que há,
efetivamente, uma concentração de acidentes neste tipo morfodinâmico de praia. A
ocorrência de uma série de características morfodinâmicas, inerentes a este estágio
praial, ajuda a entender esta concentração de acidentes que é registrada. A baixa
declividade da zona de espraiamento deste tipo morfodinâmico de praia (Tabela XIII),
por exemplo, associada à fina granulometria dos sedimentos arenosos (Tabela IX),
favorecem a formação de um piso plano e bem compactado que é ideal para o ato de
caminhar e para a prática de esportes, atraindo consequentemente, no caso de
Salvador, um grande número de banhistas para estas praias. Esta mesma baixa
declividade (Tabela XIII), que se prolonga pela zona de surfe adentro, proporciona
uma vasta área para o banho, transmitindo ao banhista uma sensação de segurança,
vez que a profundidade aí ocorrente, de uma maneira geral, é reduzida, não
ultrapassando a altura do banhista, fazendo com que um grande número destes
avance pela zona de surfe. As ondas do tipo Deslizante, que predominam na zona de
surfe deste tipo de praia, quebram de uma determinada forma que não produzem
grandes impactos sobre os banhistas, e a efetiva e progressiva dissipação de energia
destas ondas na zona de surfe, resultante do fundo pouco inclinado, reduz
progressivamente a altura destas ondas a poucos decímetros na face da praia, sendo
assim mais um fator de atração para os banhistas. A forma típica do perfil da zona de
surfe, com a predominância de bancos de areia e canais, longitudinais e oblíquos à
face da paia, favorece o desenvolvimento de correntes de retorno, que por sua vez,
por estarem condicionadas à localização destas feições sedimentares, os bancos e os
canais, apresentam, as correntes de retorno, uma dinâmica bastante variável no
tempo e no espaço, desorientando o banhista quanto às suas localizações dentro da
zona de surfe. Além destas feições geomorfológicas de maior dimensão, os bancos de
areia e os canais, ocorrem ainda diversas pequenas depressões de formato
semicircular no sedimento do fundo da zona de surfe e que também se constituem em
um fator de risco relativamente elevado, principalmente para aquele tipo de banhista
que não possui uma boa habilidade de nado, que, quando ao cair em uma depressão
deste tipo, tem rapidamente a sua altura ultrapassada pela da lâmina d’água. É
verificado ainda, que ocorre neste tipo de praia, um determinado nível de energia de
quebra das ondas, representado por alturas médias anuais em torno de 1,0 m (Tabela
XIV), que é suficiente para gerar correntes de forte intensidade, mas que, ao
161
dissiparem-se progressivamente pela zona de surfe, não amedrontam os banhistas,
expondo estes à ação das correntes que encontram-se aí presentes. Outro aspecto é
o efeito causado no perfil da zona de surfe pela hidrodinâmica da primavera, quando é
gerado um perfil marcadamente ondulado, com várias bancos de areia, canais e
depressões, e que, apesar de ter este efeito incidência sobre todas as praias, tem
uma ação maior em praias do estágio morfodinâmico Intermediário, devido ao grande
volume de sedimento que aí é estocado na zona de surfe, o que favorece, de acordo
com (Wright & Short 1984), que haja uma grande mobilidade tridimensional do perfil
da zona de surfe.
5. As praias de Jaguaribe e Piatã apresentam uma série de fatores, de diferentes
naturezas, que favorecem a grande concentração de acidentes, cerca de 55% (Tabela
VII), que são aí registrados. Além dos fatores supracitados, ou seja, aqueles que são
inerentes ao estágio morfodinâmico praial Intermediário, no qual estas praias estão
classificadas, outros atuam ainda no sentido de favorecer que haja uma grande
freqüência de banhistas, a maior de toda a área estudada, no caso o amplo espaço
físico, as boas condições de balneabilidade (Tabela XXI), as boas condições de
acesso (Tabela XXII), as diversas opções de lazer, representadas pela existência de
quiosques, prática de esportes, etc, e uma grande beleza cênica (Figs. 67 e 68).
6. Tudo indica que há uma faixa de energia, gerada pela altura de quebra das ondas, na
qual os acidentes ocorrem. O seu limite inferior é próximo a 0,5 m de altura,
suficientemente forte para gerar correntes dentro da zona de surfe e suas
consequentes modificações sobre o relevo submarino, e o limite superior é próximo a
0,8 m (Tabela XX, Fig. 89), altura a partir da qual, os banhistas, amedrontados, evitam
entrar na zona de surfe, reduzindo assim o número de acidentes.
7. A proposta de definição de um novo parâmetro que visa auxiliar os estudos a cerca da
segurança das praias, aqui chamado de Grau de Risco Potencial (GRPo), e a sua
aplicação na área estudada, reproduzem o alto potencial de risco que as praias
situadas na parte externa do Setor 3 e em todo o Setor 4 apresentam, em oposição ao
baixo potencial de risco que a parte interna do Setor 3 apresenta, enquanto que os
setores 2 e 1, mormente este último, varia bastante.
162
8. As poucas discordâncias apresentadas na relação entre o Grau de Risco Potencial
das praias e os seus respectivos registros de acidentes (Fig. 95) motivam então a
criação de um novo parâmetro, para a questão da segurança das praias, que leve em
consideração, além do Grau de Risco Potencial, a freqüência de banhistas observada
em uma determinada praia. Desta forma, a comparação entre este novo parâmetro e
os registros de acidentes, em cada praia, deverá mostrar comportamentos mais
semelhantes, constituindo-se em mais uma ferramenta para o gerenciamento costeiro,
no tocante à questão específ ica da segurança das praias para o banho.
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