Introdução a mitologia Africana para sala de aula

Transcrição

Introdução a mitologia Africana para sala de aula
Introdução a mitologia
Africana para sala de
aula
Curso de extensão – Universidade Castelo Branco
Prof. Dr. Arthur Vianna (PUCSP)
Escola de formação de Professores
Curso de História
Objetivo
Proporcionar uma reflexão sobre
conceitos básicos de mitologia
(filosófica e antropológica) e sua
expressão na raiz africana para a
formação docente inicial com o
caráter de fomentar a diversidade
social e cultural da matriz
afrobrasileira em sala de aula.
3 aspectos fundamentais de debate
- O mito: aspectos filosóficos e
antropológico culturais;
- O mito das raças na organização histórica
e cultural do Brasil
- A realidade dos mitos africanos
presentes na organização da cultura
afrobrasileira
Sala de aula brasileira
Espaço da diversidade
social, étnico e racial
Formação da cidadania
Construção do ser político
Professor de História
DCN 2004
MULTICULTURALISMO
Constituição das diferenças
sociais
TOLERÂNCIA
As compreensões do mito
- O mito como filosofia
- O mito como religião
- O mito como sociedade
- O mito como identidade
cultura
Mitologia e Filosofia
• O mito vem do grego mythos, derivado dos
verbos mytheyo (contar, narrar) e do verbo
mytheo (conversar, designar, nomear.
• Não é uma fábula ou ficção. É uma narrativa
de um fato existente e atemporal. Ou seja, a
explicação do atual por um acontecimento
primordial que está sempre presente. Seria
uma ligação, um elo entre o atual e o
primordial.
- É uma forma de pensamento lógico, baseado
na tradição cultural dos grupos sociais que
explicam uma realidade começada no passado
e ao mesmo tempo presente.
- Mircea Eliade defini:
“O mito é uma realidade cultural extremamente
complexa, que pode ser abordada e
interpretada de perspectivas múltiplas e
complementares. É considerado uma história
sagrada para um povo, por referir-se a
verdades que compõem a união dos seres
destes povos.”
Exemplo: A criação do mundo: Cosmogonia
Três formas principais para a interpretação
de um sistema mitológico
1. A busca pelo responsável pela origem das
coisas: seres humanos, deuses, metais, plantas,
qualidades, sentimentos, erros, etc.
- Mito como genealogia, geração dos seres, da
coisas, das qualidades pelos antepassados;
Ex: Mito do amor (Eros): definição do sentimento.
Penúria (pobreza) dorme com Poros (astuto) no
final da festa de Zeus. Nasce Eros (cupido) que
quando flecha, faz o ser apaixonado ora sempre
faminto e sempre astuto e cheio de vida.
2. A aliança entre deuses e homens faz surgir algo
novo no mundo: Guerras, enchentes, destruição,
caos e novo surgimento, renascimento,
ressurreições humanas.
- A reflexão sobre vida e morte como parte da
existência humana através dos arquétipos (arché:
principal; tipos: modelos, formas)
Exemplo: A guerra de troia (batalha entre gregos e
troianos)
A rivalidade entre as Deusas (Hera, Atena e
Afrodite) pelo título de a mais bela. Zeus para não
se comprometer pede a Paris, rei troiano, para
fazer a escolha
Para ganhar o título de "mais
bela", Atena ofereceu a
Páris poder na batalha e
sabedoria, Hera ofereceu
riqueza e poder e Afrodite,
o amor da mulher mais bela
do mundo (Helena). Páris
deu o pomo a Afrodite,
ganhando sua proteção e o
ódio das outras duas deusas
contra si e contra Troia.
Este evento ocasionou o rapto
de Helena por Esparta e a
briga entre os dois povos.
3. Entender as intempéries da vida humana através
de recompensas ou castigos pela desobediência a
deuses e homens;
- Cumprimento de regras e normas sociais
colocadas pelos grupos como verdades da vida
natural dos homens.
Exemplo: Prometeu e pandora
- Prometeu, um dos titãs mais amigo dos homens
do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo
(raios sobre a terra) e trouxe de presente para os
deuses. Como castigo, foi amarrado em um
rochedo para ter o fígado devorado eternamente
por aves de rapinas.
- Pandora foi enviada
pelos deuses aos
homens com uma caixa
que conteria coisas
maravilhosas e que não
poderia ser aberta. Por
curiosidade, a mulher
abriu a caixa e dela
saíram todas as
desgraças do mundo.
- Explicação para a origem
dos males do mundo.
Enfim,
O mito é um modelo, um ponto de
referência de toda a atividade e eficácia,
narrando a origem das coisas por meio
de lutas, alianças e relações sexuais ou
não, entre as forças sobrenaturais que
governam o mundo e o destino dos
homens no tempo passado-presente.
A mitologia e a religião
- São consideradas cosmogonias e/ou teogonias;
- Gonia: grego (gennao): verbo, engendrar, nascer,
gerar; (genos): nascimento, gêneses,
descendência.
- Cosmo: ordem, organização, harmonia (universo)
- Theos: Deus ou deuses, divindades
- Narrativa da origem de Deus, deuses e da ordem
na qual o homem faz parte, universo.
Claude Levi Strauss: o mito não é lenda e sim a
organização da realidade a partir da
experiência sensível de um povo.
Reúne experiências, narrativas, relatos, até
compor um mito geral.
Consegue aglutinar a heterogeneidade da vida
que a ciência não logra. (segmentada)
Produz explicações sobre a origem, a forma das
coisas, funções e finalidade, os poderes
divinos sobre a natureza e os seres humanos,
da mesma forma que inclui os seres humanos
em contato com os poderes sobrenaturais.
Em certas religiões, os mitos formam um corpo
doutrinal e estão estreitamente relacionados com
os rituais religiosos - o que levou alguns autores a
considerar que a origem e a função dos mitos é
explicar os rituais religiosos.
O mito, portanto, é uma linguagem apropriada para
a religião. Isso não significa que a religião,
tampouco o mito, conte uma história falsa, mas
que ambos traduzem numa linguagem plástica
(isto é, em descrições e narrações) uma realidade
que transcende o senso comum e a racionalidade
humana e que, portanto, não cabe em meros
conceitos analíticos.
Para as religiões monoteístas, as mitologias,
sobretudo as teogonias, são geralmente
repudiadas como exemplos de ateísmo ou
politeísmo, pois representariam uma desvirtuação
do Deus único e transcendente, à medida que o
relacionam a manifestações ou representações de
outras criaturas.
Entretanto, essas mesmas religiões também
recorrem a descrições fantásticas, de caráter
simbólico, para explicar a origem do mundo e do
pecado, o fim do mundo e a vida ultraterrena, e
não deixam de atribuir a Deus reações e
sentimentos humanos. (o que não deixa de ser
linguagem figurativa de caráter semelhante ao
mitológico)
A mensagem religiosa geralmente exige
determinado comportamento perante Deus, o
sagrado e os homens, e é, muitas vezes,
formulada de forma compatível com conceitos
racionais e em doutrinas sistematizadas.
O mito abrange maior amplitude de mensagens,
desde atitudes antropológicas muito
imprecisas, até conteúdos religiosos, précientíficos, tribais, folclóricos ou simplesmente
anedóticos, que são aceitos e formulados de
modo menos consciente e deliberado, mais
espontâneo, sem considerações críticas.
A mitologia e a sociedade
O estudo da sociedade e da linguagem pode
começar apenas com os elementos fornecidos
pela fala e pelas relações sociais humanas,
mas em cada caso esse estudo se confronta
com uma coerência de tradições que não está
diretamente aberta à pesquisa.
Essa é a área em que atua a mitologia.
A mitologia na formação da sociedade cumpre
três funções importantes para a coesão
grupal:
1. A explicativa: O presente é explicado por
alguma ação passada, cujos efeitos
permaneceram ao longo do tempo.
Exemplo: Na China, são feitas referências
literárias a figuras e evoluções que parecem
históricas, mas são, na verdade,
historicizações de mitos anteriores, cuja
forma mítica foi abandonada.
Muitas dessas referências, especialmente em
palavras atribuídas a Confúcio, abordam a
natureza do estado e a qualidade dos
governantes.
2. A organizativa: as relações de parentesco,
aliança, troca, poder, para assim legitimar e
garantir a permanência de um sistema
complexo de proibições e permissões.
Exemplo: O mito de Édipo cuja a função é a
proibição do incesto.
3. A compensatória: O mito narra uma situação
passada, que é a negação do presente e serve
para compensar os humanos de alguma perda.
Exemplo:
A tribo lugbara (do noroeste de Uganda e do
Congo) utiliza um sistema conceitual para
relacionar sua ordem sociopolítica a dois heróis
ancestrais, relacionados, em contrapartida, à
criação do universo.
Porém a história ancestral e genealógica, de criação
de mundo e de povos, não está separada dos
possíveis males e ganhos que estes povos
possuem em seus relacionamentos e na
convivência com a natureza.
Ou seja,
O mito na sociedade é uma maneira de exercitar
o pensamento e de expressar ideias, e o que
eles dizem, é importante não só para quem
pertence aos grupos de onde surgem, mas
também para quem tem interesse em
conhecer o íntimo do ser humano;
- Os mitos ordenam as ideias e as imagens que
constituem o discurso, contam a vida social e o
pensamento das sociedade que o originam.
- Criam REPRESENTAÇÕES.
A mitologia e a identidade social
- Todas as culturas têm os seus mitos;
- O mito não tem a ver propriamente com mística
mas sim com narrativas; narrativas acerca de
deuses e heróis e narrativas acerca da origem do
mundo e a sua organização;
- O mito transmite informações importantes e
privilegiadas sobre a Humanidade, sobre a
posição desta na realidade circundante; é um
saber englobante, cuja finalidade é a
compreensão do aqui e agora.
- O mito é parte fundamental do patrimônio
cultural e logo, essencial na identidade e
identificação de uma comunidade.
- A mitificação do passado permite
salvaguardar a integridade da nação e, desta
forma, intervir no presente e futuro;
- Na realidade, o mito tem o valor de encerrar
em si a fundamentação da vida social e da
cultura e de se transformar em patrimônio
cultural. Enquanto patrimônio cultural é
essencial na formação da identidade.
- A identidade é um processo de construção e
reconstrução marcado pela cultura. É a identidade que
distingue as comunidades e as regiões, sendo esta
identidade essencial para a sobrevivência das
localidades;
- A identidade implica também uma construção em relação
às outras pois as pessoas e as comunidades não se
pensam no vazio. Fazem-no por referência a outrem, no
caso presente por referência também ao patrimônio dos
outros.
- Desta forma, conseguimos perceber que o mito está
amplamente presente na nossa sociedade.
Frequentemente nem reparamos nele mas o certo é que
nós vivemos com ele, representamos a nossa sociedade,
o nosso país e a nossa(s) identidade(s) com ele.
Neste aspecto, o estudo da mitologia
nos leva a entender:
- A filosofia de um
povo;
- A religiosidade de um
povo;
- A organização social
de um povo;
- A identidade de um
povo
MITOS DAS REALIDADES BRASILEIRAS
Vídeo: O poder do mito

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