O PODER DO ELOGIO Por Roberto Vieira Ribeiro Duas luzes

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O PODER DO ELOGIO Por Roberto Vieira Ribeiro Duas luzes
O PODER DO ELOGIO
Por Roberto Vieira Ribeiro
Duas luzes piscaram e acenderam. O ambiente ao redor, além de ficar mais iluminado, alegrou-se. E o
Guilherme, dono daqueles olhinhos lindos, disse: - você acha isso mesmo? – Você sabe que eu sempre
falo a verdade, respondi. – É mesmo, ele constatou, enquanto corria radiante e aos berros: - manhêêê,
você ouviu o que o papai disse?
Vejam só o efeito que tem um elogio sincero. Bem, em se tratando do Guilherme é uma verdadeira
poupança planejada, cujos depósitos eu realizo a mais de dez anos, no mínimo uma vez ao dia: quando
ele já está na cama pronto para dormir e vou lhe desejar boa noite, incluo algumas palavras positivas
sobre a sua personalidade. Isso desde antes dele ter uma, formada. Não é a toa que ele é um menino
alegre, com elevada auto-estima e autoconfiança, que é querido por todos e faz amigos em todo lugar.
O elogio honesto tem me possibilitado inspirar o melhor em meu filho em todas as áreas: familiar,
escolar, nos esportes, etc. E, se é útil a uma criança por que não seria aos adultos? Naturalmente que
é, e muito. Estou absolutamente convencido de que o hábito de elogiar com sinceridade é um valioso
atributo para uma vida de qualidade e importante diferencial profissional, pois poucos o utilizam. Mas,
não leia nas entrelinhas: eu não estou sugerindo que alguém deva sair por ai elogiando tudo em todos,
automaticamente. Isso seria falso, inconveniente e manipulativo. E, provavelmente, produziria efeitos
contrários ao do elogio verdadeiro. Refiro-me a cultivar o hábito de prestar atenção nas pessoas com
quem se relaciona e prestigiar os pontos positivos delas. E, como citou Jerry Twentier: “de que outro
modo elas poderão saber a não ser que você lhes diga?”
Creio ainda, que as características que precisam ser ativadas quando alguém decide lançar as
sementes do elogio, torna esta pessoa mais valiosa e requisitada qualquer que seja a sua profissão. Ou
seja, a sua empregabilidade aumenta. Isso porque independente de formação universitária, cursos de
extensão, domínio de outros idiomas e das melhores tecnologias, as pessoas ainda necessitam de
reconhecimento e compreensão. Inclusive para produzir mais e melhor. Mas, são poucos os que dão a
devida importância e sabem aplicar com sabedoria este recurso. É comum confundi-lo com bajulação
ou puxa-saquismo.
Porém, a receita é simples: alguns minutos do seu tempo, selo/e-mail/ao telefone ou pessoalmente e a
manifestação do interesse genuíno por Gente. O que também pode contribuir para tornar mais
gostosa a vida, tanto de quem elogia quanto do elogiado e dos que se relacionam com ambos. Em
alguns dos treinamentos que ministro costumo realizar a dinâmica do elogio: de maneira incógnita, as
pessoas escrevem bilhetes elogiando características ou atitudes específicas de colegas presentes. E as
mensagens são colocadas em um mural para ser entregue ao destinatário, que, se desejar, terá um
espaço para ler publicamente o elogio que recebeu. Esses momentos, invariavelmente, são carregados
de emoção, promovem o espírito de equipe e trazem a tona o que há de melhor nas pessoas.
Quem já recebeu elogios sabe que por vezes eles chegam no momento mais necessário. Foi ótimo à
noite que entrei em casa exausto e ouvi a mensagem gravada na secretária eletrônica. Era um discurso
daqueles que nos eleva alguns centímetros do chão, principalmente porque listava uma série de
qualidades minhas, de fato. E partiu de alguém relativamente próximo, de quem eu não esperava este
gesto. Aliás, é comum ligarmos o piloto automático no que se refere às pessoas íntimas, supondo que
elas sabem que nós reconhecemos os seus méritos. Mas bem que gostamos quando elas se lembram
dos nossos, não é verdade.
Parece que foi ontem, quando eu compreendi que o fato de morar em outra cidade provocava
sofrimento em meus pais. E para amenizar isto, resolvi ser mais caloroso ainda nos momentos em que
estivéssemos juntos, assumindo o seguinte comportamento: onde quer que os encontrasse iria abraçálos e beijá-los. No caso de minha mãe a alteração era menor, mas eu não tinha o hábito de beijar
papai, o que passei a fazer. De início, percebi seu espanto ao beijar-lhe a testa, embora a satisfação
dele fosse evidente. Enquanto as pessoas a nossa volta sorriam ao admirar aquele carinhoso elogio
público. Quando assumi este comportamento papai já era aposentado, e eu não sabia por quanto
tempo ele ainda estaria entre nós. Mas aquele simples, verdadeiro e sincero elogio tornou mais ricas
as nossas vidas durante os últimos vinte anos. Elogie.