Antoni van Leeuwenhoek e seus vermes espermáticos* José Carlos

Transcrição

Antoni van Leeuwenhoek e seus vermes espermáticos* José Carlos
Antoni van Leeuwenhoek e seus vermes espermáticos*
José Carlos de Andrade Moura**
Geraldo Cezar de Vinháes Torres**
Caroline Machado Pires Barbosa***
Alberto Lopes Gusmão****
Na Antigüidade nada se sabia sobre o gameta masculino. Aristóteles
(384-322 a.C.) responsabilizou o sêmen como o fator capaz de iniciar o
desenvolvimento do concepto; ficando a sua formação estritamente
dependente das secreções uterinas e as novas estruturas iam sendo
formadas progressivamente (epigênese). A concepção dos homens sobre a
essência da sexualidade ficara entre a ignorância e a superstição.
O autodidata e microscopista holandês Antoni van Leeuwenhoek (1632 –
1723) fez descobertas significativas. Inicialmente identificou os primeiros
microorganismos, denominados animálculos, em infusões que ele mesmo
havia preparado. Posteriormente ele visualizou a “semente animal”, ou
“vermes espermáticos” (espermatozóides) no sêmen do carneiro.
Em abril de 1676 ele escreveu: “Não tenho dúvida de que os testículos foram
feitos sem nenhum outro objetivo além de fornecer os pequenos animais que
contêm e conservá-los até serem expelidos”.
Leeuwenhoek ilustrou suas descobertas – os animálculos do sêmen do
macho, com figuras mapeadas com seta, letras e números e as descreveu: “
A Figura 1 mostra um animálculo que tem quase sempre esse aspecto
quando está vivo e se movimenta, nadando com sua cabeça, ou parte
dianteira, em minha direção”. ABC é o corpo; CD, a cauda, que serpenteia
como enguias na água, quando ele nada. Em minha opinião, dez centenas de
milhares deles não equivaleriam, em tamanho, a um grão de areia”.
Em 1687, Henri Lipstorp estabeleceu a hipótese sobre a necessidade da
semente animal para a fecundação, através do seu trabalho: “Dissertatio de
animalculis in humano corpore genitis”.
Esta situação de total ignorância, sobre os animálculos de Leeuwenhoek, não
tardou de ser, parcialmente, esclarecida. O monge italiano Lazzaro
Spallanzani (1729–1799) provou, inicialmente em sapos, que o contato entre
o sêmen e os ovos era indispensável para a fertilização e depois na cadela,
realizou a primeira inseminação artificial. Em 1827, o embriologista russo
Karl Ernst von Baer (1792–1876) cunhou o termo “espermatozóide” para o
gameta masculino.
*
Apresentado no 34º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, Santos,
2007.
**
Acadêmicos Titulares da Academia Baiana de Medicina Veterinária
*** Médica veterinária
**** Professor da Escola de Medicina Veterinária da UFBA
Fig.44 - Ilustração dos “animálculos do sêmen do macho” feita por Antoni Van
Leeuwenhoek.
Fonte – KOLB, E. Biochemie und athobiochemic der Fortpflanzing. Jena:
GustavFisher Verlag, 1984. 528p.