Pedro Falcão
Transcrição
Pedro Falcão
Pedro Falcão design de comunicação / communication design 3 «Os livros são objetos que fazem parte da nossa mobília, assim como as cadeiras ou as mesas. É para mim impensável digitalizá-los e viver numa casa com prateleiras vazias.» “Books are objects that form part of our furniture, just like chairs and tables. For me, it would be unthinkable to digitize them and live in a house with empty shelves.” Pedro Falcão design de comunicação communication design 3 Coleção Pedro Falcão Edição Publisher Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A. Av. de António José de Almeida 1000-042 Lisboa www.incm.pt [email protected] [email protected] Conceito Concept Jorge Silva Design e coordenação Graphic design and coordination Catarina Raio / Silvadesigners Capa Cover Luís Alexandre / Silvadesigners Textos Texts José Bártolo Susana Pomba – página page 32 Pedro Falcão Revisão Proofreading INCM Ana Yokochi – Kennis Translations, S. A. Tradução Translation Sean Linney – Kennis Translations, S. A. Fotografias Photographs Todas as fotografias são da autoria de Pedro Falcão, à exceção de: All photographs taken by Pedro Falcão, except: Páginas Pages 40-41; 44-45, João Morgado Páginas Pages 80-81; 100-101, Fernando Guerra Páginas Pages 94-99, Leonardo Finotti Fonte Typeface Mrs. Eaves Papel Paper Chromocard 260 gr. Condat Silk 150 gr. Pré-impressão, impressão e acabamento Pre-press, printing and binding Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A. Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor © Pedro Falcão © 2012, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A. © dos textos e das fotografias: os autores texts and photographs: the authors Agradecimentos Acknowledgments Pedro Falcão agradece à sua mulher Lita, às suas filhas Francisca e Carolina, à família e aos amigos. Agradece aos clientes a oportunidade e ao Rui Oliveira, da Maiadouro, o acompanhamento na busca da perfeição. Pedro Falcão would like to thank his wife Lita, his daughters Francisca and Carolina, his family and his friends. A debt of gratitude is also owed to his clients for giving him the opportunity and to Rui Oliveira of Maiadouro for being a companion in the search for perfection. Pedro Falcão prefácio de José Bártolo preface by José Bártolo Tiragem Print run 2000 1.ª edição, fevereiro 2012 1st edition, February 2012 ISBN 978-972-27-1987-2 Depósito Legal Legal Deposit 331842/11 Edição n.º Edition no. 1018309 A Coleção D observa as normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Parceiros / Partners 3 4 Pedro Falcão 5 Pedro Falcão: Intuition and Reason Pedro Falcão: Intuição e razão “My errors were more fertile than I ever imagined” «Os meus erros foram mais férteis do que alguma vez pude imaginar» Jan Tschichold quoted by Pedro Falcão in the text for the exhibition Post-It (1998) Jan Tschichold citado por Pedro Falcão no texto da exposição Post-It (1998) When we look at a particular work by a designer – this poster or this catalogue – we generally become concerned with understanding how the solution was found to a specific problem: the use of the support, or of grids, or the typographic choices. But if we step back from a particular piece and focus our attention on the journey taken by the designer’s work, then we inevitably seek a style, the artist’s particular mark, his or her own language. The characteristics of Pedro Falcão’s work may hinder our efforts to pick out an authorial identity from among the range of particular solutions. Their richness and diversity seem to invite us to separate out different registers as autonomous bodies of work – separating the work of the graphic designer from that of the musician, the visual artist, the curator – and even creative sub-registers – separating, within his graphic work, for example, the type-design projects from the publishing, branding and poster projects, as well as many others that function on different supports and contents. An alternative way of thinking critically about his work, one that is doubtless more appropriate and interesting, involves seeking a sense of unity within an – intentional and controlled – diversity of registers, supports, media, languages and clients. When, in the late 1990s, Pedro Falcão’s work first came to the attention of the public in the context of the projects developed by A062, the association run by Pedro Falcão in Caldas da Rainha, any attempt to compartmentalise it would have been unthinkable. Exploring, in a way that was sometimes natural and intuitive, the contamination that takes place between the visual arts, performance, Quando olhamos para um trabalho específico de um designer – este cartaz ou este catálogo – a nossa preocupação passa geralmente por perceber a solução encontrada para resolver um problema determinado: exploração do suporte, uso de grelha ou escolha tipográfica. Mas se nos afastarmos de um trabalho em particular e focarmos a nossa atenção no percurso da obra do designer, então o que inevitavelmente procuramos é um estilo, uma determinada marca de autor, uma linguagem própria. As características da obra de Pedro Falcão poder-nos-ão colocar um embaraço a esse esforço de identificar, no conjunto de soluções particulares, uma identidade autoral. A sua riqueza e diversidade parece convidar a que separemos, como obras autónomas, diferentes registos – separando o trabalho do designer gráfico, do músico, do artista plástico, do curador – e mesmo sub-registos criativos – separando, por exemplo dentro do trabalho gráfico, os projetos de typedesign, de editorial, de identidade, de cartaz e muitos outros que trabalham diferentes suportes e conteúdos. A alternativa, no modo de pensar criticamente a obra, sem dúvida mais ajustada e interessante, passa pela procura de um sentido de unidade dentro de uma diversidade – intencional e controlada – de registos, suportes, meios, linguagens e clientes. Quando no final da década de 1990, o trabalho de Pedro Falcão ganha expressão pública, no contexto dos projetos desenvolvidos pela A062, associação dinamizada por Pedro Falcão nas Caldas da Rainha, seria impensável qualquer tentativa de compartimentação. Explorando, por vezes natural e intuitivamente, 6 Pedro Falcão 7 graphic design, music and rock culture, those projects expressed, at first glance, the rhythm and creative energy that also resulted from quoting and reinterpreting diverse languages: from punk to the kinetic movement. However, a closer look reveals that the authorial nature of these early works (such as Independent Worm Sallon, Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1994) is thought out and practised, resulting above all from a creative methodology based on three resources that would come to mark Pedro Falcão’s later work. The first of these resources – kineticism – is transported from the field of cinema to that of design. As we shall see, many of the artist’s works employ a cinematographic editing and montage model [particularly well achieved in the publication Silver Rocket (2007), and magisterially realised in the catalogue for Rui Chafes’s Involução (2008)]. There is also a constant sense of the cinematic, achieved by means of the rhythmic and performative exploration given to the composition that is particularly explicit in the early works [Use and Abuse Shots (1996)]. The second of these resources – seriality – is transported from the field of contemporary music to that of design. In many of Pedro Falcão’s works, either through his own choice or as a condition of the commission, he creates a series. Creating a series allows the designer to define a model and to explore variations on it. The methodical use of seriality, so evident in some of his artistic work (Dez, 2005; 140 campos, 2008), is also masterfully explored in graphic projects in the areas of publishing (good examples of which are the small-format catalogues for the temporary exhibitions at CAMJAP and the catalogues for Chiado 8) and the poster (the beautiful series of posters for the Architecture Department of the Universidade Autónoma de Lisboa). a contaminação entre artes plásticas, performance, design gráfico, música e cultura rock, aqueles projetos expressavam, a um primeiro contacto, esse ritmo e energia criativa resultantes, também, da citação e reinterpretação de diversas linguagens: do punk, ao movimento cinético. Porém, a um olhar mais atento, percebe-se que a autoralidade é, já nesses primeiros trabalhos (como Independent Worm Sallon, Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1994), pensada e ensaiada, resultando sobretudo de uma metodologia criativa assente em três recursos que vão marcar a obra ulterior de Pedro Falcão. O primeiro desses recursos é transportado do campo do cinema para o campo do design: cinetismo. Como veremos, em muitos trabalhos do autor, há um modelo de edição e montagem cinematográficos [particularmente conseguida na publicação Silver Rocket (2007) e magistralmente realizada no catálogo de Involução (2008) de Rui Chafes], para além de um constante sentido cinemático, conseguido através da exploração rítmica e performativa dada à composição, muito explicita nomeadamente nos primeiros trabalhos [Use and Abuse Shots (1996)]. O segundo desses recursos é transportado do campo da música contemporânea para o campo do design: serialidade. Em muitos trabalhos de Pedro Falcão, por opção própria ou por constrangimento da encomenda, trabalha-se uma série. O trabalhar a série permite ao designer definir uma matriz e sobre ela explorar variações. O recurso metódico à serialidade sendo muito evidente em algum trabalho artístico (Dez, 2005; 140 campos, 2008), é igualmente explorado com maestria em projetos gráficos, ao nível do editorial (de que são bons exemplos os catálogos de pequeno formato para as exposições temporárias no CAMJAP e os catálogos para o Chiado 8) e ao nível do cartaz (a belíssima série de cartazes para o Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa). 8 Pedro Falcão 9 The third of these resources – construction – has its origin in the field of design itself. Without going into details of the history of graphic design, it seems clear to us that in the work of this Portuguese designer (unusually, if we look at his generation) there is a logic of construction, a visual syntax, that guides the composition. Above all, it arises through the use of the grid, the weight of the typography, and the use of layers which, guaranteeing the compositional structure, allow variation and experimentation to take place. Various projects exemplify this logic of construction, which is also based on remarkable technical rigour (typographical rigour, attention to the printing process, to the quality of the paper, to the orientation of the fibre, etc.). These projects range from graphical identity, a project undertaken in collaboration with the architecture project for MUDE (the Museu do Design e da Moda) to the catalogues for the Prémio EDP Novos Artistas (2009) and Gravura by João Pedro Croft, via exhibition projects such as Le Corbusier; Nove (2003) or 22 em dash (2005), or the previously mentioned series of posters for the UAL. In work that is so open to the exploration of crossings – between music, painting, cinema, photography, and design – these three resources make it possible to identify an author. And while it is clear that this artist's work possesses its own language, this authorship does not derive from a style but from something deeper and more critical: a conscious, critical and rigorous sense of project, wherein lies the key to interpreting Pedro Falcão’s graphic work, the key to understanding its contemporaneity and universality. O terceiro desses recursos tem a sua origem no próprio campo do design: construção. Sem entrar em detalhes ao nível da história do design gráfico, parece-nos evidente haver no trabalho deste designer português, de uma forma rara se olharmos para a sua geração, uma lógica de construção, uma sintaxe visual, orientadora da composição: dada sobretudo pela utilização da grelha, pelo peso da tipografia, pelo uso dos layers, que, garantindo a estrutura compositiva, permitem variação e experimentação. Diversos projetos exemplificam esta lógica de construção, assente também num notável rigor técnico (rigor tipográfico, atenção ao processo de impressão, à qualidade do papel, à orientação da fibra, etc.): da identidade gráfica, projeto desenvolvido em colaboração com o projeto de arquitetura, do MUDE – Museu do Design e da Moda, aos catálogos Prémio EDP Novos Artistas (2009) e Gravura de João Pedro Croft, passando pelos projetos de exposição, como Le Corbusier; Nove (2003) ou 22 em dash (2005) ou pela já referida série de cartazes para a UAL. São estes três recursos que permitem, numa obra tão fértil à exploração de cruzamentos – música, pintura, cinema, fotografia, design – identificar um autor. E se é evidente que na obra deste autor há uma linguagem própria, essa autoria não deriva tanto de um estilo, mas antes de algo mais profundo e crítico, um sentido projetual consciente, crítico e rigoroso. É na compreensão desse sentido projetual que reside a chave da leitura da obra gráfica de Pedro Falcão, a chave de compreensão da sua contemporaneidade e da sua universalidade. José Bártolo, José Bártolo, Professor and design critic Professor e crítico de design 10 Pedro Falcão 11 14 Pedro Falcão 15 20 Pedro Falcão 21 24 Pedro Falcão 25 Pedro Falcão 27 páginas 10 e 11 pages 10 and 11 Estudo para logótipo Logotype sketch A062, Associação 062, 1993 páginas 22 e 23 pages 22 and 23 Cartaz Poster Slowmotion, Associação 062 / Art Attack, Estgad, 2000-2002 páginas 12 e 13 pages 12 and 13 Fotografia Photograph sem título untitled, c. 1992 páginas 24 e 25 pages 24 and 25 Desdobráveis Leaflets Slowmotion, Associação 062, 2000-2002 páginas 14 e 15 pages 14 and 15 Cartaz Poster Tina & The Top Ten, Associação 062, Serigrafia Screen print, c. 1998 páginas 16 e 17 pages 16 and 17 Fotografia Photograph sem título untitled, c. 1992 páginas 18 e 19 pages 18 and 19 Estudo Sketch 7 em dash, Guache sobre papel Gouache on paper, 2007 páginas 20 e 21 pages 20 and 21 Convites Invitation cards Voyeur Project View, 2006-2007 página 26 page 26 Cartaz Poster Slowmotion, Associação 062 / Art Attack, Estgad, 2000-2002 páginas 28 e 29 pages 28 and 29 Cartazes Posters Associação 062 / Art Attack, Estgad, Serigrafia Screen print, 1996-2003 páginas 30 e 31 pages 30 and 31 Intervenção Intervention Revolwers, The Lisbonaire Apartments, 2010 28 Pedro Falcão 29 In the late 1990s, in Caldas da Rainha, an independent and geographically versatile project appeared as an essential element in the presentation of the work of contemporary creators. Between 1996 and 2003, Pedro Falcão's Art Attack and Associação 062 showcased both artists who began their careers in the early 1990s as well as recently emerged creators who staged their first exhibitions there. The whereabouts of “there” varied – based in Caldas da Rainha, this project occupied both a vacant flat belonging to one of the members of the association, the window of a cafe and later a glass-walled room in the gardens of the Ceramics Museum. But Art Attack did not limit themselves to the city of Caldas da Rainha, staging some exhibitions in Lisbon (at the Cisterna Gallery of the Faculdade de Belas-Artes, Galeria ZDB, and Palácio Rosa, as part of the Festas de Lisboa). A few years later, it became clear that one of the essential and defining characteristics of this project was the extent to which it represented a crossover between the visual arts and design, a trend that is still current. Inseparable from any of the exhibitions staged by Art Attack are the graphical materials meticulously created by Pedro Falcão for each of them. These materials turned out to be not only a communication medium but also an integral part of each “attack”. No final dos anos 90, nas Caldas da Rainha, um projeto independente e geograficamente versátil apresentou-se como imprescindível na apresentação da obra de criadores contemporâneos. De 1996 a 2003, o Art Attack de Pedro Falcão e da Associação 062 mostrou tanto artistas que começaram a sua carreira no início dos anos 90 como também novíssimos criadores que tiveram ali das suas primeiras exposições. O «ali» era variável — centrado nas Caldas da Rainha, este projeto ocupou tanto um apartamento vago de um dos membros da associação, como uma vitrina de um café ou mais tarde uma sala envidraçada no jardim do Museu da Cerâmica. Mas o Art Attack não se cingiu à cidade das Caldas da Rainha fazendo também algumas exposições em Lisboa (na Cisterna da Faculdade de Belas-Artes, na Galeria ZDB ou no Palácio Rosa, integrado nas Festas de Lisboa). Passados anos, uma das características essenciais e marcantes deste projeto foi o cruzamento precioso, uma questão ainda atual, entre as artes plásticas e o design. Indissociáveis de qualquer das exposições realizadas pelo Art Attack estão os materiais gráficos realizados cuidadosamente por Pedro Falcão para cada uma delas. Materiais esses que se revelaram não apenas um suporte de comunicação mas parte integrante de cada «ataque». 34 Pedro Falcão 35 36 Pedro Falcão 37 38 Pedro Falcão 39 CASAS PARA O POVO UM PROJECTO FÍLMICO SOBRE O SAAL HOUSES FOR THE PEOPLE A FILM PROJECT ON SAAL Catarina Alves Costa Esta instalação nasceu da experiência de trabalhar arquivos de imagens e sons do período entre Agosto de 1974 e Outubro de 1976. É a história do SAAL, Serviço de Apoio Ambulatório Local, um movimento lançado após a revolução por um grupo de arquitectos, que respondia à luta de rua dos moradores pobres que, no “Verão quente” de 1974, gritavam “Casas, Sim! Barracas, Não!”. Se, em Lisboa, as operações do SAAL acontecem em subúrbios e em zonas de bairros de lata recentemente urbanizadas, no Porto tudo acontece no centro urbano, nos bairros históricos, com populações que aí vivem há longa data. Aí, experimentou-se a ideia de uma cidade em que os pobres têm direito ao centro histórico, onde velho e novo coexistem. O filme acompanha este processo, o movimento das ruas e a dinâmica de uma arquitectura colaborativa. No SAAL, os arquitectos organizaram-se em brigadas técnicas, que trabalhavam por zonas. A brigada trabalhava de forma a apressar a construção. Por isso, começa por projectar e construir em terrenos já disponíveis, sem necessidade de recurso a processos de expropriação, sempre lentos. O processo ganha uma enorme autonomia, avança rapidamente. O SAAL foi uma proposta alternativa, utópica, uma reflexão nova sobre a cidade. O sonho era grande. A história que conto começa com este sonho e acaba com o seu fim. A paisagem urbana, e nela o grupo de arquitectos e moradores pobres envolvidos, é retratada aqui de modo parcial, subjectivo, fragmentado. Em vez da história institucional, escolhi a história “engajada” presente em arquivos pessoais, em super 8 e 16mm, em slides que revelam a urgência do registo, em fotos das ocupações e manifestações de rua, sons de gravações de reuniões e de encontros onde se cantavam as Moradores de casa subalugada, Porto, 1974. Foto: Arquivo do Arquitecto Alexandre Alves Costa Tenants of a sublet house, Porto, 1974. Photo: Architect Alexandre Alves Costa archive — Jovens filhos de antigos mineiros, São Pedro da Cova, Porto, 1975. Foto: Arquivo do Arquitecto Alexandre Alves Costa Young children of former mineworkers, São Pedro da Cova, Porto, 1975. Photo: Architect Alexandre Alves Costa archive This installation was born of the experience of working with image and sound archives taken from the period between August 1974 and October 1976. It is the history of the SAAL, the Serviço de Apoio Ambulatório Local [Local Mobile Support Service], a movement launched after the revolution by a group of architects who responded to the street-level struggle of poor residents who, in the hot summer of 1974, shouted “Houses yes! Shacks no!” While SAAL’s operations in Lisbon took place in suburbs and recently urbanised shanty towns, in Porto everything happened in the town centre, in the historic neighbourhoods, with populations who had lived there since time immemorial. In Porto, the idea was tried of a city in which the poor had a right to the historic centre, and where old and young co-existed. The film follows this process, the movement on the streets and the dynamic of collaborative architecture. In the SAAL, the architects organised themselves in technical brigades, who worked according to areas. The brigades worked to speed up construction. For this reason, they began by planning and building on land that was already available, without the need to resort to expropriation processes, which were always slow. The process gained an enormous autonomy, and progressed rapidly. SAAL was an alternative, utopian proposal, a new way of thinking about the city. The dream was big. The story that I am telling begins with this dream and ends with its demise. The urban landscape, and the group of architects and poor residents who were involved in it, are portrayed in a partial, subjective and fragmentary way. Instead of presenting an institutional history, I have chosen the engaged history found in personal archive footage, super 8 and músicas revolucionárias. Trata-se de dar conta do ambiente subjectivo e poético, pessoal, manipulando estes materiais, voltando aos locais onde tudo aconteceu, remexendo gavetas e recordações, o que fiz com a ajuda e o enorme entusiasmo do meu pai, Alexandre. 82 16-mm film, slides that reveal the urgency of the recording process, photos of the street occupations and demonstrations, and sound recordings of meetings and encounters where revolutionary songs were sung. It is a question of depicting the subjective, personal, and poetic atmosphere by working with those materials, returning to the places where everything happened, and rummaging through drawers and recordings, which I did with my father Alexandre’s help and enormous enthusiasm. 83 Max Risselada Acerca da Casa do Futuro / Regarding the House of the Future Valley Section: um painel do “Isolate”, parte do projecto da Quinta Burrows Lea (1953-55) Valley Section: um painel das residências Close Valley Section; a panel of the ‘Isolate’ being the project for Burrows Lea Farm (1953-55) Valley Section; a panel of the Close Houses — — Valley Section: um painel do projecto habitacional Crescent Valley Section: um painel da Casa Fold Valley Section; a panel of the Fold House Valley Section; a panel of the Crescent Housing com uma altura de dois andares que serve de corta-vento. A casa pode ser construída contra o muro ou afastada dele, adicionando mais um espaço ao ar livre . “Vila” – Close Houses [Casas Pátio], juntas a uma passagem coberta ou pátio, respondem aos novos modos da vida numa vila. Cada casa pode ser diferente para se adaptar aos requerimentos individuais, derivados, no entanto, do mesmo princípio organizacional. “Cidade” – Terraced Crescent Housing. Habitação com terraços, em disposição semilunar, viradas a Sul, em que toda a acomodação está virada ao sol; as zonas de estar dão para um portal-entrada onde cada casa tem o seu próprio terraço. A parte semilunar retrocede para cima, em forma cónica, pelo que encontramos as famílias com crianças nos andares mais próximos do chão, e os solteiros nos andares de cima12. Durante o desenvolvimento e a realização dos projectos para as exposições da HOF e Pátio e Pavilhão, os Smithson realizaram também a Sugden House (Janeiro de 1955-Junho de 1956). A Sugden House tem uma relação bem identificável com as Casas suburbanas tipo Pátio já mencionadas. Como o único projecto residencial completado nos anos cinquenta, depois da escola de Hunstanton, esta modesta 54 sive wall, two storeys high, which serves a windbreak, is a typical feature. The house may be built right up against the wall or at a distance from it, thus adding extra outdoor space. ‘Town’ – Close Houses, linked to a covered passage or ‘close’, respond to new ways of living in a town. Every house can be different to suit individual requirements, yet be derived from the same organizational principle. ‘City’ – South-facing Terraced Crescent Housing, in which all accommodation faces the sun; living areas are open to a porch-doorstep where every house has its own terrace. The crescent tapers as it rises, so we find families of children nearer ground level, and single people in the uppermost storeys.12 During the development and realization of the exhibition projects for the HOF and the Patio and Pavilion, the Smithsons also realized Sugden House (January 1955-Juni 1956). Sugden House bears a recognizable relationship to the suburban Close Houses mentioned above. As the only residential project completed during the fifties after the Hunstanton School, this modest house assumed a special position within the much discussed idea of that time – New Brutalism, of which Peter once remarked: ‘Brutalist to us meant casa assumiu uma posição especial dentro da ideia muito discutida dessa época – o Novo Brutalismo, sobre o qual Peter observou: “Para nós, brutalista significava ‘directo’; para outras pessoas, passou a ser sinónimo de bruto, grosseiro, demasiado grande... Brutalismo era oposto, necessário para corresponder à nova situação.” 13 A casa é construída com tijolos em segunda mão, janelas uniformes, estandardizadas, vigas idênticas, uso interno de alvenaria à mostra e equipada com um tecto de telhas simples, tudo com a intenção de “adequar a forma das assoalhadas o melhor possível às funções, através de variações nas alturas das divisões e de aberturas para o exterior diferentes” 14. Com estas limitações, os Smithson conceberam um desenho que consegue, parcialmente, a referida diferenciação através da combinação de estruturas e materiais de uma forma directa. A distribuição invulgar das janelas na fachada “... permite à alvenaria confluir deliberadamente, e finalmente coincidir, com o tecto, para formar uma massa sólida, resultando na aparência de uma protecção em redor, que em tempos fora tão característica da arquitectura popular inglesa, tão expressiva do nosso clima” 15. 55 “Direct”; to others it came to be synonym for rough, crude, oversized…. Brutalism was opposite, necessary to suit the new situation.’13 The house is built of second-hand bricks, standard uniform windows, identical rafters, makes internal use of facing brickwork and is completed with a simple tiled roof, all intended ‘to make the shape of the rooms fit the functions as closely as possible, by varying room heights and by different openings outwards’14. Within these limitations, the Smithsons created a design in which the above-mentioned differentiation is achieved in part by combining structures and materials in a direct way. The unusual distribution of windows in the façade ‘…deliberately allows the brickwork to flow together and ultimately coalesce with the roof to form a solid mass resulting in that appearance of all-round protection which was once so characteristic of English popular architecture, so expressive of our climate’15. 42 Pedro Falcão 43 46 Pedro Falcão 47 48 Pedro Falcão 49 50 52 Pedro Falcão 53 54 Pedro Falcão 55 58 Pedro Falcão 59 60 Pedro Falcão 61 62 Pedro Falcão 63 página 32 page 32 Revista Magazine A062, Associação 062, 1996 página 33 page 33 Cartaz Poster Tone Scientists, Associação 062 / Art Attack, Serigrafia Screen print, 1998 página 34 page 34 Cartazes Posters Associação 062 / Art Attack, Serigrafia Screen print, 1997 página 35 page 35 Cartaz Poster João Belga Atelier 2, Museu Bernardo, Serigrafia Screen print, 2011 página 36 page 36 Cartaz/desdobrável Poster/leaflet Rui Valério, Associação 062 / Art Attack, Atelier-Museu António Duarte, 2002 página 37 page 37 Cartaz/desdobrável Poster/leaflet Daniel Malhão, Associação 062 / Art Attack, Museu de José Malhoa, 1997 páginas 38 e 39 pages 38 and 39 Livro Book Falemos de Casas: Entre o Norte e o Sul, Trienal de Arquitetura de Lisboa / Babel Editora, 2010 páginas 40 à 42, 44 e 45 pages 40 to 42, 44 and 45 Grafismo para exposição Exhibition graphics Overlappings, Royal Institute of British Architects, Projeto de arquitetura Architectural design João Favila, 2009 páginas 43, 46 e 47 pages 43, 46 and 47 Jornal de exposição Exhibition journal Overlappings, Royal Institute of British Architects, 2009 páginas 48 e 49 pages 48 and 49 Livro Book Arquipélago, Allgarve'10, 2011 páginas 50 e 51 pages 50 and 51 Cartaz Poster Para Além do Consumo, Experimenta Design, 2003 páginas 52 e 53 pages 52 and 53 Livro Book The Possibility of Everything, João Paulo Feliciano, Culturgest, 2006 páginas 54 e 55 pages 54 and 55 Brochuras Brochures Fidelidade Mundial — Chiado 8 / Culturgest, 2006-2008 páginas 56 à 65 pages 56 to 65 Exposição e livro Exhibition and book Scenario, Francisco Tropa, Direção-Geral das Artes, Veneza Venice, 2011 páginas 66 e 69 pages 66 and 69 Livro Book A Assembleia de Euclides, Francisco Tropa, Culturgest, 2009 66 Pedro Falcão 67 mw f i gur a s d e a lt e r i d ad e as outras. Tudo se passa como se, para reconstituir e revelar, na sua complexidade, o ser que é retratado no projecto, o artista precisasse de o dividir em múltiplas figuras, na sua aparência muito diversas. Levanta-se a hipótese, que não exclui outras interpretações possíveis e complementares, de a entidade abstracta resultante da conjugação de todas as figuras ser uma representação (com diferentes máscaras) do próprio artista.9 Francisco Tropa pensou A Assembleia de Euclides por analogia com uma máquina, inspirando-se – embora sem citar directamente – nas complexas e extravagantes invenções de Martial Canterel, a personagem central de Locus Solus, misto de cientista e alquimista (e, para Roussel, a personificação do artista). Não é difícil imaginar estas exposições, ou pelo menos alguns dos seus elementos, entre as assombrosas invenções cujo significado oculto Canterel revela aos seus convidados ao longo de um percurso iniciático pelo parque, situado na sua propriedade, onde aquelas se encontram espalhadas – desde a instalação A Assembleia de Euclides (a primeira exposição), tanto no estado de repouso em que muitos espectadores a encontraram, como quando o fotógrafo/ciclista entra em acção, até alguns dos objectos de O Transe do Ciclista, em especial o “Templo das Alegorias” e a “Gruta”, passando por todo o dispositivo de A Marca do Seio, seja em estado de inércia, quando é activado pela projecção dos dois filmes, ou durante a situação performativa. 10 Não menos importante para a elaboração de A Assembleia de Euclides, como veremos, foi a obra maior de Marcel Duchamp, deixada inacabada, La Mariée mise à nu par ces célibataires, même (1915-1923), também conhecida por Le Grand Verre, concebida como uma máquina, “uma máquina desprovida de qualquer atributo antropomórfico”11, e em termos tão crípticos que se torna impossível descodificá-la sem ler as notas, os esboços e os estudos preparatórios que o artista reuniu em La Boîte Verte (1934), seu complemento indispensável.12 Segundo Francisco Tropa, a máquina que desencadeia e produz a experiência do transe toma a forma de um cubo. O desenho geométrico do dispositivo central da primeira exposição, materializado na plataforma que lhe serve de base e nas duas paredes de alvenaria pintadas que perfazem um ângulo recto, fornece uma indicação – insuficiente, no entanto, para que isso se torne explícito para o espectador. Tudo aquilo que presenciamos nos diferentes projectos existe e acontece em simultâneo, em uníssono, poder-se-ia dizer, no interior desse cubo imaginário. De uma exposição para outra não existe, por conseguinte, uma progressão temporal, mas antes inflexões do ponto de vista narrativo: A Assembleia de Euclides (na Cordoaria Nacional) centra-se na relação 9 Numa entrevista por altura da apresentação de O Transe do Ciclista, o artista referiu-se de passagem ao ciclista como “essa figura que encarno, talvez a minha própria sombra”. Cf. entrevista a Francisco Tropa por Óscar Faria, Público, 18 Fevereiro 2006, p. 16. 10 Ao longo da exposição A Assembleia de Euclides, na Cordoaria Nacional, o fotógrafo/ciclista entrava em acção frequentemente, embora não todos os dias, sem aviso prévio. Em contrapartida, a situação performativa de A Marca do Seio, seu momento culminante, deu-se apenas em alguns dias e pressupunha um encontro marcado com o público. Os filmes Caracol e Gigante eram projectados duas vezes por dia, a horas fixas. 12 11 Michel Sanouillet, “Préface de 1958”, in Marcel Duchamp, Duchamp du Signe, org. Michel Sanouillet, Paris: Flammarion, 1999 (1975), p. 20. 12 Não é mera coincidência que Raymond Roussel e Marcel Duchamp coexistam como referências tutelares deste projecto. Duchamp descobriu a obra de Roussel em 1911, quando assistiu, juntamente com Guillaume Apollinaire, Francis Picabia e Gabrielle Buffet-Picabia, à representação teatral de Impressões de África. Como Duchamp reconheceu mais do que uma vez, os escritos de Roussel tiveram um enorme impacto sobre o seu pensamento e a sua obra: “Roussel foi, no essencial, responsável pelo meu Vidro (…). Foram as suas Impressões de África que me indicaram, nas suas grandes linhas, a démarche a adoptar. Essa peça, que vi na companhia de Apollinaire, ajudou-me imenso num dos aspectos da minha expressão. Vi imediatamente que podia sujeitar-me à influência de Roussel. Pensava que, enquanto pintor, mais valia ser in- fluenciado por um escritor do que por outro pintor. E Roussel mostrou-me o caminho. (…) Eis a direcção que a arte deve tomar: a expressão intelectual, em vez da expressão animal. Estou farto da expressão ‘estúpido como um pintor’.” Esta citação é extraída de declarações recolhidas por James Johnson Sweeney, publicadas em The Bulletin of the Museum of Modern Art, vol. xiii, n.os 4-5, Nova Iorque, 1946, pp. 19-21, e republicadas em Duchamp du Signe, op. cit., pp. 173-174. Para uma análise da influência de Roussel sobre o pensamento e a obra de Duchamp, ver Rosalind Krauss, “Forms of Readymade: Duchamp and Brancusi”, in Passages in Modern Sculpture, Cambridge, Massachussets, e Londres: MIT Press, 1981 (1977), pp. 69-84. O encontro de Francisco Tropa com a obra de Roussel foi propiciado pelo seu fascínio de há muitos anos pelas ideias e pela obra de Duchamp. entre o que vemos (o ciclista que pedala e realiza um teatro coreográfico) e o invisível (a figura espectral que é revelada pelas fotografias), enquanto O Transe do Ciclista introduz as sucessivas visões (da máscara, do crânio e de Vénus) que irrompem durante o transe, e contempla o momento em que este é interrompido, permitindo ao sujeito voltar a si e reencontrar o espaço e o tempo da vida quotidiana. A Marca do Seio mergulha-nos no processo do transe, mas a sua inscrição na narrativa subjacente às duas exposições anteriores é mais difícil de discernir: tudo ali conflui para o acontecimento mágico da génese e da formação de uma imagem primordial. Tal como as diversas figuras se misturam e, em última instância, se completam numa única figura (o sujeito do transe), também os múltiplos lugares são desdobramentos de um só lugar (a máquina onde o transe ocorre), enquanto os diferentes acontecimentos nos colocam perante um mesmo fenómeno (o processo do transe).13 Retrospectivamente, é a conjugação de todas as figuras, de todos os lugares e de todos os acontecimentos o que permite reconstituir a arquitectura e o funcionamento da máquina. É como se Francisco Tropa tivesse necessidade de a desmontar para revelar a sua mecânica. Mas não é suficiente decompor o que se encontra sobreposto e articulado no interior da máquina. Torna-se igualmente necessário distender o tempo fugaz de duração do transe.14 Seguindo de perto algumas das ideias que estiveram por detrás do projecto, aquilo que se vai a pouco e pouco desvelando é uma construção artificial, com um elevado grau de abstracção e mesmo de opacidade, que seria enganador confundir com a experiência sensorial e cognitiva do espectador. Se A Assembleia de Euclides oferece resistência à interpretação do espectador e a exercícios de exegese, isso resulta, antes de mais, de uma radical desconexão entre os diversos elementos (objectos, imagens, acontecimentos) e a realidade como referente ou horizonte de representação (sem que o artista adopte uma estratégia de auto-referencialidade que tome a arte ela própria como referente do trabalho). Um exemplo elucidativo, a este respeito, é o cenário do dispositivo central de A Assembleia de Euclides (na Cordoaria Nacional), dividido entre dois lugares, a “praia” e a “floresta”. Embora se liguem a memórias vivenciais e afectivas de dois lugares que são familiares ao artista, e apesar de serem facilmente reconhecíveis por relação com referentes concretos, a “praia” e a “floresta” têm o valor de puros arquétipos, remetendo para um imaginário que perdurou até aos nossos dias, mas cujas origens se perdem nos confins do tempo: a “praia”, um lugar de horizonte aberto e de claridade resplandecente, onde nos entregamos ao prazer desinibido da fruição da natureza; e a “floresta”, um lugar labiríntico e de escuridão, que desperta os medos associados ao desconhecido. Mas a estranheza do projecto e de cada uma das suas partes decorre também, e em grande medida, das relações improváveis e enigmáticas entre os seus diversos elementos constituintes. Tudo em A Assembleia de Euclides é codificado em função de uma trama narrativa obscura, de uma construção mental extremamente abstracta, de um pensamento alegórico que transcende as evidências do visível. Para se compreender o tipo de operações subjectivas envolvidas na concepção de A Assembleia de Euclides, é importante identificar algumas das referências que participaram na sua fabricação, começando pelo dispositivo central da primeira exposição. A superfície de vidro dividida ao meio cita de forma discreta o Grand Verre de Duchamp. É exactamente na linha divisória entre a parte superior e a parte inferior, nesse “horizonte artificial”, como o artista lhe chama, que a imagem do ciclista a mergulhar 13 Os dois momentos imediatamente subsequentes de A Assembleia de Euclides (respectivamente, no auditório do Museu de Serralves e na Galeria Quadrado Azul) apresentam dois lugares que, sendo exteriores 13 ao transe, o colocam sob uma perspectiva mais alargada: num plano mais baixo, a aldeia, o lugar da existência comunitária, onde a vida prossegue e se regenera através do alimento e do repouso; e, num plano mais elevado, o cemitério, a morada do eterno repouso do corpo. Aldeia e cemitério são as duas moradas do sujeito do transe no mundo. 14 Tanto a situação performativa de A Assembleia de Euclides (na Cordoaria Nacional) como a de A Marca do Seio têm uma duração aproximada de vinte e cinco minutos. 68 Pedro Falcão 69 pp. 44-45 Corpo Esqueleto de anatomia, cal, ramos de eucalipto e ervas diversas, corda de linho e de sisal, vitrina 191 × 81,3 × 42,5 cm Este corpo dividido (decapitado) é o retrato do ser que inicia o movimento do mecanismo e provoca a experiência do transe. É a representação das diversas figuras que activam os dispositivos que compõem A Assembleia de Euclides e que os põem em marcha: o ciclista (fotógrafo) e a observadora que se desnuda e assume a posição de Vénus sobre o pedestal de bronze. (Na realidade, os dispositivos estão já activos mesmo quando inertes.) Ele e ela são os criadores, a matriz da imagem (da figura na imagem) nestes dois extremos de A Assembleia de Euclides. A representação do corpo em palha e osso. O crânio em bronze. A cabeça em bronze e areia prensada. Gólgota. Esta personagem dividida apresenta-se na antecâmara do espaço de exposição. Introduz a figura descarnada antes de se aceder ao primeiro mecanismo. 42 mw in which everything was examined right down to the tiniest detail, with the project constantly being opened up to the imponderabilities and contingencies of the creative process. When the first chapter of The Assembly of Euclid was displayed at the Cordoaria Nacional, in May 2005, Francisco Tropa had not yet become fully aware of the immense generative capacity of this exhibition and the profound implications it would later have on the development of his work. Around that time, I invited him to exhibit in the space of Culturgest in Porto, and his initial proposal, formulated shortly afterwards in still rather vague terms, did not bear any relationship with what was to be presented there a year later, The Mark of the Breast. Francisco Tropa wanted to recreate several of his performative pieces from the previous ten years, having even expressed his wish to re-enact the piece Snail, from 1996: a snail attached to a fishhook and hanging on a thread from the ceiling, supporting and causing to undulate with its movements a sheet of transparent acetate on which is written the phrase “en guise de titre j’ajoute à cet horizon transparent une ligne d’opacité graphique d’autres mouvements de suspension”3. For this purpose, he intended to invite a clockmaker who would prepare the piece in front of the audience. In January 2006, when The Cyclist’s Trance was exhibited at the Galeria Quadrado Azul, he still maintained his intention of revisiting his performative pieces, but meanwhile he had moved on to the idea of transposing some of them to 16 mm films, which would be produced as autonomous works and not as simple documentary records. Although this idea would later be abandoned, it did, however, prove to be heuristic for the conception of The Mark of the Breast: this project incorporates two films, one of which explicitly paraphrases the above-mentioned work, and is structured upon a performative event.4 It is important to emphasise the inclusion in this book of a fragmentary text by Francisco Tropa, running parallel to the pictures. Avoiding any explanations or interpretations, and without attempting to uncover the mystery in which the whole project is shrouded, he reveals in this text the narrative that intertwines the project and the main narrative connections between the situations, objects and events that comprise it. In the course of our long conversations, from which notes were taken for the writing of this text, he repeatedly told me, when talking about the many different aspects of The Assembly of Euclid, that it was “a delirium”. Knowing of his fascination for the writings and the whole creative universe of Raymond Roussel, and, even more specifically, knowing of the crucial importance of the novel Locus Solus (1914) as a source of inspiration for The Assembly of Euclid, this warning set me thinking, besides any influences at the level of manifest content, about his affinities with the French writer, which can be detected at a deeper level and have to do with the creative process and its privileged relationship with the faculties of the imagination. As Michel Leiris wrote: “Raymond Roussel has constantly speculated on the imagination and (...) there was for him a clear opposition between the invented world which is that of the ‘conception’ and the given world – the human world in which we live daily and which we cover in our journeys – which is that of ‘reality’.”5 This opposition between conception and reality seems particularly pertinent for our approaching a project such as The Assembly of Euclid, which does not derive from any experience of the world, but is the product of a delirious imagination, highly organised through a rigorous use of 3 Which may be translated as: “by way of title, I add to this transparent horizon a line of graphic opaqueness from other movements of suspension.” 22 4 Undoubtedly influenced by 5 Michel Leiris, “Conception et Francisco Tropa’s first idea, Culturgest réalité chez Raymond Roussel”, in organised, in parallel to the exhibition Raymond Roussel, Épaves, Paris: JeanThe Mark of the Breast, and in partner- Jacques Pauvert, 1972, p. 11. ship with the Teatro Rivoli, the presentation of the performative pieces Seated Figure, Man in Erection (2001) and Inflected Shot (2002), on 20 November 2006. Head Bronze skull, compacted sand and iron moulding box 113 × 60 × 100 cm pp. 44-45 Body Anatomy skeleton, lime, eucalyptus branches and various grasses, linen and sisal rope, display case 191 × 81.3 × 42.5 cm pale light over the pedestal film projection Venus, pedestal of Venus sunset shadow of the palisade film projector lens curtain light falling on the wall palisade fingers light falling on the palisade pôr-do-sol sombra da paliçada penumbra dedos paliçada limewashed wall the mark of the breast, projection filmes projectados Vénus, pedestal da Vénus projector de cinema lente cortina muro caiado a marca do seio, projecção luz incidente sobre o muro luz incidente sobre paliçada Cabeça Crânio em bronze, areia prensada e caixa de fundição em ferro 113 × 60 × 100 cm penumbra Th e Mar k of the Breast tongue of light falling over half of the figure A Mar ca d o S ei o luz fraca sobre o pedestal Th e Ass em bly of Euc lid língua de luz incidente sobre metade da figura a as sembl ei a de e u cl ide s luz incidente sobre os dedos light falling on the fingers This divided (decapitated) body is the portrait of the being that triggers the movement of the mechanism and provokes the experience of the trance. It is the representation of the different figures that activate the devices comprising The Assembly of Euclid, that set them in motion: the cyclist (photographer) and the female observer who strips naked and assumes the position of Venus on the bronze pedestal. (In reality, the devices are already active, even when they are inert.) He and she are the creators, the matrix of the image (of the figure in the image) at these two extremes of The Assembly of Euclid. The representation of the body made of straw and bone. The skull of bronze. The head made of bronze and compacted sand. Golgotha. This divided character is presented in the antechamber of the exhibition space. It introduces the fleshless figure before moving on to the first mechanism. 43 112 113 figur es of ot he rnes s a ass emb l ei a de e ucl i des The As se mb ly of E ucl i d Pó de magnésio (branco), vestes negras ou pano escuro encobrem o corpo e permitem a marcação, o desaparecimento e a transparência da figura (ou de parte da figura) no negativo. A pele, quando exposta, imprime um cinza, entre o branco e o preto. Powdered magnesium (white), black clothes or a dark cloth cover the body and allow for the marking, disappearance and transparency of the figure (or part of the figure) in the negative. The skin, when exposed, imprints a grey tone between white and black. 58 59 artistic codes and processes. An imagination that is set in motion by a miscellany of references from the most varied origins, from very distant historical horizons and very different cultural contexts, and which enters into combustion (the delirium which the artist spoke about) through the improbable and extraordinarily fertile relationships that he establishes – one might even talk about a “montage of attractions”6 – between such heterogeneous references (without lapsing into an erudite strategy of citation). At a more immediate thematic level, The Assembly of Euclid touches upon the experience of the trance, regarded by the artist as a quintessential metaphor for the creative process, in terms of what remains secret and unfathomable within it. For the time being (we shall return to this question later on), let me just highlight this insistence on a phenomenon that is inaccessible to visual representation and which transcends our capacity of understanding. In fact, the trance may be captured through the outer manifestations of the body, but the inner convulsion of the head that spins off into an unknown dimension and becomes detached from reality, remains inaccessible both to our sight and to logical thought. The decapitated figure with which we were confronted in the antechamber of the exhibition at the Cordoaria Nacional – a fleshless body, made of bones and dry branches, and a head made of bronze and laid in a box filled with compacted sand – set the tone for this exhibition, posing one of the questions that runs through the whole project from one end to the other: the separation between the head and the body.7 If the experience of the trance is a metaphorical equivalent for the creative process, then this question – what do the head and the body do when the latter is freed from the former? – has on its horizon a questioning of the nature of art and the activity of the artist. Francisco Tropa summons up a dichotomy that is deeply rooted in our western culture of Jewish-Christian origins (one need only think about the dualities between body and soul, heaven and earth, or between reason and emotion), not with the aim of reiterating it, but rather in order to deconstruct it, to problematise the anthropological unity of the being, in life as in art. It is interesting to note that this question was already foreshadowed in the artist’s works about the notion of “lineage” (more specifically, the “lineage of the skull” and the “lineage of the eye”), based upon a distinction between the intellect and the senses (correlated with the duality between masculine and feminine) as a fundamental principle structuring our relationship with the world.8 It is far from evident for the spectator – and only now, in this publication, does the artist make this explicit – that the different “characters” of the project are avatars or doubles of that primordial figure: the photographer/machine operator who prepares the camera and, in this way, sets the device in motion (The Assembly of Euclid at the Cordoaria Nacional); the cyclist who pedals and progressively enters into a trance 6 “Montage of attractions” is the expression used by Georges DidiHuberman to characterise the type of knowledge that is incorporated into the iconographic archive of the art historian Aby Warburg, in his atlas Mnemosyne, a “knowledge-movement of images, a knowledge in extensions, in associative relations, in constantly renewed montages, and no longer a knowledge in straight lines, in a restricted corpus, in stabilised typologies.” Through this epistemological démarche, Warburg “was to gain access to a world open to multiple extraordinary relationships, dangerous even to consider: the nymph with the serpent (femininity, bestiality), painting with dance (represented movement, exe- 23 cuted movement), Medici Florence with Native American New Mexico (historical past, present-day origins), and so on”. Cf. Georges Didi-Huberman, “Knowledge-Movement (The Man Who Spoke to Butterflies)”, in Philippe-Alain Michaud, Aby Warburg and the Image in Motion, New York: Zone Books, 2004 (1998), pp. 10, 12. Didi Huberman’s words are enormously resonant when we think about the relationship that Francisco Tropa establishes, throughout The Assembly of Euclid, between references linked to very different cultural contexts and to very distant time horizons. 7 The film Les Maîtres Fous (1956) by Jean Rouch was one of the many references that Francisco Tropa explicitly mentioned in the course of our conversations as having been crucial for his construction of The Assembly of Euclid, more precisely for his arriving at the theme of the trance and the correlated question of the separation between the body and the head. Les Maîtres Fous documents the rituals of possession amongst the members of the Haouka sect (which means “masters of the wind”, “masters of madness”), in the city of Accra, in Ghana. 8 The first pieces based on the notion of “lineage” were presented at Francisco Tropa’s solo exhibition at Porta 33, in Funchal, in February 2003, and, immediately afterwards, in the already mentioned L’Orage project. 70 Pedro Falcão 71 72 Pedro Falcão 73 Five Rings PENTAGRAM CANDLE FORMATIONS ON A LINE DIAGRAM PLACED INSIDE A HEXAGRAM SURROUNDED BY REGULAR STAR POLYGONS Orla Barry Rui Chafes 4 5 I remember being too full to remember… I remember recounting, I remember, remembering without images, I remember rehearsing memory through voice. I remember speaking a poetic language. A language that is removed from speech, one that does not allow for communication but for interpretation and reinterpretation. I remember life without hand cream. 10 74 Pedro Falcão 75 I remember the colour of the air and the sun burning through my clothes. I remember the brain sunburn. 13 60 61 Paired Stones Field Touches Sky Stone Baby Nuclear Stone Sun on a Foggy Day Stone Long Lost Large Nuclear Stone (still lost) Heavy Heart Stone Seven Softened Worry Stones Cloud with Purple Glow Stone Sunset at Sea Stone Sea Touches Sky Stone Sky Touches Sea Stone Thunder and Lightening Stone Layers of Love Stone 57 74 75 78 Pedro Falcão 79 82 Pedro Falcão 83 84 Pedro Falcão 85 Jornal Arquitectos /// Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos /// Portugal /// 228 /// Julho – Setembro 2007 /// € 10,00 JA228 Jornal Arquitectos /// Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos /// Portugal /// 225 /// Outubro – Dezembro 2006 /// € 10,00 JA225 86 Pedro Falcão 87 Jornal Arquitectos /// Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos /// Portugal /// 227 /// Abril – Junho 2007 /// € 10,00 Pedro Falcão 89 JA227 88 páginas 70 e 71 pages 70 and 71 Cartazes Posters Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa, 2007 páginas 72 à 75 pages 72 to 75 Livro Book Five Rings, Orla Barry, Rui Chafes, Museu Coleção Berardo, 2011 páginas 76 e 77 pages 76 and 77 Telão Screen MUDE, 2009 páginas 78 e 79 pages 78 and 79 Brochura Brochure MUDE, 2009 páginas 80 e 81 pages 80 and 81 Grafismo para exposição Exhibition graphics MUDE, Projeto de arquitetura Architectural design Ricardo Carvalho e Joana Vilhena, MUDE, 2009 páginas 82 e 83 pages 82 and 83 Cartazes Posters MUDE, 2009 páginas 84 e 85 pages 84 and 85 Livros Books Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004-2006 páginas 86 à 88 pages 86 to 88 Revista Magazine JA — Jornal Arquitectos, Ordem dos Arquitectos, 2005-2009 páginas 90 e 91 pages 90 and 91 Livro Book Prémio EDP Novos Artistas 2009, Fundação EDP, 2010 páginas 92 e 93 pages 92 and 93 Livro Book Ontem, André Cepeda, Le Caillou Bleu, 2010 90 Pedro Falcão 91 Prémio Edp Novos Artistas 2009 / Comissariado / Curatorship: João Pinharanda Delfim Sardo Nuno Crespo / Júri / Award Jury: Agnaldo Farias Bartomeu Marí José Manuel dos Santos Miguel von Hafe Pérez Pedro Calapez 16 António Bolota Estas linhas de desenvolvimento do trabalho são muito próximas da relação que os construtivistas russos propunham entre tektonika, faktura e konstruksia. Para o grupo de artistas de que fazia parte Moizei Ginzburg a arte define-se a partir da articulação entre estes eixos: o primeiro conceito diz respeito ao elo orgânico entre valores políticos e técnicas industriais. Faktura diz respeito aos valores específicos dos materiais usados. Konstruksia é a formulação levada ao extremo, isto é, a performatividade do projecto. Se, para a aplicação histórica destes princípios na Rússia o caminho da arte se orienta para uma construção social, na versão própria que lhe é conferida por António Bolota nasce uma simbiose em relação ao minimalismo norte-americano, com a sua noção de especificidade do objecto, tal como foi definida por Donald Judd em 1965. Por outras palavras, a imanência do objecto é o seu destino e o primado ideológico é substituído por uma razão sensível e subjectiva. Assim, as obras de António Bolota lidam com as determinantes do espaço arquitectónico, com a subtileza construtiva no limite da possibilidade de existência da própria obra, mas são, acima de tudo, intervenções que reequacionam a escultura e a sua tradição de peso e massa para um universo no qual a performatividade da relação com o espectador é a sua principal função. DS 1 17 the first concept describes the organic link between political values and industrial techniques. Faktura concerns the specific value of the materials employed. Konstruksia means formulation taken to an extreme, that is to say, the project’s performativity. While, in terms of the historical application of these principles in Russia, art was being oriented towards the construction of a society, António Bolota’s version generates a symbiosis between Russian Constructivism and American Minimalism, with its notion of the object’s specificity, as defined by Donald Judd in 1965. In other words, the object’s immanence is its destiny, and the ideological primacy is replaced with sensitive, subjective reason. Consequently, António Bolota’s pieces deal with the determinatives of architectural space and with constructive subtlety on the limit of the work’s chance to exist, but are, most of all, interventions that re-equate sculpture and its tradition of weight and mass into a universe in which their main purpose lies in the performativity of their relationship with the viewer. DS 1 22 23 92 Pedro Falcão 93 102 Pedro Falcão 103 Involução Rui Chafes 104 Pedro Falcão 105 Há aqui uma deficiência técnica: não conseguir impedir a escultura de ser objecto. Não conseguindo torná-la numa existência com estatuto de pensamento, resta-nos uma existência com estatuto de corpo, não um corpo. Eu entendo que a boa arte, a arte forte, é a arte que não promete nada, a arte que é sempre uma desilusão. O tempo manual é único, é o tempo só do Artista. O resto é o vazio oficial, a mesa vazia dos burocratas, a informatização e a mediatização das limitações que o social forçosamente impõe ao individual. Temos de tentar agarrar os espaços entre, temos de ser capazes de recusar o hieratismo oficial, quer ele seja sorumbaticamente lírico ou panfletariamente activista. Só os que atravessaram o escuríssimo túnel é que destruíram os seus limites, só eles reaparecem na mais intensa luz, carregados de sublime entusiasmo. A arte não é nem nunca foi uma ciência. A utopia é o indizível, o inefável, o inacabado, o irrealizável, a esperança. A escultura constrói-se com o que se tem à mão ou nos é mais familiar: ferro, pedra, alcatrão, papel, fotografia, lápis, vídeo, voz, luz, corda, palavras, cimento, palavras de cimento. Uma escultura não é uma existência definitiva nem é esse o seu valor. Uma escultura é um módulo de pensamento, é apenas uma possibilidade, uma hipótese. É uma dúvida, que se transmite a outros (só a alguns, não a todos). É um homem pendurado por um fio, de cabeça para baixo, a tentar manter-se acordado. A arte fraca encena, sugere e promete. ção, portal de acesso à zona invisível, e por vezes indizível, do pensamento. Por isso Chafes chama aos seus corpos-escultura “módulos de pensamento” e o que resulta do seu trabalho com o ferro são objectos mágicos, religiosos, talismãs4. 216 —— 4 “Há aqui uma deficiência técnica: não conseguir impedir a escultura de ser objecto. Não conseguindo torná-la numa existência com estatuto de pensamento, resta-nos uma existência com estatuto de corpo, não um corpo.” R. Chafes, op.cit., p. 27 —— 5 L. Witttgenstein, op.cit., p. 9 —— 6 Rui Chafes, op.cit., p. 94 —— 7 “Involução”, Conferência de Rui Chafes em Montemor-o-Novo, 2 de Abril de 2008 (no prelo). —— 8 L. Wittgenstein, op.cit., p. 8 O ar que circula em Chafes – e lembre-se a intensa familiaridade entre ar, sopro e alma – é aquilo a que Wittgenstein chama espí-rito – palavra tão caída em desuso e quase banida do nosso empobrecido vocabulário estético contemporâneo –, e para o filósofo esse espírito manifesta-se, sobretudo, na recusa da ideologia do progresso, da evolução, da civilização, e na negação dos processos cumulativos e esterilmente construtivos que dizem sempre sim, querem sempre mais e nunca nada lhes basta: “A nossa civilização é caracterizada pela palavra progresso. O progresso é a sua forma, e não uma das suas propriedades que a faz progredir. Ela é tipicamente construtora. A sua actividade é construir uma estrutura cada vez mais complicada. E até a claridade é meramente um meio para este fim e não um fim em si mesma. / Pelo contrário, para mim a claridade, a transparência, são um fim em si mesmas.”5 Chafes é mais frio e cortante e, tal como as suas esculturas, atinge o centro existencial negativo da ideologia do progresso: “A verdadeira liberdade não é, ao contrário do que muita gente pensa, poder ter. A verdadeira liberdade é justamente poder não ter, poder abdicar, renunciar, poder prescindir. Essa é que é a verdadeira liberdade, esse é que é o luxo, só alguns o podem ter.”6 Não é a negatividade que aqui se expressa, mas um gesto de reivindicação de espaço para o agir e para o existir. Espaço vital para o exercício crítico do pensamento que se dá, como o escultor costuma afirmar, sob a forma de “ferro, fogo e palavra.” Por isso o seu trabalho não evolui, mas involui. A afinidade teórica entre Chafes e Wittgenstein transforma-se em pulsão de encontrar um par, de fundar uma comunidade humana (constituída pelos mortos, mas também por alguns vivos), de descobrir aquele que possa escutar as palavras que se dizem. Numa recente conferência Chafes afirmou: “sinto-me completamente sozinho, isolado, em solidão. Estou sentado num monte de ossos; esses ossos são os meus pais. Todos os nomes que evoquei […] são os meus pais, as pessoas, os artistas e as referências artísticas que me interessam quando lanço o olhar à minha volta e vejo a minha relação com o passado.”7 Este não é um olhar irremediavelmente virado para trás, ao qual nada do que está vivo interessa. Anima-o a expectativa de poder, algures, quebrar a solidão e isolamento; não se trata de o anular, porque a obra de arte vive num magnífico isolamento, mas tomar consciência do carácter irredutível da solidão humana. reito próprio, recebe no momento do seu nascimento (a tal família que fala Chafes). 217 Chafes nunca deixará de estar sentado sobre aquele monte de ossos, mas poderá encontrar quem, a seu lado, se sente sobre um monte de ossos semelhante ao seu. Wittgenstein também foi tomado por um sentimento semelhante ao do escultor. No esboço que escreveu, para o seu projecto de livro Observações Filosóficas que nunca chegou a publicar, dá conta do lugar isolado que ocupa: “este livro é escrito para aqueles que simpatizam com o espírito em que foi escrito. Acredito que este espírito é diferente do espírito prevalecentes das civilizações Europeia e Americana.” E umas linhas à frente acrescenta: “o desaparecimento das artes não justifica um juízo depreciativo acerca de toda a humanidade. Nestas épocas, as naturezas fortes e genuínas abandonam as artes & voltam-se para outras coisas & o valor do individuo, de algum modo, acaba por se expressar.”8 O seu cepticismo era total: para onde quer que olhasse só via forças fragmentadas e estéreis. Mas o seu isolamento era mais profundo que o de Chafes: para Wittgenstein não havia tradição para onde dirigir o olhar, nada lá atrás que pudesse admirar, nenhum monte de ossos onde se pudesse sentar. O Socialismo e Nazismo dominantes no seu tempo significaram para ele a derrocada do passado e, logo, o despedaçar da herança que cada um, por di- A inactualidade que se abate sobre este modo de pensar e fazer emerge, como gesto singular, do caos do tempo actual a reclamar o regresso do originário, a ensaiar um contacto com o profundo que está em nós, um contacto com a origem, o elevado, o ilimitado: “é notável que estejamos inclinados a pensar a civilização – casas, ruas, carros, etc. – como afastamento do homem da sua origem do elevado, ilimitado, etc. Parece que é como se o nosso ambiente civilizado, como também as suas árvores e plantas, estivesse embrulhado, de modo barato, em papel de celofane & isolado de tudo o que é grande &, por assim dizer, de Deus. Esta é uma imagem maravilhosa que a nós se impõe.”9 As imagens que surgem para dar conta do modo como Chafes e Wittgenstein percebem o que os rodeia não procedem de uma escolha, são inevitabilidades: não se podem pensar de outra maneira, não pode ser de outro modo, são evidências a partir das quais criam imagens e com as quais podem falar do que mais lhes interessa. No caso do escultor, esta descaracterização – a que corresponde um desenraizamento e um afastamento da origem – é combatida ao reclamar o regresso do artista ao tempo lento do fazer, ao contacto com a matéria que é o único modo de conhecer, para depois ultrapassar, o limite expressivo daquilo com que se trabalha: “o tempo manual é único, é o tempo só do Artista. O resto é o vazio oficial, a mesa vazia dos burocratas, a informatização e a mediatização das limitações que o social forçosamente impõe ao individual. Temos de tentar agarrar os espaços entre, temos de ser capazes de recusar o hieratismo oficial, quer ele seja sorumbaticamente lírico ou panfletariamente activista. Só os que atravessaram o escuríssimo túnel é que destruíram os seus limites, só eles reaparecem na mais intensa luz, carregados de sublime entusiasmo. A arte não é nem nunca foi uma ciência. A utopia é o indizível, o inefável, o inacabado, o irrealizável, a esperança.”10 —— 9 L. Wittgenstein, op.cit., p. 57 —— 10 R. Chafes, op.cit., p. 43 —— 11 L. Wittgenstein, op.cit., p. 8 O sublime entusiasmo pela utopia, pelo indizível, pela esperança, é o que anima o movimento do artista a nunca parar, a nunca deixar de fazer, a nunca ficar ancorado numa única posição e passar a mera instância de repetição de fórmulas ou clichés. Só porque o artista sabe que nunca conseguirá concretizar a utopia, porque sabe que a obra de arte utópica será sempre ideal e nunca real, é que as suas mãos, local onde habita a sua inteligência abstracta, sensível e intelectual, continuam a procurar a intensidade certa, o ritmo adequado, e a aprender o rigor que a matéria exige para ser dominada. Porque mesmo face a todas as adversidades “a força não se mede pela distância que percorre, mas talvez pelo calor que gera na conquista das resistências do atrito. Mas a energia mantém-se energia.”11 É esta a esperança de Chafes: que os seu corpos-escultura, os seus módulos de pensamento, sejam lugares de concentração de energia, pontos de condensação que evitem a dispersão, diques que impeçam a dissipação e nos quais a energia se mantém activa e actuante. O paradoxo de que a arte é a realização é que qualquer construção pressupõe a passagem de uma potência a um acto. Por princípio (físico, químico, filosófico, mas não artístico) o ferro, depois de assumir a forma que o escultor lhe dá, não poderá ser outra coisa mais que essa forma, mas no caso da escultura a potência permanece potência: trata-se da potência de uma potência, energia de uma energia, tendencialmente infinita, inesgotável e sempre irrealizável. Que a experiência da arte seja uma invenção humana significa que a obra de arte, que é um acto, nunca está completa ou plenamente realizada, por isso permanece pura potência, possibilidade inesgotável de uma experiência, de um pensamento, de um gesto. A escultura é sempre a promessa da realização desse acto espiritual supremo, mas é só no encontro da solidão da obra com a solidão daquele que a experimenta que começa a experiência da arte e por isso “a energia mantém-se energia” e aquilo que o corpo-escultura promete é ser pensamento, é ser energia, é ser arte. 106 Pedro Falcão 107 108 Pedro Falcão 109 110 Pedro Falcão 111 112 Pedro Falcão 113 Pedro Falcão 117 páginas 94 à 101 pages 94 to 101 Grafismo para exposição Exhibition graphics Expo Países, Projeto de arquitetura Architectural design Ricardo Bak Gordon, Trienal de Arquitetura de Lisboa, 2007 páginas 102 à 105 pages 102 to 105 Livro Book Involução, Rui Chafes, Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, 2008 páginas 106 à 109 pages 106 to 109 Cartazes Posters Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa, 2007-2009 páginas 110 à 115 pages 110 to 115 Livro Book Scripta, Francisco Tropa, Galeria Quadrado Azul, 2011 página 116 page 116 Logótipo Logotype Nau Capital, 2007 páginas 118 e 119 pages 118 and 119 Livro Book Testemunhos, Instituto do Emprego e Formação Profissional, 2008 páginas 120 e 121 pages 120 and 121 Cartazes Posters Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa, 2011 páginas 122 e 123 pages 122 and 123 Livro Book José Pedro Croft, Instituto Açoriano de Cultura / Tristan Barbarà Editions, 2010 páginas 124 e 125 pages 124 and 125 Livro Book La Ligne Volage, Edgar Martins, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, Paris, 2010 118 118 R2 Pedro Falcão 119 | Patrícia Almeida | | Kathleen Gomes | | Augusto Brázio | | André Cepeda | | Sandra Rocha | | António Júlio Duarte | | João Serra | | Pedro Letria | | Augusto Alves da Silva | | Catarina Alves Costa | | 10 36; 58; 80; 102; 124; 146; 168 38 60 82 104 126 148 170 186 198 Legendas 4 5 | André Cepeda | 61 120 Pedro Falcão 121 122 Pedro Falcão 123 124 Pedro Falcão 125 Sérgio Mah Pizzaland, 2010 De la série Une cartographie métaphysique d’habitats britanniques From the series A Metaphysical Survey of British Dwellings L’image oscillante The oscillating image Que signifie représenter et percevoir photographiquement les lieux ? Comment le photographique, avec ses limitations et ses potentialités, a-t-il le privilège de « démonter » l’apparence du territoire et, par conséquence, de faire appel à une expérience plus vaste, plus émotive et plus enchevêtrée de ses significations latentes ? Comment se connectent et se configurent les lieux en fonction des phénomènes sociaux, politiques et écologiques ? Voici des questions pressantes pour beaucoup d’artistes visuels contemporains, pour qui le travail sur le lieu et sur le paysage engage un défi de plus en plus nécessaire, celui de rendre visibles et d’interpeller les moyens d’appropriation et de transformation de l’espace, de racheter les incidences, les dilemmes et les échos de l’histoire sur le territoire. Ainsi, reproduire, construire et représenter l’image du lieu signifie aussi scruter ses significations physiques, sociales et symboliques. Nous savons qu’un lieu n’est pas seulement un bout d’espace ou un point imaginaire. Un lieu est aussi une manière de voir, de connaître et de comprendre le monde. En effet, regarder et penser le monde comme un agrégat de lieux détermine une perspective très particulière : nous en saisissons alors des aspects singuliers, nous comprenons les connexions et les écarts entre gens, objets et contextes spatiaux, nous assimilons des vécus et des significations particulières. En conséquence, le lieu devient aussi un champ d’images et de langages, où la géographie croise ses résonnances et ses implications historiques, fictionnelles et idéologiques. Le travail du photographe Edgar Martins est lié à cet ensemble de réflexions et de motivations. Avec une trajectoire artistique qui s’est consolidée à partir de 2003, Edgar Martins a développé un parcours d’auteur d’une singularité et d’une cohérence reconnue, à travers une pratique photographique axée sur les formes de la représentation topographique, du paysage à l’architecture. Toutefois, dans la photographie d’Edgar Martins, ces formes sont soumises à une attitude simultanément descriptive, spéculative et reconfiguratrice : entre la documentation de lieux suggestifs et What does it mean to represent and perceive places photographically? How is it that the photographic, with its limitations and potentialities, has the privilege of ‘disassembling’ the appearance of the territory and, consequently, of inviting a broader, more emotional and more intricate experience of its hidden meanings? How do places connect and configure themselves in accordance with social, political and ecological phenomena? These are pressing questions for many contemporary visual artists for whom working on place and landscape involves an ever more necessary challenge: that of rendering visible and interrogating the ways in which space is appropriated and transformed, and salvaging some vestige of the events, dilemmas and reverberations wrought by history on the territory. Thus, reproducing, constructing and representing images of place also means scrutinising their physical, social and symbolic meanings. We know that a place is not just a portion of space or an imaginary point. It is also a way of seeing, knowing, and understanding the world. In effect, looking at and thinking about the world as an aggregate of places shapes a very particular outlook: we come to discern unique aspects, to perceive connections and distances between people, objects and spatial contexts, and to assimilate experiences and particular meanings. Consequently, place also figures as a field of images and languages in which geography intertwines with its historical, fictional and ideological resonances and implications. The work of the photographer Edgar Martins has been linked to this series of reflections and motivations. With an artistic practice that began to become established in 2003, Edgar Martins has undertaken an authorial journey of recognized uniqueness and coherence via a photographic practice that alludes to genres ranging from topographical representation to landscape and architecture. However, in Edgar Martins’ photography these genres are subjected to an approach that is simultaneously descriptive, speculative, and reconfiguring, lying as it does between the documentation of spaces that are suggestive and 9 Sérgio Mah ture-morte, mais aussi dans des pratiques de la sculpture qui privilégient la logique de l’intervention site-specific. Cette sensibilité sculpturale est également présente dans la série Monolithes réticents, avec toutefois un sens et une échelle distinctes : dans ce cas, il s’est surtout agi d’explorer (et, dans certains cas, de monumentaliser) l’autorité physique et esthétique d’objets singuliers – un amoncellement de cageots, un panneau publicitaire ou un objet architectural – de façon à affirmer leur valeur en tant qu’objet-image. La dernière série, Une cartographie métaphysique d’habitats britanniques, est un travail inédit qui est toujours en développement. Poursuivant sa réflexion sur les phénomènes et les dérivations de l’espace urbain, Edgar Martins photographie une ville factice, bâtie dans le but de servir de scène aux exercices d’entraînement de la police métropolitaine britannique. L’ambiance est crépusculaire, renforcée par l’éclairage artificiel et les cieux noirs, ce qui lui instille un caractère filmique insaisissable. Ce sont, en même temps, des images qui articulent une cartographie dystopique d’une ville presque déserte (on aperçoit seulement la présence lointaine d’une femme), située dans un temps historique confus et difficile à identifier. Les immeubles sont gris, ce qui accentue le contraste avec la présence inattendue de noms (en couleur) de banques et d’entreprises multinationales. Entre l’espace réel et l’espace simulé, cette série, tout comme la globalité de cette exposition symptomatiquement intitulée La ligne volage, cherche à scruter des images de lieux mais, corrélativement, elle essaye aussi de réfléchir sur la place du photographique. Ce sont donc des images qui reflètent le monde des apparences et ses doutes inextricables, tout en permettant que le lieu, en tant que théâtre de l’action historique, montre sa banalité et son étrangeté, son évidence et sa contre-évidence, sa vérité et sa fiction. Ainsi, on cherche à mobiliser l’une des compétences les plus pertinentes de la création artistique, celle d’interpeller directement le spectateur, dans ses convictions, ses expectatives, et dans la façon dont il se place dans le monde. 18 development. Following his reflection on the phenomena and derivations of urban space, Edgar Martins is photographing a fictitious city built to serve as a stage on which to train the British Metropolitan Police. The atmosphere is crepuscular, reinforced by the artificial lighting and the black skies, which lend it a seductive, filmic character. At the same time, these images express a dystopian cartography of an almost deserted city (the distant presence of a woman can just about be made out) situated in a confused historical time that is difficult to identify. The buildings are grey, which accentuates the contrast between them and the unexpected presence of the (coloured) names of banks and multinational companies. Between real and simulated space, this series, like the whole of the exhibition, symptomatically entitled The Wayward Line, seeks not only to scrutinise images of places but also, correlatively, to reflect on the place of the photographic. These are therefore images which reflect the world of appearances in its inextricable uncertainties, not allowing the place, as the theatre of historical action, to avoid revealing its banality and strangeness, its evidence and counterevidence, its truth and its fiction. The aim is therefore to mobilise one of art’s most pertinent abilities, namely, its ability to directly question the spectator’s convictions, expectations and the way in which he locates himself in the world. Sans titre (Atlanta, Géorgie) / Untitled (Atlanta, Georgia), 2008 De la série Ceci n’est pas une maison From the series This Is not a House 126 Pedro Falcão 127 Pedro Falcão Pedro Falcão Pedro Falcão was born in Caldas da Rainha in 1971. Between 1991 and 1995 he studied Graphical Arts at the Escola Superior de Tecnologia de Tomar and Fine Arts at the Escola Superior de Arte e Design in Caldas da Rainha. Towards the end of 1995 he moved to Lisbon and worked for ten years at Mário Feliciano’s graphical design studio Secretonix. In 2006 he set up his own studio in Lisbon, Atelier Pedro Falcão, working for cultural institutions, artists and architects. In the area of graphical design, he carried out corporate branding projects, editorial design and posters, as well as conceiving the signage for buildings and exhibitions and becoming a specialist in book design. Since 2006, he has taught Editorial Design on the Multimedia and Graphic Design course at the Restart school in Lisbon. In 2010, he was a jury member for the final exams at the École Superieure d'Arts Graphiques et d'Architecture Intérieure Penninghen, Paris. He participated in several group exhibitions: (P) Portugal 1990/2005, Lisbon (2005); Gateways, Porto (2008); We Love Books! A World Tour, Échirolles, France (2008); 50 Books/50 Covers, AIGA, New York, USA (2009); Revolution 99/09, EXD, Lisbon (2010). He has also won several prizes, the most significant of which are the Certificate of Excellence in Typography, TDC 46, Type Directors Club of New York, USA (2000); the Merit Award, Magazine Layout, Ed-Awards, Athens (2007); 50 Books/50 Covers, AIGA, American Institute of Graphic Arts, New York, USA (2009); and the Premier Award, ISTD, International Typographic Awards, United Kingdom (2009). Recently, he presented his work at the ESAD World Graphics Day conference in Matosinhos (2011). Pedro Falcão nasceu nas Caldas da Rainha em 1971. Entre 1991 e 1995 estudou Artes Gráficas na Escola Superior de Tecnologia de Tomar e Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design nas Caldas da Rainha. No final do ano de 1995 mudou-se para Lisboa e durante dez anos trabalhou no atelier de design gráfico Secretonix de Mário Feliciano. Em 2006 funda o seu próprio estúdio Atelier Pedro Falcão em Lisboa e trabalha para instituições culturais, artistas e arquitetos. Nas várias áreas gráficas, desenvolveu trabalhos de identidade corporativa, design editorial, cartazes, sinalética de edifícios e exposições, tornando-se especialista em book design. Desde 2006 ensina Design Editorial no curso de Design Gráfico e Multimédia da escola Restart de Lisboa. Em 2010 foi júri dos diplomas finais da École Superieure d'Arts Graphiques et d'Architecture Intérieure Penninghen, Paris. Participou em diversas exposições coletivas: (P) Portugal 1990/2005, Lisboa (2005); Gateways, Porto (2008); We Love Books! A World Tour, Échirolles, França (2008); 50 Books/50 Covers, AIGA, New York, USA (2009); Revolution 99/09, EXD, Lisboa (2010). Ganhou vários prémios, a destacar: Certificate of Excellence in Typography, TDC 46, Type Directors Club of New York, USA (2000); Merit Award, Magazine Layout, Ed-Awards, Athens (2007); 50 Books/50 Covers, AIGA, American Institute of Graphic Arts, New York, USA (2009), Premier Award, ISTD, International Typographic Awards, United Kingdom (2009). Recentemente apresentou o seu trabalho na conferência ESAD World Graphics Day, Matosinhos (2011). www.atelierpedrofalcao.com www.atelierpedrofalcao.com É uma coleção dedicada aos designers portugueses de várias gerações, com especial atenção aos criadores contemporâneos. Apresentam-se autores de várias disciplinas, da comunicação aos objectos, da moda ao grafismo, da publicidade à ilustração. São monografias essencialmente visuais, que pretendem ser um primeiro encontro com a rica mas ainda mal estudada história do design português, sublinhando a sua excelência e importância no presente e no futuro do ensino e da prática do design. R2 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande moder- nidade. suasPelta mãos saíram inúmeras capas prefácio de Raquel Pelta / preface by Das Raquel É uma coleção dedicada aos designers portugueses de várias gerações, com especial atenção aos criadores contemporâneos. Apresentam-se autores de várias disciplinas, da comunicação aos objectos, da moda ao grafismo, da publicidade à ilustração. São monografias essencialmente visuais, que pretendem ser um primeiro encontro com a rica mas ainda mal estudada história do design português, sublinhando a sua excelência e importância no presente e no futuro do ensino e da prática do design. Is a collection devoted to Portuguese designers from various different generations, with particular attention being paid to contemporary creators. Artists in several disciplines are presented, from communication to objects, fashion to graphic arts, and from advertising to illustration. In essence, they are visual monographs that aim to provide an initial encounter with the rich yet relatively unexamined history of Portuguese design, highlighting its excellence and significance for the present and future of design teaching and practice. de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of artistic expression. Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande moder- suas mãos saíramPelta inúmeras capas prefácio de Raquelnidade. Pelta /Das preface by Raquel de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting 1 An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of artistic expression. R2 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande moder- suas mãos saíramPelta inúmeras capas prefácio de Raquelnidade. Pelta /Das preface by Raquel de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido R2 An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting design de comunicação / communication design 3«Com os conteúdos como ponto de partida, desen- volvemos o projecto num diálogo constante, num jogo — por vezes duro — com diferentes doses de intuição e racionalidade.» “Taking the contents as a starting point, we develop the project through constant dialogue, through a game — sometimes a hard game — using different doses of intuition and rationality.” É uma coleção dedicada aos designers portu- «Pergunto ao gráfico o que é o “grafismo”. A vítima diz “grafismo é”... e franze os olhos, primeiro para longe, depois para o papel. Traça traços imaginários com um imaginário lápis. Põe a língua de fora, concentrado: nada mais eloquente, como definição.» “I ask the ‘graphic designer’ what graphic design is. The victim says ‘graphic design is’... and frowns, looks into the distance, and then at the paper. He draws imaginary lines with an imaginary pencil. He sticks his tongue out in concentration: as a definition, there's nothing more eloquent.” Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande moder- nidade. by DasRaquel suas mãos saíram inúmeras capas prefácio de Raquel Pelta / preface Pelta de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of artistic expression. Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande moder- suas mãos saíramPelta inúmeras capas prefácio de Raquelnidade. Pelta /Das preface by Raquel de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting 1 Pedro Falcão design de comunicação / communication design 1 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of various forms of artistic expression. design de comunicação / communication design 3«Com os conteúdos como ponto de partida, desenvolvemos o projecto num diálogo constante, num jogo — por vezes duro — com diferentes doses de intuição e racionalidade.» “Taking the contents as a starting point, we develop the project through constant dialogue, through a game — sometimes a hard game — using different doses of intuition and rationality.” 1 3 «Pergunto ao gráfico o que é o “grafismo”. A vítima diz “grafismo é”... e franze os olhos, primeiro para longe, depois para o papel. Traça traços imaginários com um imaginário lápis. Põe a língua de fora, concentrado: nada mais eloquente, como definição.» “I ask the ‘graphic designer’ what graphic design is. The victim says ‘graphic design is’... and frowns, looks into the distance, and then at the paper. He draws imaginary lines with an imaginary pencil. He sticks his tongue out in concentration: as a definition, there's nothing more eloquent.” in Falando do Ofício, 1989 design de comunicação / communication prefácio de Bárbara design Coutinho / preface by Bárbara Coutinho 1 design de comunicação / communication design 2 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, «Com os conteúdos como ponto de partida, desentradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra volvemos o projecto num diálogo constante, num multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos jogo — por vezes duro — com diferentes doses de saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evi- intuição e racionalidade.» dente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da “Taking the contents as a starting point, we develop formação em arquitetura, associada a um rigoroso sen- the project through constant dialogue, through a tido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar game — sometimes a hard game — using different fotográfico. A excelência e diversidade formal deste doses of intuition and rationality.” trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of various forms of artistic expression. v. palla Pedro Falcão design de comunicação / communication design design de comunicação prefácio / communication de Bárbara Coutinho design/ preface by Bárbara Coutinho R2 Desde a suaplástico fundação, em 1995, este pequeno ateliê visual sense resulting fromporhis artistic practice resultante da sua prática pictórica e and his photographic eye. The excellence and olhar fotográfico. A excelência e diversidade tuguês comformal sede no Porto converteu-seformal numa autêntica diversity of this work is the product of an deste trabalho nascem de um experimenexperimentalism whichrecoemploys the languages, talismodesign que explora as linguagens, técnicas referência no europeu. Ase provas do seu techniques and materials of artistic expression. materiais das diferentes expressões artísticas. nhecimento internacional são muitas: o grande número de prémios recebidos, a participação em exposições, a participação em júris, artigos e referências em publicações e, a partir de 2007, a admissão como membro da AGI. Rigorosos, corajosos, amantes de desafios e, sobretudo, muito conscientes da função social do design, os elementos do ateliê R2 conseguiram colocar o bom design português no mapa do design do mundo globalizado. Since its foundation in 1995,Pedro this small R2 Falcão Portuguese studesign de comunicação / design de comunicação / dio, based communication in Porto,design has become a genuine landmark of communication design European design. Evidence of their international recognition is abundant: a large number of awards received, participation in exhibitions and juries, articles and mentions in the press and, since 2007, membership of the AGI. Rigorous, daring, lovers of challenges and, above all, keenly aware of the social function of design, the members of R2 have managed to place good Portuguese design on the map of the globalized world of design. p. falcão R2 design de comunicação / communication design An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting Desde a sua fundação, em da1995, este pequeno ateliê por-from his artistic practice plástico resultante sua prática pictórica e visual sense resulting olhar fotográfico. A excelência e diversidade and his photographic eye. The excellence and tuguês com sedeformal nodeste Porto converteu-se numa autêntica trabalho nascem de um experimenformal diversity of this work is the product of an talismo queeuropeu. explora as linguagens, e experimentalism which employs the languages, referência no design As técnicas provas do seu recomateriais das diferentes expressões artísticas. techniques and materials of artistic expression. nhecimento internacional são muitas: o grande número de prémios recebidos, a participação em exposições, R2 R2 Pedro Falcão Pedro Falcão a participação em júris, artigos e referências em publicações e, a partir de 2007, a admissão como membro da AGI. Rigorosos, corajosos, amantes de desafios e, sobretudo, muito conscientes da função social do design, os elementos do ateliê R2 conseguiram colocar o bom design português no mapa do design do mundo globalizado. Since its foundation Portuguese stuR2 in 1995, this small Pedro Falcão design de comunicação / design de comunicação / dio, based in Porto, has design become a communication genuinedesign landmark of communication European design. Evidence of their international recognition is abundant: a large number of awards received, participation in exhibitions and juries, articles and mentions in the press and, since 2007, membership of the AGI. Rigorous, daring, lovers of challenges and, above all, keenly aware of the social function of design, the members of R2 have managed to place good Portuguese design on the map of the globalized world of design. R2 R2 Pedro Falcão design de comunicação / communication design 2 Is a collection devoted to Portuguese design- Arquiteto, fotógrafo,gueses pintor egerações, designer, editor, de várias com especial atenção galerista, ers from various different generations, with criadores contemporâneos. Apresentam-se particular attention being paid to contempotradutor e ceramista,aos Victor Palla é autor de uma obra autores de várias disciplinas, da comunicação rary creators. Artists in several disciplines are aos objectos, da moda ao grafismo, da Das publici-suas presented, from communication to objects, multifacetada de grande modernidade. mãos dade à ilustração. São monografias essencialfashion to graphic arts, and from advertising to saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evimente visuais, que pretendem ser um primeiro illustration. In essence, they are visual monoencontro com a rica mas ainda mal estudada graphs thatda aim to provide an initial encounter dente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente história do design português, sublinhando a with the rich yet relatively unexamined history formação em arquitetura, associada um rigoroso sen-design, highlighting its excelsua excelência e importância noapresente e no of Portuguese futuro do ensino e da prática do design. and significance for the present and futido plástico resultante da sua prática pictóricalence e olhar ture of design teaching and practice. fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as R2 R2 Victor Palla Victor Palla linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined visual sense reR2 with an exactingVictor Palla design de comunicação / design de comunicação / design communication design eye. sulting from his artisticcommunication practice and his photographic The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of various forms of artistic expression. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of artistic expression. 2 v. palla Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. «Pergunto ao gráfico o que é o “grafismo”. A vítima diz “grafismo é”... e franze os olhos, primeiro para longe, depois para o papel. Traça traços imaginários com um imaginário lápis. Põe a língua de fora, concentrado: nada mais eloquente, como definição.» “I ask the ‘graphic designer’ what graphic design is. The victim says ‘graphic design is’... and frowns, looks into the distance, and then at the paper. He draws imaginary lines with an imaginary pencil. He sticks his tongue out in concentration: as a definition, there's nothing more eloquent.” in Falando do Ofício, 1989 Pedro Falcão 2 design de comunicação / communication design Cinetismo, serialidade e construção. São estes três recursos que «Pergunto ao gráfico o que é o “grafismo”. A vítima permitem, numa obra tão fértil à exploração de cruzamentos diz “grafismo é”... e franze os olhos, primeiro para – música, pintura, cinema, fotografia, design – identificar longe, depois para o papel. Traça traços imagináum autor. E se é evidente que na obra deste autor há uma lin- rios com um imaginário lápis. Põe a língua de fora, guagem própria, essa autoria não deriva tanto de um estilo, concentrado: nada mais eloquente, como definição.» mas antes de algo mais profundo e crítico, um sentido projetual “I ask the ‘graphic designer’ what graphic design is. consciente, crítico e rigoroso. É na compreensão desse sen- The victim says ‘graphic design is’... and frowns, tido projetual que reside a chave da leitura da obra gráfica looks into the distance, and then at the paper. He de Pedro Falcão, a chave de compreensão da sua contempo- draws imaginary lines with an imaginary pencil. He raneidade e da sua universalidade. sticks his tongue out in concentration: as a definition, there's nothing more eloquent.” Kineticism, seriality and construction. In work that is so open to the exploration of crossings – between music, painting, cinin Falando do Ofício, 1989 ema, photography, and design – these three resources make it possible to identify an author. And while it is clear that this artist’s work possesses its own language, this authorship does not derive from a style but from something deeper and more critical: a conscious, critical and rigorous sense of project, wherein lies the key to interpreting Pedro Falcão’s graphic work, the key to understanding its contemporaneity and universality. Victor Palla design de comunicação / communication design pedro falcão in Falando do Ofício, 1989 design de comunicação / communication design R2 prefácio de José Bártolo / preface by José Bártolo design de comunicação / communication design prefácio de Bárbara Coutinho / preface by Bárbara Coutinho 3 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. design de comunicação / communication design Pedro Falcão Victor Palla Victor Palla An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of artistic expression. Pedro Falcão 1 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of various forms of artistic expression. p. falcão Pedro Falcão design de comunicação / communication design Pedro Falcão design de comunicação prefácio / communication de Bárbara Coutinho design/ preface by Bárbara Coutinho 1 Desde a suaplástico fundação, em 1995, pequeno ateliê resultante da sua prática pictóricaeste e visual sense resulting fromporhis artistic practice olhar fotográfico. A excelência e diversidade and his photographic eye. The excellence and tuguês comformal sede no Porto converteu-seformal numa autêntica deste trabalho nascem de um experimendiversity of this work is the product of an talismo que explora as linguagens, técnicas experimentalism which recoemploys the languages, referência materiais no design europeu. Ase provas do seu das diferentes expressões artísticas. techniques and materials of artistic expression. nhecimento internacional são muitas: o grande número de prémios recebidos, a participação em exposições, a participação em júris, artigos e referências em publicações e, a partir de 2007, a admissão como membro da AGI. Rigorosos, corajosos, amantes de desafios e, sobretudo, muito conscientes da função social do design, os elementos do ateliê R2 conseguiram colocar o bom design português no mapa do design do mundo globalizado. Since its foundation in 1995,Pedro this small R2 Falcão Portuguese studesign de comunicação / design de comunicação / dio, based communication in Porto,design has become a genuine landmark of communication design European design. Evidence of their international recognition is abundant: a large number of awards received, participation in exhibitions and juries, articles and mentions in the press and, since 2007, membership of the AGI. Rigorous, daring, lovers of challenges and, above all, keenly aware of the social function of design, the members of R2 have managed to place good Portuguese design on the map of the globalized world of design. R2 R2 design de comunicação / communication design Pedro Falcão design de comunicação / communication design 3 «Os livros são objetos que fazem parte da nossa mobília, assim como as cadeiras ou as mesas. É para mim impensável digitalizá-los e viver numa casa com prateleiras vazias.» “Books are objects that form part of our furniture, just like chairs and tables. For me, it would be unthinkable to digitize them and live in a house with empty shelves.” design de comunicação prefácio / communication de Bárbara Coutinho design/ preface by Bárbara Coutinho 1 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of various forms of artistic expression. design de comunicação / communication design 3«Com os conteúdos como ponto de partida, desen- volvemos o projecto num diálogo constante, num jogo — por vezes duro — com diferentes doses de intuição e racionalidade.» “Taking the contents as a starting point, we develop the project through constant dialogue, through a game — sometimes a hard game — using different doses of intuition and rationality.” Victor Palla design de comunicação / communication prefácio de Bárbara designCoutinho / preface by Bárbara Coutinho 3 «Pergunto ao gráfico o que é o “grafismo”. A vítima diz “grafismo é”... e franze os olhos, primeiro para longe, depois para o papel. Traça traços imaginários com um imaginário lápis. Põe a língua de fora, concentrado: nada mais eloquente, como definição.» “I ask the ‘graphic designer’ what graphic design is. The victim says ‘graphic design is’... and frowns, looks into the distance, and then at the paper. He draws imaginary lines with an imaginary pencil. He sticks his tongue out in concentration: as a definition, there's nothing more eloquent.” in Falando do Ofício, 1989 R2 Desde a suaplástico fundação, em 1995, pequeno ateliê resultante da sua prática pictóricaeste e visual sense resulting fromporhis artistic practice olhar fotográfico. A excelência e diversidade and his photographic eye. The excellence and tuguês comformal sede no Porto converteu-seformal numa autêntica deste trabalho nascem de um experimendiversity of this work is the product of an talismo que explora as linguagens, técnicas experimentalism which recoemploys the languages, referência materiais no design europeu. Ase provas do seu das diferentes expressões artísticas. techniques and materials of artistic expression. nhecimento internacional são muitas: o grande número de prémios recebidos, a participação em exposições, a participação em júris, artigos e referências em publicações e, a partir de 2007, a admissão como membro da AGI. Rigorosos, corajosos, amantes de desafios e, sobretudo, muito conscientes da função social do design, os elementos do ateliê R2 conseguiram colocar o bom design português no mapa do design do mundo globalizado. Since its foundation in 1995,Pedro this small R2 Falcão Portuguese studesign de comunicação / design de comunicação / dio, based communication in Porto,design has become a genuine landmark of communication design European design. Evidence of their international recognition is abundant: a large number of awards received, participation in exhibitions and juries, articles and mentions in the press and, since 2007, membership of the AGI. Rigorous, daring, lovers of challenges and, above all, keenly aware of the social function of design, the members of R2 have managed to place good Portuguese design on the map of the globalized world of design. p. falcão Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. Pedro Falcão design de comunicação / communication design R2 R2 design de comunicação / communication design Victor Palla 1 Arquiteto, fotógrafo, pintor e designer, editor, galerista, tradutor e ceramista, Victor Palla é autor de uma obra multifacetada de grande modernidade. Das suas mãos saíram inúmeras capas de livros e revistas onde é evidente a sua sólida sensibilidade espacial, decorrente da formação em arquitetura, associada a um rigoroso sentido plástico resultante da sua prática pictórica e olhar fotográfico. A excelência e diversidade formal deste trabalho nascem de um experimentalismo que explora as linguagens, técnicas e materiais das diferentes expressões artísticas. An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of various forms of artistic expression. design de comunicação / communication design 2 «Com os conteúdos como ponto de partida, desenvolvemos o projecto num diálogo constante, num jogo – por vezes duro – com diferentes doses de intuição e racionalidade.» “Taking the contents as a starting point, we develop the project through constant dialogue, through a game – sometimes a hard game – using different doses of intuition and rationality.” v. palla Desde a sua fundação, em 1995, este pequeno ateliê português com sede no Porto converteu-se numa autêntica referência no design europeu. As provas do seu reconhecimento internacional são muitas: o grande número de prémios recebidos, a participação em exposições, a participação em júR2 R2 Pedro Falcão Pedro Falcão ris, artigos e referências em publicações e, a partir de 2007, a admissão como membro da AGI. Rigorosos, corajosos, amantes de desafios e, sobretudo, muito conscientes da função social do design, os elementos do ateliê R2 conseguiram colocar o bom design português no mapa do design do mundo globalizado. Since its foundation in 1995, this small Portuguese studio, based in Porto, landmark of R2 has become a genuine Pedro Falcão design de comunicação / design de comunicação recogni/ European design. Evidence of their international communication design communication design tion is abundant: a large number of awards received, participation in exhibitions and juries, articles and mentions in the press and, since 2007, membership of the AGI. Rigorous, daring, lovers of challenges and, above all, keenly aware of the social function of design, the members of R2 have managed to place good Portuguese design on the map of the globalized world of design. R2 R2 design de comunicação / communication design An architect, photographer, painter and designer, editor, gallerist, translator and ceramicist, Victor Palla created a multifaceted and very modern oeuvre. He produced countless book and magazine covers which demonstrate his solid spatial sensibility, a product of his architectural background, combined with an exacting visual sense resulting from his artistic practice and his photographic eye. The excellence and formal diversity of this work is the product of an experimentalism which employs the languages, techniques and materials of artistic expression. Is a collection devoted to Portuguese designers from various different generations, with particular attention being paid to contemporary creators. Artists in several disciplines are presented, from communication to objects, fashion to graphic arts, and from advertising to illustration. In essence, they are visual monographs that aim to provide an initial encounter with the rich yet relatively unexamined history of Portuguese design, highlighting its excellence and significance for the present and future of design teaching and practice. Victor Palla design de comunicação / communication design 2 «Pergunto ao gráfico o que é o “grafismo”. A vítima diz “grafismo é”... e franze os olhos, primeiro para longe, depois para o papel. Traça traços imaginários com um imaginário lápis. Põe a língua de fora, concentrado: nada mais eloquente, como definição.» “I ask the ‘graphic designer’ what graphic design is. The victim says ‘graphic design is’... and frowns, looks into the distance, and then at the paper. He draws imaginary lines with an imaginary pencil. He sticks his tongue out in concentration: as a definition, there's nothing more eloquent.” in Falando do Ofício, 1989 Pedro Falcão prefácio de José Bártolo / preface by José Bártolo Cinetismo, serialidade e construção. São estes três recursos que permitem, numa obra tão fértil à exploração de cruzamentos – música, pintura, cinema, fotografia, design – identificar um autor. E se é evidente que na obra deste autor há uma linguagem própria, essa autoria não deriva tanto de um estilo, mas antes de algo mais profundo e crítico, um sentido projetual consciente, crítico e rigoroso. É na compreensão desse sentido projetual que reside a chave da leitura da obra gráfica de Pedro Falcão, a chave de compreensão da sua contemporaneidade e da sua universalidade. Kineticism, seriality and construction. In work that is so open to the exploration of crossings – between music, painting, cinema, photography, and design – these three resources make it possible to identify an author. And while it is clear that this artist’s work possesses its own language, this authorship does not derive from a style but from something deeper and more critical: a conscious, critical and rigorous sense of project, wherein lies the key to interpreting Pedro Falcão’s graphic work, the key to understanding its contemporaneity and universality.