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CAMPANHAS POLÍTICAS NA INTERNET: NOVAS TENDÊNCIAS DE
COMUNICAÇÃO ELEITORAL
Profa. Dra. Sylvia Iasulaitis1
Faculdade de Ciências Sociais – UFG
Carmen Pineda Nebot2
Consultora
Resumo
No presente estudo será apresentada uma avaliação estrutural das propriedades objetivas
da Web, bem como a maneira como os usuários e, em particular, os candidatos e suas
equipes de comunicação eleitoral perceberam as capacidades do meio e o uso que
passaram a fazer dele, ou seja, as características (inter)subjetivas do meio. Será aqui
utilizada, para efeitos analíticos, uma tipologia presente na literatura temática que permite
visualizar as transformações pelas quais a Web passou no decorrer do tempo a partir de
três distintos enquadramentos: Web 1.0 ou Web Estática, Web 2.0 ou Web Social e Web
3.0 ou Web Semântica. Posteriormente, serão discutidas as principais mudanças da
comunicação eleitoral na era da Web, dentre elas a fragmentação do sistema de mídia e
da audiência, a diversificação centrífuga da comunicação, a intensificação da
profissionalização, a ampliação dos canais de comunicação de baixo para cima, as
mudanças na forma de distribuição e recepção das mensagens políticas e as novas formas
de interação entre políticos e cidadãos. Por fim, sem pretender realizar uma genealogia
do uso da Internet em campanhas eleitorais, serão apresentados exemplos emblemáticos
de utilização da rede eletrônica, suas principais ferramentas e novas tendências de
comunicação eleitoral na Web.
Palavras-chave: Campanhas eleitorais; Internet; Web Estática; Web Social; Web
Semântica.
1
Professora da Universidade Federal de Goiás da graduação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência
Política. Doutora em Ciência Política (UFSCar); especialista em Comunicação Política pela Facultad de
Ciencias de la Información da Universidad Complutense de Madrid; foi Visiting Scholar no IN3 – Internet
Interdisciplinary Institute. Coordenadora do Grupo de Trabalho “Campanhas Políticas, Imagem e Opinião
Pública” da Sociedade Brasileira de Profissionais e Pesquisadores de Comunicação e Marketing Político
(Politicom).
2
Licenciada em Direito pela Universidad Complutense de Madrid e em Ciencia Política y de la
Administración pela Universidad Autónoma de Madrid. Consultora independente de Administração
Pública. Investigadora do Grupo de Pesquisa “Controle Social do Gasto Público” da Universidade Estadual
Paulista (UNESP) – Brasil. Membro do Grupo de Pesquisa “Administração Pública e Gestão Social” da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Brasil.
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1. Introdução
Dentre as Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’s a mais exemplar é a
Internet, “a espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores – CMC”
(CASTELLS, 1999, p. 327), que consiste numa rede extremamente ampla e
descentralizada de computadores, dotados de capacidade de comunicação sem a
utilização de centros de controle. Esta rede de computadores é capaz de conectar pessoas
e informações por meio de esquemas digitais.
A Internet é composta por diversas aplicações, dentre elas a World Wide Web (WWW),
um sistema de servidores que utiliza o protocolo HTML (Hyper Text Markup Language),
que possibilita a consulta, por meio de um navegador, de páginas e sites (PISANI;
PIOTET, 2008, p.16).
Desde seu surgimento, a Web experimentou diversas modificações. Como é típico em
relação a novos objetos de pesquisa, não há acordo entre os pesquisadores em relação à
origem e aos fatores causais de tais mudanças. Enquanto alguns autores enfatizam os
componentes tecnológicos, outros dão destaque aos aspectos comportamentais dos
usuários.
No presente estudo será apresentada uma análise estrutural da Web a partir das
propriedades e características que fazem parte da infraestrutura do meio, o que Van Dijk
(1999) denomina de “avaliação estrutural das propriedades objetivas do meio”, bem como
a maneira como os usuários e, em particular, os agentes políticos perceberam as
capacidades do meio e o uso que passaram a fazer dele, o que Van Dijk denomina como
“características (inter)subjetivas do meio” (VAN DIJK, 1999, p. 17 apud STROMERGALLEY; FOOT, 2003). É relevante ter em conta o caráter "objetivo" de um dado meio,
de modo a compreender seus potenciais comunicativos, mas as características e potenciais
de um meio, por si só, não garantem que o mesmo será utilizado ou experimentado por
cidadãos e agentes políticos de maneira particular. Neste sentido, compreender um meio
intersubjetivamente, isto é, avaliar como o mesmo é utilizado efetivamente, fornece uma
perspectiva de análise mais robusta.
Parte-se do pressuposto de que o aparato tecnológico não é “causa” da mudança social,
mas fonte potencializadora (ORTIZ, 2000, p. 68), pois a tecnologia está inserida em
contextos sociais que podem fazer seus vários potenciais não realizáveis. Os recursos
tecnológicos, por si só, não podem frustrar nem realizar promessas de efeitos sociais e
políticos, visto que são instrumentos à disposição de agentes sociais.
2. Web Estática, Web Social e Web Semântica: enquadramentos conceituais
É evidente que toda classificação comporta elementos arbitrários; não obstante, será aqui
utilizada, para efeitos analíticos, uma tipologia presente na literatura temática, ao estilo
dos tipos-ideais weberianos, que apresenta valor heurístico e permite visualizar as
transformações pelas quais a Web passou no decorrer do tempo, a partir de três distintos
enquadramentos: Web 1.0 ou Web Estática, Web 2.0 ou Web Social e Web 3.0 ou Web
Semântica. As principais características de cada geração da Web são sumarizadas na
Figura 1, por Gary Hayes (2006).
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Figura 1. A Evolução da Web – De 1.0 a 3.0
Fonte: Hayes, Gary. The changing intraweb – from 1.0 to 3.0
http://www.personalizemedia.com/virtual-worlds-web-30-and-portable-profiles/
De acordo com o esquema analítico apresentado, conceitos e características essenciais
sintetizam cada fase: Web 1.0, enquadrada no conceito de push, sendo a principal
característica desta geração web o fato de ser unidirecional, “empurrando” conteúdo aos
usuários; Web 2.0: share, possui caráter bidirecional, com conteúdos partilhados pelos
usuários; a Web 3.0, live, por sua vez, é colaborativa em tempo real e personalizada,
fornecendo sentido aos dados e adaptando a Web ao comportamento dos usuários. Cada
geração da Web e suas principais características serão apresentadas a seguir.
2.1 Os primórdios da Internet e a Web Estática
A origem da Internet remonta ao contexto da Guerra Fria, quando foi concebida como
parte da estratégia militar de defesa norte-americana, na década de 60 do século passado,
no interior da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos
Estados Unidos (DARPA). O objetivo era projetar um sistema de comunicação
invulnerável a ataque nuclear, para impedir a tomada ou destruição do sistema norteamericano de comunicação pelos soviéticos, em caso de embate militar (CASTELLS,
1999, p.25-6).
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Para tanto, foi desenvolvida uma arquitetura de rede com base na tecnologia de
comunicação por comutação de pacotes, sistema que tornou a rede, composta por
milhares de computadores autônomos, “independente de centros de comando e controle,
de modo que as unidades de mensagens encontrariam suas rotas ao longo da rede, sendo
remontadas com sentido coerente em qualquer ponto dela” (CASTELLS, 1999, p. 375).
A primeira rede foi iniciada em 1969 e designada Arpanet, em homenagem à sua
patrocinadora. O financiamento inicial da Internet, portanto, foi de origem militar. A rede
que se formou durante a década de 80 foi denominada Arpa-Internet, posteriormente de
Internet, naquele momento ainda custeada pelo Departamento de Defesa e operada pela
Fundação Nacional da Ciência (CASTELLS, 1999).
Convém ressaltar que a Internet foi elaborada, desde o princípio, a partir de uma rede
internacional de cientistas e técnicos que desenvolviam tecnologias em cooperação,
inclusive quando esta se encontrava no interior do Departamento de Estado dos Estados
Unidos e que tais cientistas passaram a utilizar a rede eletrônica para diversas finalidades
e tipos de comunicações (CASTELLS, 1999, 2003).
Deste modo, a Internet se desenvolveu a partir da interação entre ciência, pesquisa
universitária, programas de pesquisa militar, contracultura radical libertária e cultura
empresarial que, 25 anos depois se encarregou de articular Internet e sociedade: “uma
combinação curiosa” (CASTELLS, 2003, p. 257). A rede eletrônica, a partir de então,
“foi apropriada por indivíduos e grupos no mundo inteiro e com todos os tipos de
objetivos, bem diferentes das preocupações de uma extinta Guerra Fria” (CASTELLS,
1999, p. 26).
Embora ao final dos anos de 1960 tenha se iniciado uma rede ancestral com fins militares
e científicos, a Internet não se consolidou para uso maciço até 1982. Em 1987, foi liberada
para uso comercial. Portanto, ela começou sua ascensão rápida somente no início de 1990,
quando interfaces gráficas se tornaram amplamente disponíveis e permitiu-se sua
utilização com fins comerciais (DIMAGGIO et al., 2001, p. 307). Tal como a conhecemos
atualmente, a Internet foi concebida em 1994, “a partir da existência de um browser, da
World Wide Web” (CASTELLS, 2003, p. 255).
A World Wide Web – WWW (Rede de Alcance Mundial) é uma rede flexível formada
por redes dentro da Internet onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas
criam os próprios sites, que servem de base para todos os indivíduos com acesso poderem
produzir sua homepage, feita de colagens variáveis de textos e imagens (CASTELLS,
1999, p.379). A partir de então, a rede expandiu-se de tal forma que adquiriu escala
global, transcendendo limites geopolíticos e ocasionando a supressão de tempo e espaço.
Esta primeira geração da Web, denominada Web 1.0, foi a fase de implantação e
popularização da rede em si e representou grande evolução em relação ao volume de
informação disponível, por ser a rede eletrônica marcada pela densidade e extensão, não
sofrer saturação e possuir alta capacidade de armazenamento de dados, disponibilizando
um incomensurável volume de informação. Esse acúmulo de informações na Internet,
denominado de “memória” (PALACIOS, 2002), é mais viável técnica e economicamente
do que em outras mídias. Sendo assim, “o volume de informação diretamente disponível
ao usuário é consideravelmente maior na rede eletrônica, seja com relação ao tamanho da
notícia ou à disponibilização imediata de informações anteriores” (PALACIOS, 2002
apud MIELNICZUK, 2001, p. 4). Determinada informação pode, ainda, ser localizada
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em locais distintos, fator denominado ubiquidade (DE LAS HERAS, 2000 apud
TORRES; MAZZONI; ALVES, 2002).
A geração Web 1.0 é marcada pela universalidade e rompimento de barreiras espaciais e
temporais para transmissão e acesso à informação. De qualquer país pode-se ter acesso a
informações geradas por pessoas em localidades muito distantes.
Outra característica marcante desta fase é a hipertextualidade, uma vez que a Web passou
a conectar páginas e interconectar diversos textos por meio de links (ligações), permitindo
a deslocação (TORRES; MAZZONI; ALVES, 2002, p. 2), por abrir a possibilidade de o
usuário deslocar-se rapidamente neste espaço, de um endereço a outro, em qualquer ponto
da web.
Mas neste primeiro momento, a Web caracterizava-se por sites estáticos em páginas
HTML, de caráter fechado, onde a experiência do usuário era de espectador e consumidor
passivo de informações, sem interação social. Com baixa frequência de atualização,
apenas os administradores e programadores de sites modificavam os conteúdos das
páginas. Foi esta a fase dos grandes portais, da utilização da Web para a realização de
transações, para publicação de alguns para muitos e somente de leitura, já que o usuário
não podia interagir com o conteúdo e seus produtores.
2.2 Web 2.0: interação social, participação e inteligência coletiva
O termo Web 2.0 surgiu em 2004, cunhado por Dale Dougherty e foi popularizado pela
empresa norte-americana O'Reilly Media, oferecendo um guarda-chuva conceitual para
designar uma nova geração de aplicativos que foram desenvolvidos e passaram a
fomentar uma web onde o conceito-chave é a Internet como plataforma. Tal termo foi
utilizado inicialmente durante uma série de conferências sobre a Internet realizadas pela
O’Reilly e pela MediaLive International. De acordo com Tim O’Reilly (2005), presidente
da empresa, após um período de crise financeira, as companhias que sobreviveram ao
colapso tinham algo em comum: o uso diferenciado da Internet como uma plataforma
participativa, cujo principal princípio era o de tirar proveito da inteligência coletiva.
A Web 2.0 é centrada nos sites dinâmicos, colaborativos, de compartilhamento e
relacionamento social. A Web Social já se desenvolve no início do século XXI e permite
atividades muito mais ativas por parte dos usuários da rede eletrônica se comparado ao
período inicial da Internet. Na Web Social, o utilizador não se limita a consultar
informação mas também a publica, e o faz sobretudo nas redes sociais digitais, em
especial no Twitter e Facebook, em blogs e espaços de comentários de sites. Neste
sentido, a Web não é mais apenas uma coleção de páginas estáticas e descritivas em
HTML, e sim dotada de uma nova arquitetura de participação e uma ética de cooperação:
There is an implicit architecture of participation, a built-in ethic of
cooperation, in which the service acts primarily as an intelligent broker,
connecting the edges to each other and harnessing the power of the
users themselves (O’REILLY, 2005).
O’Reilly (2005) e O’Reilly e Battelle (2009) apontam que um dos principais pilares da
Web 2.0 é permitir que qualquer indivíduo, empresa ou instituição publique e compartilhe
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informações na rede, o que marca o amadurecimento do uso do potencial colaborativo da
Internet.
Um dos princípios-chave da Web 2.0 é o desenvolvimento de aplicativos que se tornam
melhores quanto mais forem utilizados pelas pessoas e o fato dos usuários serem tratados
como co-desenvolvedores, pois os mesmos agregam valor. Deste modo, nesta geração a
Web é uma plataforma para prestação de serviços aos usuários e também um conjunto de
aplicativos que permite que os produtores aprendam com os internautas e inovem a partir
de suas contribuições. É neste sentido que a Web 2.0 é aclamada, sobretudo, por
transformar a Internet em um “cérebro global” a partir do aproveitamento da inteligência
coletiva (O’REILLY; BATTELLE, 2009).
As interfaces e sites de conteúdo colaborativo e/ou participativo são apontados como
ícones da Web 2.0. Podem-se mencionar, neste sentido, os blogs, as redes sociais, a
Wikipedia, uma enciclopédia livre, onde um verbete pode ser adicionado ou editado por
qualquer usuário da rede, sites como o Flickr, que inauguraram o conceito de
“folksonomia” (folk – povo), um estilo de categorização colaborativa de sites que
emprega palavras-chaves livremente escolhidas, denominadas de tags ou etiquetas,
capazes de oferecer um significado mais apropriado àquilo que se quer classificar. Essa
forma de classificação da informação é a preferida na blogosfera, por ser mais
democrática já que é realizada pelas pessoas, ao contrário da taxonomia na qual se baseia
os computadores, a partir de formas hierarquizadas e centralizadas de categorias de
informação.
No jornalismo, a produção colaborativa tem sido amplamente utilizada para aumentar a
gama de assuntos abordados em portais noticiosos. Ao permitir que os próprios usuários
publiquem notícias, os portais conseguem atingir um volume de notícias antes
impensável, pois não seria possível remunerar tantos profissionais para esta finalidade,
ao mesmo tempo em que se desperta no internauta uma sensação de que o mesmo está
interagindo com e fazendo parte do portal.
Uma funcionalidade destacada da Web 2.0 é o serviço de RSS, constituído por regras em
XML, que possibilitam aos usuários publicar ou consumir informações diretamente de
um site sem precisar acessá-lo, por meio assinaturas para receber notificações cada vez
que haja mudanças na mesma, o que se denomina “rede incrementável” ou “rede viva”.
De acordo com O’Reilly (2005) a Web 2.0 não tem fronteiras rígidas, e sim um centro
gravitacional. Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de princípios e práticas
que interligam um verdadeiro sistema solar de sites que demonstram alguns ou todos esses
princípios e que estão a distâncias variadas do centro, conforme retratado na Figura 2.
Destacam O’Reilly e Battelle que a partir da Web 2.0 a amplitude da participação
aumentou em ordens de magnitude. “A Web é o mundo e todos no mundo contribuem
com o processo de produção de informação”. Assim, esta fase da Internet é qualificada
pelo aforismo: “a Web está crescendo e todos nós somos seus pais coletivos”
(O’REILLY; BATTELLE, 2009).
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Figura 2. Centro gravitacional da web 2.0
Fonte: O’REILLY, 2006. Trad. Miriam Medeiros e Rev. Téc. Julio Preuss.
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2.3 Web 3.0: semântica, ontologia e customização do conteúdo
Com esse crescimento exponencial de participação e publicação, localizar o que se
necessita na Web foi ficando cada vez mais complexo. Esse contexto de um grande
amontoado de dados e informações valorizou sobremaneira as ferramentas de busca,
como o Google, que passaram a disponibilizar modernos e complexos sistemas que
utilizam centenas de diferentes critérios de classificação para produzir os seus resultados.
Embora o serviço de busca tenha se constituído nas outras gerações da Web, começa
agora a ser dotado de novas características.
E é no contexto de uma “linha evolutiva” da Web que passa a se constituir uma nova
geração, a Web 3.0, termo cunhado pelo jornalista John Markoff em um artigo publicado
no New York Times em 20063, que acabou por ser associado ao conceito de Web
Semântica, que já era utilizado desde 2001 por Berners-Lee, Hendler e Lassila. Embora
com resistência ao termo 3.0, por entendê-lo orientado para o campo comercial, a
literatura passou a considerar que o mesmo estaria associado às novas tecnologias e às
aplicações em desenvolvimento. Como enfatizaram Lassila e Hendler (2007), um ano
depois do uso do termo Web 3.0, no artigo Embracing Web 3.0, ainda que o termo não
agrade, há um grande entusiasmo com as tecnologias em desenvolvimento: “We might
not like the term “Web 3.0,” but we enthusiastically embrace the technologies it is
bringing to the field”.
Sustenta-se que ambos os termos representam os mesmos princípios, que são de estruturar
o conteúdo das informações a partir de conceitos semânticos, face às dificuldades de
localização, descrição e recuperação de informações em ambientes Web (SANTAREM
SEGUNDO, 2012). De acordo com Berners-Lee, Hendler e Lassila (2001), a maior parte
do conteúdo web foi projetado para ser lido por seres humanos, o que dificulta sua
manipulação por computadores, que não foram projetados para processar de maneira
confiável a semântica:
Most of the Web's content today is designed for humans to read, not for
computer programs to manipulate meaningfully. Computers can
adeptly parse Web pages for layout and routine processing—here a
header, there a link to another page—but in general, computers have no
reliable way to process the semantics.
É neste sentido que a nova fase Web Semântica, extensão da atual, tem por objetivo
propiciar novas funcionalidades, interligando palavras e conteúdos com maior precisão
de significados, de modo a permitir que as máquinas se tornem capazes de melhor
processar e “entender” os dados para uma maior capacidade de busca e reconhecimento
de conteúdos por meio de metadados, permitindo que computadores e pessoas trabalhem
em cooperação:
The Semantic Web is not a separate Web but an extension of the current
one, in which information is given well-defined meaning, better
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Markoff, John, “Entrepeneurs See a Web Guided by Commonsense,” The New York Times, Business, 12
Nov. 2006.
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enabling computers and people to work in cooperation. The first steps
in weaving the Semantic Web into the structure of the existing Web are
already under way. In the near future, these developments will usher in
significant new functionality as machines become much better able to
process and "understand" the data that they merely display at present.
[…] The Semantic Web will bring structure to the meaningful content
of Web pages, creating an environment where software agents roaming
from page to page can readily carry out sophisticated tasks for users
(BERNERS-LEE; HENDLER; LASSILA, 2001).
Para tanto, esta nova geração Web busca promover uma transição da Web Sintática para
a Semântica, a partir da utilização de instrumentos específicos, como as Ontologias4, um
conjunto de conceitos, definições e palavras em comum que são utilizadas para descrever
e representar uma área do conhecimento, padronizando seus significados (GRUBER,
1993; DACONTA, 2003; MERTINS, 2007; USCHOLD; USCHOLD; GRUNIGER,
1996; LOH et al., 2002 apud MONTARDO; CARVALHO, 2009). As ontologias buscam
tornar a informação inteligível para as máquinas, com linguagens específicas, como a
Resource Description Framework (RDF) e a Ontology Web Language (OWL), uma
linguagem para especificação de ontologias e desenvolvimento de aplicações que
processam informações semânticas, baseada em XML, o que simplifica a sua
disponibilização na web, bem como sua manipulação. E é justamente a utilização de
ontologias e mecanismos de busca que focam no significado das informações disponíveis
na rede eletrônica que define a Web Semântica (MONTARDO; CARVALHO, 2009).
Portanto, a Web 3.0 pretende ser uma nova forma de organização que facilite de toda
informação disponível na Internet de maneira mais inteligente, com uma semântica que
permita interpretar, conectar e disponibilizar os dados sob medida e extrair informações
por significados. Assim, a Web Semântica significa não somente a troca de informações,
mas também recursos que possibilitem uma mudança de paradigma em relação a seu
armazenamento e recuperação, que em sua aplicação mais avançada poderá permitir o
imbricamento da inteligência artificial com a coletiva.
Cabe destacar, não obstante, que esse processo não apenas é ou será decorrente de
inovações tecnológicas, mas sobretudo do “amadurecimento dos modelos de participação
dos usuários na rede que começam a perceber como estabelecer sistemas de comunicação
ligados a seus próprios interesses de compartilhamento”. Já existem atualmente sistemas
de e-mails dotados de recursos diversos, que se integram diretamente aos aplicativos que
constituem as mídias sociais que habilitam o recebimento de dados, coleta de
informações, emissão de opinião, criação de conteúdos e compartilhamento de saberes de
forma rápida e simultânea com milhares de pessoas (NICOLAU, 2011).
No entanto, convém destacar que, como bem observa Nicolau (2011), “o
desenvolvimento de uma Inteligência Coletiva por excelência é diretamente proporcional
à autonomia e liberdade de seus integrantes em participar da construção do conhecimento
comum. Nesse sentido, a web semântica instaurada hoje está longe de proporcionar as
condições necessárias para tais conquistas, uma vez que seus mecanismos de busca estão
atrelados aos interesses mercadológicos de estabelecer caminhos e manipular resultados”.
O termo “Ontologia”, quando empregado na área de Inteligência Artificial e para a representação
computacional de conhecimento vislumbra a máxima “o que existe é o que pode ser
representado”.
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3. Interatividade: o elemento central da Internet
Como se pode constatar, com o passar do tempo a Web se modificou do ponto de vista
tecnológico e passou a ser utilizada de maneira muito mais interativa. Há diferentes
gradações de interatividade em websites, que vão desde as possibilidades de interação
homem-máquina, quando se navega em seus espaços, àquelas onde se verifica a interação
humana, síncrona ou assíncrona.
Contemporaneamente, a rede eletrônica possui recursos técnicos que ampliam as
possibilidades e modificam estruturalmente as formas de interação social. O termo
“interatividade” ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de
informação (LÉVY, 1999, p. 79) e “indica a superação das formas monologais e
autoritárias pelas formas dialogais e conflitivas de circulação da informação e de relação
social mediada” (SIGNATES, 2002, p. 8).
De acordo com Ferber, Foltz e Pugliese (2007), a definição clássica de “interatividade”
sugere que para uma mensagem ser interativa esta deve ser marcada pela troca de
informação, ou seja, por uma conversação, por um diálogo. A interatividade, para Rafaeli
(1988 apud FERBER; FOLTZ; PUGLIESE, 2005), é uma propriedade do processo de
comunicação e a comunicação sincrônica é seu elemento-chave. Haeckel (1998, p. 63
apud FERBER; FOLTZ; PUGLIESE, 2005) descreveu “a essência da interatividade
como uma troca”.
Em sistemas interativos, um cidadão controla o conteúdo da interação solicitando ou
fornecendo informação. Lombard e Snyder-Dutch (2001, p. 9 apud FERBER; FOLTZ;
PUGLIESE, 2005) definem interatividade como “uma característica de um meio no qual
o usuário pode influenciar a forma e/ou o conteúdo da apresentação ou experiência
mediada”.
Kiousis (2002) oferece uma definição bastante completa de interatividade, apontando um
ambiente mediado no qual os participantes possam se comunicar em diferentes formatos:
de um para um, de um para muitos e muitos para muitos, simétrica e assimetricamente,
participando da troca de mensagens recíprocas:
The degree to which a communication technology can create a
mediated environment in which participants can communicate
(one-to-one, one-to-many, and many-to-many), both
symmetrically and asymmetrically, and participate in reciprocal
message exchanges (third-order dependency). With regard to
human users, it additionally refers to their ability to perceive the
experience as a simulation of interpersonal communication and
increase their awareness of telepresence (KIOUSIS, 2002, p. 372
apud LILLEKER; MALAGÓN, 2010, p. 27).
Portanto, Kiousis não exclui a comunicação assimétrica, como o email, da lista de
ferramentas interativas. Interatividade, deste modo, não consiste, simplesmente, em uma
função tecnológica ou na habilidade para interagir em um website, mas,
fundamentalmente, em um processo dialógico entre o usuário de um website e o seu
criador.
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Jennifer McMillan (2002) capturou a essência desta definição teórica de Kiousis em um
modelo de interatividade de quatro partes, o qual depende de duas variáveis: a direção da
comunicação e o nível de controle do receptor. No ponto mais alto deste modelo está o
que McMillan intitula de “discurso mútuo”, momento em que ocorre o intercâmbio de
papéis entre remetente e receptor (LILLEKER; MALAGÓN, 2010).
McMillan (2002) identificou quatro tipos de interatividade baseando-se no controle do
usuário e na direção da comunicação: monólogo, feedback, diálogo responsivo e discurso
mútuo. Neste modelo, representado na Figura 3, estão representadas formas de
comunicação one-way (assimétricas) e em dois sentidos (simétricas) (FERBER; FOLTZ;
PUGLIESE, 2007).
Figura 3. Modelo de ciberinteratividade de quatro partes
Nota: S = remetente, R = destinatário e P = participante (onde os papéis de emissor e
receptor são intercambiáveis)
Fonte: FERBER; FOLTZ; PUGLIESE, 2007, p. 393
Neste modelo os círculos representam os papéis que os indivíduos e os websites
desempenham no processo. As setas e os círculos sobrepostos indicam a direção da
comunicação. Na forma básica do modelo, o website é compreendido como o remetente
e os indivíduos que o utilizam, os usuários, como os receptores. Os usuários, no entanto,
também desempenham o papel de envio de comunicação em alguns aspectos do modelo.
O modelo inicia com variações de comunicação unidirecional. A prestação de
informações disponibilizada por muitos sites é um exemplo de comunicação
unidirecional. McMillan (2002) considera monólogo a comunicação que é essencialmente
de mão única e afirma que a maioria dos websites corporativos segue este modelo.
Acrescentamos que muitos websites políticos, principalmente na primeira fase do uso da
Internet em campanhas eleitorais, também adotaram este padrão. Já o feedback permite
participação limitada, mas não há garantia de que as mensagens enviadas irão gerar
respostas, como o email.
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O modelo prevê, ainda, formas de comunicação bidirecional. Diálogo responsivo é um
modelo de comunicação bidirecional, onde é o remetente quem mantém o controle do
processo. Discurso mútuo retrata o modelo em que ambas as partes enviam e recebem
mensagens, mas neste caso os participantes detêm maior controle sobre o processo de
diálogo; salas de bate-papo e murais ilustram este formato.
Paul Ferber, Franz Foltz e Rudy Pugliese (2007) aprimoram este modelo de ciberinteratividade desenvolvido por McMillan, acrescentando a comunicação de três vias,
conforme demonstrado na Figura 4, pois a tecnologia permite que os próprios
participantes interajam entre si a partir da postagem de comentários ou salas de bate-papo,
por exemplo.
Figura 4. Modelo de ciberinteratividade de seis partes
Fonte: FERBER; FOLTZ; PUGLIESE, 2007, p. 393
O modelo de três vias dos autores inclui Resposta controlada e Discurso público. No caso
da resposta controlada, como uma enquete, é possível a participação dos usuários, mas o
site mantém um controle significativo sobre o conteúdo, pois as perguntas são
previamente estabelecidas e a apresentação dos resultados é determinada pelos
coordenadores do site. Isto contrasta com formatos de discurso público, como alguns
fóruns e salas de bate-papo, onde os participantes dispõem de oportunidade quase
ilimitada para determinar o conteúdo (embora possa existir moderação).
4. Campanhas Eleitorais na Internet: novas possibilidades de interação
O desenvolvimento dos meios de comunicação alterou os padrões tradicionais de
interação social e política. Repassando historicamente o formato das campanhas
eleitorais, é possível verificar que em seus primórdios elas se sustentaram em formas
tradicionais interpessoais, tendo como elementos centrais as praças, os comícios e as
reuniões partidárias. Tais elementos permitiam uma interação mais próxima entre
candidatos e eleitores e compromisso efetivo por parte dos militantes dos partidos.
O surgimento dos meios de comunicação de massa alterou substancialmente esta equação,
deslocando as formas tradicionais de comunicação eleitoral para novos formatos. A
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televisão assume centralidade política e diminui ou substitui os canais diretos e pessoais
de antes por outros impessoais e não dialógicos (IASULAITIS, 2015).
Para os cidadãos, a experiência da eleição se torna muito mais passiva, de tal forma que
muitos eleitores se transformam em espectadores distantes e desvinculados do processo.
As pessoas das praças e das reuniões se transformam em audiência, apenas assistindo a
política de maneira massiva, sem a possibilidade de interagir, perguntar, consultar ou até
mesmo aplaudir ou vaiar um candidato. Isto porque a comunicação de massa implica uma
transmissão de mensagens de mão única, do emissor para o receptor, ao contrário da
situação dialógica de uma conversação, em que aquele que escuta é também um
respondente em potencial; dessa forma, a comunicação de massa institui uma ruptura
fundamental entre o produtor e o receptor (THOMPSON, 2002), o que produziu efeitos
importantes para a política.
Esse formato de comunicação política em sentido unidirecional foi por muito tempo
dominante. O modelo broadcasting se altera com o surgimento de novos meios digitais e
redes sociais e a atomização do público em grupos com demandas específicas. Deste
modo, nas últimas décadas, o papel da mídia de massa em conectar cidadãos, partidos e
candidatos passa a ser complementado nas sociedades pós-industriais pelas novas
tecnologias, como a Internet (NORRIS, 2003, p. 22) e a World Wide Web (WWW) está
sendo crescentemente utilizada enquanto instrumento de comunicação política e eleitoral
em grande número de democracias contemporâneas.
4.1 Principais mudanças da comunicação eleitoral na era da Web
A utilização da Internet e das novas mídias sociais no campo político propiciou muitas
mudanças e tornou a comunicação eleitoral algo muito mais complexo do que em fases
anteriores. Como principais mudanças, podem ser citadas:
(1) Fragmentação do sistema de mídia e da audiência
A disseminação da Internet, das novas mídias sociais e de estruturas mais autônomas de
comunicação (como blogs, Facebook, Twitter, foros, etc.), propicia a fragmentação do
sistema de mídia, que passa a ter múltiplos canais e saídas, contexto em que o consumo
da mídia tradicional diminui e o consumo das novas mídias aumenta. Esta fragmentação
da mídia se faz acompanhar da fragmentação da audiência e da perda da universalidade
do público (MANCINI, 2011 apud AZEVEDO, 2011), que “tende a se estruturar em
nichos a partir de preferências ideológicas, políticas e culturais” (AZEVEDO, 2011, p.
90).
(2) Diversificação centrífuga da comunicação
Enquanto no período anterior a comunicação política era, sobretudo, centrípeta e havia
relativamente poucas opções midiáticas, atualmente a multiplicação de canais e a
fragmentação e perda da universalidade do público ao mesmo tempo em que permite
também exige que os atores políticos produzam e dirijam suas próprias mensagens a
nichos determinados de destinatários. A ampla fragmentação dos canais de notícias e da
audiência faz surgir mensagens cuidadosamente direcionadas a determinados segmentos
do eleitorado (BLUMLER; KAVANAGH, 1999). Os estudos mercadológicos, a
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
13
segmentação dos mercados eleitorais para identificação dos diferentes perfis de eleitores,
o correio eletrônico e a informação via Internet contribuem para produzir este fluxo
centrífugo da comunicação política.
As campanhas tornam-se, assim, altamente estilizadas e minuciosamente planejadas. As
mensagens dos candidatos são elaboradas com base em dados das pesquisas de opinião
pública e grupos focais, mediante aos quais o eleitorado é segmentado e estudado em
profundidade. Especialmente os eleitores indecisos se convertem em alvo de mensagens
calibradas a partir de características sociodemográficas e de informações propiciadas
pelos estudos de mercado (PLASSER; PLASSER, 2002, p. 5). Adota-se uma abordagem
que coloca o “consumidor em primeiro lugar”, pesquisando seus anseios, necessidades e
tendências (NORRIS, 2000).
(3) Intensificação da profissionalização
Em um sistema de comunicação mais abundante e também mais fragmentado, os
especialistas são requisitados para planejar detalhadamente as campanhas políticas, no
sentido de atingir os diferentes públicos.
Por tais motivos verifica-se uma intensificação da profissionalização de todas as
atividades de gestão e planejamento da campanha eleitoral, fazendo com que a
dependência dos políticos por assessoria profissional seja ainda maior. Enquanto outrora
os quadros que faziam parte do partido escreviam os manifestos e programas de governo,
os novos profissionais inseridos nas campanhas políticas possuem habilidades específicas
para lidar com a mídia e a comunicação persuasiva, com um perfil mercadológico.
Os políticos estão cada vez mais dependentes do know-how de profissionais para
comunicarem-se sem riscos com a mídia e com os cidadãos, especialmente porque, no
que se refere ao comportamento eleitoral, o eleitorado está mais desalinhado e o cidadão
nesta fase está muito menos identificado com os partidos em comparação aos períodos
anteriores (evidentemente o grau varia em cada democracia analisada). E é por conta da
diminuição da lealdade partidária e do aumento significativo da volatilidade eleitoral que
há, nas atuais campanhas eleitorais, uma verdadeira “revolução do marketing político”
(GUREVITCH; BLUMLER, 1990 apud PLASSER; PLASSER, 2002), onde a prioridade
é identificar as necessidades e preferências de nichos do eleitorado.
Para Norris (2000, p.140) na atual fase das campanhas eleitorais os consultores políticos,
os publicitários, os especialistas em marketing e opinião pública assumem, juntamente
com os políticos, papel protagonista não somente nas campanhas eleitorais, mas também
no interior dos governos, em um processo de campanha permanente.
(4) Ampliação dos canais de comunicação de baixo para cima
O fluxo de comunicação política, a partir do surgimento dos meios de comunicação de
massa, foi marcado por ser top-down (de cima para baixo), onde políticos e especialistas
discutiam entre si os temas da agenda política diante de um público passivo (ou
impossibilitado de participar).
Com a Internet, ampliam-se os canais de comunicação bottom-up, ou seja, de baixo para
cima, pois os cidadãos e eleitores se transformam em emissores potenciais por meio de
múltiplos canais, como as redes sociais e blogs, e também na reprodução dos argumentos
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
14
nas situações de comunicação interpessoal (GIBSON; RÖMMELE, 2007). Se verifica,
portanto, a passagem de um modelo de distribuição de mensagens one to many (de um a
muitos) a outro many to many (de muitos a muitos), o que também populariza mais a
política. Para alguns autores (DELLI CARPINI; WILLIAMS, 1998) isto significa que o
público está desempenhando uma função mais ativa na elaboração de significados sociais
e políticos.
(5) Mudanças na forma de distribuição e recepção das mensagens políticas
Além da mídia de massa, as notícias políticas, informações e ideias, na era da Web, podem
ser distribuídas por intermédio do computador. Na essência, muda a maneira como as
pessoas se informam sobre política (BLUMLER; KAVANAGH, 1999). Considerando
este "frenesi" informacional, o tempo para a reflexão política, e consequente julgamento,
é comprimido. Nesse contexto, a informação política compete com uma grande gama de
informações de outros tipos, como esportes, negócios, moda, entretenimento,
sensacionalismo, etc. Gurevitch e Blumler (1990 apud PLASSER; PLASSER, 2002)
enfatizam que nesta fase nota-se também uma intensificação dos conflitos entre políticos
e jornalistas, em um processo de disputa sobre qual versão da realidade política irá
alcançar o público.
(6) Novas formas de interação entre políticos e cidadãos
A interatividade é uma particularidade da rede que possibilita ao indivíduo afetar e ser
afetado por outros numa comunicação que se desenvolve num sistema de duas ou três
vias. A primeira implicação disso é que a comunicação “de um para todos”, característica
da comunicação hierárquica dos meios de massa tradicionais, dá lugar a outra mais
flexível, na qual existe a “oportunidade de falar assim como de escutar. Muitos falam com
muitos e muitos respondem de volta” (DIZARD, 2000, p. 23). De acordo com Ferber,
Foltz e Pugliese (2007), a Internet pode possibilitar não apenas a comunicação de duas
vias, mas a comunicação de três vias destinada a influenciar terceiros.
Para alguns autores, a interatividade entre eleitores e políticos potencialmente permitida
pelas novas mídias parece representar um retorno a algumas das formas primitivas de
contato encontradas no primeiro estágio das campanhas políticas (NORRIS, 2000), mas
de uma maneira diferente, como “velhos vinhos em novas garrafas” (CARLSON;
DJUPSUND, 2001). As tecnologias digitais permitem formas de comunicação política
híbridas, que podem ser localizadas, esquematicamente, entre o ativismo local da primeira
fase das campanhas eleitorais e as formas passivas de comunicação características da
segunda fase das campanhas centradas principalmente na televisão.
4.2 Tendências de comunicação eleitoral na era da Web: ferramentas e aplicações
Gradativamente, partidos políticos e candidatos estão inserindo ferramentas digitais em
seu rol de comunicação eleitoral. Tal ação faz parte de uma estratégia de adaptação ao
ambiente e às novas circunstâncias que as mudanças midiáticas e de comportamento
social e político impõem e, ao mesmo tempo, um senso de oportunidade frente às novas
possibilidades de relacionamento com os eleitores. As novas tecnologias e técnicas
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
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inovadoras entraram na bagagem da comunicação política e eleitoral pela sua capacidade,
superior à dos antigos meios, para contatar o eleitor.
Desde meados da década de 90 do século passado os candidatos têm visto na rede
eletrônica um meio de baixo custo para a distribuição de mensagens políticas. Nesse
primeiro momento verificou-se um uso básico da Internet pelos candidatos, que apenas
marcaram presença online com websites eleitorais e tiraram proveito da Internet como
um recurso de campanha para enviar mensagens eletrônicas, postar boletins para a
imprensa, discursos e posições oficiais dos candidatos a respeito de assuntos específicos
(KLOTZ, 2004; ANSTEAD; CHADWICK, 2008).
E por muito tempo se perpetuou o uso da Internet limitado ao modo “panfletos
eletrônicos”, em um momento de uma Política 1.0, sem que houvesse características
interativas nos websites políticos, que refletiam a função “top-down” (de cima para baixo)
e de “one-way” (mão única), negligenciando as possibilidades interativas da nova mídia
para promover diálogo com os cidadãos.
Sem pretender realizar uma genealogia do uso da Internet por candidatos, serão
destacados aqui exemplos emblemáticos de utilização da rede eletrônica com propósitos
eleitorais.
Nos Estados Unidos, já em 1996 a Internet desempenhou um papel mais significativo nas
campanhas eleitorais e passou a ampliar sua audiência. Durante o primeiro debate
presidencial, o senador e candidato republicano Bob Dole elevou a política na Internet a
um novo patamar, conforme aponta Klotz (2004, p. 68). Quando o candidato Dole passou
ao último bloco do debate na televisão, encerrou suas observações finais fazendo
referência ao seu website: “Se você realmente quiser se envolver com a campanha, visite
minha home page www.dolekemp96org”. Tal iniciativa de Dole gerou uma resposta
imediata, que conduziu a 500.000 acessos ao seu website nas 24 horas imediatamente
posteriores ao debate. No entanto, seu servidor não era tão eficiente para suportar tantos
acessos simultaneamente, travando o sistema. Mesmo com tal imprevisto, pesquisadores
apontam que após este episódio “a política na Internet nunca mais foi a mesma” (KLOTZ,
2004, p. 68), pois se percebeu como esta ferramenta despertava curiosidade.
Ainda que numerosos estudos indiquem que os partidos e candidatos vinham mostrandose desconfiados frente à interatividade (WARD, 2008), temendo que a abertura de suas
páginas web permitisse a seus oponentes atacá-los e fizesse com que perdessem o controle
da agenda de campanha, podem ser citados diversos exemplos de interatividade em
campanhas eleitorais. Dentre as primeiras experiências pode ser citada a campanha de Al
Gore, nos Estados Unidos, que já durante a corrida presidencial de 2000 organizou algo
inovador para sua campanha política, o denominado “town hall”, um tipo de foro de
discussão on-line.
Ainda dentre as primeiras experiências de interatividade, o candidato que fez uso da
Internet de forma mais efetiva e original foi Howard Dean, a ponto de sua campanha para
as primárias democratas em 2004 ter se tornado exemplo paradigmático do uso bem
sucedido da Internet, demonstrando o potencial desta ferramenta para as campanhas
políticas. Dean, ex-governador de um pequeno estado sem visibilidade na cena política
norte-americana, não tinha seu nome difundido nacionalmente. Ainda assim, desenvolveu
essencialmente pela Internet um movimento que deixou a sociedade norte-americana
estarrecida. Esta foi a primeira vez que a Internet foi utilizada como a principal ferramenta
de campanha eleitoral.
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
16
Na campanha de Dean se verificou a primeira grande utilização da interação mediada por
computador com os cidadãos e por esse motivo tornou-se extremamente popular. No que
se refere à participação dos cidadãos, a campanha de Dean abriu espaço para que os
mesmos se sentissem à vontade para postar comentários e perguntas ao candidato e
coordenadores de campanha, que se encarregaram de respondê-las o mais breve possível.
No site advertia-se que, caso o candidato ou seus assessores não respondessem
imediatamente, os internautas deveriam sentir-se livres para discutir as questões ou outros
assuntos entre si criando, deste modo, um foro interativo. Após uma hora de participação
online de coordenadores da campanha no foro e trinta respostas efetuadas, um dos
internautas postou o seguinte comentário: “Uma linha direta de comunicação com o
comitê de campanha de Dean????!!!!!! Me belisque, que eu devo estar sonhando!”
(SIFRY, 2004, p. 17).
Determinadas decisões de Dean foram baseadas em votações em tempo real realizadas
em seu website. Também foram criadas listas, realizados encontros ao vivo pela Internet
e formadas comunidades voluntárias de arrecadação de fundos para a campanha. Em
poucos meses, utilizando um website, mensagens de e-mail e voluntários, Dean arrecadou
cerca de 25 milhões de dólares de 318.884 cidadãos. A maioria das doações efetuadas a
Dean foi de quantias modestas, de $200 ou menos (HINDMAN, 2005). Deste modo, seu
obscurantismo foi logo substituído por um estrondoso espaço midiático: por este volume
de angariação de doações on-line, Howard Dean atraiu a atenção midiática, que até então
considerava sua candidatura irrelevante. Dean, portanto, foi a novidade e seus apoiadores
foram os curiosos.
Conforme atestam as pesquisas científicas desenvolvidas, a maior parte dos adeptos de
sua candidatura nunca havia se envolvido em campanhas políticas e foi convencida pela
Internet, sem mediação pessoal (WILLIAMS; WEINBERG; GORDON, 2004). Dean foi
pioneiro também na utilização do Meetup.com, uma rede social cujo objetivo é facilitar
o encontro de pessoas de acordo com interesses comuns e a partir de seu código postal.
No caso específico da campanha política de Dean, o uso da rede Meetup consistiu na
formação de grupos de partidários e apoiadores que se comunicavam e reuniam-se
regularmente. A iniciativa foi tão singular a ponto de se tornar generalizada a frase “a
Internet inventou Howard Dean”. Embora não tenha logrado êxito em conquistar a
nominação democrata, suas estratégias de comunicação dinamizaram as campanhas
políticas nos Estados Unidos e atraíram a atenção de pesquisadores de todo o mundo. Joe
Trippi, responsável pela cibercampanha de Howard Dean, alcançou fama internacional
pelos esforços empreendidos.
Ainda no contexto dos Estados Unidos, além das campanhas presidenciais, a Internet
marcou diversas campanhas para o Senado, como a disputa entre José Lieberman e Ned
Lamont. Diversos analistas políticos e pesquisadores atribuíram grande parcela da derrota
de Lieberman ao uso bem-sucedido de um blog por parte de Ned Lamont (ANSTEAD;
CHADWICK, 2008). Outro episódio marcante que caracterizou o uso extensivo da rede
nos EUA foi a disputa para um assento no Senado em 2006, com o qual se provou que a
Internet vinha se solidificando como uma ferramenta de amplo impacto, tanto positivo
quanto negativo. Era esperado que George Allen se elegesse confortavelmente e cacifasse
seu nome para uma possível corrida presidencial em 2008. No entanto, poucos meses
antes da eleição, ele se referiu a um membro da campanha de seu adversário Jim Webb
de forma pejorativa, chamando-o de “macaco”, um termo racista. O vídeo deste evento
foi imediatamente compartilhado e disponibilizado no YouTube, e logo se tornou uma
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
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sensação viral, causando indignação entre os eleitores. No primeiro dia em que foi
postado, o vídeo foi acessado aproximadamente 2.000 vezes e após tal veiculação, o
assunto tornou-se manchete nacional. Mesmo com seu favoritismo e tendo aberto 20
pontos nas pesquisas de opinião antes do episódio, Allen perdeu as eleições (CNN, 2006;
YouTube, 2006 apud ANSTEAD; CHADWICK, 2008). É provável que sem o uso da
Internet o vídeo não fosse amplamente difundido, tampouco causasse tamanho impacto
(o que não quer dizer que somente este episódio foi responsável pela derrota do
candidato). Tais episódios são apenas exemplificações dentre muitas outras da influência
da Internet nas eleições.
Na França, em 2007, Ségolène Royal fez um uso extremamente inovador da Internet, ao
criar uma plataforma interativa para construção colaborativa de seu programa de governo.
Essa foi a primeira experiência relatada na literatura, por meio do website Désirs d’avenir,
onde militantes e simpatizantes socialistas participaram ativamente de fóruns de
discussão (MONTERO, 2009) e, após um ano do início das discussões online, em
fevereiro de 2007, o programa eleitoral de Royal “Uma França mais justa será uma França
mais forte” apresentou as conclusões dos mais de 6.000 debates participativos online.
Não obstante, foi em 2008 que a Internet teve papel preponderante e paradigmático, na
disputa presidencial de Barack Obama, por diversos aspectos. Já durante as primárias, o
uso da Internet foi importante para a arrecadação de fundos. Barack Obama angariou mais
da metade (53%) dos recursos a partir de microdoações pela Internet, totalizando em
$117,7 milhões de microdoadores (The Campaign Finance Institute, 2008) e devido à sua
bem-sucedida campanha durante as prévias democratas venceu a ex-primeira dama
Hillary Clinton.
Durante o pleito, a estratégia continuou a ser utilizada e se transformou também em
estratégia de marketing e visibilidade. Difundiu-se que este perfil de doações perpetuouse durante toda a campanha eleitoral geral; de acordo com divulgação da campanha de
Obama, mais de 3 milhões de pessoas contribuíram financeiramente com o candidato. De
acordo com um estudo promovido pelo The Campaign Finance Institute os doadores de
Barack Obama durante as eleições gerais podem não ter sido tão diferentes quanto se
imaginava. De acordo com o pesquisador e diretor executivo do Instituto, Michael J.
Malbin, os dados apresentados por Obama à Comissão Eleitoral Federal (FEC) não
condiziam integralmente com a realidade. Após uma análise mais aprofundada dos dados
da FEC, o estudo apontou que muitos doadores registraram pequenas doações mais de
uma vez, evidenciando que médios e grandes doadores foram mais importantes para o
financiamento da campanha de Obama do que os analistas tinham inicialmente avaliado.
“Criou-se um mito de que o dinheiro dos pequenos doadores dominou as finanças de
Barack Obama” (MALBIN, 2009). Embora o Instituto reconheça que, de fato, a
angariação de pequenos doadores à campanha de Obama tenha sido impressionante, a
realidade não corresponde ao mito. De acordo com o IFdC, analisando mais
detalhadamente os registros da FEC, foi possível identificar que diversos pequenos
doadores repetiram suas doações, não constando seu montante acumulado, e sim as
doações até $ 200 separadamente. Deste modo, devido aos denominados “mid-range
repetidores”, Obama teria angariado 27% de sua verba de campanha de pessoas cujas
contribuições agregadas estariam no intervalo médio, ou seja, entre $ 201 e $ 999. Muitos
daqueles que foram computados como pequenos doadores repetiram a operação e
acabaram como doadores medianos (The Campaign Finance Institute, 2009).
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
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Não obstante, o sucesso das redes de campanha que se formavam on-line e que, por sua
vez, resultavam em doações financeiras, recebeu intensa cobertura midiática, gerando um
eco multiplicador. Neste sentido, os comentários tecidos ao sucesso de Barack Obama
como receptor de doações, comparativamente a Hillary Clinton durante as prévias e a
John McCain no pleito geral foi considerado um diferencial. O uso da Internet, portanto,
pode chamar a atenção para candidaturas menos conhecidas e refletir o apoio popular para
as ideias do candidato.
Para além do bem sucedido uso da Internet para angariação de recursos, Obama foi
profundamente ativo na Internet. A gestão de redes sociais foi um elemento proeminente
em sua campanha, desde o princípio do processo de primárias. Obama anunciou nestes
espaços que a criação de redes era uma chave principal para o sucesso de sua campanha
e desfrutou ampla vantagem no novo meio.
O website de Obama www.barackobama.com tornava muito fácil que apoiadores
entrassem em ação e contribuíssem com a campanha. Eles podiam receber notícias de
campanha imediatamente após postadas no website, realizar chamadas telefônicas para
eleitores indecisos e traçar planejamento de visitações e operações porta em porta com
outros apoiadores residentes na mesma área geográfica. Obama inovou também
utilizando-se de SMS (mensagens de texto) para enviar notícias da campanha e solicitar
doações. Inclusive o nome de seu vice foi divulgado primeiramente por SMS a seus
apoiadores e somente depois para a imprensa.
A campanha de Obama mobilizou seus partidários também por listas de e-mail e bancos
de dados da Internet. A partir destes, foi possível identificar eleitores potenciais em todo
o país, utilizando tecnologias que apontam as preferências do eleitor com base em dados
comerciais, onde constam informações do tipo propriedade de carro, assinatura de
revistas, websites acessados, dentre outras. Utilizaram, ainda, o targeting de
comportamento online: quando um eleitor navegava pelo site da campanha, um “cookie”
era colocado no seu navegador, identificando os tipos de sites antes visitados e carregando
o conteúdo de acordo com as preferências deste eleitor. O website de Obama recebeu
muito mais visitas, o que tornou seu targeting ainda mais efetivo (Pew Center, 2008).
Portanto, a campanha de Obama foi eficiente na segmentação dos seus apoiadores,
montando diferentes métodos de comunicação para cada grupo. Ao invés de massificar
sua propaganda a partir de comerciais de TV que atingissem vários segmentos, no pleito
de 2008 literalmente montaram-se campanhas específicas para cada perfil de indivíduo e
isso só foi possível por conta da Internet. A partir desta ferramenta foram obtidos
indicativos detalhados de quem visitar, inclusive mapas das áreas e rotas, a quem solicitar
contribuições, bem como os assuntos que seriam prováveis que cada eleitor em potencial
se interessasse. A Internet, portanto, levou a um aumento considerável no cálculo
estratégico e o nível da comunicação passou de massificado para altamente personificado.
Voltando o olhar para a América Latina, Marco Enríquez Ominami no Chile foi um
candidato com muita destreza no uso da Internet. Sendo extremamente jovem e cineasta,
o presidenciável chileno já era afeito às linguagens técnicas e midiáticas. A partir de um
sólido trabalho na Internet, por meio de seu website e também das redes sociais, Ominami
construiu sua candidatura independente após deixar as fileiras do Partido Socialista - que
integrava a coalizão situacionista Concertación – devido ao fato de que a direção da
agremiação não se dispôs a realizar prévias internas para a corrida presidencial e apoiou
o nome do candidato governista Eduardo Frei. Em apenas seis meses Ominami angariou
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
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70 mil assinaturas, muito acima das 36 mil requeridas para oficializar uma candidatura
independente; por fim, logrou mais de 20% dos votos no primeiro turno, uma vitória
política importante, que lhe rendeu grande projeção. As ferramentas interativas não
estavam na web do candidato apenas para constar e transmitir um ar de modernidade, e
sim foram utilizadas de maneira efetiva. Não somente sua equipe de Internet, mas também
o candidato participava diretamente dos espaços interativos (IASULAITIS, 2012). Como
afirma Landtsheer, Krasnoboka e Neuner (2000), a participação do próprio candidato ou
líder político em salas de bate-papo ou fóruns de discussão pode gerar um efeito
mobilizador e uma corrente de simpatia e curiosidade com eco midiático multiplicador.
No Brasil, merece destaque a campanha de Marina Silva na Internet já em 2010. Por não
ter constituído uma política de alianças para sua candidatura, Marina Silva, então no
Partido Verde (PV), dispunha de um pífio tempo de TV, apenas um minuto e meio no
Horário de Propaganda Eleitoral Gratuita. Para compensar este quadro, apostou no
potencial da Internet para criar um ciclo positivo e um efeito “bola de neve” de
mobilização, encorajando os cidadãos a participarem de forma mais intimista de sua
campanha. A campanha online de Marina Silva, assumidamente inspirada na campanha
de Obama, foi desenvolvida basicamente a partir do portal minhamarina.org.br (a
exemplo do MyBo), muito bem elaborado e altamente interativo, abrindo espaço à
participação dos cidadãos para que postassem comentários e perguntas à candidata e
coordenadores de campanha, oferecessem contribuições às diretrizes de governo,
interagissem com os participantes de encontros realizados ao vivo, denominados “Salas
de Marina”, para debater diversos temas, dentre outras possibilidades.
O website de Marina buscava romper com as barreiras espaço-temporais para o
engajamento e a mobilização e tornar muito fácil que apoiadores entrassem em ação e
contribuíssem com a campanha. Outro objetivo era subsidiar as respostas e argumentos
dos militantes. Chamou atenção o “mapa do movimento Marina Silva”, cujo intuito era
possibilitar que os voluntários traçassem planejamento de ações conjuntas com outros
apoiadores residentes na mesma área geográfica, a partir do código de endereçamento
postal. Esta ferramenta foi análoga àquelas que foram utilizadas na campanha de Obama
e também de Howard Dean, que utilizou o Meetup.com. A gestão de redes sociais também
foi um elemento proeminente em sua campanha para se aproximar principalmente do
eleitorado jovem. A “Obamania” incentivou, ainda, uma estratégia de angariação de
fundos pela Internet que, no entanto, foi tímida e teve um efeito mais simbólico.
A campanha online de Marina adotou um sistema de pontuação que mensurava o quanto
se estava colaborando com a campanha e apresentou outros elementos inovadores, como
o jogo interativo “Um Mundo”, que foi idealizado para divulgar de forma viral as
plataformas políticas da candidatura de Marina Silva, com uma lógica semelhante a de
outros jogos que já eram sucesso nas redes sociais, a exemplo do Farmville, do Facebook
(IASULAITIS, 2010).
Neste mesmo pleito presidencial brasileiro em 2010 o principal competidor de oposição,
José Serra, disponibilizou um fórum virtual de discussão com a finalidade de debater
programa de governo. A “Proposta Serra” foi construída com a plataforma Ning, utilizada
para a criação de redes sociais. Em termos gerais, alguns fóruns temáticos mostraram-se
mais como um comitê online de campanha eleitoral do que como um espaço que serviu
aos propósitos de debater propostas de governo, pois ali os participantes realizaram
sugestões e comentários para a campanha de José Serra e exploraram o espaço como arena
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
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de propaganda negativa, com acusações e campanha difamatória contra os adversários
(IASULAITIS, 2013).
E neste mesmo pleito brasileiro se evidenciou a importância de não se descuidar da
reputação online, realizar métricas e monitoramento de redes sociais para o
estabelecimento de estratégias comunicacionais. Houve uma grande ofensiva na rede
contra Dilma Rousseff a respeito do tema do aborto, por uma declaração de que este era
um assunto de saúde pública. Com grande repercussão, foram realizadas inúmeras
publicações e, analisando as métricas, se pode constatar um número expressivo de
mensagens com os termos “dilma aborto” e outros termos correlatos que foram
procurados nos sistemas de busca da Internet, e sempre com conotação religiosa. Resende
e Chagas (2011), acionando os dados do BuzzMetrics, demonstram a relevância na
discussão eleitoral na Internet o suposto ateísmo ou desprezo pela religião por parte de
Dilma, bem como a frequência de termos como “dilma cristo”, “dilma deus”, “dilma
jesus” nos mecanismos de busca. Houve também considerável número de pesquisas pelo
nome do vice de Dilma, Michel Temer, associado ao termo “satanista”. Tais pesquisas
por meio do Google estiveram associadas aos boatos que circularam na Internet a respeito
do suposto envolvimento de Michel Temer com práticas satanistas e de que teria um filho
ilegítimo, Daniel Mastral, que seria satanista.
Pesquisas de sentimentos relacionados aos candidatos demonstrou que, durante o
primeiro turno, foi alto o percentual de mensagens negativas a respeito de Dilma que
circulou na rede, bem como de termos negativos relacionados ao seu nome em motores
de busca. Este dado demonstra que a campanha de Dilma não investiu fortemente em
estratégias de SEO (Search Engine Optimization), visando aumentar sua visibilidade
positiva nas buscas orgânicas realizadas no Google. Estar bem posicionado na ordem dos
resultados é crucial, pois no Google a grande maioria de internautas tende a olhar somente
os primeiros dez links. A equipe de Dilma descuidou de sua presença na rede; já a equipe
de Obama soube explorar este aspecto, incentivando partidários a criarem blogs e a
participarem de redes sociais para disseminarem os links de conteúdos oficiais e a
produzirem seus próprios conteúdos desmentindo os boatos que surgiam. Considerando
que um dos critérios do Google para a relevância dos resultados é o número de links
daquela página em outros sites, as buscas relacionadas aos boatos em relação a Obama
em pouco tempo já apresentavam defesas e explicações entre os primeiros resultados
(Andrew Rasiej, Personal Democracy Forum / Conferencia Aranjuez, 2010).
Os efeitos da polêmica a respeito do aborto diminuem quando uma ex-aluna da esposa de
José Serra tornou público na rede social Facebook que a própria Mônica Serra havia
assumido durante uma aula que teria praticado aborto na época da ditadura e exílio,
devido às condições em que se encontrava. O depoimento da ex-aluna de Mônica Serra
no Instituto de Artes da Unicamp assume ampla dimensão na rede eletrônica e foi
disseminado por alguns veículos como a revista Isto É (VALENTE, 2011). Este novo
acontecimento levou a uma importante inflexão concernente ao tema aborto na segunda
quinzena de outubro, pois os dados do BuzzMetrics apresentados por Cervellini et al.
(2011) deram conta de que o número de mensagens com o termo “serra aborto” havia
ultrapassado o de “dilma aborto”.
Portanto, é possível verificar que, com o crescimento exponencial do acesso à Internet e
o aumento da importância das novas mídias em diversas esferas da vida, os candidatos
começam a se dar conta de que a nova arquitetura de participação da Web é conveniente
aos propósitos eleitorais e se vêm compelidos a desenvolver novas estratégias de
IV Congreso Internacional de Comunicación Política y Estrategias de Campaña
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comunicação eleitoral. E passaram a compreender a importância da construção de uma
identidade digital, uma vez que se eles próprios, com suas equipes, não disserem quem
são no ambiente online, alguém o dirá por eles.
Bibliografia
ANDRADE, Pedro. Ontologia Sociológica da Esfera Pública Digital: o caso da Web
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