A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo
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A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Inf FÚLVIO AUGUSTO NASCIMENTO A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro, no combate aos crimes transfronteiriços na região sul do Brasil. Rio de Janeiro 2015 Maj Inf FÚLVIO AUGUSTO NASCIMENTO A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro, no combate aos crimes transfronteiriços na região sul do Brasil. Projeto de pesquisa apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como pré-requisito para matrícula em programa de pós-graduação lato sensu em Ciências Militares. Orientador: Ten Cel Inf Andrelucio Ricardo Couto Rio de Janeiro 2015 N244b Nascimento, Fúlvio Augusto. A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro, no combate aos crimes transfronteiriços na / Fúlvio Augusto Nascimento. Região Sul do Brasil. 2015. 65 f. : il ; 30cm. Orientação: Andrelucio Ricardo Couto Trabalho de Conclusão de Curso ( Especialização) Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2015. Bibliografia: f. 63-65. 1. Amplo Espectro. 2. Ambiente Interagências. 3. Brigada de Infantaria. I. Título. CDD: 355.4 CDD 658.15 Maj Inf FÚLVIO AUGUSTO NASCIMENTO A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro, no combate aos crimes transfronteiriços na região sul do Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em _______ de __________ de 2015. COMISSÃO AVALIADORA ____________________________________________ Andrelucio Ricardo Couto- Ten Cel Inf - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ____________________________________________ João Luiz de Araújo Lampert- Ten Cel Inf- Membro Escola de Comando e Estado- Maior do Exército _____________________________________________ André Ricardo da Conceição Barreto- Maj Cav- Membro Escola de Comando e Estado- Maior do Exército À minha amada esposa Ana Paula e aos meus adorados filhos Fúlvio Augusto e Ana Clara. Uma sincera homenagem pelo amor e compreensão demonstrados durante a realização deste trabalho. Obrigado por serem meu porto seguro. AGRADECIMENTOS À Deus por me permitir a conclusão de mais uma missão. Obrigado por me dar saúde e sempre aquilo que é o melhor para minha família. À minha esposa Ana Paula e aos meus filhos, Fúlvio Augusto e Ana Clara, pelo inconteste apoio dedicado e por serem a fonte de inspiração e a luz que ilumina meus caminhos em todos os momentos. Aos meus pais, Válter e Maria do Carmo, pelo exemplo e educação que me proporcionaram durante toda a vida, os quais permitiram ser o homem que sou. Ao Tenente-Coronel Andrelucio Ricardo Couto, não só pela orientação firme e segura, como também, pelo incentivo, camaradagem e pela confiança evidenciada em várias oportunidades. Sua dedicação se revestiu de capital importância para que eu pudesse realizar o trabalho com tranqüilidade e eficiência. Ao Ten Cel Lampert e Maj Ricardo, pela atenção demonstrada ao participarem da Comissão Avaliadora deste trabalho Aos companheiros de CCEM 2014 e 2015, pela fraterna convivência neste período de nossas vidas, de muitas realizações e sacrifícios.. . “Algo só é impossível até que alguém duvide e resolva provar ao contrário.” (Albert Einstein) “Nada é mais difícil e, portanto, tão precioso, do que ser capaz de decidir.” (Napoleão Bonaparte) RESUMO O mundo presenciou o aparecimento, no combate moderno, de novos atores, além dos estatais, que se destacam por utilizarem novas tecnologias como internet, redes sociais e a mídia. Portanto, as Forças oponentes não são mais apenas as lineares do passado, mas uma ampla rede de ameaças. Desta forma, as operações do século XXI devem ocorrer de forma simultânea ou sucessiva, combinando atitudes ofensivas, defensivas, de pacificação, de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de apoio às instituições governamentais e internacionais e de assistência humanitária. As Operações nesse novo ambiente e com essas características, denominadas “Operações de Amplo Espectro”, devem ocorrer em um ambiente interagências, exigindo adaptação das forças militares no seu preparo e emprego. Neste contexto, o Exército Brasileiro atualiza e cria novos manuais para acompanhar esta demanda mundial. Aliado a isto, temos na região sul do Brasil, particularmente em sua fronteira, grande índice de ilícitos transfronteiriços, destacando-se neste trabalho, o tráfico de drogas, tráfico de armas e os crimes ambientais. A Brigada de Infantaria, por ser a grande unidade básica de combinação de armas, integrada por unidades de combate, apoio ao combate e de apoio administrativo, e com capacidade de atuar de maneira independente e por tempo significativo, deve aprimorar seu adestramento a atuar de forma eficiente nas Operações de Amplo Espectro, amparada por legislação recente, que busca combater o ilícito e dar subsídios para atuação da Força Terrestre integrada a outros órgãos governamentais. Palavras-chave: Amplo Espectro, ambiente interagências e Brigada de Infantaria. ABSTRACT The world has witnessed the emergence in modern combat, new actors, in addition to the state, which stand out by using new technologies such as internet, social networks and the media. Therefore, the opposing forces are not only linear in the past, but a wide network threats. So, the twenty-first century operations must occur simultaneously or successively combining offensive, defensive attitudes, pacificacion, Law and Order Assurance (GLO), support of government and international institutions and humanitarian assistance. The operations in this new environment and with these features, called "Full Spectrum Operations", should occur in an interagency environment, requiring adaptation of the military and their preparation and employment. In this context, the Brazilian Army updates and creates new manuals to accompany this global demand. Allied to this, in the south of Brazil, particularly on its border, great content-border illicit, highlighting this work, drug trafficking, arms trafficking and environmental crimes. The Infantry Brigade, being the great basic unit of combination of weapons, made up of combat units, combat support and administrative support, and the ability to act independently and significant time, should enhance your training to act efficiently in Full Spectrum Operations, supported by recent legislation, which seeks to combat illegal and make allowances for Integrated Land Force's activities to other government agencies. Key-words: Full Spectrum, interagency environment e Infantry Brigade. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Brigadas de Infantaria por Comandos Militares de Área....... 25 Figura 2- O Espectro dos Conflitos........................................................ 28 Figura 3- Níveis de Planejamento das estruturas organizacionais das FA e agências no País............................................................ 30 Figura 4- O ambiente organizacional interagências............................... 31 Figura 5- A Fronteira Sul........................................................................ 33 Figura 6- Polícia Federal em patrulha no Lago de Itaipu....................... 37 Figura 7- Rota do Tráfico de Drogas no Brasil....................................... 38 Figura 8- Principais rotas do tráfico de armas para o Brasil................... 40 Figura 9- Rota do tráfico de armas no Paraná via Guaíra...................... 41 Figura 10- Rota do tráfico de Armas no Paraná via Foz do Iguaçu......... Figura 11- Rota do tráfico de Armas para o Rio Grande do Sul............... 42 Figura 12- Exemplo de CCOp.................................................................. 41 55 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Histórico das Operações Ágata ( 1ª a 7ª edições)..................................51 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACISO Ação Cívico Social Amv Aeromóvel Abin Agência Brasileira de Informações Art Artigo Bld Blindada (o) Bda Brigada (s) CCOp Centro de Coordenação de Operações COC Centro de Operações Conjuntas Cmt Comandante COLog Comando Logístico CMS Comando Militar do Sul COTer Comando de Operações Terrestres Cte Componente CF Constituição Federal CIMIC Cooperação civil-militar CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior DQBRN Defesa Química Biológica Radiológica Nuclear ECEME Escola de Comando e Estado- Maior do Exército ESG Escola Superior de Guerra EM Estado-Maior EMCFA Estado- Maior Conjunto das Forças Armadas EME Estado- Maior do Exército Etc Et cetera EB Exército Brasileiro FA Forças Armadas FTC Força Tarefa Componente F Ter Força Terrestre Fron Fronteira FGV Fundação Getúlio Vargas GGI-F Gabinete de Gestão Integrada de Fronteiras GLO Garantia da Lei e da Ordem GU Es Grande Unidade Escola Inf Infantaria Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais JSTOR Journal Storage LC Lei Complementar L Leve Mec Mecanizada MWh Megawatts MAPA Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento MD Ministério da Defesa Mth Montanha Mtz Motorizada ONU Organização das Nações Unidas ONG Organizações não governamentais OSP Órgão de Segurança Pública PEF Plano Estratégio de Fronteiras PF Polícia Federal PM Polícia Militar Pqdt Pára- quedista PRF Polícia Rodoviária Federal QDM Quadro de Distribuição de Materiais Km Quilômetro RFB Receita Federal do Brasil Sl Selva SIPLEx Sistema de Planejamento do Exército UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 14 1.1 O PROBLEMA.................................................................................. 15 1.2 OBJETIVOS...................................................................................... 16 1.2.1 Objetivo Geral................................................................................. 16 1.2.2 Objetivos Específicos..................................................................... 16 1.3 HIPÓTESE........................................................................................ 17 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO........................................................... 17 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO............................................................. 17 1.6 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................... 18 2 METODOLOGIA.............................................................................. 3 CARACTERIZAÇÃO DAS BRIGADAS DE INFANTARIA.............. 24 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................................................... 24 3.2 TIPOS DE BRIGADAS DE INFANTARIA......................................... 24 3.2.1 Brigada de Infantaria Motorizada.................................................. 25 3.2.2 Brigada de Infantaria Blindada...................................................... 25 3.2.3 Brigada de Infantaria de Selva....................................................... 26 3.2.4 Brigada de Infantaria Pára-quedista.............................................. 26 3.2.5 Brigada de Infantaria Leve............................................................. 26 3.2.6 Brigada de Infantaria de Fronteira................................................. 26 3.2.7 Brigada de Infantaria Mecanizada................................................. 27 4 AS OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO.................................... 28 4.1 O ESPECTRO DOS CONFLITOS.................................................... 28 4.2 O AMBIENTE INTERAGÊNCIAS...................................................... 29 5 A ÁREA DO CMS E OS CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS 22 PRESENTES.................................................................................... 32 5.1 A ÁREA DO CMS.............................................................................. 32 5.2 A FAIXA DE FRONTEIRA................................................................. 32 5.3 INTELIGÊNCIA ETNOGRÁFICA DA REGIÃO................................. 33 5.4 OS CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS NA FRONTEIRA SUL................................................................................................... 35 5.4.1 O tráfico de drogas......................................................................... 36 5.4.2 O tráfico de armas........................................................................... 39 5.4.3 Os crimes ambientais..................................................................... 42 6 A LEGISLAÇÃO DE AMPARO........................................................ 44 7 OPERAÇÕES NA FAIXA DE FRONTEIRA BRASILEIRA.............. 50 8 A BRIGADA DE INFANTARIA NAS OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO NA FAIXA DE FRONTEIRA SUL................................ 53 9 CONCLUSÃO................................................................................... 59 REFERÊNCIAS................................................................................ 63 14 1 INTRODUÇÃO A partir do final da Guerra Fria, o mundo presenciou a evolução dos conflitos modernos e o consequente aprimoramento do pensamento estratégico. Essa evolução ocorreu com o surgimento da “Era do Conhecimento” e foi consequência dos grandes avanços tecnológicos verificados pós- guerra. Além disso, verificou-se o aparecimento de novos atores no contexto dos conflitos, inclusive atores não estatais. Essas Forças oponentes ampararam-se na nova tecnologia, as quais destacam-se a internet, as redes sociais e a mídia. Portanto, atuar em meio a essa diversidade de atores com interesses e objetivos diversificados é um grande desafio para a área de defesa de todos os países do mundo. Segundo Visacro (2011), com a evolução dos conflitos modernos e o aprimoramento do pensamento estratégico, as Forças oponentes não são mais aquelas dos combates lineares e sim estruturas de redes de amplitudes transnacionais, que abrangem governos legítimos, partidos políticos legalmente reconhecidos, organizações não-governamentais (ONG), movimentos sociais, instituições filantrópicas, companhias de segurança privadas, forças irregulares, organizações terroristas e facções criminosas (ligadas ao tráfico de drogas e de armas e à lavagem de dinheiro). Desse modo, as operações constituem-se, também, na aplicação dos meios de combate, de forma simultânea ou sucessiva, combinando atitudes ofensiva, defensiva, de pacificação, de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de apoio às instituições governamentais e internacionais e de assistência humanitária. Tudo isso ocorre em um ambiente interagências, o quê exige adaptação das forças militares no preparo e emprego. As Operações nesse ambiente e com essas características foram denominadas “Operações de (no) Amplo Espectro”. Concluiu-se, ainda, que os conflitos atuais envolvem não somente o combate entre oponentes armados bem caracterizados. A ação militar ficou mais complexa por ocorrer em ambientes de alta concentração de civis, como núcleos urbanos, dificultando a identificação da força oponente. Assim, concluiu-se que as Operações de Amplo Espectro são inseridas no Ambiente Interagências. De acordo com Manual de Campanha do Exército Brasileiro, EB20-MC-10.201- Operações em Ambiente Interagências (2013), ao tratar sobre o tema em questão, fica claro que essas características e tendências 15 exigirão que os estados estejam preparados para empregar uma diversificada combinação de vetores militares e civis na solução de conflitos e crises. Para alcançar êxito, torna-se imprescindível que sejam aperfeiçoadas a integração interforças e a cooperação interagências – no âmbito nacional e, em alguns casos, em ações integradas com países da comunidade internacional e/ou com organismos internacionais. O Manual cita, ainda, que as forças a serem empregadas nesse ambiente devem estar aptas às missões de todo o espectro dos conflitos: das ações desencadeadas em situação de paz estável até às operações militares desencadeadas em situação de guerra, passando pelas etapas intermediárias da escalada da crise que podem envolver o Estado. Dessa maneira, o estudo em questão “A Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro contra os Crimes Transfronteiriços na região sul do Brasil” é atual e tem a possibilidade de fornecer ensinamentos para o preparo de uma Brigada de Infantaria diante da imprevisibilidade dos conflitos modernos. 1.1 O PROBLEMA No contexto acima descrito, emerge a problemática da pesquisa que ora se apresenta. Como aprimorar a forma de atuação, o preparo e emprego de uma Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro contra os Crimes Transfronteiriços na região sul do Brasil? Sob essa ótica, a pesquisa apresenta relevância, visto que o Exército Brasileiro tem ultimamente se preocupado com o assunto, devido à grande mudança no cenário dos conflitos. Além disso, Grandes Unidades Operacionais têm realizado exercícios neste ambiente, buscando melhor preparação para a problemática em questão. Em decorrência desta importância e do preparo da Força Terrestre nessa área ainda nova, vários artigos têm sido publicados em revistas militares. Os Grandes Eventos, principalmente as Olimpíadas- Rio 2016, preocupam as autoridades nacionais que possuem a responsabilidade de planejarem. A conjuntura nacional de segurança atual é complexa e corrobora a relevância do assunto supracitado. Foram realizadas consultas junto aos bancos de dados da Plataforma Lattes, do Portal da CAPES, do sistema integrado PERGAMUN, do sistema de arquivamento de periódicos acadêmicos JSTOR e das bibliotecas virtuais SCIELO, 16 Google Acadêmico e sistema de bibliotecas físicas da ECEME, da ESG, da UFRJ e da FGV. Outrossim, a relação custo/benefício da pesquisa aponta para a importância e aplicabilidade do projeto, posto que, poderá auxiliar no planejamento e execução de diversas missões. Além disso, o emprego da Força Terrestre nos dias atuais, cada vez é mais complexo e diversificado, gerando possibilidades de aplicabilidade a curto prazo dos conceitos aqui verificados. Assim, o presente projeto tem por finalidade apresentar, por meio de pesquisa qualitativa (ALVES-MAZZOTII & GEWANDSZNAJDER, 2001), as ações a serem executadas pelas Brigadas de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro, podendo oferecer elementos que favoreçam a liderança do militar atuando neste tipo de operação, bem como colher reflexões e novas idéias para que se ofereça ao Estado-Maior do Exército e ao COTer mais uma opção para a preparação contínua de seus recursos humanos. Ressalte-se que este projeto de pesquisa não tem a pretensão de esgotar o assunto mas, sim, de servir de instrumento inicial para sua discussão. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral - Analisar as ações a serem desenvolvidas por uma Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro contra os Crimes Transfronteiriços na região sul do Brasil. 1.2.2 Objetivos Específicos - analisar as ações que uma Brigada de Infantaria pode desempenhar nas Operações no Amplo Espectro; - identificar os crimes transfronteiriços na região sul do Brasil e suas consequências na segurança regional e nacional; - apresentar a legislação que ampara a ação do Exército no combate aos crimes transfronteiriços; e - apresentar reflexões e novas idéias para o incremento das ações das Brigadas de Infantaria, nas Operações no Amplo Espectro, diante dos crimes transfronteiriços na região sul do Brasil. 17 1.3 HIPÓTESE - “A combinação de ações preventivas, ofensivas, defensivas, de pacificação e apoio aos órgãos governamentais e internacionais (GLO e assistência humanitária) de forma sucessiva e simultânea são operações que favorecem o êxito do emprego das Brigadas de Infantaria, no amplo espectro, no combate aos crimes transfronteiriços na região sul do Brasil. 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Esse projeto de pesquisa destina-se, num primeiro momento, a estudar as ações das Brigadas de Infantaria atuando nas operações de amplo espectro. Para esse enfoque, será considerado apenas o módulo Brigada de Infantaria para atuação na Região Sul. Em seguida, levantar-se-ão os crimes transfronteiriços no Brasil, suas potencialidades e formas de ocorrência, em especial o tráfico de drogas, tráfico de armas e crimes ambientais no sul do País. Numa terceira fase, as ações a serem desenvolvidas pelas Brigadas de Infantaria frente aos crimes transfronteiriços, para que sejam propostas reflexões estratégicas e novas ideias ao Estado- Maior do Exército (EME) e ao Comando de Operações Terrestres (COTer), inserido no contexto das Operações no amplo espectro. 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A pesquisa se justifica pela constante atuação das Brigadas de Infantaria em um ambiente complexo de faixa de fronteira, caracterizado pela diversidade de atores, inclusive não estatais, com objetivos diversificados em meio a questões de segurança nacional e tráfico de drogas e armas. Isto torna relevante o tema. Além disso, os problemas globais causam consequências na política militar brasileira, especificamente no emprego do EB, corroborado pela evolução da importância do País no cenário internacional. Este fato submete o emprego do EB em operações internacionais que se caracterizam pelo ambiente operacional de amplo espectro. Assim, a atualidade e modernidade do assunto tornam o trabalho relevante. Os problemas internos, também, causam impactos no emprego da Força Terrestre na medida que, muitas vezes, as consequências de crimes como tráfico de 18 drogas e armas geram o abastecimento do mercado ilícito nacional, favorecendo o aumento da criminalidade principalmente nas áreas de periferia. Por vezes, as Forças de Segurança dos Estados se mostram incapazes em sua ação, sendo solicitada a atuação do Exército para pacificar a área. Corroborando com esta assertativa, na Tríplice Fronteira, em Foz do IguaçuPR, está localizada a Hidrelétrica de Itaipu, ponto mais sensível na Região Sul do Brasil e usina de maior fornecimento de eletricidade para o Brasil. Qualquer sabotagem que possa vir a prejudicar a referida hidrelétrica, causará o caos no País. A usina hoje é de vital importância para o sistema elétrico nacional. Sozinha, fornece 17,3% dos quase 530 milhões de MWh que o país consome. 1.6 REFERENCIAL TEÓRICO Para acompanhar a evolução dos conflitos e o pensamento estratégico, o Ministério da Defesa e o Exército Brasileiro têm realizado estudos e lançado diversas publicações a fim de orientar os integrantes da Força Terrestre, no intuito de prepará-la para as missões vindouras. De acordo com a Doutrina Militar de Defesa, os conflitos de uma nação são caracterizados pelos estados de paz, de crise, de guerra e de conflito armado. Estes são os espectros do conflito. (BRASIL, 2007) Da mesma forma, o Manual das Operações de Informação foi concebido com a finalidade de apresentar a doutrina básica para o planejamento, preparação, execução e avaliação passíveis de serem conduzidas pelos elementos da Força Terrestre neste tipo de ação. (BRASIL, 2014.a) Complementando a definição de Operações no amplo espectro: As Operações no Amplo Espectro podem ser desenvolvidas em áreas geográficas lineares ou não, de forma contígua ou não, buscando contemplar as diversas missões e tarefas que envolvem o emprego de meios terrestres. Essas missões e tarefas orientam quanto às capacidades necessárias à Força. Com base nessas capacidades, a composição de meios deve ser flexível, modular, permitindo adaptação às mudanças do ambiente e com sustentabilidade garantida por meios logísticos dimensionados na medida certa. (BRASIL, 2014-b) Segundo o Manual de Campanha- Operações em Ambiente Interagências EB20-MC-10.201 (2013), as operações no amplo espectro devem ser realizadas, preferencialmente em um ambiente interagências. Este manual teve como referência 19 outros documentos que tratam do assunto de natureza semelhante, produzidos tanto na esfera do Ministério da Defesa (MD) e das Forças Singulares, como outros órgãos, instituições e agências civis. Buscou-se, ainda, garantir a harmonia e o alinhamento dos procedimentos a serem adotados no âmbito do Exército Brasileiro com aqueles praticados em outras instituições e órgãos nacionais e/ou internacionais, sem perder de vista as especificidades da F Ter. Esse manual, entretanto, aborda sem muita profundidade as Operações no Amplo Espectro dos conflitos inseridas nas Operações em Ambiente interagências. Cabe, ainda, ressaltar a diretriz expedida pelo Comandante do Exército para a realização das operações em um ambiente interagências: No planejamento e na execução das ações, sejam preventivas (de caráter permanente) ou repressivas, deve ser buscada a intensificação do contato com as demais FA, os OSP, o Ministério Público e órgãos do Poder Judiciário, dos Ministérios da Justiça e do Meio Ambiente, da Secretaria Nacional Antidrogas e da Secretaria da Receita Federal, e outros afins, sempre que pertinente e possível. ( Portaria nº 61/2005) Entretanto, existe a necessidade de que o Exército se mantenha em estado de preparo constante, estando com sua capacidade operacional sempre pronta em todos os campos: As Forças Armadas não devem jamais descuidar de suas missões tradicionais, sob pena de se tornarem débeis e ineficazes, perdendo seu poder dissuasório. Contudo, para fazer face às ameaças deste século, devem redimensionar seu emprego e suas aptidões nos mais diversos espectros de conflitos. A visão dogmática que estereotipa a guerra apenas como um confronto formal entre dois exércitos regulares deve, finalmente, ser posta de lado. As operações de manutenção e imposição de paz, as ações humanitárias, as operações de estabilidade e apoio, a guerra contra as drogas e contra o terrorismo corroboram essa assertiva. (Visacro, 2011, p.55) De acordo com Nascimento (2013), a transição da Força para o novo conceito doutrinário não será uma tarefa difícil para o Exército Brasileiro. Para o autor, a questão crítica, no momento, concentra-se na capacidade de estar presente em toda a fronteira do território nacional, devido à sua dimensão, e no tempo necessário para as Unidades atingirem um nível de adestramento no Amplo Espectro, empregando, com segurança e eficácia, os novos meios previstos no processo de reequipamento da Força. 20 Vários exercícios com abordagem sobre Operações no Amplo Espectro têm sido realizados pelos Grandes Comandos. Como exemplo, pode-se citar as Operações Agulhas Negras de 2012 e de 2013, desenvolvida pela 2ª Divisão de Exército e as Operações Saci realizadas anualmente pela Brigada de Infantaria Pára-quedista. Barbosa Moreira (2013) em artigo, apresenta as contribuições da 2ª Divisão de Exército para as discussões em torno das Operações no Amplo Espectro, destacando os ensinamentos colhidos no adestramento realizado, oportunidade em que foi aplicado em seus exercícios princípios e fundamentos das Operações no Amplo Espectro considerando o emprego de meios em um quadro de conflito nãolinear assimétrico e aproveitando seu programa de adestramento. Todas as Brigadas de Infantaria, módulo aqui a ser estudado, tem por possibilidades comuns de emprego entre outras: conduzir operações continuadas, ofensivas ou defensivas, como uma força independente ou fazendo parte de uma força maior; organizar-se para o combate adaptando-se à missão e ao terreno no qual tenha que operar; executar missões de segurança para uma força maior; participar de operações combinadas; realizar operações contra forças irregulares e cumprir missões no quadro de segurança interna. (BRASIL, 1984). Todas essas missões se enquadram perfeitamente ao conceito de operações no amplo espectro. A Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. Nesta lei encontra-se o amparo para o emprego do Exército no combate aos delitos transfronteiriços. Cabe ao Exército Brasileiro, além de outras ações pertinentes, [...]: IVatuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, [...]. (LC nº 97) A Portaria nº 61- Comandante do Exército (2005) emite as diretrizes sobre o foco da atuação do Exército no combate aos crimes transfronteiriços. Segundo seu teor, o foco do planejamento das operações está voltado para a entrada (e/ou a tentativa de saída) ilegal no território nacional de armas, munições, explosivos e demais produtos controlados, o tráfico ilícito de entorpecentes e/ou de substâncias que determinem dependência física ou psíquica, ou matéria prima destinada à sua 21 preparação, o contrabando e o descaminho, especificados no Código Penal Comum, o tráfico de plantas e de animais e a entrada (e/ou a tentativa de saída) no território nacional de vetores em desacordo com as normas de vigilância epidemiológica (orientação técnica e normativa do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A importância e preocupação do estudo são observados quando verifica-se que uma Grande Unidade ao atuar em qualquer parte do espectro, também estará envolvida na assistência ou na proteção da população; na proteção de estruturas críticas; na dissuasão de ameaças e/ou na destruição de oponentes. (BRASIL, 2014-c) 22 2 METODOLOGIA Tendo por base o conceitual teórico de Alda Judith Alves Mazzotti e de Fernando Gewandsznajder (2001) explicitado em sua obra “O método nas ciências naturais e sociais”, o trabalho será desenvolvido com base em pesquisa bibliográfica e documental, compreendendo a seguinte técnica: - a pesquisa será qualitativa, que tem escopo exploratório, e terá a finalidade de despertar a hipótese a ser ratificada. Ainda, a fim de se garantir a máxima confiabilidade à pesquisa, será feita a triangulação de fontes entre os documentos examinados. - a análise de dados será desenvolvida durante toda a investigação, em processo interativo com a coleta de dados. Os passos, conforme o Manual Escolar de Trabalhos Acadêmicos na ECEME (BRASIL, 2004, p.23-24), serão: - levantamento da bibliografia e de documentos pertinentes; - seleção da bibliografia e dos documentos; - leitura da bibliografia e dos documentos selecionados, dando ênfase as possibilidades das ações das Brigadas de Infantaria no amplo espectro; - montagem de arquivos: ocasião em que serão elaboradas as fichas bibliográficas de citações, resumos e análises (Op. cit., 2004, p. 24); - análise crítica, tabulação das informações obtidas e consolidação das questões de estudo. (Op. cit., p.24). É importante ressaltar que, precedendo esse projeto de pesquisa, este pesquisador já realizou as seguintes ações: - exame prévio da bibliografia sobre o tema, para que se fosse possível adquirir conhecimento tácito sobre o mesmo (ALVES-MAZZOTTI & GEWANDSZNAJDER, 2001, p. 151); A coleta de material será realizada por meio de consultas às bibliotecas da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra; serão também consultados noticiários e artigos de jornais e revistas; manuais do Exército Brasileiro e a rede mundial de computadores. O trabalho terá prosseguimento com a elaboração do texto, em que constarão as questões – objeto de estudo – enfatizando a situação-problema em torno das ações das Brigadas de Infantaria e dos crimes transfronteiriços na região sul do 23 Brasil, bem como as conclusões e sugestões pertinentes ao tema. Nessa fase, buscar-se-á o máximo de clareza na comunicação do conhecimento produzido, a fim de se evitar ambiguidades. Este trabalho tem por objetivo apresentar sugestões para o aprimoramento das ações de preparo e emprego das Brigadas de Infantaria no amplo espectro frente aos crimes transfronteiriços na Região Sul e que possam servir de base para um efetivo emprego da tropa neste tipo de operação. 24 3 CARACTERIZAÇÃO DAS BRIGADAS DE INFANTARIA 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Segundo o Manual C- 7-30, Brigadas de Infantaria, esta Grande Unidade é a forma básica de combinação de armas, integradas por unidades de combate, apoio ao combate e de apoio administrativo, com capacidade de atuar de maneira independente e por tempo significativo. É uma organização tática e administrativa, podendo receber reforços de elementos de manobra e apoio de acordo com a missão e suas necessidades. Normalmente é enquadrada por uma Força Terefa Componente (FTC) ou um Comando Conjunto. A missão básica das Brigadas de Infantaria é cerrar sobre o inimigo a fim de destruí-lo ou captura-lo utilizando o fogo, o movimento e o combate aproximado. Repelir seu assalto pelo fogo, pelo combate aproximado e pelo contra-ataque e, ainda, manter o terreno e controlar áreas, inclusive suas populações e seus recursos. (C 7-30) Embora possua esta missão no referido manual, as Brigadas de Infantaria vem atuando em vários campos, como: ações subsidiárias, missões de pacificação, missões de paz e missões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). 3.2 TIPOS DE BRIGADA DE INFANTARIA O Exército Brasileiro possui, atualmente, 19 brigadas de infantaria sendo: 7 (sete) de infantaria motorizada, 5 (cinco) de infantaria de selva, 3 (três) de infantaria leve (uma voltada para Operações Aeromóveis, uma para Operações de GLO e uma apta à operar em terreno de montanhoso), 1 (uma) de infantaria pára-quedista, 1(uma) de infantaria blindada, 1 (uma) de infantaria de fronteira e 1(uma) de infantaria mecanizada. Todas possuem a mesma missão básica, entretanto cada tipo de brigada de infantaria tem características únicas, que a diferencia das demais, pelos tipos de suas peças de manobra e, particularmente, na sua mobilidade operacional: aeroterrestre, helitransporte, veículos sobre lagartas, sobre rodas e até mesmo a pé. O manual de campanha C 7-30 (BRASIL, 1984) descreve quatro diferentes tipos de brigadas de infantaria: motorizada, blindada, de selva e pára-quedista. Entretanto, de acordo com o processo de transformação que o Exército vem passando, neste momento de modernização, existem atualmente mais outros dois tipos de brigadas de infantaria: a brigada de infantaria leve (voltadas, para as 25 operações Aeromóveis e de Montanha), e a brigada de infantaria mecanizada. Existe, ainda, uma brigada de infantaria de fronteira, vocacionada para área operativa do Pantanal Matogrossense. Entretanto, a designação “de fronteira” é somente histórica. Fig 1- Brigadas de Infantaria por Comandos Militares de Área Fonte: Mapa: disponível no site do Exército; Localização Bda: Autor 3.2.1 Brigada de Infantaria Motorizada A brigada de infantaria motorizada é uma grande unidade constituída basicamente de batalhões de infantaria motorizados, capaz de executar o combate terrestre sob quaisquer condições de tempo e terreno. Sua mobilidade tática é a do homem a pé. Pode realizar prontamente operações aeromóveis ou ser aerotransportada. Dispondo de meios orgânicos de transporte, pode participar de ações que exijam mobilidade tática (BRASIL, 1984). 3.2.2 Brigada de Infantaria Blindada A brigada de infantaria blindada é uma grande unidade formada basicamente por batalhões de infantaria blindados e regimento de carros de combate. Suas características principais são a mobilidade, a potência de fogo e a relativa proteção 26 blindada. Pela sua grande mobilidade tática, é particularmente apta as ações terrestres altamente móveis de natureza ofensiva, em especial manobras de flanco (BRASIL, 1984). 3.2.3 Brigada de Infantaria de Selva A brigada de infantaria de selva é uma grande unidade formada basicamente por batalhões de infantaria de selva. É organizada para operar na selva, utilizandose, basicamente, de meios fluviais e aéreos e sendo empregada prioritariamente em manobras de flanco. Suas principais características são a fluidez e a sobrevivência em ambiente hostil de selva (BRASIL, 1984). 3.2.4 Brigada de Infantaria Pára-quedista A brigada de infantaria pára-quedista é uma grande unidade formada basicamente por batalhões de infantaria pára-quedistas. Sua principal característica é a elevada mobilidade estratégica, proporcionada pelo transporte aéreo associado ao assalto aeroterrestre, com a utilização de pára-quedas (BRASIL, 1984). 3.2.5 Brigada de Infantaria Leve A brigada de infantaria leve é uma grande unidade formada basicamente por batalhões de infantaria leve. Sua principal característica é a elevada mobilidade estratégica, decorrente da sua estrutura organizacional leve e modular, adequada ao transporte por qualquer meio, principalmente o aéreo. Possui também mobilidade tática (BRASIL,1996). Com a nova concepção, o Exército Brasileiro possui três brigadas de infantaria leve, sendo uma com grande mobilidade, voltada para operações aeromóveis, uma organizada para operar em terreno montanhoso, sob condições climáticas adversas, bem como em altitudes elevadas e com características de fluidez, capacidade de realizar infiltrações e outras operações que o sigilo deve ser mantido. Finalmente, uma brigada voltada para as operações de garantia da lei e da ordem (GLO) 3.2.6 Brigada de Infantaria de Fronteira A Brigada de Infantaria de Fronteira possui como característica operar em terreno de faixa de fronteira, muitas de vezes de difícil acesso, e com limitada 27 capacidade logística. Possui grande capacidade de transporte fluvial, que possibilita flexibilidade para operar em áreas alagadas. O Exército Brasileiro possui apenas uma brigada de fronteira, 18ª Bda Inf Fron, localizada em Corumbá- MS e apta a operar no ambiente operativo do Pantanal Mato-grossense. 3.2.7 Brigada de Infantaria Mecanizada Segundo Martins (2008), a Brigada de Infantaria Mecanizada possui como características grande mobilidade tática, proteção blindada, poder de fogo e flexibilidade de emprego. A grande mobilidade e velocidade ao longo dos eixos redundam em maior raio de ação para emprego da infantaria mecanizada. Tais características tornam a mesma apta às manobras de flanco, possibilitando o desbordamento ou envolvimento do dispositivo do inimigo. Isso contribui também na realização de ações rápidas e decisivas para conquistar e manter objetivos ou regiões do terreno mais em profundidade, por meio de infiltrações e/ou incursões, aproveitando-se dos espaços vazios, visando ao isolamento do campo de batalha. Na Região Sul existem Brigadas de Infantaria Motorizada, Blindada e Mecanizada. Entretanto, devido à grande flexibilidade e às características fundamentais, as brigadas de infantaria que não estão vocacionadas para aquela região têm condições de operar de modo eficaz na área. Logo, na referida região, poderá ser empregada, além das unidades já existentes, as de grande mobilidade estratégica, como é o caso da brigada leve e pára-quedista. As grandes unidades de selva e de fronteira já se encontram em áreas de extrema sensibilidade, desta forma seu emprego na região pode ser considerado remoto. 28 4 AS OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO Para que sejam aprofundadas as operações das brigadas de infantaria no amplo espectro faz-se necessário ser analisado este ambiente operacional contemporâneo para um real entendimento de sua importância no contexto atual. 4.1 O ESPECTRO DOS CONFLITOS Nos dias atuais, as relações entre os países envolvem atores e interesses políticos, sociais e econômicos. A relação entre eles variam de acordo com seus interesses. Quando esses interesses convergem para um bom entendimento, as relações ocorrem de forma positiva gerando, geralmente, bons frutos para ambas as partes. Entretanto, em caso de divergências, existe a possibilidade de instalar-se uma crise que pode evoluir para um conflito armado, em caso de não entendimento das partes. Fig 2 - O espectro dos conflitos Fonte: Manual de Doutrina Militar Terrestre Os conflitos atuais envolvem não somente o combate entre oponentes armados. A ação militar ficou mais complexa podendo ocorrer em ambientes de alta concentração de civis, como núcleos urbanos, dificultando a identificação da Força oponente. Neste cenário, os riscos e ameaças que o Exército Brasileiro pode enfrentar são imprevisíveis, tornando o planejamento prévio de grande importância. 29 O Espectro dos Conflitos representa uma escala na qual se visualizam os diferentes graus de violência politicamente motivada. Abrange desde a Paz Estável, em um extremo, até a situação de Guerra, no outro. Ao longo desse espectro, a Paz Instável é a situação na qual ocorre violência localizada e limitada, que não comprometa a segurança do Estado como um todo; e a Crise, caracterizada por grave ameaça ao Estado cujo nível de violência não implique no envolvimento de toda a capacidade militar da Nação (contingência limitada). (BRASIL, 2014.c) Segundo o EB20-MC-10.201, Operações em Ambiente Interagências (Brasil, 2013 a) essas características e tendências presentes no espectro dos conflitos exigirão que os Estados estejam preparados para empregar uma diversificada combinação de vetores militares e civis na solução de conflitos e crises. Dessa forma, há uma grande necessidade que as operações ocorram com uma integração e cooperação interagências. Dependendo, como no caso dos crimes transfronteiriços, operando em ações integradas com países da comunidade internacional, no escopo dos Organismos Internacionais dos quais o Brasil participa. Portanto, as operações no amplo espectro dos conflitos incluem desde a defesa da soberania e da integridade do patrimônio nacional a ações subsidiárias de apoio às políticas governamentais, passando pelas ações de cunho humanitário e de atendimento a emergências e catástrofes, pelo apoio no restabelecimento de infraestruturas básicas e de governança, o atendimento a compromissos internacionais e a atuação contra delitos transnacionais e ambientais. (BRASIL, 2013) 4.2 O AMBIENTE INTERAGÊNCIAS De acordo com o EB20-MC-10.213, Operação de Informação (Brasil, 2014a), no ambiente operacional contemporâneo, apesar de ainda ocorrerem alguns conflitos bélicos com o empenho de numerosos efetivos, a declaração formal de guerra entre Estados deixou de ser a regra. Em um ambiente de incertezas, tem sido mais difícil a identificação do inimigo dominante, estatal ou não, regular ou irregular. Segundo o EB20-MC-10.201, Operações em ambiente Interagências (Brasil, 2013 a), face a grande complexidade dos desafios impostos pelas operações desencadeadas no atual ambiente operacional, é necessário um grande esforço concentrado de todos os instrumentos do Poder Nacional – o que inclui forças militares, organizações governamentais (nacionais e estrangeiras) e agências civis (de governo ou não). Essa integração entre o vetor militar e as estruturas civis é essencial para o êxito das operações e é chamada de operações interagências. 30 Cada parte envolvida nas operações interagências deve aprender a trabalhar de forma coordenada neste sistema de cooperação de forma a aproveitar as potencialidades existentes em cada integrante respeitando suas características como cultura organizacional, filosofia, linguagem, missões, práticas, conhecimentos e habilidades. Ainda, segundo, EB20-MC-10.201(Brasil, 2013), nesse ambiente interagências, a atuação do Exército pode ocorrer sob a coordenação do Ministério da Defesa (MD), por intermédio do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), ou de forma singular. Figura 3- Níveis de Planejamento das estruturas organizacionais das FA e agências no País Fonte: Manual de Operações em Ambiente Interagências As operações no ambiente Interagências que contam com a presença das Forças Armadas tem início no Ministério da Defesa, por meio de um projeto ou contrato de objetivos, os quais norteiam as ações que resultarão no estado final desejado. Devem conter as atribuições e responsabilidades; os prazos e prioridades; a padronização de medidas de coordenação; e meios e orçamentos disponíveis. No ambiente interagências, em função da cultura organizacional de cada agência, o compromisso com a missão por parte dos vetores participantes normalmente apresenta-se em graus diferentes. No entanto, a unidade de esforços, colaboração e integração entre as agências são condições “sine qua non” para o desenvolvimento das Operações em ambiente interagências, pois permite ao Estado alcançar o estado final desejado e minimiza a possibilidade da dispersão de esforços, retrabalhos, desperdício 31 de recursos humanos e materiais, podendo chegar até o não atingimento dos objetivos propostos. [....] As operações combinadas, conjuntas e singulares das Forças Armadas devem ser integradas no nível político-estratégico e coordenadas operacional e taticamente com as atividades das agências participantes – e iniciativas do setor privado, quando aplicáveis – para atingirem objetivos comuns de Segurança do Estado. (BRASIL, 2013 a) Figura 4- O ambiente organizacional Interagências Fonte: Manual de Operações em Ambiente Interagências Segundo EB20-MC-10.201(Brasil, 2013 a), verifica-se que as ações desencadeadas na faixa de fronteira visam a ampliar a capacidade do Estado em prover controle e segurança nessa porção de seu território, atuando no apoio aos órgãos governamentais, aos quais cabe por destinação legal realizar a prevenção e repressão a ilícitos. A Força Terrestre, quando empregada, normalmente em caráter episódico e em área definida em diplomas legais, o fará em ambiente interagências. Essas ações são normalmente caracterizadas pela complexidade na execução, o que enfatiza a necessidade de busca pela unidade de esforços com os demais agentes do Estado envolvidos, particularmente os Órgãos de Segurança Pública (OSP), de controle aduaneiro e de preservação ambiental. O Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) do Governo Federal é o instrumento legal que determina a forma como essa unidade de esforços deve ser atingida entre os órgãos federais, estaduais e municipais. Os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras (GGI-F) são os coordenadores das ações. 32 5 A ÁREA DO CMS E OS CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS PRESENTES 5.1 A ÁREA DO CMS O Comando Militar Sul (CMS) engloba os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O CMS tem como missão manter a soberania na região sul do Brasil, para tanto mantêm 50.000 militares, ou seja, um quarto do efetivo do Exército Brasileiro, 75% dos meios mecanizados existentes na força terrestre, 18 oficiais generais, 160 Organizações Militares e 21 Tiros de Guerra. Portanto, sua área de fronteira coincide com a mesma da Região Sul, a qual será descrita no próximo subcapítulo. 5.2 A FAIXA DE FRONTEIRA O termo faixa de fronteira significa uma faixa de terra com 150 quilômetros de largura e 16.886 quilômetros de extensão. Conforme Institucional (2011), se fosse possível separá-la de nosso território, teríamos uma extensão de terra com tamanho que ficaria entre o México e a Argentina. O Brasil, na Região Sul, faz fronteira com o Paraguai, Argentina e Uruguai, em aproximadamente 2.474 Km de fronteira, sendo 208 Km com o Paraguai, 1.263 Km com a Argentina e 1.003 Km com o Uruguai. Os Estados que compõem a Região Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tem seus limites fronteiriços da seguinte forma: - o Estado do Paraná possui, aproximadamente, 208 Km de fronteira com o Paraguai e 293 Km de fronteira com a Argentina; - o Estado de Santa Catarina possui, aproximadamente, 246 Km de fronteira com a Argentina; e - o Rio Grande do Sul possui, aproximadamente, 724 Km de fronteira com a Argentina e, aproximadamente, 1.003 Km de fronteira com o Uruguai 33 Figura 5- A Fronteira Sul Disponível em: > http://www.retis.igeo.ufrj.br/zona- cartografia/de-fronteira-sul-cidades-evilas<) 5.3 INTELIGÊNCIA ETNOGRÁFICA DA REGIÃO As comunidades de fronteira, especialmente o estudo de caso de brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios, sejam migrantes ou não, vivenciam a ambigüidade de duas lógicas territoriais: ao mesmo tempo em que se deparam com o controle rígido das barreiras fronteiriças internacionais, convivem com múltiplas redes de solidariedade, de trocas comerciais, culturais e até mesmo políticas, de caráter transfronteiriço. (SOUZA, 2009) Existe uma grande diversidade de culturas na Região Sul e nos países que fazem fronteiras com o Brasil. A fronteira efetivamente é complexa pela natureza de sua formação e pelo modo como se estabelecem ali as relações sociais das diferentes etnias que nela habitam. As fronteiras geográficas são repletas de contrastes sociais. 34 Inicialmente, existem os contrastes linguísticos e culturais. A fronteira com a Argentina e o Uruguai, na chamada bacia do rio da Prata é, sem dúvida, onde o contato linguístico e cultural foi historicamente determinado pelas línguas do Estado. Nessa fronteira, esse contato entre o português e o espanhol decorreu de um século de litígios pelo domínio dos territórios, da política expansionista de ocupação da região e a grande militarização das áreas, além da existência de povoamentos desenvolvidos e de um intercâmbio econômico, cultural e social já consolidado. Na fronteira com o Paraguai, onde existiu grande contato entre as diferentes nações indígenas, o português e o espanhol, apresenta uma clara situação de plurilinguismo. No caso do Paraguai, o reconhecimento do guarani como língua oficial e o seu destacado lugar como língua materna da grande maioria da população é um ingrediente fundamental na configuração das línguas da fronteira, sobretudo pela importância que o guarani ocupa frente a outras línguas, as dos imigrantes e a do Estado. Vale lembrar, neste caso, a importância dos Brasileiros que vivem no Paraguai, nas áreas próximas a fronteira, os chamados brasiguaios, que levam para o interior das terras paraguaias a sua língua portuguesa com todas as suas características das culturas regionais (de gaúchos, paulistas, paranaenses, mato-grossenses, etc). Na fronteira do Brasil com Argentina e Paraguai, mais ao sul, existe a situação da província fronteiriça de Missiones. Nesta região, o fluxo migratório trouxe, especialmente, para dentro do território argentino, alemães, italianos e polacos, além de um contingente significativo de brasileiros, que contribuíram para fortalecer presença da língua portuguesa nas comunidades da zona fronteiriça. Na fronteira do Rio Grande do Sul com os países da bacia do rio da Prata, sobretudo na zona fronteiriça do Brasil com o Uruguai, há ainda uma terceira "língua", que não é nativa, não é a do imigrante, não é a do Estado. É a que funciona como mais uma nas práticas linguísticas de grande parte da população fronteiriça e que resulta do cruzamento das línguas portuguesa e espanhola, da extensão ou da penetração de uma língua no território da outra. O contraste social na área de fronteira sul é grande. Do lado brasileiro, em sua grande parte, as cidades da região são bem desenvolvidas com a economia voltada para a agricultura e pecuária e com boa infraestrutura para se viver. Contrapondo-se a essa situação, as maiores cidades do Paraguai, Argentina e Uruguai estão afastadas da faixa de fronteira, existindo uma grande falta de 35 infraestrutura nas cidades fronteiriças. Estas diferenças estimulam o contrabando de ambos os lados, inicialmente com “commodities”, passando pela carne bovina, gasolina, gás de cozinha, e terminando em carros roubados, tráfico de drogas e armas. Existe, também, o conflito relacionado à luta pela terra dos brasiguaios, instalados no Paraguai. O termo surgiu quando, devido à construção da hidrelétrica de Itaipu, os agricultores que tiveram suas propriedades invadidas pela água da barragem receberam indenizações insuficientes para a compra de novas terras no Brasil. Optaram, então, por deslocar-se para o vizinho Paraguai, onde as terras eram cerca de oito vezes mais baratas. Atualmente, os brasiguaios provocam sentimentos nacionalistas e xenófobos entre os paraguaios. Cabe ressaltar que um dos fatores que dificultam o controle da ultrapassagem dos imigrantes na faixa de fronteira, é a diversidade étnica, comum na região, o que torna muito difícil prever ou fiscalizar este tipo de ação. Pode-se concluir que, apesar das diferenças culturais, linguísticas e sociais, existem condições culturais e econômicas na região que favorecem o ilícito transfronteiriços. 5.4 OS CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS NA REGIÃO SUL Na Região Sul estão presentes os mais variados tipos de crimes. Destacamse os crimes de tráfico de drogas, tráfico de armas, crimes ambientais, tráfico de pessoas, contrabando de mercadorias de toda espécie e produtos pirateados, o risco de ações terroristas na área da tríplice fronteira, entre outros. Os 4 países adotam medidas para coibir o crime na faixa de fronteira seca, como fiscalização rigorosa nos Postos Aduaneiros e fiscalização policial. Além disso, a Polícia Rodoviária do Brasil executa fiscalização nas principais vias de acesso ao Paraguai, Argentina e Uruguai. Entretanto, os crimes graves não seguem rotas convencionais. Existe uma grande faixa de fronteira entre esses países, que não possuem obstáculos naturais e onde não há monitoramento eficaz. Mesmo onde existem rios nas fronteiras é possível a prática dos crimes transfronteiriços. Diferenças de padrão monetário, regime político, etnias, língua e religião levam a que, em certos pontos da fronteira, estabeleçam-se postos de controle daquilo que atravessa de um lado para o outro. Nesses postos estabelece-se um conjunto de atividades em torno das quais se desenvolve uma cidade. Ela pode agregar outras funções, mas a de posto fronteiriço 36 tende a ser muito importante. Sua área de influência tende a ser ampla, incluindo pelo menos dois países. E de modo corrente, há uma outra cidade do outro lado da fronteira que, de certo modo, cumpre papel semelhante. (CORRÊA, 2004, p. 319). O trabalho focará em três crimes transfronteiriços: o tráfico de drogas, tráfico de armas e crimes ambientais. 5.4.1 O tráfico de drogas O tráfico de drogas é um problema que vem assolando o País na atualidade. O “Modus Operandi” dos Narcotraficantes é complexo e utiliza vários artifícios para que a droga ultrapasse as fronteiras brasileiras. O Brasil se difere dos outros países por não ser produtor e por ser o ponto mais importante de trânsito para as drogas produzidas na América do Sul. Mas há tempos o Brasil não é mais só corredor em direção a Europa e Estados Unidos. O país passou a ser um grande mercado consumidor de drogas, em especial, de maconha, crack e cocaína. Um mercado ativo e em expansão que conquistou especialmente os jovens. Segundo GALLUCCI (2010), atualmente, o tráfico de drogas responde por 22% dos crimes cometidos pelos presidiários brasileiros. Um diagnóstico do Conselho Nacional de Justiça, divulgado em 2010, mostra a existência de tráfico de drogas e violência dentro dos presídios em todos os estados brasileiros. Ainda segundo informações da CNJ, cerca de 80% dos presidiários fumam crack. Segundo CHADE (2010), o Brasil é considerado pelos EUA peça essencial para a distribuição mundial de drogas. Para muitos traficantes, o país tornou-se a rota para permitir que a droga chegue à Europa, EUA e Ásia. O caminho é facilitado pela falta de controle aéreo, que torna o acesso livre dos traficantes ao país, e pelo suposto envolvimento de autoridades no tráfico. Existem três tipos de rotas para entrada da droga no País. As rotas caseiras, destinadas ao transporte da droga consumida pelos brasileiros, as rotas internacionais, nas quais a droga simplesmente passa pelo país que é usado como corredor das drogas que têm como destino final os Estados Unidos e a Europa, e as rotas mistas, que são aquelas em que as drogas vêm para o Brasil e parte fica no país para consumo e outra parte segue para o exterior. 37 O meio aéreo era um dos principais veículos de entrada da droga no País. Para combater este tipo de meio, em 2004 foi regulamentada a lei 7.565, conhecida como a “Lei do Abate”, que permite que aeronaves consideradas suspeitas (que não tenham plano de vôo aprovado) sejam derrubadas em território nacional. Com medo, os contrabandistas de drogas que usavam o espaço aéreo para transportar suas mercadorias, voltaram a usar as rotas terrestres. O Lago de Itaipu é o principal fator que favorece o desenvolvimento do tráfico de drogas na fronteira entre Brasil e Paraguai, cuja relevante extensão dificulta a fiscalização de órgãos oficiais. [...], especificamente, o tráfico de maconha, cocaína e crack, haja vista as constantes apreensões dessas drogas – entendendo que o tráfico é pressuposto para a formação de redes geográficas ilegais pelo território.[...] cabe destacar que, dada a existência de inúmeras rotas, não é possível definir por meio de quais as drogas são transportadas. Não obstante a existência de rotas fixas, a atividade de tráfico de drogas ilícitas evidencia, por meio de sua movimentação, desde os países produtores de drogas, até o consumidor final, uma complexa rede ilegal pelo território. Os principais agentes envolvidos nesse processo compreendem os produtores rurais que trabalham no plantio e processamento da droga; os indivíduos que transportam a droga; os grandes “chefes” do tráfico, responsáveis por coordenar a logística da atividade; os consumidores de drogas e os agentes componentes dos órgãos encarregados da repressão à atividade ilícita, representando o Estado. (GEMELLI, 2013) Segundo GEMELLI (2013), a droga no Paraguai encontra facilidade de entrada no lago formado por Itaipu, devido à sua dimensão. Os traficantes atravessam a fronteira por meio de lanchas conduzindo o produto ilícito. A Polícia Federal tem atuado por meio de patrulhamento, entretanto nem sempre é eficaz. Figura 6- Polícia Federal em patrulha no Lago de Itaipu Fonte: Defesanet 38 Além da entrada no País por meio aéreo, os traficantes também utilizam “mulas” para o transporte das drogas. Adolescentes que transportam até 30 quilos de drogas são utilizados como “bodes expiatórios”. Diante desse processo, os jovens sofrem duplamente, pois por um lado são criminalizados pelo Estado e a sociedade e, por outro, são explorados pelo narcotráfico. Existe, ainda, a entrada da droga por outras partes da fronteira sul, através de fronteira seca, ou de fronteira delimitada por pequenos rios ou por rios maiores, que não são impeditivos para o tráfico de drogas. Fig 7- Rota do Tráfico de Drogas no Brasil Disponível em: http://pessoas.hsw.uol.com.br/trafico-de-drogas4.htm 39 5.4.2 O tráfico de armas O tráfico de armas é um negócio que também movimenta milhões de dólares, só perdendo para o de drogas. Calcula-se que das 17 milhões de armas que existem no país, 4 milhões estejam nas mãos do crime organizado. Tanto as drogas como as armas chegam ao Brasil por meio dos “formiguinhas”, pessoas que as transportam em veículos particulares, ou pelos grandes traficantes que fazem encomendas de quantidades que chegam via terra, mar e, muito pouco atualmente, por ar. Nessa negociata, muitas vezes, os bandidos pagam suas contas com trocas de produtos. Reportagem da Isto É Independente, de 2003, mostra que Argentina e Paraguai eram os grandes fornecedores de armas para o País, abastecendo a cidade do Rio de Janeiro. A PF investiga uma espécie de Mercosul do crime que abastece quadrilhas de traficantes. Segundo a Polícia Civil do Rio, 85% das armas de uso restrito que chegam no Estado têm como última escala o Paraguai – que não fabrica armas – e os 15% restantes, os Estados Unidos. “O Paraguai não é apenas passagem, é um entreposto de armas”, aponta Lacerda. O dossiê Ação Estratégica contra o Crime Organizado, da Polícia Civil, revela que oito em cada dez armas contrabandeadas para o Rio foram adquiridas antes, em negócios legais, por duas “armerias” paraguaias, a Agrícola San Felipe e a Perfecta Sami, ambas sediadas na capital, Assunção. “O Paraguai vive uma séria desordem institucional”, alerta o delegado Carlos Antônio de Oliveira, diretor da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos. No Mercosul do crime, a Argentina ganhou destaque. As “encomendas” variam de fuzis automáticos FAL a granadas FMK2. Entre 1995 e 2003, a polícia apreendeu com traficantes do Rio 338 dessas granadas – 75 só nos três primeiros meses deste ano. Um dossiê reservado obtido por ISTOÉ, produzido por oficiais ligados à “Fabricaciones Militares de la Argentina”, a maior fornecedora daquele país, mostra que armas portenhas encontradas com traficantes brasileiros pertenciam a órgãos de segurança. Submetralhadoras argentinas que terminaram nos morros do Rio tinham como ex-proprietários o Serviço Penitenciário Federal, que cuida da segurança dos presídios argentinos, e polícias de províncias. “Isso confirma o desvio direto de armas restritas argentinas para traficantes brasileiros” [...] ( MIRANDA, 2003) Segundo dados do Relatório Mundial sobre Drogas elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) há presença de organizações criminosas brasileiras em diversas cidades fronteiriças, onde estabelecem bases para facilitar a comercialização de drogas e armas com fornecedores internacionais. [...], apesar de ser feito de forma mais pulverizada, o trafico de armas ainda consegue abastecer traficantes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em dezembro, foi preso em Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, um traficante de armas que mandava 60 fuzis por mês para Rio e São Paulo. De acordo com o Mapa do Tráfico de Armas, elaborado pela ONG Viva Rio, e divulgado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, em dezembro do ano passado, 40 nos últimos 10 anos foram apreendidas 226 mil armas em 19 Estados. Atualmente, existem 16 milhões de armas em circulação no País, das quais 7,6 milhões em situação ilegal. A maioria das armas estrangeiras foram apreendidas no Rio Grande do Sul (18,8%) e Rio de Janeiro (16,4%), entre os armamentos de uso restrito, a maior parte é fabricada nos EUA e no Paraguai. No entanto, 80% das armas apreendidas no Brasil foram fabricadas em solo nacional. O estudo apontou que cerca de 30% das armas confiscadas foram compradas legalmente e entram na clandestinidade pela falta de controle. Existe ainda o efeito “bumerangue”, ou seja, armas são exportadas pelo Brasil e voltam ao País, principalmente pelas fronteiras com o Paraguai e Bolívia, elas correspondem a 28,13% do total de apreensões, segundo dados da pesquisa sobre o Tráfico de Armas. (GALANTE, 2011) A revista VEJA, por meio dos seus infográficos, traçou as principais rotas do tráfico de armas para o Brasil. Destacam-se como fornecedores o Suriname, a Bolívia, o Paraguai e a Argentina. Figura 8- Principais rotas do tráfico de armas para o Brasil Fonte: VEJA Dos pontos de entrada do armamento pelo estado do Paraná destacam-se dois, Guaíra e Foz do Iguaçu, ambos com procedência no Paraguai. 41 Figura 9 - Rota do Tráfico de Armas no Paraná via Guaíra. Fonte: VEJA Figura 10- Rota do Tráfico de Armas no Paraná via Foz do Iguaçu Fonte: VEJA Para o estado do Rio Grande do Sul, dois pontos de passagem do tráfico de armas se destacam, Uruguaiana, com procedência na Argentina e Santana do Livramento, com procedência do Uruguai. 42 Figura 11- Rota do Tráfico de Armas para o Rio Grande do Sul Fonte: VEJA Desta forma, verifica-se que o tráfico de armas pela fronteira sul é responsável por grande parte do armamento que abastece a criminalidade brasileira com destaque para o crime organizado do estado de São Paulo e Rio de Janeiro, as maiores cidades do Brasil. 5.4.3 Os crimes ambientais São considerados crimes ambientais as agressões ao meio ambiente e seus componentes (flora, fauna, recursos naturais, patrimônio cultural) que ultrapassam os limites estabelecidos por lei. Ou ainda, a conduta que ignora normas ambientais legalmente estabelecidas mesmo que não sejam causados danos ao meio ambiente. Por violar um direito protegido, todo crime é passível de uma sanção regulada por lei. O ambiente é protegido pela Lei n.º 9.605 de 13 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), que determina as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Em que pese a legislação ambiental brasileira ser uma das mais completas do mundo, mais do que os avanços representados por ela, o País necessita de mecanismos de fiscalização e apuração dos crimes. Isso ocorre, principalmente, por inexistirem recursos e capacidades técnicas para executar a lei plenamente em todas as unidades federativas. 43 Na região sul não é diferente. Apesar do Estado se fazer presente em grande parte da fronteira sul, através do Exército, órgãos municipais e federais, os criminosos conseguem burlar as medidas repressoras. Os crimes ambientais mais comuns na fronteira sul são o desmatamento, o contrabando de animais silvestres e a pesca predatória nos rios da região. A Operação Ágata encerrou nesta terça-feira (21/08) com 35 pessoas detidas, 135 animais silvestres apreendidos, 169 metros cúbicos de madeira apreendidos e 13 hectares embargados por desmatamento ilegal nas fronteiras do Mato grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A operação teve como objetivo o combate a crimes nas faixas de fronteira dos estados do Mato grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No Paraná, no município de Cascavel, os agentes ambientais do Instituto fiscalizaram um torneio de canto de pássaros. Foram apreendidos 103 animais e detidas, pela Polícia Federal, 35 pessoas por problemas diversos, entre eles falsificação de anilhas e comércio ilegal de animais. Em Santa Catarina, as atividades foram desenvolvidas na região oeste, fronteiriça com a Argentina. Na BR 292, no município de Maravilha, foi apreendida uma carreta com 35 metros cúbicos de jequitibá, madeira oriunda da Amazônia, cuja origem legal não foi comprovada. Em São Miguel do Oeste foram apreendidas 32 aves por problemas com as anilhas, as quais eram falsificadas ou adulteradas e, ainda, por maus tratos. No município de Campo Erê, foi embargada uma área de 13 hectares. No local foi verificado um desmatamento ilegal de árvores nativas, como pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia), madeira ameaçada de extinção. Além do corte raso, havia queimada da área para fins de agricultura. Foram apreendidos 134 metros cúbicos de madeira, equivalentes a quatro caminhões lotados. (FERRARI, 2012) Desta forma, verifica-se que, a atuação frequente do Estado na fronteira sul faz-se necessária para coibir os crimes contra o meio ambiente, com a finalidade de preservar os recursos naturais existentes na região. 44 6. A LEGISLAÇÃO DE AMPARO Inicialmente, deve-se identificar a missão constitucional das Forças Armadas em nosso País, prevista pela Constituição Federal de 1988: Art. 142 - As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (CF, 1988) Desta forma, verifica-se que as missões das Forças Armadas são a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e a garantia da lei e da ordem. A Lei Complementar 97 de 1999, alterada pela Lei Complementar 117 de 2004, atribui caráter subsidiário ao emprego das Forças Armadas, principalmente o Exército Brasileiro, na atividade de preservação de segurança pública, e destina à Força Terrestre, como atribuição subsidiária particular o poder de polícia na faixa de fronteira, orientando sua forma de atuação: Art. 17-A. Cabe ao Exército, além de outras ações pertinentes, como atribuições subsidiárias particulares: I – contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam respeito ao Poder Militar Terrestre; II – cooperar com órgãos públicos federais, estaduais e municipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução de obras e serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do órgão solicitante; III – cooperar com órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional, no território nacional, na forma de apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução; IV – atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de: a) patrulhamento; b) revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e c) prisões em flagrante delito. (LC 97, 1999) Os crimes transfronteiriços e ambientais, em sua maioria são de competência da Justiça Federal, e a Polícia Federal, que tem a missão constitucional de exercer a função de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, conforme § 1º do Art 144 da Constituição Federal, é a autoridade responsável pela lavratura dos respectivos autos de prisão: 45 § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. (CF, 1988) Verifica-se, portanto, que Exército Brasileiro possui uma limitação para sua atuação, pois a lavratura de autos de prisão em flagrante delito é uma atividade típica de polícia judiciária, visto que a Constituição atribuiu à Polícia Federal competência exclusiva para exercer esta função. Assim, para que as operações na faixa de fronteira atendam os princípios constitucionais, faz- se necessário a atuação da Força Terrestre juntamente como a Polícia Federal, caracterizando assim, o ambiente interagências. A Portaria n° 061, de 16 de fevereiro de 2005, do Comandante do Exército Aprovou a Diretriz Estratégica para Atuação na Faixa de Fronteira contra Delitos Transfronteiriços e Ambientais, integrante das Diretrizes Estratégicas do Exército (SIPLEX-5). Esta portaria utiliza como base legal a Constituição da República Federativa do Brasil; a Lei Complementar n° 97 (LC 97/99), de 9 de junho de 1999; a Lei Complementar n° 117 (LC 117/04), de 2 de setembro de 2004 que Altera a LC 97/99 atribuindo ações subsidiárias ao Exército Brasileiro; a Lei n° 6.634, de 2 de maio de 1979 (Dispõe sobre faixa de fronteira); a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas lesivas ao meio ambiente); o Decreto-Lei n° 2848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); o Decreto-Lei n° 3689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal); o Decreto-Lei n° 1001, de 21 de outubro de 1969 (Código Penal Militar); o DecretoLei n° 1002, de 21 de outubro de 1969 (Código de Processo Penal Militar); o Decreto n° 85.064, de 26 de agosto de 1980 (Regulamenta a Lei 6.634/79); e o Decreto n° 3.897, de 24 de agosto de 2001 (Fixa as diretrizes para o emprego das FA na garantia da lei e da ordem). 46 5. PREMISSAS BÁSICAS a. Esta Diretriz, específica para a F Ter, ampara-se no inciso III, do Art 15, da LC 97/99. b. A faixa de até 150 Km de largura ao longo das fronteiras terrestres é designada faixa de fronteira, sendo considerada fundamental para a defesa do território nacional (§ 2°, Art 20, da Constituição da República Federativa do Brasil). c. A atuação da F Ter não deverá comprometer sua destinação constitucional (Parágrafo único, Art. 1°, LC 97/99). d. A atuação da F Ter deverá observar as competências constitucionais e legais específicas dos órgãos de segurança pública (OSP) e de outros órgãos públicos. e. A atuação da F Ter na faixa de fronteira, baseada no inciso IV, Art.17A, da LC 97/99, é considerada como atribuição subsidiária particular. f. A F Ter poderá atuar isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, por frações constituídas e, em princípio, no cumprimento de missões pré-estabelecidas. g. A F Ter deverá buscar a coordenação com órgãos do Poder Executivo, em particular os OSP, sempre que possível e desejável, no planejamento e na execução das ações. h. A F Ter não integra o sistema carcerário e prisional civil. (PORTARIA N° 061, 2005) Desta forma, verifica-se que a atuação da Força Terrestre deverá observar as competências constitucionais e legais específicas dos órgãos de segurança pública e de outros órgãos públicos. Além disso, afirma que a F Ter não integra o sistema carcerário e prisional civil. Estas ideias corroboram com a questão já explanada a respeito da lavratura de autos de prisão em flagrante delito. 6. EXECUÇÃO [...] 1) Os planejamentos deverão ser elaborados no contexto da Segurança Integrada. 2) No planejamento e na execução das ações, sejam preventivas (de caráter permanente) ou repressivas, deve ser buscada a intensificação do contato com as demais FA, os OSP, o Ministério Público e órgãos do Poder Judiciário, dos Ministérios da Justiça e do Meio Ambiente, da Secretaria Nacional Antidrogas e da Secretaria da Receita Federal, e outros afins, sempre que pertinente e possível. 3) O preso em flagrante delito deverá permanecer o tempo mínimo indispensável sob a responsabilidade da F Ter. [...] 5) A atuação da F Ter na prevenção e na repressão aos delitos transfronteiriços deve estar focada, em princípio, sobre os seguintes ilícitos: a) a entrada (e/ou a tentativa de saída) ilegal no território nacional de armas, munições, explosivos e demais produtos controlados, conforme legislação específica (Lei de Segurança Nacional – Lei n° 7.170, de 14 Dez 83; Estatuto do Desarmamento – Lei n° 10.826, de 22 Dez 03; Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados – Decreto n° 3.665, de 20 Nov 00); 47 b) o tráfico ilícito de entorpecentes e/ou de substâncias que determinem dependência física ou psíquica, ou matéria prima destinada à sua preparação (Lei n° 6.368, 21 Out 76; Lei n° 10.409, de 11 Jan 02; Decreto n° 3.665, de 20 Nov 00); c) o contrabando e o descaminho, especificados no Código Penal Comum (Decreto-Lei n° 2.848, de 07 Dez 40); d) o tráfico de plantas e de animais (Lei de Crimes Ambientais – Lei n° 9.605, de 12 Fev 98; Código Florestal – Lei n° 4.771, de 15 Set 65; Código de Proteção à Fauna – Lei n° 5.197, de 03 Jan 67); e e) a entrada (e/ou a tentativa de saída) no território nacional de vetores em desacordo com as normas de vigilância epidemiológica (orientação técnica e normativa do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Lei n° 6.437, de 20 Ago 77 e Medida Provisória n° 2.190-34, de 23 Ago 01). (PORTARIA N° 061, 2005) Esta portaria também define quais são os delitos ambientais em que se faz necessário a atuação da Força terrestre. [...] 6) A atuação da F Ter na prevenção e na repressão aos delitos ambientais deve estar focada, em princípio, sobre os seguintes ilícitos: a) a prática de atos lesivos ao meio ambiente, definidos na Lei de Crimes Ambientais – Lein° 9.605, de 12 Fev 98; no Código Florestal – Lei n° 4.771, de 15 Set 75; e no Código de Proteção à Fauna– Lei n° 5.197, de 03 Jan 67; b) a exploração predatória ou ilegal de recursos naturais (Lei n° 9.605, de 12 Fev 98); e c) a prática de atos lesivos à diversidade e a integridade do patrimônio genético do País, definidos na Medida Provisória n° 2.186-16, de 23 Ago 01. 7) Para os planejamentos de emprego da F Ter na prevenção e na repressão aos delitos transfronteiriços e ambientais, considerar que podem ser incluídas, se necessário, as áreas indígenas e/ou de preservação ambiental localizadas na faixa de fronteira (Decreto n° 4.411 e Decreto n° 4.412, de 07 Out 02). (PORTARIA N° 061, 2005) Para resolver alguns dos problemas de defesa que atingem as fronteiras brasileiras, a Presidente da República, Dilma Rousseff, lançou, em 2011, o Plano Estratégico de Fronteiras, pelo Decreto N°. 7.496, de 8 de junho de 2011, para prevenção e repressão a crimes em áreas de fronteira. O plano prevê atuação integrada de municípios, órgãos federais e estaduais de segurança pública, da Receita Federal do Brasil e das Forças Armadas. As operações do Plano Estratégico de Fronteiras são executadas pelos ministérios da Justiça (Operação Sentinela) e da Defesa (Operação Ágata). [...] Art. 2o O Plano Estratégico de Fronteiras terá como diretrizes: I - a atuação integrada dos órgãos de segurança pública, da Secretaria da Receita Federal do Brasil e das Forças Armadas; [...] Art. 3o O Plano Estratégico de Fronteiras terá como objetivos: 48 I - a integração das ações de segurança pública, de controle aduaneiro e das Forças Armadas da União com a ação dos Estados e Municípios situados na faixa de fronteira; II - a execução de ações conjuntas entre os órgãos de segurança pública, federais e estaduais, a Secretaria da Receita Federal do Brasil e as Forças Armadas; III - a troca de informações entre os órgãos de segurança pública, federais e estaduais, a Secretaria da Receita Federal do Brasil e as Forças Armadas; IV - a realização de parcerias com países vizinhos para atuação nas ações previstas no art. 1o; e V - a ampliação do quadro de pessoal e da estrutura destinada à prevenção, controle, fiscalização e repressão de delitos na faixa de fronteira. Art. 4o O Plano Estratégico de Fronteiras será efetivado mediante a realização, entre outras, das seguintes medidas: I - ações de integração federativa entre a União e os estados e municípios situados na faixa de fronteira; II - implementação de projetos estruturantes para o fortalecimento da presença estatal na região de fronteira; e III - ações de cooperação internacional com países vizinhos. Art. 5o As ações do Plano Estratégico de Fronteiras serão implementadas por meio de: I - Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteira - GGIF; e II - Centro de Operações Conjuntas - COC. Art. 6o Os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteira terão como objetivo a integração e a articulação das ações da União previstas no art. 1o com as ações dos estados e municípios, cabendo a eles: I - propor e coordenar a integração das ações; II - tornar ágil e eficaz a comunicação entre os seus órgãos; III - apoiar as secretarias e polícias estaduais, a polícia federal e os órgãos de fiscalização municipais; IV - analisar dados estatísticos e realizar estudos sobre as infrações criminais e administrativas; V - propor ações integradas de fiscalização e segurança urbana no âmbito dos municípios situados na faixa de fronteira; VI - incentivar a criação de Gabinetes de Gestão Integrada Municipal; VII - definir as áreas prioritárias de sua atuação. § 1o Não haverá hierarquia entre os órgãos que compõem os GGIF e suas decisões serão tomadas por consenso. § 2o Cada GGIF será constituído por ato do Governo Estadual e será composto pelas autoridades federais e estaduais que atuem nos termos do art. 1o e por representantes dos Gabinetes de Gestão Integrada Municipal da região de fronteira. Art. 7o O Centro de Operações Conjuntas será composto por representantes de todas as instituições partícipes das operações, mediante assinatura de acordo de cooperação. § 1o Não haverá hierarquia entre os órgãos que compõem o COC e suas decisões serão tomadas por consenso. § 2o Compete ao COC realizar a integração entre os partícipes mencionados no caput, o acompanhamento e a coordenação das ações do Plano Estratégico de Fronteiras. § 3o O COC terá como sede as instalações do Ministério da Defesa. [...] Art. 9o A coordenação do Plano Estratégico de Fronteiras será exercida pelos Ministros de Estado da Justiça, da Defesa e da Fazenda. (Plano Estratégico de Fronteiras, 2011). 49 O Plano Estratégico de fronteiras determina o emprego conjunto e integrado das Forças Armadas em operação na faixa de fronteira com órgãos públicos e Receita Federal. Desta forma, a atuação conjunta proporciona cumprimento dos dispositivos constitucionais, possibilitando legalidade nas ações das Forças Armadas, em especial da Força Terrestre. 50 7. OPERAÇÕES NA FAIXA DA FRONTEIRA BRASILEIRA Atualmente, o Exército Brasileiro tem sido empregado com frequência em operações na faixa de fronteira, podendo-se citar as mais relevantes: - Operação Ágata: é uma operação de caráter episódico, coordenada pelo Ministério da Defesa, por intermédio do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) em pontos estratégicos da fronteira terrestre brasileira. Essa operação faz parte do, já citado, Plano Estratégico de Fronteiras do Governo Federal. De acordo com o site desenvolvido pelo Ministério da Defesa (2014), durante a operação, militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica realizam missões táticas destinadas a coibir delitos como narcotráfico, contrabando e descaminho, tráfico de armas e munições, crimes ambientais, imigração e garimpo ilegais, em ações, que abrangem desde a vigilância do espaço aéreo até operações de patrulha e inspeção nos principais rios e estradas que dão acesso ao país. A Operação Ágata envolve, também, a participação de 12 ministérios e 20 agências governamentais. O planejamento e a mobilização são feitos de forma integrada, com articulação contínua entre militares das Forças Armadas e agentes de segurança pública nos níveis federal, estadual e municipal. Durante as operações os países que fazem fronteira com o Brasil são comunicados e convidados a participar com emprego de tropa dentro de seus próprios territórios ou com envio de observadores militares. Destaca-se que a Operação Ágata abrange, também, a faixa de fronteira sul do País e vem sido realizada anualmente, desde 2011. - Operação Amazônia: também coordenada pelo Ministério da Defesa, por intermédio do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), a operação conta com a participação de efetivos das três Forças Armadas. De acordo com o site do Ministério da Defesa (2014), entre as atividades realizadas estão ações de controle de tráfego fluvial e proteção de infraestruturas críticas; operações terrestres ofensivas e defensivas; lançamento de paraquedistas; defesa antiaérea; além de coordenação do espaço aéreo, tarefas de interdição e de combate. Foram desenvolvidas, paralelo às operações, ações cívico-sociais (Acisos), que têm por objetivo levar apoio médico e odontológico às regiões mais carentes. Sua última edição foi realizada em outubro de 2014. 51 Tabela 1- Histórico das Operações Ágata, (1ª a 7ª edições) Fonte: Defesanet - Operação Laçador: realizada no Sul do país e coordenada pelo EstadoMaior Conjunto das Forças Armadas, simula missões de garantia da integridade territorial, manutenção de patrimônio e proteção de infraestruturas estratégicas em uma área que abrange os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo o site do Ministério da Defesa (2014), a operação tem como principais objetivos o adestramento dos diversos comandos e respectivas tropas em ações críticas de combate, apoio ao combate e apoio logístico, singulares e/ou conjuntas; o adestramento dos diversos sistemas operacionais, promovendo e sedimentando a capacidade de interoperabilidade entre as Forças; a realização de ações cívico-sociais; desenvolvendo experimentações doutrinárias de interesse para as operações conjuntas e sistematização da atuação conjunta das três Forças. Teve sua última edição realizada em setembro de 2013, com a participação de 8 mil militares. - Operação Curare: sob a coordenação do Comando Militar da Amazônia e Comando Militar do Norte, tem a finalidade de intensificar a presença das Forças 52 Armadas junto à faixa de fronteira oeste, reprimindo os delitos transfronteiriços e ambientais, além de reforçar, junto à população regional, o sentimento de nacionalismo, proteção ao meio ambiente e de defesa da soberania do Brasil. Sua última edição ocorreu em agosto de 2014 e contou com o apoio da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Receita Federal do Brasil (RFB), Agência Brasileira de Informações (Abin), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento (MAPA) e Polícia Militar (PM). - Operação Fronteira Sul: coordenado pelo Comando Militar do Sul, a operação tem por finalidade prevenir e reprimir delitos fronteiriços e ambientais na faixa de fronteira sul, empregando efetivo adestrado em Operações de Garantia da Lei e da Ordem. Além disso, inclui fiscalização de estradas rurais, patrulhamento em estruturas estratégicas como Lago de Itaipu. Além das Forças Armadas, a Operação Fronteira Sul conta com a participação de Órgãos de Segurança Federais, Estaduais e Municipais, tais como: Policia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Estadual, Brigada Militar, Polícia Civil, Secretaria da Receita Federal, IBAMA e Vigilância Sanitária. Sua última edição foi em novembro de 2014. 53 8. A BRIGADA DE INFANTARIA NAS OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO NA FAIXA DA FRONTEIRA SUL Diante de todos os aspectos levantados, este trabalho pretende concluir sobre o aprimoramento do preparo e emprego de uma Brigada de Infantaria nas Operações no Amplo Espectro contra os Crimes Transfronteiriços na região sul do Brasil. Os dados levantados neste estudo mostraram aspectos importantes que devem ser levados em conta para uma Brigada de Infantaria operar neste tipo de operação. Primeiramente, a Brigada deve trabalhar em um ambiente interagências, pois, não possui todas as condições necessárias para enfrentar todo o escopo atual de ameaças, necessitando atuar em conjunto com outras agências governamentais. Deve-se observar, ainda, a dificuldade de atuação harmônica das agências, particularmente pelas diferenças na forma de atuação, isso requer uma necessidade de um conhecimento mútuo, a fim de se aproveitar ao máximo as capacidades de cada uma em prol do objetivo comum. O conhecimento mútuo entre os diversos órgãos vai ocorrer na medida em que mais operações neste ambiente sejam desenvolvidas. Além disso, é importante que cada comandante/ chefe desenvolva uma cultura de estreitamento de laços com todas as agências em seu entorno, fora das operações, para que se crie uma maior afinidade entre seus membros, facilitando assim as futuras missões. Diante da possibilidade deste trabalho conjunto com as diversas agências governamentais, deve se levar em consideração que antes da coordenação tática, que abrange o nível Brigada, ocorrerá a coordenação nos níveis: político, estratégico e operacional. Os níveis político e estratégico definirão os vetores (civis e militares) que participarão das ações com base nas competências de cada um. . No nível tático, as medidas de coordenação são implementadas pela Força Terrestre Componente (FTC), em caso de não-guerra. A coordenação no nível tático, normalmente, ocorre por intermédio de um Centro de Coordenação de Operações (CCOp), o qual pode ser chefiado por um oficial general das Forças Armadas ou por um representante da agência líder. Nesta oportunidade serão acertadas as regras de engajamento e normas de conduta, no campo militar, e o 54 protocolo de intenções, no campo civil. O manual EB 20-MC-10.201- Operações em Ambiente Interagências define o seguinte: O Centro de Coordenação de Operações (CCOp) é constituído por células e representantes de outros centros, para executar a coordenação, o controle e a sincronização de todas as ações conduzidas no ambiente de interagências, integrando todos os vetores (civis e militares) julgados necessários, de acordo com as especificidades da tarefa a realizar. Suas principais atribuições estão relacionadas a coordenação, controle e sincronização das ações; estabelecimento de procedimentos, estruturas, protocolos de comunicação de redes de coordenação e controle; e confecção de planos específicos. Deverá ser chefiado por um oficial general ou por um representante de uma agência civil designado com competência para o gerenciamento de crises específicas. O Ch CCOp é o responsável pela coordenação das ações e pelo assessoramento às autoridades competentes nos assuntos correlatos ao Centro. (BRASIL, 2013 a) Outro aspecto a ser considerado é o amplo espectro das ameaças que se apresentam atualmente. As novas ameaças, como terrorismo, narcotráfico, crime organizado, proliferação de armas de destruição em massa, ataques cibernéticos e a temática do meio ambiente, afetarão, ou continuarão a afetar, a conjuntura da segurança e da defesa hoje e em um futuro próximo. Questões relativas a etnias, movimentos sociais e de cunho revolucionário ou ideológico, que extrapolem o território de um país, podem ser focos de tensão entre Estados. Este é o cenário que se apresenta para o setor de Defesa brasileiro. Além disso, como já citado, as operações deverão se desenvolver dentro de um Ambiente Interagências, tendo em vista a diversidade dos atores que estarão inseridos nos ilícitos transfronteiriços. Nas operações no amplo espectro do conflito faz-se necessário que sejam estabelecidas normas sobre a conduta de todos os integrantes, militares e civis, que estejam envolvidos no contato com a população local, no Teatro de Operações ou na Área de Operações. Geralmente, serão baseadas em normas já recebidas. Essas regras de engajamento orientam o preparo e emprego da tropa. De acordo com as ações a serem empreendidas poderão ser mais restritivas, não devendo jamais serem mais permissivas. Verifica-se que em uma operação no Amplo Espectro, de grande vulto, inserido em um Ambiente Interagências, em que todos os meios do CCOp necessitem ser mobiliados, a Brigada de Infantaria necessitará de reforços para colocar em perfeito funcionamento todas as suas células. 55 Figura 11- Exemplo de CCOp Fonte: Manual de Operações em Ambiente Interagências Além disso, diante de todo o quadro operativo, as unidades que compõem as Brigadas de Infantaria deverão ter condições de realizarem quaisquer tipos de operação que podem ser missões de GLO, como de cooperação civil-militar (CIMIC, sigla em inglês), minimizando os problemas advindos de uma situação de calamidade, apoiando a população civil. Dessa maneira, pressupõe-se a importância de toda a logística envolvida neste cenário, principalmente no que diz respeito ao material que cada Unidade deverá possuir. Fica claro que um Batalhão, Grupo ou Esquadrão de Cavalaria Mecanizado deverá possuir material e pessoal aptos a realizarem Operações de Garantia da Lei e da Ordem. Da mesma forma, seu efetivo deverá possuir os conhecimentos necessários para lidar com qualquer tipo de missão que venha a ser desenvolvida. Isso só será possível com o cumprimento de 56 todos os programas de instrução, tanto do efetivo profissional, como do efetivo variável. Cabe salientar que se faz necessário incluir nos programas de instrução, em todos os níveis, assuntos que expliquem as missões das principais agências parceiras. Isso facilitará o emprego conjunto, pois os comandantes, em todos os níveis, saberão trabalhar com as diversas agências Outros fatores de grande importância no sucesso das missões são as características de comprometimento, flexibilidade, responsabilidade e maturidade dos Quadros das Unidades. As Operações no Amplo Espectro, com características assimétricas, possui ações muito descentralizadas, exigindo uma grande parcela de iniciativa/ liderança dos comandantes em todos os níveis. Assim, devido ao achatamento dos níveis decisórios, todos os militares envolvidos nas operações devem ter pleno conhecimento da missão, das condicionantes e de sua responsabilidade institucional. Finalizando, somado a tudo já exposto, complementa-se que, para o emprego de forma mais eficiente e eficaz, deve-se atentar para os seguintes aspectos: - Pessoal: os militares a serem empregados necessitam ter como característica grande flexibilidade, comprometimento, maturidade e responsabilidade. Ainda, deverão estar qualificados em toda gama de operações em que possam atuar. Essas características deverão estar sendo sempre trabalhadas no público interno, no entanto, demandam tempo para que se evidenciem. Assim, preferencialmente, deverão ser empregados militares do efetivo profissional, por possuir mais experiência e maturidade, entretanto sabe-se que as brigadas contam com efetivo profissional e variável. Portanto, faz-se necessário que as Brigadas de Infantaria em atuação na faixa de fronteira possuam pelo menos 75% do seu efetivo formado apenas pelo Efetivo Profissional, já testados e experimentados. - Operações: o programa de instrução militar deverá ser muito bem conduzido e fiscalizado. Deverão ser previstos ao longo do ano de instrução uma grande gama de exercícios âmbito brigada em que se busque realizar operações no amplo espectro em ambiente interagências. Estes exercícios deverão estar previstos no programa de adestramento sem a previsão de limite de carga horária para sua execução. Assim, haverá um estreitamento de laços no intercâmbio com as agências parceiras possibilitando que se conheça o “modus operandi” da mesma. - Inteligência: além de se utilizar do órgão de inteligência orgânico da brigada, deve-se aproveitar ao máximo as informações fornecidas pelas agências parceiras 57 na operação, através do compartilhamento dos conhecimentos. Isto é uma valiosa ferramenta a ser utilizada, uma vez que algumas informações são de difícil levantamento e para sua obtenção necessitam de órgãos que trafegam tanto no nível estratégico como no tático. Além disso, deve ser foco em todas as operações realizadas, a inteligência etnográfica, com levantamentos prévios realizados em toda a fronteira sul. Assim, pode-se ter conhecimento como a dinâmica humana da área de operações pode afetar o Estado Final Desejado da operação. Deve ser estudada a inteligência etnográfica da área e definido, assim, as ações a realizar em relação à população, a forma como as atividades da população podem interferir nas operações e o apoio prestado pela população aos diversos atores em operações, de forma que isso seja trabalhado em favor da tropa que atua na área de operações. - Logística: Faz-se necessário prever todo o material a ser utilizado nos mais diversos tipos de operação. A gama de material é muito grande, sendo importante que cada unidade possua, além dos materiais utilizados no combate convencional, material completo a ser utilizado em GLO, pacificação, cooperação civil militar inclusive, se necessário, alterando o Quadro de Distribuição de Materiais (QDM) das Organizações Militares da Brigada. Assim, faz-se necessário que o Comando de Operações Terrestre (COTER) e o Comando Logístico (COLOG), padronizem os materiais necessários para o cumprimento da gama de missões, através da sugestão dos Chefes da célula de logística das brigadas e completem ou recompletem as Organizações militares envolvidas. - Proteção: segundo o manual EB20- MC- 10-301, a FTC nas operações (2014), a função de Combate Proteção é multidimensional por natureza, pois inclui tarefas em todas as dimensões do Espaço de Batalha. Sua efetividade está diretamente relacionada à seleção e aplicação das tarefas mais adequadas à situação e ao tipo de operação executadas. Assim, para planejar e executar as medidas de proteção da força, o EM da Brigada: [...] mantém um processo de avaliação de ameaças contínuo e equilibrado, estruturado com base nas análises da Inteligência; administra riscos, ao invés de buscar eliminá-los totalmente, equilibrando as necessidades de proteção com as demais Funções de Combate, de maneira proativa; sincroniza as tarefas dessa Função de Combate no âmbito da FTC (em todos os níveis), com as outras F Cte e com as agências que participam do esforço, de forma a propiciar uma abordagem de proteção ampla, que faça frente à ameaça como um todo e não apenas a partes dela; prioriza e aloca meios de proteção, após identificar as necessidades e estabelecer prioridades, em apoio à decisão do Cmt FTC quanto às instalações e meios que devem receber a prioridade do esforço 58 de proteção e, consequentemente, mais recursos; e mantém flexibilidade e prontidão, para lidar com situações imprevistas resultantes da adaptação do oponente.( BRASIL, 2014 b) Deverá, ainda, ser capaz de executar tarefas relacionadas à Defesa Antiaérea, DQBRN, Antiterrorismo, Operações de Informação de caráter defensivo, Segurança dos Meios e Proteção dos Elementos Operativos (unidades e meios), Recuperação de Pessoal e Internação de Capturados e Controle de Deslocados (população civil deslocada e/ou refugiados). As instruções básicas destas especialidades deverão estar previstas em Programa de Adestramento. De fato, sabe-se que apenas a tropa especializada executará estas tarefas, entretanto todos devem saber a sistemática de trabalho de cada um. É importante, ainda, relembrar que uma Brigada atuando isoladamente ou compondo uma FTC necessitará de reforço de meios que não fazem parte de sua organização como, por exemplo, DQBRN e antiterrorismo, entre outros não orgânicos da mesma. Este reforço será solicitado pelo Comandante da Brigada, de acordo com sua análise da missão a ser cumprida. A FTC quando estabelecida, segundo a nova doutrina, atua de forma modular, utilizando os componentes que julga necessário para cada tipo de missão. Assim a proposta é que a Brigada de Infantaria, atuando de forma isolada para este tipo de missão, deve valer, também, desta alternativa para agregar em sua organização tropas especializadas que não são orgânicas de sua estrutura, que complementem e favoreçam sua ação. 59 9. CONCLUSÃO As novas ameaças aos Estados modernos, em sua grande maioria, apresentam-se dentro dos próprios Estados, envolvendo atores não estatais, organizados em grupos rebeldes ou insurgentes, contando ou não com o apoio político e material internacional. Existe uma grande diversidade de aspectos que identificam e caracterizam as ameaças atuantes neste tipo de conflito. Quanto aos vetores de conflito, pode-se citar, por exemplo, redes terroristas; organizações criminosas nacionais e/ ou transnacionais; agentes de Inteligência, espiões e elementos de operações especiais; forças convencionais operando de forma não convencional; forças paramilitares (milícias); grupos ou indivíduos mercenários, dentre outros. No Brasil, verifica-se a existência de vários ilícitos transnacionais, sendo objeto de estudo o tráfico de drogas, tráfico de armas e crimes ambientais. Em relação ao tipo de ação, pode-se identificar as ameaças que se apresentam aos Estados como ações criminosas (assaltos, sequestros, homicídios, roubo de cargas); ataques dirigidos a instalações policiais ou militares, infraestruturas críticas e sedes de órgãos governamentais; emboscadas a comboios civis e militares e tropas; ataques de pirataria a navios e embarcações comerciais; ações terroristas; ações sobre a informação (mídia); ataques cibernéticos dirigidos a alvos estratégicos e ações contra o meio ambiente (incêndios florestais, desmatamento contaminação da água). Neste trabalho, foi necessário adaptar os conceitos atuais da FTC, principalmente no que é referente a novos conceitos como ambiente interagências, operações no amplo espectro e funções de combate. Diante da diversidade de conceitos e conhecimentos novos gerados o Exército tem modernizado seus manuais para uma melhor adequabilidade ao combate moderno. Entretanto, sabe-se que isto requer um determinado espaço de tempo para a completa atualização das diretrizes da Força. Assim, existe uma premente necessidade de reformulação do manual “Brigadas de Infantaria”, cuja última edição é de 1984, ou seja, completamente ultrapassada para os dias atuais, que vivem a alvorecer da Brigada de Infantaria Mecanizada. Quanto ao terreno onde operam, as ameaças podem ocorrer em cidades com grande densidade demográfica como em vilas ou no campo; em linhas de 60 comunicação terrestres e marítimas; nas áreas de retaguarda; no espaço aéreo; e na rede mundial de computadores. Além disso, áreas com déficit de controle em consequência de compartilhamento de responsabilidades acabam por favorecer a ação do crime e organizado. Em especial, a área da Tríplice Fronteira se enquadra neste exemplo. A área de operações em estudo, a fronteira sul do País, até o final da década de 1980 e início de 1990 do século passado, era o principal teatro de operações considerado pelo Exército e onde poderiam ocorrer as principais hipóteses de emprego. Apesar do crescimento de importância da fronteira norte e oeste, a área do Comando Militar Sul, que engloba os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mantém relevante importância principalmente por ter grande parte de sua fronteira seca. Nesta área encontra-se a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Responsável por quase 18% da geração de energia do País é o principal ponto sensível a ser defendido na Região Sul e no País. O corte da geração e fornecimento de sua energia levará o Brasil ao colapso, interrompendo as principais atividades econômicas do território nacional. Portanto, não pode haver falhas na garantia da segurança da usina de Itaipu. Uma região de contrastes linguísticos e culturais, e com diversificados problemas apresenta os mais variados tipos de crimes. Destacam-se os crimes de tráfico de drogas, tráfico de armas, crimes ambientais, tráfico de pessoas, contrabando de mercadorias de toda espécie e produtos pirateados, o risco de ações terroristas na área da tríplice fronteira. Esses crimes cada vez mais são combatidos por Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai por meio de fiscalizações nas principais vias de acesso, postos aduaneiros e pela Polícia Rodoviária Federal. Entretanto, como não segue rotas convencionais, as drogas, armamentos e produtos pirateados encontram as mais diversificadas formas de entrar no País. Ciente de toda a problemática já explorada, o Governo Federal lançou em 2011, o Plano Estratégico de Fronteiras, pelo Decreto N°. 7.496, de 8 de junho de 2011, para prevenção e repressão a crimes em áreas de fronteira. Este plano prevê atuação integrada de municípios, órgãos federais e estaduais de segurança pública, da Receita Federal do Brasil e das Forças Armadas. Assim, juntamente com a Lei Complementar 97 de 1999, alterada pela Lei Complementar 117 de 2004, que atribui caráter subsidiário ao emprego das Forças 61 Armadas, na atividade de preservação de segurança pública, e destina à Força Terrestre, a atribuição subsidiária particular de exercer o poder de polícia na faixa de fronteira, acrescida pela Portaria n° 061, de 16 de fevereiro de 2005, do Comandante do Exército que aprovou a Diretriz Estratégica para Atuação na Faixa de Fronteira contra Delitos Transfronteiriços e Ambientais, integrante das Diretrizes Estratégicas do Exército (SIPLEX-5), o Plano Estratégico de Fronteiras determina o emprego conjunto e integrado das Forças Armadas em operação na faixa de fronteira com órgãos públicos e Receita Federal. Desta forma, a atuação conjunta proporciona cumprimento dos dispositivos constitucionais, possibilitando legalidade nas ações das Forças Armadas, em especial da Força Terrestre. Portanto, operações desencadeadas por uma Brigada de Infantaria na faixa de fronteira Sul encontram amparos na Constituição Federal de 1988, na Lei Complementar 97 de 1999, alterada pela Lei Complementar 117 de 2004, na Portaria n° 061, de 16 de fevereiro de 2005, do Comandante do Exército e no Plano Estratégico de Fronteiras. O Exército já vem realizando operações na faixa de fronteira, com destaque para a Operação Ágata, que abrange, também, a fronteira sul. Esta operação vem colhendo excelentes frutos no que diz respeito a apreensão de armas, drogas, além de prestar grande apoio à população através das Cooperação Civil- Militar. Desta forma, o Exército vem desenvolvendo uma grande capacidade de atuar de forma conjunta, em ambiente interagências, de acordo com a legislação de amparo. A tendência é que isso se amplie cada vez mais. É importante salientar que a Brigada de Infantaria, por não ter ainda uma estrutura modular, necessita de reforços especializados para atuar isoladamente e com eficiência nas operações no amplo espectro dentro de uma Operação Interagências. Nesse sentido, verifica-se que a atuação da Brigada de Infantaria na fronteira Sul deve atender a combinação de ações preventivas, ofensivas, defensivas, de pacificação e apoio aos órgãos governamentais e internacionais de forma sucessiva e simultânea para combater aos ilícitos existentes na área em questão. Para atender de forma irrepreensível as demandas existentes, ressalta-se ainda, a importância do preparo da tropa. Inicialmente, realizando uma gestão de pessoal adequada, empregando militares experientes, maduros e experimentados em operações. Além disso, deve-se aprimorar a instrução, modificando os Planos de 62 Adestramento, adequando-se às operações em ambiente interagências e, também, capacitando todo efetivo profissional a operar com tropas especializadas como Batalhão DQBRN, Batalhão de Aviação e Batalhão de Forças Especiais. Fazem-se necessários, ainda, a aquisição ou recompletamento de todo material a ser utilizado neste tipo de operação e havendo necessidade alterando os QDM através de contrato de objetivos firmados entre o COTER, o COLOG e os Comandantes das Brigadas. Por fim, o sucesso somente será alcançado com operações de inteligência eficientes realizadas em conjunto com os órgãos civis onde serão levantadas informações vitais para o cumprimento da missão sem deixar de lado o levantamento etnográfico da região. Cabe ressaltar que as Brigadas deverão, além das observações já citadas, estar completas, ou seja, com suas respectivas Unidades de Infantaria, de Cavalaria, de Artilharia, de Engenharia, Logística, de Comunicações, de Artilharia Antiaérea e de Polícia do Exército. Finalmente, este é o cenário dos combates atuais e futuros. O Exército Brasileiro tem conhecimento das dificuldades em atuar nesta grande gama de espectros do conflito. Assim, tem intensificado o preparo da tropa e a modernização de seus meios, acompanhando uma tendência mundial, a fim de cumprir sempre da melhor forma sua missão. 63 REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2001. BRASIL. Estado-Maior do Exército. Manual de Campanha C 7-30: Batalhões de Infantaria . 1ª ed. Brasília, DF, 1984 ________. Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988. Brasília. 1988. 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