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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
ESCOLA DE DESIGN
CURSO SUPERIOR EM MODA
MICHELE CHAGAS RODRIGUES
Chiquinha Gonzaga
Sua vida e sua influência no surgimento da Música Popular Brasileira
______________________________________________________
Rio de Janeiro
2014
Michele Chagas Rodrigues
Chiquinha Gonzaga
Sua vida e sua influência no surgimento da Música Popular Brasileira
Pré-projeto de Monografia do Projeto de Graduação submetida à
Comissão Examinadora do Curso de Bacharelado Superior em Moda
da Universidade Veiga de Almeida como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Bacharel em Moda.
Prof.ª ° Dayse Marques
Rio de Janeiro
2014
RESUMO
Este presente trabalho tem a finalidade de mostrar a trajetória de vida de Chiquinha
Gonzaga, suas contribuições na história da MPB e sua presença como primeira mulher na
boemia carioca.
Em meados do século XIX, Chiquinha Gonzaga era uma mulher que sofria as restrições
de uma sociedade patriarcal, que não se preocupava com os anseios e direitos da mulher.
Apesar de todos os percalços por que passou em sua história de vida, Chiquinha se
transformou de menina obediente em esposa rebelde, passando por mulher de má índole até
chegar a ser um grande nome de nossa música popular. É considerada por muitos uma grande
contribuinte para o surgimento da MPB, e foi sem dúvida uma grande contribuinte para a
liberdade da mulher.
Palavras - chaves: Chiquinha Gonzaga, MPB, música.
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.............................................................................................................. 05
INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 07
1 – O INÍCIO DA MPB ................................................................................................................... 09
2 – A VIDA DE CHIQUINHA GONZAGA E SUA INFLUÊNCIA NA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA..................................................................................................................................... 11
2.2 – CHIQUINHA GONZAGA E A BOÊMIA NA BELLE ÈPOQUE CARIOCA.......................... 18
3 – ANÁLISE DE SIMILARES...............................................................................................................23
4 – ANÁLISE DE MERCADO.......................................................................................................... 26
4.1 – PESQUISA DE MERCADO ......................................................................................32
MEMORIAL DESCRITIVO..............................................................................................................33
CONCLUSÃO....................................................................................................................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................41
4
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Espartilhos da Belle Èpoque .............................................................................. 18
Figura 2 – Vestidos da Belle Èpoque .................................................................................. 19
Figura 3 – Botas utilizadas na Belle Èpoque .......................................................................20
Figura 4 – Chapéus na Belle Èpoque ...................................................................................21
Figura 5 – Coleção de lingerie Água Fresca inspirada em Chiquinha Gonzaga .................23
Figura 6 – Adorno de parede ....................................................................................24
Figura 7 – Ecobags expostas na semana de moda de Curitiba em 2010 ..................25
Figura 8 – Detalhe vestido Atelier Semente .......................................................................27
Figura 9 – Vestido Atelier Semente ...................................................................................28
Figura 10 – Vestido Atelier Semente .................................................................................28
Figura 11 – Vestido Atelier Semente .................................................................................29
Figura 12 – Vestido Atelier Semente .................................................................................29
Figura 13 – Loja Rapsodia .................................................................................................30
Figura 14 – Look Rapsodia ................................................................................................31
Figura 15 – Look Rapsodia ................................................................................................32
Figura 16 – Exercício de silhueta vazada ...........................................................................35
5
Figura 17 – Exercício de silhueta vazada ...........................................................................35
Figura 18 – Exercício de silhueta vazada ...........................................................................35
Figura 19 – Primeiro mini protótipo vestido ......................................................................36
Figura 20 – Segundo mini protótipo vestido ......................................................................37
Figura 21 – Protótipo tamanho natural sem manga vestido ...............................................37
Figura 22 - Teste de estampa – Tinta Acrilex para tecido utilizada em viscose ................38
Figura 23 - Teste estampa com tinta Acrilex para tecido ...................................................39
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INTRODUÇÃO
A realização desta pesquisa tem o papel de demonstrar a trajetória de vida, de uma
mulher importante em nossa história cultural, que foi a maestrina Chiquinha Gonzaga, e
transformar sua vida boêmia em uma coleção de roupas.
A escolha por este tema se deve ao fato de minha admiração por dois fatores: a música
e a própria maestrina.
A música é a maior forma de comunicação criada pelo homem, porque ultrapassa
qualquer barreira imposta como: a língua, a cultura ou até mesmo os sentidos (pessoas surdas
conseguem dançar, sentindo a vibração do som da música pelo corpo). A música tem o poder
de unir pessoas, de trazer emoções e de causar revoluções.
Chiquinha Gonzaga é uma grande heroína de nossa história. Se hoje temos uma
identidade cultural e uma música genuinamente brasileira, isso se deve à existência de pessoas
que dedicaram suas vidas à formação dessa música, como: Ernesto Nazareth, Joaquim Callado
e Chiquinha Gonzaga.
No primeiro capítulo teremos uma pequena abordagem sobre nossa história musical,
começando com nossos colonizadores. Em finais do século XIX, os hábitos e costumes no
Brasil, principalmente na corte localizada no Rio de janeiro, eram ditados pela influência
europeia. As roupas, as danças, a música, eram todos importados da Europa principalmente da
França. Tudo que não estava condizente a esta estética, era renegado e mal visto, e as pessoas
que não adotavam estes padrões, sofriam as consequências por não seguirem o que lhes era
imposto pela elite aristocrática branca.
No segundo capitulo, será retratada toda a história de vida de Chiquinha Gonzaga,
mostrando como sua vida foi um misto de muita luta e dor, e seu reconhecimento que só
aconteceu depois de muitas batalhas. Ela se juntou à uma classe de boêmios, tornando-se assim
a primeira mulher a viver na boemia e da boemia, sem necessariamente ser uma cocote Era uma
mulher destemida, forte e não se abalava com grandes turbulências. Foi uma mulher que mudou
o status quo de sua época.
No capítulo 3 será feita uma análise de similares, com produtos criados com a temática
de Chiquinha Gonzaga.
Em sequência no capítulo quatro, será falado sobre a análise de mercado, onde serão
mostradas as marcas concorrentes escolhidas, neste caso o Atelier Semente e a marca Rapsodia.
7
Neste capítulo também está incluído a pesquisa de campo, onde é apresentado o público- alvo
para o qual a coleção de roupas é voltada.
Teremos no capítulo 5 um memorial descritivo, que consiste em todo o processo de
criação da coleção de roupas. São apresentados exercícios de criatividade, as etapas do processo
de criação a escolha dos modelos e a construção das roupas.
No término deste trabalho teremos a conclusão, que descreve a coleção de roupas em si.
As formas, as cores, os tecidos escolhidos, ou seja, tudo o que está presente na coleção criada.
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CAPÍTULO 1
O Início da MPB
O Brasil é reconhecido internacionalmente como um país exportador de gêneros
musicais. Temos como exemplo a Bossa Nova, que entre outras coisas, tem a segunda canção
mais executada na história, a música Garota de Ipanema, ficando atrás apenas de “Yesterday”
dos Beatles.1 Recentemente, a música de Michel Teló, “Ai se eu te pego! ”, esteve entre os
maiores hits no mundo. Com a ajuda de jogadores de futebol como: Neymar e Cristiano
Ronaldo, que ao fazer seus gols, comemoravam fazendo a coreografia da música, levaram para
diversos países da Europa a sonoridade aqui fabricada. Poderiam ser listados aqui, inúmeros
exemplos do sucesso de nossa música no exterior, como a paixão dos japoneses pelo nosso
samba e outros ritmos, mas de onde surgiu essa música, que tanto sucesso faz pelo mundo
afora?
É necessário esclarecer para os que desconhecem a sua própria história, de onde vem a
sua raiz cultural. Se hoje temos uma música de sucesso, dentro e fora de nosso país, devemos
isso a pessoas que lutaram para que isso fosse possível, e Chiquinha Gonzaga foi uma dessas
pessoas.
Antes da chegada da família Real portuguesa, nossa população era formada por índios,
negros e os colonizadores portugueses. O Brasil como colônia de Portugal, servia apenas para
fornecer riquezas. Não havia neste caso a formação de uma sociedade como conhecemos.
Em 1808, com o desembarque de Dom João VI no Rio de Janeiro, a capital do
Império, teremos o início de transformações tanto sociais como culturais. Na primeira metade
do século XIX, nossa cultura será transplantada da Europa e da África, onde teremos assim,
uma diversidade cultural que não se misturava. Índios, negros e brancos, viveriam aqui cada
qual com sua música, seus ritmos e rituais.
A partir da segunda metade deste mesmo século, vamos começar a falar de música
brasileira. Com o fim do tráfico de escravos e o crescimento da pequena burguesia, teremos o
1
Fonte: O Globo online < http://oglobo.globo.com/cultura/garota-de-ipanema-a-segunda-cancao-mais-tocadada-historia-4340449>
9
surgimento de figuras chaves, que vão ser de suma importância para a criação, produção e o
consumo de cultura nacional.
Chiquinha Gonzaga será uma destas figuras. Mulher de temperamento forte e que
soube como ninguém exercer o seu direito em ser livre, ela vai estar presente na formação da
nossa cultura popular.
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CAPÍTULO 2
A vida de Chiquinha Gonzaga e sua influência na música popular
brasileira
Para começar a falar de música no Brasil, é necessário ir ao tempo de Dom João VI. É
com a chegada de Dom João, que se começa uma revolução estrutural e cultural no país.
Antes da chegada da família Real, o que tínhamos aqui eram em sua grande maioria
escravos trazidos da África, as tribos indígenas e os colonizadores. A música deste tempo é
totalmente ligada a existência desses povos e de acordo com suas culturas: os índios com seus
rituais, os batuques e atabaques dos rituais africanos e as músicas sacras dos colonizadores. Não
tínhamos então, uma sociedade formada como a entendemos.
A partir da chegada da família Real, teremos então os hábitos e costumes trazidos pela
corte. A música será importada da Europa e será a representação de nossa cultura naquele
momento.
É uma arte sem originalidade alguma que enfatiza a obediência aos modelos
europeus, deles fazendo os cânones imperativos, que não se preocupa com o
que a cerca, nem mesmo a paisagem, de forma alguma atenta ao povo, de que
permanece distante e desligada. [...] Trata-se, no conjunto, de arte estrangeira
elaborada no Brasil por coincidência ou acidente. (SODRÉ, Nelson Werneck.
1989- pág. 46 /16ª edição)
A música aristocrática, apesar de ser a cultura dita nacional, não era a única existente.
A música e dança dos negros, que neste momento tem na presença do Lundu a sua força e sua
forma de expressão, era também constituinte do que era ouvido por aqui. O lundu, é um canto
e dança de origem africana, trazido para o Brasil pelos escravos vindos de Angola. Sua dança
tem como um de seus passos a umbigada, (o encontro dos umbigos do homem e da mulher na
dança), mas esse tipo de música e dança, que faziam parte das camadas mais humildes da
população, foi muito reprimida na primeira metade do século XIX. O povo era feito para
obedecer e não para ditar regras, modas e modos.
A partir da segunda metade do século XIX, teremos dois fatores importantes que vão
influenciar a nacionalização da cultura no Brasil, que são: O surgimento de uma classe
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intermediária entre os senhores donos de escravos e os escravos; e a modernização da cidade.
Essa classe intermediária, chamada de pequena burguesia, é formada por profissionais liberais,
funcionários, militares, negros livres e estudantes. É neste meio que se encontram os intelectuais
que vão desempenhar funções de criação, produção e consumo artístico. O surgimento de um
novo povo, o crescimento de uma nova cidade, são ingredientes chaves para que a cultura
popular possa se consolidar, [...] a música popular só pode existir e florescer quando há povo
(ALBIN, 2003, p 22).
Neste momento de transformações, surge uma figura singular que fará diferença para a
formação de nossa música e nossa cultura.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17 de outubro de 1847, na cidade do Rio
de janeiro então capital do Império. Filha de uma mulher mestiça com um homem branco,
quase seria uma bastarda, se não fosse seu pai cumprir com seu dever e registrar a menina contra
a vontade de sua família.
Em sua infãncia recebeu educação em casa, onde aprendeu : escrita, leitura, calculos,
línguas e através de um professor contratado a contra gosto de seu pai, começou a receber
também educação musical. Ressaltamos aqui que naqueles anos, possuir um piano em casa era
algo muito comum e difundido. Todas as casas de famílias que desejavam demonstrar um certo
status deveriam ter um piano. A instrução da mulher não era tão importante, porque sua vida
era muito restrita aos afazeres domésticos e as idas a igreja, bastava apenas que ela fosse
ensinada a ser uma boa esposa e aprendesse o que toda sinhazinha deveria aprender: bordado,
ser boa dona de casa e ser obediente ao esposo.
O homem recebia a educação formal, o que significava um certo status social. Seu pai
ao lhe dar uma boa educação, de certa forma estava querendo mostrar a estirpe de sua família.
Aos 16 anos, e sem ter nenhuma escolha sobre isso, Chiquinha Gonzaga casa-se com
Jacinto Ribeiro do Amaral, um rapaz de família rica , que poderia lhe dar uma boa vida, como
era do gosto de seu pai. Teve com ele 3 filhos, onde João Gualberto, seu filho mais velho, seria
companheiro de jornada de toda a vida.
Chiquinha Gonzaga desde nova, sempre teve temperamento forte, e o casamento não
mudou este fato. Apesar de sua família acreditar que um casamento e filhos lhe fariam aquietar
o temperamento, o que ocorre é que desde sempre seu casamento não foi muito bem. A vida
enfadonha no lar, e sua total entrega para a música , fizeram de seu casamento um fracasso. Em
determinado momento de sua relação, seu esposo lhe pede que escolha entre ele e a música, e
ela sem pestanejar escolhe a música.
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Na realidade, o fato é que Chiquinha nunca se comportou como uma Senhora deveria
se comportar em relação ao seu esposo. O esposo detentor de poder sobre a esposa, não aceitava
o fato de não poder controlar o prazer de sua esposa, em fazer o que lhe dava vontade.
Terminado seu casamento, Chiquinha é renegada pela família e pela sociedade carioca.
Ser uma mulher separada do marido era algo absurdo , e até então algo sem precedentes na
sociedade.
A música passa a ser então um caminho a ser seguido por ela. É importante lembrar que
neste momento no Rio de Janeiro, a música ainda é influenciada pela cultura européia. A elite
da época ouve óperas, operetas e música leve de salão, seguida fielmente pela classe média.
A partir de sua entrega à música, Chiquinha passa a fazer parte da vida boêmia carioca.
Apadrinhada por Joaquim Callado ela passa a ter as portas abertas do meio musical da época.
Joaquim Antônio da Silva Callado, era um reconhecido músico flautista e com boa
formação musical, que em algumas de suas apresentações em salas de concerto, teve como
público a Família Imperial. Em 1879, recebeu alta comenda de nosso Imperador, a Ordem da
Rosa, dada a personalidades do Império. Foi o responsável pela criação no Brasil, dos primeiros
grupos musicais instrumentais de caráter popular , Os Chorões.
Inicialmente, o Choro era a desiginação de um grupo de músicos Chorões que se
reuniam para tocar. Com o passar dos anos, passou a significar um gênero musical. Em 1870,
um dos grupos mais famosos e composto por Joaquim Callado era o Choro Carioca.
Neste tempo, em que começava a ser inserida no meio musical e boêmio, Chiquinha
Gonzaga se apaixona por João Batista de Carvallho Junior, um grande amor de sua vida. Teve
com ele um relacionamento de muito amor, mas também de muitos ciúmes, já que João Batista
era um homem de vida mundana, que gostava de música, dança e mulheres.
Naquela época, a traição masculina era vista como algo normal e aceitável. Os homens
mantinham suas esposas em casa, e iam viver a vida boêmia em cafés-cantantes ao lado de
cocottes. As cocottes eram prostitutas finas e elegantes, geralmente francesas e que viviam a
dar exepedientes nos cafés.
Chiquinha Gonzaga não aceitou a vida de traições que seu marido insistia em levar. Não
era condizente com sua personalidade de mulher independente. Diante disso ela percebe que
viver aquela vida, não era sua aptidão. Abandonou tudo, inclusive uma filha, levando consigo
apenas João Gualberto, seu filho do primeiro casamento.
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Após sua segunda separação , Chiquinha é renegada de vez pela família, e passa a ter o
estigma do adultério, ficando totalmente na pobreza. Sua atitude em abandonar tudo para viver
sem marido, significava uma maldição para a época.
O estigma do adultério e a necessidade poderiam, facilmente, induzir uma
mulher desaparelhada para o exercício de uma profissão à prostituição. O fato
inédito no caso de Chiquinha Gonzaga é que ela transforma o piano, de mero
ornamento, em um meio de trabalho e instrumento de liberação, dando um
novo destino ao aprendizado de música que recebera. (DINIZ, 2009, p
103/104)
E assim Chiquinha Gonzaga se torna uma das primeiras pianistas do Brasil, compositora
de polcas e pianeira de Choros. Será o primeiro profissional pianista que participa dos grupos
de choro.
No Rio de Janeiro de então, surge com maior intensidade a figura do boêmio, que foi
facilitada pelo término do toque de recolher, o chamado “toque do Aragão”, e o aumento na
visitação às confeitarias da cidade, um ambiente amplamente frequentado até as dezessete horas
por senhoras de família, e após este horário por homens e cocottes. Existe um número crescente
de criações de grupos como: Abolicionistas, grêmios literários, associações recreativas, clubes
políticos e agremiações carnavalescas, e Chiquinha estava inserida neste meio. Foi uma grande
abolicionista e defendeu a causa efetivamente, usando o dinheiro que ganhava da venda (de
porta em porta) de suas composições e participando de festivais de música, para a compra de
alforrias. Foi também uma republicana, lutando arduamente ao lado de Lopes Trovão, um dos
mais ativos manifestantes na criação da República no país.
Além de fazer parte da vida boêmia da cidade, Chiquinha ainda ganhava a vida dando
aulas de piano, e com o passar do tempo e com o sucesso de suas composições , foi se tornando
uma figura conhecida e falada no Rio de Janeiro.
Aos 29 anos, com sua polca Atraente composta em 1877, sua primeira composição de
sucesso (chegou a 15ª edição), Chiquinha Gonzaga ganhou fama e não tardaram os comentários
maldosos sobre sua pessoa. Naquela época não era negado à mulher que ela tocasse o piano e
que fizesse composições, o que ocorre com Chiquinha Gonzaga é que ela fazia disso seu
trabalho e seu ganha pão, e isso significava uma perda em seu status social para a sociedade da
época. O único ambiente em que era permitido algum tipo de trabalho feminino era o ambiente
doméstico.
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A reputação de uma mulher que trabalhasse fora, (ainda mais no meio em que ela vivia),
era visto como uma ousadia. A mulher de então, deveria seguir rígidos comportamentos que
condissessem com o papel de uma pessoa de família. Qualquer tipo de desvio nesse
comportamento feminino, vigente na época, ocasionava em punições como a calúnia e o
repúdio, e Chiquinha sofreu como ninguém deste mal através das muitas quadrinhas satíricas
que foram feitas com seu nome, uma forma de atacar sua afronta contra todos. O fato de ser a
primeira mulher a viver em rodas boêmias, lhe proporcionou conhecer a produção musical
popular da época, mas também lhe trouxe muitos problemas.
Apesar de trabalhar como pianeira, de dar aulas e de vender suas composições de porta
em porta (o que era feito por um menino que Chiquinha contratava), a vida financeira de
Chiquinha neste momento não era confortável. Por conta disso, seu modo de vestir era ditado
por ela própria, quando fazia seus próprios vestidos e usava lenços no cabelo, no lugar dos
chapéus, acessório utilizado por toda mulher elegante da época. Isso foi um fato que gerou
muitos comentários, mas tinha muito orgulho do fato de ser criadora de sua própria moda.
É no final de século XIX , em 1875, que vai surgir no Rio de Janeiro, o que é considerado
por especialistas o primeiro gênero musical e dança genuínamente brasileiros, o maxixe.
Surgido nos cabarés da Lapa e nos forrós da Cidade Nova, vem da junção de uma variedade de
ritmos como: o tango, a havaneira, a polca e o lundu. É a primeira grande colaboração das
camadas populares ao surgimento da nossa MPB.
Com a morte de Joaquim Callado em 1880, seu grande amigo, Chiquinha Gonzaga deu
continuidade ao ideal musical do amigo, e assim começou a traçar os caminhos para a completa
nacionalização de nossa música.
Estudando sozinha através de manuais que encontrava no mercado, Chiquinha Gonzaga
passa a estudar e a compor para outros instrumentos além do piano. Com isso, de uma forma
autoditada, torna-se maestrina.
Além de suas músicas, começou também a fazer composições para o teatro musicado,
que faria enorme sucesso no meio das classes mais baixas. Esse teatro musicado, que
inicialmente era uma tradução/adaptação de obras estrangeiras, acaba se nacionalizando e
transformando-se em teatro de revista.
O teatro de revista era uma comédia musicada, que tinha como tema os fatos que
ocorriam na sociedade carioca naquele momento. Foi um importante meio de divulgação da
música popular já que as músicas que eram alí executadas, acabavam caindo no gosto popular
e tinham sua proliferação através dos assobios nas ruas.
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Em 1885, ela consegue finalmente estrear como maestrina. O fato de ser mulher, era um
obstáculo para que empresários do meio artístico pudessem confiar à ela um trabalho tão
importante. Ao se tornar maestrina, acabou criando uma palavra para a língua portuguesa, já
que naquele tempo, devido a profissão ser unicamente formada por homens, os jornais da época
não tinham como denominá-la.
Sua estréia acontece com A Corte na Roça. Apesar da crítica desfavorável aos atores e
ao autor da opereta, o mesmo não acontece com a música executada no espetáculo, que foi
aclamada tanto pelo público como pela crítica.
A novidade estava no fato de ser uma opereta escrita por uma mulher, coisa
rara na história da música, e inédita no país: era a primeira vez em nossos
teatros que se representava “uma peça posta em música por uma
mulher!(DINIZ, Edinha, 2009. p. 137)
O último ato da peça, foi encerrado com uma dança sensual, o maxixe. Fez tanto
sucesso, que Chiquinha passou a ser chamada para criar vários números finais de maxixe, para
outras peças teatrais, e assim tornou-se uma das maiores maxixeiras de sua época. Sua obra é
considerada por muitos a maior expressão do autêntico maxixe.
Um grande concerto realizado para Carlos Gomes em 1891, onde Chiquinha foi a
maestrina responsável, fez com que ela ao misturar instrumentos ditos mais nobres com violões,
um instrumento muitíssimo discriminado até então, causando inclusive a prisão de seus
utilizadores, ganhasse o respeito do maestro. Com isso ela ganhou o respeito do público, e seu
sucesso se consolidou. Ela era a maestrina Chiquinha Gonzaga, autora que contribuia para a
nacionalização da música e que compunha os maiores sucessos da época.
Um outro fato que demonstra sua personalidade independente e vanguardista, é o seu
terceiro casamento. Aos 52 anos, ela conhece João Batista Fernandes Lages, um adolescente de
16 anos. Para que pudesse conviver com ele sem chocar a sociedade, ela decide apresentá-lo
como seu filho. João Batista acompanhou Chiquinha até o fim de sua vida.
Erroneamente alguns textos chamam Chiquinha Gonzaga de pioneira do feminismo no
Brasil. Apesar de ter participado efetivamente de algumas causas políticas e sociais, não
podemos considerá-la uma feminista. Sua luta para exercer seu direito de viver como desejava,
não era visto por ela como uma causa social ou luta política, até porque não teremos neste
momento no Brasil uma causa feminista. Este movimento só vai existir efetivamente com
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Bertha Lutz alguns anos depois. Na realidade, sua vida foi um ato feminista, mas sem ser uma
luta feminista.
Em 1899, Chiquinha compôs o que é considerada a primeira marchinha carnavalesca,
“Ô Abre Alas”. Foi criada 20 anos antes do gênero musical (samba) se consolidar. A marchinha
foi tocada nos carnavais com bastante sucesso entre os anos de 1901 e 1910. Até hoje está
presente nos bailes de carnaval.
Seu sucesso como compositora ainda lhe traria o maior deles em 1912, com a opereta
Forrobodó. Foram 1.500 apresentações deste espetáculo, que não lhe renderam quase nada
financeiramente. O texto ocorre na atualidade, onde tem como cenário uma rua do subúrbio
carioca. Forrobodó acabou por estabelecer um marco no teatro popular e abriu caminho para a
utilização de tipos nitidamente populares no teatro musicado.(DINIZ, 2009, p. 219)
Um outro grande sucesso e que causaria um grande escândalo a época, foi seu tango
Corta-Jaca. Em 1914, o compositor Catulo da Paixão em conversa com a Primeira-Dama Nair
de Teffé, faz um comentário onde dizia, que nunca em uma festa no Palácio haviam executado
música nacional. Diante desta obsevação, Nair de Teffé corrige este fato, e executa ao violão o
tango Corta-Jaca de Chiquinha Gonzaga. Foi uma atitude muito criticada nos jornais da época,
inclusive no próprio senado, por Rui Barbosa.
Com todo este sucesso, Chiquinha Gonzaga ainda não tinha uma vida abastada. Apesar
de ter inúmeras composições e de ser uma prestigiada autora teatral, ela não recebia quase nada.
Todo o dinheiro ganho em apresentações ou com vendas de suas músicas, ficavam nas mãos
dos empresários da época. A situação piora com o advento das gravações mecânicas. Para
resolver esta questão, em 1917 ela funda a SBAT, Sociedade Brasileira de Autores Teatrais,
que seria a primeira entidade a defender os direitos autorais de músicos compositores e
teatrólogos.
Chiquinha Gonzaga faleceu em 28 de fevereiro de 1935, em seu apartamento na Praça
Tiradentes no Rio de Janeiro. Era uma quinta-feira, antevéspera de carnaval.
Como seu legado, ela deixou 287 músicas de estilos variados e 64 peças teatrais
musicadas, a SBAT (Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais), que até hoje zela pelos direitos
autorais de profissionais das artes.
Como uma forma de homenageá-la por toda sua história, a então Presidente Dilma
Rousseff sancionou uma lei em maio de 2012, tornando o dia 17 de outubro, dia do nascimento
de Chiquinha Gonzaga, como o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, o que nos mostra
toda a sua importância em nossa cultura.
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2.2 – Chiquinha Gonzaga e a boêmia na Belle Époque carioca
A Belle époque foi um período ocorrido na França, e que cobriu os anos de 1890 até o
início da Primeira Guerra Mundial, apresentando grande ostentação e extravagância nos hábitos
e costumes da época.
A silhueta feminina naquele momento, foi construída com espartilhos que deixavam o
corpo em forma de S. A parte superior do corpo era projetado para a frente, enquanto o quadril
era projetado para atrás.
Figura 1 – Espartilhos da Belle Èpoque
As saias eram lisas sobre os quadris e justas, e se abriam em direção ao chão, formando
a aparência de um sino. As blusas eram ricamente adornadas e requintadas com rendas ou laços
de tule, onde haviam pregas, entremeios e babados. As mangas, que até 1895 eram bufantes, se
tornaram justas e muito compridas, chegando até a metade das mãos. As golas dos vestidos
eram altas, feitas de rendas e armadas com barbatanas. Durante o dia os vestidos cobriam todo
o corpo, mas à noite os vestidos tinham grandes decotes extravagantes. Os boleros eram
bastante populares. Os tecidos preferidos da época eram: Crepe da china, musselina de seda,
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tule, chiffon e uma profusão de rendas. As mulheres que não tinham condições de comprar a
renda verdadeira, recorriam ao crochê irlandês. As cores preferidas eram em tons pastéis de:
rosa, azul-claro e malva, ou preto.
Figura 2 – Vestidos da Belle Èpoque
As jovens de classe média, que neste momento começavam a trabalhar como:
governantas, balconistas e datilógrafas, começaram a utilizar costumes de duas peças de corte
masculino, feitos em tecidos de lã inglesa, devido à dificuldade de se trabalhar com as roupas
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muito elaboradas da época. Esse hábito passou a ser utilizado também pelas senhoras mais ricas,
que utilizavam esses trajes no campo ou para viajar.
Os acessórios usados pelas mulheres da época eram: botas de couro ou tecido, que
tinham as pontas arredondadas e podiam ser amarradas ou abotoadas, meias pretas e de algodão
para o dia, e de seda para a noite, luvas de camurça à noite, como uma demonstração de
elegância. Os cabelos eram presos no alto e arrematados com um pequeno chapéu panqueca,
que se projetavam para a frente da cabeça e eram adornados com uma ou duas plumas.
Figura 3 – Botas utilizadas na Belle Èpoque
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Figura 4 – Chapéus na Belle Èpoque
Nessa época Chiquinha Gonzaga viveu o período de maior importância em sua vida,
pois sua carreira artística se consolidou no período chamado de Belle Èpoque brasileira.
A Belle Èpoque brasileira, além de causar influências na arquitetura, na moda e nos
hábitos e costumes da população, teve também como característica a presença da classe boêmia,
e da qual Chiquinha Gonzaga fez parte.
O movimento boêmio, foi um movimento de contracultura, assim como o movimento
hippie, e que esteve presente em vários locais do planeta, em diferentes momentos. Seu primeiro
momento foi na França no século XIX, na década de 1840 e foi caracterizado pela participação
de artistas e intelectuais, que eram contra a classe burguesa da época. Os boêmios foram assim
chamados, devido a alguns contos escritos por Henri Murger, que chamava seus personagens
por este nome. Os boêmios rejeitavam a propriedade privada, o materialismo, e centravam-se
em criatividade e vida comunitária, ignorando as convenções sociais e tinham a arte como o
centro de suas vidas.
No Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, o movimento boêmio contou com
nomes como: Coelho Neto, Olavo Bilac, Luiz Murat, Aluísio Azevedo, Guimarães Passos,
Paula Nei, José do Patrocínio e Arthur Azevedo, entre outros. Todos participaram de lutas
sociais e políticas como: a abolição da escravatura e a Proclamação da república, e Chiquinha
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Gonzaga esteve presente ao lado dessas figuras boêmias, chegando inclusive a vender suas
composições para a compra de alforrias.
Levando a vida que quis, Chiquinha pode ser considerada como uma pessoa de
vanguarda e alternativa, já que não seguia os padrões impostos na época em que viveu. Grande
exemplo disso, foi o laço de fita que usava na cabeça, já que devido a sua dificuldade financeira,
não tinha condições de comprar os chapéus usados pelas elegantes senhoras da época. O fato
de não ter condições, não a fizeram se esconder ou se deixar diminuir por tal fato, muito pelo
contrário, ela fazia questão de tornar algo visto como negativo em algo novo, diferente e tinha
orgulho disso. Chiquinha viveu de forma plena sendo uma pessoa de vanguarda tanto na vida
profissional como na vida pessoal. Ajudou a formar um novo ritmo: o choro, foi o grande nome
do maxixe, o primeiro ritmo considerado genuinamente brasileiro, foi a primeira profissional
do piano, ou seja, foi a primeira mulher a ganhar dinheiro tocando piano, foi a primeira
maestrina, foi a primeira mulher a musicar peças teatrais, foi a primeira pessoa a escrever uma
marcha de carnaval vinte anos antes do ritmo se estabelecer, participou efetivamente de lutas
políticas e sociais, teve uma vida sexual fora dos padrões aceitáveis para a época, pois além de
deixar dois casamentos, teve envolvimentos amorosos, e aos 52 anos passou a viver junto com
um rapaz de 16 .
Toda essa atitude de mulher livre e independente, aconteceu em uma época onde a
mulher mal tinha o direito de existir, mas ela existiu, resistiu e se fez ser ouvida, mesmo sendo
considerada a “diferente”. Se considerarmos sua história nos dias de hoje, Chiquinha Gonzaga
seria uma pessoa alternativa, de vanguarda e muito autêntica.
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CAPÍTULO 3
ANÁLISE DE SIMILARES
PRODUTO – COLEÇÃO DE LINGERIE
Figura 5 – Coleção de lingerie Água Fresca inspirada em Chiquinha Gonzaga
Coleção verão 2013 da marca de lingeries Água Fresca.
A coleção que é inspirada na compositora Chiquinha Gonzaga, é clássica e romântica.
Feita com tecidos nobres importados como: renda, tule e voal de seda italiano, possui uma
cartela de cores com tons claros, estampas de florais, partituras e pianos, e com efeitos decorè.
A coleção foi dividida em 10 temáticas, onde algumas levam o nome de músicas da
compositora: Doce Fado, Tango, Catita, Lua Branca, Linda Morena, Suspiro, Forrobodó, Abre
Alas, Bela Rosa e Chiquinha Gonzaga.
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PRODUTO – COLEÇÃO DE PEÇAS DECORATIVAS ARTESANAIS
Figura 6 – Adorno de parede
Produzido por Deise Hattum, musicista e professora de piano.
A coleção é produzida de forma artesanal. É constituída de: mini busto, busto e adorno
de parede. As inspirações das peças são de fotos da compositora de 1877 e 1894.
A
peça
é
vendida
apenas
sob
encomenda
através
do
site:
http://chiquinhagonzaga.com/wp/
Feitos em resina, recebem como acabamento uma pintura artística que remete a
porcelana antiga ou bronze.
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PRODUTO – BOLSA ECOLÓGICA ESTILIZADA
Figura 7 – Ecobags expostas na semana de moda de Curitiba em 2010
Produzido pela instituição de ensino FAE, a coleção de ecobags foi exposta no 21º
Crystal Fashion, a semana de moda de Curitiba em 2010.
As bolsas têm como inspiração a música mais conhecida da compositora Chiquinha
Gonzaga: Ó Abre Alas. Com cores vivas e um design diferente das ecobags comuns (as alças
são presas na lateral da bolsa e depois unidas por outra alça reta), as estampas retratam o
carnaval brasileiro e o piano, a paixão da compositora.
25
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DE MERCADO
Semente
Localizada no município de Paraty , a marca Semente faz roupas artesanais. Seu criador
é o artista Teko Semente e suas criações são exclusivas e únicas. Em seu atelier , seu processo
de trabalho consiste no reaproveitamento de retalhos de tecidos, fazendo com que sua marca
seja sustentável.
Seu processo criativo não segue regras e nem tendências de mercado, pois o mesmo cria
sua peças de acordo com seus sentimentos, sua sensibilidade e os materiais de que dispõe
naquele momento.
O carro chefe de sua marca são os vestidos que recebem aplicações e bordados, de temas
diversos como: casinhas, cidades, flores, poemas e frases.
Seu atelier é sua única loja física, mas a marca também comercializa via internert seu
mix de produtos que são : roupas, bolsas, bijuterias e alguns artigos para decoração de
ambientes. A rede social Facebook também é utilizada para divulgação da marca.
26
A faixa de preços de seus produtos é variada. O produto de menor valor (um brinco)
custa R$ 12,00 e o de maior valor (uma tela bordada) R$ 490,00. Seus vestidos tem uma faixa
de preços entre R$ 160,00 e R$290,00.
O público-alvo da marca está entre a classe C até A, pois como seus produtos possuem
uma identidade única e não seguem tendências, tendo uma característica muito artesanal,
conseguem agradar a pessoas de diversos níveis sociais e faixa etária.
Figura 8 – Detalhe vestido Atelier Semente
27
Figura 9 – Vestido Atelier Semente borboletas e flores
Figura 10 – Vestido Atelier Semente
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Figura 11 – Vestido Atelier Semente
Figura 12 - Vestido Atelier Semente
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Rapsodia
A marca de roupas nasceu na Argentina em 1999, e hoje possui também lojas no
Brasil, nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Suas coleções tem uma temática Boêmia e
romântica, formando a estética Hippie Chiq. Utiliza tecidos nobres, e também faz aplicações
localizadas nas roupas. Suas lojas são muito bem decoradas e organizadas. Seu mix de produtos
é composto de: roupas, calçados, bolsas e bijuterias.
Figura 13 – Loja Rapsodia
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Figura 14 – Look Rapsodia
Figura 15 – Look Rapsodia
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4.1 - PESQUISA DE CAMPO
Público-alvo formado por mulheres na faixa etária entre 25 a 35 anos, que gostam de ir
à bares, festas e shows.
Frequentadoras e/ou moradoras dos bairros de Santa Tereza e Lapa, têm uma
mentalidade jovem. São donas de uma personalidade forte, autêntica, e com muito bom humor.
Trabalham e/ou estudam.
Gostam de artes em geral como: teatro, música e artes plásticas, e podem inclusive
mulheres que trabalham ou estudam nessas áreas. Podem ser atrizes em busca de sua carreira,
cantoras ou musicistas que possuam bandas, artistas de circo, bailarinas, artistas plásticas.
Em seus momentos de lazer gostam de frequentar exposições, vão à feira do Lavradio,
Circo Voador, Fundição Progresso ou os diversos bares existentes na região.
Têm uma mente muito aberta sobre vários assuntos: São mulheres a favor da liberação
da maconha, participam de manifestações, são defensoras de alguma causa social ou política.
Muitas vezes são criadoras de suas próprias roupas, fazendo intervenções nas peças que
compram, já que gostam das coisas artesanais, e podem utilizar roupas de grife, como roupas
vendidas em feiras de artesanato, mas não tem preferências por marcas específicas.
32
CAPÍTULO 5
MEMORIAL DESCRITIVO
Este projeto tem a finalidade de mostrar uma coleção de roupas de outono/inverno
inspiradas em Chiquinha Gonzaga. O tema foi escolhido devido a grande admiração pela figura
de Chiquinha, e pela minha paixão pela música. O foco desta coleção será sua vida boêmia e
seu lado alternativo, já que a mesma não seguia os padrões impostos em sua época. Como
referências serão utilizadas a vida boêmia da maestrina e a Belle Èpoque, já que grande parte
de sua vida artística aconteceu neste período.
Inicialmente a coleção seria voltada para um público mais tradicional, com peças
elegantes e clássicas. Mas no decorrer do projeto, após uma análise da história de vida de
Chiquinha, que era uma pessoa mais alternativa e de vanguarda do que tradicional, decidi
modificar o público-alvo para um público mais alternativo, boêmio e frequentador da vida
noturna no bairro da Lapa e Santa Tereza. Este público para mim, estaria mais de acordo com
a própria Chiquinha.
A nova descrição do público-alvo ficou da seguinte forma:
Mulheres na faixa etária entre: 25 a 35 anos.
Gostam de ir à bares, festas e shows.
Frequentadoras da Lapa, têm uma mentalidade jovem (ex: uma mulher de 35 anos que
se mistura tranquilamente com pessoas de 25 anos)
São donas de uma personalidade forte, autênticas, e com muito bom humor. Trabalham
e/ou estudam.
Gostam de artes em geral, como: teatro, música e artes plásticas. Podem inclusive ser:
atrizes em busca de sua carreira, cantoras ou musicistas que possuam bandas, artistas de circo,
bailarinas, artistas plásticas, ou estudantes dessas artes.
Gostam de frequentar exposições, vão à feira do Lavradio, Circo Voador e Fundição
Progresso.
Têm uma mente muito aberta sobre vários assuntos: São mulheres a favor da liberação
da maconha, participam de manifestações, são defensoras de alguma causa social ou política.
Muitas vezes são criadoras de suas próprias roupas, fazendo intervenções nas peças que
compram, já que gostam das coisas artesanais.
33
Podem utilizar tanto roupas de grife como roupas vendidas em feiras de artesanato, mas
não tem preferências por marcas específicas.
Após a mudança do público-alvo, comecei a buscar conforme o solicitado em
programação visual, a imagem de uma pessoa que personificasse minha coleção, e que serviria
de modelo para a criação dos croquis. Cheguei após algumas tentativas, na figura da cantora
Vanessa da Mata, pois a mesma tem um perfil alternativo, forte e ao mesmo tempo delicado. É
uma pessoa com presença marcante e que utiliza nos momentos de lazer, conforme constatei na
busca de imagens, roupas despojadas.
Para dar continuidade ao desenvolvimento do produto, escolhi algumas palavras que
representassem minha coleção que foram: vanguarda, liberdade, boêmia, feminilidade e luta.
Com a mudança do público-alvo, as marcas espelhos também tiveram que ser
modificadas. Inicialmente as marcas escolhidas eram: Aquamar e Nica Kessler, que foram
modificadas para as marcas: Semente e Rapsódia
As novas marcas escolhidas foram:
Semente: É um atelier de roupas localizado em Paraty. A marca é uma slow fashion, já
que a mesma não tem uma produção industrial e faz reaproveitamento de retalhos de tecidos.
As roupas são artesanais, onde o criador borda, aplica, e desenha à mão as estampas. Utiliza
tecidos naturais e retalhos, com os quais faz aplicações nos vestidos que fabrica. Suas aplicações
são localizadas, e tem temáticas diversas, como o desenho de casas, flores e sua cidade. O
mesmo também borda poesias e frases nas roupas. O atelier dispõe de um blog, meio pelo qual
comercializa suas criações. Utiliza a rede social facebook para a divulgação da marca.
Rapsódia: A marca de roupas nasceu na Argentina em 1999, e hoje possui também lojas
no Brasil, nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Suas coleções tem uma temática Boêmia e
romântica, formando a estética Hippie Chiq. Utiliza tecidos nobres, e também faz aplicações
localizadas nas roupas. Suas lojas são muito bem decoradas e organizadas. Seu mix de produtos
é composto de: roupas, calçados e bijuterias.
Para a idealização do projeto comecei a utilizar a ferramenta diário visual, onde foram
propostas na disciplina Criação e experimentação, a criação de colagens que mostrassem a ideia
que tenho sobre a figura de Chiquinha Gonzaga. Também comecei a elaborar colagens com
imagens da Belle Èpoque, elementos que fazem parte da boêmia, instrumentos musicais que
representam a paixão de Chiquinha e roupas que tivessem aplicações, estampas e temáticas bem
34
humoradas, como as roupas criadas por Elza Schiaparelli. Todos esses elementos serviram de
referência para minhas criações.
Após a elaboração das colagens que serviram como base para a criação da coleção, e da
experimentação de possíveis estampas, comecei a fazer os desenhos das peças que deveriam
atender o público-alvo. Houve algumas discordâncias com relação às minhas criações e o que
era proposto na disciplina de desenvolvimento de produto, e por esse motivo refiz alguns
croquis.
Exercícios de Silhueta Vazada aula de Criação e Experimentação
Figura – 16
Figura – 17
Figura – 18
Foram elaborados 45 croquis, para que fossem analisados em uma pré-banca.
Na busca por tecidos para a coleção cheguei as seguintes opções: Crepe de algodão,
viscose, sarja, brim, renda, musseline, lese, tricoline e tule, além de aviamentos como: fitas de
veludo e fitas rendadas.
As cores escolhidas para a coleção foram: vermelho bordô, azul íris, verde bandeira,
roxo, preto e branco.
Na disciplina de projeto final II, foi solicitado a reflexão sobre a importância deste
projeto para o design de moda:
35
Muito além do que vestir, a moda também serve para comunicar ideias, fazer reflexões
e descrever os hábitos de uma época.
Chiquinha é uma figura feminina muito importante para nossa história. Venceu
barreiras, ajudou a criar uma identidade nacional na área de cultura e transgrediu todas as
normas vigentes para as mulheres em sua época. É importante popularizar sua história, trazer
para o dia-a-dia das pessoas a figura de Chiquinha Gonzaga.
Muitos de nós talvez já conheçam a maestrina, mas muitos desconhecem a sua
importância. Esse é o maior objetivo e importância deste projeto, tornar Chiquinha Gonzaga
pop. Ao invés de usar a moda para glamourizar ídolos estrangeiros, devemos popularizar e
glamourizar os ícones da nossa própria história.
No momento da pré-banca foram selecionados 12 looks, dos quais 2 foram escolhidos
para serem produzidos: um vestido, um short e uma blusa. Foram sugeridas algumas
modificações nos tecidos escolhidos e na forma como as aplicações seriam feitas.
Com a escolha dos looks para serem produzidos, começamos a pensar na modelagem
dos modelos. Na aula de prototipagem foi pedido o desenho técnico das roupas, para que se
pudesse fazer a modelagem das mesmas. Fiz pequenos protótipos em escala de 1:20
(escalímetro) do vestido e do short, para verificar e entender como a construção da modelagem
seria feita.
Figura 19 - Primeiro mini protótipo realizado
36
Figura 20 - Segundo mini protótipo realizado
Figura 21 - Protótipo sem manga em tamanho natural
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Com a seleção dos looks, também comecei a redesenhar os croquis para a apresentação
na banca, e escolhi a técnica da aquarela para fazê-los. A intenção é fazer croquis semelhantes
às ilustrações de moda mais elaboradas.
Na aula de Programação visual foi definido a forma de apresentação dos croquis e do
diário visual.
Após a construção da modelagem das roupas que serão apresentadas, decidi fazer a
confecção de um look, neste caso o vestido, e repassar o outro look para uma costureira.
A estampa da blusa, que inicialmente seria feita em sublimação em uma loja, foi
modificada para uma estampa artesanal, feita por mim, já que o custo para a sublimação ficou
elevado. A técnica utilizada foi o carimbo, feito com tampinha de garrafa de cerveja long neck,
já que a mesma por ser de rosca não sofre alteração em seu formato.
Figura 22 - Teste de estampa – Tinta Acrilex para tecido utilizada em viscose
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Figura 23 - Teste estampa com tinta Acrilex para tecido
No decorrer da execução do trabalho, decidi mudar os tecidos utilizados na coleção. Os novos
tecidos escolhidos foram: Brim, sarja com elastano, tricoline com elastano, viscose e cambraia
de algodão.
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CONCLUSÃO
A proposta inicial do trabalho era fazer uma coleção de roupas que mesclasse os dois
lados da vida de Chiquinha Gonzaga: sua vida cercada de conforto até seu primeiro casamento,
e sua vida de lutas quando decide viver sua própria vida. Para isso seriam utilizados tecidos
leves e transparências, que remetem ao lado leve da vida, e tecidos mais encorpados que
representariam o lado de lutas da vida de Chiquinha Gonzaga. O público-alvo seria composto
de pessoas mais tradicionais que preferem roupas mais clássicas.
No decorrer do projeto esta proposta se tornou algo confuso, e não se adequava ao meu
desejo de trabalhar com um público mais alternativo. Sendo assim, após uma análise da vida da
própria maestrina, verificou-se que sua vida boêmia seria algo mais interessante para ser
trabalhado, e se encaixaria perfeitamente com o público-alvo que tinha interesse em trabalhar.
A coleção criada é voltada para mulheres de personalidade forte e que não fazem questão
de discrição, pelo contrário, a coleção é voltada para mulheres que querem ser vistas e que não
tem medo de ousadias e extravagâncias.
As estampas e aplicações criadas tem muito bom humor, como uma Chiquinha que
mostra a língua ou tampinhas de cerveja que remetem a flores. O piano, instrumento de paixão
da maestrina, aparece de uma forma muito diferente do convencional, tanto na sua forma como
no jeito que foi aplicado nas peças, já que ao invés de ser estampado, virou recortes no tecido,
numa mescla de cores preto e branco.
A coleção feita para Outono-Inverno, recebeu um tecido mais encorpado, o brim, e
tecidos mais leves como: sarja, viscose, tricoline e cambraia de algodão. Rendas e fitas de
veludo, foram utilizados como detalhes em algumas peças, porque remetem à Belle Èpoque,
período em que a maestrina viveu grande parte de sua vida artística.
A cartela de cores é constituída de cores fortes: vermelho bordô, azul íris, verde
bandeira, roxo, preto e branco. Dessa forma o que se pretende criar, é uma coleção alegre, já
que a mesma é destinada à mulheres que frequentam um ambiente boêmio e divertido.
As formas em sua maioria são soltas. São vestidos, blusas, batas, saias e calças, que
pretendem trazer um visual mais descontraído e casual, que é o espírito da boemia carioca.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS
ALBIN, Ricardo Cravo. O Livro de Ouro da MPB: A história de nossa música popular de
sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 365 p.
DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga: uma história de vida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
315 p.
GOMES, Laurentino. 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. São Paulo:
Planeta, 2007. Capítulo 16, A Colônia; p 120-138.
KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira: dos primórdios ao início do século xx. Porto
Alegre: Movimento, 1976. 140 p.
LAVIER, James. A Roupa e a Moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das
Letras, p. 177- 222, 1989
LIRA, Mariza. Chiquinha Gonzaga: grande compositora popular brasileira. 2. Ed. Rio de
Janeiro: Funarte, 1978. 154 p.
NERY, Marie Louise. A Evolução da Indumentária: subsídios para criação de figurino.
Rio de Janeiro: Ed Senac Nacional, p. 184 – 195, 2003
SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese de História da Cultura Brasileira. 16. Ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. 136 p.
REVISTAS E PERIÓDICOS
CESAR, Rafael do Nascimento. Alas e luas brancas: gênero, performance e música em
Chiquinha Gonzaga. Primeiros Estudos. São Paulo, n 4, p. 24-33, 2013.
SITES
PINTO, Célia Regina Jardim. Feminismo, História e Poder. Rev. Sociol. Polit. Curitiba, v.18,
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17 nov. 2013.
Dilma Rousseff cria dia nacional da MPB. O Estadão, São Paulo, 11 de maio 2012. Disponível
em
<http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,dilma-rousseff-cria-dia-nacional-dampb,871609,0.htm>. Acesso em: 17 nov. 2013.
A Maestrina Chiquinha Gonzaga: Série 500 anos de História do Brasil. Direção Geral:
Guilherme Fontes. Rio de Janeiro: Guilherme Fontes Filmes Globosat, 1999. Documentário on
line – 48 min. Disponível em < http://chiquinhagonzaga.com/wp/biografia/>. Acesso em: 13
out. 2013.
41
INSTITUTO MOREIRA SALLES.Chiquinha Gonzaga: Obra. Disponível em <
http://ims.uol.com.br/hs/chiquinhagonzaga/chiquinhagonzaga.html>. Acesso em: 22 nov. 2013
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