O Bucaneirismo no Início da 1ª República: Especulação e

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O Bucaneirismo no Início da 1ª República: Especulação e
José Evaldo de Mello Doin
O Bucaneirismo no Início da 1ª República:
Especulação e Violência
The Buccanism at the First Republic Operaning:
Speculation and Violence
José Evaldo de Mello Doin1
Resumo
O artigo apresenta algumas questões que desenvolvi em minha tese de livre docência, intitulada O
capitalismo bucaneiro: dívida externa, materialidade e cultura na saga do café. A República verá acentuar-se
alguns dos mais marcantes vincos definidores da fisionomia do bucaneirismo. Os soldados da fortuna empenhavam tudo no risco das ações, jogava-se o jogo do enriquecimento quase imediato, da conquista e da busca da
aventura, ao invés do lucro torpe. O Encilhamento é um momento privilegiado para se observar essa anima
flibusteira e sua derrocada colocou o País numa crise financeira sem precedentes. Entretanto, se o descalabro
das finanças amancebava-se com o período mais agudo da queda dos preços do café, não se pode olvidar que esse estrangulamento era
apenas uma pequena convulsão frente à expansão ocorrida nos últimos 50 anos do século XIX, em que o setor mais dinâmico da economia
quintuplicou.
Palavras-chave: Encilhamento; Capitalismo Bucaneiro; Violência Privada; Funding Scheme; Especulação; Racionalismo.
Abstract
This papper presents some comments I developed in my free docentship entitled “The capitalism buccaneer: foreign debt,
materialidade and culture in coffee saga. The republic reinforced some of the most noticeable marks which defined the features of
buccaneirism. The fortune soldiers pawned everything under the risk of their actions.It was played the game of an almost immediate
enrichment, of the conquest and adventure searching,instead of the vile profit. The “Encilhamento” is a special moment to observe the
encourages of flibustery; its decayin put the ctry in a fanancial crisis without precedence. However, with financial scandals living side by
side with the sharpest period of coffe prices fall, nobody can deny that this choking was only a little convulsion before the expansion
occurred in the last 50 years of century, in which the most dynamic sector of economy quintupled.
Keywords: “Encilhamento”; Capitalism Pirate; Deprived violence; Funding Scheme; Speculation; Racionalism.
1 Introdução: do Encilhamento ao 1º
Funding Loan
capitalismo, faz uma síntese feliz que corrobora estas
minhas formulações:
A República verá acentuar-se alguns dos mais
marcantes vincos definidores da fisionomia do
bucaneirismo. Sua estrutura social indefinida, que
atinge até a composição da classe dominante, seu
caráter híbrido, sua estrutura política difusa e
incompleta encontram vazão natural na dinâmica
acelerada das transformações, advindas da expansão
ou das crises de seu produto símbolo: o café. Sérgio
Paulo Rouanet, comentando Roberto Schwarz, quando
da publicação de Um mestre na periferia do
“...Conseqüentemente, passaram a coexistir estruturas
sociais ‘atrasadas’, baseadas no trabalho escravo e no
clientelismo, com formas ideológicas e institucionais
‘modernas’, de cunho iluminista e liberal (parlamentarismo
e direitos humanos). Essas formas contradiziam aquelas
estruturas, mas eram indispensáveis para a organização
do novo Estado e para a legitimação das classes
dominantes. Estas se viam e queriam ser vistas como
modernas, por mais que derivassem sua existência de
relações sociais arcaicas. Essa pretensão era portanto
risível, mas de certo ângulo justificável, porque o ‘atraso’
brasileiro inseria o país numa divisão capitalista do
trabalho, de recorte perfeitamente moderno. Desse modo,
1
Professor Doutor, Livre Docente, Professor Departamento de História da Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Franca, São Paulo, Brasil. Mailto: [email protected].
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as idéias ‘adiantadas’, e em primeira instância o
liberalismo, eram ao mesmo tempo irrelevantes e
necessárias, idéias fora do lugar e idéias que em seu
deslocamento mesmo passaram a funcionar segundo uma
gravitação que correspondia às exigências do patriciado
local”...”as elites locais conviviam perfeitamente com a
contradição”...”fruindo igualmente das aparências
modernas e das infrações à modernidade burguesa...”
(ROUANET, 1993:305-6).
Essa posição leviana ilumina esse perene
ângelus em que se abriga o comportamento bicéfalo
da elite patriarcal-burguesa, que se nutre nesse eterno
retorno, posto como um despacho na encruzilhada entre
o arcaico e o moderno. Sua esfera pública é claudicante,
sua inventividade é travada, seu aparato institucional
é tênue.
Sertões inexplorados, favores impagáveis, desmedidas
ambições, bandidagem campeando solta, crédito abusado
e a mancheias, grupos clânico-parentais insaciáveis,
(VIANNA, 1974:131ss.) piratarias deslavadas mantinhanos estrangeiros na própria terra, frutos da neblina densa
da razão/desrazão, deltas da confluência entre civilização
e barbárie, éramos ilhas que quase se desconheciam.
O Homem Cordial, essa percepção genial da
socialidade proxêmica dos nossos avós, feita pelo jovem
Sérgio, (HOLANDA, 1963, passim) a tudo solvia, a
tudo impregnava. As relações pessoa a pessoa, a ética
da conquista, o compadrio e o mandonismo
simbolizados nos sabe-com-quem-está-falando, nos
é-a-mando-do-coronel-fulano, nos sou-gente-docoronel-sicrano, nas cartas de apresentação
carregadas pelos isaias-caminhas repartições afora,
remontam às primitivas sesmarias e aos Senados das
Câmaras Municipais, desprovidos das éticas derivadas
do capitalismo.
Aventureiros, conquistadores, heróis de má
catadura, mais para bucaneiros que para
empreendedores (FERNANDES, 1981:22-23),
legaram uma sociedade e uma cultura movediças e
ambíguas, um sistema insensível e injusto, fruto de uma
brutal exclusão social que oblitera quaisquer
possibilidades de conquista e universalização da
cidadania, mas que, apesar dessas cruentas chagas,
sempre foi dotado de uma plasticidade vivaz, de uma
capacidade ímpar de improvisação que lhe permitiram
a criação e o desenvolvimento de uma instigante e
multifacetada experiência histórica, marcada pela
repulsa à ética do trabalho. (HOLANDA, 1963:1112)
Essa ética era um dos aspectos da ascese
calvinista que ultrapassa, na clássica interpretação de
Max Weber, as fronteiras do estritamente religioso,
para se articular com outros aspectos importantes, para
ele, na constituição da gênese do capitalismo, como a
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contabilidade e os dados estatísticos, que garantiriam
a fidedignidade necessária para o estabelecimento de
rotinas racionais essenciais ao sistema. (WEBER,
1968, passim).
Com a República, a necessidade de se
estabelecer um diferencial favorável à nova situação,
que justificasse e legitimasse o 15 de novembro, o
desprezo secular pelo número, pela tabela, pelo gráfico,
cria situações dramáticas e risíveis, como o
enfrentamento do Encilhamento pelas autoridades
fazendárias, tanto do antigo, como do novo regime.
Gilberto Freyre apresenta a seguinte perspectiva:
“a mania especulativa, que, através do chamado
encilhamento, se tornara contagiosa e epidêmica, poderia
ter sido contida pelos governos durante os quais ela
principiara a tornar-se mórbida: o último do Império e o
provisório da República”...”Um conselho dava Wileman
aos novos dirigentes do Brasil: o de cuidarem melhor das
estatísticas. Era, a seu ver, uma anomalia e um mal, a
ausência quase completa de estatísticas num país
importante como o Brasil”. (FREYRE, 1990:388.)
Tal como o mundo colonial e nordestino do
açúcar ou as tenebrosas e escuras entranhas-veios
de ouro de Minas, a rubiácea é fruto do destemor e da
aventura, produto da vontade resoluta de capitães
destemidos que singram essa onda verde, na imagem
feliz de Lobato, pela busca incerta da fortuna:
“Atrai o homem aventureiro não mais o ouro dissimulado
em pepitas no seio da terra, mas o ouro anual das bagas
vermelhas que se derriçam em balaios. A região era todo
um mastaréu virgem de majestosa beleza. Rasgara-o a
facão o bandeirante antigo, por meio de picadas; o
bandeirante moderno, machado ao ombro e facho
incendiário na mão, vinha agora, não penetrá-lo, mas
destruí-lo (...) Sua ambição feroz preferia a beleza da
desordem natural à beleza alinhada da árvore que dá
ouro. Só esta forma de beleza tem amavios capazes de
enlevar a alma fria do paulista. Para ver estadeada ante
os olhos a sua beleza (...) derrubou, roçou e queimou a
maravilhosa vestimenta verde do oásis (...)
Confessemos:um espetáculo vale o outro”. (LOBATO,
1946:3-4).
Filho de seu tempo, Lobato explicita a
utensilhagem mental em que foi formado. Crente
convicto desse discurso antiecológico, formado num
mundo decadente de cidades mortas, extasia-se com
a oceânica extensão dos cafezais em terras paulistas.
“... milhões e milhões de pés que ondulam por morro e
vale até se perderem no horizonte confundidos com o céu..
Um cafezal só, que não acaba mais, sem outras soluções
de continuidade além do casario das fazendas e dos pastos
circunjacentes (...)Mas a árvore do ouro só o produz á
custa do sangue da terra.(...) Nada o sacia. Já comeu as
zonas ubérrimas de Ribeirão Preto, Jaú, São Manuel,
Araraquara, os pedaços de ouro de São Paulo, e agora
afunda os dentes na carne virgem, tressuante de seiva, do
Paraná e de Mato Grosso”.
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“Nada lhe detêm a ofensiva irresistível. Não a paralisam
geadas monstruosas como a de 1918”...”nem as taxas e
sobretaxas excessivas (...) nem a jogatina de Santos; nem
a mentalidade altista, loucamente esbanjadora, do
fazendeiro.” (LOBATO,1946:3-4).
numa das tentativas de prefácio ao seu Macunaíma,
ultrapassa as dimensões acanhadas da noção de caráter
e fórmula, de forma instigante, essa nossa
característica mais evidente:
Terrível essa saga! É estarrecedora essa
expansão de uma riqueza em que até o produto age
como um bandoleiro implacável, impiedoso com suas
vítimas, insensível e mal agradecido para com o húmus
vermelho da terra que o gestou e o nutre, da qual ele,
avaro, esgota todo sumo, abandonando-a exangue à
busca de nova vítima a exaurir! Homens forjados nesse
universo predatório não poderiam mesmo criar um
corpo social solidário ou edificar instituições suportadas
pelo talante da lei, da justiça e da cidadania.
“...o brasileiro não tem caráter porque não possui nem
civilização própria nem consciência tradicional. Os
franceses têm caráter e assim os iorubas e os mexicanos.
Seja porque civilização própria, perigo eminente, ou
consciência de séculos tenha auxiliado o certo é que esses
uns têm caráter. Brasileiro (não)...Dessa falta de caráter
psicológico creio otimistamente, deriva a nossa falta de
caráter moral. Daí nossa gatunagem sem esperteza (a
honradez elástica a elasticidade da nossa honradez) o
desapreço à cultura verdadeira, o improviso, a falta de
senso ético nas famílias”. (ANDRADE, 1972:289).
“Faz-se por bem ou por mal - quase sempre por mal. O
primeiro passo é a criação da propriedade de titulo liquido.
Sem esta base não pode surgir a fazenda, que é uma
empresa de vulto, exigidora de capitais. A propriedade
cria-se hoje, como outrora, pela conquista do mais forte,
pela espoliação levada a cabo pelo mais audacioso, pelo
mais despido de escrúpulos. (...) Num sertão modorrento,
quando a presença de um advogado ou agrimessor esperta
os velhos moradores, á uma voz eles murmuram – e se
não murmuram sentem-no lá dentro das tripas:
“– Nosso tempo acabou... E acaba, de feito. Acaba o
marasmo da terra porque o grileiro é o precursor da
Onda Verde (...) O peregrino espírito de Assis
Chateaubriand já explanou em traços gerais, mas
incisivos, esta função social e civilizadora do grilo (...) E’
a vitória da gazua do mais forte.”
“– Mas é uma gazua! Abre as portas do sertão mas é uma
chave falsa!... diz a moral.”
“Responde o Café:
– Minha fome está acima da moral, e eu só
conheço as leis do meu apetite”. (LOBATO,
1946:4).
A irresistível preferência pelo ganho fácil, de
um só golpe, numa cartada, fazia dessa elite uma
vítima de si mesma. Sua opulência tinha a consistência
e o parentesco de um temporal tropical, tão fácil
chegava a cavaleiro do risco, do jogo, do panamá, dos
conhecimentos e intimidades de alcovas ou de vetustas
e solenes ante-salas oficiais, mais rápido e diáfana se
esvaía, ingrata e leviana a abandonar o tíbio, o pródigo,
já a braços com outro mais intrépido, sagaz e ousado
vencedor. Pai rico, filho nobre, neto pobre, esse
sábio epíteto popular era o retrato dessa metamorfose
vertiginosa da riqueza.
Os soldados da fortuna empenhavam tudo no
risco das ações, jogava-se o jogo do enriquecimento
quase imediato, a conquista e a busca da aventura no
lugar da operosa e metódica acumulação, a alma do
despojo, ao invés do lucro torpe. Mário de Andrade,
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Pelas mãos pouco hábeis do primeiro Ministro
da Fazenda do Governo Provisório, o tão festejado Rui,
a jogatina de bolsa desenfreia-se de vez. Como tudo
nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza,
o Encilhamento teve sua face cruel, expondo a
ganância insaciável e sem limites dos homens bons da
pátria amada, mas também contribuiu com a criação
de um sem número de oportunidades e de
empreendimentos que conseguiram ampliar as
possibilidades de crescimento e diversificação de nossa
economia.
No prefácio à segunda edição da novela do
Visconde de Taunay, O Encilhamento, seu filho, o
historiador Afonso de E. Taunay, remete o leitor aos
dias de 1890 a 1892:
“...a novela vivaz, interessante, variada referta de
documentos humanos, a historiar uma série de episódios
pitorescos e curiosos, aspectos característicos do facies
social da vergonhosa época de ‘curée’, de ‘carniça’, como
essa que, no Rio de Janeiro, determinara a inflação
papelista, exagerada, de 1890.”
“De perto observou o romancista estas cenas deprimentes
de pilhagem e desvairamento, a que veio pôr cobro a
reação florianista, após o 23 de novembro.”
“Foi das inúmeras vítimas do tremendo craque de 189192 que arrasou as grandes e velhas instituições financeiras
fluminenses, essas cujos títulos desde muito eram para o
público valores de inteira confiança quase tão reputados
pela solidez quanto os papéis de Estado, como o antigo
Banco do Brasil, por exemplo. Daí o conhecimento de
causa com que descreve os cambalachos, negociatas e
tranquibérnias dos grandes e insaciáveis piratas bolsistas
e sua seqüela de devoradores da economia pública e
particular.” (TAUNAY, 1933:5-6).
Não ocorreu outra metáfora ao filho historiador,
senão à de grandes e insaciáveis piratas de bolsa,
ao comentar a temática da novela do pai escritor.
Familiarizado com as mazelas desse universo brumoso
e estreito, não somente não titubeou em definir a ação
frenética dos ousados aventureiros da encruzilhada das
ruas da Alfândega e Candelária, como também
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sentenciou a sua seqüela de devoradores da
economia pública e particular.
A hegemonia financeira britânica, alcançada
através das aceptances houses e dos bancos de
depósitos; da exclusão das massas trabalhadoras da
ação política; do aumento da concorrência entre a
Inglaterra, a Europa continental e os EUA, através
dos trustes e grandes corporações, gerou uma periferia
funcional, produtora de alimentos e matérias primas,
que se torna fronteira de expansão do sistema de
crédito dos países centrais.
Esse sistema tinha um viés perverso para as
jovens nações como a brasileira. Se por um lado o
crédito farto servia para o país queimar etapas e
avançar na ampliação do volume de seu produtomundo, funcionava também, devido às regras da
conversibilidade das moedas em ouro, como
amortecedor das crises de contração das economias
cêntricas, sofrendo, inclusive, com a manutenção de
seu câmbio ao par legal.
O crédito como um todo e as emissões criam
condições otimizadas para novos empreendimentos e
para a especulação desenfreada, que começa ainda
no Império, sendo seu período culminante o de agosto
a outubro de 1889. O papelismo gerado pela
multiplicação dos agentes emissores e a brusca guinada
financeira promovida por Rui Barbosa, à frente do
Ministério da Fazenda do Governo Provisório,
(BELLO, 1983:62) conjugados, permitiram a
desenfreada jogatina com títulos públicos e privados,
e tornam crível a feliz imagem utilizada por Gilberto
Freyre, a de que a “República no Brasil nasceu
penetrada pela Monarquia” (FREYRE, 1990:388).
Amparadas no facilitário dos recursos da Viúva,
em um nunca acabar de derrame do dinheiro público,
agiotado pelos praticantes da advocacia administrativa,
eufemismo para o lobbysmo deslavado e punguista,
pipocam novas companhias e empreendimentos:
“Contratos de imigração a dar com o pau, localização de
milhares e milhares de famílias européias em todas as
terras revolutas imagináveis, um nunca acabar, metade
da Europa puxada a reboque para aqui, sem estorvo, nem
dificuldade, que não fossem superados.”...”Requerimentos
rabiscados sobre a perna”...”entre duas fumaças de
perfumado havana nos gabinetes ministeriais, sem
indicação dos lugares, tudo no ar, às cegas, às cabeçadas,
e logo transferido por bom dinheiro, centenas, senão
milhares de contos de réis a companhias que, da noite
para o dia, surgiam como irisados e radiantes cogumelos
após chuvas e enxurradas...” (Visconde de TAUNAY,
1933:19-20).
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O velho hábito de servir-se do erário era
aprofundado nessa época nervosa e impaciente,
auxiliado pela ingenuidade ou pela cupidez da própria
autoridade, tornando a espoliação do bem público uma
fonte significativa para a obtenção dos recursos
lançados na fogueira do jogo especulativo.
“...brincava-se com o crédito, o nome e o porvir da
nação.(...) Pelo empenho dos corrilhos, pelas manobras
da advocacia administrativa desbragada e impudente,
viam-se atendidas as mais escandalosas reclamações, mil
vezes indeferidas e enterradas nos escaninhos escuros
dos arquivos; e indenizações que bradavam aos céus,
abriam nos flancos do tesouro público verdadeiras
brechas, que sangrias, a cada momento aventadas pelos
caprichos do ditador...” (Visconde de TAUNAY, 1933:1920).
O excesso de papéis em circulação, vertendo
num nunca acabar, levaram o mercado de títulos ao
delírio, companhias de todos os tipos e feitios tinham
suas apólices lançadas e, logo, logo, estavam nas
nuvens, como se a bolsa fosse uma variante do popular
jogo do bicho. (PESAVENTO, 1999, passim).
Mas no país da ambigüidade, o outro lado, ou, a
outra face do encilhamento, revelava-se na expansão
e diversificação inegáveis do sistema produtivo,
diretamente beneficiário do crédito fácil e do
barateamento do capital fixo, devido à manutenção do
câmbio elevado, o que tornava acessíveis as
importações de máquinas e equipamentos.
Por mais desabrida que fosse a especulação,
um residual nada desprezível de empreendimentos bem
sucedidos, capazes de gerar novas riquezas, ou de
otimizar a exploração do que já estava implantado, caso
das ferrovias e dos portos em relação ao café, (CANO,
1977:119-23) foram fatores benéficos dessas ousadias
de flibusteiros.
“Tomava todos os visos de honesto labor o trabalho que
se operava naquele atrito de interesses e ambições”...”e,
pela imprensa, já haviam vozes autorizadas reclamado
do honrado presidente da intendência a formal proibição
do trânsito de carroças, caminhões e outros veículos por
aqueles quarteirões. Deviam ficar, sem reserva, destinados
à atividade e à faina, tão úteis ao incremento do país, dos
cidadãos entregues às múltiplas especulações da bolsa, às
exigências da fecunda jogatina e às contínuas incorporações
de bancos, empresas e companhias...”. (Visconde de
TAUNAY, 1933:23).
Durante o auge da sanha especulativa, formase uma nova elite urbana, frívola e argentária,
enriquecida com a alta das ações, preocupada em
ostentar o status recém-adquirido, com roupas caras,
carruagens e cavalos importados da Argentina:
“No meio de toda a azáfama do encilhamento, que fervia
cada vez mais, mancebos bem parecidos e trajados com
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apuro conversavam animadamente, a-pesar-de contínuos
encontrões, à sombra, encostados à alta parede do London
and Brazilian Ban.”
“– Não posso mais, dizia um tirando o chapéu de palha
fina para enxugar os cabelos empastados de suor, isto é
demais; preciso descansar um bocadinho, tomar fôlego;
do contrário caio de cama!...”
“– Mas ganha-se dinheiro a valer, hein? Observou o outro
com o olhar irresoluto, entre tímido e cobiçoso.”
“Ah! Boa dúvida! No fim deste mês boto na rua vitória
bem chic, novazinha em folha; por ora um cavalo só, mas
bicho de encher o olho...”
“– Vai indo para a ponta, como hoje se diz.”
“– Olé; preciso como tantos outros gozar a vida, Menezes,
fazer figura, luxar, aproveitar pelo menos enquanto o Braz
é tesoureiro. Estou com os meus 28 anos feitos...”
“E quanto tempo podia aquilo durar ainda? Perguntava
meio hesitante quem fora chamado Menezes.”
“O outro não sabia. Talvez não acabasse nunca. O país
parecia ter, afinal, achado o governo de que tanto precisava.
Era o que seu pai, o papai, pregava com muita discursaria.
Ah! O velho entendia de finanças e levava horas e horas a
ler tudo quanto escrevia o Rui Barbosa, sem saltar uma
linha. Quanto a ele, só tratava de fazer dinheiro. O
incontestável é que se nadava num mar de ouro; todos
ganhavam, ninguém perdia; um céu aberto, coisa nunca
vista!”
“E como Menezes contestasse a existência do ouro,
querendo substituí-lo por papel, replicava muito gárrulo e
até meio zangado, que se deixasse disso – ouro era o que
o ouro valia. Com o tal papel sujo, roto, esfarrapado ou
muito novinho e catita, comprava ou não tudo de que
carecia?”
“Não pagava jóias, cavalos, carros, contas de alfaiate e
beijocas de bonitas francesas?” (Visconde de TAUNAY,
1933:23-24).”
A roda da fortuna girava a velocidades
inimagináveis e o progresso, vislumbrado no auge da
especulação em bolsa, mesmo tendo sido em boa parte
tão consistente como a espuma de um brut (como se
dizia afetadamente nos arredores da bolsa), não deixou
de exercer forte influência nos comportamentos,
costumes e mesmo no refinamento das falcatruas.
Nesse sentido, novos templos são erigidos como lugares
sacros pela elite brotada como cogumelo naquela
chuva de papéis pintados. É, por exemplo, o caso dos
restaurantes dos hotéis de luxo e, dentre eles, o do
Hotel Globo:
“Célebre pela sua cozinha e pelo seu salão de banquetes,
quem comia no Globo ‘enchia a boca a alardear tal
distinção’; e quanto ao salão, servia não só para banquetes
como ‘para reuniões de membros do Parlamento [. ...].’
Mas tanto quanto os políticos, ou ainda mais do que eles,
reuniam-se no Globo os homens de negócios; e quando do
chamado ‘Encilhamento’, que foi, como se sabe, uma ‘febre
bolsista’ classificada, como já vimos, por Wileman de
‘epidêmica’, houve nesse hotel aristocrático
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‘sardanapalescos jantares’, regados ‘de custosos vinhos
e do espumante Champagne Clicquot’. Aos homens de
negócios brasileiros juntavam-se os estrangeiros - os mais
finos dentre eles, quer comerciantes, quer industriais; e a
estes e aos brasileiros de regresso da Europa se deve, em
grande parte, terem se tornado bebidas elegantes no Brasil
da época o vermouth, o cocktail, o gin fizz, o whisky, o
Pick me up, o Sherry-Cobbler, sem que o Porto e o
champagne perdessem seu prestígio nessas e noutras
rodas esnobes. Havia já o chope; mas saboreado menos
por príncipes do poder econômico ou do político que pelos
boêmios das confeitarias, dos cafés, das terrasses; por
literatos; por jornalistas; pelos jovens; pelos caixeiros;
por estrangeiros que, destemidos em seu modo de vestir pois foram eles que no Brasil voltaram, no reinado de
Pedro II, à tradição portuguesa de vestir-se o europeu ou
o seu descendente nos trópicos, de branco ou de roupas
leves, semi-indianas, semi-orientais - estendiam seu arrojo
às suas preferências pelo chope ou pela cerveja leve e
gelada. Cortejando-os, o Hotel Globo publicava seus
anúncios em francês, salientando: ‘Ce magnitique
restaurant offre aux étrangers arrivant à Rio. toutes les
commodités pour Lunch. Dîners. Etc’. Inclusive: ‘cabinets
particuliers pour familles, splendide buvette au rez-dechaussée, boissons glacés.’ Uma das novidades da época,
nos cafés elegantes, foi a representada pelos sifões ‘Prana
Sparklets’, dos quais se dizia que com eles era possível
obter águas gasosas minerais iguais em ação terapêutica
à de Vichy, de Carlsbad ou de Seltz. Os concessionários
dessa suposta maravilha foram, no Rio de Janeiro, Louis
Hermanny & Cia Não haverá, talvez, exagero em dizer-se
que as gasosas e águas minerais concorreram para que
entre a burguesia da época diminuísse o número de vítimas
de águas sujas. isto é, de disenterias e febres tifóides.”
“Os grandes espelhos foram talvez a nota mais
característica de decoração rococó que do interior dos
hotéis - dos seus salões nobres, montados por estrangeiros
-se comunicou às residências, numa fase que se assinalou,
no Brasil, não só no fim do Império como principalmente
no começo da República, pela emergência de barões
improvisados; de novos-ricos; de novos-poderosos; de
novos-cultos; de art nouveau. Todos, um tanto
desorientados quanto ao que fazer com seu dinheiro ganho
de repente...” (FREYRE, 1990:418-19).
Esse cinismo argentário sempre esteve
entranhado em nossa tradição histórica. Um utilitarismo
desmesurado governa o cotidiano das elites e não há
peias que as cerceiem, nem mesmo as da religião, que,
dadas suas características peculiares, adquiridas cá
na terra, como que favorece o referido utilitarismo:
“Pensamos, sobretudo, de um lado, no valor do trabalho
como fim em si mesmo, do respeito pelo próprio corpo, da
família fundada no companheirismo e na educação dos
fIlhos, da moral sexual rigorista; e, de outro, no valor da
autonomia, dos direitos do cidadão, da igualdade real, da
educação republicana, do desenvolvimento espiritual, da
criatividade e da autenticidade. Historicamente, a
modernidade resulta e avança por meio da tensão
permanente entre o conjunto de valores mercantis,
utilitários, propriamente capitalistas, e o outro conjunto
de valores, fundamentados seja religiosa, seja
secularmente. Mais ainda: são os valores modernos não
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O Bucaneirismo no Início da 1ª República: Especulação e Violência
mercantis, não capitalistas que, corporificados em
instituições (a democracia de massas, a escola republicana,
as igrejas, a família cristã etc.), põem freios ao
funcionamento desregulado e socialmente destrutivo do
capitalismo.”
“É esta conjunção marcada por tensões que, como
dissemos, não se configura no Brasil. Isto tem,
evidentemente, profundas raízes históricas, antes de mais
nada no caráter do nosso catolicismo. Como Gilberto
Freyre descreveu em páginas famosas, estamos diante de
um cristianismo inteiramente esvaziado de conteúdo ético.
É essa uma religião utilitária, em que Deus, a Virgem e os
santos vão socorrendo a cada momento, milagrosamente,
a inação dos homens”. (MELLO e NOVAIS, 1998).
A situação provocada pelo crash da bolsa; pelo
fracasso das medidas adotadas pelo sucessor de Rui
Barbosa no 2° ministério do Marechal Deodoro, pela
instabilidade política e militar, que enfrentava rebeliões
e revoltas, como a de 1893, no Rio Grande do Sul, a
Revolta da Armada, o início da Guerra de Canudos,
tudo isso, somado à crise agrícola, obriga o governo a
contrair o primeiro empréstimo da República.
A circulação de notas das emissões bancárias,
juntamente com as do Tesouro, fabricadas pelas mais
diversas companhias, muitas delas sem nenhuma
tradição ou especialização na produção de dinheiro,
favoreciam a fraude e dificultavam a fiscalização e
disso se aproveitavam os finórios de sempre.2
“Pululavam os bancos de emissão e quase diariamente se
viam na circulação monetária notas de todos os tipos,
algumas novinhas, faceiras, artísticas, com figuras de
bonitas mulheres e símbolos elegantes, outras sarapintadas
às pressas, emplastradas de largos e nojentos borrões”.
(Visconde de TAUNAY, 1933:19)
Premido pelo esgotamento de quaisquer
possibilidades de conseguir recursos da receita
ordinária, tendo de enfrentar a revolução federalista
no Rio Grande do Sul, o Governo usa de um artifício
para contornar a falta de autorização do Congresso
para abertura de crédito no exterior: determina que o
Tesouro Nacional assuma, como sua obrigação
principal, uma dívida contraída entre a praça financeira
de Londres e a Companhia Estrada de Ferro Oeste de
Minas, no valor de ≤ 3.710.000.
2
O empréstimo de 1893, entretanto, não resolveu
a situação crítica do país, pelo contrário, os conflitos
regionais adquiriam cada vez maior fôlego, e, quando
um se solucionava aqui, explodia outro acolá, como é
o caso da rebelião do Belo Monte.
Andavam de par com essa violência privada,
que relativizava o tal de monopólio da força, a
legitimação da violência e o caráter especulativo que
formava o espírito e a letra dos da formação histórica
brasileira. Cotidiano marcado por roubalheiras e
marginalização social, bruto, seco, cruel, que edifica
esse capitalismo sem modos que tematiza as melhores
penas dos gênios da raça: “A impunidade é o colchão
dos tempos; dormem-se ahi somnos deleitosos.
Casos há em que se podem roubar milhares de
contos de réis...e acordar com elles na mão”.
(ASSIS, 1938:184-185.)
O mercado internacional estava atento a tudo que dizia
respeito às coisas do Brasil. Quaisquer fatos relevantes,
fossem de ordem econômica ou de ordem política, como
foi o episódio de Canudos ao qual já me referi acima,
provocavam solavancos na cotação dos títulos brasileiros
nos principais mercados. Em uma de suas crônicas sobre
o Conselheiro, na Gazeta de Notícias, Machado de Assis
refere-se ao fato:
“... Esta é a celebridade. Outra prova é o eco de Nova
York e de Londres onde o nome de Antônio Conselheiro fez
baixar os nossos fundos. O efeito é triste, mas vê se tu,
leitor sem fanatismo, vê se és capaz de fazer baixar o
menor de nossos títulos...” (ASSIS, 1938:424).
Noutra crônica machadiana, o cronista revela
em frias lancetadas as virulências deste paraíso tropical
em que as ações de pirataria em tudo se entranham, a
vida pendurada em um capricho, valendo qualquer
coisa, quando vale. Manhuassu se reproduz em
Lençóis, Canudos, Caldeirão, na Anselmada de Franca,
na envergonhada Linchaquara, no Contestado, na
Revolução de 93, nas degolas, nos sangramentos, nas
sevícias, humilhações, estupros, às vezes privados, em
outras oficiais. Mas convido o leitor a continuar
acompanhando o bisturi de Machado:
“Há, pois, alem de outros partidos deste mundo, um partido
Serafim e um partido Costa Mattos”... “A causa do
“Pelo Sr. Dr. Salvador Moniz, juiz do tribunal civil e criminal, foram hontem pronunciados, como incursos nos arts. 239 e 241 do codigo penal,
Antonio Alves de Oliveira e Henrique Rodrigues da Silva, e sómente no art. 241, do mesmo codigo, Maria Joaquina da Silva, por haverem,
como empregados da lithographia Laemmert & C.ª, na rua dos Invalidos, desta capital, fabricado, os dous primeiros em duplicata as cedulas
que servem para a emissão do Banco União de S. Paulo, de cujo preparo se encarregara o mencionado estabelecimento lithographico, e
falsificando a assignatura do chefe da emissão, introduziram-as na circulação, como si verdadeiras fossem, por intermedio de Maria Joaquina
da Silva, que era mãi de Henrique Rodrigues da Silva, a qual, ora com estas notas falsas fazia compras em diversas casas de commercio,
recebendo o troco em boa especie, ora trocava-as sómente ou descontava-as, restituindo os lucros auferidos em dinheiro corrente a Antonio
Alves de Oliveira, afim de fazer-se a divisão entre elles interessados neste negocio”...”No meio de tanta variedade de estampas e de fabrico não
admira que as emissões bancarias encontrem repugnância na população e no commercio, que não póde verificar a veracidade dessa multidão
de bilhetes...” BRASIL – MINISTÉRIO DA FAZENDA – Relatório apresentado ao Vice-Presidente da República pelo Ministro de Estado dos
Negócios da Fazenda Francisco de Paula Rodrigues Alves no anno de 1892, 4° da Republica. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1892. p. 6266.
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José Evaldo de Mello Doin
conflicto parece pequena, vista aqui da rua do Ouvidor,
entre trez e cinco da tarde; mas ponha-se o leitor em
Manhuassú, penetre na alma de Serafim, encha-se da alma
de Mattos, e acabará reconhecendo que as causas valem
muito ou pouco, segundo a zona e as pessoas. O que não
daria aqui mais de uma troca de mofinas, dá carabina e
dynamite em outras paragens.”
“Mas não é só em Manhuassú que se morre de ferro e
fogo. A cidade de Lençóes passou por igual ou maior
desolação. Soube-se aqui, desde o dia 18, que um bando
de clavinoteiros marchava ao assalto da cidade, não só
para tomal-a, como para matar o coronel Felisberto
Augusto de Sá, senador estadoal, e o Dr. Francisco Caribé.
O governo da Bahia mandou duzentas praças em soccorro
da cidade. Tarde haverá chegado o soccorro, se chegou; o
assalto deu-se a 17, entrando pela cidade os clavinoteiros
capitaneados por José Montalvão. Escaparam Felisberto
e Caribé, no meio de grande carnificina...”
(ASSIS,1938186-187).
Fincada no caráter autárcico e particular dos
domínios fazendeiros, essa formação quadrilheira e
desassombrada de nossa elite se espraia pelo urbano,
gerando essa sarabanda de maltas armadas até os
dentes, prontas para os entreveros clânico-parentais
ou para garantir as chicanas, falsificações e grilagens,
ou para o assalto à bolsa alheia. (VIANNA,1974:1079 e 170-174).
O estro machadiano não dispensa a fina ironia
para sorrir de nossa pequenez e selvageria, além de
perceber a tessitura entre barbárie e apropriação
pecuniária:
“Tempo virá em que Manhuassú e Lençóes vejam as suas
notas de 100$ e 200$ andarem de Herodes para
Pilatos”...”Ouvirão dizer que por serem falsas, - ou (resto
de naturalismo) falças e até farsas. Terão os seus inqueritos,
os seus bilhetes de camarote de theatro, a perpétua
escuridão do negócio, que é o peor”...”As notas falsas de
Lençóes e Manhuassú não sairão do puro
mysterio”...”Creio que disse mysterio, em vez de ocultismo,
que define melhor este genero de recreação”.
Conturbada pela ressaca do Encilhamento, pelas
crises institucionais e rebeliões sem conta, a frágil
estrutura financeira da Nação não tinha como se
escorar já que o café sofria com as pressões baixistas
que anunciavam problemas de superprodução,
refletindo-se no descenso do câmbio e na carestia
provocada pelo ambiente inflacionário.
2 O Primeiro Funding Loan Scheme
Avizinha-se
Com uma série de compromissos a serem
solvidos no exterior e um passivo que não podia ser
coberto pelas parcas receitas então obtidas, tornou-se
imperativo o recurso aos empréstimos no exterior para
126
cobrir o déficit orçamentário. Foi contratado, portanto,
o empréstimo externo. Com esse empréstimo, o
montante da dívida externa brasileira subiu a ≤
35.706.700, em 31 de dezembro de 1895.
Embora o Ministro Bernardino de Campos, em
seu relatório de 1898, se mostrasse indignado com a
utilização do boato como forma de se especular com
os títulos da dívida externa, após referir-se à situação
precária das finanças nacionais, a situação do país
realmente era para inquietar seus credores: “A
especulação, não contente com os golpes infligidos
ao credito nacional no exterior, inventou mais a
arma – o boato falso da imminencia de suspensão
do pagamento da divida externa...” (BRASIL,
1946:16.).
A burguesia bucaneira, quando da crise que
atingiu o complexo cafeeiro em 1896 (SAES,1981:243258), deu uma prova da extrema agilidade e capacidade
de ocultamento do andamento dos seus negócios,
principalmente em momentos de crise, fazendo com
que sua versão dos fatos chegasse rapidamente nos
mercados internacionais, como fica claro nesta notícia
de 3 de novembro de 1896, veiculada pelo jornal O
Estado de São Paulo:
“No dia immediato o Times publicou o seguinte telegramma
da Associação Commercial do Rio de Janeiro:”
“‘O comitê da Associação Commercial do Rio de Janeiro,
representando officialmente a classe dos commerciantes,
tendo sciencia que vos telegrapharam que uma moratoria
fora proposta aqui em seu proveito, deseja dar-vos a
garantia de que é inteiramente extranha a essa
proposta”...”O comitê deseja tambem dar-vos a garantia
que a situação commercial, embóra difficil, não justifica
as noticias exaggeradas transmittidas á Europa. Esta
mensagem vos é dirigida com approvação unanime da
assembléa que acaba de realizar-se’” (O ESTADO DE
SÃO PAULO. 3/11/1896:1).
Nesta mesma fonte, pode-se detectar o nível
de sofisticação alcançado pelo “lobby” internacional
ligado aos interesses dos cafeicultores. O Estado
transcreve uma notícia publicada num jornal belga que
evidencia, por si mesma, ter sido “plantada” pelos
prepostos dos grupos que se articulavam em torno dos
negócios financeiros e na exportação do café:
“Julgavamos que o periodo das noticias falsas tinham
passado, e que os malevolos, diante da actividade
commercial e dos progressos de todos os dias tinham
entregado armas. Nada disso, e a noticia do
correspondente do Times, publicada por esse jornal, no
intuito de lançar o descredito nos valores brasileiros nos
principaes mercados europeus”...”telegrammas officiaes
e particulares chegaram sem demora a todas as praças e
a todas as bolsas da Europa, desmentindo categoricamente
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O Bucaneirismo no Início da 1ª República: Especulação e Violência
essa noticia”...”do Brasil”...”Cinco casas em tudo e por
tudo suspenderam os seus pagamentos e entraram em
arranjos com seus credores. O passivo dessas cinco casas
reunidas attinge apenas á somma de 1.600 contos, isto é,
cerca de 1.000.000 francos de nossa moéda, somma
relativamente bem insignificante diante das immensas
transacções, que se fazem diariamente na praça do Rio de
Janeiro. Vê-se, pois, que estamos bem longe das 300
fallencias annunciadas!” (O ESTADO DE SÃO PAULO.
3/11/1896:1)
No afã de justificar-se perante o mercado
financeiro internacional, o “lobby” ressalta um detalhe
do complexo empresarial, que reeditava elementos
essenciais do trato dos viventes no período anterior,
engordava as algibeiras no negócio de vender gente,
agora voltado para a introdução da mão-de-obra
imigrante no interior do Brasil e o conúbio entre os
interesses particulares e os recursos do Estado, cujos
limites se assentavam apenas na necessidade de
equilibrar as despesas públicas, para ampliar as
garantias face ao passivo externo e à clientela dos
títulos nacionais nos principais mercados estrangeiros:
“Nunca se tractou, pois, de moratoria; o governo que
desenvolve incansavel vigilancia e quer vir em auxilio de
seus administrados, esforça-se em melhorar dia a dia a
situação financeira e economica do paiz”...”Entre as
ultimas medidas que tomou, devemos citar em primeiro
logar a nova regulamentação do serviço de immigração.
Como se sabe, o governo da União tinha assignado um
contracto com a Companhia Metropolitana para a
introducção de um milhão de immigrantes. Esse contracto
custava ao governo do Brasil sommas
enormes”...”150.000 immigrantes já tinham sido
introduzidos por essa companhia; faltavam ainda
850.000"...”a União rescindiu o seu contracto com a
Metropolitana”...”A União realisa, pois, com esse facto
consideravel economia”...”contando-se 167 francos 50
centimos por cabeça de immigrante, somma que se
comprometeu a fazer á Metropolitana só para as
passagens, ella exonerada de uma somma de 125.625.000
francos!” (O ESTADO DE SÃO PAULO,3/11/1896:1).
Para se ter uma compreensão desse gigantesco
esforço do Governo Federal de garantia de recursos
para o trato de imigrantes, basta observar-se que, no
final desta primeira década republicana, houve uma
transformação no destino dessas levas que por cá
desembarcavam. São Paulo, na esteira das exigências
do coffee business por contingentes cada vez maiores
de trabalhadores, assume a dianteira, com a italianada
formando uma massa esmagadoramente predominante.
(BELLO, 1983:192; CANO, 1977:115; DELFIN
NETTO,1981:48ss.).
A crise batia forte em todos os setores. Prudente
não teve outra saída a não ser negociar o “funding
scheme” para aliviar a situação crítica das finanças
Rev. Humanidades, Fortaleza, v. 17, n. 2, p. 120-129, ago./dez. 2002
ou numa leitura mais sutil, como o café não estava
respondendo à manutenção do câmbio, devido à queda
de suas cotações, o país não tinha como honrar seus
compromissos.
Entretanto, se o descalabro das finanças dos
Estados e da União amancebavam-se com o período
mais agudo da queda dos preços internacionais do café,
numa economia fragilizada pela ressaca provocada pela
queda da bolsa e transformação em pesadelos, dos
rutilantes sonhos do encilhamento, crise esta
agravada pelas lutas fratricidas que se estendiam do
Morro da Favela, no sertão Baiano, às pradarias do
fronteiriço Rio Grande, não se pode olvidar que esse
estrangulamento, que tornou o país inadimplente, era
apenas uma pequena convulsão frente à expansão
ocorrida nos últimos 50 anos do século XIX, em que o
setor mais dinâmico da economia quintuplicou.
(FURTADO, 1998, passim)
No rastro dessa expansão, multiplicaram-se os
negócios e as negociatas. Homens encarregados de
pôr ordem na casa, por missão conferida e dever de
função, são os primeiros a locupletarem-se nas
benesses e facilidades do cargo. A proximidade da
bancarrota torna-se cada vez mais real e o estado verga
sob os compromissos e os avais dados a tudo quanto
era tipo de negócio, notadamente o
ferroviário.
O Ministro da Fazenda Bernardino de Campos
concerta, com os credores, um acordo financeiro que
será formalizado e cumprido no governo seguinte de
Campos Salles, conforme recorda o noticiário do jornal
O Estado de São Paulo de 19 de janeiro
de 1915:
“...tomou o dr. Bernardino diversas providencias,
como sejam: a) tractou de demonstrar a necessidade
da organização economica do paiz em suas
verdadeiras bases; b) promoveu medidas para o
equilibrio orçamentario”...”Para pô-las em execussão
o dr. Bernardino effectuou o accordo financeiro
(funding loan) de 15 de Junho de 1898..”(O ESTADO
DE SÃO PAULO, 19/01/1915:1).
A bancarrota financeira e a desorganização do
complexo exportador cafeeiro tornam-se evidentes no
biênio 1897/98. Campos Sales será emparedado por
esses dois complicadores e pela necessidade de cumprir
a agenda firmada com o funding scheme, tendo sido
quase que intimado pelos Rothschilds, quando de sua
viagem à Europa, a cumprir uma severa agenda de
restrições nos gastos governamentais que levaria a
127
José Evaldo de Mello Doin
economia brasileira a sofrer um agudo processo
recessivo.3
testemunhos e vestígios do passado que se quer, mais
do que esquecido, reinventado e idealizado.
Campos Sales embarcara para a Europa com o
firme propósito de ceifar, com mais veemência até que
a de seus sequiosos credores, os gastos e reduzir
radicalmente o déficit do Tesouro e o meio circulante.
Imbuído desse desiderato, não se pejou de responder
afirmativamente aos reclamos dos seus agentes
londrinos,4 tranqüilizando-os e facilitando assim o
processo de renegociação do passivo do país.
Dessa sanha não escapa nem as cidadezinhas
do nosso Oeste, barbaramente conquistado pelos rudes
machados do exército de paulistas e as primeiras ruas
que nele surgem – as dos cafeeiros – geométrica e
racionalmente plantados, assim como, à guisa de
bulevares, os seus carreadores, por onde passam os
primeiros tratores, os primeiros omnibus, os primeiros
Fords e Packards. O café traz consigo a
fantasmagoria do progresso e seus beneficiários estão
gulosos dos símbolos da modernidade.
3 As Transformações Urbanas e a Cultura
Bucaneira
Várias vezes reincidente no hábito de desfocar
as idéias de seu lugar, a sociedade brasileira recria, a
cada passo, seus próprios caminhos, frutos de sua
original e perversa trajetória de crescimento, onde o
novo sofre envelhecimento precoce, sem mesmo ter
disponível o tempo necessário para tornar-se tradição.
Embora não perdendo suas características
essenciais de predadores, muitas vezes sanguinários,
os novos membros das elites citadinas civilizam-se,
tornam-se exigentes, não medem esforços nem
recursos pecuniários (que sacam, não de seus nutridos
alforges, mas da cornucópia dos Tesouros da União,
dos Estados e até das Municipalidades) para rasgar
avenidas, iluminar logradouros, construir praças,
derribar habitações precárias, edificar afrancesados
palácios e vivendas na estética eclética que prima pela
ausência de estilos.
A Manaus da borracha se engalana toda com
seu belo teatro, com os calçamentos desenhados de
suas praças, assim como Belém, Fortaleza, Recife,
Porto Alegre, Florianópolis, a Capital Federal, todas
envoltas na névoa das poeiras levantadas pelas
derribadas dos velhos casarões em ruínas, pelos
Uma busca desenfreada para afastar as imagens
do atraso recrudesce o afrancesamento da elite, tanto
daquela dos grandes centros, como a que vicejava na
constelação urbana nascida no rastro da rubiácea.
Tanto o sonho do carioca de ver o Rio ser transformado
na Paris-sur-mer (PESAVENTO, 1999:172.) movia
pás e picaretas, como o derrame do dinheiro público
fazia o regalo dos empreiteiros e especuladores.
Enfim, o poder manter-se-á restrito aos de
sempre e a fabricação de excluídos amplia-se e se
sofistica cruelmente. Uma perversa multiplicação de
opressões desencadeia-se, o oprimido reinventa a
opressão, alargando ainda mais, aprofundando ainda
mais o gigantesco fosso da miséria e do apartheid
econômico. A república dos apaniguados se entroniza,
como o irado tribuno Sílvio Romero revela, forçando a
mão e as tintas:
“Por toda a parte campeiam o filhotismo, a denegação da
justiça, o desconhecimento de direito aos adversários, a
opressão das oposições, a impunidade dos amigos e
correligionários, as malversações de toda a casta, os
desfalques nas rendas pública”...” Tudo isto escorado em
duas fortes alavancas: uma delas, empréstimos e mais
empréstimos do estrangeiro, sob todas as formas e com
todas as humilhações, inclusive a de hipoteca das rendas
das alfândegas, e, em vários casos, a presença de
“Londres, 2 de junho de 1898. A S. Ex. o Sr. Dr Campos Salles”.
“Um projecto proveniente de um grupo de bancos commerciaes no Rio foi approvado pelo governo brasileiro e consiste, como bem sabe V. Ex.,
em consolidar os coupons dos differentes emprestimos do Estado e das estradas de ferro garantidas, em um fundo garantido por hypotheca
sobre as rendas da alfândega do Rio e de outros portos do Brasil. Ainda que lastimemos vivamente uma suspensão dos pagamentos em espécies,
julgamos util recommendar este projecto aos portadores de titulos brasileiros, e esperamos que elles o acceitarão”...”Ousamos, pois esperar que
V. Ex. dignar-se-há de dar-nos por carta a segurança de que approva inteiramente este plano, e que tambem usará de toda a sua influencia e de
toda a sua autoridade para que o accordo seja posto em execução em todos os seus detalhes, o que é não só necessario para o estabelecimento
do credito do Brasil, mas é preciso saber desde já tomar providencias energicas e reduzir em todas as secções governamentaes as despezas que
até o presente têm sido accumuladas em uma escala muito além dos recursos e meios do paiz.”...”N.M. ROTHSCHILD AND SONS. Apud
BRASIL - PRESIDENCIA DA REPUBLICA. Manifestos e Mensagens do Excelentissimo Snr. Presidente da Republica dos Estados Unidos do
Brasil, Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles. Rio de Janeiro: Imprensa Official, 1902. P.273
4
“Londres, 6 de junho de 1898.
Srs. Rothschild & Filhos”… “A cominação proposta por diversos banqueiros, á qual fazeis allusão, e que tem por objecto consolidar os
coupons dos differentes empréstimos da União e garantias de juros das estradas de ferro, será, além da realisação dos seus intuitos, o inicio de
uma ação administrativa, que seguramente produzirá resultados satisfatórios sob o ponto de vista financeiro. Minha própria responsabilidade
está ligada a este accordo, como haveis testemunhado, e eu vos posso assegurar que durante o próximo período presidencial o governo
brasileiro terá o mais particular empenho em dar-lhe inteira e plena execução. Estou convencido de que, uma vez firmado o accordo, seguindose-lhe as medidas complementares que serão tomadas pela administração, entre as quaes figurará em primeiro logar um plano de severa
economia, a solução financeira estará encaminhada...”. Apud BRASIL - PRESIDENCIA DA REPUBLICA. Manifestos e Mensagens do
Excelentissimo Snr. Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles.Op. Cit. P. 274-75.
3
128
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O Bucaneirismo no Início da 1ª República: Especulação e Violência
funcionários estranhos, como sentinelas à vista!... nas
repartições a fiscais (sensação).”
A outra, grupos de bandidos organizados, como
forças aliadas dos oligarcas, obedientes às suas ordens,
mantendo o terror onde este se faz
mister”...”Percorre-se o país inteiro. Nada se encontra
nele de novo, além da negrura e da desfaçatez das
oligarquias...” (ROMERO, 1979:200-202).
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Data do Aceite: 15/03/2002
129

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