- workshop plantas medicinais
Transcrição
- workshop plantas medicinais
FA 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar Efeitos da exposição aguda ao óleo extraído da polpa da Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. em ratos Wistar 1* 2 2 2 3 Giseli K. Traesel , Silvia A. Oesterreich , Cândida A. L. Kassuya , Rozanna M. Muzzi , Arielle C. Arena . 1 2 3 Universidade Federal da Grande Dourados (PG); Universidade Federal da Grande Dourados (PQ); Universidade Estadual Paulista (PQ).E-mail: [email protected] RESUMO O óleo de Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. apresenta elevados teores de ácidos graxos monoinsaturados e compostos antioxidantes, sendo utilizada na alimentação. Devido ao uso etnofarmacológico dessa planta como antidiabético e a escassez de estudos sobre a toxicidade da espécie, o presente estudo objetivou avaliar o perfil toxicológico da A. aculeata, através de testes de toxicidade aguda. Ratos Wistar, fêmeas, nulíparas e não prenhas, receberam por gavage 2000 mg/kg do óleo extraído da polpa da A. aculeata (OPAC) para o teste de toxicidade aguda. Não se observou letalidade, alterações comportamentais ou alterações macroscópicas nos órgãos dos animais expostos a dose de 2000 mg/kg, indicando que a DL50 é considerada superior a esta dose. Estes resultados demonstram a ausência de toxicidade aguda após exposição oral ao óleo de A. aculeata em ratos. Entretanto, outros estudos devem ser conduzidos para avaliar a total segurança desta planta para o consumo humano. Palavras-chave: Screening hipocrático, DL50, bocaiúva. INTRODUÇÃO Produtos de origem natural têm sido alvo de inúmeros estudos para obtenção de moléculas ativas com potencial utilidade terapêutica. O uso de plantas com propriedades fitoterápicas tem aumentado em razão da crença de que tudo que é “natural” não causa efeitos adversos à saúde (Oliveira et al., 2011). No entanto, poucas espécies selecionadas para uso medicinal foram estudadas química, toxico ou farmacologicamente (Reyes-Garcia, 2010; Melo et al., 2011) para avaliar sua segurança e eficácia. Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart., conhecida popularmente como bocaiúva ou macaúba, é uma planta que possui vasta abrangência geográfica, podendo ser encontrada em abundância no centro-oeste brasileiro, especialmente em Mato Grosso do Sul. É uma palmeira que atinge até 15 metros de altura e possui frutos esféricos, de coloração verde amarelados, que são comestíveis e de aroma agradável (Lorenzi, 2006). 2 A polpa obtida do fruto da A. aculeata é amplamente utilizada pela população para diversos fins. Há relatos de uso alimentício, cosmético, na geração de combustível e ainda na medicina popular (Ramos et al., 2008). Seus usos medicinais mais comuns são como fortificante, analgésico - em especial para dores de cabeça e nevralgias, no controle do colesterol total e sobre os níveis de glicose sérica, como laxante e para o tratamento das afecções das vias respiratórias (Lorenzi, 2006). Em relação à composição química da polpa da A. aculeata, análises realizadas em cromatografia líquida de alta eficiência e coluna aberta apontam elevados teores de βcaroteno (Ramos et al., 2008; Sanjinez-Argandoña & Chuba, 2011; Rocha et al., 2013), αtocoferol (Coimbra & Jorge, 2011, 2012) e ácido oleico (Amaral et al., 2011). Mesmo sendo amplamente utilizada pela população e com constituição química favorável para fins nutricionais e medicinais, poucas informações estão disponíveis na literatura sobre efeitos tóxicos ou terapêuticos desta espécie. Dessa forma, o objetivo deste estudo é avaliar o efeito da exposição ao óleo extraído da polpa da A. aculeata em modelo experimental de toxicidade aguda. Essas informações podem contribuir para a utilização dessa espécie na medicina tradicional de forma segura, ao mesmo tempo em que dá suporte para futuros testes de estudo de mecanismo de ação ou de atividade farmacológica. MATERIAL E MÉTODOS Animais: foram utilizados 10 ratos (Rattus norvegicus, variedade Wistar), fêmeas, de 8 a 12 semanas, com peso inicial entre 190 e 210 g, fêmeas nulíparas e não prenhes, fornecidos pelo Biotério da Universidade Federal da Grande Dourados. Os animais foram mantidos em gaiolas de polipropileno, com temperatura (22 ± 2º C), umidade (40-60 %) e luminosidade (ciclo claro-escuro de 12 horas) controladas, recebendo ração comercial padrão e água ad libitum. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal da UFGD, sob protocolo n° 028-2013, em 29 de outubro de 2013. Avaliação da toxicidade aguda: o estudo foi baseado no protocolo da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) – Guidelines 425 (OECD, 2008). O óleo da polpa da A. aculeata (OPAC) foi administrado, na dose de 2000 mg/kg, via gavage, a uma única rata fêmea, com jejum prévio de 8 horas. Sequencialmente, com intervalos de 48 horas, a mesma dose foi administrada a mais quatro ratas fêmeas, totalizando cinco animais tratados (Grupo OPAC 2000 mg/kg). Em paralelo, um grupo de cinco fêmeas foi 3 tratado com o veículo (solução salina com Tween® 80 2% - Grupo Controle), a fim de estabelecer um grupo comparativo de controle negativo. Os animais foram observados periodicamente durante as primeiras 24 horas após a administração do óleo e, posteriormente, uma vez ao dia durante 14 dias. Foram analisados os cinco parâmetros do screening hipocrático sugeridos por Malone & Robichaud (1962): 1.Estado consciente (atividade geral); 2.Atividade e Coordenação do Sistema Motor e Tônus Muscular (resposta ao toque e ao aperto de cauda, endireitamento, força para agarrar); 3.Reflexos (auricular e corneal); 4.Atividades sobre o Sistema Nervoso Central (tremores, convulsões, straub, sedação, anestesia e ataxia) e 5.Atividades sobre o Sistema Nervoso Autônomo (lacrimação, cianose, ptose, salivação e piloereção). O consumo hídrico, de ração e o peso corporal também foram registrados diariamente. No final do período de observação, todos os animais foram submetidos à eutanásia por agente inalatório – isoflurano (CONCEA, 2013) seguido de laparotomia. Os órgãos (coração, pulmão, baço, fígado, rim, útero e ovário) foram retirados, pesados e analisados macroscopicamente. Análise Estatística: os resultados foram expressos como média ± erro padrão da média. Utilizou-se análise de variância (one-way ANOVA) seguida de teste “a posteriori” o teste “t” de Student. Adotou-se nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Apesar da grande aceitação das plantas medicinais pela população, poucos estudos científicos têm sido realizados para verificar os possíveis efeitos adversos que estas podem causar ao organismo. Para determinar a segurança de medicamentos e produtos naturais destinados ao consumo humano, é necessário realizar estudos toxicológicos sistemáticos para assim determinar a toxicidade e estabelecer critérios para a seleção de uma dose segura (Farsi et al., 2013). A diminuição do peso corporal dos animais é um indicativo claro de danos causados pela substância teste. Já o screening hipocrático fornece uma estimativa geral da natureza farmacológica e toxicológica da substância testada (Lucio et al., 2000). Após a realização do teste de toxicidade aguda, a dose de 2000 mg/kg (limite do teste - OECD, 2008) do OPAC não ocasionou a morte de nenhum animal. As ratas expostas não apresentaram mudanças comportamentais durante o período de tratamento, bem como não houve alteração no consumo de água e ração e evolução ponderal, em comparação ao grupo controle (Tabela 1). 4 A análise macroscópica qualitativa dos órgãos extirpados não indicou alterações visíveis bem como não houve diferença estatística entre os pesos relativos dos órgãos nos grupos tratado e controle (dados não mostrados). Esse conjunto de informações evidencia a baixa toxicidade do óleo. Dessa forma, pelo método de classes preconizado pelas diretrizes da OECD, o óleo testado enquadra-se na Classe 5 (substância com DL50 superior a 2000 mg/kg), sendo considerado de baixa toxicidade (OECD, 2008). Conclui-se que o óleo extraído da polpa da A. aculeata, nestas condições experimentais, não apresenta toxicidade após exposição aguda e que sua DL50 é superior a 2000 mg/kg. Os dados obtidos nesse estudo são relevantes já que asseguram o uso de uma espécie de grande importância econômica e medicinal para a população. No entanto, mais estudos devem ser realizados para avaliar demais aspectos da toxicidade, como a toxicidade em longo prazo (90 dias/1 ano), toxicidade reprodutiva e genotoxicidade. Tabela 1. Consumo de água, ração e evolução ponderal das ratas tratadas com o óleo da polpa da A. aculeata (OPAC) após exposição aguda e respectivo controle. Grupos Consumo de Consumo de Experimentais água (mL) ração (g) 196,42 ± 24,44 201,42 ± 25,22 OPAC 2000 mg/kg Controle Peso Corpóreo Ganho Ponderal (%) Inicial (g) Final (g) 124,21 ± 7,27 200,0 ± 8,21 228,4 ± 14,95 14,22 ± 8,46 130,21 ± 6,70 200,6 ± 8,08 223 ± 13,69 11,14 ± 4,51 Valores expressos em média ± erro padrão da média. Os animais (n=5/grupo foram observados por 14 dias. p≥ 0,05 (ANOVA/Teste “t” de Student) AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS Amaral FP, Broetto F, Batistell, CB, Jorge SMA. Extração e caracterização qualitativa do óleo da polpa e amêndoas de frutos de Macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq) Lodd. ex 5 Mart] coletada na região de Botucatu – SP. Revista Energia na Agricultura v. 26, p. 1220, 2011. Coimbra MC, Jorge N. Proximate composition of guariroba (Syagrus oleracea), jerivá (Syagrus romanzoffiana) and macaúba (Acrocomia aculeata) palm fruits. Food Research International v. 44, p. 2139-2142, 2011. Coimbra MC, Jorge N. Fatty acids and bioactive compounds of the pulps and kernels of Brazilian palm species, guariroba (Syagrus oleraces), jerivá (Syagrus romanzoffiana) and macaúba (Acrocomia aculeata). Journal of the Science of Food and Agriculture v. 92, p. 92: 679-684, 2012. CONCEA – Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal. 2013. Resolução Normativa N - 13. Farsi E, Shafaei A, Hor SY, Ahamed MB, Yam MF, Asmawi MZ, Ismail Z. Genotoxicity and acute and subchronic toxicity studies of a standardized methanolic extract of Ficus deltoidea leaves. Clinics v. 68, p. 865-875, 2013. Lorenzi GMAC. Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. – Arecaceae: bases para o extrativismo sustentável. Tese (Doutorado em Ciências Agrárias): Curitiba, 2006. Lucio EMRA, Rosalen PL, Sharapin N, Souza Brito ARM. Avaliação toxicológica aguda e screening hipocrático da epilsopilosina, alcalóide secundário de Pilocarpus microphyllus Stapf. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 9, p. 23-25, 2000. Malone MH, Robichaud RC. A Hippocratic screen for purê or crude drug materials. Llordya 25: 320-331, 1962. Melo JG, Santos AG, Amorim EL, Nascimento SC, Albuquerque UP. Medicinal plants used as antitumor agents in Brazil: an ethnobotanical approach. BMC Complementary and Alternative Medicine v. 2011, n. 14, 2011. OECD – Organisation for Economic Cooperation and Development. Guidelines for Testing of Chemical. Acute oral toxicity - Up-and-down-procedure. 2008a. OECD (Ed.): Paris. Oliveira AKM, Oliveira NA, Resende UM, Martins PFRB. Ethnobotany and traditional medicine of the inhabitants of the Pantanal Negro sub-region and the raizeiros of Miranda 6 and Aquidauna, Mato Grosso do Sul, Brazil. Brazilian Journal of Biology v. 71, p. 176179, 2011. Ramos MIL, Ramos Filho MM, Hiane PA, Braga Neto JA, Siqueira EMA. Qualidade nutricional da polpa da bocaiúva Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. Food Science and Technology v. 28, p. 90-94, 2008. Reyes-García V. The relevance of traditional knowledge systems for ethnopharmacological research: theoretical and methodological contributions. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine v. 6, n. 32, 2010. Rocha MS, Figueiredo RW, Araújo MAMA, Moreira-Araújo RSR. 2013. Physical and chemical characterization and antioxidant activity (in vitro) of fruit of the Piaui savanna. Revista Brasileira de Fruticultura v. 35, n. 4, 2013. Sanjinez-Argandoña EJ, Chuba CAM. 2011. Biometrical, physical and chemical characterization of bocaiuva (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart) Palm fruits. Revista Brasileira de Fruticultura v. 33, n. 3, 2011.