O Zeppelin em São João del-Rei - MG

Transcrição

O Zeppelin em São João del-Rei - MG
José Antônio de Ávila Sacramento
www.patriamineira.com.br
O ZEPPELIN EM SÃO JOÃO DEL-REI
José Antônio de Ávila Sacramento
Os Zeppelins foram aeróstatos formidáveis que possuíam propulsão própria e dirigibilidade. No
início do século XX, o conde alemão Ferdinand Adolf Heinrich August Graf von Zeppelin
(Constança, 8 de julho de 1838 - Berlim, 8 de março de1917) construiu vários aparelhos que
foram batizados com o nome dele, e que seriam usados como plataformas para armas de
bombardeio durante a Primeira Guerra Mundial. Terminada a guerra, tais aeronaves receberam
adaptações para servir ao transporte de passageiros, realizando, no início da década de 1930, os
seus primeiros voos transatlânticos.
Ficou muito conhecido o maior dirigível da categoria e que levou o nome de LZ 129
Hindenburg, tendo ele sido intensamente utilizado como propaganda nazista. O Hindenburg teve
um final trágico: em 06 de maio de 1937, com seus 04 motores Mercedes Bens de 1.200 cavalos
cada, 245 metros de comprimento, hélices de 6 metros de altura, mais de 200 mil metros cúbicos
de hidrogênio (gás altamente inflamável) e autonomia para cerca de 16.000 km de voo, vindo da
Alemanha, ao atracar na cidade de Nova Jersey incendiou-se e 35 dos seus 97 ocupantes
morreram, além de mais um técnico que estava no solo. É interessante saber que do nome do
dirigível originou até mesmo o nome de uma famosa banda de rock britânica, a Led Zeppelin; foi
o baterista do conjunto The Who, Keith Moon, que ao ouvir a banda tocar, observou que ela
produzia um som alto, pesado feito chumbo, assim como se fosse um "zeppelin de chumbo", daí
o nome original da banda ser "Lead Zeppelin" (ou seja, "Zeppelin de Chumbo"), depois "Led
Zeppelin", sem o “a” para não haver dúvidas quanto à pronúncia certa.
Entre os anos de 1930 e 1936, o Zeppelin esteve periodicamente no Brasil, totalizando cerca de
147 viagens, ocasião em que sobrevoou várias cidades. Tais viagens foram inauguradas no dia
22 de maio de 1930, quando um imenso dirigível D-LZ127, prateado, proveniente da base de
Friedrichshafen (Alemanha), sobrevoou os céus de Recife-PE depois de um voo non-stop (que
não incluiu qualquer tipo de parada ou pouso durante a viagem) conduzido pelo comandante
Hugo Eckener desde Sevilha (Espanha). Devido ao formato. o dirigível acabou sendo apelidado
pelos brasileiros de "Charuto" ou a ele se referiam também como um tal de "Zé Pélim".
Há uma antiga fotografia em que um dos Zeppelins se apresenta em São João del-Rei,
sobrevoando a região da Capela da Santa Casa e do Colégio Nossa Senhora das Dores (vide a
imagem no final deste texto). Certa vez eu vi o original desta foto com o fotógrafo Maurício
Malta Teixeira, o popular "Popó". Depois, tive acesso a outras cópias da imagem, sendo que uma
dessas eu reproduzi e, em julho de 2010, postei-a no site www.patriamineira.com.br. Assim, a
fotografia acabou por despertar muitos comentários, inclusive gerando algumas suspeitas de que
poderia se tratar de uma fotomontagem, posto que as pessoas nunca tinham ouvido falar e nem
mesmo acreditavam que o Zeppelin poderia ter passado por sobre a cidade de São João del-Rei.
No entanto, com o decorrer tempo, uma por uma as dúvidas foram caindo por terra. No ano de
2009, eu mostrei a fotografia e perguntei ao prof. José Pedro Leite de Carvalho sobre a possível
passagem do dirigível por aqui, e ele me respondeu: "eu já vi esta foto! Eu não vi o aparelho
passar, mas muita gente já me disse que ele passou aqui". Em 18 de setembro de 2010, o prof.
Oyama de Alencar Ramalho sondou do major Cleto Pellegrinelli (nascido no ano de 1921) se ele
saberia de alguma coisa a respeito do assunto, e a resposta veio certeira: "eu vi o Zeppellin
passar!". Tutti Fonseca, personalidade muito conhecida na cidade e um dos criadores dos blocos
carnavalescos "Lesma Lerda" e "Vamos a la Playa", confidenciou-me que o pai dele, o sr. Waldir
Fonseca (nascido no ano de 1911), já lhe disse que "viu o Zeppelin sobrevoar São João del-Rei".
São João del-Rei - Minas Gerais - Brasil
José Antônio de Ávila Sacramento
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A senhora Lucy Torres, são-joanense atualmente radicada em Goiânia-GO, também declarou que
"viu o dirigível passar por aqui". O sr. Antônio do Valle é outra personalidade que nos disse que
"quando estudava no Curso Anexo, ouviu muitos comentários sobre a passagem do aparelho por
São João del-Rei". Para completar, o jornal satírico são-joanense "A Sentinella", ano I, em sua
edição datada de 07 de outubro de 1934 (fotodigitalização pertencente ao acervo do sr. Silvério
Parada), também trouxe interessantes comentários a respeito da passagem do dirigível pela nossa
cidade, registrando inclusive que "era grande a massa de povo, que se acotovelava no campo de
aviação, aguardando a chegada do Zéppelin, quando um barulho peor do que o do grizú do
Caxangá, cortou os ares e um bizorrão do tamanho do prédio do Lombardi foi visto".
Desta forma, fica registrado para os leitores do Jornal de Minas e como subsídio para a história
de São João del-Rei mais este histórico episódio que ainda é quase desconhecido. Muito
possivelmente, o dirigível teria sobrevoado as terras são-joanenses quando a "Luftschiffbau
Zeppelin" passou a operar voos para Buenos Aires, a partir de meados de 1934, data que
coincide com o registro do jornal "A Sentinella". Sabe-se que era costume que os dirigíveis
desviassem um pouco das suas rotas e que baixassem da altitude de cruzeiro (3.000 pés) para
1.000 ou até mesmo para 300 pés com a finalidade de que os seus passageiros, em panorâmicos
voos rasantes, pudessem observar a paisagem de algumas cidades através das envidraçadas
janelas das suas confortáveis gôndolas. O fato de o Zeppelin ter sobrevoado São João nos
evidencia que esta urbe, no contexto dos anos 1930, possivelmente tenha sido bem mais
importante e famosa do que ainda é hoje.
Nota: Este texto foi publicado originalmente no Jornal de Minas (São João del-Rei - MG, ano XV,
edição número 255, pág. 2, de 27/03 a 04/04/2015), periódico editado por Neudon Bosco Barbosa.
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