A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA EM PAUTA NA TV O - Piim-Lab
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A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA EM PAUTA NA TV O - Piim-Lab
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS LEILA APARECIDA ANASTÁCIO A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA EM PAUTA NA TV O discurso de divulgação científica e o processo de indexação de programas televisivos Belo Horizonte Dezembro de 2013 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS LEILA APARECIDA ANASTÁCIO A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA EM PAUTA NA TV O discurso de divulgação científica e o processo de indexação de programas televisivos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagens. Linha de pesquisa: Leitura, Processos Discursivos. Escrita e Orientadora: Prof. Drª. Giani David-Silva Coorientador: Prof. Dr. Flávio Luis Cardeal Pádua Belo Horizonte Dezembro de 2013 FICHA CATALOGRÁFICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE LINGUAGEM E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS Dissertação intitulada: “A ciência e a tecnologia em pauta na TV: o discurso de divulgação científica e o processo de indexação de programas televisivos”, de autoria da mestranda Leila Aparecida Anastácio, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: Profa. Dra. Giani David-Silva (Orientadora) – CEFET-MG Prof. Dr. Flávio Luis Cardeal Pádua (Coorientador) – CEFET-MG Prof. Dr. Jerônimo Coura Sobrinho – CEFET-MG Profa. Dra. Lacy Varella Barca de Andrade – UNESA – RJ e EBC Brasil Dedico à minha querida mãe Fátima e aos meus irmãos, Lidiane e Leandro. AGRADECIMENTOS Aos meus familiares, pelo apoio e compreensão nesse período dedicado ao mestrado. Eu amo muito todos vocês. Ao tio Urbano e à tia Délia, pelo acolhimento e incentivo aos estudos. À Ingrid, que sempre me proporciona muitas alegrias. Ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens do CEFET-MG, pela grande oportunidade. Aos professores, pela rica troca de conhecimentos e à equipe da Secretaria do POSLING. Aos colegas do mestrado, que no período das disciplinas contribuíram com suas experiências acadêmicas e profissionais. Uma turma de formação multidisciplinar, que dificilmente será esquecida. À professora Giani David-Silva, pela orientação, incentivo e por acreditar na proposta. Ao CAPTE, pela oportunidade de participar de um projeto de pesquisa inovador. À Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), pela oportunidade de crescer acadêmica e profissionalmente. Ao técnico de informática André Knipp, pelos serviços prestados quando eu precisei recuperar meu projeto excluído, ainda em 2011. À Marisa Gurjão, a quem aprendi a admirar pela competência, dedicação e compromisso com a informação tecnológica. Você foi uma das principais incentivadoras para a realização do curso. Obrigada por ter apostado em mim. Aos colegas do Setor de Informação Tecnológica (STI), pelo incentivo. À Clarice Lima e à Eliane Apolinário, pelo apoio incondicional no momento em que quase desisti do processo de seleção de mestrado. Depois de tudo, eu não poderia decepcioná-las. Obrigada pela amizade! Aos meus tesouros de longa data. Meus amigos bibliotecários, que desde a graduação estão sempre comigo, mesmo a distância: Alessandra Rodrigues, Aline Braga, Aline Almenara, Ana Lúcia, Fernanda Moreira, Ronaldo Silva, Gustavo Saldanha, Fabrícia Cristina, Paulo Gonçalves, Cláudio Anjos, Carla Angelo, Shirley Ferreira, Viviane Solano, Lívia Marangon, Diná Araújo, Maria Aparecida (Cida), Adriano Goulart, Roger Guedes, Lucélia. Aos amigos Lourdes Nascimento, Daniel Avelino e Thiago Morais. Obrigada por tudo! Às pesquisadoras Maria Clara e Fernanda Almeida. Agradeço pela amizade, paciência, troca de conhecimento e, principalmente, pela convivência dos últimos anos. Acredito que nossas diferenças nos aproximam. Aprendo muito com vocês. Obrigada! “Se a gente quiser melhorar as mídias, precisamos melhorar os consumidores de mídias.” (EMEDIATO, 2013, online) RESUMO Esta dissertação estuda programas brasileiros de divulgação científica através da televisão, com base em estudos de caso. O corpus consiste de uma edição dos programas brasileiros “Globo Ciência”, “Futurando” e “Globo News Ciência e Tecnologia”. As categorias em análise foram vinheta, apresentadores, notícias, entrevista e discurso. A dissertação também trata sobre estudos de análise do discurso e ciência da informação na indexação de imagens de televisão no sistema desenvolvido pelo Centro de Apoio à Pesquisa na Televisão. O trabalho adota as teorias de Patrick Charaudeau para analisar o discurso de mídia, divulgação científica e as estratégias da unidade de produção para alcançar mais telespectadores. A presente dissertação apresenta o discurso da mídia sob a ótica do discurso informativo, a operação do ato de comunicação e no contrato de comunicação de mídia; mostrando também os canais de comunicação de C&T para comunicação e divulgação científica. Alguns conceitos do processo discursivo estabelecidos neste trabalho são: mito, crença, imaginação e verdade; também foi definida aqui a confirmação da dificuldade de se pesquisar utilizando mídia audiovisual e C&T. Em sua conclusão, este trabalho constata que o processo de transformar o que é produzido em um contexto técnico-científico exige mais engajamento efetivo entre jornalistas e instituições de pesquisa; tudo para constatar que a televisão possui um papel importante na divulgação do conhecimento, mas, ainda assim, o discurso televisivo ultrapassa o discurso científico nos programas analisados. Palavras-chave: Ciência e tecnologia. Divulgação científica. Comunicação científica. Televisão. Análise do discurso. Discurso científico. Discurso televisivo. Indexação de informação audiovisual. ABSTRACT This thesis studies Brazilian scientific dissemination shows on television, based on case studies. The corpus consists of an edition of Brazilian TV shows “Globo Ciência”, “Futurando” and ‘Globo News Ciência e Tecnologia’. The categories under analysis encompassed vignette, enunciators, news reports, interview and discourse. The thesis also talks about studies of discourse analysis and information science indexing television images into the system developed by the Support Center for Research on Television. The thesis adopts the theories of Patrick Charaudeau to analyze media discourse, scientific dissemination and the strategies of the production unit to reach more viewers. This work also presents the media discourse based on the view of the informative discourse, the communication act operation and the media communication contract; even showing the communication channels of C&T for scientific communication and scientific dissemination. Some discoursive process concepts set forth in this thesis are: myth, belief, imagination and truth; also defined here is confirmation of the difficulty for research using audiovisual and C&T media. At the conclusion, this paper declares that the process of transforming what is produced in a technical-scientific context requires more effective engagement among journalists and research institutions; all this for concluding that the television has a relevant role disseminating knowledge, but still, the televised discourse overlaps the scientific discourse in the programs analyzed. Keywords: Science and technology. Scientific dissemination. Scientific communication. Television. Discourse analysis. Scientific discourse . Televised discourse. Indexing audiovisual information. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - Aparelhos de televisão FIGURA 2 - Máquina midiática de Charaudeau e os três lugares de 47 61 construção do sentido FIGURA 3 - Contrato de comunicação midiática 66 FIGURA 4 - Esquema das categorias de análise 95 FIGURA 5 - Globo Cidadania 97 FIGURA 6 - Vinheta do Globo Ciência 97 FIGURA 7 - Abertura do Globo Ciência 97 FIGURA 8 - Vinheta da emissora Deutsche Welle 98 FIGURA 9 - Abertura do programa Futurando 99 FIGURA 10 - Vinheta de abertura do Globo News Ciência e Tecnologia 100 FIGURA 11 - Apresentador do Globo Ciência 101 FIGURA 12 - Apresentadora Nádia do Futurando 102 FIGURA 13 - Apresentador Luís Fernando 102 FIGURA 14 - Chamada do Globo Ciência 104 FIGURA 15 - Chamada do Futurando 105 FIGURA 16 - Chamada do Globo News Ciência e Tecnologia 105 FIGURA 17 - Alexandre faz uma pergunta 107 FIGURA 18 - Chamada do próximo bloco 108 FIGURA 19 - Hackerspaces e arte digital 109 FIGURA 20 - Legenda em português 109 FIGURA 21 - Divulgação do programa 110 FIGURA 22 - Identificação da narração 111 FIGURA 23 - Tempo de fala de especialista 112 FIGURA 24 - Livros 113 FIGURA 25 - Gráficos 113 FIGURA 26 - Planeta terra 114 FIGURA 27 - Demonstração 114 FIGURA 28 - Computador 114 FIGURA 29 - Computadores 114 FIGURA 30 - Disco rígido 114 FIGURA 31 - Disco rígido 2 114 FIGURA 32 - Computação em nuvem 114 FIGURA 33 - Telescópio 115 FIGURA 34 - Buraco Negro 115 FIGURA 35 - Telescópio 2 115 FIGURA 36 - Imagens celestes 115 FIGURA 37 - Telescópio 3 115 FIGURA 38 - Tablet 115 FIGURA 39 - Telescópio e ilha celeste 115 FIGURA 40 - Videoconferência 115 FIGURA 41 - Projeto Sworm 116 FIGURA 42 - Tecelagem 116 FIGURA 43 - Máquina digital 116 FIGURA 44 - Rede social e arte 116 FIGURA 45 - Laboratório 116 FIGURA 46 - Equipamentos 116 FIGURA 47 - Arte digital 116 FIGURA 48 - Tablet 116 FIGURA 49 - Tela digital 117 FIGURA 50 - Adriano Sarmento (Globo Ciência) 118 FIGURA 51 - Andre Homberg (Futurando) 118 FIGURA 52 - Barbara Glittenberg (Futurando) 119 FIGURA 53 - Christine Niehage (Futurando) 119 FIGURA 54 - Clayton da Silva Bezerra (Globo Ciência) 119 FIGURA 55 - Don Lee (Globo News Ciência e Tecnologia) 120 FIGURA 56 - Ellen Jorgensen (Globo News Ciência e Tecnologia) 120 FIGURA 57 - Erich Kölling (Futurando) 120 FIGURA 58 - Félix Both (Futurando) 120 FIGURA 59 - Gisela Tongers (Futurando) 121 FIGURA 60 - Ilsemarie Sturk (Futurando) 121 FIGURA 61 - Jochen Liske (Futurando) 121 FIGURA 62 - JohannDietrich Wörner (Futurando) 121 FIGURA 63 - Jutta Croll (Futurando) 121 FIGURA 64 - Mia Robinson (Globo News Ciência e Tecnologia) 122 FIGURA 65 - Nills Wettstein (Futurando) 122 FIGURA 66 - Olivier Medvedik - (Globo News Ciência e Tecnologia) 122 FIGURA 67 - Patrícia Chad (Futurando) 122 FIGURA 68 - Rodrigo Assad (Globo Ciência) 123 FIGURA 69 - Rolf Peter Kudritzki (Futurando) 123 FIGURA 70 - Rosemarie Hanke (Futurando) 123 FIGURA 71 - [Sem identificação] 123 FIGURA 72 - Silvio Meire (Globo Ciência) 124 FIGURA 73 - Simon Beck (Futurando) 124 FIGURA 74 - Ulrike Peters (Futurando) 124 FIGURA 75 - Identificação do pesquisador 125 FIGURA 76 - Mestre em tecelagem 125 FIGURA 77 - Entrevistado sem identificação 126 FIGURA 78 - Vox Populi (ruas de Recife) 127 FIGURA 79 - Imagens do filme Rede Social 129 FIGURA 80 - O artista e a música de Beethoven 130 FIGURA 81 - Steve Jobs e Steve Wozniak 131 FIGURA 82 - Arte digital de Steve Jobs 131 FIGURA 83 - Hard Disc 132 FIGURA 84 - Sequência de imagens de buracos negros 133 FIGURA 85 - Astronauta Luca Parmitano 133 FIGURA 86 - Bússola 134 FIGURA 87 - Sequência de imagens de bactéria 134 FIGURA 88 - Objetos da ciência 135 FIGURA 89 - Alexandre (jornalista) 136 FIGURA 90 - Cleyton da Silva Bezerra (delegado) 136 FIGURA 91 - Alexandre 2 (jornalista) 137 FIGURA 92 - Adriano Sarmento (prof.) 137 FIGURA 93 - Alexandre 3 (jornalista) 138 FIGURA 94 - Rodrigo Assad (especialista) 138 FIGURA 95 - Alexandre 4 (jornalista) 138 FIGURA 96 - Silvio Meira (especialista) 138 FIGURA 97 - Estudantes do curso de computação gráfica 139 FIGURA 98 - Apresentador Alexandre 141 FIGURA 99 - Narrador Maurício Cancillieri 142 FIGURA 100 - Luis (narração) 142 FIGURA 101 - Apresentador em Washington 143 FIGURA 102 – Nome da empresa de computação em nuvem 145 FIGURA 103 - Globo Ciência (tags) 145 FIGURA 104 - Futurando (tags) 146 FIGURA 105 - Globo News Ciência Tecnologia (tags) 146 FIGURA 106 - Ficha de indexação de programas / matérias técnico- 149 Científicas GRÁFICO 1 - Tempo de fala dos atores 113 QUADRO 1 – Características da ciência e da tecnologia 30 QUADRO 2 - Legislação brasileira para C&T: principais leis 32 QUADRO 3- Alguns programas de divulgação científica transmitidos 52 pela TV brasileira QUADRO 4 - Globo Ciência 86 QUADRO 5 - Programas selecionados do Futurando 88 QUADRO 6 - Programas avaliados do Globo News Ciência e Tecnologia 90 QUADRO 7 - Programas selecionados 92 QUADRO 8 - Nomes de especialistas e entrevistados 143 QUADRO 9 - Nomes de instituições dos três programas 144 TABELA 1 - Capital verbal 111 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 18 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO 18 1.2 BIBLIOTECONOMIA E ESTUDOS DE LINGUAGENS 19 1.3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA 21 1.4 OBJETIVOS 21 1.4.1 Objetivo geral 21 1.4.2 Objetivos específicos 21 1.5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO DA LITERATURA 22 1.6 RESULTADOS ESPERADOS 22 1.7 O CONTEÚDO DISSERTATIVO 22 2 ENTRE A COMUNICAÇÃO E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: A 2.1 CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO UNIVERSO DA TV 24 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 24 2.1.1 Ciência 26 2.1.2 Tecnologia 28 2.2 30 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NO BRASIL 2.2.1 Legislação 31 2.2.2 Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação 34 2.2.2.1 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) 36 2.2.2.2 Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) 36 2.2.3 C&T em Minas Gerais 37 2.3 37 OS CANAIS DE COMUNICAÇÃO DE C&T 2.3.1 Comunicação Científica 38 2.3.2 Divulgação científica 41 2.3.3 A divulgação científica em programas de televisão 46 2.3.3.1 Os programas científicos da televisão brasileira 48 3 OS PROCESSOS DISCURSIVOS DA TV: COMUNICAÇÃO, CIÊNCIA E IMAGINÁRIOS 54 3.1 A TELEVISÃO ENTRE O MITO, A CRENÇA E O IMAGINÁRIO 54 3.2 OS DISCURSOS MIDIÁTICOS 60 3.2.1 Contrato de Comunicação 63 3.2.2 Discurso Televisivo 66 3.2.3 Discurso Científico e Tecnológico 68 3.2.4 Representações 72 3.3 INDEXAÇÃO DE PROGRAMAS TELEVISIVOS E O PAPEL DO INDEXADOR 3.3.1 Profissional da informação 73 4 METODOLOGIA 82 4.1 SELEÇÃO DOS PROGRAMAS 83 79 4.1.1 Delimitação do corpus 84 4.1.1.1 Globo Ciência 85 4.1.1.2 Futurando 86 4.1.1.3 Globo News Ciência & Tecnologia 89 4.2 90 CORPUS 4.2.1 Categorias de análise 93 5 ANÁLISES: CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA TV 96 5.1 APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS 96 5.1.1 Vinhetas e aberturas 96 5.1.2 A produção televisiva e seus atores para a C&T: os apresentadores 100 5.1.3 E as chamadas? 103 5.2 ANÁLISE MIDIÁTICA DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: A TEMÁTICA DOS PROGRAMAS 5.2.1 As matérias 106 5.2.1.1 Capital Verbal 110 5.2.1.2 Capital Visual – A ciência em imagens 113 5.2.2 A hora da entrevista: os papéis do especialista e Vox Populi 117 5.2.2.1 Os especialistas 118 5.2.2.2 Vox Populi 127 5.2.2.3 Citação de outras personalidades: fala e imagem 128 5.2.3 Discursos televisivo e científico 132 5.3 MITO, CRENÇA E IMAGINÁRIO NOS PROGRAMAS CIENTÍFICOS 107 135 5.3.1 Tratamento: quem são os doutores? 136 5.3.2 Globo Ciência: estratégias para a interatividade 139 5.4 O REGISTRO DO AUDIOVISUAL: PROCESSO DE INDEXAÇÃO DE CONTEÚDO E IMAGEM 140 5.4.1 A recuperação dos vídeos por palavras: indexar o quê? 143 5.4.2 Orientações para o modelo de política de indexação para o CAPTE 146 5.5 151 Discussão comparativa dos resultados 5.5.1 Ciência e Tecnologia 151 5.3.2 Comunicação científica e divulgação científica 154 5.3.3 Instância de produção 154 5.3.4 Instancia de recepção 155 5.3.5 Discurso televisivo e discurso científico 156 CONSIDERAÇÕES FINAIS 161 REFERÊNCIAS 165 APÊNDICES 173 18 1 INTRODUÇÃO Nossa proposta consiste em investigar programas de televisão que tratam de Ciência e Tecnologia (C&T) no Brasil. Buscamos, a partir de estudos da análise do discurso e da ciência da informação, contribuir para a indexação de imagens televisivas para posterior recuperação em um sistema desenvolvido pelo Centro de Apoio a Pesquisas sobre Televisão (CAPTE) no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). A base teórica do estudo são os conceitos de contrato de comunicação e o discurso das mídias de Patrick Charaudeau, além dos trabalhos sobre indexação e dos estudos referentes à divulgação científica. Tentamos descrever o discurso adotado para C&T no Brasil, monitorar sua divulgação pela mídia televisiva e entender o processo de categorização de assuntos científicos para indexação dos programas de televisão. 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO O atual contexto das tecnologias de informação e comunicação, além do avanço dos estudos direcionados à C&T, tem contribuído para o desenvolvimento de pesquisas sobre a divulgação dessas temáticas, em diferentes suportes de informação. Várias são as áreas do conhecimento que constituem a base desses estudos: a linguística, a ciência da informação e a comunicação social. Nos últimos tempos, a linguagem tem sido objeto frequente de pesquisa, sobretudo com as transformações tecnológicas dos meios de informação e de comunicação. Marcuschi e Xavier (2005) entendem que a linguagem é uma das faculdades cognitivas mais flexíveis e plásticas, adaptável às mudanças comportamentais e a responsável pela disseminação das constantes transformações sociais, políticas e culturais geradas pela criatividade do ser humano. Os autores destacam que as inúmeras modificações nas formas e possibilidades de utilização da linguagem em geral e da língua, em particular, são reflexos incontestáveis das mudanças tecnológicas emergentes no mundo. As pesquisas sobre a mídia televisiva não são recentes. Várias áreas do conhecimento estudam televisão. Esse meio de comunicação pode ser observado por diversos ângulos. O mesmo acontece com a divulgação 19 científica. A literatura das áreas de linguística e da comunicação científica contribuirá no entendimento do papel da TV, para a disseminação da C&T. Somados ao conhecimento da área da ciência da informação, esses estudos podem contribuir para o processo de indexação dos programas televisivos em um sistema de informação multimídia em fase de desenvolvimento no CEFETMG, por meio do CAPTE. 1.2 BIBLIOTECONOMIA E ESTUDOS DE LINGUAGENS Minha formação foi concluída em 2005, no curso de biblioteconomia, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalho atualmente na Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), uma instituição pública de C&T. Esta é vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SECTES). O CETEC atua na modernização das atividades produtivas por meio da apropriação do conhecimento, do desenvolvimento e da transferência de soluções tecnológicas, ambientalmente compatíveis, em prol da competitividade das empresas mineiras. As áreas temáticas de atuação do CETEC, às quais os serviços de informação dão suporte, são: Tecnologia mineral; Tecnologia metalúrgica e de materiais; Biotecnologia; Tecnologia ambiental; Metrologia e ensaios; e Informação tecnológica. Atuamos diretamente na última área citada. Atendemos a demandas de pesquisadores para o acesso a fontes de informação e pesquisa em diferentes suportes. A unidade oferece consulta à literatura cinzenta1 em suporte impresso e digital: relatórios técnicos, empréstimos de livros e periódicos, normas técnicas etc. Os quatro anos de serviços prestados, em um centro tecnológico, explicam parte do nosso objeto de pesquisa: a C&T. Os estudos televisivos sempre despertaram curiosidades, mas o interesse surgiu de forma inesperada. Ainda no período da graduação em biblioteconomia, tivemos a primeira experiência de pesquisa em televisão. Na disciplina do ciclo básico, “Introdução à teoria democrática”, os grupos de alunos deveriam analisar uma edição do Jornal Nacional (Rede Globo), em especial, o papel dos apresentadores. Todo o processo foi realizado a partir de 1 Literatura cinzenta é o conjunto de documentos não publicados como relatórios técnicos e de pesquisa, documentos governamentais, dissertações, teses etc. 20 textos discutidos em sala de aula.2 O resultado apontou as estratégias adotadas pela instância de produção (editores e jornalistas), ao noticiar determinadas matérias. Foi uma experiência positiva. Em outro período (2006 a 2009), atuamos como bibliotecária em uma editora da área de direito público. A partir da normalização e da indexação de uma obra relacionada à implantação da TV Digital no Brasil, passamos a nos interessar pelo tema. Apesar do conteúdo jurídico, a obra apresentava um histórico sobre as telecomunicações no país e quais eram as vantagens da TV digital para a sociedade brasileira. Logo, em 2008, já no período da especialização em Arquitetura e Organização da Informação em Contextos Digitais, construímos um projeto voltado aos estudos informacionais e audiovisuais. Assim, o objeto principal foi a TV digital, com foco no acesso à informação pelo telespectador. A proposta de implantação da TV digital apresentava como pontos positivos: imagem de maior qualidade e interatividade e acesso à internet pela nova tecnologia. As possibilidades aguçaram nossa curiosidade. Logo, buscamos identificar as contribuições de pesquisas da ciência da informação para os estudos televisivos. Em 2011, para a seleção do mestrado, no CEFET, a proposta inicial já envolvia C&T, no âmbito da internet, com o intuito de monitorar as fontes de informação técnico-científicas, adotadas por pesquisadores de um centro tecnológico. A proposta se mostrou inviável a partir das mudanças estruturais e orgânicas da instituição a que estou vinculada, fato iniciado em 2011. Tais mudanças afetaram o projeto, já que os pesquisadores que seriam entrevistados não estavam mais diretamente vinculados ao CETEC. Logo, o objeto de pesquisa foi alterado. A experiência com a organização da informação e do acesso a ela e o contato com as disciplinas dos estudos em linguagem e da comunicação despertaram novo interesse pela pesquisa. Mas ela não estava afastada do contexto da C&T. O uso de ferramentas tecnológicas para o suporte das linguagens ganhou novo contexto. A análise do discurso aproximou os estudos sobre C&T e televisão. Assim, a pesquisadora de um centro tecnológico deu espaço à divulgação científica na TV. 2 Naquele período, a análise do discurso não era a base teórica. 21 Logo, a proposta do trabalho é investigar a C&T em programas de televisão do Brasil e, a partir do conteúdo analisado, categorizar os assuntos para a indexação da mídia televisiva para o CAPTE. 1.3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA A pesquisa está baseada na seguinte questão: Quais as diferenças entre o discurso sobre C&T, adotado pelos pesquisadores e publicado nos suportes de comunicação científica, e a divulgação científica veiculada pela mídia televisiva? O problema pode ser desmembrado nas seguintes questões: Qual o papel da comunicação científica e da divulgação científica? Qual discurso prevalece no tratamento sobre C&T na televisão? Qual a contribuição da pesquisa para o CAPTE? Qual deve ser a percepção do indexador, em contribuição ao CAPTE, para a indexação de documentos da mídia televisiva, sobre ciência, a partir da análise do discurso? 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo geral Analisar os discursos sobre C&T em divulgação científica produzidos para televisão, a partir das teorias de Patrick Charaudeau e dos estudos sobre divulgação científica, procurando compreender os imaginários sociodiscursivos que perpassam esses discursos: sobre ciência e pesquisadores. 1.4.2 Objetivos específicos Analisar os temas abordados nos programas de televisão sobre C&T selecionados para compor o corpus da nossa pesquisa. 22 Aplicar as técnicas e teorias de análise do discurso de Patrick Charaudeau e da indexação da mídia audiovisual para a criação de um modelo de indexação dos programas em questão. 1.5 Comparar os programas a partir de suas especificidades discursivas. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO DA LITERATURA Os trabalhos sobre mídia, de Patrick Charaudeau, serão a base teórica da pesquisa. O contrato de comunicação, a representação do ato de linguagem e seus modos de organização e imaginários sociodiscursivos serão temas recorrentes. Alguns trabalhos da área de ciência da informação serão utilizados para a classificação das áreas de conhecimento, que serão recuperadas pelas análises dos vídeos. As áreas do conhecimento recuperadas serão a base do processo estrutural de um modelo de indexação dos programas de televisão sobre C&T para o CAPTE. 1.6 RESULTADOS ESPERADOS Esperamos identificar os discursos praticados sobre C&T e avaliar o conteúdo televisivo repassado aos telespectadores. Acreditamos que a mídia televisiva tem o importante papel de intermediar as informações técnicocientíficas, pois o objetivo é informar a sociedade. Esperamos contribuir com a reflexão sobre o papel da mídia na divulgação do conhecimento sobre ciência e tecnologia. 1.7 O CONTEÚDO DISSERTATIVO Nosso trabalho está dividido em mais três capítulos e trata dos seguintes assuntos: o próximo capítulo busca definir os conceitos de ciência e tecnologia, além de contextualizar as estruturas e os canais de disseminação científica (comunicação científica e divulgação científica). Discutimos também o papel da televisão, como suporte de divulgação e alguns programas científicos veiculados no Brasil. No Capítulo 3, priorizamos a análise do discurso a partir do entendimento sobre mídia, crença, imaginários e discursos científico e 23 tecnológico. A base teórica trata da linguagem e discurso de Patrick Charaudeau. A metodologia da pesquisa está apresentada no Capítulo 4, no qual são destacados os programas científicos selecionados, os temas e os atores envolvidos. No Capítulo 5, são tratadas as análises comparativas dos programas e dos dados recuperados. Ao final da dissertação, apresentamos nossas considerações finais. 24 2 ENTRE A COMUNICAÇÃO E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: A CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO UNIVERSO DA TV A ciência em si Se toda coincidência/ Tende a que se entenda/ E toda lenda Quer chegar aqui/ A ciência não se aprende/ A ciência apreende A ciência em si/ Se toda estrela cadente/ Cai pra fazer sentido E todo mito/ Quer ter carne aqui/ A ciência não se ensina A ciência insemina/ A ciência em si/ Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar Do avião a jato ao jaboti/ Desperta o que ainda não, não se pôde pensar/ Do sono eterno ao eterno devir/ Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar/ Para alcançar o que já estava aqui Se a crença quer se materializar/ Tanto quanto a experiência quer se abstrair/ A ciência não avança/ A ciência alcança/ A ciência em si (Arnaldo Antunes e Gilberto Gil) 2.1 CIÊNCIA E TECNOLOGIA Nos últimos anos, o Brasil tem tido destaque no cenário mundial nas áreas política, econômica e social.3 Espera-se que o novo contexto possa contribuir no desenvolvimento de áreas consideradas essenciais para a sociedade. Apesar dos apontamentos que confirmam o crescimento, percebemos que o país precisa avançar efetivamente em políticas para áreas de saúde, saneamento básico, educação, infraestrutura, agricultura, esporte etc. e que retratem o novo papel do país nacional e internacionalmente. Um caminho possível, e de interesse público, é a priorização dos governos (federal, estadual e municipal) de temas como educação e pesquisa, em prol do desenvolvimento socioeconômico do país. Neste caminho, consideramos Ciência e Tecnologia (C&T) como relevantes para o desenvolvimento do Brasil. Pesquisas e investimentos caminham juntos nesse processo, o qual envolve diferentes atores e instituições. Para Targino (2007), C&T estão inseridas no contexto da vida comum do homem, são parte do processo da evolução humana e fazem parte da realidade societal. “O poderio político e econômico das nações está vinculado mais à sua capacidade científica e tecnológica do que à riqueza dos seus recursos naturais” (TARGINO, 2007, p. 20). 3 Ver: PEIXOTO, Alberto. O Brasil está em destaque no cenário mundial. RG3, Disponível em: <http://portal.rg3.net/index.php/alberto-peixoto/193-o-brasil-esta-em-destaque-no-cenariomundial.html>. Acesso em: 12 set. 2012. Ver também: ALISSON, Elton. Brasil deve liderar integração econômica da América Latina. Agência Fapesp, São Paulo, jan. 2013. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/16715>. Acesso em: 15 maio 2013. 25 Há alguns anos, os governos federal e estadual têm implementado políticas de expansão, além de investimentos financeiros, para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Instituições de ensino, pesquisa e indústrias são as grandes interessadas no avanço da área para o país. Para a UNESCO, “eleger ciência, tecnologia e inovação como uma escolha estratégica para o desenvolvimento do país implica priorizar investimentos nesse setor, para recuperar seu atraso e avançar aceleradamente na geração e na difusão de conhecimentos e inovações” (UNESCO, 2012, online). Destaca ainda que tal investimento “significa também advogar em prol da importância da ciência e tecnologia como fator de integração das demais políticas de desenvolvimento do Estado” (UNESCO, 2012, online). Neste contexto, perguntamos: o que é ciência e o que é tecnologia? Em que se diferem? Qual a percepção da sociedade sobre o assunto? Para uma análise sobre a divulgação científica e a mídia televisiva, conceituamos ciência e tecnologia e apresentamos o contexto de atuação das áreas no Brasil. Nas palavras de Patrick Charaudeau (2010b) o exploradorlinguista deve esboçar uma ideia das características e dos limites que determinam o território que será explorado. Logo, o levantamento a seguir contribuirá para a compreensão da estrutura da comunicação científica e da divulgação de C&T na mídia televisiva. Definir ciência e tecnologia não é tarefa fácil. Porém, é importante compreendermos os conceitos e aplicações, com o intuito de investigar a divulgação científica. Para o início da discussão, apresentamos a ciência como palavra de origem latina (scientia), que também significa conhecimento (GERMANO, 2011). Já a tecnologia é uma palavra, que conforme Veraszto et al. (2008), provém de uma junção do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer, e logia, do grego logus, razão. Enquanto a ciência está ligada ao conhecimento, a tecnologia está próxima ao saber fazer. Percebemos que são diferentes, mas estão próximas nas suas atuações. Para Rosa (2012, p. 35), a ciência permite a criação de técnicas e a melhoria das já existentes, enquanto a Tecnologia contribui com instrumentos e máquinas para o desenvolvimento científico. No mesmo sentido, a relevância das duas áreas é apresentada por Costa, Souza e Mazocco (2010, p. 150) a partir da relação entre elas. Os autores citam a importância dessa relação considerando a produção do 26 conhecimento científico como intrínseca às práticas políticas, econômicas e sociais. Nas próximas linhas, tentaremos esclarecer as definições de cada termo. 2.1.1 Ciência Como já foi mostrado acima, a ciência está ligada ao conhecimento. Ziman (1979), que entende o meio científico como comunicação pública, apresenta em sua obra algumas definições que são aceitas, mas que paralelamente não refletem a importância do tema.4 Após questionamentos das definições mais difundidas, o autor entende ciência como: “um produto consciente da humanidade, com suas origens históricas bem documentadas, um escopo e um conteúdo bem definidos; [...] e conta com praticantes e expoentes reconhecidamente profissionais” (ZIMAN, 1979, p. 17). No entendimento de Germano (2011), a ciência é como um conhecimento lógico e sistematizado, que procura explicar as transformações da realidade a partir de conceitos universais. Entendemos que a ciência não significa simplesmente conhecimentos ou informações publicados, mas: [...] seus fatos e teorias têm de passar por um crivo, por uma fase de análises críticas e de provas, realizadas por outros indivíduos competentes e desinteressados, os quais deverão determinar se eles são bastante convincentes para que possam ser universalmente aceitos (ZIMAN, 1979, p. 25). A ciência não existe sozinha, está na natureza, mas depende de indivíduos para validação do conhecimento. Em trabalho de Francelin, há a apresentação de um estudo sobre ciência, senso comum e revoluções científicas. Francelin (2004) constrói um referencial teórico sobre o conhecimento científico ao apontar alguns conceitos sobre o tema. Neste contexto, o destaque é a dificuldade em se definir ciência. Assim, busca-se aproximar ciência e senso comum. Porém, a conclusão do autor é que: No meio científico, os conhecimentos também podem ser provisórios e parciais, podem dar lugar a novos conhecimentos que surgem ao 4 Ziman faz uma reflexão conceitual sobre ciência considerando as seguintes definições: a ciência é o domínio do meio ambiente; é o estudo do mundo material; é o método experimental; alcança a verdade por meio das inferências lógicas baseadas em observações empíricas; é matemática pura; e, por fim, a ciência é o conhecimento puro. 27 longo do tempo através de novas pesquisas. A grande diferença é que no meio científico deve haver plena consciência de que uma pesquisa que leva a um novo conhecimento não é definitiva. O senso comum, portanto, descarta essa premissa, pois as opiniões obtidas podem ser emitidas como verdadeiras e definitivas. A ciência, aparentemente, busca por meio de seu rigor na pesquisa, no debate e crítica de opiniões, afastar-se do senso comum (FRANCELIN, 2004, p. 31). Após a diferenciação da ciência e do senso comum, apresentamos as palavras de Ziman (1979) ao lembrar ao público em geral que ciência e suas aplicações são praticamente a mesma coisa, ao passo que os cientistas, propriamente, fazem questão de estabelecer a diferença entre o conhecimento “puro”, sem finalidade prática, e o conhecimento tecnológico, aplicado às necessidades do homem. Para o autor, “a definição está no próprio trabalho, na forma com que é apresentado e no público ao qual é dirigido” (ZIMAN, 1979, p. 41). Neste direcionamento, reproduzimos aqui um trecho do artigo, que trata de ciência na televisão. Os autores Monteiro e Brandão (2002) apresentam uma definição do termo, de forma humorada, a partir de um hipotético diálogo entre ciência e TV. Destacamos, a seguir, a explanação da senhora Ciência, sobre si mesma, ao apresentar-se à Televisão: CI – Muito bem, agora deixe que me apresente. A Tecnologia é muito exibicionista, não sei o que ela já lhe falou a meu respeito, por isso preste atenção. Sou a Ciência, você já sabe. Sem modéstia, sou a expressão maior dessa fantástica construção que é o conhecimento humano. Que serve para entender o mundo, transformá-lo, construir modos e meios de vida plenos e justos, “para todos os homens e o homem todo”. Essa é, em uma linha, minha história e trajetória. Minha maior preocupação hoje é fazer com que os saberes sejam compartilhados, que a minha família se abra cada vez mais para a sociedade: o conhecimento científico e tecnológico só tem sentido se contribui para o desenvolvimento da cultura em geral. Entendeu agora por que sua pergunta “Ciência ou Ciências?” é um pouquinho impertinente? Até compreendo sua indagação, porque você convive no meio empresarial, deve ter outros objetivos na vida. Nossa família está empenhada numa outra dimensão de sentido, que em vários pontos é distinta e até oposta da sua. Ouça isso: “As orientações e escolhas da pesquisa científica deveriam estar apoiadas no mais amplo consenso entre as pessoas e os países, bem longe da comercialização eventual de produtos industriais ou culturais” (MONTEIRO; BRANDÃO, 2002, p. 90). Na citação anterior, observamos que a racionalidade se distancia do exibicionismo da tecnologia. Também é notório o interesse da ciência em destacar o conhecimento e ao mesmo tempo compartilhá-lo com a sociedade. 28 Siqueira entende ciência como “uma categoria muito boa para se pensar a sociedade, seus problemas, atores sociais, conflitos e, inclusive, seu futuro” (SIQUEIRA, 2008, online). Notamos que o tema em questão apresenta formalidades, característica da comunidade científica, porém, destaca o objetivo, que é contribuir no desenvolvimento da sociedade. Assim, a finalidade da ciência é: “alcançar um consenso de opinião racional que abranja o mais vasto campo possível” (ZIMAN, 1979, p. 25). Logo, entendemos que a ciência é praticada por especialistas (as comunidades técnico-científicas de diferentes áreas), em meio restrito para troca de comunicação, com o objetivo principal de contribuir para interesses da sociedade. 2.1.2 Tecnologia Retomando a definição inicial do capítulo, em que a tecnologia é o saber fazer racional, continuamos com as palavras de Veraszto et al. (2008, p. 67), que definem que a tecnologia exige um profundo conhecimento do modo como seus objetivos são alcançados, pois se constitui em um conjunto de atividades humanas associadas a um sistema de símbolos, instrumentos e máquinas (VERASZTO et al., 2008) destacam que a tecnologia “visa a construção de obras e a fabricação de produtos, segundo teorias, métodos e processos da ciência moderna”.5 O artigo aborda diferentes concepções sobre tecnologia, as quais são discutidas para a construção de um conceito. As concepções tecnológicas apresentadas são: a intelectualista; a utilitarista; enquanto sinônimo de ciência; instrumentalista; de neutralidade; determinismo; de otimismo; pessimismo; e a concepção de sociossistema. A tecnologia é definida como um: “conjunto de saberes inerentes ao desenvolvimento e concepção dos instrumentos (artefatos, sistemas, processos e ambientes) criados pelo homem através da história para satisfazer necessidades e requerimentos pessoais e coletivos” (VERASZTO et al., 2008, 5 Para alguns autores, a ciência moderna abrange o período período que vai de meados do século XVI até fins do XIX. Ver: ROSA, Carlos Augusto de Proença. História da ciência: a ciência moderna. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2012. v. 2. Disponível em: <http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/HISTORIA_DA_CIENCIA_VOL_II_TOMO_ I.pdf>. Ver também: BAZZANELA, Sandro Luiz. A constituição da ciência moderna: pressupostos definidores da vida e suas implicações biopolíticas contemporâneas. Theoria: Revista Eletrônica de Filosofia, p. 18-32. Disponível em: <http://www.theoria.com.br/edicao0410/a_constituicao_da_ciencia_moderna.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2013. 29 p. 78). Na ciência da informação, recuperamos uma definição de Vieira (2009, p. 21), em trabalho sobre a produção científica, que entende a tecnologia como aplicação do conhecimento científico para manipulação da natureza em benefício da humanidade. Aceitamos o entendimento da tecnologia vinculada a técnicas e instrumentos. Acrescentamos ainda que ela possa atender a uma demanda específica, com o objetivo de solucionar um problema. Um exemplo importante, apresentado por Ziman (1979), é a diferença entre o papel do cientista e o do tecnologista. Enquanto o primeiro está envolvido com pesquisas, publicações, observações e experimentos, o tecnologista: [...] sente-se responsável, primordialmente, perante o seu empregador, o seu freguês ou o seu paciente, e não perante os seus colegas de profissão. Sua tarefa é resolver o problema do momento e não discutir o seu trabalho com outros especialistas. Se a solução adotada por ele der resultado, é possível que estabeleça uma nova orientação e venha reforçar as bases “científicas” da sua Tecnologia (ZIMAN, 1979, p. 40). O cientista (verdade) e o tecnologista (forma/perfeição) assumem papéis diferentes no processo de pesquisa, mas entendemos que conseguem alcançar objetivos comuns voltados à sociedade. Para Targino (2007, p. 20), na atualidade, C&T estão inseridas no contexto da vida do homem comum. A autora aponta que o poderio político e econômico de uma nação está vinculado à capacidade científica e tecnológica desta. Logo, entendemos C&T como áreas inerentes à humanidade. Podemos considerá-las como meios de sobrevivência e desenvolvimento dela. A seguir, apresentamos as características da ciência e da tecnologia: 30 QUADRO 1 – Características da ciência e da tecnologia CIÊNCIA TECNOLOGIA Cientista tecnologista conhecimento humano saber fazer entendimento do mundo, transformação, construção de modos e meios de vida para o solução tecnológica homem depende da avaliação dos pares depende da demanda do empregador, de mercado e problema de momento pesquisas, publicações, observações e está associada a um sistema de símbolos, experimentos instrumentos e máquinas compartilha conhecimento com a sociedade circulação restrita do conhecimento desenvolvido sistema acadêmico sistema comercial prazo indefinido prazo para entrega de resultados Fonte: Quadro elaborado pela autora. 2.2 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NO BRASIL A partir do reconhecimento de que C&T também são prioridades de Estado, trataremos da institucionalização delas. Apresentamos, a seguir, as estruturas institucionais no Brasil e em Minas Gerais, além das principais legislações sobre o tema no país. À Ciência e Tecnologia foi recentemente introduzido o termo Inovação, diante da sua importância no desenvolvimento de novos produtos e processos. O Manual de Oslo (OCDE, 1998 citado por LIMA, 2011, p. 13) define inovação como a introdução, com êxito, no mercado de produtos, serviços, processos, métodos e sistemas que não existiam anteriormente ou contendo alguma característica nova e diferente da até então em vigor. A representação da UNESCO no Brasil destaca a importância da 31 C&T para o país e também a preocupação com o aspecto educacional, além de envolvimento maior da sociedade: É necessário que os cidadãos participem mais de perto dos avanços e estejam preparados para participar de decisões importantes para a sociedade. Para isso, uma formação científica básica desde o início do processo escolar é fundamental, o que torna prioritário o investimento em educação científica. Essa abordagem contribui, de forma decisiva, para que jovens motivem-se a seguir carreiras científicas e tecnológicas. Porém, a consequência mais importante é contribuir para a melhoria da educação, tema que tem mobilizado vários segmentos da sociedade, devido à sua importância (UNESCO, 2012, online). Para alcançarmos os objetivos da C&T, é necessário que os investimentos sejam direcionados para o setor educacional. Algumas iniciativas foram encetadas no meio jurídico, mas dependem, além do esforço político, da participação de outros contextos sociais. 2.2.1 Legislação Ressaltamos que investir e promover C&T são obrigações constitucionais. Logo, o governo deve criar condições que favoreçam a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico em nosso país. Entendemos que o crescimento da área é de interesse nacional, objetivando o bem público e o progresso da ciência. C&T no Brasil é responsabilidade de Estado. Conforme a nossa Carta magma: Título VIII - Da Ordem Social Capítulo IV - Da Ciência e Tecnologia Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. § 1º A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências. § 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. § 3º O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho. § 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho. 32 § 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal (BRASIL, 1988, Tít. VIII, Cap. IV). A C&T também está amparada pela legislação brasileira. Alguns temas são regulamentados. As leis destinadas ao meio científico e tecnológico estão representadas no quadro seguir: QUADRO 2 - Legislação brasileira para C&T: principais leis Continua LEGISLAÇÃO Constituição da República Federativa do Brasil (1988) Lei nº 12.731, de 21 de novembro de 2012 EMENTA arts. 22, IV, 23, V, 218 a 219 tratam da Ciência e Tecnologia no Brasil Institui o Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro - SIPRON e revoga o Decreto-Lei nº 1.809, de 7 de outubro de 1980 Lei nº 11.794, de 8 Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 de outubro de 2008 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais - Lei Arouca Lei nº 11.105, de 24 Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do de março de 2005 art. 225 da Constituição Federal, estabelece (Lei de normas de segurança e mecanismos de Biossegurança) fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei nº 8.974, [...] Lei nº 10.973, de 2 Dispõe sobre incentivos à inovação e à de dezembro de pesquisa científica e tecnológica no 2004 ambiente produtivo Lei nº 8.958, de 20 Dispõe sobre as relações entre as de dezembro de instituições federais de ensino superior e de 1994 pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio Lei nº 8.248, de 23 Dispõe sobre a capacitação e de outubro de 1991 competitividade do setor de informática e automação 33 QUADRO 2 - Legislação brasileira para C&T: principais leis Conclusão Lei nº 7.232, de 29 Dispõe sobre a Política Nacional de de outubro de 1984 Informática Lei nº 10.973, de 2 Dispõe sobre incentivos à inovação e à de dezembro de pesquisa científica e tecnológica no 2004 ambiente produtivo e dá outras providências Decreto n º 7.642, de 13 de dezembro Institui o Programa Ciência sem Fronteiras de 2011 Fonte: BRASIL, [2013], online. Atualmente, instituições de pesquisas e ensino estão dedicadas a internalizar a questão da inovação científica e tecnológica. Ações dos governos tentam implantar a cultura de inovação nas empresas, como forma de fortalecer o desenvolvimento tecnológico no país. A Lei nº 10.973, de 2004, tem o objetivo de estabelecer medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do país. Indiretamente, há a necessidade de alavancar investimentos em capacitação/educação, além de implantar uma cultura de inovação em empresas. Sobre o tema e tratando sobre prioridade governamental à ciência e tecnologia, Rocha e Ferreira (2004) entendem que: O investimento público no campo científico e tecnológico é um vetor fundamental do desenvolvimento socioeconômico de países e regiões e constitui um dos principais condicionantes da competitividade empresarial. Em países caracterizados por sistemas nacionais de inovação imaturos, como é o caso do Brasil, os gastos realizados pelo poder público para o desenvolvimento científico tecnológico assumem relevância ainda maior, devido aos baixos dispêndios efetuados pelas empresas privadas (ROCHA; FERREIRA, 2004, p. 63). Aproximar áreas produtivas e acadêmicas não é tarefa fácil, porém, é perceptível que a necessidade existe em prol do desenvolvimento científico e tecnológico do país. 34 2.2.2 Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) é órgão do governo federal, criado pelo Decreto nº 91.146, em 15 de março de 1985. Enquanto órgão da administração direta, tem como competências os seguintes assuntos: [...] política nacional de pesquisa científica, tecnológica e inovação; planejamento, coordenação, supervisão e controle das atividades da ciência e tecnologia; política de desenvolvimento de informática e automação; política nacional de biossegurança; política espacial; política nuclear e controle da exportação de bens e serviços sensíveis (BRASIL, 2012, online). O sistema MTCI é formado pelas agências de fomento: a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de outras instituições: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE); Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); Agência Espacial Brasileira (AEB); 19 unidades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação; e quatro empresas estatais: Indústrias Nucleares Brasileiras (INB); Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep); Alcântara Cyclone Space (ACS); e Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec). O MCTI coordena as atividades e os programas da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Esta tem como objetivo “transformar o setor em componente estratégico do desenvolvimento econômico e social do Brasil, contribuindo para que seus benefícios sejam distribuídos de forma justa a toda a sociedade” (BRASIL, 2013, online). De acordo com o site do Ministério, a estrutura é formada pelas seguintes secretarias: Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (SEPED); Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (SECIS); Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SETEC); e por último a Secretaria de Política de Informática (SEPIN). Todas com ações voltadas para implantação, capacitação tecnológica, científica, estudos etc., para o desenvolvimento da C&T no país. São competências do MCTI: 35 I. políticas nacionais de pesquisa científica e tecnológica e de incentivo à inovação; II. planejamento, coordenação, supervisão e controle das atividades de ciência, tecnologia e inovação; III. política de desenvolvimento de informática e automação; IV. política nacional de biossegurança; V. política espacial; VI. política nuclear; e VII. controle da exportação de bens e serviços sensíveis (BRASIL, 2013, online). A estrutura do Ministério é formada por gabinetes, secretaria-executiva, secretarias, assessorias, departamentos e comissões. Destacamos aqui o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia que tem as seguintes competências: I. subsidiar a formulação e implementação de políticas, programas e a definição de estratégias à popularização e à difusão ampla de conhecimentos científicos e tecnológicos; II. propor e coordenar a execução de estudos e diagnósticos para subsidiar a formulação de políticas e programas que permitam às diversas instâncias sociais e às instituições de ensino em particular, a se apropriarem dos conhecimentos disponíveis nos diversos campos das ciências; III. planejar e coordenar o desenvolvimento de programas, projetos e atividades integradas de cooperação com organismos nacionais, internacionais e entidades privadas, com vistas à difusão e à aplicação dos conhecimentos técnico-científicos nas diversas instâncias sociais e nas instituições de ensino em geral; IV. definir e acompanhar as metas e os resultados a serem alcançados na implementação de programas, projetos e atividades afetos a sua área de competência; V. articular ações e colaborar com entidades governamentais e privadas, em negociações de programas e projetos relacionados com a política nacional para o setor; VI. estimular ações de desenvolvimento de programas voltados à educação científica e à divulgação científica e tecnológica à distância, para pesquisas sobre divulgação científica e sobre a percepção pública da ciência e tecnologia, bem como para o compartilhamento de recursos didáticos no âmbito das instituições de ensino e de outros organismos científico-culturais, entre outras atividades com este fim; e VII. articular ações com entidades governamentais e privadas, nacionais e internacionais, para a efetiva difusão e apropriação dos conhecimentos científicos e tecnológicos na sociedade (BRASIL, 2013, online). Destacamos, a seguir, duas importantes instituições de fomento e apoio para o desenvolvimento técnico-científico do nosso país. 36 2.2.2.1 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) O CNPq é uma agência do MCTI. As principais atribuições são fomentar a pesquisa científica e tecnológica, além de incentivar a formação de pesquisadores brasileiros. A missão da agência é: “fomentar a Ciência, Tecnologia e Inovação e atuar na formulação de suas políticas, contribuindo para o avanço das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional.”6 As principais ferramentas utilizadas atualmente são: o programa Ciência sem Fronteiras, Plataforma Carlos Chagas e Plataforma Lattes. A primeira possibilita aos estudantes de graduação e pós-graduação complementarem o conhecimento em instituições de pesquisa fora do Brasil. A segunda é uma base de dados que une informações referentes aos pesquisadores e usuários do CNPq em todo o país. A última plataforma é a integração de bases de dados de currículos, de grupos de pesquisa e de Instituições de pesquisa. Nela há o Currículo Lattes,7 que tem o objetivo de registrar a vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do Brasil. 2.2.2.2 Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Ainda em âmbito federal destacamos a atuação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). O instituto atua com o objetivo de preservar a memória do patrimônio científico e tecnológico brasileiro, além de criar condições para o aumento da produção científica e da visibilidade internacional. Sua missão é “promover a competência, o desenvolvimento de recursos e a infraestrutura de informação em ciência e tecnologia para a produção, socialização e integração do conhecimento científico-tecnológico” (IBICT, 2013, online). Os produtos mais conhecidos são: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), Biblioteca do IBICT, Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas (CCN), Centro Brasileiro do ISSN, Centro Brasileiro do Latindex, Diretório de Políticas de Acesso Aberto das Revistas 6 Científicas Brasileiras (Diadorim), Diretório Luso-Brasileiro, CNPQ. Disponível em: <http://www.cnpq.br/web/guest/ocnpq;jsessionid=D93002A23928B65FA485292D120B1D3D>. Acesso em: 02 ago. 2013. 7 PLATAFORMA Lattes.Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em: 12 ago. 2013. 37 Incubadora de revistas SEER (INSEER), Portal Brasileiro de Acesso Aberto à Informação Científica (OASISBR), Portal do Livro Aberto em CT&I, Programa de Comutação Bibliográfica (Comut), Repositório Institucional Digital do IBICT (RIDI), Repositórios Digitais e Revistas no SEER. 2.2.3 C&T em Minas Gerais Outro exemplo da participação política no meio técnico-científico são as ações do estado de Minas Gerais. No estado mineiro há a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SECTES). Sua missão é promover, de forma articulada, a ciência, a tecnologia, a inovação e o ensino superior, visando ao desenvolvimento sustentável e à melhoria da qualidade de vida em Minas Gerais.8 Citamos assim algumas instituições do estado que atuam na área de C&T: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), Cidade das Águas (UNESCO-HIDROEX), Instituto de Geociências Aplicadas (IGA), Instituto de Pesos e Medidas (IPEM), Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Fundação Helena Antipoff (FHA) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de MG (FAPEMIG). Há também um esforço de disseminação da ciência pela FAPEMIG. O Programa de Comunicação Científica e Tecnológica (PCCT) tem o objetivo de disseminar e popularizar a ciência, a tecnologia e a inovação (CT&I) no Estado de Minas Gerais por meio do desenvolvimento de vocações na área da difusão científica a partir do envolvimento de profissionais e estudantes, na geração de produtos de comunicação de diferentes naturezas – revista, rádio, televisão e internet.9 2.3 OS CANAIS DE COMUNICAÇÃO DE C&T A disseminação da produção técnico-científica é realizada por diferentes canais. Estes são elaborados conforme a característica e os objetivos do público para os quais são destinados. Para melhor compreensão do estudo de 8 MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Disponível em: <http://www.tecnologia.mg.gov.br/missao-visao-valores.php>. Acesso em: 20 maio 2013. 9 FAPEMIG. Disponível em: < http://www.fapemig.br/programa-de-comunicacao-cientifica-etecnologica-pcct/>. Acesso em: 5 maio 2013. 38 ciências na mídia televisiva, entendemos a importância de apresentar as diferenças e complementaridades da comunicação científica e da divulgação científica. Nas palavras de Bueno (2010), os dois “apresentam níveis de discurso diferentes, em consonância com as singularidades do público-alvo prioritário” (BUENO, 2010, p. 3). O primeiro canal a ser definido é a comunicação científica. 2.3.1 Comunicação Científica Este canal de comunicação está direcionado tanto para pesquisadores como aos tecnologistas. Os documentos elaborados circulam em meio restrito, ou seja, entre a comunidade científica. A comunicação entre pares é de fundamental importância para o avanço de pesquisas em ciências, conforme apresentado por Ziman (1979). Muller (2003) define o sistema de comunicação científica como “todas as formas de comunicação utilizadas pelos cientistas que pesquisam e contribuem para o conhecimento nessa determinada área” (MULLER, 2003, p. 23). Ainda neste contexto, Muller (2003) conceitua as fontes de informação e apresenta como estas estão classificadas (comunicação informal e comunicação formal). De acordo com a autora, a comunicação informal utiliza os chamados canais informais e inclui normalmente comunicações de caráter pessoal ou que se referem à pesquisa em andamento, certos trabalhos de congressos e outras com características semelhantes. Já “a comunicação formal se utiliza de canais formais [...] como periódicos e livros” (MULLER, 2003, p. 22-23). Destacamos que as dissertações e teses também são consideradas fontes formais de comunicação. Para Bueno (2010), “a comunicação científica mobiliza o debate entre especialistas como parte do processo natural de produção e legitimação do conhecimento científico” (BUENO, 2010, p. 5). Ainda no contexto de C&T, Cunha (2001) adota a expressão fontes de informação científica e tecnológica (ICT) e conclui que o uso regular e efetivo das fontes apropriadas, impressas ou eletrônicas, é a chave para se alcançar o sucesso na pesquisa e desenvolvimento, como também em quaisquer atividades ligadas à ciência e tecnologia. Ainda sobre informação, Aguiar (1991) considera que: 39 A informação científica é, por isso, o conhecimento que constituiu, em um certo momento da evolução da ciência, um acréscimo ao entendimento universal então existente sobre algum fato ou fenômeno, tendo-se tornado disponível como resultado de uma pesquisa científica, ou seja, de um trabalho de investigação conduzido segundo o método científico. (AGUIAR, 1991, p. 10). Novamente destacamos Aguiar (1991) para definir informação tecnológica no contexto de comunicação. Para o autor: “informação tecnológica é todo tipo de conhecimento relacionado com o modo de fazer um produto ou prestar um serviço, para colocá-lo no mercado” (AGUIAR, 1991, p. 11, grifos do autor). Targino (2007) destaca a linguagem deste tipo de produção. Para a autora, a produção científica, independentemente do suporte, prima por um padrão léxico, a partir dos termos ou jargões técnicos. São apresentadas as seguintes características: emprego da 3ª pessoa do singular ou da 1ª pessoa do plural; concisão linguística; cuidado com ambiguidades; objetividade e formalismo. Proulx (2010) desenvolve um estudo sobre o contexto tecnológico e a expansão das ferramentas e práticas de comunicação na área. O autor trata da relação dos indivíduos com as constelações de objetos de comunicação antigos, contemporâneos, emergentes ou em declínio (PROULX, 2010, p. 445). O tema serve para observarmos que os suportes de comunicação científica também mudaram. Artigos e livros podem ser recuperados na internet, em bases de dados, redes sociais etc. O objetivo da comunicação científica para Bueno (2010, p. 5) é disseminar informações especializadas entre os pares, com o intuito de tornar conhecidos, na comunidade científica, os avanços obtidos (resultados de pesquisas, relatos de experiências etc.) em áreas específicas ou a elaboração de novas teorias ou refinamento das existentes. Neste contexto, destacamos o esforço da comunidade científica em diminuir as barreiras ao acesso às publicações. Algumas iniciativas como o “Movimento de acesso livre ao conhecimento”10 e a mobilização pela implantação de repositórios institucionais em vários órgãos de pesquisa do Brasil são exemplos de facilidades de acesso à produção intelectual do país. 10 Ver: INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA (IBICT). Manifesto brasileiro de apoio ao acesso livre à informação científica. Disponível em: <http://livroaberto.ibict.br/docs/Manifesto.pdf>. Acesso em: 15 maio 2013. 40 A comunicação científica pode ser caracterizada a partir dos estudos de linguagens sob a ótica da análise do discurso, com destaque aos modos de organização do discurso. Segundo Charaudeau (2010b, p. 74), os modos de organização são procedimentos que consistem em utilizar determinadas categorias de língua para ordená-las em função das finalidades discursivas do ato de comunicação.11 Para Charaudeau (2010b), a argumentação é considerada como a arte de persuadir e está no âmbito da organização do discurso. O aspecto argumentativo de um discurso encontra-se no que está implícito; dirige-se à parte do interlocutor que raciocina e é definida como uma relação triangular entre um sujeito argumentante, uma proposta sobre o mundo e um sujeito-alvo. É uma atividade discursiva que, do ponto de vista do sujeito argumentante, participa de uma dupla busca: de racionalidade e influência. É uma atividade que inclui numerosos procedimentos que se inscrevem numa finalidade racionalizante e fazem o jogo do raciocínio que é marcado por uma lógica e um princípio de não contradição. É uma totalidade que o modo de organização argumentativo contribui para construir. É o resultado textual de uma combinação entre diferentes componentes que dependem de uma situação que tem finalidade persuasiva. Charaudeau (2007b) apresenta o conhecimento acadêmico como conhecimento construído por explicações sobre o mundo que se aplicam ao conhecimento do mundo. É de natureza acadêmica, e a razão é baseada nos procedimentos de observação, experiência e cálculo. Utiliza ferramentas como o microscópio ou de tecnologia da informação. Objetiva garantir que esses procedimentos e instrumentos possam ser rastreados e utilizados por qualquer outra pessoa, com a mesma habilidade. O mesmo autor fala de teoria e conhecimento empírico. 11 Para o teórico francês, o ato de comunicação é como um dispositivo cujo centro é ocupado pelo sujeito falante em relação a um outro parceiro. Alguns componentes são a situação de comunicação e os modos de organização do discurso. 41 2.3.2 Divulgação científica A divulgação científica é outro importante canal. Esta é apresentada como um caminho para disseminar, a um público leigo, as informações produzidas por instituições de pesquisa e pesquisadores. De acordo com Bueno (2010), tem a função de democratizar o acesso ao conhecimento científico e estabelecer condições para o letramento científico. Para Silva (2006), a divulgação científica aparece “seja no formato escrito, como em jornais, revistas e livros, seja no formato audiovisual, como em documentários e outros programas da televisão” (SILVA, 2006, p. 54), mas esclarece que a atividade não é recente e tem seu surgimento no século XVIII, na Europa. Destacamos aqui Targino (2007, p. 24), que entende a divulgação científica como a afirmação social da C&T na contemporaneidade e o reconhecimento da sua relevância estratégica nas estruturas política, econômica, social e cultural vigentes das nações, que põem em evidência a inter-relação ciência, poder e sociedade. Para Charaudeau (2010a), o termo vulgarização remete ao entendimento de deformação, pois adota procedimentos de simplificação do raciocínio (tenta deixar claro o que é complexo). A divulgação científica tem o objetivo de “nomear o processo abrangente que incorpora recursos, estratégias, técnicas e quaisquer instrumentos empregados para publicizar informações junto às coletividades em geral” (TARGINO, 2007, p. 20). O CNPq entende o processo como de popularização da ciência. A instituição entende que “popularizar o conhecimento científico é contribuir para o desenvolvimento social e a ampliação da cidadania” (CNPq, 2013, online). Neste processo, apresentamos também o papel do jornalismo científico. Conforme Lima (2011), o jornalismo científico é “a prática da divulgação da ciência pelos veículos de comunicação e segue os critérios da produção jornalística, como a periodicidade, a linguagem, a atualidade e a difusão coletiva” (LIMA, 2011, p. 74). Um dos trabalhos desenvolvidos por Targino (2007) apresenta um estudo conceitual da C&T e da divulgação científica, a partir do discurso jornalístico e do discurso de divulgação. Segundo a autora, há diferenças entre jornalismo científico e divulgação científica. O primeiro é considerado como uma atividade profissional de natureza social, que se 42 destina a elaborar e divulgar notícias em variados suportes (impressos, televisivos, virtuais etc.). Já a divulgação científica encontra no jornalismo científico a base para sua expressão. Assim, de acordo com Targino (2007), a divulgação científica é a “afirmação social da C&T na contemporaneidade e no reconhecimento da sua relevância estratégica nas estruturas política, econômica, social e cultural vigentes das nações” (TARGINO, 2007, p. 24). Destaca ainda que, por meio da divulgação científica, a comunidade científica busca legitimar a sua produção junto à sociedade, a partir da mídia e da prática do jornalismo científico. Este está baseado no discurso jornalístico, que de acordo com Targino (2007) tem o objetivo de apresentar os fatos, em formato de notícia, de forma clara, objetiva e resumida, adotando uma linguagem acessível ao grande público, sem perder a qualidade. Neste contexto, Bueno (2010) entende que a divulgação científica compreende a utilização de veículos ou canais para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou inovações para o público leigo. Logo, o público-alvo da divulgação científica é o público leigo. Observamos que vários autores apresentam a necessidade de os pesquisadores, do Brasil, se envolverem mais com a divulgação científica. Entendem que o papel não deve ser apenas do jornalista científico ou dos que atuam diretamente com a disseminação desse conhecimento. Há uma iniciativa do CNPq, a partir da solicitação do Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica (CADC), a possibilidade de oferecer bolsas de produtividade aos pesquisadores que atuam com divulgação científica no Brasil. Outro questionamento está ligado à formação do profissional que atua com a divulgação, pois ele não é um especialista das áreas que divulga. Divulgadores científicos, como observadores do mundo, devem cuidar de sua formação com a dedicação de um atleta que molda seus músculos. Mas essa dedicação não pode nem deve ser um processo mecânico, ou seja, um mero ajuntamento de informação. O desafio de um divulgador é forjar sínteses, tarefa que exige esforço, determinação e algo que, por um constrangimento injustificável, quase não se diz: amor ao conhecimento. Um texto de divulgação pode, ainda que alguns possam surpreenderse, produzir conhecimento primário tanto quanto uma pesquisa convencional. E isso porque, tanto na divulgação, quanto na pesquisa, o que está em questão é a interpretação. É a interpretação que revela o novo e, dessa maneira, reconfigura o mundo. (CAPOZOLI, 2002, p. 122) 43 Em outro trabalho, Bueno (2009) entende que as instituições de C&T no Brasil não estão preparadas para este papel. O motivo, para o autor, é que os centros produtores de ciência e tecnologia não estão dispostos ou capacitados para divulgar seus projetos e resultados de pesquisa, pois seus dirigentes não contemplam a divulgação científica como estratégia. Já Lima (2011) apresenta a divulgação como resposta à postura elitista da comunidade científica, até meados do século passado. Para a autora, a divulgação científica “surgiu [...] com intuito de manter uma comunicação com a sociedade sobre assuntos referentes à C&T” (LIMA, 2011, p. 73). Entende ainda os objetivos relacionados à mobilização popular, que consiste em fazer com que a informação científica transmitida para a sociedade sirva de base para que os indivíduos possam participar do processo decisório dessa sociedade, como na formulação de políticas públicas e na escolha de opções tecnológicas, por exemplo. Reforça que “para isso é necessário conhecer os riscos e benefícios da C&T, para escolhas conscientes em casos de temas polêmicos como energia nuclear, transgênicos, células sintéticas, entre tantos outros” (LIMA, 2011, p. 74). A mesma pesquisadora ainda apresenta o papel do jornalismo científico no processo de divulgação científica. O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a partir de documento publicado em 2012, apresenta ações que podem ser adotadas para a popularização da ciência, tecnologia e inovação para o Brasil. O objetivo principal é “promover a melhoria da educação científica, a popularização da C&T e a apropriação social do conhecimento” (BRASIL, 2012, p. 86). É condicionante para o desenvolvimento científico e tecnológico do País, além da formação de profissionais qualificados em número suficiente e de seu aproveitamento adequado, o aumento do conhecimento científico e do interesse pela C&T entre a população em geral e em particular, entre os jovens. A popularização da C,T&I e as ações que visam à apropriação social do conhecimento são relevantes na formação permanente para a cidadania e no aumento da qualificação científico-tecnológica da sociedade (BRASIL, 2012, p. 85-86). Destacamos a apresentação dos meios de comunicação como uma das principais estratégias para a promoção do conhecimento científico: [...] 2) ampliação e fortalecimento da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, eventos de popularização da CT&I e atividades de ciência itinerante; 44 3) aprimoramento, ampliação do número e distribuição mais equitativa dos espaços científico-culturais pelo território nacional, com ênfase nos museus científicos interativos; 4) colaboração na melhoria da educação científica, em parceria com o MEC e outros órgãos e instituições, com apoio ao uso de metodologias baseadas na investigação e à produção de material didático inovador; 5) promoção da presença mais intensa e com qualidade da C&T nos meios de comunicação, por meio de programas de TV, rádio, uso da internet, TV Digital e redes sociais.” (BRASIL, 2012, p. 85-86, grifo nosso) A última estratégia aponta para a relevância da pesquisa sobre os meios de comunicação, principalmente a mídia televisiva, como suporte de divulgação. A partir do esforço do governo, questionamos: qual é o entendimento dos responsáveis pelo documento federal sobre a promoção do conhecimento científico e com qualidade? Para o trabalho, não pretendemos defender ou criticar a ação do governo, mas apontar que a divulgação científica também é um papel político e social, e está em discussão em âmbito federal. A partir da relevância de se adotarem políticas públicas para a divulgação de C&T, apresentamos as palavras de Bueno (2010): Reconhecer as aproximações e rupturas conceituais, com suas respectivas implicações práticas, entre os conceitos de comunicação científica e divulgação científica contribui para a exata definição de veículos e ambientes para sua expressão. Ignorá-las implica continuar incorrendo em equívocos importantes e que, no Brasil, respondem pela exclusão da divulgação científica na elaboração de políticas públicas voltadas para a alfabetização científica e democratização do conhecimento científico (BUENO, 2010, p. 9). Entendemos que C&T deve ser uma ação de toda sociedade. Compreendemos as dificuldades para a implantação, mas vislumbramos a possibilidade de aumentarmos a interação das instituições de pesquisa com a sociedade que as sustenta financeiramente (impostos). Divulgar as ações científicas, como forma de prestação de contas, talvez seja um caminho para aproximarmos a população deste contexto técnico-científico. Os suportes de comunicação comunicação. já existem. Falta aperfeiçoarmos os conteúdos dessa 45 A partir do contexto anterior e sobre a sociedade do conhecimento, 12 Lima (2011, p. 69) entende a divulgação do conhecimento científico para o público em geral como uma ferramenta de inclusão na sociedade do conhecimento, na qual a comunicação é abordada como um instrumento não apenas de disseminação da informação, mas, sobretudo para a formação de uma cultura científica.13 Um exemplo para a formação da cultura científica foi a realização em novembro de 2013, no Brasil, do 1º Fórum Mundial de Ciência. O local escolhido é o Rio de Janeiro. No decorrer de 2012 e 2013, aconteceram encontros preparatórios em sete cidades brasileiras: São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília. Nas reuniões, foram discutidos os seguintes subtemas em suas respectivas cidades, a partir do tema central, Ciência para o Desenvolvimento Global: 1º Da educação para a inovação: construindo as bases para a cidadania e o desenvolvimento sustentável; 2º Desafios para o desenvolvimento científico e tecnológico nos trópicos; 3º Diversidade tropical e ciência para o desenvolvimento; 4º Energia e Sustentabilidade; 5º Oceanos, Clima e Desenvolvimento; 6º Clima, Saúde e Alimentos: desafios da ciência na América do Sul; 7º Ciência para o Ambiente e a Justiça Social. Nos encontros, um dos itens discutidos, e que também esteve na pauta do Fórum, foi justamente a divulgação científica e o acesso ao conhecimento. Ildeu Moreira (MCTI) ministrou palestra em 30 de outubro de 2012, na UFMG. O pesquisador abordou os seguintes pontos que envolvem a divulgação científica: ciência e sociedade; educação científica formal na escola e a educação não formal; inovação; desafios para a divulgação científica e sobre espaços de ciências. Neste último, destacamos o papel dos museus científicos e da mídia, considerados fundamentais para o processo. 12 A sociedade do conhecimento é definida por Barreto (2007) como meio que contribui para que o indivíduo se realize na sua realidade vivencial. Compreende configurações éticas e culturais e dimensões políticas. 13 Santos e Baiardi (2007) consideram a cultura científica como a cultura referida aos processos de produção e difusão do conhecimento. 46 Para alcançar o objetivo, Moreira (2012) acredita que é preciso quebrarmos mitos e lendas sobre ciência. É necessário criarmos espaços de construção e opinião científica, de debates. O cientista citou a Lei Rouanet como exemplo que deve ser aperfeiçoado, além das olimpíadas do conhecimento e da Semana da Ciência e Tecnologia. Outro esforço significativo é o atual programa Ciência sem Fronteiras. Este tem o objetivo internacionalização competitividade da de promover ciência brasileira e da por meio a consolidação, tecnologia, da do intercâmbio expansão inovação e e e da da mobilidade internacional. Estudantes de instituições de ensino superior (graduação, mestrado e doutorado), a partir de um processo de seleção, cumprem parte dos estudos em instituições internacionais.14 O pesquisador frisou que há a necessidade de desenvolvermos mecanismos e espaços para a aproximação do público leigo ao meio científico. A partir das informações anteriores, concluímos o tema ao considerarmos que comunicação científica e divulgação científica são áreas que atuam em contextos próprios. As áreas são caracterizadas pelo público que querem alcançar, porém se complementam, tendo como principal objetivo: dar visibilidade à ciência e tecnologia para pesquisadores e a sociedade em geral. 2.3.3 A divulgação científica em programas de televisão Nas seções anteriores, tentamos compreender a C&T, além de definir os meios de comunicação e a divulgação científica. A última é o tema principal do trabalho, que será analisado a partir de um dos seus suportes de comunicação: a TV, considerada, por muitos, um dos principais meios de comunicação do mundo. Descrito como meio de comunicação de massa por diferentes autores, o aparelho de TV é quase um item obrigatório nas casas de milhões de brasileiros. Criado nas primeiras décadas do século XX, seu desenvolvimento é resultado de pesquisa das ciências exatas, mais precisamente do invento de Nipkow.15 No Brasil, o grande responsável pela inserção do aparelho de TV e 14 Mais informações no seguinte endereço: <http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/home>. 15 No anos de 1884, o jovem alemão Paul Nipkow inventou um disco com orifícios em espiral com a mesma distância entre si que fazia com que o objeto se subdividisse em pequenos 47 pela produção de programas foi Assis Chateaubriand,16 na década de 1950. Os primeiros programas eram transmitidos ao vivo e apresentavam características dos programas de rádio. Vários artistas migraram do último meio de comunicação para a televisão que acabava de chegar. Atualmente, os aparelhos apresentam uma tecnologia avançada e sofrem influências da convergência de outras tecnologias, principalmente a digital. FIGURA 1 – Aparelhos de televisão Fonte: JORNALISTA de laboratório. E depois fizemos um programa de TV. Disponível em: <http://jornalistasdelaboratorio.files.wordpress.com/2012/06/televisao9.jpg>. Acesso em: 22 dez. 2013. Para Charaudeau (2010a), “a televisão é imagem e fala, fala e imagem. Não somente imagem [...], mas imagem e fala numa solidariedade tal, que não se saberia dizer de qual das duas depende a estruturação do sentido” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 109). O mesmo autor apresenta ainda o domínio do visual e do som como lugar da combinação de dois sistemas semiológicos (imagem e palavra). O papel da TV está vinculado às notícias e ao entretenimento. As grades televisivas são formadas por jornais de notícias, novelas, filmes, desenhos, programas de auditórios, debates etc. Andrade (2004) aponta a diferença das produções científicas entre Europa e Brasil. A autora afirma que, após o noticiário, diversas emissoras públicas, elementos que juntos formavam uma imagem. Fonte: TUDO sobre. Disponível em: <http://www.adorofisica.com.br/trabalhos/fis/equipes/televisao/historia.html>. Acesso em: 20 fev. 2013. 16 Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello foi o fundador dos Diários Associados e um dos responsáveis pelo início da história da televisão no Brasil. 48 especialmente as europeias, escolhem o horário nobre para transmitir suas produções do mais alto nível, consideradas contribuições para o desenvolvimento do padrão cultural da população. É o caso dos documentários e séries, que em sua maioria têm a ciência como tema. Já no Brasil: [...] o espaço após o noticiário é geralmente dedicado a programas de entretenimento, principalmente as telenovelas. No contexto da sociedade brasileira, a telenovela se firmou enquanto produto cultural televisivo de caráter eminentemente popular e vem se destacando como o tipo de produção de maior qualidade e de maior rentabilidade do mercado televisivo nacional, sendo, por isso mesmo, exportada para mais de 140 países, em todo o mundo (ANDRADE, 2004, p. 55). Se observarmos os diversos programas científicos internacionais que alimentam nossa grade de programação televisiva (canais abertos e por assinatura), identificamos uma relação comercial interessante dos conteúdos audiovisuais produzidos. O Brasil importa C&T (conhecimento) e exporta novelas (cultura). Logo, a mídia audiovisual brasileira dá visibilidade ao contexto técnico-científico estrangeiro (produção intelectual, pesquisadores e centros de pesquisas). Entendemos que, na televisão, os programas de divulgação científica pretendem ser programas especializados para atingir dois públicos distintos, os pares e o público leigo. Siqueira (2010) entende que as notícias sobre ciência e tecnologia são apresentadas em formato de espetáculo. Em outro momento aponta que transmitir ciência e tecnologia pela TV é cansativo, justificando os recursos adotados pelas emissoras em formato de espetáculo: “alguns programas deturpam as informações científicas e tecnológicas com intuito de torná-las mais atraentes para o público espectador” (SIQUEIRA, 2010, p. 61). Mesmo não sendo prioridade da grade televisiva brasileira, observamos o esforço dos canais em produzir programas científicos para a sociedade. 2.3.3.1 Os programas científicos da televisão brasileira Inicialmente, destacamos as palavras de Siqueira (2010), que define a televisão como um importante meio de reprodução e de reflexo de valores na cultura urbana pós-moderna. Assim, entendemos que aproximar o 49 desenvolvimento científico ao mundo televisivo não é tarefa fácil, mas é necessária, para o contexto das ciências, disponibilizar o conhecimento em diferentes suportes, para diferentes públicos. A televisão é o meio que demanda adaptações do discurso científico para a melhor compreensão dos telespectadores. Siqueira (2008) afirma que comunicar a ciência pela televisão é uma forma de dar respostas à sociedade que, afinal de contas, financia a pesquisa e para quem seus resultados precisam ser mostrados. A mesma autora destaca que a televisão exige adaptações cuidadosas a seu formato para que divulgue o que a ciência conclui, mais do que as representações sobre esse discurso que os profissionais do meio de comunicação constroem. Rosa (2008), em pesquisa sobre C&T em programa televisivo rural, observou que “a televisão e os atores das matérias atuam como mediadores entre o pesquisador e o público e interferem na informação transmitida” (ROSA, 2008, p. 28). Da mesma forma, Andrade (2004, p. 27), em sua tese sobre matérias científicas em jornais de notícias, desenvolveu um estudo centrado no papel da televisão como meio difusor e instrumento de popularização da pesquisa científica e tecnológica. Na hipotética apresentação entre a senhora Ciência e o meio audiovisual, este se define da seguinte forma: TV – Vamos por partes. Primeiro, fui escolhida para esse encontro porque sou o “meio-síntese” da família Audiovisual. Incorporo a linguagem do cinema, do rádio, do jornal. Principalmente a do cinema, apesar de hoje nossas falas terem diferenças bem grandes. Mais ou menos como os dialetos. Só que o meu é muitíssimo mais falado, apesar d’eu ser bem mais nova que o cinema: ele é do século passado, eu sou de 1926. Quem me adora é a filha da senhora, a Tecnologia. Mas, claro, eu vivo criando pretextos para ela se manifestar! Afinal, graças a mim ela tem entrada em milhões de lares do mundo inteiro. As pessoas acham que TV é bem de raiz, é necessidade básica; não ela em si, mas o que ela transporta – principalmente a informação e o entretenimento, ao alcance até (e em especial) dos iletrados... (MONTEIRO; BRANDÃO, 2002, p. 90) Em artigo publicado em 2008, Siqueira afirma que ciência e tecnologia sempre foram temas de interesse da televisão. A pesquisadora destaca que “nem sempre no formato de divulgação científica – preocupada com conceitos e evitando distorções; mas como ficção científica ou como apelo noticiososensacional.” (SIQUEIRA, 2008, online). Apesar do sensacionalismo e da espetacularização de alguns temas científicos tratados na tela, Siqueira (2008) aponta a relevância do meio de comunicação para a divulgação científica: 50 [...] televisão e ciência envolvem esferas discursivas diferentes, mas que televisão e divulgação científica são termos que podem ser conjugados. Se com a especialização na área científica as pessoas "leigas" têm cada vez menos acesso às pesquisas recentes, os meios de comunicação de massa têm a possibilidade de promover a divulgação da ciência a um público vasto. Além disso, a televisão tem forte apelo visual, adota uma linguagem coloquial, um ritmo acelerado e a mistura de vários elementos que fazem do meio um espaço privilegiado na cultura contemporânea. Os recursos técnicos são inúmeros: gráficos, imagens filmadas e digitais, animações, entrevistas, depoimentos, falas de jornalistas intercaladas com de especialistas (SIQUEIRA, 2008, online). No trecho acima, são destacados dois pontos: a questão da esfera discursiva e os recursos técnicos. A esfera discursiva, ou gênero discursivo, “é constituído pelo conjunto das características de um objeto e constitui uma classe à qual um objeto pertence” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 204). Os recursos técnicos contribuem para apresentar um contexto prático dos conceitos científicos. Como apresentamos anteriormente, a comunicação científica é um universo restrito, caracterizado por fontes e redes de comunicação rigorosas, e que para o telespectador leigo dificultaria o entendimento. A televisão possibilita a aproximação do telespectador ao mundo da ciência e tecnologia. Em 2010, a ciência na televisão foi o tema analisado por Siqueira, com base nas teorias da ciência da informação e comunicação social. O objeto de pesquisa foi um conjunto de matérias científicas apresentadas pelo Fantástico, retransmitido pela Rede Globo de Televisão. A telerrevista, conforme foi apresentado pela autora, foi o programa de televisão pioneiro na divulgação da ciência. Conforme Siqueira (2010, p. 22), a ciência e a televisão têm diferentes formas de enunciação e a apresentação da ciência por esse meio de comunicação de massa requer a transformação de um discurso, o da ciência, para outro, o da TV. Para a autora, o problema aqui é como essa transformação é realizada: “o que se perde e o que se ganha com ela” (SIQUEIRA, 2010, p. 22). A mesma autora destaca que as notícias sobre C&T não escaparam do formato de espetáculo (característica da televisão) recebendo um tratamento de curiosidade. De acordo com Siqueira (2010), “a influência do formato do meio na mensagem veiculada mostra que mais do que assumir o papel de mediador, a televisão interfere na informação recebida de cientistas e transmitida para o público” (SIQUEIRA, 2010, p. 56). Oliveira 51 (2002) acredita na importância da divulgação científica, mas que devem ser descontadas as questões do sensacionalismo, da falta de contextualização e de interpretação dos temas tratados em algumas matérias, além da existência de títulos e chamadas que, por vezes, espetacularizam a ciência. Para o autor, “o avanço na divulgação dos temas de ciência e tecnologia pode desempenhar um importante papel no caminho da alfabetização da população e da participação coletiva” (OLIVEIRA, 2002, p. 227). Assim, considerando que a divulgação científica pela televisão aborda temas da ciência e tecnologia, acompanhados por especialistas e instituições de pesquisa, a partir de técnicas e instrumentos desenvolvidos pelo jornalismo científico, apresentamos um breve levantamento de alguns programas científicos veiculados nos canais brasileiros. O capítulo seguinte será dedicado à apresentação dos discursos televisivos e científicos, além do contrato de comunicação de Patrick Charaudeau. 52 QUADRO 3 – Alguns programas de divulgação científica transmitidos pela TV brasileira Programa Emissora de televisão Transmissão Objetivo Fonte Globo Repórter Rede Globo Semanal Programa sobre comportamento, aventura, ciência e atualidades, com apresentação de Sergio Chapelin. http://g1.globo.com/globoreporter/noticia/2010/04/globoreporter-redacao.html Globo Rural Rede Globo Diária Revista mensal com notícias sobre a vida no campo, agribusiness, empreendimentos rurais, criação de animais e agricultura. http://g1.globo.com/economia/globorural/videos/ Globo Ciência Canal Futura Rede Globo Semanal http://redeglobo.globo.com/globocien cia/ Programa Cidades e Soluções Globo News Semanal Globo News Ciência e Tecnologia Globo News Saúde Globo News Semanal Programa de divulgação científica de maior longevidade na TV brasileira. Traduz conceitos da ciência e tecnologia para o público em geral. O programa mostra de que forma o conhecimento científico pode contribuir para melhorar a vida cotidiana dos telespectadores. Programa busca soluções para um mundo sustentável e destaca iniciativas que já dão resultado e que podem ser reaplicadas num país como o Brasil, onde 85% da população vivem em centros urbanos. Apresenta assuntos sobre ciência e tecnologia. Globo News Semanal Trata dos principais temas da saúde no país. http://g1.globo.com/globonews/saude/videos Globo Mar Rede Globo Semanal http://g1.globo.com/platb/globomar Globo Universidade Globo Ecologia Rede Globo Semanal Canal Futura, Rede Globo TV Cultura/SP, retransmitid o pela Rede Semanal Apresenta temas relacionados ao mar, à pesca e tudo que tenha relação com o oceano. Programa que aborda o ensino, a pesquisa e os projetos científicos no meio acadêmico. Programa sobre Educação Ambiental. Primeiro telejornal especializado em meio ambiente da televisão brasileira. Especializado na divulgação dos projetos, ações e pesquisas nacionais ou mundiais, com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida, de prestar um serviço público e http://tvcultura.cmais.com.br/reporter eco Repórter Eco - Semanal http://globotv.globo.com/globonews/cidades-e-solucoes/ http://globotv.globo.com/globonews/globo-news-ciencia-etecnologia/ http://redeglobo.globo.com/globouniv ersidade/ http://redeglobo.globo.com/globoecol ogia/ 53 Minas Programa Aventura Selvagem TV é Ciência SBT Semanal TV Brasil Semanal Fonte: Autoria nossa. ainda de informar sobre os principais temas ambientais da atualidade. Programa que mistura aventura e diversão com conhecimento de natureza. O programa é veiculado pela TV Educativa do Espírito Santo e realizado em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia Inovação, Formação Profissional e Trabalho do Espírito Santo, com a Universidade Federal do Espírito Santo e o Instituto Divulga Ciência. O TV é Ciência é produzido pela Vídeo & Arte Produtora, com direção e apresentação do jornalista Lucyano Ribeiro. http://www.sbt.com.br/aventuraselva gem/oprograma/ http://tvbrasil.ebc.com.br/tveciencia 54 3 OS PROCESSOS DISCURSIVOS DA TV: COMUNICAÇÃO, CIÊNCIA E IMAGINÁRIOS “[...] a televisão [é] um dispositivo de espetáculo” (Patrick Charaudeau) Os meios de comunicação de massa, especificamente a televisão, possibilitam a realização de pesquisas de diferentes contextos discursivos. Para este trabalho, abordaremos os discursos que envolvem temas científicos, ou seja, apresentaremos parte da literatura científica que se ocupou dos discursos da televisão e de divulgação técnico-científica. Assim, Patrick Charaudeau é um dos principais teóricos consultados, sobre o discurso das mídias. O universo televisivo será tratado a partir dos conceitos sobre mito, crença e imaginário discursivo. Mostraremos a relação dos programas científicos com o telespectador (instância de produção e recepção), a partir do contrato de informação midiático. Ao final, o profissional da informação será retratado, pois é quem atua no processo de indexação de imagens televisivas. O intuito é apresentar o monitoramento dos processos de indexação de programas televisivos, sobre ciência, que podem ser utilizados para futuras pesquisas em análise do discurso. 3.1 A TELEVISÃO ENTRE O MITO, A CRENÇA E O IMAGINÁRIO Os programas de C&T na televisão serão estudados a partir da ideia que compartilhamos de Siqueira (2010). A autora aponta que: “[...] tanto discurso quanto imagem estão inseridos em um contexto: no programa, no meio de comunicação, na sociedade” (SIQUEIRA, 2010, p. 55). A autora considera as imagens e discursos17 como objetos observados para analisar um programa científico televisivo. Deste meio, consideramos os aspectos que podem interferir na análise, como o mito, a crença e o imaginário. Uma pesquisa americana, desenvolvida na década de 1990, estudou o mito e o rito da televisão nos seguintes níveis: “1) as funções míticas da televisão numa cultura; 2) a lenda folclórica e estrutura mítica da programação 17 Falados e escritos. Para a autora, imagens e discurso se completam, ao mesmo tempo que conservam características distintas. 55 televisiva e 3) a experiência da audiência da televisão como ritual Quase religioso” (TELEVISÃO..., 1994, p. 41). A base do trabalho é recuperada da teoria de antropologia cultural que conceitua mito, lenda folclórica e ritual voltados para a comunicação de massa. Roger Silverstone (1981 citado por TELEVISÃO..., 1994) entende o mito como uma mistura, partes da ciência, senso comum, pressuposições filosóficas, imaginação literária que formam um mapa do futuro coletivo. Para o autor, os mitos dão o significado da vida e símbolos inspiradores para os desafios diários. Neste direcionamento, Barthes (2001) considera o mito enquanto fala, como um sistema de comunicação, uma mensagem. O autor considera que a mitologia pode surgir com o tempo, pois está relacionada à história. Faz parte de um contexto que posteriormente é repassado pela linguagem, desvinculado do verdadeiro significado. A partir desta informação, entendemos que os mitos são recontados como histórias na televisão em busca de audiência. Neste direcionamento, Siqueira (2010) afirma que símbolos, mitos e rituais são elementos que se perpetuam de geração para geração. De acordo com a autora, “o mito não pode ser identificado como mentira. O mito é uma forma de preservar e representar valores funcionando dialeticamente de modo ampliado, antecipado, esclarecedor ou ocultante” (SIQUEIRA, 2010, p. 83). Para Siqueira (2010), o mito da ciência pela televisão se aloja onde a explicação racional não alcança mais: Pois, à medida que se torna mais complexa, a ciência se distancia dos homens e dá margem a explicações míticas. Isso ocorre porque quanto maior a distância entre a fonte de informação e o seu destinatário, maior o espaço para as explicações míticas se alojarem. É nesse espaço, então, que a indústria cultural passa a reproduzir discursivamente mitos (SIQUEIRA, 2010, p. 76). A autora entende o mito como a esfera do simbólico e a ciência como a esfera da racionalidade, mas conclui que ambos podem se comunicar. Neste contexto, a ciência como mito foi tratada pela autora como parte do reencantamento do mundo (oposto ao “desencantamento do mundo” de Max Webber). O desenvolvimento científico e tecnológico ganha outra significação no meio de comunicação de massa, pois atende a busca do comunitário: O mito tem a capacidade de justificar porque é conhecido, não precisa de apresentação; já está lá, fazendo ligação entre o 56 conhecido e o estranho, o novo, sem explicação racional ainda. Por outro lado, por ser de conhecimento comum, reforça o estar-junto: todos estão unidos no mito, na medida em que o conhecem (SIQUEIRA, 2010, p. 89). Para a C&T, apontamos a visão de Barthes (2001) sobre o contexto técnico-científico que mostra a dualidade entre simbologia e a racionalidade. Em texto sobre Poujade e os intelectuais, o autor reproduz a visão mítica da sociedade burguesa relacionada aos cientistas (intelectuais, professores, filósofos, politécnicos etc.). Os cientistas são percebidos como seres superiores, que vivem fora da realidade. São considerados seres nebulosos e embrutecidos, além de serem comparados a máquinas de pensar. É interessante que Barthes (2001) mostra uma visão social que considera o intelectual como um ser ocioso, preguiçoso, pois está envolvido com atividades que não são consideradas trabalho. Essa visão faz parte do imaginário coletivo de muitos, que vislumbram o cientista como um ser diferenciado. Não só pelas atividades, mas também pela magia que o universo científico proporciona. Nesse sentido, Barthes trata o cérebro de Einstein como um mito vinculado que representa a inteligência. No meio social, ganha um contorno mágico. O imaginário sobre o cientista ocorre em dimensões maiores que sua realidade, sendo a televisão um dos meios que podem contribuir para esse processo. Observamos que a atividade técnico-científica deve ser adaptada para a televisão, com intuito de apresentar o contexto científico de forma modificada, bem como de aproximar a sociedade do fazer ciência. Para Charaudeau (2010a), a crença pertence a um domínio no qual já existe uma verdade constituída, que depende de um certo sistema de pensamento, e à qual o sujeito adere de maneira não racional. “É [...] o domínio que se define pelo encontro entre uma verdade como ‘saber que se sabe saber’” (QUERÉ; 1991 citado por CHARAUDEAU, 2010a, p. 121) e um sujeito que se dirige a essa verdade animado de ‘uma certeza sem provas’”. (JACQUES, 1985 citado por CHARAUDEAU, 2010a, p. 121). Os saberes de crença resultam da atividade humana quando esta se aplica a comentar o mundo, por meio do olhar subjetivo que o sujeito lança sobre ele. O mesmo autor afirma que as crenças dependem dos sistemas de interpretação. “Há sistemas que avaliam o possível e o provável dos comportamentos em dadas situações, procedendo por hipóteses e verificações [...] que permitem fazer predições; [...] ou sobre comportamentos sob diferentes ponto de vista” 57 (CHARAUDEAU, 2010a, p. 46). A interpretação dependerá de como o sujeito enxerga o mundo. Os pontos de vista apresentados pelo autor são: ético, estético, hedônico, pragmático, sob a forma de julgamentos mais ou menos estereotipados que circulam na sociedade, além do modelo que serve de guia para a conformidade social. Em um contexto social, as crenças podem interferir nos julgamentos de ordem moral ou psicológica: i) as crenças são constituídas por um saber polarizado em torno de valores socialmente compartilhados; ii) o sujeito mobiliza uma, ou várias, das redes inferenciais propostas pelos universos de crença disponíveis na situação onde ele se encontra, o que é susceptível de desencadear nele um estado emocional; iii) o desencadeamento do estado emocional (ou a sua ausência) o coloca em contato com uma sanção social que culminará em julgamentos diversos de ordem psicológica ou moral (CHARAUDEAU, 2007a, online). Destacamos agora outro ponto que pode interferir nos estudos televisivos: o imaginário. Em um texto sobre o tema, Charaudeau (2007b) mostra as diferenças entre estereótipos e imaginários. O autor apresenta o significado dos termos que cobrem o mesmo campo semântico. O estereótipo é a oportunidade de dizer algo de verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Há uma ambiguidade de conceito, sendo primeiro uma função necessária de estabelecimento dos laços sociais, de aprendizagem social, usando ideias comuns, padrões repetitivos, como garantias de julgamento social. Mas, em contrapartida, rejeita-se o estereótipo por distorcer ou ocultar a realidade. Charaudeau (2007b) entende que o estereótipo é a relação entre linguagem e realidade, concebida como o lugar que é dado para o fenômeno das representações sociais. Ele destaca a diferença entre real (racionalidade do homem) e realidade (formatada pelo real), e afirma que, no contexto da linguagem, o discurso sempre construiu o real. Charaudeau (2007b, online) entende imaginário como o que está na imaginação, o que não é real, assim, é gerado pelo discurso desenvolvido pelos grupos sociais. A busca pela verdade é um dos objetivos da ciência e da comunidade científica. Nas palavras de Charaudeau, não podemos confundir o valor de verdade e o efeito de verdade. O primeiro é realizado por meio de instrumentos 58 científicos, o segundo não existe, pois está baseado em um saber de opinião. O que vale para o efeito de verdade é a credibilidade. Devemos reconhecer que verdade e crença estão ligadas no imaginário dos grupos sociais. Para o autor, a verdade está marcada pela contradição, pois seria externa ao homem podendo ser atingida por meio do sistema de crenças. David-Silva (2005), em trabalho que aborda os programas jornalísticos no Brasil e na França, destaca a verdade jornalística e como é repassada ao grande público: No entanto ao fazer a notícia, essa verdade “real” dá lugar à verdade coerente. O que é narrado, por ser uma visão parcial dos fatos (por mais que se informe, o jornalista não é onipresente e não tem acesso a todas as informações), deve procurar ser coerente com o universo de crenças do público alvo, ou, em outros termos, com a uma imagem que o jornalista faz de seu público. Sendo assim, a linguagem, em seu sentido mais amplo, deve ser coerente com o que se acredita poder ser verdade em uma determinada comunidade (DAVID-SILVA, 2005, p. 23). As palavras de David-Silva estão em acordo com a definição de discurso de informação apresentada por Charaudeau. Já que cada tipo de discurso molda seus efeitos de verdade, o discurso de informação levanta as seguintes questões: por que informar, quem informar e quais são as provas: O discurso de informação modula-os [tipos de discursos] segundo as supostas razões pelas quais uma informação é transmitida (por que informar?), segundo os traços psicológicos e sociais daquele que dá a informação (quem informar?) e segundo os meios que o informador aciona para provar sua veracidade (quais são as provas?) (CHARAUDEAU, 2010a, p. 50). A verdade (objetivo da ciência) é veiculada para a mídia televisiva nos mesmos padrões do meio técnico científico? Charaudeau (2010a) questiona a existência da verdade midiática. Pelas considerações do autor, entendemos que existem vários tipos de verdade: verdade dos fatos (autenticidade), verdade da origem (fundamentos do mundo, do homem e dos sistemas de valores), verdade dos atos (emerge no instante da realização), verdade de opinião (baseia-se em sistemas de crença e é compartilhada pela maioria) e, por último, verdade de emoção (encanta ou provoca uma reação irrefletida). 59 Após a exposição das verdades, o autor conclui que os fatos não têm uma verdade em si. Sobre o papel do jornalista, apresentamos as observações neste meio de comunicação: [...] o resultado da ilusão da objetividade jornalística é a identificação da voz do repórter a outras vozes, muitas vezes sem que ele próprio ou o leitor se dêem conta da confusão. Essa tendência ao amálgama das vozes potencializa-se na cobertura de ciência, dada a menoridade que define os “leigos” frente ao saber do qual os cientistas são depositários. A qualidade de único verdadeiro desse saber autoriza o jornalista a deixar a fonte falar por intermédio de si. Mas ocorre também o inverso, como outra manifestação da mesma tendência: o jornalista se põe a falar através de sua fonte. Provavelmente resulta dessa incompreensão a respeito do ofício da reportagem o fato de as fontes, com freqüência, queixarem-se de que o jornalista não soube reproduzir seu pensamento ou que simplesmente não reproduziu pensamento algum da fonte por não haver conseguido obter dela uma declaração com a qual concordasse. No lugar de uma “objetividade” além da possibilidade do humano jornalista – inclusive porque vivemos um apogeu do narcisismo –, entra em cena o subjetivismo do repórter que, dispensado de discernir as vozes entre si, e a sua própria, faz de suas fontes bonecos de ventríloquo que falam em seu lugar (TEIXEIRA, 2002, p. 136-137). Nos programas científicos, veiculados na televisão, o jornalista fala por intermédio dos pesquisadores? É possível identificar tal procedimento? Como apresentado anteriormente, o valor da verdade depende do público-alvo e da maneira de tratar a informação. Pelas palavras de Charaudeau (2010a), a verdade depende da natureza da informação e da credibilidade. O valor de verdade se realiza por meio da construção explicativa com ajuda da instrumentação científica, que permite construir um “ser verdadeiro” preso a um saber erudito produzido por textos fundadores. Para o autor, o efeito de verdade (acreditar ser verdadeiro) não existe, pois, está em busca de credibilidade, “baseia-se na convicção, e participa de um movimento que se prende a um saber de opinião, a qual só pode ser apreendida empiricamente, através dos textos portadores de julgamentos” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 49). A análise dos processos discursivos da televisão, em especial os de divulgação científica, está na ordem do imaginário. As provas da verdade devem apresentar: a) autenticidade dos fatos (caracterizada pela possibilidade de atestar a própria existência dos seres do mundo, sem artifícios); b) verossimilhança dos fatos (caracterizada pela possibilidade de se reconstruir 60 analogicamente a existência possível do que foi ou será); e c) a explicação (caracterizada pela possibilidade de se determinar o porquê dos fatos, a motivação, as intenções e a finalidade dos que foram protagonistas). Reforçamos então a responsabilidade da instância de produção na escolha dos temas e na divulgação destes. No contexto científico, consideramos as palavras de Charaudeau (2010a) sobre a responsabilidade na identificação das fontes e das citações, da origem das declarações que serão exibidas. Para o teórico: “nenhuma obra científica poderia contentar-se com as identificações aproximadas (‘de fonte autorizada’, ‘de acordo com testemunhas’...) utilizadas pelas mídias” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 271-272). Logo, entendemos que a prática jornalística deve aproximar-se do estilo científico ao noticiar temas da área. 3.2 OS DISCURSOS MIDIÁTICOS Entender as mídias não é tarefa fácil. A mídia, enquanto objeto de estudo, deve ser compreendida por diferentes perspectivas. Algumas devem ser levadas em consideração: como tentar compreender o papel das mídias para a sociedade, assim como perceber as estratégias adotadas na construção das notícias nos meios de comunicação. Charaudeau (2010a) conceitua mídia como um organismo especializado que tem a vocação de responder a uma demanda social por dever de democracia. “Justifica-se assim a profissão de informadores que buscam tornar público aquilo que seria ignorado, oculto ou secreto” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 58). Para abordarmos o tema, entendemos informar é uma das principais funções das mídias. Para tratar da mídia em diferentes meios, Charaudeau estudou a informação como parte do processo de comunicação. No entendimento do teórico francês, a informação é definida como transmissão de um saber, “com a ajuda de uma determinada linguagem, por alguém que o possui a alguém que se presume não possuí-lo. Implica no processo de produção de discurso em situação de comunicação” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 33-p. 34). Charaudeau (2010a) considera a informação como construtora do saber e dependente do campo de conhecimentos que a circunscreve, da situação de enunciação na qual se insere e do dispositivo no qual é posta em funcionamento. 61 O funcionamento do ato de comunicação é apresentado pelo teórico francês a partir de um modelo de análise do discurso (FIG. 2). Este consiste em uma troca das instâncias de produção e de recepção. A primeira é representada pelo produtor de informação (as emissoras de televisão e seus diretores, por exemplo) e a segunda pelo consumidor de informação (telespectadores). Para o autor, o lugar das condições de produção é formado pelas condições socioeconômicas da máquina midiática (externo-externo) e pelas condições semiológicas da produção (externo-interno). O lugar das condições de recepção também está estruturado em dois espaços: destinatário ideal (interno-externo) e receptor ideal (externo-externo). O primeiro espaço é o alvo imaginado pela instância midiática, já o segundo é a instância de consumo da informação da mídia, que interpreta as mensagens. As Organizações Globo e a Rede Minas e os programas científicos são exemplos de lugares das condições de produção. Como lugar das condições de interpretação, destacamos o público-alvo (interno-externo), que são os pares e o público leigo. FIGURA 2 - Máquina midiática de Charaudeau e os três lugares de construção do sentido Lugar das condições de produção [Externo-Externo] Práticas de organização socioprofissionais [Externo-Interno] Práticas de realização do produto [Organizações Globo e Rede Minas] [Programas audiovisuais de divulgação científica] Representações por discursos de justificativa da intencionalidade dos “efeitos visados” Representações por discursos de justificativa da intencionalidade dos “efeitos econômicos” Influência Recíproca Lugar de construção do produto [Interno] Organização estrutural semiodiscursiva segundo hipóteses sobre a cointencionalidade [Sistemas verbal e visual] Enunciadordestinatário “efeitos possíveis” (intencionalidade e construção do sentido) Retorno de imagens Fonte: CHARAUDEAU, 2010a, p. 23. Adaptada pela autora. Lugar das condições de interpretação [Interno-Externo] Alvo imaginado pela instância midiática Externo-Externo Público [telespectador] como instância de consumo do produto [Pares e o público leigo] [Indexador] “efeitos supostos” “efeitos produzidos” 62 O ato de informar está inserido no processo de transformação do mundo e deve descrever, contar e explicar os acontecimentos: O ato de informar participa [do] processo de transação, fazendo circular entre os parceiros um objeto de saber que, em princípio, um possui e o outro não, estando um deles encarregado de transmitir e o outro de receber, compreender, interpretar, sofrendo ao mesmo tempo uma modificação com relação ao seu estado inicial de conhecimento (CHARAUDEAU, 2010a, p. 41). Entendemos que o discurso das mídias está vinculado ao ato de linguagem, que busca repassar a informação a alguém que não a possui, por meio de um suporte midiático. Pensando no receptor da informação, o autor considera ainda que a informação não é mensurável quantitativamente. Consideramos as palavras de Charaudeau (2010a) ao concluir que o universo da informação midiática é um universo construído. Tal afirmação foi elaborada no desenvolvimento dos modos de organização do discurso de informação. Para o semiolinguista francês, o acontecimento midiático é construído pela atualidade (temporalidade dos acontecimentos da qual a informação midiática deve dar conta), expectativa (captação do interesse do espectador) e de socialidade (tratamento do que surge no espaço público). Neste contexto, recuperamos também a maneira adotada pela informação midiática para atingir seu propósito mediante categorias que permitem ao sujeito falante descrever, relatar e argumentar dentro da situação de comunicação midiática. O relatar o que acontece no espaço público ocorre em um espaço de mediação conhecido como “acontecimento relatado”. Charaudeau (2010a) define que relatar o acontecimento (acontecimento relatado) é a construção da notícia. Compreende fatos18 e ditos.19 O fato relatado está vinculado a uma descrição, explicações e reações. No dito relatado, “a palavra do outro está sempre presente em todo ato de enunciação de um sujeito falante, instituindo um dialogismo20”, discurso heterogêneo por definição, pois se compõe “dos traços das enunciações do 18 “Fatos que têm relação com o comportamento dos indivíduos e com as ações que estes empreendem (por exemplo, os ‘casos de corrupção’), por outro lado com ‘forças da natureza’ que modificam o estado do mundo (por exemplo, as ‘catástrofes naturais’)” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 152). 19 “Ditos que têm relação com pronunciamentos diversos, [...] que ora adquirem valor de testemunho, ora de decisão, ora de reação etc.” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 152). 20 Ver: BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2009. 63 outro” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 161). A partir dessa definição, apresentamos o discurso relatado pela característica de encaixe de um dito em um outro dito, considerada por Charaudeau (2010a) a manifestação da heterogeneidade do discurso. Esse encaixe apresenta marcas que identificam que o que é dito pode ser atribuído a outra pessoa. Observamos tal contexto nos meios científicos por meio das citações nos trabalhos, o uso da terceira pessoa para reproduzir a fala do outro etc. Nesse direcionamento, destacamos o valor do dito na instância midiática. Para os programas científicos, o efeito valorativo é o efeito de saber, que “é quando a declaração emana de um locutor que tem uma posição de autoridade pelo saber. [...] endossado pela instância midiática que relata a declaração, com maior ou menor distanciamento, conforme o caso” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 169). O comentar (acontecimento midiático) é definido como “conhecimento comentado”, pois a explicação dos acontecimentos é realizada com análises e pontos de vista diferentes. O último, acontecimento provocado, acontece por meio de diversos dispositivos: tribunas de opinião, entrevistas e debates. 3.2.1 Contrato de comunicação Para este estudo, consideramos o discurso televisivo como dependente de uma situação de comunicação. “[...] é como palco, com suas restrições de espaço, de tempo, de relações, de palavras, no qual se encenam as trocas sociais e aquilo que constitui o seu valor simbólico” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 67). A situação de comunicação constitui um quadro de referência em que os indivíduos de uma comunidade social se reportam e iniciam uma comunicação. Charaudeau (2010a) apresenta um quadro de referência formado pela troca linguageira em que dados externos e dados internos se inter-relacionam na realização do ato de linguagem. O necessário reconhecimento recíproco das restrições da situação pelos parceiros da troca linguageira nos leva a dizer que estes estão ligados por uma espécie de acordo prévio sobre os dados desse quadro de referência. Eles se encontram na situação de dever subscrever, antes de qualquer intenção e estratégia particular, a um contrato de reconhecimento das condições de realização da troca linguageira em que estão envolvidos: um contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2010a, p. 68). 64 A troca linguageira ocorre em um quadro de cointencionalidade, com restrições de situação de comunicação. Já os dados externos são constituídos pelas regularidades comportamentais dos indivíduos a partir de trocas estáveis, constantes, um quadro convencional de discursos de representação. Os dados internos são propriamente discursivos respondendo ao “como dizer?”, o comportamento dos parceiros de troca, os papéis linguageiros, a maneira de falar. Os dados internos aparecem em três espaços de comportamentos linguageiros: a) locução (tomada de decisão); b) relação (construção de relações entre sujeito falante e interlocutor); e c) tematização (domínio do saber). Contudo, aceitamos que o contrato de comunicação é previamente determinado: O contrato de comunicação e projeto de fala se completam, trazendo, um, seu quadro de restrições situacionais e discursivas, outro, desdobrando-se num espaço de estratégias, o que faz com que todo ato de linguagem seja um ato de liberdade, sem deixar de ser uma liberdade vigiada (CHARAUDEAU, 2010a, p. 71). A identidade das instâncias de informação é dividida em instância de produção e instância de recepção. A primeira, no contexto televisivo, envolve vários atores: os da organização da emissora, sua programação, redação das notícias (seguindo as orientações da linha editorial). O jornalista tem o papel de destaque neste processo. Alguns importantes questionamentos são apresentados por Charaudeau (2010a) quanto à responsabilidade pela informação disseminada (vários atores estão envolvidos), o papel do jornalista (coleta de fatos) e do fornecedor de informação (tratamento da informação). Neste meio, apresentamos a informação no contexto de C&T. Aguiar (1991) considera a informação em ciência e tecnologia como uma busca para englobar as informações, que servem para cumprir e apoiar a atividade de planejamento e gestão em C&T, além do papel das informações (científica e tecnológica): “avaliar o resultado do esforço aplicado em atividades científicas e tecnológicas e subsidiar a formulação de políticas, diretrizes, planos e programas de desenvolvimento científico e tecnológico” (AGUIAR, 1991, p. 12). Concluímos, a partir do conceito anterior, que a informação em C&T deve ser adaptada para atender as necessidades da instância de produção (mídia). A segunda instância, de recepção, é formada pelo público. O público da TV é o telespectador. Charaudeau (2010a) considera o público como uma 65 entidade compósita que não pode ser tratada de maneira global. Considera a identidade social da recepção como incógnita para a instância de produção. Tal identidade pode ser analisada sob dois pontos de vista: do público como um alvo ideal ou das reações do público. A instância de recepção, o sujeito-alvo de informação da instância de produção, é alvo intelectivo (capacidade de pensar) ou um alvo afetivo (ordem emocional). Segundo Charaudeau (2010a), a interação dos dois alvos forma a opinião pública. O alvo intelectivo depende: a) dos interesses que a informação recebida pode proporcionar (organização da vida política e/ou social, de ordem factual e para atender a certa posição social); b) da credibilidade, envolvida pelos imaginários21 do desempenho (espírito do furo), da confiabilidade (espírito dos arquivos) e da revelação (espírito de investigação); e c) da acessibilidade da informação, baseada na clareza com a qual o discurso é construído. Quanto ao alvo afetivo, para Charaudeau (2010a), está vinculado à representação das emoções pelas estratégias discursivas de dramatização (inesperado, repetitivo, insólito, inaudito, enorme e trágico). Levamos em consideração que a discursivização é o lugar “onde se instituem, [...] as diferentes ‘maneiras de dizer’ mais ou menos codificadas. Este lugar é, então, um lugar de restrições, mas convém distinguir aqui as restrições discursivas das restrições formais” (CHARAUDERAU, 2004, online). Concordamos que a mídia televisiva e a divulgação científica estão contextualizadas no contrato de informação. Para o estudo, devemos considerar os atores envolvidos no processo das instâncias de produção e recepção, que estão sintetizados na FIG. 3: 21 Charaudeau (2010a, p. 81) define os imaginários da credibilidade da seguinte forma: desempenho como saber ser o primeiro a transmitir a informação, ter o espírito do furo. O da confiabilidade como saber verificar a informação, ter o espírito de arquivos; e o da revelação como saber descobrir o que está oculto ou em segredo, ter o espírito de investigação. 66 FIGURA 3 – Contrato de comunicação midiática Contrato de comunicação Informação técnicocientífica Telespectador (indexador) Contrato de comunicação “Acontecimento bruto e interpretado” Instância de produção midiática “Notícia” Acontecimento construído Instância de recepção midiática Processo de transformação “Acontecimento interpretado” Processo de interpretação Processo de transação Papel da divulgação científica Televisão Fonte: Charaudeau, 2010a, p. 114, adaptada pela autora. A figura anterior representa o nosso entendimento de contrato de comunicação entre as instâncias de produção e a instância de recepção, no contexto televisivo. A primeira é responsável pelo processo de seleção e adaptação de informações técnico-científicas. Posteriormente, ainda é necessário adaptá-las ao meio televisivo, com o objetivo de conquistar a instância de recepção. No último grupo, destacamos o telespectador indexador, responsável pela seleção e registro do que foi produzido pela televisão sobre C&T. Para nossa pesquisa, os programas de divulgação científica fariam parte do conteúdo a ser indexado em um sistema de recuperação de imagens. 3.2.2 Discurso televisivo O discurso televisivo é definido por sua comunicação rápida, curta e clara. Suas características contribuem para o objetivo de prender a atenção do público, conforme texto de Esslin (1976), citado por Siqueira (2010, p. 61). Na pesquisa de David-Silva (2005), a autora considera que a televisão cumpre, de alguma maneira, a função de se abrir para o mundo, mostrando como vivem as pessoas que estão do lado de lá do espectador. Rocha-Trindade (1988) entende que a construção de um discurso midiatizado reveste aspectos substancialmente diferentes, pois os conteúdos televisivos são direcionados a 67 uma audiência aberta de público indefinido com características heterogêneas de estrato social e cultural, de idades e de interesses: podem ser grupos formados por investigadores da mesma especialidade; turma de estudantes universitários; uma classe de alunos do ensino secundário etc. A autora reforça que varia ainda o discurso com a dimensão da audiência, com o espaço onde se processa a comunicação, com o caráter diferido ou em direto; com a presença ou ausência de elementos detratores; com a motivação prévia dos destinatários. Ainda sobre discurso televisivo, trazemos para a pesquisa, novamente, o estudo americano que trata de mitos e ritos na televisão. A mídia audiovisual apresenta uma linguagem narrativa, vinculada à tradição do conto popular. Uma linguagem narrativa de imagens em movimento (uma "linguagem" específica baseada em uma combinação de som, música e imagens), além da linguagem oral de estrutura narrativa: [...] TV é transmitida para uma nação inteira e deve ser catalogada em uma linguagem de símbolos familiares, contos populares e mitos nacionais ou cósmicos que são instantaneamente reconhecíveis por todos que assistem. Na terminologia do sociolingüista britânico Basil Bernstein, a TV usa uma linguagem pública, "restrita", isto é, restrita a um discurso comum a todos. Como a conversação dentro de uma família ou uma comunidade folk, a TV deve pressupor a memória cultural viva de uma audiência nacional ou internacional, e é cheia de alusões que não precisam ser explicadas, símbolos e referências icônicas não-verbais, que são dadas como certas (TELEVISÃO..., 1995, p. 66). A perspectiva que será adotada em nosso trabalho é baseada nos conceitos teóricos de Charaudeau. Para o teórico francês, as comunidades discursivas (virtualmente) reúnem sujeitos que partilham os mesmos posicionamentos, os mesmos sistemas de valores (opiniões políticas, julgamentos morais, doutrinas, ideologias etc.); e as comunidades comunicacionais (fisicamente), sujeitos que partilham a mesma visão (representações) daquilo que devem ser as constantes das situações de comunicação. Adotamos também as visadas discursivas, que segundo Charaudeau (2004, online) devem ser consideradas do ponto de vista da instância de produção com a perspectiva no sujeito destinatário ideal. Devem, ainda, ser reconhecidas como tais pela instância de recepção. Para os estudos de programas científicos, na mídia televisiva, serão consideradas a visada de 68 informação (“eu” fazer saber e “tu” dever saber) e a visada de instrução (“eu” estabelecer a verdade e mostrar as provas e “tu” ter que avaliar uma verdade). Consideramos o papel da oralidade, que em programas científicos está presente nas narrativas. De acordo com Charaudeau (2010a), como um tipo de troca linguageira, tal interação verbal pode ser regulada de acordo com as situações que envolvem a instância de emissão e a instância de recepção. Nesta direção, destacamos também “a magia da voz”, apresentada pelo mesmo autor para caracterizar outra mídia: o rádio. Observamos que a voz tem um importante papel, para manter a atenção da instância de recepção. Concordamos com o teórico que as características da voz, como timbre, entonação, fluência e acentuação, transmitem o estado de espírito de quem fala, pois o locutor poderá: “parecer autoritário ou humilde, poderoso ou frágil, emotivo ou senhor de si, emocionado ou frio, tudo aquilo com que jogam os políticos e os profissionais das mídias” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 106-107). Retomamos a posição do audiovisual enquanto dispositivo do contrato da informação. A mensagem é adaptada para as características que o suporte televisão oferece, com o uso da imagem em movimento, do som, da música, em função das estratégias de captação e de credibilidade. Logo, a produção televisiva (instância de enunciação), transforma a informação em discurso televisivo e leva a notícia para os telespectadores (instância de recepção). 3.2.3 Discurso científico e tecnológico Após definirmos o discurso televisivo, passaremos a conceituar o discurso científico (e tecnológico). Neste contexto, Rosa (2008) entende que o discurso científico se modifica com o tempo, acompanha a evolução da ciência. A autora apresenta o discurso científico como a difusão do científico, que opera de duas formas: por disseminação e por divulgação. O primeiro funciona entre os pares e o outro é realizado por curso, aulas de ciência e jornalismo. Inicialmente, precisamos compreender o contexto que envolve discurso científico e discurso jornalístico. De acordo com Rosa (2008), os dois discursos “passam a ser parceiros quando ambos se mesclam e se transformam em um novo discurso que levará ao público não especializado a interpretação de determinado conhecimento” (ROSA, 2008, p. 27). 69 O discurso científico está baseado em uma estrutura já estabelecida nas instituições de pesquisa e ensino, além dos pesquisadores envolvidos. Porém, para a veiculação pela televisão, o discurso sofre adaptações para chegar ao grande público: o telespectador. Rosa (2008) apresenta o papel da televisão e considera que, “embora a televisão não produza o conhecimento científico que divulga, ela é responsável por colher, selecionar, organizar e divulgar o conteúdo científico ao público-alvo e esse acesso às informações sobre C&T” (ROSA, 2008, p. 27). Na visão de Charaudeau, o telespectador: [...] é, nesse caso, solicitado muito mais a crer (ou seja, a se pronunciar apenas sobre o verdadeiro/falso) e a sentir (ou seja, reagir em função do sentimento do bem/mal) do que a compreender. Portanto, o risco para a televisão é o da perda de legitimidade, já que seu contrato lhe dá vocação para informar e que para isso deve se mostrar credível (CHARAUDEAU, 2007a, online). Com base em texto de Bakhtin22, Siqueira (2010) apresenta que, na “pós-modernidade, com a valorização da ciência pelos meios de comunicação, o discurso científico, seus argumentos e justificativas são empregados largamente para explicar os mais diversos fenômenos” (SIQUEIRA, 2010, p. 55). Outra importante definição é sobre o discurso tecnológico apresentado por Rosa (2008) como o que “prescreve ações com o propósito de informar aos intérpretes como alcançar certos objetivos. Este é um discurso prescritivoinformativo” (ROSA, 2008, p. 25). Para a autora, este tipo de discurso tem o objetivo de dar as informações e as técnicas de como fazer um determinado procedimento. De acordo com Siqueira (2010), a ciência e a televisão têm diferentes formas de enunciação e a apresentação da ciência pelo meio de comunicação de massa requer a transformação de um discurso, o da ciência, para o da TV. A autora também discute questões sobre mito, crença e imaginário. Rosa (2008) apresenta a mesma interpretação, pois considera que “divulgar ciência e tecnologia não se trata de traduzir o discurso do pesquisador, mas sim transformá-lo em um novo discurso” (ROSA, 2008, p. 26). Logo, buscamos compreender um modelo sociocomunicacional do discurso científico, lembrando que o modelo é definido por Charaudeau, tanto como uma hipótese sobre o funcionamento do ato de linguagem como por 22 BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 3. ed. São Paulo: Unesp, 1993. 70 permitir, por meio de sua decomposição, analisar diferentes aspectos. Destacamos ainda o conceito de situação de comunicação, definida como um “conjunto de condições situacionais não enunciadas que determinam em parte o sentido do ato de linguagem e que fariam deste um objeto de troca contratual entre as duas partes envolvidas” (CHARAUDEAU, 2010c, online). Para o entendimento do discurso da ciência, serão consideradas as estratégias de comunicação legitimação, credibilidade e captação, considerando os sujeitos das instâncias de produção (jornalistas e especialistas) e da instância de recepção (telespectador). Inserindo o mesmo discurso na mídia televisiva, destacamos a dificuldade da instância de produção em disponibilizar um conteúdo científico a um público heterogêneo. Sabemos que o domínio em ciência pertence a um grupo específico de pessoas, grupo especializado e que, em muitos aspectos, se distingue do público-alvo do discurso televisivo, mesmo quando o assunto é a própria ciência. Sobre isso, lembramos, Charaudeau (2010a) apresenta o papel da informação, a qual objetiva transmitir um saber a quem não o possui. Neste contexto, é observado que as mídias: “acham-se [...] na contingência de dirigir-se a um grande número de pessoas, ao maior número, a um número planetário, se possível” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 19). Pelo objetivo comercial, tenta-se alcançar o maior número possível de telespectadores. Em caminho diverso, o discurso científico, nas palavras de Charaudeau, quando trata das condições de captação pela mídia, “[...] implica a seleção de um público muito reduzido, ultra especializado, que possua os mesmos instrumentos de raciocínio, a mesma terminologia e compartilhe os mesmos conhecimentos da comunidade científica” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 76). Mesmo elaboradas para a análise textual, recuperamos as palavras de Charaudeau sobre os modos de organização do discurso, destacando o modo argumentativo para compreensão do universo do discurso científico.23 O teórico francês explica os procedimentos da encenação argumentativa, a qual: [...] consiste, para o sujeito que quer argumentar, em utilizar procedimentos que, com base nos diversos componentes do modo de organização argumentativo, devem servir a seu propósito de 23 A argumentatividade do discurso científico é uma característica também apresentada por Rosa (2008): “Um elemento importante do discurso científico é a argumentatividade, que comporta os chamados índices de objetividade (voz do cientista e apagamento do sujeito)” (ROSA, 2008, p. 27). 71 comunicação em função da situação e da maneira pela qual percebe seu interlocutor (ou seu destinatário) (CHARAUDEAU, 2010b, p. 231). Em outro texto, Charaudeau (2010a), comparando os discursos de informação e o científico, entende que em comum eles têm a problemática da prova. Para o discurso científico, a questão é mais complexa, pois a problemática inscreve a prova em um programa de demonstração racional (tecnicidade). Esse conceito impede o desenvolvimento do discurso de informação pela definição do destinatário. Com efeito, o interesse principal do discurso demonstrativo reside na força argumentativa de seu conteúdo, como se [...] houvesse o pressuposto de que o destinatário já é interessado de antemão pela proposta do cientista ou do especialista e de que possui um saber também especializado (CHARAUDEAU, 2010a, p. 61-62). Sobre outro tema, o autor destaca o processo de vulgarização adotado na mídia. Ele entende que a atividade de vulgarização é deformante. Diz que depende do alvo construído pelo sujeito que explica, e, quanto mais amplo o alvo (nos planos sociológico, intelectual e cultural), há a necessidade de deformar o saber que deu origem à informação. “[...] a vulgarização praticada pela televisão seja mais deformante do que a praticada pelo rádio ou pela imprensa” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 62). O tipo de discurso deformado, como já apresentado no capítulo anterior, é representado principalmente pela divulgação científica. A divulgação científica televisiva é responsável por “adaptar” as fontes científicas para o telespectador. Incluímos também as palavras de Bueno (2010, p. 3), que trata do nível do discurso da comunicação científica e do da divulgação científica e leva em consideração que a última está tipificada pelo público leigo, em geral, que não é alfabetizado cientificamente, o que compromete o processo de difusão da C&T pela televisão. Como o público é leigo, faz-se um discurso para um público não especialista, simplificando a C&T, e deformando-a, no olhar do cientista. Assim, para análise dos programas científicos, devemos considerar as palavras de Charaudeau quanto à explicação simplificada da mídia (TV), vulgarização. Ele entende que, na televisão, a visada de captação é transformada em uma vulgarização dramatizada. “[...] as mídias trapaceiam cada vez que uma explicação é apresentada como decodificação simplificada 72 de uma verdade oculta, como acessível a todos e a mesma para todos ao efeito mágico da vulgarização” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 62-63). Neste caminho, buscamos compreender como o processo é construído. O conteúdo das ciências e o processo da vulgarização da informação foram apresentados por Charaudeau. Este defende, com as palavras de Pierre Bourdieu, que a verdade complicada deve ser dita de forma complicada. Assim, para o teórico francês, a mídia se fundamenta no imaginário sobre a vulgarização da informação: [...] quanto mais um saber é amplamente compartilhado, tanto mais ele é compreendido por uma grande quantidade de receptores e tanto menos ele informa; quanto mais um saber é reservado a um grupo reduzido, mais ele exclui receptores e mais pode informar. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 265). 3.2.4 Representações O teórico francês entende que as representações estão incluídas no real, ou são dadas como o próprio real, já que tanto os saberes de conhecimento quanto os de crença estão relacionados à percepção-construção do ser humano com o real. As representações “se baseiam na observação empírica das trocas sociais e fabricam um discurso de justificativa dessas trocas, produzindo-se um sistema de valores que se dirige em norma de referência” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 47). A partir dessas definições, é discutida a questão da categorização social do real padronizada, revelando sistemas de valores. Adotando um conceito de outra área do conhecimento (psicologia social), define as representações sociais como “uma forma de conhecimento socialmente compartilhado do mundo” (CHARAUDEAU, 2007b, online, tradução nossa). Já as representações sociodiscursivas são definidas da seguinte forma: [...] mini-narrativas que descrevem seres e cenas de vida, fragmentos narrados (Barthes dizia “parcelas de discursos”) do mundo que revelam sempre o ponto de vista de um sujeito. Esses enunciados que circulam na comunidade social criando uma vasta rede de intertextos se reagrupam constituindo aquilo que chamo de um “imaginário sociodiscursivo”. Eles são o sintoma desses universos de crenças compartilhadas que contribuem para construir ao mesmo tempo um elo social e um eu individual (por exemplo, o imaginário da falta, do pecado, do poder) (CHARAUDEAU, 2007a, online). 73 O imaginário sociodiscursivo e a crença reaparecem mostrando a interferência destes para os estudos discursivos. 3.3 INDEXAÇÃO DE PROGRAMAS TELEVISIVOS E O PAPEL DO INDEXADOR Para trabalharmos o processo de indexação de programas da mídia televisiva, buscaremos conceituar a atividade para compreendermos as dificuldades da recuperação de documentos. Inicialmente, apresentaremos o processo voltado para documentos bibliográficos. O termo documento será adotado aqui pela orientação da norma NBR 12676/1992,24 “qualquer unidade, impressa ou não, que seja passível de catalogação ou indexação” (ASSOCIAÇÃO..., 1992, p. 1), e a indexação é o “ato de identificar e descrever o conteúdo de um documento com termos representativos dos seus assuntos e que constituem uma linguagem de indexação” (ASSOCIAÇÃO..., 1992, p. 2). Fairthone (1958), citado por Lancaster (2003, p. 13), entende que a indexação é o problema fundamental bem como o espetáculo mais dispendioso da recuperação da informação. Lancaster (2003), em trabalho sobre indexação e resumos, apresenta o objetivo das duas atividades: “indicar de que trata o documento ou sintetizar seu conteúdo” (LANCASTER, 2004, p. 6). O mesmo autor considera que a indexação de assuntos objetiva atender a necessidade de informação de uma clientela. Há a indexação seletiva (indicação geral do documento) e a indexação exaustiva (indicação de assunto específico do documento). O mesmo autor trata das duas etapas da indexação de assuntos: a análise conceitual e a tradução. A primeira implica decidir o assunto do documento. É necessário realizar a análise conceitual do documento, ou seja, mostrar de que ele se trata. Já a etapa da tradução “envolve a conversão da análise conceitual de um documento num determinado conjunto de termos de indexação” (LANCASTER, 2004, p. 18). Tratar de indexação envolve também trabalhar em um processo de sistematização das informações. A adoção de vocabulário controlado é uma 24 Esta Norma fixa as condições para a prática normalizada do exame de documentos, da determinação de seus assuntos e da seleção de termos de indexação. Destina-se aos estágios preliminares da indexação, não tratando das práticas de qualquer tipo de sistema de indexação, pré ou pós-coordenado. É dirigida para sistemas de indexação nos quais os assuntos dos documentos são expressos de forma resumida, e os conceitos são registrados por meio dos termos de uma linguagem de indexação. Aplica-se especialmente a serviços de indexação independentes e a serviços de indexação em rede. 74 forma de garantir a recuperação de uma informação pelo usuário. Lancaster (2003) define a ferramenta como uma lista de termos autorizados, é uma forma de estrutura semântica que visa: 1. controlar sinônimos, optando por uma única forma padronizada, com remissivas de todas as outras. 2. diferenciar homógrafos [...]; 3. reunir ou ligar termos cujos significados apresentem uma relação mais estreita entre si [...] as hierárquicas e as nãohierárquicas (ou associativas) [...] (LANCASTER, 2003, p. 19) Recuperamos um trabalho sobre indexação televisiva direcionada ao CAPTE do CEFET-MG. Tal trabalho apresenta as dificuldades para classificação desse tipo de documento. Para a autora: Ao considerar a classificação de um gênero dependente da situação de comunicação, a Análise do Discurso possibilita uma análise de elementos que vão além do conteúdo veiculado por um programa. Essa análise poderá ser chave para indexação do programa na base de dados criada pelo CAPTE. Essa medida transcenderá ao que é realizado usualmente nos Centros de Documentação (Cedocs) dos canais de televisão, que se centram na descrição do conteúdo da informação. Comumente, não há correspondência entre as definições teóricas de gêneros e suas definições institucionais, as quais associam em uma mesma rubrica programas bastante heterogêneos (SABINO, 2011, p. 168). Destacamos, no mesmo trabalho, algumas dificuldades no processo de indexação do material audiovisual, reforçando a relevância de novos estudos sobre o tema. Lancaster (2004) considera imagens e sons como áreas difíceis por envolverem campos da tecnologia da fala, visão computacional e compreensão de documentos, que ultrapassam o escopo das aplicações de indexação de documentos impressos. Lancaster (2004) analisou vários trabalhos que descreviam imagens para recuperação. A pesquisa de Turner (2005), citado por Lancaster (2004), constata a importância de se adotarem termos associados às imagens (ou descrições da tomada). Outra pesquisa citada é a de Jörgensen (1996), o qual constatou que sujeitos solicitados a descrever imagens tinham maior probabilidade de selecionar atributos como características exatas, objetos e cor, concluindo que: “a indexação eficaz de imagens requer o emprego de uma ampla gama de atributos: perceptuais, interpretativos e reativos” (JÖRGENSEN citado por LANCASTER, 2004, p. 233). Após analisar trabalhos sobre indexação e resumos para imagens e sons, 75 concluiu que os estudos futuros para recuperação do discurso falado dependeriam do progresso do desenvolvimento da tecnologia da fala. Dahlberg (1978), em trabalho sobre a teoria dos conceitos, aponta alguns elementos a serem considerados para categorização de assuntos: linguagem natural, linguagem formalizada, características, objetos, conceitos e outros. Destaca a importância de se definirem corretamente os conceitos, pois: Por conseguinte, parece hoje mais do que em qualquer outra época necessário fazer todos os esforços a fim de obter definições corretas dos conceitos, tanto mais que o contínuo desenvolvimento do conhecimento e da linguagem conduz-nos à utilização de sempre novos termos e conceitos cujo domínio nem sempre é fácil manter. A importância das definições evidencia-se também quando se tem em vista a comunicação internacional do conhecimento. É pelo domínio perfeito das estruturas dos conceitos que será possível obter também perfeita equivalência verbal (DAHLBERG, 1978, p. 107). Conclui, ainda, que as definições dependem do conhecimento que se tem dos assuntos. Charaudeau (2007b) retrata a questão dos significados dos termos em áreas do conhecimento diferentes. A necessidade de categorizar os programas televisivos para análise científica é apresentada por David-Silva (2005), levando em consideração o papel do indexador: A tentativa de classificação e ordenação do mundo pela ciência é antiga e, por que não, razão mesma de sua existência. Na procura de entendermos melhor determinados objetos, dividimo-los em fragmentos, dissecamos, nomeamos, buscamos relações, reações e para, depois de tudo, dizermos: é assim que isso funciona. No entanto, não devemos esquecer de que, como diz Foucault, essa ordem interna das coisas é algo que só existe através do crivo de um olhar. O olhar de um cientista, de um analista, é apenas um olhar, ou como diz Charaudeau: “um possível interpretativo”, situado em um determinado lugar e época e, por isso mesmo, sujeito a valores e verdades temporariamente válidos (DAVID-SILVA, 2005, p. 62). A classificação de documentos apresentada por Lancaster (2003) permeia todas as atividades de armazenamento e recuperação de informação. Logo, “refere-se à formação de classes de itens com base no conteúdo temático” (LANCASTER, 2003, p. 21). No contexto atual, em 2012, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) publicou um documento atualizando a classificação das áreas do conhecimento. O objetivo da tabela é “proporcionar aos órgãos que atuam em ciência e tecnologia uma maneira ágil e funcional de 76 agregar suas informações” (COORDENAÇÃO..., 2012, online). De acordo com o documento, a classificação elaborada busca sistematizar informações sobre o desenvolvimento científico e tecnológico, especialmente aquelas concernentes a projetos de pesquisa e recursos humanos. As áreas do conhecimento foram divididas em quatro níveis: 1º nível - Grande Área: aglomeração de diversas áreas do conhecimento em virtude da afinidade de seus objetos, métodos cognitivos e recursos instrumentais refletindo contextos sociopolíticos específicos. 2º nível - Área: conjunto de conhecimentos inter-relacionados, coletivamente construído, reunido segundo a natureza do objeto de investigação com finalidades de ensino, pesquisa e aplicações práticas. 3º nível - Subárea: segmentação da área do conhecimento estabelecida em função do objeto de estudo e de procedimentos metodológicos reconhecidos e amplamente utilizados. 4º nível - Especialidade: caracterização temática da atividade de pesquisa e ensino. Uma mesma especialidade pode ser enquadrada em diferentes grandes áreas, áreas e subáreas (COORDENAÇÃO..., 2012, online). Ao todo foram confirmadas nove grandes áreas: Ciências exatas e da terra; Ciências biológicas; Engenharias; Ciências da saúde; Ciências agrárias; Ciências sociais aplicadas; Ciências humanas; Linguística, letras e artes; e a área mais recente Multidisciplinar. As grandes áreas avaliam 81 áreas e mais de 340 subáreas conforme a lista a seguir: Ciências exatas e da terra Matemática Probabilidade e estatística Ciência da computação Astronomia/Física Química Geociências Ciências biológicas Biologia geral (genética) Morfologia Fisiologia Bioquímica Biofísica Farmacologia Imunologia Microbiologia Parasitologia Biodiversidade Zoologia Engenharias (I, II, III e IV) Engenharia civil Engenharia sanitária Engenharia de transportes Engenharia química Engenharia de minas Engenharia de materiais e metalúrgica Engenharia nuclear Engenharia mecânica Engenharia naval e oceânica Engenharia aeroespacial Engenharia de produção 77 Engenharia elétrica Engenharia biomédica Ciências da saúde Medicina Nutrição Odontologia Farmácia Enfermagem Saúde coletiva Educação Física Fonoaudiologia Fisioterapia e Terapia ocupacional Ciências agrárias Agronomia Recursos florestais e Engenharia florestal Engenharia agrícola Zootecnia Recursos pesqueiros Medicina veterinária Ciência de alimentos Ciências sociais aplicadas Direito Administração Turismo Economia Arquitetura e urbanismo Desenho industrial Planejamento urbano e regional Demografia Ciência da informação Museologia Comunicação Serviço social Ciências humanas Filosofia Teologia Sociologia Antropologia Arqueologia História Geografia Psicologia Educação Ciência política Linguística, Letras e Artes Letras Artes Música Multidisciplinar Interdisciplinar Ensino Materiais Biotecnologia Ciências ambientais 78 Vários projetos de pesquisa, advindos principalmente via agências de fomento, adotam tal classificação tanto para os temas propostos como para oferecimento de bolsas, por exemplo. Acreditamos que um trabalho sistemático, utilizado por grande parte da comunidade científica e tecnológica, torna-se um instrumento referencial para a elaboração de uma base de dados audiovisual. Não há necessidade de adotarmos o documento na íntegra, pois é preciso que ele seja adaptado à realidade dos temas abordados na televisão. Outra importante questão é sobre o perfil do usuário do arquivo de documentos audiovisuais. Os pesquisadores, analistas de discurso, possuem formação acadêmica em diversas áreas do conhecimento. Em trabalho desenvolvido em 2012, foi traçado o perfil dos usuários do sistema do CAPTE. Os dados recuperados apontam as ocupações profissionais das pessoas pesquisadas: “docentes, pesquisadores, discentes de pós-graduação, jornalistas e demais profissionais interessados, ligados às áreas da Comunicação, Linguística, Educação, História, Sociologia, Filosofia, e Computação” (DAVID-SILVA et al., 2012, p. 6). Entendemos que, direta ou indiretamente, a tabela de conhecimento da CAPES já tenha sido objeto de consulta desses pesquisadores. Ao trabalharmos os programas científicos veiculados na TV brasileira, podemos contribuir na construção do sistema direcionando-o para esse universo, pois sabemos que, além dos programas especializados, o tema C&T também é notícia em telejornais, programas de auditório, desenhos, filmes, novelas etc. Encerramos a seção com um diálogo entre a ciência e a televisão. O audiovisual destaca o resultado de uma pesquisa sobre os temas mais divulgados pela mídia televisiva: CI – Quais têm sido as grandes correntes, nesse fluxo de informação? Retorno à pergunta que lhe fiz anteriormente: quais os temas mais presentes nos programas de divulgação científica, pelo mundo afora? O que as pessoas mais buscam assistir? TV – Uma “análise de conteúdo” do catálogo dos cinco últimos International Television Science Programme Festival revela algumas tendências bem evidentes, na linha editorial das principais emissoras de televisão de todo o mundo. Essas tendências, com certeza, vêm ao encontro das preferências do público. Por esse critério, os principais blocos temáticos dos programas de divulgação científica pela TV têm sido: 1º os assuntos de medicina e saúde – e aí entra toda a questão da origem e evolução da vida, dos processos biológicos, inclusive doenças e morte. As séries da PBS americana, da BBC e da NHK japonesa são admiráveis, mas 79 há lugar de destaque para os documentários suecos (os de Lennart Nilsson, como O milagre da vida, são exibidos no Brasil desde os anos 70), franceses e alemães; 2º high-tech – realizados com toda aquela marca de superação de barreiras e limites, que fascina as audiências globais. De novo se destacam as realizações japonesas e mais as dos países nórdicos, Suíça e Austrália – todas fortemente apoiadas por magníficos trabalhos de computação gráfica; 3º os temas das chamadas Ciências da Natureza, em que uma clara ênfase se tem dado às questões ambientais. Aqui é a vez dos canadenses (TV Ontário), da PBS (série Nova) e das coproduções européias (Arte, France-3, Deutsche Welle, RAI); 4º os assuntos das chamadas Ciências do Comportamento, em que toda uma linha de documentários-verdade vem ocupando espaço nas grades de programação. Os realizadores europeus têm trabalhado bastante essa linha. (Não se zangue comigo, mas a BBC também já experimentou essa via de produção com “câmeras ocultas”, numa série chamada A vida secreta da família...); 5º a História da Ciência, em que o apoio dos novos recursos de produção de imagem, como computação gráfica, tem sido marcante (MONTEIRO; BRANDÃO, 2002, p. 100-101). A “televisão” cita temas que despertam a curiosidade dos telespectadores. Há sim o interesse por assuntos da rotina das pessoas (saúde), mas, em contrapartida, a natureza com o apoio da computação gráfica é tema que pode ser transformado em audiência. 3.3.1 Profissional da informação25 Lancaster (2003, p. 6) define o papel do indexador como aquele que descreve seu conteúdo ao empregar um ou vários termos de indexação, comumente selecionados de algum tipo de vocabulário controlado. Para o estudioso, o responsável pelo processo deve verificar se o artigo satisfaz ou não a necessidade de informação do usuário. Lancaster entende que no momento da indexação ele deve perguntar: a) De que trata?; b) Por que foi incorporado ao nosso acervo?; c) Quais de seus aspectos serão de interesse para os nossos usuários? Concordamos que tais questões podem ser adotadas na indexação de assuntos para programas televisivos. 25 Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações, de 2002, são considerados profissionais da informação: bibliotecário, documentalista e analista de informações. De acordo com o documento, os profissionais: “disponibilizam a informação em qualquer suporte; gerenciam unidades como bibliotecas, centros de documentação, centros de informação e correlatos, além de redes e sistemas de informação” (BRASIL, 2002, online); além de tratarem tecnicamente e desenvolverem recursos informacionais com o intuito de facilitar o acesso ao conhecimento. 80 Sobre o tratamento da informação, reproduzimos trecho de Charaudeau (2010a): Toda escolha se caracteriza por aquilo que retém ou despreza; a escolha põe em evidência certos fatos deixando outros à sombra. A cada momento, o informador deve perguntar-se não se é fiel, objetivo ou transparente, mas que efeito lhe parece produzir tal maneira de tratar a informação e, concomitantemente, que efeito produziria uma outra maneira, e ainda uma outra, antes de proceder a uma escolha definitiva. A linguagem é cheia de armadilhas. Isso porque as formas podem ter vários sentidos (polissemia) ou sentidos próximos (sinonímia); tem-se realmente consciência das nuances de sentido de cada uma delas? Além disso, um mesmo enunciado pode ter vários valores (polidiscursividade) (CHARAUDEAU, 2010a, p. 38). Para a indexação de programas televisivos devemos compreender se é necessário ou não adotar as orientações praticadas para indexação de documentos impressos. Segundo o trabalho de Lancaster (2003), a leitura completa de um documento, para a indexação, quase não acontece. O profissional lê algumas partes, consideradas essenciais, como título, resumo, sumário, introdução etc. O próprio autor reconhece a dificuldade do indexador em conhecer a obra no todo, levando em consideração outras atividades e outros documentos. O procedimento deve ser diferente para o caso de outros tipos de documentos (meios audiovisuais, visuais e sonoros etc.). Segundo o documento ISO 5963, citado por Lancaster (2003, p. 25), é impossível examinar um documento no todo. Assim, a indexação é feita a partir de um título ou sinopse. Mas o documento deixa claro que o indexador deve ter a oportunidade de assistir ou ouvir a obra não impressa, caso a descrição seja inadequada. A mesma orientação é reproduzida pela NBR 12676/1992: Os documentos não impressos, tais como multimeios, realia, etc., pedem procedimentos diferentes. Nem sempre é possível, na prática, examiná-los integralmente (p. ex: projetar um filme, etc). A indexação, então, é geralmente feita a partir do título e/ou da sinopse [...](LANCASTER, 2003, p. 21). Lancaster apresenta duas regras para indexação (tanto para a análise conceitual quanto para a tradução): 1. Inclua todos os tópicos reconhecidamente de interesse para os usuários do serviço de informação, que sejam tratados substantivamente no documento. 81 2. Indexe cada um desses tópicos tão especificamente quanto o permita o vocabulário do sistema e o justifiquem as necessidades ou interesses dos usuários. (LANCASTER, 2003, p. 36) Após a apresentação das regras, o autor orienta que estas estão sujeitas a interpretações. Orienta também os indexadores a não inserirem assuntos que não estão no documento, apesar de confirmar que, na prática, a técnica é adotada por indexadores especialistas. Retomamos aqui o papel do indexador ao trabalhar com acervos televisivos. Podemos considerar que o indexador passa por etapas específicas ao realizar os registros de acervos televisivos. Destacamos novamente a análise do discurso, a partir do esquema de representação de Charaudeau, tratando da troca de instâncias de produção da informação. Retomamos, também, a discussão sobre a instância de recepção, ao não prever o público, o telespectador. Assim, concluímos que o profissional responsável pelo processo de indexação de conteúdos televisivos também não está previsto pela instância de produção. Logo, o registro dos dados da mídia audiovisual segue uma estrutura diferente de catalogação, se comparado a outros tipos de documentos. Um sistema voltado para pesquisas em análise do discurso demanda uma alimentação do sistema orientada para a recuperação de informações além dos assuntos e palavras-chave. 82 4 METODOLOGIA Apresentamos os caminhos percorridos que responderão às nossas perguntas iniciais sobre os programas de C&T da televisão. Gil (1994, p. 27) define método como o caminho para se chegar a determinado fim. O mesmo autor conceitua o método científico como um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento. Para o desenvolvimento dos estudos sobre a análise do discurso e seus modos de organização, Charaudeau (2010b, p. 17-18) define método pela prática analisante que a teoria impõe, pelo fato de que a teoria é determinada pelo método e que, ao mesmo tempo, o institui. Apresentam-se a atividade de abstração (processa por diferenciações na manifestação linguageira, pela quantidade de comparações, depois por transformações e/ou por analogias-homologias que permitem distinguir níveis de organização da estrutura linguageira cada vez mais abstratos) e a atividade de elucidação (manifestação linguageira em função de um contexto, a fim de fazer com que surjam conjuntos significantes da relação do ato de linguagem com suas condições de produção-interpretação. Lugar de conflito entre um sujeito coletivo e um sujeito individual). Charaudeau (2010c) define objeto como “um conjunto de mecanismos discursivos cuja existência e modo de organização no interior de uma produção discursiva qualquer (texto ou enunciados aleatórios) se busca delimitar” (CHARAUDEAU, 2010c, online). Em outro texto, Charaudeau (2011) trata as ciências da linguagem como parte das disciplinas de corpus: compilação de dados linguísticos (sob a forma de textos escritos ou orais, de documentos diversos, de observações empíricas selecionadas ou de sondagens provocadas) que são constituídos em objeto de análise. A problemática, para o teórico francês, é um conjunto coerente de proposições hipotéticas (ou de postulados) que “determina um objeto, um ponto de vista de análise e um questionamento por oposição a outros questionamentos possíveis” (CHARAUDEAU, 2011, p. 10). O mesmo autor considera que um corpus depende do tratamento que damos a ele. A metodologia para o presente trabalho consiste em uma investigação descritiva com abordagem qualitativa e exploratória. Assim, usaremos como método o estudo de caso. Gil (1994) entende que é o método mais adequado para 83 pesquisas exploratórias e considera que “o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo” (GIL, 1994, p. 78). Para o autor, a análise de uma unidade de um determinado universo possibilita compreender a sua generalidade. Os programas televisivos caracterizados como de divulgação científica são o nosso objeto de estudo. A base teórica, o Discurso das mídias de Charaudeau, e alguns textos da linha de pesquisa sobre Ciência da Informação. A análise dos assuntos foi desenvolvida com base na estrutura do programa televisivo, a partir da identificação categórica apresentada, ou seja, o conteúdo das matérias veiculadas nos programas analisados. O objetivo é levantar possíveis dados, recuperados dos programas de televisão e que podem ser inseridos em um acervo audiovisual. Tal estrutura poderá contribuir na construção dos metadados para a futura indexação dos conteúdos veiculados. Assim, o tipo de emissão é a divulgação científica pela televisão, apresentada por jornalistas, além do apoio dos especialistas entrevistados. A amostra é formada por três programas sobre ciência e tecnologia, com transmissão pela mídia televisiva, recuperados entre os meses de outubro de 2012 e fevereiro de 2013. Esperamos realizar a categorização dos assuntos sobre C&T, para o arquivamento dos documentos audiovisuais no CAPTE. 4.1 SELEÇÃO DOS PROGRAMAS A seleção dos programas baseou-se nas características discursivas apresentadas por Charaudeau: O discurso de análise que propomos tem as seguintes propriedades: construção racional de seu objeto segundo critérios precisos (construção do corpus), o que permite conferir os resultados das análises; determinação de um instrumento de análise que sirva de base às interpretações produzidas ulteriormente; processo de interpretação que implique uma crítica social, não como ideologia (se a crítica fosse direcionada, perverteria o objetivo científico), mas como processo que faz descobrir o não dito, o oculto, as significações possíveis que se encontram por trás do jogo de aparências (CHARAUDEAU, 2010a, p. 29). 84 Consideramos as definições de Charaudeau (2011) ao apresentar as características de um corpus de análise do discurso, como um corpus de discurso, uma construção resultante de diversos tipos de agrupamentos: a) corpus segundo o paratexto (de palavras, de enunciados, de modos de enunciação); b) interdiscurso (saberes de conhecimento, saberes de crença); e c) situação (locutores, finalidade e dispositivo). Os canais escolhidos foram Rede Globo (TV aberta), Rede Minas (TV estatal) e Globo News (TV por assinatura). Não comparamos o tipo de TV de cada canal (aberta, pública e privada), mas as estruturas dos programas, os atores envolvidos e os conteúdos disseminados para o telespectador. A seleção do corpus foi baseada em temas comuns aos três programas. 4.1.1 Delimitação do corpus Inicialmente definimos quais programas deveriam ser observados para a pesquisa. O primeiro critério definido estava relacionado à nacionalidade. O programa deveria ser veiculado por um canal brasileiro e tratar diretamente do tema ciência, tecnologia e meio ambiente. Recuperamos um total de 13 programas, relação apresentada no capítulo 2 sobre C&T: Globo Repórter, Globo Rural, Globo Ciência, Programa Cidades e Soluções, Globo News Ciência e Tecnologia, Globo News Saúde, Globo Mar, Globo Universidade, Globo Ecologia, Repórter Eco, Programa Aventura Selvagem e TV é Ciência. Em outro momento, definimos que os programas deveriam demonstrar que a C&T era o conteúdo principal da produção. Acompanhamos as chamadas na TV e a divulgação em outras fontes, como a internet. Chegamos a quatro produções: Globo Ciência, Globo News Ciência e Tecnologia, Repórter Eco e Futurando. Este foi o último programa a entrar na seleção, pois sua estreia na TV ocorreu em 14 de outubro de 2012. Para trabalharmos com uma amostra qualitativa de dados, concluímos que três programas seria o número ideal para análise. Logo, o Repórter Eco, apesar de veicular conteúdo sobre C&T, tem como assunto principal o meio ambiente. Por esse motivo, não foi selecionado para o conjunto principal. 85 4.1.1.1 Globo Ciência Exibido desde 1984, o Globo Ciência é o programa de divulgação científica de maior longevidade na TV brasileira. O programa se caracteriza como tradutor de conceitos da ciência e tecnologia para o público em geral. Mostra como o conhecimento científico pode contribuir para melhorar a vida dos telespectadores. Com aproximadamente 25 minutos de duração, o Globo Ciência é um dos programas que integram o Globo Cidadania, exibido nas manhãs de sábado pela Rede Globo, e também faz parte do Canal Futura, às sextas-feiras, com reprises aos sábados e domingos. O Globo Ciência é apresentado por Alexandre Henderson. No período entre novembro e fevereiro de 2013, foram recuperados os seguintes programas: 86 QUADRO 4 - Globo Ciência Fonte: Autoria nossa. Em 2012, o programa adotou uma nova proposta. O semanal é iniciado com uma pergunta. Os questionamentos são enviados pelos telespectadores e, a partir deles, o programa é produzido. Identificamos que alguns programas selecionados eram reprises, ou seja, foram veiculados em datas anteriores e foram reproduzidos no período que nós estabelecemos para o levantamento. Tal ocorrência foi detectada principalmente no período entre dezembro 2012 e fevereiro de 2013. 4.1.1.2 Futurando O Futurando é um programa de ciência, meio ambiente e tecnologia, desenvolvido pela TV alemã Deutsche Welle. O programa é uma parceria entre os 87 canais alemão e brasileiro. De acordo com os produtores, o programa mostra, cada semana, projetos inovadores com imagens de alta qualidade e uma linguagem clara. O programa é transmitido aos sábados, às 14h, pela Rede Minas. A Rede Minas é uma TV pública, do estado Minas Gerais. Atualmente, é considerada uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). No site do Observatório da Radiodifusão Pública na América Latina,26 são apresentadas as seguintes informações sobre o canal: i) a missão é contribuir para o desenvolvimento intelectual, social e econômico de Minas Gerais, promovendo seus valores e o intercâmbio com outros agentes de educação e cultura, por meio da produção e veiculação de programas de televisão de interesse público; ii) o modelo de financiamento é fonte de recursos provindos de receitas próprias com a venda de patrocínio, apoios culturais e licenciamento de marcas para investimentos em marketing. A interação com público é realizada pelo Fale Conosco do canal (via site). O Futurando é apresentado direto da Alemanha, pela jornalista e coordenadora editorial Nádia Campos: 26 OBSERVATÓRIO DA RADIODIFUSÃO PÚBLICA NA AMÉRICA LATINA. Disponível em: <http://www.observatorioradiodifusao.net.br/index.php?option=com_content&view=article&i d=1041%3Arede-minas-tv&catid=304%3Atvs&Itemid=382>. Acesso em: 2 ago. 2013. 88 QUADRO 5 – Programas selecionados do Futurando (continua) 89 QUADRO 5 – Programas selecionados do Futurando (conclusão) Fonte: Autoria nossa. Detectamos que uma das características do conjunto de programas selecionados é a interdisciplinaridade dos temas na mesma edição. Em um dos programas parte significante das matérias é produzida na Alemanha. 4.1.1.3 Globo News Ciência & Tecnologia Semanalmente apresenta assuntos sobre ciência e tecnologia. O programa é transmitido pelo canal Globo News, TV por assinatura. Na grade do programa, a sinopse apresenta as seguintes informações: “as pesquisas, descobertas e invenções que mudam o cotidiano”. De acordo com o canal, o programa revela o trabalho e a dedicação de pessoas que lutam para manter o país no mapa da ciência mundial. O primeiro nome da produção foi Espaço Aberto Ciência & Tecnologia. Em março de 2012, o programa completou 10 anos de vida. Naquele mês, duas reportagens especiais foram produzidas. Os produtores reuniram repórteres que já atuaram no projeto para lembrar momentos importantes da área. A atração já foi apresentada por vários profissionais. Atualmente, o principal é o jornalista Luís Fernando Silva Pinto. 90 QUADRO 6 – Programas avaliados do Globo News Ciência e Tecnologia Fonte: Autoria nossa. 4.2 CORPUS Lembramos que a instância de produção midiática tem no jornalista uma figura importante, independentemente do seu papel. A instância de produção pode ser considerada como organizadora do conjunto do sistema de produção e também da enunciação discursiva da informação. Já a instância de recepção é o destinatárioalvo ou a instância público. Para análise dos programas científicos, nos baseamos no contrato de comunicação para a instância midiática, no qual há a relação de 91 quem detém o saber (nesse caso a mídia televisiva) e quem hipoteticamente não o detém (telespectador). Levamos em conta as estratégias de encenação da informação. Para o entendimento do discurso da ciência, foram consideradas as estratégias de comunicação: legitimação, credibilidade e captação, tendo como sujeitos a instância de produção e o telespectador. Foram analisados também os meios adotados pela instância de produção para “conquistar” a instância de recepção: o papel do jornalista neste contexto, as visadas discursivas (instrução, informação e captação) e a construção da notícia. Apresentamos as palavras de Charaudeau (2010a) ao conceituar o subgênero entrevista jornalística. Nos programas de divulgação científica, há o predomínio da entrevista de especialista (ou de expertise). Tem como propósito técnico os aspectos da vida científica. Um especialista, desconhecido do grande público, com suposta competência reconhecida, é convidado a dar explicações simplificadas sobre um determinado assunto. Para o teórico francês, a entrevista de especialista “é um gênero que se resume a fornecer à opinião pública um conjunto de análises objetivas, trazendo a prova de sua legitimidade pelo ‘saber’ e pelo ‘saber dizer’” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 215). O material audiovisual recuperado foi reproduzido textualmente. Ressaltamos que não realizamos a transcrição de vídeo propriamente dita, pois não foram adotadas técnicas e nem utilização dos símbolos da transcrição para este trabalho. Assim, predomina a fala coloquial na reprodução textual dos programas selecionados. Todo material (aproximadamente 1 hora de gravação) está registrado nos apêndices: Apêndice A: Globo Ciência; Apêndice B: Futurando; Apêndice C: Globo News Ciência & Tecnologia. 92 QUADRO 7 – Programas selecionados Programas GLOBO CIÊNCIA Canal de emissão Apresentador(a) Rede Globo; Futura Alexandre Henderson Crimes virtuais, disco rígido de um computador, computação em nuvem Sábado Temáticas Dia da semana Horário de exibição Tempo total Bloco (nº) Data de exibição FUTURANDO GLOBO NEWS CIÊNCIA E TECNOLOGIA Rede Minas Globo News Nádia Campos Luís Fernando Silva Pinto Viagem pelo espaço, terceira idade e mundo digital Arte digital e Hackerspaces Sábado Segunda-feira 06h20min 14h00 21h30min 19 min 10s 3 12-01-2013 27min 00 2 16-02-2013 Uma incrível viagem pelo espaço. Para começar, o programa mostra a construção do maior e mais potente telescópio terrestre, o European Extremely. A missão desse equipamento será desvendar os mistérios da Via Láctea e dos buracos negros. Continuando a viagem, uma reportagem mostra os planos da Agência Espacial Europeia para 2013. Já no campo da aprendizagem, a terceira idade prova que tem habilidade para lidar com as novidades do mundo digital. 22 min 34s 2 03-12-2012 Resumo27 Programa mostra como funciona um computador, analisa se é possível recuperar arquivos deletados e explica o que é computação em nuvem Uma nova geração de artistas usa a arte digital para criar suas imagens. Um grupo de criadores de aplicativos está transformando tablets e telefones nas telas de pintura da era digital. Fonte: Autoria nossa. Adiantamos que outros dados poderiam ter sido utilizados para a pesquisa, como as legendas dos programas selecionados e suas dublagens. Dois programas escolhidos foram produzidos no exterior e, logo, reportagens traduzidas e legendadas, para o português, contemplam nosso corpus. Apesar dessas ricas fontes de informação, a tradução não foi o nosso foco de análise nesse momento. 27 Informações recuperadas nos sites das emissoras. 93 Baseamos a escolha em um tema comum aos três programas. Em nosso trabalho, percebemos que as áreas que envolvem a ciência da computação foram abordadas pelas três atrações. Por esse motivo, os programas foram selecionados. Adiantamos que os dados, imagens e comentários são apresentados na seguinte ordem: Globo Ciência, Futurando e Globo News Ciência e Tecnologia. Em alguns casos, apresentaremos os temas discutidos a partir das situações ocorridas em cada programa. 4.2.1 Categorias de análise Os programas científicos analisados foram estruturados da seguinte forma: Apresentação e Temas. Na apresentação, destacamos a vinheta dos programas, os enunciadores (apresentadores) e as chamadas. Vinheta - “marca a abertura, intervalo ou o fim do telejornal. Normalmente é composta de imagem e música característica”.28 Na definição de David-Silva (2006), as vinhetas normalmente exibem a simbologia de um mundo controlado, tornado próximo e disponível pela mediação televisiva. É a marca de um programa e possui uma função fática. Busca prender a atenção do telespectador. Enunciadores (instância de produção) – os jornalistas recuperados nos programas científicos estão definidos nas seguintes categorias: a) Apresentador – aquele que questiona, fazendo o papel do cidadão, reformulando e simplificando as explicações com intuito de tornar a entrevista viva e atraente;29 b) Repórter/narrador – aquele que fora do estúdio faz a narração do fato a ser reportado;30 28 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Centro de Apoio a Pesquisas sobre Televisão Laboratório de Pesquisas Interdisciplinares em Informação Multimídia. Telejornal: particularidades e conceitos. Belo Horizonte: PIIM Lab, 2012. Trabalho não publicado. p. 10. 29 Consideramos também o conceito apresentado por David-Silva (2006), para quem o especialista é aquele responsável pela enunciação em estúdio. No nosso caso, é o condutor do programa científico. 94 Os Temas são os assuntos apresentados nos programas. Foram estruturados em Matérias e Entrevistas. Reportagem - Matéria desenvolvida por uma equipe de jornalista, visando à apuração completa dos fatos. É realizada fora do estúdio.31 a) Capital verbal – tempo de fala dos enunciadores; b) Capital visual – tempo de exposição dos atores e das imagens relacionadas à C&T. Entrevista (contexto científico) - Tem como propósito técnico os aspectos da vida científica. Destacamos os entrevistados como os enunciadores cumprindo os seguintes papéis: a) Especialista – aquele que possui a competência reconhecida ou suposta; não é conhecido do grande público; é convidado/entrevistado para responder questões técnicas e/ou científicas, simplificando a explicação para o público leigo; b) Vox populi – “pessoas interrogadas ao acaso pelo repórter e que transmitem a sua opinião sobre o fato em questão”.32 Consideramos a chamada como um pequeno resumo da reportagem. É usada tanto na abertura do programa, como nas escaladas de um bloco para outro. Quanto aos discursos, retomamos as definições dos capítulos anteriores: Discurso televisivo – tem o objetivo de prender a atenção do público; Discurso científico – segue uma estrutura já estabelecida nas instituições de pesquisas e ensino, além dos pesquisadores envolvidos. 30 DAVID-SILVA, 2006, p. 150. DAVID-SILVA, 2006, p. 107. 32 DAVID-SILVA, 2006, p. 150. 31 95 FIGURA 4- Esquema das categorias de análise Fonte: Autoria nossa. Destacaremos também o conteúdo televisivo no processo de indexação pelo profissional responsável. As imagens dos programas televisivos estão acompanhadas com a informação do tempo. Foram considerados os minutos e segundos de parte do vídeo. Ex: Tempo: [04:06 a 04:18] leia-se Tempo: [04minutos e 06 segundos a 04 minutos e 18 segundos]. 96 5 ANÁLISES: CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA TV Apresentamos a análise dos programas de divulgação científica selecionados para o nosso trabalho. Observamos o papel dos jornalistas, o tempo de fala dos atores, as imagens, símbolos, temas e espaços em que as matérias foram desenvolvidas. Em nossa pesquisa, observamos a participação da instância de produção e da instância de recepção no desenvolvimento de um programa de divulgação científica para a TV. A instância de produção é formada pelos jornalistas (apresentadores, repórteres, produtores e narradores). Já a instância de recepção é formada pelos telespectadores que são o alvo da instância de produção. Na maioria das vezes, são tratados de forma generalista. Buscamos identificar as estratégias discursivas da instância de produção com o intuito de prender o interesse da instância de recepção (telespectadores). Outra tarefa é identificar quais informações podemos considerar para a indexação de produções técnico-científicas em um sistema audiovisual. 5.1 APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS Entendemos que a abertura do programa é uma das estratégias para a captação da instância de recepção. É o momento de conquista e também de criar um clima de curiosidade para as matérias do programa. 5.1.1 Vinhetas e aberturas Ao analisar programas jornalísticos, Braigh (2012) afirma que devemos procurar pensar no estabelecimento de um processo comunicativo entre as vinhetas e o seu público-telespectador. Devemos perceber as relações com elementos da cultura popular, além de se levar em conta o que isso revela sobre as atrações. Os programas Globo Ciência e Globo News Ciência e Tecnologia dedicam tempo restrito para as vinhetas de abertura dos programas. Os semanais da Globo e Globo News vinculam o símbolo da emissora à palavra ciência. No caso do Globo News, há o acréscimo de imagens de objetos e pessoas que são tema das reportagens. Já o programa da Rede Minas também apresenta um símbolo, porém este pertence ao canal alemão. 97 Dos três programas, apenas o Globo Ciência tem a abertura iniciada imediatamente após a vinheta. As reportagens são citadas previamente pela jornalista Sandra Annemberg.33 Após a breve apresentação da jornalista, a imagem do Globo Ciência é ativada e recebe o destaque para o início da vinheta. FIGURA 5 – Globo Cidadania Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. FIGURA 6 – Vinheta do Globo Ciência [Tempo: 00:51 a 00:53] Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. FIGURA 7 – Abertura do Globo Ciência Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. 33 Adiantamos que esse dado é apenas informativo e não fez parte de nossas análises. 98 As outras duas produções adotam uma estrutura diferente. Primeiro, a chamada com os temas principais (escalada)34 e, posteriormente, a abertura. No Futurando, primeiramente há a apresentação do símbolo da empresa alemã de televisão, Deutsche Welle. Esta é responsável pela produção do programa. A imagem aparece antes da vinheta de abertura do programa. FIGURA 8 – Vinheta da emissora Deutsche Welle Fonte: DW, 2013, online. O Futurando é a produção que apresenta a abertura mais elaborada, com imagens de indivíduos em atividades da comunidade técnico-científica. As vestimentas e os acessórios também fazem alusão ao espaço de um laboratório de pesquisa. O programa traz uma abertura futurista, ao apresentar uma realidade dos espaços de pesquisa diversa do contexto de laboratórios brasileiros. As cores branca e amarela são predominantes e são mecanismos imagéticos atraentes para o telespectador. Outra estratégia adotada é apresentar pessoas envolvidas com pesquisa e experiências científicas. Destacamos também a presença de uma criança no filme. A participação do menino nos remete a uma aproximação da ciência ao universo infantil (telespectador do mundo real), no qual se inicia o processo de curiosidade, argumentações e a busca por respostas. Há também o envolvimento de outros personagens. Homens e mulheres são atores do processo de pesquisa técnico-científica. Para Braigh (2012), a vinheta combina os elementos sonoros e visuais com o objetivo de exercer um determinado tipo de afetação no público-telespectador. O mesmo autor destaca que as vinhetas televisivas apresentam um vínculo sociocultural. 34 Conjunto de frases de impacto, ou manchetes, sobre os assuntos em destaque na edição de um telejornal. Normalmente ela abre o programa. 99 FIGURA 9 – Abertura do programa Futurando [Tempo: 00:01 a 00:17] Fonte: FUTURANDO, 2013. O Globo News Ciência e Tecnologia não possui uma abertura padrão para o programa. Em cada edição, é mostrada a vinheta do canal com o nome do programa. Aparecem imagens de pessoas e objetos presentes nas matérias que serão veiculadas. Lembramos que, antes da abertura, o jornalista divulgou os temas das reportagens do dia. 100 FIGURA 10 – Vinheta de abertura do Globo News Ciência e Tecnologia [Tempo: 01:30 a 01:43] Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. A proximidade entre a ciência e os símbolos das emissoras pode construir uma relação de confiança entre telespectadores e canais de televisão. As emissoras, a partir de outras atrações, estão credenciadas como fonte confiável de informação, além de serem um dos veículos de comunicação principais a que a população tem acesso. Ganham o reconhecimento do público, pois, além de entretenimento, esporte e política, também se tornam disseminadoras de pesquisa e do conhecimento. 5.1.2 A produção televisiva e seus atores para a C&T: os apresentadores A seguir, apresentamos a instância de produção envolvida no contexto científico. Cada jornalista em seus respectivos programas. Ao considerarmos que o jornalista tem a função de transmitir informação, recuperamos as palavras de Charaudeau (2010a). Para ele, o profissional tem dois 101 papéis: o de pesquisador-fornecedor e o de descritor-comentador da informação. O primeiro está vinculado à ideia das fontes, de tratamento. O segundo é direcionado a um público especializado, reduzido. Este último papel gera um problema para o profissional, pois não contribui em fornecer informação ao maior número possível de telespectadores. Neste sentido, as informações de um discurso científico são transformadas para a televisão. Apresentamos aqui os jornalistas dos programas estudados: Alexandre Henderson, Nádia Pontes e Luís Fernando Silva Pinto. O primeiro apresenta o Globo Ciência. Nádia é responsável pelo Futurando e Luis Fernando comanda o Globo News Ciência e Tecnologia. Alexandre Henderson35 trabalha no programa desde 2007. Ele é ator por formação. Começou sua carreira atuando em teatro, novelas e cinema. Alexandre já escreveu alguns livros infantis. Os estudos em jornalismo aconteceram a partir de 2005. Nesse período, ele trabalhou em atividades que valorizavam a cultura negra. Posteriormente, foi convidado para ser protagonista do semanal científico na rede Globo. FIGURA 11 – Apresentador do Globo Ciência Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. A apresentadora da atração Futurando, Nádia Pontes,36 também é a coordenadora editorial. Ela está na Alemanha desde 2010, onde desenvolve seus projetos com outros brasileiros, na Deutsche Welle. A jornalista acumula mais de 10 anos de experiência. Trabalha no Futurando desde março de 2012. A estreia em Minas Gerais ocorreu no mês de setembro do mesmo ano. 35 Informações no blog da Globo. Disponível em: <http://bloglog.globo.com/alexandrehenderson/>. Acesso em: 2 ago. 2013.. 36 Informações no site da Deutsche Welle. Disponível em: <http://www.dw.de/deutsche-wellelan%C3%A7a-programa-sobre-inova%C3%A7%C3%A3o-cient%C3%ADfica-para-o-brasil/a16238158>. Acesso em: 2 ago 2013. 102 FIGURA 12 – Apresentadora Nádia do Futurando Fonte: FUTURANDO, 2013. Luís Fernando Silva Pinto é o apresentador do Globo News Ciência e Tecnologia. Ele trabalha para as Organizações Globo de televisão desde 1976. Já trabalhou em jornalísticos como o Bom Dia São Paulo e o Fantástico. Porém, grande parte de sua carreira é destacada pela atuação internacional. Como correspondente, realizou matérias diretamente de Nova York, Londres, Madri, Buenos Aires e Washington.37 FIGURA 13 – Apresentador Luís Fernando Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Dos três apresentadores, Alexandre é o jornalista que adota as características mais informais, representadas pela linguagem verbal (uso da fala coloquial), vestuário e gestos. O público recebe as informações coletadas de forma múltipla, em diferentes ambientes. Não está fundamentado teoricamente, mas talvez a formação cênica do jornalista contribua na maneira de expor os conhecimentos científicos: ora como jornalista, ora como um especialista, ou como o telespectador que expõe uma curiosidade. As gravações do Globo Ciência são externas e não há um estúdio fixo. 37 Informações do Portal dos Jornalistas. Disponível <http://www.portaldosjornalistas.com.br/perfil.aspx?id=3109>. Acesso em: 2 ago. 2013. em: 103 Na edição selecionada, Alexandre visitou um curso de computação gráfica no Rio de Janeiro e a unidade da Polícia Federal nesse estado. Já em Recife, ele visitou a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), algumas ruas da capital e uma empresa de computação em nuvens. O jornalista do Globo News, na edição selecionada, também não aparece em estúdio. As matérias foram gravadas em Washington e Nova York. Nádia Campos é a única que atua em um estúdio. Ela está envolvida com as chamadas de cada reportagem. Ainda no contexto da instância de produção, destacamos os narradores vinculados ao Futurando. Conforme comentamos, o programa trata de matérias produzidas fora do Brasil. Por esse motivo, as reportagens são narradas em português. Recuperamos os nomes nas artes do programa: Roselaine Wandscheer; Maurício Cancillieri; Kamila Rutkosky; Ivana Ebel; Regina-Soares-Engels. Lembramos que os três jornalistas aqui citados têm a responsabilidade de informar temas complexos para telespectadores que, na maioria das vezes, não estão qualificados adequadamente para recebê-las. Charaudeau (2010a), ao tratar sobre a informação como discurso, entende que, na construção do sentido (processo de transformação e transação), o ato de informar faz circular entre os parceiros um objeto de saber que um possui e o outro não, estando um deles encarregado de transmitir e o outro de receber, compreender, interpretar, a informação sofrendo ao mesmo tempo uma modificação com relação ao estado inicial do conhecimento. Assim, entendemos que a proposta da instância de produção dos três veículos segue o conceito anterior, mas a informação é adaptada para o público que não possui o conhecimento da informação que será recebida, mas é um interessado. 5.1.3 E as chamadas? As chamadas sintetizam os temas abordados pelos programas. Observamos que há destaque para as matérias mais importantes para a instância de produção. Para isso, algumas estratégias são adotadas. Estas são percebidas na entonação das vozes e na apresentação das imagens. Vejamos os exemplos retirados do corpus. 104 Globo Ciência (Alexandre) - Imagine uma situação. Você quer vender seu computador e não quer que ninguém veja o que tem nele. Então, você apaga tudo, deleta tudo, e fica tranquilo, certo? Não devia. Mas para entender por que, a gente vai responder à pergunta do internauta Emanuel Aldo de Oliveira. Ele é de Santos, litoral de São Paulo e quer saber: "Para onde vão os arquivos deletados do computador?" - Estou num curso de computação gráfica, aqui no Rio de Janeiro e vou pedir ajuda a esses estudantes. [...] (APÊNDICE A). FIGURA 14 – Chamada do Globo Ciência Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. Na transcrição, anterior observamos uma pergunta. Esta é respondida pelos estudantes do curso de computação gráfica. Este processo do questionamento é frequente no restante do programa. As dúvidas sempre são levadas a um especialista que possa respondê-las. Não há destaque para o restante da produção. Entendemos que a estratégia tenta reproduzir, para o telespectador, o processo de argumentação dos meios científicos. Dúvida, pesquisa e solução. Futurando (Nádia) - O Futurando hoje começa com as câmeras voltadas para fora da Terra. Nós vamos investigar como os terráqueos acompanham tudo o que se passa lá em cima, no espaço. Com apoio da tecnologia e dedicação dos cientistas, o homem expande seus limites para fora do planeta e você nos acompanha nessa jornada intergaláctica que está só começando. - Nas montanhas do Havaí, um centro de vigilância contra cometas e asteroides. No espaço, uma super câmera digital vai mapear um bilhão de estrelas. E no planeta Terra, a mistura de arte e técnica no mundo virtual. (APÊNDICE B). 105 FIGURA 15 – Chamada do Futurando Fonte: FUTURANDO, 2013. Nádia destaca as principais matérias do programa diretamente de um estúdio, onde toda a encenação acontece. Globo News Ciência e Tecnologia (Luís Fernando) - Pintar com os dedos é brincadeira de criança? No passado pode ter sido, mas hoje artistas estão aproveitando a multiplicação das telas, dos tablets, dos smartphones, para criar uma nova forma de expressão. Arte que é literalmente digital. Eles são os artistas móveis. [...] - Quem vê grandes empresas dominando o setor de tecnologia pode não se lembrar que muitas delas começaram dentro de garagens. Hoje os novos espaços de criação científica e tecnológica são diferentes. Biólogos, químicos, engenheiros, designers estão se reunindo em espaços de trabalho coletivo, como esse aqui. Eles são muito mais baratos, são muitas vezes improvisados, mas funcionam com um ingrediente muito importante: a liberdade de criação. Eles são os hackerspaces, que você vai conhecer agora no Globo News Ciência e Tecnologia. (APÊNDICE C). FIGURA 16 – Chamada do Globo News Ciência e Tecnologia Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Luís Fernando faz a chamada do programa em dois ambientes. Primeiro em área externa, onde parte da matéria sobre arte digital foi gravada. Depois, para falar do segundo tema do programa, o jornalista faz a chamada em um laboratório de pesquisa em biotecnologia. Consideramos que as chamadas tentam captar o público para acompanhar toda a produção. Um exemplo vem do Globo Ciência, que adota um discurso de 106 alerta. Tenta orientar os espectadores sobre as armadilhas do uso do computador. A preocupação é reforçada pela pergunta de um internauta. Interpretamos a iniciativa como a ponte entre o programa da Globo e a curiosidade do público em geral. Logo, o Globo Ciência se apresenta como um veículo qualificado para responder aos questionamentos do público. O programa da Rede Minas aponta o tema principal da edição ao falar sobre o espaço, a Via Láctea. Posteriormente, são apresentados os outros temas. Após assistirmos a toda a gravação, confirmamos que nem todos os assuntos foram citados na parte inicial. Neste contexto, e já pensando no trabalho de um indexador, apontamos a relevância em se conhecer toda a edição de um programa televisivo. Neste caso, e dependendo do contexto de recuperação de dados, o indexador terá como política assistir a todo o material midiático, para que possa contribuir no processo de tratamento e recuperação dos assuntos pelos usuários do sistema. O material audiovisual científico do Globo News mescla belas imagens e sons. A trilha sonora escolhida é envolvente. Há ainda interação do uso da computação tanto na matéria sobre arte móvel, como na matéria sobre biotecnologia: arte digital e cultura hacker de pesquisa. Retomamos aqui a informação apresentada no capítulo anterior. A ciência da computação foi o tema que contribuiu na reunião dos três programas para a análise. Assim, não consideramos apenas o uso do computador, mas todas as aplicações com características técnico-científicas. Observamos que apareceram matérias que em o assunto principal era de outras áreas do conhecimento, mas mesmo assim foi possível apontarmos a influência computacional e cibernética nestes temas. 5.2 ANÁLISE MIDIÁTICA DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: A TEMÁTICA DOS PROGRAMAS A partir dos dados recuperados, apresentamos análises voltadas para a formatação de um programa sobre divulgação científica. Com base em Charaudeau (2010), verificamos que a informação como discurso está retratada nos programas selecionados. O autor explica a mecânica de construção do sentido, a natureza do saber (conhecimento, crenças e representações), efeitos de verdade (por que e quem informar, quais são as provas). Para os programas científicos, destacamos uma das características referente às 107 provas. Para o teórico francês, a explicação é caracterizada pela possibilidade de se determinar o porquê dos fatos, o que os motivou, as intenções e a finalidade daqueles que foram protagonistas. Para o autor, “o ideal de uma boa explicação consiste em poder remontar à origem dos fatos; a verdade de ordem epistêmica se confunde aqui com o conhecimento original” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 56). Assim, analisamos os programas a partir desta ótica. Lembramos que os programas técnico-científicos adotam a estratégia apresentada por Charaudeau: recorrem à palavra dos especialistas, peritos e intelectuais por meio da exposição de opiniões, entrevistas, interrogatórios e debates em busca de uma verdade consensual. 5.2.1 As matérias Ao todo, foram recuperadas 13 reportagens, desenvolvidas na seguinte estrutura: Globo Ciência ► 1 tema desmembrado em 3 reportagens Futurando ► 2 temas distribuídos em 8 reportagens Globo News C&T ► 2 temas e 2 reportagens A produção do Globo Ciência discutiu as atividades que envolvem o computador. As matérias foram apresentadas pelos seguintes temas: (i) arquivos deletados, (iii) crime virtual e (iii) computação em nuvem. A rede social foi outro tema desenvolvido nas reportagens. Um assunto estava vinculado ao outro e foi apresentado em forma de questionamentos, curiosidade. Além da pergunta enviada pelo internauta, o jornalista fez deduções e levava as dúvidas a quem estava qualificado para respondê-las. Estas aparecem no desenvolvimento da matéria seguinte, conforme a FIGURA 17. FIGURA 17 – Alexandre faz uma pergunta Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. Globo Ciência (Alexandre) 108 - Tudo que entra no computador fica registrado no disco rígido, inclusive os arquivos deletados. Por isso que eles podem ser recuperados. Você quer saber como isso é feito? Tive uma ideia. Eu vou à Polícia Federal. Você deve estar se perguntando o que a Polícia Federal tem a ver com isso [...] (destaque nosso) (APÊNDICE A). O programa Futurando desenvolveu dois grandes temas em oito reportagens. No primeiro bloco, o espaço foi apresentado da seguinte forma: (i) buraco negro, (ii) observação do espaço, (iii) viagem espacial, (iv) cientista. Já no segundo bloco, o assunto foi o mundo virtual em mais quatro matérias: (v) mundo virtual e os idosos, (vi) aulas pela internet (ensino a distância), (vii) resistência à modernidade tecnológica e (viii) arte, paisagem e internet. A jornalista Nádia faz a apresentação e as chamadas diretamente do estúdio. FIGURA 18 – Chamada do próximo bloco Fonte: FUTURANDO, 2013. Futurando (Nádia) - Depois dessa viagem pelo espaço, o Futurando navega pelo mundo virtual. No próximo bloco, você verá como a internet mudou para sempre o cotidiano em várias partes do globo. Mesmo quem não abre mão da tradição no processo industrial precisou se adaptar ao universo on-line. Futurando volta já. (APÊNDICE B) A produção do Globo News Ciência e Tecnologia divulgou as matérias sobre hackerspaces e arte digital. A primeira foi realizada em um laboratório que segue a cultura hacker. Os cientistas possuem diversas formações e trabalham em um espaço independente, com equipamentos de segunda mão. A arte digital, tema da segunda matéria, aparece em suportes eletrônicos utilizados atualmente como celulares, smartphones, tablets e computadores. Tais ferramentas contribuíram no surgimento de artistas com habilidades tecnológicas que desenvolvem trabalhos artísticos. 109 FIGURA 19 – Hackerspaces e arte digital Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Cada bloco foi dedicado a uma área diferente. A produção foi realizada nos Estados Unidos. Os entrevistados são americanos e as entrevistas foram realizadas em inglês. A legenda em português foi utilizada para a veiculação das entrevistas. Exemplo: - Algumas pessoas perceberam antes. Elas deram início a um movimento chamado Diybio que era, basicamente, biologia amadora [...]. (APÊNDICE C) FIGURA 20 – Legenda em português Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Percebemos que, no contrato de comunicação midiática, a instância de produção para alcançar seu objetivo, levar informação para o telespectador, adaptou o conteúdo ao perfil dos telespectadores. Consideramos a legenda em português como forma de facilitar o acesso à informação. O programa é do Brasil, onde se fala português e a maioria dos telespectadores não tem o domínio do inglês. Na página Globo.com há um espaço dedicado ao programa. Além de contribuir para a divulgação das matérias, o site armazena os vídeos por um determinado período. Observamos que a forma praticada pelos organizadores da página, indiretamente, interfere na divulgação de matérias veiculadas. O site destaca 110 apenas uma das matérias. Para a edição que nós pesquisamos, o destaque foi dado para a produção da arte digital. Veja-se a FIGURA 21: FIGURA 21 – Divulgação do programa Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. A matéria sobre os hackerspaces não foi citada na página Globo.com. O tema só foi apresentado nas chamadas do programa. 5.2.1.1 Capital verbal Retomamos o papel dos sujeitos comunicantes que podem ser desdobrados em vários enunciadores. Os jornalistas cumprem o papel de apresentadores e narradores. Os especialistas são os pesquisadores, professores, instrutores, ou seja, aquele que detêm o conhecimento técnico ou científico. O público em geral também está inserido neste grupo. No Globo Ciência e no Globo News, os jornalistas atuam em diferentes papéis: apresentador, repórter e narrador. O primeiro papel acontece na apresentação do programa, quando os assuntos são disseminados. O repórter pergunta, está atrás da notícia. Cumpre um papel de investigação. Busca as fontes, procura demonstrações. Por último, é o papel do narrador. Este narra os fatos em que o destaque são as imagens e/ou pessoas. No Futurando, essa divisão dos papéis é feita de forma explícita. Nádia é a apresentadora. As matérias são repassadas pelas vozes dos narradores. Nós não analisamos a dublagem. 111 FIGURA 22 – Identificação da narração Fonte: FUTURANDO, 2013. Quanto à narração das imagens, compartilhamos a definição de David-Silva (2005), em que a imagem aponta para a existência da coisa mostrada. Conforme a autora: “Na narrativa do acontecimento, o valor dêitico da imagem adquire extrema importância, uma vez que reforça o caráter de real da imagem veiculada” (DAVIDSILVA, 2005, p. 140). TABELA 1 – Capital verbal Globo Ciência Total Futurando Total Globo News Ciência e Tecnologia Total Entrevistados Especialistas Repórter / Narrador Papéis Comunicativos/enunciadores Apresentador Programas de divulgação científica 46,61% _ 48,80% 4,57% 46,61% 53,38% 20% 47,23% 21,17% 11,59% 67,23% 32,76% 6,38% 30,85% 62,76% _ 37,23% 62,76% Fonte: Autoria nossa. O Globo News dá mais voz aos especialistas. Está claro na gravação que o jornalista tem o papel de intermediar o conhecimento do especialista ao telespectador. O jornalista Luís Fernando destaca-se pelas narrações, na introdução das matérias. Há uma situação em que a entrevistada ocupa um tempo considerável de fala. Foram quase dois minutos em que a artista digital falou da sua experiência com um tablet. 112 FIGURA 23 - Tempo de fala de especialista Fonte: GLOBO NEWS, 2012. Repórter Luís Fernando - Mas trabalhar em telas virtuais tem desafios. O principal, como transformar arte móvel em meio de vida. (APÊNDICE C). Tempo: [19:46 a 19:56] Artista digital Mia Robinson - Eu acho que o principal retorno que muitos de nós recebem agora é simplesmente expor. É um meio jovem, e eu acho que o desafio que nós enfrentamos, principalmente como artistas plásticos... Se você é ilustrador, pode trabalhar num estúdio, fazer animação, essas coisas. Mas, para um artista plástico, é mais difícil viver da arte, porque muitas pessoas não associam artes plásticas ao mundo digital, se é que você me entende. Originalmente só se pintava em telas, pois só se tinha a tinta e a tela, entende? Mas, com as ferramentas digitais, nós temos apenas um arquivo digital. Eu acho que, com o tempo, à medida que as pessoas começarem a perceber que a arte digital é mais do que apenas manipular uma foto, que tem gente gerando imagens a partir de desenhos em aparelhos – e não apenas em aparelhos móveis, mas em grandes também. À medida que as pessoas forem mais expostas a isso, começarão a aceitar melhor, e você então verá um artista, como eu, ou alguns colegas meus, vivendo disso. Hoje, o que nós fazemos, especialmente na minha organização, é tentar fazer pessoas conhecerem essa ferramenta e mostrar a elas, mostrando que há artistas muito talentosos usando esses aparelhos minúsculos para fazer coisas incríveis. O trabalho artístico é brilhante, entende? E acho que é isso que as pessoas precisam ver. Pelo menos por ora. Eu não ficaria triste de ganhar dinheiro com isso... (APÊNDICE C) Tempo: [19:57 a 21:44] No Futurando, a voz predominante são as vozes jornalísticas. A apresentadora e os narradores contribuem com aproximadamente 70% da fala do programa. 113 GRÁFICO 1 - Tempo de fala dos atores Tempo de fala dos atores Globo Ciência Futurando Globo News Ciência e Tecnologia 67% 47% 63% 53% 37% Jornalistas 33% Especialistas / Entrevistados Fonte: Autoria nossa. Ao todo, são dedicados 19min10s de programa para o Globo Ciência, 27min00 ao programa Futurando e 22min34s ao programa da TV por assinatura Globo News Ciência e Tecnologia. 5.2.1.2 Capital visual – A ciência em imagens Conforme definições apresentadas em nosso referencial teórico, a televisão é uma narrativa de sons e imagens em movimento. A linguagem curta e envolvente também é aplicada no trato da ciência para a mídia de massa. SITUAÇÃO 1 Globo Ciência38 FIGURA 24 – Livros Tempo:[04:06 a 04:18] 38 FIGURA 25 - Gráficos Tempo: [04:50 a 05:42]] Todas as imagens foram retiradas do programa Globo Ciência. 114 FIGURA 26 – Planeta Terra Tempo: [05:59 a 06:00] FIGURA 27 -Demonstração Tempo: [06:21 a 07:32]] FIGURA 28 – Computador Tempo: [03:11 a 03:39] FIGURA 32 - Computação em nuvem Tempo: [10:58 a 12:05] FIGURA 29 - Computadores Tempo: [03:11 a 03:39] FIGURA 30 - Disco rígido Tempo: [06:21 a 07:32] FIGURA 31 - Disco rígido 2 Tempo: [07:58 a 08:22] 115 SITUAÇÃO 2 Futurando39 39 FIGURA 33 – Telescópio Tempo: [01:37 a 01:59] FIGURA 34 - Buraco Negro Tempo: [02:20 a 04:44] FIGURA 35 – Telescópio 2 Tempo: [01:37 a 01:59] FIGURA 36 - Imagens celestes Tempo: [10:55 a 13:18] FIGURA 37 – Telescópio 3 Tempo: [05:28 a 07:17] FIGURA 38 – Tablet Tempo: [14:07 a 14:25] FIGURA 39 - Telescópio e ilha celeste Tempo: [08:33 a 08:43] FIGURA 40 – Videoconferência Tempo: [19:27 a 19:43] Todas as imagens foram retiradas do programa Futurando. 116 FIGURA 41 - Projeto Sworm Tempo: [09:55 a 10:37] FIGURA 42 – Tecelagem Tempo: [20:08 a 20:51] FIGURA 43 - Máquina digital Tempo: [26:07 a 26:16] FIGURA 44 – Rede social e arte Tempo: [25:51 a 26:06] SITUAÇÃO 3 Globo News Ciência e Tecnologia40 40 FIGURA 45 – Laboratório Tempo: [01:43 a 02:52] FIGURA 46 - Equipamentos Tempo: [05:05 a 05:25] FIGURA 47 - Arte digital Tempo: [14:16 a 14:38] FIGURA 48 – Tablet Tempo: [14:47 a 15:08] Todas as imagens foram retiradas do programa Globo News Ciência e Tecnologia. 117 FIGURA 49 - Tela digital Tempo: [16:26 a 16:51] Percebemos que ciência e tecnologia se complementam também no suporte televisão. As práticas se misturam dificultando o processo de seleção do que é ciência e o que pertence à tecnologia. 5.2.2 A hora da entrevista: os papéis do especialista e o Vox Populi A partir dos três programas recuperamos a presença de 25 entrevistados envolvidos com a C&T. São 15 instituições, 10 cidades e 18 formações profissionais. Para análise, consideramos 12 papéis enunciativos: aluno, artista, astronauta, delegado, diretora, empresário, estudante, instrutora, mecânico, pesquisador, presidente, professor. Onze pessoas foram entrevistadas no Globo Ciência, porém não há a identificação nominal, apenas a imagem.41 A mesma situação ocorreu no Globo News. Destacamos que a ciência e a tecnologia não são exercidas apenas por indivíduos com formação acadêmica, mas por profissionais de todas as áreas da sociedade. Embora a atividade científica, ao longo dos séculos, se profissionalize, se institucionalize, ganhando uma certa autonomia em relação a outras atividades sociais, econômicas e culturais, ela se dá, e sempre se deu, dentro da sociedade, e esta autonomia é apenas relativa. Ainda que as relações entre a esfera científica e outras esferas da sociedade tenham se alterado com o passar dos séculos, ainda que variem conforme a área de conhecimento, de tecnologia e do país em questão, o fato de ela jamais ser totalmente independente, faz com que as interlocuções envolvidas em sua produção não se restrinjam exclusivamente ao campo dos especialistas. A questão do que é “interno” ou “externo” à atividade científica é uma questão complexa se considerarmos que a ciência se produz na sociedade e que sua produção é algo extremamente complexo cujos atores envolvidos, 41 Imagens no tópico 5.2.2.2 Vox Populi. 118 direta ou indiretamente, jamais são exclusivamente os cientistas (SILVA, 2006, p. 55-56). Apresentamos o eu enunciador representado pelos especialistas e pelos entrevistados. Percebemos os diferentes papéis enunciativos nos três programas. 5.2.2.1 Os especialistas Apresentamos, a seguir, imagens e nomes dos especialistas e entrevistados dos três programas. Os nomes estão ordenados alfabeticamente e são conteúdos recuperados nas três produções. Em cada imagem, há o nome do especialista/público. A informação estava disponível na arte de cada programa. O mesmo ocorre com o papel social de cada entrevistado. Utilizamos os termos adotados por cada emissora. FIGURA 50 - Adriano Sarmento (Globo Ciência) Professor; Doutor em Ciência da Computação; Universidade Federal de Pernambuco / Centro de Informática FIGURA 51 - Andre Homberg (Futurando) Mecânico; Tecelagem Kafka 119 FIGURA 52 - Barbara Glittenberg (Futurando) Professora de inglês; Empresária; Kafka costureira; Escola FIGURA 53 - Christine Niehage (Futurando) Tecelagem FIGURA 54 - Clayton da Silva Bezerra (Globo Ciência) Delegado; Polícia FIGURA 55 - Don Lee (Globo News Ciência e Tecnologia) Artista digital; Nomadbrush Federal 120 FIGURA 56 - Ellen Jorgensen (Globo News Ciência e Tecnologia) Presidente [pesquisadora]; da Aposentado; Heimstiftung [aluno]; Genspace; Genspace FIGURA 57 - Erich Kölling (Futurando) Bremer FIGURA 58 - Félix Both (Futurando) Aluno; Escola (Inselschule Langeoog) FIGURA 59 - Gisela Tongers (Futurando) Diretora; Langeoog) Escola (Inselschule 121 FIGURA 60 - Ilsemarie Sturk (Futurando) Aposentada; Heimstiftung [aluna]; Bremer FIGURA 61 - Jochen Liske (Futurando) Pesquisador; astrônomo; European Extremely Large Telescope FIGURA 62 - Johann-Dietrich Wörner (Futurando) Pesquisador; Centro Aéreo Espacial Alemão FIGURA 63 - Jutta Croll (Futurando) [Pesquisadora]; Chancen Fundação Digitale 122 FIGURA 64 - Mia Robinson (Globo News Ciência e Tecnologia) Artista digital; Fundadora de uma associação de artistas digitais móveis FIGURA 65 - Nills Wettstein (Futurando) Aluno; Escola (Inselschule Langeoog) FIGURA 66 - Olivier Medvedik (Globo News Ciência e Tecnologia) Pesquisador; Genspace Biólogo Molecular; FIGURA 67 - Patrícia Chad (Futurando) Pesquisadora; Astrofísica; Instituto Max Planck de Física Extraterrestre 123 FIGURA 68 - Rodrigo Assad (Globo Ciência) Pesquisador e [empresário]; Doutor em Ciências da Computação e Especialista na área de Segurança de Sistemas; USTO.RE [Empresa de computação em nuvem] FIGURA 69 - Rolf-Peter Kudritzki (Futurando) Pesquisador; astrônomo; Instituto de Astronomia do Havaí FIGURA 70 - Rosemarie Hanke (Futurando) Aposentada; Bremer Heimstiftung FIGURA 71 - [Sem identificação] [Artista digital]; Estúdio de arte 124 FIGURA 72 - Silvio Meire (Globo Ciência) Pesquisador; Doutor em Ciência da Computação; Universidade Federal de Pernambuco / Centro de Informática FIGURA 73 - Simon Beck (Futurando) FIGURA 74 - Ulrike Peters (Futurando) Artista das Montanhas Instrutora; Bremer Heimstiftung Percebemos que, em quase todas as imagens, o especialista/público está identificado pelo nome. Abaixo da identificação há também o papel comunicativo (determinado pela produção). Há casos em que recuperamos a imagem do indivíduo, sem o nome. Para exemplificar, apresentamos o caso do pesquisador Adriano Sarmento, da UFPE. Lembramos que os dados sobre o professor foram recuperados na fala do apresentador do Globo Ciência. 125 SITUAÇÃO 1 Globo Ciência FIGURA 75 – Identificação do pesquisador Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. Alexandre (Globo Ciência) - Aqui é o Centro de Informática da Universidade Federal do Pernambuco, a UFPE. Considerado uma referência na área. Deixa eu apresentar para vocês Adriano Sarmento. Ele é doutor em microeletrônica e professor aqui da UFPE. Adriano, vamos antes de mais nada esmiuçar este computador. (negrito nosso) (APÊNDICE A). SITUAÇÃO 2 Futurando Outro caso de personagem sem identificação nominal está representado no exemplo seguinte. A narração é de Kamila Rutkosky: FIGURA 76 - Mestre em tecelagem Fonte: FUTURANDO, 2013. - As fitas fazem sucesso. As máquinas trabalham aqui sem parar. Às vezes uma delas para de funcionar. É hora desse aposentado de 71 anos entrar em ação. O mestre em tecelagem 126 é especializado nesse tipo de máquina. Hoje um profissional em extinção. O cartão perfurado fornece os comandos para o tear. Esses já estão muito desgastados. O mecânico veterano faz novos furos. É a experiência de quem fez isso muitos anos no passado. O funcionário tenta absorver este conhecimento rapidamente. (negrito nosso) (APÊNDICE B). As imagens do mestre já apontam a importância dele na tecelagem. Pelo texto, percebemos que são anos de experiência no manuseio dos equipamentos. Caso o personagem seja registrado em um sistema audiovisual, a profissão e o local de trabalho seriam as fontes de recuperação. SITUAÇÃO 3 Globo News Ciência e Tecnologia FIGURA 77 – Entrevistado sem identificação Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Apresentador Luís Fernando - É uma cena conhecida. Em um estúdio, o artista observa a modelo e, com o seu pincel, cria a imagem. Durante séculos este foi o meio de expressão clássico. Mas hoje a forma de criar uma imagem está mudando rapidamente. A arte digital já se popularizou em museus e festivais de inovação eletrônica, mas não só isso. Um grupo de criadores está transformando tablets e telefones nas telas de pintura da era digital. (APÊNDICE B) Entrevistado (sem identificação) - O que fazemos aqui é tentar criar alguma diversão, arte móvel, alguma excitação para o movimento, educar e reunir pessoas de todo o mundo que amam fazer arte em seus dispositivos móveis (APÊNDICE B). 127 5.2.2.2 Vox Populi Destacamos a presença da Vox Populi, pessoas interrogadas ao acaso pelo repórter e que transmitem a sua opinião sobre um fato, apenas no semanário Globo Ciência. Nas ruas de Recife, algumas pessoas foram abordadas pela equipe do programa. O assunto envolvia temas sobre a computação em nuvem e thin client. O repórter perguntava: “Você sabe o que é thin client (cliente magro)”? A partir da edição do programa, para cada pergunta, alguns entrevistados respondiam negativamente. Ao final, surgem as pessoas que dominam o assunto questionado. A partir dessas falas, o programa tem continuidade com os especialistas. Percebemos também o papel do jornalista em relação ao público externo. O profissional faz uma pergunta para pessoas comuns. Entendemos que a expectativa da instância de produção é que o público questionado não saiba a resposta, já que este não está inserido no contexto técnico-científico apresentado pelas entrevistas anteriores. Nesse mecanismo, interpretamos que o Globo Ciência reforça a importância do programa para o telespectador. O programa leva conhecimento a quem não tem. FIGURA 78 – Vox Populi (ruas de Recife) (continua) 1 2 3 4 128 FIGURA 78 – Vox Populi (ruas de Recife) conclusão 5 6 7 8 Apresentador Alexandre - Você sabe o que é thin client (cliente magro)? - 1º entrevistado: Não. - 2° entrevistado: Sei de nada disso. - 3º entrevistado: thin cliente. - 4º entrevistado: Cliente magro? Eu hahahaha. Apresentador Alexandre Você sabe o que é a computação em nuvem? - 5º entrevistado: A nuvem representa a internet. - 6º entrevistado: A nuvem seria um conceito de uma rede onde vc bota seus dados, sei lá, vídeos, essas coisas. Tudo o que você quer guardar, na verdade (APÊNDICE A). 5.2.2.3 Citação de outras personalidades: fala e imagem Na veiculação dos programas, observamos que algumas citações foram realizadas pelos jornalistas e especialistas. Consideramos que outros dados relevantes podem ser apontados para a indexação, como personalidades, instituições, fatos e nomes conceituados para a área de C&T. 129 SITUAÇÃO 1 Globo Ciência Alexandre - [...] Eu tenho mais uma curiosidade. Eu já sei o que acontece quando eu deleto um arquivo e se eu estiver usando uma rede social e quiser apagar a informação que eu coloquei, será que é possível?[...] (APÊNDICE A). Pesquisador Silvio Meire: - Imagine que elas não existissem. Lá no passado a gente escrevia diários. Cadernos de papel que a gente colocava coisas relevantes da nossa vida, pregava fotos, fazia desenhos, comentava a vida. Imagine que eu implemente isso, que escreva software, que virtualiza diários, que cria abstrações, que cria sistemas que vão representar esses diários. Imagine um pouco mais que a gente vai compartilhar a informação entre diários. Que eu vou chamar pessoas para participar do meu diário. Ou seja, que eu vou deixar que pessoas escrevam o meu diário, que eu possa ver as manifestações delas, sobre as vidas delas, e que ao mesmo tempo elas vejam o que estou falando no meu diário. Diários eletrônicos em grupo. Isso é o que são redes sociais (APÊNDICE A). Durante a fala do pesquisador, as seguintes imagens foram apresentadas: FIGURA 79 – Imagens do filme Rede Social Fonte: Globo Ciência, 2012. O filme não é mencionado no diálogo entre o jornalista e o pesquisador. Há somente a explanação do conceito sobre rede social. Entendemos que a informação, em imagens, deva ser considerada como um dado de recuperação para os pesquisadores de um sistema de pesquisa audiovisual. 130 SITUAÇÃO 2 Futurando Pesquisador Simon - As duas primeiras horas eu gasto na medição. É preciso se concentrar muito para não errar nenhuma linha, pois não há possibilidade de refazê-la. Depois disso, tudo fica mais fácil. Daí eu começo a ouvir música e faço o desenho até o fim. Narradora Ivana Ebel - A música de Beethoven o acompanha nas 10 horas de luta, contra o frio e o vento a 3.000 metros de altitude. Enquanto a narradora fala sobre Beethoven e o artista Simon, imagens são exibidas ao som do compositor citado: FIGURA 80 – O artista e a música de Beethoven Fonte: FUTURANDO, 2013. SITUAÇÃO 3 Globo News Ciência e Tecnologia Luís Fernando - Número 2066 da Crist Drive, Los Altos, Califórnia. Esse foi o endereço onde dois Steves transformaram a história da tecnologia. Steve Jobs e Steve Wozniak iniciaram a Apple dentro dessa pequena garagem. Transformaram um local que guardava carros e pequenas quinquilharias num berço dos computadores pessoais. De lá pra cá, lugares pouco convencionais, de trabalho colaborativo, se multiplicaram. Hoje, pessoas com interesse em comum, quando conseguem um pequeno financiamento e acham um lugar descolado, criam um hackerspace (APÊNDICE C). 131 FIGURA 81 – Steve Jobs e Steve Wozniak Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Toda a fala do jornalista é exemplificada com imagens da rua, do número da casa, dos dois Steves e da história da Apple. A ideia é vincular o evento ao novo movimento de trabalho colaborativo, conhecido como hackerspace. No mesmo programa, em matéria sobre arte digital, recuperamos uma citação indireta por meio da imagem. Uma arte digital também faz referência a Steve Jobs: FIGURA 82 – Arte digital de Steve Jobs Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Na edição, Steve Jobs é citado nas duas reportagens, tanto para tratar da biotecnologia como no desenvolvimento da arte digital. 132 5.2.3 Discursos televisivo e científico No capítulo 2, fundamentamos nosso conceito sobre televisão em texto de Patrick Charaudeau, o qual define o suporte como fala e imagem e vice-versa. A seguir, destacamos algumas imagens e as respectivas falas que foram transmitidas pelos programas. Globo Ciência (Alexandre Henderson) - O disco rígido, Hard Disc, ou simplesmente HD, foi inventado nos anos 50. Ele armazena arquivos e programas enquanto não estão em uso e quando o computador é desligado. É um dos componentes que envolvem tecnologia. O disco rígido tem uma grande influência sobre a performance do computador, pois é ele quem determina os descarregamentos dos programas e abertura e salvamento dos arquivos (APÊNDICE A). FIGURA 83 – Hard disc Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. Futurando (Narrador Maurício Cancillieri) - E assim será o novo telescópio. O diâmetro do espelho principal terá quase 40 metros. O equipamento poderá captar muito mais luz que os melhores observatórios em operação na atualidade. Suas imagens serão 15 vezes mais nítidas que as do famoso telescópio espacial Hubble. O novo equipamento terá uma missão especial. Observar e analisar um dos fenômenos mais exóticos do universo: os buracos negros. Um lugar inimaginável, onde matéria extremamente compactada se concentra em um ponto, onde tempo e espaço simplesmente deixam de existir. Tudo que chega perto de um buraco negro desaparece para sempre. Nem mesmo a luz pode escapar. Os astrônomos também querem investigar o centro da nossa galáxia: a via láctea. Lá existe um enorme buraco negro, com uma massa 4 milhões de vezes maior que a massa do sol. Esse peso pesado tem grande influência sobre a órbita das estrelas próximas. Os cientistas querem usar o buraco negro como laboratório, estudar suas particularidades. A ideia é comparar os processos descritos na teoria da relatividade de Einsten com os fenômenos que acontecem lá. Como estrelas se movimentam em enormes campos gravitacionais, por exemplo. Assim, as teses fundamentais da cosmologia poderão ser comprovadas. Recentemente, os astrônomos descobriram uma nuvem de gás que será engolida por um buraco negro nos próximos anos. Eles querem agora acompanhar este processo e ver como a matéria se comporta perto desta armadilha gravitacional. O novo telescópio também irá mostrar como os buracos negros influenciam a evolução de galáxias. Uma importante 133 questão da astronomia. Para isto é necessário que o espelho do gigantesco telescópio seja polido com exatidão de milionésimos de milímetro. Até mesmo um pequeno grão de poeira sobre um segmento poderia arruinar as imagens obtidas (APÊNDICE B). FIGURA 84 – Sequência de imagens de buracos negros Fonte: FUTURANDO, 2013. FIGURA 85 – Astronauta Fonte: FUTURANDO, 2013. 2013 será movimentado na área espacial. No caso da Agência Espacial Europeia, as novidades vem do setor de viagens tripuladas e da estação espacial internacional. O astronauta italiano Luca Parmitano será enviado à estação onde vai coordenar 20 experimentos. Muitos deles são alemães, já que a Alemanha é um dos países mais ativos na estação (APÊNDICE B). 134 FIGURA 86 – Bússola Fonte: FUTURANDO, 2013. Narração de Ivana Ebel - Usando uma bússola o artista desenha os contornos das esculturas geométricas na neve. Ele busca inspiração em modelos matemáticos e na simetria de jardins de templos japoneses (APÊNDICE B). Globo News Ciência e Tecnologia Narração de Luís Fernando - A equipe da Genspace construiu uma série de experimentos, capazes de gerar tecnologias importantes no futuro. Há pouca gente, pouco espaço, e muito equipamento de segunda mão, mas sobra vontade de produzir e inovar. O objetivo da cultura hacker é modificar, transformar o que existe. Ellen Jorgensen, presidente da Genspace, coordena um projeto com estudantes de diversas partes do mundo. Eles estão competindo com vários outros centros de pesquisa, na tentativa de criar uma bactéria geneticamente modificada, diferente de todas as que existem na natureza. Por que é mais fácil para ele trabalhar aqui do que trabalhar na faculdade?[...] (APÊNDICE B). FIGURA 87 – Sequência de imagens de bactéria Fonte: GLOBO NEWS CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2012. 135 Globo News Ciência e Tecnologia FIGURA 88 – Objetos da ciência Fonte: GLOBO NEWS..., 2013. Luís Fernando (narração) - Aqui em Nova York, prédios que antes eram usados por fábricas, agora estão abrigando os laboratórios como este da Genspace. A organização permite que pessoas comuns tenham acesso a áreas da ciência, como a biotecnologia, que antes eram reservadas aos grandes laboratórios (APÊNDICE C). As belas imagens reforçam a necessidade dos divulgadores científicos da TV de conquistar a credibilidade dos telespectadores por meio da comprovação. Consideramos a imagem como prova de fala da instância de produção. No entanto, não podemos deixar de analisar o seu uso como uma estratégia de captação, uma vez que a “beleza” do desconhecido mescla a prova do real com um efeito de ficção atraindo a atenção do telespectador. 5.3 MITO, CRENÇA E IMAGINÁRIO NOS PROGRAMAS CIENTÍFICOS Recuperamos as palavras de Siqueira (2010), que apresenta o mito como a esfera do simbólico e a ciência como a esfera da racionalidade. Estamos de acordo que na televisão mito e ciência podem se comunicar. Sobre a crença, retomamos o conceito de Charaudeau (2010a), o qual considera esta vinculada à interpretação. O imaginário é retratado pelo teórico como o que está além do real, está na imaginação. A partir desta breve contextualização, analisamos algumas ações nas reportagens apresentadas. 136 5.3.1 Tratamento: quem são os doutores? Neste contexto sobre mito, crença e imaginários, destacamos uma ocorrência do Globo Ciência referente ao tratamento do jornalista para com os especialistas entrevistados. Observamos que o apresentador adotou formas diferentes de dialogar com seus especialistas. Em toda a edição foram identificados três doutores por formação: um com doutorado em microeletrônica e os outros dois em ciência da computação. Dos quatro entrevistados, somente o delegado da Polícia Federal foi tratado pela palavra doutor. Não estamos criticando a situação, que pode ter ocorrido naturalmente. O fato é que o programa de divulgação científica reproduziu uma situação de senso comum, quando advogados (e médicos) são tratados como doutores. O interessante nesse caso está balizado pelas outras entrevistas. Quando havia motivo para o convidado ser tratado como doutor, o tratamento foi diferente. É o imaginário coletivo apontado por Charaudeau. Globo Ciência SITUAÇÃO 1 FIGURA 89 - Alexandre (jornalista) - Eu vou conversar com o Dr. Cleyton da Silva Bezerra. Ele é delegado da polícia federal. Doutor, por que em algumas investigações a polícia federal apreende os computadores dos suspeitos? (negritos nossos) FIGURA 90 - Cleyton da Silva Bezerra (delegado) - Com a expansão da tecnologia, a invasão da tecnologia em nossas vidas, tudo o que hoje nós fazemos ficam no computador. São fotos, são arquivos, são informações, troca de comunicação. Tudo hoje tá dentro do computador. Hoje em dia cada vez menor, então, o computador é apreendido assim como um caderno, uma agenda, como qualquer outro objeto que 137 poderia nos trazer uma elucidação de um crime SITUAÇÃO 2 FIGURA 91 – Alexandre 2 (jornalista) - Aqui é o Centro de Informática da Universidade Federal do Pernambuco, a UFPE. Considerado uma referência na área. Deixa eu apresentar para vocês Adriano Sarmento, ele é doutor em microeletrônica e professor aqui da UFPE. Adriano, vamos antes de mais nada esmiuçar este computador. (negrito nosso) FIGURA 92 - Adriano Sarmento (prof.) - Certo, vamos lá. É. Bom. Tem vários componentes aqui no computador. Então, vou explicar, mostrar só os mais conhecidos, os mais importantes. [...] SITUAÇÃO 3 FIGURA 93 – Alexandre 3 (jornalista) - Estou em uma empresa de computação em nuvem, criada por pesquisadores aqui do Recife. Rodrigo Assad é um dos fundadores. Ele é doutor em Ciências da Computação e Especialista na área de Segurança de Sistemas. Bem, aqui eu tenho um thin cliente, o cliente magro [...]. (negrito nosso) 138 FIGURA 94 - Rodrigo Assad (especialista) - Esse é um processo muito simples. Essa caixinha, na verdade tem apenas essa imagem, que ela fica transmitindo. E todo restante ela obtém dos nossos servidores [...] SITUAÇÃO 4 FIGURA 95 – Alexandre 4 (jornalista) - [...] Aqui em Recife tem um dos mais importantes pesquisadores brasileiros da Ciência da computação. Eu vou conversar com ele. Aqui é o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco e eu vou conversar com Silvio Meira. Ele é um doutor em Ciência da Computação. Sílvio, como é que funciona uma rede social na internet? (negrito nosso) FIGURA 96 - Silvio Meira (especialista) - Imagine que elas não existissem. Lá no passado a gente escrevia diários. Cadernos de papel que a gente colocava coisas relevantes da nossa vida, pregava fotos, fazia desenhos, comentava a vida. Imagine que eu implemente isso, que escreva software, que virtualiza diários, que cria abstrações, que cria sistemas que vão representar esses diários [...]. Reproduzimos as palavras de David-Silva (2005) ao apresentar a identidade na situação de comunicação: A identidade dos parceiros depende de categorias de ordem psicossocial, que podem ser analisadas não só quanto a idade, sexo, gênero, como também em referência ao estatuto sócio-profissional do sujeito: se este é professor, presidente, chefe, empregado. A observância e relevância de alguns desses fatores dependerá da situação e da pertinência em analisálos. [...] (DAVID-SILVA, 2005, p. 39, negrito do original). 139 Tentamos recuperar mais informações, sobre o delegado, na internet. A primeira fonte foi o currículo Lattes, sem sucesso. Fizemos a busca pela internet e recuperamos a informação de que ele é Especialista em Direito e Processo Penal. Nenhuma das fontes pesquisadas confirma o doutoramento do delegado. 5.3.2 Globo Ciência: estratégias para a interatividade A comunicação científica ocorre entre os pares. Neste processo, os pesquisadores trocam informações sobre suas descobertas, técnicas e metodologias. O questionamento e a curiosidade são marcas desse mecanismo de comunicação para a busca do saber, do conhecimento. Observamos que uma das marcas do Globo Ciência é a curiosidade retratada pela produção a partir de perguntas. Consideramos que a estratégia simboliza o ciclo científico e tecnológico, mas pode ser realizada por qualquer indivíduo da sociedade. No programa, as perguntas são realizadas pelo jornalista e/ou enviadas por um telespectador. Em outro momento, algumas perguntas são repassadas para pessoas leigas, pessoas comuns. Nas ruas, os entrevistados demonstraram surpresa, desconhecimento e alguns até brincaram com a situação. Ao mesmo tempo, indivíduos deram respostas coerentes. Este era o momento para o início da matéria. Destacamos que a ordem segue o roteiro adotado pela instância de produção. SITUAÇÃO 1 Globo Ciência FIGURA 97 – Estudantes do curso de computação gráfica Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. 140 Apresentador Alexandre - Estou num curso de computação gráfica, aqui no Rio de Janeiro e vou pedir ajuda a esses estudantes. Por acaso, você sabe para onde vão os arquivos deletados do computador? Estudante A - Em algum local da torre. Ou da memória do computador. Talvez até no disco rígido. Não sei. Estudante B - Bom, depende de como você deleta. Se você clica com mouse direito e aperta deletar, eles vão pra lixeira. Já se você colocar Ctrl + Shift + Del, eles vão, automaticamente sair fora da lixeira. Mas depois da lixeira, pra onde eu não sei. Estudante C - Fica armazenado à espera de um novo arquivo igual ou semelhante ele. Após as respostas dos estudantes, o jornalista entra em cena para apresentar a matéria. A curiosidade é novamente retratada pelo apresentador. Este tem o papel de recuperar uma solução técnico-científica junto aos especialistas. A pergunta exerce esse papel de despertar a curiosidade (estratégia de captação). 5.4 O REGISTRO DO AUDIOVISUAL: PROCESSO DE INDEXAÇÃO DE CONTEÚDO E IMAGEM A partir dos conceitos desenvolvidos no capítulo 2, entendemos que ciência e tecnologia buscam objetivos comuns, os quais querem contribuir no desenvolvimento da sociedade. Porém, as duas áreas adotam processos específicos. Enquanto a ciência está diretamente ligada ao conhecimento, a tecnologia está vinculada às técnicas e instrumentos para atender ao homem. Apresentamos os conceitos anteriores para identificarmos a predominância das áreas nos programas selecionados. Verificamos também os meios discursivos adotados pelas empresas de televisão. A partir dos temas apresentados na seção anterior, adiantamos que ambas aparecem no corpus. Elas não são identificadas de forma clara pelo telespectador, mas tentaremos desmembrá-las neste espaço. Lembramos que o tema que definiu a seleção do corpus do nosso trabalho é a ciência da computação. A partir dessa decisão, já tínhamos o indicativo de que a tecnologia seria o foco principal dos programas. Consideramos que, no processo de indexação de imagens televisivas, de programas científicos, o indexador (instância da recepção midiática) tem o papel da 141 decisão, representado pelo contrato de comunicação proposto por Charaudeau. É o indexador quem fará o filtro das informações que serão registradas ou não no sistema. Assim, buscamos monitorar o processo de transação (entre instância de produção midiática e instância de recepção). Já que nosso contexto é o sistema desenvolvido pelo CAPTE, e o perfil dos futuros usuários da base é formado por pesquisadores, sugerimos que as informações registradas, inicialmente, sejam dados recuperados nos programas. Um vocabulário controlado também deve ser utilizado. Destacamos, neste processo, que o indexador não está previsto pela instância de produção. Recuperamos essas informações para acompanharmos as possíveis dificuldades do profissional ao indexar as imagens televisivas. Percebemos que existem informações relevantes para o trabalho do profissional. Os dados comuns às três atrações são: nome do programa e nomes dos apresentadores. No Globo Ciência, a mesma informação foi repassada de forma verbal pelo apresentador no decorrer da reportagem. No Futurando, recuperamos a localização, ora pela fala dos narradores, ora pelas imagens apresentadas. O Globo News Ciência e Tecnologia também informou a localização por meio da fala do apresentador, porém o canal adotou outra estratégia: o local da gravação, onde se encontrava o jornalista. Este dado foi visualizado na arte com o nome do profissional. SITUAÇÃO 1 Globo Ciência FIGURA 98 - Apresentador Alexandre - Estou em uma empresa de computação em nuvem, criada por pesquisadores aqui do Recife. (negrito nosso) Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. 142 SITUAÇÃO 2 Futurando FIGURA 99 - Narrador Maurício Cancillieri - Ilhas no norte da Alemanha. Aqui as escolas são pequenas e há poucos professores. (negritos nossoss) Fonte: FUTURANDO, 2013. SITUAÇÃO 3 Globo News Ciência e Tecnologia FIGURA 100 - Luís Fernando (narração) - Aqui em Nova York, prédios que antes eram usados por fábricas, agora estão abrigando os laboratórios como este da Genspace. A organização permite que pessoas comuns tenham acesso a áreas da ciência, como a biotecnologia, que antes eram reservadas aos grandes laboratórios (negrito nosso). Fonte: GLOBO NEWS..., 2012 Assim, sabemos que parte do material do Globo Ciência foi desenvolvida em Recife, a partir da fala do apresentador. O Futurando trata de uma reportagem produzida em uma ilha do norte da Alemanha. Além das imagens, a informação é repassada pelo narrador. Somente o programa da TV por assinatura apresenta a informação na arte, conforme a próxima imagem. 143 SITUAÇÃO 4 Globo News Ciência e Tecnologia FIGURA 101 - Apresentador em Washington Fonte: GLOBO NEWS..., 2012. Em Washington, o jornalista construiu a matéria sobre a nova arte digital. 5.4.1 A recuperação dos vídeos por palavras: indexar o quê? Apresentamos um conjunto de dados a partir da análise dos programas. O intuito é demonstrar quais tipos de informações e dados podem ser inseridos em um sistema audiovisual como o CAPTE. Informamos que os termos que serão apresentados foram retirados das produções e das imagens. Não adotaremos, para este trabalho, o uso do vocabulário controlado ou outro tipo de padronização das informações. Porém, consideramos que este processo é importante, pois contribui para a garantia da recuperação das informações com baixo índice de revocação. QUADRO 8 – Nomes de especialistas e entrevistados (continua) Adriano Sarmento Andre Homberg Barbara Glittenberg Christine Niehage Cleyton da Silva Bezerra Don Lee Ellen Jorgensen Erich Kölling Félix Both Gisela Tongers Ilsemarie Sturk Jochen Liske Johann-Dietrich Wörner Jutta Croll 144 QUADRO 8 – Nomes de especialistas e entrevistados (conclusão) Luca Parmitano Mia Robinson Nills Wettstein Olivier Medvedik Patrícia Chad Rodrigo Assad Rolf-Peter Kudritzki Rosemarie Hanke Sílvio Meira Simon Beck Ulrike Peters Fonte: Autoria nossa. Além dos nomes, também foram identificadas 14 instituições nacionais e internacionais. São empresas, centros de pesquisa, universidade e fundações. QUADRO 9 – Nomes de instituições dos três programas Agência Espacial Europeia Ateliê Bremer Heimstiftung Centro Aéreo Espacial Alemão Escola [Inselschule] Fundation Digitale Chancen Genspace Instituto de Astronomia do Havaí Instituto Max Planck de Física Extraterrestre Polícia Federal Tecelagem Kafka Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) USTO.RE (Empresa de computação em nuvem) Fonte: Autoria nossa. O nome USTO.RE, empresa de computação em nuvem, foi recuperado ao final do programa. 145 FIGURA 102 – Nome da empresa de computação em nuvem Fonte: GLOBO CIÊNCIA, 2012. Andrade (2004) identificou as principais áreas do conhecimento abordadas em matérias jornalísticas da televisão. Os temas mais abordados foram: Ciências da Saúde, Meio Ambiente, Tecnologia, Ciências Humanas e Sociais, Ciências Naturais, Ciências Exatas, Ciência na Sociedade. No jornalismo nacional, Ciências da Saúde foi o tema mais produzido. Em nossa pesquisa, apesar do predomínio da Ciência da Computação, pelos motivos já destacados, outras áreas do conhecimento foram recuperadas: Astronomia, Astrofísica, Biotecnologia, Arquitetura e Administração. A seguir, apresentamos os termos recuperados nas transcrições dos vídeos de cada programa. Decidimos apresentar no sistema de tags em nuvens. Trezentas palavras estão apresentadas em cada figura: FIGURA 103 - Globo Ciência (tags) 146 FIGURA 104 – Futurando (tags) FIGURA 105 - Globo News Ciência e Tecnologia (tags) 5.4.2 Orientações para o modelo de política de indexação para o CAPTE A partir das orientações da norma NBR 12676/1992 – Métodos para análise de documentos: Determinação de seus assuntos e seleção de termos de indexação –, repassamos algumas orientações que permitem indexar termos de documentos televisivos, com intuito de facilitar a recuperação destes dentro do sistema. O profissional responsável pela atividade deve observar as seguintes orientações: Primeira etapa: 147 a) Examinar o documento42 para estabelecer o assunto; b) Identificar os conceitos presentes no assunto; c) Traduzir os conceitos para os termos de indexação; Para esta etapa, considerando nosso objeto de pesquisa, os documentos audiovisuais são identificados como documentos não impressos, na NBR 12676/1992. Entendemos que os dados apresentados pelos canais de televisão não são suficientes para a indexação dos vídeos. Observamos que é possível a recuperação de dados primários como título do programa e horário de veiculação na mídia. As outras informações sobre tema, jornalistas, entrevistados, local de gravação etc. dependem da visualização do programa. Neste caso, sugerimos que o indexador assista ao programa na íntegra. Segunda etapa: a) Após exame completo do programa de televisão, o indexador deve adotar uma abordagem sistemática para apontar os conceitos que a serem descritos no sistema. A norma apresenta algumas perguntas que devem ser realizadas, como: qual o assunto? b) Os conceitos escolhidos devem levar em consideração o perfil da comunidade de usuários que utilizará o sistema. Para o CAPTE, a comunidade é formada por analistas do discurso que são pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. c) O indexador deve ter um conhecimento das ferramentas e dos assuntos abordados em produções televisivas. Sugerimos a tabela de classificação do conhecimento, desenvolvida pela CAPES, como instrumento de apoio para o indexador. A tabela pode ser adotada sempre que os documentos audiovisuais tratarem de temas técnico-científicos. 42 Segundo a norma, o documento é qualquer unidade, impressa ou não, que seja passível de catalogação ou indexação. Em nota, há a seguinte informação: “Esta definição se refere não apenas a materiais escritos ou impressos em papel ou suas versões em microforma (p. ex.: livros, jornais, diagramas, mapas), mas também a suportes não-impressos (p.ex.: registros legíveis por máquina, filmes, gravações sonoras), objetos tridimensionais e realia usadas como espécimens.” 148 Terceira etapa: a) O sistema de programas televisivos deve buscar sempre a qualidade da indexação. b) Testes e atualizações devem ser realizados com frequência. c) O sistema deve ser flexivo. Mesmo com a adoção de um vocabulário controlado, deve estar preparado para receber novos termos de indexação. A seguir, sugestão de campos para indexação de uma das matérias do Globo Ciência. Percebemos a relevância das imagens nos programas analisados. A informação imagética reforça o vínculo do contexto técnicocientífico à atração televisiva. As imagens, tanto nas vinhetas como nas matérias, são estratégias para a captação do telespectador. O indexador deve monitorar tais informações. 149 FIGURA 106 - Ficha de indexação de programas / matérias técnico-científicas continua PROPOSTA SISTEMA DE INDEXAÇÃO DE VÍDEOS TELEVISIVOS (SIV/CAPTE) Nome do programa: Globo Ciência Canal de emissão: Rede Globo Hora início: 06:20s Data de exibição: 12/01/2013 Duração total da emissão: 19:10s Dia da semana: Sábado Número de blocos: 3 Apresentador(es): Alexandre Henderson Localização: Cenário ___ Externa x Local(is) do programa: Rio de Janeiro Descrição cenográfica básica do programa: Locação externa (Rio de Janeiro e Recife) Vinheta: 1 Abertura: Sim___ Não: x Duração total: 2:59s Escaladas: 1 Matérias: 3 Temáticas: 1 Entrevistas: 3 Cabeças: ___ Chamadas de bloco: 1 Imagens-chaves: Logomarca da Rede Globo, computador, disco rígido, livros, jaleco, memória principal, universidade Descritores: Arquivo confidencial; computador; backup; Ciência da Computação; cliente magro; computação em nuvem; computação em rede; crimes; crimes de alta tecnologia; dados pessoais; disco rígido; rede social; internet; investigação cibernética; polícia federal; memória principal; meus documentos. RESUMO Programa mostra como funciona um computador, analisa se é possível recuperar arquivos deletados e explica a computação em nuvem. 150 FIGURA 106 - Ficha de indexação de programas / matérias técnico-científicas conclusão Matérias Título da matéria: Para onde vão os arquivos deletados do computador? Bloco:1 Tempo de emissão: 52s Temática: Ciências Exatas e da Terra / Ciência da computação Local (cidade, estado, país): Rio de Janeiro Língua(s): Português Imagens chaves: Computador; Brasão da Polícia Federal; livros; investigação técnico-científica Trilha sonora: sim__ não_x_ Pessoas envolvidas Repórter: Alexandre Henderson Produtor: Editor: Narrador: Cinegrafista: Entrevistado (s): Clayton da Silva Bezerra Papel social: Delegado Vox populi: Sim___ Papel comunicativo: especialista Não_x__ Instituições de pesquisa (especialistas) Área(s) do conhecimento43: Ciências Sociais Aplicadas / Direito Instituição / Empresa: Polícia Federal Sigla: Área de formação: [Direito] Titulação: [Especialização] Descritores: Crimes; crimes de alta tecnologia; dados pessoais; disco rígido; rede social; internet; investigação cibernética; polícia federal; meus documentos; Polícia Federal Resumo Trata dos crimes virtuais. O programa entrevista um delegado e fala da rotina técnico-científica das investigações da Polícia Federal. 43 Tabela de conhecimento da CAPES 151 5.5 Discussão comparativa dos resultados O estudo de caso permite uma análise geral do corpus, em diferentes contextos, principalmente para o recorte da linguagem. As especificidades da ciência e da tecnologia estão contextualizadas em ambientes restritos de comunicação, que precisam ser adaptados para uma linguagem coloquial, facilitando o acesso à informação da TV. 5.5.1 Ciência e Tecnologia As áreas de ciência e tecnologia estão muito próximas em suas atuações. Apresentamos a ciência vinculada ao conhecimento, em meio restrito de comunicação, desenvolvida entre pares, além de ser reconhecida pelo grande público como parte sólida do universo acadêmico. É praticada por especialistas e tem como objetivo atender aos interesses da sociedade. A tecnologia também busca atender às necessidades sociais, porém está vinculada ao desenvolvimento de técnicas e instrumentos, além de possuir características empresariais, para cumprir as demandas da indústria. Concordamos com as palavras de Vieira (2009), ao definir a tecnologia como a aplicação do conhecimento científico para o bem da humanidade. Os cientistas e os tecnologistas têm papéis diferentes de atuação. A comunicação científica é o meio para a troca de experiências e para o desenvolvimento das pesquisas. O que muda são os produtos finais. O cientista busca reconhecimento e dar visibilidade às pesquisas desenvolvidas. Já o tecnologista, na maioria das vezes, atende a uma demanda específica de mercado, e o retorno do seu trabalho está nos lucros. A partir desta visão, os três programas audiovisuais analisados nos apresentam a complexidade em se tratar de ciência e tecnologia juntas. A divisão categórica de cada área não é prioridade das produções. Ciência e tecnologia se complementam e diferenciá-las não é a forma mais atrativa para captar a atenção do telespectador. Como a comunicação científica é desenvolvida formalmente, a divulgação das pesquisas necessita de transformações, de uma roupagem coloquial e imagética, aproximando-se da espetacularização da ciência apresentada por alguns autores. 152 Para atender aos interesses econômicos dos canais de TV, e com base nas matérias assistidas, observamos que a tecnologia, enquanto área do conhecimento, possui as características ideais para a criação de estratégias, em busca da captação do telespectador. Tentamos apontar as reportagens e suas respectivas áreas de conhecimento. A ciência, apresentada no capítulo 2, está presente nas seguintes matérias: No Futurando, destacamos as matérias sobre: (i) buraco negro, (ii) observação do espaço, (iii) viagem espacial e (iv) cientista. Percebemos que a física/astronomia, a partir de suas observações, teorias e pesquisadores reforçam o imaginário coletivo, ao se destacar um “mundo” distante da nossa rotina. As estrelas, o espaço, o astronauta, o observatório estão restritos ao meio científico. A matéria sobre a pesquisadora astrofísica aproxima o cientista ao mundo real, porém sua postura e área de atuação ainda são uma barreira entre o real e o imaginário coletivo. Podemos relacionar a situação ao intelectual discutido por Barthes (2001), no livro das Mitologias. No Globo Ciência, em matéria sobre crimes virtuais, destacamos a investigação cibernética como uma atividade científica. A rotina científica da Polícia Federal demanda um processo de análise dos vínculos em bancos de dados e usos de cartões bancários com intuito de identificar os envolvidos em um crime cibernético. O Globo News Ciência e Tecnologia trata dos hackerspaces. Eles formam um grupo de pesquisadores, de áreas multidisciplinares, que se unem para desenvolver pesquisas colaborativas em espaços de criação científica. Neste vídeo, detectamos imagens, situações e objetos que retratam o andamento de um laboratório. Além dos pesquisadores, existem os microscópios, pepitas, jalecos, vitros, óculos de proteção e outros objetos característicos do espaço laboratorial de pesquisa. Em especial, percebemos que a realidade dos hackerspaces não é comum aos diversos laboratórios do Brasil. As instituições dependem de recursos financeiros elevados para fortalecer os espaços de pesquisa. Os hackerspaces constroem o espaço de forma independente, com atores de diversas áreas, com o intuito de oferecer as técnicas científicas, a baixo custo, para uma parcela da população que não tem acesso às pesquisas de ponta. 153 Ou seja, a ciência para o social está presente na matéria. A busca pelo reconhecimento e visibilidade das pesquisas (comunicação científica) pode ser detectada no principal objetivo do laboratório: completar o sequenciamento do perfil genético, acessível a qualquer pessoa. A tecnologia está presente na produção dos três programas: o Globo Ciência apresentou a computação a partir de (i) arquivos deletados, (iii) crime virtual e (iii) computação em nuvem. A rede social também foi um tema discutido, vinculado à matéria da computação em nuvem. O Futurando trata da tecnologia nas matérias sobre o espaço, porém o mundo virtual para idosos, o ensino a distância, a tecelagem e a arte digital reforçam o contexto em que a tecnologia é caracterizada como um tema mais atraente e próximo à realidade do telespectador. A internet, o uso de computadores e tablets são temas que podem despertar o interesse do espectador da mídia audiovisual. A matéria sobre a resistência à modernização do parque tecnológico de uma tecelagem apresenta, de forma contraditória, os meios necessários para o avanço tecnológico em um ambiente industrial. Apesar de toda a produção ser realizada em antigas máquinas de tear, a divulgação das peças produzidas e a transação comercial com outros países são realizadas por meio do computador, via internet e redes sociais. Indiretamente, a tecelagem está inserida no avanço tecnológico no uso das tecnologias de informação e comunicação. Em outro item, o ensino a distância é a solução encontrada pela Alemanha para aplicar o ensino de língua estrangeira aos alunos que moram em ilhas. Computador, internet e educador são os meios escolhidos para sanar a dificuldade em levar profissionais de ensino para as escolas do arquipélago. Outra informação interessante é o desenvolvimento do manuseio dos tablets pelos idosos. A tecnologia deve ser acessível a todos, e os idosos demonstram, na matéria, as vantagens do uso da ferramenta. Destacamos, sobre a arte na neve, a dedicação e a persistência de um artista por enfrentar temperaturas baixíssimas, em prol de suas criações. Outro ponto que deve ser lembrado é a técnica adotada para a elaboração dos desenhos. A partir de desenhos matemáticos, geométricos, a arte é 154 desenvolvida e posteriormente registrada pelas lentes fotográficas do artista. O meio escolhido para a divulgação, novamente, é a rede social. 5.3.2 Comunicação científica e divulgação científica A comunicação científica existe em meios de pesquisa, entre pares, a partir de troca de informações de trabalhos em suportes formais e informais de informação. Livros, teses, eventos e outras comunicações são os meios legitimados, na comunidade técnico-científica, para a circulação dos dados de interesse. Os documentos citados têm como principal característica a rigidez, formalidades e uso de linguagem técnica, tornando o acesso restrito para esse fim. Como já apresentado no capítulo 2 sobre C&T, a comunicação científica é meio para dar visibilidade à produção intelectual de pesquisadores, instituições e empresas, além de se ter acesso ao acervo de produção científica do mundo todo. Entendemos que a comunicação científica é base para a compreensão do papel da divulgação científica para a sociedade. O que é produzido e registrado pelas instituições de pesquisa nos suportes de comunicação científica é adaptado pelos meios de comunicação de massa, com o intuito de atender ao grande público. Em caminho inverso, mais não menos importante, a divulgação científica tenta transformar o conhecimento produzido por cientistas (presente nos suportes da comunicação científica) ao público leigo. A ação tem sido considerada como um papel dos institutos de pesquisas do país como forma de dar retorno aos investimentos públicos na área. O corpus selecionado mostra que os temas em questão foram adaptados para o suporte audiovisual, tanto pelos mecanismos verbais quanto pelos visuais, como tentativa de recontar os avanços científicos e tecnológicos para a sociedade. 5.3.3 Instância de produção Dos três programas analisados, dois foram desenvolvidos com matérias produzidas em outros países. A língua pode ser uma barreira para a veiculação 155 de matérias técnico-científicas, porém, com o uso da dublagem e da legenda, a comunicação entre telespectador e canal de emissão não está comprometida. Neste caminho, apontamos o desenvolvimento da pauta de matérias. Como já foi apresentado no início do capítulo, a jornalista do Futurando, além de apresentadora do semanário, vivencia outro papel na atração. Ela é uma das produtoras do programa. Interpretamos que a tomada de decisão sobre os temas escolhidos para o programa leva em consideração o perfil do espectador brasileiro. Apesar de apenas uma edição do programa ter sido avaliada para a pesquisa, observamos que, mesmo tendo características estrangeiras, os assuntos são de interesse do público brasileiro. Como exemplo, podemos afirmar que o mundo virtual para a terceira idade, ensino a distância via internet, divulgação de trabalhos artísticos e produtos comerciais via rede social, astronomia e pesquisadores são assuntos universais. Mesmo com realidades diferentes, a ciência e a tecnologia aproximam culturas. O Globo News desenvolveu as matérias nos Estados Unidos. O canal é brasileiro, mas apresentou realidades diferentes dos meios científicos já reconhecidos pelo público em geral. A arte digital aspira um espaço tanto culturalmente quanto no meio tecnológico. Essa luta pode ser mobilizada também no Brasil. Os hackerspaces surgem como alternativa para diversos pesquisadores que não estão inseridos nos contextos de pesquisa estruturados. 5.3.4 Instância de recepção Comentamos aqui o fato de a instância de produção não prever o público da instância de recepção, mas o idealiza e a partir dessa projeção ele molda seu discurso e lança mão de estratégias. A instância de recepção é formada em grande parte pelo telespectador. Para um recorte sobre indexação de vídeos televisivos, afirmamos que o indexador também não está previsto. Entendemos que essa posição demanda algumas dificuldades para o processo de indexação de acervo televisivo. Sem o uso da linguagem verbal para a seleção de temas, o canal de emissão é o responsável pelo acesso aos assuntos dos produtos televisivos. 156 O indexador tem acesso a algumas informações básicas e que independem do conteúdo dos programas: nome da atração, canal de emissão, horário de início, horário de fim, apresentadores e data de exibição. Como papel do profissional, outras fontes podem ser consultadas: sites, jornais, programação da TV etc. Apesar das facilidades que as tecnologias nos oferecem atualmente, o indexador deve apostar em uma política que obriga todos os envolvidos a terem acesso ao conteúdo na íntegra. Para a análise discursiva dos vídeos, os temas, papéis enunciadores e comunicantes, documentos imagéticos, chamadas, cronologia das ações são metadados de interesse do usuário de um sistema proposto pelo CAPTE. É um processo importante que depende de atenção e um olhar crítico para o registro documental, com o objetivo de facilitar a recuperação dos dados. Para a divulgação científica, observamos a relevância de o sistema do CAPTE se tornar fonte de pesquisa e comprovação da produção intelectual dos pesquisadores e tecnologistas. Considerando a remodelação de dados do currículo lattes, o sistema de registro de conteúdo audiovisual pode reunir e disponibilizar a participação da comunidade científica em ações de divulgação científica na televisão. Participações em entrevistas, debates, documentários, programas e jornais podem ser fontes de validação das informações. 5.3.5 Discurso televisivo e discurso científico Retomamos o conceito sobre o discurso televisivo, que considera a televisão como uma linguagem narrativa de imagens em movimento. A televisão é responsável por divulgar os avanços científicos e tecnológicos para o grande público. A atração científica atenderia a uma pequena parcela da população. Por esse motivo, passa por adaptações para atender a uma expectativa estruturada para o grande público. Como apresentado por Siqueira (2010), é um novo discurso. A televisão tem o objetivo de ser o canal de comunicação dos pares e do público leigo. Mas a generalização dos temas provoca críticas do primeiro grupo, pois as adaptações esvaziam os mecanismos que envolvem a pesquisa propriamente dita. Em parte, o público está em contato com a ciência do espetáculo, como apontado por alguns autores. O telespectador vislumbra um 157 conhecimento desvinculado das opiniões diversas entre os pares. A reprodução dos saberes científicos ganha características míticas no espaço da TV. [...] quanto mais um saber é amplamente compartilhado, tanto mais ele é compreendido por uma grande quantidade de receptores e tanto menos ele informa; quanto mais um saber é reservado a um grupo reduzido, mais ele exclui receptores e mais pode informar." (CHARAUDEAU, 2010a, p. 265). Já o discurso científico prima pela troca de informações entre os pares, ocorre nas instituições de pesquisa e é caracterizado pelo contexto argumentativo e comprovatório das pesquisas. Os três programas reproduzem os dois discursos apresentados. O Globo Ciência, ao adotar a estratégia da argumentação, busca informações em fontes qualificadas para as respostas, além de indiretamente reproduzir o fluxo adotado pela comunidade científica. É interessante, por exemplo, a troca de papéis entre especialista e entrevistador. Ora o jornalista faz o papel do telespectador curioso, ora é o próprio especialista enunciando as informações já adaptadas para o público. SITUAÇÃO 1 Globo Ciência Alexandre (jornalista) - Gente! A computação em rede, você ter um grande servidor, uma grande máquina que agrega as informações de toda rede. Ela tem a capacidade de processar tudo o que tem ali na rede. E na computação em nuvem, como é que funciona? Pesquisador Rodrigo Assad - Na computação em nuvem. O que a gente tem é o somatório de cada pedacinho de cada computador que você tem, te dando essa mesma capacidade de processamento virtualizada. Alexandre - Posso arriscar dizer, Rodrigo, que num sistema como esse, que utiliza o thin client, que não tem disco rígido, uma empresa não precisa ficar trocando aparelhos de computadores o tempo inteiro. Pesquisador Rodrigo Assad - É exatamente esta a ideia. Na verdade os computadores eles existem em ambiente virtualizado, que já vem pronto, com todos os softwares instalados. Inclusive isso é mais seguro, porque você atualiza somente um ponto, isso já está atualizado para todo mundo acessar e aí, por exemplo, quando você precisar salvar um arquivo você 158 simplesmente arrasta ele pra dentro, esse arquivo vai ser copiado para nuvem e na hora que você precisar, você acessa ele de qualquer lugar, do seu smartphone, do seu thin client, de seu outro thin client, do seu tablet, enfim, de qualquer lugar. Alexandre - O importante gente, é que para se ter uma computação em nuvem bastante eficiente é preciso uma internet de altíssima qualidade, não é Rodrigo? Pesquisador Rodrigo Assad - Exatamente isso, além de lembrar que seus dados não existem mais fisicamente nos seus dispositivos como no caso que a gente tá vendo aqui. Alexandre - Ele vai para algum lugar na rede, algum lugar nessa nuvem, ele fica lá armazenado nesse HD virtual e em algum momento você pode pegar esse arquivo, ou em algum momento essa rede virtual ele pode simplesmente deletá-lo. Pesquisador Rodrigo Assad - Exatamente e você não controla isso. Alexandre - Rodrigo, muito obrigado. Pesquisador Rodrigo Assad - Muito obrigado (APÊNDICE A). A heterogeneidade aparece no momento em que o jornalista simplifica a fala do pesquisador. Consideramos também que algumas respostas do pesquisador foram previamente adaptadas para o contexto do programa, onde o pesquisador reproduz as estratégias da instância de produção. SITUAÇÃO 2 Futurando Nesta reportagem percebemos a tentativa de aproximar o fazer científico ao público da televisão. O vídeo tenta apresentar o lado humano do pesquisador: Apresentadora Nádia Pontes – A tecnologia impulsionou as descobertas e captação de belas imagens vindas do espaço. Mas no comando deste trabalho está sempre um profissional dedicado a ciência. Um ser humano. O Futurando conversou com uma astrofísica sobre a sua rotina de observação do universo. Pesquisadora Patrícia Chad – Quando eu cheguei em Monique, eu não tinha ideia de como a cidade é perto dos Alpes. Fiquei encantada com o fato de poder acordar cedo em uma manhã, viajar uma 159 hora para chegar aqui e poder respirar o ar puro dessas montanhas. Isso é maravilhoso. Meu nome é Patrícia Chad. Sou britânica e trabalho no instituto Max Planck de Física Extraterrestre em Garching, na Alemanha. Trabalhar em um observatório é muito bom. Eu gosto muito. No laboratório tudo é bem mais real. Normalmente observamos os astros no escritório, atrás de um computador. Mas se algo dá errado, é necessário ir para o observatório e olhar pelo telescópio. Eu costumava fazer isso antigamente. O que eu acho muito positivo no observatório onde trabalhamos, é que temos muito controle sobre os instrumentos e sobre o próprio telescópio. Trabalho principalmente na observação de fenômenos chamados erupções de raios gamas que são grandes explosões e grandes emissões de energia. Por um instante essa emissão é tão brilhante que ilumina todo o céu e chega a cegar. Hoje acreditamos que essa explosão seja na verdade o colapso de uma estrela muito massiva, ou seja, a estrela se torna tão grande que entra em colapso por causa da própria força gravitacional e forma um buraco negro. Essa é uma estrela que sofreu uma morte catastrófica e também sabemos que elas morrem muito jovens, pois estrelas massivas não sobrevivem muito tempo. Eu acho isso muito trágico, e dramático também, pois elas não desaparecem em silêncio. O universo tem 14 bilhões de anos e as erupções de raios gamas que estou estudando tem dezenas de milhões de anos, ou seja, isso é uma pequena fração da idade do universo. Isso mudou minha visão global. “Me” tornou uma pessoa com alto senso prático. E talvez por causa disso eu seja menos romântica (APÊNDICE B). SITUAÇÃO 3 Globo News Ciência e Tecnologia O programa apresenta uma particularidade pela postura do jornalista. As perguntas são objetivas e o espaço do programa é do especialista. Apresentador (Luís Fernando) - A Genspace luta para produzir resultados concretos, com uso de mercados. O laboratório tem menos de dois anos de existência e o potencial é palpável. Uma das pesquisas mais promissoras, envolve a criação de um perfil genético acessível a qualquer pessoa. Pesquisador (Olivier Medvedik) - Um ano e meio é um tempo muito curto, mesmo para um laboratório que funcione em uma universidade. Nós abrimos as portas há apenas um ano e meio, e várias pessoas já passaram por aqui. Nós tivemos projetos muito interessantes que foram iniciados e chegaram a determinado grau de conclusão. Nós agora estamos patrocinando uma segunda equipe no iGEM... Então, nós basicamente temos projetos em que tentamos criar pequenos cristais chamados “pontos quânticos”. É um projeto ainda em andamento. Nós temos aqui artistas fazendo um trabalho de ponta tentando testar as fronteiras entre privacidade e genética. Eles basicamente colhem amostras de material genético. Heather é uma delas. Eles colhem material humano nas ruas, como amostras de cabelo, etc. E, de posse dessas amostras, após sequenciar o DNA, com a tecnologia que temos, é possível fazer um perfil da pessoa, saber como ela é, e fazer um busto dela e dizer: “Esta pessoa, em certo momento, estava neste lugar.” E é muito. Isso levanta muitas perguntas, como: o que nós consideramos ser nós? Qual é nossa informação? Apresentador (Luís Fernando) 160 - Nós deixamos informação genética em toda a parte. Pesquisador (Olivier Medvedik) - Nós a espalhamos por toda a parte, ela se desprende de nós o tempo todo. E, até agora, não tínhamos tecnologia para analisá-la, então ninguém se importava. Mas agora, que temos tecnologia para ler essa informação, nós começamos a levantar novas questões. E o trabalho dela é tentar ser uma pioneira nisso. Apresentador (Luís Fernando) - Ótimo. Muito obrigado. Pesquisador (Olivier Medvedik) - Foi um prazer. Apresentador (Luís Fernando) - Obrigado (APÊNDICE C). Acreditamos que os meios de comunicação e as instituições de pesquisa podem caminhar juntos neste processo, na identificação e na divulgação de temas para o bem comum da sociedade. 161 CONSIDERAÇÕES FINAIS A nossa proposta inicial era identificar se o discurso da C&T no Brasil é praticado pelos programas científicos da televisão. O trabalho desenvolvido confirmou as observações de diferentes teóricos, que apontavam a dificuldade em se trabalhar com a mídia audiovisual. O fato era apontado tanto pela multiplicidade de discursos como pelas estratégias. No desenvolvimento da pesquisa, percebemos que a mídia oferece a oportunidade de ser analisada a partir de vários olhares. A esta dificuldade somamos ainda o contexto técnico-científico, a partir de sua estrutura, conteúdos e atores envolvidos. Ambas as áreas, mídia televisiva e C&T, têm papéis importantes para a sociedade e usam canais de comunicação para disseminar o conhecimento. A televisão apresenta as principais estratégias junto ao telespectador, formado por um grupo heterogêneo de interesses. Além do uso da imagem, do som, há o reconhecimento do mesmo público para transmitir a informação de áreas como economia, política, entretenimento, esporte etc. Já a C&T é voltada a um público especializado, com características comunicacionais restritas, que são direcionadas às comunidades científicas. A produção intelectual destas comunidades apresenta características de acesso restrito, no qual quem tem o conhecimento consegue interpretá-lo. Neste entendimento, os profissionais qualificados para repassar o mesmo conteúdo para os meios de comunicação em massa são os jornalistas. Não está comprovado, mas entendemos que o perfil do cientista ainda não está adaptado para a estrutura de informação científica simplificada, aumentando a possibilidade de deformação do conhecimento, possibilitando a geração de interpretações equivocadas para a sociedade. A partir desses entendimentos, observamos que os programas científicos selecionados e transmitidos pela televisão brasileira estão preocupados em disseminar a informação científica para o grande público. Divulgar C&T é considerado, pelas emissoras, como uma missão. O Globo Ciência se apresenta como o tradutor de conceitos da ciência e tecnologia para o público em geral. Da mesma forma, O Globo News Ciência e Tecnologia, por exemplo, veicula informações de pesquisas, descobertas e invenções que 162 mudam o cotidiano. E o Futurando tem o compromisso de mostrar o que há de novo na ciência e no desenvolvimento da tecnologia e da discussão ambiental. Entendemos que, apesar de não ser uma demanda do grande público, os canais transmitem conteúdos de C&T como uma responsabilidade social de mantê-lo informado. Porém, o discurso que sobressai ainda é o da televisão. O tempo de fala dos especialistas, o capital visual, a exibição das matérias atendem ao script da mídia audiovisual. A C&T é o alvo a ser padronizado para atender o espaço reservado na programação. Apesar dessa necessidade de adaptação, os três canais tentam encaixar temas do cotidiano brasileiro, mesmo produzindo conteúdos em terras estrangeiras. O Futurando é o programa que mais se adequa à definição anterior, pois, apesar de ser produzido na Alemanha, disponibiliza matérias que retratam aspectos da realidade brasileira. O contexto pode ser reconhecido pelo telespectador do Brasil. Outro ponto que nos chamou a atenção é sobre o tratamento dado aos pesquisadores no Globo Ciência. O jornalista tenta reforçar a credibilidade dos especialistas convidados ao destacar suas formações acadêmicas, o vínculo institucional (universidade, empresa de computação em nuvem), o tipo de pesquisa desenvolvido etc. Entretanto, tratou os doutores da mesma forma que o grande público os trata. Podemos entender que seja uma estratégia de aproximação com o imaginário sociocultural brasileiro. Um delegado, sem ter passado pelo processo acadêmico de doutorado, é reconhecido como doutor, por ser formado em direito? É o senso comum? Ao contrário, os doutores legitimados pelos trâmites acadêmicos e científicos não receberam o mesmo tratamento. Entende-se que a missão dos programas é tentar aproximar o público à realidade dos centros de pesquisa. Talvez, fatos como este possam ser evitados. Talvez o processo de transformação do que é produzido em contexto técnico-científico, via televisão, necessite do envolvimento mais efetivo entre jornalistas e instituições de pesquisa. Os conteúdos científicos deveriam ser selecionados pelos cientistas e técnicos, com apontamentos sobre os objetivos e os riscos das pesquisas desenvolvidas, contribuindo ainda mais no processo de seleção dos editoriais televisivos. 163 A divulgação das pesquisas para o público leigo, em âmbito nacional, também é responsabilidade das instituições e empresas envolvidas com C&T. A televisão é um dos suportes que pode ser mais explorado pelos pesquisadores e centros de pesquisa. Quanto ao CAPTE, entendemos que a pesquisa pode contribuir em determinar situações que serão enfrentadas pelos profissionais, envolvidos com a indexação de programas televisivos. Em especial, com as produções de contexto da ciência e da tecnologia. O indexador deverá ser envolvido em todas as etapas de visualização das matérias, além de reconhecer os dados que serão recuperados pelos analistas de discurso. Ainda sobre o CAPTE, destacamos que o sistema pode ser uma fonte de pesquisa e acesso para consulta de informações de pesquisadores e instituições de pesquisa. Além de ser um sistema de recuperação da produção audiovisual brasileira, pode agregar, também, a responsabilidade de contribuir na visibilidade das pesquisas científicas e tecnológicas, para a divulgação científica. Reforçamos que a CAPES tem valorizado as ações de pesquisas que são repassadas para o grande público (telespectadores). Atualmente, o currículo Lattes reserva um espaço para as atividades de popularização da ciência. O reconhecimento para essa área pode gerar um maior envolvimento dos especialistas com a divulgação da ciência em novos suportes. Quanto ao processo de indexação dos programas científicos, destacamos o papel do indexador. O profissional deve se ambientar ao contexto televisivo; ter conhecimento dos termos técnicos adotados pelas áreas (audiovisual e C&T); conhecer o perfil do usuário que terá acesso às informações do sistema; elaborar uma política de registro de informações para padronizar as entradas de dados. Sugerimos o uso constante da Tabela de Conhecimento desenvolvida pela CAPES como fonte de consulta para a catalogação das áreas. Esperamos que o sistema esteja alinhado aos termos já adotados pelos pesquisadores em processos voltados para a área acadêmica como: proposição de projetos e bolsas, solicitação de recursos etc. Neste contexto, apontamos a importância das imagens, das instituições e dos atores envolvidos. Além disso, as áreas contempladas tornam-se relevantes nesse processo. 164 Para estudos futuros, poderão ser projetadas pesquisas que monitoram as pautas de produção das atrações. No momento em que os temas são escolhidos, quais são as fontes utilizadas? Como os especialistas são escolhidos? As fontes da comunicação científica (artigos, teses, livros etc.) são consultadas? Qual a participação das instituições de pesquisa para a seleção dos assuntos? Outro trabalho possível é verificar se há algum retorno para as instituições de pesquisa que participam ou são citadas pelos programas científicos. Visibilidade? Novas parcerias? Investimentos? Quais as vantagens e desvantagens no processo de divulgação da ciência pela mídia audiovisual? Contudo, observamos que o discurso televisivo se sobrepõe ao discurso científico nos programas analisados. 165 REFERÊNCIAS A TELEVISÃO como mito e ritual (1ª parte). Comunicação e Educação, São Paulo, n. 1, p. 47-55, set. 1994. Disponível em: <http://200.144.189.42/ojs/index.php/comeduc/article/view/8222/7583>. Acesso em: 2 maio 2013. A TELEVISÃO como mito e ritual (2ª parte). 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Mas para entender porque, a gente vai responder a pergunta do internauta Emanuel Aldo de Oliveira. Ele é de Santos, litoral de São Paulo e quer saber: "Para onde vão os arquivos deletados do computador?" Estou num curso de computação gráfica aqui no Rio de Janeiro e vou pedir ajuda a esses estudantes. Por acaso você sabe para onde vão os arquivos deletados do computador? Apresentador (Alexandre Henderson) Estudante (a) Em algum local da torre. Ou da memória do computador. Talvez até no disco rígido. Não sei. Curso de computa ção gráfica (Rio de Emanuel Aldo 3 Janeiro) de Oliveira Curso de computa ção 4 gráfica computador 174 01:4 4a 01:4 8 01:4 9a 02:0 1 02:0 2a 02:2 8 13s Estudante (b) 4s 12s 26s Estudante (c) Como funciona o disco rígido? 01:3 0a 01:4 3 Apresentador (Alexandre Henderson) Apresentador (Alexandre Henderson) Bom, depende de como você deleta. Se você clica com mouse direito e apertar deletar, eles vão pra lixeira. Já se você colocar Ctrl + Shift + Del, eles vão, automaticamente sair fora da lixeira, mas depois da lixeira, pra onde eu não sei. Fica armazenado a espera de um novo arquivo igual ou semelhante ele. É exatamente isso. Os arquivos deletados no computador não vão para lugar nenhum, eles ficam no disco rígido. Por isso é que você não deve ficar tranquilo achando que você já pode vender seu computador só porque você deletou todos os arquivos. O disco rígido, Hard Disc, ou simplesmente hd, foi inventado nos anos 50. Ele armazena arquivos e programas enquanto não estão em uso e quando o computador é desligado. É um dos componentes que envolvem tecnologia. O disco rígido tem uma grande influência sobre a performance do computador, pois é ele quem determina os descarregamentos dos programas e abertura e salvamento dos arquivos. Curso de computa ção 5 gráfica Curso de computa ção 6 gráfica Curso de computa ção 7 gráfica computador computador Disco rígido Curso de Disco rígido, computa história; Disco ção rígido_funcion 8 gráfica amento 175 02:2 9a 02:5 8 Tudo que entra no computador fica registrado no disco rígido, inclusive os arquivos deletados. Por isso que eles podem ser recuperados. Você quer saber como isso é feito? Tive uma ideia. Eu vou à polícia federal. Você deve estar se perguntando o que a polícia federal tem a ver com isso. Você já deve ter visto na imprensa que algumas investigações a polícia apreende os computadores dos criminosos para fazer a perícia. A gente vai descobrir como e por que eles fazem isso. Vem cá. Apresentador (Alexandre Henderson) 29s 9 e 9b 03:1 1a 03:3 9 03:4 0a 03:4 5 03:4 6a 04:0 5 Apresentador (Alexandre Henderson) 11s 28s 5s 29s Crimes virtuais 02:5 9a 03:1 0 Eu vou conversar com o Dr. Cleyton da Silva Bezerra. Ele é delegado da polícia federal. Doutor, por que em algumas investigações a polícia federal apreende os computadores dos suspeitos. Delegado da Polícia Federal (Cleyton da Silva Bezerra) Apresentador (Alexandre Henderson) Com a expansão da tecnologia, a invasão da tecnologia em nossas vidas, tudo o que hoje nós fazemos ficam no computador. São fotos, são arquivos, são informações, troca de comunicação. Tudo hoje tá dentro do computador. Hoje em dia cada vez menor, então, o computador é apreendido assim como um caderno, uma agenda, como qualquer outro objeto que poderia nos trazer uma elucidação de um crime. Disco rígido 10 O mais comum é a pornografia infantil, que é a pedofilia. Os crimes de alta tecnologia, quer dizer, aqueles crimes que tem como objetivo o próprio computador e seus sistemas, e os crimes de internet bank, quer dizer, os crimes que são praticados no meio da internet para uma transação bancária. Investigação da polícia federal Polícia Federal 11 Quais são os tipos de crimes mais comuns onde ocorre apreensão dos computadores. Delegado da Polícia Federal (Cleyton da Silva Bezerra) Polícia Federal computador 12 Polícia Federal computador, crimes 13 Polícia Federal crimes de alta tecnologia 176 04:0 6a 04:1 8 04:1 9a 04:3 1 04:3 2a 04:3 8 04:3 9a 04:4 6 04:4 7a 04:4 9 12s Delegado da Polícia Federal (Cleyton da Silva Bezerra) 12s 6s Apresentador (Alexandre Henderson) Delegado da Polícia Federal (Cleyton da Silva Bezerra) 7s 2s Quando se apreende um computador, que dados que são analisados. São os arquivos que estão ali, os deletados no HD, e-mails, as páginas em redes sociais, os sites. O que você analisa? Apresentador (Alexandre Henderson) Apresentador (Alexandre Henderson) 14 Polícia Federal crimes de alta tecnologia Tudo que seja possível para elucidar um crime. Então, os arquivos deletados também são estudados, arquivos existentes no computador. Foto, vídeo, mensagem. Tudo isso é analisado pelo perito. 15 Polícia Federal Dados analisados A recuperação de arquivos deletados, envolvem que tipos de tecnologias. Programas, o que que há. 16 Polícia Federal Arquivos deletados Análise de um programa nós temos uma rotina técnicocientífica, que é utilizada pelo perito e que vai conseguir recuperar toda essas informações. 17 Polícia Federal rotina técnicocientífica Resume pra gente, qual é o passo a passo de uma investigação cibernética? 18 Polícia Federal investigação cibernética 177 05:4 3a 05:5 8 05:5 9a 06:0 0 06:0 0a 06:2 0 Delegado da Polícia Federal (Cleyton da Silva Bezerra) 52s Apresentador (Alexandre Henderson) 15s Agora que a gente já sabe que os arquivos deletados continuam no computador, quero ver como é que isso na prática. Eu vou conhecer como é que funciona um disco rígido. E nada melhor do que ver como é um computador por dentro. Do Rio de Janeiro eu sigo para Recife. 19 Polícia Federal 20 Polícia federal arquivos deletados, computador, Rio de Janeiro, Recife 1s 21 20s Funcionamento do disco rígido 04:5 0a 05:4 2 Na polícia federal, pela demanda que existe em crime cibernético, a quantidade de crimes é muito grande, o primeiro passo nosso é um grande banco de dados, onde vai ser investigado através do nossos analistas, que vão buscar vínculos entre fraudes. Pra você ter uma ideia, hoje em matéria de cartão clonado e internet bank, quer dizer, fraudes nas transações do computador, seria algo em torno de 411 mil fraudes no ano. Então isso é muita coisa para ser investigado uma a uma. A nossa investigação ela se faz dentro do próprio ambiente cibernético, no nosso banco de dados da polícia federal e buscando vínculos. Isso a gente consegue entre todas as informações que a gente tem, identificar onde está a quadrilha e qual o modus operandi, quer dizer, um modo de operação. Apresentador (Alexandre Henderson) Aqui é o Centro de Informática da Universidade Federal do Pernambuco, a UFPE. Considerado uma referência na área. Deixa eu apresentar para vocês Adriano Sarmento, ele é doutor em microeletrônica e professor aqui da UFPE. Adriano, vamos antes de mais nada esmiuçar este computador. Universi dade Federal de Pernam buco 22 (UFPE) Centro de Informática da Universidade Federal do Pernambuco 178 06:2 1a 07:3 2 07:3 3a 07:3 6 07:3 7a 07:3 7 07:3 8a 07:4 4 Professor Adriano Sarmento 11s 3s Apresentador (Alexandre Henderson) Certo, vamos lá. É. Bom. Tem vários componentes aqui no computador. Então, vou explicar, mostrar só os mais conhecidos, os mais importantes. Então, aqui a gente tem um processador, tá. Então esse processador é o cérebro do computador. É ele quem vai realizar cálculos, e ele que vai executar as instruções, é que vai comandar as outras peças. Essa peça aqui é a memória principal.Tá. Ela é capaz de armazenar dados e programas. Então, toda vez que a gente executa um programa, o programa primeiro é armazenado aqui na memória principal e o processador vai acessar as instruções que estão na memória principal. O problema dessa memória principal é que ela não consegue armazenar os dados sem corrente elétrica. Quando o computador é desligado, todos os dados que estavam armazenados na memória principal, são perdidos. E para que a gente não perca os dados e os programas que a gente instala no computador, existe esta peça daqui, que é o disco rígido. E aí o que acontece? Quando eu vou executar um programa, o programa é transferido do disco rígido para a memória principal e aí o processador fica executando as instruções que estão na memória principal. 23 UFPE Então o HD seria a memória permanente do computador? 24 UFPE HD UFPE HD UFPE HD Professor Adriano Sarmento 1s Isso, exatamente. 6s Disco rígido, memória principal Apresentador (Alexandre Henderson) É o que guarda desde dados do fabricante até dados que agente salva, o que a gente grava, e-mail, foto, fica tudo aqui. 179 07:4 5a 07:5 2 07:5 3a 07:5 8 07:5 8a 08:2 2 5s Apresentador (Alexandre Henderson) 14s 08:3 8a 08:4 9 11s 2s 27 Professor Adriano Sarmento UFPE UFPE Bom, eu vou mostrar um HD aberto, tá certo. Ele é composto por vários discos como a gente pode perceber e a gente pode gravar nas duas superfícies de cada disco . Então quando a gente quer gravar um arquivo o processador onde a gente vai gravar esse arquivo. Então, o que acontece, o disco gira e ele vai formar em que parte do disco vai ser gravada a informação. Então, por exemplo, se eu tenho lá um texto. Aí eu vou lá e salvo em meus documentos, aí o processador ele vai girar aquilo ali e dizer, olha salva isso no lugarzinho dele x do disco. Apresentador (Alexandre Henderson) Apresentador (Alexandre Henderson) E tem a vantagem de quando não houver corrente elétrica, eletricidade, ela conserva os dados que ela armazenou. Agora, Quando eu salvo um arquivo e ele vem aqui para o HD. Como isso funciona na prática? Professor Adriano Sarmento 24s 08:2 3a 08:3 7 08:4 9a 08:5 1 Professor Adriano Sarmento 7s HD 29 UFPE 30 UFPE texto, meus documentos, UFPE endereço UFPE arquivo Exatamente e aí o braço vai se mover exatamente para o lugar x e a cabeça de leitura ou gravação vai acessar aquela partizinha do disco que eu quero gravar o arquivo ou quero ler o arquivo. Isso é o que a gente chama o endereço. Onde tá o arquivo. E quando eu deleto o arquivo. O que acontece? HD, funcionament o 32 180 08:5 2a 09:1 8 09:1 9a 09:2 6 09:2 7a 09:4 6 09:4 7a 09:5 3 09:5 4a 10:1 0 Professor Adriano Sarmento 26s 7s Apresentador (Alexandre Henderson) 6s 16s Um arquivo que ele some daí. Né. Que ele é excluído. A gente necessariamente vai encontrá-lo aí? Professor Adriano Sarmento 19s Bom, como eu falei, os arquivos ficam gravados aqui no disco. E tem uma tabela que mantém o endereço desses arquivos. Quando eu deleto o arquivo, na verdade eu estou modificando essa tabela e dizendo que aquele endereço quando estava o arquivo está sendo liberado para ser gravada outras informações. Então, para o usuário, parece que o arquivo foi deletado, mas na verdade continua aqui. Apresentador (Alexandre Henderson) Não necessariamente. Mas é possível recuperar. Tá. Hoje em dia existem programas que fazem isso aí. Especificamente o que eles fazem. Eles dão uma busca. Fazem uma investigação no disco e eles comparam com aquela tabela que tem os endereços dos arquivos. O que eles acham a mais, pq é o arquivo deletado. Um arquivo confidencial, daqueles que a gente não quer que fique no disco rígido. Tem como apagá-lo definitivamente? Professor Adriano Sarmento Existem programas que conseguem apagar permanentemente. Como que eles funcionam? Na verdade eles pegam o endereço daquele arquivo que foi deletado e eles escrevem alguns dados aleatórios, simplesmente para escrever alguma coisa por cima. Então na prática, o arquivo foi apagado. 34 UFPE Arquivos deletados UFPE Arquivos deletados UFPE Arquivos deletados UFPE Arquivo confidencial UFPE arquivo apagado 181 II 10:2 8a 10:5 3 10:5 4a 10:5 7 10:5 8a 12:0 5 16s 1min7s 38 disco rígido, rede social, 39 arquivo deletado, disco rígido, clliente magro, computação em nuvem 40 Thin client Para onde vão os arquivos deletados do computador? Essa pergunta foi enviada pelo internauta Emanuel Aldo de Oliveira. Ele é de Santos-SP. Emanuel, a gente já sabe que os arquivos deletados ficam no disco rígido do computador. Como pergunta gera outra pergunta, agora quero saber. Os computadores que não tem disco rígido, para onde vão os arquivos deletados? Você já ouviu falar em cliente magro? E computação em nuvem? Vou sondar. Apresentador (Alexandre Henderson) 35s 3s Agora que você já sabe como funciona um disco rígido, eu tenho outras perguntas para fazer para você. E se o computador não tem disco rígido? Isso existe. Outra pergunta. Se você coloca uma informação em uma rede social, depois resolve apagá-la. Será que ela é mesmo apagada? Ficou curioso. Neh? haha Apresentador (Alexandre Henderson) Computação em nuvem 10:1 1a 10:2 7 Apresentador (Alexandre Henderson) Você sabe o que é thin client (cliente magro)? Entrevistados (rua) Você sabe o que é arquivo thin client (cliente magro)? 1º entrevistado: Não. 2° entrevistado: Sei de nada disso. 3º entrevistado: thin cliente. 4º entrevistado: Cliente magro? Eu hahahaha. Você sabe o que é a computação em nuvem? 5º entrevistado: A nuvem representa a internet. 6º entrevistado: A nuvem seria um conceito de uma rede onde vc bota seus dados, sei lá, vídeos, essas coisas. Tudo o que você quer guardar, na verdade. Ruas de Pernam buco Thin client (cliente magro), computação em nuvem 182 Apresentador (Alexandre Henderson) 12:0 6a 12:3 3 27s Apresentador (Alexandre Henderson) Thin client ou clientes magros, são terminais sem processador local e disco rígido considerados uma alternativa e de baixo custo e ecologicamente correta para empresas, por ter um consumo de energia correspondente a apenas 10% do consumo do computador tradicional. São máquinas conectadas a grandes computadores centrais e servidores, que rodam os programas que armazenam os arquivos de todos os usuários. Uma rede de computadores com até 20 terminais sem discos rígidos, pode ter um custo 80% menor que uma rede convencional. Estou em uma empresa de computação em nuvem, criada por pesquisadores aqui do Recife. Rodrigo Assad é um dos fundadores. Ele é doutor em Ciências da Computação e Especialista na área de Segurança de Sistemas. Bem, aqui eu tenho um thin cliente, o cliente magro. O cliente fica com computador sem disco rígido, ele está conectado ao teclado e ao mouse, inclusive no site do Globo Cência. E tudo isso está na página do Globo Ciência. Como que é isso? 42 Thin client (cliente magro) Rodrigo Assad Empres a de computa ção em 43 nuvem 183 12:3 4a 13:1 4 40s 13:1 5a 13:2 1 6s 13:2 2a 13:2 8 6s 13:2 9a 13:4 2 13:4 3a 13:5 3 Esse é um processo muito simples. Essa caixinha, na verdade tem apenas essa imagem, que ela fica transmitindo. E todo restante ela obtem dos nossos servidores. Aonde os nossos servidores estão é a grande questão da nuvem. Não importa onde eles estejam. A gente simplesmente acessa os recursos que eles ofertam Pesquisador Rodrigo pra gente e a gente consegue, por exemplo, navegar no Assad Globo Ciência, ler documento, escrever documento, e na hora que a gente precisar salvar algum dado, a gente também usa da nuvem para salvar os dados a onde for necessário. É um computador normal, por um preço muito mais barato, e que oferta pra gente a capacidade de estar conectado a hora que a gente precisar . 13s 10s Apresentador (Alexandre Henderson) E que não tem o disco rígido, físico aqui, mas as informações estão em algum disco rígido virtual. Exato. E na hora que a gente acessa ele, as nossas Pesquisador Rodrigo informações são virtualmente trazidas aqui para dentro Assad desse ambiente. Apresentador (Alexandre Henderson) Gente! A computação em rede, você ter um grande servidor, uma grande máquina que agrega as informações de toda rede. Ela tem a capacidade de processar tudo o que tem ali na rede. E na computação em nuvem, como é que funciona? Na computação em nuvem. O que a gente tem é o Pesquisador Rodrigo somatório de cada pedacinho de cada computador que Assad você tem, te dando essa mesma capacidade de processamento virtualizada. Empres a de computa ção em 44 nuvem Empres a de computa ção em nuvem Empres a de computa ção em 46 nuvem Computação em nuvem Empres a de computa ção em nuvem Computação em rede Empres a de computa ção em nuvem Computação em nuvem 184 13:5 3a 14:0 4 14:0 4a 14:3 7 11s 7s 14:4 6a 14:5 5 11s 15:0 8a 15:1 1 11s 3s Posso arriscar dizer, Rodrigo, que num sistema como esse, que utiliza o thin client, que não tem disco rígido, uma empresa não precisa ficar trocando aparelhos de computadores o tempo inteiro. É exatamente esta a ideia. Na verdade os computadores eles existem em ambiente virtualizado, que já vem pronto, com todos os softwares instalados. Inclusive isso é mais Pesquisador Rodrigo seguro, porque você atualiza somente um ponto, isso já Assad está atualizado para todo mundo acessar e aí, por exemplo, quando você precisar salvar um arquivo você simplesmente arrasta ele pra dentro, esse arquivo vai ser copiado para nuvem e na hora que você precisar, você acessa ele de qualquer lugar, do seu smartphone, do seu thin client, de seu outro thin client, do seu tablete, enfim, de qualquer lugar. 33s 14:3 8a 14:4 5 14:5 6a 15:0 7 Apresentador (Alexandre Henderson) Apresentador (Alexandre Henderson) O importante gente, é que para se ter uma computação em nuvem bastante eficiente é preciso uma internet de altíssima qualidade, não é Rodrigo? Pesquisador Rodrigo Exatamente isso, além de lembrar que seus dados não Assad existem mais fisicamente nos seus dispositivos como no caso que a gente tá vendo aqui. Ele vai para algum lugar na rede, algum lugar nessa nuvem, ele fica lá armazenado nesse HD virtual e em algum momento você pode pegar esse arquivo, ou em algum momento essa rede virtual ele pode simplesmente deletá-lo. Apresentador (Alexandre Henderson) Pesquisador Rodrigo Assad Exatamente e você não controla isso. Empres a de computa ção em nuvem Empres a de computa ção em 50 nuvem Empres a de computa ção em 51 nuvem Empres a de computa ção em 52 nuvem Empres a de computa ção em 53 nuvem Empres a de computa ção em Thin client Thin client internet Thin client HD virtual 185 nuvem 15:1 2a 15:1 3 1 15:1 3a 15:1 4 1 15:1 5a 15: 57 Apresentador (Alexandre Henderson) Rodrigo, muito obrigado 42s Pesquisador Rodrigo Muito obrigado. Assad Apresentador (Alexandre Henderson) Na computação em nuvens ninguém tem propriedade sobre a informação e ninguém também sabe em que HD essa informação vai parar. Então, é preciso confiar muito na empresa que gerencia toda essa nuvem. Eu tenho mais uma curiosidade. Eu já sei o que acontece quando eu deleto um arquivo e se eu estiver usando uma rede social e quiser apagar a informação que eu coloquei, será que é possível? Aqui em Recife tem um dos mais importantes pesquisadores brasileiros da Ciência da computação. Eu vou conversar com ele. Aqui é o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco e eu vou conversar com Silvio Meira . Ele é um doutor em Ciência da Computação. Sílvio, como é que funciona uma rede social na internet? Empres a de computa ção em nuvem Empres a de computa ção em nuvem Centro de Informáti ca da computação Universi em nuvens, dade Recife, Federal Ciência da de Computação, Pernam UFPE, rede 57 buco social 186 49s 16:4 8a 16:5 4 6s Pesquisador Sílvio Meira Redes Sociais 15:5 8a 16:4 7 Apresentador (Alexandre Henderson) Imagine que elas não existissem. Lá no passado a gente escrevia diários. Cadernos de papel que a gente colocava coisas relevantes da nossa vida, pregava fotos, fazia desenhos, comentava a vida. Imagine que eu implemente isso, que escreva software, que virtualiza diários, que cria abstrações, que cria sistemas que vão representar esses diários. Imagine um pouco mais que a gente vai compartilhar a informação entre diários. Que eu vou chamar pessoas para participar do meu diário. Ou seja, que eu vou deixar aqui pessoas escrevam o meu diário, que eu possa ver as manifestações delas, sobre as vidas delas, e que ao mesmo tempo elas vejam o que estou falando no meu diário. Diários eletrônicos em grupo. Isso é o que são redes sociais. Agora o que que acontece quando eu coloco uma informação na rede. Ela passa a ser propriedade da rede também? Centro de Informáti ca da Universi dade Federal de Pernam 58 buco Centro de Informáti ca da Universi dade Federal de Pernam 59 buco Silvio Meira, redes sociais 187 16:5 2a 17:5 1 17:5 2a 17:5 9 Pesquisador Sílvio Meira 59 7s Apresentador (Alexandre Henderson) Depende da rede. Quando eu escrevo no meu diário de papel, a informação é indubitavelmente minha. E se eu não mostrar para ninguém, ninguém vai ver e como ela vai estar em um pedaço de papel que eu escrevi, eu guardo, ela minha e fim de papo. Quando eu escrevo num software, quando eu escrevo em um sistema de informação que está online, e vale a pena dizer que ninguém nunca vai ler quais são os termos de uso, porque nos termos de uso tá definido quem é o dono daquela informação e o que pode ser feito com ela, O que vai acontecer com essa informação é que ela vai ser gravada em sistemas de arquivos, que normalmente estão distribuídos mundialmente, esse é o caso de todas as grandes redes ela vai ser usada pela instituição que está provendo aquela infraestrutura de rede para você se relacionar com outras pessoas para ela ganhar dinheiro com isso. Então, na realidade eu vou capturar a informação de você e de todo mundo e vou tentar vender essa informação não para alguém que vai me remunerar, por exemplo, com anúncios. Esse é o caso hoje nas redes sociais. Todo arquivo que é deletado, ele vai para um HD. Para o meu, para o de quem compartilha ou vai para a rede? Centro de Informáti ca da Universi dade Federal de Pernam 60 buco Centro de Informáti ca da Universi dade Federal de Pernam buco Rede social Rede social 188 18:0 0a 18:5 4 18:5 5a 18:5 6 18:5 7a 19:0 0 19:0 1a 19:0 4 Pesquisador Sílvio Meira 54s 1s Apresentador (Alexandre Henderson) 3s É como um vírus. Pesquisador Sílvio Meira 3s Apresentador (Alexandre Henderson) Depende. Se eu apagar um arquivo no meu disco, eu apago normalmente. É aonde ele está? Se a informação correspondente aquele arquivo, continua no disco. Para garantir que a informação realmente desapareceu, eu tenho que usar, normalmente, software especial e dizer apague literalmente toda a informação que eu gravei neste arquivo. Ao invés de só apagar aonde que aquela informação está. No caso de você ter guardado essa coisa em algum lugar na rede, o processo é de replicação. Até para garantir a confiabilidade dos dados. O processo de espalhamento dessa coisa que você compartilhou, porque outras pessoas compartilharam com outras pessoas, vai tornar quase impossível apagar definitivamente uma informação que vai para rede. Informação na rede tem vida própria em quase todos os casos. Exatamente e propagado por pessoas também. As pessoas ajudam. Silvio, muito obrigado. Grande prazer pelo bate-papo. Legal. Rede social 189 19:0 4a 19:5 3 49s Apresentador (Alexandre Henderson) Tudo o que você faz no seu computador fica registrado, mas é preciso encontrar os seus arquivos quando procurá-los. Então, algumas regras básicas de gestão de documentos: nomeie seu arquivos usando as palavras principais do conteúdo de uma forma resumida para ajudar a você a encontrá-los; faça regularmente o backup, ou seja, as cópias de segurança dos seus arquivos pessoais, por quê? Porque se o seu computador quebrar, você terá seu arquivo intacto e salvo. E se você for usar a internet, vale algumas regras básicas de segurança. Mas o mais importante é: não divulgue os seus dados pessoais. Endereço, número de telefone, número de cartão de crédito, placa de veículo, detalhes do lugar onde você frequenta, onde estuda, onde você trabalha, onde você mora. Todo cuidado é pouco. M (Fundaç ão Roberto Marinho ) 66 Total 19mi n10s 1150 tempo : s total Fonte: <http://redeglobo.globo.com/globociencia/videos/t/edicoes/v/para-onde-vao-os-arquivos-deletados-do-computador/2337185/>. 67 68 computador, arquivo, backup, internet, dados pessoais 190 APÊNDICE B – Futurando BL OC O AB ER TU RA TEMPO DURAÇÃO / SEGUNDOS TEMAS 00:0 1a 00:1 7 Papeis do jornalista Apresentadora (Nádia Pontes) BLOCO I Apresentadora (Nádia Pontes) 22s European Extremely Large Telescope 01:3 7a 01:5 9 22s 29s Nº DA IMAGEM CENÁRI O INDEXAÇÃO Abertura 25s 01:0 7 a 01:3 6 FALAS 16s 00:1 8a 00:4 3 00:4 4a 01:0 6 Especialistas/entre vistados Apresentadora (Nádia Pontes) Narrador (Maurício Cancillieri) Abertura O Futurando hoje começa com as câmeras voltadas para fora da Terra. Nós vamos investigar como os terráqueos acompanham tudo o que se passa lá em cima, no espaço. Com apoio da tecnologia e dedicação dos cientistas, o homem expande seus limites para fora do planeta e você nos acompanha nessa jornada intergaláctica que está só começando. 1 Estúdio Chamada 2 Estúdio Chamada Estúdio Via Láctea, European Extremely Large Telescope, buracos negros Nas montanhas do Havaí, um centro de vigilância contra cometas e asteroides. No espaço, uma super câmera digital vai mapear um bilhão de estrelas. E no planeta terra, a mistura de arte e técnica no mundo virtual. Nos próximos anos, aqui nas proximidades da Via Láctea, uma nuvem de gás será engolida por um buraco negro. E o fenômeno será acompanhado de perto pelo maior telescópio do mundo, o European Extremely Large Telescope. Este observatório potente ainda está em construção e começa a operar até 2020 e já nasce com uma tarefa desafiadora: esclarecer um pouco dos mistérios que rondam os buracos negros Peça por peça o maior telescópio terrestre do mundo vai ganhando forma. Aqui pesquisadores testam as vitrocerâmicas, um tipo de vidro especial usado no espelho do equipamento. Eles ainda tem muito trabalho pela frente. Os próximos anos mais de 800 pedaços como esse serão confeccionados. 3 4 vitrocerâmica s 191 02:0 0a 02:1 9 18s Tradutor (sem nome) Cada um desses segmentos é montado e monitorado Pesquisador Jochen individualmente. E o nosso desafio é interligar todos eles, Liske (astrônomo) fazendo com que o espelho ganhe uma forma exata, para que o telescópio possa catar imagens bem nítidas 5 imagens 192 02:2 0a 04:4 4 140s Narrador (Maurício Cancillieri) E assim, será o novo telescópio. O diâmetro do espelho principal terá quase 40 metros. O equipamento poderá captar muito mais luz que os melhores observatórios em operação na atualidade. Suas imagens serão 15 vezes mais nítidas que as do famoso telescópio espacial Hubble. O novo equipamento terá uma missão especial. Observar e analisar um dos fenômenos mais exóticos do universo: os buracos negros. Um lugar inimaginável, onde matéria extremamente compactada se concentra em um ponto, onde tempo e espaço simplesmente deixam de existir. Tudo que chega perto de um buraco negro, desaparece para sempre. Nem mesmo a luz pode escapar. Os astrônomos também querem investigar o centro da nossa galáxia: a via láctea. Lá existe um enorme buraco negro, com uma massa 4 milhões de vezes maior que a massa do sol. Esse peso pesado tem grande influência sobre a órbita das estrelas próximas. Os cientistas querem usar o buraco negro como laboratório, estudar suas particularidades. A ideia é comparar os processos descritos na teoria da relatividade de Einsten com os fenômenos que acontecem lá. Como estrela se movimentam em enormes campos gravitacionais, por exemplo. Assim, as teses fundamentais da cosmologia poderão ser comprovadas. Recentemente, os astrônomos descobriram uma nuvem de gás que será engolida por um buraco negro nos próximos anos. Eles querem agora acompanhar este processo e ver como a matéria se comporta perto desta armadilha gravitacional. O novo telescópio também irá mostrar como os buracos negros influenciam a evolução de galáxias. Uma importante questão da astronomia. Para isto é necessário que o espelho do gigantesco telescópio, seja polido com exatidão de milionésimos de milímetro. Até mesmo um pequeno grão de poeira sobre um segmento, poderia arruinar as imagens obtidas. 6 Hubble, teoria da relatividade de Einsten, buraco negro, astronomia, galáxias, 193 05:0 9a 05: 27 05:2 8a 07:1 7 Tradutor (sem nome) 12s 11s 18s 109s Ccentro de vigilância das ameaças que vem do universo - Havaí 04:4 4a 04:5 6 04:5 7a 05:0 8 A luz visível tem um comprimento de ondas de Pesquisador Jochen aproximadamente 500 nanômetros. Os erros no espelho Liske (astrônomo) tem de estar bem abaixo disso para que as imagens fiquem nítidas e não saiam distorcidas. Narrador (Maurício Cancillieri) O novo telescópio terá uma vida útil de pelo menos 30 anos. Tempo suficiente para desvendar alguns mistérios do universo. Apresentadora (Nádia Pontes) O Havaí não é famoso apenas por suas praias ou boas ondas. O conjunto de ilhas também é o ponto de observação privilegiada do espaço. Justamente por isso, a região abriga a uma espécie de centro de vigilância das ameaças que vem do universo, como asteroides e cometas. Narradora Regina-SoaresEngels 7 8 telescópio 9 Havaí, centro de vigilância das ameaças que vem do universo Havaí, oceano pacífico. Há 3 mil metros de altitude fica o protótipo do PS1. Este é o novo sistema de observação e de rastreamento de asteroides conhecido como PanSTARRS. Quando tudo estiver pronto, 4 telescópios irão integrar o equipamento considerado um dos mais potentes do mundo. Um projeto que aumenta a vigilância do universo. O limitado campo de visão é um grande problema para os astrônomos que observam o universo. Pan-STARRS captura uma enorme área do céu, 6 vezes maior do que o diâmetro da lua cheia. Cada telescópio terá um chip revolucionário, com resolução de 1,4 bilhão de pixels. As câmeras fotográficas convencionais tem apenas 10 milhões. As câmeras do Pan-STARRS tem uma sensibilidade mil vezes superior as tradicionais placas fotográficas. A chamada eficiência quântica chega a quase 100 %. Com isso, mesmo as partículas de luz mais distantes no universo poderão ser captadas. Com a nova técnica os astrônomos podem produzir imagens do universo com diferentes graus de foco. 10 Estúdio protótipo do PS1, PanSTARRS, eficiência quântica 194 07:3 9a 08:2 1 08:2 2a 08:3 2 08:3 3a 08:4 3 08:4 4a 08:5 9 09:0 0a 09:2 9 Pesquisador RolfPeter Kudritzki (Instituto de Astronomia do Havai ) 20s Narradora Regina-SoaresEngels 42s 10s Narradora Regina-SoaresEngels 10s 15s 29s Podemos deixar a câmera exposta por pouco tempo para captar objetos mais claros. Também é possível aumentar o tempo de exposição e assim descobrimos os objetos com menos luz. Esse método nos permite observar objetos claros e escuros ao mesmo tempo. O protótipo de um novo observatório ficará no topo da montanha Mauna kea. Onde já estão alguns dos maiores observatórios do mundo. As condições são ideais. Daqui, os cientistas conseguem observar o céu dos hemisférios norte e sul ao mesmo tempo. Mas o local não é apenas uma montanha de estudos científicos. Para os nativos da região ela é um monte sagrado que deve ser respeitado. A tradição diz que há 10 mil anos os antepassados dos havaianos saíram daqui com suas canoas para desbravar o mundo desconhecido. Pesquisador RolfPeter Kudritzki Como astrônomo minha canoa é o telescópio. E as ilhas (Instituto de que descubro são as galáxias, que nenhuma pessoa viu Astronomia do Havai antes de mim. ) Projeto Swarm 07:1 8a 07:3 8 Apresentadora (Nádia Pontes) Narradora Milhares de ilhas celestes poderão ser encontradas com os novos telescópios. Os planos de exploração do universo não param. A agência espacial europeia terá uma agenda cheia em 2013. Entre as missões está o projeto Swarm que vai medir com exatidão o campo magnético do planeta terra. A Sonda espacial Gaya levantará voo em setembro. A bordo ela carrega a maior câmera digital já enviada para o espaço. A meta está bem definida. Mapear 1 bilhão de estrelas e analisar seus movimentos, posições e mudanças na intensidade da luz que emitem. Os dados vão ajudar cientistas a entender como surgiu a via láctea. Mas isso não é tudo. A agência espacial europeia promete outras novidades ainda para este ano. 11 12 montanha Mauna kea, protótipo, monte sagrado, 13 galáxias, 14 ilhas celestes 15 Agência espacial europeia 16 Estúdio Sonda espacial Gaya 195 09:5 5a 10:3 7 10:3 8a 10:5 4 24s 42s 15s Narradora Cientista 09:3 0a 09:5 4 2013 será movimentado na área espacial. No caso da Agência Espacial Europeia, as novidades vem do setor de viagens tripuladas e da estação espacial internacional. O Pesquisador Johann- austronauta italiano Luca Parmitano será enviado a Dietrich Wörner / estação onde vai coordenar 20 experimentos. Muitos Centro Aéreo deles são alemães, já que a Alemanha é um dos países Espacial Alemão mais ativos na estação. Apresentadora (Nádia Pontes) 17 Agência Espacial Europeia, Alemanha, A missão começa em maio. A cápsula russa Soyo transportará o astronauta. Nos 6 meses em que ficará no espaço, Parmitano vai desempenhar a função de engenheiro de voo. O projeto Sworm faz parte de uma das missões de observação da terra. Ele conta com 3 satélites que vão analisar a estrutura do planeta e medir alterações no campo magnético que protege a terra contra radiações vindas do espaço. O Sworm deve calcular por quanto tempo esse escudo vai continuar em ção. 18 Cápsula russa Soyo, A tecnologia impulsionou as descobertas e captação de belas imagens vindas do espaço. Mas no comando deste trabalho está sempre um profissional dedicado a ciência. Um ser humano. O Futurando conversou com uma astrofísica sobre a sua rotina de observação do universo. 19 Estúdio Astrofísica 196 10:5 5a 13:1 8 143s Narradora (Roselaine Wandscheer) Pesquisadora Patrícia Chad Quando eu cheguei em Monique, eu não tinha ideia de como a cidade é perto dos Alpes. Fiquei encantada com o fato de poder acordar cedo em uma manhã, viajar uma hora para chegar aqui e poder respirar o ar puro dessas montanhas. Isso é maravilhoso. Meu nome é Patrícia Chad. Sou britânica e trabalho no instituto Max Planck de Física Extraterrestre em Garching, na Alemanha. Trabalhar em um observatório é muito bom. Eu gosto muito. No laboratório tudo é bem mais real. Normalmente observamos os astros no escritório, atrás de um computador. Mas se algo dá errado, é necessário ir para o observatório e olhar pelo telescópio. Eu costumava fazer isso antigamente. O que eu acho muito positivo no observatório onde trabalhamos, é que temos muito controle sobre os instrumentos e sobre o próprio telescópio. Trabalho principalmente na observação de fenômenos chamados erupções de raios gamas que são grandes explosões e grandes emissões de energia. Por um instante essa emissão é tão brilhante que ilumina todo o céu e chega a cegar. Hoje acreditamos que essa explosão seja na verdade o colapso de uma estrela muito massiva ou seja, a estrela se torna tão grande que entra em colapso por causa da própria força gravitacional e forma um buraco negro. Essa é uma estrela que sofreu uma morte catastrófica e também sabemos que elas morrem muito jovens, pois estrelas massivas não sobrevivem muito tempo. Eu acho isso muito trágico, e dramático também, pois elas não desaparecem em silêncio. O universo tem 14 bilhões de anos e as erupções de raios gamas que estou estudando tem dezenas de milhões de anos, ou seja, isso é uma pequena fração da idade do universo. Isso mudou minha visão global. Me tornou uma pessoa com alto senso prático. E talvez por causa disso eu seja menos romântica. 20 Monique, Patrícia Chad, estrela, estrela massissa, 197 13:1 9a 13:3 8 19s Intervalo Apresentadora (Nádia Pontes) Depois dessa viagem pelo espaço, Futurando navega pelo mundo virtual. No próximo bloco você verá como a internet mudou para sempre o cotidiano em várias partes do globo, mesmo quem não abra a mão da tradição no processo industrial precisou se adaptar ao universo online. Futurando volta já. Apresentadora (Nádia Pontes) Quais são as fronteiras da tecnologia? Essa geração de conectados que você conhecerá agora, comprova que não existem limites. A internet atrai curiosos de todas as idades, superam até a falta de hábito para fazerem parte deste mundo virtual. 22 O mundo virtual atrai um público diversificado. Esses idosos participam de um curso para aprender a surfar, escrever e-mail e até telefonar. Tudo isso com um tablet. 23 mundo virtual, idosos, tablet 24 computador, acesso, internet, 25 tablet PC 26 mãos tremem 13:4 9a 14:0 6 17s 14:0 7a 14:2 5 18s 14:2 7a 14:4 0 13s 14:4 1a 14:5 7 16s 14:5 8a 15:1 3 15s Tablet e terceira idade BLOCO II 21 Narradora (Roselaine Wandscheer) Aposentada (Ilsemarie Sturk) Narradora (Roselaine Wandscheer) Instrutora: Ulrike Peters Na minha família todos tem um computador novo com acesso a internet. Eles sempre diziam “você já passou da idade, você não consegue fazer isso”, mas conectar encontrei essa oportunidade aqui, que eu disse: “vou participar. Eu preciso melhorar nessa área” O curso é cobiçado. Os participantes tem entre 65 e 90 anos e se encontram uma vez por semana. Os primeiros resultados são positivos. O tablet PC é muito prático para os iniciantes. As mãos de algumas pessoas tremem e isso atrapalha um pouco. O que me impressiona é que mesmo assim elas não largam o aparelho. Elas sempre recomeçam o que estavam fazendo e demonstram que fazem o curso por prazer. Chamada Estúdio tecnologia, internet, 198 15:1 5a 15:3 5 20s 15:3 6a 15:5 3 17s 16:1 5a 16:2 4 16:2 5a 16:3 1 16:3 2a 16:4 9 16:5 0a 16:5 8 16:5 9a 17: 23 Jutta Croll / Fundação Digitale Chancen Narradora (Roselaine Wandscheer) 20s Aposentada (Rosemarie Hanke) 9s Narradora (Roselaine Wandscheer) 6s Aposentado Erich Kölling 17s Narradora (Roselaine Wandscheer) 8s 24s Ensino a distância nas ilhas da Alemanha 15:5 4a 16:1 4 Narradora (Roselaine Wandscheer) Apresentadora (Nádia Pontes) A primeira barreira é superar o preconceito. Esse público mais maduro também mostra que tem habilidades. Uma pesquisa aponta que metade dos alemães acima dos 50 anos está off line e quase 80% dos idosos acima de 70 anos não fazem parte do mundo virtual A internet é um meio de comunicação que ajuda principalmente as pessoas de idade avançada. Que cada vez mais vivem afastadas de membros da família. Com a internet elas podem manter seus contatos sociais. 27 habilidades, alemães, mundo virtual 28 internet, famíia Mas nem tudo é tão simples com os tablets. Ligar o aparelho e criar uma nova conta pode ser um obstáculo. O mouse de computador antigamente já era motivo de desistência. Mas a função touchscreen é dominada de forma rápida e intuitiva. 29 tablet, mouse, touchscreen, Aprender fazendo é o que sempre escuto aqui. Não pergunte. Sente-se e tente você mesma. 30 Aos poucos, cada participante do curso descobre como o tablet pode ser útil. Esse aparelho pode ser levado em viagens de trem ou de carro. Posso receber e-mails, telefonar, ou seja, fazer tudo sem precisar estar conectado ao computador em casa. Isso é fantástico. 32 viagens, email, O aposentado de 80 anos viaja bastante. Agora o tablet vai sempre na bagagem 33 tablet, bagagem 34 videoconferên cia, aula, internet, computador, tablet Aula pela internet. Um recurso já bastante conhecido, mas que ainda não faz parte do ensino regular. Um projeto piloto na Alemanha quer inserir de vez essa ferramenta no currículo. Em frente a uma tela de computador mas de 150 alunos interage entre si e com o professor. Pela videoconferência só é um pouco mais difícil controlar as conversas fora de hora. Estúdio 199 17:2 4a 17:3 3 17:3 4a 17:5 1 17:5 2a 18:0 8 18:0 9a 18:2 5 18:2 6a 18:4 2 9s 16s Narrador Maurício Cancillieri Professora Barbara Glittenberg 16s 16s 13s 18:5 7a 19:1 0 13s Ilhas no norte da Alemanha. Aqui as escolas são pequenas e há poucos professores. Diretora Gisela Tongers 17s 18:4 3a 18:5 6 19:1 1a 19:2 6 Narrador Maurício Cancillieri Narrador Maurício Cancillieri Aluno Félix Both 15s Narrador Maurício Cancillieri A nossa ilha é um caso especial. Tudo é bem complicado e depende do transporte marítimo. O contato com o mundo lá fora pode ser estabelecido de maneira muito simples. Ninguém precisa ficar disponível na ilha durante 24 horas. Aí faz sentido o contato por vídeo só nas horas em que precisamos. A professora de inglês está na sala de aula na parte continental, longe da ilha. Ainda é um pouco incomum. Os alunos que acompanham a lição só podem ser vistos pelo monitor. É preciso ser bem disciplinado ao se comunicar. Porque sempre tem um atraso na transmissão. Precisamos esperar até que a outra pessoa termine de falar. Isso cria umas pausas de silêncio. É uma questão de costume. A má qualidade da transmissão é um grande desafio para esses alunos. Mesmo assim eles aprovam a videoconferência. Finalmente as aulas de inglês agora são regulares. A nossa escola não dá para aprender espanhol porque não há professores. Já na parte continental existem alguns. Pode ser que nos ofereçam um grupo de trabalho de espanhol em parceria com outras escolas para que todo mundo possa aprender. O recurso é tecnológico, mas também é preciso paciência. A videoconferência requer uma boa conexão de internet e o tráfico on-line as vezes pode ser lento. É um pouco estranho porque não vemos muito bem. A imagem pode ter resolução muito baixa, mas podemos ouvir bem. Às vezes não dá coragem de falar alguma coisa já que é pela internet em outra escola. Precisamos Aluno Nills Wettstein nos acostumar primeiro. 35 ilhas 36 contato, vídeo 37 professora de inglês 38 transmissão, 39 transmissão, 40 espanhol, 41 videoconferên cia, internet, conexão 42 imagem, resolução, 200 16s 19:4 4a 20:0 7 23s 20:0 8a 20:5 1 20:5 2a 21:0 8 21:0 9a 21:1 5 21:1 6a 21:3 0 43s 16s 6s Narrador Maurício Cancillieri Apresentadora (Nádia Pontes) Tecelagem e internet 19:2 7a 19:4 3 Narradora Kamila Rutkosky Ao todo 150 alunos de 7 ilhas, participam da vídeo/aula ao mesmo tempo. Se o projeto piloto tiver sucesso, a videoconferência pode entrar de vez para o currículo escolar. O Futurando tem a missão de mostrar o que há de novo na ciência no desenvolvimento da tecnologia e na discussão ambiental. No cumprimento dessa tarefa, nós Também nos deparamos com o caso de resistência a modernidade tecnológica. Um apego a tradição que parece intransponível. Ao mesmo tempo é a internet que ajuda esse modelo a sobreviver. O trabalho aqui não é nada silencioso. Os funcionários dessa tecelagem não querem nem saber de máquinas controladas por computador. Eles preferem usar as mãos. É assim que emendam os fios e trocam os novos rolos de linhas. Há alguns anos essa costureira foi convidada para assumir a pequena tecelagem. A primeira reação foi negativa. Mas ao perceber a alta qualidade das máquinas, ela não perdeu tempo. 14s Narradora Kamila Rutkosky 44 Estúdio tradição, internet 45 tecelagem, costureira, qualidade 46 nuances de cores 47 loja virtual, clientes Empresária Christine Niehage As encomendas chegam não só da Europa, mas também da Ásia e dos Estados Unidos. 48 Europa, Ásia, Estados Unidos, O objetivo é atrair um novo público. Para isso ela trabalha em colaboração com uma jovem designer. 49 jovem designer Empresária Christine Através do processamento manual, temos uma vantagem. Niehage Ainda podemos criar nuances de cores que máquinas de tecelagens modernas não estão em condições de fazer. Narradora Kamila Rutkosky videoconferên cia 43 A empresária criou uma loja virtual para conquistar mais clientes. 201 21:5 0a 22:3 3 22:3 4a 22:4 0 22:4 1a 22:5 3 22:5 4a 23:1 8 23:1 9a 23:4 8 Somos uma empresa pequena e por isso podemos atender nossos clientes de forma individual. Já fizemos, Empresária Christine por exemplo, a fita bordada para os pedidos oficiais da Niehage Oktobafest, na Baviera. Tecemos a fita com os dez diferentes tipos de material que temos. 18s 14s Mecânico Andre Homberg Narradora Kamila Rutkosky 12s 24s 29s Apresentadora (Nádia Pontes) Narradora Ivana Ebel 50 pequena empresa, Oktobafest, 51 mestre em tecelagem, Hoje já não se aprende mais isso no curso profissionalizante. Nos ensinam algumas coisas básicas, mas não os detalhes. 52 curso profissionaliz ante A fábrica continua na ativa e o trabalho do aposentado evita que as máquinas virem peças de museu. 53 fábrica, aposentado, No meio da neve um artista segue procedimentos rigorosos para demonstrar sua admiração por paisagens naturais. Sozinho, debaixo de condições climáticas extremas, ele mistura a arte com a técnica. O resultado é impressionante. Mas como fazer para que este trabalho meticuloso alcance o público. Mas uma vez a internet entra em cena. 54 neve, artista, paisagens naturais, arte, técnica, internet As pegadas na neve deixam fascinantes obras de arte. Essa foi a maneira que o artista encontrou para expressar o seu amor às montanhas. Seus trabalhos não poderiam ser expostos em qualquer galeria, pois ocupam áreas do tamanho de três campos de futebol. 55 As fitas fazem sucesso. As máquinas trabalham aqui sem parar. Às vezes uma delas para de funcionar. É hora desse aposentado de 71 anos entrar em ação. O mestre em tecelagem é especializado nesse tipo de máquina. Hoje um profissional em extinção. O cartão perfurado fornece os comandos para o tear. Esses já estão muito desgastados. O mecânico veterano faz novos furos. É a experiência de quem fez isso muitos anos no passado. O funcionário tenta absorver este conhecimento rapidamente. Narradora Kamila Rutkosky 43s Arte, neve e mundo virtual 21:3 1a 21:4 9 Estúdio neve, obras de arte, 202 23:4 9a 24:0 8 19s 24:0 9a 24:2 5 16s 24:2 6a 24:5 2 26s 24:5 3a 25:0 6 13s 25:0 7a 25:2 9 Pesquisador Simon Beck Narradora Ivana Ebel Pesquisador Simon Beck Narradora Ivana Ebel Pesquisador Simon Beck 22s 25:3 0a 25:5 0 20s 25:5 1a 26:0 6 15s 26:0 7a 26:1 9s Narradora Ivana Ebel Pesquisador Simon Beck Narradora Ivana Ebel 56 arte, montanhas, natureza, desenhos, modelos matemáticos, simetria, jardins , japoneses 57 bússola, esculturas geométricas, 58 medição, música A música de Beethoven o acompanha nas 10 horas de luta, contra o frio e o vento a 3.000 metros de altitude. 59 Beethoven Agradável não é. O trabalho é cansativo e os dias são bem longos. Quando eu termino, o único pensamento é chegar seguro em casa. Simplesmente ficando parado eu corro risco de vida aqui nas montanhas. Preciso tomar muito cuidado para não me esforçar demais. 60 dias longos, 61 foto, posta, redes sociais, Com a minha arte eu posso embelezar as montanhas. Elas fazem parte da minha arte e minha arte faz parte dela. Existe uma interação entre a natureza e os meus desenhos. Usando uma bússola o artista desenha os contornos das esculturas geométricas na neve. Ele busca inspiração em modelos matemáticos e na simetria de jardins de templos japoneses. As duas primeiras horas eu gasto na medição. É preciso se concentrar muito para não errar nenhuma linha, pois não há possibilidade de refazê-la. Depois disso, tudo fica mais fácil. Daí eu começo a ouvir música e faço o desenho até o fim. Ele não para enquanto tudo não estiver pronto. Para terminar esta obra ele precisa trabalhar até tarde da noite. No final, ele sobe até o ponto alto para tirar uma foto. O artista posta todo o seu trabalho nas redes sociais. E já tem 20 mil fãs de todo o mundo. Foi postando minhas fotos nas redes sociais que tudo começou. O bom que no mundo da internet não é necessário convencer uma galeria de arte a exibir suas obras. Você simplesmente posta as fotos e quem quiser vai lá e vê. Com passos firmes o artista transforma a paisagem e faz de suas pegadas na neve verdadeiras obras de arte. 62 63 fotos, redes sociais passos, paisagem, neve, obra de 203 6 26:1 7a 27:0 0 arte 47s Apresentadora (Nádia Pontes) Depois dessa viagem pela neve, pelo espaço e pelo mundo virtual, Futurando se despede. A gente espera que vocês tenha gostado de nos acompanhar hoje. E se você quiser saber mais é só nos acompanhar no site dw.de/futurando. Lá você tem outras reportagens sobre ciência, tecnologia e meio ambiente. Ficou com alguma dúvida e quer fazer algum comentário? Acesse nosso facebook ou mande e-mail para a equipe do programa. Nós nos encontramos aqui na semana que vem. Até lá. 64 Estúdio Fonte: FUTURANDO. Mais potente telescópio terrestre. 2013. Disponível em: <http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-ciencia-etecnologia/v/artistas-fazem-pinturas-com-telas-digitais/2275019/>. Acesso em: 23 ago. 2013. neve, espaço, mundo virtual 204 APÊNDICE C - Globo News Ciência e Tecnologia GLOBO NEWS CIÊNCIA E TECNOLOGIA TEMAS Chamada 00:01 a 00:21 00:21 a 00:43 00:44 a 01:30 AB ER TU RA 01:30 a 01:43 20s Arte Digital 22s 46s Papéis do jornalista Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Artista móvel Hackerspaces BL OC O TEMPO DURAÇÃO / SEGUNDOS Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Especialistas/entre vistados FALAS Pintar com os dedos é brincadeira de criança? No passado pode ter sido, mas hoje artistas estão aproveitando a multiplicação das telas, dos tablets, dos smartphones, para criar uma nova forma de expressão. Arte que é literalmente digital. Eles são os artistas móveis Eu pinto em IPHONES e IPADS há uns três anos, e isso me abriu o mundo digital. Antes eu nunca tinha usado coisas digitais Quem vê grandes empresas dominando o setor de tecnologia, pode não se lembrar que muitas delas começaram dentro de garagens. Hoje os novos espaços de criação científica e tecnológica são diferentes. Biólogos, químicos, engenheiros, designers estão se reunindo em espaços de trabalho coletivo, como esse aqui. Eles são muito mais baratos, são muitas vezes improvisados, mas funcionam com um ingrediente muito importante: a liberdade de criação. Eles são os hackerspaces que você vai conhecer agora no Globo News Ciência e Tecnologia. Nº DA IMAGEM CENÁRI O INDEXAÇÃO 1 Chamada 2 Iphone, ipad, mundo digital 3 Chamada, tecnologia, Biólogos, químicos, engenheiros, designers, hackerspaces 13s 4 Laborat ório 205 01:43 a 02:52 72s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) I 02:53 a 03:25 03:26 a 03:30 Algumas pessoas perceberam antes. Elas deram início a Pesquisador Olivier um movimento chamado Diybio que era, basicamente, Medvedik (biólogo biologia amadora. Eu não fiz parte do movimento desde o início, mas eu montei logo meu laboratório e colaborava molecular / com artistas e designers aqui, mas de maneira Genspace) independente. Eu queria ter o meu próprio laboratório. Então, até conhecer Ellen, cofundadora da Genspace, eu não conhecia bem o movimento Diybio. 32s 4s Número 2066 da Crist Drive, Los Altos, Califórnia. Esse foi o endereço onde dois Steves transformaram a história da tecnologia. Steve Jobs e Steve Wozniak iniciaram a Apple dentro dessa pequena garagem. Transformaram um local que guardava carros e pequenas quinquilharias, num berço dos computadores pessoais. De lá pra cá, lugares poucos convencionais, de trabalho colaborativo, se multiplicaram. Hoje, pessoas com interesse em comum, quando conseguem um pequeno financiamento e acham um lugar descolado, criam um hackerspace. - Aqui em Nova York, prédios que antes eram usados por fábricas, agora estão abrigando os laboratórios como este da Genspace. A organização permite que pessoas comuns tenham acesso a áreas da ciência, como a biotecnologia, que antes eram reservadas aos grandes laboratórios. Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) O que pode surgir a partir disso? Verdadeiras inovações tecnológicas? 5 Steve Jobs, Steve Wozniak, Genspace, Apple, garagem, computador pessoal, trabalho colaborativo, Nova York, Genspace, biotecnologia 6 Genspa ce Biologia amadora, artista, designer, laboratório, 7 Genspa ce 206 03:31 a 05:01 05:02 a 05:03 Eu acho que estamos no momento propício para inovações saídas de locais não convencionais. A tecnologia está ficando mais fácil, mais barata, os custos estão caindo, os equipamentos estão se tornando mais disponíveis, temos mais PhDs capazes de dirigir esses projetos, e a escala... Nós trabalhamos aqui com biologia sintética. A biologia sintética é muito acessível. Não é preciso construir uma empresa multimilionária para começar a trabalhar nos projetos. É possível começar a trabalhar neles com recursos muito pequenos, e esses Pesquisador Olivier projetos podem salvar vidas. Há projetos que os Medvedik (biólogo estudantes têm desenvolvido no âmbito do programa molecular / iGEM – International Genetically Enginnered Machine Genspace) Competition -, que basicamente reúne alunos de graduação, que trabalham com projetos de biotecnologia. E, para alguns dos projetos, foram pedidos financiamentos da Gate Foundation, para tentar desenvolvê-los ainda mais. Nós estamos falando de micróbios geneticamente modificados para tentar detectar substâncias nocivas na água, como toxinas ou parasitas, e determinar se aquela água é ou não adequada ao consumo ou para o banho. Esses projetos realmente podem ter um grande impacto, e requerem recursos mínimos, mas falta espaço. O espaço é muito importante, pois não é um estudo teórico, é muito prático. É preciso bancadas de trabalho, equipamentos, e um espaço compartilhado... 90s 1s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Quanto isso custa? Quanto custa um laboratório como este? 8 Genspa ce 9 Genspa ce Tecnologia, biologia sintética, micróbios geneticament e moodificados, International Genetically Enginnered Machine Competition , 207 05:05 a 05:25 05:26 a 05:33 Pesquisador Olivier Medvedik (biólogo molecular / Genspace) 20s 7s Bem, se você quiser comprar esses equipamentos novos, estamos falando de centenas de milhares de dólores, de meio milhão de dólares ou mais. No entanto, se você compra esses equipamentos usados, se consegue doações, eu comprei equipamentos de amigos que haviam comprado pela internet, o custo cai para dezena de milhares de dólares 10 Genspa ce 11 Genspa ce Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Imagens do laboratório, pesquisadores e equipamentos 05:33 a 06:31 58s equipamentos Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) A equipe da Genspace construiu uma série de experimentos, capazes de gerar tecnologias importantes no futuro. Há pouca gente, pouco espaço, e muito equipamento de segunda mão, mas sobra vontade de produzir e inovar. O objetivo da cultura hacker é modificar, transformar o que existe. Ellen Jorgensen, presidente da Genspace, coordena um projeto com estudantes de diversas partes do mundo. Eles estão competindo com vários outros centros de pesquisa, na tentativa de criar uma bactéria (1) geneticamente modificada, diferente de todas as que existem na natureza. Por que é mais fácil para ele trabalhar aqui do que trabalhar na faculdade? Genspa 12 ce cultura hacker, Ellen Jorgensen 208 06:31 a 06:58 06:59 07:00 a 07:11 07:12 07:13 27s 1s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen (presidente) 11s 1s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen 1s 07:13 a 07:14 1s 07:15 a 07:23 8s 07:23 a 07:32 9s 07:33 1s 07:34 a 07:47 Pesquisadora Ellen Jorgensen (presidente) 13s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Muitas faculdades não tem infraestrutura, e alguns interessados não são estudantes de Biologia. Podem vir do Departamento de Arte ou Informática. E hoje há muito interesse em Biologia, Biotecnologia, Engenharia genética e Biologia Sintética, pois elas têm impacto em outras disciplinas. 13 Genspa ce Dê-nos um exemplo 14 Genspa ce Bem, por exemplo. Esta equipe é patrocinada por um departamento de arquitetura, e isso acontece porque os arquitetos sempre procuram novos materiais. 15 Genspa ce Entendo. 16 Genspa ce E, agora... 17 Genspa ce Mesmo de origem biológica. 18 Genspa ce Materiais de origem biológica podem ser a próxima descoberta da arquitetura. Então trabalhamos em produtos biologicamente modificados. Genspa 19 ce Nós estamos em um prédio antigo do Brooklyn, que obviamente não foi feito para abrigar um laboratório. 20 Genspa ce Exato. 21 Genspa ce No entanto, isto é um laboratório. Como este conceito surgiu? Por que usar um espaço desses para isso? 22 Genspa ce patrocínio, departamento de arquitetura, arquiteto, origem biológica Material de origem biológica Brooklyn laboratório 209 07:47 a 08:19 08:20 a 08:34 14s 08:35 1 08:35 08:36 a 09:06 09:06 Pesquisadora Ellen Jorgensen 32s 1 Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen 30s 1s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Bem, em primeiro lugar, não há laboratórios convencionais suficientes. Em segundo lugar, estes espaços oferecem algo que os laboratórios convencionais não oferecem, que é um determinado grau de liberdade intelectual, porque não é preciso justificar se o projeto vale a pena em termos financeiros ou mesmo se é viável diante do comitê da universidade ou de uma empresa de biotecnologia. 23 Genspa ce Então, o que eles encontram por aqui é ... Deixe-me ver que tipo de material você tem ali. Qual é a estrutura básica ? De que você precisa... 24 Genspa ce Em um espaço como este? 25 Genspa ce É. Na verdade, é surpreendente. Você precisa de várias coisas, mas depende. Se você for trabalhar com engenharia genética das bactérias, precisará de equipamentos para fazer a bactéria crescer. E você precisará de equipamentos para fazer soluções, pesar materiais, para trabalhar de maneira segura. Então você vai precisar de centrífugas, de balanças, estufas, de incubadoras, locais onde a bactéria possa crescer, essas coisas. 26 Genspa ce 27 Genspa ce O que incentiva você? 28 Genspa ce laboratório, liberdade intelectual, projeto, Equipamento, bactéria, Engenharia genética das bactérias 210 09:07 a 09:49 09:50 a 09:53 09:54 a 09:58 09:58 a 10:02 10:03 a 10:42 10:42 10:43 a 10:45 Pesquisadora Ellen Jorgensen 42s 3s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen 4s 4s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen 39s 1s 2s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Pesquisadora Ellen Jorgensen Bem, nós queremos ter sucesso por vários motivos. Então, em primeiro lugar, consideramos esses lugares cruciais para o futuro da inovação. Aqui nós treinamos futuros cientistas, além de fornecermos um espaço para biohackers, inovadores, até mesmo para biólogos que queiram trabalhar em algo diferente do que fazem em seu trabalho cotidiano. Por isso nós achamos importante ter esses espaços, e grande parte do sucesso deles depende do sonho de ver algo importante saindo daqui. Então, a pressão é querer garantir que alguém invente algo legal aqui. Genspa 29 ce Quando começou esse movimento de hackerspace? 30 Genspa ce Hackerspace É algo muito novo. Talvez em 2008. 31 Genspa ce Hackerspace E o que deu ímpeto a ele? 32 Genspa ce Hackerspace - Duas ou três coisas. Em primeiro lugar, a competição de que eu falei. Muitas pessoas se formam e se dizem: “Bem, não somos mais estudantes, mas achamos isso divertido e queremos continuar fazendo.” Em segundo lugar, a tecnologia para ler e escrever o código do DNA está se tornando cada vez mais barata. Até o final do ano, será possível sequenciar o genoma humano por menos de mil euros e em menos de um dia. É uma tecnologia incrível, que está evoluindo mito rápido. Então, está ficando mais barata. A terceira coisa é que, hoje, comprase quase tudo pela internet. Muitas empresas de biotecnologia fecharam... competição, DNA, genoma Genspa hmano, 33 ce biotecnologia Você se refere aos equipamentos? 34 Genspa ce É. Isto tudo pode ser comprado pela internet. 35 Genspa ce Sucesso, biohacker, Inovação Internet 211 10:46 a 11:07 11:08 a 12:23 12:24 21s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Um ano e meio é um tempo muito curto, mesmo para um laboratório que funcione em uma universidade. Nós abrimos as portas há apenas um ano e meio, e várias pessoas já passaram por aqui. Nós tivemos projetos muito interessantes que foram iniciados e chegaram a determinado grau de conclusão. Nós agora estamos patrocinando uma segunda equipe no iGEM... Então, nós Pesquisador Olivier basicamente temos projetos em que tentamos criar Medvedik (biólogo pequenos cristais chamados “pontos quânticos”. É um projeto ainda em andamento. Nós temos aqui artistas molecular / fazendo um trabalho de ponta tentando testar as Genspace) fronteiras entre privacidade e genética. Eles basicamente colhem amostras de material genético. Heather é uma delas. Eles colhem material humano nas ruas, como amostras de cabelo, etc. E, de posse dessas amostras, após sequenciar o DNA, com a tecnologia que temos, é possível fazer um perfil da pessoa, saber como ela é, e fazer um busto dela e dizer: “Esta pessoa, em certo momento, estava neste lugar.” E é muito. Isso levanta muitas perguntas, como: o que nós consideramos ser nós? Qual é nossa informação? 15s 1s A Genspace luta para produzir resultados concretos, com uso de mercados. O laboratório tem menos de dois anos de existência e o potencial é palpável. Uma das pesquisas mais promissoras, envolve a criação de um perfil genético acessível a qualquer pessoa. Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Genspa ce perfil genético 37 Genspa ce ponto quântico, laboratório, artista, material genético, universidade, 38 Genspa ce informação genética 36 Nós deixamos informação genética em toda a parte. 212 12:25 a 12:47 12:47 12:48 12:49 Apr ese 12:50 nta a ção 12:57 Pesquisador Olivier Medvedik (biólogo molecular / Genspace) 22s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 1s Ótimo. Muito obrigado. Pesquisador Olivier Medvedik (biólogo Foi um prazer molecular / Genspace) 1s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 1s Obrigado 39 Genspa ce 40 Genspa ce 41 Genspa ce 42 Genspa ce informação genética 7s 43 Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 24s Arte digital 12:57 a 13:21 II 13:22 a 13:56 Nós a espalhamos por toda a parte, ela se desprende de nós o tempo todo. E, até agora, não tínhamos tecnologia para analisá-la, então ninguém se importava. Mas agora, que temos tecnologia para ler essa informação, nós começamos a levantar novas questões. E o trabalho dela é tentar ser uma pioneira nisso. 34s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Utilizar os dedos para pintar, nunca foi um gesto que mereceu respeito na arte. Não passou de brincadeira de criança. Mas agora uma nova geração de artista descobriu e milhões de telas espalhadas pelo mundo, nos tablets, smartphones, um meio ideal de expressão. É a nova forma de arte que é literalmente digital. É uma cena conhecida. Em um estúdio, o artista observa a modelo e com o seu pincel, cria a imagem. Durante séculos este foi o meio de expressão clássico. Mas hoje a forma de criar uma imagem está mudando rapidamente. A arte digital já se popularizou em museus e festivais de inovação eletrônica, mas não só isso. Um grupo de criadores está transformando tablets e telefones nas telas de pintura da era digital. 44 arte digital 45 arte digital, tela digital, tablet, telefone, era digital, Estúdio de arte 213 13:57 a 14:15 14:16 a 14:38 14:39 a 14:46 14:47 a 15:08 15:09 a 15:58 15:59 a 16:00 Entrevistado (sem nome) 18s 22s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 21s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Somos a Nomadbrush. Meu nome é Don Lee e eu criei a Normadbrush. Nós oferecemos uma ferramenta que se parece exatamente como um pincel. Mia Robinson começou a pintar em 2008 no seu primeiro smartphone e se tornou uma das fundadoras de uma associação que reuni artistas digitais móveis no mundo inteiro Artista digital Mia Robinson 49s 1s Em lugar de tintas e paletas, dedo e pincel eletrônico, capaz de usar todas a s cores e padrões disponíveis nas centenas de aplicativos voltados para artistas móveis. É um mercado que não para de crescer Artista digital Don Lee 7s O que fazemos aqui é tentar criar alguma diversão, arte móvel, alguma excitação para o movimento, educar e reunir pessoas de todo o mundo que amam fazer arte em seus dispositivos móveis. A primeira vez que usei meu celular para isso foi no final de 2008. Eu tinha acabado de comprar e não sabia o que fazer com ele. Então eu resolvi procurar aplicativos quaisquer, e desenhar no telefone me pareceu algo muito intuitivo, então foi uma das primeiras buscas que fiz, e para minha surpresa, surgiu um aplicativo chamado “Brushes”. Eu entrei vi aqueles aplicativos de desenho e achei bem legal. “Vamos ver se baixo e faço algo com isso”. Eu baixei e ele mudou minha vida, artisticamente falando. 46 arte móvel, dispositivos móveis 47 dedo, pincel eletrônico, artista móvel 48 Nomadb rush pincel 49 Mia Robinson, smartphone, associação, artista digital móvel, 50 celular, aplicativos, brushes Qual foi a primeira coisa que você fez? 51 214 16:00 a 16:22 16:22 a 16:25 16:26 a 16:51 16:53 a 17:05 17:05 a 17:37 17:37 a 17:58 Artista digital Mia Robinson 22s 3s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 12s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 21s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) As linhas... Quando pensamos em algo digital, pensamos em algo muito gráfico, imagens muito “duras”, que não são fluidas, entende? Pelo menos era o que eu pensava dos desenhos digitais. Eu não tinha um conhecimento digital antes disso. Mas eu comecei a desenhar e vi que era com um lápis e papel. O cavalete do artista, em qualquer lugar, chama a atenção. Usar um telefone como tela tem suas vantagens. É fácil pintar sem ser percebido? Artista digital Mia Robinson 32s 52 desenho, 53 desenho, qualidades textuais 54 gráfico, imagens, desenho digital, 55 telefone, pintura, 56 telefone, SMS, e-mail O que você quer dizer com “qualidades textuais do desenho”? Artista digital Mia Robinson 25s A primeira coisa que eu fiz foi um desenho do meu sobrinho. Fiz uns desenhos muito rápidos dele dançando pela casa. E foi ... E assim que tentei, e vi as qualidades gestuais do desenho, na mesma hora eu pirei e não pude mais largar. Eu não tenho carro, então, quando estou no metrô, estou sempre desenhando alguma coisa. Ou terminando de pintar algum desenho... E eu faço muitos rascunhos de pessoas, com muitas pessoas olhando. E isso é muito legal, pois o celular é um bom disfarce. As pessoas em geral me olham pensando: “Quem é essa maluca olhando pra mim com essa expressão intensa no rosto?” Mas elas pensam que você está mandando SMS ou e-mail, sei lá. A praticidade de ferramentas que estão ao alcance de todos revoluciona as formas de criar e torna artistas aqueles que nunca pensaram em pintar. 57 215 17:58 a 18:26 18:26 a 18:40 18:40 a 18:53 18:54 18:55 a 19:45 Artista digital Mia Robinson 32s 14s 1s 50s Um exemplo é o jogo drawsome. Um desafio entre as pessoas é ver quem cria os melhores desenhos. A brincadeira também é jogo entre profissionais. Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Artista digital Mia Robinson 13s Eu acho que a comunidade artística de telefones móveis é um grupo mais amigável e menos intimidador, porque muitas pessoas que desenham no celular vêm de todos os grupos profissionais que se possa imaginar. Não só artistas. O legal do meio é que ele dá acesso a todo mundo. Todo mundo tem a oportunidade de ser criativo. Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) 58 telefone móvel, comunidade artística, 59 jogo, drawsome, desafio. 60 artista, imagem, batalha artística 61 batalha artística 62 batalha artística Muitos artistas carregam imagens ou passam para outros artistas, eles ficam enviando e recebendo, e você adiciona para ver como vai ser. Algumas pessoas fazem batalhas artísticas, essas coisas. Como é uma batalha artística? Artista digital Mia Robinson Há uma entre Benjamin Rabe, e um tal Matthew Watkins. Eles ficam publicando imagem de um coelho e um porco. Eles ficam postando um porco e um coelho em situações diferentes. Em uma imagem o porco está em cima, depois o coelho faz alguma coisa... Eles ficam nessa. É muito divertido e distrai a cabeça. Mas você também aprende, com essa troca, muitas coisas técnicas no meio digital, porque cada um trabalha de uma maneira. Eu sou artista plástica e trabalho com uma camada, mas posso passar para alguém que trabalhe em várias camadas, que vai me devolver , e vou ver algo diferente. Então há essas funcionalidades legais que eu não conhecia. 216 19:46 a 19:56 19:57 a 21:44 21:45 21:45 a 21:57 10s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Artista digital Mia Robinson 107s 1s 12s Apresentador (Luis Fernando da Silva Pinto) Artista digital Mia Robinson Mas trabalhar em telas virtuais tem desafios. O principal, como transformar arte móvel em meio de vida. 63 arte movel, meio de vida Eu acho que o principal retorno que muitos de nós recebem agora é simplesmente expor. É um meio jovem, e eu acho que o desafio que nós enfrentamos, principalmente como artistas plásticos... Se você é ilustrador, pode trabalhar num estúdio, fazer animação, essas coisas. Mas, para um artista plástico, é mais difícil viver da arte, porque muitas pessoas não associam artes plásticas ao mundo digital, se é que você me entende. Originalmente só se pintava em telas, pois só se tinha a tinta e a tela, entende? Mas, com as ferramentas digitais, nós temos apenas um arquivo digital. Eu acho que, com o tempo, à medida que as pessoas começarem a perceber a arte digital é mais do que apenas manipular uma foto, que tem gente gerando imagens a partir de desenhos em aparelhos – e não apenas em aparelhos móveis, mas em grandes também. À medida que as pessoas forem mais expostas a isso, começarão a aceitar melhor, e você então verá um artista, como eu, ou alguns colegas meus, vivendo disso. Hoje, o que nós fazemos, especialmente na minha organização, é tentar fazer pessoas conhecerem essa ferramenta e mostrar a elas, mostrando que há artistas muito talentosos usando esses aparelhos minúsculos para fazer coisas incríveis. O trabalho artístico é brilhante, entende? E acho que é isso que as pessoas precisam ver. Pelo menos por ora. Eu não ficaria triste de ganhar dinheiro com isso... 64 artista plástico, E quem ficaria? De viver disso. Mas o que eu realmente quero ver é alguém que não gostava dessas coisas conhecer, ver e dizer: “Eu não sabia que se podia fazer tanto com esse aparelho”. 65 66 217 21:58 Apresentador a 10s (Luis Fernando Nosso programa fica por aqui. Não se esqueça de 22:08 da Silva Pinto) comentar, fazer sugestões 67 22:08 a 22 22:30 Fonte: GLOBO NEWS CIÊNCIA & TECNOLOGIA. Artistas fazem pinturas com telas digitais. 2012. Disponível em: <http://www.dw.de/os-temas-apresentados-nofuturando-23/a-16595683>. Acesso em: 23 ago. 2013.