avaliação biológica do produto fitofarmacêutico calypso na luta

Transcrição

avaliação biológica do produto fitofarmacêutico calypso na luta
AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DO PRODUTO FITOFARMACÊUTICO CALYPSO NA LUTA
CONTRA A Anarsia lineatella E EFEITOS SECUNDÁRIOS SOBRE A Ceratitis capitata E
Brachycaudus persicae EM PESSEGUEIROS NA COVA DA BEIRA.
(1)
(1)
Carlos VEIGA ; João SANTOS
& Paulo GOMES
(1)
Resumo
O presente trabalho teve como objectivo avaliar o efeito do tiaclopride no controlo da
Anarsia lineatella e os seus efeitos secundários sobre a Ceratitis capitata e Brachycaudus
persicae. Para tal foram delineados cinco modalidades: tiaclopride na concentração de 15 ml/hl,
20 ml/hl e 25 ml/hl, fosalona na concentração de 200g/hl e ainda a modalidade testemunha sem
aplicação de insecticida.
Como resultados mais significativos é de realçar que a aplicação do tiaclopride, sobretudo
nas concentrações de 20 e 25 ml/hl apresentaram um efeito significativo no controlo da A.
lineatella e ambos os insecticidas utilizados (tiaclopride e fosalona) apresentaram uma alta
eficácia no controlo do B. persicae.
Palavras Chave: Anársia (Anarsia lineatella); pessegueiro; Calypso; tiaclopride
1 - INTRODUÇÃO
No seguimento do "desafio" lançado pela multinacional Bayer - I Grande prémio auxiliares
Bayer - considerou-se a realização de alguns estudos sobre a anársia (Anarsia lineatella), a qual
actualmente tem preocupado técnicos e agricultores da Cova da Beira que se dedicam á
exploração de pomares de pessegueiros. Este facto, aliado á importância da cultura na região e a
falta de conhecimentos relacionados com aspectos da sua bioecologia e estratégia de luta,
constituíram motivação para que técnicos da AAPIM, no exercício da Protecção Integrada,
procedessem á realização de algumas acções que pudessem contribuir para um melhor
conhecimento geral da praga.
Deste modo procedeu-se, em primeiro lugar à caracterização geral da praga, com base na
bibliografia da especialidade e observações sobre a sua evolução a nível regional.
Seguidamente, consideraram-se os aspectos relacionados com os seus períodos de risco
e oportunidade de tratamento e deste modo procurou-se determinar alguns indicadores que de
futuro possam ser testados e validados para as condições regionais.
Posteriormente, consideraram-se os aspectos relacionados com a luta química visto que,
nesta fase, não se conhecem auxiliares eficientes no seu controlo e de ano para ano a praga tem
revelado maior importância, com a grave lacuna de falta de produtos fitofarmacêuticos
homologados de acção larvicida para o seu combate.
Por último, e uma vez que durante os trabalhos realizados se desenvolveram condições
de infestação e de oportunidade relativamente à aplicação de produtos fitofarmacêuticos,
procurou-se avaliar os seus efeitos secundários de eficácia relativamente à mosca da fruta
(Ceratitis capitata) e ao afídeo negro do pessegueiro (Brachycaudus persicae).
Nesta perspectiva os objectivos principais deste trabalho foram basicamente os seguintes:
· caracterização da A. lineatella, aspectos da sua bioecologia e estratégia de
luta
· estudo dos métodos de evolução e oportunidade de tratamento
· avaliação biológica do produto fitofarmacêutico Calypso na luta contra a
A. lineatella
· efeitos secundários da eficácia do Calypso relativamente à C. capitata e ao
B. persicae.
(1)
Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM)
Av. Monsenhor Mendes do Carmo nº 23 - 6300 - 586 Guarda
2 - CARACTERIZAÇÃO DA Anarsia lineatella, ASPECTOS DA SUA BIOECOLOGIA E
ESTRATÉGIA DE LUTA
A A. lineatella é uma praga muito importante nos pomares de pessegueiros da região
mediterrânea (Mari et al, 1994). Esta praga encontra-se referenciada na Cova da Beira pelo
Serviço de Avisos e Associações de Protecção Integrada.
2.1 - Classificação taxonómica
A anársia pertence á: Classe, Insecta; Ordem, Lepidoptera; Família, Gelechiidae; Género,
Anarsia e Espécie, Anarsia lineatella, Zeller.
2.2 - Hospedeiros principais
O principal hospedeiro desta praga é o pessegueiro, que na região da Cova da Beira
ocupa cerca de 1.500 ha, representando aproximadamente 25% da produção nacional. A maioria
dos pomares de pessegueiros nesta região, são novos e encontram-se em plena produção,
predominando largamente as variedades semi-tardias e tardias.
2.3 - Características morfológicas dos diferentes estados
O adulto é um pequeno lepidóptero de cor cinzenta com manchas escuras e claras, com
aproximadamente 1cm de envergadura (Mary et al., 1994).
O ovo recém posto é de cor branca e brilhante, escurecendo ao longo do tempo. As suas
dimensões são diminutas, cerca de 0,5 mm de comprimento e 0,3 mm de largura (Zangheri et al.,
1992).
A larva é de cor castanha achocolatado alternando anéis escuros e claros em torno do
abdómen e com cabeça negra. As suas membranas intersegmentadas de cor clara contrastam
com o corpo escuro, permitindo destinguir esta larva de todas as outras espécies que atacam os
pessegueiros (UC IPM, 1999).
A pupa desta praga é acastanhada e mede cerca de 4 a 6 mm. Os seus locais de
pupação são geralmente lugares protegidos na árvore (UC IPM, 1999).
2.4 - Estragos provocados e importância económica
A larva da A. lineatella ataca lançamentos e frutos, sendo os prejuízos mais significativos
nestes últimos (Bárcia, 1981), sobretudo em variedades semi-tardias e tardias.Contudo segundo o
mesmo autor, os estragos provocados nos lançamentos não são de desprezar, sobretudo em
viveiros ou plantações novas.
A larva desta praga penetra geralmente no pêssego pela cavidade peduncular ou na zona
de contacto entre dois frutos.
2.5 - Aspectos da sua bioecologia
o
o
A A. lineatella hiberna na forma de larva do 1 e 2 instar
na própria árvore (UC IPM, 1999). No final do Inverno, início da
Primavera (Fevereiro-Março) a larva retoma a sua actividade,
alimentando-se dos jovens lançamentos.(Marí et al., 1994 e
Bárcia, 1981).Em Maio ou Junho o insecto, pupa nas pregas
Fig. 1 - Larva de A. lineatella no
das folhas ou nas rugosidades do tronco e em Junho-Julho
a
interior do fruto.
surgem as borboletas da 1 geração, que vão fazer as posturas
(Zangheri et al., 1992 e Bárcia, 1981).
As lagartas resultantes destas posturas vão alimentar-se
não só dos ramos, mas também dos jovens frutos já existentes
(Bárcia, 1981). Estas larvas da 2ª geração após completarem o
seu desenvolvimento pupam de preferência nas rugosidades
dos troncos ou na cavidade peduncular dos frutos. Estas vão
Fig. 1 - Ciclo de vida da A. lineatella,
posteriormente dar origem ás borboletas da 2ª geração, que
adaptado de Goidànich, 1963
vão fazer novas posturas das quais vão surgir as larvas da
geração hibernante. O ciclo de vida da anársia descrito pode
ser observado de uma forma esquemática na Fig.1.
3 -ESTUDO DOS MÉTODOS DE EVOLUÇÃO
Como foi referido, a A. lineatella é uma praga que recentemente tem manifestado a sua
presença nos pomares de pessegueiros na região. Outros países nomeadamente da Europa
meridional e Califórnia apresentam uma considerável experiência na estratégia de luta contra esta
praga. Na Califórnia, por exemplo, o método do somatório de temperaturas médias acima do limiar
o
da sua actividade 8 C, parece ser o indicador generalizado para o inicio dos tratamentos. Deste
modo considera-se importante desenvolver o método para as condições regionais.
A AAPIM durante os anos de 1999 e 2000 desenvolveu estudos relativamente ao
somatório temperaturas de valores acumulados conforme Quadro 1.
Quadro 1 - Acumulados de temperaturas médias diárias superiores a 8oC e evolução da Anarsia lineatella
nos anos de 1999 e 2000 na Cova da Beira.
Acumulados de temperaturas > 8ºC
Início do voo
Máximo do voo
Início do 2º voo
350-400ºC
900-1000ºC
1500-1600ºC
1999
350-450ºC
850-950ºC
1550-1650ºC
2000
Também a curva de voo pode apresentar-se do mesmo modo como um método que pode
fornecer indicações precisas acerca do desenvolvimento da praga, nomeadamente inícios dos
voos, períodos de máximas capturas e fins dos voos.
3.1 - Material e métodos
Procedeu-se à instalação de armadilhas sexuais e registo das temperaturas máximas e
mínimas e humidade relativa, em dois pomares de pessegueiros~, um localizado na Qta. de
Valverdinho e outro na Qt.a do Pessegueiro, ambos no concelho de Belmonte.
Armadilha sexual - no dia 7 de Maio foram colocadas armadilhas sexuais tipo delta com
feromona especifica para a A. lineatella, que apresenta a seguinte composição; E5-100 H (15) e
E5-10 Ac (85). As observações das armadilhas foram realizadas em média uma vez por semana,
procedendo-se à substituição das feromonas e respectivas bases de cola com intervalos de um
mês e meio.
Estação meteorológica - o registo de temperaturas e humidade relativa, efectuou-se a
partir da estação meteorológica colocada na Quinta da Torre, concelho de Belmonte, que fica
muito próxima dos pomares dos ensaios (cerca de 1 Km).
Foi ainda efectuado o somatório dos excedentes de temperatura média diária acima de
o
8 C a partir do dia 1 de Janeiro.
2000
1600
1200
800
400
0
Temperaturas Acumuladas
2000
1600
1200
800
400
0
18-Set
05-Set
23-Ago
08-Ago
27-Jul
10-Jul
29-Jun
11-Jun
30-Mai
16-Mai
18-Set
05-Set
23-Ago
08-Ago
27-Jul
10-Jul
29-Jun
11-Jun
30-Mai
16-Mai
Cap. Adultos Anarsia
Qta. do Pessegueiro
100
80
60
40
20
0
Temperaturas
Acumuladas
Qta. de Valverdinho
Número de
Capturas
100
80
60
40
20
0
Temperaturas
Acumuladas
Número de
Capturas
3.2 - Resultados análise e discussão
Na Fig 2 encontra-se representada a evolução das capturas de A. lineatella nas
armadilhas tipo delta em ambos os ensaios e o somatório de temperaturas médias diárias acima
o
de 8 C, registadas no posto meteorológico da Qta. da Torre.
Cap. Adultos Anarsia
Temperaturas Acumuladas
Fig 2 - Curva de voo da A. Lineatella e somatório de temperaturas > 8ºC, na Qta. de Valverdinho e Qta. do
Pessegueiro, Belmonte 2001.
Como se pode observar nos gráficos da Fig. 2, o inicio das capturas registou-se no dia 25
de Maio no ensaio II (Qta. do Pessegueiro) e em 30 de Maio no ensaio I (Qta. de Valverdinho),
o
quando o somatório de temperaturas acumuladas registava 400 C. O máximo do voo da primeira
geração ocorreu em fins de Julho quando o somatório de temperaturas acumuladas ronda os
o
1100-1200 C. A primeira geração terminou em meados de Agosto e tal como verificamos em anos
anteriores esta prolonga-se muito no tempo, cerca de dois meses e meio e ataca os jovens
rebentos e alguns frutos.
A segunda geração iniciou-se na segunda quinzena de Agosto quando o somatório de
o
temperaturas atingiu os 1500-1600 C de acumulados. O desenvolvimento desta geração é muito
mais rápido, mas nem por isso menos prejudicial, bastante pelo contrário, pois ataca os frutos já
na fase de maturação, provocando elevados prejuízos na produção.
o
Relativamente ao somatório de temperaturas superiores a 8 C, verificamos haver uma
aproximação aos valores dos anos de 1999 e 2000 apresentados no Quadro 1, contudo deve
continuar-se a desenvolver estudos afim de validar o método de somatório de temperaturas
acumuladas para as condições regionais
4 - AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DO CALYPSO NO COMBATE À A. lineatella.
O produto fitofarmacêutico "Calypso" que se encontra em fase de estudo pela
multinacional Bayer apresenta como substância activa o tiaclopride da família química das
cloronicotinilas a que pertence também a substância activa imidaclopride. Estes produtos
apresentam geralmente uma elevada eficácia, grande poder de penetração e cuja toxidade em
relação aos auxiliares é considerada apenas como muito tóxico relativamente a cocinelídeos e por
este facto pode apresentar-se como um complemento ao triflumurão no controlo da A. lineatella.
No Quadro 2 apresenta-se uma caracterização mais completa do produto.
Quadro 2. - Caracterização do Calypso .
Nome
Comercial
Família química Sub. activa
Calypso
cloronicotinilas
tiaclopride
Caracteristicas
Modo de
Teor de S.A.
actuação
contacto e
480 g/hl
ingestão
Tipo de
formulação
suspensão
aquosa
Classificação
toxicológica
nocivo (Xn)
4.1 - Material e métodos
Para determinação da avaliação biológica do produto foram realizados dois ensaios:
Ensaio I - foi instalado na Qta de Valverdinho num pomar de pessegueiros da variedade
"Cardinal" enxertado em GF 305, com 6 anos de idade, compasso de 4,5 X 2,5 metros e árvores
conduzidas em eixo.
Ensaio II - realizado na Qta do Pessegueiro num pomar de pessegueiros da cultivar "Sabino" de 9
anos de idade num compasso de 4,5 x 2,5 metros, conduzidas no tradicional vaso.
4.1.1 - Produtos e modalidades ensaiadas
Nos ensaios realizados, I e II avaliou-se a eficácia Calypso a diferentes concentrações e
utilizou-se como produto de referencia o Zolone. Este último produto é comercializado pela
multinacional Aventis e apresenta como substância activa a fosalona num teor de 30%, actuando
por contacto e ingestão e apresenta-se na formulação de pó molhável, sendo muito utilizado em
protecção integrada na luta contra os diversos inimigos das principais culturas.
No Quadro 3 resumem-se os tratamentos, modalidades, concentrações e doses
ensaiadas.
Quadro 3 - Modalidades, produtos, concentrações e doses ensaiadas, Belmonte 2001.
Modalidade
Produto
Substância
Concentração
Formulação Teor em s.a
comercial
activa (s.a)
Calypso
tiaclopride
15 ml/hl
spa
480 g/l
A
Calypso
tiaclopride
20 ml/hl
spa
480 g/l
B
Calypso
tiaclopride
25 ml/hl
spa
480 g/l
C
Zolone
fosalona
200 g/hl
pm
30%
D
Testemunha - sem tratamento
E
Dose
750 l/ha
750 l/ha
750 l/ha
750 l/ha
4.1.2 - Delineamento experimental
Foi usado um desenho experimental em blocos completamente aleatórios com quatro
repetições e cinco modalidades. As diferentes modalidades foram distribuídas de forma aleatória
pelas unidades experimentais, sendo cada unidade experimental constituída por duas árvores. As
diferentes unidades experimentais são constituídas por árvores com a mesma idade, variedade,
porta-enxerto e vigor semelhante.
4.1.3 - Aplicações
Nos ensaios I e II na modalidade E, não foi realizado qualquer aplicação de insecticida.
Nas restantes modalidades foram realizadas duas aplicações, a 9 e 23 de Agosto de 2001. No dia
9 de Agosto considerou-se como oportunidade para a aplicação a observação dos frutos
perfurados e as elevadas capturas nas armadilhas. A segunda aplicação efectuou-se devido à
continuação de capturas elevadas e de acordo com a persistência do produto. Na aplicação dos
produtos foi utilizado um pulverizador de dorso com a capacidade de 13 litros.
4.1.4 - Observações
Como forma de avaliar o efeito das diferentes modalidades, procedeu-se à observação da
fruta à colheita. Deste modo, efectuou-se a colheita de cada unidade experimental para caixas
devidamente identificadas com o código da modalidade e repetição. Posteriormente efectuou-se
uma observação minuciosa fruto a fruto de toda a produção, contabilizando o número de frutos
totais e infestados de A. lineatella e C. capitata. Os dados obtidos foram submetidos a tratamento
estatístico no programa SPSS para Windons, versão 9.0. Este tratamento estatístico consistiu
numa análise de variância uni-factorial, seguida de um teste de comparações múltiplas (LSD),
para cada um dos ensaios e pragas.
Ensaio I
4.2 - Resultados, análise e discussão
Com base nos resultados obtidos da observação dos frutos, elaboramos o Quadro 4.
Quadro 4 - Número de frutos totais e infestados de A.lineatella por unidade experimental, número de frutos
médio por modalidade e percentagens médias por modalidade de frutos infestados em cada um dos ensaios.
Belmonte 2001.
Modalidades / Repetições
A1 A2 A3 A4 B1 B2 B3 B4 C1 C2 C3 C4 D1 D2 D3 D4 E1 E2 E3 E4
Totais
98
95 31 63 96 194 116 47 110 80 112 44 87 94 22 28 187 208 76 49
Média
71,75
113,25
86,50
57,75
130
Nº frutos
Infestados
Média
Ensaio II
% frutos
infestados
Totais
2
246
Média
Nº frutos
Infestados
Média
% frutos
infestados
4
1
0
0
1
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
1
3
3
3
0,75
0,50
0
0,25
2,50
0,77 ab
0,48 b
0b
0,89 ab
2,26 a
1
102 288 182 229 132 166 160 194 206 138 123 169 196 229 108 204 136 117 110
204,50
171,75
165,25
175,50
141,75
0
6
1
2
0
0
6
1
0
2
3
4
6
6
1
9
18
12
2,75
2
1,50
4,25
15,25
1,06 b
1,16 b
1,10 b
2,25 b
11,98 a
ÖPara cada um dos ensaios, as médias das modalidades seguidas de letra diferente são significativamente
diferentes para p £ 0,05, pelo teste LSD.
De uma análise muito geral ao Quadro 4, podemos verificar que no ensaio II se registaram
níveis de infestação de A. lineatella, superiores aos ocorridos no ensaio I. A tal facto não deverá
ter sido alheia a data de colheita, que no ensaio I se realizou no dia 18 de Setembro, enquanto
que no ensaio II se efectuou a 25 de Setembro.
Como se pode observar no quadro anterior, a modalidade testemunha (E), é a que
apresenta em ambos os ensaios a maior percentagem de infestação.
No ensaio I os melhores resultados no combate a esta praga foram obtidos nas
modalidades B e C, não se tendo mesmo verificado nesta última qualquer fruto infestado. Mas
estas duas modalidades, B e C, não foram significativamente melhores que as modalidades A e D
para um nível de significância de 5%.
No ensaio II, a modalidade E difere significativamente de todas as restantes em relação à
percentagem de frutos infestados, pelo que, se pode deduzir que a aplicação dos insecticidas
permitiu controlar de forma significativa o grau de infestação desta praga.
22
Da análise conjunta dos dois ensaios verificamos que a aplicação dos insecticidas permitiu
reduzir a percentagem de frutos infestados, tendo-se obtido os melhores resultados nas
modalidades B e C. Os resultados parecem indicar que o tiaclopride na concentração de 20 ml/hl
se apresenta como suficiente para uma óptima eficácia no controlo da A. lineatella.
5-EFEITOS SECUNDÁRIOS DA EFICÁCIA DO CALYPSO RELATIVAMENTE À Ceratitis
capitata
5.1 - Material e métodos
Nos pomares onde foi realizado o estudo de avaliação biológica do Calypso, são realizados
em regra todos os anos tratamentos na luta contra a C. capitata. Deste modo procedeu-se à
instalação, no dia 5 de Julho, de armadilhas tipo McPhail, iscadas com trimedlure, em ambos os
pomares, efectuando-se as respectivas contagens semanais. Para avaliar a eficácia dos produtos
considerou-se o delineamento experimental definido para a A. lineatella.
A observação do registo da evolução de capturas de adultos nas armadilhas e a data de
realização dos tratamentos permite avaliar a eficácia dos produtos referidos na luta contra esta
praga.
Ensaio I - Qta. de Valverdinho
15
10
5
0
Ensaio II - Qta. do Pessegueiro
20
15
10
5
0
28-Set
12-Set
30-Ago
16-Ago
03-Ago
18-Jul
05-Jul
28-Set
12-Set
30-Ago
16-Ago
03-Ago
18-Jul
Cap. Adultos Mosca
Número de Capturas
20
05-Jul
Número de Capturas
5.2 - Resultados, análise e discussão
Na Fig. 3 estão representadas as curvas da evolução das capturas de adultos (curva de
voo) nos dois ensaios, ao longo do período de observação.
Cap. Adultos Mosca
Fig 3 - Curva de voo da C. capitata, na Quinta de Valverdinho e Quinta do Pessegueiro. Belmonte 2001
Da análise das capturas nos ensaios I e II, verificou-se que o início de voo se registou a 16
de Agosto no ensaio II e a 30 de Agosto no ensaio I. Posteriormente o número de capturas
registadas em ambos os ensaios foi sempre aumentando, dadas as condições climáticas
favoráveis, situação idêntica ao verificado em anos anteriores na nossa região.
A observação da evolução das capturas permite-nos concluir que a segunda aplicação dos
produtos, foi efectuada com oportunidade, pois a persistência do produto permitiu cobrir o período
de actividade da praga.
Com base nos resultados obtidos da observação dos frutos, elaboramos o Quadro 5, no
qual são apresentados o número de frutos totais e infestados por unidade experimental, número
de frutos médio por modalidade e percentagens médias por modalidade de frutos infestados de C.
capitata em cada um dos ensaios.
Como se pode observar no Quadro 5, pela percentagem de frutos infestados, o ataque da
praga em ambos os ensaios revelou-se pouco significativo, mesmo nas modalidades não tratadas.
Deste modo, considera-se que estas condições são pouco favoráveis para a avaliação da eficácia
do produto.
Do tratamento estatístico efectuado, o ensaio I não revela diferenças significativas entre as
modalidades, embora a modalidade E, seja a que apresenta a maior percentagem de infestação.
No ensaio II, só a fosalona apresentou resultados significativamente melhores que a testemunha,
mas não se revelou significativamente melhor a qualquer uma das concentrações em estudo do
tiaclopride.
Ensaio I
Quadro 5 - Número de frutos totais e infestados de C. capitata por unidade experimental, número de frutos
médio por modalidade e percentagens médias por modalidade de frutos infestados em cada um dos ensaios.
Belmonte 2001.
Modalidades / Repetições
A1 A2 A3 A4 B1 B2 B3 B4 C1 C2 C3 C4 D1 D2 D3 D4 E1 E2 E3 E4
Totais
98
95 31 63 96 194 116 47 110 80 112 44 87 94 22 28 187 208 76 49
Média
71,75
113,25
86,50
57,75
130
Nº frutos
Infestados
Média
Ensaio II
% frutos
infestados
Totais
0
246
Média
Nº frutos
Infestados
Média
3
% frutos
infestados
0
0
0
1
0
0
0
2
0
0
0
0
1
0
0
9
1
0
0
0,25
0,5
0,25
2,50
0a
0,26 a
0,45 a
0,27 a
1,32 a
0
102 288 182 229 132 166 160 194 206 138 123 169 196 229 108 204 136 117 110
204,50
171,75
165,25
175,50
141,75
4
2
0
0
3
7
1
0
2
0
1
1
0
1
0
3
4
6
2,25
2,75
0,75
0,5
3,5
1,46 ab
1,78 ab
0,45 ab
0,26 b
2,61 a
1
ÖPara cada um dos ensaios, as médias das modalidades seguidas de letra diferente são significativamente
diferentes para p £ 0,05, pelo teste LSD.
6 - EFEITOS SECUNDÁRIOS DA EFICÁCIA DO CALYPSO
Brachycaudus persicae
RELATIVAMENTE
AO
Quando procedíamos à instalação dos ensaios observou-se na Qta. do Pessegueiro, local
onde decorreu o ensaio II, uma infestação generalizada de B. persicae, deste modo considerámos
também oportuno avaliar a eficácia dos produtos na luta contra esta praga.
6.1 - Material e métodos
Na avaliação da eficácia do tiaclopride no controlo do B. persicae considerou-se o
delineamento experimental do ensaio II (Qta. do Pessegueiro) delineado para a A. lineatella.
Para avaliar a eficácia dos produtos sobre esta praga, procedeu-se a avaliação da
percentagem de ramos infestados nas diferentes unidades experimentais. A primeira avaliação foi
realizada antes da aplicação dos produtos, procedendo-se a nova avaliação após terminada a
persistência.
6.2 - Resultados análise e discussão
Com base nas observações efectuadas antes e após a primeira aplicação dos insecticidas
elaboramos o Quadro 6.
Após
aplicação
Antes
aplicação
Quadro 6 - Percentagens de ramos ocupados com Brachycaudus persicae por unidade experimental e média
por modalidade, antes e após a aplicação dos insecticidas. Qta. do pessegueiro - Belmonte, 2001.
Modalidades / Repetições
A1 A2 A3 A4 B1 B2 B3 B4 C1 C2 C3 C4 D1 D2 D3 D4 E1 E2 E3
% ramos
Infestados
12,5
Média
25
30
27,5
25,6 a
Média
% ramos
Infestados
35
0
0
20
5
27,5 42,5
25,6 a
0
0b
50
0
0
0
0
0b
30
20
20
30 a
0
0
0
12,5
7,5
7,5
12,5 a
0
0b
10
0
0
0
0
0b
5
25
E4
40
19,4 a
0
17,5
5
30
23,1 a
ÖPara antes e após aplicação, as médias das modalidades seguidas de letra diferente são significativamente
diferentes para p £ 0,05, pelo teste LSD.
A análise do Quadro 6, permite-nos verificar que antes da aplicação dos insecticidas todas
as modalidades apresentavam percentagem de ramos ocupados pelo B. persicae, oscilando entre
40
os 12,5% e os 30%. Estas variações existentes entre as modalidades não são significativamente
diferentes para um nível de significância de 5%.
Como facilmente se pode deduzir da observação do Quadro 6, nas modalidades onde se
aplicou fosalona ou tiaclopride a população do B. persicae foi eliminada.
O estudo realizado permite-nos deduzir que este afídeo é facilmente controlado por ambos
os produtos, mesmo na concentração mais baixa de tiaclopride.
7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos realizados sobre a A. lineatella embora considerados uma primeira
aproximação permitiram maior confiança na sua monitorização e oportunidade nas intervenções.
o
Relativamente à sua evolução determinou-se o somatório de temperaturas de 350-400 C
o
o
para o início do primeiro voo de 1000-1200 C para o pico de máximas capturas e de 1500-1600 C
para início do segundo voo, embora se considere que os estudos têm que continuar objectivando
o seguinte:
wNum estudo desta natureza a colocação das armadilhas sexuais deve ser efectuada o mais
cedo possível e a contagem das capturas realizada diariamente.
wAs observações das armadilhas sexuais e somatório de temperaturas devem ser
complementadas com observações visuais da evolução de outros estádios da praga, para
determinar outros indicadores biológicos, nomeadamente inicio da actividade das larvas de
Inverno, máximo da actividade, primeiros frutos perfurados e pico máximo de frutos perfurados.
Os estudos realizados sobre o novo produto fitofarmacêutico Calypso, substância activa
tiaclopride se revelou muito interessante na cultura do pessegueiro e este pode apresentar-se
como um complemento aos escassos meios de luta químicos, numa perspectiva de protecção
integrada, pelos seguintes motivos:
wrevelou óptima eficácia no controlo da Anarsia lineatella nas concentrações de 20 e 25 ml/hl,
wapresentou uma eficácia absoluta, de 100%, contra o Brachycaudus persicae nas
concentrações de 15, 20 e 25 ml/hl;
wrevelou eficácia no controlo da Ceratitis capitata embora se considere que os seus estudos
relativamente a esta praga devem continuar com ensaios de populações mais significativas.
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÁRCIA, M. (1981). Principais pragas do pessegueiro. Instituto Superior de Agronomia (ISA),
sector de patologia e sanidade vegetal. Lisboa
DELRIO, G. (1992). Integrated control in olive groves. In: VANLENTEREN, J.; MINKS, A. &
PONTI, U. (Eds.) Proc. IBOC/WPRS Ist Confer. On Biological control and integrated crop
protection: towards environmentally safer agriculture, Veldhoven, Netherlands, 8-13 September
1991: 67-76.
GOIDÀNICH, G. (1963). Le avversita delle piante agrarie (4º volume). Ramo editoriale degli
agricoltori-Roma.
LAVADINHO & AMARO (1982). Os meios de luta química. Generalidades. In AMARO, P. &
BAGGIOLINI, M. (Eds.) Introdução à protecção integrada. Vol. 1, Lisboa, FAO/DGPPA: 136-137.
MARÍ, F.; COMELLES, J. & PÉREZ, F. (1994). Las plagas agrícolas (2ª edición). Phytoma.
UC IPM, (1999). Plum peach twig borer. University of California Statewide Integrated Pest
Management Project. http://www.ipm.ucdavis.edc.
ZANGHERI, S.; BRIOLINI, G.; CRAVEDI, P.; DUSO, C.; MOLINARI, F. & PASQUALINI, E. (1992).
Lepidotteri dei fruttiferi e della vite. Edizioni l'informatore agrario. (BAYER).

Documentos relacionados