Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012
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Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 (PERSEVERANÇA) Ana Cristina Moura Marques Gonçalves Fontes Relato de Prática 1 Universidade de Verão Santillana (UVS) ISCTE-IUL janeiro de 2013 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 I. Índice Preâmbulo 3 1.O ensino dos alunos de Português Língua Não Materna – algumas reflexões 2.Os intervenientes diretos 2.1. O professor de Português Língua Não Materna 2.2. O aluno de Português Língua Não Materna 3. Relato de prática pedagógica 4. Bibliografia 5. Anexos 4 10 10 13 15 22 24 II. Índice de quadros Quadro I – População escolar de nacionalidade estrangeira em 2007 / 2008 Quadro II – Nacionalidades dos alunos estrangeiros do 3º ciclo Quadro III - Apoio Escolar aos alunos de PLNM Quadro IV - Gráfico comparativo do aproveitamento por nacionalidade dos alunos dos três ciclos do ensino básico Quadro V – Tipologia de O’Malley e Chamot Quadro VI - Aproveitamento no ensino básico Quadro VII - Aproveitamento no ensino secundário 5 5 7 2 9 11 16 16 III. Índice dos anexos Anexo I – Documentação chinesa e tradução portuguesa Anexo II – Ficha de caraterização da aluna Anexo III – Análise dos resultados obtidos no Teste de Avaliação de Competências de PLNM Anexo IV – Conteúdos Programáticos (1º Período) Anexo V – Relatório de Atividades (1º Período) Anexo VI – O meu bilhete de identidade Anexo VII – Guião da Exposição – 50 anos de Astérix e Óbelix Anexo VIII – Ficha de verificação de leitura do livro Quem é o Marley? ......................... 25 26 27 28 29 30 32 33 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Preâmbulo A perseverança é a virtude pela qual todas as virtudes dão fruto. (máxima chinesa) A escolha do tema a abordar decorreu de uma evidência e de uma experiência pessoal, e foi influenciada pela leitura do artigo de Marc-Laurent Hazoumê, Du multilinguisme à la societé du savoir – Quelles stratégies?: a evidência de que um número cada vez mais elevado de alunos de n a c i o n a l i d a d e e s t r a n g e i r a f r e q u e n t a o s i s t e m a d e e n s i n o p o r t u g u ê s e a experiência de lecionar, após vinte de anos de docência, Português Língua Não Materna a uma aluna chinesa no seu primeiro ano de contacto com a realidade portuguesa. Este trabalho fará eco de todos os constrangimentos sentidos na prática docente, fruto do hiato existente entre a legislação vigente e a realidade escolar incapaz, na nossa perspetiva, de dar o devido acompanhamento aos alunos estrangeiros que se encontram a frequentar as escolas portuguesas. Essa incapacidade radica no facto de existirem uma série de variáveis que a legislação em vigor não contempla, e a formação inicial de professores ignora, as quais têm a ver, entre outras, com a origem desses alunos e a sua faixa etária, a ausência de professores com formação específica em número suficiente para acudir às necessidades. Só a perseverança de alunos e professores se mostra capaz de ultrapassar o muro de dificuldades que se coloca a todos os intervenientes no processo. Só a perseverança consegue transformar em sucesso o que, à partida, se revela um obstáculo intransponível para o sucesso educativo destes alunos: a língua. Começaremos p o r f a z e r a l g u m a s r e f l e x õ e s d e c a r á t e r g e r a l s o b r e o e n s i n o d o Português Língua Não Materna, necessárias para equacionar a relevância deste tema e para fundamentar o nosso pensamento sobre a temática subjacente à prática descrita, para depois nos centrarmos sobre a situação vivenciada pela aluna Xia Qingqing no ano letivo 2008/2009, na Escola Básico Jorge de Montemor, em Montemor-o-Velho, ano em que se matriculou numa turma do 7º ano de escolaridade. Todos os anexos apresentados ilustram as várias etapas do trabalho desenvolvido, desde a fase da planificação, à monitorização das aprendizagens e aos materiais produzidos e recursos utilizados. 3 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 A terminar este preâmbulo, desejamos manifestar o nosso agradecimento a Xia QingQing, por nos facultar o seu testemunho, e a seus pais, por autorizarem a divulgação de dados relativos ao seu percurso escolar. 1. O ensino dos alunos de Português Língua Não Materna – algumas reflexões preliminares Quantos são e qual a nacionalidade dos alunos estrangeiros que se encontram a estudar no 3º ciclo do Ensino Básico? Como se integram na sociedade portuguesa e nas escolas nacionais? Que acompanhamento recebem? Eis algumas das questões a que é necessário responder antes de refletirmos sobre a problemática do ensino do Português Língua Não Materna. Socorramo-nos, pois, dos dados mais recentes publicitados no Relatório do PLNM relativo ao biénio 2006-2008, publicado em Dezembro de 2009, onde se pode ler em jeito de síntese (p.22): 4 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Basta debruçarmo-nos sobre alguns quadros e gráficos aí apresentados para confirmarmos a veracidade das afirmações transcritas e termos uma visão mais clara e objetiva do panorama geral. Quadro I A maior concentração de alunos de nacionalidade estrangeira regista-se no 1º ciclo. 5 Quadro II Nacionalidades dos alunos estrangeiros do 3º ciclo Regista-se a predominância de alunos originários dos PALOP (Cabo Verde, Angola), seguida de alunos provenientes da Europa de Leste. Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 A presença de alunos de PLNM nas nossas escolas é uma realidade incontornável que merece uma resposta eficaz, capaz de fazer face às exigências de um ensino que se quer integrativo e plural. Como em tantos outros domínios da política educativa nacional, não podemos negar que, para o efeito, foram redigidos, de forma ponderada e cuidada, vários documentos de apoio e publicados vários Despachos Normativos e Ofícios Circulares, visando a possibilidade de constituição de grupos de nível, chamando a atenção para a necessidade de definição de estratégias individualizadas e de critérios de avaliação específicos para estes alunos. Na publicação PLNM no Currículo Nacional - Documento Orientador da responsabilidade da DGIDC não deixam de ser indicadas Medidas de Acolhimento (1. Organização do processo individual e escolar do aluno; 2. Criação de uma equipa multidisciplinar e multilingue; 3. Teste diagnóstico de Língua Portuguesa) e Medidas de escolarização (1. Elaboração de Orientações Nacionais; 2. Grupos de nível de proficiência: criação e funcionamento; 3. Avaliação das aprendizagens; 4. Definição do perfil do professor de PLNM), proclamando-se uns quantos Princípios Básicos (Integração, Igualdade, Interculturalidade e Qualidade) e a fundamental evidência de se conseguir responder às Necessidades Linguísticas, Curriculares e de Integração dos alunos de PLNM. Até se chegam a estabelecer três níveis de intervenção e atuação distintos: central, regional, local. Louvemos este esforço de construção de uma fundamentação teórica, que não deixa de ser importante, mas tenhamos a capacidade de sermos realistas e de reconhecermos, aqueles de entre nós que estão no terreno, que existe um distanciamento fatal entre o que é proposto e o que é, na realidade, exequível. É o eterno fosso entre a teoria e a prática, o “saber de experiência feito”. Às escolas é, aparentemente, dada liberdade para organizarem o trabalho de PLNM, mas não existem, no terreno, possibilidades reais de o operacionalizar. Há falta de horas para apoio e produção de materiais adequados, à falta de professores experimentados nesta área, continua a haver uma grande falta de articulação entre a investigação realizada nas Universidades e as escolas básicas e secundárias. É necessário assegurar a qualidade do apoio prestado a estes alunos através de um trabalho concertado entre todos os intervenientes no processo de ensino-aprendizagem, 6 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 alunos estrangeiros, Encarregados de Educação, Conselho de Turma, colegas de turma e toda a comunidade educativa em geral. Só um esforço concertado e prolongado no tempo conseguirá alcançar o sucesso pretendido. O Relatório do PLNM de 2005 prova que essas medidas de apoio educativo existem na maior parte das escolas, mas não testa a sua eficácia. Com efeito, a percentagem das escolas que desenvolvem medidas de apoio no âmbito do PLNM é significativa (28,7) quando comparada com outras medidas existentes: Projetos (3,6%), Mediador (1,5%) e Tutor (1,45). Neste trabalho de apoio às aprendizagens deve realçar-se o facto de existirem livros e outros materiais q u e a j u d a m o p r o f e s s o r , e m b o r a p o s s a m r e v e l a r - s e d e m a s i a d o a b r a n g e n t e s ignorando as características individuais de cada discente e a sua origem. Quadro III Apoio Escolar aos alunos de PLNM As atividades de apoio constituem-se como a iniciativa preferencialmente desenvolvida pelas escolas para colmatar as dificuldades de aprendizagem da Língua Portuguesa dos alunos que não a falam como língua materna, existindo em cerca de 70% das escolas públicas nacionais com alunos nessas condições. 7 Na maior parte dos estudos realizados em Portugal sobre o ensino de PLNM é realçada a necessidade de promover a formação, ou pelos menos a sensibilização de todos os professores para o ensino do PLNM, a possibilidade de, nos 2º,3º ciclos e ensino secundário, existir coadjuvância com professores do 1º ciclo, a criação de uma bolsa de Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 formação contínua de professores de PLNM e de um maior envolvimento das famílias Mas há outras intervenções, do domínio da política educativa, que vêm sendo exigidas. Carlos Reis (2008) considerava que se tornava evidente [que] a construção de currículos alternativos ou a leccionação em línguas estrangeiras dificilmente podem ser encarados como situações correntes e a todo o tempo viáveis e deixava, sobre a questão do Multinguismo nas Escolas, a seguinte recomendação: Em articulação com as universidades em que a problemática do multilinguismo é objecto de estudo, deverá ser transferida para as escolas que o justificarem, através de programas de trabalho orientados nesse sentido, a reflexão científica produzida e eventuais respostas operativas fundamentadas naquela reflexão; mas em sentido diverso, importa fomentar programas de integração linguística das comunidades de imigrantes, sensibilizandoas, com coragem e sem mistificações, para a conveniência dessa integração, como factor de uma mais ampla e harmoniosa integração social. (p.240) Coincidência ou não, no ano seguinte à realização da Conferência Internacional sobre o Ensino do Português, a Fundação Calouste Gulbenkian publica um livro que se tornou uma referência para os professores de PLNM e que consegue alcançar o desejado compromisso entre a teoria e a prática (Maria Helena Mira Mateus, Dulce Pereira, Glória Fischer, coord., 2008). A tónica é colocada na necessidade de formar professores para lecionar PLNM e de dar condições a esses professores para produzirem materiais adequados aos alunos que lecionam. São sugestões que estão destacadas a negrito: que se crie, teste e implemente oficialmente uma Ficha Sociolinguística modelo que possa ser utilizada a nível nacional; que se defina oficialmente, a nível nacional, uma matriz com os parâmetros exigidos para uma avaliação diagnóstica da proficiência em Português de alunos que não têm o Português como língua materna (...) Será pertinente, ainda, a organização também a nível oficial de cursos e/ou de acções de formação sobre avaliação diagnóstica; que se elaborem, a nível oficial, grelhas ou modelos de análise para cada uma das tarefas que se entende deverem ser incluídas na avaliação diagnóstica; que se preparem cursos sobre a aquisição de Português como língua não materna; que haja uma pressão oficial no sentido de as instituições de ensino superior incluírem uma disciplina de aquisição e ensino da língua não materna na formação de base dos professores; 8 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 que o Ministério da Educação constitua um dossier contendo sinopses das características gramaticais e sociolinguísticas de muitas línguas presentes hoje na escola portuguesa. (pp. 335 e sgs). De acordo com o último relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a população iii estrangeira em Portugal ascende aos 436.822 cidadãos . As dez nacionalidades mais representativas são, por ordem crescente, S. Tomé e Príncipe (10.518 cidadãos), Moldávia (13.586 cidadãos), China (16.785 cidadãos), Reino Unido (17.675 cidadãos), Guiné-Bissau (18.487 cidadãos), Angola (21.563 cidadãos), Roménia (39.312 cidadãos), Cabo Verde (43.920 cidadãos), Ucrânia (48.022 cidadãos) e Brasil (111.445 cidadãos). Muitos deles correspondem a crianças e jovens em idade escolar, daí que estes números mostrem como é urgente repensar e revalorizar o ensino do PLNM. Na maior parte das escolas portuguesas, só a competência e dedicação dos professores a lecionar PLNM, em conjunto com o esforço e perseverança dos alunos são responsáveis pelo sucesso educativo dos discentes. Porque o sucesso existe! Quadro IV Gráfico comparativo do aproveitamento por nacionalidade dos alunos dos três ciclos do ensino básico (em %) segundo dados do Relatório PLNM relativo ao biénio 2006/2007 e 2007/2008 É notória uma melhoria de 2006/2007 para 2007/2008, sendo a percentagem de alunos com aproveitamento superior a 80%. Com uma percentagem superior a 90% destacam-se os seguintes países de origem: Alemanha, Canadá, EUA, Holanda, Luxemburgo, Moldávia e Suiça. Países como a África do Sul, Bélgica, França, Itália, Rússia e Venezuela ascendem a esses valores em 2007/2008. 9 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 2. OS INTERVENIENTES DIRETOS 2.1 .O Professor de Português Língua Não Materna Centremo-nos, pois, sobre os intervenientes diretos no processo de aprendizagem, sem esquecer que nele podemos encontrar, segundo Adelina Gouveia e Luísa Solla (2004), três fases: A exposição à língua — ou seja, o aluno está “exposto a amostras” de língua. Durante esta fase de exposição, o aluno integra certos elementos da língua e do seu funcionamento, de forma pouco consciente. Captação/Integração — a partir das informações recebidas, o aluno vai formular hipóteses e reflectir sobre o funcionamento da língua. Conhecimento interiorizado — considerando as fases anteriores (conhecimentos que memorizou e hipóteses que formulou), ele vai testar a sua competência não só a nível da compreensão mas também a nível da expressão. (p.45) Com efeito, “... o processo global de apropriação consiste em apreender, tratar e armazenar os dados linguísticos fornecidos pelo meio através da exposição à língua e tem de se adaptar ao conhecimento anterior assimilação e acomodação.” (Vieira, Maria do Carmo, Carolina Gonçalves, 2011, p.52). Numa perspetiva mais “radical”, concordamos com Isabel Letria (2008) que afirma: Na verdade, é possível aprender línguas sem ir à escola. Basta estar exposto a input suficiente ou, mesmo não estando, investir em aprendizagem autodidacta e ser perseverante. As línguas aprendem-se, não se ensinam. Aquilo que é ensinado pode ser aprendido muito mais tarde ou nunca; em contrapartida, muita coisa surge como aprendida sem ter sido ensinada. O ensino serve apenas para acelerar a aprendizagem. (p.108) É igualmente necessário ter em mente que, no que toca ao ensino de uma língua estrangeira, muitos autores distinguem três termos considerados fundamentais, aquisição ensino e aprendizagem, alertando-nos para o facto da primeira ser espontânea, não programada, ocorrendo de forma circunstancial e inconsciente, como acontece no domínio da língua materna; do segundo ser o meio privilegiado de aprendizagem caracterizado pela intervenção do professor e de um trabalho planificado e fundamentado em função de objetivos educativos; e, por fim, do terceiro ser intencional e programado, decorrente 10 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 da atuação do aprendente e do professor, traduzido num processo pessoal e consciente com vista à apropriação de novos conhecimentos e competências no domínio da aprendizagem de uma língua. A afirmação de que o professor do futuro é multicultural e multilingue já é verdadeira na atualidade. Nos nossos dias, e mais do que nunca, o professor terá de revelar a criatividade e a flexibilidade suficientes para corresponder às necessidades educativas dos seus aprendentes, de forma a promover o seu sucesso educativo dentro do espírito da autonomia e da plena integração no contexto escolar. Como referem M a r i a do Carmo Vieira da Silva e Carolina Gonçalves (2011), Todas as formas de ensino são boas desde que sejam adequadas ao perfil e aos objetivos dos aprendentes, e igualmente coerentes com as aprendizagens realizadas anteriormente. (p.52) Que estratégias de aprendizagem devem então ser desenvolvidas pelo professor? Tradicionalmente, apontam-se como exemplos três tipologias: a de Oxford, que contempla estratégias diretas e indiretas; a de Rubin, de caráter analítico e descritivo, e a de O´Malley e Chamot, mais rigorosa e mais sintética, apresentada em 1990. Tomaremos o partido desta última, por considerarmos que desenvolve o conceito de metacognição, tão do agrado do pensamento moderno, e por apresentar exemplos concretos de atividades. O quadro resulta da leitura da informação recolhida em Maria do Carmo Vieira da Silva e Carolina Gonçalves (2011), articulando as estratégias com os exemplos práticos: Quadro V - Tipologia de O’Malley e Chamot TIPOLOGIA DE O´MALLEY E CHAMOT Estratégias Estratégias cognitivas Estratégias sócio-afetivas metacognitivas (implicam uma interação (pressupõem a interação com a matéria a estudar) com outras pessoas com o (implicam uma reflexão sobre processo de o aprendizagem) objetivo de favorecer a aprendizagem) 11 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Exemplos Exemplos Exemplos 1. Antecipação/ planificação 1. Praticar a língua 1. Questões de clarificação e verificação 2. Cooperação 2. Memorizar 2. Atenção 3. Tomar notas 3. Autogestão 3. Gestão das emoções ou redução da ansiedade 4. Agrupar 4. Auto-regulação 5. Rever 5. Identificação de um problema 6. Auto-avaliação 6. Inferência 7. Dedução 8. Pesquisa documental 9. Traduzir e comparar com a língua materna ou com outra conhecida 10. Parafrasear 11. Maria Elaborar Os alunos inquiridos por do Carmo Vieira da Silva e Carolina Gonçalves (2011) elencaram, através de uma linguagem mais coloquial, as estratégias que 12. Resumir. consideraram mais importantes na aquisição de uma língua estrangeira, a saber, a l e i t u r a de livros, a ação do professor, a resolução de exercícios de gramática, a produção de textos livres, a realização de Fichas de Trabalho, a interpretação de textos, o esclarecimento de dúvidas, a realização de trabalhos de casa e as atividades lúdicas e de aperfeiçoamento e expansão de textos. Nada que um professor de língua não faça regularmente, mas que consideramos não ser suficiente para assegurar o empenho e o interesse dos aprendentes. Trabalhar com materiais autênticos, explorar os temas da atualidade com recurso às novas tecnologias, enraizar o conhecimento da língua na aquisição de competências necessárias à vida dentro e fora da escola, afiguram-se-nos métodos fundamentais para chegar aos resultados desejados. Vários fatores contribuirão para a seleção das estratégias do professor, sendo que: À parte a idade e o sexo, são as variáveis de ordem psicológica e afetiva, tais como a tolerância, ambiguidade, a atitude e a motivação que exercem um maior 12 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 efeito no nível de envolvimento do indivíduo e na escolha das estratégias. Também as variáveis situacionais, como o nível de consciência metacognitiva e as exigências das atividades, interferem na escolha das estratégias. (Silva, Maria do Carmo Vieira da, Carolina Gonçalves, 2011, p.66) As estratégias traduzir-se-ão, necessariamente, em modelos de interação na aula que garantam momentos de comunicação orientados e supervisionados pelo professor para que o aprendente alcance o grau de autonomia linguística desejada. O professor deve promover a liberdade de participação dos alunos estrangeiros evitando a tentação de corrigir exaustivamente os seus erros, tantas vezes motivo de embaraço. Assim, a opção terá de recair sobre o modelo mais pertinente: o modelo unilateral característico do ensino magistral e tradicional; o modelo do professor único que interage individualmente com o aprendente; o modelo da circulação livre da palavra, o modelo de trabalho de pares que faz de cada aprendente um interlocutor; o modelo de trabalho de grupo ou o modelo da mesa redonda, este último só eficaz num estádio de conhecimento linguístico capaz de permitir a interação de vários alunos. (Silva, Maria do Carmo Vieira da, Carolina Gonçalves, 2011, p.67). O professor, que se assumirá como um mediador entre as várias culturas em presença na sala de aula, tem de lutar, na opinião das autoras acima referidas, para não ser arrastado por determinadas noções que influenciam a forma como perceciona os alunos estrangeiros e que podem levar à penalização destes últimos: a comparação com o “aluno modelo”; os problemas associados às diferenças culturais e a questões de natureza sociofamiliar e afetiva; as expetativas negativas erradamente associadas à pretensa incapacidade para superar as dificuldades sentidas pelo desconhecimento da língua e os estereótipos e preconceitos tantas vezes verbalizadas na sala de aula Qualquer que seja o tipo de aprendente em presença, analítico ou sintético, teórico ou prático, visual ou auditivo, todos têm o direito de serem apoiados na busca do grau de proficiência linguística desejado. Em Portugal, a maior parte dos professores de PLNM desconhece a língua dos aprendentes, centra a sua atuação na produção de textos que parecem não privilegiar nem a cultura nem as vivências dos alunos, nem documentos autênticos e com recurso pouco frequente a imagens. Os materiais disponibilizados pelas editoras são generalistas e, frequentemente, desadequados face à origem e à idade dos alunos. São necessários mais 13 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 recursos multimédia e a utilização de materiais na perspetiva do utilizador da língua. Há tudo um trabalho conjunto a desenvolver pelos Conselhos de Turma das turmas com alunos com PLNM. 2.2. O aluno de Português Língua Não Materna Nenhuma estratégia resultará, nenhum mo delo de interação surtir á efeito se o professor não puder contar com o empenho dos seus alunos e não conseguir ir de encontro aos seus interesses. O aluno de PLNM, ao frequentar uma escola portuguesa, passará a encarar o português como a língua que lhe permite comunicar com os outros e, simultaneamente, expressar os seus sentimentos e opiniões. Sentir-se-á dividido entre a cultura de origem e aquela que o acolhe. Daí que sejam comuns os comentários elogiosos ao esforço desenvolvido e ao comportamento exemplar de muitos deles, em contraste com o pouco empenho dos colegas portugueses. Acresce que o português é essencial para assimilar e estudar os conteúdos de todas as outras disciplinas, implicando um esforço acrescido por parte do aprendente. Estes a l u n o s sofrem as consequências das distâncias m a t e r i a l , n o s e n t i d o d e geográfica, cultural, psicológica e linguística que muitos sentem de forma acentuada, as quais afetam a sua atitude e motivação face ao português. Neste processo de ensino/aprendizagem é necessário que o professor tenha a noção de que se registarão necessariamente interferências das línguas maternas desses alunos, interferências a nível fonológico, morfológico, lexical e cultural, e que delas tire partido, incentivando o aluno a utilizar os instrumentos que já conhece na apropriação do português. Até porque os estudiosos da língua dizem-nos que os alunos que têm um mais aprofundado conhecimento da língua materna manifestam mais facilidade na aquisição de uma língua segunda, na medida em que já se habituaram a refletir sobre a sua estrutura e funcionamento. Há, no entanto, situações onde as relações estabelecidas entre as duas línguas não são passíveis de ser exploradas nem significam uma mais-valia para o aprendente. Referimonos aos alunos de ascendência chinesa que, com uma língua tonal e isolante e uma escrita ideográfica, reconhecem que não conseguem alcançar o nível de proficiência desejado a nível da expressão oral e da expressão escrita. 14 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Nesses casos, há momentos em que a desmotivação do aprendente é visível devido ao receio de ser ridicularizado, uma desmotivação causada pelas barreiras linguísticas, cognitivas e sociais. É fundamental que a turma, como coletivo, esteja preparada para lhe prestar apoio, para o incentivar à participação, tentando anular o efeito nocivo dessas barreiras. A motivação é um fator fundamental para o sucesso destes alunos e para a manter acesa é necessário que o professor se muna de materiais apelativos, que aplique métodos e estratégias adequados aos alunos em presença, que consiga o envolvimento dos Encarregados de Educação, que oiça o que o aluno tem para lhe dizer. Os alunos chineses são extremamente disciplinados e respeitam o professor, mesmo se não compreenderem a palavra que profere. E é preciso lembrar as diferenças culturais que são abissais. Peça-se a Yanyan Lin, 17 anos, aluna da Escola Secundária da Ramada, em Odivelas, que diga o que lhe causou mais espanto. E a resposta é esta: Nesta escola, os rapazes e as raparigas namoram. Na China não se pode namorar na escola. Yanyan Lin já não tem de entrar às sete da manhã, como acontecia no liceu na província chinesa de Zhejiang onde andava até há pouco mais de dois anos. Em Odivelas também não há o hastear da bandeira logo de manhãzinha, no pátio do liceu. Nem os alunos se põem em fila, a fazer ginástica, ao som de música, todos de igual, antes de se agarrarem aos livros e aos cadernos. Descobriu ainda que na escola nova não há o hábito de nomear um colega para vigiar os outros quando a professora sai da sala (colega esse que, de acordo com as regras do liceu em Zhejiang, deveria apontar no quadro os nomes dos que falassem para que pudessem ser devidamente castigados quando a professora regressasse). Yanyan Lin deixou igualmente de ter 12 horas de aula por dia – de manhã, à tarde e à noite. E teve de aprender a dominar o alfabeto latino. Em suma, a pergunta é: o que é que afinal há de parecido entre a escola de Odivelas e a de Zhejiang? E Yanyan sorri: Nesta escola é tudo diferente. (Sanches, Andreia, 2009) A resposta da escola à presença destes alunos deve ser eficaz e tem de passar pela criação de grupos de aprendizagem, acompanhados por professores com formação específica. Em suma, nas palavras de Maria do Carmo Vieira da Silva e Carolina Gonçalves (2011): Os objetivos gerais da aprendizagem de uma língua e os objetivos finais das aulas são indispensáveis para traçar um programa de trabalho assente no progresso. Estes devem ser discutidos e adotados para e com os aprendentes num contexto de contrato pedagógico, em interação com objetivos pedagógicos intermediários diretamente ligados à aprendizagem, a cada uma das suas etapas, a cada a t i v i d a d e . (p.47) 15 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 3. RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA Ora, é precisamente o relato de trabalho desenvolvido com uma aluna chinesa da Escola Básica 2/3 Jorge de Montemor (Montemor-o-Velho) que vai ser, de seguida, apresentado. A Escola Básica 2/3 Jorge de Montemor, que integra o Agrupamento de Escolas de Montemor-o-Velho, situa-se no distrito de Coimbrav, e conta com 308 alunos a frequentar o 3ºciclo (todo o agrupamento acolhe 1433 crianças e alunos). Do referido total, 1,2% dos alunos tem nacionalidade estrangeira e nove alunos são de etnia cigana. No presente ano letivo, estão matriculados no Ensino Básico e Secundário 1 1 alunos estrangeiros (3 ucranianos, 3 brasileiros, 3 chineses, 1 francês e 1 búlgaro), 4 no 1ºciclo, 4 no 3ºciclo, 2 no Secundário e 1 no CEF. No total são 6 rapazes e 5 raparigas. A experiência pedagógica que vai servir de base à nossa reflexão teve lugar no ano letivo 2008/2009, quando a aluna Xia Qingqing, com 12 anos naquela data, viajou para Portugal proveniente da Província de Zhejiang, Distrito de Qingtian, e se matriculou no sétimo ano de escolaridade. Hoje, a aluna encontra-se a frequentar o 11 ºano. Durante estes anos, conseguiu ter aproveitamento nas várias d i s c i p l i n a s , como se pode comprovar nos quadros abaixo: Quadro VI Aproveitamento no ensino básico Ano LP Ing Esp Hist Geo Mat FQ CN EV EF EMRC ET / Disc. EM /TIC 7º 3 3 3 4 3 4 4 3 4 4 4 3 4 8º 3 3 3 3 3 4 4 3 5 3 4 3 3 9º 3 3 3 3 3 3 4 3 4 4 5 3 3 16 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Quadro VI Aproveitamento no ensino ensino secundário 10º LP FIL ING MAT A BIO FQ A EF EMRC 14 10 11 11 11 15 15 16 A consulta do seu processo escolar refere sempre opiniões abonatórias face ao trabalho desenvolvido pela aluna, sendo de relevar o seu interesse e empenho, e a facilidade com que, na disciplina de Matemática, sempre conseguiu acompanhar e ultrapassar os seus colegas (o que vem provar que a linguagem matemática é uma linguagem universal!) e revelar o esforço de socialização que sempre manifestou. A Xia sempre se revelou muito consciente face às dificuldades contra as quais teve de lutar. Num texto autobiográfico que foi instada a produzir para esta reflexão, a aluna refere-se à solidão, à dificuldade em se adaptar e ao desamparo que sentiu ao entrar em Portugal, o “país novo”, salientando que os alunos estrangeiros têm medo de falar e dificuldade em travar amizade com os seus colegas de turma. Para os alunos mais novos, a integração é mais fácil e a aprendizagem do Português mais rápida, em parte porque são mais curiosos e têm mais facilidade. Os mais velhos, onde se inclui, são mais resistentes à aprendizagem, sofrem mais pressões, necessitam de mais tempo de aprendizagem e têm de conciliar o trabalho familiar com a escola. A visão da Xia reflete o ambiente familiar em que vive. Os pais são comerciantes e o núcleo familiar é constituído por uma irmã m a i s nova que veio viver para Portugal algum tempo antes da sua vinda. A concluir, a Xia afirma “ Os professores mudam as pessoas. As pessoas mudam o mundo. A educação não tem fronteiras nacionais e o estudo não tem fim. Devem-se respeitar todas as culturas para ajudar os alunos estrangeiros a conseguir falar as línguas dos países de acolhimento”(adapt.) Receber um aluno estrangeiro numa turma exige por parte do Diretor/a de Turma e do Conselho de Turma um esforço acrescido, que tem o seu início muito antes da abertura do ano escolar, porque se torna fundamental conhecer a biografia do aluno e o seu percurso escolar. No caso dos alunos asiáticos, esta constitui a primeira dificuldade a ultrapassar. A documentação oficial que tardiamente chega às escolas portuguesas é 17 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 incompleta, em muitos casos traduzida do mandarim, e muito pouco preocupada em esclarecer a escola de acolhimento sobre o currículo frequentado pela aluna. De forma lacunar, os documentos oficiais dizem-nos apenas que equivalências foram dadas à aluna (Anexo I). Daí que a principal preocupação do Diretor de Turma tenha sido instruir os colegas do Conselho de Turma relativamente a algumas das características destes alunos no que toca aos aspectos sociolinguísticos e socioculturais, de forma a preparar e sensibilizar o Conselho de Turma para todo o trabalho de integração que tem de ser feito no respeito pela individualidade cultural do aluno. Igualmente importante é o preenchimento de uma Ficha de Caracterização do Aluno que permita superar as lacunas deixadas pela inexistência de documentos oficiais (Anexo II). Em seguida, tendo em mente que a planificação é um instrumento de trabalho que pode, e deve se as circunstâncias assim o exigirem, sofrer alterações de forma a melhor corresponder às necessidades dos alunos, é importante estabelecer os conteúdos a lecionar (Anexo IV). E, aqui deparamo-nos com outro problema. Que competências deve um aluno de PLNM adquirir no processo de ensino aprendizagem do PLNM? É claro que elas estão institucionalmente definidas de forma exaustiva. Na nossa perspetiva, menos descritiva e mais pragmática, partilhada por muitos autores de manuais de PLNM, o aluno estrangeiro deve conseguir interiorizar os conhecimentos que lhe permitam ser autónomos na vida diária, i.e., aprender um português funcional. É preciso que o aluno se consiga identificar, que interaja com os seus interlocutores em várias situações e em vários espaços. Só depois de dominar este português funcional poderá o aluno de PLNM avançar para o estudo de textos literários. A planificação estabelecida respeitou as recomendações da DGIDC e inspirou-se nas consultas efetuadas em manuais de PLNM. No que diz respeito às outras disciplinas, foi feita a recomendação de se limitarem os conteúdos a adquirir na lógica de simplificação e de serem efetuadas listas de vocabulário que ajudassem a aluna a memorizar as palavras e os conceitos adjacentes. Os testes teriam de ser adaptados de forma a apresentarem exercícios que partissem da leitura de imagens e solicitassem à aluna que legendasse, colorisse, apontasse, relacionasse, entre outras tarefas. Este trabalho i n i c i a l , h a v e r i a d e s o f r e r a j u s t e s , a p ó s a r e a l i z a ç ã o d e 18 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 u m t e s t e diagnóstico e f e t u a d o c o m o o b j e t i v o d e s i t u a r a a l u n a n u m d e t e r m i n a d o n í v e l d e aprendizagem. No caso da Xia, a professora de Língua Portuguesa considerou que os testes apresentados pela DGIDC eram completamente desadequados, uma vez que a aluna nem conhecimento tinha do alfabeto português e estava claramente no nível zero de aprendizagem. Assim, o teste diagnóstico foi feito pela docente de PLNM, em moldes muito mais simplificados e mais coadunados com a realidade (Anexo III). Os primeiros tempos foram tempos de receção à aluna, de reconhecimento das diferenças socioculturais e sociolinguísticas, de compreensão das suas dificuldades, de adequação de conteúdos e produção de materiais. Tempos de um grande voluntarismo. Tempos em que a melhor estratégia foi a de imersão da Xia na língua e cultura portuguesas com recurso à imagem, ao som, a atividades lúdicas, a livros digitais, a leituras em voz alta com muitas cópias à mistura, a conversas gesticulantes com o recurso a materiais autênticos ( Xia, o que comes ao pequeno-almoço? Eu como flocos. Sabes o que são flocos? - na aula seguinte, lá aparecia eu com um pacote de flocos...). Tempos em que o recurso ao tradutor automático se revelou fundamental. Teria sido muito positivo se tivesse sido disponibilizada a colaboração de um colega do 1º ciclo, familiarizado com os vários métodos para aquisição da linguagem escrita. O tempo de Estudo Acompanhado disponibilizado para apoio à Xia era manifestamente insuficiente. A Xia revelou-se uma aluna muito observadora, sempre bem comportada, que nunca interrompia, muito esforçada e empenhada, embora muitas vezes aparecesse cansada por ter passado muito tempo a ajudar os pais. Nestes primeiros tempos, a Xia era alvo de curiosidade dos seus colegas, que compreenderam as suas dificuldades e a ajudaram, em situações tão simples como ajudá-la a reconhecer o espaço escolar e a satisfazer as suas necessidades comunicativas sempre que se dirigia à papelaria da escola, ao bar, à cantina. O fato da turma ser reduzido foi um factor decisivo. No âmbito desta estratégia de imersão a que a Xia foi sujeita, convirá realçar que a aluna sempre participou nas atividades desenvolvidas pela turma, tendo sido elaborado material específica para, por exemplo, visitas de estudo, guiões de exposição, entre outros (Anexo VII). 19 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Se quisermos contabilizar no tempo este período de integração, diremos que ele ocupou o 1.º período letivo, no qual a avaliação efetuada teve em conta as circunstâncias especiais em que a aluna se encontrava (Anexo V). A partir do 2.º período, entramos na fase da Captação e Integração. A Xia começa a reconhecer o alfabeto português e a redigir, com incorreções, curtas frases, interagindo com os colegas. Queixa-se, com alguma frequência, da dificuldade em compreender e memorizar algumas palavras e conceitos da área das Ciências, mas persiste no seu esforço. As estratégias aplicadas pelo corpo docente mantêm-se até ao final do ano letivo. A aluna obtém aproveitamento, mas ainda não alcançou a fase do conhecimento interiorizado. Compreende o que lhe dizem, lê com algumas dificuldades, reconhece o erro, mas continua a ter muitas dificuldades a nível de algumas áreas (ortografia, sintaxe), situação que transparece no texto onde refletiu sobre os problemas sentidos pelos alunos estrangeiros em Portugal: Os alunos etrangeiros quando entram um país novo ficam sentir sozinho, desamparado... Como assim, para vida deles são um grande modança, não conseguiam hábito esto novo ambiente, ficam timito, tem medo de falar e tem dificudade façam amizada com os outros. Tem um difrença entra os alunos estrangeiros de idade mais velho e idade mais novo.Os idade mais novos, mais facíl ter amigos, como eles são tão pequnio, não como iigaul os idade mais velho gostar mais falar com portugues. Eles ter curiosidade muito forte, logo, gostam façam amizada com eles também tem mais facilidade apanha suas liguas, conhecer mais vugubrarios. Pelo outro razão, eles não tem um base tão resitente com os idades mais velho, mais rapito receber uma nova ligua. Como eles tem as caracteristica: tem amigos, facílmente hábito novo ambiente, não tem um base de ligua materna tão resitente, etc. Logo, eles mais rapito e mais facíl para estudar. Os idades mais velhos, já tem suas pesamentos, mais dificíl hábito novo ambiente, tevam preocupar família e escola, tem mais pressão, e tem um base mais bem estrutura... Também eles não gostam falar com os outros os alunos estrangeiros, porque eles gostam falar para suas melhor amigos. Assim, aperda uma boa menera para estudar liguas. Como eles mais dificíl hábito novo ambiente e tem uma boa base de ligua materna, logo, perta mais tempo para estudar um novo ligua. Eles tem um pesamento é errado porque eles pesam como já não conseguiam apahar, materia, então para escola só para passar tempo e para estudar ligua quando chegam 18 anos para trabalho. Como eles tem que preocupar família e escola também tem mais pressão, os porfessoras tevo mais preocupa-se e trabalho mais com eles, para ajuda- se escolher antam-se um correto caminho Os porfessores que modam os pessoas, os pessoas que modam o mundo, a educação não tem fronteira nacinal, a estudar também não tem fim. Teve respeitar cada culturas para ajudar os alunos estrangeiros conseguem falar suas liguas. Após a leitura deste testemunho, escrito no texto manuscrito com uma caligrafia irrepreensível, torna-se evidente o caráter repetitivo do conteúdo que se vai articulando na 20 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 dicotomia entre as/os experiências/comportamentos dos alunos mais velhos e dos mais novo. A nível do Conhecimento Explícito da Língua destacam-se, entre outras, as faltas de concordância, a ausência de proposições, a não acentuação gráfica (ou a incorreta acentuação) e a obliteração da consoante nasal na maior parte das palavras. Em face do exposto, como avaliar o processo de ensino aprendizagem a que foi submetida a aluna? Na nossa opinião, há duas situações a ponderar, uma em que o sucesso é evidente, outra em que é necessário consolidar as aprendizagens através do reforço das metodologias e estratégias. A aluna foi bem-sucedida no diz respeito à sua integração e à aprendizagem daquilo a que já nos referimos como “português funcional”, mas ainda não alcançou a fase da completa autonomia e da interiorização das regras do código linguístico do Português. Esta conclusão vem reforçar o que começámos por afirmar, que é necessário um apoio no terreno através da integração de professores com especialização na área do PLNM nas escolas onde a presença dos alunos estrangeiros se torna cada vez mais evidente e de que é igualmente premente i n c l u i r e s t a f a t i a i m p o r t a n t e d e d i s c e n t e s e m t o d o s o s p r o j e t o s educativos de abrangência nacional, com as adequações devidas, como sejam o já existente Plano Nacional de Leitura e o anunciado Plano Nacional do Cinema, de forma a garantir a equidade e igualdade de oportunidades. 1 1i O sítio da DGIDC, http://www.dgidc.min-edu.pt/, foi a nossa principal fonte de informação. No que diz respeito ao PLNM, a informação disponibilizada apresenta-se organizada em oito pontos: 1. Informações; 2. PLNM no Currículo Nacional (Orientações Programáticas - Ensino Secundário, Documento Orientador, Perfis Linguísticos); 3. Recursos; 4. População escolar de PLNM; 5. Projetos em parceria; 6. Publicações; 7.Legislação e 8. Ligações Úteis. Este relatório surge na sequência de um anterior, datado de 2005, que pela primeira vez trabalhou os dados recolhidos através de um inquérito a 1150 escolas e 15.357 alunos. Estes documentos oficiais provam como muito tardiamente se começou a trabalhar metódica a partir da caracterização da realidade que se vivia na nossa escola. ii Leia-se a mais recente legislação: Despacho Normativo n.º 12/2011, OfícioCircular OFCIRC/DGIDC/2011/GD/7, Ofício-Circular OFC-DGIDC/2011/GD/8, Ofício-Circular n.º OFC-DGIDC/2009/3, Ofício-Circular n.º OFC-DGIDC/2008/19, Despacho Normativo n.º 19/2008, de 19/03 (ponto 1.5.2 do Anexo II e ponto 20.5 do Anexo III), Ofício-Circular n.º OFC-DGIDC/2008/1, Ofício-Circular n.º 23/DSEE/DES/07. iii Dados disponíveis no sítio www.sef.pt. Relativamente a este número total, registou-se um decréscimo de 1,90% relativamente ao ano transato, uma diminuição explicada que pode ser explicada pelo aparecimento de uma nova tendência na evolução da população estrangeira. iv Um professor que é, antes de mais, um professor de Língua Portuguesa com uma conduta norteada pelos sete princípios do professor do século XXI: 1º Conhecer e utilizar bem a língua; 2º Estimular as competências comunicativas; 3º Praticar metodologias activas e diferenciadas; 4º Regular o processo de aprendizagem; 5º Gerir a(s) diversidade(s) e a(s) diferença(s); 6º Envolver(-se) em dinâmicas de 21 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 4.BIBLIOGRAFIA Capucho, Maria Filomena (2008), Língua, expressões linguísticas e diversidade cultural in Máio Ferreira Lages & Artur Teodoro de Matos, Portugal – Percursos de Interculturalidade Matrizes e Configurações, vol. III, Lisboa, ACIDI, I.P., PP. 233-298 Gouveia, Adelina, Luísa Solla (2004), Português Língua do País de Acolhimento, Lisboa, ACIME Grosso, Maria José, Ana Tavares, Marina Tavares (2009), O Português para Falantes de Outras Línguas – O Utilizador Independente no País de Acolhimento, Lisboa, Agência Nacional para a Qualificação Lobo, Aldina Silveira (Coord.) (2002), O Ensino e a Aprendizagem do Português na Transição do Milénio – Relatório do Português 2002, Lisboa, Associação de Professores de Português Mateus, Maria Helena Mira, Dulce Pereira, Isabel Letria (2008), O ensino do Português em contexto multilingue in Carlos Reis (org.), Actas da Conferência Internacional Sobre o Ensino do Português, Lisboa, Ministérios da Educação – DGIDC, pp. 87-115 Mateus, Maria Helena, Dulce Pereira, Glória Fischer (Coords.) (2008), Diversidade Linguística na Escola Portuguesa – Projecto do Instituto de Linguística Computacional (ILTEC) com a colaboração da DGIDC, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian Reis, Carlos (2008), Recomendação 2.5. Sobre o Multilinguismo nas escolas in Carlos Reis (org.), Actas da Conferência Internacional Sobre o Ensino do Português, Lisboa, Ministério da Educação – DGIDC, p. 240 Sanches, Andreia (2009), A minha escola em Portugal é esquisita, Reportagem publicada no jornal Público de 6 de setembro grupo;7º Construir a mudança. In Lobo, Aldina Soares (Coord.) (2002) , p.76. v A população chinesa em Portugal está contabilizada em 16.785 cidadãos. No distrito de Coimbra, que apresenta um total de 12,516 estrangeiros residentes, os chineses são em número de 541 (253 homens e 288 mulheres) vi Dados do Relatório da IGE de 2011. vii A divulgação dos dados referentes à aluna foi devidamente autorizada pelos Encarregados de Educação . viii A província de Zhejiang está situada na costa sudeste da China, na parte sul do delta do rio Yangtze. A avaliação indicada diz respeito ao 3º terceiro período letivo. No 9º ano, a avaliação das disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática é a final, depois de efetuada a média com a classificação obtida na frequência. ix 22 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Textos do Seminário Metodologias e materiais para o ensino do Português como Língua Não Materna, 29 e 20 de outubro de 2009, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian Vieira, Maria do Carmo (2010), O ensino do Português, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos Silva, Maria do Carmo Vieira, Carolina Gonçalves (2011), Diversidade Linguística no Sistema Educativo Português: necessidades e práticas nos ensinos básico e secundário, Lisboa, ACIDI Foram ainda consultados os sítios da DGIDC, www.dgidc.min-edu.pt/, que oferece toda a informação atualizada sobre PLNM, e dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras www.sef.pt. 23 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 5.ANEXOS Anexo I – Documentação chinesa e tradução portuguesa 24 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo II – Ficha de caraterização da aluna Ficha de caracterização sócio-linguística da aluna Xia Qingqing Naturalidade / Nacionalidade: chinesa Escolarização prévia: Tempo de permanência em Portugal: dois meses Língua materna: chinês Outras línguas faladas (grau de proficiência): inglês (iniciação) Agregado familiar Constituição do núcleo familiar: mãe, pai e dois irmãos mais novos. Percurso migratório do agregado: Grau de instrução dos pais: Profissão dos pais: comerciantes. 25 Língua materna dos pais: chinês. Língua(s) faladas em contexto familiar: chinês Outras línguas faladas pelos pais: Setembro de 2008 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo III – Análise dos resultados obtidos no Teste de Avaliação de Competências de PLNM Análise dos resultados obtidos no teste de Avaliação de Competências de PLNM (Nível A1) 7º ano de escolaridade ALUNA XIA QINGQING A aluna conseguiu: Indicar o nome e a idade; Identificar os objetos pertencentes à área lexical da sala de aula. A aluna não conseguiu: Indicar a nacionalidade e a morada; Ordenar correctamente os grafemas que constituem as palavras que identificam as estações do ano; Identificar as imagens que ilustram as várias estações do ano; Escrever correctamente as horas; Completar de forma lógica e ordenada o diálogo. Em conclusão: 1. O Teste de Avaliação de Competências veio confirmar a percepção de todos os professores do Conselho de Turma que, após um primeiro contacto com a aluna e ainda sem qualquer reposta por parte da DGIC, começaram a desenvolver um trabalho de iniciação à aprendizagem da Língua Portuguesa. 2. O Teste de Avaliação de Competências torna explícito que o trabalho a desenvolver se tem de centrar no domínio da compreensão escrita, aliada à oralidade, e no desenvolvimento e aprofundamento de áreas vocabulares já estudadas, mas que a aluna ainda não adquiriu. Montemor-o-Velho, 27 de Outubro de 2008 26 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo IV – Conteúdos Programáticos (1º Período) CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS A LECCIONAR NO 1º PERÍODO ALUNA XIA QINGQING C Considerando que: o Português é a língua veicular de conhecimento para as várias disciplinas do currículo; “as actividades a desenvolver no âmbito do PLNM correspondem à disciplina de Português, nos casos dos alunos do nível de iniciação ou intermédio” (ponto 6, do artigo 3º ,do Despacho Normativo 30/2007, de 10 de Agosto de 2007) Foi traçada uma planificação que integra os seguintes Conteúdos Programáticos: f UNIDADE DIDÁCTICA Actividades preparatórias O Alfabeto e os números CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS integração da aluna na turma e na comunidade escolar; reconhecimento do espaço físico da Escola; organização do horário escolar e do material necessário ao desenvolvimento dos trabalhos escolares. as vogais / grupos vocálicos as consoantes / grupos consonânticos os números o nome e o apelido Identificaçã o Descrição de objectos e pessoas A minha rotina diária a nacionalidade / naturalidade outros dados pessoais os adjectivos as horas os verbos 27 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Por outro lado, tendo em conta as competências a avaliar, compreensão oral, leitura, produção oral e produção escrita, as estratégias adoptadas centraram-se, sobretudo no desenvolvimento de áreas vocabulares gerais (Cores, Escola, Casa, Vestuário, Alimentação) e específicas de cada disciplina, na utilização de materiais em suporte digital (CD-R de carácter didáctico) e na odistribuição de materiais de apoio elaborados com o objectivo de familiarizar a aluna com a Língua Portuguesa e de dar início a um processo de autonomização. 28 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo V – Relatório de Atividades (1.º Período) Relatório das Actividades de PLNM Aluna Xia Qingqing (7ºB) O presente relatório faz o balanço das actividades desenvolvidas no âmbito de PLNM durante o 1º período lectivo, recordando algumas etapas do percurso efectuado. Só em Setembro, teve o Conselho de Turma conhecimento que a aluna integrava a turma 7ºB e que era a primeira vez que se matriculava numa escola portuguesa. Nem à Directora de Turma nem à designada Coordenadora de PLNM foram, nessa altura, entregues quaisquer documentos relativos ao processo da alunaix. Por isso, dando cumprimento às recomendações da DIGDC e ao estipulado no Despacho Normativo 30/2007, de 10 de Agosto de 2007, foi convocada uma reunião extraordinária, logo na primeira semana, para analisar a sua situação e traçar algumas estratégias de actuação. Foram tomadas as seguintes decisões: realização de uma avaliação qualitativa no 1º período, a qual reflectirá aspectos relacionados com o empenho e interesse manifestados; disponibilização de um computador portátil, de forma a possibilitar a utilização de um dicionário on-line; elaboração de listas vocabulares por cada elemento do Conselho de Turma; aquisição de todos os manuais escolares por parte da aluna; aplicação de um teste diagnóstico; agilização dos apoios atribuídos à aluna. A Directora de Turma organizou um dossier onde reuniu todos os documentos elaborados pelos membros do Conselho de Turma e adquiriu alguns livros recomendados para o ensino de PLNM, nomeadamente o livro Aprender Português 1, da Texto Editora. A Coordenadora de PLNM reuniu alguma bibliografia que transmitiu aos membros do Conselho de Turma (Aprender a ortografia do Português, Algumas características da Língua Chinesa), elaborou a Ficha de Caracterização Sócio-Cultural com os elementos disponíveis à data, bem com os Conteúdos Programáticos a leccionar, os quais incluíam as seguintes unidades: Actividades preparatórias, O alfabeto e os números, Identificação, Descrição de objectos e pessoas, A minha rotina diária). Dado o atraso do envio do Teste Diagnóstico pela DIGDC, a Coordenadora de PLNM, com base no trabalho desenvolvido pela aluna e na estrutura dos testes consultados, redigiu e distribuiu à aluna um Teste de Avaliação de Competências, procedendo à análise dos resultados obtidos. O Teste da DIGDC acabaria por ser recebido na última semana de Novembro e o seu conteúdo revelar-se-ia completamente desadequado ao nível de proficiência da aluna. De forma a melhorar a qualidade do apoio disponibilizado, a aula de apoio a Língua Portuguesa passou a ser leccionada à quinta-feira, das 14h45m às 15h30m. As professoras Cristina Relvas e Marta Pereira auxiliam a aluna na compreensão dos conteúdos das disciplinas da área das Ciências. Neste momento, a aluna já se encontra integrada na escola e na turma. Embora continue a revelar muitas dificuldades na aprendizagem da Língua Portuguesa, manifesta muita facilidade na aplicação de conteúdos da disciplina de Matemática. O trabalho desenvolvido tem explorado as possibilidades abertas pela utilização das TIC e tem utilizado a imagem como um suporte fundamental para a memorização do vocabulário essencial. A aluna tem realizado exercícios de escrita. Já reconhece o alfabeto e consegue ler correctamente algum léxico relativo às áreas vocabulares estudadas, mas tem dificuldade em ler e distinguir alguns grupos vocálicos e consonânticos. Montemor-o-Velho, 15 de Dezembro de 2008 29 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo VI – O meu bilhete de identidade 30 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 31 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo VII – Guião da Exposição – 50 anos de Astérix e Óbelix 1. Completa os espaços em branco. Selecciona as palavras correctas. cão / parede / biblioteca escolar / Gália / três / força / livros / bebeu / romanos / cartolinas / autores / personagens A exposição foi organizada pela . A exposição é formada por Nos placards e na estão expostas ___________e sobre as _. Astérix e Obélix vivem na Obélix Idéafix é um 2. expositores cheios de e lutam contra os uma poção mágica que lhe deu muita sobre os _. ________. . Sublinha os adjectivos que caracterizam Obélix. magro, forte, triste, alegre, gordo, simpático, divertido 3. . Copia o título de três das aventuras de Astérix e Obélix. 32 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 Anexo VIII – Ficha de verificação de leitura do livro Quem é o Marley? 33 Lisboa 9, 10, 11 de julho 2012 34