Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à
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Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(3): 116-120. Osterne ECV, et al. Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à Ablação Septal com Álcool no Distrito Federal. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(3): 116-120. Artigo Original Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à Ablação Septal com Álcool no Distrito Federal Evandro César Vidal Osterne1, Vicente Paulo da Motta1, Paulo Antonio M. da Motta1, Noeme Maria Acioli C. Osterne1, Ernesto Misael C. Osterne1, Tamer Najar Seixas1 RESUMO SUMMARY Objetivo: Relatar os resultados imediatos e a evolução em seis, 12, 24 e 36 meses de pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (CHO) submetidos com sucesso à ablação septal com álcool (ASA). Método: Em cinco anos, 40 pacientes portadores de CHO sintomática e refratária ao tratamento clínico foram submetidos com sucesso à ASA guiada por gradiente de pressão. Após comprovação do gradiente de pressão intraventricular por eco-Doppler e por manometria e identificado o ramo septal alvo no teste de isquemia, foram infundidos, em média, 3 ml de álcool absoluto intra-septal. Do total, 26 pacientes foram acompanhados clinicamente e por eco-Doppler aos seis, 12, 24 e 36 meses. Resultados: Nos 40 pacientes, o gradiente invasivo de pressão intraventricular basal exibiu redução de 69,35± 19,61 para 3,41±2,7 mmHg e pós-extrassístole ventricular passou de 114,43±19,68 mmHg para 8,76±6,48 mmHg, imediatamente após ablação. Deste total, foram selecionados 26 pacientes que foram avaliados aos seis, 12, 24 e 36 meses. Observou-se redução progressiva e estatisticamente significativa da espessura do septo interventricular e do gradiente de pressão de pico intraventricular ao eco-Doppler (p<0,005). Antes dos procedimentos, 23 pacientes se encontravam em grau funcional III e três em grau IV. Ao final dos 36 meses, 22 encontravam em grau I e os restantes em grau II. Conclusão: A ablação septal com álcool guiada por gradiente de pressão intraventricular se mostrou efetiva para o tratamento de pacientes portadores de CHO, com bons resultados em curto e médio prazos. Short and Mid-term Evolution of Patients Submitted to Percutaneous Transluminal Septal Myocardial Alcohol Ablation (PTSMA) at Brazil’s District Capital DESCRITORES: Angioplastia Transluminal Percutânea Coronária. Ablação por Cateter. Miocardiopatia Hipertrófica, terapia. Etanol, uso terapêutico. Objective: To report the immediate results and the followup at 6, 12, 24 and 36 months of patients with hypertrophic obstructive cardiomyopathy (HOC) refractory to clinical treatment, submitted successfully to percutaneous transluminal septal myocardial ablation (PTSMA). Method: Forty patients with refractory and symptomatic HOC were submitted to pressure gradient monitored PTSMA in a five-year period. After manometric and Doppler of intraventricular pressure gradient verification, and after the identification of septal branch through ischemic test, intra-septal infusion of 3 ml absolute alcohol was infused. Twenty-six patients were followed clinically and by echo-Doppler at 6, 12, 24 and 36 months. Results: Invasive gradient of baseline intraventricular pressure was immediately reduced from 69.35±19.61 down to 3.41±2.7 mmHg and, and ventricular post-extrasystole went from 114.43±19.68 down to 8.76±6.48 mmHg. Twenty-six patients were selected for evaluation at 6, 12, 24, and 36 months. Progressive and statistically significant reduction of interventricular septum thickness and of peak intraventricular pressure gradient were shown by echodoppler (p<0.005). Before procedures were carried out, 23 patients were in functional class III, and 3 in class IV. After 36 months, 22 patients were in class I and all the others in class II. Conclusion: Alcohol septal ablation in hypertrophic obstructive cardiomyopathy guided by intraventricular gradient pressure is effective and has reported good results at short and mid-term follow-up. DESCRIPTORS: Angioplasty, Transluminal, Percutaneous Coronary. Catheter Ablation. Ethanol, therapeutic use. Cardiomyopathy, Hypertrophic, therapy. 1 Instituto do Coração de Taguatinga, Brasília, DF. Correspondência: Evandro César V. Osterne. SRES, Qd. 12 - Bl. U, Casa 35, Cruzeiro Velho - Brasília - DF - CEP 70645-215. Fone: (61) 3352-7705 • E-mail: [email protected] / [email protected] Recebido em: 02/08/2005 • Aceito em: 13/10/2005 116 EvandroOsterne.p65 116 22/11/2005, 13:31 Osterne ECV, et al. Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à Ablação Septal com Álcool no Distrito Federal. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(3): 116-120. A blação Septal Transluminal Percutânea (ASTP) foi introduzida, em 1994, para pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva refratária, com indicação para tratamento cirúrgico. Inicialmente recebida com ceticismo, consagrou-se com o tempo como alternativa eficaz à miotomia/miectomia1-8. No entanto, a despeito do grande número de publicações, os resultados do procedimento em médio e longo prazos são escassos4-6. Os objetivos do presente trabalho são, além de descrever a metodologia empregada no nosso serviço, relatar os nossos resultados imediatos e em médio prazo obtidos com este tipo de tratamento. MÉTODO No período de cinco anos, 40 de 42 pacientes a nós encaminhados, portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva refratária ao tratamento clínico ou que desenvolveram reações adversas intoleráveis aos medicamentos empregados, foram submetidos à ASTP, em nosso serviço. As características clínicas e os critérios de inclusão podem ser observados nos Quadros 1 e 2, respectivamente. Todos os procedimentos foram guiados por gradiente pressórico intraventricular e angiografia, com acompanhamento por anestesista presente na sala de cateterismo. Devido ao risco de bloqueio atrioventricular avançado, cateter-eletrodo de marcapasso temporário foi deixado na ponta do ventrículo direito, após teste de captura ventricular. Os dados manométricos foram obtidos pelo registro simultâneo das pressões em aorta e ponta do ventrículo esquerdo. O ramo septal escolhido para “teste de isquemia” prévio à alcoolização foi, geralmente, o primeiro ramo ou maior ramo proximal. O teste de isquemia consistiu na insuflação e oclusão temporária do ramo septal com cateter-balão (sobre-a-guia / “over-the-wire”), observandose o comportamento do gradiente de pressão intraventricular por, no máximo, 30 minutos. O tempo de 30 minutos, mesmo com redução significativa do gradiente intraventricular, foi observado, pois está descrito que poderia antever a ocorrência de bloqueio atrioventricular avançado10. Ausência de redução significativa do gradiente de pressão durante o teste de isquemia nos obrigou a testar o ramo septal mais próximo. Antes da infusão de álcool intra-septal, injetamos pequena quantidade de contraste sob alta pressão através do balão insuflado, para ter uma idéia da área a ser necrosada (“blush”/“mancha”), bem como verificar se existe algum refluxo para a artéria descendente anterior. O passo seguinte foi a alcoolização propriamente dita que, nos nossos pacientes, variou de 2 a 5 ml de álcool absoluto infundido, com média de 3 ml. O balão foi mantido no ramo septal até a comprovação da redução do gradiente. Após a retirada do balão, procedemos à nova injeção de contraste na descendente anterior para comprovar a “amputação” do ramo septal (Figura 1). Os pacientes, em seguida, foram encaminhados à Unidade Coronária para observação. O tempo de per- QUADRO 1 Características clínicas dos pacientes submetidos a ablação septal transluminal percutânea (ASTP) ASTP →Características Clínicas N= 42 pacientes • • • • • • Idade (anos) Sexo (M/F) História (meses) História familiar de Morte Súbita MP - DDD Manifestações Clínicas - ICC - Síncope - TPSV - FA aguda - Angina - HAS • NYHA - Classe III - Classe III/IV - Classe IV • MEDICAÇÃO EM USO Betabloqueador, Ant. do Cálcio, Diurético →isolados ou associados. 38±18 24/18 16±7 9 6 29 8 7 3 27 10 21 15 4 QUADRO 2 Critérios de inclusão • Pacientes > 18 anos, refratários ao tratamento clínico, em classe III ou IV da NYHA; • Ausência de co-morbidades com indicação para tratamento cirúrgico (revascularizaçãoCoronária, valvopatia, etc.); • Hipertrofia septal assimétrica (relação septo/parede posterior > 1,3); • Movimentação sistólica do folheto anterior da valva mitral; • Gradiente ao Doppler > 30 mmHg (basal) ou > 60 mmHg (provocado); • Ramos septais “acessíveis”. 117 EvandroOsterne.p65 117 22/11/2005, 13:31 Osterne ECV, et al. Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à Ablação Septal com Álcool no Distrito Federal. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(3): 116-120. manência dependeu do quadro clínico e do retorno aos valores normais das taxas de enzimas cardíacas. A retirada do eletrodo de marcapasso se processou imediatamente antes da alta da Unidade Coronária. Nos nossos pacientes, o tempo médio de internação na UTI Coronária foi de 2 dias, com tempo total de internação hospitalar de 5 dias, em média. Em todos os pacientes, por ocasião da alta, fezse prescrição de betabloqueador em baixas doses (Propranolol/Atenolol) e programou-se o retorno mensal ao ambulatório. A cada 6 meses é feito eco-Doppler de controle. Do total de 40, 26 pacientes foram acompanhados clinicamente e por eco-Doppler, aos seis, 12, 24 e 36 meses. Os achados clínicos bem como de eco-Doppler foram avaliados, aplicando-se o teste T-Student para comparação de médias das medidas de espessura do septo interventricular e do gradiente de pressão (pico) antes dos procedimentos e 36 meses após (Quadro 3). Figura 1 - Técnica de ablação septal em paciente portador de cardioversor-desfibrilador. Na primeira coluna, angiografia e manometria, antes do procedimento. Na segunda coluna, teste de isquemia positivo, indicando o ramo a ser ablacionado. Por fim, na terceira coluna, o resultado final com amputação do ramo septal e a quase ausência de gradiente pressórico intraventricular. QUADRO 3 Ablação septal com álcool - Resultados Variável (meses) Espessura SIV (mm) Gradiente (Pico) (mmHg) Antes 6m 12 m 24 m 36 m P 2,93±0,27 90,69±23,47 1,82±0,21 8,45±1,10 1,34±0,20 5,20±0,60 1,10±0,20 5,10±0,40 1,0±0,3 4,80±1,3 < 0,005 < 0,005 SIV= Septo interventricular 118 EvandroOsterne.p65 118 22/11/2005, 13:31 Osterne ECV, et al. Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à Ablação Septal com Álcool no Distrito Federal. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(3): 116-120. RESULTADOS DISCUSSÃO Obtivemos sucesso inicial em 40 de um total de 42 pacientes selecionados para o procedimento. Os dois insucessos foram atribuídos a ramos septais finos, no primeiro paciente e a tortuosidade extrema da artéria descendente anterior, no outro caso. Ablação septal com álcool se consagrou como alternativa ao tratamento cirúrgico de pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva refratária. O adelgaçamento agudo do septo interventricular determinado pelo infarto septal localizado provoca redução imediata do gradiente de pressão intraventricular, do movimento anterior da valva mitral e do grau de regurgitação mitral, quando existentes. Isto se segue de redução significativa da sintomatologia, que se faz mais marcante à medida que o tempo passa. Já a partir dos primeiros meses, observa-se gradativa redução da espessura do septo interventricular e das demais paredes ventriculares em decorrência da redução da impedância à ejeção ventricular9-11. Como decorrência da redução da espessura das paredes e do remodelamento ventricular, a melhoria da função diastólica se associa à função sistólica preservada. Em 38 dos 40 pacientes, obtivemos sucesso com a alcoolização de um único ramo septal, em geral, o primeiro ou o primeiro de maior calibre. No total, o gradiente basal invasivo de pressão intraventricular diminuiu de 69,35±19,61 mmHg para 8,41±2,7 mmHg e, pós-extrassístole ventricular, passou de 114,43±19,68 mmHg para 9,76±6,48 mmHg, imediatamente após ablação. Ocorreu elevação das enzimas cardíacas com pico da CK-MB que variou de 960 a 1788 Us, nas primeiras 24 horas de evolução na UTI. Destacou-se como complicação aguda a incidência de bloqueio atrioventricular total em 75% dos casos (30 pacientes), sendo que em 3 (7,5%) pacientes este se tornou permanente. Seis pacientes apresentaram fibrilação ventricular durante a infusão de álcool, que foi revertida com desfibrilação elétrica. A redução da hipertrofia ventricular associa-se à redução das citocinas cardíacas, fator de necrose tumoral alfa, tamanho dos miócitos e do colágeno miocárdico12. Vários trabalhos comparativos comprovaram a eficácia do tratamento percutâneo com resultados semelhantes ao tratamento cirúrgico (Miotomia/Miectomia)12-14. Observou-se surgimento de bloqueio isolado do ramo direito do feixe de His em 28 pacientes (70% dos casos) e associado a bloqueio do sub-ramo anterior esquerdo em 19 (47,5%) doentes. Atualmente, se considera como maiores preditores de sucesso em longo prazo do procedimento os níveis de enzimas cardíacas, registrados na UTI e o grau de redução aguda do gradiente de pressão intraventricular, observado no laboratório de cateterismo cardíaco15. Por ocasião da alta hospitalar, todos os pacientes relataram redução significativa dos sintomas, principalmente no que diz respeito à dispnéia e dores torácicas. Para todos eles foi prescrito betabloqueador em baixas doses (Propranolol: 40 mg/dia ou Atenolol: 20 mg/dia). As complicações mais freqüentes do procedimento na nossa casuística foram o bloqueio atrioventricular total com necessidade de marcapasso temporário (30 pacientes, 75% dos casos) e de implante definitivo (3 pacientes, 10% dos casos). Do total de 40, 26 pacientes foram acompanhados no período de seis, 12, 24 e 36 meses. Os 14 pacientes restantes, por motivos diversos, não puderam ser incluídos neste estudo. Alterações significativas no acompanhamento foram observadas na capacidade funcional dos pacientes (NYHA), espessura do septo interventricular e gradiente pressórico intraventricular (eco-Doppler). Em relação à classe funcional (NYHA), ao final de 36 meses, 22 dos 26 pacientes se apresentavam em classe I e o restante em classe II. O bloqueio completo do ramo direito do feixe de His ocorreu em 70% dos casos e do ramo esquerdo em apenas dois deles. O contrário se observa com o tratamento cirúrgico, onde ocorre mais freqüentemente o distúrbio de condução do ramo esquerdo. Estes achados ajudam, portanto, a identificar pacientes de alto risco para implante permanente de marcapasso, a partir do padrão eletrocardiográfico prévio à ablação15-18. A espessura do septo interventricular e o gradiente de pico observados através do eco-Doppler também sofreram reduções significativas, conforme observado no Quadro 3. Foi registrado um óbito por morte súbita, aos cinco meses de evolução, de paciente masculino que se encontrava em classe I da NYHA. Não houve nenhuma recorrência do gradiente de pressão. A ocorrência de fibrilação ventricular durante a infusão de álcool intra-septal é pouco citada na literatura19. Na nossa casuística, no entanto, ocorreram seis episódios de fibrilação ventricular (15% dos casos), que foram revertidos com desfibrilação elétrica. Outros métodos de ablação septal são citados atualmente na literatura, com destaque para a monitorização do procedimento por eco-Doppler com contraste (“bolhas”) o que aumentaria a precisão e limitaria a extensão da necrose19,20. Também é citado o uso de dispositivos trombogênicos (“coils”), de stents revestidos e outros, com bons resultados22-24. 119 EvandroOsterne.p65 119 22/11/2005, 13:31 Osterne ECV, et al. Evolução em Curto e Médio Prazo de Pacientes Submetidos à Ablação Septal com Álcool no Distrito Federal. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(3): 116-120. Os nossos achados, na avaliação em médio prazo dos pacientes da nossa casuística (média de 36 meses), com manutenção dos resultados, evidenciou o benefício do tratamento principalmente porque a quase totalidade dos pacientes se apresentou em classe I da NYHA. 12. Podemos concluir, portanto, que a ablação septal transluminal percutânea com álcool guiada por manometria (gradiente pressórico) é alternativa válida para o tratamento de pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva refratária, com bons resultados a curto e médio prazo. 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14. 1. Sigwart U. Non-surgical myocardial reduction for hypertrophic obstructive cardiomyopathy. Lancet 1995;346:211-4. 2. Knight C, Kurbaan AS, Seggewiss H, Henein M, Gunning M, Harrington D et al. Non-surgical septal reduction for hypertrophic obstructive cardiomyopathy: outcome in the first series of patients. Circulation 1997;95:2075-81. 3. 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