A importância da interdisciplinaridade na prática da

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A importância da interdisciplinaridade na prática da
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
A importância da interdisciplinaridade na prática da reabilitação física de amputados
Silvana Maria Sasso
Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO – Paraná, [email protected]
Veridiana Lúcia Stachowski Kuss
Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO – Paraná, [email protected]
Jussara De Bortoli
Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO – Paraná, [email protected]
Emerson Carraro
Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO – Paraná, [email protected]
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
1. Introdução e Referencial Teórico
Vivemos em um mundo impulsionado por constantes transformações e adaptações, onde impera a
busca por tecnologias e conhecimentos cada vez mais avançados, os quais se aplicam a todas as áreas da
nossa sociedade/comunidade. A construção do conhecimento é um movimento constante, necessário e deve
prezar pela sua pertinência, ou seja, todo saber produzido deve contextualizar seu objeto. Sousa Santos
(2002) refere que a evolução da ciência deve ocorrer não somente no paradigma científico, mas
obrigatoriamente deve alcançar também o paradigma social, pois para ele, além de sobrevivermos
necessitamos saber viver.
Por muito tempo o estudo da ciência foi direcionado para a fragmentação dos fenômenos, atualmente
seu grande desafio é desconstruir esse modelo, pois se tem dado ênfase aos saberes disciplinares, mas a
realidade e os problemas que vivenciamos são cada vez mais polidisciplinares e globais. Foi decorrente
desta problemática que acabou por se perpetuar o enfraquecimento de uma visão global, gerando assim a
fragilidade do senso de responsabilidade e solidariedade (MORIN, 2003).
Desta forma se faz de extrema relevância o debate sobre a interdisciplinaridade, pois como afirmam
alguns autores que direcionam seus trabalhos a esta temática (CALLONI, 2006; FAZENDA, 1992; 1999;
MORIN, 2003; VASCONCELOS, 2002) é por meio das discussões que poderemos nos transpor a essa
realidade, pois a interdisciplinaridade é um eixo articulador e não excludente, e faz parte de um movimento
que busca a superação da disciplinaridade.
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Vale ressaltar que nos momentos atuais uma grande preocupação dos profissionais de saúde,
pesquisadores, docentes, governantes e da população é como encontrar uma maneira de oferecer uma
atenção à saúde adequada. E quando nos referimos mais especificamente ao atendimento a pessoas com
deficiência esta preocupação se faz mais evidente, uma vez que segundo Perez (2012) é grande a parcela da
população mundial que apresenta algum tipo de deficiência.
Neste sentido a interdisciplinaridade deverá ser desenvolvida a partir da verdadeira cooperação entre
os saberes, e isso só será possível se as pessoas que detêm diferentes conhecimentos trabalharem integradas.
Para que a saúde possa ser apreendida em toda a sua dimensão, são necessários saberes capazes de articular
dinamicamente as dimensões biopsicossocial dos indivíduos. Isso requer que o trabalho em saúde seja
desenvolvido por meio de práticas integradas e vejam o homem no seu contexto (CALLONI, 2006).
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) cerca de 15,3% da população mundial,
aproximadamente 978 milhões de pessoas apresentam algum tipo de deficiência (PEREZ, 2012). Conforme
o senso demográfico brasileiro realizado no ano de 2010, em nosso país 23,9% da população apresenta pelo
menos uma das deficiências investigadas, e mais especificamente quanto à deficiência física, esta acomete
7% de nossa população (BRASIL, 2012).
A deficiência integra o quadro de condições crônicas, e pode ser congênita ou adquirida, de ordem
transitória ou permanente e é classificada como deficiência visual, de linguagem, de audição, física, mental
ou múltipla (AMIRALIAN, 2000; CAVALCANTE et al., 2009; BRASIL, 2012). É conceituada como perda
ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, gerando níveis variáveis de
incapacidade e desvantagens àqueles que a apresentam (GALHEIGO, 2008).
Muitas vezes referenciada como perda, mutilação ou incapacidade, a amputação remete aos
pacientes, na maioria dos casos, pensamentos negativistas, de invalidez e exclusão. Sendo a amputação um
dos mais antigos de todos os procedimentos cirúrgicos (BRITO, 2005), a qual representou durante muito
tempo, e em certas ocasiões ainda representa a possibilidade de maior expectativa de vida para o homem,
pois proporciona ao individuo submetido a este procedimento uma melhor qualidade de vida.
O conceito referente à amputação diz respeito ao processo pelo qual se separa do corpo, mediante
algum procedimento cirúrgico ou decorrente de algum trauma, um membro ou parte deste. Seu conceito
atual é de cirurgia reconstrutiva e não de simples remoção, e deve ser o primeiro passo para o retorno do
paciente ao seu lugar na sociedade, no âmbito familiar ou acadêmico, sempre tendo em vista a sua
reinserção laboral, seja na função antes exercida ou em uma nova função condizente com suas limitações ou
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dificuldades (CHINI; BOEMER, 2007).
As amputações são consequências de má formação congênita, doenças vasculares, lesões traumáticas
e infecções. Estas complicações podem ter seus efeitos minimizados ou serem evitadas se diagnosticadas
precoce e corretamente (PASTRE, 2005). Assim, facilmente se compreende a necessidade de apoio que
essas pessoas necessitam, independentemente do grupo que estão inseridas na sociedade, pois estão
necessitando de cuidados.
Independente de seu conceito clínico ou de suas consequências, o indivíduo que é submetido à uma
amputação passa a vivenciar novos sentimentos, mudando rotinas e hábitos. Sentida como perda de uma
parte do „eu‟ e que não pode ser minimizada, esta situação implica sempre em uma desvantagem física
permanente, com alteração da satisfação das necessidades fisiológicas, psíquicas e sociais (BOCOLINI,
2000).
É neste contexto que o papel da equipe de saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais,
psicólogos, fisioterapeutas, entre outros) se mostra presente e de suma importância, enfatizando questões
educativas e que promovam o conforto e qualidade de vida, assim como para com os cuidados necessários à
pessoa que foi submetida à amputação, além de estar preparado para auxiliar na reabilitação deste indivíduo.
Devem ainda, prestar auxilio ao paciente em todas as suas necessidades, possibilitando assim, uma
reabilitação adequada e de qualidade. O importante é informar aos pacientes que as amputações
proporcionam qualidade e expectativa de vida sem dor e sofrimento (CARVALHO, 2003).
Muitas vezes essa nova realidade gera dúvidas, angústia e medo onde, pode ocorrer a instalação de
um quadro de dependência ou de incapacidade. O amputado passa a preocupar-se com a dependência, tendoa como um futuro associado ao sofrimento, ficando evidente a importância do desenvolvimento harmônico
do processo de reabilitação, pois reabilitar um paciente não é somente devolvê-lo à sociedade como uma
pessoa independente e produtiva, é equilibrar suas necessidades físicas, sociais e morais, apesar da ausência
de uma parte de seu corpo (CHINI; BOEMER, 2007).
De acordo com Bocolini (2000) é necessário aproximar-se do paciente amputado a fim de
proporcionar-lhe melhores condições de vida. Expor que a amputação lhe trará mais benefícios do que
limitações, ou seja, ele terá muito mais vantagens do que desvantagens com a realização deste procedimento,
já que a manutenção do membro em questão não será mais possível. Isto se faz necessário para que sua
perda física passe para um plano de menor importância, pois o preconceito interfere negativamente na
reabilitação.
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De acordo com Marques (2008), estudos que permitam conhecer mais profundamente as
experiências das pessoas para as quais os cuidados são dispensados, possibilitam uma atuação mais
consistente, realçando não somente a singularidade das pessoas em situação de vulnerabilidade ocasionada
pela amputação, bem como o contexto dos cuidados a serem prestados, efetivando desta forma sua
adaptação completa a nova realidade.
Desta forma, achamos de grande relevância o desenvolvimento de pesquisas científicas acerca da
reabilitação de pacientes que sofreram a amputação de algum membro de seu corpo, suas vivências e
principalmente quanto à importância do trabalho interdisciplinar na reabilitação destes indivíduos, haja vista
que uma equipe de profissionais da saúde, que trabalha tendo como foco a interdisciplinaridade, poderá
desenvolver suas ações de cuidado e orientação voltadas ao paciente amputado para ajudá-lo a se adaptar e
alcançar uma melhor qualidade de vida nesta nova fase.
Como a interdisciplinaridade não é um tema muito antigo, pois seu conceito surgiu no século XX e,
só a partir da década de 60, começou a ser enfatizado como necessidade de transcender e atravessar o
conhecimento fragmentado (MORIN, 2003), acreditamos que estudar a interdisciplinaridade na reabilitação
de pacientes amputados seja justificada pela real importância da problemática instalada, e por poucas
produções científicas acerca desta temática.
Uma vez que a amputação pode ser entendida pelo paciente como um evento devastador em sua vida,
ele necessitará de apoio e compreensão, tanto de seus familiares quanto dos profissionais de saúde que estão
próximos a ele, para ajudá-lo a encontrar o caminho para as adaptações às mudanças que se fizeram
necessárias, pois somente desta forma o amputado poderá encontrar o equilíbrio que o levará ao encontro de
sua auto-aceitação, e neste sentido acreditamos que um trabalho interdisciplinar desenvolvido junto a este
paciente o auxilia em todo este processo.
2. Objetivos e Procedimentos Metodológicos
O principal objetivo deste estudo realizado no ano de 2012 foi conhecer as vivências dos indivíduos
que foram submetidos a algum tipo de amputação, buscando a identificação da interdisciplinaridade no
contexto da reabilitação física oferecida pelo Projeto Órtese e Prótese (POP).
Para conseguirmos alcançar os objetivos do presente estudo, consideramos que a abordagem
qualitativa seja a mais adequada, uma vez que procura centrar a atenção na especificidade, no individual,
almejando sempre a compreensão dos fenômenos estudados. Pois como Minayo (2004) afirma este tipo de
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abordagem é capaz de “incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às
relações, e às estruturas sociais” (p.10).
Outro aspecto relevante que achamos adequado enfatizar sobre a pesquisa desenvolvida, uma vez que
se trata da abordagem de um grupo específico de sujeitos, os quais podem se encontrar em condições
vulneráveis, é sobre uma das principais características da pesquisa qualitativa, a criação de um vínculo com
o pesquisador como condição para o desenvolvimento da pesquisa, pois como Gonzáles Rey (2005, p. 85)
afirma “uma das características da pesquisa qualitativa é seu acesso a temas que são íntimos e muito
sensíveis para as pessoas pesquisadas”, sendo necessário um envolvimento entre pesquisador e pesquisado,
onde se possa identificar confiança e segurança na relação firmada.
Para chegarmos às particularidades da problemática estudada, entendemos que o estudo de campo
seja o tipo de pesquisa mais adequado para o nosso estudo, uma vez que segundo Minayo (1996, p. 53) o
estudo de campo pode ser compreendido como “o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço,
representando uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o
objeto da investigação”.
O estudo foi desenvolvido no Projeto Órtese e Prótese (POP) que é um projeto de extensão
universitário permanente com caráter de prestação de serviços, lotado no Departamento de Enfermagem da
UNICENTRO. Este projeto está em funcionamento desde o dia 15 de julho de 2003, onde o serviço é
ofertado à comunidade regional; é credenciado junto ao Ministério da Saúde e tem objetivo de realizar
avaliação, adequação, treinamento, acompanhamento e dispensação de órteses, próteses e meios auxiliares
de locomoção às pessoas com deficiência física natural ou adquirida.
Os serviços são oferecidos à população dos municípios que compõe a 5ª Regional de Saúde, que são:
Boa Ventura de São Roque, Campina do Simão, Candói, Cantagalo, Foz do Jordão, Goioxim, Guarapuava,
Laranjal, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Nova Laranjeiras, Palmital, Pinhão, Pitanga, Porto Ribeiro,
Prudentópolis, Reserva do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Turvo e Virmond. Desta forma, o projeto está
disponível a uma população de aproximadamente meio milhão de habitantes.
Nestes 10 anos de funcionamento do serviço já foram realizados mais de 75.000 atendimentos, entre
sessões de fisioterapia, psicoterapia, atendimentos de enfermagem, avaliações médicas e intervenções
sociais. Atualmente, o projeto tem cadastrado mais de 4.200 pacientes.
O encaminhamento a este serviço é realizado pelas prefeituras dos municípios atendidos, postos de
saúde e serviços de assistência social, para ser avaliado por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar,
composta de médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo e assistente social; é necessário que o paciente
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apresente: Registro Geral (RG) ou certidão de nascimento, Cadastro de Pessoa Física (CPF), cartão do
Sistema Único de Saúde (SUS), comprovante de residência e encaminhamento médico para que sua
solicitação seja efetivada.
Na consulta, o médico indica e solicita o melhor meio auxiliar de locomoção, tomando como
prioridade a necessidade e as condições físicas do paciente. A partir da indicação, a pessoa em tratamento
começa a receber acompanhamento fisioterápico, psicológico e de enfermagem, com vistas à reabilitação
total. Durante o processo de recuperação, o assistente social trabalha em conjunto para reinserção social e
laboral do indivíduo. Quando o paciente apresentar condições físicas e psicológicas para receber a órtese ou
prótese, é feito o fornecimento do equipamento, com recursos do SUS, ou seja, sem custo para o paciente.
O POP faz parte do Serviço de Reabilitação Física da UNICENTRO, que conta ainda com a Clínica
Escola de Fisioterapia e com o Ambulatório de cuidados de Enfermagem a Pacientes Portadores de Feridas
Crônicas. Esses serviços são oferecidos à população na modalidade de projetos de extensão permanentes e
funcionam nas dependências do Campus CEDETEG, em Guarapuava.
Para alcançar os objetivos propostos por esta pesquisa, optamos por utilizar a técnica de entrevista
com roteiro para a coleta das informações, juntamente com a técnica da observação participante, e com
utilização do diário de campo. Os dados para a pesquisa foram coletados primeiramente no POP, e com
posterior abordagem dos indivíduos selecionados para o estudo, para que o convite à participação da
pesquisa fosse formalizado, bem como explanação dos objetivos da mesma, onde foi obtida a autorização
por escrito dos participantes e aplicação do questionário através da realização da entrevista.
O instrumento utilizado para coleta de dados foi um questionário semiestruturado, contendo
perguntas abertas e fechadas que contemplam os objetivos propostos pelo estudo, instrumento que foi
elaborado pelos responsáveis pela pesquisa.
Minayo (1996, p. 87) considera a entrevista uma “conversa com finalidade”, partindo de um roteiro
que serve de facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação. A mesma autora
em trabalho semelhante relata que a observação participante “é uma estratégia de observação como forma
complementar de captação da realidade empírica” (MINAYO, 2004, p. 135).
A entrevista com roteiro possibilita que se discorra sobre o tema proposto, sem respostas ou
condições pré-fixadas pelo pesquisador, embora este se mantenha atuante, permitindo, ao mesmo tempo,
revelar a situação do entrevistado. As entrevistas e aplicação dos questionários foram gravadas e,
posteriormente transcritas e analisadas, com a técnica de análise de conteúdo.
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Com o presente estudo, que objetiva uma abordagem com seres humanos, as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas desta natureza, contidas na resolução do Conselho Nacional de Saúde, nº
466/2012, foram mantidas e respeitadas.
3. Justificativa do eixo escolhido
Acreditamos que a escolha pelo eixo temático “Teoria e Prática da Interdisciplinaridade” seja
conveniente, pois nos permite abordar a interdisciplinaridade como instrumento articulador e facilitador
utilizado pelos profissionais da saúde que atuam no Serviço de Reabilitação Física da UNICENTRO, serviço
este que tem grande importância regional, pois é o serviço conveniado ao Sistema Único de Saúde que
presta atendimento a uma população de aproximadamente meio milhão de pessoas.
Oferecer aos amputados um atendimento interdisciplinar é de suma relevância, pois como afirmam
Chini e Boemer (2007) a perda de parte do corpo é dolorosa e impõe ao amputado um novo modo de viver,
de estar no mundo, de se relacionar alterando e distorcendo sua existência, a partir deste momento o
indivíduo deverá se adaptar, readaptar, aprender a viver novamente assumindo uma nova perspectiva do
mundo para si, para os outros, para os objetos e para o futuro. Neste sentido uma equipe de saúde que
trabalhe de forma interdisciplinar, conseguirá proporcionar ao seu usuário a reabilitação tão almejada.
4. Resultados e Discussão
O grupo estudado foi composto por 15 pessoas com idade média de 56 anos, variando entre 21 a 82
anos. Dos entrevistados 93% são homens, 60% deles são casados ou moram com cônjuge, 73% têm filhos
sendo uma média de quatro filhos.
Quanto ao tempo de amputação este variou entre 1 ano até 27 anos, sendo a média de 11 anos, destas
amputações 33% são decorrentes de doenças vasculares, 26% de acidentes de trabalho, 20% devido
acidentes de trânsito, aparecendo em proporções menores e iguais acidente com animais peçonhentos,
infecção e câncer com 7% da amostra. Toda a amostra pesquisada apresenta amputação em membro inferior,
sendo que o nível de amputação da amostra corresponde a 31% abaixo do joelho curta, 37 % abaixo do
joelho longa, 25 % acima do joelho longa e 7% apresentava desarticulação coxofemoral. No entanto vale
ressaltar que um dos indivíduos desta amostra apresenta amputação bilateral de membros inferiores.
Ao serem questionados quanto ao que sentiram anterior e posteriormente a cirurgia de amputação, os
entrevistados referiram sentimentos parecidos nas duas fases, entre eles medo, conformação e desanimo,
mostrando poucas mudanças nestas duas fases. Este fato pode ser devido aos entrevistados relembrarem os
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sentimentos vivenciados logo após a amputação, ou seja, no pós-operatório imediato.
Quanto ao que foi sentido por eles antes da amputação a maioria relatou se sentir conformado e
aliviado. Sentimentos que estavam relacionados com a expectativa pelo fim das dores. Sentimentos de
tristeza, perda e mutilação do corpo foram citados em proporções consideráveis, igualmente como sinais de
depressão: falta de estímulo para as atividades corriqueiras, desespero, irritabilidade frequente frente a
problemas simples do dia-a-dia.
Indicaram que de uma forma ou de outra tiveram que aceitar a perda do membro, o que foi
perceptível através das indicações de sentimentos de conformação com a situação enfrentada. Alguns
entrevistados sentiram-se excluídos ou descriminados e apontaram a tentativa de negar a existência da
necessidade de realização do procedimento cirúrgico, pois relacionaram o evento da amputação de um
membro com menores oportunidades de conseguir um emprego futuramente. Enfatizaram ainda que o apoio
e o trabalho da equipe de saúde do POP fez diferença durante este processo de adaptação.
O momento que antecede a amputação é muito complexo e tumultuado, e faz surgir insegurança,
ansiedade e sensações dolorosas, muitas vezes não somente dor física, mas também psicológica. Segundo
Silva (2010), o bem-estar é muito mais que a simples ausência de sensação dolorosa, é um estado composto
de completa harmonia entre o corpo e a mente, pois o turbilhão de emoção emanado ultrapassa os aspectos
físicos, relacionando-se intimamente com o emocional do ser. Assim, quando o indivíduo apresenta
insatisfação ou alguma enfermidade relacionada ao seu corpo, logo esse desequilíbrio instalado irá interferir
diretamente em seu psiquismo.
Podemos perceber na maioria dos relatos que antes da cirurgia eles apresentavam inúmeros
sentimentos concomitantes, às vezes até sentimentos opostos, e que esse emaranhado de sensações deixavaos confusos, inseguros e vulneráveis.
Essa nova condição de vida pela qual os pacientes serão submetidos lhes remete insegurança quanto
ao novo estilo de vida, preconceito relacionado ao próprio corpo, fazendo com que a imagem que têm sobre
suas delimitações fiquem destorcidas. De acordo com Albuquerque e Falkenbach (2009), a imagem corporal
é a representação mental do corpo, é a forma como vemos e pensamos o nosso corpo, também é a forma
como acreditamos que os outros nos vêem. Com a perda de uma parte do corpo o indivíduo pode ter uma
brusca alteração da imagem corporal, pois é através dela que se desempenham funções importantes na vida.
Ela serve como modelo para a execução de uma atividade motora consciente, que é ensaiada
subconscientemente antes de sua execução.
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As pessoas amputadas trazem inscritas em seus corpos características que as diferenciam de outras
pessoas. Chini e Boemer (2007) acrescentam que perder parte do corpo é doloroso e impõe um novo modo
de viver, de estar no mundo, de se relacionar. Para o paciente amputado falar sobre o corpo amputado é uma
tarefa difícil e nomeá-los deixa aparentemente mais visíveis as diferenças e imperfeições, ou seja, perder
parte do corpo altera toda uma existência.
Quanto ao relatado pelos entrevistados após a cirurgia de amputação, os sentimentos de alívio,
conformação e tranquilidade foram mencionados em maiores proporções, sempre relacionados com a
diminuição da dor. Entretanto sentimentos de desanimo, nervosismo e medo da invalidez foram lembrados,
assim como a presença das dores fantasma.
Chini e Boemer (2002) enfatizam que a amputação interfere na relação entre o indivíduo que perdeu
os membros inferiores e o seu corpo, pois esta se torna alterada, modificando inclusive a forma de olhar o
mundo, as pessoas, e as coisas do cotidiano. A perda de um membro acaba por distorcer a sua existência,
quando a partir deste momento, o indivíduo deverá se adaptar, readaptar, aprender a viver novamente
assumindo uma nova perspectiva do mundo para si, para os outros, para os objetos e para seu futuro.
Apesar da cirurgia de amputação ser vista como traumática e dolorosa, na maioria dos casos em que
é realizada, ela tem como prioridade tratar a causa que compromete a vida do paciente, e talvez se a conduta
adotada fosse a manutenção do membro afetado, o paciente poderia estar correndo sérios riscos de evoluir
para o óbito.
Logicamente a amputação é uma situação que nenhum ser humano está naturalmente preparado para
enfrentar, pois utilizamos nossos membros, inferiores ou superiores, em todos os momentos da nossa vida,
para realizar tarefas desde as mais simples até as mais complexas. Portanto, quando o individuo encontra-se
diante deste quadro, ele experimentará um estado de desequilíbrio, insegurança e principalmente medo da
perda, e só conseguirá suportar e vencer esse desafio com apoio, ajuda, incentivo e aceitação, tanto por parte
de si mesmo quanto advindo das pessoas ao seu redor.
Inúmeras mudanças são relatadas no cotidiano de pessoas que sofreram amputação, as mais
expressadas pelos participantes da pesquisa neste contexto foram às dificuldades relacionadas à realização
das atividades de vida diária, entre elas foram afetadas a locomoção e o trabalho, ou até mesmo a
oportunidade de conseguir um emprego. Cerca de 80% dos entrevistados citaram estas como as principais
dificuldades enfrentadas por eles. Em menores proporções foram evidenciadas as dificuldades em realizar as
necessidades corporais básicas tais como ir ao banheiro, tomar banho, e atividades de lazer como sair para
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passear, dançar, praticar esportes entre outros.
Conforme o cenário que vivemos na atualidade, o da produção capitalista, um indivíduo considerado
apto para o trabalho é aquele que tem um corpo forte, jovem e sadio. Ao defrontar-se com o tema trabalho,
Silva (2010) refere que, quanto maior a intensidade de utilização do corpo, mais o perfil mecanicista deste se
manifesta na idéia de força. Um corpo forte aproxima-se da idéia de um corpo máquina, mesmo não
aplicando de forma direta o intelecto na atividade laborativa, a força muscular é investida no rendimento do
trabalho.
Portanto, é justificável a preocupação dos entrevistados frente a sua situação trabalhista, pois podem
não apresentar as condições necessárias para continuar desenvolvendo a mesma atividade laboral que era
exercida antes da amputação, ou as limitações expressadas por eles podem ser tão significativas a ponto de
impedi-los de realizar qualquer trabalho. Muitas vezes as opções de empregos que surgem necessitam que o
amputado contemple algumas exigências, como ter pouca idade, ser alfabetizado ou possuir grau de
escolaridade elevado e não apresentar limitações significativas.
Foram mencionados pelos pacientes como dificuldades enfrentadas por eles no seu dia-a-dia, fatores
ou aspectos que se encaixam nas questões referentes às barreiras arquitetônicas. Foi observado nesta
pesquisa que a necessidade de subir escadas ou de locomover-se em via pública remete-os a ter que
enfrentar obstáculos físicos decorrentes da falta de acessibilidade, como nos locais que não possuem
elevador ou rampa de acesso, não ter barras de proteção ou corrimão, ter que desviar de buracos e objetos
dispostos em locais que impedem a passagem do cidadão, esteja ele fazendo uso de cadeira de rodas para
transporte, utilizando uma prótese ou até mesmo aquela pessoa que não apresenta deficiência alguma.
As dificuldades expressadas anteriormente acarretam em mudanças de vida, essas dificuldades estão
relacionadas com algumas interferências nas atividades diárias, pois 67% dos amputados referiram que a
amputação dificulta, mesmo que em graus variados, a realização de tarefas rotineiras como equilibrar-se,
levantar da cama, manutenção da marcha durante a deambulação, deambular com mais rapidez que o normal
e em superfícies fofas ou lisas, e utilizar o transporte coletivo.
Devido às dificuldades em realizar atividades do cotidiano, algumas adaptações na vida e no
ambiente dessas pessoas precisam ser efetuadas, pois inicialmente o amputado necessita do auxílio de um
cuidador, que geralmente é um membro da família, para realizar ou auxiliar na realização de todas ou quase
todas as atividades diárias, como podemos observar através dos relatos:
A questão da dependência está fortemente ligada com a capacidade ou não do amputado em realizar
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as atividades diárias, ou seja, atividades que permitam o atendimento das suas necessidades básicas por meio
do funcionamento corpóreo. Entretanto, a necessidade que o amputado sente de auxílio modifica a maneira
de pensar sobre seu corpo, pois como Silva (2009, p. 405) afirma: “a imagem que o indivíduo amputado
passa a ter de si é de uma pessoa deficiente, incapaz, muitas vezes se tornando um incômodo para a família e
as pessoas próximas a ele. Depender de alguém até para a mais simples das atividades gera um sentimento
de inutilidade, tristeza e até mesmo rejeição do próprio corpo”.
Para que esses cidadãos retornarem a realizar as atividades que lhes eram cotidianas a necessidade de
construção de políticas públicas que garantam justiça social, igualdade de oportunidades e ao mesmo tempo,
aprender a conviver com as diferenças. Uma vez que a inclusão do amputado deve ocorrer de forma que às
diferenças e as necessidades de cada um sejam respeitadas, e não na tentativa de igualar todos
institucionalmente, pois as necessidades de cada indivíduo são diferentes (RODRIGUES, 2009).
O mesmo autor ainda diz que este é um processo que exige ajustes nas redes de assistência e
providências que possibilitem o acesso imediato e definitivo a convivência. O fortalecimento das unidades
básicas de saúde e o desenvolvimento de serviços especializados se fazem necessários para que o contexto
da dependência se transforme em uma maior autonomia nas ações do cotidiano, inclusão social, geração de
renda e como consequência a melhor qualidade de vida.
Como forma de alcançar uma qualidade de vida satisfatória através da independência, concordamos
com Mendes (2009), que enfatiza que os profissionais da saúde devem ter uma atuação especial junto ao
paciente amputado e suas famílias, orientando-os no processo de reabilitação e promovendo a sua
independência e autonomia.
Logo após a perda do membro o paciente necessitará de toda a ajuda que possa ser fornecida a ele,
pois estará recuperando-se do procedimento cirúrgico com queixas prováveis de dor, cansaço, sonolência ou
a falta do sono, e também pode apresentar tristeza e choro fácil levando ao desejo por isolamento, que pode
ser decorrente da sensação de incapacidade, inutilidade, invalidez e não aceitação da autoimagem devido a
alteração corporal causada pela amputação.
Essas queixas e sentimentos irão permanecer por alguns dias e assim que o paciente comece a se
sentir melhor e apresente condições psicológicas, fisiológicas e físicas, este deve ser incentivado, tanto pelos
profissionais de saúde quanto por seus familiares e cuidadores, a realizar, mesmo que de forma parcial,
ações que satisfaçam as suas necessidades. Desta forma o paciente estará sendo encorajado precocemente a
tornar-se novamente independente, o que resultará no anseio pela realização de seu autocuidado,
aumentando a sua autoestima e melhorando a aceitação da mudança de seu corpo.
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Diogo (1997) discute alguns aspectos que podem promover o aumento do desempenho dos
amputados na realização de atividades relacionadas ao autocuidado, uma vez que a maioria deles necessita
de ajuda, ainda mais naqueles casos que o paciente apresenta idade avançada. Portanto, no momento do
banho o amputado deverá ser capaz de locomover-se até o banheiro ou então a realização da higiene
corporal deverá ser realizada no leito, em ambos os casos necessitará de ajuda. Concordamos com o autor
quando cita que adaptações simples como a utilização de cadeira de banho, ausência de degraus, corredores
e portas largas e facilidade no acesso ao banheiro, auxiliam o paciente a realizar sua higiene corporal de
forma independente ou necessitando de ajuda somente para levá-lo até o banheiro.
Assim como a necessidade de auxílio, algumas mudanças simples podem ser realizadas no ambiente
onde o amputado vive, adaptações que irão colaborar para a melhoria da qualidade de vida deste paciente.
Mudanças como o aumento no diâmetro das portas para passagem da cadeira de rodas; deixar utensílios,
aparelhos domésticos e eletroeletrônicos ao alcance do paciente; a retirada de escadas e degraus do
domicilio; a retirada de tapetes e móveis entre outros fatores estarão auxiliando na deambulação do
amputado.
De acordo com Cavalcanti (2001) a dificuldade em locomover-se é muito preocupante, uma vez que
é por meio da locomoção que o indivíduo tem acesso aos diferentes locais para a realização das suas
atividades diárias. Quando o paciente, seja ele idoso ou amputado, encontra-se restrito a acessórios como
cadeira de rodas, muletas ou próteses, este poderá apresentar um declínio funcional na sua mobilidade e
consequente confinamento em casa, na cadeira ou na cama. Estes problemas podem levá-lo a acomodar-se e
não desenvolvendo sua capacidade para o autocuidado. Esta situação pode ser observada através do que cita
Cavalcanti (2001, p. 169): “desta maneira está "entregue" aos seus familiares, dependente para a maioria das
atividades da vida diária e ainda abrindo mão da sua autonomia, muitas vezes para manter e garantir a
assistência até então realizada a ele”.
Atividades sociais, familiares, compromissos de trabalho e de lazer que os pacientes eram
acostumados a realizar antes da amputação podem ser interrompidas após a cirurgia, essa interrupção pode
ser atribuída às dificuldades geradas devido à ausência do membro, ou ao fato de os familiares não
permitirem esta continuidade.
Para Diogo (1997) essa situação faz surgir no paciente um forte sentimento de incapacidade que,
muitas vezes, é reforçado pelos familiares que ao tentar "poupar" o amputado, o deixam sentado ou deitado,
sem qualquer atividade. Isso é ilustrado através da seguinte citação do mesmo autor: “em muitas situações as
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atividades realizadas se restringem a aquelas relacionadas ao lazer e recreação, como assistir a televisão ou
ouvir rádio” (1997, p. 97).
No entanto, cabe neste momento salientar a importância em manter o indivíduo sentindo-se útil, com
alguma atividade a ser desenvolvida, mesmo que esta seja composta de pequenas obrigações, pois a
ausência de atividades pode remeter a sentimentos como inutilidade, impotência e solidão (SALGADO,
1988).
Quando o amputado é estimulado a ter o domínio sobre a sua autonomia, quando ele é o responsável
pela tomada de decisão em seu cotidiano, e quando ele é incentivado a ter uma vida ativa, seja nas relações
familiares, sociais, amorosas ou trabalhistas, este terá a oportunidade de demonstrar aos outros e a ele
próprio que é capaz de realizar qualquer atividade, desde que dentro de suas capacidades.
Ainda no que diz respeito às mudanças e dificuldades vivenciadas pelos pesquisados posteriormente
a cirurgia de amputação, os mesmos lembraram-se da questão da adaptação a nova condição física,
adaptação esta relacionada à protetização, pois o fator que foi amplamente lembrado foi o auxílio que a
prótese proporcionou ao desempenhar as suas atividades rotineiras:
Concordamos com Albuquerque e Falkenbach (2009), quando refere que a amputação provoca uma
modificação permanente na aparência do indivíduo, sendo refletida em alteração de sua autoimagem. Esses
pacientes precisam conviver com situações que lhe eram habituais, reconstruindo esquemas e possibilidades
motoras para cada nova situação vivenciada, quando se adaptam a essa nova condição corporal causada pela
amputação. Desta forma faz-se necessário toda uma nova adaptação e aprendizado através do uso da prótese,
para que ele possa voltar a ficar em pé, reaprender a equilibrar-se, treinar novamente a marcha, tendo a
possibilidade de deambular sozinho sem necessitar da ajuda de outras pessoas.
Oliveira (2000) diz que a conscientização e aceitação da amputação pelo paciente são de grande
relevância para que a reabilitação ocorra, e esta se tornará mais eficiente à medida que a movimentação
corporal deste indivíduo se inicie, devendo estar sob a orientação de um profissional de fisioterapia, o qual
tem um papel significativo neste processo.
Com o aumento da movimentação do amputado, por meio de exercícios como o fortalecimento
muscular do coto, o alongamento dos outros membros e o treinamento de equilíbrio e técnica para
deambulação, o paciente acaba tornando seu corpo mais ativo, sadio, forte e resistente, proporcionando a ele
a capacidade de locomover-se sem precisar estar sempre acompanhado, o reencontro com seus desejos e
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sonhos e, principalmente a aceitação de sua imagem corporal.
Os entrevistados foram questionados quanto à atuação da equipe multiprofissional no decorrer do
processo de reabilitação. Foram estimulados a informar se houve algo que poderia, mas que não foi feito
pela equipe durante este período. Encontramos resultados relevantes, pois cerca de 70% dos entrevistados
consideraram que receberam um bom atendimento dos profissionais, e que consideram a equipe de
reabilitação eficiente, por esclarecer as dúvidas tanto do paciente quanto de seus familiares.
O papel a ser desempenhado por uma equipe que trabalhe de forma interdisciplinar é o de assistir
seus pacientes de forma integral, contínua e resolutiva, pois aqueles que necessitam de hospitalização
apresentam também a necessidade de acompanhamento e cuidados específicos para que sua saúde seja
restabelecida. Esse cuidado deve ser realizado de forma que solucione todas as alterações apresentadas pelo
paciente.
No desenvolvimento de um relacionamento terapêutico entre o paciente e a equipe, os últimos devem
ter sempre em mente que estão interagindo com um ser humano, e para que possa assisti-lo de modo eficaz é
preciso que se desenvolva a aceitação entre as partes envolvidas.
Para que o trabalho da equipe esteja sempre atualizado, correspondendo com as expectativas e
atendendo as necessidades dos usuários torna-se imprescindível que se assuma a responsabilidade de uma
educação contínua, ajudando a melhorar o padrão de assistência prestada no hospital e comunidade,
promovendo a valorização dos recursos humanos em saúde.
Segundo Diogo (1997), durante o processo de reabilitação os profissionais envolvidos devem atuar
junto ao amputado e seus familiares, apoiando suas decisões, respeitando deste modo a autonomia de cada
um, num processo educativo e condizente com as necessidades de cada pessoa. Devendo ser consideradas as
suas limitações físicas, psíquicas e ambientais, as quais seriam as dificuldades que podem interferir na sua
adaptação à nova situação.
Faz-se necessário ressaltar neste momento que o processo de reabilitação compreende todas as
medidas destinadas a reduzir os efeitos das alterações ou patologias que produzem incapacidades e permitir
ao paciente sua integração social. A reabilitação também pode ser entendida como um processo educativo,
criativo, dinâmico e progressivo voltado para a identificação e exploração do potencial do individuo
portador de incapacidade, com vistas à sua integração ou reintegração na comunidade, dando-lhe a
oportunidade de tornar-se ou continuar produtivo e socialmente ativo (MELO; MARTINS, 2009).
Para que este processo seja eficiente e alcance o êxito desejado ele deve ser de responsabilidade de
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uma equipe multiprofissional que atue de forma interdisciplinar, a qual atuará cada um em sua área
específica, de maneiras diversas, em momentos distintos, mas todos com o mesmo objetivo, o de colaborar
para a restauração da independência do paciente ou recuperação do seu nível de função pré-enfermidade ou
pré-incapacidade no menor tempo possível.
Além disso, o apoio da família neste contexto e o interesse do próprio paciente são fatores que devem
ser incentivados pela equipe durante as orientações repassadas, especialmente quanto a questões
relacionadas ao autocuidado e possíveis adaptações.
5. Considerações Finais
Faz-se necessário que os serviços de saúde estejam preparados para atender os pacientes amputados,
contando com uma equipe multidisciplinar que trabalhe de forma interdisciplinar, que poderá oferecer uma
assistência diferenciada, contribuindo muito para sua inclusão no convívio familiar e social, onde se possa
trabalhar com esses pacientes além de sua parte motora. Portanto, devemos considerar a amputação não
como o fim, mas sim o princípio de uma nova fase que, se de um lado mutilou, de outro salvou a vida ou deu
alívio a dor e ao sofrimento.
Para a construção de um modelo de atenção fundamentado na promoção da saúde e que atenda a
todas as necessidades dos usuários, é necessária uma abordagem ampla e integradora dos saberes, cada
profissional, com seu saber específico, compondo diferentes perspectivas, na construção de um projeto
comum.
Quando um serviço está comprometido com a humanização, sua definição é compreendida como um
espaço de convivência que acolhe, cuida e possibilita a utilização de diversos recursos, não se focalizando
apenas na ocorrência da doença.
É deste trabalho pensado conjuntamente que o paciente que apresenta alguma necessidade especial
necessita para recuperar sua autonomia, e o profissional de saúde acaba por experimentar a sensação de que
seu trabalho é valorizado e mais do que tudo, que faz a diferença no cotidiano de seus clientes, se tornando
uma referência para os mesmos.
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