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Regulação, supervisão e o papel dos bancos centrais Richard Baldwi1 A manutenção da estabilidade financeira é uma grande preocupação e os bancos centrais têm sido cada vez mais envolvidos para assegurá-la. Esta coluna apresenta um trabalho (Policy Insight) do Centre for Economic Policy Research escrito pelo presidente do Banco Central da Itália sobre o papel pós-crise dos bancos centrais na regulação e supervisão financeira. A Crise Mundial de 2008 consistiu de uma tensão financeira nas economias do Atlântico Norte e do colapso no comércio e das expectativas internacionais. Cinco anos depois, os formuladores de políticas dos EUA e Europa estão ainda lutando para colocar em prática uma nova regulamentação e sistemas de supervisão destinados a evitar crises futuras. O presidente do Banco Central da Itália, Ignazio Visco, publicou um ensaio intitulado, "O rescaldo da crise: regulação, supervisão e o papel dos bancos centrais", que aborda essas questões. As considerações finais de sua análise são que: A crise mostrou que a negligência benigna nunca deveria ter sido uma opção. Ela tem clamado para uma grande revisão do quadro regulamentar e da supervisão financeira, especialmente em nível internacional. Em um mercado financeiro globalizado, com participantes grandes e poderosos, a ação individual pelas autoridades nacionais seria fadada ao fracasso. Da mesma forma, os limites da supervisão devem ser alargados para abranger todos os intermediários relevantes, independentemente do setor específico da indústria a que pertencem. Tenho discutido o trabalho que está em andamento, destacando os resultados alcançados e as áreas em que são necessários maiores esforços. A conduta correta dos negócios financeiros também exige competência e boa fé por parte dos intermediários. Ambos os fatores são decisivos para garantir uma gestão saudável e prudente e preservar a confiança dos poupadores. Esta necessidade é amplificada pela complexidade do ambiente externo, com a presença de grandes intermediários, e pelos danos econômicos e de reputação que podem resultar do comportamento ilícito. Nenhum mercado pode funcionar sem regras, nem é possível sem uma gestão prudente, conduta e correta, consubstanciada não apenas no cumprimento escrupuloso da lei e das regras de supervisão, mas também na adesão completa às éticas nos negócios. 1 Ricardo Baldwin – Professor de Economia Internacional no Instituto de Pós-graduação de Genebra. Publicado em www.voxeu.org em 20/12/2013. Tradução e adaptação da Assessoria Econômica da ABBC. 1 Os acontecimentos dramáticos dos últimos cinco anos destacaram as limitações de modelagem e análise quantitativa em finanças e em economia. A suposição comum de estacionariedade está em desacordo com a natureza imprevisível mutável do mundo real. Isso não quer dizer que todos os esforços analíticos do passado e os progressos que serão alcançados devam ser desconsiderados. Significa, sim, que para se tirar o melhor proveito deles é preciso lembrar que os modelos são necessariamente aproximações "locais" de fenômenos muito complexos e que eles devem ser usados com uma saudável prática julgamental, não como uma camisa de força na tomada de decisão. A análise quantitativa e das modelagens também podem ajudar a estabelecer as normas institucionais e comportamentais para conter a padrões de instabilidade e o desenvolvimento de dispositivos para a aprendizagem adequada que permitam o tratamento de grandes choques e mudanças de regime. Por sua vez, os modelos devem levar em conta o impacto de tais normas sobre a evolução econômica. Os bancos centrais têm um papel crucial a desempenhar. Há claras complementaridades entre a estabilidade financeira e monetária. Às vezes, estas estejam formalmente reconhecidas em seus mandatos oficiais, mas mesmo quando isto não ocorre, os bancos centrais devem considera-las em suas decisões políticas. A este respeito, gostaria de citar um livro do brilhante economista Curzio Giannini do Banco da Itália, que faleceu prematuramente cerca de dez anos atrás. 2 Nesse trabalho "muito bem escrito e esclarecedor" – como apontou Charles Goodhart em seu prefácio – Curzio observou claramente as consequências prováveis da evolução financeira, e concluiu: “Nos próximos anos, os desenvolvimentos mais interessantes serão provavelmente, no âmbito da supervisão e regulação [...] O que quer que seus detratores possam dizer, o banco central não tem necessidade de mover-se em novas linhas de negócios. O capitalismo gerou o banco central e o capitalismo virá até ele novamente, mesmo que a paixão atual com capacidade de autorregulação dos mercados financeiros persista. [ ...] O banco central produz um bem intangível, mas essencial - confiança - de que o capitalismo (que se baseia em uma pirâmide de papel, se não meros sinais eletrônicos) tem uma imensa necessidade. Não devemos esquecer que a confiança, deriva do latim fides que significa fé, que não podem obtida simplesmente por contratos. Na verdade, a legitimidade dos bancos centrais não está em seu ativismo político, ou a capacidade de geração de renda, ou até mesmo, salvar em um sentido altamente indireto, a sua eficiência. 2 Giannini, C (2011). The age of Central Banks, Cheltenham, Reino Unido: Edward Elgar , Cheltenham, p. 255 e pp 258-259, tradução em Inglês do L' età delle banche centralização, Bolonha: Il Mulino (2004). 2 Em vez disso, [ ...] deriva de competência, moderação, a abordagem de longo prazo, bem como a recusa de tomar quaisquer tarefas alheias à sua função primária. Se, como eu tenho certeza , há uma outra fase no desenvolvimento dos bancos centrais, ela virá desses valores.” No final, isso é, talvez, o que a sociedade deveria esperar, se não do setor financeiro, daqueles que são chamados a cuidar da estabilidade financeira." 3