Revista da Universidade Ibirapuera

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Revista da Universidade Ibirapuera
ISSN 2179-6998
Revista da
Universidade Ibirapuera
Revista da Universidade Ibirapuera
Volume 8 - Julho/Dezembro -2014
Volume 8 – Julho/Dezembro -2014
Revista da
Universidade IbirapueraVolume 8 – Janeiro/Junho -2014
ISSN 2179-6998
Revista da
Universidade Ibirapuera
Universidade Ibirapuera
Reitor
Prof. José Campos de Andrade
Pró-Reitor Administrativo
Prof. José Campos de Andrade Filho
Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Prof. Antônio Carlos Guedes-Pinto
Diretor Acadêmico
Prof. Alan Almario
Diretora Científica
Profa. Kilça Tanaka Botelho
Editora-Chefe
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COMITÊ EDITORIAL (UNIVERSIDADE IBIRAPUERA)
Prof. Alan Almario
Profa. Ana Carolina Santos
Profa. Camila Soares
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Prof. Eduardo Colalillo
Prof. Glauco Belmiro Rocha
Profa. Kilça Tanaka Botelho
Profa. Luciana Baltazar Dias
Prof. Manoel Ricardo Severo
Profa. Maria da Penha Meirelles Almeida Costa
Prof. Rodrigo Toledo
CONSULTORES CIENTÍFICOS
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São Paulo (USP)
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Energéticas e Nucleares (IPEN/USP)
Prof. Geraldo Jorge Mayer Martins – Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC)
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Santa Catarina (UFSC)
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Catarina (UFSC)
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Prof. Rogério Ota – Universidade São Judas Tadeu
Profa. Sônia Maria Lanza – Centro Universitário FIEO
(UNIFIEO)
EQUIPE TÉCNICA
Projeto Gráfico - Lincoln Schindler
Diagramação – Ricardo Gonçalves
Bibliotecário – Thiago Barreto (CRB-89340)
Áreas de interesse da revista
Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde,
Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências
Sociais Aplicadas, Engenharias, Linguistica, Letras e Artes
SUMÁRIO
REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO FISIOTERAPEUTA
LUIZ FRANCISCO CACHIONI, MARIANA CALLIL VOOS, JÉSSICA CÂNDIDO JERÔNIMO DA COSTA,
JECILENE ROSANA COSTA-FRUTUOSO, MARIA CECÍLIA DOS SANTOS MOREIRA,
FÁTIMA APARECIDA CAROMANO
AUMENTOS DE SONO REM INDUZIDO PELO ESTRESSE: INFLUÊNCIA DA PROLACTINA, DO PEPTÍDEO
DO LÓBULO INTERMEDIÁRIO TIPO CORTICOTROFINA (CLIP) E DA SEROTONINA
RICARDO BORGES MACHADO
SIGNIFICAÇÕES NO IMAGINÁRIO COLETIVO CONSTRUÍDOS PELOS PROGRAMAS DE RÁDIO
CAMILA SOARES
TÉCNICAS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL QUE INDUZEM AOS ESTADOS AMPLIADOS DA CONSCIÊNCIA COMO CUIDADO INTEGRATIVO: REVISÃO DA LITERATURA
ANDRÉA ROMERO LATTERZA1, HARRY TADASHI KADOMOTO2,ACARY SOUZA BULLE OLIVEIRA3, SISSY
VELOSO FONTES4.
A RELAÇÃO DO HOMEM COM A ÁGUA: HIGIENE E TERAPIA
SAMANTHA CAROLINE NAHAT FRATUCCI, FÁTIMA APARECIDA CAROMANO,
ANA ANGÉLICA RIBEIRO DE LIMA, JECILENE ROSANA COSTA-FRUTUOSO, MARIANA CALLIL VOOS
CORRETOR DE IMÓVEIS: UMA ABORDAGEM COMPARATIVA ENTRE O CURSO TÉCNICO EM EAD E O
CURSO TECNÓLOGO PRESENCIAL NA ÁREA DE TRANSAÇÕES IMOBILIÁRIAS
ALAN ALMARIO
EVOLUÇÃO POSTURAL DURANTE A GESTAÇÃO POR BIOFOTOGRAMETRIA: RELATO DE CASO
AN A CLAUDIA CANTAGALLI, ANA ASSUMPÇÃO, DENISE DA VINHA RICIERI,
JECILENE ROSANA COSTA FRUTUOSO
EDITORIAL
Neste segundo número de 2014 da Revista da Universidade Ibirapuera, apresentamos artigos
relacionados à linguística, à educação e à saúde, sempre numa perspectiva multidisciplinar.
As ciências da linguagem são lembradas em uma análise semiótica da produção de sentido construída
pela mídia, em especial, pelo rádio.
Na área de educação há o destaque para uma abordagem comparativa entre cursos técnicos realizados
a distância e presenciais, além de reflexões sobre o ensino no curso de Fisioterapia.
Já na área da saúde são abordadas a postura das gestantes, discussões acerca do ensino da
Fisioterapia e a psicologia transpessoal, uma das terapêuticas antes consideradas alternativas,
atualmente conceituadas como complementares e ou integrativas.
A Revista da Universidade Ibirapuera continua a cumprir sua missão de divulgar pesquisas e fazer
intercâmbios entre docentes de diferentes Universidades, numa benéfica parceria.
Desejamos a todos uma boa leitura.
Prof.ª Kilça Tanaka Botelho
Diretora Científica
Artigos científicos /
Scientific articles
Revista da Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 9-17, jul/dez 2014
REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO FISIOTERAPEUTA
Luiz Francisco Cachioni¹, Mariana Callil Voos¹, Jéssica Cândido Jerônimo da
Costa¹, Jecilene Rosana Costa-Frutuoso¹, Maria Cecília dos Santos Moreira¹,
Fátima Aparecida Caromano¹
¹Universidade de São Paulo - USP
Rua Cipotânea, 51 – Cidade Universitária – São Paulo/SP
[email protected]
Resumo
O profissional fisioterapeuta, durante sua formação, precisa ser ensinado a dominar competências e habilidades motoras
para, posteriormente, ensiná-las considerando diferentes contextos e necessidades dos pacientes. A formação de um
profissional com demandas tão complexas exige professores preparados para tal. Num momento onde novas tecnologias passam a fazer parte da rotina de professores e alunos, como por exemplo, as tecnologias multimídeas (TM) e das
rotinas dos profissionais fisioterapeutas, como os jogos virtuais destinados ou viáveis de serem utilizados na prática clínica visando desenvolvimento de atividades motoras, cabe uma reflexão sobre a formação dos professores que formam
estes profissionais tão únicos, discutindo inclusive, os requisitos para o ensino. De nossa experiência, podemos afirmar
que, quando se trata de ensino de habilidade motora para graduando em fisioterapia, seu ensino deve, minimamente,
considerar todas as características da habilidade a ser aprendida e treinada, e esta deve ser planejada considerando uma
atividade alvo de cada vez, e a avaliação deve ter a participação direta do aprendiz, o ambiente deve ser controlado e os
feedbacks a serem utilizados precisam ser previamente planejados e, se necessário, treinados antecipadamente pelo
professor. Esperamos com este texto, estimular novas experiências didáticas por parte dos professores de Fisioterapia, a
partir de uma reflexão crítica sobre as necessidades atuais do mercado e das novas tecnologias disponíveis para ensino
tanto do aluno quanto dos pacientes.
Palavras-chave:ensino, aprendizagem, universidade, tecnologia
Abstract
The physiotherapist needs to be taught to master competences and motor skills during graduation, to later learn different
contexts and needs of patients. The education of a professional with such complex demands requires prepared teachers.
At a time when new technologies become part of the routine of teachers and students, such as the multimedia technologies (MT) and the routines of physical therapists, such as virtual games intended or feasible to be used in clinical practice
aimed at development activities motor, it is necessary a reflection on the training of teachers who teach these professionals so unique, including discussing the requirements for the teaching of competences and skills. From our experience, we
can say that when it comes to motor skill education for majoring in physical therapy, its teaching should, minimally, consider
all the skill of the features to be learned and trained, and this should be planned considering a target activity of each time,
and it should take the direct participation of the learner, the environment must be controlled and the feedback to be used
must be previously planned and, if necessary, trained beforehand by the teacher. We hope with this text, stimulate new
student experiments by Physiotherapy teachers, from a critical reflection on the current market needs and new technologies available for teaching both learner patients.
Keywords: teaching, learning, university, technology
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No processo de reabilitação, o fisioterapeuta é
Historicamente, o início da Fisioterapia no Brasil
peça fundamental. Atuando na reabilitação, prevenção ou
se deu em 1919, quando foi fundado o Departamento de
estimulação do desenvolvimento, utiliza seu corpo como
Eletricidade Médica da Faculdade de Medicina da Univer-
modelo, sua voz por meio de comandos verbais específi-
sidade de São Paulo.
cos, e por vezes, necessita de técnicas específicas de controle corporal para auxiliar o paciente por meio de suporte
sem lesar o próprio corpo, como por exemplo, durante as
Um dos fatores que estimulou o desenvolvimento
transferências.
da Fisioterapia no Brasil foi a II Guerra Mundial, quando a
fisioterapia foi utilizada como prática de tratamento e rea-
Este profissional precisa ser ensinado a dominar
bilitadora nas sequelas físicas (Marques, 1994). Outro fato
competências e habilidades motoras para, posteriormente,
histórico que afetou a história da fisioterapia como recurso
ensiná-las considerando diferentes contextos e necessida-
da área de saúde foi a ocorrência de epidemia de polio-
des dos pacientes.
mielite no país, afetando centenas de crianças, durante os
anos 1950.
A formação de um profissional com demandas tão
Em 1951, o Dr. Rolim organizou o primeiro Curso
complexas exige professores preparados para tal.Num
de Fisioterapia no Brasil, com duração de um ano, cujo ob-
momento onde novas tecnologias passam a fazer parte
jetivo era formar técnicos em fisioterapia, ¨os fisioterapis-
da rotina de professores e alunos, como por exemplo, as
tas¨, como eram chamados na época. Posteriormente, este
tecnologias multimídeas (TM) e das rotinas dos profissio-
curso passou a ter duração de dois anos. (Petri, 2006)
nais fisioterapeutas, como os jogos virtuais destinados ou
viáveis de serem utilizados na prática clínica visando desenvolvimento de atividades motoras, cabe uma reflexão
O Conselho Federal de Educação, em 1963, ca-
sobre a formação dos professores que formam estes pro-
racterizava o fisioterapeuta como auxiliar médico, que tra-
fissionais tão únicos.
balhava sob sua orientação, respeitando a responsabilidade do médico pelo paciente. Enquanto na Europa já existia
o Curso de Fisioterapia nos anos 20, no Brasil, o ensino da
No Brasil, a Fisioterapia é uma profissão recente
fisioterapia restringia-se a aprender a ligar e desligar apa-
e demandou décadas de esforço para agrupar um conjun-
relhos, executar técnicas básicas de massagens e realizar
to de docentes pesquisadores voltados para o ensino, a
exercícios, mas tudo segundo a prescrição médica. (Bispo,
pesquisa e a prática clínica profissionalizante, para criação
2009)
de padrões de referência de ensino no País e na América
Latina.
O dia 13 de outubro de 1969 foi um marco na Fi-
sioterapia brasileira. De acordo com o decreto-lei 938/69,
a Fisioterapia foi reconhecida como um Curso de nível
Neste momento, existe demanda para expansão
superior, com duração de três anos. Em 1983 o Conselho
do conteúdo em função de novas tecnologias de tratamen-
Federal de Educação (CFE) editou o currículo mínimo com
to e novas áreas de aplicação. Também se faz necessário
duração de quatro anos letivos, vigente até 1996, quando
investimento nos recursos humanos, neste caso os pro-
o Ministério da Educação e Cultura (MEC), por meio da Lei
fessores, visando valorização do ensino de graduação e,
de Diretrizes e Bases, deu autonomia para as universida-
ao mesmo tempo, ao mesmo tempo em que é requisitado
des elaborarem seus currículos (Bispo, 2009).
investimento na pesquisa e na internacionalização dos cursos.
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Hoje, alguns cursos estão implantando um currícu-
lo com duração de cinco anos, e alguns deles, em período
teúdo, em seus diferentes tópicos, deve ser inserido nesta
proposta de formação de fisioterapeutas (Santana, 2011).
integral.
Do ponto de vista do professor, a inserção destes
Atualmente, o fisioterapeuta é conceituado como
conteúdos passa pela análise do tempo a ser investido no
profissional com formação em nível superior, atuante na
ensino, que uma vez estabelecido o número de créditos da
área da saúde, desempenhando funções como avaliar, re-
disciplina, é fíxo e, portanto precisa ser reorganizado.
alizar diagnóstico funcional, propor e executar tratamento
fisioterapêutico por meio de técnicas específicas da profis-
são, reavaliar, educar e orientar periodicamente seus pa-
lacionada também com a qualificação do corpo docente.
cientes no processo de reabilitação, tratamento ou preven-
Batista (2005) relata que a formação para a função docen-
ção de doenças. Utilizam em sua prática diária recursos
te não significa apenas a instrumentalização técnica, mas
físicos, terapêuticos manuais e cinesioterapêuticos (Viana,
uma reflexão crítica desta prática e a realidade em que se
2005; Hass, Nicida, 2009).
processa. A formação pedagógica para a docência no ensi-
A qualidade na formação do fisioterapeuta está re-
no superior foi colocada em segundo plano por um período
O fisioterapeuta atua como profissional e edu-
de tempo no qual se valorizou particularmente a pesquisa
cador na área da saúde, sendo segunda função descrita
e a publicação científica. Este autor chama atenção para si-
como toda atividade que esteja relacionada ao processo
tuação da área da saúde, na qual num primeiro momento o
ensino-aprendizagem com o objetivo de recuperação ou
profissional atua como médico, enfermeiro, fisioterapeuta,
restabelecimento da saúde dos pacientes. Compreender a
para posteriormente, ser inserido na carreira acadêmica,
necessidade de formar um profissional preparado para tal
muitas vezes, despreparado.
determinação parte da escolha do conteúdo a ser ensinado
para sua formação (Masetto, 2009).
Na perspectiva de Masetto (2009) é necessário
que os professores universitários desenvolvam habilida
A Fisioterapia vem utilizando várias teorias ou
des e competências específicas de suporte e qualificação
métodos educacionais, que ano após ano se ampliam,
para a docência, dentre elas, a competência pedagógica,
adaptando-se às novas exigências que o mercado impõe
que relata ser a área de maior carência dos professores de
e embasando-se nas pesquisas e novos conhecimentos
nível superior. O autor sinaliza que é necessário que o pro-
científicos (Batista, 2005).
fessor saiba interagir no processo ensino-aprendizagem,
compreendendo e estimulando o desenvolvimento da relação professor-aluno e, no caso Fisioterapia, a relação
Existe a preocupação contínua de formar um pro-
fissional com análise crítica sobre temas relacionados à
aluno-paciente considerando o processo de educação ou
reabilitação.
profissão e que apresente conduta profissional fundamentada, tecnicamente exemplar, ética e humanizada.
Esta também é uma necessidade de outros cur-
Cabe também, refletir sobre as formas de ensino
sos da área da saúde, como pode ser visto no estudo de
na Fisioterapia que considerem a tomada de decisão cli-
Rodrigues et al. (2009), que relataram que é expectativa
nica, a organização do programa de intervenção, a ciência
de docentes de um Curso de Farmacologia que, durante a
ao paciente, a pesquisa de variáveis que serão acompa-
graduação, no contexto de um processo pedagógico, ocor-
nhadas pelo paciente e terapeuta na análise da evolução e
ra estimulação do desenvolvimento da formação do aluno
o estabelecimento e preparo da alta terapêutica. Todo con-
com objetivo de capacitar o futuro profissional a transmitir
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seu conhecimento aos pacientes e clientes, de tal forma
percepção de falhas técnicas pelos alunos e na adequação
a ensiná-lo como utilizar adequadamente as ferramentas
de propostas de mudanças necessárias para melhoria de
para realizar melhor e mais efetivamente a sua função.
desempenho.
Grol et al. (2003) afirmam que é necessário realizar
uma análise profunda do que se pretende melhorar em termos de ensino-aprendizagem, verificando quais são as de-
Na Fisioterapia, uma das propostas de ensino
mandas que o mercado exige do profissional, por meio de
-aprendizagem que permeia toda formação do aluno diz
uma análise diagnóstica dos problemas mais comumente
respeito ao autocuidado físico, como meio eficaz de preven-
encontrados em áreas específicas de atuação na Fisiote-
ção ou diminuição do agravamento de lesões que possam
rapia e direcionando estratégias facilitadoras de mudanças
ocorrer com os fisioterapeutas devido ao uso inadequado
no processo ensino-aprendizagem. Sugere que, seguindo
do corpo durante uma determinada técnica de tratamento.
um método sequencial de etapas, num primeiro momento
(Caromano, 2002)
se verifique o que pode ser melhorado e as características
do grupo, posteriormente, devem ser elaboradas estratégias de ensino e formas de avaliação do aprendizado para
Em revisão de literatura, Carregaro et al. (2005)
conteúdos específicos. Os autores enfatizam que as estra-
enumeram vários fatores de risco que afligem os fisiotera-
tégias sejam úteis e pontuais, de fácil entendimento e com
peutas em suas atividades profissionais diárias, como por
formato atraente para o aprendiz.
exemplo, realização de terapias manipulativas, transferência de pacientes dependentes, manobras repetitvas, posturas desgastantes, entre outras, indicando ser necessário a
Os relatos de estudos sobre os diversos modelos
utilização de estratégias conscientizadoras sobre os riscos
de estratégias de ensino-aprendizagem estão gerando
que estão envolvidos na prática da profissão, auxiliando na
informações mais claras sobre a utilização de diferentes
prevenção de futuras lesões ocupacionais.
instrumentos. Segundo Smith et al. (2011) há pouco investimento em utilização de novos recursos como estratégias
de ensino. Em seu estudo comparou estratégias utilizando
Hignett (1995) enfatiza que deve ser realizada uma
instruções com multimídia versus demonstrações ao vivo
adequação do trabalho ao trabalhador, como forma de prin-
no formato de aula tradicional, enquanto o grupo experi-
cípio ergonômico. O autor relata que na tentativa de melhor
mental foi ensinado com aula tradicional e com uso de mul-
atender o paciente, muitas vezes o fisioterapeuta não toma
timídia para facilitar o ensino de habilidades psicomotoras
os dividos cuidados com sua prórpia postura, e daí, a ne-
para alunos de Fisioterapia. Verificou por meio de ques-
cessidade não só da percepção das dificuldades envolvi-
tionário respondido pelos alunos que o uso de multimídia
das nos tratamentos fisioterapêuticos, mas da adequação
é um recurso que sugere promover maior processamento
das técnicas à prática clínica.
do aprendizado durante a prática das técnicas em sessão
supervisionada pelo professor.
Campos et al. (2009) propõem que o docente deve
estabelecer e promover condições para o desenvolvimento
No estudo realizado sobre a utilização de filma-
das habilidades e atitudes comportamentais profissionali-
gem do momento de avaliação de habilidades práticas
zantes, possibilitando ao aluno refletir sobre o conceito de
com função de feedback na fase final do processo de en-
relacionamento fisioterapeuta-paciente e como utilizar seu
sino-aprendizagem de comportamentos fisioterapêuticos
prórpio corpo como instrumento de trabalho, aprendendo
em hidroterapia, considerando inclusive a autoavaliação
como executar posturas mais adequadas, mantendo um
pelos alunos, Caromano (1995) observou facilitação na
correto controle corporal durante seus atendimentos e pra-
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ticando autocuidado durante suas atividades práticas pro-
Para Masetto (2004) o método pedagógico tradi-
fissionais.
cional segue uma rotina de aulas expositivas e atualmente utiliza aulas que buscam inserir e estimular os alunos
a participarem mais integralmente no processo de ensi-
No estudo, cujo enfoque foi o ensino de masso-
no-aprendizagem. Moran (2007) chama a atenção para
terapia, por meio do ensino de habilidades envolvidas na
importância da ampliação dos métodos didáticos de ensi-
relação fisioterapeuta-paciente, Campos et al. (2009) re-
no-aprendizagem com recursos da TM, mas lembra que,
lataram que o ensino de habilidades relacionadas com a
estes métodos e recursos não garantem a retenção do
dinâmica fisioterapeuta junto ao paciente não tem desper-
conhecimento. Oferece a opção na qual o professor deve
tado a relevância que o tema merece, com pouca explo-
contextualizar, organizar, sistematizando estas informa-
ração de pesquisa voltada para a prática educacional na
ções, não passando todo conteúdo fechado ao aluno, mas
área da saúde. Este estudo mostrou a eficácia do treina-
atuando no processo de construção deste conhecimento.
mento de 21 habilidades práticas específicas, com enfoque
na massoterapia, facilitando e incentivando os alunos na
As pesquisas sobre novas tecnologias de ensino,
assimilação dos conceitos cognitivos e não cognitvos, no
nas quais a TM desempenha papel principal, mostram que
aprendizado teórico e prático de técnicas de massoterapia
esta pode facilitar a aquisição de novos conhecimentos
e também, aspectos pessoais que estão presentes na inte-
de modo presencial ou à distância, dentro ou fora da sala
ração com o paciente, a exemplo da comunicação.
de aula, mostrando o professor não mais como o dono do
conhecimento absoluto, mas sim, um facilitador ou mediador entre os conteúdos a serem ensinados e a construção
Caetano (2006) relatou que todos os recursos que
venham a contribuir no processo ensino-aprendizagem
deste conhecimento em parceria com os alunos. (Moreira,
2010)
dos alunos de Fisioterapia, seja fornecendo orientações
posturais específicas para melhor atender os pacientes ou
prevenir lesões aos fisioterapeutas, devem ser investiga-
a quantidade de produção de material instrucional multi-
dos e ensinados, se possível utilizando recursos de Tec-
mídia demostrando procedimentos de técnicas específicas
nologia Multimídia (TM), como por exemplo, a utilização de
passo-a-passo é pequena. Lembra que, os materiais exis-
DVD (disco digital versátil) funcionando como material de
tentes já se mostram relevantes como ferramentas peda-
apoio aos conteúdos ensinados.
gógicas para utilização pelo professor, estimulando e auxi-
liando a aprendizagem.
A adoção de TM no processo educacional por meio
As pesquisas de Alavarce (2007) mostraram que
Como parte importante da base das práticas de fi-
de filme, software, livro no formato DVD, aula em ambien-
sioterapia implica na realização de atividades motoras com
te virtual, chat, curso on line e o ensino a distância (EAD)
habilidades específicas, se faz necessário entender como
é uma possibilidade real e viável. Esta prática conduz a
se processa este tipo de ensino-aprendizado, para com-
questionamentos sobre necessidade de compreensão das
preender a tomada de decisão sobre o método didático a
possibilidades, potencialidades e limitações destes recur-
ser empregado.
sos, sinalizando a diversificação das formas de ensino. As
ferramentas de TM possibilitam aos professores e alunos
Habilidade motora é definida como conjunto de
que, alguns conceitos e conteúdos sejam revistos, repen-
ações que realizamos com um objetivo específico para ser
sados e reformulados. (Sousa et al., 2007)
alcançado utilizando os movimentos voluntários do corpo
e/ou membros, a exemplo da aplicação de massagem, que
implica em movimentos das mãos e corpo do fisioterapeu-
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ta, utilizando manobras com pressões específicas em se-
dependerá de alguns fatores conhecidos como variáveis
quência e tempo adequados, para atingir um objetivo espe-
de desempenho, que incluem prontidão da pessoa, ansie-
cífico terapêutico (Magill, 2000).
dade criada pela situação, variáveis ambientais, a fadiga,
feedback do professor com as adequações a serem realizadas, entre outros. A consistência é a melhora que se
O aprendizado motor implica em melhora significa-
observa à medida que a aprendizagem avança, ou seja, o
tiva no desempenho de uma habilidade específica envolvi-
desempenho torna-se cada vez mais consistente, pois no
da na execução de uma determinada tarefa que ainda pode
início da aprendizagem os níveis de desempenho variam
ser melhorado com a prática desta (Pellegrine, 2000).
muito de uma tentativa para outra, mas com o tempo vão
se tornando mais semelhantes e consistentes. A capacidade de melhora do desempenho é chamada de persistên-
Gentile (1972) e Poulton (1957) mostraram que a
cia e essa capacidade se estende por períodos maiores,
estabilidade do ambiente na qual a habilidade será desen-
favorecendo uma melhora relativamente permanente do
volvida também deve ser objeto de estudo. Estes autores
desempenho. A adaptabilidade é a capacidade de adapta-
descrevem que o ambiente pode ser estável, ou seja, não
ção ao desempenhar uma habilidade. Cada vez que uma
é alterado enquanto o indivíduo realiza a habilidade, situ-
habilidade é realizada ocorre sempre algo diferente, por
ação denominada habilidade motora fechada, como por
exemplo; o estado emocional da pessoa, as características
exemplo, andar em um cômodo vazio, ou de forma oposta,
específicas, o ambiente (tempo e o local), e que auxilia na
pode ocorrer em contexto onde o ambiente varia durante a
capacidade de desempenhá-la cada vez com mais acer-
atividade, denominado habilidade motora aberta, como por
tos, em diferentes situações.
exemplo, andar numa mata.
Uma das formas de se avaliar aprendizagem é fa-
Também deve ser estudado o método de avaliação
zê-la de forma crítica, observando a diferença entre o nível
da aprendizagem e, neste sentido, precisamos entender
de desempenho de uma habilidade motora no início do trei-
os termos desempenho e aprendizagem. Desempenho é
namento e posteriormente, e no dia de avaliação, por meio
o comportamento observável, ou seja, a execução de uma
de um teste, que é corriqueiramente utilizado pelo profes-
habilidade num determinado momento e situação. Apren-
sor, o chamado teste de retenção que cumpre o papel de
dizagem é uma alteração na capacidade do indivíduo de
avaliar o quanto o aluno reteve de conhecimento (Higgins e
executar uma habilidade, e deve ser entendida como uma
Spaeth, 1972; Elliott e Allard, 1985; Newell, 1985, 1989).
melhoria relativamente permanente no desempenho e, isto
Existem alguns modelos de aprendizagem que identifi-
dependerá de alguns fatores como prontidão do indivíduo,
cam e descrevem os diferentes estágios que os indivíduos
a ansiedade da situação, as peculiaridades do ambiente, e
passam à medida que adquirem habilidades.
a fadiga entre outros (Gentile, 1987).
No processo ensino-aprendizagem existe um
O modelo de Fitts e Posner (1967) descrevem três
grande número de fatores para que ocorra sucesso no
fases ou estágios, o primeiro é o estágio cognitivo, no qual
ensino, entre eles, aperfeiçoamento, consistência, per-
ocorre um grande número de erros, e estes sendo normal-
sistência, adaptabilidade no próprio momento de aprendi-
mente grandes. O segundo é o estágio associativo, o indi-
zagem e da habilidade motora específica, a avaliação e,
víduo comete menor número de erros e menos grosseiros,
finalmente, a retenção. O aperfeiçoamento ocorre durante
embora precisem ser aperfeiçoados, e o terceiro é o es-
o processo de aprendizagem, ou seja, pela repetição da
tágio autônomo onde o indivíduo consegue detectar seus
prática de uma habilidade motora, e para que isto ocorra
erros e realizar os ajustes necessários para corrigi-los.
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O modelo de Gentile (1972,1987) descreve dois
habilidades em sessões mais numerosas e de curta dura-
estágios no desenvolvimento da habilidade. No primeiro,
ção que em sessões menos numerosas e mais longas.
a meta é o aprendiz captar a ideia do movimento (o que
De nossa experiência, podemos afirmar que, quando se
a pessoa precisa fazer para atingir a meta da habilidade).
trata de ensino de habilidade motora para graduando em
No segundo, a meta do aprendiz é descrita em termos de
fisioterapia, seu ensino deve, minimamente, considerar
fixação e diversificação. Na fixação a pessoa precisa rea-
todas as características da habilidade a ser aprendida e
lizar uma captação e adaptação do padrão básico de co-
treinada, e esta deve ser planejada considerando uma ati-
ordenação do movimento da habilidade (são habilidades
vidade alvo de cada vez, e a avaliação deve ter a participa-
fechadas), e na diversificação a pessoa, com a realização
ção direta do aprendiz, o ambiente deve ser controlado e
da atividade prática, irá favorecer o refinamento do padrão
os feedbacks a serem utilizados precisam ser previamente
básico de coordenação do movimento da habilidade (são
planejados e, se necessário, treinados antecipadamente
habilidades abertas).
pelo professor.
Esperamos com este texto, estimular novas expe-
Normalmente, quando se pretende ensinar al-
riências didáticas por parte dos professores de Fisiotera-
guém a aprender e praticar uma habilidade, o instrutor usa-
pia, a partir de uma reflexão crítica sobre as necessidades
rá uma descrição verbal e uma demonstração da habilida-
atuais do mercado e das novas tecnologias disponíveis
de específica, que possibilita transmitir mais informações
para ensino tanto do aluno quanto dos pacientes.
em tempo menor do que unicamente uma descrição verbal. Um dos fatores para a demonstração ter um papel tão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
importante esta relacionado ao sistema visual permitir ao
observador captar as características invariantes do padrão
ALAVARCE, D. C. Elaboração de uma hipermídia educa-
de coordenação que é necessário para o desempenho da
cional para o ensino do procedimento de medida da pres-
habilidade. (Lee et al., 1995)
são arterial para utilização em ambiente digital de aprendizagem [dissertação de mestrado]. São Paulo: Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2007.
Os pesquisadores apontam para um fator essen-
cial na instrução de habilidades, o feedback. O próprio feedback sensorial do indivíduo já fornece informações sobre
Decreto 9.640/84, Lei 8.856/94. Atividade de saúde, regu-
o processo de aprendizagem de habilidades. O feedback
lamentada pelo Decreto-Lei 938/69, Lei 6.316/75, Resolu-
visual também possibilita ao aprendiz realizar correções se
ções do COFFITO.
necessário, a partir da observação do instrutor realizando a
tarefa. A união de feedback do próprio sistema perceptivosensorial do indivíduo e o externo (do instrutor) é chama-
BATISTA, N. A. Desenvolvimento docente na área da saú-
do de feedback ampliado e pode ser fornecido durante ou
de: uma análise. Trab. Educ. Saúde. v. 3, n. 2, p. 283- 294,
após o desenvolvimento da habilidade, atuando como ins-
2005.
trumento para correção ou motivação para atingir a meta.
(Little e McCullagh, 1989)
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sessões de prática de uma habilidade, as evidências expe-
668, 2009.
rimentais mostram que os indivíduos aprendem melhor as
Revista da Universidade Ibirapuera -
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Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 18-33, jul/dez -2014
AUMENTOS DE SONO REM INDUZIDO PELO ESTRESSE: INFLUÊNCIA DA
PROLACTINA, DO PEPTÍDEO DO LÓBULO INTERMEDIÁRIO TIPO CORTICOTROFINA (CLIP) E DA SEROTONINA
Ricardo Borges Machado
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Rua Botucatu, 862 - São Paulo/SP
[email protected]
Resumo
Considerando que expressão do sono REM (sono paradoxal ou sono dos sonhos) como um fator de resilência
ao estresse, revisão tem como objetivo apontar alguns mecanismos neuroendocrinológicos e neuroquímicos envolvidos
neste processo. Eventos estressantes, dependendo de sua natureza, tendem provocar aumento de sono REM durante
o sono. O sono dos sonhos tem um papel importante no processamento mnemônico, inclusive o de caráter emocional.
Prejuízos na expressão do sono REM após eventos estressantes tendem a prejudicar a evocação e/ou elaboração destas memórias, podendo levar a alguns quadros patológicos, como distúrbios de ansiedade e ao transtorno do estresse
pós-traumático. Vários trabalhos demonstram que a prolactina, o CLIP (peptídeo do lóbulo intermediário tipo corticotrofina ou ACTH18-39) e a serotonina e podem estar envolvidos na regulação da expressão do sono REM após eventos
estressantes.
Palavras-chaves: Estresse, Sono, Sono REM, Hormônios, Serotonina.
Abstract
Considering that REM sleep (rapid eyes movement sleep or dream sleep) expression as a resilience factor to stress, this
review aims to highlight some neuroendocrine and neurochemical mechanisms involved in this process. Stressful events,
depending on their nature, tend to cause REM sleep increases. Dream sleep plays an important role in mnemonic processing, including those of emotional character. Losses in REM sleep expression after stressful events tend to undermine
the evocation and/or preparation of these memories, leading to some pathological conditions such as anxiety and posttraumatic stress disorder (PTSD). Several studies showed that prolactin, CLIP (corticotropin-like intermediate lobe peptide or ACTH18-39) and serotonin and may be involved in regulating the REM sleep expression of after stressful events.
Key-words: Stress, Sleep, REM sleep, Hormones, Serotonin.
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São Paulo, v. 8, p. 18-33, jul/dez -2014
19
1.O Sono
sistema nervoso, exibam algum comportamento que possa
ser identificado como sono, como postura característica,
Muitas vezes comparado com a morte, a morte da
diminuição ou cessação dos movimentos motores, dimi-
qual era possível retornar, o sono, que é imprescindível à
nuição da reatividade a estímulos externos e, fácil e ime-
vida, vem fascinando a humanidade ao longo da história.
diata reversão ao estado de atividade. Além disso, o sono
Na mitologia grega, Hypnos era o deus do sono, irmão de
é um comportamento de organização circadiana e possui
Thanatos, deus da morte, ambos filhos de Nix, a noite. E
uma refinada capacidade auto-regulatória (Piéron, 1913;
Morpheu, filho de Hypnos, era o deus dos sonhos que, cer-
Flanigan, Wilcox et al., 1972; Tobler, 1984; Tobler e Bor-
tamente, foi o fenômeno do sono que mais encantou o ho-
bely, 1985; Tobler e Stalder, 1988; Greenspan, Tononi et al.,
mem (Berens, 2007).
2001).
Nos sonhos seria quando a alma sairia do corpo e
O sono pode ser classificado de acordo com a
faria uma viajem pelo tempo e pelo espaço. Hipócrates de
atividade elétrica cerebral (captada pelo eletroencefalo-
Cós acreditava que o espírito assumia domínio próprio du-
grama – EEG). Basicamente o sono é dividido em sono
rante o sono, sendo capaz de se libertar do corpo e assumir
ortodoxal (ou sono não-REM, ou sono de ondas lentas, ou
domínio próprio “...vê o que é visível, ouve o que é audí-
sono sincronizado) e sono paradoxal (sono REM, ou sono
vel, anda, toca, se angustia... todas as funções do corpo e
de ondas rápidas, ou sono dessincronizado). Durante o
da alma, durante o sono, a alma comanda tudo.” (Adams,
sono não-REM, o traçado do EEG apresenta um padrão
1849). No entanto, Aristóteles, o grande sistematizador es-
sincronizado, com atividade de ondas lentas (frequências
tagirita, dizia que alma e corpo dormiam no mesmo sono.
na banda delta, 1,0-4,0 Hz) e aumento na amplitude (vol-
Ele também acreditava que os animais sonhavam, mas
tagem) (Fig. 1 B). Já durante o sono REM (do inglês rapid
que as crianças eram incapazes de fazê-lo. Os sonhos, de
eye movements sleep, ou sono de movimentos oculares
acordo com Aristóteles, eram um processo natural do or-
rápidos), o EEG apresenta ondas de frequências mais rá-
ganismo, independente da ação de deuses ou demônios.
pidas e traçado dessincronizado (muito semelhante à vigí-
Aristóteles acreditava que o sono se originava da evapora-
lia, por isso chamado paradoxal), com o aparecimento do
ção dos alimentos, o que poderia explicar a certa indolên-
ritmo theta (6,0-8,0 Hz) em eletrodos posicionados sobre o
cia que se manifesta em alguns indivíduos após refeições
hipocampo em roedores (Timo-Iaria, Negrao et al., 1970;
fartas (Parva Naturalis, On Divination in Sleep) (Barnes,
Valle, Timo-Iaria et al., 1992) (Fig. 1 C). É importante salien-
1995). Deixando os antigos gregos para trás e avançando
tar que nestes animais o movimento das vibrissas é muito
alguns séculos adiante, muitos eminentes cientistas tam-
mais expressivo que os movimentos oculares propriamen-
bém tiveram suas teorias a respeito do sono, como o “acú-
te ditos, uma vez que a visão não é o sentido mais apurado
mulo de sangue no encéfalo”, segundo os anatomistas do
nestes animais (Timo-Iaria, Yamashita et al., 1990). Alguns
sec. XVI Giovanni Battista Morgani e Thomas Willis; ou a
padrões fisiológicos, a pressão arterial e frequência car-
falta deste (anemia cerebral), dizia o “pai da neurociência
díaca também sofrem alterações de acordo com as fases
moderna” Santiago Ramón y Cajal; ainda a intoxicação por
do sono, estando mais reduzidas durante o sono não-REM
dióxido de carbono, como escreveu o neurologista e psicó-
(Snyder, Hobson et al., 1964; Van Den Buuse, 1999), quan-
logo suíço Édouard Claparéde (Pollak, Thorpy et al., 2010).
do comparado ao sono REM e, principalmente à vigília
(Fig. 1). Em humanos, obviamente além da presença do
sono REM, a Academia Americana de Medicina do Sono
Ainda não temos uma teoria acabada sobre a ori-
(AASM) ainda classifica o sono não-REM em três estágios,
gem e função do sono, mas muitos indícios já foram reu-
N1, N2 e N3 o último também chamado de sono delta (Sil-
nidos pela Ciência desde então. É provável que todos os
ber, Ancoli-Israel et al., 2007).
animais, que já possuam algum grau de segmentação do
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20
Stalder, 1988). Fenômeno observado também em baratas
(Blaberus giganteus) (Tobler e Neuner-Jehle, 1992) e em
moscas (Drosophila melanogaster) (Hendricks, Finn et al.,
2000). Além do fator homeostático, eliciado pela restrição
do sono, temos ainda envolvido o fator circadiano, em que
grande parte do reino animal manifesta alguma preferência
pela fase do ciclo, estando, de certa forma, relacionados
Figura 1 – Traçados eletooscilográficos da Vigília, do Sono
com seus hábitos alimentares. Também, a duração dos epi-
não-REM e do Sono REM em ratos Wistar. EEG, eletro-
sódios de sono parece ser maior em animais que estão no
encefalograma (derivação bipolar longa frontoparietal
topo da cadeia alimentar, uma vez que as presas tem que
medial), EMG, eletromiograma (músculo trapézio), ECG,
constantemente monitorar o ambiente para garantir a sua
eletrocardiograma (par de eletrodos intercostais). A, Vigí-
integridade (Zepelin, Siegel et al., 2005; Capellini, Barton et
lia ativa, com baixa voltagem e alta frequência do EEG,
al., 2008). A interação entre os fatores homeostático (cha-
concomitante com atividade expressiva no EMG e ECG. B,
mado de “processo S”) e circadiano (chamado de “proces-
Sono não-REM, com EEG alta amplitude e lentificação do
so C”) na regulação do sono levaram alguns autores a pro-
traçado, a atividade do EMG é baixa assim como a ativida-
porem um modelo de regulação de regulação em que essa
de do ECG. C, Sono REM, apresentando atividade rítmica
duas variáveis atuariam de maneira conjunta, e o sono
na banda theta (6,0-9,0 Hz) no EEG, a atividade do EMG
iniciaria onde houvesse uma conjunção entre uma maior
é praticamente nula (atonia muscular, característica desta
pressão homeostática (necessidade de sono) e uma maior
fase) e o ECG apresenta um padrão intermediário de ativi-
predisposição circadiana (proximidade da fase do ciclo que
dade.
o sono normalmente ocorreria) e o sono terminaria quando
houvesse uma diminuição da interação destas duas forças
2.Regulação e Homeostase do Sono
(Achermann, 2004; Borbely, 2009) (Fig. 2).
Mas o que determinaria o início e a quantidade do
sono, assim como a distribuição de suas fases? Sabemos
também por observação própria que, quando somos privados de sono por algum motivo, seja por obrigações sociais ou doença, temos uma necessidade maior de sono no
período de repouso seguinte. Em 1960, William Dement
(Dement, 1960) relatou, pela primeira vez em seres humanos, que a privação seletiva do sono REM resultava no
aumento específico desta fase, ou rebote de sono REM.
Figura 2 – O modelo dos “Dois Processos” de regulação do
Em artrópodes, há alguns estudos de observação com-
sono. O processo “S”, homeostático, em que há o acúmulo
portamental que sugerem a existência de um período de
progressivo da necessidade do sono. O processo “C”, cir-
repouso que também apresenta uma distribuição rítmica.
cadiano, que apresenta o seu nadir no meio da fase escura.
Estudos de estimulação contínua em escorpiões (Hetero-
Modelo representativo de um animal de hábitos diurnos e
metrus longimanus), existentes desde o período Siluriano,
de sono monofásico, como o ser humano, por exemplo.
a 400 milhões de anos, indicam que existe um maior tempo
de inatividade do animal após o período de estimulação,
sugerindo já nestes invertebrados, um mecanismo compensador de algo muito semelhante com o sono (Tobler e
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21
A Privação de Sono
mitem por meio do EEG, acessar o estado comportamental do animal e privá-lo seletivamente do sono total ou de
Assim, vemos que ferramentas instrumentais para
suas fases específicas. Geralmente o sistema automático
privação de sono em animais se tornaram bastante úteis,
de análise detecta a fase do sono e aciona um mecanismo
permitindo uma gama de estudos sobre os mecanismos de
que, por exemplo, pode girar um disco sobre um volume
regulação do sono e também em relação a sua própria fun-
de água (Rechtschaffen, Gilliland et al., 1983), e assim
ção. Historicamente, o primeiro experimento científico de
despertar o animal, que é obrigado a se mover para não
privação de sono em animais foi realizado em 1894, pela
cair na água. De maneira mais simples, animais podem ser
cientista russa radicada na França, Marie de Manacéine
mantidos acordados indistintamente em sistemas que os
(nome à francesa de Maria Mikhaïlovna Manasseina, como
obrigam à movimentação lenta, mas constante, como em
era o costume da belle époque), que privou de sono filhotes
pêndulos oscilantes (Van Hulzen e Coenen, 1980) ou tam-
de cães por 4 a 6 dias, mantendo-os sob atividade cons-
bores giratórios diversos (Borbély e Neuhaus, 1979; Lee-
tante. Tal estudo demonstrou que a falta de sono foi fatal
naars, Dematteis et al., 2011).
aos animais, que apresentavam uma grave hipotermia e
anemia (Manaseina, 1897).
Tais métodos sofrem críticas devido à locomoção
forçada que eles infringem aos animais. Embora a maioria
Os métodos existentes até então exigiam a interfe-
dos modelos animais de privação de sono seja feito de ma-
rência contínua e atenciosa dos pesquisadores, que tam-
neira aguda e interrupta, estes não mimetizam o que ocorre
bém acabavam por ser tornar sujeitos experimentais de
na sociedade humana. Na realidade, o que temos é uma
seus próprios estudos. Valendo-se da atonia muscular que
privação crônica e intermitente do sono (Webb e Agnew,
ocorre durante o sono REM, Michel Jouvet, em Lyon, que
1975; Bonnet e Arand, 1995; Gallup, 2013); por isso a im-
observara bem o fenômeno em gatos anos antes (Jouvet e
portância de se desenvolver modelos animais de restrição
Michael, 1959), propôs colocar os animais sobre potes de
crônica de sono (Machado, Suchecki et al., 2005; 2006;
flores invertidos (flower-pot method), imersos até quase ao
Novati, Hulshof et al., 2011; Barf, Desprez et al., 2012).
seu topo em água. Assim, ao adormecerem e sofrerem o
relaxamento muscular característico do sono REM, os animais cairiam na água e, portanto, despertariam. Este méto-
Privação de sono e estresse são fatores indissoci-
do seria então bastante seletivo e específico para esta fase
áveis e interagentes. É extremamente difícil isolar os efei-
do sono e não exigiria a interferência constante do experi-
tos da falta de sono dos efeitos do estresse inerentes das
mentador para que a privação ocorresse (Jouvet, Vimont
metodologias de privação de sono, até por que a restrição
et al., 1964). Essa metodologia foi rapidamente adaptada
do sono é um fator de estresse per se. Diversos marcado-
também para ratos (Cohen e Dement, 1965) (Fig. 2A).
res fisiológicos de estresse já foram relatados associados
à privação de sono, como a perda de peso, hipotrofia do
timo, o aumento no peso das glândulas adrenais, úlceras
A seletividade e especificidade da privação ins-
estomacais, elevação nas concentrações plasmáticas de
trumental de sono REM pela metodologia do flower-pot é
glicocorticoides, ACTH (hormônio adrenocorticotrófico -
um pouco variável, ela é altamente específica para o sono
adrenocorticotropic hormone ou corticotrofina) prolactina e
REM, mas também elimina parte do sono NREM (30-40%)
catecolaminas (adrenalina e noradrenalina, principalmen-
(Pujol, Mouret et al., 1968; Mendelson, Guthrie et al., 1974;
te) (Murison, Ursin et al., 1982; Tobler, Murison et al., 1983;
Grahnstedt e Ursin, 1985; Maloney, Mainville et al., 1999;
Coenen e Van Luijtelaar, 1985; Bergmann, Everson et al.,
Machado, Hipolide et al., 2004).
1989; Suchecki, Lobo et al., 1998; Andersen, Martins et al.,
2005).
Outros métodos instrumentais automatizados perRevista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 21-33, jul/dez -2014
22
A restrição de movimentos causados pela platafor-
Froment et al., 1966; Koe e Weissman, 1966; Jouvet, Bo-
ma é um fator importante de estresse para o rato, o que
billier et al., 1967; Borbely, Neuhaus et al., 1981). Estudos
levou a proposição de plataformas adicionais dentro da câ-
de registro da atividade unitária demonstram que neurô-
mara de privação (Van Hulzen e Coenen, 1981).
nios serotoninérgicos do núcleo dorsal da rafe estão ativos
durante a vigília, apresentando baixa atividade durante o
Os roedores também são animais sociais e o iso-
sono de ondas lentas e nenhuma atividade durante o sono
lamento comunitário do animal também poderia ser outro
REM, sendo conhecida, juntamente com o locus coreulus
elemento estressante, então foram propostos modifica-
(núcleo composto por células noradrenérgicas), como uma
ções no método da plataforma múltipla de Coenen e van
estrutura “REM-off” (McGinty & Harper, 1976).
Luijtellar, como a privação coletiva de animais, com um número de plataformas excedentes (Nunes Jr e Tufik, 1994)
A intensa atividade serotoninérgica no diencéfalo
(Fig. 2B). Contudo, a prévia estabilidade social dos animais
durante a vigília é importante para que haja uma quantida-
parecia ser um fator importante para a privação coletiva de
de correspondente de sono durante o período de repouso,
sono, pelo menos em relação aos parâmetros de ACTH e
mesmo que durante o sono a atividade dos centros sero-
peso (Suchecki, Lobo et al., 1998; Suchecki e Tufik, 2000).
toninérgicos esteja deprimida. Um exemplo interessante é
que se o PCPA é administrado durante a privação de sono
tanto o sono de ondas lentas quanto o sono REM apresentam significativa redução durante o período de recuperação. Mas se o PCPA for aplicado no final da privação de
sono (início do período de recuperação) os parâmetros de
sono condizem com os esperados para um período pós
-privação (Sallanon, Janin et al., 1983).
Talvez a liberação de 5-HT no diencéfalo durante
a vigília contribua de alguma maneira para o acúmulo de
substâncias hipnogênicas, provavelmente de origem pepFigura 3 – Metodologia das Plataformas Simples (A) e Múl-
tídica (ver a frente). Vários estudos indicam que o ácido
tipla Modificada (B). A comida e água são disponibilizadas
5-hidróxi-indol-acético (5-HIAA) e o turnover serotoninérgi-
em uma tampa gradeada sobre o tanque de privação (no
co aumentam na região do tronco cerebral, córtex frontal,
caso da plataforma simples, o bebedouro é colocado sobre
hipocampo e hipotálamo de ratos submetidos a situações
a tampa do recipiente).
estressantes (Dunn, Elfvin et al., 1986) ou à privação de
sono (Penalva, Lancel et al., 2003), evidenciando a importância desse sistema para a regulação do rebote de sono
3.A serotonina e o sono REM
REM.
A estimulação elétrica da porção antero-dorsal do núcleo
dorsal da rafe de ratos provoca intenso acúmulo de meta-
A serotonina (5-HT) tem função fundamental na
bólitos serotoninérgicos (como o 5-HIAA e outros derivados
regulação do sono. Tanto lesões eletrolíticas na região da
5-hidoxiindólicos, como o N,N-dimetil-5-HTP) na região
rafe como a administração de PCPA (para-clorofenilalani-
do hipotálamo basal, que compreende a região do núcleo
na; inibidor da triptofano hidroxilase) geram quadros de in-
arqueado e vizinhança, incluindo também a área pré-ópti-
sônia, com redução acentuada do sono de ondas lentas e
ca lateral. Após um período de três horas de vigília ativa,
do sono REM e diminuição das concentrações de 5-HT em
seguida a esta estimulação, os animais apresentam um
praticamente todas as estruturas telencefálicas (Delorme,
rebote considerável de sono REM (Houdouin, Cespuglio,
Revista da Universidade Ibirapuera -
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23
Gharib et al., 1991; Houdouin, Cespuglio e Jouvet, 1991).
para c-Fos predominam tanto na região lateral da área pré
Existem projeções serotoninérgicas oriundas do núcleo
-optica quanto no núcleo pré-óptico mediano desta região
dorsal da rafe para o hipotálamo, em especial para os nú-
na fase clara (repouso) de ratos em relação à fase escura
cleos supraquiasmático e arqueado (Kiss, Leranth et al.,
(Sherin, Shiromani et al., 1996).
1984; Peyron, Petit et al., 1998; Cowley, Cone et al., 2003).
Da mesma forma, fibras contendo derivados da POMC
Evidências sugerem que projeções inibitórias
(pró-ópio-melanocortina), entre os quais podemos citar
GABAérgicas descendentes dos neurônios das regiões
o peptídeo do lóbulo intermediário tipo corticotrofina, ou
pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico mediano para re-
ACTH18-39 (CLIP) e o hormônio alfa estimulante de me-
giões do tronco cerebral envolvidas com a manutenção da
lanócito (a-MSH) são encontradas na rafe, tanto dorsal
vigília, promovam o sono (Zardetto-Smith e Johnson, 1995;
quanto ventral (Zheng, Leger et al., 1991). Como discuti-
Steininger, Gong et al., 2001; Gong, Mcginty et al., 2004),
remos mais adiante, um dos mecanismos propostos para
incluindo aí a rafe dorsal (Zardetto-Smith e Johnson, 1995).
explicar o rebote de sono induzido por estresse agudo en-
Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios
volve a liberação de 5-HT pelos núcleos da rafe no núcleo
da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se-
arqueado do hipotálamo, que resulta em processamento
jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam
da POMC para CLIP.
o rebote de sono REM observado após protocolos de privação seletiva desta fase, pois o número de neurônios c-Fos
positivos nestas regiões se correlacionam positivamente
Um dos eventos mais marcantes durante o sono
com o aumento da pressão homeostática para o sono REM
REM no rato é o aparecimento do ritmo theta em regiões
e com os episódios de sono REM observado no período de
mediais do encéfalo do animal, mais precisamente, oriun-
recuperação (Gvilia, Turner et al., 2006; Gvilia, Xu et al.,
das do substrato hipocampal (Timo-Iaria, Negrao et al.,
2006). De forma interessante, também existem projeções
1970; Gerbrandt, Lawrence et al., 1978). Este padrão de
ascendentes da rafe dorsal para a área pré-optica lateral
onda é gerado por populações de células cujos brotamen-
(Chou, Bjorkum et al., 2002) e a 5-HT possui efeitos inibi-
tos dendríticos fluem para o stratum oriens do CA1 e para
tórios sobre os neurônios desta região (Gallopin, Fort et al.,
o stratum moleculare do giro denteado, as lâminas hipo-
2000).
campais responsáveis pela geração do ritmo theta (Bland,
Konopacki et al., 1995; Vinogradova, 1995). As aferências
4.O peptídeo do lóbulo intermediário tipo corticotrofi-
colinérgicas, oriundas do septo medial, são responsáveis
na – CLIP
pela manutenção deste tipo de ritmo theta hipocampal
(Borst, Leung et al., 1987; Leung e Borst, 1987; Khateb,
Muhlethaler et al., 1992). O núcleo mediano da rafe exerce
que o CLIP, ou ACTH18-39 tem em mediar o aumento de
um controle ativo no ritmo theta hipocampal, sendo esta
sono REM observado após situações de estresse. O CLIP
a única estrutura do tronco cerebral capaz de suprimir a
é processado a partir da pró-ópiomelanocortina (POMC)
geração desse ritmo (Vertes e Kocsis, 1997).
pela pró-hormônio convertase 2 (Fig. 4) (Tanaka, 2003) nos
melanotropos da pars interemedia da hipófise e em duas
outras localidades distintas no cérebro: o núcleo arquea-
Está bem estabelecida na literatura a capacidade
A área pré-óptica hipotalâmica está intimamente
do (e peri-arqueado) do hipotálamo basomedial e em um
envolvida com a regulação do sono. Estimulação química
grupo de células do núcleo do trato solitário, outra região
ou elétrica desta região induz sono (Ticho e Radulovacki,
importante para o sono, em especial o de ondas lentas
1991; Mendelson e Martin, 1992) e neurônios nesta região
(Emson, Corder et al., 1984; Leger, Lema et al., 1990).
apresentam-se intensamente ativos durante o sono (Findlay e Hayward, 1969; Kaitin, 1984). Neurônios positivos
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Mas existem fibras contendo CLIP que se projetam
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para a área pré-optica do hipotálamo, rafe dorsal e medial
codifica justamente a fração ACTH20-24 na POMC, vem
e área septal (Zaphiropoulos, Charnay et al., 1991; Zheng,
sendo conservada ao longo do filo Chordatha desde os Ag-
Leger et al., 1991). A injeção local de CLIP na região dorsal
nathas (Dores e Lecaude, 2005), que poderia parecer um
da rafe induz aumento considerável no sono REM, seme-
desperdício, em termos evolutivos, para uma sequência
lhante ao provocado pelo estresse (Chastrette, Cespuglio
sem importância vital.
et al., 1990; El Kafi, Cespuglio et al., 1994; El Kafi, Leger
et al., 1995). O estresse levaria então ao aumento da liberação de 5-HT pela rafe que, por intermédio de projeções
principalmente para o núcleo arqueado do hipotálamo, induziria o processamento do CLIP a partir da POMC. Após o
término do estresse, a 5-HT entraria em um processo de recaptação ativa; porém o CLIP, por ser tratar de um peptídeo
e exigir mecanismos de transcrição mais demorados, continua a aumentar, primeiro no núcleo arqueado, depois na
própria região dorsal da rafe. Esta diminuição na atividade
Figura 4 – A proopiomelonocortina (POMC) e alguns de
serotoninérgica, talvez influenciada também pelo CLIP, es-
seus peptides, incluindo o ACTH e o CLIP. N- e C-, porções
taria estreitamente relacionada com o rebote de sono REM
amino-terminais da POM; PC1, pro-hormônio convertase
observado algum tempo após o estresse (Bonnet, Leger et
do tipo 1; PC2, pro-hormônio convertase do tipo 2; a-MSH,
al., 1997). hormônio gama estimulante de melanócito; α-MSH, hormônio alfa estimulante de melanócito; β-LPH, beta-lipotro-
Curiosamente, relatamos também o aumento do
fina; γ-LPH, gama-lipotrofina e β-Endo, beta-endorfina.
turnover serotoninérgico tanto na região da ponte, como na
do hipotálamo em animais que apresentaram exuberante
rebote de sono (Machado, Tufik et al., 2008). É interessan-
5.A prolactina
te ressaltar também que o CLIP aumenta, e muito, a excitabilidade de células hipocampais do CA1, principalmente no
número e na amplitude dos disparos (Seidenbecher, Bals-
O envolvimento da prolactina (Prl) com os aumen-
chun et al., 1993).
tos de sono REM observados após situações de estresse
necessita de investigações mais detalhadas em relação
O padrão de aumento no sono REM induzido pelo
aos seus mecanismos, vias e neurotransmissores envolvi-
CLIP, mais precisamente pelo fragmento amino-terminal
dos. A Prl está intimamente associada com a resposta fisio-
ACTH20-24 (Val-Lys-Tyr-Pro), é caracterizado pela dura-
lógica ao estresse (Dijkstra, Tilders et al., 1998) e neurônios
ção extremamente longa dos episódios, em geral, acima
imunoreativos para a Prl são encontrados no hipotálamo
de 7 minutos, semelhantemente ao que encontramos em
lateral e inervam as demais áreas hipotalâmicas, o locus
nosso estudo (Machado, Tufik et al., 2008).
coeruleus e o núcleo dorsal da rafe (Paut-Pagano, Roky et
al., 1993), estruturas particularmente envolvidas com a re-
O efeito no prolongamento dos episódios de sono
gulação do sono e da resposta ao estresse (Obal, Tobler et
REM, apesar do aumento do montante total, não é obtido
al., 1983; Roky, Valatx et al., 1993; Roky, Obal et al., 1995).
com o ACTH inteiro (ACTH1-39) e nem com o outro frag-
Em seres humanos a Prl é secretada principalmente na se-
mento ativo do ACTH, o ACTH18-24, (Wetzel, Wagner et
gunda metade da noite (Sassin, Frantz et al., 1972) tendo
al., 1997).
um ritmo circadiano bastante nítido (Van Cauter, 1990).
Surpreendentemente, a sequência do gene que
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O estresse de restrição de movimento (Meerlo,
Easton et al., 2001) ou a exposição aos vapores de éter
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(Bodosi, Obal et al., 2000) também elevam a Prl e aumen-
trolateral da formação reticular do bulbo (Chen, Dun et al.,
tam o tempo de sono REM em roedores. Em um trabalho
1999; Fujii, Fukusumi et al., 1999; Maruyama, Matsumoto
que estamos desenvolvendo, encontramos células imu-
et al., 1999; Minami, Nakata et al., 1999; Roland, Sutton et
norreativas para Prl no hipotálamo lateral de ratos submeti-
al., 1999; Lee, Yang et al., 2000).
dos à privação de sono REM e ao estresse do choque nas
patas. Também foi achado um conteúdo de Prl tecidual na
O receptor para o PrRP é expresso em altas den-
região dorsal da rafe e no hipotálamo lateral destes mes-
sidades na formação reticular talâmica, hipotálamo dorso-
mos animais (dados ainda não publicados). A infusão de
medial, núcleo do trato solitário, área postrema e adeno-hi-
Prl na região dorso-lateral do hipotálamo, ou no ventrículo
pófise (Roland, Sutton et al., 1999).
lateral, resulta em aumento de sono REM durante a fase
clara (Roky, Valatx et al., 1993; Roky, Valatx et al., 1994).
Fibras imunoreativas para o PrRP também são
Mostramos também que, a micro-infusão de Prl na região
encontradas na área pré-óptica medial, nos núcleos pa-
dorsal da rafe, provoca aumentos no sono REM (Machado,
raventricular, periventricular e ventrolateral do hipotála-
Rocha et al., 2011).
mo, núcleos reticulares ventral e lateral do bulbo, núcleo
intersticial da estria terminal e no núcleo periventricular do
Adicionalmente, a administração sistêmica de Prl
tálamo (Yano, Iijima et al., 2001), indicando que o peptídeo
também provoca o mesmo efeito sobre o sono REM (Roky,
tem a possibilidade de exercer ações fisiológicas diversas,
Obal et al., 1995) e o anticorpo anti-Prl suprime o sono
além das de liberação da prolactina e de mediação das res-
REM em ratos (Obal, Kacsoh et al., 1992); além disso, esta
postas ao estresse (Sun, Fujiwara et al., 2005).
fase do sono é naturalmente reduzida em camundongos
geneticamente deficientes para este peptídeo (Obal, Gar-
Também já se demonstrou que vários tipos de es-
cia-Garcia et al., 2005). A serotonina possui um forte efeito
tresse, incluindo o do choque nas patas e o da imobilização
estimulante sobre a liberação da Prl e o efeito hipnogênico
levam ao acúmulo de c-Fos em neurônios contendo o PrRP
que o peptídeo intestinal vasoativo (VIP) apresenta, é pro-
no bulbo de ratos (Maruyama, Matsumoto et al., 2001; Mo-
vavelmente mediado pela Prl (Lara, Lorenzo et al., 1994;
rales e Sawchenko, 2003; Adachi, Mochiduki et al., 2005).
Balsa, Sanchez-Franco et al., 1996; Balsa, Sanchez-Fran-
A infusão central do PrRP aumenta o sono REM em ratos,
co et al., 1998).
em paralelo ao aumento da prolactina circulante (Zhang,
Kimura et al., 2000; Zhang, Inoue et al., 2001).
O peptídeo liberador da prolactina (prolactin relea-
sing peptide - PrRP) é um peptídeo que, associado a um re-
É interessante notar que o PrRP, em concentra-
ceptor de sete domínios trans-membrana acoplado à prote-
ções elevadas, aumenta também o sono de ondas lentas,
ína G, promove a liberação de Prl in vitro e in vivo (Hinuma,
chegando inclusive a não ter efeito sobre o sono REM
Habata et al., 1998; Matsumoto, Noguchi et al., 1999). O
em concentrações extremas (Zhang, Kimura et al., 2000;
PrRP foi recentemente reconhecido como um mediador im-
Zhang, Inoue et al., 2001).
portante na resposta do eixo HPA ao estresse, exercendo
atividade sinérgica com a noradrenalina na elevação das
De forma um tanto contraditória, o PrRP tem a
concentrações de ACTH e β-endorfina, mediada pelo CRH
habilidade de diminuir a atividade oscilatória em cortes de
(corticotropin releasing hormone - hormônio liberador da
tecidos reticulares do tálamo (Lin, Arai et al., 2002), essen-
corticotrofina) (Hinuma, Habata et al., 1998; Matsumoto,
ciais para a manutenção do sono sincronizado - de ondas
Maruyama et al., 2000; Maruyama, Matsumoto et al., 2001;
lentas (Llinas e Steriade, 2006).
Mera, Fujihara et al., 2006). Neurônios contendo o mRNA
para o PrRP são encontrados na região dorsomedial do
Também tem se descrito que o PrRP promove a vigília em
hipotálamo, no núcleo do trato solitário e na porção ven-
ratos adormecidos, além de diminuir a presença de espícu-
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las na atividade eletrocorticográfica de modelos de epilep-
Todos estes fenômenos contribuiriam para a ex-
sia (Lin, Arai et al., 2002).
pressão do sono REM. Adicionalmente, o PrRP, atuaria diminuindo a atividade oscilatória dos neurônios reticulares
6.Possível mecanismo do aumento de sono REM indu-
do tálamo (6) (Lin, Arai et al., 2002), importantes para a
zido pelo estresse
geração do sono sincronizado (Llinas e Steriade, 2006),
e teria também efeito positivo no sono REM. Uma vez de-
Com base nos dados até então apresentados, po-
sinibidos da ação da rafe e do locus coeruleus (estruturas
demos sugerir alguns mecanismos responsáveis pelo au-
conhecidas como “REM-off”) (Aston-Jones e Bloom, 1981;
mento de sono REM observado em algumas condições de
Leonard e Llinas, 1994), os núcleos colinérgicos da ponte
estresse. A figura que se segue ao texto (Fig 5) traz um es-
(estruturas chamadas de “REM-on”) (7) passariam a esti-
boço das principais vias neurais, núcleos, neurotransmis-
mular neurônios intralaminares do tálamo (Intl.), responsá-
sores e neuropeptídeos envolvidos neste fenômeno. Em
veis pela ativação cortical durante o sono dessincronizado
um primeiro momento (1) o estresse (e também a privação
(REM) e inibir os neurônios GABAérgicos do núcleo reticu-
de sono) levaria ao aumento da liberação de 5-HT pela rafe
lar do tálamo (Ret.) (Mccarley e Hobson, 1975; Sakai, El
dorsal.
Mansari et al., 1990; Jones, 1993). Devemos ressaltar que
o CLIP possui ação inibitória (8) sobre a liberação de 5-HT
Projeções serotoninérgicas ascendentes estimu-
pela rafe dorsal (Bonnet, Leger et al., 1997), contribuin-
lariam a produção e a liberação do CLIP e da prolactina
do também para cessar a atividade supressora que esta
pelo núcleo arqueado (Arc.) e pelo hipotálamo lateral (HL)
tem sobre os núcleos colinérgicos da ponte. É importante
(2), que dependeria de processos demorados de transcri-
ressaltar que existe uma via serotoninérgica ascendente,
ção genômica e síntese protéica (por isso o aumento de
da rafe dorsal para a área septal (9), que seria responsá-
REM acontece apenas depois de algumas horas após o
vel pela inibição sobre a atividade desta área colinérgica
término do estímulo estressante). Circuitos neurais de auto
do prosencéfalo basal, fundamental na geração do ritmo
-estimulação dependentes de prolactina e provavelmente
theta hipocampal durante o sono REM (Vertes e Kocsis,
também do PrRP e da própria 5-HT, envolvendo a área
1997). pré-ótica (APO) (3), promoveriam a inativação GABAérgi-
ca sobre a rafe dorsal e sobre o locus coeruleus (LC) que,
inibidos, deixariam de atuar sobre os núcleos colinérgicos
res prolactinérgicos, que poderia constituir um provável sí-
da ponte (PPT pendunculo-pontino-tegmentar / LDT latero-
tio de ação estimulatória da prolactina (10) e, portanto, con-
dorsal-tegmentar) (Mccarley, 2004).
tribuindo também para a expressão do sono REM (Roky,
Esta região possui uma alta densidade de recepto-
Paut-Pagano et al., 1996).
Por outro lado, a prolactina poderia também atu-
ar diretamente sobre os neurônios colinérgicos da ponte
(4), promovendo a sua ativação (Takahashi, Koyama et
al., 2000). Projeções “prolactinérgicas” para a rafe dorsal
(5) (Harlan, Shivers et al., 1989; Paut-Pagano, Roky et al.,
1993) poderiam induzir à liberação de 5-HT (Machado, Rocha et al., 2011) em um primeiro momento, com a produção
adicional de mais prolactina e CLIP. Mais tarde, o excesso
de serotonina atuaria nos próprios auto-receptores 5-HT1A
da rafe, inibindo a sua atividade (Sprouse e Aghajanian,
1987; Hajos, Hajos-Korcsok et al., 1999).
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Figura 5 - Modelo esquemático do possível modulação
da prolactina, do CLIP e da serotoninae no aumento sono
REM induzida pelo estresse. LC, locus coeruleus; LDT,
núcleo laterodorsal tegmental; PPT, núcleo pedunculopontino tegmental; HL, área lateral hipotalâmica; APO, área
pré-óptica; Arc., núcleo arqueado do hipotálamo; Intl., núcleos intralaminares tálamo; Ret., núcleo talâmico reticular;
PrRP, peptídeo liberador da prolactina (prolactin releasing
peptide).
diria Freud “...renuncia ao sono porque tem medo de seus
sonhos” (Freud, 1914).
Em um trabalho recente Mellman e colaboradores
avaliaram o sono de indivíduos após um evento traumático.
Foi encontrada uma correlação negativa entre a duração
dos episódios de sono REM e a instalação do TEPT. Além
do mais, estes indivíduos tinham menor tempo de sono e
a atividade de alta frequência no EEG diminuída durante o
sono REM, indicando baixa ativação cognitiva durante esta
fase do sono (Mellman, Pigeon et al., 2007). Tais dados
1.Considerações finais
apontam para uma necessidade de eventos longos e consolidados de sono REM para a elaboração e a integração
Indubitavelmente o sono REM nos mamíferos está
envolvido com diversas funções, como a maturação do encéfalo em neonatos (Zepelin, Siegel et al., 2005), manutenção de atividade cerebral mínima durante o sono (que
permitiria um rápido despertar e evitaria um possível estado de coma durante o sono (Vertes, 1986), consolidação
de memória (Smith, 1996; Stickgold, Hobson et al., 2001)
e manutenção dos sistemas de transmissão monoaminérgicos (Siegel e Rogawski, 1988; Hipolide, Tufik et al.,
1998; Pedrazzoli e Benedito, 2004; Hipolide, Moreira et al.,
2005), entre outras. Sigmund Freud atribuía a esta fantástica viagem que fazemos várias vezes todas as noites, papel
fundamental na integração de memórias e na elaboração
de conflitos interiores e denominava de “trabalho do sonho”
a série de mecanismos psíquicos (como a condensação,
o deslocamento e a mistura de imagens) que permitiam
a passagem do “conteúdo latente” (dos pensamentos do
inconsciente) ao “conteúdo manifesto” (a lembrança do
evento durante a vigília), que seriam essenciais para o processamento psíquico de nossas vivências diárias (Freud,
1900). Mas em alguns indivíduos, o processamento de
memórias traumáticas pode estar comprometido. Pacientes com o transtorno do estresse pós-traumático – TEPT
apresentam uma latência maior para o sono REM que, em
geral, também apresenta episódios bastante curtos que
acabam por despertar o indivíduo (Breslau, Roth et al.,
2004; Habukawa, Uchimura et al., 2007). O sonho, nestes
casos, falha em uma de suas principais funções, que seria
guardar e proteger a integridade e continuidade do sono.
O paciente desperta para fugir dos seus sonhos, ou como
Revista da Universidade Ibirapuera -
destas memórias traumáticas a nível consciente (Stickgold,
2007), para que tais assumam suas devidas proporções
na vida cotidiana do paciente. Não hesitamos em propor
(Suchecki, Tiba et al., 2012), até por uma questão de lógica
evolutiva, que o aumento no sono REM observado após o
estresse em roedores poderia também, de alguma maneira, se prestar a este papel.
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Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 33-33, jul/dez -2014
Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 34-46, jul/dez. -2014
SIGNIFICAÇÕES NO IMAGINÁRIO COLETIVO CONSTRUÍDOS PELOS
PROGRAMAS DE RÁDIO
Camila Soares
Universidade Ibirapuera
Av. Interlagos, 1329 – São Paulo – SP
[email protected]
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar os laços que prendem as atenções dos ouvintes em programas românticos de rádio. A pesquisa, realizada a partir do programa Paixão Nativa, da Rádio Nativa FM, de
São Paulo, pretende mostrar que as funções do rádio ultrapassam as funções iniciais de apenas meios de comunicação e entretenimento. A partir das teorias da semiótica greimasiana serão analisadas as engrenagens
e traços que reproduzidos diariamente através de sistemas simbólicos, vinculam-se à memória e às emoções,
criando classes de manipulação em um contingente importante da sociedade brasileira: a audiência do rádio,
classes “C” e “D”.
Palavras chaves: Semiótica Greimasiana, Rádio, Romance
Abstract
This paper aims to explain which are the bonds that hold the attention of listeners in romantic radio programs. The
survey, conducted from the program Native Passion, from Native FM Radio São Paulo, aims to show that radio
functions beyond the initial capabilities of just media and entertainment. From ingeniously constructions, the radio
is able to transform messages into “facts” in “truths” accepted, which together propel listeners to certain beliefs and
actions. The functioning mechanisms of ideological conquest of an important contingent of Brazilian society will be
examined: the radio audience, classes “C” and “D”.
Keywords: Greimas Semiotics, Radio, Romance
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 34-46, jul/dez. -2014
35
1. Introdução
emissoras AM, ainda observamos a variedade de programas,
tanto musicais quanto jornalísticos, em oposição ao que se
Desde 1923, quando foi inaugurada oficialmen-
observa nas FMs, em cujas programações a música tem
te a primeira emissora de rádio do Brasil – a Rádio Socie-
maior destaque. A linguagem radiofônica obedece a critérios
dade do Rio de Janeiro – que o empreendimento de Ro-
que vão desde a concisão, exatidão, objetividade, “simplicida-
quette Pinto tem crescido no país. A cadeia de emissoras
de”. Tais critérios exigem o uso correto da língua portuguesa
a partir de então, chega ao século XXI em seu apogeu e
para que se alcancem os objetivos pretendidos de comunicar
demonstrando que, mesmo com o surgimento da televi-
e persuadir aos ouvintes. Portanto, será realizada aqui uma
são, em 1950, continua um veículo de massa dinâmico e
tentativa de perceber como é criada esta proximidade a partir
atuante. O Brasil é o segundo país do mundo em número
dos programas de rádio românticos mais conhecidos como
de emissoras de rádio: são mais de três mil emissoras
“love songs”. É uma sofisticada engrenagem que transmite
espalhadas em todos os estados brasileiros, perdendo
valores por meio de operações racionais, passionais e senso-
apenas para os Estados Unidos, com cerca de oito mil
riais.
rádios. Em terceiro lugar está a Inglaterra, com algo em
torno de setecentas emissoras. Esses números ajudam
No processo que envolve a comunicação popular,
a perceber a importância do rádio nos dias atuais, já que,
mais importante que a produção que se faz a partir do uso
por ser uma tecnologia da informação, este ainda man-
dos meios são as relações que os sujeitos / ouvintes sociais
tém a sua credibilidade e, acima de tudo, é uma valiosa
estabelecem nesse processo de construção. O diálogo, o co-
fonte que transmite informação e entretenimento simul-
municar, o discurso, as formas de participação, a inclusão dos
taneamente.
elementos e a valorização das identidades e culturas são elementos significativos e expressivos nesse processo.
Há basicamente seis gêneros no rádio: musi-
cal, variedades ou entretenimento, popular, informativo,
O presente trabalho contará com um corpus de pro-
esportivo e humorístico. Os formatos em rádio foram se
gramas de rádio da emissora Nativa FM, líder de audiência
desenvolvendo à medida em que surgiram os gêneros.
na cidade de São Paulo e líder também de audiência em pro-
Cada um deles deu vida ao seu próprio formato a partir
gramas românticos. O corpus desta análise será composto
do seu público alvo. Dentro do gênero popular existe a
por um trecho do programa Paixão Nativa, apresentado pelo
linha romântica. Nesse sentido, pode-se dizer que o ro-
jornalista e locutor Vinícius França.
mantismo em rádio data de 1941. Em 12 de julho come-
ça a transmissão da primeira rádio novela do País, apresentada durante cerca de três anos, pela PRE-8, Rádio
2. SEMIÓTICA GREIMASIANA
Nacional do RJ. Era a novela “Em Busca da Felicidade”.
A seguir foi a vez de “O Direito de Nascer”.
A teoria semiótica atual desenvolveu-se a partir do
estruturalismo dos anos 60 com os estudos de A.J. Greimas.
Entre as principais características do rádio es-
A semiótica de origem francesa é uma das teorias que mais
tão: é um veículo cuja recepção da mensagem se dá por
têm se preocupado, por exemplo, com a produção de sentido
meio de ondas hertzianas; ocorre através de um apa-
em objetos que unem várias “linguagens” de manifestação,
relho portátil, de baixo custo e, finalmente pode estar
com questões ligadas às estratégias que apelam à emoção e
ao alcance de todos e em qualquer lugar. A depender
aos aspectos sensíveis dos textos.
da natureza da frequência, quais sejam AM (Amplitude
Modulada) ou FM (Frequência Modulada), possui uma
programação diversificada que inclui música, notícia,
explicitar, sob a forma de uma construção conceitual, “as con-
plantões jornalísticos, participação do ouvinte etc. Nas
dições da apreensão e da produção do sentido”. (GREIMAS
Revista da Universidade Ibirapuera -
Neste contexto, a preocupação deste trabalho será
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36
& COURTÉS, 1989, p. 415). Dessa forma, o trabalho tentará
Para Barros, “é preciso, assim, rever as noções e as
desenhar alguns traços análogos e intrínsecos existentes en-
denominações de ‘emissor’ e de ‘receptor’ da comunicação.
tre Semiótica e Comunicação, propiciando um diálogo entre
(...) Os sujeitos da comunicação não podem mais ser pensa-
esses importantes conceitos.
dos como casas ou caixas vazias de emissão e de recepção
de mensagens. Os sujeitos da comunicação devem ser con-
Diana Luz Pessoa de Barros afirma que a semiótica
siderados, em primeiro lugar, como sujeitos competentes, ou
“procura descrever o que o texto diz e como ele faz para di-
seja, o destinador e o destinatário (termos menos restritivos e,
zer o que diz (1997: 7)”. Texto, nessa perspectiva, é qualquer
portanto, mais adequados do que emissor e receptor) têm de
“todo de sentido” que possui uma estrutura analisável que faz
ter certas qualidades que permitam que eles se comuniquem”
um objeto de significação.
(idem: 48). Há duas qualidades ou competências que possibilitam a existência da comunicação:
Um texto também se caracteriza por ser um objeto de
comunicação. Isso significa que o sentido também é produto
1- A primeira competência é chamada modal e inclui o querer
de práticas sociais, dentro de um tempo e espaço determina-
ou o dever, o saber e o poder realizar a comunicação. Barros,
dos. Esta apresentação pretende apontar o que um texto diz
a partir de Greimas e Courtés (1983:69), lembra novamente
e como faz para dizer o que diz. Interessa também mostrar
que a comunicação como ato não pode ser entendida como
como atrai a atenção para o que diz.
um simples fazer-saber do destinador e um adquirir saber do
destinatário. Pesquisas têm mostrado que “para apreender o
O percurso narrativo de sentido preconizado por
saber é necessário que o destinatário queira fazê-lo. Isso nos
Greimas também oferece uma importante noção de como as
obriga a pensar na comunicação, ou melhor, no fazer comu-
manipulações por sedução (fazer querer-fazer), provocação
nicativo do destinador não apenas como um fazer-saber, mas
(fazer dever-fazer), tentação (fazer querer-fazer), intimidação
principalmente como um fazer-crer e um fazer-fazer, e no fa-
(fazer dever-fazer) acontecem e influenciam sobremaneira o
zer comunicativo do destinatário essencialmente como um
receptor diante da cultura midiática na contemporaneidade.
interpretar. A comunicação confunde-se, dessa forma, com
a manipulação e têm ambas a mesma estrutura” (2003: 48).
3. PONTO DE VISTA SEMIÓTICO SOBRE A COMUNICAÇÃO
2- A segunda competência é a semântica, com a partilha, entre destinador e destinatário, de valores e projetos em comum
Os semioticistas discordam da ideia de que a relação
- Para a manipulação funcionar, é necessário, entre outros
entre autor e leitor, ouvinte, telespectador ou internauta é de
aspectos, que os sujeitos partilhem de um mesmo sistema
mera transmissão de informações. Diana Luz Pessoa de Bar-
de valores. Qualquer destinatário dos programas de rádio,
ros lembra que os antigos modelos lineares de comunicação
aqui, em especial os românticos, diante do fazer persuasivo
– os que tratam da transmissão de mensagem de um emissor
dos radialistas, realiza um fazer receptivo ou interpretativo, ou
para um receptor – foram repensados por outros autores na
seja, (...) “uma operação de reconhecimento da verdade, que
forma de um sistema de interações (2003: 42).
consiste em comparar e identificar o que lhe é apresentado
pelo sujeito do fazer persuasivo com o que ele já sabe ou com
Na comunicação, os participantes se constroem e
aquilo em que crê. Trata-se de verificar a adequação do novo
constroem, juntos, o texto. O ato de comunicar, por exemplo,
e desconhecido ao velho e já sabido. (...) Interpretar, para o
impõe a existência de simulacros. Grosso modo, um autor
sujeito é, por excelência, confrontar a proposta recebida com
leva em consideração as expectativas e as prováveis reações
o seu universo do saber e do crer, com sistemas de valores
de quem vai receber o texto para construir um discurso com a
que atribuem sentido aos fazeres e aos estados” (Barros:
eficiência desejada.
2001:58).
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37
4. MÚSICA E MÚSICA POPULAR – CONTORNO E MOVI-
A Comunicação, então, por natureza, possui estreita rela-
MENTO
ção com as Ciências da Linguagem. Assim, ela se insere
perfeitamente nos estudos semióticos, já que esses obser-
Desde os primórdios da humanidade, a música é
vam os níveis da significação, tanto de textos verbais quan-
representada pela natureza do som em durações, alturas,
to não verbais e sincréticos, exercendo importante papel
timbres e intensidades nos mais variados níveis rítmicos. Po-
nas pesquisas em Comunicação. Por outro lado, a música
demos dizer até que o homem primitivo já pensava musical-
desempenha papel relevante entre os meios de comunica-
mente pelas ondas do mar, pelos cantos dos pássaros, pelos
ção, principalmente no que concernem à maneira de ex-
rituais de tambores e, mas principalmente, pela modulação
pressar o conteúdo e a expressão de suas letras, melodias
da própria voz humana. A música popular brasileira também é
e ritmos.
uma forma de comunicação. É um gênero que exige uma tripla competência: verbal, musical e lítero-musical, sendo esta
As estratégias persuasivas utilizadas pelo destina-
última capaz de articular as duas linguagens. Especificando a
dor-enunciador vão determinar as características específi-
definição, Nelson Barros da Costa afirma que canção é uma
cas dessas canções. No caso da música romântica ofereci-
peça verbo-melódica breve, de veiculação vocal. (Gêneros
da de um ouvinte a outro, a partir de sua identificação com
Textuais e Ensino, 2006. p 108).
a história que a música conta, são invocados os conteúdos
afetivos para despertar a confiança do destinatário. A com-
Segundo o compositor e linguista Luiz Tatit (Tatit,
binação desses conteúdos linguísticos com o componente
1996), uma canção é uma fala camuflada em maior ou menor
musical determina a escolha do enunciador pela estratégia
grau. Essa camuflagem consiste na transformação dos con-
persuasiva da passionalização, que pode ser observada
tornos entonacionais da fala pela estabilização do movimento
nos seguintes aspectos:
frequencial de sua entonação dentro de um percurso harmô-
- o campo explorado pela melodia é expandido, criando um
nico, pela regulação de sua pulsação e pela periodização de
espaço para o aumento de tensão;
seus acentos rítmicos.
- as grandes curvas melódicas revelam as oscilações entre
o registro grave e o agudo.
A música brasileira se caracteriza, segundo o au-
tor, de forma eficaz, realizando o malabarismo que equilibra
o canto e a fala. O primeiro confere à segunda imortalidade,
o rádio exerce nas pessoas através da mensagem persu-
salva-a de sua condição periclitante de “ondas agitadas de
asiva presente na linguagem musical atual e as proprieda-
ar”. Não apenas isso, mas lhe oferece um “emprego estável”,
des capazes de alterar o funcionamento psicológico do in-
estruturando-o, regulando e o estabilizando. A voz, por sua
divíduo de tal forma que ele reaja francamente em direção
vez, dá corpo à melodia. E, se essa voz á a voz da fala, o can-
ao produto, objeto da persuasão.
Assim, pode-se explicar o papel manipulador que
to ganha contornos de coloquialidade altamente persuasivos.
Wisnik explica que a convergência das palavras e da música
5. A ESCRITA E A VOZ
na canção cria o lugar onde se embala um ego difuso, irradiado por todos os pontos e intensidades da voz, como de um al-
Existem diferentes tipos de emissoras: jornalísti-
guém que não está em nenhum lugar ou num lugar onde “não
cas, musicais, populares, educativas, religiosas e as cha-
há pecado nem perdão”. Dali é que as canções absorvem fra-
madas jovens ou adultas. Há também as segmentadas: em
ções do momento histórico, os gestos e o imaginário, pulsões
classes sociais, em faixas etárias, e ainda as dedicadas a
latentes e as contradições, das quais ficam impregnadas e
determinados gêneros musicais. Muitas delas unem vários
que poderão ser moduladas em novos momentos, por novas
desses tópicos em um só.
interpretações. (WISNIK, 1999, p.199).
Revista da Universidade Ibirapuera -
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38
O corpus delimitado para esta análise é a emissora
Com efeito, o esquema narrativo constitui como que
Nativa (FM 95,3) localizada na cidade de São Paulo. A rádio
um quadro em que vem se inscrever o “sentido da vida”
tem como características: é musical, possui uma audiência
com suas três instâncias: a qualificação do sujeito, que
maior nas classes sociais C e D, é focada em gêneros popu-
o introduz na vida; sua “realização” por algo que “faz”;
lares, como samba, pagode, axé, sertanejo, um pouco de pop
enfim, a sanção – ao mesmo tempo retribuição e reco-
-rock comercial e de músicas românticas. Acerca do conceito
nhecimento–que garante, sozinha, o sentido de seus
sobre Comunicação, Greimas (1989, p. 67) aponta dois eixos
atos e o instaura como sujeito segundo o ser. Esse es-
básicos no que concerne às atividades humanas “o da ação
quema suficientemente geral para autorizar todas as
sobre as coisas, pela qual o homem transforma a natureza - é
variações sobre o tema: considerado num nível mais
o eixo da produção - , e o da ação sobre os outros homens,
abstrato e decomposto em percursos, ajuda a articular
criadora das relações intersubjetivas, fundadoras da socieda-
e a interpretar diferentes tipos de atividades, tanto cog-
de – é o eixo da comunicação”. E acrescenta:
nitivas quanto pragmáticas. (GREIMAS, A. J. & COURTÉS, 1989, p. 297-298).
“Se a linguagem é comunicação, é também produção
de sentido, de significação. Não se reduz à mera trans-
5. A CONSTRUÇÃO DA PAIXÃO RADIOFÔNICA
missão de um saber sobre o eixo ‘eu/tu’, como poderia
afirmar certo funcionalismo; complementarmente, ela
No universo radiofônico a palavra ganha expressão
se desenvolve, por assim dizer, para si mesma, para
com a fonação e interpretação na voz do comunicador. Ele
aquilo que ela é, possuindo uma organização interna
não apenas lê e interpreta o conteúdo das mensagens escri-
própria”. (GREIMAS 1989, p. 67).
tas, como também, comenta e analisa. O processo gera no
ouvinte a sensação de que está participando de um diálogo,
O percurso narrativo de sentido preconizado por
apesar de não poder responder diretamente a quem lhe fala.
Greimas também oferece uma importante noção de como as
Essa incompletude provoca em quem ouve a complementar
manipulações por sedução (fazer querer- fazer), provocação
o diálogo com sua imaginação. Através da palavra, que fala
(fazer dever-fazer), tentação (fazer querer-fazer), intimidação
em particular, o ouvinte comporta sensações, emoções e re-
(fazer dever-fazer) acontecem e influenciam o receptor diante
lações afetivas. Neste movimento de interação, César explica
da cultura midiática moderna. Assim, a semiótica greimasiana
que o locutor manipula a opinião do grupo que o escuta e res-
observa os discursos midiáticos sob olhares fixos na enuncia-
salta:
ção. Também se ocupa em descobrir como a força manipuladora da mensagem transmitida pode transformar pensamen-
“o ouvinte acredita no que você fala, portanto, seja cla-
tos, atitudes e até culturas inteiras.
ro, lógico, consciente razoável e responsável. Quando
você leva em conta esses detalhes, desperta a imagi-
As grandes emissoras de rádio, por exemplo, con-
nação através da emocionalidade das palavras e dos
seguem seduzir o ouvinte a um “querer” ouvir os programas.
recursos de sonoplastia, permitindo que as mensa-
Os programas românticos, por sua vez, realizam uma mani-
gens tenham nuances individuais, de acordo com as
pulação por sedução, por oferecer palavras sedutoras e (ou)
expectativas de cada um”. (CÉSAR, 1990:57).
de fascinante impacto ao ouvinte. Desta forma, do “querer”
ouvir à programação, o indivíduo passa ao “dever” continuar
O texto analisado se propõe a cativar o ouvinte atra-
a ouvi-lo. Ao elaborar o esquema narrativo em cada discurso
vés dos vários percursos figurativos que concretizam, no dis-
colocado pela mídia rádio, com certeza seria explicitado como
curso sincrético, o tema amor-paixão. O programa é iniciado
se realiza o “sentido da vida” idealizado por Greimas:
com um BG (música de fundo) romântico para sugerir temas
como paixão, amor e tranquilidade por sua melodia calma.
Então o locutor dá início ao programa, ao percurso temático e
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figurativo do amor romântico em que as palavras correspon-
perado que eu acabei namorando a pessoa porque...
dem a atitudes românticas.
porque ela realmente gostava. Engraçado. Pauta nisso. Lembra de como as coisas são pra você. Como a
“Começa agora um pedaço do programa que eu gosto
expressão eu te amo te pegou em cada uma das vezes
muito. Essa é a hora em que alguém fala do amor de
que você teve uma relação.
uma vida e escolhe uma música. Música que traduz o
que realmente importa: o amor. Além de escolher uma
música, quem participa ganha uma diária para o Motel
Belle.”
No estudo da relação entre enunciadores e enuncia-
tários dos programas, um caso especial de “contrato de veCom base em um pedido de música feito por uma ou-
rossimilhança”, é possível analisar a construção do discurso
vinte que lembrava um amor, o locutor deu início ao
radiofônico romântico, desvendando a metalinguagem dos
discurso:
programas. Na isotopia do amor romântico, há um destaque
para os clichês, extremamente conhecidos e explorados na
Até à meia-noite nós vamos falar sobre como é gosto-
práxis discursiva de radialistas e redatores do mundo ociden-
so ouvir um eu te amo não to falando de quantas ve-
tal.
zes você disse eu te amo, mas eu tô pedindo pra você
lembrar. Com jeitinho, com cuidado, das vezes que al-
guém te disse eu te amo pela primeira vez e como isso
mânticos representam o ideal romântico: o amor à primeira
mexeu com você. Quais foram as sensações, eu sei
vista, com música e dança ao luar, os erros no caminho até
que elas não foram iguais mas é pra voltar e lembrar
que o grande amor apareça, as loucuras feitas em nome des-
que cada uma dessas vezes significou pra você e o
se amor.
Na memória discursiva, os programas de rádio ro-
que mudou na sua vida.
Inserção de músicas
Todos esses clichês constroem a linguagem dos pro-
gramas Paixão Nativa e Hora Mais Paixão Nativa, com vários
percursos figurativos concretizando, no discurso sincrético,
Paixão Nativa. Sempre um pedacinho da sua vida, dos
o tema do amor-paixão, idealizado nas ondas do rádio. Vale
seus amores, da sua história. Tava falando com você
lembrar que cada provável ouvinte (como “enunciatário” do
sobre relembrar um pouquinho da vez ou das vezes
texto) vai reagir de maneira diferente a essas estratégias (en-
que uma pessoa que você conhece, você sabe quem
tendida aqui como o “enunciador”).
é, falou pra você´ eu te amo´ ou fez uma declaração de
primeira, assim.
Na semiótica de Greimas, “o enunciador propõe um
A gente escuta ´eu te amo´ muitas vezes na vida, mas
contrato, que estipula como o enunciatário deve interpretar a
tem certas fases da vida, tem certas pessoas geral-
verdade do discurso; (...) o reconhecimento do dizer-verda-
mente nesse primeiro momento que marcam de uma
deiro liga-se a uma série de contratos anteriores, próprios de
maneira impressionante.
uma cultura, de uma formação ideológica e da concepção, por
exemplo, dentro de um sistema de valores, de discurso e seus
Eu tava lembrando aqui de uma vez que eu ouvi um
tipos. (...) A interpretação depende, assim, da aceitação do
´eu te amo´ e que foi a primeira vez que eu senti o que
contrato fiduciário e, sem dúvida, da persuasão do enuncia-
se chama de frio na barriga. E eu nunca mais esqueci
dor, para que o enunciatário encontre as marcas do discurso e
esse frio na barriga. Foi a primeira e única vez. Eu não
as compare com seus conhecimentos e convicções” (Barros,
esperava. Lembrei de uma outra vez que era tão ines-
1988, p.94). Um contrato fiduciário é um contrato de “fé”, não
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um contrato de papel. Seus discursos são “sentidos como ver-
O discurso romântico é caracterizado pela linguagem carre-
dade” por seus milhões de ouvintes, daí a razão de seu poder
gada de apelos à emoção. A estética romântica está relacio-
persuasivo. Percebe-se que a persuasão por construção de
nada a casos de amor, imposição do eu, o sentimento exa-
identidade e valores da Rádio Nativa é muito abrangente e uti-
cerbado e vocábulos semânticos que se ligam ao léxico do
liza toda a carga de grandes recursos manipulativos: o ouvinte
Romantismo (amor de uma vida, mexeu com você, marcam
recebe tanto sanções pragmáticas (prazer de ouvir música e
de maneira impressionante – Eu tava lembrando...senti um
mensagens) quanto cognitivas, como uma imagem melhor de
frio na barriga). (Te amo além da eternidade / É maravilhoso /
si mesmo para os outros.
Todas as noites que acordo, acordo pensando em você / com
toda a força da minha paixão).
Há outro ponto interessante. Os programas passam
a mensagem que, para pertencer a um grupo, é preciso con-
Os programa se assenta nas oposições semânticas
quistar determinados “prêmios”. Possuir um grande amor,
sonho vs realidade, da felicidade vs infelicidade, do ideal do
amar, ser compreendido, deve ser interpretado pelo ouvinte
amor vivido vs solidão e da companhia vs solidão. Partindo
com a sua própria identidade. Ao viver um grande amor, ou
de tais oposições semânticas o sonho, a felicidade, o ideal
mesmo esperar por esse grande amor, ele está se portando
e a companhia são eufóricas e a realidade a infelicidade e a
como alguém que, como sujeito, se constrói em relação aos
solidão são disfóricas. O programa apresenta o sujeito amor
seus objetos. É o clássico “ter” para “ser”.
em disjunção com a solidão com a falta de conquista, com a
infelicidade e a conjunção com o ideal de felicidade, o único
Ainda na concepção ocidental, o som sempre teve
ideal que garante uma vida tranquila e com metas alcança-
algo de misterioso, onipresente. O som, como uma paixão,
das: a partir de uma música de notas suaves, de um texto
não se rende facilmente a um raciocínio acostumado com coi-
que relata uma vivência, citado por uma voz macia, intrigante,
sas, locais e configurações estáveis. É livre e pode agir como
penetrante, sonhadora, que acalma e acalenta revalidando a
e quando quiser. (Essa é a hora em que alguém fala do amor
amor, a doçura. (Sensação de proteção, de valor do ouvinte).
de uma vida e escolhe uma música / Música que traduz o que
realmente importa: o amor). (O tamanho da minha paixão não
Passa ser uma fonte de valores, operando, assim,
dá pra ser medida / Não sei de onde vem tanta paixão / Procu-
uma transformação no ouvinte com o propósito de inculcar
ro estar com você nem que seja em pensamento).
nele a eficiência, a importância, o conhecimento que o locutor
tem da história dessa pessoa. Apesar de ser um programa di-
O texto também apresenta sutilezas inerentes às re-
lações amorosas. São essas sutilezas que, por tantas vezes,
rigido a milhares de pessoas, é passado o valor do individual,
do particular.
conferem às relações passionais um caráter diferente. A respeito do tema, nota-se que ele possui uma presença marcan-
O uso constante das palavras AMOR, PAIXÃO, FE-
te, talvez dominante, de relações argumentativas muito parti-
LIZ, COMPANHEIRA são fatores que fazem o programa per-
culares entre enunciador e enunciatário. De fato, parece que
manecer na memória do ouvinte graças as palavras que se
um dos sentidos do texto emerge da relação de manipulação
fundem às técnicas de produção para uma apresentação so-
entre esses dois actantes, quando o primeiro (locutor) afirma
nora de sensações, levantando temas como segurança, tran-
valores de verdade tidos como necessários para o segundo
quilidade, companhia, idealização e certeza de estar sendo
(ouvinte). (Eu tava lembrando aqui de uma vez que eu ouvi
compreendido. O enunciador, dotado de um fazer persuasivo
um ´eu te amo - eu tô pedindo pra você lembrar. Com jeitinho,
tece o discurso informativo e adquire valores de base: querer,
com cuidado, das vezes que alguém te disse eu te amo pela
dever, saber e poder, capazes de convencer seu enunciatário
primeira vez e como isso mexeu com você). (A maior e mais
e predispô-lo ao fazer-crer, levá-lo a acreditar na veracidade
verdadeira prova de amor está no trato diário de aprender a
dos ideais e na confiabilidade do programa.
conviver com alguém).
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 40-46, jul/dez. -2014
41
Os sons executados no programa acentuam os traços sono-
traduzem o necessário e essencial para uma vida plena e per-
ros. A cultura brasileira considera tais tons como românticos e,
feita. Toda essa figuração leva o enunciatário a penetrar no
portanto, dotados de valores positivos que levantam valores
mundo ideal, leva-o a fazer-crer algo, o que fundamenta todo
de leveza, lembranças de momentos bons que foram vividos
o percurso de sua percepção.
e que conferem ao programa o atributo de merecer sua atenção confiança e apego.
Desse modo, a reiteração dos temas e a recorrência
das figuras no discurso asseguram a Paixão Nativa uma co
Pode-se dizer que o sujeito é competente e realiza-
erência semântica com tipo de programa de rádio estabele-
do, pois o destinador-manipulador através da manipulação
cido. As figuras presentes nas mensagens lidas pela Tati evi-
por tentação, pois apresenta valores positivos (palavras amo-
denciam a intenção de o destinador estabelecer um vínculo
rosas e confiáveis, além de representar o próprio ouvinte) e
fiduciário com o destinatário, a fim de que este aceite seu dis-
por sedução (imagem positiva do destinatário). Apresenta
curso. O destinador, eu, entrega-se de corpo – meu coração,
imagens positivas (você que ama, você que lembra) e ofe-
minha vida - e alma - meus sonhos -, pois tem consciência de
recem ao destinador-julgador um contrato de aceitação. O
que somente com uma entrega total - tudo enfim - ele poderá
enunciatário acaba por sancionar positivamente e dar audi-
conquistar a confiança do destinatário e realizar o seu fazer
ência. Essa estrutura contratual. Que envolve o fazer-crer,
persuasivo.
pode estar firmado também na dimensão passional (fazersentir) nas relações afetivas trabalhadas no programa, pois o
enunciatário associa o texto o som e voz a estrutura contratual
mas é a passionalização (Tatit,1996: 22). No componente
positiva.
linguístico, é apresentado um relato das histórias amorosas
A estratégia persuasiva dominante nesses progra-
vividas pelo sujeito, que resultaram em uma visão do amor
Pode-se também pensar a tentação e a sedução por
como ideal de felicidade. Caracterizado por uma poética lí-
outro ângulo: o da manipulação da emissora. Por se tratar de
rico-amorosa, que explora a sentimentalidade ao extremo, a
um gênero sincrético (música, voz e texto) ao provocar certas
mensagem romântica constitui um lugar privilegiado de mani-
emoções sensoriais e trabalhar a afetividade, o lado passio-
festação da paixão. Saudade, carinho, felicidade são alguns
nal pode restringir a liberdade de escolha do enunciatário, e
dos temas que constituem o seu universo passional.
o faz aceitar o contrato proposto, pois como já foi sancionado
positivamente, ele não questiona e o aceita, haja vista que,
segundo Greimas, se um sujeito adquire valor, é porque outro
letras uma narrativa que invariavelmente relata estados de
foi dele privado ou se privou.
paixão. Mas é possível considerar que vigora certo consenso
As composições desse gênero apresentam em suas
cultural em que o amor aparece sempre como sinônimo de fe
A desembreagem é enunciativa, pois se concentra
licidade. O processo de comunicação estabelecido tem como
no tempo do agora e no espaço do aqui, dando um efeito de
finalidade transmitir um /saber/ do destinador: “amar é tudo na
proximidade e realidade e tais efeitos estão ancorados ao pro-
vida”; ou seja, é uma atribuição de valores cognitivos da parte
grama, aos textos, aos locutores, as musicas e aos demais
dele para o destinatário. O estabelecimento de um contrato
quadro inseridos no programa. O objeto em que está investido
fiduciário, baseado na modalidade do /crer/, é fundamental
o valor poder ser confiável, poder ser a melhor companhia
para que a manipulação se efetue e o destinador possa, por
que entende o ouvinte, poder falar do ideal de amor torna-se
meio de sua competência -/saber/ e /poder/-, interferir na com-
um discurso temático sobre a felicidade a partir de um gran-
petência do destinatário.
de amor, da segurança que ele traz, de não estar sozinho, o
que realmente importa. Vários investimentos figurativos são
usados para a mesma busca narrativa da felicidade. A voz
dor-enunciador vão determinar as características específicas
macia que faz companhia que possui palavras doces e que
dessas canções. No caso da mensagem unida à música ro-
Revista da Universidade Ibirapuera -
As estratégias persuasivas utilizadas pelo destina-
São Paulo, v. 8, p. 41-46, jul/dez. -2014
42
mântica oferecida de um ouvinte a outro e transmitidos pe-
los locutores, além do próprio locutor contar seus “segredos”
por essas palavras busca um código em que o sentimento
mais íntimos (como no caso do texto do Vini França) são in-
passa a ser expresso sem as amarras da razão, num tom nos-
vocados os conteúdos afetivos para despertar a confiança do
tálgico e confessional do texto que instigam o imaginário do
destinatário.
leitor (A gente escuta eu te amo muitas vezes na vida, mas
A partir da Semântica Formal, nota-se que a escolha
tem certas fases da vida / que marcam de uma maneira im
A união de textos, músicas e voz como valores mo-
pressionante). (O amor é um jogo em que duas pessoas que
dais de fidelidade, compreensão e confiança, demonstrando
estão jogando podem sair ganhando / Você só me faz bem/
um saber-fazer e um poder-fazer - capacidade de compreen-
Arranhei meu coração).
der o ouvinte. O programa Paixão Nativa qualifica-se assim
como um potencializador do fazer-crer do enunciatário, que
passa então a associar ao programa aquilo que é positivo
timentos sublimes. É um tempo para lembrar enredos senti-
para viver a construção da verdadeira felicidade.
mentais nos quais os amantes viveram ou vivem seus pra-
No texto, o “amor” é movido por ideais nobres e sen-
zeres e ilusões. Nas palavras como as coisas são pra você
6. SEMÂNTICA DA PAIXÃO
/ como a expressão te pegou explicita-se uma associação
entre o presente e o passado. Através da música, do texto e
Com a ajuda da Semântica Lexical é possível encon-
da voz, são constituídos os veículos para toda lembrança, a
trar outras significações. A Polissemia, que consiste no fato
ponto de esquecer todos os problemas do tempo presente e
de uma determinada palavra ou expressão adquirir um novo
estar em uma outra dimensão e desejar o que quiser, tudo via
sentido, além de seu sentido original (do grego polissemia =
pensamento. É pertinente observar a escolha da simbologia
muitas significações) nos ajuda a entender o texto.
frio na barriga que, além de representar uma comunicação
física, relaciona-se inevitavelmente à emoção.
A palavra marcar, presente nos textos possui muitas
significações. Entre elas: pôr marca, etiqueta, número etc. em
(algo), para identificação; fazer marca com ferrete; ferretear a
presso como uma intensa e ardente vontade de estar com o
pele, o couro de um animal; indicar (alguma coisa) com sinal
outro e conduzir sua vida com aquela pessoa. Aqui, a emoção
distintivo para chamar atenção sobre esta ou para lembrar-se
do amor chega para refletir os legados culturais, as caracterís-
dela; assinalar; deixar sinal visível em; levar em conta; aten-
ticas de personalidade individuais e os determinantes de um
tar para. Aqui, ela chega para lembrar também a simbologia,
contexto social específico. (Juntos, caminhando na mesma
no sentido de causar marca, impressão nos sentimentos, no
direção, poderemos fazer um futuro diferente / espero ficar ao
espírito, na maneira de ser. Há ainda uma ampliação de signi-
seu lado por muitos e muitos anos).
Nesse mesmo campo das emoções, o amor é ex-
ficado. Na palavra engraçado, que, muitas vezes representa
algo cômico, chega para significar algo agradável, formoso e
gracioso, assim como o amor e suas histórias.
o reconhecimento pleno de sua singularidade, incluídas aí
O amor cria uma idealização. Promete ao indivíduo
todas as dimensões e particularidades. Por isso mesmo, o
Ao longo do texto há um notável e produtivo diálogo
discurso romântico reivindica e absorve as pessoas de forma
com o ouvinte, através da utilização do imperativo, ressaltan-
total, fazendo com que outras referências do entorno social
do o elo de fidelidade, particularidade e amizade (Lembra de
percam sua importância. (Essa é a hora em que alguém fala
como as coisas são pra você /Quer falar da sua paixão / Eu te
do amor de uma vida e escolhe uma música. Música que tra-
amo). As palavras no diminutivo aqui não têm conotação pe-
duz o que realmente importa: o amor). (Você tomou conta do
jorativa, mas buscam trazer à tona afetividade e intensidade
meu coração, da minha vida / cada minuto ao seu lado é tudo
(Jeitinho /pedacinho /mansinho).
pra mim).
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 42-46, jul/dez. -2014
43
O processo de constituição histórica do ideal de amor
tanto. A própria língua mostra a diferença entre amar e es-
na cultura brasileira aparece como uma síntese dos ideais de
tar apaixonado, e um estudo mais aprofundado destas pro-
amor, incluídos aí o amor platônico, a paixão, a sedução e o
priedades linguísticas são úteis na compreensão destes dois
erotismo. Nas sociedades contemporâneas, “o ideal românti-
conceitos, tão próximos e ao mesmo tempo tão diferentes. A
co” mantém uma enorme importância, constituindo ainda ma-
ideia que fica deste exame é que “amor” designa algo mais
triz de referência relevante para escolhas e comportamentos
sólido e calmo do que a “paixão”, sua equivalente mais inten-
individuais. Hoje, o amor, além de significar paixão e afeição
sa e fugaz. A palavra paixão, antigamente, indicava qualquer
emocional, representa o matrimônio e, frequentemente, os
emoção profunda, positiva ou negativa (daí a Paixão de Cris-
planos de constituição de uma família.
to); em dias atuais, o termo paixão indica emoção profunda e
positiva.
Não há como desprezar aqui os conceitos de amor
e paixão. Pertencentes a semânticas diferentes, eles conti-
No texto, os autores unem o sentimento da paixão na
nuam a desempenhar um papel importante na vida da socie-
palavra amor para sustentar os prazeres que causam as sen-
dade. Preenchendo o imaginário das pessoas, são pré-requi-
sações da paixão com a segurança que causa a sensação do
sitos de uma vida de sucesso, alimentados desde a infância
amor. (vamos falar sobre como é gostoso ouvir um eu te amo
pelos contos de fadas até à vida adulta pela sociedade e pelos
- uma pessoa que você conhece, você sabe quem é, falou
meios de comunicação. Dizer “eu te amo” possui um signi-
pra você eu te amo ou fez uma declaração de primeira, assim
ficado comprometedor (ou pelo menos deveria ser) do que
- A gente escuta ´eu te amo´ muitas vezes na vida, mas tem
um “estou apaixonado por você”. Por essa razão, as frases
certas fases da vida, tem certas pessoas geralmente nesse
desembocam em duas interpretações diferentes para quem
primeiro momento que marcam de uma maneira impressio-
as ouve e recebe. Por essa razão causa sensações positivas
nante).
no individuo. O reconhecimento implícito da diferença reside
precisamente no recurso linguístico que cada frase utiliza. (
A correspondência entre voz, texto e música, além
...alguém te disse eu te amo pela primeira vez e como isso
da participação do ouvinte é a estratégia enunciativa funda-
mexeu com você / Quais foram as sensações, eu sei que elas
mental do discurso sincrético no rádio, responsável pelo en-
não foram iguais mas é pra voltar e lembrar que cada uma
volvimento emocional do ouvinte. No caso do programa em
dessas vezes significou pra você e o que mudou na sua vida).
análise, a isotopia global é a do amor romântico, que permeia
(seu amor é tudo pra mim / Eu te amo e a música que revela
o programa do começo ao fim, nas histórias de paixões “vi-
minha paixão ).
venciadas” pelos ouvintes e pelo locutor. Para o ouvinte, trata-se de um discurso metalinguístico mostrando as principais
No inglês existe o “I love you”, mas também o “I’m
isotopias figurativas das mais belas histórias de amor. Nessa
in love with you”. O primeiro é conhecido na cultura brasilei-
práxis enunciativa, o contrato de veridicção entre produtores
ra -, enquanto o segundo declara algo como “estou em amor
e ouvintes se define pelo vivenciar das emoções despertadas
por você”, normalmente traduzido para “estou apaixonado
pelo sincretismo do discurso, com cada ouvinte se sentindo o
por você”. No alemão mantém-se a regra. O mais conhecido
próprio herói ou heroína da história.
é “Ich liebe Dich” (eu te amo), exatamente da mesma forma
que a língua inglesa, conservando também a separação entre
No estudo da relação entre enunciadores e enuncia-
amor e paixão.
tários do programa, um caso especial de “contrato de verossimilhança”, próprio da enunciação artística, pode-se analisar
Nesses idiomas é possível encontrar uma resposta:
a construção do discurso romântico ao longo da história das
existem formas diferentes de se declarar o amor ou a paixão
mensagens de amor. Na isotopia do amor romântico, há um
e, como visto, uma dessas formas é mais profunda do que
destaque para os clichês, extremamente conhecidos e explo-
a outra, afirmando um sentimento mais intenso e outro nem
rados na práxis discursiva de cineastas e cinéfilos do mundo
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 43-46, jul/dez. -2014
44
ocidental. (Além da eternidade / tomou conta do meu coração
playlist da emissora). A vinheta, parte da sonoplastia, também
/ sou a mulher mais feliz desse mundo).
é um dos recursos sonoros utilizados pelo rádio. Ao falar, cria
uma sensação de simbiose (associação) do ouvinte com o
7. TÉCNICA DA PAIXÃO NAS ONDAS DO RÁDIO
locutor, revalidando o companheirismo, a amizade, o elo de
fidelidade e confiança.
A sonoplastia pode ser entendida como o conjun-
to de elementos sonoros disponíveis para a composição da
O uso constante da vinheta também é um fator que a
paisagem sonora; esse conjunto de elementos equivale-se
faz a permanecer na memória do ouvinte graças às palavras
a qualquer outro conjunto de sinais que, originariamente, são
que se fundem às técnicas de volume, inserção do locutor,
dotados da capacidade de funcionar como material significan-
palavras que despertam sensação de amizade e fidelidade
te da comunicação sonora.
(sua melhor amiga e sua rádio / Nativa é muito mais amor),
causando uma representação sonora de sensações, levan-
Segundo Silva (1999: 71), no rádio, tudo o que é emi-
tido por suas ondas sonoras se entrelaçam simultaneamente
tando temas como confiabilidade, segurança e certeza da informação sustentada.
com outras sonoridades”. Portanto, a linguagem radiofônica
não é exclusivamente verbal-oral. Assim como a palavra e a
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
música, os efeitos sonoros, os ruídos e até mesmo o silêncio
constituem a sonoplastia e são incorporados ao imaginário do
ouvinte.
As vozes do rádio, o discurso e as técnicas atraves-
“Na linguagem radiofônica, música, texto, efeitos sono-
sam datas e mudanças, evidenciando sua atualidade. Partiu-
ros, silêncio e ruídos são incorporados em uma sintaxe
se do pressuposto que o estudo semiótico é um componente
regular ao próprio rádio, adquirindo nova especifici-
norteador para a análise de um objeto linguístico, pertença
dade, ou seja, estes elementos perdem sua unidade
ele a qualquer gênero discursivo. Afirmação que, certamente,
conceitual à medida em que são combinados entre si a
reforça-se ao longo da discussão teórica e análise realizada,
fim de compor uma obra essencialmente sonora com
uma vez que foi verificado somente ser possível aproximar-se
o “poder” de sugerir temas ao imaginário do ouvinte”.
da intenção do autor ao escrever o texto a partir da descrição
(SILVA, 1999, p. 71)
do significado das palavras que compõem essas sentenças.
No caso da música, foi possível identificar que ela desempe-
A sonoplastia passa, então, a ser uma fonte de valo-
nha papel relevante entre os meios de comunicação, princi-
res, operando, assim, uma transformação no ouvinte com o
palmente no que concerne à maneira de expressar o conteú-
propósito de inculcar nele a importância da emissora e des-
do e a expressão de suas letras, melodias e ritmos. O prazer,
pertar o interesse pelo programa. Os trechos musicais, tam-
a inquietação, o fascínio e o êxtase, gerados pela lembrança
bém chamados de recortes ouvidos durante o programa são
e desejo do amor e da paixão, fundamentam a reflexão aten-
chamados de trilhas. Como parte de uma composição musi-
ciosa quanto ao percurso evolutivo da lembrança do amor
cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci-
dentro do tempo, e de seu estabelecimento como forma de
do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha
representação cultural.
apresenta um intérprete da canção popular para um texto que
fala sobre um show do mesmo intérprete); ou, ao contrário, o
recorte é feito de modo a perder completamente o sintagma
vras, que completam o sincretismo em rádio são expressivas
musical original (por exemplo, quando são usados trechos de
e absolutamente necessárias para o processamento linguís-
músicas que nunca serão trabalhadas na divulgação do intér-
tico e mental, mostrando assim, que a expressividade exis-
prete ou quando são usadas músicas que não fazem parte da
tente além do que está sendo dito intensifica-se quando os
Revista da Universidade Ibirapuera -
Neste estudo, objetivou-se mostrar o quanto as pala-
São Paulo, v. 8, p. 44-46, jul/dez. -2014
45
falantes, em situações reais, com uma determinada intenção
____________. A mídia da Emoção. São Paulo: Summus,
discursiva, atribuem a elas a sua individualidade e a sua técni-
2005.
ca. Viu-se que o anseio por uma relação amorosa que envolva
plenamente os amantes continua sendo uma aspiração geneFIORIN, José Luiz e PLATÂO, Francisco Savioli. Para en-
ralizada nas sociedades modernas.
tender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1999.
Por ser a ciência que estuda a significação, ampa-
rada por análises relativas às manifestações manipuladoras
dos discursos, sejam eles representados pela linguagem ver-
GREIMAS, A . J. & COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica.
bal ou não verbal, a teoria greimasiana pode contribuir para o
Trad. Lima, A. D. et al. São Paulo: Cultrix, 1989.
desenvolvimento de novas pesquisas em comunicação midiática, considerando as transformações que esta última têm
provocado nos pensamentos e nas atitudes de indivíduos e
GREIMAS, A-J. Du sens II. Essais sémiotiques. Paris: Seuil,
culturas. Marcado pela voz materna e pelo prazer da audi-
1983.
ção, em meio à cultura que o cerca e o convida a participar da
busca do imaginário, o ouvinte realiza suas funções em um
HALADEWICZ-GRZELAK,
simples ato: o de escutar.
Malgorzata.
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Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 47-55, jul/dez. -2014
TÉCNICAS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL QUE
INDUZEM AOS ESTADOS AMPLIADOS DA CONSCIÊNCIA
COMO CUIDADO INTEGRATIVO: REVISÃO DA
LITERATURA
Andréa Romero Latterza1, Harry Tadashi Kadomoto2,
Acary Souza Bulle Oliveira3, Sissy Veloso Fontes4.
¹ Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM
² Instituto Tadashi Kadomoto
3, 4
Universidade Federal de São Paulo – Unifesp
Rua Sena Madureira, 1500 – São Paulo/SP
[email protected]
Resumo
Especificamente nas áreas da saúde, as terapêuticas antes consideradas alternativas são, atualmente conceituadas como complementares e ou integrativas. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Serviço Único de Saúde (PNPIC-SUS) publicada no Diário Oficial da União, em 2006 regulamenta
esses conceitos. A psicologia transpessoal tem utilizada dessas práticas complementares que consideram
o homem em sua multidimensionalidade: aspectos: físico, psicoemocional e espiritual. Sendo assim, temos
como objetivo revisar na literatura nacional e internacional artigos científicos sobre os fundamentos e efeitos de algumas técnicas da psicologia transpessoal que suscitam estados ampliados de consciência, como:
respiração holotrópica, renascimento e terapia regressiva integral, como terapêuticas para cuidados integrativos. O método utilizado foi revisão bibliográfica analítica nas bases de dados da saúde: MEDLINE, LILACS,
SCIELO, publicados entre e inclusive nos anos de 1990 e 2014 nas línguas portuguesa, espanhola, inglesa,
francesa. Foram encontrados, na primeira estratégia de busca três (3) artigos científicos, e na busca manual
foram encontrados mais três (3) artigos. Todos referentes à técnica de Respiração Holotrópica. Os artigos
encontrados convergem em relação aos postulados de que os estados ampliados de consciência podem
ajudar na organização e compreensão de conteúdos do inconsciente, fornecem suporte empírico inicial para
a afirmação de que psicoterapias orientadas experimentalmente com a utilização da Respiração Holotrópica
podem ser modalidades terapêuticas úteis e sugerem linhas de pesquisa para testar as hipóteses dos efeitos
psicoterapêuticos da Respiração Holotrópica e afirmam que o procedimento não parece ser prejudicial para
os indivíduos que procuram psicoterapia.
Palavras-chave: Psicologia; Estado de Consciência; Medicina Integrativa; Cuidados Integrativos; Revisão da
Literatura.
Abstract
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 57-55, jul/dez. -2014
In the health Field specifically, the therapeutics before considered alternatives are currently dignified as complementary and or integrative. The National Policy for Integrative and Complementary Practices in the Single
Health System (PNPIC-SUS) published on the Union Official Gazette in 2006 regulates theses concepts. The
transpersonal psychology uses these complementary practices that consider the human-being in the multidimensionality: physical aspects, psycho emotional and spiritual. This work aims to review the National Literature and International scientifical articles which address about the foundation and effects of some techniques
of transpersonal psychology which arouse the developed condition of the consciousness such as: Holotropic
Breathwork, Renaissance and Regression Therapy as therapeutics for integrative cares. The method used
was the analytical bibliographic review by means of strategical search in the main health database: MEDLINE,
LILACS, SCIELO, published from 1990 and 2014 in Portuguese, Spanish, English, French and also by manual
search of cited references in the article found. In the first search strategy was found three (3) scientifical articles
and the manual search was found three (3) more articles. All the articles referring to the Holotropic Breathwork.
The articles found converge to the postulated that the developed condition of the consciousness may aid in the
organization and comprehension of the unconscious contents provide initial empiric support to the statement
that psychotherapy guided experimentally with the use of Holotropic Breathwork may be useful therapeutics
modalities and propose ways of research to test the hypothesis of the psychotherapeutics effects of the Holotropic Breathwork and affirm that the procedure does not seem to be harmful to the individuals who search for
psychotherapy.
Keywords: Psychology; Consciousness State; Integrative Medicine; Integrative Care; Literature Review.
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 48-55, jul/dez. -2014
49
1. Introdução
mais que necessário, revela-se vital; afinal, os propósitos
dos cuidados integrativos focam-se não apenas no trata-
Uma significativa mudança na percepção da exis-
mento dos aspectos físicos humanos, mas no equilíbrio
tência do ser humano e sua relação com a sustentabilidade
do bem estar emocional, social e espiritual, visando não
planetária pode ser verificada nos últimos anos. Pouco a
somente o tratamento e prevenção dos agravos da saú-
pouco, cientistas contemporâneos têm mostrado a necessi-
de, mas, principalmente a promoção da saúde integrada.
dade de investigar o ser humano de maneira mais holística.
Dentre todas as possibilidades abarcadas por es-
A clássica dissociação entre os aspectos físicos,
sas estratégias terapêuticas, o presente trabalho direciona
emocionais e espirituais, bem como a relação desses com
sua atenção aos estados ampliados de consciência, que
o meio ambiente deixam de existir e, como consequência,
podem ser suscitados por meio de técnicas da psicologia
a união entre saberes modernos advindos dos estudos so-
transpessoal. Dentre elas foram eleitas para o estudo, mais
bre física quântica, influência da espiritualidade e da eco-
especificamente os fundamentos e os efeitos na saúde de
logia na saúde, bem como outros temas que abrangem o
três delas: a “Respiração Holotrópica”, o “Renascimento” e
paradigma da multidimensionalidade humana, com o lega-
a “Terapia Regressiva Integral”.
do de antigas tradições, se faz uma alternativa eficaz para
um entendimento mais profundo e ampliado do homem.
Diretamente relacionados, na maioria das vezes, à
psicologia transpessoal, os estados alterados de consciên
Cada vez mais, estratégias terapêuticas para o au-
cia, começam timidamente a ganhar espaço como outras
toconhecimento, catalisadores da evolução da espécie se
estratégias terapêuticas, como meio de tratamento integra-
mostram tão importantes quanto os recursos externos, como
do; ainda que sejam metodologias sistematizadas a partir
os medicamentosos nos processos de cura. Retomam-se,
de registros milenares, onde antigas tradições em diversas
então os conceitos dos cuidados integrativos, praticados há
partes do planeta utilizavam de técnicas de “respiração
milênios pelas medicinas tradicionais orientais e indígenas.
consciente” para acesso aos conteúdos inconscientes e ou
supramentais para o tratamento físico, emocional e espiri-
Proposta pela Assembleia Mundial da Saúde e as-
tual, na literatura contemporânea, os seus fundamentos,
sinada por 61 Estados em 22 de julho de 1946, a Organiza-
bem como os seus efeitos terapêuticos na saúde ainda são
ção Mundial da Saúde (OMS) passou a utilizar, em 1983,
controversos.
a seguinte definição de saúde: “Saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e so-
cial e, não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
te em revisar na literatura nacional e internacional arti-
Importante frisar que hoje, há uma discussão que se forta-
gos científicos que discursam sobre os fundamentos e
lece a cada dia, sobre a inclusão de uma dimensão “ima-
os efeitos de algumas técnicas da psicologia transpes-
terial”, que também pode ser denominada, “espiritual”, no
soal que suscitam estados ampliados de consciência,
conceito de saúde da OMS, e segundo Panzini e col. (2005)
como: respiração holotrópica, renascimento e terapia
a mudança que contemplasse essa dimensão, seria: “um
regressiva integral, e discutir os achados com base na
estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, es-
experiência empírica da autora do estudo, como pos-
piritual e social e, não meramente a ausência de doença”.
sibilidades
2. MÉTODO
Sendo assim, a estruturação de programas de
Sendo assim, o objetivo desse estudo consis-
terapêuticas
para
cuidados
integrativos.
cuidados integrativos, incluindo diversas técnicas e ou
métodos terapêuticos que componham um rol de inter-
venções complementares à medicina convencional se faz
fica analítica. Foram realizadas buscas eletrônicas nas ba-
Revista da Universidade Ibirapuera -
O tipo de estudo realizado foi de revisão bibliográ-
São Paulo, v. 8, p. 49-55, jul/dez. -2014
50
ses de dados MEDLINE (Medlars Online), LILACS (Litera-
cíficos: “Holotropic Breathwork” OR “respiração holotrópi-
tura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde),
ca”, “rebirthing” OR “renascimento”.
e SciELO (The Scientific Electronic Library Online), além
do site PubMed, através do acesso à base bibliográfica
Na primeira estratégia de busca foram encontra-
MEDLINE, desenvolvida pela NLM (National Library of Me-
dos somente seis (06) artigos científicos, com os termos
dicine), a fim de identificar os artigos científicos indexados
“holotropic Breathwork”, nos demais termos consultados
e publicados entre e inclusive nos anos de 1990 a 2014 nas
não foi encontrado nenhum artigo. No entanto, desses
línguas portuguesa, espanhola, inglesa ou francesa. Será
seis (06) foram excluídos três estudos (03), devido serem
considerado critério de exclusão, desse estudo trabalhos
originalmente escritos na língua russa ou na língua alemã,
escritos, originalmente em outras línguas que não as cita-
critérios de exclusão desse trabalho. Foram incluídos,
das anteriormente, devido à dificuldade de tradução dos
portanto nessa primeira fase apenas três (3) estudos:
textos na íntegra.
SPIVAK e col., 1993; TEREKHIN, 1995; RHINEWINE e
WILLIAMS, 2007.
A primeira estratégia de busca utilizada nas bases
de dados MEDLINE, LILACS e SciELO e PubMED utilizou
Na segunda estratégia de busca (busca manual
os descritores de assunto = “Holotropic Breathwork” OR
de referências dos artigos encontrados na primeira busca)
“respiração holotrópica” e “rebirthing” OR “renascimento”.
foram encontrados e, incluídos outros três (3) artigos:
Numa segunda etapa, ampliamos a consulta por meio de
PRESSMAN, 1993; HOLMES e col., 1996; HANRATTY,
busca manual nas referências bibliográficas citadas nos ar-
2002.
tigos encontrados na primeira estratégia de busca.
Foram incluídos, portanto um total de seis (6) estudos,
sendo dos tipos:
Para a discussão dos artigos encontrados foi utili-
zada a experiência empírica da autora desse estudo, cujo
1) Dois (02) estudos de série de casos: (SPIVAK e col.,
relato breve de suas experiências pessoais e formações
1993) – que avaliou o comportamento dos campos eletro-
profissionais encontram-se em anexo. Também foram uti-
encefálicos quando evocados por estímulos neurosenso-
lizados, para fundamentação teórica das técnicas, outros
riais utilizando um instrumento de avaliação neurofisiológi-
tipos de materiais ou trabalhos científicos, que incluíram:
ca específica: potencial evocado cerebral, para análise dos
documentos eletrônicos, encontrados em sites de busca
efeitos da técnica de respiração holotrópica em pacientes
sobre a técnica “Respiração Holotrópica”; apostilas didá-
com neuroses; (HANRATTY, 2002) – sobre a eficácia da
ticas de formação das referidas técnicas, como do Curso
respiração holotrópica em aspectos da personalidade e
de “Renascimento”, ministrado pelos Profs. Tárika Lima e
nos sintomas de angústia de mulheres com alto nível edu-
Khalis Chacel do Instituto de.
cacional;
Renascimento de São Paulo e; do Curso de “Te-
2) Um estudo exploratório do tipo caso-controle: (PRESS-
rapia Regressiva Integral” ministrado pelo Dr. Roger Wo-
MAN,1993) - sobre os efeitos psicológicos e espirituais da
olger; bem como livros texto sobre os temas: Respiração
respiração holotrópica quando comparado à técnica musi-
Holotrópica e Renascimento.
coterapêutica específica;
3. RESULTADOS
3) Um (02) ensaios clínicos aleatórios de pequena amostra: (TEREKHIN, 1995) – estudou a respiração Holotrópica
Os trabalhos científicos encontrados sobre essa
e avaliou sua função durante a psicoterapia e estimou a
temática foram escassos, na literatura pesquisada, entre
contribuição da hipocapnia a alguns mecanismos fisioló-
e inclusive nos anos de 1990 a 2014, com os termos espe-
gicos de respiração que induzem aos estados alterados
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 50-55, jul/dez. -2014
51
de consciência; (HOLMES e col.,1996) - sobre os efeitos
Respiração Holotrópica, visto que os estados alterados de
da respiração holotrópica em condições psicoemocionais
consciência encontrados entre as técnicas parecem ser
específicas;
semelhantes.
4) Um (01) estudo de revisão bibliográfica: (RHINEWINE
e WILLIAMS, 2007) -sobre os efeitos neurofisiológicos e
nas referências consultadas que embasam o presente es-
psicológicos da técnica de hiperventilação prolongada nos
tudo, há um vasto espectro dos mecanismos terapêuticos
sintomas de ansiedade e depressão;
atuantes com a utilização da Respiração Holotrópica.
5. DISCUSSÃO
Como visto nos trabalhos analisados e, também
Conforme a “psique” é ativada e os sintomas se
transformam em um fluxo de experiências, fortes mudan
Foram encontrados poucos trabalhos científicos
ças podem ocorrer.
sobre o tema investigado, mostrando o vasto campo para
pesquisas futuras na área.
Argumenta-se que a RH pode exercer seu princi-
pal efeito psicoterapêutico através de uma combinação de
A revisão dos artigos publicados em revistas
mecanismos psicológicos, juntamente com um conjunto de
científicas indexadas revelou muitos dados interessantes
mecanismos de hipóteses biopsicológicas aqui descritas.
e controversos a respeito da Respiração Holotrópica.
Sugerem-se algumas linhas de pesquisas futuras para testar estas hipóteses.
Dos seis estudos encontrados, nas bases de
dados pesquisadas no período compreendido entre 1993
Da mesma maneira, existe a necessidade eminen-
e 2007, alguns obtiveram sugestivos resultados positivos
te da criação de novas linhas de pesquisa sobre cuidados
quanto à eficácia da RH.
e práticas integrativas ou complementares que visem atenção primária, secundária ou terciária na saúde, como es-
Os diversos estudos fornecem suporte empírico
timulada pela nossa própria Política Nacional de Práticas
inicial para a afirmação de que psicoterapias orientadas
Integrativas e Complementares (PNPIC) do SUS. Seria
experimentalmente com a utilização da Respiração Holo-
de grande utilidade investigarmos, com os mesmos crité-
trópica podem ser modalidades terapêuticas úteis.
rios metodológicos científicos dos estudos internacionais,
ações terapêuticas que vem sendo realizados por diversos
Os estudos sugerem linhas de pesquisa para
profissionais no Brasil, em grupos de trabalho específicos
testar as hipóteses dos efeitos psicoterapêuticos da RH.
ou em vivências conduzidas em workshops que visam o
E sugerem que o procedimento não parece ser prejudicial
desenvolvimento do potencial humano.
para os indivíduos que procuram psicoterapia.
Poderiam ser realizados, por exemplo, estudos
Mas, mais importante do que isso, observa-se que
controlados sobre estas diferentes abordagens que traba-
pode-se realizar pesquisas de qualidade utilizando critérios
lham com técnicas que estimulam estados ampliados de
científicos, numa área ainda pouco explorada, atualmente
consciência, utilizando um tamanho de amostra adequada
nos meios acadêmicos.
e que pudesse representar uma população com diagnósticos psicoemocionais homogêneos, avaliando, por meio de
Inicialmente, o objetivo deste trabalho era o estudo
entrevistas padronizadas, os seus efeitos imediatamente
das técnicas de Renascimento e Terapia Regressiva Inte-
após o término do trabalho e depois de um período de tem-
gral, que são as áreas de formação da autora, ampliaram-
po sem o estímulo (follow up) a fim de analisar se há ou não
se os termos para a busca de trabalhos, incluindo o termo:
a manutenção dos efeitos à médio e longo prazos.
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 51-55, jul/dez. -2014
52
Assim poderíamos contribuir para determinar de-
a RH não dá instruções específicas de como a técnica de
finitivamente se as técnicas devem ser consideradas um
respiração deve ser utilizada durante a sessão. Ele sugere
complemento útil ou um tratamento alternativo de disfun-
que após um período de respiração contínua acelerada,
ções psicoemocionais e ou se promovemsaúde mental,
o participante entra num estado holotrópico de consciên-
bem estar e melhora da qualidade de vida.
cia e, então se permite que a própria inteligência de cura
oriente a respiração. No entanto, existe um comando inicial
Grof, 2011 afirma que em países como a Áustria,
de respiração rápida e acelerada, por um período conside-
Brasil e Russia a RH é aceita como modalidade oficial de
rável de tempo, o que em nossa opinião consiste em um
tratamento complementar, e é facilmente compreendido
“método de intervenção respiratória”.
que poucos países aceitem este tratamento, visto que tanto a prática quanto a teoria desses métodos de auto-conhe-
Mas acima de tudo, distingue a RH pela sua estru-
cimento e ou de “psicoterapia alternativa” individual ou em
tura abrangente, baseada em décadas de pesquisas do es-
grupo representam um avanço significativo em relação às
tado holotrópico de consciência e, ancorada na psicologia
práticas terapêuticas convencionais, atualmente utilizadas
transpessoal, tentando trazer certo grau de rigor científico
em vários países ocidentais.
e intelectual que a tornaria uma técnica aceitável por profissionais da área de cuidados integrativos com treinamento
De modo geral, o trabalho com RH, bem como com
acadêmico. Grof, 2011 acredita que o Renascimento é uma
as outras técnicas aqui sugeridas, necessitam de mudan-
técnica muito poderosa e eficiente de autoconhecimento e
ças radicais de algumas premissas e suposições funda-
cura, porém critica a maneira simplista e não cientifica que
mentais (paradigmas), que poucos profissionais compro-
Leonard Orr dá a sua técnica.
metidos com as estratégias convencionais “de ver o mundo
e a psique humana” estão prontos a fazer (Grof, 2011).
Diante do exposto podemos considerar a possibi-
lidade do estudo do Renascimento e da Terapia Regressi
Para a maioria dos profissionais da saúde, não é
va Integral em trabalhos a serem desenvolvidos no futuro
fácil aceitar que os estados emocionais intensos e as ma-
como possibilidade de trabalhos, por exemplo, de pós-gra-
nifestações físicas concomitantes, encontradas muitas
duação strictu senso, linhas de pesquisa que pretende ser
vezes nestes tipos de terapia, que costumeiramente são
desenvolvida, atualmente no Brasil na área de Cuidados e
diagnosticadas e tratadas como de origem psicopatológi-
Práticas Integrativas.
ca, representam um processo de “auto-cura” que deva ser
incentivado e não reprimido. (Grof, 2011)
Em adição, a experiência da autora deste trabalho,
em vivências terapêuticas utilizando cada uma das técni
Sendo assim, muitos terapeutas tem dificuldade
cas mencionadas nesta revisão bibliográfica: RH, Renas-
de migrar da terapia verbal para as terapias experienciais
cimento e Terapia Regressiva Integral, pode inferir que os
que induzem aos estados holotrópicos de consciência. As
“processos de cura” acontecem independente da técnica
mudanças na teoria e na prática apresentadas pela pesqui-
utilizada e, que todas seriam passíveis de investigação
sa dos estados holotrópico de consciência são considera-
através de estudos científicos.
dos por eles como radicais e desafiadoras.
Grof, 2011 discute a diferença da Respiração Ho-
lotrópica e o Renascimento de Leonard Orr. Ele menciona
A proposta futura é a aplicabilidade em um estudo
clínico com mensurações qualitativas e quantitativas das
técnicas de Renascimento e Terapia Regressiva Integral.
que a respiração é utilizada inicialmente em ambos os métodos como um processo de auto exploração psicossomática e de cura, mas que diferentemente de outros métodos,
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 52-55, jul/dez. -2014
53
4. CONCLUSÕES
Foram encontrados poucos trabalhos científicos
sobre o tema investigado, mostrando o vasto campo para
Grof S, Grof C. Emergência espiritual. São Paulo: Rocco;
1992.
pesquisas futuras na área. Nenhum artigo com o tema Renascimento e Terapia Regressiva Integral foi encontrado.
Grof S, Bennett H. A mente holotrópica – novos conceitos
A revisão dos artigos publicados em revistas cien-
tíficas indexadas revelou dados interessantes e controver-
sobre psicologia e pesquisa da consciência. Rio de Janeiro: Rocco; 1994.
sos a respeito da Respiração Holotrópica. Dos seis estudos
encontrados, nas bases de dados pesquisadas no período
compreendido entre 1993 e 2007, alguns obtiveram su-
Grof S. A aventura da autodescoberta, Summus: São
gestivos resultados positivos quanto à eficácia da RH. Os
Paulo; 1997.
diversos estudos fornecem suporte empírico inicial para a
afirmação de que psicoterapias orientadas experimentalmente com a utilização da Respiração Holotrópica podem
Grof S. Psicologia do futuro – lições das pesquisas moder-
ser modalidades terapêuticas úteis. Os estudos sugerem
nas de consciência. Rio de Janeiro: Heresis; 2000.
linhas de pesquisa para testar as hipóteses dos efeitos
Grof S. Quando o impossível acontece – Historias extraor-
psicoterapêuticos da RH. E, sugerem que o procedimento
dinárias que desafiam a ciência. Rio de Janeiro: Heresis;
não parece ser prejudicial para os indivíduos que procuram
2007.
psicoterapia.
Grof S, Grof C. Respiração Holotrópica – Uma nova
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Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 55-55, jul/dez. -2014
Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 56-67, jul/dez. -2014
A RELAÇÃO DO HOMEM COM A ÁGUA: HIGIENE E TERAPIA
Samantha Caroline Nahat Fratucci1, Fátima Aparecida Caromano1,
Ana Angélica Ribeiro de Lima1, Jecilene Rosana Costa-Frutuoso2, Mariana Callil Voos1
¹ Universidade de São Paulo – USP
² Universidade Ibirapuera - UNIB
Rua Cipotânea, 51 - Butantã - São Paulo/SP
[email protected]
Resumo
O presente estudo reúne informações sobre a relação do homem com a água com fins de higiene ou saúde,
contemporizando os aspectos culturais, sociais, políticos, econômicos e religiosos no decorrer de sua história.
Apresentamos a definição de diversos termos relacionados à hidroterapia e relatamos as descobertas dos
conceitos físicos e fisiológicos que fundamentam a terapia aquática no presente. Discutimos brevemente
como, em tempos contemporâneos, a hidroterapia está desenvolvendo e validando técnicas de intervenção
visando tratamento funcional, clínico e de manutenção da saúde.
Palavras chaves: hidroterapia, imersão, física, fisiologia, história
Abstract
The present study gathers information about how men used the water with hygiene or health purposes. It describes
cultural, social, political, economical and religious aspects, in the course of its history. We included the definition of
varied terms related to hydrotherapy and reported the findings of the physical and physiological concepts underlying
the aquatic therapy. We discuss briefly how hydrotherapy has currently been developing intervention techniques for
functional and clinical treatment and wellness.
Keywords: hydrotherapy, physics, physiology, history
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 56-67, jul/dez. -2014
57
1. INTRODUÇÃO
água de fontes ou poços que contém quantidade significativa de materiais inorgânicos. As águas minerais naturais
A história do uso da água como recurso para pro-
podem ser divididas em água potável, dietéticas ou cura-
moção de higiene e saúde faz parte da história do homem
tivas, sendo que esta última categoria pode subdividir-se
e de sua cultura, padrões sociais, crenças, ciência e reli-
de acordo com sua atividade biológica (Petraccia, 2005).
gião. Estudar esta história é caminhar por diferentes perí-
Estas águas também podem ser classificadas de acordo
odos de tempo, em diferentes civilizações, e compreender
com as variações nas condições termais, densidade, forma
como a somatória destas influências resultou no uso, ou
de aplicação e características minerais.
até mesmo na proibição, da água para promoção de saúde.
O desenvolvimento dos povos depende da água e isto in-
A balneoterapia é o termo utilizado para descre-
clui seus hábitos de produção de alimentos, higiene, lazer,
ver uma forma de hidroterapia na qual a imersão total ou
autocuidado físico, cura e guerras, ligando a história deste
parcial do corpo ocorre em águas medicinais. Subdivisão
bem natural com a vida e à fisioterapia. O conhecimento
deste conceito é expresso pelos termos crenoterapia, que
desta história facilita a compreensão da atual relação que
significa balneoterapia com objetivo de cura. A gratoterapia
as pessoas têm com o uso da água.
faz uso da água na forma de vapor, a helioterapia indica o
uso da hidroterapia associada ao banho de sol, a talassoterapia remete à aplicação de água no mar e o termo pelo-
2. CONCEITOS RELACIONADOS À HIDROTERAPIA
terapia informa a associação de algum tipo de lama (peloma) com propriedades químicas terapêuticas. Todas estas
Historicamente, o nome utilizado para definir o uso
palavras podem ser ouvidas atualmente em locais que hoje
da água como forma terapêutica mudou várias vezes, em-
conhecemos como Balneários e Spas que, do Latim, signi-
bora hoje ainda sejam usados como sinônimos, a exem-
fica “sanitas per aquas”, ou sáude pela água (Tubergen e
plo de hidrologia, hidrática, aquaterapia e terapêutica pela
Linden, 2001).
água. Mais recentemente, outros nomes foram aceitos,
como hidroginástica, exercícios aquáticos, reabilitação
aquática, terapia aquática e hidrocinesioterapia (Ruoti,
3. INÍCIO DO USO DA ÁGUA COM FINS DE HIGIENE E
cap.1, Hirac, 1996). No século XIX, a aplicação externa de
TERAPIA E A CONFLUÊNCIA ENTRE RELIGIÃO, CIÊN-
água na forma de imersão com propósito terapêutico pas-
CIA E SAÚDE
sou a ser denominada hidrologia médica. (Becker e Cole,
1997), mas o termo mais utilizado atualmente é hidrote-
Desde a pré-história o homem se relaciona com a
rapia (do grego: “hydor”, “hydatos” = água e “therapeia” =
natureza e desenvolve práticas físicas necessárias à sua
tratamento).
sobrevivência, entre elas, o nado para caça e banho, propiciando aos seus praticantes ganho de força, flexibilidade e
Existem diversas formas de se usar a imersão
destreza (Arante, 1998).
em água como recurso terapêutico. O termo hidroterapia
agrupa todas elas, mas podem ser diferenciadas algumas
formas distintas de utilização da água em processos profi-
queólogo e historiar David Rohl (1988), que se baseou
láticos ou terapêuticos, quando associada a outros recur-
nos nomes antigos e atuais de rios, cidades e montanhas
sos ou elementos (Biasoli, 2006). Começando pela pala-
para provar que encontrou o Jardim do Éden, datado de
vra base, a hidroterapia é um recurso terapêutico que faz
aproximadamente 7.000 a.C. — o pedaço de terra apra-
uso da imersão de uma parte ou de todo o corpo em água
zível onde, segundo o mito bíblico, teriam surgido Adão e
unicamente com fins terapêuticos. Pode ser utilizada água
Eva, os primeiros humanos da Terra. Para o arqueólogo, a
potável ou mineral, sendo que, no segundo caso, utiliza-se
região onde atualmente fica a cidade de Tabriz, no Irã, foi
Revista da Universidade Ibirapuera -
É fácil se envolver pela história contada pelo ar-
São Paulo, v. 8, p. 57-67, jul/dez. -2014
58
palco do surgimento da primeira tribo capaz de dominar
capítulo “Os ventos, as águas e os lugares” onde ele enfa-
a agricultura e domesticar animais, período antropologica-
tiza a importância de ter conhecimento sobre os poderes
mente conhecido como “Decisão de Revolução Neolítica”,
da água e suas mudanças de acordo com sua forma física
a pedra sobre a qual as civilizações foram construídas,
(Katsambas, 1996).
porque sem a agricultura, não haveria cidades na Terra. A
região se caracteriza pela localização na antiga Mesopotâ-
Segundo documentos de mais de 3000 anos, o ato
mia (que significa terra entre 2 rios), na verdade, próxima
de tomar banho era sagrado e parecia ser uma forma de
de 4 rios, os atuais rios Eufrates, Tigre, Gihon e Pishon. A
purificar o espírito de uma pessoa, que para tal, chegavam
civilização humana, segundo relatos religiosos e antropo-
a tomar até três banhos por dia. Para vários antropólogos,
lógicos, nasceu por causa e entre as águas.
este ritual afastou várias epidemias e pragas, comuns à Antiguidade. (http://www.indiana.edu/~ancmed/meso.HTM).
Os Sumérios foram os primeiros a se deslocarem
Por volta de 1900 a.C., um novo processo de invasão terri-
e se estabelecerem na região da Mesopotâmia. Desenvol-
torial dizimou a dominação dos sumérios e acádios na re-
veram a irrigação, a escrita e o arado. Construíram casas
gião mesopotâmica. Desta vez, os amoritas, povo oriundo
de tijolos de barro e cidades, como a de Uruk, que em 3.000
da região sul do deserto árabe, fundaram uma nova civili-
a.C. chegou a ter 40.000 moradores. A religião politeísta
zação que tinha a Babilônia como sua cidade principal. So-
era importante para este povo. Enki, entre os sumérios, era
mente no século XVIII o rei babilônico Hamurábi conseguiu
o deus das águas doces, e também o deus do conhecimen-
pacificar a região e instituir o Primeiro Império Babilônico.
to e da sabedoria, possuidor dos segredos da vida e da
Para os babilônicos, seus médicos eram especialistas em
morte. A descendência genealógica de Enki, narrada em
água (http://www.historiadomundo.com.br/babilonia/).
tábuas de argila, começa a se tornar desconhecida com o
desaparecimento da civilização Sumérica. Enquanto isto,
Os egípcios atribuíam poderes sobrenaturais à
os egipcios surgem como civilização tendo como ponto de
água, o que levava os sacerdotes a se lavarem diversas ve-
partida o Rio Nilo.
zes durante o dia para que pudessem ter a honra de entrar
nos templos. Para estes povos, o desenvolvimento e a cura
Mas, existem paralelos deste deus em outras cul-
das doenças eram causados de acordo com a vontade dos
turas e povos que surgiram posteriormente, como o deus
deuses e dos sacerdotes. A maioria dos seus deuses es-
Egípcio Ptah e o deus Netuno dos romanos, conhecido por
tava associada com a medicina, mostrando a ausência de
Poseidon pelos gregos, semelhantes na doutrina, na cro-
limites entre a religião e a ciência (Hirak, 1996).
nologia, e nos registros arqueológicos. O poder atribuído
às águas pelos povos antigos é inegável. Em suas crenças,
Outro povo nômade, em 1000 a.C., afetou o desen-
os rios podiam curar ou trazer substâncias malígnas e for-
volvimento da região – os hebreus, que tomaram Canaã
ças destrutivas, causadoras de doenças e morte. Dentro
em 1000 a.C. e estabeleceram a primeira religião mono-
destas culturas, o banho, a ingestão de água e os cuidados
teista – o judaísmo, na qual a limpeza do corpo e o respeito
com os rios eram parte da vida comunitária (Rohl, 1998).
e cuidado com a água são fundamentais (Irion, 2000).
Nas cidades gregas, centros de tratamento usavam hidro-
Na Roma antiga, hotéis com infraestrutura voltada para
terapia, drogas e cirurgias para a cura (Moss, 2010) e sua
saúde foram construídos próximos aos locais de banhos
mitologia tinha grande ligação com a água. Por exemplo,
e usados para tratamento de muitos desconfortos físicos.
Apolo (deus do sol), era também médico e foi chamado
Nestes tempos, também para os hindus, a água era sinôni-
de “Thermios Apollo” porque, segundo a lenda, ele usou
mo de bem-estar e, geralmente, usada junto com canções
águas das termas para tratamentos. O pai da medicina,
religiosas como forma de tratamento de doenças (Irion,
Hipócrates, foi também o primeiro a usar a hidroterapia.
2000).
Em sua enciclopédia sobre aspectos da medicina existe o
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No quinto século antes de Cristo, a civilização grega dei-
como muitas outras na época, que não era a mais popular,
xou, em parte, o misticismo e iniciou o uso racional da água
mas era sem dúvida a mais perigosa para o governo, pois
para tratamentos específicos. O uso das águas era tão re-
não reconhecia no homem e no governo, nenhum poder.
levante que as escolas de medicina eram criadas nas pro-
Por esta razão, por mais de 300 anos, os seus seguidores
ximidades das estações de banho. No quarto e terceiro sé-
foram perseguidos, torturados e mortos.
culos a.C., o médico Hipócrates usava imersão com água
em diferentes temperaturas para tratamento de espasmos
Mas, após um longo martírio, os cristãos viram sua
e dores articulares, reumatismo, ictirícia e paralisias, entre
religião reconhecida no início do século IV, com a inespe-
outras doenças. Banhos de imersão eram prescritos para
rada e estratégica conversão do imperador Constantino,
recreação e bem estar (Krizek, 1963).
que proclamou a necessidade de uma nova religião que
despertasse e unisse os cidadãos do Império, de forma a
Os romanos ampliaram estes usos e investiram
fortalecê-lo. Constantino reuniu os mais importantes líde-
na qualidade dos sistemas de banhos, piscinas e termas,
res cristãos no Concílio de Niceia, em 325 d.C. Do grande
principalmente com a construção dos aquedutos. Nos anos
conjunto de textos escritos até a época, escolheu os que
300 d.C. os banhos tinham por finalidade o bem estar e a
serviam aos seus objetivos políticos de dominação e des-
cura de doenças. Seu sistema de abastecimento envolvia
cartou muitos outros. O Imperador e os novos Sacerdotes
11 aquedutos, iniciados em 312 a.C., sendo que o maior
dividiram entre si um enorme poder e tornaram-se inter-
deles possuía 90 Km de extensão. Com a introdução de
mediários entre Deus e os homens. Anunciava-se o fim do
aquedutos, os banhos públicos se desenvolveram mais
primitivo Cristianismo libertário e os textos selecionados
tarde em grandes e impressionantes edifícios (Thermae),
foram divulgados sob o nome de “O Novo Testamento.”
com capacidade para milhares de pessoas. Durante o apo-
Mas, mesmo assim, o Império não conseguiu se sustentar
geu do Império Romano os habitantes de Roma usavam
e definhou no início do século seguinte, devastado pelas
1.400 litros de água por pessoa por dia. Os lacedemônios
tribos Bárbaras do norte e do leste, mas a religião católica
criaram o primeiro sistema de banho público em 334 a.C.,
romana se difundiu pelo mundo e mantém sua influência
enquanto os gregos reconheciam as influências dos ba-
política-religiosa até os dias atuais.
nhos no bem-estar físico e mental (Irion, 2000).
A Idade Média, ou Idade das Trevas, teve início na
Infelizmente, mesmo com ciência dos efeitos ne-
Europa com as invasões bárbaras, no século V, sobre o
fastos do chumbo, este metal foi utilizado amplamente na
Império Romano do Ocidente e se extendeu até o século
canaria de transporte de água, causando centenas de mor-
XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano.
tes e contaminando permanenetemente a água utilizada
Carlos Magno foi coroado imperador pelo papa Leão II em
no planeta (Krizek, 1963). Desperdício e poluição começa-
800 d.C., e consolidava-se assim, um novo estado cristão
ram sua trajetória dentro da história do uso da água.
medieval apoiado no sistema feudal (Malucelli et al., 2007).
Para os cristãos, a água foi assunto discutido por muitos
4. QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E NASCIMENTO DO
anos e seu uso influenciou a vida de toda população cristã.
CRISTIANISMO
Ao mesmo tempo em que apresentava rituais que usam
água, como o batismo, o lava-pés na Quinta-Feira Santa e
a água misturada com o vinho no ritual da missa, seu uso
Além da ocupação da Península Ibérica, os Roma-
nos também dominaram regiões próximas ao Oriente. Uma
como prática de higiene e saúde foi proibida e considerada
pecaminosa (Irion, 2000).
delas era a Palestina, com capital em Jerusalém, onde nasceu Jesus Cristo, tido pelos seus seguidores como o Mes-
sias. Com a morte de Cristo emerge uma seita religiosa,
domínio pela Igreja Católica, o costume do banho desa-
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Com a queda do Império Romano e o início do
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parece, dando início ao uso das rezas em substituição às
com rígidos códigos de honra, acabaram por adotar a filo-
técnicas com água para a cura de doenças (Tubergen e
sofia Zen com intuito de manterem o autocontrole, mesmo
Linden, 2001; Moss, 2010), com o argumento que esta prá-
em ocasiões de combates mortais. O costume deste tra-
tica incitava os desejos sexuais, e considerando assim, os
dicional banho no Japão de hoje ainda permanece, pois
locais de banho como “bordeis”. Esses locais passaram a
a nação preserva um grande respeito por suas tradições
ser interditados e alguns até se transformaram em igrejas
seculares. O banho, tradicionalmente, é feito coletivamen-
ou ainda, se mantiveram para uso exclusivo da realeza
te e tem entre seus maiores benefícios a “limpeza mental”,
(que não sofria radicalmente com as imposições da Igre-
inclusive mais do que a de higienização física. Para que a
ja). Chegou-se ao absurdo quando os médicos passaram a
água seja compartilhada por toda a família sem ter a ne-
afirmar que a água, sobretudo quente, debilitava os poros,
cessidade de trocá-la a higiene física tem que ser realizada
deixando o corpo exposto a insalubridades e que, se as
fora do ofurô. Este banho inicia-se com o usuário molhando
doenças penetrassem a pele por meio dos poros, pode-
o corpo com a água retirada do próprio ofurô com balde de
riam levar à morte. Começou a ganhar força a ideia de que
madeira, derramando-a sobre a cabeça. Após o ensaboa-
uma camada de sujeira protegia contra as doenças e que,
mento, sentado em um banquinho de madeira, derrama-se
portanto, o asseio pessoal devia ser realizado “a seco”, só
mais água sobre o corpo, e só então, o usuário pode entrar
com uma toalha limpa para esfregar as partes expostas do
no ofurô e aproveitar-se da água limpa e muito quente, ge-
corpo (Irion, 2000).
ralmente acima de 40ºC (Dambros et al., 2008). Um exemplo de uso consciente da água em decorrência do respeito
Os médicos recomendavam que as crianças lim-
imposto pela crença.
passem o rosto e os olhos com um pano para tirar o sebo,
mas não muito para não retirar a cor “natural” (encardida)
No século XI, dentro do contexto histórico da ex-
da tez. Na verdade, os galenos consideravam que a água
pansão árabe, os muçulmanos conquistaram a cidade
era prejudicial à vista, que podia provocar dor de dentes e
sagrada de Jerusalém. O papa Urbano II convocou a Pri-
catarros, empalidecia o rosto e deixava o corpo mais sen-
meira Cruzada (1096), com o objetivo de expulsar os “in-
sível ao frio no inverno e a pele ressecada no verão. Ade-
fiéis” (árabes) da Terra Santa e libertar o Santo Sepulcro
mais, a Igreja condenava o banho por considerá-lo um luxo
do domínio muçulmano. Essas batalhas, entre católicos
desnecessário e pecaminoso. O uso da água como cura foi
e muçulmanos, duraram cerca de dois séculos, deixando
proibido e considerado bruxaria (Irion, 2000).
milhares de mortos e um grande rastro de destruição. O
deslocamento e mistura de grandes massas humanas e
Diferentemente das histórias das civilizações eu-
ropéias, os registros históricos das civilizações asiáticas
seus costumes, trouxeram de volta, parcialmente, o uso do
banho.
fazem largos relatos de uso da água para banhos de imersão, com rituais de agradecimentos e adoração à água,
Em meados do século XIV, uma doença devastou a
associados à noção de que a água é parte importante da
população europeia. Historiadores calculam que aproxima-
composição do corpo e do universo. (http://www.ofuros.
damente um terço dos habitantes morreu pela Peste Negra,
ind.br/conhecendo-a-historia-do-ofuro/)
transmitida por meio da picada de pulgas de ratos doentes
(http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=31104#
ixzz-
Antigas escrituras Japonesas relatam que Monges
3589qkE6w). Estes roedores encontraram nas cidades eu-
Zen, ao construírem seus monastérios em meados do sé-
ropeias um ambiente favorável, pois estas possuíam con-
culo XII, montavam em primeiro lugar uma sala de medita-
dições precárias de higiene. O esgoto corria a céu aberto
ção com um ofurô (banheira de madeira, na qual é coloca-
e o lixo acumulava-se nas ruas. Rapidamente a população
da água quente) para somente depois, iniciar a construção
de ratos aumentou significativamente. Para piorar a situa-
do prédio. Os Samurais dos Séculos IX ao XIX, guerreiros
ção, a Igreja Católica passava pela sua fase de proibições,
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61
opondo-se ao desenvolvimento científico e farmacológico,
ência dos mouros. Costumes relacionados à melhora do
bem como aos banhos e práticas higiênicas com uso de
bem estar e cuidados com a saúde começam a ser divulga-
água, o que facilitava a disseminação da doença. Os pou-
dos. (Tubergen e Linden, 2001)
cos que tentavam burlar estes preceitos eram perseguidos
Com o Renascimento ocorreu a transformação da medi-
e condenados à morte, acusados de bruxaria (http://www.
cina e o início da balneologia. Essa nova disciplina, em
suapesquisa. com/idademedia/peste_negra.htm).
seu início, foi de difícil ensinamento e comprovação cien-
Já no século XVI e XVII a balneoterapia despertava o inte-
tífica. Do ponto de vista prático, inicia-se cuidados com as
resse de alguns médicos notáveis. Zacuto Lusitano (1575-
condições e características da água, bem como com sua
1642), na Rússia, aconselhava as termas para o tratamen-
aplicação no corpo (ingestão, imersão, inalação e uso em
to de várias doenças, principalmente artropatias e, assim
compressas). (Palmer, 1990).
como Amato Lusitano (1511-1568), aconselhava práticas
hidroterapêutics contra certas doenças febris (Cunha,
Vagarosamente, a hidroterapia foi readquirindo a
1991).
posição perdida. A realeza passou a usá-la como luxo e
como medicina, no que foi copiada pela burguesia. A plebe
A Europa precisava mudar e o movimento que se
contentou-se com a água que corria nos rios e ribeirões.
opôs à realidade vigente na época foi denominado Iluminis-
O uso de águas de fontes e nascentes eram consideradas
mo. Os séculos XVII e XVIII se caracterizaram por serem
especiais e foram mitificadas como milagreiras. O uso dos
os “Anos das Luzes”, marcado pelas revoluções Inglesa e
banhos como meio terapêutico ainda não era realmente
Francesa. O Iluminismo foi um movimento que surgiu na
valorizado, mas com o passar do tempo e devido aos novos
França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre
experimentos para comprovação desta técnica, passa a se
a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade
desenvolver e vira tradição, culminando na criação de uma
Média. Voltaire (1694-1778), defendia a liberdade de pen-
disciplina médica denominada hidroterapia. (Cunha, 1998)
samento e não poupava crítica à intolerância religiosa e
Ainda no século XVIII, para as civilizações russas e escan-
sua opressão (http://www.suapesquisa.com/historia/ilumi-
dinavas, torna-se popular e tradicional o uso de banhos de
nismo/).
vapor quente seguidos por banhos muito frios de imersão
(Irion, 2000).
Em consequência, décadas depois, a terapia por
meio da água volta a fazer parte das técnicas médicas e,
Já no século XIX, em Portugal, Francisco Tavares,
como exemplo, centros de tratamento são criados em torno
professor na Escola de Medicina, nas cadeiras de farma-
de nascentes naturais. A partir daí, a hidroterapia passa
cologia e hidrologia, no seu tratado “Instruções e cautelas
a ter o aspecto mais moderno encontrado na Europa no
práticas sobre a natureza, diferentes espécies, virtudes em
século XIX. A cultura europeia, na época dos descobrimen-
geral e legítimo uso das águas minerais” afirmava que mes-
tos, se deparou com os hábitos dos povos indígenas, entre
mo com a ampla quantidade de águas minerais em Portu-
eles, o de tomar banho. Em parte, foram mais influenciados
gal, a sua aplicação terapêutica era ignorada e escreveu:
que influenciaram. As características terapêuticas e a com-
“As águas minerais, pois, merecem ser consideradas como
provação da eficácia do tratamento pelas águas se desen-
remédio de maior extensão e apropriado a quase todas as
volveram. São criadas termas, cujo uso não era restrito, po-
doenças crônicas, e muitas vezes no fim das agudas”.
dendo ser usado por pobres e ricos, para fins terapêuticos,
estéticos ou para realização de festas e comemorações
Na introdução da obra de Ramalho Ortigão intitu-
(Benedetto, 1996).
lada “Banhos de caldas e águas minerais”, nos deparamos
com as seguintes palavras do prefácio de Júlio César Ma-
Do século XIII em diante o banho volta a ser usado,
chado: “Sempre que temos sido grandes, o havemos sido
especialmente no sul da Europa, nesta época, sob a influ-
devido às águas” (Cunha, 1991). Hoje, já tememos pela
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62
sua falta, tamanho o crescimento populacional e seu con
sumo de forma irracional.
Nos Estados Unidos da América, zonas balneare-
as tiveram suas origem nas práticas dos indígenas (Lund,
Os spas se desenvolveram também devido às
1997). O mais antigo spa dos EUA é o Berkely Springs (ou
guerras, já que serviam de locais de tratamento dos solda-
Warm Springs) que hoje, é um grande hotel com capacida-
dos. O tratamento nesses spas consistia na aplicação de
de para 2000 pessoas (Cunha, 1998).
água para partes do corpo atingidas, na imersão do corpo
inteiro em água (especialmente para doenças reumáticas
e doenças urogenitais), e ingetão de quantidades excessi-
Mesmo com o declínio do interesse pelos spas no
vas de água.
início do século XX, os estudos sobre a hidroterapia continuaram e em 1937, o Congresso Americano de Fisiotera-
Hoje, somente na Grécia, existem mais de 70 re-
pia indicou um Comite para coletar dados sobre os spas e
sorts, que exploram a riqueza do país em águas minerais.
as estações (hotéis) de saúde nos Estados Unidos. A fun-
Os spas são classificados de acordo com a temperatura
ção desse Comite era determinar algumas causas para o
da água, e esta muda de composição iônica sazonalmente
declínio dos spas bem como os agentes terapêuticos usa-
(Katsambas, 1996).
dos nessas instalações. Deste Comite veio uma lista de
spas de saúde aprovados e recomendados pelo Governo
Na Espanha, assim como em outros locais, as ter-
americano (Irion, 2000).
mas têm sido usadas como locais religiosos desde a pré
-história. Atualmente existem mais de 300 spas na Espanha, usados como locais de tratamento, seu uso cresceu
5. INÍCIO DA HIDROTERAPIA
nos últimos anos devido à crise econômica, que levou à
transferência de pacientes do hospital para spas (Ledo,
1996).
Os pioneiros na descrição da hidrocinesioterapia
como ferramenta científica e como recurso de saúde foram
A construção de spas à beira mar se deu inicial-
Sir John Floyer, que escreveu um tratado em 1697 deno-
mente com os romanos, se espalhando depois para França
minado “Um inquérito sobre a utilização correta e o abuso
e Alemanha, que criaram hotéis de banhos próximos aos
dos banhos quentes, frios e temperados” seguido por John
mares, e que continuam se espalhando nos dias atuais
Wesley, o fundador do Metodismo, que publicou um livro
(Irion, 2000).
sobre hidroterapia, em 1747, que apresentava um estudo
sobre o uso do frio no tratamento da varíola. Entretanto,
o impacto destas publicações foi pequeno e os clínicos e
Os spas da Europa Continental e Rússia perma-
necem até hoje como componentes vitais dos sistemas de
acadêmicos estavam focados no diagnóstico clínico e na
farmacologia (Ruoti et al., 2000)
saúde desses países, já que tem papel preventivo além
de terapêutico. Os spas são locais que focam em, além
de tratamentos, engajamento em atividades intelectuais,
Os avanços no uso da água continuaram na Euro-
exercícios e boa nutrição (Irion, 2000). Em 1736, o exército
pa, mas a América ficou estagnada durante o século XIX.
Russo ocupa a cidade de Azof onde outro tipo de banho
Entretanto, os banhos quentes gradualmente ganharam
era usado, associando sauna e imersão em água morna e
popularidade e passaram a ser tomado em decúbito e tam-
posteriormente água fria. Este tipo de rotina é utilizado até
bém utilizado em tratamentos cirúrgicos, neurológicos e
hoje em diferentes spas da Europa (Sanchez, 1991).
psiquiátricos. A hidroterapia ou uso de exercícios aquáticos
para pacientes plégicos ou gravemente afetados só come-
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çou a ser sistematicamente utilizada após a construção do
6. O CONHECIMENTO DAS VANTAGENS DA HIDRO-
primeiro tanque para exercícios em imersão, o tanque de
TERAPIA
Hubbard, na década de 1920 (Ruoti et al., 2000).
As duas Grandes Guerras Mundiais, especialmen-
Por meio de observação, ensaio e erro, mitos e
te a Segunda, expuseram a necessidade do uso da água
tradições, a água foi se mostrando um poderoso aliado da
para os exercícios e a manutenção do condicionamento e
saúde, fosse como higiene ou tratamento. A quantidade de
agiram como precursoras para o ressurgimento atual do
efeitos fisiológicos produzidos por esta substância é nume-
uso da piscina de hidroterapia e a utilização da imersão até
rosa e valiosa. (Becker and Cole, 1997).
o nível cervical como uma forma de reabilitação para uma
ampla faixa de doenças (Harris, 1963).
Parte deste reconhecimento se deu pelo conheci-
mento desenvolvido pela Física. As forças físicas da água
No século XX, é na Europa que alguns spas ini-
que agem sobre um organismo imerso, provocam altera-
ciam procedimentos aquáticos de reabilitação, aplicados
ções fisiológicas extensas, afetando quase todos os siste-
por fisioterapeutas, entre outros profissionais, como forma
mas do organismo. Os efeitos fisiológicos podem somar-
de tratamentos. A parte de reabilitação desses programas
se aos desencadeados pela prática de exercício físico na
incluia um componente aquático e um terrestre e a inges-
água, tornando as resposta mais complexas. (Caromano e
tão de água, para finalidades medicinais, também era reco-
Nowotny, 2002)
mentada. Com o desenvolvimento dos spas, a hidroterapia
começa a ser trazida e difundida por médicos nos EUA, e
Os efeitos físicos da água são mecânicos e térmi-
passa a ser ensinada como disciplina obrigatória nas esco-
cos, e a combinação destes aos efeitos do exercício em
las de medicina (Ruoti et al., 2000).
imersão resulta nas respostas fisiológicas do exercício
em imersão na água (Costa et al., 2012; Caromano et al.,
2003).
A prática de spa-terapia passa a ser conduzida
conjuntamente com a hidroterapia. No início do século XX,
De acordo com Becker e Cole (1997), vale ressal-
particularmente após o surto da epidemia de poliomilite,
tar que uma das circunstâncias que determinaram a evolu-
exercícios na água supervisionados por médicos começa-
ção das pesquisas e o uso das propriedades da água como
ram a ganhar popularidade. A utilidade da terapia aquática
tratamento, é a diminuição da ação da gravidade sobre o
para o paciente com poliomielite foi descoberta por acaso,
corpo em imersão. Tal característica fornece um ambien-
depois de um jovem com a doença cair de sua cadeira de
te ideal para reabilitação de indivíduos que necessitam de
rodas dentro de uma piscina e, enquanto tentava manter-se
uma menor descarga de peso nas articulações ou possuem
flutuando, descobrir que era capaz de mover-se na água.
limitações na terapia em solo.
Durante e após a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a
reabilitação tornou-se uma forma de intervenção reconhe-
Uma das primeiras histórias sobre física da água é
cida e respeitada. Um conselheiro do Ministério da Saúde
a de Arquimedes, que vivia em Siracusa, cidade do Estado
definiu-a como ‘o método pelo qual a função fisiológica é
Sicília, na Grécia Antiga (287 a.C. - 212 a.C.). Segundo a
totalmente restabelecida após sua perda temporária por
lenda o rei consultou o filósofo para resolver o problema
lesão ou doença’, e acrescentava a necessidade de se ga-
da coroa de uma vez por todas – provar se ela era toda de
rantir aos profissionais uma remuneração adequada tanto
ouro ou não. Estava o sábio a tomar banho numa banhei-
para o cuidado físico quanto para o psicológico (Oliveira,
ra, pensando no problema, quando percebeu a solução e
2005).
saiu correndo, nu pelas ruas da cidade anunciando: “Eureka, Eureka!” (“Descobri”), ou seja, que a quantidade de
água que transbordava era igual em volume ao seu próprio
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corpo, e que hoje chamamos de “Princípio de Arquimedes”
ronautics and Space Administration - Estados Unidos da
(também chamado de empuxo ou impulsão). A partir dele,
América) que utilizaram a imersão como meio de simular
podemos afirmar que “um corpo imerso em um líquido irá
a ausência de gravidade no treino dos astronautas (Adler,
flutuar, afundar ou ficar neutro de acordo com o peso do
1993). O primeiro astronauta a pisar na Lua, Edwin Eugene
líquido deslocado por este corpo”. Arquimedes nos deu o
“Buzz” Aldrin, usando seus conhecimentos de física, criou
conceito de densidade absoluta, densidade relativa, em-
a técnica que até hoje é usada para se trabalhar no espaço
puxo, flutuação e peso aparente de corpos imersos (e, por
e, a fim de testá-la, introduziu o conceito de exercitá-la no
consequência, descarga de força), inaugurando a discipli-
fundo de uma piscina, o que é empreendido até hoje na
na de hidrostática e nos fez pensar sobre a inserção do
preparação das atividades a serem executadas no exterior
corpo humano na água (Mazali).
da nave (Macau, 2007).
O tubo de Evangelista Torricelli (1608 – 1647), um
Dos experimentos e estudos desta época nascem
experimento simples com um tubo de mercúrio imerso em
a compreensão detalhada do efeito da imersão de um cor-
uma cuba com mercúrio (um barômetro) permitiu a desco-
po humano na água. Chama a atenção a resposta circula-
berta da pressão atmosférica, que conduz ao conhecimen-
tória desencadeada imediatamente após a imersão, como
to da pressão hidrostática, e mais tarde da hidrodinâmica
consequência da ação da pressão hidrostática, o desloca-
(Cherman, 2004).
mento de sangue da periferia para região do tórax, causando um aumento no retorno venoso e linfático, com sobre-
O conceito de pressão hidrostática determina que
carga do volume central, seguida por respostas fisiológicas
a água, assim como todos os líquidos, exerce uma pres-
compensatórias como o aumento do volume cardíaco. Em
são em todas as direções. Um corpo submerso, portanto,
decorrência destes ajustes, o sistema respiratório está so-
está exposto a um determinado grau de pressão, que é
brecarregado pela ação da pressão hidrostática de duas
determinada pela força por unidade de área. Esta pressão
maneiras diferentes, aumento do volume central, e a com-
é influenciada pela densidade do líquido e pela profundi-
pressão da caixa torácica e abdome pelo volume de água.
dade, pois a coluna de líquido acima do corpo será res-
O centro diafragmático desloca-se cranialmente, a pressão
ponsável pela pressão. Consequentemente, quanto maior
intratorácica aumenta. Entra em ação o sistema renal com
a profundidade, maior a pressão exercida. O conceito de
indução de diurese, natriurese, potassiurese, e supressão
torque representa a capacidade de rotação de uma força,
de angina, vasopressina, renina e aldosterona plasmática.
quando a mesma é aplicada sobre um sistema de alavan-
O papel da diurese de imersão é usualmente explicado
ca. A aplicação deste conceito no ambiente aquático pode
como um forte mecanismo compensador homeostático
ser demonstrada pela interação entre a força de empuxo e
para contrabalançar receptores cardíacos distendidos, re-
o posicionamento do corpo na água (Carregaro e Toledo,
duzindo, deste modo, a distensão atrial direita (Caromano
2008; Caromano e Nowotny, 2002).
et al., 2003).
A mecânica dos movimentos e a termodinâmica
Entre os efeitos obtidos pelo uso da imersão pre-
são impulsionadas pela necessidade de compreensão dos
dominam o relaxamento e o efeito que a imersão em água
movimentos dos planetas, ao mesmo tempo, do funciona-
tem sobre a percepção da dor. São afetadas as termina-
mento dos motores, mas será aplicada ao entendimento
ções nervosas, incluindo os receptores de temperatura,
do comportamento dos movimentos humanos, inclusive
tato e pressão. Quando imerso em decúbito dorsal, ape-
em imersão (Takimoto, 2009; Caromano e Nowotny, 2002).
nas a porção ventral do tronco e a face encontram-se fora
Nas décadas precedentes a 1960, quando o homem pisou
da água, proporcionando a remoção de três estímulos:
pela primeira vez na Lua, o interesse em imersão aquáti-
auditivo, tátil e cinestésico. A experimentação da força de
ca foi renovado quando cientistas da NASA (National Ae-
empuxo, diminui os estímulos dos receptores articulares
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65
de descarga de peso e pressão, bem como a percepção
de movimento. Postula-se que a imersão por si só reduz
BENEDETTO, A. V. World Survey of Mineral Water and
a sensibilidade das terminações nervosas. A ausência de
Spas: Mineral Water and Spas in the United States, 1996.
estímulo cinestésico e de propriocepção são ainda mais
ressaltados quando o estímulo visual é suprimido. Apesar
de não ser um efeito da imersão, quando eliminado através
BIASOLI, M. C.; MACHADO, C. M. C. Hidroterapia: Apli-
de vendas ou ausência de luz induz-se a privação senso-
cabilidades Clínicas (Hydrotherapy: The Use In Different
rial que proporciona alterações psicofisiológicas relaciona-
Clinical Disorders), 2006.
das com respostas de relaxamento. (Cunha e Caromano,
2003; Cunha et al., 2010)
CAROMANO, F. A.; NOWOTNY, J. P. Princípios físicos
Assim, com os efeitos físicos e fisiológicos escla-
recidos e esclarecidos os efeitos da imersão e dos movi-
que fundamentam a hidroterapia. Fisioterapia Brasil. v. 3,
n. 6, 2002.
mentos em imersão, deu-se o início do desenvolvimento
de protocolos, técnicas e métodos de intervenção utilizando a hidroterapia de forma isolada ou associada com ou-
CAROMANO, F. A.; CUNHA, M. G.; PARDO, M. S.; CAN-
tros recursos, e levando esta área do conhecimento de-
DELORO, J. M. Ensino de hidroterapia na graduação- es-
finitivamente para o grupo dos recursos fisioterapêuticos
tabelecendo objetivos. Fisioterapia Brasil. v. 3, n. 4, 2002.
embasados, de grande aceitação por parte dos pacientes
e, comprovadamente eficiente em promover melhora em
grande número de diferentes quadros de disfunções.
CAROMANO, F. A.; FILHO, M. R. F. T.; CANDELORO, J.
Preocupações recentes estão voltadas para hidroterapia
M. Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água.
baseada em evidências e para o ensino do conteúdo desta
Fisioterapia Brasil. ano 4 – n. 1, 2003.
disciplina dentro da Fisioterapia. (Caromano et al., 2002)
CAROMANO, F. A.; IDE, M. R. Movimento na água. Fisioterapia Brasil. v. 4, n. 2, 2003.
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São Paulo, v. 8, p. 67-67, jul/dez. -2014
Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 68-74, jul/dez. -2014
CORRETOR DE IMÓVEIS: UMA ABORDAGEM COMPARATIVA ENTRE O
CURSO TÉCNICO EM EAD E O CURSO TECNÓLOGO PRESENCIAL NA
ÁREA DE TRANSAÇÕES IMOBILIÁRIAS
Alan Almario
Universidade Ibirapuera
Av. Interlagos, 1329 – São Paulo/SP
[email protected]
Resumo
A profissão do Corretor de Imóveis no Brasil vem desde o tempo da colonização, quando as pessoas ganhavam a vida arrumando pousadas para os desbravadores deste país. Como se trata de uma atividade que visa
ao desenvolvimento, o progresso e a concretização dos ideais, é possível afirmar, de maneira figurada, que
Pero Vaz de Caminha deu início às atividades de corretagem ao escrever para Portugal descrevendo o Novo
Mundo, atuando assim como um Corretor de Imóveis. Durante os anos os profissionais deste setor tiveram
seu perfil modernizado para atender às exigências de mercado e criaram conselhos regionais e órgão federal
para a regulamentação da profissão. Na busca da qualidade do atendimento foram criados cursos técnicos a
distância para formação deste profissional, que hoje conta também com um curso presencial de nível superior
na área de transações imobiliárias. Muito tem se discutido para saber se o mercado hoje precisa de um profissional de nível superior ou de nível médio, e, afinal, quais serão as diferenças entre as duas modalidades?
Há diferença de atuação entre os profissionais formados em nível técnico (médio) ou tecnólogo (superior) no
dia-a-dia do trabalho?
Palavras chaves: corretor de imóveis, nível técnico, educação
Abstract
The profession of the Real estate broker in Brazil comes since the time of the colony, when the people gained the
life arranging shelters for the tamers of this country. As if it deals with an activity that aims at the development, the
progress and the concretion of the ideals, it can be affirmed, in appeared way, that Pero Vaz de Caminha began the
activities of brokerage when writing for Portugal describing the New World, actuating as a Real estate broker. During
the years the professionals of this sector had been having their modernized profile to attend to the market requirements, and had created regional councils and federal agency for the regulation of the profession. In the search of
the quality of the attendance had been created technician courses in the distance for formation of this professional,
who today has also with an active course of college level in the area of real estate transactions. It has been argued
so much to know if the market today needs a professional of college level or high school level, and after all, which will
be the differences between the two modalities? It there difference of performance between the formed professionals
in level technician (high school) or technologist (college) in day-by-day of the work?
Keywords: Real estate broker, level technician, education
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 68-74, jul/dez. -2014
69
2.Educação Profissional
1.Introdução
A formação profissional até a década de 80 limi-
Apesar de parecerem simples, atividades de com-
tava-se ao treinamento para a produção em série e pa-
pra, venda, aluguel e permuta de imóveis necessitam de
dronizada, buscando a criação de um “elo privilegiado de
pessoal bem preparado, pois não basta colocar em contato
comunicação entre esses dois mundos aparentemente tão
pessoas que querem vender e pessoas que querem com-
distantes: o da socialização dos conhecimentos (a esco-
prar imóveis, sejam eles residenciais, comerciais ou rurais,
la) e o da produção de mercadorias (a fábrica)” (PETITAT,
a responsabilidade do corretor é bem mais ampla nesta
1994).
transação comercial.
Este ensino profissional, denominado inicialmente
Segundo a lei que disciplina o exercício da profis-
“de artes e ofícios” conservava um perfil mais artesanal do
são (Lei nº 6.530), “compete ao corretor exercer a interme-
que propriamente industrial, com caráter eminentemente
diação na compra, venda, permuta e locação de imóveis,
instrumental, preparava para um ofício particular. Após a
podendo, ainda, opinar quanto a comercialização imobiliá-
década de 80, com as mudanças no mundo do trabalho
ria”.
advindas de novas formas de gestão e organização, foi se
estabelecendo um novo conceito de profissionalização que
atendessem as exigências do mercado, que passou a bus
Esta profissão, em seu princípio, teve o nome de
“agente de comércio” aqui no Brasil. Em 1942 o Ministé-
car pessoal polivalente que fosse capaz de interagir em
situações novas e em constante mutação.
rio do Trabalho, em sua carta sindical, designou-os como
“corretores de imóveis” e hoje são mais conhecidos como
“Técnicos em Transações Imobiliárias”, nome este dado
Como objetivo de atender a demanda, escolas e
também ao curso de nível técnico a distância que forma
instituições de educação profissional buscaram diversificar
este profissional.
programas e cursos profissionais, atendendo as novas áreas e elevando os níveis de qualidade, buscando inclusive
atender o setor de prestação de serviços que se encon-
A Lei nº 4.116 de 1962 reconheceu e regulamen-
trava em plena ascensão. Conforme assinala Pero (1995)
tou a profissão, mas com o passar do tempo foi necessário
o período em questão no Brasil é marcado por uma forte
a criação do diploma legal, então o Congresso Nacional
queda do emprego industrial acompanhado de um elevado
revogou a lei anterior e promulgou a Lei nº 6.530 de 1978,
incremento na produtividade, havendo, como contraponto,
consolidando a profissão e concedendo a seus integrantes
o crescimento da participação do setor terciário e a infor-
o título de Técnico em Transações Imobiliárias.
malização das atividades ocupacionais.
Com a criação de cursos de nível superior na área
de Ciências e Gestão de Negócios Imobiliários, o Conselho
A educação profissional passou a ser vista como
Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci) admitiu também
uma importante estratégia para que os cidadãos tenham
a inscrição nos CRECIs (Conselhos Regionais de Correto-
efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da
res de Imóveis) dos concluintes deste curso. Estes cursos
sociedade, deixando de lado o conceito de que seria seu
estão ainda sendo iniciados nas universidades e tem tido
papel única e exclusivamente preparar o educando para a
pouca procura, formarão o profissional em dois anos e são
execução de um determinado conjunto de tarefas.
denominados cursos tecnólogos.
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 69-74, jul/dez. -2014
70
Segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação – Lei 9394/96), educação profissional é concebida
•
qualificar, reprofissionalizar e atualizar jo-
como integrada às diferentes formas de educação, ao
vens e adultos trabalhadores, com qualquer nível de
trabalho, à ciência e à tecnologia, conduzindo ao perma-
escolaridade, visando a sua inserção e melhor de-
nente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.
sempenho no exercício do trabalho.
(Art. 39). Ela é acessível ao aluno matriculado ou egresso
do ensino fundamental, médio e superior, bem como ao
trabalhador em geral, jovem ou adulto. (Parágrafo único
Vale, no entanto, ressaltar que todas as moda-
– Art.39), desenvolvendo-se em articulação com o ensino
lidades de cursos superiores previstos no Art. 44 da Lei
regular ou por diferentes formas de educação continuada,
9394/96 podem ter características profissionalizantes.
em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
(Art. 40). O conhecimento adquirido, inclusive no trabalho,
poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifi-
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguin-
cação para prosseguimento ou conclusão de estudos (Art.
tes cursos e programas:
41).
I - cursos seqüenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos
A legislação favorece e estimula ainda que o tra-
que atendam aos requisitos estabelecidos pelas ins-
balhador, jovem ou adulto que, na idade própria não pode
tituições de ensino;
efetuar estudos, tenha oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as suas características, seus inte-
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
resses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
e exames, inclusive os de caráter supletivo (Art. 37 e 38 da
sido classificados em processo seletivo;
LDB).
III - de pós-graduação, compreendendo programas
de mestrado e doutorado, cursos de especialização,
O Decreto nº 2208 de 17/4/97, regulamenta a
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di-
educação profissional prevista nos artigos 39 a 42 da Lei
plomados em cursos de graduação e que atendam
9394/96 e fixa os objetivos da educação profissional:
às exigências das instituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
•
promover a transição entre a escola e o
aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas
mundo do trabalho, capacitando jovens e adultos
instituições de ensino.
com conhecimentos e habilidades gerais e especí-
(Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei
ficas para o exercício das atividades produtivas;
9394-96, 20/12/1996)
•
proporcionar a formação de profissionais
Não obstante, o Decreto 2208/97 prevê em seu Ar-
aptos a exercerem atividades específicas no traba-
tigo 3º, educação profissional em nível tecnológico, corres-
lho, com escolaridade correspondente aos níveis
pondente a cursos de nível superior na área tecnológica,
médio, superior e de pósgraduação;
destinados a egressos do ensino médio e técnico. Tais cursos de nível superior, correspondentes à educação profis-
•
especializar, aperfeiçoar e atualizar o tra-
balhador em seus conhecimentos tecnológicos;
Revista da Universidade Ibirapuera -
sional de nível tecnológico, prevê ainda o Decreto, deverão
ser estruturados para atender aos diversos setores da eco-
São Paulo, v. 8, p. 70-74, jul/dez. -2014
71
nomia, abrangendo áreas de especializadas e conferirão
Estas características somadas à possibilidade de
diploma de Tecnólogo.
terem duração mais reduzida das que os cursos de graduação, atendendo assim ao interesse da juventude em dispor
3.Educação Tecnológica
de credencial para o mercado de trabalho, podem conferir
a estes cursos uma grande atratividade, tornando-se um
É chamada de educação tecnológica a graduação
potencial de sucesso.
de nível superior, que pode habilitar para concursos, para a
pós-graduação, para o emprego e para o empreendedorismo e que é realizada em um tempo médio de 2 anos, pois
Quanto à sua duração, os cursos de formação de
está totalmente voltada ao desenvolvimento das compe-
tecnólogos ou cursos superiores de tecnologia poderão
tências e habilidades que interessam ao mercado de traba-
comportar variadas temporariedades, condicionadas ao
lho. A Educação Tecnológica é regulamentada pelo Minis-
perfil da conclusão que se pretenda, à metodologia utili-
tério da Educação através da Lei de Diretrizes e Bases da
zada, às competências constituídas no ensino médio, às
Educação Nacional, de 1996 e pela Resolução CNE/CP3
competências adquiridas por outras formas, como nos Cur-
do Conselho Nacional de Educação.
sos Técnicos, nos Cursos Superiores e mesmo no Trabalho, ainda que o curso possa apontar para uma carga horária definida para cada modalidade, por área profissional.
O tecnólogo é um profissional de nível superior que
tem como característica o foco nas habilidades e competências requeridas pelo mercado e no saber fazer, pensar
e inovar, conquistando cada vez mais espaço no mundo
vés do parecer CNE/CES 436/2001 publicado no Diário
empresarial.
Oficial da União de 06/04/2001.
Este profissional deve estar apto a desenvolver, de
Estas áreas profissionais foram delimitadas atra-
Segundo dados do Censo de Educação Profissio-
forma plena e inovadora atividades em uma determinada
nal (MEC, 1999), a rede de educação profissional e tecno-
área profissional e deve ter formação específica para:
lógica é composta de 3.948 instituições de ensino, sendo
67,3% mantidas pelo setor privado e 32,7%, pelo setor pú-
a) aplicação, desenvolvimento, pesquisa aplicada e ino-
blico. O setor privado compreende diferentes tipos de enti-
vação tecnológica e a difusão de tecnologias;
dades: o Sistema S (Sesi, Senai, Senac), as entidades de
ensino profissional livre e organizações da sociedade civil,
b) gestão de processos de produção de bens e serviços;
como sindicatos de trabalhadores, de empresários, ONGs,
e
associações comunitárias leigas ou confessionais.
c) o desenvolvimento da capacidade empreendedora.
Os cursos tecnólogos apresentam a vantagem da
Ao mesmo tempo, essa formação deverá manter
obtenção da formação de nível superior em curto prazo,
as suas competências em sintonia com o mundo do tra-
dando subsídios para a entrada no mercado de trabalho
balho e ser desenvolvida de modo a ser especializada em
dentro da área de interesse do estudante, porém apresen-
segmentos (modalidades) de uma determinada área pro-
tam a desvantagem de estarem limitados a somente alguns
fissional.
perfis profissionais. Caberá ao aluno dar prosseguimento a
sua carreira e atualizar-se através de uma pós-graduação
ou mesmo realizando a graduação tradicional para desenRevista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 71-74, jul/dez. -2014
72
volver-se plenamente dentro de sua área de atuação.
Com a aprovação da chamada Lei dos Corretores
de Imóveis, aprovada em 1978, a profissão passa a ser
regulamentada e os profissionais foram reunidos nos Con4.Corretor de Imóveis
selhos Regionais, entidades normalmente instaladas nas
capitais dos Estados e responsáveis pela fiscalização do
exercício da profissão.
Segundo o site do CRECI-SP (Conselho Regional
dos Corretores de Imóveis de São Paulo), o primeiro Sindicato de Corretores de Imóveis a ser reconhecido foi o do
Hoje, o corretor de imóveis está ainda mais pre-
Rio de Janeiro, em janeiro de 1937. Só em 1956 o Sindi-
parado para o mercado uma vez que tem a oportunidade
cato dos Corretores de Imóveis apresenta uma proposta
de aprofundar seus conhecimentos no curso superior de
para formação de curso técnico. Em 12 de maio de 1978,
Gestão Imobiliária.
foi sancionada pelo então presidente Ernesto Geisel a Lei
n° 6.530, que deu nova regulamentação à profissão de cor-
•
Certificado de Aprovação no Exame de Proficiên-
retor de imóveis – tendo em vista que a Lei n° 4.116/62
cia
foi julgada parcialmente inconstitucional e teve de ser re-
•
Formação escolar de nível médio (antigo 2º grau)
vogada, uma vez que não especificava o currículo de um
•
Formação no curso de Técnico em Transações
curso técnico para a formação dos que viriam a ingressar
Imobiliárias
na profissão. Era na ocasião Ministro do Trabalho Arnaldo
•
da Costa Prieto, que havia participado do IX Congresso de
tão Imobiliária
Corretores de Imóveis, na capital paulista, em maio daque-
•
le ano. Cerca de 1.500 profissionais do setor haviam apre-
Imóveis
Opção pelo curso de Ciências Imobiliárias ou GesInscrição no Conselho Regional de Corretores de
sentado então, ao ministro, a reivindicação de reenquadramento dos corretores. O Decreto n° 81.871, de 29 de junho
de 1978, regulamentou a Lei n° 6.530/78 – que disciplinou
5.Comparativo entre os dois formatos de cursos
também o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
fiscalização do exercício da profissão.
Fator
Curso Técnico
em Transações
Imobiliárias
Curso Tecnólogo
em Gestão Imobiliária
Modalidade
Educação a
distância
800 horas
Presencial
O Cofeci (Conselho Federal dos Corretores de
Imóveis de Brasília) – é o órgão federal que represen-
ta e regulamenta a profissão de corretor de imóveis no Brasil. O Cofeci é representado nos estados pelo Creci (Con-
Carga Horária
1600 horas
selho Regional dos Corretores de Imóveis). O Creci é uma
Autarquia que tem a finalidade de fiscalizar e disciplinar o
exercício da intermediação imobiliária, de modo a coibir as
práticas antiéticas e ilegais.
Antes da Lei Federal 6.530, qualquer pessoa podia
exercer livremente a profissão de corretor de imóveis, bastando que algum cliente lhe confiasse a compra, venda ou
Nº de
disciplinas
Estágio
Supervisionado
Investimento
Médio Mensal
Investimento
Médio Total
9 (nove)
130 horas
25 (vinte e
cinco)
Não obrigatório
R$ 130,00
R$ 300,00
R$ 800,00
R$ 7.200,00
locação de um imóvel.
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 72-74, jul/dez. -2014
73
Tempo para
Conclusão
Principais
Vantagens
Principais
Desvantagens
Mínimo: 2
meses
Médio: 6 meses
2 anos
O perfil do profissional desta área, em sua maioria,
é de pessoas já adultas e de meia idade, já atuantes na
profissão e que deixaram os estudos há muitos anos. Tal
Flexibilidade de Titulação
de
tempo
nível superior
Valor reduzido Maior
carga
horária
Formação mais F r e q ü ê n c i a
enxuta
presencial
Titulação
de Investimento finível médio
nanceiro alto
perfil colabora para a opção pelo curso técnico a distância,
pois estes alunos acabam tendo dificuldades em se readaptarem à rotina escolar e também dificilmente dispõem
de tempo livre para as atividades escolares presenciais.
Os cursos tecnólogos estão iniciando e ainda não
há indicadores de desempenho dos profissionais formados
neste nível superior, segundo as faculdades que o oferecem a demanda é pequena, tanto que algumas abriram o
processo seletivo, porém não iniciaram turmas por falta de
inscritos.
6.Considerações Finais
ra também tem fator preponderante frente a opção pelos
Somando-se a estes aspectos a questão financei-
Comparando os dois cursos oferecidos ao futuro
profissional da área de corretor de imóveis, podemos perceber que ambos primam pela qualificação e pela preparação para o desenvolvimento de suas funções no merca-
dois modelos de ensino, enquanto o curso técnico gira em
torno de R$ 800,00 de investimento total, o de nível superior tem investimento médio de R$ 7.200,00 somente em
mensalidades, sem incluir materiais didáticos.
do de trabalho. O curso tecnólogo apresenta uma maior
carga horária (1600 horas, exatamente o dobro do curso
técnico) e conseqüentemente consegue aprofundar temas
e desenvolver mais a questão técnica junto a seus alunos,
porém analisando o ementário de suas matérias percebese ainda que não haja grandes diferenças quanto à preparação para o mercado de trabalho. O curso técnico prima
mais pela qualificação prática, fornecendo subsídios para o
corretor efetivamente atuar em uma imobiliária ou de forma
autônoma, visto que apresenta em seu conteúdo programático formas e métodos de trabalho usuais do dia-a-dia
da profissão.
Baseado nestas considerações tende-se a con-
cluir que o curso tecnólogo deva continuar existindo, porém
tende a se tornar uma opção de aperfeiçoamento do profissional bem sucedido na área e já formado no curso técnico, que pretenda ampliar seus horizontes e se qualificar
melhor ao mercado de trabalho, sendo procurado também
por profissionais que pretendam desenvolver cursos de capacitação aos funcionários de sua empresa que tenham o
certificado em nível médio ou ainda como forma de oferecer serviços de treinamento autônomos. O curso técnico
deverá, portanto, continuar sendo a melhor opção para o
profissional que já atua na área e que precisa regularizar
Por ser mais rápido, o curso técnico ainda conse-
gue agregar profissionais que já se encontram no mercado,
porém atuando de forma irregular e que precisam urgen-
sua situação funcional e para os aspirantes à profissão que
desejam conhecer este ramo de trabalho, mas que não tem
certeza se vão se adaptar a ele.
temente regularizar sua situação funcional junto ao órgão
de classe, pois senão acabam autuados e sendo multados
pelo exercício ilegal da profissão.
Revista da Universidade Ibirapuera -
Concluindo, acredito que o curso de nível superior
veio para ser uma nova opção para capacitar o corretor de
São Paulo, v. 8, p. 73-74, jul/dez. -2014
74
imóveis, porém não deverá, pelo menos em médio prazo,
substituir o curso técnico em EAD pelas razões apresentadas neste trabalho.
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Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 74-74, jul/dez. -2014
Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 8, p. 75-82, jul/dez. -2014
EVOLUÇÃO POSTURAL DURANTE A GESTAÇÃO POR
BIOFOTOGRAMETRIA: RELATO DE CASO
Claudia Cantagalli1; Ana Assumpção2; Denise da Vinha Ricieri3,
Jecilene Rosana Costa-Frutuoso4
Hospital da Clínicas de São Paulo
² Universidade Ibirapuera Universidade Federal do Paraná - UFPR
3 Universidade Federal do Paraná – UFPR
4 Universidade Ibirapuera – UNIB
Av. Interlagos, 1329 – São Paulo/SP
[email protected]
Resumo
O objetivo foi analisar características posturais em uma gestante através de dois ângulos e duas medidas com
dados mensais. Foi utilizada a biofotogrametria como instrumento para as medidas fotogramétricas, sendo
que durante o período gestacional foi acompanhada a evolução de ângulos e distâncias lineares. As medidas
de distância intertibial (DIT) e de distância intercalcanear (DIC) buscaram traduzir a variação necessária na
base de sustentação, com a evolução do peso e volume abdominal. As medidas dos ângulos inter-olecraniano
(AIO) e da lordose lombar (ALL) acompanharam, indireta e respectivamente, a variação na rotação interna de
ombros, e a variação na curvatura lombar. Os resultados obtidos para AIO e ALL refletiram, matematicamente,
máximas biomecânicas bastantes esclarecidas na literatura, expressando a progressão da protrusão de ombros pelo aumento do peso da mama, e consequente enfraquecimento dos romboides, bem como o aumento
progressivo e compensatório da curvatura lombar como resposta ao aumento do volume abdominal. A literatura é escassa em estudos dessa natureza, mas os resultados permitiram concluir que DIT e DIC apresentaram,
ao final da gestação, valores muito próximos aos do início, num comportamento que pode ser atribuído à adaptação progressiva do aparelho musculoesquelético onde a gestante aumenta a base de sustentação, inicialmente, para se adequar ao aumento abdominal e, ao se equilibrar, retoma seus eixos originais de equilíbrio.
Palavras chaves: Postura, gestação, biomecânica, fotogrametria.
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São Paulo, v. 8, p. 75-82, jul/dez. -2014
Abstract
The objective was to analyze postural characteristics in a pregnant woman through two angles and two measures
with monthly data. Photogrammetry was used as a tool for photogrammetric measurements, and during pregnancy
was accompanied the evolution of angles and linear distances. The intertibial distance measurements (DIT) and
intercalcanear distance (DIC) sought to translate the necessary variation in the support base, with the evolution of
weight and abdominal volume. The measures of inter-olecraniano angles (AIO) and lumbar lordosis (ALL) followed,
indirect and respectively, the change in internal rotation of the shoulders, and the change in lumbar curvature. The
results obtained for AIO and ALL reflected mathematically sufficient biomechanical maximum clarified in the literature, expressing the progression of protruding shoulders by increased breast weight and consequent weakening
of the rhomboid, and the progressive increase in compensatory and lumbar curvature in response the increase in
abdominal volume. The literature is scarce in studies of this nature, but the results showed that DIT and DIC, the
end of pregnancy, very close to the start values, a behavior that can be attributed to the gradual adjustment of the
musculoskeletal apparatus where the pregnant woman increases the base support initially to suit the abdominal
enlargement and the balance resumes its original axes of balance.
Keywords: Posture, pregnancy, biomechanics, photogrammetry.
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 76-82, jul/dez. -2014
77
1.INTRODUÇÃO
Segundo Lopes et al. (1999), a postura é um me-
canismo compensatório, que tende a minimizar os efeitos
ligados ao aumento da massa e distribuição corporal da
A gravidez é um episódio fisiológico na vida da
gestante. O crescimento uterino provoca mudanças na
mulher e produz alterações em todas as funções do or-
forma, no tamanho e na inércia materna, ocasionando al-
ganismo materno com o objetivo de formar e nutrir o feto
terações na postura estática da mulher (JENSEN ET AL.,
(REZENDE, 2005; CALDEYRO-BARCIA, 2004). Entre as
1996).
alterações encontradas, temos as musculoesqueléticas e
as posturais, que são significativas no corpo da mulher e
pouco relatadas na literatura.
O centro de gravidade se desloca para frente devi-
do ao crescimento uterino (GAZANEO; OLIVEIRA, 1998).
Paul; Monique (1996), em um estudo com 16 gestantes,
As alterações que ocorrem durante a gravidez po-
constataram que o centro de gravidade é deslocado 1,2mm
dem afetar significativamente o sistema músculo-esquelé-
por semana gestacional. Para corrigir seu eixo corporal, a
tico e limitar a gestante na participação de suas atividades
gestante projeta seu corpo para trás adotando uma pro-
cotidianas. Em decorrência da retenção hídrica que acon-
gressiva e acentuada lordose lombar, podendo gerar dor,
tece na gestante, há relaxamento ligamentar, edema de
amplia sua base de sustentação e anterioriza a coluna cer-
MMII, principalmente em tornozelos e pés, o que diminui
vical (JARVIS, 2002; VALADARES; DIAS, 2007). Devido
o espaço disponível em algumas áreas anatômicas e au-
ao aumento mamário e à anteriorização da cabeça, ocorre
menta a pressão sobre terminações nervosas, isso gera
protusão e rotação interna de ombros (BARACHO, 2007).
adequações posturais (JARVIS, 2002; KARZEL JUNIOR;
FRIEDMAN, 1999).
Benetti (2004) estudou 5 gestantes buscando de-
Um grande desconforto que surge durante a ges-
tectar possíveis estratégias utilizadas pelo corpo a fim de
tação são as cãibras na região posterior da perna (HE-
compensar o aumento localizado de peso e concluiu que 2
CKMAN; SASSARD, 1994). O estudo de Nysca et al. (1997)
estratégias foram utilizadas: acentuação da curvatura lom-
sugere que elas surgem devido ao aumento da atividade
bar e inclinação posterior do tronco. O estudo de Bullock
deste grupo muscular para a manutenção do equilíbrio cor-
et al. (1987), avaliou a curvatura lombar e torácica de 34
poral, levando à fadiga e, conseqüentemente, às cãibras.
gestantes e encontrou aumento de 7,2 graus na lordose
Observamos uma maior mobilidade das articulações e di-
lombar e 6,6 graus na cifose torácica entre o 4˚ e o 9˚ mês.
minuição do tônus muscular devido à ação hormonal (RE-
ZENDE, 2005; HECKMAN; SASSARD, 1994; SILVA ET
AL., 2005). Isso gera sobrecarga à coluna vertebral, evi-
denciada principalmente no segmento lombar, interfere na
tantes no 1˚ e no 3˚ trimestre buscando detectar alterações
postura, no equilíbrio e na locomoção. Para equilibrar-se a
na lordose lombar e encontraram aumento de 5,9˚ na lordo-
gestante desloca seu corpo para trás e aumenta a base de
se lombar e 4˚ na inclinação pélvica. Temos outros autores
apoio (POLDEN; MANTLE, 2002; GAZANEO; OLIVEIRA,
que também afirmam o aumento da lordose lombar devido
1998). A gestante passa a ter uma andar oscilante, com
ao aumento progressivo de volume abdominal (REZEN-
passos curtos e lentos e maior base de sustentação (SILVA
DE, 2005; JARVIS, 2002; KARZEL JUNIOR; FRIEDMAN,
ET AL., 2005).
1999; HECKMAN; SASSARD, 1994).
Revista da Universidade Ibirapuera -
Franklin e Conner-Kerr (1998) avaliaram 12 ges-
São Paulo, v. 8, p. 77-82, jul/dez. -2014
78
Kanayama et al (1997) em um estudo que abor-
mite efetuar medidas de um objeto quanto às suas formas
dou a curvatura lombar de 100 gestantes, concluiu que não
e situação espacial, através de perspectivas registradas fo-
houve aumento estatístico da curvatura lombar. Ostgaard
tograficamente. Para padronização das fotos respeitamos
et al. (1993) estudaram a curvatura lombar de 855 gestan-
alguns parâmetros, como a marcação na parede na altura
tes da 12ª a 36 ª semana gestacional e não encontraram
de 1,80m; câmera fotográfica localizada a 90 cm do chão
acentuação na lordose lombar e sugeriram que ocorre
em um tripé; distância de 2 m da câmera à paciente.
aumento da extensão do quadril. Franklin e Conner-Kerr
(1998) afirmam que o método utilizado por Ostgaard et
al. (1993) é questionável. O método se baseia na distân-
Foram utilizados como pontos anatômicos de refe-
cia perpendicular do ápice da lordose lombar ao ápice da
rência a espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) do osso ilí-
cifose torácica e a parte posterior do sacro. O estudo de
aco, os processos espinhosos da sétima vértebra cervical
Jensen et al. (1996), sugere a extensão de quadril como
(C7) e da quinta vértebra lombar (L5), o olécrano da ulna, o
compensação do aumento da massa abdominal.
trocânter maior do fêmur, a tuberosidade da tíbia e o tendão
calcâneo.
Diante da literatura encontrada, concluímos que
não há estudos na literatura com acompanhamento men-
Este estudo acompanhou a gestante mensalmen-
sal de uma gestante a fim de avaliar alterações posturais.
te do primeiro ao sétimo mês de gestação. As fotos foram
Muitas afirmações encontradas não foram baseadas em
realizadas em vista anterior, posterior, lateral direita e es-
dados quantitativos e concluímos a necessidade do tema
querda. Durante a avaliação, a gestante usou apenas rou-
apresentado.
pa de banho de duas peças e posicionou-se de acordo com
marcas no chão sem restrição de espaço para colocar os
pés e foi instruída a ficar em postura relaxada.
2.DESCRIÇÃO DO CASO
O protocolo para análise angular da postura foi ba-
seado na avaliação subjetiva tradicional, ensinada e realiRealizamos um relato de caso prospectivo com
zada por fisioterapeutas desde a graduação. Partindo da
uma gestante voluntária, que leu e assinou o Termo de
premissa de que referências anatômicas ósseas pares de-
Consentimento Livre e Esclarecido. Este trabalho foi sub-
vem estar niveladas, ou formando uma paralela ao solo, e
metido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
que as referências ímpares devem estar alinhadas, ou for-
Santa Cecília (UNISANTA).
mando uma reta perpendicular ao solo, os ângulos foram
construídos de modo a seguirem estas fundamentações
biomecânicas.
Foram utilizados como materiais: máquina fotográ-
fica digital Sony Cyber Shot (5.0 mega pixels), tripé (para
apoio da máquina), trena com nível d`agua, etiquetas ade-
Na vista anterior avaliamos a medida da distância
sivas esféricas brancas, régua e fita métrica.
inter-tibial (DIT), formada pela distância entre a tuberosidade tibial direita e esquerda (Figura 1). Esse ângulo capta a
variação da base de sustentação.
A avaliação postural foi feita através da Biofotogra-
metria Computadorizada, onde são marcados pontos ana-
tômicos que formam um esquema corporal. A técnica per-
lombar (ALL), formado por duas retas, uma vai da EIAS ao
Revista da Universidade Ibirapuera -
Na vista lateral, analisamos o ângulo da lordose
São Paulo, v. 8, p. 78-82, jul/dez. -2014
79
trocânter maior do fêmur e a outra vai da EIAS a um ponto
Figura 2 – ALL - Ângulo da Lordose Lombar, avalia o grau
10 cm acima da quinta vértebra lombar (Figura 2). ALL cap-
de variação da curvatura lombar.
ta a variação na lordose lombar, quando o ângulo diminui,
acentua a lordose lombar, ou seja, aumenta a tensão sobre
as vértebras lombares.
Na vista posterior avaliamos a distância inter-cal-
canear (DIC), é formada pela distância entre o tendão do
calcâneo direito e esquerdo e também capta a variação na
base de sustentação. O ângulo inter-olecraniano (AIO),
formado por duas retas, uma da sétima vértebra cervical
(C7) ao olécrano da ulna lado direito e a outra que de C7
ao olécrano da ulna lado esquerdo e capta a variação na
rotação interna de ombro, se o ângulo aumentar, significa
aumento da rotação interna de ombro.
Figura 1 – DIT: Medida da Distância Inter-Tibial que avalia
a alteração na base de sustentação da gestante.
Figura 3 – AIO: Ângulo Inter-Olecraniano, avalia a alteração na rotação interna de ombro e DIC: Medida da Distância Inter-Calcanear, avalia a alteração na base de sustentação
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 79-82, jul/dez. -2014
80
3.RESULTADOS
LEGENDA: Dados do 1° ao 7° mês dos ângulos e medidas
analisados.
Os resultados foram analisados pelo programa
Corel-Draw-12® e estão ilustrados na tabela1.
DIT é a distância inter-tibial, AIO é o ângulo inter-olecraniano, DIC é a distância inter-calcanear e ALL é o ângulo da
lordose lombar.
A distância inter-tibial iniciou com 17,37 cm, variou
e apresentou maior distância por volta do 4º e do 6º mês,
As medidas de DIC e DIT foram realizadas em cm e os ângulos AIO e ALL em graus.
sendo que no sexto mês apresentou aumento de 3,48 cm
em relação ao primeiro mês. No sétimo mês retornou para
valores semelhantes ao do primeiro mês, ou seja, diminuiu
4.DISCUSSÃO
sua base de sustentação.
De acordo com a literatura, a expansão abdominal
O ângulo inter-olecraniano captou a rotação inter-
favorece o deslocamento anterior do centro de gravidade
na de ombro. Apresentou maior aumentou angular por vol-
e a gestante aumenta a sua base de sustentação, ou seja,
ta do 4º mês e do 6° mês e no 7° mês apresentou aumento
aumenta distância entre os pés, para manter o corpo em
de 2,05º em relação ao primeiro mês, caracterizando a ro-
equilíbrio. Porém, não encontramos artigos com medidas
tação interna de ombro.
quantitativas que sustentassem essa idéia. O nosso estudo mostrou através das medidas DIT e DIC que a gestante
aumenta a base de sustentação para se adequar ao au-
A distância inter-calcanear iniciou com 12,84 cm e
mento uterino e volta a diminuir sua base. Isso pode ser ex-
apresentou maior aumento no 4º mês, que foi de 4,47cm
plicado pelo retorno da estabilidade e do equilíbrio estático
em relação ao primeiro mês. No sétimo mês também retor-
onde a gestante pôde diminuir novamente a sua base de
nou para valores semelhantes ao do primeiro mês.
sustentação.
O ângulo da lordose lombar iniciou com 93,04º
O ângulo inter-olecraniano captou a rotação inter-
no1º mês e diminuiu progressivamente, com exceção do 6º
na de ombro e no sétimo mês apresentou aumento de 2,05º
mês, até o 7º mês. A angulação da lordose lombar diminuiu
em relação ao primeiro mês, caracterizando a rotação in-
em 23,81º até o último mês analisado.
terna de ombro, confirmando a afirmação de Baracho et al.
(2007), porém não foram encontrados estudos quantitati-
Tabela 1: Valores mensais dos ângulos e medidas da ges-
vos dessa angulação para comparação.
tante por biofotogrametria computadorizada.
 n - 1
2
3
4
5
6
7
gulo/
Os dados encontrados no ALL mostraram aumen-
to da lordose lombar e condizem com vários autores, como
mês
Benetti (2004) com 5 gestantes que encontrou o aumento
DIT
17,37
17,32
17,79
20,36
17,34
20,85
17,32
AIO
60,04
59,27
63,51
64,86
62,78
64,67
62,09
DIC
12,84
13,02
13,24
17,31
16,02
14,84
13,01
ALL
93,04
92,52
92
91,26
90,87
91,87
69,23
Revista da Universidade Ibirapuera -
da lordose lombar como estratégia para manter o equilíbrio. Bullock et al. (1987) com 34 gestantes que encontrou
aumento de 7,2 º na lordose lombar; o estudo de Franklin
e Conner-Kerr (1998) que encontrou aumento de 5,9º na
São Paulo, v. 8, p. 80-82, jul/dez. -2014
81
lordose lombar e 4º de inclinação pélvica. Porém, nossa
científicos de avaliação postural quantitativa, o que torna
gestante apresentou valores superiores ao encontrado por
necessária a continuação deste estudo com uma amostra
esses autores. Também está de acordo com outros autores
maior de gestantes.
que afirmam o aumento da lordose lombar.
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Existem divergências em relação ao estudo de Ga-
zaneo; Oliveira (1998), onde o número de gestantes avaliadas foi diminuído de 22 para 12 devido a impossibilidade
BARACHO E. Adaptações do sistema musculoesquelético
de ver os pontos previamente marcados nas fotos; de Ka-
e suas implicações. In: Baracho, Elza. Fisioterapia Apli-
nayama et al. (1997) com 100 gestantes e de Ostgaard et
cada à Obstetrícia, Uroginecologia e Aspectos da Mas-
al. (1993) com 855 gestantes (onde Franklin e Conner-Kerr
tologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
(1998) discordaram do método utilizado) que afirmam não
p. 34-41.
existir aumento da lordose lombar.
Todos os ângulos sofreram alterações durante os
BENETTI FA. Análise quantitativa das adaptações da
sete meses analisados. O uso do método da biofotogra-
coluna vertebral em mulheres grávidas. 2004. 67 f. Dis-
metria computadorizada se mostrou eficaz por padronizar
sertação (Mestrado em Biodinâmica do Movimento Huma-
as imagens possibilitando a mensuração dos ângulos e
no). Faculdade de Educação Física – UNICAMP, Campi-
medidas propostas. Não foram encontrados outros artigos
nas.
na literatura que quantificassem a avaliação postural em
gestantes.
BULLOCK JE, JULL GA, BULLOCK MI. The relationship of
low back pain to postural changes during pregnancy. The
5.CONCLUSÃO
Australian Journal of Physiotherapy. v. 33, n. 1, p. 10-7.
1987
Este trabalho teve por objetivo analisar as carac-
terísticas posturais de uma gestante nas medidas da distância inter-tibial e inter-calcanear e nos ângulos inter-o-
CALDEYRO-BARCIA R. Gestação, fecundação e parto. In:
lecraniano e da lordose lombar. Concluímos que, apesar
Houssay AB, Cingolani HE. Fisiologia humana de Hous-
das oscilações mensais, a distância inter-calcanear e inter-
say. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.726- 48.
tibial apresentaram no sétimo mês valores semelhantes ao
primeiro mês, caracterizando que a gestante aumenta a
base de sustentação para se adequar ao aumento abdominal e ao se equilibrar na posição estática, pode diminuir a
FRANKLIN ME, CONNER-KERR T. An analysis of posture
base de sustentação. O ângulo inter-olecraniano também
and back pain in the first and third trimesters of pregnancy.
oscilou e por fim caracterizou a rotação interna de ombro.
JOSPT. v. 28, n. 3, p. 133-8. 1998
O ângulo da lordose lombar aumentou progressi-
GAZANEO MM, OLIVEIRA LF. Alterações posturais duran-
vamente, com exceção do sexto mês, até o sétimo mês.
te a gestação. Revista Brasileira de Atividade Física e
A literatura mostra-se ainda escassa em relação a artigos
Saúde. v. 3, n. 2, p. 13-21. 1998
Revista da Universidade Ibirapuera -
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Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 82-82, jul/dez. -2014
83
84
INSTRUÇÕES PARA AUTORES
A Revista da Universidade Ibirapuera é uma publicação semestral da Universidade Ibirapuera.
1. Missão
A Revista da Universidade Ibirapuera tem como missão auxiliar a divulgação de trabalhos realizados por alunos de iniciação científica, profissionais, pós-graduandos e professores.
2. Instruções Gerais
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Prof.ª Camila Soares
Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
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durante o texto.
3. Submissão de Trabalhos
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Os trabalhos encaminhados podem ser escritos em português, espanhol ou inglês. Os artigos enviados em
português e espanhol devem conter o resumo também em inglês (abstract).
Abreviações oficiais poderão ser empregadas somente após primeira menção completa.
Deverão constar, no final dos trabalhos, o endereço completo de todos os autores, afiliação, telefone, fax e
e-mail para encaminhamento de correspondência pela comissão editorial.
Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 55-56, jul/dez. -2014
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3.1 Cabeçalho
Título do artigo em português (letras maiúsculas, em negrito, fonte Arial, tamanho 12 parágrafo centralizado,
subtítulo em letras minúsculas (exceção para nomes próprios e em inglês.
3.1.1 Apresentação dos Autores do Trabalho
Nome completo, afiliação institucional (nome da instituição de vínculo (se é docente, ou está vinculado a alguma linha de pesquisa), cidade, estado e e-mail.
3.2 Resumo e Abstract
É a apresentação sintetizada dos pontos principais do texto, destacando as considerações emitidas pelo autor. Para elaboração do resumo, usar no máximo 250 palavras. Palavras-chave e Keywords:. O número de
descritores desejados é de no mínimo três e no máximo cinco.
3.3 O Corpo do Texto
3.3.1 Introdução: Deve apontar o propósito do estudo, de maneira concisa, e descrever quais os avanços que
foram alcançados com a pesquisa.
3.3.2 Discussão
Interpretar os resultados e relacioná-los aos conhecimentos existentes, principalmente os que foram indicados anteriormente na introdução. Essa parte deve ser apresentada separadamente dos resultados.
3.3.3 Referências e Citações
Devem ser abreviadas no corpo do texto e em notas de pé de página (autor, ano da publicação e, quando for
o caso, página) e completas nas referências no final do texto, segundo as normas para apresentação de trabalhos da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Declaração:
Título do artigo:_________________________________________________________
_____________________________________________________________________
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O(s) autor(es) abaixo assinado(s) submeto(emos) o trabalho intitulado acima à apreciação da Revista da Universidade Ibirapuera para ser publicado, declara(mos) estar de acordo que os direitos autorais referentes ao
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Data: ___/___/___
Nome dos autores Assinatura
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Revista da Universidade Ibirapuera -
São Paulo, v. 8, p. 56-56, jul/dez. -2014