medicina espiritual. pequena história
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medicina espiritual. pequena história
MEDICINA ESPIRITUAL. PEQUENA HISTÓRIA Decio O. Elias & Maria Helena L. Souza Doença e Saúde referem-se ao estado em que se encontram os indivíduos e não apenas ao estado de seus órgãos ou partes do corpo. O corpo físico nunca está só doente ou só saudável, já que nele se expressam as informações da mente. O corpo de um ser humano deve o seu funcionamento, perfeito ou imperfeito, ao espírito que o habita. Por seu turno, o espírito atua sobre o corpo físico através da mente. Desse modo, torna-se indiscutível que cada indivíduo adoece ou permanece sadio, física e funcionalmente, em consequência da interação entre os seus três componentes: espírito, mente e corpo. Quando as várias funções do organismo ocorrem em conjunto e em plena harmonia, existe o estado denominado saúde. Quando alguma das funções do organismo falha, a harmonia do todo fica comprometida e, então, ocorre o estado que denominamos doença. O extraordinário progresso da ciência nas últimas décadas criou um ambiente propício ao desenvolvimento de especialidades e subespecialidades médicas, que congregam profissionais altamente qualificados. Existem profissionais médicos que conhecem tudo o que há por conhecer a respeito do cérebro, dos pulmões, do coração, do fígado, do sistema ósseo, das glândulas endócrinas e de todos os segmentos capazes de serem individualizados dentro da maravilhosa e complexa estrutura denominada corpo humano (corpo físico). Entretanto, não 1 existe o profissional especializado no indivíduo como um todo - o ser humano integral, aquele constituído por espírito e mente (consciência), além do corpo físico. A medicina contemporânea, extremamente materializada, com seus recursos diagnósticos e terapêuticos bastante sofisticados, admite que as causas das enfermidades sejam externas ao corpo físico. Os profissionais das escolas psicológicas, psiquiátricas e psicossomáticas, ao contrário, aceitam a origem das desarmonias do corpo físico como nascidas na “mente”. Contudo, consideram a mente como uma função do cérebro físico e não como o verdadeiro atributo, através do qual o espírito se manifesta. Essa conceituação incompleta da medicina moderna transforma os indivíduos em “portadores” de doenças localizadas ou regionalizadas. Segundo essa visão, na prática médica atual, o portador de um tumor do fígado, leva seu tumor ao especialista em doenças do fígado. Se a afecção é pulmonar, o paciente vai ao consultório do especialista em doenças dos pulmões. Esses especialistas recomendam a realização de numerosos exames de sangue, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e, eventualmente, biópsias para o estudo microscópico do tecido removido, até formular o diagnóstico completo da doença a ser tratada. Em nenhum momento dessa caminhada através de laboratórios e consultórios, salvo raras e honrosas exceções, os pacientes são orientados a reavaliar o funcionamento da sua mente e reformular os pensamentos e as emoções que eles despertam. A segunda metade do século vinte foi caracterizada por uma maior espiritualização dos indivíduos, apesar das resistências oferecidas pela 2 persistente escola materialista que domina o exercício da ciência. A despeito desse fato, numerosos sábios, cientistas não atrelados a dogmas materialistas e mentores espirituais elevados nos trouxeram por diversas vias, a multissecular verdade de que as desarmonias do corpo físico têm origem nos desequilíbrios do espírito e se manifestam através da mente. Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Franco, no livro Libertação do Sofrimento, nos traz a seguinte mensagem: “Mente também é vida. Todos nos encontramos mergulhados no pensamento exteriorizado pela Mente Divina, que tudo orienta e conduz com segurança, desde as colossais galáxias às micropartículas. Conforme pensas, assim viverás. Se te permitires o pessimismo contumaz, permanecerás na angústia, a um passo da depressão. Se anelas pela felicidade, já te encontras fruindo as bênçãos que dela decorrem, como prenúncio do que alcançarás mais tarde. Se delineias sofrimentos para a existência, sob o conceito da aflição que agasalhas, a jornada terrestre ser-te-á assinalada pelo sofrimento. Se reflexionas em torno do bem-estar e da alegria de viver, mesmo que ocorram acidentes de percurso em forma de dor, desfrutarás de mais tempo de contentamento do que de aflição. Se projetas insucesso pelo caminho, seguirás uma trilha assinalada pelo fracasso elaborado pelo teu próprio pensamento. Se arrojas em direção do futuro o êxito, encontra-lo-ás à tua espera, à medida que avances no rumo dos objetivos superiores. A mente produz aquilo que o pensamento direciona. A abundância da vida encontra-se em toda a parte do universo, assim como a paz e a saúde, porque procedem de Deus, o Criador. 3 Igualmente, vastas faixas de infelicidade e de dissabores são sustentadas pelas mentes conflitivas e negativistas que as originaram e as preservaram. É necessário, portanto, pensar edificando o bem, a fim de que o bem se edifique nos teus sentimentos. O Evangelho de Jesus é fonte inexaurível de alegria e de satisfações emocionais, de auto-realizações e de felicidade. Aborda, também, é claro, o sofrimento, o martírio, não, porém de maneira masoquista, mas sim como recursos de libertação das mazelas anteriormente armazenadas, facultando a conquista da harmonia interior e propiciando a perfeita vinculação com Deus. Pensa, portanto, de forma saudável, edificante, e receberás as altas cargas de estímulos que procedem das faixas nobres da vida, através do pensamento. Vivencia as experiências provacionais dolorosas com o pensamento em harmonia, sem deixar que o dissabor e o desalento tomem conta das tuas paisagens mentais, e ser-te-ão menos penosas as horas de purificação. Ninguém transita no mundo físico sem a experiência de algum tipo de sofrimento, porquanto este é um planeta de provas e de expiações, e não o paraíso, onde a dor e o desespero não vigem, não se apresentam sequer. A maneira, porém, de vivê-lo, é que o tornará razão de desdita ou de satisfação, em face da perspectiva de próxima libertação.” ORIGENS DA TERAPIA VOLTADA PARA O ESPÍRITO Os sábios da antiguidade ensinavam e praticavam as ciências positivas e as ciências ocultas, indistintamente. Astrologia, bruxaria e 4 curandeirismo, filosofia, religião, matemática, física e medicina eram áreas de domínio dos “mestres” e dos “iniciados”, sem qualquer linha de separação. Sacerdotes, curandeiros, xamãs, bruxos, herbanários, parteiros, curandeiros e médicos manipularam e ministraram, ao longo da história, ervas, poções e remédios que apesar de não terem valor cientificamente comprovado, ofereciam bons resultados, em especial quando eram associados às práticas místicas ou religiosas. Os primeiros artífices das práticas curativas, desde Imhotep, no ano 2980 AC, no antigo Egito, passando por Asclépio, Aristóteles, Galeno e Hipócrates (406-370 AC), considerado o pai da Medicina, conheciam profundamente a importância da mente na manutenção da saúde e na cura das enfermidades de qualquer natureza. Hipócrates, na Grécia, substituiu os elementos místicos das curas pela utilização do raciocínio indutivo e pela experimentação. O pai da Medicina afirmava que a identificação das doenças e o resultado mais provável das enfermidades agudas devem ser baseados na alimentação, no estilo de vida, no comportamento do paciente em relação ao seu estado de saúde e nos fatores ambientais, sociais e psíquicos. Ao ressaltar a importância dos componentes físicos, psíquicos, sociais e ambientais na produção e no tratamento das doenças, Hipócrates firmou as bases da medicina integral, que considera o ser humano como um indivíduo formado por espírito (mente) e corpo. Hipócrates afirmava que os estados emocionais positivos e negativos de seus pacientes, assim como a crença no tratamento, na competência do médico, a fé nos deuses e na própria capacidade de cuidar de si mesmo, possuem efeitos psicossomáticos e interferem no processo de cura. 5 Sem nenhuma dúvida, cabe a Hipócrates o pioneirismo da terapia holística, da forma como é praticada nos dias atuais. Hipócrates considerava o paciente como o centro do processo de cura, enquanto o médico deveria servir como um auxiliar da natureza, evitando qualquer interferência no processo natural da cura e, evitando, principalmente, prejudicar o paciente (primum non nocere, ou seja, em primeiro lugar, não prejudicar). Pouco depois de Hipócrates, Aristóteles (384-322 AC) filósofo, matemático, físico e praticante das curas, na Grécia, dizia que as emoções descontroladas, ou “moléstias da alma”, expressavam-se através do corpo na forma de doenças, interferindo nas funções do organismo e no processo de cura. Desde os primeiros esforços para combater as enfermidades do ser humano, podemos facilmente identificar o conhecimento de que o homem adoece por inteiro, ou seja, o homem adoece física, psíquica e espiritualmente. Alguns filósofos que antecederam Sócrates, como Demócrito, Leucipo e Lucrécio criaram as teorias materialistas que permitiram o surgimento do materialismo científico. O materialismo histórico é uma tese, segundo a qual o modo de produção da vida material determina, em última instância, o conjunto da vida social, política e espiritual. É um método de compreensão e análise da história, das lutas e das evoluções econômicas e políticas. A doutrina materialista sustenta que a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e que todos os fenômenos são os resultados de interações materiais. 6 Sócrates (470-399 AC) desenvolveu conceitos filosóficos que privilegiavam a vida espiritual. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Sócrates ensinava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Por não ter deixado nenhum dos seus ensinamentos escritos, conhecemos as teorias de Sócrates através dos escritos deixados por seu discípulo e seguidor Platão. A idéia cristã foi pressentida muitos séculos antes de Jesus e dos essênios por Sócrates e Platão. Sócrates, como Jesus, teve a morte determinada por vítimas do fanatismo contrário às suas idéias. Sócrates defendia a tese de que havia apenas um Deus, a alma seria imortal e viveria outras vezes. Ao longo da Revolução Industrial ocorrida no século dezenove, a era agrícola foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros eventos. Essa transformação foi possível devido a uma combinação de fatores, dentre os quais o liberalismo econômico e a acumulação de capital. O capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente. O desdobramento das ciências e as posições rígidas assumidas pela igreja católica propiciaram o esboço de uma separação apenas teórica em que a ciência se ocuparia das moléstias que afligiam o corpo, enquanto, ao mesmo tempo, as aflições e as alterações da alma seriam do domínio exclusivo da religião. 7 A enorme impulsão do desenvolvimento humano e a intensa fase de industrialização ocorrida nos primeiros tempos do século dezenove permitiram estabelecer normas para a pesquisa científica que incluíam a reprodução dos fenômenos das enfermidades e dos resultados dos seus tratamentos em laboratório, antes da aplicação nos seres humanos. Essa fase contribuiu – sobremodo - para um extraordinário desenvolvimento das ciências, inclusive a medicina. Ao mesmo tempo, entretanto, aumentou a distância entre o estudo e o tratamento dos componentes psíquicos, emocionais e espirituais que acompanham as doenças e que, não raramente, estão na raiz do seu aparecimento. O crescimento das doutrinas materialistas e a tendência a afastar a igreja do centro das decisões do poder monárquico ou republicano, contribuíram para que os povos fossem educados a ver (e viver) duas vidas separadas, como se essa separação fosse possível. A vida material, cuja evolução estimulou o consumo e a crescente aquisição e acúmulo de bens materiais e a vida espiritual que, não raro, consistia em súplicas para que, ao longo do tempo, se conseguissem acumular mais e mais bens materiais. Os valores espirituais foram perdendo espaço para os valores materiais, caracterizando as sociedades modernas. A MENTE E O CORPO Desde os primeiros tempos da organização da civilização, diversos expoentes do pensamento filosófico, científico e religioso ensinavam que alterações da mente estavam na origem das alterações do corpo. Em outras palavras, aqueles pensadores, criaram as bases do ramo da ciência que, após vários séculos, viria a ser conhecida como a medicina psicossomática, que considera que as 8 doenças que afetam o organismo humano (corpo físico) são, em sua essência, produzidas por alterações da mente, ou seja, pelo modo como vivenciamos os pensamentos e as emoções. Jesus, em sua passagem pelo planeta, deixou inúmeras demonstrações de como a mente pode comandar o corpo. Seus ensinamentos e as curas que induzia, eram produto da crença inabalável dos doentes aliadas à infusão de energia pelo Mestre dos Mestres. "Vocês, se tiverem fé, podem fazer tudo isto e muito mais...", ensinava o Mestre Supremo, diante do deslumbramento dos que o assistiam curar cegos, loucos e paralíticos. Ao estudar a passagem de Jesus pela Terra e seus ensinamentos, Baker relata sua admiração ao constatar como os pontos de concordância entre os princípios espirituais e os emocionais podem favorecer a saúde tanto emocional quanto física. A absoluta interdependência entre a mente e o corpo é conhecida desde a mais remota antiguidade, como demonstra a Ayurveda, o tradicional sistema de medicina natural, em prática na Índia há mais de 5.000 anos. Ayurveda é uma palavra que no idioma Sânscrito significa "ciência da vida". A Ayurveda é dedicada à prevenção das doenças, ao rejuvenescimento dos sistemas orgânicos e à extensão da duração da vida. Nessa prática, as doenças são consideradas como uma quebra do equilíbrio existente em cada indivíduo, entre a consciência (mente) e o corpo. A ciência e a religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material, enquanto a outra revela as leis do mundo moral. A importância da mente e, portanto, do pensamento, e a importância da influência que exerce sobre o nosso corpo podem ser bem apreciadas pelo conteúdo de uma frase bem antiga, mas bastante conhecida: "Mens 9 sana in corpore sano". Essa frase representa um antigo pensamento latino que significa literalmente "mente sadia em corpo sadio", usado para ensinar que a saúde da mente é capaz de preservar a saúde do corpo. Esse pensamento vem sendo repetido há muitas e muitas gerações mundo afora, com a finalidade de consolidar entre os homens a necessidade de cuidar tanto do corpo quanto da mente. Essa frase, em Latim, tornou-se um lema, um mote, um verdadeiro refrão e, com muita frequência, pode ser encontrada em universidades, instalações esportivas, palácios de governos e organizações as mais diversas, com o intuito de motivar estudantes, atletas e governantes a conquistar resultados cada vez melhores, devido à crença de que uma mente saudável mantém o corpo saudável. O autor dessa frase foi o poeta Iuvenal, que viveu na Grécia, ao final do século I da era Cristã, aproximadamente 65 anos após a crucificação de Jesus. A frase é parte de uma oração que termina dizendo que "a saúde da mente e a saúde do corpo são estados altamente desejáveis, mais do que a beleza, a fortuna e o poder". A prática de curar revela um significativo e peculiar aspecto da unicidade existente nos tempos antigos entre os aspectos da vida material e os aspectos da vida religiosa dos seres humanos. Pajelança, curandeirismo, bruxaria, religião, filosofia, astrologia e medicina eram, de um modo geral, praticadas e cultuadas pelas mesmas pessoas. O intercâmbio entre o divino e o humano, na conquista da saúde, contudo, era privilégio daqueles que se iniciavam no conhecimento das atividades em direção ao "superior" ou divino. A revolução industrial iniciada a partir do século XIX contribuiu para que, ao longo do tempo, ciência e religião trilhassem caminhos divergentes e, não raramente, opostos. 10 Em consequência dessa separação, a ciência, especialmente a medicina, cuidaria do indivíduo físico, ou seja, ditaria as leis dos cuidados com o corpo, enquanto as religiões cuidariam das almas. Apesar da unicidade corpo-alma, o progresso fez com que cada vez mais a ciência, agora movida especialmente pelo desenvolvimento tecnológico que se iniciava, ignorasse a enorme influência da "alma", melhor dizendo, do espírito sobre os desvios da saúde. Essa dicotomia teve aspectos trágicos e alguns aspectos pitorescos, todos bastante curiosos e interessantes. Em meados do século XIX, as leis inglesas condenavam à morte os praticantes de bruxaria. Os médicos, em Londres, tinham enormes dificuldades para tratar seus pacientes portadores de grandes inchações das pernas e do ventre. Os pacientes nem mesmo conseguiam deitar-se; eram obrigados a dormirem sentados, enquanto suas pernas inchavam a cada dia, sem qualquer remédio capaz de aliviar essa situação. Nos arredores da cidade, contudo, uma bruxa bastante conhecida, preparava um chá que, oferecido em pequenas poções, em poucos dias curava a inchação das pernas e permitia uma vida confortável e produtiva às pessoas. Sabedor da existência desse chá, até então considerado miraculoso, um famoso médico londrino, na penumbra da noite, procurou a bruxa e rogou-lhe a receita. Essa, sentindo sua aparente superioridade sobre o humilde pedinte, após muitas recomendações e artifícios, entregou ao médico algumas folhas de uma erva, usadas para extrair o chá. À partir de então, o médico londrino passou a curar todos os seus pacientes com o emprego do chá da bruxa que consistia, na verdade, da infusão extraída das folhas da planta digitalis, popularmente conhecida como dedalina ou campainha. O extrato de "digitalis", posteriormente, foi adotado pela medicina convencional e, até os dias de hoje é produzido industrialmente para uso em pacientes portadores de insuficiência 11 cardíaca. Curiosamente, o médico jamais revelou a fonte do seu remédio infalível, conforme exigência da bruxa, certamente para poupar a própria vida. A segunda metade do século dezenove e a primeira metade do século vinte foram caracterizadas pelo estabelecimento de padrões extremamente rígidos para a aceitação da verdade científica, dentre os quais, a reprodutibilidade no ambiente laboratorial, dos fenômenos observados no ser humano e na natureza. Ao mesmo tempo, no ocidente, as religiões dominavam o exercício da fé e a aproximação a Deus, segundo dogmas aparentemente complexos e pouco compreensíveis para os não iniciados. A ciência, para compreender as verdades da natureza, progressivamente afastou-se dos dogmas e das convenções religiosas, para aceitar como verdade apenas o que podia entender, explicar e reproduzir nos laboratórios de pesquisas. Consolidou-se o domínio do materialismo na ciência. Essa dicotomia originou o afastamento progressivo entre a ciência e a espiritualidade, que o tempo e os hábitos colocaram em áreas cada vez mais distantes e, não raras vezes, opostas. A codificação das revelações da vida espiritual, magistralmente feita por Allan Kardec, no final do século dezenove teve, dentre outros, o efeito de iniciar a reaproximação entre a ciência e o espiritualismo. Entretanto, essa reaproximação caminha muito vagarosamente. Uma das razões dessa lentidão é a resistência da ciência em aceitar a existência de fenômenos não visíveis ou impossíveis de detectar ou mensurar, com os instrumentos de que dispõe. Apenas a matéria e suas transformações são objetos da ciência autodenominada "oficial". As demais manifestações, psíquicas, extrafísicas ou imateriais, são agrupadas sob denominações menos pomposas, para que sejam 12 obviamente diferenciadas da ciência “oficialmente reconhecida”. Assim surgiram a parapsicologia e os efeitos da paranormalidade, os fenômenos idiopáticos (de causa desconhecida) e muitos outros que, na maior parte das vezes, não despertam o interesse da maioria dos cientistas. Por outro lado, o poderio político e econômico de grandes conglomerados industriais e geopolíticos conserva a humanidade aferroada aos seus ditames, escrava dos seus produtos e tecnologias cada vez mais sofisticadas e caras que, se por um lado podem prolongar a vida, seguramente não a tornam melhor ou mais fecunda, porque suas engenhosas e nem sempre eficazes soluções restringem-se a minorar os males do corpo. As permanentes preocupações, a interminável busca pela conquista de bens materiais, o relacionamento familiar ou no ambiente de trabalho superficial ou belicoso, o "stress" da vida moderna, a angústia, a cobiça, a ambição, a inveja e outros sentimentos negativos, podem, isoladamente ou em associações as mais diversas, afetar o organismo humano e produzir gastrites, úlceras e uma grande variedade de doenças, dentre as quais se incluem muitas das formas de câncer. Já não há dúvidas de que a mente e o corpo constituem uma unidade funcional integral e perfeita. A desarmonia da mente produz o mesmo estado no corpo. A mente é uma propriedade da alma que, como sabemos, sobrevive ao corpo. Quando desprovida de um corpo físico, a alma é melhor conhecida como espírito e, portanto, a mente é uma propriedade do espírito. O pensamento nela elaborado molda o corpo e modera todas as suas funções. Bons pensamentos inundam o corpo de substâncias indutoras de sensações de bem estar, enquanto os maus pensamentos exercem efeitos contrários. Essa é a simples e clara realidade da vida. Nada escapa dessa realidade básica. Portanto, nós 13 estamos onde está o nosso pensamento; dito de outro modo: nós somos o que pensamos. Uma porção ainda minoritária dos profissionais da área da saúde compreendeu a importância do tratamento do indivíduo como um todo, o ser humano integral, ou seja, o indivíduo constituído por espírito, mente e corpo. Esse conceito deu origem ao que se convencionou chamar Medicina Espiritual, Medicina Mente-Corpo, Medicina Espírito, Mente e Corpo, Medicina Complementar, Terapia Complementar, dentre uma ampla variedade de denominações existentes. Nossa preferência pela denominação Medicina Espiritual prende-se ao fato de ser mais clara e melhor descritiva dos seus objetivos. Medicina Espiritual, para citar apenas um exemplo, é uma terminologia bastante usada nos meios acadêmicos. Entretanto, permite interpretações as mais diversas a respeito da sua natureza, dos seus objetivos e dos seus limites. É preciso conhecer os mecanismos de ação dessa modalidade de terapia para apreciar a exatidão da terminologia. A Terapia Espírito, Mente e Corpo (uma modalidade de medicina espiritual) tem o objetivo de complementar os tratamentos da medicina ortodoxa, com a finalidade de contribuir para aumentar a sua eficácia, mediante a mobilização dos recursos terapêuticos e curativos existente nos próprios indivíduos. O imenso poder curativo existente nos seres humanos é despertado pelas energias existentes no espírito e no corpo (bioenergia) e pela utilização adequada do enorme potencial existente em nossa mente. Essa associação de recursos complementares e a sua eficácia são 14 conhecidas desde a mais remota antiguidade. Como o seu emprego e os seus resultados escapam ao esperado pelos ditames da metodologia científica, esses resultados são erroneamente classificados como “acasos” por algumas escolas científicas ou como “milagres” por algumas escolas religiosas. A chave para resolver os problemas da vida humana não se encontra fora de nós, em uma ação externa, na ação da instrumentalidade científica ou na erudição dos velhos livros; tampouco na prolixidade que substitui a substância, na palavra de algum gênio ou filósofo que expõe o homem ao materialismo arcaico e o submete à sentença de uma ciência cega e utilitária. A mesma ciência que toma os valores imortais como questões místicas, mas se perde em meio ao caos das finanças, que substitui, em muitos casos, o compromisso do cientista, que deveria ser com a própria vida. Há um número crescente de trabalhos publicados nas revistas espirituais e nas revistas médicas e científicas que comprovam que os pacientes submetidos aos tratamentos da medicina convencional, quando são, ao mesmo tempo, atendidos espiritualmente apresentam recuperação maior, mais rápida e com menores efeitos produzidos pelas doenças. Na área do câncer, em que a gravidade da doença afeta profundamente não apenas o paciente, mas sua família e seu círculo pessoal e profissional, a terapia complementar espírito, mente e corpo é de grande relevância. Os indivíduos que recebem a terapia espírito, mente e corpo recuperam-se em maior número, em menor tempo e sofrem menos os efeitos da doença e dos tratamentos, como dores, náuseas, vômitos e perda de peso, dentre outros. E os indivíduos que 15 não se recuperam compreendem melhor o significado e a abrangência da vida atual, das vidas passadas e futuras e sentem-se melhor preparados para a transmigração aos planos da vida espiritual. Sentemse, e na verdade tornam-se mais capacitados a lidar com a morte. Dados recentes mostram que 60% dos portadores de câncer sob tratamento médico nos Estados Unidos da América do Norte submetemse, ao mesmo tempo, a uma forma qualquer de terapia complementar. Alguns pacientes fazem a opção por usar exclusivamente as terapias alternativas. Na Austrália, os pacientes com câncer que usam terapias complementares alcançam os 70%. Em nosso meio esses números são insignificantes, principalmente em virtude da disponibilidade muito limitada de grupos de tratamentos dessa natureza. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Anderson G. Câncer. 50 Essential Things to Do. A Plume Book, Sec. Ed., 1999. 2. Benson H, Stark M. Medicina Espiritual. O Poder Essencial da Cura. 12a Ed. Campus, 1998. 3. Angelis J, Franco D. Plenitude. Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 1991. 4. Angelis J, Franco D. Libertação do Sofrimento. Livraria Espírita Alvorada Editora. Salvador, 2008. 5. Brandão JS. 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