medicina espiritual. pequena história

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medicina espiritual. pequena história
MEDICINA ESPIRITUAL. PEQUENA HISTÓRIA
Decio O. Elias & Maria Helena L. Souza
Doença e Saúde referem-se ao estado em que se encontram os
indivíduos e não apenas ao estado de seus órgãos ou partes do corpo. O
corpo físico nunca está só doente ou só saudável, já que nele se
expressam as informações da mente.
O corpo de um ser humano deve o seu funcionamento, perfeito ou
imperfeito, ao espírito que o habita. Por seu turno, o espírito atua sobre
o corpo físico através da mente. Desse modo, torna-se indiscutível que
cada indivíduo adoece ou permanece sadio, física e funcionalmente, em
consequência da interação entre os seus três componentes: espírito,
mente e corpo.
Quando as várias funções do organismo ocorrem em conjunto e em
plena harmonia, existe o estado denominado saúde. Quando alguma das
funções do organismo falha, a harmonia do todo fica comprometida e,
então, ocorre o estado que denominamos doença.
O extraordinário progresso da ciência nas últimas décadas criou um
ambiente
propício
ao
desenvolvimento
de
especialidades
e
subespecialidades médicas, que congregam profissionais altamente
qualificados. Existem profissionais médicos que conhecem tudo o que há
por conhecer a respeito do cérebro, dos pulmões, do coração, do fígado,
do sistema ósseo, das glândulas endócrinas e de todos os segmentos
capazes de serem individualizados dentro da maravilhosa e complexa
estrutura denominada corpo humano (corpo físico). Entretanto, não
1
existe o profissional especializado no indivíduo como um todo - o ser
humano integral, aquele constituído por espírito e mente (consciência),
além do corpo físico.
A medicina contemporânea, extremamente materializada, com seus
recursos diagnósticos e terapêuticos bastante sofisticados, admite que
as causas das enfermidades sejam externas ao corpo físico. Os
profissionais das escolas psicológicas, psiquiátricas e psicossomáticas,
ao contrário, aceitam a origem das desarmonias do corpo físico como
nascidas na “mente”. Contudo, consideram a mente como uma função
do cérebro físico e não como o verdadeiro atributo, através do qual o
espírito se manifesta.
Essa conceituação incompleta da medicina moderna transforma os
indivíduos em “portadores” de doenças localizadas ou regionalizadas.
Segundo essa visão, na prática médica atual, o portador de um tumor
do fígado, leva seu tumor ao especialista em doenças do fígado. Se a
afecção é pulmonar, o paciente vai ao consultório do especialista em
doenças dos pulmões. Esses especialistas recomendam a realização de
numerosos
exames
de
sangue,
ultrassonografia,
tomografia
computadorizada, ressonância magnética e, eventualmente, biópsias
para o estudo microscópico do tecido removido, até formular o
diagnóstico completo da doença a ser tratada. Em nenhum momento
dessa caminhada através de laboratórios e consultórios, salvo raras e
honrosas
exceções,
os
pacientes
são
orientados
a
reavaliar
o
funcionamento da sua mente e reformular os pensamentos e as
emoções que eles despertam.
A segunda metade do século vinte foi caracterizada por uma maior
espiritualização dos indivíduos, apesar das resistências oferecidas pela
2
persistente escola materialista que domina o exercício da ciência. A
despeito desse fato, numerosos sábios, cientistas não atrelados a
dogmas materialistas e mentores espirituais elevados nos trouxeram por
diversas vias, a multissecular verdade de que as desarmonias do corpo
físico têm origem nos desequilíbrios do espírito e se manifestam através
da mente.
Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Franco, no livro
Libertação do Sofrimento, nos traz a seguinte mensagem:
“Mente também é vida.
Todos nos encontramos mergulhados no pensamento exteriorizado
pela Mente Divina, que tudo orienta e conduz com segurança, desde as
colossais galáxias às micropartículas.
Conforme pensas, assim viverás.
Se te permitires o pessimismo contumaz, permanecerás na angústia,
a um passo da depressão.
Se anelas pela felicidade, já te encontras fruindo as bênçãos que dela
decorrem, como prenúncio do que alcançarás mais tarde.
Se delineias sofrimentos para a existência, sob o conceito da aflição
que agasalhas, a jornada terrestre ser-te-á assinalada pelo sofrimento.
Se reflexionas em torno do bem-estar e da alegria de viver, mesmo
que ocorram acidentes de percurso em forma de dor, desfrutarás de
mais tempo de contentamento do que de aflição.
Se projetas insucesso pelo caminho, seguirás uma trilha assinalada
pelo fracasso elaborado pelo teu próprio pensamento.
Se arrojas em direção do futuro o êxito, encontra-lo-ás à tua espera,
à medida que avances no rumo dos objetivos superiores.
A mente produz aquilo que o pensamento direciona.
A abundância da vida encontra-se em toda a parte do universo, assim
como a paz e a saúde, porque procedem de Deus, o Criador.
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Igualmente, vastas faixas de infelicidade e de dissabores são
sustentadas pelas mentes conflitivas e negativistas que as originaram e
as preservaram.
É necessário, portanto, pensar edificando o bem, a fim de que o bem
se edifique nos teus sentimentos.
O Evangelho de Jesus é fonte inexaurível de alegria e de satisfações
emocionais, de auto-realizações e de felicidade.
Aborda, também, é claro, o sofrimento, o martírio, não, porém de
maneira masoquista, mas sim como recursos de libertação das mazelas
anteriormente
armazenadas, facultando
a conquista
da harmonia
interior e propiciando a perfeita vinculação com Deus.
Pensa, portanto, de forma saudável, edificante, e receberás as altas
cargas de estímulos que procedem das faixas nobres da vida, através do
pensamento.
Vivencia as experiências provacionais dolorosas com o pensamento
em harmonia, sem deixar que o dissabor e o desalento tomem conta
das tuas paisagens mentais, e ser-te-ão menos penosas as horas de
purificação.
Ninguém transita no mundo físico sem a experiência de algum tipo de
sofrimento, porquanto este é um planeta de provas e de expiações, e
não o paraíso, onde a dor e o desespero não vigem, não se apresentam
sequer.
A maneira, porém, de vivê-lo, é que o tornará razão de desdita ou de
satisfação, em face da perspectiva de próxima libertação.”
ORIGENS DA TERAPIA VOLTADA PARA O ESPÍRITO
Os sábios da antiguidade ensinavam e praticavam as ciências
positivas e as ciências ocultas, indistintamente. Astrologia, bruxaria e
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curandeirismo, filosofia, religião, matemática, física e medicina eram
áreas de domínio dos “mestres” e dos “iniciados”, sem qualquer linha de
separação.
Sacerdotes,
curandeiros,
xamãs,
bruxos,
herbanários,
parteiros, curandeiros e médicos manipularam e ministraram, ao longo
da história, ervas, poções e remédios que apesar de não terem valor
cientificamente comprovado, ofereciam bons resultados, em especial
quando eram associados às práticas místicas ou religiosas.
Os primeiros artífices das práticas curativas, desde Imhotep, no ano
2980 AC, no antigo Egito, passando por Asclépio, Aristóteles, Galeno e
Hipócrates (406-370 AC), considerado o pai da Medicina, conheciam
profundamente a importância da mente na manutenção da saúde e na
cura das enfermidades de qualquer natureza.
Hipócrates, na Grécia, substituiu os elementos místicos das curas pela
utilização do raciocínio indutivo e pela experimentação. O pai da
Medicina afirmava que a identificação das doenças e o resultado mais
provável das enfermidades agudas devem ser baseados na alimentação,
no estilo de vida, no comportamento do paciente em relação ao seu
estado de saúde e nos fatores ambientais, sociais e psíquicos. Ao
ressaltar a importância dos componentes físicos, psíquicos, sociais e
ambientais na produção e no tratamento das doenças, Hipócrates firmou
as bases da medicina integral, que considera o ser humano como um
indivíduo formado por espírito (mente) e corpo. Hipócrates afirmava que
os estados emocionais positivos e negativos de seus pacientes, assim
como a crença no tratamento, na competência do médico, a fé nos
deuses e na própria capacidade de cuidar de si mesmo, possuem efeitos
psicossomáticos e interferem no processo de cura.
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Sem nenhuma dúvida, cabe a Hipócrates o pioneirismo da terapia
holística, da forma como é praticada nos dias atuais. Hipócrates
considerava o paciente como o centro do processo de cura, enquanto o
médico deveria servir como um auxiliar da natureza, evitando qualquer
interferência no processo natural da cura e, evitando, principalmente,
prejudicar o paciente (primum non nocere, ou seja, em primeiro lugar,
não prejudicar).
Pouco depois de Hipócrates, Aristóteles (384-322 AC) filósofo,
matemático, físico e praticante das curas, na Grécia, dizia que as
emoções descontroladas, ou “moléstias da alma”, expressavam-se
através do corpo na forma de doenças, interferindo nas funções do
organismo e no processo de cura.
Desde os primeiros esforços para combater as enfermidades do ser
humano, podemos facilmente identificar o conhecimento de que o
homem adoece por inteiro, ou seja, o homem adoece física, psíquica e
espiritualmente.
Alguns filósofos que antecederam Sócrates, como Demócrito, Leucipo
e Lucrécio criaram as teorias materialistas que permitiram o surgimento
do materialismo científico. O materialismo histórico é uma tese, segundo
a qual o modo de produção da vida material determina, em última
instância, o conjunto da vida social, política e espiritual. É um método
de compreensão e análise da história, das lutas e das evoluções
econômicas e políticas. A doutrina materialista sustenta que a única
coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria; que,
fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e que
todos os fenômenos são os resultados de interações materiais.
6
Sócrates
(470-399
AC)
desenvolveu
conceitos
filosóficos
que
privilegiavam a vida espiritual. Acreditava que a excelência moral é uma
questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente
perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Sócrates ensinava que o
melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio
desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Por não ter
deixado nenhum dos seus ensinamentos escritos, conhecemos as teorias
de Sócrates através dos escritos deixados por seu discípulo e seguidor
Platão. A idéia cristã foi pressentida muitos séculos antes de Jesus e dos
essênios por Sócrates e Platão. Sócrates, como Jesus, teve a morte
determinada por vítimas do fanatismo contrário às suas idéias. Sócrates
defendia a tese de que havia apenas um Deus, a alma seria imortal e
viveria outras vezes.
Ao longo da Revolução Industrial ocorrida no século dezenove, a era
agrícola foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho humano,
uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações
entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de
massa, entre outros eventos. Essa transformação foi possível devido a
uma combinação de fatores, dentre os quais o liberalismo econômico e
a acumulação de capital. O capitalismo tornou-se o sistema econômico
vigente.
O desdobramento das ciências e as posições rígidas assumidas pela
igreja católica propiciaram o esboço de uma separação apenas teórica
em que a ciência se ocuparia das moléstias que afligiam o corpo,
enquanto, ao mesmo tempo, as aflições e as alterações da alma seriam
do domínio exclusivo da religião.
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A enorme impulsão do desenvolvimento humano e a intensa fase de
industrialização ocorrida nos primeiros tempos do século dezenove
permitiram estabelecer normas para a pesquisa científica que incluíam a
reprodução dos fenômenos das enfermidades e dos resultados dos seus
tratamentos em laboratório, antes da aplicação nos seres humanos.
Essa
fase
contribuiu
–
sobremodo
-
para
um
extraordinário
desenvolvimento das ciências, inclusive a medicina. Ao mesmo tempo,
entretanto, aumentou a distância entre o estudo e o tratamento dos
componentes psíquicos, emocionais e espirituais que acompanham as
doenças e que, não raramente, estão na raiz do seu aparecimento.
O crescimento das doutrinas materialistas e a tendência a afastar a
igreja do centro das decisões do poder monárquico ou republicano,
contribuíram para que os povos fossem educados a ver (e viver) duas
vidas separadas, como se essa separação fosse possível. A vida
material, cuja evolução estimulou o consumo e a crescente aquisição e
acúmulo de bens materiais e a vida espiritual que, não raro, consistia
em súplicas para que, ao longo do tempo, se conseguissem acumular
mais e mais bens materiais. Os valores espirituais foram perdendo
espaço
para
os
valores
materiais,
caracterizando
as
sociedades
modernas.
A MENTE E O CORPO
Desde os primeiros tempos da organização da civilização,
diversos
expoentes
do
pensamento
filosófico,
científico
e
religioso ensinavam que alterações da mente estavam na origem
das alterações do corpo. Em outras palavras, aqueles pensadores,
criaram as bases do ramo da ciência que, após vários séculos, viria a ser
conhecida como a medicina psicossomática, que considera que as
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doenças que afetam o organismo humano (corpo físico) são, em sua
essência, produzidas por alterações da mente, ou seja, pelo modo como
vivenciamos os pensamentos e as emoções.
Jesus,
em
sua
passagem
pelo
planeta,
deixou
inúmeras
demonstrações de como a mente pode comandar o corpo. Seus
ensinamentos e as curas que induzia, eram produto da crença inabalável
dos doentes aliadas à infusão de energia pelo Mestre dos Mestres.
"Vocês, se tiverem fé, podem fazer tudo isto e muito mais...", ensinava
o Mestre Supremo, diante do deslumbramento dos que o assistiam curar
cegos, loucos e paralíticos. Ao estudar a passagem de Jesus pela Terra e
seus ensinamentos, Baker relata sua admiração ao constatar como os
pontos de concordância entre os princípios espirituais e os emocionais
podem favorecer a saúde tanto emocional quanto física.
A absoluta interdependência entre a mente e o corpo é conhecida
desde a mais remota antiguidade, como demonstra a Ayurveda, o
tradicional sistema de medicina natural, em prática na Índia há mais de
5.000 anos. Ayurveda é uma palavra que no idioma Sânscrito significa
"ciência da vida". A Ayurveda é dedicada à prevenção das doenças, ao
rejuvenescimento dos sistemas orgânicos e à extensão da duração da
vida. Nessa prática, as doenças são consideradas como uma quebra do
equilíbrio existente em cada indivíduo, entre a consciência (mente) e o
corpo. A ciência e a religião são as duas alavancas da inteligência
humana: uma revela as leis do mundo material, enquanto a outra revela
as leis do mundo moral.
A importância da mente e, portanto, do pensamento, e a importância
da influência que exerce sobre o nosso corpo podem ser bem apreciadas
pelo conteúdo de uma frase bem antiga, mas bastante conhecida: "Mens
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sana in corpore sano". Essa frase representa um antigo pensamento
latino que significa literalmente "mente sadia em corpo sadio", usado
para ensinar que a saúde da mente é capaz de preservar a saúde do
corpo. Esse pensamento vem sendo repetido há muitas e muitas
gerações mundo afora, com a finalidade de consolidar entre os homens
a necessidade de cuidar tanto do corpo quanto da mente. Essa frase,
em Latim, tornou-se um lema, um mote, um verdadeiro refrão e, com
muita frequência, pode ser encontrada em universidades, instalações
esportivas, palácios de governos e organizações as mais diversas, com o
intuito de motivar estudantes, atletas e governantes a conquistar
resultados cada vez melhores, devido à crença de que uma mente
saudável mantém o corpo saudável. O autor dessa frase foi o poeta
Iuvenal, que viveu na Grécia, ao final do século I da era Cristã,
aproximadamente 65 anos após a crucificação de Jesus. A frase é parte
de uma oração que termina dizendo que "a saúde da mente e a saúde
do corpo são estados altamente desejáveis, mais do que a beleza, a
fortuna e o poder".
A prática de curar revela um significativo e peculiar aspecto da
unicidade existente nos tempos antigos entre os aspectos da vida
material e os aspectos da vida religiosa dos seres humanos. Pajelança,
curandeirismo, bruxaria, religião, filosofia, astrologia e medicina eram,
de um modo geral, praticadas e cultuadas pelas mesmas pessoas. O
intercâmbio entre o divino e o humano, na conquista da saúde, contudo,
era privilégio daqueles que se iniciavam no conhecimento das atividades
em direção ao "superior" ou divino.
A revolução industrial iniciada a partir do século XIX contribuiu para
que, ao longo do tempo, ciência e religião trilhassem caminhos
divergentes
e,
não
raramente,
opostos.
10
Em
consequência
dessa
separação, a ciência, especialmente a medicina, cuidaria do indivíduo
físico, ou seja, ditaria as leis dos cuidados com o corpo, enquanto as
religiões cuidariam das almas. Apesar da unicidade corpo-alma, o
progresso fez com que cada vez mais a ciência, agora movida
especialmente
pelo
desenvolvimento
tecnológico
que
se
iniciava,
ignorasse a enorme influência da "alma", melhor dizendo, do espírito
sobre os desvios da saúde.
Essa dicotomia teve aspectos trágicos e alguns aspectos pitorescos,
todos bastante curiosos e interessantes. Em meados do século XIX, as
leis inglesas condenavam à morte os praticantes de bruxaria. Os
médicos, em Londres, tinham enormes dificuldades para tratar seus
pacientes portadores de grandes inchações das pernas e do ventre. Os
pacientes
nem
mesmo
conseguiam
deitar-se;
eram
obrigados
a
dormirem sentados, enquanto suas pernas inchavam a cada dia, sem
qualquer remédio capaz de aliviar essa situação. Nos arredores da
cidade, contudo, uma bruxa bastante conhecida, preparava um chá que,
oferecido em pequenas poções, em poucos dias curava a inchação das
pernas e permitia uma vida confortável e produtiva às pessoas. Sabedor
da existência desse chá, até então considerado miraculoso, um famoso
médico londrino, na penumbra da noite, procurou a bruxa e rogou-lhe a
receita. Essa, sentindo sua aparente superioridade sobre o humilde
pedinte, após muitas recomendações e artifícios, entregou ao médico
algumas folhas de uma erva, usadas para extrair o chá. À partir de
então, o médico londrino passou a curar todos os seus pacientes com o
emprego do chá da bruxa que consistia, na verdade, da infusão extraída
das folhas da planta digitalis, popularmente conhecida como dedalina ou
campainha. O extrato de "digitalis", posteriormente, foi adotado pela
medicina
convencional
e,
até
os
dias
de
hoje
é
produzido
industrialmente para uso em pacientes portadores de insuficiência
11
cardíaca. Curiosamente, o médico jamais revelou a fonte do seu
remédio infalível, conforme exigência da bruxa, certamente para poupar
a própria vida.
A segunda metade do século dezenove e a primeira metade do século
vinte
foram
caracterizadas
pelo
estabelecimento
de
padrões
extremamente rígidos para a aceitação da verdade científica, dentre os
quais, a reprodutibilidade no ambiente laboratorial, dos fenômenos
observados no ser humano e na natureza. Ao mesmo tempo, no
ocidente, as religiões dominavam o exercício da fé e a aproximação a
Deus,
segundo
dogmas
aparentemente
complexos
e
pouco
compreensíveis para os não iniciados. A ciência, para compreender as
verdades da natureza, progressivamente afastou-se dos dogmas e das
convenções religiosas, para aceitar como verdade apenas o que podia
entender,
explicar
e
reproduzir
nos
laboratórios
de
pesquisas.
Consolidou-se o domínio do materialismo na ciência. Essa dicotomia
originou o afastamento progressivo entre a ciência e a espiritualidade,
que o tempo e os hábitos colocaram em áreas cada vez mais distantes
e, não raras vezes, opostas.
A codificação das revelações da vida espiritual, magistralmente feita
por Allan Kardec, no final do século dezenove teve, dentre outros, o
efeito de iniciar a reaproximação entre a ciência e o espiritualismo.
Entretanto, essa reaproximação caminha muito vagarosamente. Uma
das razões dessa lentidão é a resistência da ciência em aceitar a
existência de fenômenos não visíveis ou impossíveis de detectar ou
mensurar, com os instrumentos de que dispõe. Apenas a matéria e suas
transformações são objetos da ciência autodenominada "oficial". As
demais
manifestações,
psíquicas,
extrafísicas
ou
imateriais,
são
agrupadas sob denominações menos pomposas, para que sejam
12
obviamente diferenciadas da ciência “oficialmente reconhecida”. Assim
surgiram
a
parapsicologia
e
os
efeitos
da
paranormalidade,
os
fenômenos idiopáticos (de causa desconhecida) e muitos outros que, na
maior parte das vezes, não despertam o interesse da maioria dos
cientistas. Por outro lado, o poderio político e econômico de grandes
conglomerados
industriais
e
geopolíticos
conserva
a
humanidade
aferroada aos seus ditames, escrava dos seus produtos e tecnologias
cada vez mais sofisticadas e caras que, se por um lado podem prolongar
a vida, seguramente não a tornam melhor ou mais fecunda, porque suas
engenhosas e nem sempre eficazes soluções restringem-se a minorar os
males do corpo.
As permanentes preocupações, a interminável busca pela conquista
de bens materiais, o relacionamento familiar ou no ambiente de trabalho
superficial ou belicoso, o "stress" da vida moderna, a angústia, a cobiça,
a
ambição,
a
inveja
e
outros
sentimentos
negativos,
podem,
isoladamente ou em associações as mais diversas, afetar o organismo
humano e produzir gastrites, úlceras e uma grande variedade de
doenças, dentre as quais se incluem muitas das formas de câncer.
Já não há dúvidas de que a mente e o corpo constituem uma unidade
funcional integral e perfeita. A desarmonia da mente produz o mesmo
estado no corpo. A mente é uma propriedade da alma que, como
sabemos, sobrevive ao corpo. Quando desprovida de um corpo físico, a
alma é melhor conhecida como espírito e, portanto, a mente é uma
propriedade do espírito. O pensamento nela elaborado molda o corpo e
modera todas as suas funções. Bons pensamentos inundam o corpo de
substâncias indutoras de sensações de bem estar, enquanto os maus
pensamentos exercem efeitos contrários. Essa é a simples e clara
realidade da vida. Nada escapa dessa realidade básica. Portanto, nós
13
estamos onde está o nosso pensamento; dito de outro modo: nós somos
o que pensamos.
Uma porção ainda minoritária dos profissionais da área da saúde
compreendeu a importância do tratamento do indivíduo como um todo,
o ser humano integral, ou seja, o indivíduo constituído por espírito,
mente e corpo.
Esse conceito deu origem ao que se convencionou chamar Medicina
Espiritual, Medicina Mente-Corpo, Medicina Espírito, Mente e Corpo,
Medicina Complementar, Terapia Complementar, dentre uma ampla
variedade
de
denominações
existentes.
Nossa
preferência
pela
denominação Medicina Espiritual prende-se ao fato de ser mais clara e
melhor descritiva dos seus objetivos. Medicina Espiritual, para citar
apenas um exemplo, é uma terminologia bastante usada nos meios
acadêmicos. Entretanto, permite interpretações as mais diversas a
respeito da sua natureza, dos seus objetivos e dos seus limites. É
preciso conhecer os mecanismos de ação dessa modalidade de terapia
para apreciar a exatidão da terminologia.
A Terapia Espírito, Mente e Corpo (uma modalidade de medicina
espiritual) tem o objetivo de complementar os tratamentos da medicina
ortodoxa, com a finalidade de contribuir para aumentar a sua eficácia,
mediante a mobilização dos recursos terapêuticos e curativos existente
nos próprios indivíduos.
O imenso poder curativo existente nos seres humanos é despertado
pelas energias existentes no espírito e no corpo (bioenergia) e pela
utilização adequada do enorme potencial existente em nossa mente.
Essa associação de recursos complementares e a sua eficácia são
14
conhecidas desde a mais remota antiguidade. Como o seu emprego e os
seus resultados escapam ao esperado pelos ditames da metodologia
científica,
esses
resultados
são
erroneamente
classificados
como
“acasos” por algumas escolas científicas ou como “milagres” por
algumas escolas religiosas.
A chave para resolver os problemas da vida humana não se encontra
fora de nós, em uma ação externa, na ação da instrumentalidade
científica ou na erudição dos velhos livros; tampouco na prolixidade que
substitui a substância, na palavra de algum gênio ou filósofo que expõe
o homem ao materialismo arcaico e o submete à sentença de uma
ciência cega e utilitária. A mesma ciência que toma os valores imortais
como questões místicas, mas se perde em meio ao caos das finanças,
que substitui, em muitos casos, o compromisso do cientista, que deveria
ser com a própria vida.
Há um número crescente de trabalhos publicados nas revistas
espirituais e nas revistas médicas e científicas que comprovam que os
pacientes submetidos aos tratamentos da medicina convencional,
quando são, ao mesmo tempo, atendidos espiritualmente apresentam
recuperação maior, mais rápida e com menores efeitos produzidos pelas
doenças.
Na
área
do
câncer,
em
que
a
gravidade
da
doença
afeta
profundamente não apenas o paciente, mas sua família e seu círculo
pessoal e profissional, a terapia complementar espírito, mente e corpo é
de grande relevância. Os indivíduos que recebem a terapia espírito,
mente e corpo recuperam-se em maior número, em menor tempo e
sofrem menos os efeitos da doença e dos tratamentos, como dores,
náuseas, vômitos e perda de peso, dentre outros. E os indivíduos que
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não se recuperam compreendem melhor o significado e a abrangência
da vida atual, das vidas passadas e futuras e sentem-se melhor
preparados para a transmigração aos planos da vida espiritual. Sentemse, e na verdade tornam-se mais capacitados a lidar com a morte.
Dados recentes mostram que 60% dos portadores de câncer sob
tratamento médico nos Estados Unidos da América do Norte submetemse, ao mesmo tempo, a uma forma qualquer de terapia complementar.
Alguns pacientes fazem a opção por usar exclusivamente as terapias
alternativas. Na Austrália, os pacientes com câncer que usam terapias
complementares alcançam os 70%. Em nosso meio esses números são
insignificantes, principalmente em virtude da disponibilidade muito
limitada de grupos de tratamentos dessa natureza.
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