Introdução - Escola Secundária de Felgueiras

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Introdução - Escola Secundária de Felgueiras
Introdução
A arte, um dos grandes valores da vida, deve ensinar aos homens: humildade,
tolerância, sabedoria e magnanimidade.
William Maugham
Quero-vos falar um pouco sobre quem sou. Muitos de vós podem não saber, mas venho de
tempos imemoriais, em que a vida era muito diferente daquilo que é agora. A obscuridade real
e metafórica predominava, os homens viviam num mundo rude e difícil, o conhecimento era
muitíssimo escasso e assumia, frequentemente, as formas de superstição, dogma ou religião.
Posso afirmar que, desde esses tempos, sempre fui um pouco de luz, pois, mesmo sendo transmitido de boca em boca, sempre me preocupei por ensinar algo a quem me ouvia.
Ao longo dos séculos, falei sobre reis, rainhas, princesas, cavaleiros, feiticeiros, lobos, ferreiros, sapos, crianças, frades e outros. Contei as suas aventuras e desventuras, as suas imprudências e as suas astúcias, as suas covardias e as suas virtudes. Enfim, contei a condição humana. No fundo, sou a própria vida, no que ela tem de mais glorioso ou de mais obscuro. Talvez,
por isso nunca tenha envelhecido verdadeiramente, mantenho-me atual e ajustável à evolução
dos tempos, facto que muito me envaidece.
Até hoje, muitas crianças, pais e avós se assustaram, riram, zangaram ou maravilharam com
as minhas humildes peripécias e personagens. Fui o centro das atenções em noites de invernia
clamorosa, junto a lareiras iluminadas à luz da vela, estreitei laços entre os mais novos e os
mais velhos, realçando sempre o dom da partilha e da generosidade. De facto, eu só existo
enquanto me quiserem partilhar e oferecer a quem está mais desejoso ou necessitado.
Fui assim subsistindo até aparecerem alguns familiares mais rebuscados e extensos. Apareceram não para competir comigo, mas porque o meu veículo de transmissão deixou de ser apenas a oralidade e surgiu também a escrita. Na verdade, o homem evoluiu imenso e das trevas
construiu o seu caminho para a luz, para o conhecimento. Até eu próprio vesti as roupagens da
escrita, pois poucos já se davam ao trabalho de me contarem, preferiam ler-me… antes assim
do que desaparecer.
E assim cheguei até aos nossos dias. Agora, percorro os corredores dos links, das pens, dos
sites e dos emails. Posso já não ser uma narrativa oral, mas mantenho as mesmas características, daí que seja diferente de todos os meus primos e primas. Continuo a ser partilhado e, principalmente, junto dos mais novos, sou o primeiro a dar-lhes uma ideia de como é a vida e de
como se hão-de orientar nesse percurso difícil e confuso de se conhecerem e de se tornarem
adultos independentes, prontos a enfrentarem a vida.
Posso, portanto, ser simples, mas também sou rico; posso ser sincero, mas também apelo à
imaginação; posso ser pedagógico, mas também divirto imenso; posso até ser idoso, exteriormente, mas continuo jovem e atual, interiormente.
Enfim, sou o conto.
Há muitos que me apresentam dizendo: ―Era uma vez…‖. Mas isso é outro conto. Fica para
outra oportunidade…
Nelson Alves
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O SARGENTO QUE FOI AO INFERNO
Havia numa terra um sargento, que era muito bom rapaz; um rico mercador tomou-lhe
amizade, arranjou-lhe a baixa e tomou-o para seu empregado. Como o mercador tinha
filhas, o sargento apaixonou-se por uma delas: ora o mercador era muito desconfiado e
nunca deixava sair as filhas de casa, mas pela grande conta em que tinha o rapaz ele
mesmo lhe falou para se fazer o casamento. Tudo corria muito bem; vai, acontece ir uma
peça muito linda no teatro, e como as filhas desejassem ver, pediram ao sargento, que
só ele é que era capaz de apanhar licença do pai para as deixar ir ver. O mercador ficou
carrancudo, mas deu licença, dizendo:
– Deixo ir as minhas filhas com o senhor, e é com a condição, que quando der a última badalada da meia-noite hão-de estar aqui à porta.
Disseram todos que sim, e partiram.
Quase perto da meia-noite, o rapaz disse para a
sua noiva, que era bom retirarem-se para casa. Mais
um bocadinho, mais um bocadinho; pede daqui, pede
dali, o certo é que já tinha dado a meia-noite, eles ainda longe de casa.
Assim que o rapaz bateu à porta, abriu-se logo de
repente, e o mercador começou a bradar:
– Foi assim que o senhor cumpriu as ordens que
eu lhe dei? Pois trate já de arranjar as suas coisas
que nem já esta noite me fica em casa.
– Oh senhor, então só por isto! E quando estava já
para casar com sua filha!
O velho respondeu-lhe:
– Só tem um meio de poder casar com minha filha,
e voltar para casa.
– Qual?
– Vá ao Inferno, e traga-me três anéis que o Diabo
tem no corpo, dois debaixo dos braços, e outro num
olho.
O rapaz achou aquilo impossível; mas que remédio
teve senão pôr-se a caminho. Na primeira terra a que
chegou, pregou um edital em que dizia: "Quem quiser
alguma coisa para o Inferno, amanhã parte um mensageiro." Isto causou grande curiosidade, até que
chegou aos ouvidos do rei, que mandou chamar o rapaz. Perguntou-lhe o rei:
– Como é que você vai ao Inferno?
– Real senhor, por ora ainda não sei; ando em procura dele, e irei lá, dê por onde der.
– Pois bem, disse o rei, quando encontrares o Diabo, pergunta-lhe se ele sabe de um
anel de muito valor que eu perdi, do que ainda tenho grande desgosto.
Chegou o rapaz a outra terra e botou o mesmo anúncio. O rei também o mandou chamar:
– Tenho uma filha que padece uma doença muito grande, e ninguém lhe acerta com o
mal. Já que vais ao Inferno quero que saibas por lá onde é que estará a cura.
O rapaz partiu sempre à procura do Inferno, e foi dar a uma encruzilhada em que estavam dois caminhos, um com pegadas de gente, e o outro com pegadas de ovelhas. Pensou, e por fim seguiu pelo caminho das pegadas de gente; ao meio dele encontrou um
ermitão, de barbas brancas, que rezava em umas campânulas muito grandes, e lhe dis3
se:
– Ainda bem que tomaste por este caminho, porque esse outro é o que vai para o Inferno.
– Oh, senhor! E eu há tanto tempo que ando à procura dele!
O rapaz contou-lhe todo o acontecido; o ermitão teve compaixão dele, e disse:
– Já que tens de ir ao Inferno, vai, mas sempre leva contigo estas contas, porque antes de
lá chegar tens de passar um rio escuro, e há-de ser um pássaro que te há-de levar para o
outro lado; e quando ele te quiser afundar no rio, joga-lhe as contas ao pescoço. Daqui em
diante não sei mais o que te sucederá.
Assim aconteceu. Chegado ao Inferno o rapaz teve um grande medo, e viu para ali um
forno vazio e escondeu-se dentro dele. Quando estava todo agachado, passou uma velha
muito velha e viu-o.
– O menino aqui! Ora coitadinho, que é tão lindo; se o meu filho o visse matava-o, com
certeza. O que veio cá fazer?
O rapaz contou tudo à mãe do Diabo; a velha teve pena dele, e disse-lhe:
– Olhe; pois deixe-se ficar aqui escondido, porque eu não sei quando o meu filho virá; ele
está assistindo à morte do Padre Santo, que está nas agonias, e quer-lhe apanhar a alma. O
rapaz pediu à velha se sabia do Diabo as perguntas de que trazia encomenda. Quando estavam nestas conversas chegou o Diabo bufando; a velha escondeu-o logo, e disse:
– Anda cá, filho, para descansares; deita-te aqui no meu colo.
O Diabo deitou-se e ficou logo a dormir. A velha foi muito devagarinho com as unhas e
arrancou-lhe um anel que tinha debaixo do braço. O Diabo mexeu-se desesperado, gritando:
– Isto o que é?
– Ai, filho, fui eu que me deixei dormir, e dei uma penteadela em cima de ti. Estava a
sonhar com aquele rei que perdeu o anel, e que nunca mais o tornou a achar.
– Pois é verdade esse sonho, respondeu o Diabo; está debaixo de uma laje ao pé do
repuxo do jardim.
O Diabo tornou a ficar a dormir; a velha sorrateira arrancou-lhe o segundo anel. O Diabo
tornou a acordar desesperado:
_ Tem paciência, filho; tornei-me a deixar dormir e a sonhar com a filha daquele rei que
nenhum médico sabe curar.
– Também é verdade; a doença dela é o sapo-sapão, que está metido no enxergão.
Tornou o Diabo a dormir. Para arrancar o anel do olho é que foram os trabalhos.
A velha tirou-o com um espéculo, e o diabo com a dor e zangado com as penteadelas,
saiu pela porta fora. O rapaz recebeu tudo da velha; voltou para o mundo, quando ela chamou o pássaro: "Menino, menino, menino." Foi dali entregar as contas ao ermitão. Depois
passou pela terra do rei que tinha perdido o anel, que lhe deu muito dinheiro quando o tornou a achar debaixo da laje. Depois passou pela corte do rei que tinha a filha doente, disse
onde estava o sapo-sapão. A princesa melhorou logo, e o rei pediu-lhe para que dissesse a
paga que queria.
– Quero que Vossa Majestade me dê o seu poder por oito dias.
O rei mandou deitar um pregão para ele governar oito dias; o rapaz partiu logo para a terra do sogro, e deu ordem logo que lá chegou para o mercador dentro em meia hora lhe vir
falar à sua presença. O mercador foi, mas quando chegou era já mais de uma hora. O rapaz
disse:
– Podia-o mandar matar, por me ter desobedecido, em vir depois da meia hora.
– Oh senhor, não me demorei por minha vontade.
– Pois sim. Mas porque não soube em tempo desculpar aquele pobre sargento que pôs
fora de sua casa?
O mercador conheceu então o antigo noivo de sua filha, que tinha sempre chorado, confessou o seu erro, e pediu-lhe de joelhos muitos perdões. O rapaz entregou-lhe os anéis do
Diabo, e nesse mesmo dia casou com a sua namorada, por quem tinha metido um pé no
Inferno.
Teófilo Braga (1883), Contos Tradicionais do Povo Português.
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"Era uma vez uma rapariga chamada Capuchinho Vermelho, que vivia com a mãe perto de um grande bosque.
Um dia a mãe mandou-a levar um cesto de fruta fresca e água mineral a casa da
avó - não porque tal fosse trabalho de mulher, claro, mas porque se tratava de um acto
generoso que contribuía para fomentar um sentimento de comunidade. Aliás, a avó da
rapariga não estava doente, encontrando-se, pelo contrário, de perfeita saúde física e
mental, inteiramente capaz de cuidar de si, como adulta madura que era.
Vai daí, Capuchinho Vermelho fez-se ao caminho pelo meio do bosque com o cesto
enfiado no braço. Muitos achavam aquele bosque um lugar perigoso e de mau presságio, pelo que nunca lá punham os pés. Capuchinho Vermelho tinha, porém, tal confiança
na sua sexualidade a desabrochar que não se deixava intimidar por tão óbvia imagética
freudiana.
No caminho para casa da avozinha, Capuchinho Vermelho encontrou um lobo, que
lhe perguntou o que levava no cesto e a quem respondeu:
- São uns alimentos saudáveis para a minha avó, que é evidentemente capaz de
tomar conta de si própria, como adulta
madura que é.
- Sabes, minha querida, não é nada
seguro para uma menina como tu andar
sozinha pelo meio destes bosques! - retorquiu o lobo.
- Considero extremamente ofensiva a tua
observação sexista - disse o Capuchinho
Vermelho - , mas vou ignorá-la tendo em
conta a tua tradicional condição de pária da
sociedade, cujo trauma te levou a criar uma
mundividência própria, perfeitamente válida.
E agora, se me dás licença, tenho de prosseguir o meu caminho.
Capuchinho Vermelho continuou a andar, sempre pelo carreiro principal. No entanto,
o lobo, cuja condição de excluído da sociedade o isentara da obediência escravizante ao
raciocínio linear do tipo ocidental, conhecia um atalho para a casa da avozinha. Irrompeu
pela casa dentro e comeu a senhora, procedimento inteiramento adequado a um carnívoro, como era o seu caso. A seguir, liberto das noções rígidas e tradicionalistas quanto
ao que era masculino ou feminino, vestiu a camisa de dormir da avozinha e enfiou-se na
sua cama.
Capuchinho Vermelho entrou na cabana e exclamou:
- Avozinha, trouxe-lhe umas coisinhas para comer, sem gordura nem sal, em homenagem ao seu papel de matriarca sábia e criadora.
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Da cama, o lobo respondeu, em voz sumida:
- Chega-te cá, netinha, para eu te ver.
Capuchinho Vermelho acrescentou:
- Ah, é verdade! Já me esquecia de que a avozinha é opticamente tão limitada como
um morcego. Mas, avozinha, que grandes olhos tem!
- Já muito viram e muito perdoaram!
- E que grande nariz tem (em termos relativos, claro, e, de qualquer modo, atraente, à
sua maneira).
- Já muito cheirou e muito perdoou, minha querida!
- E que grandes dentes tem!
Aí o lobo disse:
- Sinto-me muito feliz por ser quem sou. - E saltou
para fora da cama, filando-a com as suas garras, pronto
a devorá-la.
Capuchinho Vermelho gritou, não assustada com a
aparente tendência do lobo para o travestismo, mas horrorizada com a invasão do seu espaço pessoal.
Os seus gritos foram ouvidos por um lenhador (ou
técnico de combustível lenhoso, como preferia que lhe
chamassem) que passava ali perto. Quando irrompeu
pela cabana, logo se apercebeu da confusão e tentou
intervir. Mal ergueu no ar o seu machado, Capuchinho Vermelho e o lobo pararam de
brigar.
- Que pensa o cavalheiro que está a fazer? - perguntou Capuchinho Vermelho. O
lenhador arregalou os olhos de espanto e fez menção de responder, mas nem uma palavra lhe ocorreu. - Entrar aqui como um Homem de Neanderthal, deixando que a sua
arma pense por si!- exclamou ela. - Machista! Especista! Como se atreve a presumir que
mulheres e lobos sejam incapazes de resolver os seus problemas sem a ajuda de um
homem?
Ao ouvir o discurso arrebatado de Capuchinho Vermelho, a avozinha saltou de dentro
da boca do lobo e, agarrando no machado do lenhador, cortou-lhe a cabeça. Passado o
mau bocado, Capuchinho Vermelho, a avozinha e o lobo sentiram-se unidos por uma
certa comunhão de propósitos. Decidiram, por isso fundar uma família alternativa baseada no respeito mútuo e na cooperação e viveram juntos e felizes no bosque para sempre."
James Finn Garner, Histórias Tradicionais Politicamente Correctas
- Contos de Sempre nos Tempos Modernos.
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OS DEZ ANÕEZINHOS DA TIA VERDE-ÁGUA
Era uma mulher casada, mas que se dava muito mal com o marido, porque não
trabalhava nem tinha ordem no governo da casa; começava uma coisa e logo
passava para outra, tudo ficava em meio, de sorte que quando o marido vinha
para casa nem tinha o jantar feito, e à noite nem água para os pés nem a cama
arranjada. As coisas foram assim, até que o homem lhe pôs as mãos e ia-a tosando, e ela a passar muito má vida. A mulher andava triste por o homem lhe bater, e
tinha uma vizinha a quem se foi queixar, a qual era velha e se dizia que as fadas
a ajudavam. Chamavam-lhe a Tia Verde-Água:
– Ai, Tia! Vocemecê é que me podia valer nesta aflição.
– Pois sim, filha; eu tenho dez anõezinhos muito arranjadores, e mando-tos para tua casa para te ajudarem.
E a velha começou a explicar-lhe o que devia fazer para
que os dez anõezinhos a ajudassem; que quando pela
manhã se levantasse fizesse logo a cama, em seguida
acendesse o lume, depois enchesse o cântaro de água,
varresse a casa, aponteasse a roupa, e no intervalo em
que cozinhasse o jantar fosse dobando as suas meadas,
até o marido chegar. Foi-lhe assim indicando o que havia
de fazer, que em tudo isto seria ajudada sem ela o sentir
pelos dez anõezinhos. A mulher assim o fez, e se bem o
fez melhor lhe saiu. Logo à boca da noite foi a casa da Tia
Verde-Água agradecer-lhe o ter-lhe mandado os dez
anõezinhos, que ela não viu nem sentiu, mas porque o trabalho correu-lhe como por encanto. Foram-se assim passando as coisas, e o marido estava pasmado por ver a
mulher tornar-se tão arranjadeira e limposa; ao fim de oito
dias ele não se teve que não lhe dissesse como ela estava
outra mulher, e que assim viveriam como Deus com os
anjos. A mulher contente por se ver agora feliz, e mesmo
porque a féria chegava para mais, vai a casa da Tia Verde
-Água agradecer-lhe o favor que lhe fez:
– Ai, minha Tia, os seus dez anõezinhos fizeram-me um
servição; trago agora tudo arranjado, e o meu homem
anda muito meu amigo. O que lhe eu pedia agora é que
mos deixasse lá ficar.
A velha respondeu-lhe:
– Deixo, deixo. Pois tu ainda não viste os dez anõezinhos?
– Ainda não; o que eu queria era vê-los.
– Não sejas tola; se tu queres vê-los olha para as tuas mãos, e os teus dedos é
que são os dez anõezinhos.
A mulher compreendeu a causa, e foi para casa satisfeita consigo por saber
como é que se faz luzir o trabalho.
Teófilo Braga (1883),
Contos Tradicionais do Povo Português.
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A comadre morte
Havia um homem que tinha tantos filhos, tantos que não havia ninguém na freguesia que não fosse compadre dele e vai a mulher teve mais um filho. Que havia do
homem fazer? Foi por esses caminhos fora a ver se encontrava alguém que convidasse para compadre.
Encontrou um pobrezito e perguntou-lhe se queria ser compadre dele.
— Quero; mas tu sabes quem eu sou?
— Eu sei lá; o que eu quero é alguém para padrinho do meu filho. — Pois, olha,
eu cá sou Deus.
— Já me não serves; porque tu dás a riqueza a uns e a pobreza a outros.
Foi mais adiante; e encontrou uma pobre e perguntou-lhe se queria ser comadre
dele.
— Quero; mas sabes tu quem eu sou?
— Não sei.
— Pois, olha, eu cá sou a Morte.
— És tu que me serves, porque tratas a todos por igual.
Fez-se o baptizado e depois disse a Morte ao homem:
— Já que tu me escolheste para comadre, quero-te fazer rico. Tu fazes de médico
e vais por essas terras curar doentes; tu entras e se vires que eu estou à cabeceira é
sinal que o doente não escapa e escusas de lhe dar remédio; mas se estiver aos pés é
porque escapa; mas livra-te de querer curar aqueles a que eu estiver à cabeceira, porque te dou cabo da pele.
Assim foi. O homem ia às casas e se via a comadre à cabeceira dos doentes abanava as orelhas; mas se ela estava aos pés receitava o que lhe parecia. Vejam lá se ele
não havia de ganhar fama e patacaria, que era uma coisa por maior! Mas vai uma
vez foi a casa dum doente muito rico e a Morte estava à cabeceira; abanou as ore8
lhas; disseram-lhe que lhe davam tantos contos de réis se o livrasse da Morte e ele
disse:
— Deixa estar que eu te arranjo, e pega no doente e muda-o com a cabeça para
onde estavam os pés e ele escapa.
Quando ia para casa sai-lhe a comadre ao caminho:
— Venho buscar-te por aquela traição que me fizeste.
— Pois, então, deixa-me rezar um padre-nosso antes de morrer.
— Pois reza.
Mas ele rezar; qual rezou! Não rezou nada e a Morte para não faltar à palavra foise sem ele.
Um dia o homem encontra a comadre que estava por morta num caminho; e ele
lembrou-se do bem que ela lhe tinha feito e disse:
— Minha rica comadrinha, que estás aqui morta; deixa-me rezar-te um padrenosso por tua alma.
Depois de acabar, a Morte levantou-se e disse:
— Pois já que rezaste o padre-nosso, vem comigo.
O homem era esperto; mas a Morte ainda era mais; pois não era?
Adolfo Coelho, O Escritor com a Palavra.
Head of a man, Paul Klee
Primo Levi, Se isto é um homem.
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O SAL E A ÁGUA
Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era
a mais sua amiga. A mais velha respondeu:
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as
outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou
ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à
mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel
muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de
quem seria aquele anel. Todas quiseram ver
se o anel lhes servia: foi passando, até que
foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o
anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo
apaixonado por ela, pensando que era de
família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só
cozinhava às escondidas, e viu-a vestida
com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu
pai e ambos viram o caso. O rei deu licença
ao filho para casar com ela, mas a menina
tirou por condição que queria cozinhar pela
sua mão o jantar do dia da boda. Para as
festas de noivado convidou-se o rei que
tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai
não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que
o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento
da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali
dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina
vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha,
que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que
depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
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Teófilo Braga (1883), Contos
Tradicionais do Povo Português.
A raposa e o co
rvo
Um dia, um corvo estava pousado no galho de uma
árvore com um pedaço de queijo no bico quando passou
uma raposa. Vendo o corvo com o queijo, a raposa logo
começou a matutar um jeito de se apoderar do queijo.
Com esta ideia na cabeça, foi para debaixo da árvore,
olhou para cima e disse:
- Que pássaro magnífico
avisto nessa árvore! Que beleza estonteante! Que cores
maravilhosas! Será que ele tem
uma voz suave para combinar
com tanta beleza! Se tiver, não
há dúvida de que deve ser proclamado rei dos pássaros.
Ouvindo aquilo, o corvo ficou que era pura vaidade.
Para mostrar à raposa que sabia cantar, abriu o bico e
soltou um sonoro "Cróóó!". O queijo veio abaixo, claro, e
a raposa abocanhou ligeiro aquela delícia, dizendo:
-Olhe, meu senhor, estou vendo que voz o senhor
tem. O que não tem é inteligência!
Esopo
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Caldo de Pedra
Um frade andava ao peditório; chegou à porta de um lavrador, mas não lhe
quiseram aí dar nada. O frade estava a cair com fome, e disse:
– Vou ver se faço um caldinho de pedra. E pegou numa pedra do chão,
sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se era boa para fazer um
caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:
– Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
– Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
– Se me emprestassem aí um pucarinho.
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra
dentro.
– Agora se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar,
disse ele:
– Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu,
ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via.
Diz o frade, provando o caldo:
– Está um bocadinho insosso; bem precisa de
uma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e
disse:
-Agora é que com uns olhinhos de couve ficava
que os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas
couves tenras. O frade limpou-as, e ripou-as com os dedos deitando as folhas
na panela.
Quando os olhos já estavam aferventados disse o frade:
– Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça...
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço; ele botou-o à panela, e enquanto se
cozia, tirou do alforge pão, e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de despejada a
panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa, que estava com os olhos nele,
perguntou-lhe:
– Ó senhor frade, então a pedra?
Respondeu o frade:
– A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
Teófilo Braga (1883), Contos Tradicionais do Povo Português.
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HISTÓRIA DO COMPADRE RICO E DO COMPADRE POBRE
Moravam numa aldeia dois compadres. Um era pobre e o outro rico, mas
muito miserável. Naquela terra era uso todos quantos matavam porco dar
um lombo ao abade. O compadre rico, que queria matar porco sem ter de
dar o lombo, lamentou-se ao pobre, dizendo mal de tal uso. Este deu-lhe de
conselho que matasse o porco e o dependurasse no quintal, recolhendo-o
de madrugada, para depois dizer que lho tinham roubado.
Ficou muito contente com aquela ideia e seguiu à risca o que o compadre
pobre lhe tinha dito. Depois deitou-se com tenção de ir de madrugada ao
quintal buscar o porco. Mas o compadre pobre, que era espertalhão, foi lá
de noite e roubou-lho. No dia seguinte, quando o rico deu pela falta do porco, correu a casa do compadre pobre e muito aflito contou-lhe o acontecido.
Este, fazendo-se desentendido, dizia-lhe: «Assim, compadre! Bravo! Muito
bem, muito bem! Assim é que há-de dizer para se esquivar de dar o lombo
ao abade!»
O rico cada vez teimava mais ser certo terem-lhe roubado o porco; e o
pobre cada vez se ria mais, até que aquele saiu desesperado, porque o não
entendiam.
O que roubou o porco ficou muito contente e disse à mulher: «Olha,
mulher, desta maneira também havemos de arranjar vinho. Tu hás-de ir a
correr e a chorar para casa do compadre, fingindo que eu te quero bater;
levas um odre debaixo do fato, e quando sentires a minha voz, foges para a
adega do compadre e enquanto eu estou falando com ele, enches o odre de
vinho e foges pela outra porta para casa.» A mulher, fingindo-se muito aflita,
correu para casa do compadre, pedindo que lhe acudisse, porque o marido
a queria matar. Nisto ouviu a voz do marido e correu para a adega do compadre, e enquanto este diligenciava apaziguar-lhe a ira, enchia ela o odre.
Tinha-lhe esquecido, porém, um cordão para o atar, mas tendo uma ideia
gritou para o marido: «Ah! Goela de odre sem nagalho!» O marido, que
entendeu, respondeu-lhe: «Ah, grande atrevida!... Que se lá vou abaixo,
com a fita do cabelo te hei-de afogar!» Ela, apenas isto ouviu, desatou logo
o cabelo, atou com a fita a boca do odre e fugiu com ela para casa. Desta
maneira tiveram porco e vinho sem lhes custar nada, e enganaram o avarento do compadre.
Adolfo Coelho, Contos
Populares Portugueses (1879)
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Morreu um moleiro que tinha três filhos, e não deixou mais bens que seu moinho,
um burrinho e um gato.
As repartições foram feitas com grande facilidade, e nem o escrivão, nem o procurador tinham encontrado tão pobre patrimônio, tiveram que entender nelas.
O mais velho dos três irmãos ficou com o moinho.
O do meio ficou dono do burrinho.
E o pequeno não teve outra herança além do gato.
O pobre rapaz ficou desconsolado ao se ver com patrimônio tão mixuruca.
-Meus irmãos- dizia – poderemos ganhar a vida honradamente trabalhando juntos,
pois depois de ter comido meu gato e o pouco que me
derem pela sua pele, não terei mais remédio senão
morrer de fome.
O gato, que escutava essas palavras, subiu-lhe num salto sobre as pernas de seu amo e, acariciando-lhe, disse:
-Não te desconsoles, meu amo; compra-me um par de
botas e um saco com cordões e verás como não é tão
má a parte da herança que te tocou.
O rapaz tinha tal confiança na astúcia do gato e já o
tinha visto usar de tanta malandragem na caça de pássaros e de ratos, que não se desesperou ao ser por ele
socorrido em sua miséria. Reuniu, pois, algum dinheiro, e comprou os objetos que o gato pedira.
O gato vestiu imediatamente as botas, jogou o saco nos
ombros, atando o cordão com suas patinhas da frente e
se foi a um salto num lugar onde havia muitos coelhos.
Colocou o saco de certo jeito, ao pé de uma árvore, pôs no fundo algumas ervas
de tomilho e, fazendo-se de morto, esperou que algum distraído, pouco esperto sobre
os perigos do mundo, entrasse no saco para regalar-se com o que lá dentro havia.
Poucos momentos fazia que estava esperando quando um coelhinho entrou correndo no saco. O gato tirou os cordões, prendendo o coelho lá dentro e dando-lhe a
morte com a maior destreza.
Orgulhoso de sua façanha, dirigiu-se ao palácio do rei daquela terra, e pediu para
falar com Sua Majestade.
Conduziram-no à câmara real, e depois de fazer uma grande reverência ao monarca, presenteou-o com o coelho, dizendo:
-Senhor, meu amo e senhor marques de Carabas terá prazer em que se digneis a
provar sua caça, e envia este coelho que caçou esta manhã em seus campos.
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-Diz a teu amo – respondeu o rei – que aceito com muito gosto e que lhe agradeço. O gato saiu do palácio saltando de alegria, e foi dizer a seu amo o que havia feito.
Alguns dias depois voltou ao bosque, armado com as botas e o saco, e não tardou
em apoderar-se de um par de perdizes.
Imediatamente foi apresentá-las ao rei, como havia feito com o coelho, e o monarca recebeu com tanto gosto as duas perdizes que mandou seu tesoureiro dar ao gato
algum dinheiro para beber.
O gato continuou por dois ou três meses a levar, de tempos em tempos, ao rei,
uma parte de sua caça. Um dia, soube que o rei devia ir passear pela beira do rio
com sua filha, a princesa mais bela do mundo, e então disse a seu amo:
-Se queres seguir meus conselhos, farás tua fortuna: vá banhar-se no rio, no local
que vou te indicar, e faz o que eu mandar.
O filho do moleiro fez o que o gato aconselhava, ainda que não compreendesse
onde aquilo tudo ia dar.
Quando estava se banhando, chegou o rei à margem do rio, e então o gato de pôs a
gritar com todas suas forças:
-Socorro! Socorro! O senhor marquês de Carabas está se afogando!
A este grito, o rei colocou a cabeça pela portinhola e, reconhecendo o gato que
tantas vezes lhe tinha levado caça, mandou imediatamente seus guardar irem em
socorro do marquês de Carabas.
Ao retirarem o pobre marquês do rio, o gato, aproximando-se da carruagem, disse
ao rei que, enquanto seu amo se banhava, ladrões tinham roubado suas roupas e,
mesmo tendo ido em seu auxílio com todas as suas forças. O rei mandou imediatamente os oficiais de seu guarda-roupa que fossem buscar um de seus mais belos trajes para o marquês de Carabas
Depois de vestido, apresentou-se ao rei, que o recebeu com muito agrado, e como
as roupas bonitas que acabaram de dar-lhe aumentavam muito sua beleza natural, a
filha do monarca o achou muito a seu gosto, e lhe dirigiu uma olhada tão terna e
carinhosa que deu algo a que pensar aos cortesãos.
O rei convidou o marquês a subir em sua carruagem e acompanhá-lo em seu passeio, e o gato, cheio de júbilo, ao ver que dava certo seu plano, foi à frente.
Não tardou a encontrar uns lavradores que cortavam a erva de um prado e lhes
disse:
-Boa gente, se não disserem ao rei que o prado que estão ceifando pertence ao
senhor marquês de Carabas, sereis feitos em pedaços tão pequenos quanto pedras de
rio.
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O rei não deixou de perguntar aos lavradores quem era o dono daqueles prados, e
temerosos pela ameaça do gato, os lavradores disseram, a uma voz:
- É o marquês de Carabas.
- Tens terras magníficas – disse o rei ao filho do moleiro.
Sim senhor – respondeu ele; -este prado me dá todos os anos produtos muito
abundantes.
O gato, que ia sempre diante, encontrou logo uns cavadores e lhes disse:
-Boa gente, quando o rei perguntar, digam que essas terras são do marquês de
Carabas, ou serão feitos em pedaços tão pequenos quanto pedras do rio.
O rei, que passou um momento depois, quis saber a quem pertenciam aquelas terras, e perguntou aos cavadores.
-Nosso amo – responderam – é o senhor marquês de Carabas.
E o rei felicitou de novo o filho do moleiro.
O gato, que ia sempre à frente da carruagem, dizia o mesmo a todas as gentes que
encontrava pelo caminho, e o rei se admirou das grandes riquezas do marquês de
Carabas.
O gato chegou, por fim, a um belo castelo, cujo dono era um ogro, o mais rico da
comarca, pois lhe pertenciam todos os prados e bosques por onde o rei havia passado.
Depois de se informar das qualidades deste ogro, chegou o gato à sua residência,
pediu para falar-lhe, dizendo que não queria passar pelos seus domínios sem apresentar-lhe seus respeitos.
O ogro recebeu-o com grande amabilidade e o fez repousar.
-Asseguraram-me – disse o gato – que tens o dom de poder transformar-se no animal que quiseres que podes, por exemplo, transformar-te em elefante, em leão...
-Sim, por certo – respondeu o ogro, - e para provar, vais me ver convertido em
leão. A transformação se verificou instantaneamente, e o gato se espantou tanto ao
ver um leão diante que si, que saltou sobre a lareira, não sem alguma dificuldade,
por causa das botas.
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Algum tempo depois, vendo que o ogro tinha recobrado sua forma primitiva, o
gato desceu e lhe disse:
-Contaram-me, também, mas não pude acreditar, que tens também a faculdade de
transformar-te em animais pequenos; por exemplo, que podes te transformar num
rato. Isso me parece impossível!
-Impossível!-exclamou o ogro; - vais te convencer já!
E ao mesmo tempo se transformou num ratinho muito pequeno, que se pôs a correr pela sala.
O gato não esperou mais e, lançando-se agilmente sobre ele, gravou-lhe as unhas
e dentes e o degolou.
Nesse meio tempo o rei, ao passar pelo magnífico castelo do ogro, quis entrar nele
para descansar.
O gato, que ouviu o ruído da carruagem sobre a ponte levadiça, saiu correndo e
disse ao rei:
- Bem-vindo seja S. M. ao castelo de meu nobre amo, o marquês de Carabas!
- Como, senhor marquês – disse o rei ao filho do moleiro – é seu castelo! Não há
outro tão belo em meus estados!
O marquês deu o braço à jovem princesa e, seguindo o rei que marchava primeiro,
entraram numa grande sala, onde encontraram uma deliciosa refeição que o ogro
havia preparado para seus amigos, que naquela noite deviam ir ao castelo, mas não
se atreveram entrar quando souberam que o rei estava ali.
O rei, encantado com as boas qualidades do marquês, e vendo que a sua filha não
lhe tinha sido indiferente, disse, depois de haver bebido quatro ou cinco copos de um
excelente vinho:
-Teria muito prazer, meu amigo, se quisesses ser meu genro.
O filho do moleiro, fazendo grandes reverências, aceitou a honrosa proposta do rei
e, poucos dias depois, deu a mão de esposo à jovem e bela princesa.
O gato foi todo um grande senhor, e já não corria mais atrás dos ratos senão por
diversão.
Nunca se separou de seu amo que, algumas vezes lhe dizia, com tom grato:
-Já vi como a esperteza e o trabalho valem mais que todas as heranças.
Aquele gato era um grande filósofo.
Charles Perrault,
O gato de botas
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Escola Secundária de Felgueiras
Publicação sem fins comerciais - distribuição gratuita só no espaço escolar.
Capa: Alexandre Reis
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