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Instituto São Rafael realiza tradução de livros didáticos para o braille, atendendo à demanda de escolas que possuem alunos cegos. Página 12 RICARDO MALLACO RICARDO MALLACO RICARDO MALLACO Tiro com Arco é praticado por atletas deficientes que se dedicam ao esporte tornando-o um aliado no processo de inclusão social. Página 14 A redução das matrículas nas escolas públicas da Região Noroeste preocupa instituições de ensino, que procuram entender as causas do problema. Página 6 marco jornal Ano 38 • Edição 278 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Novembro • 2010 TECNOLOGIAS AJUDAM A DRIBLAR O TRÂNSITO SAMARA AVELAR Problema antigo em cidades como São Paulo, o trânsito é preocupação crescente para moradores de Belo Horizonte, tanto motoristas como usuários do transporte coletivo. Com o aumento significativo da frota de veículos, tecnologias surgem para tentar amenizar a situação, como o sistema Infotráfego, que oferece informações a respeito das vias da capital através de SMS. Veículos de comunicação, como emissoras de rádio e TV encontram nessa área um novo filão e fazem investimentos para melhorar a qualidade do serviço prestado. Páginas 8, 9, 10 e 11 RICARDO MALLACO YASMIN SANTANA Localizada no município de Belo Vale, a 100 km da capital mineira, o vilarejo Noivas do Cordeiro chama a atenção pela liderança feminina. Composta por 90% de mulheres, a comunidade desenvolveu linguagem e costumes próprios. Página 15 Moradores do Bairro Dom Cabral pedem nova UMEI Falta alternativa para a saúde no Bairro Coração Eucarístico A falta de vagas para crianças de zero a seis anos nas UMEIs de Belo Horizonte gera problemas para os moradores da capital. No Bairro Dom Cabral, onde as vagas também se esgotaram, a comunidade reivindica a construção de uma nova unidade em Em uma região onde o comércio ocupa um grande espaço e continua crescendo gradativamente, a ausência de postos de saúde e clinicas médicas com profissionais da área se tornou um problema frequente. No Coração Eucarístico, essa situação acaba obri- um terreno da Prefeitura de Belo Horizonte, que não está sendo utilizado para nenhuma atividade. O lote vago é depósito de lixo da comunidade e oferece riscos para os moradores da região, pois serve como esconderijo para assaltantes. Página 4 gando moradores a procurar o atendimento necessário em bairros próximos como Padre Eustáquio e Dom Cabral. Nesses lugares, são encontrados centros de saúde que realizam atendimento público, principalmente, em adultos e idosos. Página 3 RENATA FONSECA “Temos esse tipo de problema, o cinema não é tão valorizado” Após começar a frequentar festivais de cinema por influência do irmão, André Novais não teve dúvidas quanto à profissão que seguiria. Aos 26 anos, o cineasta já possui cinco trabalhos em sua carreira, todos curtasmetragens. Sua última produção, "Fantasmas" (2010), ganhou diversas premiações, dentre elas a de Melhor Filme na 3ª Mostra Independente do Audiovisual Universitário (MIAU). Estudante do curso de História da PUC Minas, André está concluindo estudo que relata o pioneirismo da Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais (ESC-UCMG) na produção cinematográfica brasileira. Página 16 2 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Novembro editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditoria • 2010 EDITORIAL Trânsito vira motivo de preocupação no dia a dia da capital n LAURA DE LAS CASAS 3º PERÍODO O trânsito nas ruas de Belo Horizonte é um assunto que preocupa não só os motoristas, mas também pedestres e usuários de linhas do transporte coletivo. Por se tornar um problema cada vez maior na vida dos cidadãos belohorizontinos, devido ao grande volume de carros se movimentando ao mesmo tempo e a ausência de um planejamento urbano eficiente, esse foi um dos principais temas escolhidos para estampar quatro páginas de uma reportagem especial dessa edição do MARCO. Foi montada uma equipe com nove repórteres com o objetivo de recolher histórias de pessoas comuns que precisam mudar a rotina devido aos transtornos causados pelos engarrafamentos recorrentes nas ruas e avenidas da cidade. Os repórteres apuraram sobre a influência do trânsito na vida dessas pessoas, buscaram a opinião de especialistas no assunto e procuraram também o posicionamento de autoridades. Como forma de amenizar problemas provocados pelos engarrafamentos constantes, existem investimentos em novas tecnologias, como alternativa aos motoristas que precisam se informar frequentemente sobre a situação do trânsito em seus caminhos. São diversos recursos como GPS, placas de monitoramento, programas em rádios e telejornais direcionados ao trânsito da capital mineira, mensagens de celular, entre outros. Para contar um pouco sobre essas novidades que estão se tornando cada vez mais comuns no nosso dia a dia, o MARCO procurou detalhar esse assunto, relatando a importância que esses diferentes meios de informação ganharam nos últimos tempos. Mas não é só de trânsito que trata o MARCO. O jornal aborda um delicado problema vivenciado por escolas estaduais da Região Noroeste. Uma matéria relata a redução de matrículas nas instituições de ensino da área. Em contraponto, outra de nossas reportagens conta a situação vivenciada por diversos pais de família, moradores do bairro, que não conseguem vaga para seus filhos pequenos nas Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI) próximas ao Dom Cabral. Buscando solucionar esse problema, o Conselho Tutelar do Bairro Padre Eustáquio quer ocupar um terreno abandonado próximo à PUC Minas, para a construção de mais uma UMEI, permitindo assim que a população seja atendida de forma completa. REDE CONTRA A VIOLÊNCIA O projeto Rede de Vizinhos Protegidos busca reunir moradores do São Gabriel para que haja redução de criminalidade no bairro. A intenção do programa é criar parceria entre Polícia Militar e comunidade, em busca de maior segurança pública JULIANA CRISTINA devido a transições dos militares responsáveis. "O projeto começou com um major e um capitão, mas durante a implantação eles se aposentaram e agora novos responsáveis assumiram. Então, isto tudo levou um tempo para reorganizar", esclarece a moradora. De acordo com Darlene, toda primeira segunda-feira do mês os moradores se reúnem com a PM para obter dicas de segurança e para avaliarem juntos o andamento do projeto. n JULIANA CRISTINA, 7° PERÍODO Há cerca de um ano, a 24ª Companhia de Polícia Militar, localizada à Rua Walter Ianni, 80, no Bairro São Gabriel, em conjunto com moradores, implantou o projeto Rede de Vizinhos Protegidos. Presente há mais tempo em outras regiões da capital, a iniciativa visa aumentar a segurança para moradores e prevenir ações criminosas no bairro. O presidente da Associação do Bairro São Gabriel, Sebastião José de Freitas, 79 anos, foi convidado pela Polícia Militar para participar de uma reunião sobre o projeto, antes da sua implantação. Segundo ele, a Rede de Vizinhos Protegidos no bairro abrange as residências que estão mais próximas da 24ª Companhia. "A ideia foi implantar o programa nas casas mais próximas da companhia para depois ir estendendo para outras áreas do bairro, mas o morador de ruas mais distantes da companhia já pode aderir ao projeto", explica Freitas. De acordo com o líder comunitário, o projeto busca promover e criar estratégias de ajuda mútua entre os vizinhos para se protegerem contra crimes, "É necessário que os vizinhos se conheçam para criar esta rede. É preciso ter Rede de Vizinhos Protegidos é trunfo para melhorar a segurança pública cuidado para não ferir a intimidade do vizinho, mas eles têm que criar uma abertura para o projeto dar certo", explica o presidente da Associação. A moradora Cleuza de Fátima Guimarães participa do projeto desde a implantação e diz que nunca precisou utilizar o apito que os moradores recebem para dar alarme quando veem algum suspeito pela região. Ela conta que o uso do apito às vezes sobrepõe ao telefone "Até buscar a agenda com o número do meu vizinho para avisá-lo que há um suspeito tentando pular o muro, ele [suspeito] já roubou e está longe", diz. Cleuza atribui o afastamento de pessoas suspeitas em sua porta à placa afixada na fachada de sua casa. "Quando a pessoa que quer fazer o mal vê uma placa com as inscrições de que aquela residência está ligada a um programa da Polícia Militar, ela pensa várias vezes antes de tentar alguma coisa", acredita. Darlene Aparecida Oliveira também aderiu ao projeto desde o seu início, mas ressalta que só há um mês a Rede de Vizinho Solidários tomou formato, NOVAS PARCERIAS O bairro São Gabriel, Região Nordeste de acordo com o delegado Osório Tertius Silva Oliveira, tem como principais ocorrências policiais ameaças, furtos e roubos, assim como nos outros vinte e cinco bairros da Região Nordeste, que estão sobre a responsabilidade da 15ª Delegacia Distrital. Para o delegado, que ocupou há seis meses o posto da 15ª Delegacia Distrital, a parceria entre a delegacia e moradores da região no combate a estes tipos de crime é muito importante. Ele lamenta a inexistência de projetos nesse sentido. "Infelizmente não existe nenhuma aliança, mas já estamos estudando algumas estratégias, não só com as associações dos bairros, mas também com outros agentes sociais", diz. Falta de sinalização no Coreu KARINE VERSIANI Em busca de histórias de superação, essa edição traz uma reportagem contando a realidade de portadores de necessidades especiais que encontraram no tiro com arco paraolímpico um motivo para se ter dedicação e compromisso, ajudando também na saúde do corpo e da mente. São realidades que se tornaram exemplos de perseverança e, a exemplo do que já foi tratado em edições anteriores neste ano, reforçam a importância do esporte como fator de inclusão social. Sem deixar a cultura de lado, essa edição têm a entrevista com o jovem e talentoso curtametragista mineiro André Novais, que conta sua trajetória no mundo dos filmes, desde que se descobriu cineasta até os dias atuais, nos quais já comemora diversas premiações. O mineiro ainda enfatiza a importância dos festivais de cinema para sua vida e fala dos seus planos profissionais para o futuro. E assim é o MARCO, jornal que procura valorizar em suas páginas temas simples, mas, nem por isso, menos importantes, já que afetam diretamente a vida das pessoas. EXPEDIENTE expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected] Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Milton Santos Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Adriana Benevenuto, Bruna Fonseca, Carlos Eduardo Alvim, Cínthia Ramalho, Laura de Las Casas, Pedro Vasconcelos e Samara Nogueira Monitores de Fotografia: Renata Fonseca e Ricardo Mallaco Monitora de Diagramação: Lila Gaudêncio Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares n KARINE VERSIANI, 6º PERÍODO O Bairro Coração Eucarístico, localizado à Região Noroeste de Belo Horizonte, apresenta algumas deficiências em relação à sua sinalização. Apesar de ter uma boa localização, infra estrutura e ainda abrigar o mais antigo campus da PUC Minas, moradores e motoristas que circulam diariamente pelas ruas do bairro, sentem-se inseguros ao terem que passar por algumas ruas da região . Para Elizete Maria de Oliveira, a rua Demerval Gomes deveria ter “quebra-molas”. Ela conta que acidentes já aconteceram ali decorrentes da falta de sinalização. Dentre os fatores que são capazes de provocar acidentes no trânsito, a falta de atenção e imprudência de motoristas e pedestres também podem contribuir significativamente para aumentar o número de transtornos. "Em relação à sinalização, na minha opinião, falta pouca coisa. Eu acho que falta um pouquinho mais do pedestre também, que as vezes entra na frente do carro, atravessa fora da faixa no sinal vermelho", observa o economista Isaac Simon, 26 anos. Os motoristas de táxi, Rua no Bairro Coração Eucarístico é retrato da falta de sinalização que circulam pelo Coreu, também encontram dificuldades para transitarem em determinadas regiões do bairro, principalmente em horários de final de expediente que apresentam um fluxo intenso de veículos. Mas também existem outros fatores que podem dificultar ainda mais a circulação além da falta de sinalização. Para o taxista Ademar Pereira Vidal, a maioria das ruas do bairro apresenta deficiências pela presença de árvores que ficam próximas aos locais nos quais são colocadas as placas de trânsito, dificultando a visualização. Outro fator agravante está relacionado com as faixas pintadas nas ruas, que já estão desgastadas. "As ruas ficam meses e meses sem serem pintadas, e a maioria do pessoal não sabe que as ruas são preferenciais", afirma Ademar. Segundo o motorista, nas ruas Dom Aristides Porto e Dom Joaquim Silvério já aconteceram alguns acidentes decorrentes da falta de placas e de faixas de circulação pintadas em melhores condições. "Depois que eles mudaram a sinalização, que a Dom Aristides Porto passou a ser preferência, eu já vi mais de 15 acidentes", afirma. Para o motorista, os cruzamentos que existem entre essas ruas são muito perigosos. Secretária acadêmica da PUC Minas Valéria Azevedo Soares detecta um problema encontrado no bairro, e que, segundo ela, atrapalha o tráfego dos veículos que se encontram nas ruas transversais e horizontais. "As ruas transversais só podem ir e as ruas horizontais só podem descer, e as pessoas que entram no Coração Eucarístico que não têm esse conhecimento não conseguem sair dele, a não ser dando uma volta total no bairro”, diz. “. Para sair na Via Expressa, o bairro só tem uma saída", acrescenta. Outro problema de sinalização percebido pelos moradores foi em relação ao fluxo de carros que descem a rua Dom José Gaspar e que, ao entrarem à direita, não encontram um sinal de trânsito. Para o taxista Cláudio Eustáquio Pereira, nos cruzamentos da rua Dom Prudêncio Gomes, há necessidade de pintar indicações de PARE no asfalto. Ele conta também que na rua Demerval Gomes sempre acontecem acidentes. Comunidade 3 Novembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas SERVIÇO DE SAÚDE LIMITADO NO COREU JULIANA MAIA Com um número pequeno de profissionais da área de saúde prestando atendimento no Coração Eucarístico, moradores do bairro são obrigados a se consultar em outros locais, incluindo o centro de saúde do vizinho Dom Cabral [ ] “NÃO VI NENHUMA MUDANÇA NOS SERVIÇOS DE SAUDE, APENAS NO COMÉRCIO” HIGINO NETO n ISABEL GARIBA, JULIANA MAIA, MARIANA GODOY, TEREZA XAVIER, WALISSON MENDONÇA, 7º PERÍODO Conhecido principalmente por abrigar o campus da PUC Minas, o Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, possui uma vida comercial agitada, com bares, restaurantes, supermercados, bancos e lojas de roupa, mas é mais restrito quando se trata da oferta de atendimento na área da saúde para seus mais de nove mil habitantes. Em levantamento realizado pela reportagem foram localizados apenas 24 profissionais da área de saúde, dos quais seis são médicos: um clínico geral, três dermatologistas, um psiquiatra e um pneumologista. Além dos médicos, têm endereços de trabalho no Coração Eucarístico, de acordo com esse levantamento, outros 18 profissionais ligados à saúde: nove dentistas, uma enfermeira, três fisioterapeutas, uma fonoaudióloga e quatro psicólogos. Existem profissionais que dividem uma mesma clínica, caso dos três dermatologistas e do clínico geral. De acordo com informações da Gestão de Marketing da Unimed-BH, única das maiores seguradoras de saúde existentes em Belo Horizonte com atuação no bairro, a cooperativa não interfere no local de funcionamento dos consultórios ou clínicas. A cooperativa informou Falta de profissionais da saúde no Coreu faz com que moradores busquem atendimento em outros locais como o Centro de Saúde Dom Cabral ainda que realiza uma seleção anual para preencher o quadro de médicos cooperados após um estudo interno sobre a quantidade de especialistas por áreas e a demanda de clientes. Segundo o comerciante Higino Neto, de 81 anos, ao longo dos 42 anos em que mora no bairro, o atendimento na área da saúde sempre foi limitado. "Desde que me mudei para o bairro não vi nenhuma mudança nos serviços de saúde, apenas no comércio", conta. Higino destaca também os serviços oferecidos pela PUC Minas, nas áreas de odontologia, fisioterapia e psicologia, e que, segundo ele, são desconhecidos pela maior parte dos moradores do bairro. A ausência de postos de saúde e clínicas médicas tornou-se um problema para moradores do Coração Eucarístico, que precisam se dirigir aos bairros vizinhos como Dom Cabral e Padre Eustáquio para conseguir atendimento de urgência. "Como dona de pensionato, já precisei levar os moradores daqui correndo para os hospitais", revela a cantora Sônia Maria Gargiulo Moreira, 65 anos, que abriga estudantes em sua pensão. A dentista Giselle Paolinelli trabalha no bairro há três anos. Seu consultório localizado à Rua Dom Lúcio Antunes pertencia à sua ex-dentista, que lhe ofereceu o espaço quando decidiu se aposentar. De acordo com Giselle, que não trabalha com nenhum convênio, seus pacientes são em grande parte moradores do próprio Coração Eucarístico. Já Marta Efigênia Rocha atende pacientes de diferentes bairros da cidade e somente 20% deles são residentes do Coração Eucarístico. Auxiliar de enfermagem, ela possui 30 anos de profissão e atende em domicílio há dez, de forma particular, sem nenhuma ligação com planos de saúde. Marta acredita que os serviços de saúde do bairro são pouco numerosos devido ao perfil de seus moradores, composto por um grande número de idosos, e que, em sua maioria, possuem plano de saúde. "Não há demanda suficiente para a ampliação dos serviços no bairro que aten- dem bem às necessidades dos moradores", afirma. É o caso da proprietária de pensão Sônia Maria Moreira, que não abre mão de consultar com seus médicos fora do Coração Eucarístico. "Não procuro as clínicas do bairro porque antes de mudar para cá, já tinha os meus médicos que eu consultava regularmente, que eu continuo indo", afirma. O pneumologista José Félix de Azevedo avalia que são esses hábitos que fazem com que haja pouco atendimento médico. "É mais uma cultura do bairro de não ter esses serviços. E há também uma cultura de Belo Horizonte e até outros lugares de que existam áreas específicas para esses atendimentos, como temos a área hospitalar", diz. Azevedo atende no consultório, um espaço em sua própria casa, desde que se aposentou do serviço público há 20 anos. Segundo o médico, essa escolha se deu pelo prestígio que ele já conquistou em sua especialidade. "Atendo pessoas de todo o Estado, então, do próprio bairro é um número ínfimo", diz. Contudo, concorda que exista uma carência do bairro em atendimentos de emergência e em variedades de especialidades médicas. "O serviço público que atende ao bairro é feito pelo Padre Eustáquio e Dom Cabral. São atendimentos de qualidade, mas não são ideais para as necessidades dos cidadãos", considera. TEREZA XAVIER Posto no Dom Cabral é utilizado como alternativa pelos moradores Para atender aos moradores do Coração Eucarístico que precisam de atendimento público, o Centro de Saúde do Bairro Dom Cabral, localizado à Praça da Comunidade, é a solução mais próxima. O espaço, entretanto, só oferece consultas com clínicos gerais, pediatras e ginecologistas. O posto recebe ainda a demanda de parte dos bairros João Pinheiro e Dom Bosco. Segundo a gerente deste Centro de Saúde, Silvana Ferreira de Andrade e Sousa, são atendidos diariamente cerca de 300 pacientes, mas somente 20 deles são moradores do Coração Eucarístico. "Nós atendemos todos os usuários do bairro que vêm até o posto", afirma. De acordo com os dados levantados no centro de saúde, o perfil dos usuários é formado, principalmente, por idosos e adultos. No momento, 100 idosos moradores do Coração Eucarístico estão cadastrados no Programa de Saúde da Família (PSF) que, através de agentes comunitários, atende os pacientes em domicílio e realiza um acompanhamento regular. A gerente esclarece também que a Secretaria de Saúde Municipal considera a população do bairro de baixo risco, de acordo com o índice de vulnerabilidade à saúde, que avalia em toda a capital as regiões que mais necessitam do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Aguardando atendimento com o clínico geral, a ascensorista Jandira Marques, de 52 anos, é moradora do Coração Eucarístico e diz que sempre utiliza os serviços do posto, por não possuir nenhum plano de saúde. Ela revela ainda gostar do atendimento do posto, mas admite que só vai até ao Dom Cabral por falta de opção, e que apesar da distância sempre vai à farmácia do posto para pegar seus remédios de pressão de uso contínuo. Mas nem todos os atendimentos do posto são destinados às consultas médicas. "Alguns moradores do Coração Eucarístico procuram o posto para tomar as vacinas e para cuidados menores, como curativos", afirma Silvana. Essa característica é comum entre os moradores do bairro, segundo a gerente do centro de saúde. "Até mesmo os usuários de convênios buscam os medicamentos receitados pelos médicos de suas seguradoras", observa. Sobre a distribuição dos pontos de atendimento à saúde, Silvana explica que não faz parte do planejamento da cidade ter um posto de atendimento médico para cada bairro, ainda que a Secretaria de Saúde esteja repensando algumas áreas que têm apresentado mais problemas. Morador do bairro há 42 anos, Higino Neto diz que o serviço de saúde sempre foi limitado 4 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Novembro FALTA DE VAGAS COMPROMETE O ENSINO INFANTIL Unidade da UMEI no Bairro Dom Cabral ajudaria a resolver o problema de crianças que não conseguem vagas para estudar. Lote vago na comunidade, e quem vem sendo utilizado como depósito de lixos, poderia ser utilizado para a construção da escola infantil MARCELO COELHO n MARCELO COELHO, 8º PERÍODO Foi um sorteio que deixou Thales Rezende de Paula, uma criança de apenas oito meses de idade, de fora do berçário da UMEI do Bairro João Pinheiro, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Thales nasceu em fevereiro deste ano (2010) e desde maio o seu pai, Leonardo Cristiano de Paula, está tentando a vaga no berçário. "Infelizmente as vagas foram ocupadas por outras pessoas que já estavam na fila desde o ano passado. Agora espero conseguir uma vaga no ano que vem, e para isso vamos ter que contar com a sorte no próximo sorteio", explica Leonardo, morador do Bairro Alto dos Pinheiros há 37 anos. Mas as vagas para crianças nas Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI) não deveriam ser decididas por sorteio. E no bairro em que Leonardo mora, a falta de espaço não é um problema. Três ruas abaixo de sua casa a prefeitura tem um lote de aproximadamente dois mil metros quadrados, que não vem sendo utilizado e acaba servindo de depósito de lixo. "O lote está se tornando uma área de risco, com assaltantes se escondendo e muito lixo que é descarregado pela própria comunidade", conta Mauricio Antonio Sales, presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral. Para o líder do bairro, já passou da hora do local ser usado para algum benefício da comunidade. "Seria uma ótima forma de solucionar os problemas do lote vago e criar novas opções para as pessoas que moram na região. Mas infelizmente tudo sempre demora muito para acontecer, e quem acaba prejudicado são os moradores", opinou Maurício. A ideia de construir uma UMEI no lote partiu do Conselho Tutelar do Bairro Padre Eustáquio, que encontrou nesta alter- • 2010 nativa uma solução para vários problemas da comunidade. Acabar com os problemas de violência e sujeira no lote vago e usar o espaço para atender uma demanda importante para moradores do bairro. Mas, para que a obra seja aceita e saia do papel será preciso muita mobilização e que mais gente da região cobre da prefeitura. "Uma unidade por aqui vai ser fundamental. Temos que divulgar mais essa ideia, porque poucas pessoas já sabem da possibilidade dessa construção", conta Carlos Guilherme, representante do Conselho Tutelar. O órgão público municipal que tem como função zelar pelos direitos da infância e da juventude trabalha para avançar no desenvolvimento deste projeto, mas ainda não tem previsão do início da obra. “O nosso primeiro movimento é explicar o que é a UMEI, explicar qual a importância para comunidade, no que isso vai ajudar todo mundo", explica Carlos. Levantamento da região ainda não está concluído Leonardo Cristiano de Paula não conseguiu uma vaga para o filho Thales no berçário da UMEI do Bairro João Pinheiro A falta de vagas nas UMEIs na capital mineira é uma das principais reclamações que o Conselho Tutelar da Regional Noroeste recebe. Dos 150 pedidos de vaga para crianças entre zero e seis anos, a cada semestre, são atendidos apenas um terço , ou seja, pelo menos 100 pedidos não podem ser atendidos por falta de vagas, segundo o Conselho Tutelar. "E o número de defasagem aqui na nossa região é ainda maior, muitas pessoas não sabem que seus filhos têm esse direito e não chegam a solicitar a vaga”, diz Carlos Guilherme. Segundo a Gerente de Rede Física Escolar da Secretaria Municipal da Educação, Kenya Marques Pereira, o processo para a construção das UMEIs depende de vários critérios para serem aprovados. "Na cidade temos vários pontos com procuras pelas vagas, principalmente no ensino fundamental, alguns com mais necessidades e outros com menos. Por isso temos que levar em conta vários fatores, é preciso um levantamento de números quantitativos com as listas de espera e também realizar vistorias nos terrenos, para saber sé é possível a instalação de uma nova unidade", explica Kenya. No Bairro Dom Cabral a avaliação ainda não foi concluída e não há previsão para o início das obras. Exposição reúne pais e filhos na Vila Vicente RENATA FONSECA n RAUL MARIANO, 6º PERÍODO A UMEI São Vicente, Unidade Municipal de Educação Infantil da Vila São Vicente, no bairro Padre Eustáquio, promoveu, no dia 6 de novembro, uma mostra de arte com os trabalhos confeccionados por seus alunos ao longo do semestre. O tema da exposição "Projeto Volta ao Mundo" surgiu durante a Copa do Mundo, realizada na África do Sul e uma das ideias era permitir que os alunos trabalhassem com foco na região do globo que mais lhes despertassem interesse. De acordo com a professora Kênia Simão Mol, que dá aula para alunos com idade entre cinco e seis anos, as escolhas dos objetos a serem construídos foram surgindo nas próprias conversas com a turma, quando os alunos foram instigados a pensar sobre como representar o conteúdo estudado. TEMAS Para a turma das crianças com idade entre quatro e cinco anos o tema definido foi "O valor das frutas". Segundo a professora Maria Luzia Martinelli, os alunos não tinham o costume de comer frutas. "Na hora da refeição era um desastre a alimentação. Então, fomos incentivando, falando sobre o valor nutritivo de cada fruta e o resultado foi muito gratificante. Até a acerola foi aceita", afirma. O berçário, formado por alunos com até um ano de idade, desenvolveu o projeto "Crescendo Cantando" que teve o contato com a música como foco principal. Para a professora da turma, Josianne Lessa, a ideia surgiu pelo fato da música agradar muito às crianças e desenvolver a linguagem oral e a expressão corporal. "O que estamos expondo é o registro - em formato de portfólio - das músicas e histórias que os bebês mais gostaram. Porém, para nós, o mais importante é o processo que está registrado em fotos, pois isso retrata o momento do qual os pais não participam, mas revela as crianças interagindo umas com as outras, se sujando de tinta, dançando e brincando", explica Josianne. INTERAÇÃO A Unidade atende, em tempo integral, 157 crianças de até cinco anos e oito meses de idade, tendo como prioridade aquelas que possuam algum tipo de carência afetiva ou socioeconômica. Para Norma Lúcia da Silva, umas das vice-diretoras da escola, a interação entre a família dos alunos e a escola é o resultado mais importante do evento. Prova disso foi a presença massiva de pais que prestigiaram a exposição. Maria de Fátima Braga e Wagner Zazá, pais da aluna Eduarda, de seis anos, confirmaram a importância do contato entre pais e professores. "Eu trouxe sugestões como, por exemplo, cantar o hino nacional e fazer orações na hora das refeições e a escola se mostrou muito aberta a esse tipo de coisa", afirma Maria de Fátima. Entre zebras construídas com latas de extrato de tomate e elefantes feitos de rolos de papel higiênico, o que se viu na exposição foi o processo de reciclagem transformando o que se tornaria lixo em obras de arte. O clima alegre do evento e a presença das famílias dos alunos demonstraram que a união em prol da educação promove melhorias visíveis e têm as crianças como seus maiores beneficiados. "Nós ficamos emocionadas porque vemos que o trabalho vai ao encontro do desejo da comunidade", afirma a também vice-diretora, Valdívia de Freitas. A aluna Eduarda mostra seu trabalho para os pais Maria de Fátima e Wagner Comunidade 5 Novembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas RICARDO MALLACO FALTAM SACOLAS PLÁSTICAS PARA A FUNDAMIGO Instituição que oferece alimentos e roupas para pessoas carentes, enfrenta dificuldades em conseguir sacolinhas plásticas para o transporte das doações. A presidente da entidade, Simone Junqueira, afirma que a falta se deve à substituição da sacola plástica pela de pano. n KENETH BORGES SOARES, 2º PERÍODO Todos os sábados a Fundação de Doutrina Espírita, Fundamigo, localizada à Avenida dos Esportes nº 777, no Bairro Coração Eucarístico, beneficia 400 pessoas cadastradas para receberem a cesta auxilio alimento, composta por macarrão, arroz, feijão, óleo e alguns legumes. Além disso, outras pessoas que ali comparecem também aos sábados, se alimentam com sopa oferecida pela instituição. O projeto de cunho social realiza distribuição de sopa a partir das 11h30 e cesta alimento ás 14h, além do café da manhã que é servido a partir das 8h, afirma Simone Junqueira Brandão, presidente da Fundamigo, que já realiza esse trabalho desde 1993. "A Fundamigo conta com 60 voluntários fixos, e cerca de 100 que são chamados de flutuantes, por não comparecerem sempre. Os voluntários são responsáveis pela captação de doações, seja de alimentos para o preparo da sopa e composição da cesta alimento, há peças de vestuário", explica. Gilmar Khouri Rossi é um dos voluntários fixos e há sete anos e meio está nesse projeto, sendo um dos responsáveis pela preparação da sopa e sua distribuição que ocorre aos sábados. Ele conta que o preparo da sopa começa na sexta-feira, onde grande parte dos legumes como batata, cará, abobrinha e mandioca são picados, o suã que também compõe a sopa é refogado no sábado às 6h. "O trabalho começa cedo, para que às 11h30 a sopa seja distribuída, pois são 960L de sopa e 100 kg de suã o que em média dá 2.000 pratos de sopa", ressalta Gilmar Rossi. Maria Augusta da Silva, 65 anos, também ajuda na Fundamigo e, segundo ela, são mais de 15 anos de dedicação. Lavando as panelas ela conta com [ ] A FALTA DAS SACOLINHAS ESTARIA LIGADA AO FATOR ECOLÓGICO emoção que tudo começou quando ia apenas para tomar a sopa na fundação, e que com o passar do tempo se tornou uma das voluntárias. Augusta comenta que a sopa tem sabor especial. "O segredo é o carinho com que a sopa é feita, isso dá um sabor especial", avalia. Mas não é só Augusta que pensa assim. Maria da Rosa de Andrade, 75, vai todos os sábados tomar a sopa. "O dia que chega sábado meu coração fala, vai tomar a sopa", comenta satisfeita. “Aqui é a nossa segunda casa", completa. Já Maria da Conceição Lopes, 62, não recebe ape- nas a sopa, mas também o café da manhã que é servido. "A primeira refeição do dia é muito importante, e aqui podemos fazê-la", justifica. De acordo com Simone Junqueira, está havendo falta das sacolinhas plásticas para que as pessoas possam acondicionar a vasilha com sopa e levar para casa. "Quando faz mais calor, sobra sopa, e eles podem levar para casa e terão um jantar completo", observa. A sacola plástica também é importante para montarem a cesta alimento, além de transportar roupas e calçados recebidos. "Se eu for entregar a roupa ou calçado não quero entregar na mão, mas colocar na sacola, dar dignidade para os que recebem", diz Simone. Ela acredita que a falta das sacolinhas estaria ligada ao fator ecológico, pois muitas pessoas substituíram as sacolas plásticas do supermercado pelas de pano que já levam de casa. "Agora que há uma conscientização ambiental maior nas pessoas, as sacolinhas começaram a desaparecer, mas é importante pensar nessa questão ecológica", disse. Para aumentar o número de doações, foram confeccionados imãs de geladeira com os dizeres "ajude-nos ajudar", "doe para nossa despensa", mas foram produzidos somente o de macarrão e de óleo, Simone Junqueira explica que futuramente serão feitos para outros alimentos. Voluntárias do projeto servem a sopa que é preparada todos os sábados, com a ajuda de doações de alimentos Instituição beneficente é também ponto de socialização A presidente da Fundamigo, Fundação de Doutrina Espírita, Simone Junqueira Brandão, o local que distribui sopa e cesta auxilio alimento também serve de ponto de encontro para moradores de rua. "Aqui eles ficam sem problemas, tem um lugar para conversar, encontrar, sem ninguém para incomodar", afirma. Este é o caso de Hector Adeodato, 37 anos, há três meses morando na rua, que já fez amigos na fundação. "Aqui conversamos em paz, contamos casos, e nossas histórias de vida sem ninguém nos olhando com preconceito", conta Hector, que saiu de sua casa em São Paulo por problemas de alcoolismo, abandonou esposa e seu filho de 15 anos. "Saí de casa porque percebi que estava atrapalhando, bebia muito e ficava agressivo e não percebia isso, achava que era festa chegar em casa depois de beber no bar, demorou para ficha cair que estava atrapalhando a vida da minha família", ressaltou. Hector Adeodato ainda conta que em São Paulo era barbeiro, e que seu pai tinha uma barbearia onde ele trabalhava, mas que aqui em Belo Horizonte não conseguiu emprego, e na Fundamigo ele pode se alimentar, além de encontrar com os amigos que fez. Luiz de Almeida, 54, é um dos amigos de Hector, juntos compartilham dos mesmos problemas e procuram por tratamento nos Alcoólicos Anônimos, Luiz Almeida conta que também saiu de casa há um bom tempo, mas que sua família não sabe que ele mora na rua. "Na minha idade não vou voltar para casa, nem pedir ajuda para os meus filhos, é questão de orgulho", revela. D.A (que não quis se identificar), também faz parte desse grupo de amigos, depois ter saído de casa deixando esposa e uma filha de 12 anos, por causa do vicio do álcool e drogas, dos quais ainda não conseguiu se livrar. "Não consegui sair do mundo das drogas nem do álcool, mas também não me esforcei para isso, na rua é muito fácil de conseguir a droga", diz. Preso dois anos por interceptação de carga, D.A se arrepende do delito. "A única coisa que me arrependo é de ter roubado, foi muito constrangedor quando minha mãe foi me visitar na cadeia, mas hoje já paguei pelo erro que cometi, não pretendo fazer isso de novo", explica. Grupo de apoio ajuda mulheres da comunidade n MARIANA FARIA, 5º PERÍODO Quinta-feira, 14h. No espaço cedido pelo Centro de Saúde Jardim Vitória, mulheres vão chegando aos poucos, se reunindo para mais um encontro. Maria André da Silva Santos, 53 anos, entra apressada e contando que deixou os afazeres domésticos pela metade, só para não se atrasar. "Tento não perder nenhum encontro. Quando não venho, aviso. Já faz parte da minha vida", explica. Ela é uma das participantes do Grupo Mulheres Vitoriosas, que acontece todas as quintas-feiras, no Bairro Vitória, Região Nordeste de Belo Horizonte. Maria André, entre as amigas conquistadas no grupo, conta que ficava em casa, deprimida e sem perspectiva. Ela decidiu conferir após o convite de uma agente de saúde do bairro. "No tempo que passamos aqui, esquecemos o que está lá fora. Fiz novas amizades, sempre aprendo novas coisas. Tem dia que a barriga chega a doer de tanto rir. Vir para cá foi uma vitória", declara. Segundo a coordenadora do projeto, a assistente social Vanessa Beatriz Vida Schuch, o diferencial do grupo está em como os assuntos são tratados em cada reunião. A cada temática, um profissional do centro de saúde é convidado a orientar as participantes. Enquanto conversam, as mulheres realizam atividades de artesanato, culinária e teatro. "Aqui, buscamos sempre promover um bate papo de comadre, uma troca de experiências e ter a possibilidade de criar algo que possa gerar renda", ressalta. As discussões permeiam temas como relacionamentos, saúde da mulher, violência doméstica, nas quais todas podem compartilhar com opiniões e depoimentos de vida Maria Terezinha da Silva, 52 anos, também é uma das vitoriosas. Ela explica que passou boa parte da vida em casa cuidando dos pais, que faleceram no último ano. Terezinha conta que se sentia só. Começou a participar a convite de uma vizinha. "Mudei meus pensamentos. Antes, parecia que era eu pequena, agora tudo ampliou. Para mim, é uma vitória aprender e também poder ensinar", conta. RESGATE O grupo, aberto a toda comunidade, surgiu em 2008, por meio de uma demanda das mulheres que participavam de outras atividades promovidas pelo centro de saúde, como o Grupo de Caminhada e o Grupo de Nutrição. Para a coordenadora, abrir um espaço para o público feminino propiciou o resgate da auto-estima e do convívio social dessas participantes. "Queremos resgatar conhecimentos que muitas vezes podem estar sendo perdidos. Com isso, promovemos um espaço para reflexão e entretenimento dessas mulheres", explica. A oportunidade de participar é muito gratificante segundo Anésia Maria de Souza, 49 anos. Para a vitoriosa, as amizades e a troca de experiências são fundamentais. "Gosto muito de estar aqui, pois as pessoas querem ouvir seus ensinamentos. Como eu faço trabalhos em crochê, pude ensinar muitas coisas. É uma terapia", declara. A cada final de semestre, uma das propostas é desenvolver a exposição dos trabalhos feitos pelas vitoriosas. Vanessa conta que já houve peça teatral, exposição de artesanatos e pinturas e que, neste ano, será produzido um livro com receitas culinárias das participantes. "Fizemos várias receitas sugeridas por elas, agora queremos compartilhá-las entre todas. Já está tudo reunido, só falta digitar e imprimir o livro", garante. 6 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Novembro • 2010 MATRÍCULAS NAS ESCOLAS DIMINUEM RICARDO MALLACO As instituições de ensino da Região Noroeste estão com um número cada vez menor de matrículas, causando grande preocupação ao Conselho Tutelar. Outro fator constatado pelo sistema de Quadro de Turma e Matrícula é a infrequência dos alunos em sala de aula n LUISA FARIA PEREIRA, 2º PERÍODO Escolas estaduais da Região Noroeste de Belo Horizonte apresentam dificuldades de manter os alunos na sala de aula. A não renovação de matrículas e a infrequência escolar dos estudantes são problemas enfrentados pelas diretorias dos estabelecimentos, que sofrem com ameaças ao encaminharem ao Conselho Tutelar e, em último caso, à Promotoria da Infância e Juventude da cidade, jovens que deveriam estar na sala de aula. "Acredito que um dos motivos que mais geram evasão escolar é o fato da família não reconhecer na educação uma forma de ascensão. O processo educacional não corresponde somente à alfabetização, conteúdo de exatas ou humanas. É na escola que o indivíduo aprende a se relacionar, posicionar-se ante a sociedade em um meio que não é o de sua família", diz Carlos Guilherme, 30 anos, membro do Conselho Tutelar do Bairro Padre Eustáquio, ao constatar a infrequência dos alunos nas instituições de ensino da Regional Noroeste. "Na verdade, a grande maioria dos pais matricula os filhos nas escolas. A evasão acontece por questões sociais e econômicas: migração de um bairro para outro, ou de cidade e até mesmo de estado", explica Maria das Graças Soares Martins, 59 anos, diretora da Escola Estadual Ursulina de Andrade Melo, no Bairro Jardim Montanhês. Maria das Graças também diz que a evasão é mais decorrente do envolvimento de alunos e/ou familiares com o tráfico de drogas. Uma vez que os estudantes tendem a serem indisciplinados na sala de aula e, dependendo da gravidade do ato indisciplinar praticado, é preciso o encaminhamento dos mesmos à Promotoria da Infância e Juventude responsável por crimes de jovens menores de 18 anos. "Como, em geral, o comportamento não melhora com as advertências, o aluno permanece grande parte do tempo afastado da escola porque os pais não conseguem atuar junto às escolas, na transmissão de valores humanos que facilitem a socialização destes alunos, ou o seu interesse pelo aprendizado", revela a diretora. Maíze Breguez Martins da Costa, 49 anos, é vice-diretora da Divisão da Equipe Pedagógica (Divep) da Superintendência Regional de Ensino Metropolitano B, do Bairro Carlos Prates, e considera que a principal causa da não matrícula dos alunos nas escolas são as baixas condições socioeconômicas em que se encontram algumas famílias e por isso, não priorizam a educação dos filhos. "No cadastramento escolar são inseridos dados que posteriormente são conferidos nas escolas. Ao se constatar que a matrícula não foi efetuada (muitas vezes por meio de denúncias), a Superintendência Regional de Ensino (SRE) encaminha a criança para uma escola mais próxima de sua residência. Caso persista a resistência em matricular a criança, o Conselho Tutelar é acionado para devidas providências", afirma. Segundo ela, o desinteresse nos estudos por parte dos jovens é mais um fator que engrossa a lista de alunos infrequentes nas escolas. Para Maíze Breguez, a Secretaria de Educação, após a matrícula, faz a verificação na escola, por meio do Serviço de Inspeção Escolar, verificando registros nos diários escolares. A diretora da Escola Estadual Professora Maria Auxiliadora Lanna, do Bairro Pindorama, Vera Lúcia Rabelo, 46 anos, confirma o que disse Maíze sobre o controle da frequência dos alunos, pois, segundo ela, atualmente há uma analista de educação que acompanha todo o trabalho pedagógico da escola e a frequência dos alunos. "Se o aluno não está frequentando (a partir do 5º dia consecutivo de falta) e não pediu transferência, acionamos os familiares para apurar o caso e se não conseguimos êxito, o caso é passado ao Conselho Tutelar para as devidas providências", explica a diretora. O sistema de Quadro de Turma e Matrículas (Q.T.M.) e o Educasenso são programas também da Secretaria de Educação para acompanhar o estudante e diferenciar os casos, realmente, de alunos evadidos da escola, dos que foram transferidos para outra sem cancelar a matrícula da escola de origem ou dos que faleceram. "No final do ano, ao fechar a escrituração escolar e se deparar com situações como essa, a escola que admitiu este aluno deverá entrar em contato com a escola de origem para providências no envio da documentação necessária. Isso é da responsabilidade da secretária da escola juntamente com o diretor da escola", esclarece Maíze sobre o que devem fazer as escolas que receberam alunos durante o ano letivo. Vera Lúcia, diretora da E.E. Professor Maria Auxiliadora Lanna, reconhece o problema de frequência entre os alunos Dificuldades encontradas por alunos que voltam a estudar Os alunos que ficaram sem estudar, ou foram retidos, por motivos variados, enfrentam duas dificuldades básicas para a retomada. A primeira é a falta de vagas e a segunda a defasagem. "Aqueles alunos que estiverem fora da faixa etária, que ficaram sem estudar por algum motivo ou que foram retidos, quando eles voltam, existe uma grande dificuldade, que é a falta de vaga, porque a prioridade é para os ‘piquititos’, e a segunda dificuldade é a defasagem, porque ele não consegue acompanhar o ritmo da escola", explica Cláudia Márcia Pereira, 44 anos, supervisora regional da Divisão da Equipe Pedagógica (Divep), sobre a não abertura de vagas para alunos com idade acima da regular para o Ensino Fundamental (6 aos 14 anos) que quiserem matricular em uma escola que não seja o Educação para Jovens e Adultos (EJA). Contudo, a supervisora da Divep explica existirem casos em que alunos são encaminhados, por uma ação judicial, às escolas mesmo quando as salas de aulas já atingem seu número limite e depois, nem a Promotoria, nem o Conselho Tutelar acompanham a permanência dele na escola. "Nós temos muitos encaminhamentos de Promotoria e as escolas não negam. A Promotoria quando leva esse aluno, geralmente o menino é um marginal, ela também não acompanha. Então, o menino não quer escola, ele está ali por outro motivo, para traficar. E não existe um acompanhamento do Conselho Tutelar e da Promotoria da Infância e Juventude para fazer com que este aluno permaneça na escola", diz Cláudia Márcia. De acordo com ela, aumentaram as oportunidade de egresso na escola, pois, pelo menos em cada regional há o EJA e projetos de aceleração de aprendizagem como o Centro Estadual de Educação Continuada (Cesec) e o Supletivo, que permitem uma conclusão tanto do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio em menos tempo. Av. Avaí ganha dois redutores de velocidade CARLOS EDUARDO ALVIM n LAURA DE LAS CASAS, 3º PERÍODO Em uma das principais avenidas da Vila Califórnia, situada na Região Noroeste de Belo Horizonte, é possível ver movimento de carros e pedestres ao longo de todo o dia. Crianças brincam no meio da rua e transitam pelo local sem medo. O perigo causado pelos carros em alta velocidade e pela falta de sinalização chamou a atenção dos moradores. Na edição 276 do Jornal MARCO, uma das matérias abordou esse assunto, relatando os aci- dentes causados na região e expondo os pedidos das pessoas que vivem no local por dois redutores de velocidade e placas de sinalização, feitos a BHTrans. No dia 18 de outubro começaram as obras dos quebra-molas e das placas, que foram concluídas no mesmo dia. Segundo a assessoria da BHTrans, sempre que se sentirem prejudicadas as pessoas podem solicitar redutores pelo telefone 156, mas ele só pode ser implantado em aclive maior que seis graus. Então, a equipe vai até o local para averiguar a necessidade e a possibili- dade da obra para realizála. Mesmo assim, a velocidade permitida no local citado é de 40 km, sendo assim, responsabilidade do motorista respeitar essa norma. Para José Rodrigues de Souza, 40 anos, comerciante e morador do Vila Califórnia, o fluxo de carros com alta velocidade diminuiu na região. "Aqui é cheio de menino pequeno, e as mães deixam todos soltos no meio da rua, então é perigosíssimo. Com os redutores a gente fica mais tranquilo, as pessoas se educam só dessa forma", afirma. Os quebra-molas instalados na Avenida Avaí, na Vila Califórnia, trazem tranquilidade para os moradores do local Comunidade • Meio Ambiente 7 Novembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas TOCOS INCOMODAM MUITA GENTE n PEDRO VASCONCELOS, 3° PERÍODO Todos os meses, a Prefeitura de Belo Horizonte recebe centenas de pedidos para destoca, remoção de tocos e raízes de árvores extraídas de um local público. Normalmente estes pedidos são feitos por moradores, vítimas de transtornos causados pela não remoção dos restos de tronco. Um desses moradores é João Tadeu Santos, 46 anos, que reside no bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste da capital mineira, que há três meses espera pelo serviço de destoca. "O chão do passeio fica todo detonado, os tocos atrapalham a gente de andar pela rua, umas coisinhas dessas trazem uma chateação danada", afirma. Segundo o morador, as árvores foram removidas em janeiro pela prefeitura. “As raízes estavam podres, estavam perigando cair nas casas, a prefeitura veio e arrancou, mas deixou os tocos aí", diz. No dia 19 de agosto, João Tadeu realizou o pedido de destoca na central de atendimento ao cliente da Prefeitura de Belo Horizonte e agentes municipais foram até sua casa e ele foi informado que os tocos seriam removidos em no máximo um mês. "Eu ligo para lá quase toda semana para saber quando que eles vão vir, mas eles sempre desconversam e falam que não podem me dar uma data certa. Mas na primeira vez que eles vieram aqui, prometeram a destoca em um mês. Já tem quase dois que eu estou esperando por alguma resposta.", afirma João Tadeu. Alexandre Guias, assessor de imprensa da prefeitura de Belo Horizonte, assegurou que a destoca em locais públicos é de responsabilidade do estado, mas salientou que a destoca em propriedades privadas é de responsabilidade do próprio morador. "A prefeitura recebe centenas de pedidos de destoca por mês, mas alguns são de propriedades privadas e nestes casos, o município não pode intervir", afirma. Segundo ele, a complexidade do serviço pode estar atrasando a destoca na rua de João Tadeu. "O trabalho de destoca não é tão fácil, ele é manual e requer um estudo de caso prévio, são muitos os pedidos e isso pode demorar um pouco", diz o assessor. João Tadeu nasceu e foi criado na Avenida dos Esportes, sempre fez questão de manter a fachada de sua casa limpa, asfaltada e bem cuidada. Ele tinha planos para reformar o seu passeio, que foi destruído pelas raízes das árvores, mas está com a reforma parada já que o serviço de destoca ainda não foi feito pela prefeitura. Vizinhos de João Tadeu ressaltam a importância da destoca. Maria Lúcia Soares, 55 anos, moradora do Bairro Padre Eustáquio há 15, chama a atenção para os perigos que os tocos abandonados podem causar. "De noite a gente vem aqui, pode tropeçar e machucar. E também sem os tocos a rua pode ficar mais bonita, mais bacana mesmo."diz. Luís Antônio Linhares também é morador da Avenida dos Atletas e diz que o problema não é novo na região. "Na porta lá de casa tinha um toco que dava cupim e um monte de bicho que entrava para dentro. Eu fiz o pedido de destoca, eles vieram aqui e tiraram. Demorar, demora, mas se pedir eles vem", ressalta Luís. Apesar da demora João Tadeu aguarda confiante a destoca, "A Prefeitura vai vir sim. Eles já vieram aqui, já fizeram a vistoria.O problema é a demora, mas paciência a gente tem que ter por que é bem chata esta situação,"afirma. Os moradores que desejarem solicitar o serviço de destoca em locais públicos devem entrar em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio do número 156 e agendar uma visita. Moradores da região Noroeste reclamam que o problema causado pelos tocos de árvores que ficam no meio das ruas da região já é antigo. Os pedidos para remoção muitas vezes não são atendidos, causando acidentes e demais transtornos para quem vive no local RENATA FONSECA Tocos abandonas na Avenida dos Atletas destroem passeios e geram transtornos para os moradores da região Moradores reivindicam recuperação de praça RENATA FONSECA n PEDRO VASCONCELOS, 3° PERÍODO Telas de proteção quebradas, quadras esburacadas, muros pichados e vestiários depredados. Esta é a situação da Praça da Comunidade no Bairro Dom Cabral, na Região Noroeste de Belo Horizonte. O local, que é uma das principais alternativas de lazer do bairro, sofre há mais de cinco anos com problemas de conservação. Foi pensando nisso que o presidente da associação de moradores, Mauricio Antônio dos Santos, organizou um abaixo assinado com mais de 700 assinaturas reivindicando uma reforma completa na praça. "Na verdade, este é um problema antigo, que a antiga gestão também não conseguiu resolver, a comunidade precisa da praça em um bom estado. Muitas atividades acontecem na região e ela está ficando muito perigosa, principalmente para as crianças", diz Mauricio. Segundo o presidente da associação, a má conservação da praça gera inúmeros transtornos para comunidade, sobretudo para uma creche que utiliza o espaço diariamente em suas atividades."A creche é a que mais usa o espaço. É perigoso para as crianças brincarem em um piso esburacado, podem machucar o olho no arame solto das telas. Mas o pessoal do Lian Gong e Moradores do Bairro Dom Cabral organizam abaixo asssinado para resolver problemas de má conservação na Praça da Comunidade de outros projetos que usam a quadra também reclamam", afirma Mauricio. Pâmela Santos, 27 anos, tem um filho de quatro matriculado na creche e se preocupa com a integridade física dele. "Aqui precisa de uma reforma faz tempo. A gente fica preocupada, mas deixa os meninos brincarem", afirma. Pâmela é uma das moradoras que participou do abaixo assinado e aguarda uma posição das autoridades. "Vamos ver se agora eles fazem alguma coisa, porque até agora só estão enrolando, e faz tempo isso", relata a moradora. No dia 12 de outubro, Carlos Guilherme, morador do Bairro Dom Cabral e presidente do conselho tutelar do Padre Eustáquio, encaminhou o abaixo assinado para o secretário do adjunto municipal da Regional Noroeste, Nildo Tarone. "Junto com o abaixo assinado nós anexamos algumas fotos para ilustrar bem as condições da praça", diz. A Regional Noroeste informou que a Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude de Minas Gerais já está tomando as devidas providências para solucionar o problema da praça. Zaner Araújo, assessor de comunicação da Secretaria de Esportes, confirmou que o proje- to de reforma da Praça da Comunidade já está com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) aguardando a autorização da Caixa Econômica Federal. "Já sabemos deste problema. O projeto de reforma já está na Sudecap, só falta o parecer da Caixa. Esse tipo de obra demora um pouco mesmo, não posso estipular uma data certa, mas acredito que em um ano a obra já estará realizada", afirma o assessor. Maurício vê com desconfiança o desenrolar da obra. "Nós inclusive já tivemos uma reunião com eles lá na secretaria e não adianta, tem anos que eles estão só prometendo", ressalta. Para Carlos Guilherme, o problema da Praça da Comunidade não será resolvido apenas com a reforma."Além de uma fiscalização mais atuante do poder público, os moradores precisam se envolver, no sentido de preservar a praça. Porque não faz sentido reformar as quadras se os próprios moradores deixarem elas serem depredadas de novo", diz. Segundo ele, os moradores precisam se organizar para que a praça não se torne um reduto de delinquentes. "Alguém precisa ficar responsável pelas chaves dos vestiários, pois à noite o local se torna propício para a prática de estupro", afirma. Wander Augusto de Souza, 62 anos mora no Bairro Dom Cabral há 25 e teme pela preservação da praça. "Só está destruída porque alguém destruiu, concorda? Se reformar eu acho que vão destruir outra vez, o povo não tem educação", explica. Já Maurício acredita que após todo este processo a comunidade vai se envolver diretamente com a preservação da praça. "A gente sabe que a população precisa se conscientizar, depois dessa novela eu acho que a maioria vai estar disposto a ajudar", afirma o presidente da associação. 8Especial jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório Desacostumados em se preocupar com o trânsito na cidade, os belo-horizontinos têm que prever os congestionamentos para chegarem ao seu destino, e para isso, contam com a existência de recursos tecnólogicos TRÂNSITO PREOCUPA CADA VEZ MAIS OS BELO-HORIZONTINOS RICARDO MALLACO [ ] "VOCÊ VÊ O TANTO QUE O TRÂNSITO DA CAPITAL ESTÁ RUIM PELO FATO DE AS PES- SOAS ESTAREM INVESTINDO EM RECURSOS PARA MELHORÁ-LO” MÁRIO DO ROSÁRIO MENDES Painel luminoso na Avenida do Contorno avisa aos motoristas informações a respeito da situação do trânsito cada vez mais intenso na capital mineira BHTrans controla tráfego na região central por intermédio de câmeras A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) tem o Centro de Controle Operacional (CCO), órgão responsável por monitorar o trânsito da cidade. Segundo a supervisora Gabriela Pereira Lopes, formada em engenharia civil, a BHTrans trabalha para amenizar os problemas de trânsito da capital mineira. "As pessoas não podem ter essa ilusão que a gente daqui vai apagar o carro, não tem como, dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Se não está pas- sando é por algum motivo, porque a via é estreita ou porque tem carro demais, e tem carro demais, aqui a gente fica para amenizar, a gente não tem como burlar a lei da física", explica. O CCO controla os semáforos da capital, dez Painéis de Mensagens Variáveis (PMV) e monitora o trânsito da área central da cidade através de 25 câmeras, a maioria instalada entre 2005 e 2006. Gabriela afirma que as imagens são monitoradas das 6h30 até às 23h, e os fun- cionários são divididos em turnos. Os turnos contam com técnicos de transporte de trânsito e dois estagiários. "Os técnicos, cada um fica por conta da programação de semáforos da área central, outro com a programação semafórica fora da área central, o terceiro seria com câmeras e painéis, e os estagiários auxiliando nessa questão de varrer as câmeras", conta. Os sistemas que são utilizados pela BHTrans procura auxiliar usuários do transporte urbano. As câmeras fazem o monitoramento dos principais corredores de Belo Horizonte, e quando ocorre algum problema, os técnicos do CCO entram em contato com as equipes que trabalham nas ruas, para resolvê-lo. Além disso, os painéis de mensagens variáveis dão informações em tempo real sobre a situação do trânsito. As imagens das câmeras são disponibilizadas no site da BHTrans, ou então, o usuário pode ligar no 156 solicitando informações sobre o tráfego. n ADRIANA BENEVENUTO, CARLOS EDUARDO ALVIM, CÍNTHIA RAMALHO, LAURA DE LAS CASAS, PEDRO VASCONCELOS, SAMARA NOGUEIRA, 3º E 4º PERÍODOS Acostumada a passar boa parte do dia circulando em seu carro pelas ruas da cidade, a comerciante Maria do Rosário Mendes, 37 anos, precisou mudar sua rotina para se habituar ao trânsito de Belo Horizonte. Moradora de um condomínio em Nova Lima, na Região Metropolitana da capital, a vendedora precisa sair de casa com pelo menos uma hora de antecedência para chegar até a Savassi e começar seu trajeto de vendas, que, sem retenções, poderia ser feito em meia hora. "Antes de sair eu ligo o rádio e vejo através das dicas de trânsito qual o melhor caminho a ser feito", conta. Durante muito tempo, o trânsito não era motivo de preocupação dos cidadãos, que podiam sair de casa a qualquer hora e chegariam a seu destino. O panorama em Belo Horizonte, entretanto, mudou. Atualmente, tornouse uma preocupação constante o tempo em que leva para se deslocar de um lugar para o outro, fazendo com que as pessoas procurem soluções para os problemas gerados pela quantidade de carros existentes nas ruas e para o estresse causado pelos engarrafamentos diários nos diversos pontos da capital. "Quando chove piora tudo. Eu tenho que sair de casa uma hora e meia antes, pelo fato de morar longe", conta Maria do Rosário. A comerciante não é a única que sofre com os frequentes engarrafamentos. Larcides Faria Lama, 55 anos, morador do Bairro Ipiranga, na Região Leste de Belo Horizonte, conta que há 20 anos, de carro, demorava cerca de 15 minutos para chegar à firma em que trabalha, no Bairro de Lourdes, na Zona Sul. Hoje, tem que sair de casa 50 minutos mais cedo. "E mesmo assim, ainda chego atrasado às vezes", diz Larcides. Muitos motoristas já comparam o trânsito da capital mineira com os dois maiores centros do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, o urbanista e especialista em tráfego e trânsito Ronaldo Guimarães Gouvêa, professor de engenharia de transportes e geotecnia da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não acredita que em Belo Horizonte a situação esteja igual à capital paulista. "O trânsito está ruim sim, mas não é igual São Paulo não", afirma. Para ele, o trânsito de Belo Horizonte é um problema antigo e vem sofrendo piora lenta e gradual. O professor explica que não houve um ano específico que se possa identificar essa piora, mas há um fenômeno de degradação do sistema viário de Belo Horizonte. Esse fenômeno se intensifi- cou nos últimos 30 anos. O especialista aponta o aumento da frota de carros como problema que não atinge somente Belo Horizonte, mas outras cidades também. Ronaldo Gouvêa constata que a frota de automóveis está se tornando incompatível com a capacidade das vias. "A expansão das vias é limitada. Este é um fenômeno nacional", comenta. Além disso, ele salienta que os carros são muito grandes, transportam poucas pessoas e ocupam muito espaço. "Falando em termos de engenharia de tráfego, as famílias poderiam ter um carro só, mas se não podem diminuir o número de carros, pelo menos poderiam tentar diminuir o tamanho desses veículos, o problema é que carros pequenos como o Smart ainda são muitos caros", diz. De acordo com Ronaldo Gouvêa, uma solução seria a construção de um sistema metroviário eficiente e de qualidade. Ele analisa a importância de investimentos nas áreas de linhas de grande capacidade como o metrô, e de pequena capacidade, como o microônibus para dentro dos próprios bairros, sem deixar de lado as de média capacidade, que são as linhas de ônibus. Segundo o profesor, seria uma forma de incentivo para que moradores se dispusessem a largar o carro de vez em quando, se lhes fosse oferecido um transporte público de qualidade. Outra questão abordada pelo urbanista é a possível construção de um novo anel rodoviário, para que sirva de conexão entre as grandes rodovias da cidade, tirando o tráfego de passagem da região central, que já está prejudicada pelo próprio trânsito. "Essa obra deveria ser prioritária", completa Ronaldo Gouvêa. TECNOLOGIA Os recursos tecnológicos surgem cada vez mais bem estruturados como forma de auxiliar os motoristas no momento de escolher o melhor caminho. Para isso, rádios, telejornais, GPS (global position system, em português, sistema de posicionamento global) ou até mesmo mensagens de celular surgem para orientar e informar sobre o tráfego nas grandes cidades. Maria do Rosário vê os recursos tecnológicos como tentativas de ajudar o motorista e analisa a situação do tráfego em Belo Horizonte. "Você vê o tanto que o trânsito da capital está ruim pelo fato de as pessoas estarem investindo tanto em recursos para melhorá-lo, como programas de rádio que informam sobre o trânsito, GPS, jornais de TV que sempre mostram imagens com o intuito de ajudar o telespectador", opina. O sistema de mensagens via celular, Infotráfego, é uma iniciativa recente da BHTrans, em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) e já está Especial 9 docursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório disponível para o usuário desde o dia 1º de outubro, que pode cadastrar rotas de interesse no site da empresa (www.bhtrans.pbh.gov.br). As mensagens enviadas têm o custo de R$0,23 para o destinatário e não há limite de mensagens diárias recebidas. O assessor de comunicação da BHTrans, Gilvan Marçal, informou que o usuário pode comprar um pacote de mensagens mensal, e receberá as informações de acordo com a rota e os horários que cadastrou no site. Segundo ele, cerca de 150 pessoas já utilizam o serviço. O uso do GPS ajuda o motorista a se localizar e a criar novas rotas para fugir de um congestionamento. "Nas minhas outras atividades, que consigo usar meu carro, faço uso do GPS. Foi um investimento muito bom quando comprei, pois assim posso dirigir por rotas alternativas, sem me perder", comenta a psicóloga Érica Pereira, de 45 anos. O estudante Diego Borello Faria Lama, de 21 anos, diz ter vontade de adquirir um aparelho, mas acha que o preço ainda está alto. Os preços de GPS variam entre R$249 até R$1699. Esses aparelhos podem ser adquiridos em sites pela internet, em lojas que vendem produtos eletrônicos, e em lojas de acessórios e equipamentos automotivos. O estudante acredita que o GPS é um grande aliado do motorista. "Eu acho que o GPS ajuda, ajuda a achar caminho, eu sou mestre em ficar perdido, sou muito desorientado e as placas não ajudam", conta. Por outro lado, os motoristas divergem em relação ao uso do aparelho. "O problema do GPS é que muita gente distrai, GPS distrai um pouco mesmo, o melhor é não colocar ele na frente do volante, deixá-lo mesmo de lado e só olhar quando tiver dúvida", aponta o também estudante Diogo Ferraz da Costa, 20 anos. Já Welerson Pereira Dênis Júnior, que trabalha com transporte escolar e é motorista de uma firma de autopeças, vê falhas no sistema do equipamento e acredita conhecer mais que o aparelho. "Eu já ganhei um GPS, mas não me acostumei. Eu conheço muito mais de caminho do que um GPS. O aparelho manda a gente virar na contra mão e em rua que não existe", diz. POLÍTICA PÚBLICA Ronaldo Gouvêa vê com bons olhos a inclusão de instrumentos tecnológicos no controle do tráfego, mas ressalta que estes instrumentos devem estar associados a boas políticas públicas. "Tecnologia é o seguinte, é um instrumento de gestão. No sistema viário você tem muito desses instrumentos, como bilhetagem eletrônica, semáforo eletrônico, só que a tecnologia não faz milagre, ela apenas é uma boa opção auxiliadora", conclui o espe- cialista. Apesar dos investimentos que estão sendo feitos pela BHTrans a fim de melhorar a qualidade do transporte informando as condições de trânsito, o tráfego ainda é motivo de preocupação. Welerson Júnior diz que trabalha na rua há quase 16 anos e vê mudanças para pior no trânsito de Belo Horizonte. "O trânsito antes não agarrava tanto assim não. Antes os engarrafamentos tinham horários específicos e lugares que a gente já sabia. Agora em qualquer lugar agarra", comenta o motorista. "Parece que o mundo inteiro está na rua quando chega 19h. Por isso, às vezes enrolo, prefiro esperar dar 20h para pegar estrada de volta, pois me poupo de trânsito e stress", conta Maria do Rosário. A psicóloga Érica Pereira, que atende na área hospitalar da cidade, no chamado hipercentro, também reclama do trânsito. Segundo ela, o tráfego na cidade é motivo de muita preocupação, pois o tempo inteiro as ruas estão lotadas de carros, não tem lugar para parar o carro, e tem que ficar em busca de um caminho que a faça chegar em casa com menos atraso. Larcides Faria conta que já perdeu o casamento de um primo por não imaginar que a Avenida Cristiano Machado estaria engarrafada em um sábado às 10h. Os motoristas encontram alternativas para driblarem o caos dos engarrafamentos no trânsito. Maria do Rosário afirma que prefere passar por um trajeto mais longo e escapar dos congestionamentos, para poupar tempo, do que ficar parada no trânsito. Já Érica prefere ir de ônibus para o trabalho para evitar transtornos com o fluxo movimentado da região hospitalar e também com a dificuldade em estacionar seu carro. Apesar do especialista Ronaldo Gouvêa dizer que não cabe comparação entre os trânsitos de Belo Horizonte com São Paulo e Rio, motoristas têm outra visão. "O trânsito de BH é muito ruim, o povo reclama de São Paulo, Rio de Janeiro, mas aqui está no mesmo caminho", opina Diego Borello. Diogo Ferraz conta que já dirigiu no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas afirma que conduzir um veículo em Belo Horizonte é mais difícil. Segundo ele, enfrentar trânsito pesado já faz parte de sua rotina, e que tenta, nem sempre com sucesso, evitar atrasos saindo mais cedo de casa. "Eu sempre chego pelo menos um pouquinho atrasado por conta de engarrafamento, mas fora isso está tranquilo, quem mora em BH já está acostumado com isso", conclui. LILA GAUDÊ Novembro • 2010 NCIO Informações divididas com os usuários A BHTrans tem três portas de entrada de informações sobre o trânsito. As câmeras são a primeira, e os técnicos que ficam monitorando os equipamentos, ao detectarem algum tipo de problema na via, entram em contato com as equipes de campo para solucioná-lo. "Exemplo: um carro quebrado. A gente aciona a nossa equipe de campo para retirar o carro. Outro exemplo: manifestação. A gente aciona a equipe da Polícia Miltar que fica aqui do lado da gente para poder tomar ação em relação àquela manifestação, se for para resolver qualquer coisa", diz a supervisora do Centro de Controle Operacional (CCO), Gabriela Pereira Lopes. Em casos de retenção na via, é possível ao CCO modificar a programação semafórica, para ajudar na fluidez do trânsito. A segunda porta de entrada é o usuário através do 156, em que os cidadãos podem ligar e informar alguma questão do trânsito da cidade. "Se o problema não for no local que é visto pelas câmeras, a gente chama nossa equipe de campo para ir lá e confirmar se está realmente acontecendo o problema, e a partir do momento que é confirmado a equipe vai até o local e toma a mesma ação de quando o problema é visto pelas câmeras", explica a supervisora. A terceira porta são os agentes de campo da BHTrans. "Temos uma equipe de mais ou menos 100 pessoas que trabalham dia e noite em campo, na rua. Eles também detectam problemas, informam ao CCO caso não consigam resolver sozinhas”, conta Gabriela. A supervisora explica ainda que quando o problema não pode ser resolvido pela BHTrans, os agentes entram em contato com o órgão que pode solucioná-lo, como, por exemplo, em caso de falta de energia que prejudica o trânsito, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Gabriela conta ainda que existem as portas de saída das informações que chegam no CCO, que procuram auxiliar os motoristas. "A gente pode fazer alterações semafóricas, acionar uma equipe e também dividir essa informação com o usuário", diz. "A gente entende que o usuário bem infor- [ ] “A CENTRAL DE RÁDIO FUNCIONA 24 HORAS, HOJE NÓS ESTAMOS COM 27 OPERADORES” GABRIELA PEREIRA LOPES mado ele pode alterar o seu caminho, ele pode ficar mais tranquilo em relação a algum congestionamento, sabendo que o congestionamento vai terminar logo ali", completa. As informações que chegam aos técnicos são colocadas nos painéis de mensagens variáveis, como obras na via, eventos e as condições de trânsito na região central. "A central de rádio funciona 24 horas, hoje nós estamos com 27 operadores, que trabalham revezando 24 horas por dia. A central de rádio faz a ponte de informação entre os usuários que ligam no 156 e informam questões que estão causando pro- blemas ao trânsito, e a nossa equipe de campo, que entra em contato com os operadores via rádio, nos carros, ou da rua mesmo", conta Gabriela. Segundo a supervisora, todas as informações são disponibilizadas na internet para os usuários. "Você consegue acessar as imagens das câmeras, consegue saber em cada painel quais são as mensagens que estão sendo divulgadas. Na área central, onde a gente tem sensores e detectores, você consegue ver qual a saturação daquela via, se ela está com trânsito bom, com trânsito lento, retido, ou com trânsito intenso". Em função da Copa do Mundo de 2014, em que Belo Horizonte será uma das cidades-sede, a BHTrans pretende quadruplicar o número de câmeras. "A ideia é chegar a 100 câmeras, até 2014", calcula Gabriela. As câmeras devem ser instaladas nos corredores, e não somente na região central da cidade. "Hoje, a gente tem as câmeras muito na área central, não que todos os pontos da área central a gente já vê, tanto que nos vamos expandir também na área central, mas o maior número de câmeras, dessas 75 quase que serão instaladas, serão nos corredores", explica. Além disso está previsto a instalação de mais nove painéis de mensagens variáveis. Segundo Gabriela, os 10 painéis atuais são suficientes para informar uma área menor da cidade que são cobertos pelas 25 câmeras, mas a partir do momento em que aumentarem o numero de câmeras será necessário instalar mais painéis. 10 Especial jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Novembro • 2010 TAXISTAS LIDAM COM TRÁFEGO INTENSO n ADRIANA BENEVENUTO, CARLOS EDUARDO ALVIM, CÍNTHIA RAMALHO, SAMARA NOGUEIRA, Acostumados a enfrentar situações de trânsito caótico, principalmente nos horários de pico, os taxistas contam que o excesso de veículos e os consequentes engarrafamentos, causam prejuízo no seu trabalho, e que eles não têm alternativa RICARDO MALLACO 3º E 4º PERÍODOS Os taxistas opinam que o aumento do fluxo de trânsito nos últimos anos foi causado pelo aumento da frota. "O trânsito piorou muito ao longo dos anos, pois são muitos carros. Antes uma família de cinco pessoas tinha um carro, agora tem cinco, um para cada. Desnecessário", diz o taxista Edir Paulo dos Santos, 43 anos. "Acredito que o trânsito de Belo Horizonte já sofreu grandes modificações. Com os benefícios que o governo deu muita gente comprou carro e o fluxo aumentou", percebe o também taxista Alexandre Muritiva da Silva. Apontando as diferenças entre o trânsito de anos atrás com os dos dias atuais, os taxistas têm praticamente a mesma opinião. "O que eu percebo de mudança no trânsito de 12 anos para cá, foi a quantidade de carros nas ruas" diz Íris Costa Filho, que trabalha há 12 anos como taxista. "A principal diferença é a lentidão no trânsito nos horários de pico, causada pelo grande número de veículos", opina Rodrigo Torquato Lobato, 35 anos, taxista há dez e gerente de uma empresa de transportes. Diante desse problema, apontado pelos motoristas como o principal causador de engarrafamentos, os taxistas buscam formas de driblar os congestionamentos e cumprir com sua obrigação de levar o passageiro a seu destino. "Como alternativa para fugir dos engarrafamentos, eu utilizo os desvios. Em BH a gente ainda tem bons caminhos alternativos. Além disso, eu evito locais como Via Expressa, Para o taxista Íris Costa Filho, ouvir os boletins de trânsito dados pelas rádios é essencial para o seu trabalho devido ao aumento do número de veículos em BH Avenida Amazonas à tarde, Avenida Cristiano Machado, essas vias de acesso e Anel Rodoviário", conta Íris. Rodrigo Torquato afirma que conhece vários atalhos na cidade, mas que esses caminhos também estão ficando saturados devido ao aumento no número de carros. "Sempre procuramos o melhor caminho, e isso não significa o caminho mais curto, e sim aquele que tem menos fluxo de carro, o que tem menos sinais de trânsito, dessa forma procuramos o caminho que deixa nosso cliente no seu destino da forma mais rápida, pois praticamente todos os passageiros estão com pressa. Muita gente opta pelo táxi porque ônibus demora muito, então temos que respeitar isso, um trabalho de taxista bem feito é aquele que consegue satisfazer o passageiro", explica Edir Paulo. Alexandre Muritiva não se considera um fã de tecnologias que podem auxiliar os motoristas no trânsito, como o GPS, que segundo ele, é apenas uma ferramenta que chama a atenção e que certamente será levado em caso de assalto. "Eu uso um guia, um livrinho que me ajuda muito", conta. Rodrigo Torquato conta que utiliza todos os recursos disponíveis para ajudar na logística do transporte, como GPS e rastreamento via satélite. "Devido ao grande número de motoristas que trabalham conosco, sempre ligamos uns para os outros para pedir e passar coordenadas do trânsito diariamente para facilitar o deslocamento de nossos passageiros", afirma. As emissoras de rádio também foram citadas pelos motoristas, que alegam usar o serviço prestado por elas para se informarem sobre as condições de trânsito do momento na cidade. "Eu ouço muito a BandNews, dá muita reportagem sobre o trânsito, Itatiaia também. Ajuda muito a gente. Se falou que está congestionado a gente sai fora", diz Alexandre. "Acompanho as rádios, principalmente para saber se teve algum acidente que está atrapalhando o trânsito, principalmente a Itatiaia", declara Íris. Além disso, a rádio central também é uma opção para os taxistas. "Usamos rádio para nos informar do trânsito. Quase todo taxista acessa a rádio central, que nos informa dos imprevistos, não só do trânsito, mas acidentes, chuva forte, desmoronamento. Tudo eles avisam e isso ajuda bastante, ficamos de ouvidos atentos", garante Edir Paulo. "Táxi é o seguinte, tirando a tecnologia, é conhecimento. Quanto mais conhecimento, mais dinheiro se faz", conclui Íris. Os engarrafamentos constantes prejudicam o trabalho dos taxistas, que muitas vezes perdem a oportunidade de fazer mais viagens em decorrência de terem ficado presos em algum congestionamento. "O engarrafamento reduz o montante de corrida e o dinheiro também. Corrida que daria R$11 dá R$18, mas aí não compensa, porque você fica agarrado no trânsito e não consegue fazer mais corridas", observa Íris Costa. "Quanto mais fico agarrado no trânsito, menos viagens posso fazer, causando prejuízo para todos nós, tendo em vista que se faço cada vez menos viagens, tenho que aumentar o preço para conseguir pagar os custos", atesta Rodrigo. Segundo os motoristas, o trânsito não é visto como vantagem para os taxistas, ao contrário do que muitas pessoas pensam. "Para um taxista o ideal são várias viagens. Se eu estou no trânsito empacado em uma viagem, eu poderia estar fazendo outras duas ou três, para a gente não é vantagem nenhuma ficar parado, por mais que o taxímetro cobre mais enquanto está parado", explica Edir Paulo. Íris comenta ainda que o aumento no fluxo de trânsito não faz com que haja perda de passageiros, mas conta que já houve casos em que o seu cliente perdeu vôos ou compromissos por causa dos engarrafamentos. Em decorrência desse problema, os motoristas sugerem iniciativas que poderiam melhorar as condições de trânsito na capital mineira. "O trânsito melhoraria através de grandes obras viárias, como túneis e rodovias. Só assim para controlar a quantidade de carros que a cidade comporta. Poderia haver rodízio, igual em São Paulo também. Acho importante as pessoas aprenderem a viver sem essa dependência do carro. Aprender a usar outros recursos, senão daqui a pouco ninguém mais sai do lugar", opina Edir Paulo. Rodrigo Torquato acredita que a flexibilização dos horários de início e término do expediente poderia colaborar para a redução do caos no trânsito nos chamados 'horários de pico'. "Outra coisa que observo, é o individualismo. Todo mundo vai para o trabalho de carro e sozinho! Todos poderiam dar uma carona para o vizinho, amigo ou colega de trabalho", acrescenta. "O que ia favorecer o trânsito era a construção de linhas de metrô. É um método mais rápido e barato para ajudar a desafogar esse trânsito", comenta. Usuários pedem cobertura em ponto de ônibus RICARDO MALLACO n BRUNA CARMONA, 4º PERÍODO A ausência de um abrigo em um dos pontos de ônibus da Rua Imbiaçá, no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, está causando incômodo aos moradores que usam o transporte público diariamente. Eles contam que desde que um ônibus perdeu o controle e subiu na calçada, a cobertura foi danificada e retirada. Os moradores estimam que o acidente aconteceu há três anos e desde então, o abrigo não foi reinstalado. Maria Nazaré da Silva Lopes usa todos os dias uma das linhas que passa no ponto da Rua Imbiaçá e sente falta do abrigo "Faz falta. Não só a cobertura, mas também o banquinho para a pessoa sentar e ficar esperando, porque às vezes o ônibus demora", diz. Para a pedagoga Renata Calado, a situação piora em dias de chuva. "Fica todo mundo encolhido aqui debaixo, com sombrinha", conta, fazendo referência à marquise do Pet Shop em frente ao ponto de ônibus. "A cobertura aqui que a gente tinha antes não era muito boa, mas era bem melhor do que não ter", completa a pedagoga. Ela conta que às 6h a marquise da loja não suporta a quantidade de pessoas. Wander Pedrosa trabalha no Pet Shop e acha importante a instalação do abrigo no ponto. "Se houvesse uma cobertura seria mais confortável para o usuário, apesar de ter a marquise ali, que o pessoal usa muito para se esconder", afirma. Ele diz que não se sente incomodado com as pessoas que utilizam a marquise da loja para se proteger da chuva ou do sol muito forte "Uma vez ou outra a gente tem que pedir licença à pessoa que fica em frente a porta para poder passar com alguma caixa, esse tipo de coisa, mas incomoda muito pouco", conta. Segundo informações da Assessoria de Comunicação da BHTrans, não há registro de pedido para recolocação da cobertura, nem de acidente envolvendo ônibus na região no período estimado pelos moradores. O órgão informou que vai solicitar a reinstalação da cobertura. Em dias de chuva, a falta de cobertura do ponto de ônibus da Rua Imbiaçá gera transtornos para os usuários Especial 11 Novembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas O PAPEL DAS RÁDIOS NO TRÂNSITO n BRUNA FONSECA, CÍNTHIA RAMALHO, CARLOS EDUARDO ALVIM, 3º E 4º PERÍODOS "Trânsito ainda lento na Avenida Nossa Senhora do Carmo, sentido Belvedere", "trânsito intenso no complexo da Lagoinha e na Avenida do Contorno, sentido Gutierrez". Ao começarem os boletins de trânsito, Iris Costa Filho não pensa duas vezes antes de aumentar o volume do rádio, ferramenta obrigatória no dia a dia do taxista. Quando está em seu carro transportando passageiros, Iris, que trabalha no ramo há 12 anos, sempre deixa o rádio ligado. Ele sempre recorre aos boletins transmitidos pelas emissoras de rádio para poder realizar seu trabalho com mais tranquilidade. "Acompanho as rádios, principalmente para saber se teve algum acidente que está atrapalhando o trânsito. Isso ajuda muito", afirma. Desde que os problemas com o trânsito começaram a interferir na vida de quem vive na capital mineira, as emissoras de rádio de Belo Horizonte passaram a investir muito na cobertura, principalmente pelo fato dos principais ouvintes das programações serem os motoristas, como explica a chefe de redação da BandNews FM, Ivana Moreira. "A cobertura de trânsito para a gente é muito importante porque a audiência de rádio é praticamente uma audiência de carro", afirma. Segundo estatísticas divulgadas no portal da BHTrans, a frota média anual de veículos que em 2005 era de 845 mil, no ano passado atingiu a marca de 1.221.042. Para dar os boletins, que geralmente acontecem a cada 15 minutos durante a programação, as emissoras de rádio contam com repórteres nas ruas da capital e na central de informações da BHTrans, de onde acessam as câmeras de monitoramento e, dessa forma, levam as informações até os ouvintes. Na maioria das vezes, os repórteres se dirigem à BHTrans no período da manhã, entre 7h e 8h, quando o movimento de veículos pelas ruas da cidade é mais intenso. Verônica Pimenta, repórter da Rádio Inconfidência, sabe da responsabilidade que tem quando se dirige todas as manhãs para a central da BHTrans. "Eu chego aqui às 6h30, vou para a BHTrans, fico lá até 9h30, que é quando termina o horário de pico nos principais corredores", conta. A repórter reconhece a importância do seu trabalho na cobertura de trânsito, porém, afirma que nem todos os jornalistas compartilham da mesma opinião. "Eu acho que, em geral, tem até preconceito em relação aos boletins de trânsito, isso está implícito na nossa cultura profissional, julgar que isso não é jornalismo. Mas, eu não vejo dessa forma, eu acho que no dia a dia, eu lá dentro da central de operações da BHTrans comecei a ver de outra forma, porque o rádio é muito ligado ao serviço, então, as vezes, o ouvinte está ligado no rádio porque ele quer informações úteis que possam ajudá-lo no dia a dia", opina Verônica. O motorista Welerson Pereira, assegura que muda a rota devido à informação que recebe das emissoras de rádio. "Ouço rádio o dia todo, ouço quase todas as rádios e nessa questão de engarrafamento eles ajudam muito. Muitas vezes já mudei completamente minha rota por informação de rádio", alega. As principais fontes de informação para as emissoras de rádio saem das agências que controlam o tráfego em Belo Horizonte e nas cidades da região metropolitana, além da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal. As rádios contam ainda com a participação de ouvintes que ligam para passar [ ] “A AUDIÊNCIA DE RÁDIO É PRATICAMENTE UMA AUDIÊNCIA DE CARRO” IVANA MOREIRA informações, além de parcerias com cooperativas de táxi, como faz a Inconfidência e a CBN. INTERAÇÃO Itamar Mayrink, chefe de reportagem da Rádio CBN, acredita que a participação do ouvinte através do telefone é uma maneira de interação com a notícia. "O próprio ouvinte passa muita informação para a gente, então, o celular é uma ferramenta fantástica. Quando o ouvinte liga para a gente, nós checamos as informações na BHTrans ou na Polícia Rodoviária; na verdade, o ouvinte acrescenta e a gente aproveita para poder comentar e ampliar as informações", conta. Verônica Pimenta diz que monitorar trânsito é um trabalho complexo, mas considera gratificante o retorno dos ouvintes. "Há três anos eu fazia um quadro sobre cidadania, que eu julgava ser muito mais importante, mas as pessoas começaram a falar olha, você deu boletim de trânsito em tal dia que me ajudou, porque eu tinha um entrevista de trabalho, tinha alguma coisa para fazer´. O retorno é muito maior, e isso é incrível. Você vê que o ouvinte quer coisas práticas no rádio ou em qualquer outro veículo de comunicação", conta a repórter. Ivana Moreira diz que se surpreendeu com a reação dos ouvintes em relação aos boletins de trânsito, que na BandNews são transmitidos em intervalos de 20 minutos. "A cobertura de trânsito é fundamental. Eu pensava que o ouvinte achava isso tudo muito chato e me surpreendi, porque eu encontrei muita gente que me dá retorno de que é muito útil, então eu vi que isso é uma prestação de serviço importante e que a gente precisa fazer de uma forma que seja mais interessante e de fato mais útil", explica Ivana. A chefe de redação conta que o trânsito em Belo Horizonte a cada dia ganha mais espaço na cobertura jornalística, uma vez que na capital essa é uma preocupação recente. "É muito fácil ser repetitivo na cobertura de trânsito. Parece que é simples, mas o trânsito exige da gente muito mais criatividade, muito mais atenção do que na construção de uma matéria, que é mais fácil de ser administrada. É uma coisa que incomoda profundamente o morador da cidade, até porque é uma novidade, há poucos anos, as condições de tráfego na cidade eram melhores", afirma a jornalista. As emissoras de BH contam ainda com as imagens das 25 câmeras controladas pela BHTrans e instaladas nos principais corredores da capital. As imagens são disponibilizadas no site do órgão e acompanhadas durante todo o dia pelos jornalistas. "Com as câmeras a gente tem um retrato mesmo da situação das vias", afirma Mayrink. Falar sobre a situação do trânsito exige cuidados, como não passar a informação com exageros e ficar atento às atualizações, já que, mudanças no trânsito ocorrem com grande velocidade. Verônica Pimenta ressalta que por ser um importante serviço prestado à população além de descrever o trânsito -, é importante aprofundar o conteúdo dos boletins. "É realmente uma visão de serviço”, constata. A psicóloga Érica Pereira conta que adapta diferentes tecnologias para evitar os congestionamentos. "Se escuto na rádio que em tal lugar está muito trânsito, logo vou no meu GPS e busco um outro caminho que me faça chegar em casa mais rápido", explica. Já o comerciante Larcides Lama afirma que ouve os boletins de trânsito, pois acredita que seu maior problema não é de não saber qual rota seguir, mas sim saber onde está engarrafado, para evitar esses caminhos. “Os programas de rádio ajudam nessa questão”. O trânsito já é uma preocupação para os belo horizontinos. Por isso, as emissoras de rádio da capital dedicam sua transmissão para auxiliar os cidadãos que enfrentam o tráfego CARLOS EDUARDO ALVIM Imagens captadas por câmeras da BHTrans são utilizadas por emissoras de rádio e TV para informar a população A cobertura do trânsito pelos repórteres aéreos Outros mecanismos usados para transmitir informações a respeito do trânsito nas grandes cidades são os helicópteros e aviões de pequeno porte. O primeiro repórter aéreo de rádio e televisão foi Franz Netto, que na década de 70 cobria os acontecimentos da cidade de São Paulo a bordo do "Helicóptero Vermelho Bandeirantes". Franz ficou conhecido como "repórter voador" e mais tarde como o " abelhudo Cofap" devido ao patrocínio da marca de amortecedores. Em novembro, Simone Crisóstomo, repórter aérea há 17 anos, iniciou a cobertura do trânsito de Belo Horizonte para o Sistema Globo de Rádio. Todos os dias, do ar, ela passa as informações dos corredores mais movimentados da cidade para os ouvintes das rádios CBN, BH FM e Globo AM. Simone aponta que os principais desafios da profissão estão relacionados às condições climáticas. "É frustrante, chuva e invisibilidade são combinações que não te permitem decolar. Quando está um dia muito fecha- do, eu vou para o aeroporto, a primeira abertura que der, a gente decola", diz. Simone foi a primeira repórter a cobrir o trânsito em Belo Horizonte de um helicóptero. Para ela, este é um grande desafio, pois acredita que sua informação tem um peso importante na vida das pessoas que a escutam. "Comecei a perceber que aquele tipo de informação [de trânsito] interferia na rotina das pessoas de uma maneira bem contundente", afirma. Ela conta que as emissoras não costumam ter seus próprios helicópteros, mas sim fretá-los para este tipo de cobertura. Mesmo o serviço sendo caro, a repórter acredita que o custo benefício acaba valendo a pena. "Sem sombra de dúvidas é uma cobertura cara, mas que vale a pena. É realmente uma prestação de serviços que estamos fazendo naquele momento", analisa. Além do custo, outro problema são falhas técnicas que podem ocorrer durante as transmissões aéreas. Ivana Moreira explica que esse foi o moti- vo da BandNews suspender o uso do helicóptero por enquanto. "Tivemos uma dificuldade técnica que era de transmissão, a gente não estava conseguindo sintonizar a freqüência, coisas bem técnicas. Então, chegou uma hora que a gente achou que isso não estava agregando nada mais ao ouvinte e isso era frustrante”, comenta Ivana. Hamilton Alves da Rocha, mais conhecido como Comandante Hamilton, é jornalista e piloto de helicóptero, e hoje faz coberturas aéreas para o programa "Brasil Urgente", pela TV Bandeirantes, apresentado por José Luiz Datena. Hamilton acredita que as informações a respeito da situação do trânsito podem até mesmo salvar vidas. "Imagina uma pessoa que está grávida, doente, ou passando mal e tem que ir para um hospital, você tem que checar o trânsito antes de sair. Então, você acaba ajudando até a salvar vidas, por isso que eu acho importante esse trabalho, principalmente devido ao problema de uma cidade como São Paulo, como na maioria das cidades aqui do Brasil, não houve planejamento para fazê-la”, diz. 12 Cidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Novembro Pensando na dificuldade dos deficientes visuais, que muitas vezes não tem acesso á livros didáticos de qualidade, o Instituto São Rafael realiza a tradução de livros escolares para facilitar o aprendizado de cegos • 2010 INSTITUTO SÃO RAFAEL TRADUZ LIVROS DIDÁTICOS PARA BRAILLE RICARDO MALLACO n HANNA OLIVEIRA, JOANA GERVÁSIO, 7º PERÍODO Em Belo Horizonte, o Instituto São Rafael é o responsável por atender a demanda de boa parte da cidade por livros didáticos em braille, as escolas que têm alunos cegos solicitam a tradução dos livros necessários para determinada série. "Ao todo são aproximadamente 80 alunos beneficiados, um em cada sala e os professores solicitam a adaptação para os capítulos que serão utilizados", conta Maria Alice de Melo, vice diretora do núcleo de apoio e produção do Instituto São Rafael. Um livro, por exemplo, pode se transformar em vários volumes. O processo é demorado já que cada capítulo leva aproximadamente um mês para ser produzido, o que dificulta a produção de livros inteiros. O braille é uma linguagem composta por seis pontos e cada combinação significa uma letra. O processo de produção se dá da seguinte forma: o livro é escaneado e, através de um programa de computador, é convertido para a linguagem braille e impresso. "O livro em braille é uma cópia do original, que é preparado através do programa Braille Fácil, que adapta a partir das especificidades da linguagem", afirma Juarez Gomes, diretor da Biblioteca do Instituto São Rafael. Com um corpo técnico formado por cerca Juarez Gomes, diretor da biblioteca do Intituto São Rafael com um dos livros traduzidos para o braille e que facilita a leitura para deficientes visuais de 10 pessoas, o Instituto São Rafael, além da produção, revisa todo o material confeccionado. "Um deficiente visual lê o livro em braille enquanto outra pessoa acompanha a leitura no livro original e, assim, conferem eventuais erros", informa a vice-diretora. Este processo foi intensificado a partir de 2007 com a lei de inclusão social. O processo de alfabetização de alunos deficientes, apesar de mais demorado, é o mesmo dos demais alunos, eles aprendem braille, começam com livros menores e se aperfeiçoam. A dificuldade que esses alunos encontram é com relação aos desenhos, que são reproduzidos em alto relevo ou, então, traduzidos para palavras. Segundo a pedagoga da escola Maurício Murgel, Vitorina Batista da Rocha de Albuquerque, a imprensa braille ainda tem dificuldades em relação à matemática. "Como reproduzir gráficos de funções de forma intelígivel aos deficientes visuais?", completa Vitorina. A Escola Estadual Maurício Murgel tem alunos cegos em todos os turnos e, para atendê-los, os professores montam apostilas que são enviadas para o Instituto São Rafael para serem impressas em braille. "Não tem livros didáticos para esses alunos, além disso a demora na impressão dos mate- riais faz com que a escola tente outras alternativas para que os alunos não sejam prejudicados", ressalta a pedagoga. Uma dessas alternativas é a prova oral e a ajuda dos próprios colegas de turma, que acompanham o aluno com deficiência visual e o ajudam a copiar a matéria dada em sala de aula. "Foi feito um trabalho com os alunos e eles mesmos deram a ideia de cada dia um estar ao lado de Luzia [aluna deficiente visual do 1º ano do ensino médio do turno da tarde] e ajudá-la no que for preciso", finaliza Vitorina. A Biblioteca Luiz de Bessa, localizada na Praça da Liberdade de Belo Horizonte, apresenta um Setor Braille, o qual presta serviço de atendimento aos portadores de deficiência visual desde 1965. Estudantes encontram no local muito além de livros em braille, gravação de texto em fita K7 e CD e transcrição de livros: eles recebem a ajuda de voluntários e funcionários que dedicam uma parte do dia para dar voz aos livros, revistas, apostilas e olhos aos estudantes. Para a funcionária Joana Maria da Silva, o trabalho com os deficientes visuais é bastante prazeroso. "Aqui a gente conta histórias, lê e-mails e livros para os estudantes, grava, produz e revisa todo o material. O retorno a gente recebe dos leitores, sempre com uma sabedoria a passar para a gente". Joana Maria da Silva está na Biblioteca há 17 anos e hoje é uma dos responsáveis pelo projeto "Eu também assino": um curso de assinatura para os deficientes visuais da Luiz de Bessa. "É como se fosse um processo de alfabetização mesmo. A gente ensina o deficiente visual a escrever por extenso o próprio nome porque em muitas situações a digital não é possível", conta a funcionária. Segundo Gildete Santos Veloso, coordenadora do Setor Braille da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, "o projeto 'Eu também assino' tem como objetivo ampliar o número de leitores que frequentam o Setor Braille e estimular e promover a emancipação, autonomia e o sentido de privacidade dos deficientes visuais." O cadastro de voluntários para trabalhar na Biblioteca Pública Luiz de Bessa é feito através de um termo de compromisso assinado pelo voluntário indicando, além de dados pessoais, o tipo de colaboração, a disponibilidade e quais habilidades específicas possui. O Setor Braille funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e sábado, das 8h às 12h. Grupo Aloma apresenta espetáculos gratuitos n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 7º PERÍODO Descentralizar e democratizar o acesso à cultura circense, com apresentações nas escolas. Essa é a forma que o Grupo Circo Aloma encontrou para inovar na apresentação dos seus espetáculos, numa resposta dos segmentos culturais para acompanharem essas inovações tecnológicas. A família Monteiro desembarcou na cidade São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, em 1901, vindos de Portugal. Nesta cidade fundaram um circo itinerante, daqueles tradicionais, com lona e tudo. Em 1935 houve uma inovação, a criação do Circo-teatro Aloma. Com o surgimento da televisão, na década de 1950, o teatro perdeu espaço. Porém, como as transmissões televisivas ainda não atingiam toda a população, o circo até então fazia sucesso. Outras modificações foram implantadas em 2003 por Max Borges Monteiro, integrante da terceira geração descendente da família portuguesa. Nesse ano foi criado o atual Grupo Circo Aloma, agora sem a tradicional lona e montado num terreno baldio. Essa foi uma maneira de atualização do formato mantendo outras características do picadeiro, como o vocabulário circense. Hoje, na quarta geração da família fundadora, o Circo é dirigido por Affonso Monteiro Netto, 33 anos. As apresentações contam com as participações do seu pai, Max Monteiro, 66, sua irmã Paula Monteiro, 25, e o irmão, Nikolas Monteiro, 10 anos. "O objetivo é manter a tradição familiar. Eu nasci no circo. Meu filho tem 3 anos, nasceu no circo. Meu irmão, hoje com 10 anos, também nasceu no circo", revela Affonso. Segundo ele, o desafio nesses novos tempos é abrir novos espaços possíveis, inovar nas apresentações, seja nas escolas, em espaços culturais, porém sempre manter o acesso à linguagem do circo. O Grupo Circo Aloma conta com Marcelo Rocco, na direção dos espetáculos e a trilha sonora fica a cargo de Maria Tereza Costa, Ed Carlos Gonçalves e Elisiane Monteiro. De acordo com o diretor, o Circo Aloma já realizou mais de 300 apresentações em escolas públicas da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Isso significa mais de 10 mil alunos presentes nas plateias dos espetáculos. Nesse universo, muitas crianças e jovens que não tiveram oportunidade de ir a um circo e quando assistem às apresentações com números de palhaço, diabolo (tipo de malabarismo, composto por um carretel e um barbante amarrado a duas varas), perna de pau, tecido, lira, bastão e malabarismo. "Os alunos acham interessante, ficam bobos", explica Affonso. As montagens das apresentações acontecem dentro de dois projetos, "Vamos ao circo", nos centros culturais e "Circo na escola". A finalidade é levar oficinas e espetáculos dentro da estrutura da escola, adaptando-os à estrutura física existente no espaço físico da instituição, seja no pátio, numa cantina ou outro espaço disponível. A apresentação será realizada, também, na Colônia de Féria do Sesc, localizado em Venda Nova, na Região Norte da capital, onde será ministrada oficina no parque aquático. A proposta do Grupo de Circo Aloma é descentralizar o acesso à cultura, levar a arte onde as pessoas estão. "Há uma defasagem de oferecimento de locais públicos nesse sentido. A prefeitura mantém teatros, parques e muitos outros ambientes para o lazer e cultura, mas não oferece espaços para a montagem de um circo. Área de shopping center é caríssima", desabafa Affonso Monteiro. Na última sexta-feira do mês de outubro, a quadra da Escola Municipal Professora Isaura Santos, situada à Rua Hofman, nº. 80, Santa Cruz, Barreiro de Cima, Região Oeste de Belo Horizonte, foi palco para duas apresentações do Grupo Circo Aloma, uma pela manhã e a outra à tarde. Alunos e professores tiveram oportunidades de assistirem a essa nova modalidade circense. "É muito bom poder viver uma coisa diferente. Esse trabalho deles, trazendo entretenimento para a gente e recepcionando os alunos. O circo foi perfeito, são certinhos", diz João Victor Braga, 14 anos, estudante da 8ª série. Ele fez oficina durante um ano, assistiu as duas apresentações, inclusive foi convidado para mostrar um pouco do que aprendeu naquelas apresentações. "É a primeira vez que vejo um circo. Achei muito legal", afirma Bruno Ferreira Mota, 12 anos, aluno da 5ª série, que completa com uma reclamação: "Faltaram os animais". Opinião idêntica tem o colega Hudson Majela Gonçalves, 13 anos, da 6ª série. Cultura 13 Novembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas CONCURSO DE TROVA ATRAI JOVENS n KENETH BORGES SOARES, Realizado em Belo Horizonte o evento, direcionado aos jovens trovadores, teve participação de 140 estudantes alunos de todo o estado de Minas Gerais e premiação para o que ficaram nos três primeiros lugares 2º PERÍODO RENATA FONSECA O grupo de trovadores que existe há mais de 30 anos em Belo Horizonte conta com 75 integrantes, que se reúnem uma vez por mês, sempre às segundas-feiras à Rua da Bahia. Segundo Maria Lúcia de Godoy Pereira, presidente da União Brasileira de Trovadores, seção Belo Horizonte, o grupo já tem um público cativo e exigente que sempre passa para escutar as trovas. Ela conta que a instituição inovou ao lançar o concurso "Cantinho do Estudante", que está em sua segunda edição, e que teve a Esperança como tema deste ano. Em 2009, segundo a presidente, foram apenas 11 alunos concorrendo, e neste ano 140 candidatos. "A Secretaria de Educação de Minas Gerais é parceira do projeto, e colaborou na divulgação, isso contribuiu para que nesse ano tivéssemos mais alunos concorrendo", explica Maria Lúcia de Godoy. Júlia Carvalho Passos, 14 anos, que está na 8º série do Colégio Santa Dorotéia, foi a única ganhadora de Belo Horizonte, ficando em segundo lugar. De acordo com Júlia, sua bisavó faz trovas e a incentivou a participar do concurso. Ela revela, no entanto, que não imaginava que seria uma das ganhadoras. "Entrei sem pretensão de ganhar, mas quero continuar a fazer trovas", comenta. Ademir Aparecido Bicudo, 19 anos, que ganhou o primeiro lugar, está cursando o 2º ano do ensino médio na Escola Estadual Alfredo Albano de Oliveira, em Brasópolis, no Sul de Minas. Ele O concurso “Cantinho do Estudante” promovido pelo Grupo de Trovadores de Belo Horizonte, premia jovens talentos de Minas Gerais diz que está feliz pela conquista. Sua professora Nazaré Antunes que há 22 anos leciona a disciplina de português, afirma que Ademir é um bom aluno. "Se todos os alunos fossem como ele, seria uma benção", ressaltou. O terceiro lugar ficou para Natália Dias Araujo, 15 anos, cursando o 9º ano na Escola Estadual Pedro Leite, em Paraguaçu, também no Sul de Minas. O evento teve a presença de diversos trovadores. Gilvan Carneiro da Silva, 75 anos, que vem de São Gonçalo (RJ) a Belo Horizonte pela primeira vez para receber a menção honrosa do XXII Concurso Nacional/Internacional de Trovas "Cidade de Belo Horizonte 2010”, com os temas Imprensa e Notícia, ele que aos 18 anos ganhou seu primeiro concurso no Paraná com tema solidão, e já tem o seu livro de trovas "Circunstâncias" na segunda edição, ainda se lembra da sua primeira premiação. "A primeira vez a gente nunca esquece, apesar de cada concurso ser uma emoção diferente é como se fosse a primeira vez", disse. Ederson Cardoso Lima, 64, nascido em Niterói (RJ), que também recebeu menção honrosa no concurso, fala de seu amor pelas trovas desde a juventude, recitando versos ele explica que as trovas, a poesia, é uma forma de desligar do mundo. "Vivemos em um mundo midiatizado e as pessoas valorizam muito o dinheiro, fazer trovas é a forma que encontro para me esquecer disso", afirma. Ederson Cardoso ainda conta que já não é mais um sonho agora é objetivo de vida publicar um livro. "Já tenho reunido todas as minhas trovas, agora só falta publicar", ressalta. Rogério Salgado que é poeta profissional há mais de 35 anos, e com mais de 20 livros publicados também foi prestigiar o evento, conta que faz poesias de temas diversos e confessa que as de amor são inspiradas na esposa. Maria Conceição Antunes Abritta é uma das mais antigas trovadoras que frequentam a União Brasileira de Trovadores em Belo Horizonte, sua paixão pelas trovas começou desde menina. Segundo ela, o primeiro concurso que ganhou foi em 1979 em Mariana e a partir desse momento não parou mais de escrever. O professor José Carlos Baeta que também é poeta e membro da União Brasileira de Trovadores, seção de Belo Horizonte, já publicou alguns livros, sendo o mais recente publicado no final do ano passado, levando o título de “Trovelhices” onde homenageia pessoas com quem conviveu ou que apenas admira. Segundo José Carlos Baeta, suas trovas são uma forma de encanto e fascínio. De acordo com o presidente estadual da União Brasileira de Trovadores em Minas Gerais, Luiz Carlos Abritta, 75 anos, a Fundação existe desde 1963, e é de grande importância pois estimula a criatividade, a criação. Ele ainda explica que existem três gêneros básico na trova: líricas, filosóficas e humorísticas. "Escrevo hoje sobre as trovas humorísticas, que vêm sofrendo restrições de toda espécie, principalmente nos concursos, que, muitas vezes, não as contemplam", explicou. Cursos trazem incentivo através de artes e ofícios RENATA FONSECA n MARIANA FARIA, 5º PERÍODO A necessidade de inserção no mercado de trabalho e de ampliação de novas perspectivas motivou Andréia Maciel Benjamim, 45 anos, moradora da Vila da Paz, Região do Barreiro, a buscar qualificação. Na capital mineira, entidades como o Instituto Yara Tupynambá promovem, em parceria com órgãos públicos, cursos e oficinas que oferecem possibilidades de ascensão profissional. Andréia participa do curso de Bordado e Pedraria, promovido pelo Instituto. Atualmente desempregada, ela conta que já conhecia o ramo de bijuteria, mas resolveu fazer o curso pelas oportunidades viabilizadas na área. Este é o seu primeiro curso profissionalizante. "Estou adorando. Aqui trabalho a minha criatividade. Descobri que tenho uma capacidade que nem imaginava. Espero encontrar um emprego depois do curso", relata. Segundo a coordenadora dos projetos em parceria Alunas do Instituto Yara Tupynambá ganham novas perspectivas de melhoria profissional através dos cursos oferecidos pela entidade com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH), Priscilla Ruiz Muniz, cerca de 5000 alunos são formados pela entidade, em toda Minas Gerais. Desde 1996, promove cursos diversos na área administrativa, artesanato, corte e costura, construção civil, informática e maquiagem. Os cursos possuem rápida duração, com carga horária diferenciadas, dependendo da área. O Instituto, criado em 1987, busca a promoção das artes e ofícios, por meio de cursos de qualificação social e profissional, em parceria com órgãos governamentais, municipais e iniciativa privada. NOVAS PERSPECTIVAS Rosângela Marques da Silva, 39 anos, moradora do Bairro Santa Maria, trabalha com artesanato e customização de camisetas. Ela também participa do curso de bordado e pedraria. Entusiasmada, conta que por meio do seu primeiro curso profissionalizante, pretende aprimorar o conhecimento adquirido ao longo da vida. "Nunca tinha feito um curso antes, sempre aprendi sozinha. Agora, quero fazer novos modelos, produzir mais", declara. Há dois anos, a artista plástica Suzana Teixeira Machado, 58 anos, leciona o curso de Bordado e Pedraria, no Yara Tupynambá. Segundo ela, habilitar uma profissão e uma formação de qualidade é requisito fundamental para atender demandas carentes em mão de obra. "Quando elas chegam, procuram conhecimento. Querem aprender uma atividade que possa ser trabalhada em casa. No caso do curso de bordado, buscamos colocar a mulher em casa, mas de forma produtiva", ressalta Suzana. Para Priscilla Muniz, a importância desses projetos está ligada a relação entre instituição-aluno. Questionada sobre o nível de desistência dos alunos ao longo do projeto, a coordenadora salienta que este fato ocorre minimamente, por casos diversos, como conquista de emprego, por exemplo. Os alunos têm limites de falta e de presença para obter o certificado. Ela também explica que a entidade possui grande preocupação e mobilização social, por meio de uma relação próxima com os alunos, que chegam muitas vezes vulneráveis, desempregados e sem perspectiva de integração ao mercado formal. "Temos que ter certo tato nessa preocupação de mobilização social e qualificação profissional. Aqui, tratamos nosso aluno como uma jóia", afirma Priscilla. 14 Esporte jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Novembro TIRO COM ARCO PARAOLÍMPLICO EM MINAS GERAIS Atletas deficientes descobriram no esporte uma maneira para superar obstáculos e vencer desafios. Para especialista, o envolvimento com a atividade esportiva traz benefícios para o corpo e para a vida destes atletas e os incentiva a passar pelos processos de recuperação RICARDO MALLACO O atleta Ricardo Macedo encontrou no Tiro com Arco a superação das dificuldades trazidas pela poliomielite n GABRIEL DUARTE, 6º PERÍODO Concentração, mira e uma dose de perseverança. Todos estes ingredientes juntos para realizar o tiro perfeito. É assim que os atletas paraolímpicos de tiro com arco de Minas Gerais buscam as vitórias no esporte e na vida. É o caso do atleta Ricardo Macedo. Ele contraiu poliomielite quando tinha seis meses de idade e teve o comprometimento da sua perna direita. A doença é causada por um vírus e pode levar à morte. Em 2007, por meio de um amigo de Brasília, ele conheceu o tiro com arco, fez um curso intensivo por duas semanas e se inscreveu para o Campeonato Brasileiro de Iniciantes. Resultado: medalha de ouro na categoria. A partir disso, o esporte não saiu da vida dele. "Quem puxa o arco pela primeira vez sente um prazer tão grande que não consegue parar", afirma. O treinamento dos atletas de tiro em Belo Horizonte é realizado em um campo anexo ao Mineirinho, na Pampulha. Os resultados dos mineiros, no último Campeonato Brasileiro realizado em novembro no Amazonas, mostram a perseverança dos atletas e a importância de ter um espaço adequado de treinamento. Na modalidade arco recurvo masculino, o atleta Daniel Xavier foi o campeão brasileiro individual de tiro. Na competição por equipes, Minas Gerais também se consagrou campeã. Ricardo Macedo treina quatro vezes por semana no local. A busca pelo tiro perfeito já traz bons rendimentos nas competições disputadas. Em 2008 e no ano passado, Ricardo ficou em segundo lugar na sua categoria. Este ano, ele terminou em terceiro. "O deficiente hoje busca a superação dentro do esporte. Cada medalha que a gente busca tem um significado muito grande. Ela vem carregada de muita emoção, luta, conquista e superação", completa. As dificuldades no esporte não foram abrandadas também na vida do atleta. Desde pequeno, ele sempre lutou para ter um tratamento igual na família e na escola. "A partir do momento que você se aceita como diferente, deficiente, as pessoas não conseguem mais ficar para baixo. E é assim que tiramos muita gente de casa e da depressão. Na vida é assim, nós temos dificuldades, temos pedras no caminho. recurvo. O primeiro não pode ser utilizado nos jogos olímpicos nem nos pan-americanos. Possui um sistema de roldanas que permite manter o arco tensionado por mais tempo para efetuar a mira e o disparo. O arco recurvo é utilizado em todas as competições da Federação Internacional de Tiro com Arco, exigindo do arqueiro uma coordenação harmoniosa entre suas ações para um tiro eficiente. Cabe a nós vencermos estes obstáculos", afirma. Como está entre os três melhores atletas em sua categoria, o atleta paraolímpico recebe o auxílio bolsa-atleta. O benefício do Governo Federal visa garantir a manutenção pessoal aos atletas de alto rendimento que não possuem patrocínio. Com isso, busca-se dar as condições necessárias para que se dediquem ao treinamento esportivo e possam participar de competições que permitam o desenvolvimento de suas carreiras. O valor do benefício, que é mensal, varia de R$ 300, para atletas estudantes, a R$ 2.500, para esportistas olímpicos e paraolímpicos. [ ] “O DEFICIENTE HOJE BUSCA A SUPERAÇÃO DENTRO DO ESPORTE” RICARDO MACEDO REGRAS No tiro com arco paraolímpico existem três categorias: Cadeirante 1, destinada a tetraplégicos; cadeirante 2, disputada por paraplégicos e a última categoria, Stand, que é realizada por atletas que podem se movimentar com mais facilidade. Ricardo Macedo disputa nesta categoria e atira sentado. Para ser enquadrado em uma das categorias, o atleta passa por uma avaliação de médicos classificadores, que analisam as dificuldades de [ ] “SUPERAÇÃO PARA MIM VEM JUNTO COM AMOR, CARINHO E PERSEVERANÇA” MARCO ANTÔNIO CASTRO cada um. Uma distância de 70 metros separa os atletas do alvo. O alvo é formado por dez círculos concêntricos. O mais externo vale um ponto. A partir daí, quanto mais próxima do círculo central estiver a flecha, maior a pontuação obtida. Dez pontos são dados para quem acerta o centro do alvo, lance que requer muita precisão. Caso a flecha fique no limite entre dois círculos, é considerado o de maior valor. Se uma seta perfurar a outra, a mesma pontuação da primeira é dada à segunda. O Tiro com Arco é um esporte que pode ser disputado em ambientes abertos (Outdoor) e fechados (Indoor). São usados dois tipos de arco: o composto e o • 2010 BENEFÍCIOS Além das vitórias, o tiro com arco também traz benefícios para o corpo e mente. Ricardo Fonseca é fisioterapeuta da equipe brasileira de tiro com arco paraolímpico e explica que a avaliação não é de caráter eliminatório. "Não é um vestibular, é apenas uma forma de definir as dificuldades de cada um para termos uma competição mais justa, mas todos podem participar", explica. Segundo ele, o esporte "melhora a mobilidade articular, força muscular, coordenação, integração, atividade motora, harmonia de movimento, e o atleta passa a cuidar do corpo, se arrumar, ter uma postura melhor, fica mais incentivado a passar pelos processos de cura". Exemplo disso é Marco Antônio Castro, conhecido como "Xará" entre os competidores. Antes da prática, Castro era piloto de motocross e participava de campeonatos em todo o país. Porém, em uma segunda de carnaval, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que é uma restrição de circulação de sangue no cérebro, que lhe custou distúrbios visuais e perda do equilíbrio. O atleta ganhou seu primeiro arco de um amigo, que lhe falou sobre a modalidade e a Federação Mineira de Arco. Desde então, vem praticando o tiro com arco em busca de vitórias no esporte e da superação, que tem um significado diferente para ele. "Superação para mim vem junto com amor, carinho e perseverança", define. A perseverança do atleta chamou a atenção de seus médicos e Marco Antônio Castro hoje é exemplo para outros pacientes que tiveram o mesmo problema. "Meu médico já me chamou várias vezes para eu conversar com outros pacientes dele, que tiveram o mesmo problema. Pacientes que estavam tristes e com depressão e eu acho isso até bacana para mostrar que podemos conseguir", afirma. Inglaterra é o berço da modalidade que tem origem milenar O arco e flecha existe há cerca de 25 mil anos. A descoberta desta arma permitiu a sobrevivência do homem primitivo, através da caça e do uso do aparato nas guerras tribais antigas. Inicialmente, este artigo era utilizado como instrumento de guerra. Ele foi difundido pelos reis antigos ingleses, que baixavam leis tornando obrigatório o porte constante de arcos e flechas pelos jovens ingleses, que formavam uma "milícia nacional", sempre armada e de prontidão para combater as invasões bárbaras, como a dos vikings e normandos. Na Inglaterra, o interesse pelo tiro com arco como lazer era mantido através de inúmeros torneios nacionais ou regionais nos condados, sendo os vencedores tratados com honras de heróis nacionais, recebendo favores da realeza e bons prêmios em dinheiro. A Guerra das Duas Rosas, no século XV, tornou o arqueirismo como principal arma de guerra no país europeu. O Rei Henrique VIII ajudou a fundar, inclusive, o primeiro "clube" de arqueiros, o Fraternity Saint. George, em 1537. Em 1545, o inglês Robert Ascham, instrutor da Rainha Elizabeth I, escreveu o primeiro livro sobre ensinamentos da arte do arqueirismo: "Toxophilus toxophility" significa "amantes do arco". O Príncipe de Gales, Rei George IV, estabeleceu, em 1787, as distâncias dos alvos. Do período Renascentista até a Era Moderna, o tiro com arco tornou-se um esporte, principalmente na Inglaterra, onde era praticado tanto por plebeus como por aristocratas. A primeira competição de tiro com arco ocorreu em Finsbury, Inglaterra, em 1583, com 3.000 participantes. O tiro com arco foi aceito como esporte olímpico nos Jogos de Paris, em 1900. O belga Hubert Van Innis é o arqueiro com maior número de medalhas olímpicas da história, com seis medalhas de ouro e três de prata nos jogos de 1900 e 1920. Por 42 anos, o tiro com arco não foi considerado esporte olímpico. Só em 1972, em Munique, na Alemanha, o tiro com arco retorna aos Jogos Olímpicos. O tiro com arco para atletas com deficiências foi parte dos primeiros Jogos para atletas deficientes em Stoke Mandeville, em 1948. Como esporte paraolímpico, a prática foi incluída nos Jogos Paraolímpicos de Verão de 1960 em Roma. Atualmente, 37 países participam no tiro com arco Paraolímpico. Segundo a Confederação Brasileira de Tiro com arco, a modalidade esportiva chegou ao Brasil na década de 50, com o comissário de vôo Adolpho Porto, da empresa brasileira de aviação Panair. Em uma feira popular de Lisboa, capital de Portugal, Porto conheceu um marceneiro que possuía um estande sobre tiro com arco. Em 1955, quando seu baseamento na Europa terminou, Adolpho Porta regressou ao Rio de Janeiro trazendo alvos, arcos e flechas. Trouxe também um regulamento da Federação Internacional de Tiro com Arco (FITA). Atualmente, existem no Brasil federações em nove estados. De acordo com CBTARCO, existem em torno de 400 atletas federados e 250 confederados com uma proporção de 40% de mulheres e 60% de homens. Em relação a praticantes não federados, estima-se um número em torno de 4.000. Comportamento 15 Novembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas MULHERES LIDERAM COMUNIDADE n HELEN MURTA, SAMARA AVELAR, YASMIN SANTANA, No vilarejo Noiva do Cordeiro, 90% dos moradores são mulheres. O grupo, formado por cerca de 300 pessoas e liderado por uma matriarca, reforça o valor da cooperação, da vivência coletiva e se mantém isolado, preservando suas tradições CRÉDITO 8º PERÍODO Localizado no município de Belo Vale, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, o vilarejo batizado Noiva do Cordeiro é caracterizado pela vida em comunidade dos cerca de 300 habitantes – 90% mulheres –, que compartilham atividades produtivas, objetos, alimentação e hábitos. Um grande casarão é o principal local de convivência e a maioria dos indivíduos passa a noite em dormitórios comunitários. Um passeio pelos corredores da casa principal do povoado evidencia sinais da vida coletiva. Nos armários dos banheiros, é possível ver um emaranhado de escovas de dente. Os quartos costumam ter pelo menos duas ou três camas para atender aos moradores e visitantes. Na sala principal, uma mesa de jantar, que foi desenhada e feita por um morador, serve também para jogos entre os habitantes. A área externa à casa-sede é o lugar onde os grupos de crianças brincam, e a mangueira próxima ao local dá sombra para aqueles que querem bater um papo. De acordo com Flávia Emediato Vieira, uma das moradoras do local, é na sala principal que o grupo se reúne para as refeições, para o lazer e para tomar decisões. Os cuidados destinados aos meninos e meninas do vilarejo não são proporcionados apenas pelos pais desses jovens, já que a tarefa de educar os garotos também é coletiva. Flávia conta que não tem filhos, mas se sente como se fosse mãe. "As crianças aqui não têm uma ligação só com seus pais. Eles recebem a gente, buscam a gente, o tempo inteiro", afirma. O relacionamento entre os moradores é pautado pelo exemplo de uma matriarca, Delina Fernandes Pereira. Flávia afirma que ela é o elo central da comunidade. Elaine Fernandes Pereira, 29 anos, O vilarejo sobrevive com a colaboração de cada morador, que ajuda da maneira que pode, na manutenção da comunidade Noiva do Cordeiro filha da matriarca, revela que sua mãe trata a todos da mesma forma e ensina não apenas pelas palavras, mas por suas atitudes, que inspiram os habitantes. "Até as mulheres mais velhas que ela, a conside ram como mãe", explica Elaine. Uma das características da líder é acolher outras famílias no vilarejo, como aconteceu com a família de Flávia. Sua mãe nasceu em Noiva do Cordeiro, mas se casou com um membro de outro povoado e foi morar com ele. Flávia conta que, devido ao preconceito que existia em relação à população do local, o casal vivia em constante conflito. De acordo com ela, seu pai, envolvido pelos rumores sobre os moradores de Noiva do Cordeiro, pediu para que sua mãe escolhesse entre o casamento e a comunidade onde ela nasceu. A mulher, então, optou pelo retorno às suas origens. Ao voltar, a mãe de Flávia e seus 11 filhos foram recebidos por Delina, a matriarca da comunidade. "Eu nunca vou esquecer essa atitude, porque, desde o dia em que Dona Delina nos colocou em sua casa, eu fui tratada como filha. Vi o que é um amor de ser humano para ser humano", revela. O trabalho na comunidade é dividido de acordo com as preferências dos habitantes do lugar, como conta Elaine. Apesar dessa separação de tarefas, no entanto, as pessoas exercem outras atividades além das que foram designadas para fazer, de acordo com as necessidades da comunidade. Elaine explica que a comunidade tenta ser autosustentável. A comunidade criou em 1999 uma confecção que fabrica roupas, tapetes, colchas e outros utensílios, atividade que contribui para o sustento do povoado. Os produtos são vendidos no próprio lugar, além de serem comercia lizados em uma loja no Barro Preto, em Belo Horizonte. "A produção da fábrica também facilita o nosso vestuário. Muitas das peças que usamos são feitas aqui", afirma Elaine. A fabricação de alguns produtos de limpeza é um fator importante para essa subsistência, assim como a lavoura. Elaine conta que, na época do plantio e colheita, cerca de 40 pessoas se concentram na atividade. "A gente capina, planta e colhe. Os mais velhos e as crianças não participam do mutirão, mas a fábrica para, grande parte do pessoal vai e trabalhamos com isso em cada temporada", explica. Como a verba obtida com esses segmentos não é suficiente, muitos homens tra ba lham nos grandes centros com o objetivo de complementar a arrecadação necessária para a manutenção financeira de Noiva do Cordeiro. A maioria das pessoas que precisa deixar o vilarejo, seja para exercer sua profissão ou para estudar, mora em Belo Horizonte, também em uma casa comunitária. A movimentação desses indivíduos entre a capital mineira e o vilarejo é um dos fatores que contribuem para a constante oscilação do número de habitantes de Noiva do Cordeiro, segundo Flávia. Ela conta que, além disso, fami liares e amigos que vivem em outras cidades, como Montes Claros e Desterro de Entre Rios, costumam passar algumas temporadas na comunidade, mais um elemento que dificulta a confirmação da po pulação local. A falta que os habitantes do vilarejo sentem daqueles que moram fora é uma dificuldade destacada por Elaine, mas ela conta que, quando "a saudade aperta", os moradores da comunidade visitam os que estão distantes. E quem não vive mais no povoa do costuma ir ao local nos fins de semana e em comemorações, como o Dia das Mães, o aniversário da matriarca Delina Fernandes Pereira e a Festa Junina. Além das atividades que geram lucro para os moradores, também são exercidas tarefas que não proporcionam ganho financeiro, mas contribuem para diminuir a dependência da comunidade em relação a outros lugares. Cortes e tinturas de cabelo, maquiagem e serviços de ma nicure são feitos pelos moradores. "As pessoas aqui fazem o que podem pela comunidade. Colaboramos uns com os outros", diz Elaine. A contribuição de Pedro Henrique Fernandes para a comunidade envolve seu domínio de informática e os conhecimentos adquiridos no período em que ele estudou em Belo Horizonte. Ele tem 13 anos e nasceu em Noiva do Cordeiro. O jovem conta que percebe muitas diferenças entre os garotos de sua idade que vivem no vilarejo e aqueles que moram na capital mineira. "Os adolescentes que não são da comunidade pensam muito em festas e em garotas. Aqui, gostamos de brincar, é outra coisa", conta. Aroldi Fernandes Pereira, 41 anos, também destaca a divergência entre o relacionamento das pessoas de fora e as que pertencem ao povoado. Ele descreve a convivência entre as pessoas de Noiva do Cordeiro como uma relação de confiança total, diferentemente do que acontece nos outros lugares que já morou, como São Paulo, Belo Horizonte e Montes Claros. "O que une às pessoas é o apreço que existe entre elas. Considerar o sentimento dos outros é o que gera essa união que temos aqui na comunidade", afirma Aroldi. Mesmo com a diferença entre o número de homens e mulheres, o morador explica que as tarefas costumam ser realizadas por ambos os sexos, de acordo com a capacidade de cada um. CRÉDITO Linguagem própria foi desenvolvida Em Noiva do Cordeiro não é difícil encontrar um aviso pregado na parede da casasede, ou até mesmo nos guarda-roupas. Devido ao fluxo de pessoas, são necessários recados escritos para que todos saibam onde encontrar o cobertor de casal ou onde devem ser colocadas as louças sujas ou pilhas usadas, além de se informarem sobre os eventos que serão realizados na comunidade. Mensagens de agradecimento aos moradores e faixas também são elementos que facilitam a comunicação entre os habitantes. Elaine destaca a interação boca-a-boca como outro instrumento importante para o convívio na comunidade. Os membros do vilarejo fazem constantes reuniões para tomar decisões. "Tudo o que resolvemos fazer aqui é feito em conjunto, para o bem da comunidade", afirma Flávia. Até mesmo quando se trata de uma atitude de indisciplina de um único membro, os moradores procuram mostrar o problema e educar a todos através do teatro. As peças não são apenas realizadas em comemorações, mas quando é preciso ensinar as crianças e os outros habitantes. A arte também é utilizada para homenagear pessoas e contar a história da comunidade. A memória do povoado e os assuntos relativos ao cotidiano da população são representados pelos próprios moradores, existindo ainda vídeos produzidos por eles, como o filme que conta a história da comunidade desde a sua fundação. O contato com pessoas de outras cidades fez com que Elaine percebesse diferenças no modo de falar. Para tirar carteira de habilitação, Elaine passa a semana na capital estudando legislação. "Tem horas que eu falo as coisas e as pessoas não me entendem muito bem. Acho que nós de Noiva do Cordeiro desenvolvemos uma linguagem própria", revela. Nome do vilarejo surgiu no século XIX Moradoras do povoado se dedicam às atividades domésticas Maria Senhorinha de Lima, moradora do povoado de Roças Novas, casada há três meses com o descendente de franceses Arthur Pierre, decidiu abandonar o marido e viver com outro homem, conhecido como Chico Fernandes. Essa história vivida no século XIX deu início à comunidade que hoje se chama Noiva do Cordeiro. A atitude de Senhorinha era pouco comum para a época, fazendo com que o casal se tornasse alvo de preconceito. O casal viu-se obrigado a deixar Roças Novas quando a segregação por parte da população local começou a aumentar. Senhorinha e Chico Fernandes foram viver em um terreno isolado, onde constituíram família. A discriminação envolveu também seus descendentes, levando-os ao isolamento de outros povoados e cidades da região. O nome do povoado surgiu quando Anísio, entre as décadas de 40 e 50, casou- se com Delina Fernandes Pereira, uma das netas de Dona Senhorinha. O pastor fundou no vilarejo a Igreja Evangélica Noiva do Cordeiro, que também foi implantada nas cidades de Montes Claros e Desterro de Entre Rios. Hoje, a Igreja não existe mais na comunidade, mas, sua criação deu origem a um vínculo forte entre Noiva do Cordeiro e os municípios onde foi constituída. Com o passar dos anos, a neta de Maria Senhorinha, Delina Fernandes, foi naturalmente se tornando líder do local. O terreno onde a comunidade foi constituída, de acordo com Aroldi Pereira, filho de Delina, possui hoje cerca de 16.2 hectares. Mas o vilarejo se estende às terras de outros familiares que também construíram casas no local, somando cerca de 40 hectares. Ele estima em 45 o número de casas existentees em Noiva do Cordeiro. André Novais Entrevista CINEASTA jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursode [ ] “É PRECISO CONSTRUIR n BRUNA CARMONA, REBECA PENIDO, 4º PERÍODO UMA PRODUÇÃO MAIS RICA, NÃO SÓ EM TERMO DE QUALIDADE, MAS EM QUANTIDADE” André Novais Oliveira começou a assistir curtas quando era adolescente, por influência do irmão. Com o tempo, sentiu vontade de partir para a ação e dirigir seus próprios filmes. Em 2004, aos 19 anos, entrou para a Escola Livre de Cinema, onde realizou seus primeiros trabalhos. Hoje, aos 26, tem cinco curtas, sendo que o último deles, Fantasma (2010) ganhou vários prêmios, incluindo o de Melhor Filme no 3º Mostra Independente do Audiovisual Universitário (MIAU) e de melhor experimental no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro (Porta Curtas). "As principais janelas para o curta-metragem ainda são os festivais”, afirma o curtametragista, em entrevista ao MARCO. Graduando do curso de História na PUC Minas, André pesquisou sobre Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais (ESC-UCMG). O estudo, em fase de conclusão, relata que a Católica foi pioneira na produção cinematográfica brasileira. Ele revela o lançamento, em 2011, de seu primeiro longa metragem, que deverá se chamar “Estádio de sítio”, feito com outros sete diretores e em fase de edição. LILA GAU DÊ NC IO PANORAMA DO CINEMA MINEIRO RENATA FONSECA n Quando você decidiu que queria fazer filmes? n Qual foi a importância do padre Edeimar Massote para o cinema mineiro? A vontade surgiu a partir do momento que eu comecei a frequentar os festivais de cinema, principalmente o festival internacional de curtas de Belo Horizonte, que geralmente acontece no Palácio das Artes. Meu irmão já frequentava há um tempo, um dia eu fui com ele e gostei bastante. Aí quando eu percebi estava lá passando tarde e noite assistindo muito curta. Foi aí que eu descobri a Escola Livre de Cinema que, à época se chamava Oficina de Cinema. Aí entrei lá em 2004. Acho que a partir do segundo ano que eu frequentei esse Festival em BH e eu estava muito envolvido, gostando muito de assistir, na época que eu não assistia festival eu assistia muito filme em casa. E eu não lembro exatamente quando que foi que deu um estalo "eu quero fazer". Acho que foi essa oportunidade de ver a Escola Livre, eu tinha feito um curso de fotografia básica, que me despertou o interesse também. Mas acho que foi a partir desse momento que eu consegui assistir muito filme, principalmente curtametragem, deu uma vontade. O padre Massote foi uma das pessoas que tentou fazer esta engrenagem dar certo. Ele tentou formar uma escola com outras pessoas. Por ser um padre jesuíta, tinha tudo para ser uma pessoa mais rígida, com conceitos religiosos firmes, porém, ele fez funcionar. Fazia, incentivava os alunos na questão da produção, acabou sendo responsável por algumas produções de longa-metragem que vieram para cá como o "Padre e a Moça" (1965) e "A hora e a vez de Augusto Matraga" (1965), que são longas que tiveram participações de alunos da Escola. Ele não foi responsável por trazer, mas foi responsável por incluir e incentivar os alunos na questão da produção. n A UCMG foi pioneira em produção cinematográfica? Havia uma temática recorrente nas produções realizadas por seus alunos? Ela foi a primeira escola de cinema em Minas e do Brasil também. Muita gente atribui à Universidade de Brasília (UnB), e à Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA), mas na verdade, a primeira escola de cinema no Brasil surgiu aqui [em Minas Gerais]. Qualquer tema, mesmo que não tivesse a ver com as matérias do curso, tinha uma formação humanística forte. O padre Massote era receptivo a muitos temas. Tinha sempre uma rixa, até um preconceito, de achar que os alunos da Escola eram muito formais, religiosos. Tinha uma va riação muito grande dentro da própria Escola. Alguns alunos eram do partido comunista ou tinham formação religiosa totalmente diferente. O padre Massote foi importante por permitir esta liberdade mesmo em um lugar católico. Foi iniciativa dele emprestar a câmera sem se importar com o conteúdo do filme. n O que você aprende dentro de uma Escola de Cinema? Questão da produção, dentro da escola você aprende na prática, mas a teoria é importante. Você está dentro do set, aprendendo o que um assistente faz e tem a questão da amizade. O que fica mais é a questão de estar aprendendo com as pessoas e ver as afinidades com elas. É ver e pensar assim: "Com esta pessoa eu quero trabalhar!", de ter amizade. Isto é importante. Eu conheci o Gabriel Martins lá, o Maurílio Martins eu conheci depois e a gente fez uns filmes antes de montar a produtora. n Como é o processo de fazer um filme, desde o surgimento da ideia até a execução? n Hoje existem lugares para discutir cinema? Dos curtas que eu já fiz, foram muito de ter uma ideia, que eu não sei dizer exatamente de onde surge e tentar desenvolver principalmente o roteiro, eu gosto muito de trabalhar com roteiro. Desse desenvolvimento do roteiro surge a questão de montar equipe e tal, que agora está sendo uma coisa muito de amizade mesmo, de juntar os amigos e fazer um filme. O processo acho que vai sendo bem natural, no sentido de bolar um roteiro, ver se realmente dá para fazer, com grana ou sem grana e tentar levar isso. Sim, tem sim. Tem o que pega um pouco da tradição do Cineclubismo em Belo Horizonte que já vem desde os anos 50 e tal. Tem o Curta Circuito, que é cineclube Curta Minas e sempre tem debates e tem festivais de cinema de grande peso, o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, que eu já citei, e tem o Cine BH que é o da Universo Produção, que é uma produtora que está fazendo festivais muito interessantes, que faz os festivais de Ouro Preto e Tiradentes. Tem o Indie também e tem outros grupos de discussão, grupos que estão se formando ainda. n Quais são as suas influências no cinema? Eu sou muito de fases. Agora eu estou assistindo muito cinema brasileiro e de tudo um pouco. Acho que até tem a ver com a questão de tentar pesquisar sobre cinema, sobre o cinema mineiro. Tem diretores assim que eu estou gostando bastante ultimamente, o Carlos Alberto Prates Correia, que fazia filmes em Montes Claros, tem o Hugo Carvana também, o pessoal do cinema marginal, [Júlio] Bressane, [Rogério] Sganzerla e essa galera aí estou gostando bastante, cinema novo também, quer dizer, é tudo mesmo. Eu acabo assistindo chanchada, pornochanchada, cinema contemporâneo brasileiro também, curta-metragem, longa metragem, tudo que vier. E já tive fase de gostar de muito cinema hollywoodiano assim dos anos 40, 50 e 60, foi uma das fases que eu mais gostei. Gosto de assistir coisas contemporâneas também, americanas e de tudo mesmo. Cinema europeu, estamos aí! n Você está quase se formando no curso de História. Passou pela sua cabeça fazer graduação em Cinema? n Um de seus curtas, Fantasma, ganhou muitos prêmios. Como você recebeu isso? mas em vários outros lugares. Mas a intenção é conti nuar com História e continuar com a produção de Cinema e tentar conciliar a História com o Cinema. Tenho muito interesse na pesquisa de cinema, principalmente em pesquisa de cinema mineiro e já trabalhei nisso com a bolsa de iniciação científica da Fapemig, trabalhando a história da Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG) e é um campo que eu pretendo seguir, de trabalhar sobre a história do cinema. E continuar com a produção sempre. [ ] “A JANELA PRINCIPAL DO CURTA-METRAGEM SÃO OS FESTIVAIS” Depois que eu fiz esse curso da Escola Livre eu cheguei a passar no vestibular em um curso de Cinema em Juiz de Fora, na Faculdade Universo. Mas pensei bastante, principalmente que História era um curso que eu gostava bastante e rolava muito papo de que os cursos de Cinema estavam meio que se formando, ainda não era um curso 100% e tal, aí eu dei uma parada, pensei bem e falei, 'não, vou fazer história mesmo. n E quando você se formar, vai conciliar História e Cinema? A intenção é conciliar as duas coisas. Viver de cinema é uma coisa meio difícil de falar, não só aqui em Minas n Você realizou uma pesquisa sobre a Faculdade de Cinema da Universidade Católica, hoje Pontifícia. O que você descobriu sobre o cinema mineiro? Descobri alguns problemas do cinema mineiro, a questão da dependência do eixo Rio - São Paulo, por exemplo. Tem também a questão das características do cinema mineiro que tinha nos anos 60 e 70 e há uma ligação forte entre essa época e hoje. Existem muitas coisas interessantes para se pesquisar dentro do cinema mineiro e não é só a questão de produção cinematográfica, mas todo o modo de produção também. Os problemas do cinema mineiro são muito grandes e por muitos motivos. Não existe uma engrenagem que se construa e que fique no meio do ca minho. É preciso construir uma produção mais rica, não só termo de qualidade, mas em quantidade, principalmente de longa-metragem porque de curta-metragem a gente está bem. Temos este tipo de problema, o cinema não é tão valorizado. Bom, o Fantasma foi um filme bem despretensioso, que eu tive a ideia e chamei os outros dois amigos da produtora, que eles que atuam no filme, eles não são atores profissionais; a gente juntou numa terça-feira, "vamos fazer, e tal". E aí a gente juntou mais pessoas da equipe que são amigos nossos também e fizemos. Foi um filme assim, aparentemente bem fácil de fazer e teve muitas coisas pensadas anteriormente, na pós-produção também, mas foi um filme que a gente não estava esperando essa repercussão tanto da crítica quanto dos festivais, de participar dos festivais e ganhar alguns prêmios. n Fora dos festivais, é difícil exibir os filmes? É difícil. Está crescendo esse espaço, principalmente na internet. Mas acho que a janela principal do curtametragem são os festivais. A gente manda [os curtas] para muitos festivais para tentar passar em pelo menos alguns e isso sempre tem um resultado bom para a gente. Só no sentido de as pessoas verem mesmo, e ter um canal de discussão mesmo, de conhecer outros realizadores, festivais. Geralmente a gente vai em outros estados, co nhece outros realizadores e aí rola um intercâmbio, uma troca de idéias bastante forte que é muito interessante. n Você tem planos de fazer um longa-metragem? Tem um longa que a gente fez agora e que a gente está editando. Foram oito diretores. Um longa totalmente independente, que já está para sair. Tenho muito inte resse sim. O lançamento seria em Tiradentes, que tem espaço para filme digital e para filmes um pouco mais experimentais. O mais certo é que o longa se chame "Estado de sítio".sei onde ele vai passar. A gente manda para os festivais, mas nunca sabe se será selecionado.