Desenvolvimento intelectual em crianças com síndrome de Down

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Desenvolvimento intelectual em crianças com síndrome de Down
Desenvolvimento intelectual em crianças com síndrome de Down: Relato
de caso.
Dorca Soares de Lima Brito1
Eixo temático: Educação Especial
Resumo :
Este trabalho tem como objetivo discutir o caso de duas crianças com Síndrome de
Down, ambas alunas da Apae de Dourados-MS. O texto inicia com uma breve
abordagem sobre a pessoa com deficiência e suas conquistas a partir da Constituição
Federal de 1988, na sequencia aborda as atividades pertinentes a Apae e, discute sobre
o que é Síndrome de Down, por fim, apresenta o relato da professora e finaliza com a
discussão a partir da bibliografia especializada da temática em tela. Na análise dos
dados foi possível observar que apesar das limitações da pessoa com Síndrome de
Down, se houver empenho da família, professores e escola há grandes possibilidades
de ganhos significativos na vida escolar e social.
Palavras-chave: Criança, Síndrome de Down, Inclusão.
Introdução
Na atualidade a temática a Pessoa com Deficiência e seus direitos está
sendo amplamente discutida, tornado alvo de debate no campo acadêmico,
social, político e cultural. Essa questão dos direitos vem à tona, dentre outros
fatores, devido a existência de um número considerável de pessoas com algum
tipo de deficiência. Segundo dados do IBGE/2010 no Brasil são 45,6 milhões de
pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas pelo Instituto.
1
Graduada em serviço social e pós graduada em gestação de políticas sócias com ênfase em
trabalho com família. Mestranda em educação e diversidade na universidade federal da grande
Dourados.
2
Desses, 38,5 milhões viviam em áreas urbanas e 7,1 milhões em áreas rurais.
Na análise por sexo, 26,5% da população feminina do Brasil (25,8 milhões)
masculino, possuía alguma deficiência.
De acordo com o dicionário Aurélio (1999) deficiência, pode ser
caracterizada como falta, falha, carência, imperfeição, defeito e insuficiência. Por
sua vez, a Organização Mundial de Saúde (OMS), define deficiência como toda
perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou
anatômica; a incapacidade como restrição ou falta devida a uma deficiência, o
que exige, por sua vez, necessidade de ações para a inclusão.
A ideia de inclusão fundamenta-se no princípio do reconhecimento da
diversidade dos fatores sociais. Reconhecer as diversidades significa garantir o
acesso de todos os indivíduos ás oportunidades, independentemente de suas
limitações. No Brasil as pessoas com deficiência passam a ter seus direitos
garantidos a partir da Constituição Federal de 1988, chamada de constituição
cidadã. Essa legislação maior possibilitou já no ano de 1993 a promulgação da
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, n.º 8742) que viabiliza as pessoas
com deficiência alguns de seus direitos, dentre eles, o Benefício de Prestação
Continuada.
Desde que o Estado passou a reconhecer e assegurar os direitos das
PcDs houve então um novo olhar da sociedade, nesse sentido, a família tem um
papel fundamental para a efetivação dos direitos fazendo com que seus filhos
consigam conquistar seu espaço na sociedade.
As escolas de educação
especial, como a APAE tem o foco na assistência social, saúde e educação, essa
última aparada pela Lei 9394/96 da Diretrizes e Base da Educação com três
artigos em especial artigos 58 a 60 que tem como objetivo a inclusão da pessoa
com deficiência nas escolas regulares e de educação especial.
As instituições desenvolveram um papel relevante nesta trajetória, pois
pode construir um espaço para trabalhar e desenvolver a com a Pessoa com
Deficiência e sua família.
Dentre essas instituições encontra-se a Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais – Escola de Educação Maria Julia Ribeiro, situada na rua General
Osorio, nº 3625 Bairro Jardim Itaipu Dourados –MS. A mesma foi fundada em
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um de Setembro de 1973 pela senhora Maria Julia Ribeiro. Esta instituição é
uma organização não governamental, sem fins lucrativos. A instituição hoje com
quarenta e um anos vem presta um trabalho junto a cidade de Dourados – MS e
região. Com base na educação especial a escola hoje conta com 220 alunos que
possui deficiência Intelectual e múltiplas e autismo, a idade dos mesmos varia
entre 01 e 74 anos que recebem atendimentos clínicos e pedagógicos. Tendo
uma equipe pedagógica de 24 professores e uma coordenadora todos
especialistas em educação especial, uma equipe clinica com 02 Fisioterapeutas,
02 Psicólogas, 01 Fonoaudióloga e 01 Assistente Social. Apesar dessas leis
garantirem a inclusão no ensino regular nem todas as crianças se
desenvolveram de maneira similar. Dessa forma o objetivo desse relato de caso
é compreender o desenvolvimento educacional de duas meninas com patologia
de Síndrome de Down e ponderar como as diferenças comportamentais e
patológicas podem influenciar nos seus desenvolvimentos intelectuais.
Desenvolvimento
De acordo com Capone e Pueschel, (2004 e 1999), síndrome de Down
se caracteriza por ser uma condição crônica que impõe múltiplos desafios
criança acometida, e sua família. A mesma trata-se de uma desordem
cromossômica, a trissomia do cromossomo 21, frequência é de 1.750 nascidos
vivos.
Os
portadores
da
SD
podem
apresentar:
hipotonia,
baixa
estatura,
hiperflexibilidade das articulações, mãos pequenas e largas com prega palmar única, face
larga e achatada, olhos distantes um do outro, nariz pequeno com base nasal achatada,
baixa implantação das orelhas, língua projetada para fora da boca, palato ogival,
cardiopatia congênita, genitais hipodesenvolvidos, excesso de pele na nuca, cabelo liso e
ralo (PUESCHEL, 1999; SCHWARTZMAN, 1999). Abordaremos a seguir o caso onde
para preservar a identidade das menores a trataremos as mesmas como criança 1 e criança
2 ambas com 12 anos de idade
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Criança 1 e criança 2 residem no mesmo bairro, suas famílias são amigas
e começaram a frequentar a APAE no mesmo período,2012, tornando-se
grandes amigas.
A criança 1 apresenta síndrome de Down e com complicações
cardiológica e deficiência auditiva no ouvido esquerdo. A criança 2 nasceu com
síndrome de Dawn sem manifestar nenhuma outra patologia associada a
deficiência.
De acordo com o relato da professora das mesmas as crianças sempre
foram dóceis e amorosas, no entanto a criança 2 apresentava características de
liderança e por vezes devido à proximidade e a amizade a criança, essa protegia
a outra. Já a criança 1 mostrava-se introspectiva, não socializava e mostrava-se
dependente da outra.
A criança 2 se desenvolveu e já está inserida no ensino regular, no entanto
a outra continua na escola de educação especial mostrando um baixo
desenvolvimento intelectual. As mesmas frequentavam a mesma sala de aula,
com a mesma professora sem haver diferenciação no método educacional
aplicado, apesar disso a professora opina que essa realidade pode ser
observada graças as diferenças de personalidade e comportamento ou
diferenças de complicações da deficiência ainda que tenham a mesma patologia.
Resultados e discussão
Os dados analisados do relato de caso mostram uma realidade comum
entre os portadores de síndrome Down. Essas variáveis podem ser devido a
inúmeros fatores, segundo Luiz et al (2008), e por meio de sua pesquisa sobre
o assunto os três mais importantes fatores são a família, a própria escola e até
mesmo o professor.
De acordo com Holden e Sterwart (2002) como qualquer outra criança é
impossível prever o potencial cognitivo das mesmas porem alguns fatores
podem influenciar, como dificuldade com a memória curta auditiva, com a
linguagem, sensoriais e visão. Complicações que a criança 1 apresenta e seu
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quadro patológico corroborando com a possível dificuldade de aprendizado da
mesma.
Os portadores da síndrome ainda segundo Rodrigues (2007) apresentam
algumas limitações na execução de tarefas, adaptação a mudanças, reter e
transferir o que sabe, mesmo diante desses fatos se o mesmo for estimulado
com instruções práticas e visuais ele possivelmente se desenvolverá
progressivamente. Novamente o autor reforça que o papel do professor
fundamental para o desenvolvimento intelectual.
Ressalta-se que o ambiente é muito importante para o desenvolvimento
da criança com deficiência mental (SILVA E DESSEN 2001) dessa forma a
dificuldade da criança com Síndrome de Down em adaptar-se a mudanças e
situações novas pode estar diretamente ligada a um baixo desenvolvimento.
Ainda nesse âmbito os pais têm o papel fundamental nesse desenvolvimento
identificando as dificuldades das crianças e selecionando atividades que
proporcione as crianças oportunidades de aprendizado com uma participação
conjunta. Motivações educacionais podem ou não ser desenvolvidas por meio
dessas atividades.
Além disso Alton (2008) apresenta como estratégia a união de pais e
professores e comenta que a procura dos pais em se informar diariamente faz
toda a diferença para alcançar resultados satisfatórios.
Desse modo mesmo diante das limitações que a síndrome pode trazer
quando se tem um ambiente apropriado, professores, pais e escola trabalhando
em conjunto há uma grande chance de decorrências efetivas.
Referências
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Técnicas, 2008.
6
_____. LEI 8.742 de 07 de dezembro de 1993. Lei Orgânica da Assistência
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