Nas pegadas de Jesus… O RIO JORDÃO

Transcrição

Nas pegadas de Jesus… O RIO JORDÃO
Nas pegadas de Jesus…
O RIO JORDÃO
“Quando eu andava pela margem do Jordão, os meus medos e ansiedades diminuíam.” (William, Williams)
Da maneira que por vezes se fala do Rio Jordão, pode-se ser levado a imaginar que é um rio enorme. Alguns hinos
usam-no como uma imagem do rio da morte, intransponível, a menos que Deus ajude na sua travessia.
Na verdade, o Rio Jordão é pequeno; raramente tem mais de 13 metros de largura.
Uma ou duas vezes por ano pode haver uma enchente, mas
normalmente o seu curso é lento, serpenteando o Vale do
Jordão. A sua parte norte corre desde o sopé do monte
Hermon, onde nasce, em direcção ao Mar da Galileia. A sua
parte sul, mais extensa, corre do Mar da Galileia para o Mar
Morto, onde desagua. Esta segunda parte do rio não tem mais
que 105 km, mas as suas inúmeras curvas acrescentam
provavelmente 30% à extensão total. Quase não é navegável,
devido aos frequentes bancos de areia e por “não levar a lugar
algum”, excepto ao calor inóspito do Mar Morto. No seu total, o
Jordão não vai além dos 250 quilómetros
Contudo, no tempo de Jesus, este pequeno e banal rio esteve associado, no
pensamento bíblico, a alguns episódios cruciais da vida de Israel:
 O Rio Jordão era a fronteira ocidental da Terra Prometida: foi o rio que
Moisés não chegou a atravessar, mas por onde o seu sucessor, Josué, carregou a
Arca da Aliança. Foi aqui que os israelitas se consagraram de novo ao Senhor,
durante a temerosa aproximação a Jericó. Doze pedras foram retiradas do seu
leito, uma por cada uma das Doze Tribos de Israel), e colocadas na margem para
lembrar ao povo de Israel a ajuda de Deus neste importante momento da vida da
nação - o momento da entrada do povo na Terra Prometida, depois de 400 anos de escravidão no Egipto e 40 anos de
travessia no deserto.
 O Rio Jordão está associado aos grandes profetas do séc. IX a. C - Elias e Eliseu. Antes de ser “arrebatado ao
céu, num carro de fogo”, o profeta Elias atravessou o Jordão com Eliseu, usando o seu manto para separar as águas.
Quando Eliseu foi abandonado sozinho na outra margem, a sua fé foi posta à prova: ele usou o manto deixado por Elias
da mesma maneira. Os que viram o milagre que se seguiu, declararam que o espírito de Elias repousava sobre Eliseu era sinal de que o jovem aprendiz tinha realmente tomado o manto de Elias. Assim como o Jordão testemunhou a
sucessão de Josué a Moisés, testemunhou, também, a sucessão de Eliseu a Elias.
 Naaman, um importante oficial sírio, ferido de lepra, foi avisado por Eliseu para se banhar 7 vezes no Rio Jordão.
Depois de ter obedecido ao “homem de Deus, a carne de Naaman tornou-se como a de uma criança e ele ficou limpo”.
Este gentio, general dos exércitos inimigos de Israel, confessou então: “Reconheço agora que não há outro Deus em
toda a terra, senão o de Israel.” (2Rs 5, 15)
O Jordão tem, assim, importantes ressonâncias bíblicas: era um lugar de iniciação, quer para as pessoas
individualmente, quer para Israel; um local de cura e de inclusão para os que não pertenciam à nação; um local que
revelara a fidelidade e o poder de Deus.
Não é, portanto, coincidência que o rio esteja associado ao ministério de João Baptista, o lugar onde ele convida o povo
de Israel ao baptismo, porque este é o local, por excelência, onde têm lugar os novos começos.
Finalmente, o Rio Jordão também marca um novo começo para o próprio Jesus. Todos os evangelistas viram o facto de
Jesus se ter dirigido a João Baptista para ser baptizado como o início efectivo do seu ministério. Jesus aceitou
humildemente o apelo de João para uma renovação e restauração da nação; Jesus uniu-se às esperanças do seu povo,
identificando-se com ele neste acto de se voltar para Deus. Ele mesmo foi baptizado por João no Rio Jordão. E ao fazêlo, o próprio Deus confirma o seu chamamento: o Espírito Santo desce sobre Ele e uma voz afirma: “Tu és Meu Filho
muito amado; em Ti pus todo o Meu agrado.” (Lc 3, 22)
Estas palavras marcam o início da missão messiânica de Jesus. E da mesma maneira que o Jordão tinha marcado o
início da campanha de Josué em direcção à Terra Prometida, o mesmo rio marca o início da campanha deste “novo”
Josué [Jesus é a forma grega para o nome hebraico “Josué”, que significa “salvação”].
O Rio Jordão mudou muito pouco desde os tempos bíblicos, mas o acesso a ele agora é mais difícil, pelo menos nas
zonas associadas a Jesus e João Baptista. Isto deve-se ao facto do leito do rio funcionar como fronteira entre o Reino
Hachemita da Jordânia e Israel e cujo cordão de separação, ao longo das margens ocidentais, que é altamente
patrulhado. Isto significa que visitar o suposto local do baptismo de Jesus é um pouco difícil, mas também pouco há para
ver. Na região existe o Mosteiro Grego-Ortodoxo de São Gerásimo, que é o mais próximo que se consegue chegar do
rio. Apenas uma vez por ano, durante a Festa Ortodoxa do Baptismo de Jesus (em Janeiro), é que os visitantes podem
descer o rio até ao local onde se recorda este acontecimento.
O Yardenit (que significa “pequeno Jordão) está localizado a sul do Mar da
Galileia, onde o Rio Jordão faz a sua saída para o Mar Morto. Construído
graças ao esforço dos membros do Kibbutz Kinneret, em cujo terreno se
encontra, é um lugar único, rico em beleza e espiritualidade. Aqui se faz
memória do momento em que Johanan (João Baptista) baptizou Yeshua mi
Netzaret (Jesus de Nazaré). Não há nenhuma tradição explícita de que João
tenha baptizado tão a norte (o foco da sua acção era o deserto de Judá, mais a
sul), mas nos nossos dias o Yardenit é o local mais conveniente para descer até
às águas do Jordão. Além disso, os Cristãos que assim o pretendam, podem
fazer o Baptismo simbólico ou a imersão nas águas do Jordão, dentro das
piscinas delimitadas para o efeito. Será, sem dúvida, um momento espiritual de
grande intensidade.
A “Parede da Vida Nova”, ou “Parede da Comunidade” é um marco
proeminente do Yardenit. É um muro dedicado aos Cristãos de todo o mundo
que, neste local, seguem Jesus através da água do Baptismo. O mural começa
à entrada do Yardenit, com as inscrições em latim, grego e hebraico, e estendese ao longo das margens, até às piscinas baptismais, decorada com mosaicos
com a inscrição dos versículos do Evangelho de Marcos (1, 9-11) em diversas
de línguas.
A “Parede da Vida Nova” pretende transmitir uma das mensagens de Esperança
do Evangelho: quando um Cristão entra na água do baptismo, reconhece-se a si
próprio e assim que emerge fica “vivo em Cristo”. As coisas velhas transformamse em coisas novas e em vida abundante. Após o baptismo, tornamo-nos
pessoas novas que caminham pelo caminho novo da vida, somos livres para
acolher a palavra de Jesus e desenvolver uma relação de amor e confiança
capaz de mudar a nossa vida.
“
Por isso, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo
passou; eis que surgiram coisas novas.” (2Cor 5, 17)
“
Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como
Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós
caminhemos numa vida nova. De facto, se estamos integrados nele por uma
morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição.” (Romanos 6,
4-5)
Baptismo no Jordão
Há evidências de que os visitantes cristãos na época primitiva tinham muito interesse em ver o Rio Jordão. O imperador
Constantino, que foi baptizado um pouco antes de morrer, no ano 337, admitiu que tivera esperanças de ser baptizado
neste rio. No séc. IV, os peregrinos levam garrafas com água do Rio Jordão para serem baptizados em casa - uma
prática que se mantém até aos dias de hoje. O baptismo ou imersão nas águas em que Jesus foi baptizado é associado
a uma renovação do Baptismo. Para outros, há uma associação do Baptismo à Morte e Ressurreição.
A imersão total na água não é regra do Baptismo; a aspersão com a água sobre a cabeça tem o mesmo valor. Os
baptistérios bizantinos tendiam a organizar um espaço em que os candidatos ao Baptismo entravam na água; a pessoa
que baptizava, aspergia a água sobre eles, que permaneciam de pé. Os baptistérios eram geralmente construídos de
maneira que os candidatos se moviam de oeste para leste, renunciando, deste modo, simbolicamente, às obras das
trevas e caminhando em direcção à luz. Depois, recebiam vestes brancas como símbolo de perdão e da nova vida de
Ressurreição.
[A Igreja Ortodoxa dá uma importância particular a este aspecto. Até hoje, os peregrinos gregos adquirem a sua própria
mortalha em Jerusalém - no local da morte e ressurreição de Jesus - e, então, vão até ao Jordão, onde são submersos
nas águas, usando as suas mortalhas. É uma preparação litúrgica para a travessia “final” da morte. Os gregos antigos
tinham os seus mitos relacionados com Caronte (o barqueiro que fazia a travessia do Rio Estige, que dividia o mundo
dos vivos do dos mortos, o Hades), os seus contemporâneos substituíram o Estige pelo Rio Jordão e Caronte por Jesus
Cristo. Esta prática ortodoxa também era marcadamente popular entre os Russos que visitavam a Terra Santa nas
décadas anteriores à Revolução Russa de 1917.]
Há, ainda, outros sítios a partir dos quais é possível ver o rio na sua parte a norte do Mar da Galileia, especialmente da
ponte que liga Cafarnaum a Betsaida. Na época de Jesus, esta era a fronteira entre a Galileia (território de Herodes
Antipas) e a Gaulanítide (território de seu irmão, Herodes Filipe). Finalmente, o Rio Jordão pode ser visto em vários
pontos próximos da sua nascente, no sopé do monte Hermon, especialmente em Dan e em Cesaréia de Filipe.
(adaptado do livro “Nas Pegadas de Jesus”, de Peter Walker)

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