Versos Gameleiros

Transcrição

Versos Gameleiros
COLETÂNEA POÉTICA
CAPÃO BONITO/SP
S
VO
O
N
Versos Gameleiros
Copyright© 2012 Dos Autores
Ficha técnica
Edição, Capa e Revisão
Juraci B Chagas e Rogério Machado
Diagramação, Digitação, Fotografia e Arte Final
Rogério Machado
Colaboração (indicações)
Ane Samara Santiago da Paixão (ilustrador Thiago) e Antonio Rodrigues de
Oliveira Neto (poetisa Raissa)
1ª edição 2012
VERSOS GAMELEIROS E CRÔNICAS CAPÃO-BONITENSES PARA DOWNLOAD GRATUITO:
Versos 2009 - http://www.slideshare.net/RMMachado/versos-gameleiros
Crônicas - http://www.slideshare.net/RMMachado/daqui-daldeia-a-crnica-capobonitense
Versos 2012 - http://www.slideshare.net/RMMachado/novos-versos-gameleiros
Sobre os ilustradores:
Me chamo Isabela A. Teixeira Rosa, nasci em Capão
Bonito/SP em 10 de maio de 1996.
Jovem, arrogante, impaciente e barulhenta.
“Permanecer verdadeiro não é pra qualquer um”
Thiago dos Santos Lara, capão-bonitense, nasceu em maio
de 1995 é filho de Maria Madalena dos Santos Lara e José
Juraci de Almeida Lara.
Capoeirista desde os seis anos de idade, cursa o Ensino
Médio e sonha ingressar numa faculdade de Biologia para
futuramente trabalhar com isso. Vive sua vida com base em
duas frases: “Não podemos mudar o mundo, porém
podemos fazer pequenas mudanças que trazem grandes
consequências” e “Todos os sonhos podem se tornar reais,
depende de como forem sonhados”
COLETÂNEA POÉTICA
Versos Gameleiros
S
VO
O
N
2012
Prefácio
Ao desbravar as surpresas impregnadas nas páginas adiante, o leitor irá
se deparar com um singelo pedido de desculpas humildemente justificado e
seguido da pertinente constatação da verdade irremediável, do mal pelos
avessos que não possui antídoto: o poeta não consegue deixar de poetar...
Justamente imbuído da nobre intenção de que poetas não deixem de
poetar é que o projeto filantrópico e cultural Versos Gameleiros, idealizado e
capitaneado pelo professor, poeta e pesquisador Juraci Chagas – pessoa
extremamente avessa à exposição gratuita ou à promoção pelo mero ato do
promover, mas talvez a mais importante figura a ser lembrada quando o
assunto em pauta é o resgate, o cultivo e o fomento da cultura local e regional –,
torna-se o veículo para que o bardo capão-bonitense veja palpáveis as suas
impressões, tanto as de cunho sentimental, emocional, psicológico ou social,
como os desejos e as angústias que diariamente tomam posse da alma, da
essência de cada um, tornando-nos a todos, não importando a linguagem
adotada para essa expressão, um transmissor dessas elegias, dessas lamentações existenciais, desses conflitos há tempos cantados.
Se no primeiro volume, publicado em 2009, a novidade, a expectativa e
a curiosidade davam a tônica da proposta, nestes novos Versos Gameleiros
ocorre a calcificação da ideia e do trabalho de alguns autores naturais ou radicados em Capão Bonito, mas há, sobretudo, a feliz e saudável surpresa de jovens
escritores trazendo para as linhas do livro suas ambições e seus descontentamentos, assim como seus medos, rebeldia e desafios; alguns autores remanescentes do primeiro volume também deixam as pegadas de seu estilo pelas folhas
vivas desta coletânea; e é justamente no encontro dessas jovens águas nervosas
e da aparente serena calmaria de outras gerações onde se dá a a foz em que
ocorre o equilíbrio, a síntese...
A análise quanto à inegável importância da obra pode - e deve - ser
mensurada considerando-se o cunho social implícito no projeto, afinal, além
deste trazer em seu alforje o prazer inerente às letras ainda serve às entidades
prestadoras de serviços sociais no município.
A proposta 2012 se renova com a participação de ilustradores, contando assim a obra com 12 autores, pois soma-se aos dez artistas das letras outros
dois artífices das linhas, ou seja, mais traços, luz, sombras e contornos, fazendo
valer a pena o peso de cada centigrama do livro, de cada centímetro nele impresso, enfim, uma história que se compõe nos dias atuais e que já se mostra eterna
em sua essência, cabendo, dessa forma, ao poeta, apenas as penas do poetar...
Rogério Marcos Machado – cronista gamelopolitano aborígine.
Versos Gameleiros
Agatha
Chamo-me Agatha
Fabiane Santiago da
Paixão, nasci em Intervales numa manhã de
frio e céu extremamente azul
no dia 18 de
junho de
1989, sou
professora
de Artes e faço parte de um grupo de jovens denominado CJ (Coletivo
jovem do meio ambiente).
Comecei a me interessar a escrever quando numa tarde de verão
eu mais dois amigos saímos pelas ruas de Capão Bonito, escrevemos
um poema juntos, a partir daí fundamos o grupo de poetas Vanguarda
Contemporânea. Logo começamos a participar do Jornal Freguesia
Velha.
Estou tendo a honra de estar publicando pela segunda vez
minhas poesias na coletânea Versos Gameleiros.
Às vezes falar
Não adianta
Olhar
Não acalma
Abraço
Não ameniza
Escrever às vezes basta.
5
Versos Gameleiros
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
(...)
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles - poetisa carioca
Agatha Fabiane Paixão
6
Versos Gameleiros
Somos Todos Escravos
da sina
da vida
corrida a sós
corrida coletiva e solitária!
Tem coisas que me fazem lembrar
Da palavra saudades...
Hora pois...a acomodação
Não será o pão que comeremos
Todos os dias...
Quero a inquietude... Jovial
Quero a paciência da lagarta
E esperarei meus dias de borboleta...
Agatha Fabiane Paixão
7
Versos Gameleiros
Pássaro
Quando vivemos
Intensamente
Não percebemos
O tempo...
Nos pegamos
Em uma janela
Pensando no
Antigo
Hoje é o passado
O passado é ontem
E vice-versa.
Agatha Fabiane Paixão
8
Versos Gameleiros
Solidão
Onde existe 1
Tem 2
Onde tem 2
Tem 4
(pensamento)
Sigo pensante
Andando vejo
Pessoas
Sorrisos, que não deixam a careta sair;
Invade alegria
A dois...
Talvez solidão?!
São quatro
Dois pensantes
Dois por fora
A solidão de dois
Invade...
Agatha Fabiane Paixão
9
Versos Gameleiros
Reflexo
Do forro vejo-me
Recostado no sofá
Um filete de luz
Escapa pela fresta da janela
Conexão
Dentro/Fora
Luz leva a ver fluidos.
Olho para
Fixa
Cala-se
Passa a bola pela janela
O reflexo dele
No troféu
Vem a cabeça do gato.
Agatha Fabiane Paixão
10
Versos Gameleiros
Thiago Lara
11
Versos Gameleiros
Novas perspectivas vêm chegando
Como estrelas
Descendo do céu
Novos mundos
Terra
Céu
E
Mar
Vida igual
Fogo
Água
E
Ar
A cabeça abre e fecha
Mais nunca no mesmo lugar
Amplia...
Agatha Fabiane Paixão
12
Versos Gameleiros
Brisa de um Suposto Verão...
O vento passa
Livremente
Portas e janelas
Pássaros voando
Coreografando o som
Nuvens misturam-se
Junto a fumaça...
Cores e formas
Natureza e homem
Uma coisa só mistura-se.
Agatha Fabiane Paixão
13
Versos Gameleiros
A Estrela Além de ‘Estrela’
Existe o brilho
Sem brilho
Não é estrela
Quatro se tornando dois
Onde está o brilho?
Só aparentemente
Mas dois
Estrela e brilho.
Agatha Fabiane Paixão
14
Versos Gameleiros
Lágrimas do Mundo
Água sai olho
Água sai terra
Água sai céu
Água, água;
Água sai torneira
Água sai da beira do rio
Bebe água
Bebo água
Sai água
66% de água
Corpo/Terra
Água sai mar
Água sai fruto
Entra e sai.
Agatha Fabiane Paixão
15
Versos Gameleiros
As nuvens brancas no céu
suspendem meus pensamentos
caminho pelas ruas
sol alto
adolescentes
vindo indo
crianças
indo vindo
na frente da escola, dá-se
o primeiro beijo
meus olhos refletem o sorriso da agonia
Podemos tudo!
Mas não somos tudo?!
Ah sim estamos em tudo!
nas folhas das árvores
nas ruas
nas manhãs frias
na sujeira entupindo bueiros
nas oportunidades e na falta delas
no caipira picando fumo
no abuso do poder
na falta de poder
na cultura
na massa
na asa da borboleta que pouso
nesta rosa branca...
Agatha Fabiane Paixão
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Versos Gameleiros
Vermelho
Olho virado
vidrado
contando as verdades...
talvez
Meu chapéu vermelho
cobria meu coração
você no meu colo
sem sorriso e
a marola me embalava
voei, voei, voei
como eu pensei
subjetiva eu
Não to de vermelho.
Lá
As coisas ficam
Espalhadas, empilhadas
E a nodoa do passado
Nunca vai sair
A vida e a tragédia
Seguindo, seguindo
Ate o fim que
Volta porque a aventura
Foi feita
ON...
Agatha Fabiane Paixão
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Versos Gameleiros
Celso
Antonio Celso dos
Santos, poeta capãobonitense que há quase
quatro décadas labuta na
seara das letras, na
constante batalha das
palavras procurando
transformar as rimas em
mensageiras de sonhos e
realidades sonhadas...
Desculpe leitor
amigo, mas poeta não
consegue deixar de poetar,
então vamos lá: estamos
falando de um menino que
nasceu em Capão Bonito,
funcionário público,
casado e pai de filhos
maravilhosos, filhos que a
vida cuidou de aumentar no decorrer dos anos, pois devido o seu trabalho muitas
daquelas crianças passaram a ocupar um lugar no seu coração de sonhador. Até
aquela que hoje é a mãe de todos chegou a ele assim...
Autor do livro de poesias Gente lançado em 1984, sempre com trabalhos
publicados na imprensa local, vem hoje através dessa coletânea procurando com a
sua participação somar algo mais num cabedal por si só já tão rico.
É sempre muito bom estar junto dos corações que sonham fazendo da
poesia seu veículo, sua linguagem de vida.
Nomeei minha participação nesta coletânea de Fragmentos, então curtam
os meus fragmentos em forma de poesia...
Obrigado!
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Versos Gameleiros
Um poema não é outra coisa senão um
sonho que eu realizo na vigília. O sonho e
o poema vêm da mesma pessoa. Eles
têm certas leis em comum. Tenho uma
relação de muito amor com o sonho. Vou
para a cama como se fosse para uma festa. O despertar
é quase sempre uma desilusão.
Tomas Tranströmer - poeta sueco ganhador do
prêmio Nobel de Literatura de 2011
Antonio Celso
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Versos Gameleiros
Ocê
Eu confundo sempre ocê cotra menina
Tão bonitona, tão charmosa como ocê,
Mas ela num tem essas cintura fina
Nem dá aquele calorão no coração quando a gente se vê.
Fico pensando nessa renca de muié
fazeno fila prá entra na minha vida,
todas bonitas, todas tão belas
mas nenhuma tão completa como ocê...
Essa maravia toda que ocê tem
não tá por ai de quarqué jeito a venda
então acorda logo minha prenda
e vem trazê logo pais pro meu vivê.
Rebenta logo a portera do silêncio
que a vida passa muito depressa
e logo nóis vamo enveiecê
até o ar que a gente bebe toda hora
nem bem entra já sai véio do nariz.
As veiz fico oiando pras estrelas
perdidinha e solitárias lá no céu
e então óio pra mim sozinho
quar foia seca que o vento leva pro léu....
Acorda logo esse seu coração lindo
e vem depressa pros braços desse milionário
que tem milhões de minutos pra gastar co cê...
Antonio Celso
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Versos Gameleiros
Pare!!!
Pode parar
com esse seu negócio
de querer que eu seja sócio
de uma briga por dia.
Fique sabendo que as minhas ações
rendem juros de emoções
no patrimônio da alegria.
Gosta de viver arranhado,
infectado e lanhado
é quem tem gata vadia.
Eu já prefiro e faço questão
de uma fêmea manhosa
toda linda, charmosa
a me afagar o coração.
Portanto, reveja seus projetos na vida
e analise querida
o que você quer do seu amor,
se for carinho, beijinhos e abraços
por favor crie espaços
e me deixe ocupá-los.
Caso contrário já conheço o caminho
e sei como sair sozinho,
tudo bem, já to vazando!!!
Antonio Celso
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Versos Gameleiros
Mulher
Você!
Sempre a eterna poderosa,
o ser completo e dominante
fazendo a vida acontecer...
Quem pensa a conhecer,
que sabe de tudo de você
muitas vezes apenas padece
de solidão e mau viver...
Menina, moça, mãe,
amiga, amante,
companheira, irmã...
Afinal, o que é mesmo você?
Muitas vezes só uma incógnita
que na matemática da vida
alterando a posição dos fatores
coloca nos seus devidos lugares
emoção, carinho, coração...
É... depender de você
transforma o homem em cidadão,
em parte integrante e atuante do mundo e da sociedade.
Faz um sonho tornar-se realidade
e realiza a felicidade
que ele sonha tanto ser...
Faça o homem e o mundo
onde ele habita e acontece
tornar-se alguém e algo melhor,
Mulher...
Antonio Celso
22
Versos Gameleiros
Perdoe-me
Talvez você não tenha notado
mas eu parti da sua vida já há algum tempo...
Arrumei todas as minhas coisas,
embalei meus sonhos,
dobrei muito bem as minhas esperanças,
empacotei todos os meus projetos de vida
e parti.... viajei cheio de marra!
Levando toda minha zanga comigo
não deixando nada pra você....
Mas a bagagem ficou muito pesada,
afinal de contas quando levamos
no nosso coração tudo aquilo
que deveríamos jogar fora
transformamos ele num mero depósito de entulhos...
Perdoe-me não por ter partido ou voltado,
Mas por não ter dito antes de tudo
o quanto eu amo você,
e que não importam as diferenças
nem as dificuldades,
afinal de contas o amor
tem como única função aplainar os corações
tornando-os capazes de se entenderem, se aceitarem
e se completando fazerem as nossas vidas mais felizes...
Nós é que precisamos descobrir a linguagem do perdão
e utilizando-a descobrirmos o sorriso lindo
que o ser amado tem
e nos apaixonarmos todos os dias....
Antonio Celso
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Versos Gameleiros
A Fortuna do Compadre
— Compadre!!
Mas que bardaridade é essa?
Ocê tá mais abandonado que chinelo véio!
Cadê aquela fiarada que vivia comendo do bom e do mió,
mamando bem e montados nas suas costa??
— Ara cumpade não seja mardoso,
os fio coitadinho tão cuidando da vida,
eles tamem não pode dá jeito em tudo não...
E a gente não tem curpa de ficá véio,
o pió é esse derrame marvado...
— É memo compadre... mais intão vamos dá um jeito nisso aqui,
começá jogano fora esse baú véio que só atravanca tudo...
— Não!! Aí tá toda minha riqueza, minha fortuna!!
— Fortuna? Riqueza? Ara compadre percizamos ajeitá isso.
Vamo fazê o seguinte: amarramo ele com bastante corrente e cadeado
e jogamo debaxo da cama. Ah! E ninguém mexe nele!!!
E assim fizeram os dois velhos,
e o compadre saiu pelo bairro anunciando que o compadre velho
tinha nos seus guardados um baú cheio de joias,
não entendia porque ele passava tanta necessidade
e era tão abandonado pela família...
Passado alguns dias o velho recebeu a visita dos filhos
que vieram em comissão tomar conta dele e da casa...
Nunca mais por ali passou a necessidade,
foram meses de paz e bonança para aquele velho coração sofrido...
Mas como tudo tem um fim, num final de semana o velho morreu,
Antonio Celso
24
Versos Gameleiros
foi um velório muito chorado por todos, principalmente pela família...
Terminado o enterro correram todos para a casa paterna
já fazendo planos de como aplicar aquela fortuna tão bem ganha,
afinal de contas foram meses e meses cuidando de um velho
resmungão, mas tinha válido a pena, afinal de contas o baú era grande
e muito pesado...
Foram minutos tensos até quebrar todos os cadeados,
abrir a tampa e se maravilhar com o conteúdo: foices, enxadas,
enxadões, picareta e uma botina velha...
Você Tem Todo Direito de me Esquecer!
Se você quiser esquecer, eliminar, apagar alguém definitivamente da
sua vida... Há pelo menos quase sete bilhões de seres nesse planeta à
sua escolha, desde que não seja eu...
Antonio Celso
25
Versos Gameleiros
Isabela Rosa
26
Versos Gameleiros
Nóis Treis
Me adescurpe sôdade
mais tenho de falá umas verdade pro cê,
inda gorinha memo
vortano da roça
e entrano na paioça
o véio coração disparô
amó de que na entrada, ali do lado esquerdo
meu pé de ipê tá com frô...
Parece que foi onte que tudo começô
eu e ela no baile, oio no oio
e os coração se enxergô
e não teve jeito de fugi
daquele oiá, sôdade...
Despois tudo aconteceu tão depressa...
a casinha na bera da estrada
cas rosera tudo muito bem cuidada
e o amô da minha vida sempre do lado,
Os minino foram chegano, cresceno
trazeno alegria, baruio e ino imbora cuidá da vida
e um dia, um dia triste demais ela tamem se foi
só ficamo nóis trêis sodade....
Mais um dia nós dois tamem havemos de i
só restano disso tudo que já vivemo
o véio ipê cheio de fror sózinho na bera caminho....
Antonio Celso
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Versos Gameleiros
Minha Herança
Tô convidano tudo oceis pro meu velório,
quero aqui do meu lado
o inteligente e o simprório,
aquele povo amigo
bão de quexo e bão de prosa,
tudo mundo qui nunca perdia um casório,
qui lá im casa se empapuçava até cum farofa....
Aquele povinho qui chegano de tardinha
guiado pelo bafo do churrasco
im vorta da fuguera
ia de fogo até de madrugadinha
papano tudo, até as pena da galinha....
O meu testamento tô fazeno aqui e agora
pegue tinta i paper pra anotá minha sinhora
i dispois passá pra rapaziada.
Dexo pro ceis tudo o qui foi meu,
tudo de bão, de útir qui mi pertenceu.
O ar qui respirei por tantos ano
dexo tudo ai ajeitadinho
é pra usá divagarinho...
O chão pur onde andei,
os caminho qui pisei, as estrada qui passei
podi usá, pisá, passia, i e vorta
só fazeno tudo cum respeito i direitinho
a natureza agradece com fror e perfuminho...
Da água tudinha qui usei
o qui sobrou fica correno por aí,
nunca sube donde ela vinha
chegano sempre doce e fresquinha,
cuidem bem dela pra mim...
Antonio Celso
28
Versos Gameleiros
A única coisa que num dô, num vendo,
mais impresto semeada no coração de cada um
e qui quero qui seja tratada cum muito, muito carinho,
é a sodade tudinha qui dexo
a cada um doceis um cadinho...
Súplica
Amor,
há quanto tempo penso nisso e nada falo...
Mas, de todas as pessoas que conheço, gosto e amo
você é com certeza a única que me causa medo, pavor.
Tenho verdadeira paúra da sua ausência,
fico com o coração gelado só de pensar:
E se você faltar na minha vida!
Portanto, sabendo disso
faça-me o favor de se olhar no espelho todos os dias
e se valorizar ao máximo!
Não deixe de se cuidar, de se amar,
mas se AMAR de verdade!
Não quero nada meia-boca, de faz de conta!
Afinal, a sua tristeza, a sua dor, o seu silêncio,
sua alegria, sua paz, seu equilíbrio
é o que compõe o meu dia, a minha noite,
faz, constrói e transforma a minha vida,
o meu quotidiano em (in)felicidade....
Amor,
de todas as pessoas do mundo, do MEU mundo
você é a única que pode me fazer sofrer,
ou não...
Antonio Celso
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Versos Gameleiros
Nós e o Tempo...
Egoístas!!!
Eis o que realmente somos com a vida,
afinal de contas cobramos do tempo,
principalmente do ontem apenas o melhor que ele tinha
e queremos do amanhã somente a felicidade que ele possa ter,
e do hoje?
Queremos desfrutar apenas somente os bons momentos
que ele tenha para nos oferecer...
Quando por acaso os momentos amargos acontecem
é porque Deus por alguma razão está nos cobrando,
ou nos impondo alguma sanção no viver,
quase sempre imerecida....
Que triste sermos filhos Dele sempre tão desamados,
tão mal queridos pela vida a receber sempre
contas tão salgadas, cobranças tão altas
por dívidas tão pequenas na nossa ótica tão desfocada das Leis
[Divinas...
Nós e o tempo somos eternos inimigos
buscamos fugir das suas regras sempre que elas
nos fazem ver nossos desacertos e o quanto eles
são nocivos para o nosso viver e no dos outros...
Não fugir do ontem e suas cicatrizes,
nem buscar no refugio do amanhã
o ópio das ilusões irrealizáveis,
e muito menos afastar-se do hoje
e das suas realidades, algumas difíceis de se viver.
O tempo é na vida a nossa melhor ferramenta
para trabalhar o nosso crescer...
O resto é apenas um acontecimento fugaz
a que chamamos destino...
Antonio Celso
30
Versos Gameleiros
Aline
Aline Nóbrega Rodrigues
Nascida em Santos/SP,
em 21 de outubro de 1983.
Cursando a Universidade de
Santo Amaro, no curso de
Pedagogia. Amante da
leitura e apaixonada por
escrever.
Nunca teve seus
poemas, contos e livros
publicados. Iniciou sua
jornada de escritora “autônoma” em 1992, guardando seus registros como verdadeiras relíquias
“tesouros escondidos”.
Agora viu-se a oportunidade “bater à porta”, podendo dividir
seu tesouro com outras pessoas.
Alguns breves poemas da autora são revelados neste livro. A
autora diz: “É com grande satisfação que divido, um pequeno pedaço
das minhas obras. Expressar os sentimentos em folhas é uma dádiva e
um consolo que Deus me deu, e a Ele agradeço. Não gosto de me
prender, exatamente a rimas, estrofes... Acho que atrapalha o fluir dos
sentimentos. Uso versos soltos, rimas ocasionalmente”
31
Versos Gameleiros
Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco
João Cabral de Melo Neto - poeta pernambucano
Aline Nóbrega
32
Versos Gameleiros
Lamentação
Essa chama intensa da paixão
Esse amor forte no coração
Essa indecisão
Ideias que vêm e que vão
Conflito dos sentimentos e emoção
O som distante de uma canção
Percorre caminhos pela imensidão
Sobre alegrias, tristeza, escuridão,
Sobre os trilhos da solidão.
Transborda essa sensação
De sentimentos em oposição
O meu ser em recuperação
Percorre esse caminho de sofreguidão
Os sentimentos me torturarão
Até o fim desta composição.
(16/05/2001)
Aline Nóbrega
33
Versos Gameleiros
Possibilidades
Tempo frio,
escuro e sombrio.
Refletindo sobre a vida
teço possibilidades.
Possibilidades que ficam escondidas
dentro de mim.
Meu ser grita em silêncio
Por não poder manifestar, com palavras
todo o meu querer...
O que será do meu amanhã?
É uma perturbação no meu pensamento.
Muita reflexão
e muito tormento.
Pensar menos e viver mais,
preciso assim, fazer
Ou não conhecerei a felicidade jamais...
(14/08/2003)
Aline Nóbrega
34
Versos Gameleiros
Paz
Paz,
ainda não conheço o real significado
desta palavra.
Pelo mundo afora
somente a guerra é vitoriosa
Desde o início dos tempos
até agora
Nem em meu lar,
nem na sociedade
Ainda não vi reinar
Paz...
Será que ela existe?
(14/08/2003)
Companheira Noturna
Oh lágrimas minhas
companheiras noturnas
lavem todo o meu ser
e me tornem mais pura.
(06/03/2004)
Aline Nóbrega
35
Versos Gameleiros
Venha Buscar-me
Venha!
Venha buscar-me, meu príncipe...
Me encante com teu olhar
Me fascine com o teu sorriso
Me envolva em teu abraço carinhoso
que me abrigará, me confortará, me assegurará...
Beije-me!
Beije-me macio, doce, calmo e incessantemente
como se beijaria uma meiga flor...
Toque-me!
Toque-me com as tuas mãos macias
que acariciarão meu corpo
e tocará minha alma, mente e coração... Só você...
Me domine com teu charme e sedução
E carregue-me em teus braços
até o infinito.
Irei contigo aonde for
Me doarei a você e somente a você.
Assim como me doarás
todo o teu coração, tua mente e teu corpo
A mim e somente a mim.
até o findar de nossas vidas.
Não me deixes só
Não deixe que o tempo continue passando...
Estou te esperando.
Venha...
Venha buscar-me, meu príncipe...
(27/10/2003)
Aline Nóbrega
36
Versos Gameleiros
Thiago Lara
37
Versos Gameleiros
Manifeste-se
Tantos desejos trancafiados
dentro do coração apertados
Ter que ocultar tanto sentimento
Não conseguir viver o momento
Enigmas brilham em meu olhar
Me tortura o meu pensar
Ter de ocultar tanto
e viver em prantos!
Felicidade...
você está aí?
Manifeste-se em meu ser reprimido
exalte meu ego
e faz-me transbordar alegria
Manifeste-se e permaneça em meu ser
Eternamente!
(14/08/2003)
Aline Nóbrega
38
Versos Gameleiros
O Outuno Chegou
Vem de mansinho ao entardecer
e rouba toda a cena no horizonte.
Suas folhas no chão a varrer
o calor e a brisa do dia se escondem.
Mancha o céu com seu doce alaranjar
um dia caloroso escondendo
Sem mesmo se notar
devagarinho vai nascendo...
...o outono chegou!
(19/03/2004)
Aline Nóbrega
39
Versos Gameleiros
Será Sonho ou Realidade?
Às vezes tenho medo
de viver a felicidade.
Depois de tanto desespero
depois de tanta crueldade.
A felicidade está em minhas mãos
resta saber o que fazer.
Tanta alegria no meu coração
mas tenho medo de viver.
Preciso viver e esquecer
o mundo e todas as tristezas.
Saber sempre agradecer
a Deus por tanta nobreza.
Será sonho ou realidade
tudo o que me está acontecendo
Tanta felicidade
agora estou vivendo.
(17/02/2004)
Aline Nóbrega
40
Versos Gameleiros
Sufocante Saudade
Tristeza que me sufoca
e insiste em ficar
Solidão que me apavora
e tortura o meu pensar
Quanta falta estás me fazendo
que sofreguidão o meu viver
Conflito no meu pensamento
confusão no meu ser
meu amor, amo Você!
(25/02/2004)
Aline Nóbrega
41
Versos Gameleiros
Sopra o Vento
É tão difícil
Ser um ser tão minúsculo e ofuscante
Em um mundo confuso
de seres tão grandes.
Me sinto carregada pelo vento
com toda a intensidade
Sem saber aonde vou
e se terei felicidade.
A névoa a pairar sobre a minha face
esconde a angústia do meu ser
escorrem-me lágrimas
Sem que venham a perceber
Procuro algo que não encontrei
Sem saber o que irei encontrar
Carrega-me o vento
vou aonde ele me levar
(10/06/2004)
Aline Nóbrega
42
Versos Gameleiros
Sonho Proibido
Às vezes me deparo
com loucuras a devanear
Tento jogar para fora
tento não sonhar.
Sonhos proibidos
sufocam meu ser,
Amor reprimido
tortura meu viver.
Tento esquecer
mas nunca consigo
Tento não me perder
estou em conflito.
Ajude-me, meu Deus, a esquecer
o passado, os sentimentos...
Para que eu possa viver
com alegria e contentamento!
(23/10/2009)
Aline Nóbrega
43
Versos Gameleiros
Juraci
Juraci B Chagas
Natural de Capão BonitoSP. Professor, cronista, poeta
bissexto e compositor musical.
Criador de temas musicais
ligados à cultural regional e
colaborador de jornais e
revistas da região de Sorocaba,
com participação em mais de
duas dezenas de antologias
poéticas.
Teve um livro publicado
pela Shan Editores (Porto
Alegre/RS), intitulado
Remansos e Correntezas, com
poemas e canções.
A nós poetas coube
A ânsia de querer
Coisas que jamais iremos ter:
O brilho da estrela,
O calor do sol,
Testamento
A essência do ser...
(Remansos e Correntezas - 2005)
44
Versos Gameleiros
Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas, que já
tem a forma do nosso corpo, e
esquecer os nossos caminhos, que
nos levam sempre aos mesmos
lugares.
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre, à margem de nós
mesmos.
Fernando Pessoa - poeta português
Juraci B Chagas
45
Versos Gameleiros
Vira-lata
Se por má sorte, mutilado e moribundo,
Encontrares, cambaleante, alguém na rua...
Abaixe os olhos, pois esse vagabundo
Está vivendo na desgraça, a culpa é tua!
Se o encontrares em meio ao lixo da calçada
Escrafunchando, como um cão, a cesta achada,
Passe ao longe, por favor, sem dizer nada,
Porque és o motivo dessa cruz pesada.
Deixe-o seguir amargurado e triste,
Seu vil caminho, seu destino imundo;
Algum dia entenderás tudo o que viste:
Somos todos nós, nas veredas deste mundo,
Pobres andarilhos, vira-latas desertores,
Desgarrados de Deus e maltrapilhos de amores!
Juraci B Chagas
46
Versos Gameleiros
Aula de Latim
Lupus, lupi, luporum
Lá vinha seu Zé Matarazzorum,
Com seu cheiro de sacristia
E ar de sexta-feira maiorum!
E tomem declinações:
Inquisição do nominativo,
Com um olhar no acusativo
De inferno ou purgatório!
Textos para a sabatina
E o famigerado exame oral,
Que tornava o velho mestre
Um dos membros do jurado
Do juízo final!
Quousque Tandem, Catilina?
E a barriga respondia:
Até a hora do almoço,
Data venia, ab ovo,
Arroz-feijão e taubaína!
Juraci B Chagas
47
Versos Gameleiros
Sem Saída
Para quem já avançou na idade,
A vida torna-se uma corrida
Atrás da cruel necessidade
Da fuga da certeza da partida!
Quando cessa a busca do prazer
E não há como se esconder a dor,
Só resta aceitar a caridade,
Como forma melancólica de amor!
A esperança, um pouco desiludida,
Apoia-se na fé, sublime intenção
De achar a luz, cura ou a salvação
Do rigor do tempo, beco sem saída!
Juraci B Chagas
48
Versos Gameleiros
Traviata
O que eu gostava de você
Era do seu lado B;
Porque o seu lado A
Eu teria que disputar
Com seus amigos,
Sua família,
Até com Jeová!
Por isso, sem nenhum encômio,
Aceitei, sem reclamar,
Sua parte meio demônio,
Para você se salvar!
Juraci B Chagas
49
Versos Gameleiros
Devaneios
Quisera poder possuir
O dom mágico de converter
O lutuoso cair da tarde
Num eterno alvorecer!
Convencer a cigarra indolente
A somar seu canto preguiçoso
Com uma sinfonia maior:
O chilrear alegre de andorinhas
E os arrulhos dos pombais;
O sibilar do vento manso,
Anunciando a chuva amiga
E o toque de recolher
Das roupas dos varais.
Quisera poder abortar
O parto da noite entristecida,
Rever a vida na alvorada,
No ritmo dos pingos que caem,
No tilintar surdo das latinhas,
Ao som do piano da vizinha!
Juraci B Chagas
50
Versos Gameleiros
Bromélia
Flor do Panema!
Apressa-te a olhar
A alegria das águas,
Sempre a caminho do mar!
E seja feliz com o momento,
Tão ligeiro com o vento,
Que acabou de passar!
Depois virá a realidade,
Seca como a saudade
Do que não vai mais voltar!
Juraci B Chagas
51
Versos Gameleiros
Isabela Rosa
52
Versos Gameleiros
Plenilúnio
É a lua cheia!
Os normais falam alto,
Os anormais gritam
E os loucos uivam!
Pobres de nós, mortais,
Cada vez mais,
Distantes da divindade
E próximos dos animais!
Juraci B Chagas
53
Versos Gameleiros
Amor Filial
Nossos filhos não nos amam,
Simplesmente nos mamam;
Oportunamente, nos trocam
Por qualquer fulano
Ou fulana,
Dando-nos, de quebra,
Uma banana!
Quase sempre nos deixam
No meio do caminho,
Desesperançados, carregando à esmo
Essa imensa ingratidão humana.
Mas continuamos a amá-los...
Assim mesmo.
Juraci B Chagas
54
Versos Gameleiros
Grazia Plena
Foz dos nossos lamentos
E fonte do meu consolo;
Represa de minhas mágoas,
Das nossas antigas chagas,
De minhas eternas manhas.
Margens do nosso caminho,
Leito que é o destino
E a esperança do amanhã.
Luz que nos é repetida,
Porque já foi concedida,
Quando concebeu Jesus!
Juraci B Chagas
55
Versos Gameleiros
Grão de Mostarda
Meu bom Jesus da ribeira
Dos altos da serra e do mar,
Fazei de mim Tua vontade,
Teu destino, Tua verdade
E do meu coração Teu altar!
E que esse grão pequenino
Da mostarda verdadeira
Seja semeado com mimo
Ao redor da terra inteira.
Divino farol e Eterna Luz,
Que esta ovelha conduz,
Leva-me apascentado
Pelos caminhos iluminados,
Deixados por Tua cruz!
E que esse grão pequenino...
Juraci B Chagas
56
Versos Gameleiros
Drika
Ad r i a n e C r i s t i n a
Bernardo da Silva (Drika)
nasceu em 18 de junho de 1994,
natural de Capão Bonito (SP),
filha de Abrão Pedro das Silva e
Nívea Aparecida Bernardo.
Teve uma infância
muito feliz, apesar das dificuldades.
Estudou na Escola
Estadual Padre Arlindo Vieira
desde a 5ª série do Ensino
Fundamental até a conclusão
do Ensino Médio, em 2011.
Seu hobby é escrever poemas, nos quais, consegue expressar
seu eu mais profundo e verdadeiro.
57
Versos Gameleiros
Morram meus amores,
mas enlouquecerei se morrerem meus
amigos,
pois não há algo mais precioso
do que uma amizade verdadeira...
Vinicius de Moraes - poeta carioca
Adriane Cristina (Drika)
58
Versos Gameleiros
Distância
A distância só é um
detalhe, quando há
Amor.
Só é um detalhe quando
há paixão.
Ela não pode me impedir
de te amar ou deixar que
eu pare de pensar em você.
A distância pode ser resolvida
através de vários passos do meu
coração até o teu, da minha
boca até a tua.
Enfim...
Adriane Cristina (Drika)
59
Versos Gameleiros
Preço Alto
Amigo sempre que precisar
de um ombro para chorar
ou simplesmente se alegrar
estarei sempre aqui para te ajudar
Em qualquer circunstância
em qualquer momento da
sua vida ou da minha
Por isso nunca desista da
vida, se for desistir me chame
antes pois te mostrarei motivos
para você não chorar ou desanimar
Às vezes, nos sentimos solitários
pensamos que todos os amigos
nos deixaram, mas isso foi um
mero erro, eles não se afastam
de nós, nós que deixamos de ver
o quanto vale aquela amizade.
Adriane Cristina (Drika)
60
Versos Gameleiros
Escolhas da Vida
Eu queria tanto saber
o amanhã
para entender o hoje.
Dessa confusão que estou
vivenciando, mas acredito
que o amanhã vai chegar
e esse sofrimento vai acabar.
Vou descobrir o que
verdadeiramente me interessa
ou o que vai fazer a diferença.
Mas eu ainda continuo
confusa, nos meus pensamentos,
a vagar na minha triste solidão.
Adriane Cristina (Drika)
61
Versos Gameleiros
Saída Demorada
Você acha que sempre
vou estar à sua disposição
mas não se engane não
Para mim, mudar de pessoa
é rápido, pois vou te tratar
como tu me tratas, como última opção.
Se cuide, posso ser sua inimiga
quando quiser, sua amiga
quando não puder.
Não se acostume comigo
algum dia desses posso
escapar da sua mão e voar
como um passarinho
sem destino.
Adriane Cristina (Drika)
62
Versos Gameleiros
Tento e Tento Demais
A minha vida é uma
montanha russa de emoções
um dia eu te amo, no outro
eu te odeio, na semana que
vem te amo nela toda.
Isso é tudo culpa sua,
pois você não sabe o que
quer e eu entro na sua
Meu coração tenta desviar
dessas curvas que há entre eu e você
mas às vezes há uma neblina
e acaba tropeçando
E sempre quem sofre com isso
sou eu,
sou eu, sou eu que sofro calada.
Adriane Cristina (Drika)
63
Versos Gameleiros
Lição de Amor
O amor é como
uma criança correndo
na rua, ele sempre estará sujeito
a riscos, erros ou acertos.
É um erro querer que
outro ser humano seja
perfeito, afinal todos nós
temos defeitos.
Defeitos ao longo da
caminhada, que nos ajudam
a ver que somos dependentes
amor ou algo parecido.
A decisão de hoje pode
sorrir para o amanhã
o amor é assim, o amanhã
depende de hoje.
Adriane Cristina (Drika)
64
Versos Gameleiros
Thiago Lara
65
Versos Gameleiros
Um Amor Cultivado
O amor, algo avassalador
algo que une uma pessoa
a outra com uma intenção,
o bem do outro.
Amo com tanta força
que se tivesse que parar
de respirar para que
você viesse eu o faria.
Esse amor ficará em meu peito,
vou guardá-lo em segredo
mesmo que eu venha adoecer
por ele.
Cuido de você a cada olhar
por onde quer que você ande
cuido de você como se fosse meu.
Sonho com seus abraços, sonho
com sua voz, me dizendo que
vai me amar
sonho com seu olhar.
Adriane Cristina (Drika)
66
Versos Gameleiros
Amigos
Às vezes, podemos estar
com muitas pessoas à nossa
volta, mas isso não nos faz
melhor ou mais sábios.
Esse grupo de pessoas mesmo
sem querer podem nos magoar,
ou nos ferir e com isso acreditamos
que todos vão nos fazer o mesmo.
Por incrível que possa parecer
ou não sempre há uma pessoa
com boa intenção.
Amigos, colegas podemos
escolher, já o amor não...
Adriane Cristina (Drika)
67
Versos Gameleiros
A Dor da Alma
Tudo me lembra
você...
meu respirar, meu
levantar, meu deitar
meu caminhar
Se eu pudesse arrancaria
do meu peito esse sentimento
que só me faz mal.
O amor deveria trazer somente
o bem, proteção, carinho e a
eterna certeza da felicidade.
Foi acreditando em tudo isso
que entreguei minha alma
ao amor, sem saber o quão
forte seria sua dor.
Adriane Cristina (Drika)
68
Versos Gameleiros
Deus meu Tudo
Quando estou só
Teu amor me conforta
Quando ninguém me vê
o Senhor vê as cordas do
meu coração e me segura
pela mão.
Só posso agradecer-Te
mais e mais, pois Tu
sabes o que eu quero,
sabes do meu passado
e não me julgas.
Conheces o meu pensar,
Conheces meus sentimentos
Tu és tudo para mim.
Adriane Cristina (Drika)
69
Versos Gameleiros
Lafayetti
- In Memorian João Lafayetti
Gomes Barreto —
pinhalense (SP) por
nascimento, mas
capão-bonitense de
coração — entre outras
coisas, poeta, contista e
cronista, pelo prazer de
escrever; adquiriu este
hábito quando, nos
tempos de estudante
foi nomeado redator
de O Lábaro, periódico
estudantil, onde, por
muitas vezes, tinha que completar espaços em branco das colunas.
CABELOS BRANCOS
(Versos Gameleiros - 2009)
(...)
Ainda sou criança,
É o que diz lá do fundo,
Meu coração compassado,
Que ainda sou criança,
Que ainda sou menino!
E, afinal, estou aqui,
Menino,
Menino de cabelos brancos.
O menino mais velho do mundo!
70
Versos Gameleiros
Se as coisas são inatingíveis, ora...
não é motivo para não querê-las. Que
tristes os caminhos se não fora a
presença distante das estrelas.
Mário Quintana - poeta sul-rio-grandense
Lafayetti Barreto
71
Versos Gameleiros
Vida
Eu sou a alegria,
Eu sou a beleza,
Eu sou toda a natureza
Que possa assim existir,
Sou a cigarra cantadeira,
Sou a borboleta faceira,
O beija-flor colorido,
Sou a flor perfumada
Que nasce à beira da estrada,
A brilhante gota de orvalho,
O voo do passarinho,
O ronronanar do gatinho,
Sou a estrela, sou a lua,
Sou o sol na cumeeira,
Sou a chuva criadeira
Que emprenha a semente no chão,
Sou o mel da abelha,
A pitanga vermelha,
Sou a cor, sou o verde,
O amarelo, o carmim,
E eu existo enfim,
Pra que você sorria,
Pois quem vive sorrindo, ama,
E quem ama me vê sempre assim,
Eu sou a vida!
Lafayetti Barreto
72
Versos Gameleiros
Capricho
Sempre me dizes: “Eu te amo loucamente.
E te adoro, e te quero, e te desejo!”
E logo depois, pura e simplesmente,
Te entregas num longo e cálido beijo
Mas tudo isso é mentira somente,
Pra saciar-te, está em mim o teu ensejo,
Pois saciado teu furor ardente,
Ficas arfante, e eu, esquecido me vejo.
Vendo-te depois, serena, dormindo
Tão displicente na cama ao meu lado,
Eu te beijo bem de leve, sorrindo.
Sonhando que teu amor tresloucado
Transmudasse agora e pra todo o sempre,
De capricho que é, para amor trocado.
Lafayetti Barreto
73
Versos Gameleiros
Amor de Verdade
Se o amor
Judia,
Entristece,
Não pode ser amor,
É castigo
E este nome não merece,
O amor verdadeiro
É sublime,
Enobrece,
O olhar de quem ama
Enternece, é alegre
Como o sorriso
E perdoa a quem ama,
E se preciso,
Finge que esquece.
Lafayetti Barreto
74
Versos Gameleiros
Quase
Minha vida é a minha penitência,
Até hoje não sei o que dela fiz,
Somente sei que na minha vivência
Jamais encontrei o amor que sempre quis.
E foi sempre um 'quase' a minha existência,
Tudo assim, por um quase, por um triz,
Por pouco, por tão pouco, e em consequência
Quase eu tenha chegado a ser feliz.
Inteligente, fui quase brilhante,
Fui quase rico, quase fui arruinado,
E do amor, a busca foi incessante,
E por um quase, fui castigado,
Pois te conheci, e te quis, e te amei,
E quase, quase, que por ti fui amado.
Lafayetti Barreto
75
Versos Gameleiros
Garoa
Madrugada, a garoa cai fina
Formando cones sob a luz dos postes.
Eu, mãos nos bolsos,
Cigarro apagado nos lábios,
Caminho sob a garoa,
Dentro da madrugada;
Os únicos sons que se ouvem
São os dos saltos dos meus sapatos
Ecoando na calçada molhada,
E, de vez em quando,
O ladrar distante de um cão vadio,
Talvez reclamando pela perda do sono.
E eu continuo andando,
Sem rumo,
Súbito, os faróis de um carro cortam a garoa
E se perdem numa esquina.
Continuo andando,
Sentindo a garoa fina
Molhando o meu rosto,
Misturando-se às lágrimas
Que correm dos meus olhos.
E eu continuo andando,
Andando...
Lafayetti Barreto
76
Versos Gameleiros
O Fim
O caminhar por uma longa estrada
Ora estreita, ora larga,
Pode ser curta ou pode ser comprida,
Ora bem reta, ora toda quebrada,
Feia às vezes, às vezes toda florida,
Sempre caminhando, não se pode voltar,
Não existe retorno nesta estrada
E nela só há de caminhar, caminhar;
Às vezes, com outra cruza,
Por outra às vezes é cruzada,
Às vezes com outra segue junta,
Ou então segue só, separada.
Esta estrada é a vida
Aqui assim ilustrada.
De repente, uma barreira erguida,
A estrada é interrompida,
É a morte, não existe saída,
E então tudo se acaba,
Tudo é esquecido,
E somente às vezes, talvez por piedade,
Levanta-se o pó do esquecimento
Tangido pela brisa da saudade.
Lafayetti Barreto
77
Versos Gameleiros
Isabela Rosa
78
Versos Gameleiros
A Pessoa e o Passarinho
A pessoa que passa vê um passarinho,
O passarinho que a pessoa que passa vê,
Vê a pessoa que passa.
A pessoa que vê o passarinho,
Pensa que o passarinho não a vê,
Mas o passarinho que a viu, voa.
E não se veem mais
Nem passarinho
Nem pessoa, pois
Voou o passarinho
E passou a pessoa.
Lafayetti Barreto
79
Versos Gameleiros
Benção
No sertão a lua nasce enorme, linda,
Clareando toda a mata portenta
Assim, como se o ocaso fosse ainda,
E então, o clamor dos insetos aumenta.
Pouco mais além, onde a mata finda,
Num rancho que a luz da lua acalenta,
Se ouve o som de uma viola tangida
E a voz de quem as tristezas lamenta.
E a linda morena, olhar suplicante,
Enquanto ainda o último acorde ressoa,
Abraça o caboclo, toda insinuante
Como se no cio, fosse uma leoa,
E se beijam, e na grama se amam,
E do céu, sorrindo, a lua abençoa.
Lafayetti Barreto
80
Versos Gameleiros
Onde Fiquei
A paineira velha à beira da estrada,
Que eu nunca mais vi,
Ficou lá atrás, perdida na poeira da saudade,
Na estrada da vida.
Lá ficaram também meus risos de criança,
Minhas alegrias
Minhas esperanças,
E eu segui só, ou só seguiu minha sombra,
Porque acho que fiquei lá,
À sombra da paineira velha
Que eu nem sei se existe ainda.
Lafayetti Barreto
81
Versos Gameleiros
Marcas
Solitário, caminhando pela praia deserta,
Cabisbaixo, pesado de recordações,
Fico pensando se do que vivi, do que passei,
Poderia alguém tirar algum proveito.
Das coisas grandes que fiz,
Das pequenas também,
Dos amores profundos, que seriam eternos,
Das dores,
Dos prazeres, que eram indizíveis,
Coisas que me marcaram profundamente
E que, indeléveis, estão no meu peito
Como as profundas marcas que meus pés deixam na areia
molhada,
Mas quando me volto
Vejo que as pegadas na areia não existem mais,
As ondas as apagaram,
Ninguém mais as verá,
Ninguém mais delas saberá,
E só existem as marcas profundas que estão no meu coração
E que aí permanecerão para sempre,
Para os outros, a onda grande do mar do tempo tudo apagou
E só restei eu,
Inexpressivo como as areias lisas da praia deserta.
Lafayetti Barreto
82
Versos Gameleiros
Juliana
Nascida na cidade de Capão Bonito,
aos 27 dias do mês de Novembro de
1986, filha de Júlio Ferraz da Costa (in
memorian), mais conhecido como
Júlio Norato, funcionário público,
trabalhava no DER e Vera Lúcia
Silveira da Costa, dona de casa e mãe
dedicada.
Lançou-se à arte de escrever poesias
aos quatorze anos, fortemente
influenciada e motivada pelo estimado amigo e professor Juraci Braz das
Chagas e professora Elzinha Francato.
Amigos e profissionais que sempre
apoiaram e acreditaram no desenvolvimento de tão bela arte.
É funcionária pública, atualmente
trabalha na Escola Estadual Prof. João
Baptista do Amaral Vasconcellos, na
Vila Aparecida. Participa ocasionalmente de publicações na imprensa local e, anualmente, no Prêmio Moutonée de Poesia,
na cidade de Salto/SP. Essa é a sua terceira participação em Coletâneas Poéticas.
...”Dedico meu trabalho, meu sonho e meu dom primeiramente a Deus que
tudo nos concede, à minha mãe Vera, ao meu pai Júlio, que nãoo está mais presente no
meio de nós para compartilhar tamanha alegria, a meu namorado Luiz Eugênio
Castanho de Almeida, que acredita e também sonha meus sonhos e me leva a lutar por
eles, ao meu grande amigo e eterno professor Juraci Braz das Chagas, que através das
sementes que planta, faz florescer sonhos na vida de todos aqueles que acreditam na
arte-poesia que traz beleza, vida, paz e luz para o coração de muitos.
Que Deus abençoe a todos.”
83
Versos Gameleiros
Minha alma é sobre uma pequena
Que encontra a si mesma.
Minha alma está crescendo.
Minha alma não tem mais
Medo de voar.
Erica Jong - escritora e educadora americana
Juliana Maria da Costa
84
Versos Gameleiros
Amanhecer
Em cada amanhecer a tua voz eu quero ouvir
Quero ter você para mim e meus sonhos dividir
Em teus olhos quero enxergar mais além
Sentir a sensação de paz que não sinto com ninguém
Em teus braços sei que posso encontrar abrigo
Um sentimento que do inesperado aconteceu comigo
Tuas mãos seguram as minhas tão fortemente
No bater suave de seu coração tudo acontece diferente
Nas noites frias em pensamento encontro você
Sinto suavemente a paz que me envolve sem perceber
E meu coração derramo na saudade que a ausência traz
Sei que é somente de você que vem essa paz
Nas palavras destes simples versos quero lhe falar
A distância não é mal que irá nos separar
Meu corpo não toca o seu no momento do adormecer
Mas o meu coração estará contigo, em cada amanhecer.
Juliana Maria da Costa
85
Versos Gameleiros
Teus Olhos
Ainda existe em teu olhar
O brilho triste de outrora
Meu coração esteve a pensar
Por que é que você foi embora
Em meio a noites tristes divaguei
No silêncio que a solidão causou
Tantas lágrimas derramei
Imenso vazio você deixou
Hoje revi teus olhos tristes
Que por eles me apaixonei
Meu coração a eles não resiste
E de saudades eu chorei
Reacendeu em mim o desejo
De tua pele novamente tocar
Em minha boca sentir teu beijo
Em meus olhos sentir teu olhar.
Juliana Maria da Costa
86
Versos Gameleiros
Eu só queria poder explicar
Que eu errei sem querer
Não tive a intenção de te magoar
Não tive a intenção de sofrer.
“Desculpa se eu Errei”
Eu sinto muito se magoei você
Disse tantas palavras sem querer
Mas eu jamais tive a intenção
De um dia magoar seu coração
Só não esperava afastá-lo assim
Para tão longe de mim
Queria poder apenas pedir perdão
E curar as feridas do meu próprio coração.
Juliana Maria da Costa
87
Versos Gameleiros
Esse Coração...
Vai, coração
Bate no peito descompassado
É esse o seu castigo
Por amar sem ser amado.
Vai, coração
Chora desesperado
Suas lágrimas são o resultado
De seus atos impensados.
Vai, coração
Deixa de sofrer assim
A dor que você sente
Dói também em mim.
Vai, coração
Deixa essa tristeza sem fim
Porque um dia essa saudade
Vai embora, vai sim.
Vai, coração
Deixa de sofrer magoado
Quem você ama
Não está apaixonado.
Então vai coração
Deixa essa paixão de lado
Porque um dia essa ilusão
Fará parte do passado.
Juliana Maria da Costa
88
Versos Gameleiros
Sua Ausência
Meus olhos estão tristes
Choram não sei por quê
Acho que sei o motivo
Choram por não te ver
Olhos tristes iguais aos seus
Eu jamais encontrei
Mas foi por esses olhos tristes
Foi por eles que me apaixonei
Senti meu mundo mudar
No instante em que você me beijou
Meu coração não pode se conter
E por você se apaixonou
Desejei te encontrar novamente
Para os teus lábios uma vez mais beijar
Mas você sempre esteve ausente
De saudades me fez chorar
A distância me afastou de você
E seus olhos tristes não mais vi
Meu coração ficou perdido
Noites solitárias eu vivi
Imensa saudade eu sinto
Longe de você estou agora
Volta, amor, aos braços meus
E prometa nunca mais ir embora.
Juliana Maria da Costa
89
Versos Gameleiros
Você
Eu espero você...
Como o coração espera alguém para amar
Como o sonho espera a hora certa para se realizar
Como as lágrimas esperam para escorrer
Como os sentimentos esperam para nascer
Como as mãos esperam alguém para tocar
Como os olhos esperam alguém para se apaixonar
Como os lábios esperam alguém para beijar
Eu encontrei você...
Como a mágoa encontra o perdão
Como um coração encontra outro coração
Como o desespero encontra a esperança
Como a amizade encontra a confiança
Eu amarei você...
Como a mãe ama o filho
Como a estrela ama o brilho
Como a noite ama a escuridão
E serei feliz então
Quando o seu coração amar meu coração.
Juliana Maria da Costa
90
Versos Gameleiros
Revelação
Procuro em meio às horas que passam devagar
Um sentido para completar os dias tristes que amanhecem
Como se o mundo de repente tivesse parado de girar
Porque todos os dias iguais e tristes parecem
Nas alegrias presentes nas recordações guardadas em mim
Busco encontrar os motivos para sempre acreditar
Que o mundo não parece tão triste e injusto assim
E que a cada dia que amanhece tudo pode mudar
Mas as noites tristes e de solidão insistem em me mostrar
Que as dores e angústias serão para sempre constantes
Tento apenas esconder as lágrimas e acreditar
Que basta um momento de luz para tudo ser como antes
Perdida estou nesta escuridão sem fim que sufoca o coração
Em meio às lágrimas que tornam meu olhar desesperado
Mas insisto em continuar a lutar contra a solidão
Buscando encontrar a luz que reanime estes passos cansados
Preciso reencontrar em algum lugar uma chama de esperança
Um momento de luz que se revele em meu coração
Para que uma vez mais eu sinta renascer a confiança
Junto com o dia que amanhece levando a escuridão...
...Dissipando as trevas e revelando a luz.
Juliana Maria da Costa
91
Versos Gameleiros
Thiago Lara
92
Versos Gameleiros
Pedaço de Chão
Não quero somente ouvir os pássaros a cantar
Abro o coração ao seu canto, deixo-o escutar
Para que das amarras e correntes que o prendem
Possa, assim, para sempre se libertar
O vento toca meu rosto e me faz acreditar
Que é a paz, imensa paz, que veio me confortar
Não ouço os barulhos do mundo lá fora
Nesse momento de silêncio deixo minha alma divagar
Na calma dessas águas sinto-me embalar
Deixo meu coração por essas águas se levar
Meus pés tocam as margens que estão a rodear
E sinto sua energia meu corpo renovar
O som dos pássaros, tantos pássaros a cantar
Trazem lembranças que há muito deixei passar
E cada vez que meus pés tocam nesse chão
Sinto que ali, a paz, eu posso encontrar.
Juliana Maria da Costa
93
Versos Gameleiros
Sei Onde Encontrar a Paz
Estou, neste momento, tentando encontrar
Braços onde eu possa descansar
Onde eu sinta paz em meu coração
Onde não se conheça mais tristeza ou solidão
Nestes braços quero deitar e ouvir
Palavras que me fazem o bem sentir
Encontrando em sua presença imensa paz
Amor eterno que o mundo não desfaz
Nestes braços quero o carinho encontrar
Conhecer o verdadeiro sentido de amar
Nestes braços sei que posso encontrar a luz
E a luz só se encontra nos braços de Jesus.
Juliana Maria da Costa
94
Versos Gameleiros
Amigo, Meus Versos para Você
Amigo, senta aqui ao meu lado, contigo eu quero conversar
Quero falar de coisas que meu coração esteve a guardar
E com você, agora, eu quero compartilhar...
Amigo, tantos momentos de dificuldades você me viu enfrentar
Sempre estendeu os braços, esteve pronto a me ajudar
Em todos aqueles momentos em que eu não podia mais acreditar
Você me trouxe para fora da escuridão, a luz e a paz me fez encontrar
Por tudo quanto você fez para me ajudar
Amigo, todos os dias por você irei a Deus rezar
Amigo, foram tantos anos de juventude que nem vi passar
Tantos anos passados ao seu lado, como gosto de relembrar...
Foram alegrias e tristezas, tantos sonhos a compartilhar
Amigo, como me sinto feliz, por essa amizade tudo suportar...
Amigo, perdoa essas lágrimas que não posso segurar
Elas caem livres para todo meu carinho demonstrar
Amigo, se um dia eu te magoei e te fiz chorar
Perdoa, meu amigo, jamais eu quis lhe machucar
Se não fui capaz de suas lágrimas um dia secar
Sei que tentei, amigo,pelo menos lhe confortar
Não importa o tempo que for, quanto tempo se passar
De você, amigo, para sempre irei lembrar
Conte comigo em todos os momentos que precisar
Eu estenderei os braços, se preciso for para te abraçar
Compartilha, amigo, a felicidade que é preservar
Uma amizade sincera, que o mundo não pode separar...
São palavras breves, meu amigo, mas são para você recordar
Que as marcas dessa amizade, jamais irão se apagar.
Juliana Maria da Costa
95
Versos Gameleiros
Biografia ou
Retrato transcrito
Sou Osvaldo de
Oliveira,
o propenso escritor
contemporâneo de
Capão Bonito.
Escrevo para todos os
provos sobreviventes
à idiocracia instalada
nas raízes populares;
sou o fruto do niilismo
humanista
e da PNL ocultista.
Em luto à poesia,
faço em palavras as
minhas heresias.
Escrevo para todos os poetas,
mas escrevo sem ser poeta.
Quando invoco em minha essência
os sentimentos sob o olhar contemplativo,
não caio na teia entediante
das palavras arcaicas
usadas pelos meus mentores poetas inativos.
Sou apenas uma quimera,
um sampleador ambulante de idéias sincréticas,
um rascunho de murmúrios desiludidos,
uma escatologica displicência
dos valores oriundos,
dos valores vigentes,
o retrato apodrecido
o borro,
da arte dos vagabundos,
o esporro,
a caricatura antropofágica
a revelação hidropônica
da sociedade burlesca
da beleza irônica e antagônica
e indefesa
que nos circunda dia a dia,
perante o reflexo de si mesma.
o retrato obsceno
96
Versos Gameleiros
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e
faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Cora Coralina - poetisa goiana
Osvaldo de Oliveira
97
Versos Gameleiros
A Arte Pela Arte
Quando se dedica para alguma arte,
Na pretensa tentativa de criar
bancando o criador que há dentro de si,
descobre-se que nem o criador fez sua obra-prima em todas as suas
[tentativas;
só é iluminado e divino porque não assinou seu nome em tudo o
[que pariu.
Pretensão humana ridícula e egoísta
A de assinar seu nome em tudo que é de sua autoria;
Que intolerância egoísta é essa que o obriga a esperar algo em troca
de seus esforços?
A arte pela arte:
Uma idéia a ser parida.
Meus escritos
Não são e não querem ser reconhecidos,
Não pretendem ser lembrados,
Apenas existem porque em certo momento surgiram. E nada mais.
A arte pela arte
apenas liberta a alma
para o caminho do desapego,
O caminho das luzes,
o caminho das trevas,
o caminho das criações divinas
A arte pela arte:
Uma idéia a ser parida.
Osvaldo de Oliveira
98
Versos Gameleiros
Duelo da Natureza
Como se fosse árvore velha, cheia de galhos e frutos
O prepotente arbusto observa a chegada dos ventos da tormenta;
Os raios queimam o verde ao seu redor e a penumbra dispersa
Seus galhos secos e suas raízes não são profundas o bastante
Para segurá-lo no ventre da terra,
Assim o velho arbusto se vai na tormenta,
Com ele, se vão também os seus futuros frutos,
Os seus futuros galhos,
A sua existência descartável,
E inevitável,
O mártir de existir, o mártir de morrer para haver vida
No denso vento dos ciclos da natureza.
Osvaldo de Oliveira
99
Versos Gameleiros
Isabela Rosa
100
Versos Gameleiros
Caos Diário
O caos das ruas,
as buzinas durante o dia,
as festas durante a noite,
os carros ensurdecedores,
as motos estridentes,
os inacabáveis outdoors,
as vitrines ludibriantes,
as câmeras registradoras,
os ônibus poluentes,
os mendigos sem dentes,
as ovelhas castradas,
as cadelas promiscuas,
os burros alienados,
os porcos fardados,
os burgueses de nariz empinado,
o cheiro enjoado de algo requentado na hora do trabalho,
a fome durante um serviço cansativo,
toda a merda urbana que vivemos no dia a dia,
toda essa droga eu trago para meus pulmões
e numa puxada forte inspiro o ar podre da cidade:
eis o caos diário da urbanidade
o caos que punge os pulmões de quem acorda e respira.
Osvaldo de Oliveira
101
Versos Gameleiros
Lótus Regression
Regresso ao corpo físico
Quando as pétalas da lótus
Aspergem-se pelo ar
E eu novamente estou no ventre da terra;
Um instante lúdico e vibrante
Pulsou em minhas veias
O sangue ficou quente
E em minha testa um olho brilhou pulsantemente:
A revelação fatídica do frenesi epifânico
Me revela os olhos do homem,
Os julgamentos dualísticos do homem,
As idéias falsas que só existem com a existência do homem;
Vejo também a face de Deus sem as mascaras de nossos juízos
mortais
Vejo a natureza como ela é,
E fico sem palavras para descrevê-la
O homem brinca de ser Deus
Tenta ser seu próprio Deus
Mas sua visão conturbada de humano
Seria ofuscada pela verdade inerente
A verdade que não pode ser descrita em palavras
Mas percebida através do desapego.
Osvaldo de Oliveira
102
Versos Gameleiros
Palavras Caprichadas
Meu sagrado tempo se passa
A cada instante
Em que dedico palavras
A este papel inútil
O mais eufemista diria que é poesia
Em sua leiga inocência
E desse comentário eu diria ser ironia
E sem esta idéia pretensa
Há um tempo atrás
Um poeta me disse
Para lhe enviar minhas “poesias” até certo dia
E disse para caprichar nelas
Então em honra
A tua esperança lírica
De poeta
Lhe dedico este rabisco
Na santa fé
De que não desapontarei
Em qualidade e poetismo
Sem a presença essencial
de minhas palavras chavões
tal como merda, lixo e etc
As palavras de meu sábio amigo poeta.
Osvaldo de Oliveira
103
Versos Gameleiros
Palimpsesto Niilista
Às vezes, imaginando possuir um poder total,
Ainda hipoteticamente, bancando Deus, me pergunto
Que faria eu para melhorar o mundo a minha maneira?
Logo vejo, com os olhos cheios de lágrimas que nada poderia ser feito.
Que um trabalho de reparação,
Prodigioso e belo, nada têm a ver com o ato de criação divino.
Que homens reparadores, revolucionários,
São como iconoclastas, arquitetos da destruição,
Moldadores e preservadores da tradição guerreira de lutar por suas
[convicções.
Gostaria de restaurar a dignidade,
O auto respeito, verdadeira fraternidade,
Confiança própria e amor à natureza,
Mas infelizmente o homem não é mutável
E ainda virtuoso e propenso a transmutar-se
Como nos tempos de Henry Miller,
Hoje o homem parou sua evolução,
Retornou ao estado antigo de letargia,
Como um rebanho informe e irracional,
Obediente a opiniões ideológicas mutáveis
Cujos valores são estabelecidos por teóricos políticos.
Sinto que é tempo do planeta questionar seus valores,
Suas crenças, suas verdades que o sustentam,
Uma vez mais é necessário que pecadores,
Mendigos, legisladores,
Marketeiros, militares e todos os demais
Perguntem a si mesmo que porra estão fazendo com suas vidas;
Seria possível hoje, para nós,
Fazermos um inventário de nós próprios? Ou é tarde demais?
Às vezes parece impossível.
O possível realmente de forma aparente
É mudar as massas de um lugar para o outro
Osvaldo de Oliveira
104
Versos Gameleiros
Como tábuas de madeira, movê-las como peões,
Chicoteá-las até que fiquem frenéticas,
Ordenar-lhes que matem sem mais delongas,
Especialmente em nome de nossa justiça,
Mas será impossível mandar que vivam suas vidas inteligentemente,
Pacificamente, belamente?
Existem somente, entre os homens,
Somente aqueles que vivem e aqueles que modorram?
Somente aqueles que vivem e aqueles que morrem?
Jesus já houvera dito: “que os mortos enterrem os mortos”
Sei que é difícil preservar senso de humor
Em um mundo que produz bombas atômicas
Como hortaliças cintilantes
Mas se houvesse senso de humor mais forte na humanidade
Talvez não precisássemos recorrer
Aquela dolorosa experiência
De autodefesa por extinção mútua dos revolucionários.
Isso me remete a uma outra pergunta:
Se todos os homens virtuosos e revolucionários
Se unissem num exército
Sem armas, bandeiras,
Emblemas e ideologias
Unicamente para um fim comum,
O de alcançar a paz e a civilidade,
Seria esse o fim da humanidade ou o início de uma utopia?
E que seria a utopia,
Senão uma série de mudanças benéficas
Impossíveis de serem alcançadas pelo velho homem
Que habita nossos corações totalitários?
Que seria de verdade isso que chamamos de utopia?
Para mim, a realidade é mais utópica
Que as mais gloriosas e virtuosas
Verdades humanas. E tem sido...
Osvaldo de Oliveira
105
Versos Gameleiros
Reflexão Psicotrópica
Os melhores anos são os vividos agora,
Os instantes que se passam se vão ao calor de seu breve momento.
Os breves instantes que vivemos e já se foram decidirão os breves
momentos seguintes que virão.
Todas as malditas regras morais deste mundo nunca me pareceram algo
mais que idéias para serem jogadas no lixo,
Convenções arcaicas de sociedades extintas,
Fantasias atrofiando a liberdade de escolha do ser humano.
No humano, presenciei desde cedo,
empiricamente e intuitivamente
o seu lado negro e secreto.
Sua natureza hermética,
Sua imagem e semelhança divina,
O berço onde descansa o caos e o equilíbrio
O céu e o mar,
O claro e o escuro,
O bem e o mal,
Todas as malditas reflexões ambíguas que a escolha de racionalidade nos
impele a ter,
Toda a liberdade que um macaco tem do homem por diferença
cromossomica,
Toda a suposta inteligência e civilidade que nos ilumina e consagra como
gente.
Escolhi nesta vida ser o que eu quiser,
Não amar a Deus ou ao diabo, mas sorrir para ambos oportunadamente,
Pois eu, em minha condição humana, não deixo de ter dentro de mim as
duas faces da moeda.
Penosas armas mortíferas de nosso livre arbítrio
De que vale uma vida longa cheia de limitações sistemáticas
Que me distanciem da minha essência animalesca?
Quero morrer rindo do meu estado, convicto de que vivi o melhor que
pude todas as coisas que a vida me fez enfrentar.
Osvaldo de Oliveira
106
Versos Gameleiros
Homem! puro reflexo narcízico de Deus encarnado,
Natureza caótica orquestrada pela corrupção,
Jogo divino de forte e fraco,
De cruz e espada,
De morte e vida.
Crueldade divina
penitencia divina,
morte para a vida,
Vida para a morte,
dá no mesmo no final,
Adubo para o chão
e nada mais.
Poder e Conquista
Não é o homem
Que se adapta
Ao seu meio
É o seu meio
Que se adapta
Ao homem.
Transforma a pintura in natura
Da natureza crua
E recria seu berço.
Não mais a natureza dita à vida
A sua própria melodia
Hoje a compulsão humana
Dita à vida a sua melodia
Regida pela sua loucura
De conquista...
Poder e conquista...
a qualquer custo.
Osvaldo de Oliveira
107
Versos Gameleiros
Suave Pecado (O Sádico)
Eu amo sua pele branca
e nua
Eu amo sua pele fria
e crua
Eu amo o jeito que você me olha
Eu amo o jeito que você se machuca
Oh! Meu anjo, como você é linda
Oh! Meu anjo, adoro ve-la perdida
Deixe fluir o pecado
Você sabe que isso me agrada
Eu amo a sua maneira de me temer
Eu amo a sua maneira de me querer
Eu amo o jeito que você me idolatra
E eu amo ve-la perder-se de si mesma
Suavemente
te amo até a hora que você vai embora
Eu amo o jeito que você me olha
Eu amo o jeito que o pecado te devora.
Osvaldo de Oliveira
108
Versos Gameleiros
Versos Podres
Esta droga de rabisco
Escrito no caderno
É a brilhante idéia
Que ninguém teve até agora
Ou que alguém já teve
E ninguém ficou sabendo
A idéia dos versos podres!
Dos versos sujos!
Dos versos análogos aos nossos tempos,
Dos versos refletidos em nosso meio
Os versos podres só nascem
Nas almas selecionadas
Por Deus
Para espalhar o escárnio em nossa terra
Quando ninguém mais se lembra
Do absurdo que se passa
Os versos podres
Não são proferidos por radicalistas religiosos
Mas por verdadeiros homens de coração livre
Ungidos pela vontade
Homens que vêem na podridão
O retrato mais sincero da realidade
A podridão da realidade
Na podridão destes versos!
A podridão destes versos
Para os homens despertos!
Osvaldo de Oliveira
109
Versos Gameleiros
Raissa
Me chamo Raissa
Moraes, nasci em Capão
Bonito. Começei a
escrever quando li pela
primeira vez as obras de
Álvares de Azevedo, este
que é minha adoração e
minha inspiração . Adoro
musica, amo escrever
quando estou ouvindo
alguma banda que gosto,
Nightwish, Evanescence,
Tarja Turunen, estas
também me inspiram a escrever.
Para mim escrever é como uma terapia, são lagrimas que saem da
alma em forma de palavras, são palavras que aliviam a dor, são lembranças que nunca se apagaram.
Escrever é estar conectado em um outro mundo, é estar viajando
sem sair do lugar, é conhecer os sentimentos sem realmente senti-los, é
estar vendo além dos outros.
Minhas poesias são simples, mais são muito importantes à mim,
são palavras sinceras, são declarações, são simplesmente o meu mundo.
110
Versos Gameleiros
Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz, foi
para cantar! E se um dia hei-de
ser pó, cinza e nada que seja a
minha noite uma alvorada, que me saiba
perder... para me encontrar...
Florbela Espanca - poetisa portuguesa
Raissa Moraes
111
Versos Gameleiros
Sem Nome
Sinceramente, minha história
Não é nada
Minha trajetória é inútil
Sou aquela sem nome
Um ser desprezível
Um alguém inútil
Um sem nome, aquela sem alma
Sinceramente, sou renegada pela vida
A ignorada pelo mundo
A humilhada pela morte
Um ser despresível
Um alguém inútil
Um sem nome, aquela sem alma
Vivendo sozinha
Chorando sozinha
Sangrando sozinha
Aquela sem nome, sozinha e sem alma
Raissa Moraes
112
Versos Gameleiros
Minha Assombração
Encontre-me ao amanhecer e me abrace novamente
Não quero mais nada, apenas você em meus braços
Venha e me faça sentir, me faça real
Mostre-me que ainda estou viva
Minha assombração, venha e me faça sentir
Sente-se ao meu lado e me ame outra vez
Mostre-me o paraíso que sempre quis
Encontre-me na escuridão e me siga
Segure minha mão e me conduza
Olhe dentro dos meus olhos e diga o que vê
Encontre-me ao amanhecer e me ame outra vez
Minha assombração, venha e me faça real
Sente-se ao meu lado e segure minha mão
Minha doce assombração vamos fugir para qualquer lugar
E quando o amanhecer nos tocar me abrace novamente
Raissa Moraes
113
Versos Gameleiros
Senhora da Lamentação
Me dê um motivo para continuar
Me dê uma razão para respirar
Me dê um incentivo para tentar novamente
Não sei mais como continuar
Estou tão só aqui
Sozinha abaixo da superfície
Não consigo sentir mais nada
Me dê uma razão para poder sorrir novamente
Me dê um coração que não esteja quebrado
Ajude-me, sozinha não vou conseguir
Sozinha abaixo da superfície, eu temo
Meu fim está próximo
Oh, doce senhora da lamentação
Oh, doce e imaculada escuridão
Oh, doce destino que arrasa comigo novamente
Como posso ficar tão frágil?
Parece que meu mundo acabou
Não consigo mais respirar
Oh, doce senhora da lamentação
Divina escuridão
Doce destino que me mata novamente
Raissa Moraes
114
Versos Gameleiros
Último Suspiro
Seguindo na escuridão da noite
Sozinha, perdida, com frio
Andando por ruas lamacentas, esperando o fim
Guardando meu último suspiro
Para o momento certo
Seguindo sozinha para meu sombrio destino
Guardando meu último respiro
Olhando o que minha triste vida se tornou
Guardo dentro de mim todos os meus sentimentos
Fugindo de mim, seguindo para o fim
Segurando meu último suspiro
Quero mergulhar no meu fim
Esquecer o nada que me tornei
Segurando meu último suspiro
Não quero ver piedade
Não quero anjos junto a mim
Deixe-me cair, deixe-me afundar
Estou seguindo para minha morte
Guardando meu último suspiro
Para o momento certo
Fugindo de mim, seguindo para o fim
Segurando meu último suspiro
Quero mergulhar no meu fim
Pequeno anjo, quero esquecer quem sou
Perdendo meu último suspiro
Raissa Moraes
115
Versos Gameleiros
Paixão Negra
Eu fecho meus olhos
E tento apagar
Sua imagem da minha memória
Vivendo a paixão negra
Os dias passam
As pessoas se vão
E eu continuo aqui
Vivendo a paixão negra
O sonho acabou
A música terminou
Nada restou
Apenas a paixão negra
O mundo perdeu a cor
As rosas perderam o cheiro
A tristeza invadiu todo o ser
Lutando contra a paixão negra
Estou aqui olhando pro nada
Aqui estou eu pensando em você
Eu fecho meus olhos
Morrendo pela paixão negra
Raissa Moraes
116
Versos Gameleiros
Deixando o Resto
Em meus olhos tento ver
O que me resta para lutar
Estou resgatando a dor e deixando o resto
Seguindo meu caminho, com demônios ao meu lado
Respirando o ódio, sofrendo com companhia
Resgatando a dor e deixando o resto
Caminhando com Lúcifer eu continuo
Levando memórias e tristezas
Resgatando a dor e deixando o resto
A hora chegou
A luz acabou
Resgatando a dor e deixando o resto
Raissa Moraes
117
Versos Gameleiros
Thiago Lara
118
Versos Gameleiros
Sensações
Pessoas vazias
Lugares frios
Sonhos perdidos
Anjos abandonados
Asas quebradas
Luzes apagadas
Corações dilacerados
Pessoas sombrias
Almas mortas
Seres sem explicação
Cores sem noção
Sentimento sem explicação
Raissa Moraes
119
Versos Gameleiros
Escute
Escute o chamado que vem de longe
Preste atenção e sinta
A tristeza se aproxima
Ouça o ruído que vem do norte
Ondas quebrantes, ventos fortes
A melancolia está próxima
Olhe ao redor e fique atento
Tudo está desvanecendo ao pó
A inocência se foi
Escute... O som agora está próximo
Gritos de dor, cheiro de sangue, guerra sombria
Delicie-se a morte chegou
Raissa Moraes
120
Versos Gameleiros
Pequenos Detalhes
Os dias passam
As horas se esvaem
Tudo passa em ritmo acelerado
O mundo muda
As pessoas mudam
Tudo se transforma
Eu e você
Pequenos detalhes que ainda resistem
Pequenos demais para terem importância
Pequenos detalhes
Luz e trevas
Amor e ódio
Pequenos seres sem importância para o mundo
Grandes demais um para o outro
Pequenos detalhes
Pequenos pedaços que não significam nada
Grandes o suficiente para machucar
Pequenos detalhes, amor e ódio, luz e trevas
Raissa Moraes
121
Versos Gameleiros
Volta
De que adianta o paraíso
Se o inferno vem antes?
De que adianta a luz
Se sigo na escuridão?
Meu anjo me deixou aqui
Disse que eu precisava aprender
Estou abandonada... Sempre abandonada
Dia solitário, noite fria, morte lenta
Estou acorrentada aqui
Jogada dentro de quatro paredes mortas
Ei? Cadê você anjo?
Você me esqueceu aqui?
Não! Você não pode me deixar!
Dia solitário, noite fria, morte lenta
Raissa Moraes
122
Versos Gameleiros
Rojer Rÿoz
Rogério Marcos Machado
([email protected]), poeta
escritor e jornalista, participou
de diversas antologias poéticas e
concursos literários Brasil
adentro e, em 2002, lançou
Gatos Apimentados (Scortecci
Editora/SP).
Entre seus autores favoritos
estão L. F. Veríssimo, Machado
de Assis, Dostoievski, Franz
Kafka, Jack Kerouack, William
Burroughs, Mário de Andrade,
Edward Lear, Mário Quintana,
García Márquez, Oscar Wilde,
Fernando Pessoa e outros de igual qualidade.
Capão-bonitense até a última unha do pé, confessa extrema
alegria em participar de tão importante coletânea em par com outros
cantadores desta mística Terra Gamelis.
Nota do Poeta: Os versos de abertura são uma
homenagem ao querido e espirituoso avô Joaquim
Mendes Machado, falecido em agosto de 1991, e
posteriormente deram origem a dois outros poemas:
Coisas Que Só o Tempo Pode Fazer Igual e Ao
Planeta, ao Universo, a Mim, peças integrantes do
livro digital Linhas para Depois do Acaso (2011),
disponível para download gratuito no endereço:
http://www.slideshare.net/RMMachado/linhas-paradepois-do-acaso
123
JMM (1912-1991)
Versos Gameleiros
No entanto, não sei se é por causa das
águas, deste ar que desentoca do chão as
formigas aladas,
Atitude ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.
Adélia Prado - poetisa mineira
Rojer Rÿoz
124
Versos Gameleiros
Você me diz coisas que colheu na juventude
e nessa ânsia de seguir os seus passos eu posso cair
Não sei se o que impele a essa dor do mundo
é o ódio que reside em nós
mas é certo que todos sentiremos o frio...
As frases sarcásticas ficaram no ar
Seu sorriso infantil parece renascer
Eu vejo em você uma luz sobre meus medos
mas ele se transformam e são mutantes
Quem irá nos restituir a paz? O ato espontâneo da vida!
Os cavalheiros e seus acordos
não há lirismo nessa doença chamada poder
Eu vejo um homem tolo e seu tambor solitário
vivendo ao compasso do tempo
...e brilham as luzes da América
...e soam a vozes da África
...e soam tambores Tupis
mas eu sinto que ainda não sabemos que somos livres,
na essência do ser... livres...
Não sei se é sede ou fome
mas é algo que existe em mim também
Seus olhos me olham confusos
diante da vida, diante de tudo
Não queria nunca lhe falar dos jogos de guerra
não queria ouvir seu pranto desnecessário
não chore por mim, nem por você
não é para isso que estamos aqui
A vida nos recicla e nos faz ver sentido
nos farrapos do mendigo que também somos
Você me diz coisas que colheu na juventude
e nessa ânsia de seguir os seus passos eu posso cair
...e beijar os seus pés...
Rojer Rÿoz
125
Versos Gameleiros
Testamento
ao morrer
leve é a certeza
de levar a tristeza
de não ter vivido
não ter causado
não existido
não ter criado uma guerra civil
não tecido a grande revolução
passado como passado
– uma fábula rasa –
parábola em branco
ao morrer
estanho será a dor
de não ter sofrido
não ver provado
do mal de não ter amido
como deve ser doída
a sensação de não ter sentido
não ter ousado
não ter havido
ao limiar do morrer
incerto ainda é não rir o riso
o retesar do arco do triunfo
o esperanto de ser fado
com a espera a espreitar
pelas frestas aletas
lápide em branco...
Rojer Rÿoz
126
Versos Gameleiros
Oração Insubordinada aos 4 Ventos
leve é o vento que a tudo enreda e enleva
hálito de alento
pressa pulsante pelas frestas-burca das janelas
leva do voo sem aço dos assanhados sanhaços
– pássaros palhaços, doninhas do ar –
ao estético esboço do esquelético balé sem osso das folhas
em seu infiel farfalhar
lisa, navalha e fina é a brisa que arresta os torrenciais dormentes,
presentes dias e dentes nos fios vis dos meus pensamentos
nave que carrega e entrega lembranças deixadas de lado – aladas
como se feito um postal, uma história esquecida no vaso volátil
da valise de um memory card
ao apalpar os flancos das flores ou os florescentes feixes de luz
repousados sobre a confusão cristalina das gotas
desleixadas de prisma corados sob o frio inclemente da noite
pela timidez da neblina, o poeta – semeador de palavras –
rende ao vento seu suspiro primal
débil é o sopro que estende a poeira dos tempos
em quase quânticos finos pêlos de pele – algo nunca delével – camurça
gutural seu sibilo – passaportes de medo – ao sopé do dos ventos uivantes
vento, ventríloquo do total livre arbítrio, senhor das águas e das asas
ordem e caos, fé e cinismo, alma e rancor, istmo e mar
– delicado senhor das fúrias e irrequieta musa da paz
vento: verde, crespo, amaro, doce; silêncio impertinente, cheiro de livro bom
– mistério impretérito, falso e quase imperfeito...
Rojer Rÿoz
127
Versos Gameleiros
Pé de Passarinho
na próxima encarnação
sim, porque renascer é preciso
– assim como impreciso é a nau vagar –
quero voltar passarinho
mas não passarinho no afã de voar
voar é artefato-razão do pensamento
é o plano de voo que põe o passarinho no ar
é o pensamento que o faz – passarinho – passarinhar
na próxima encarnação
quero voltar ao meio da passarada
não, também não me encanta Pasárgada
não quero voltar passarinho
para vazar as nuvens, aguilhoar o céu
não faço questão de ignorar mares, ares ou continentes
quero ser o tal passarinho que sou agora,
aquele que,
só pelo prazer de poder, sob o mormaço de sal
do sol de lá fora
roubar os frutinhos à sombra da mesma velha amoreira,
desde o ocaso até a aurora...
Rojer Rÿoz
128
Versos Gameleiros
Renitência
dar as mãos
andar às mãos dadas
ideias atadas
Poema sem Y
li Leminski na parede
tirei o tênis
e fiz xixi a pé na tela
a hora,
doente matrona,
incrustada nas pedras,
pregava mentiras
... e horas sem folga...
o silêncio,
gato assustado e pêlos eriçados,
é pleno, solene, desconfortável,
um relógio mouco – como colaborador
Tiquetaqueando os segundos, os centavos
– e os outros tons do tempo –
e do decafônico silêncio...
Rojer Rÿoz
129
Versos Gameleiros
Lápide
ser insensível sou
(...sem alma)
dizem: “pedra que não chora à lasca tirada,
ao tombo de alto penhasco...”
por ser pedra que não chora,
Sou – sem alma... – a pedra mutilada...
Tabapuera
Minha aldeia não é nada daquilo com que se parece
pois sua realidade
tal véu de noiva
mesmo antes do conúbio das núpcias
é nuvem que se esvanece
Rojer Rÿoz
130
Versos Gameleiros
Vertigo
fiz um poema para poder tocar em você
dedos e palavras à deriva
vagando na maresia, serena tempestade desses seus olhos céus,
até se aninhar na nudez dos ouvidos
como um dolorido sussurro sem dor, em braile, preto e branco
...um poema indizível – quase uma imprecação –
sorrateiro, em passos e pés imprecisos – versejo.
tudo para que todos os cantos da noite se calem
e o tambor desse coração-revólver
passe num descompasso assustado
...palavras que possam ser cápsulas,
barbitúricos a seduzir seus instintos
um poema sem Norte
uma marca de sorte
para calar no templo do seu corpo
Rojer Rÿoz
131
Versos Gameleiros
Isabela Rosa
132
Versos Gameleiros
Verso e Ventania
não reconheço + esta cidade
luz, sons e sombras
tão bem acomodadas numa – outra antiga – outrora
assim como o limiar da própria história
também se foram embora
as noites já não carregam mais enluarada tristeza...
são noites vazias nos ganidos moucos dos cães vadios
a brisa serena – de antes: poema – é verso em ventania
não me recordo mais nessa cidade
a neblina almiscarada – provinciano fog do 3º mundo – agora é gesso
[na alma,
osso nos olhos
ruas, casas, andaimes e motores – impuro gestual pós-moderno
Rojer Rÿoz
133
Versos Gameleiros
Até as Musas Precisam de Ar para Viver
Hipérbole (ultramarinamente) esvoaçante
sangue no varal
música tosca lambendo o fim de tarde
vultos no cu do mundo
cabelo curto – mancueba –
(sábado de manhã vou...
– por vontade própria! –)
em letras maiúsculas
de forma bastão
mural de Bach
flores mortas no alpendre
– sequidão rústica –
lua lesma...
rastros pegajosos no paletó
lábio jocoso
batom borrado e cheiro de lavanda
– saudade suja –
“o amor é uma fruta velha, descascada...”
o amor é nada
Rojer Rÿoz
134
Versos Gameleiros
Poeta
anjo das vacas magras
tenso como o nó da dor
refutado
órfão à luz de velas pela Lua
denso como o pó
oblíquo, difuso
assim e só é que deve ser o ser do amor
Rojer Rÿoz
135
SUMÁRIO
Prefácio
4
Agatha Fabiane Santiago da Paixão
5
Antonio Celso dos Santos
18
Aline Nóbrega Rodrigues
31
Juraci B Chagas
44
(Drika) Adriane Cristina Bernardo da Silva
57
João Lafayetti Gomes Barreto
70
Juliana Maria da Costa
83
Osvaldo de Oliveira
96
Raissa Moraes
110
Rojer Rÿoz (Rogério Marcos Machado)
123
Impressão e acabamento: Alternativa Artes Gráficas - (15) 3542-2992 - [email protected]
136
Novos versos gameleiros trazem à tona autores já
conhecidos do público e também novos criadores, o
livro apresenta poetas que não querem ser poetas,
anjos que cantam seus demônios, desenhistas que
traduzem com suas penas as duras penas dos
poetas, cantores da vida, da alegria, da tristeza e
da utopia.
Os Editores

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