Versos Gameleiros
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Versos Gameleiros
COLETÂNEA POÉTICA CAPÃO BONITO/SP S VO O N Versos Gameleiros Copyright© 2012 Dos Autores Ficha técnica Edição, Capa e Revisão Juraci B Chagas e Rogério Machado Diagramação, Digitação, Fotografia e Arte Final Rogério Machado Colaboração (indicações) Ane Samara Santiago da Paixão (ilustrador Thiago) e Antonio Rodrigues de Oliveira Neto (poetisa Raissa) 1ª edição 2012 VERSOS GAMELEIROS E CRÔNICAS CAPÃO-BONITENSES PARA DOWNLOAD GRATUITO: Versos 2009 - http://www.slideshare.net/RMMachado/versos-gameleiros Crônicas - http://www.slideshare.net/RMMachado/daqui-daldeia-a-crnica-capobonitense Versos 2012 - http://www.slideshare.net/RMMachado/novos-versos-gameleiros Sobre os ilustradores: Me chamo Isabela A. Teixeira Rosa, nasci em Capão Bonito/SP em 10 de maio de 1996. Jovem, arrogante, impaciente e barulhenta. “Permanecer verdadeiro não é pra qualquer um” Thiago dos Santos Lara, capão-bonitense, nasceu em maio de 1995 é filho de Maria Madalena dos Santos Lara e José Juraci de Almeida Lara. Capoeirista desde os seis anos de idade, cursa o Ensino Médio e sonha ingressar numa faculdade de Biologia para futuramente trabalhar com isso. Vive sua vida com base em duas frases: “Não podemos mudar o mundo, porém podemos fazer pequenas mudanças que trazem grandes consequências” e “Todos os sonhos podem se tornar reais, depende de como forem sonhados” COLETÂNEA POÉTICA Versos Gameleiros S VO O N 2012 Prefácio Ao desbravar as surpresas impregnadas nas páginas adiante, o leitor irá se deparar com um singelo pedido de desculpas humildemente justificado e seguido da pertinente constatação da verdade irremediável, do mal pelos avessos que não possui antídoto: o poeta não consegue deixar de poetar... Justamente imbuído da nobre intenção de que poetas não deixem de poetar é que o projeto filantrópico e cultural Versos Gameleiros, idealizado e capitaneado pelo professor, poeta e pesquisador Juraci Chagas – pessoa extremamente avessa à exposição gratuita ou à promoção pelo mero ato do promover, mas talvez a mais importante figura a ser lembrada quando o assunto em pauta é o resgate, o cultivo e o fomento da cultura local e regional –, torna-se o veículo para que o bardo capão-bonitense veja palpáveis as suas impressões, tanto as de cunho sentimental, emocional, psicológico ou social, como os desejos e as angústias que diariamente tomam posse da alma, da essência de cada um, tornando-nos a todos, não importando a linguagem adotada para essa expressão, um transmissor dessas elegias, dessas lamentações existenciais, desses conflitos há tempos cantados. Se no primeiro volume, publicado em 2009, a novidade, a expectativa e a curiosidade davam a tônica da proposta, nestes novos Versos Gameleiros ocorre a calcificação da ideia e do trabalho de alguns autores naturais ou radicados em Capão Bonito, mas há, sobretudo, a feliz e saudável surpresa de jovens escritores trazendo para as linhas do livro suas ambições e seus descontentamentos, assim como seus medos, rebeldia e desafios; alguns autores remanescentes do primeiro volume também deixam as pegadas de seu estilo pelas folhas vivas desta coletânea; e é justamente no encontro dessas jovens águas nervosas e da aparente serena calmaria de outras gerações onde se dá a a foz em que ocorre o equilíbrio, a síntese... A análise quanto à inegável importância da obra pode - e deve - ser mensurada considerando-se o cunho social implícito no projeto, afinal, além deste trazer em seu alforje o prazer inerente às letras ainda serve às entidades prestadoras de serviços sociais no município. A proposta 2012 se renova com a participação de ilustradores, contando assim a obra com 12 autores, pois soma-se aos dez artistas das letras outros dois artífices das linhas, ou seja, mais traços, luz, sombras e contornos, fazendo valer a pena o peso de cada centigrama do livro, de cada centímetro nele impresso, enfim, uma história que se compõe nos dias atuais e que já se mostra eterna em sua essência, cabendo, dessa forma, ao poeta, apenas as penas do poetar... Rogério Marcos Machado – cronista gamelopolitano aborígine. Versos Gameleiros Agatha Chamo-me Agatha Fabiane Santiago da Paixão, nasci em Intervales numa manhã de frio e céu extremamente azul no dia 18 de junho de 1989, sou professora de Artes e faço parte de um grupo de jovens denominado CJ (Coletivo jovem do meio ambiente). Comecei a me interessar a escrever quando numa tarde de verão eu mais dois amigos saímos pelas ruas de Capão Bonito, escrevemos um poema juntos, a partir daí fundamos o grupo de poetas Vanguarda Contemporânea. Logo começamos a participar do Jornal Freguesia Velha. Estou tendo a honra de estar publicando pela segunda vez minhas poesias na coletânea Versos Gameleiros. Às vezes falar Não adianta Olhar Não acalma Abraço Não ameniza Escrever às vezes basta. 5 Versos Gameleiros Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste: sou poeta. (...) Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada. E sei que um dia estarei mudo: - mais nada. Cecília Meireles - poetisa carioca Agatha Fabiane Paixão 6 Versos Gameleiros Somos Todos Escravos da sina da vida corrida a sós corrida coletiva e solitária! Tem coisas que me fazem lembrar Da palavra saudades... Hora pois...a acomodação Não será o pão que comeremos Todos os dias... Quero a inquietude... Jovial Quero a paciência da lagarta E esperarei meus dias de borboleta... Agatha Fabiane Paixão 7 Versos Gameleiros Pássaro Quando vivemos Intensamente Não percebemos O tempo... Nos pegamos Em uma janela Pensando no Antigo Hoje é o passado O passado é ontem E vice-versa. Agatha Fabiane Paixão 8 Versos Gameleiros Solidão Onde existe 1 Tem 2 Onde tem 2 Tem 4 (pensamento) Sigo pensante Andando vejo Pessoas Sorrisos, que não deixam a careta sair; Invade alegria A dois... Talvez solidão?! São quatro Dois pensantes Dois por fora A solidão de dois Invade... Agatha Fabiane Paixão 9 Versos Gameleiros Reflexo Do forro vejo-me Recostado no sofá Um filete de luz Escapa pela fresta da janela Conexão Dentro/Fora Luz leva a ver fluidos. Olho para Fixa Cala-se Passa a bola pela janela O reflexo dele No troféu Vem a cabeça do gato. Agatha Fabiane Paixão 10 Versos Gameleiros Thiago Lara 11 Versos Gameleiros Novas perspectivas vêm chegando Como estrelas Descendo do céu Novos mundos Terra Céu E Mar Vida igual Fogo Água E Ar A cabeça abre e fecha Mais nunca no mesmo lugar Amplia... Agatha Fabiane Paixão 12 Versos Gameleiros Brisa de um Suposto Verão... O vento passa Livremente Portas e janelas Pássaros voando Coreografando o som Nuvens misturam-se Junto a fumaça... Cores e formas Natureza e homem Uma coisa só mistura-se. Agatha Fabiane Paixão 13 Versos Gameleiros A Estrela Além de ‘Estrela’ Existe o brilho Sem brilho Não é estrela Quatro se tornando dois Onde está o brilho? Só aparentemente Mas dois Estrela e brilho. Agatha Fabiane Paixão 14 Versos Gameleiros Lágrimas do Mundo Água sai olho Água sai terra Água sai céu Água, água; Água sai torneira Água sai da beira do rio Bebe água Bebo água Sai água 66% de água Corpo/Terra Água sai mar Água sai fruto Entra e sai. Agatha Fabiane Paixão 15 Versos Gameleiros As nuvens brancas no céu suspendem meus pensamentos caminho pelas ruas sol alto adolescentes vindo indo crianças indo vindo na frente da escola, dá-se o primeiro beijo meus olhos refletem o sorriso da agonia Podemos tudo! Mas não somos tudo?! Ah sim estamos em tudo! nas folhas das árvores nas ruas nas manhãs frias na sujeira entupindo bueiros nas oportunidades e na falta delas no caipira picando fumo no abuso do poder na falta de poder na cultura na massa na asa da borboleta que pouso nesta rosa branca... Agatha Fabiane Paixão 16 Versos Gameleiros Vermelho Olho virado vidrado contando as verdades... talvez Meu chapéu vermelho cobria meu coração você no meu colo sem sorriso e a marola me embalava voei, voei, voei como eu pensei subjetiva eu Não to de vermelho. Lá As coisas ficam Espalhadas, empilhadas E a nodoa do passado Nunca vai sair A vida e a tragédia Seguindo, seguindo Ate o fim que Volta porque a aventura Foi feita ON... Agatha Fabiane Paixão 17 Versos Gameleiros Celso Antonio Celso dos Santos, poeta capãobonitense que há quase quatro décadas labuta na seara das letras, na constante batalha das palavras procurando transformar as rimas em mensageiras de sonhos e realidades sonhadas... Desculpe leitor amigo, mas poeta não consegue deixar de poetar, então vamos lá: estamos falando de um menino que nasceu em Capão Bonito, funcionário público, casado e pai de filhos maravilhosos, filhos que a vida cuidou de aumentar no decorrer dos anos, pois devido o seu trabalho muitas daquelas crianças passaram a ocupar um lugar no seu coração de sonhador. Até aquela que hoje é a mãe de todos chegou a ele assim... Autor do livro de poesias Gente lançado em 1984, sempre com trabalhos publicados na imprensa local, vem hoje através dessa coletânea procurando com a sua participação somar algo mais num cabedal por si só já tão rico. É sempre muito bom estar junto dos corações que sonham fazendo da poesia seu veículo, sua linguagem de vida. Nomeei minha participação nesta coletânea de Fragmentos, então curtam os meus fragmentos em forma de poesia... Obrigado! 18 Versos Gameleiros Um poema não é outra coisa senão um sonho que eu realizo na vigília. O sonho e o poema vêm da mesma pessoa. Eles têm certas leis em comum. Tenho uma relação de muito amor com o sonho. Vou para a cama como se fosse para uma festa. O despertar é quase sempre uma desilusão. Tomas Tranströmer - poeta sueco ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 2011 Antonio Celso 19 Versos Gameleiros Ocê Eu confundo sempre ocê cotra menina Tão bonitona, tão charmosa como ocê, Mas ela num tem essas cintura fina Nem dá aquele calorão no coração quando a gente se vê. Fico pensando nessa renca de muié fazeno fila prá entra na minha vida, todas bonitas, todas tão belas mas nenhuma tão completa como ocê... Essa maravia toda que ocê tem não tá por ai de quarqué jeito a venda então acorda logo minha prenda e vem trazê logo pais pro meu vivê. Rebenta logo a portera do silêncio que a vida passa muito depressa e logo nóis vamo enveiecê até o ar que a gente bebe toda hora nem bem entra já sai véio do nariz. As veiz fico oiando pras estrelas perdidinha e solitárias lá no céu e então óio pra mim sozinho quar foia seca que o vento leva pro léu.... Acorda logo esse seu coração lindo e vem depressa pros braços desse milionário que tem milhões de minutos pra gastar co cê... Antonio Celso 20 Versos Gameleiros Pare!!! Pode parar com esse seu negócio de querer que eu seja sócio de uma briga por dia. Fique sabendo que as minhas ações rendem juros de emoções no patrimônio da alegria. Gosta de viver arranhado, infectado e lanhado é quem tem gata vadia. Eu já prefiro e faço questão de uma fêmea manhosa toda linda, charmosa a me afagar o coração. Portanto, reveja seus projetos na vida e analise querida o que você quer do seu amor, se for carinho, beijinhos e abraços por favor crie espaços e me deixe ocupá-los. Caso contrário já conheço o caminho e sei como sair sozinho, tudo bem, já to vazando!!! Antonio Celso 21 Versos Gameleiros Mulher Você! Sempre a eterna poderosa, o ser completo e dominante fazendo a vida acontecer... Quem pensa a conhecer, que sabe de tudo de você muitas vezes apenas padece de solidão e mau viver... Menina, moça, mãe, amiga, amante, companheira, irmã... Afinal, o que é mesmo você? Muitas vezes só uma incógnita que na matemática da vida alterando a posição dos fatores coloca nos seus devidos lugares emoção, carinho, coração... É... depender de você transforma o homem em cidadão, em parte integrante e atuante do mundo e da sociedade. Faz um sonho tornar-se realidade e realiza a felicidade que ele sonha tanto ser... Faça o homem e o mundo onde ele habita e acontece tornar-se alguém e algo melhor, Mulher... Antonio Celso 22 Versos Gameleiros Perdoe-me Talvez você não tenha notado mas eu parti da sua vida já há algum tempo... Arrumei todas as minhas coisas, embalei meus sonhos, dobrei muito bem as minhas esperanças, empacotei todos os meus projetos de vida e parti.... viajei cheio de marra! Levando toda minha zanga comigo não deixando nada pra você.... Mas a bagagem ficou muito pesada, afinal de contas quando levamos no nosso coração tudo aquilo que deveríamos jogar fora transformamos ele num mero depósito de entulhos... Perdoe-me não por ter partido ou voltado, Mas por não ter dito antes de tudo o quanto eu amo você, e que não importam as diferenças nem as dificuldades, afinal de contas o amor tem como única função aplainar os corações tornando-os capazes de se entenderem, se aceitarem e se completando fazerem as nossas vidas mais felizes... Nós é que precisamos descobrir a linguagem do perdão e utilizando-a descobrirmos o sorriso lindo que o ser amado tem e nos apaixonarmos todos os dias.... Antonio Celso 23 Versos Gameleiros A Fortuna do Compadre — Compadre!! Mas que bardaridade é essa? Ocê tá mais abandonado que chinelo véio! Cadê aquela fiarada que vivia comendo do bom e do mió, mamando bem e montados nas suas costa?? — Ara cumpade não seja mardoso, os fio coitadinho tão cuidando da vida, eles tamem não pode dá jeito em tudo não... E a gente não tem curpa de ficá véio, o pió é esse derrame marvado... — É memo compadre... mais intão vamos dá um jeito nisso aqui, começá jogano fora esse baú véio que só atravanca tudo... — Não!! Aí tá toda minha riqueza, minha fortuna!! — Fortuna? Riqueza? Ara compadre percizamos ajeitá isso. Vamo fazê o seguinte: amarramo ele com bastante corrente e cadeado e jogamo debaxo da cama. Ah! E ninguém mexe nele!!! E assim fizeram os dois velhos, e o compadre saiu pelo bairro anunciando que o compadre velho tinha nos seus guardados um baú cheio de joias, não entendia porque ele passava tanta necessidade e era tão abandonado pela família... Passado alguns dias o velho recebeu a visita dos filhos que vieram em comissão tomar conta dele e da casa... Nunca mais por ali passou a necessidade, foram meses de paz e bonança para aquele velho coração sofrido... Mas como tudo tem um fim, num final de semana o velho morreu, Antonio Celso 24 Versos Gameleiros foi um velório muito chorado por todos, principalmente pela família... Terminado o enterro correram todos para a casa paterna já fazendo planos de como aplicar aquela fortuna tão bem ganha, afinal de contas foram meses e meses cuidando de um velho resmungão, mas tinha válido a pena, afinal de contas o baú era grande e muito pesado... Foram minutos tensos até quebrar todos os cadeados, abrir a tampa e se maravilhar com o conteúdo: foices, enxadas, enxadões, picareta e uma botina velha... Você Tem Todo Direito de me Esquecer! Se você quiser esquecer, eliminar, apagar alguém definitivamente da sua vida... Há pelo menos quase sete bilhões de seres nesse planeta à sua escolha, desde que não seja eu... Antonio Celso 25 Versos Gameleiros Isabela Rosa 26 Versos Gameleiros Nóis Treis Me adescurpe sôdade mais tenho de falá umas verdade pro cê, inda gorinha memo vortano da roça e entrano na paioça o véio coração disparô amó de que na entrada, ali do lado esquerdo meu pé de ipê tá com frô... Parece que foi onte que tudo começô eu e ela no baile, oio no oio e os coração se enxergô e não teve jeito de fugi daquele oiá, sôdade... Despois tudo aconteceu tão depressa... a casinha na bera da estrada cas rosera tudo muito bem cuidada e o amô da minha vida sempre do lado, Os minino foram chegano, cresceno trazeno alegria, baruio e ino imbora cuidá da vida e um dia, um dia triste demais ela tamem se foi só ficamo nóis trêis sodade.... Mais um dia nós dois tamem havemos de i só restano disso tudo que já vivemo o véio ipê cheio de fror sózinho na bera caminho.... Antonio Celso 27 Versos Gameleiros Minha Herança Tô convidano tudo oceis pro meu velório, quero aqui do meu lado o inteligente e o simprório, aquele povo amigo bão de quexo e bão de prosa, tudo mundo qui nunca perdia um casório, qui lá im casa se empapuçava até cum farofa.... Aquele povinho qui chegano de tardinha guiado pelo bafo do churrasco im vorta da fuguera ia de fogo até de madrugadinha papano tudo, até as pena da galinha.... O meu testamento tô fazeno aqui e agora pegue tinta i paper pra anotá minha sinhora i dispois passá pra rapaziada. Dexo pro ceis tudo o qui foi meu, tudo de bão, de útir qui mi pertenceu. O ar qui respirei por tantos ano dexo tudo ai ajeitadinho é pra usá divagarinho... O chão pur onde andei, os caminho qui pisei, as estrada qui passei podi usá, pisá, passia, i e vorta só fazeno tudo cum respeito i direitinho a natureza agradece com fror e perfuminho... Da água tudinha qui usei o qui sobrou fica correno por aí, nunca sube donde ela vinha chegano sempre doce e fresquinha, cuidem bem dela pra mim... Antonio Celso 28 Versos Gameleiros A única coisa que num dô, num vendo, mais impresto semeada no coração de cada um e qui quero qui seja tratada cum muito, muito carinho, é a sodade tudinha qui dexo a cada um doceis um cadinho... Súplica Amor, há quanto tempo penso nisso e nada falo... Mas, de todas as pessoas que conheço, gosto e amo você é com certeza a única que me causa medo, pavor. Tenho verdadeira paúra da sua ausência, fico com o coração gelado só de pensar: E se você faltar na minha vida! Portanto, sabendo disso faça-me o favor de se olhar no espelho todos os dias e se valorizar ao máximo! Não deixe de se cuidar, de se amar, mas se AMAR de verdade! Não quero nada meia-boca, de faz de conta! Afinal, a sua tristeza, a sua dor, o seu silêncio, sua alegria, sua paz, seu equilíbrio é o que compõe o meu dia, a minha noite, faz, constrói e transforma a minha vida, o meu quotidiano em (in)felicidade.... Amor, de todas as pessoas do mundo, do MEU mundo você é a única que pode me fazer sofrer, ou não... Antonio Celso 29 Versos Gameleiros Nós e o Tempo... Egoístas!!! Eis o que realmente somos com a vida, afinal de contas cobramos do tempo, principalmente do ontem apenas o melhor que ele tinha e queremos do amanhã somente a felicidade que ele possa ter, e do hoje? Queremos desfrutar apenas somente os bons momentos que ele tenha para nos oferecer... Quando por acaso os momentos amargos acontecem é porque Deus por alguma razão está nos cobrando, ou nos impondo alguma sanção no viver, quase sempre imerecida.... Que triste sermos filhos Dele sempre tão desamados, tão mal queridos pela vida a receber sempre contas tão salgadas, cobranças tão altas por dívidas tão pequenas na nossa ótica tão desfocada das Leis [Divinas... Nós e o tempo somos eternos inimigos buscamos fugir das suas regras sempre que elas nos fazem ver nossos desacertos e o quanto eles são nocivos para o nosso viver e no dos outros... Não fugir do ontem e suas cicatrizes, nem buscar no refugio do amanhã o ópio das ilusões irrealizáveis, e muito menos afastar-se do hoje e das suas realidades, algumas difíceis de se viver. O tempo é na vida a nossa melhor ferramenta para trabalhar o nosso crescer... O resto é apenas um acontecimento fugaz a que chamamos destino... Antonio Celso 30 Versos Gameleiros Aline Aline Nóbrega Rodrigues Nascida em Santos/SP, em 21 de outubro de 1983. Cursando a Universidade de Santo Amaro, no curso de Pedagogia. Amante da leitura e apaixonada por escrever. Nunca teve seus poemas, contos e livros publicados. Iniciou sua jornada de escritora “autônoma” em 1992, guardando seus registros como verdadeiras relíquias “tesouros escondidos”. Agora viu-se a oportunidade “bater à porta”, podendo dividir seu tesouro com outras pessoas. Alguns breves poemas da autora são revelados neste livro. A autora diz: “É com grande satisfação que divido, um pequeno pedaço das minhas obras. Expressar os sentimentos em folhas é uma dádiva e um consolo que Deus me deu, e a Ele agradeço. Não gosto de me prender, exatamente a rimas, estrofes... Acho que atrapalha o fluir dos sentimentos. Uso versos soltos, rimas ocasionalmente” 31 Versos Gameleiros Catar feijão se limita com escrever: Jogam-se os grãos na água do alguidar E as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo; pois catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco João Cabral de Melo Neto - poeta pernambucano Aline Nóbrega 32 Versos Gameleiros Lamentação Essa chama intensa da paixão Esse amor forte no coração Essa indecisão Ideias que vêm e que vão Conflito dos sentimentos e emoção O som distante de uma canção Percorre caminhos pela imensidão Sobre alegrias, tristeza, escuridão, Sobre os trilhos da solidão. Transborda essa sensação De sentimentos em oposição O meu ser em recuperação Percorre esse caminho de sofreguidão Os sentimentos me torturarão Até o fim desta composição. (16/05/2001) Aline Nóbrega 33 Versos Gameleiros Possibilidades Tempo frio, escuro e sombrio. Refletindo sobre a vida teço possibilidades. Possibilidades que ficam escondidas dentro de mim. Meu ser grita em silêncio Por não poder manifestar, com palavras todo o meu querer... O que será do meu amanhã? É uma perturbação no meu pensamento. Muita reflexão e muito tormento. Pensar menos e viver mais, preciso assim, fazer Ou não conhecerei a felicidade jamais... (14/08/2003) Aline Nóbrega 34 Versos Gameleiros Paz Paz, ainda não conheço o real significado desta palavra. Pelo mundo afora somente a guerra é vitoriosa Desde o início dos tempos até agora Nem em meu lar, nem na sociedade Ainda não vi reinar Paz... Será que ela existe? (14/08/2003) Companheira Noturna Oh lágrimas minhas companheiras noturnas lavem todo o meu ser e me tornem mais pura. (06/03/2004) Aline Nóbrega 35 Versos Gameleiros Venha Buscar-me Venha! Venha buscar-me, meu príncipe... Me encante com teu olhar Me fascine com o teu sorriso Me envolva em teu abraço carinhoso que me abrigará, me confortará, me assegurará... Beije-me! Beije-me macio, doce, calmo e incessantemente como se beijaria uma meiga flor... Toque-me! Toque-me com as tuas mãos macias que acariciarão meu corpo e tocará minha alma, mente e coração... Só você... Me domine com teu charme e sedução E carregue-me em teus braços até o infinito. Irei contigo aonde for Me doarei a você e somente a você. Assim como me doarás todo o teu coração, tua mente e teu corpo A mim e somente a mim. até o findar de nossas vidas. Não me deixes só Não deixe que o tempo continue passando... Estou te esperando. Venha... Venha buscar-me, meu príncipe... (27/10/2003) Aline Nóbrega 36 Versos Gameleiros Thiago Lara 37 Versos Gameleiros Manifeste-se Tantos desejos trancafiados dentro do coração apertados Ter que ocultar tanto sentimento Não conseguir viver o momento Enigmas brilham em meu olhar Me tortura o meu pensar Ter de ocultar tanto e viver em prantos! Felicidade... você está aí? Manifeste-se em meu ser reprimido exalte meu ego e faz-me transbordar alegria Manifeste-se e permaneça em meu ser Eternamente! (14/08/2003) Aline Nóbrega 38 Versos Gameleiros O Outuno Chegou Vem de mansinho ao entardecer e rouba toda a cena no horizonte. Suas folhas no chão a varrer o calor e a brisa do dia se escondem. Mancha o céu com seu doce alaranjar um dia caloroso escondendo Sem mesmo se notar devagarinho vai nascendo... ...o outono chegou! (19/03/2004) Aline Nóbrega 39 Versos Gameleiros Será Sonho ou Realidade? Às vezes tenho medo de viver a felicidade. Depois de tanto desespero depois de tanta crueldade. A felicidade está em minhas mãos resta saber o que fazer. Tanta alegria no meu coração mas tenho medo de viver. Preciso viver e esquecer o mundo e todas as tristezas. Saber sempre agradecer a Deus por tanta nobreza. Será sonho ou realidade tudo o que me está acontecendo Tanta felicidade agora estou vivendo. (17/02/2004) Aline Nóbrega 40 Versos Gameleiros Sufocante Saudade Tristeza que me sufoca e insiste em ficar Solidão que me apavora e tortura o meu pensar Quanta falta estás me fazendo que sofreguidão o meu viver Conflito no meu pensamento confusão no meu ser meu amor, amo Você! (25/02/2004) Aline Nóbrega 41 Versos Gameleiros Sopra o Vento É tão difícil Ser um ser tão minúsculo e ofuscante Em um mundo confuso de seres tão grandes. Me sinto carregada pelo vento com toda a intensidade Sem saber aonde vou e se terei felicidade. A névoa a pairar sobre a minha face esconde a angústia do meu ser escorrem-me lágrimas Sem que venham a perceber Procuro algo que não encontrei Sem saber o que irei encontrar Carrega-me o vento vou aonde ele me levar (10/06/2004) Aline Nóbrega 42 Versos Gameleiros Sonho Proibido Às vezes me deparo com loucuras a devanear Tento jogar para fora tento não sonhar. Sonhos proibidos sufocam meu ser, Amor reprimido tortura meu viver. Tento esquecer mas nunca consigo Tento não me perder estou em conflito. Ajude-me, meu Deus, a esquecer o passado, os sentimentos... Para que eu possa viver com alegria e contentamento! (23/10/2009) Aline Nóbrega 43 Versos Gameleiros Juraci Juraci B Chagas Natural de Capão BonitoSP. Professor, cronista, poeta bissexto e compositor musical. Criador de temas musicais ligados à cultural regional e colaborador de jornais e revistas da região de Sorocaba, com participação em mais de duas dezenas de antologias poéticas. Teve um livro publicado pela Shan Editores (Porto Alegre/RS), intitulado Remansos e Correntezas, com poemas e canções. A nós poetas coube A ânsia de querer Coisas que jamais iremos ter: O brilho da estrela, O calor do sol, Testamento A essência do ser... (Remansos e Correntezas - 2005) 44 Versos Gameleiros Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. Fernando Pessoa - poeta português Juraci B Chagas 45 Versos Gameleiros Vira-lata Se por má sorte, mutilado e moribundo, Encontrares, cambaleante, alguém na rua... Abaixe os olhos, pois esse vagabundo Está vivendo na desgraça, a culpa é tua! Se o encontrares em meio ao lixo da calçada Escrafunchando, como um cão, a cesta achada, Passe ao longe, por favor, sem dizer nada, Porque és o motivo dessa cruz pesada. Deixe-o seguir amargurado e triste, Seu vil caminho, seu destino imundo; Algum dia entenderás tudo o que viste: Somos todos nós, nas veredas deste mundo, Pobres andarilhos, vira-latas desertores, Desgarrados de Deus e maltrapilhos de amores! Juraci B Chagas 46 Versos Gameleiros Aula de Latim Lupus, lupi, luporum Lá vinha seu Zé Matarazzorum, Com seu cheiro de sacristia E ar de sexta-feira maiorum! E tomem declinações: Inquisição do nominativo, Com um olhar no acusativo De inferno ou purgatório! Textos para a sabatina E o famigerado exame oral, Que tornava o velho mestre Um dos membros do jurado Do juízo final! Quousque Tandem, Catilina? E a barriga respondia: Até a hora do almoço, Data venia, ab ovo, Arroz-feijão e taubaína! Juraci B Chagas 47 Versos Gameleiros Sem Saída Para quem já avançou na idade, A vida torna-se uma corrida Atrás da cruel necessidade Da fuga da certeza da partida! Quando cessa a busca do prazer E não há como se esconder a dor, Só resta aceitar a caridade, Como forma melancólica de amor! A esperança, um pouco desiludida, Apoia-se na fé, sublime intenção De achar a luz, cura ou a salvação Do rigor do tempo, beco sem saída! Juraci B Chagas 48 Versos Gameleiros Traviata O que eu gostava de você Era do seu lado B; Porque o seu lado A Eu teria que disputar Com seus amigos, Sua família, Até com Jeová! Por isso, sem nenhum encômio, Aceitei, sem reclamar, Sua parte meio demônio, Para você se salvar! Juraci B Chagas 49 Versos Gameleiros Devaneios Quisera poder possuir O dom mágico de converter O lutuoso cair da tarde Num eterno alvorecer! Convencer a cigarra indolente A somar seu canto preguiçoso Com uma sinfonia maior: O chilrear alegre de andorinhas E os arrulhos dos pombais; O sibilar do vento manso, Anunciando a chuva amiga E o toque de recolher Das roupas dos varais. Quisera poder abortar O parto da noite entristecida, Rever a vida na alvorada, No ritmo dos pingos que caem, No tilintar surdo das latinhas, Ao som do piano da vizinha! Juraci B Chagas 50 Versos Gameleiros Bromélia Flor do Panema! Apressa-te a olhar A alegria das águas, Sempre a caminho do mar! E seja feliz com o momento, Tão ligeiro com o vento, Que acabou de passar! Depois virá a realidade, Seca como a saudade Do que não vai mais voltar! Juraci B Chagas 51 Versos Gameleiros Isabela Rosa 52 Versos Gameleiros Plenilúnio É a lua cheia! Os normais falam alto, Os anormais gritam E os loucos uivam! Pobres de nós, mortais, Cada vez mais, Distantes da divindade E próximos dos animais! Juraci B Chagas 53 Versos Gameleiros Amor Filial Nossos filhos não nos amam, Simplesmente nos mamam; Oportunamente, nos trocam Por qualquer fulano Ou fulana, Dando-nos, de quebra, Uma banana! Quase sempre nos deixam No meio do caminho, Desesperançados, carregando à esmo Essa imensa ingratidão humana. Mas continuamos a amá-los... Assim mesmo. Juraci B Chagas 54 Versos Gameleiros Grazia Plena Foz dos nossos lamentos E fonte do meu consolo; Represa de minhas mágoas, Das nossas antigas chagas, De minhas eternas manhas. Margens do nosso caminho, Leito que é o destino E a esperança do amanhã. Luz que nos é repetida, Porque já foi concedida, Quando concebeu Jesus! Juraci B Chagas 55 Versos Gameleiros Grão de Mostarda Meu bom Jesus da ribeira Dos altos da serra e do mar, Fazei de mim Tua vontade, Teu destino, Tua verdade E do meu coração Teu altar! E que esse grão pequenino Da mostarda verdadeira Seja semeado com mimo Ao redor da terra inteira. Divino farol e Eterna Luz, Que esta ovelha conduz, Leva-me apascentado Pelos caminhos iluminados, Deixados por Tua cruz! E que esse grão pequenino... Juraci B Chagas 56 Versos Gameleiros Drika Ad r i a n e C r i s t i n a Bernardo da Silva (Drika) nasceu em 18 de junho de 1994, natural de Capão Bonito (SP), filha de Abrão Pedro das Silva e Nívea Aparecida Bernardo. Teve uma infância muito feliz, apesar das dificuldades. Estudou na Escola Estadual Padre Arlindo Vieira desde a 5ª série do Ensino Fundamental até a conclusão do Ensino Médio, em 2011. Seu hobby é escrever poemas, nos quais, consegue expressar seu eu mais profundo e verdadeiro. 57 Versos Gameleiros Morram meus amores, mas enlouquecerei se morrerem meus amigos, pois não há algo mais precioso do que uma amizade verdadeira... Vinicius de Moraes - poeta carioca Adriane Cristina (Drika) 58 Versos Gameleiros Distância A distância só é um detalhe, quando há Amor. Só é um detalhe quando há paixão. Ela não pode me impedir de te amar ou deixar que eu pare de pensar em você. A distância pode ser resolvida através de vários passos do meu coração até o teu, da minha boca até a tua. Enfim... Adriane Cristina (Drika) 59 Versos Gameleiros Preço Alto Amigo sempre que precisar de um ombro para chorar ou simplesmente se alegrar estarei sempre aqui para te ajudar Em qualquer circunstância em qualquer momento da sua vida ou da minha Por isso nunca desista da vida, se for desistir me chame antes pois te mostrarei motivos para você não chorar ou desanimar Às vezes, nos sentimos solitários pensamos que todos os amigos nos deixaram, mas isso foi um mero erro, eles não se afastam de nós, nós que deixamos de ver o quanto vale aquela amizade. Adriane Cristina (Drika) 60 Versos Gameleiros Escolhas da Vida Eu queria tanto saber o amanhã para entender o hoje. Dessa confusão que estou vivenciando, mas acredito que o amanhã vai chegar e esse sofrimento vai acabar. Vou descobrir o que verdadeiramente me interessa ou o que vai fazer a diferença. Mas eu ainda continuo confusa, nos meus pensamentos, a vagar na minha triste solidão. Adriane Cristina (Drika) 61 Versos Gameleiros Saída Demorada Você acha que sempre vou estar à sua disposição mas não se engane não Para mim, mudar de pessoa é rápido, pois vou te tratar como tu me tratas, como última opção. Se cuide, posso ser sua inimiga quando quiser, sua amiga quando não puder. Não se acostume comigo algum dia desses posso escapar da sua mão e voar como um passarinho sem destino. Adriane Cristina (Drika) 62 Versos Gameleiros Tento e Tento Demais A minha vida é uma montanha russa de emoções um dia eu te amo, no outro eu te odeio, na semana que vem te amo nela toda. Isso é tudo culpa sua, pois você não sabe o que quer e eu entro na sua Meu coração tenta desviar dessas curvas que há entre eu e você mas às vezes há uma neblina e acaba tropeçando E sempre quem sofre com isso sou eu, sou eu, sou eu que sofro calada. Adriane Cristina (Drika) 63 Versos Gameleiros Lição de Amor O amor é como uma criança correndo na rua, ele sempre estará sujeito a riscos, erros ou acertos. É um erro querer que outro ser humano seja perfeito, afinal todos nós temos defeitos. Defeitos ao longo da caminhada, que nos ajudam a ver que somos dependentes amor ou algo parecido. A decisão de hoje pode sorrir para o amanhã o amor é assim, o amanhã depende de hoje. Adriane Cristina (Drika) 64 Versos Gameleiros Thiago Lara 65 Versos Gameleiros Um Amor Cultivado O amor, algo avassalador algo que une uma pessoa a outra com uma intenção, o bem do outro. Amo com tanta força que se tivesse que parar de respirar para que você viesse eu o faria. Esse amor ficará em meu peito, vou guardá-lo em segredo mesmo que eu venha adoecer por ele. Cuido de você a cada olhar por onde quer que você ande cuido de você como se fosse meu. Sonho com seus abraços, sonho com sua voz, me dizendo que vai me amar sonho com seu olhar. Adriane Cristina (Drika) 66 Versos Gameleiros Amigos Às vezes, podemos estar com muitas pessoas à nossa volta, mas isso não nos faz melhor ou mais sábios. Esse grupo de pessoas mesmo sem querer podem nos magoar, ou nos ferir e com isso acreditamos que todos vão nos fazer o mesmo. Por incrível que possa parecer ou não sempre há uma pessoa com boa intenção. Amigos, colegas podemos escolher, já o amor não... Adriane Cristina (Drika) 67 Versos Gameleiros A Dor da Alma Tudo me lembra você... meu respirar, meu levantar, meu deitar meu caminhar Se eu pudesse arrancaria do meu peito esse sentimento que só me faz mal. O amor deveria trazer somente o bem, proteção, carinho e a eterna certeza da felicidade. Foi acreditando em tudo isso que entreguei minha alma ao amor, sem saber o quão forte seria sua dor. Adriane Cristina (Drika) 68 Versos Gameleiros Deus meu Tudo Quando estou só Teu amor me conforta Quando ninguém me vê o Senhor vê as cordas do meu coração e me segura pela mão. Só posso agradecer-Te mais e mais, pois Tu sabes o que eu quero, sabes do meu passado e não me julgas. Conheces o meu pensar, Conheces meus sentimentos Tu és tudo para mim. Adriane Cristina (Drika) 69 Versos Gameleiros Lafayetti - In Memorian João Lafayetti Gomes Barreto — pinhalense (SP) por nascimento, mas capão-bonitense de coração — entre outras coisas, poeta, contista e cronista, pelo prazer de escrever; adquiriu este hábito quando, nos tempos de estudante foi nomeado redator de O Lábaro, periódico estudantil, onde, por muitas vezes, tinha que completar espaços em branco das colunas. CABELOS BRANCOS (Versos Gameleiros - 2009) (...) Ainda sou criança, É o que diz lá do fundo, Meu coração compassado, Que ainda sou criança, Que ainda sou menino! E, afinal, estou aqui, Menino, Menino de cabelos brancos. O menino mais velho do mundo! 70 Versos Gameleiros Se as coisas são inatingíveis, ora... não é motivo para não querê-las. Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas. Mário Quintana - poeta sul-rio-grandense Lafayetti Barreto 71 Versos Gameleiros Vida Eu sou a alegria, Eu sou a beleza, Eu sou toda a natureza Que possa assim existir, Sou a cigarra cantadeira, Sou a borboleta faceira, O beija-flor colorido, Sou a flor perfumada Que nasce à beira da estrada, A brilhante gota de orvalho, O voo do passarinho, O ronronanar do gatinho, Sou a estrela, sou a lua, Sou o sol na cumeeira, Sou a chuva criadeira Que emprenha a semente no chão, Sou o mel da abelha, A pitanga vermelha, Sou a cor, sou o verde, O amarelo, o carmim, E eu existo enfim, Pra que você sorria, Pois quem vive sorrindo, ama, E quem ama me vê sempre assim, Eu sou a vida! Lafayetti Barreto 72 Versos Gameleiros Capricho Sempre me dizes: “Eu te amo loucamente. E te adoro, e te quero, e te desejo!” E logo depois, pura e simplesmente, Te entregas num longo e cálido beijo Mas tudo isso é mentira somente, Pra saciar-te, está em mim o teu ensejo, Pois saciado teu furor ardente, Ficas arfante, e eu, esquecido me vejo. Vendo-te depois, serena, dormindo Tão displicente na cama ao meu lado, Eu te beijo bem de leve, sorrindo. Sonhando que teu amor tresloucado Transmudasse agora e pra todo o sempre, De capricho que é, para amor trocado. Lafayetti Barreto 73 Versos Gameleiros Amor de Verdade Se o amor Judia, Entristece, Não pode ser amor, É castigo E este nome não merece, O amor verdadeiro É sublime, Enobrece, O olhar de quem ama Enternece, é alegre Como o sorriso E perdoa a quem ama, E se preciso, Finge que esquece. Lafayetti Barreto 74 Versos Gameleiros Quase Minha vida é a minha penitência, Até hoje não sei o que dela fiz, Somente sei que na minha vivência Jamais encontrei o amor que sempre quis. E foi sempre um 'quase' a minha existência, Tudo assim, por um quase, por um triz, Por pouco, por tão pouco, e em consequência Quase eu tenha chegado a ser feliz. Inteligente, fui quase brilhante, Fui quase rico, quase fui arruinado, E do amor, a busca foi incessante, E por um quase, fui castigado, Pois te conheci, e te quis, e te amei, E quase, quase, que por ti fui amado. Lafayetti Barreto 75 Versos Gameleiros Garoa Madrugada, a garoa cai fina Formando cones sob a luz dos postes. Eu, mãos nos bolsos, Cigarro apagado nos lábios, Caminho sob a garoa, Dentro da madrugada; Os únicos sons que se ouvem São os dos saltos dos meus sapatos Ecoando na calçada molhada, E, de vez em quando, O ladrar distante de um cão vadio, Talvez reclamando pela perda do sono. E eu continuo andando, Sem rumo, Súbito, os faróis de um carro cortam a garoa E se perdem numa esquina. Continuo andando, Sentindo a garoa fina Molhando o meu rosto, Misturando-se às lágrimas Que correm dos meus olhos. E eu continuo andando, Andando... Lafayetti Barreto 76 Versos Gameleiros O Fim O caminhar por uma longa estrada Ora estreita, ora larga, Pode ser curta ou pode ser comprida, Ora bem reta, ora toda quebrada, Feia às vezes, às vezes toda florida, Sempre caminhando, não se pode voltar, Não existe retorno nesta estrada E nela só há de caminhar, caminhar; Às vezes, com outra cruza, Por outra às vezes é cruzada, Às vezes com outra segue junta, Ou então segue só, separada. Esta estrada é a vida Aqui assim ilustrada. De repente, uma barreira erguida, A estrada é interrompida, É a morte, não existe saída, E então tudo se acaba, Tudo é esquecido, E somente às vezes, talvez por piedade, Levanta-se o pó do esquecimento Tangido pela brisa da saudade. Lafayetti Barreto 77 Versos Gameleiros Isabela Rosa 78 Versos Gameleiros A Pessoa e o Passarinho A pessoa que passa vê um passarinho, O passarinho que a pessoa que passa vê, Vê a pessoa que passa. A pessoa que vê o passarinho, Pensa que o passarinho não a vê, Mas o passarinho que a viu, voa. E não se veem mais Nem passarinho Nem pessoa, pois Voou o passarinho E passou a pessoa. Lafayetti Barreto 79 Versos Gameleiros Benção No sertão a lua nasce enorme, linda, Clareando toda a mata portenta Assim, como se o ocaso fosse ainda, E então, o clamor dos insetos aumenta. Pouco mais além, onde a mata finda, Num rancho que a luz da lua acalenta, Se ouve o som de uma viola tangida E a voz de quem as tristezas lamenta. E a linda morena, olhar suplicante, Enquanto ainda o último acorde ressoa, Abraça o caboclo, toda insinuante Como se no cio, fosse uma leoa, E se beijam, e na grama se amam, E do céu, sorrindo, a lua abençoa. Lafayetti Barreto 80 Versos Gameleiros Onde Fiquei A paineira velha à beira da estrada, Que eu nunca mais vi, Ficou lá atrás, perdida na poeira da saudade, Na estrada da vida. Lá ficaram também meus risos de criança, Minhas alegrias Minhas esperanças, E eu segui só, ou só seguiu minha sombra, Porque acho que fiquei lá, À sombra da paineira velha Que eu nem sei se existe ainda. Lafayetti Barreto 81 Versos Gameleiros Marcas Solitário, caminhando pela praia deserta, Cabisbaixo, pesado de recordações, Fico pensando se do que vivi, do que passei, Poderia alguém tirar algum proveito. Das coisas grandes que fiz, Das pequenas também, Dos amores profundos, que seriam eternos, Das dores, Dos prazeres, que eram indizíveis, Coisas que me marcaram profundamente E que, indeléveis, estão no meu peito Como as profundas marcas que meus pés deixam na areia molhada, Mas quando me volto Vejo que as pegadas na areia não existem mais, As ondas as apagaram, Ninguém mais as verá, Ninguém mais delas saberá, E só existem as marcas profundas que estão no meu coração E que aí permanecerão para sempre, Para os outros, a onda grande do mar do tempo tudo apagou E só restei eu, Inexpressivo como as areias lisas da praia deserta. Lafayetti Barreto 82 Versos Gameleiros Juliana Nascida na cidade de Capão Bonito, aos 27 dias do mês de Novembro de 1986, filha de Júlio Ferraz da Costa (in memorian), mais conhecido como Júlio Norato, funcionário público, trabalhava no DER e Vera Lúcia Silveira da Costa, dona de casa e mãe dedicada. Lançou-se à arte de escrever poesias aos quatorze anos, fortemente influenciada e motivada pelo estimado amigo e professor Juraci Braz das Chagas e professora Elzinha Francato. Amigos e profissionais que sempre apoiaram e acreditaram no desenvolvimento de tão bela arte. É funcionária pública, atualmente trabalha na Escola Estadual Prof. João Baptista do Amaral Vasconcellos, na Vila Aparecida. Participa ocasionalmente de publicações na imprensa local e, anualmente, no Prêmio Moutonée de Poesia, na cidade de Salto/SP. Essa é a sua terceira participação em Coletâneas Poéticas. ...”Dedico meu trabalho, meu sonho e meu dom primeiramente a Deus que tudo nos concede, à minha mãe Vera, ao meu pai Júlio, que nãoo está mais presente no meio de nós para compartilhar tamanha alegria, a meu namorado Luiz Eugênio Castanho de Almeida, que acredita e também sonha meus sonhos e me leva a lutar por eles, ao meu grande amigo e eterno professor Juraci Braz das Chagas, que através das sementes que planta, faz florescer sonhos na vida de todos aqueles que acreditam na arte-poesia que traz beleza, vida, paz e luz para o coração de muitos. Que Deus abençoe a todos.” 83 Versos Gameleiros Minha alma é sobre uma pequena Que encontra a si mesma. Minha alma está crescendo. Minha alma não tem mais Medo de voar. Erica Jong - escritora e educadora americana Juliana Maria da Costa 84 Versos Gameleiros Amanhecer Em cada amanhecer a tua voz eu quero ouvir Quero ter você para mim e meus sonhos dividir Em teus olhos quero enxergar mais além Sentir a sensação de paz que não sinto com ninguém Em teus braços sei que posso encontrar abrigo Um sentimento que do inesperado aconteceu comigo Tuas mãos seguram as minhas tão fortemente No bater suave de seu coração tudo acontece diferente Nas noites frias em pensamento encontro você Sinto suavemente a paz que me envolve sem perceber E meu coração derramo na saudade que a ausência traz Sei que é somente de você que vem essa paz Nas palavras destes simples versos quero lhe falar A distância não é mal que irá nos separar Meu corpo não toca o seu no momento do adormecer Mas o meu coração estará contigo, em cada amanhecer. Juliana Maria da Costa 85 Versos Gameleiros Teus Olhos Ainda existe em teu olhar O brilho triste de outrora Meu coração esteve a pensar Por que é que você foi embora Em meio a noites tristes divaguei No silêncio que a solidão causou Tantas lágrimas derramei Imenso vazio você deixou Hoje revi teus olhos tristes Que por eles me apaixonei Meu coração a eles não resiste E de saudades eu chorei Reacendeu em mim o desejo De tua pele novamente tocar Em minha boca sentir teu beijo Em meus olhos sentir teu olhar. Juliana Maria da Costa 86 Versos Gameleiros Eu só queria poder explicar Que eu errei sem querer Não tive a intenção de te magoar Não tive a intenção de sofrer. “Desculpa se eu Errei” Eu sinto muito se magoei você Disse tantas palavras sem querer Mas eu jamais tive a intenção De um dia magoar seu coração Só não esperava afastá-lo assim Para tão longe de mim Queria poder apenas pedir perdão E curar as feridas do meu próprio coração. Juliana Maria da Costa 87 Versos Gameleiros Esse Coração... Vai, coração Bate no peito descompassado É esse o seu castigo Por amar sem ser amado. Vai, coração Chora desesperado Suas lágrimas são o resultado De seus atos impensados. Vai, coração Deixa de sofrer assim A dor que você sente Dói também em mim. Vai, coração Deixa essa tristeza sem fim Porque um dia essa saudade Vai embora, vai sim. Vai, coração Deixa de sofrer magoado Quem você ama Não está apaixonado. Então vai coração Deixa essa paixão de lado Porque um dia essa ilusão Fará parte do passado. Juliana Maria da Costa 88 Versos Gameleiros Sua Ausência Meus olhos estão tristes Choram não sei por quê Acho que sei o motivo Choram por não te ver Olhos tristes iguais aos seus Eu jamais encontrei Mas foi por esses olhos tristes Foi por eles que me apaixonei Senti meu mundo mudar No instante em que você me beijou Meu coração não pode se conter E por você se apaixonou Desejei te encontrar novamente Para os teus lábios uma vez mais beijar Mas você sempre esteve ausente De saudades me fez chorar A distância me afastou de você E seus olhos tristes não mais vi Meu coração ficou perdido Noites solitárias eu vivi Imensa saudade eu sinto Longe de você estou agora Volta, amor, aos braços meus E prometa nunca mais ir embora. Juliana Maria da Costa 89 Versos Gameleiros Você Eu espero você... Como o coração espera alguém para amar Como o sonho espera a hora certa para se realizar Como as lágrimas esperam para escorrer Como os sentimentos esperam para nascer Como as mãos esperam alguém para tocar Como os olhos esperam alguém para se apaixonar Como os lábios esperam alguém para beijar Eu encontrei você... Como a mágoa encontra o perdão Como um coração encontra outro coração Como o desespero encontra a esperança Como a amizade encontra a confiança Eu amarei você... Como a mãe ama o filho Como a estrela ama o brilho Como a noite ama a escuridão E serei feliz então Quando o seu coração amar meu coração. Juliana Maria da Costa 90 Versos Gameleiros Revelação Procuro em meio às horas que passam devagar Um sentido para completar os dias tristes que amanhecem Como se o mundo de repente tivesse parado de girar Porque todos os dias iguais e tristes parecem Nas alegrias presentes nas recordações guardadas em mim Busco encontrar os motivos para sempre acreditar Que o mundo não parece tão triste e injusto assim E que a cada dia que amanhece tudo pode mudar Mas as noites tristes e de solidão insistem em me mostrar Que as dores e angústias serão para sempre constantes Tento apenas esconder as lágrimas e acreditar Que basta um momento de luz para tudo ser como antes Perdida estou nesta escuridão sem fim que sufoca o coração Em meio às lágrimas que tornam meu olhar desesperado Mas insisto em continuar a lutar contra a solidão Buscando encontrar a luz que reanime estes passos cansados Preciso reencontrar em algum lugar uma chama de esperança Um momento de luz que se revele em meu coração Para que uma vez mais eu sinta renascer a confiança Junto com o dia que amanhece levando a escuridão... ...Dissipando as trevas e revelando a luz. Juliana Maria da Costa 91 Versos Gameleiros Thiago Lara 92 Versos Gameleiros Pedaço de Chão Não quero somente ouvir os pássaros a cantar Abro o coração ao seu canto, deixo-o escutar Para que das amarras e correntes que o prendem Possa, assim, para sempre se libertar O vento toca meu rosto e me faz acreditar Que é a paz, imensa paz, que veio me confortar Não ouço os barulhos do mundo lá fora Nesse momento de silêncio deixo minha alma divagar Na calma dessas águas sinto-me embalar Deixo meu coração por essas águas se levar Meus pés tocam as margens que estão a rodear E sinto sua energia meu corpo renovar O som dos pássaros, tantos pássaros a cantar Trazem lembranças que há muito deixei passar E cada vez que meus pés tocam nesse chão Sinto que ali, a paz, eu posso encontrar. Juliana Maria da Costa 93 Versos Gameleiros Sei Onde Encontrar a Paz Estou, neste momento, tentando encontrar Braços onde eu possa descansar Onde eu sinta paz em meu coração Onde não se conheça mais tristeza ou solidão Nestes braços quero deitar e ouvir Palavras que me fazem o bem sentir Encontrando em sua presença imensa paz Amor eterno que o mundo não desfaz Nestes braços quero o carinho encontrar Conhecer o verdadeiro sentido de amar Nestes braços sei que posso encontrar a luz E a luz só se encontra nos braços de Jesus. Juliana Maria da Costa 94 Versos Gameleiros Amigo, Meus Versos para Você Amigo, senta aqui ao meu lado, contigo eu quero conversar Quero falar de coisas que meu coração esteve a guardar E com você, agora, eu quero compartilhar... Amigo, tantos momentos de dificuldades você me viu enfrentar Sempre estendeu os braços, esteve pronto a me ajudar Em todos aqueles momentos em que eu não podia mais acreditar Você me trouxe para fora da escuridão, a luz e a paz me fez encontrar Por tudo quanto você fez para me ajudar Amigo, todos os dias por você irei a Deus rezar Amigo, foram tantos anos de juventude que nem vi passar Tantos anos passados ao seu lado, como gosto de relembrar... Foram alegrias e tristezas, tantos sonhos a compartilhar Amigo, como me sinto feliz, por essa amizade tudo suportar... Amigo, perdoa essas lágrimas que não posso segurar Elas caem livres para todo meu carinho demonstrar Amigo, se um dia eu te magoei e te fiz chorar Perdoa, meu amigo, jamais eu quis lhe machucar Se não fui capaz de suas lágrimas um dia secar Sei que tentei, amigo,pelo menos lhe confortar Não importa o tempo que for, quanto tempo se passar De você, amigo, para sempre irei lembrar Conte comigo em todos os momentos que precisar Eu estenderei os braços, se preciso for para te abraçar Compartilha, amigo, a felicidade que é preservar Uma amizade sincera, que o mundo não pode separar... São palavras breves, meu amigo, mas são para você recordar Que as marcas dessa amizade, jamais irão se apagar. Juliana Maria da Costa 95 Versos Gameleiros Biografia ou Retrato transcrito Sou Osvaldo de Oliveira, o propenso escritor contemporâneo de Capão Bonito. Escrevo para todos os provos sobreviventes à idiocracia instalada nas raízes populares; sou o fruto do niilismo humanista e da PNL ocultista. Em luto à poesia, faço em palavras as minhas heresias. Escrevo para todos os poetas, mas escrevo sem ser poeta. Quando invoco em minha essência os sentimentos sob o olhar contemplativo, não caio na teia entediante das palavras arcaicas usadas pelos meus mentores poetas inativos. Sou apenas uma quimera, um sampleador ambulante de idéias sincréticas, um rascunho de murmúrios desiludidos, uma escatologica displicência dos valores oriundos, dos valores vigentes, o retrato apodrecido o borro, da arte dos vagabundos, o esporro, a caricatura antropofágica a revelação hidropônica da sociedade burlesca da beleza irônica e antagônica e indefesa que nos circunda dia a dia, perante o reflexo de si mesma. o retrato obsceno 96 Versos Gameleiros Não te deixes destruir... Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. Cora Coralina - poetisa goiana Osvaldo de Oliveira 97 Versos Gameleiros A Arte Pela Arte Quando se dedica para alguma arte, Na pretensa tentativa de criar bancando o criador que há dentro de si, descobre-se que nem o criador fez sua obra-prima em todas as suas [tentativas; só é iluminado e divino porque não assinou seu nome em tudo o [que pariu. Pretensão humana ridícula e egoísta A de assinar seu nome em tudo que é de sua autoria; Que intolerância egoísta é essa que o obriga a esperar algo em troca de seus esforços? A arte pela arte: Uma idéia a ser parida. Meus escritos Não são e não querem ser reconhecidos, Não pretendem ser lembrados, Apenas existem porque em certo momento surgiram. E nada mais. A arte pela arte apenas liberta a alma para o caminho do desapego, O caminho das luzes, o caminho das trevas, o caminho das criações divinas A arte pela arte: Uma idéia a ser parida. Osvaldo de Oliveira 98 Versos Gameleiros Duelo da Natureza Como se fosse árvore velha, cheia de galhos e frutos O prepotente arbusto observa a chegada dos ventos da tormenta; Os raios queimam o verde ao seu redor e a penumbra dispersa Seus galhos secos e suas raízes não são profundas o bastante Para segurá-lo no ventre da terra, Assim o velho arbusto se vai na tormenta, Com ele, se vão também os seus futuros frutos, Os seus futuros galhos, A sua existência descartável, E inevitável, O mártir de existir, o mártir de morrer para haver vida No denso vento dos ciclos da natureza. Osvaldo de Oliveira 99 Versos Gameleiros Isabela Rosa 100 Versos Gameleiros Caos Diário O caos das ruas, as buzinas durante o dia, as festas durante a noite, os carros ensurdecedores, as motos estridentes, os inacabáveis outdoors, as vitrines ludibriantes, as câmeras registradoras, os ônibus poluentes, os mendigos sem dentes, as ovelhas castradas, as cadelas promiscuas, os burros alienados, os porcos fardados, os burgueses de nariz empinado, o cheiro enjoado de algo requentado na hora do trabalho, a fome durante um serviço cansativo, toda a merda urbana que vivemos no dia a dia, toda essa droga eu trago para meus pulmões e numa puxada forte inspiro o ar podre da cidade: eis o caos diário da urbanidade o caos que punge os pulmões de quem acorda e respira. Osvaldo de Oliveira 101 Versos Gameleiros Lótus Regression Regresso ao corpo físico Quando as pétalas da lótus Aspergem-se pelo ar E eu novamente estou no ventre da terra; Um instante lúdico e vibrante Pulsou em minhas veias O sangue ficou quente E em minha testa um olho brilhou pulsantemente: A revelação fatídica do frenesi epifânico Me revela os olhos do homem, Os julgamentos dualísticos do homem, As idéias falsas que só existem com a existência do homem; Vejo também a face de Deus sem as mascaras de nossos juízos mortais Vejo a natureza como ela é, E fico sem palavras para descrevê-la O homem brinca de ser Deus Tenta ser seu próprio Deus Mas sua visão conturbada de humano Seria ofuscada pela verdade inerente A verdade que não pode ser descrita em palavras Mas percebida através do desapego. Osvaldo de Oliveira 102 Versos Gameleiros Palavras Caprichadas Meu sagrado tempo se passa A cada instante Em que dedico palavras A este papel inútil O mais eufemista diria que é poesia Em sua leiga inocência E desse comentário eu diria ser ironia E sem esta idéia pretensa Há um tempo atrás Um poeta me disse Para lhe enviar minhas “poesias” até certo dia E disse para caprichar nelas Então em honra A tua esperança lírica De poeta Lhe dedico este rabisco Na santa fé De que não desapontarei Em qualidade e poetismo Sem a presença essencial de minhas palavras chavões tal como merda, lixo e etc As palavras de meu sábio amigo poeta. Osvaldo de Oliveira 103 Versos Gameleiros Palimpsesto Niilista Às vezes, imaginando possuir um poder total, Ainda hipoteticamente, bancando Deus, me pergunto Que faria eu para melhorar o mundo a minha maneira? Logo vejo, com os olhos cheios de lágrimas que nada poderia ser feito. Que um trabalho de reparação, Prodigioso e belo, nada têm a ver com o ato de criação divino. Que homens reparadores, revolucionários, São como iconoclastas, arquitetos da destruição, Moldadores e preservadores da tradição guerreira de lutar por suas [convicções. Gostaria de restaurar a dignidade, O auto respeito, verdadeira fraternidade, Confiança própria e amor à natureza, Mas infelizmente o homem não é mutável E ainda virtuoso e propenso a transmutar-se Como nos tempos de Henry Miller, Hoje o homem parou sua evolução, Retornou ao estado antigo de letargia, Como um rebanho informe e irracional, Obediente a opiniões ideológicas mutáveis Cujos valores são estabelecidos por teóricos políticos. Sinto que é tempo do planeta questionar seus valores, Suas crenças, suas verdades que o sustentam, Uma vez mais é necessário que pecadores, Mendigos, legisladores, Marketeiros, militares e todos os demais Perguntem a si mesmo que porra estão fazendo com suas vidas; Seria possível hoje, para nós, Fazermos um inventário de nós próprios? Ou é tarde demais? Às vezes parece impossível. O possível realmente de forma aparente É mudar as massas de um lugar para o outro Osvaldo de Oliveira 104 Versos Gameleiros Como tábuas de madeira, movê-las como peões, Chicoteá-las até que fiquem frenéticas, Ordenar-lhes que matem sem mais delongas, Especialmente em nome de nossa justiça, Mas será impossível mandar que vivam suas vidas inteligentemente, Pacificamente, belamente? Existem somente, entre os homens, Somente aqueles que vivem e aqueles que modorram? Somente aqueles que vivem e aqueles que morrem? Jesus já houvera dito: “que os mortos enterrem os mortos” Sei que é difícil preservar senso de humor Em um mundo que produz bombas atômicas Como hortaliças cintilantes Mas se houvesse senso de humor mais forte na humanidade Talvez não precisássemos recorrer Aquela dolorosa experiência De autodefesa por extinção mútua dos revolucionários. Isso me remete a uma outra pergunta: Se todos os homens virtuosos e revolucionários Se unissem num exército Sem armas, bandeiras, Emblemas e ideologias Unicamente para um fim comum, O de alcançar a paz e a civilidade, Seria esse o fim da humanidade ou o início de uma utopia? E que seria a utopia, Senão uma série de mudanças benéficas Impossíveis de serem alcançadas pelo velho homem Que habita nossos corações totalitários? Que seria de verdade isso que chamamos de utopia? Para mim, a realidade é mais utópica Que as mais gloriosas e virtuosas Verdades humanas. E tem sido... Osvaldo de Oliveira 105 Versos Gameleiros Reflexão Psicotrópica Os melhores anos são os vividos agora, Os instantes que se passam se vão ao calor de seu breve momento. Os breves instantes que vivemos e já se foram decidirão os breves momentos seguintes que virão. Todas as malditas regras morais deste mundo nunca me pareceram algo mais que idéias para serem jogadas no lixo, Convenções arcaicas de sociedades extintas, Fantasias atrofiando a liberdade de escolha do ser humano. No humano, presenciei desde cedo, empiricamente e intuitivamente o seu lado negro e secreto. Sua natureza hermética, Sua imagem e semelhança divina, O berço onde descansa o caos e o equilíbrio O céu e o mar, O claro e o escuro, O bem e o mal, Todas as malditas reflexões ambíguas que a escolha de racionalidade nos impele a ter, Toda a liberdade que um macaco tem do homem por diferença cromossomica, Toda a suposta inteligência e civilidade que nos ilumina e consagra como gente. Escolhi nesta vida ser o que eu quiser, Não amar a Deus ou ao diabo, mas sorrir para ambos oportunadamente, Pois eu, em minha condição humana, não deixo de ter dentro de mim as duas faces da moeda. Penosas armas mortíferas de nosso livre arbítrio De que vale uma vida longa cheia de limitações sistemáticas Que me distanciem da minha essência animalesca? Quero morrer rindo do meu estado, convicto de que vivi o melhor que pude todas as coisas que a vida me fez enfrentar. Osvaldo de Oliveira 106 Versos Gameleiros Homem! puro reflexo narcízico de Deus encarnado, Natureza caótica orquestrada pela corrupção, Jogo divino de forte e fraco, De cruz e espada, De morte e vida. Crueldade divina penitencia divina, morte para a vida, Vida para a morte, dá no mesmo no final, Adubo para o chão e nada mais. Poder e Conquista Não é o homem Que se adapta Ao seu meio É o seu meio Que se adapta Ao homem. Transforma a pintura in natura Da natureza crua E recria seu berço. Não mais a natureza dita à vida A sua própria melodia Hoje a compulsão humana Dita à vida a sua melodia Regida pela sua loucura De conquista... Poder e conquista... a qualquer custo. Osvaldo de Oliveira 107 Versos Gameleiros Suave Pecado (O Sádico) Eu amo sua pele branca e nua Eu amo sua pele fria e crua Eu amo o jeito que você me olha Eu amo o jeito que você se machuca Oh! Meu anjo, como você é linda Oh! Meu anjo, adoro ve-la perdida Deixe fluir o pecado Você sabe que isso me agrada Eu amo a sua maneira de me temer Eu amo a sua maneira de me querer Eu amo o jeito que você me idolatra E eu amo ve-la perder-se de si mesma Suavemente te amo até a hora que você vai embora Eu amo o jeito que você me olha Eu amo o jeito que o pecado te devora. Osvaldo de Oliveira 108 Versos Gameleiros Versos Podres Esta droga de rabisco Escrito no caderno É a brilhante idéia Que ninguém teve até agora Ou que alguém já teve E ninguém ficou sabendo A idéia dos versos podres! Dos versos sujos! Dos versos análogos aos nossos tempos, Dos versos refletidos em nosso meio Os versos podres só nascem Nas almas selecionadas Por Deus Para espalhar o escárnio em nossa terra Quando ninguém mais se lembra Do absurdo que se passa Os versos podres Não são proferidos por radicalistas religiosos Mas por verdadeiros homens de coração livre Ungidos pela vontade Homens que vêem na podridão O retrato mais sincero da realidade A podridão da realidade Na podridão destes versos! A podridão destes versos Para os homens despertos! Osvaldo de Oliveira 109 Versos Gameleiros Raissa Me chamo Raissa Moraes, nasci em Capão Bonito. Começei a escrever quando li pela primeira vez as obras de Álvares de Azevedo, este que é minha adoração e minha inspiração . Adoro musica, amo escrever quando estou ouvindo alguma banda que gosto, Nightwish, Evanescence, Tarja Turunen, estas também me inspiram a escrever. Para mim escrever é como uma terapia, são lagrimas que saem da alma em forma de palavras, são palavras que aliviam a dor, são lembranças que nunca se apagaram. Escrever é estar conectado em um outro mundo, é estar viajando sem sair do lugar, é conhecer os sentimentos sem realmente senti-los, é estar vendo além dos outros. Minhas poesias são simples, mais são muito importantes à mim, são palavras sinceras, são declarações, são simplesmente o meu mundo. 110 Versos Gameleiros Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder... para me encontrar... Florbela Espanca - poetisa portuguesa Raissa Moraes 111 Versos Gameleiros Sem Nome Sinceramente, minha história Não é nada Minha trajetória é inútil Sou aquela sem nome Um ser desprezível Um alguém inútil Um sem nome, aquela sem alma Sinceramente, sou renegada pela vida A ignorada pelo mundo A humilhada pela morte Um ser despresível Um alguém inútil Um sem nome, aquela sem alma Vivendo sozinha Chorando sozinha Sangrando sozinha Aquela sem nome, sozinha e sem alma Raissa Moraes 112 Versos Gameleiros Minha Assombração Encontre-me ao amanhecer e me abrace novamente Não quero mais nada, apenas você em meus braços Venha e me faça sentir, me faça real Mostre-me que ainda estou viva Minha assombração, venha e me faça sentir Sente-se ao meu lado e me ame outra vez Mostre-me o paraíso que sempre quis Encontre-me na escuridão e me siga Segure minha mão e me conduza Olhe dentro dos meus olhos e diga o que vê Encontre-me ao amanhecer e me ame outra vez Minha assombração, venha e me faça real Sente-se ao meu lado e segure minha mão Minha doce assombração vamos fugir para qualquer lugar E quando o amanhecer nos tocar me abrace novamente Raissa Moraes 113 Versos Gameleiros Senhora da Lamentação Me dê um motivo para continuar Me dê uma razão para respirar Me dê um incentivo para tentar novamente Não sei mais como continuar Estou tão só aqui Sozinha abaixo da superfície Não consigo sentir mais nada Me dê uma razão para poder sorrir novamente Me dê um coração que não esteja quebrado Ajude-me, sozinha não vou conseguir Sozinha abaixo da superfície, eu temo Meu fim está próximo Oh, doce senhora da lamentação Oh, doce e imaculada escuridão Oh, doce destino que arrasa comigo novamente Como posso ficar tão frágil? Parece que meu mundo acabou Não consigo mais respirar Oh, doce senhora da lamentação Divina escuridão Doce destino que me mata novamente Raissa Moraes 114 Versos Gameleiros Último Suspiro Seguindo na escuridão da noite Sozinha, perdida, com frio Andando por ruas lamacentas, esperando o fim Guardando meu último suspiro Para o momento certo Seguindo sozinha para meu sombrio destino Guardando meu último respiro Olhando o que minha triste vida se tornou Guardo dentro de mim todos os meus sentimentos Fugindo de mim, seguindo para o fim Segurando meu último suspiro Quero mergulhar no meu fim Esquecer o nada que me tornei Segurando meu último suspiro Não quero ver piedade Não quero anjos junto a mim Deixe-me cair, deixe-me afundar Estou seguindo para minha morte Guardando meu último suspiro Para o momento certo Fugindo de mim, seguindo para o fim Segurando meu último suspiro Quero mergulhar no meu fim Pequeno anjo, quero esquecer quem sou Perdendo meu último suspiro Raissa Moraes 115 Versos Gameleiros Paixão Negra Eu fecho meus olhos E tento apagar Sua imagem da minha memória Vivendo a paixão negra Os dias passam As pessoas se vão E eu continuo aqui Vivendo a paixão negra O sonho acabou A música terminou Nada restou Apenas a paixão negra O mundo perdeu a cor As rosas perderam o cheiro A tristeza invadiu todo o ser Lutando contra a paixão negra Estou aqui olhando pro nada Aqui estou eu pensando em você Eu fecho meus olhos Morrendo pela paixão negra Raissa Moraes 116 Versos Gameleiros Deixando o Resto Em meus olhos tento ver O que me resta para lutar Estou resgatando a dor e deixando o resto Seguindo meu caminho, com demônios ao meu lado Respirando o ódio, sofrendo com companhia Resgatando a dor e deixando o resto Caminhando com Lúcifer eu continuo Levando memórias e tristezas Resgatando a dor e deixando o resto A hora chegou A luz acabou Resgatando a dor e deixando o resto Raissa Moraes 117 Versos Gameleiros Thiago Lara 118 Versos Gameleiros Sensações Pessoas vazias Lugares frios Sonhos perdidos Anjos abandonados Asas quebradas Luzes apagadas Corações dilacerados Pessoas sombrias Almas mortas Seres sem explicação Cores sem noção Sentimento sem explicação Raissa Moraes 119 Versos Gameleiros Escute Escute o chamado que vem de longe Preste atenção e sinta A tristeza se aproxima Ouça o ruído que vem do norte Ondas quebrantes, ventos fortes A melancolia está próxima Olhe ao redor e fique atento Tudo está desvanecendo ao pó A inocência se foi Escute... O som agora está próximo Gritos de dor, cheiro de sangue, guerra sombria Delicie-se a morte chegou Raissa Moraes 120 Versos Gameleiros Pequenos Detalhes Os dias passam As horas se esvaem Tudo passa em ritmo acelerado O mundo muda As pessoas mudam Tudo se transforma Eu e você Pequenos detalhes que ainda resistem Pequenos demais para terem importância Pequenos detalhes Luz e trevas Amor e ódio Pequenos seres sem importância para o mundo Grandes demais um para o outro Pequenos detalhes Pequenos pedaços que não significam nada Grandes o suficiente para machucar Pequenos detalhes, amor e ódio, luz e trevas Raissa Moraes 121 Versos Gameleiros Volta De que adianta o paraíso Se o inferno vem antes? De que adianta a luz Se sigo na escuridão? Meu anjo me deixou aqui Disse que eu precisava aprender Estou abandonada... Sempre abandonada Dia solitário, noite fria, morte lenta Estou acorrentada aqui Jogada dentro de quatro paredes mortas Ei? Cadê você anjo? Você me esqueceu aqui? Não! Você não pode me deixar! Dia solitário, noite fria, morte lenta Raissa Moraes 122 Versos Gameleiros Rojer Rÿoz Rogério Marcos Machado ([email protected]), poeta escritor e jornalista, participou de diversas antologias poéticas e concursos literários Brasil adentro e, em 2002, lançou Gatos Apimentados (Scortecci Editora/SP). Entre seus autores favoritos estão L. F. Veríssimo, Machado de Assis, Dostoievski, Franz Kafka, Jack Kerouack, William Burroughs, Mário de Andrade, Edward Lear, Mário Quintana, García Márquez, Oscar Wilde, Fernando Pessoa e outros de igual qualidade. Capão-bonitense até a última unha do pé, confessa extrema alegria em participar de tão importante coletânea em par com outros cantadores desta mística Terra Gamelis. Nota do Poeta: Os versos de abertura são uma homenagem ao querido e espirituoso avô Joaquim Mendes Machado, falecido em agosto de 1991, e posteriormente deram origem a dois outros poemas: Coisas Que Só o Tempo Pode Fazer Igual e Ao Planeta, ao Universo, a Mim, peças integrantes do livro digital Linhas para Depois do Acaso (2011), disponível para download gratuito no endereço: http://www.slideshare.net/RMMachado/linhas-paradepois-do-acaso 123 JMM (1912-1991) Versos Gameleiros No entanto, não sei se é por causa das águas, deste ar que desentoca do chão as formigas aladas, Atitude ou se é por causa dele que volta e põe tudo arcaico, como a matéria da alma, se você vai ao pasto, se você olha o céu, aquelas frutinhas travosas, aquela estrelinha nova, sabe que nada mudou. Adélia Prado - poetisa mineira Rojer Rÿoz 124 Versos Gameleiros Você me diz coisas que colheu na juventude e nessa ânsia de seguir os seus passos eu posso cair Não sei se o que impele a essa dor do mundo é o ódio que reside em nós mas é certo que todos sentiremos o frio... As frases sarcásticas ficaram no ar Seu sorriso infantil parece renascer Eu vejo em você uma luz sobre meus medos mas ele se transformam e são mutantes Quem irá nos restituir a paz? O ato espontâneo da vida! Os cavalheiros e seus acordos não há lirismo nessa doença chamada poder Eu vejo um homem tolo e seu tambor solitário vivendo ao compasso do tempo ...e brilham as luzes da América ...e soam a vozes da África ...e soam tambores Tupis mas eu sinto que ainda não sabemos que somos livres, na essência do ser... livres... Não sei se é sede ou fome mas é algo que existe em mim também Seus olhos me olham confusos diante da vida, diante de tudo Não queria nunca lhe falar dos jogos de guerra não queria ouvir seu pranto desnecessário não chore por mim, nem por você não é para isso que estamos aqui A vida nos recicla e nos faz ver sentido nos farrapos do mendigo que também somos Você me diz coisas que colheu na juventude e nessa ânsia de seguir os seus passos eu posso cair ...e beijar os seus pés... Rojer Rÿoz 125 Versos Gameleiros Testamento ao morrer leve é a certeza de levar a tristeza de não ter vivido não ter causado não existido não ter criado uma guerra civil não tecido a grande revolução passado como passado – uma fábula rasa – parábola em branco ao morrer estanho será a dor de não ter sofrido não ver provado do mal de não ter amido como deve ser doída a sensação de não ter sentido não ter ousado não ter havido ao limiar do morrer incerto ainda é não rir o riso o retesar do arco do triunfo o esperanto de ser fado com a espera a espreitar pelas frestas aletas lápide em branco... Rojer Rÿoz 126 Versos Gameleiros Oração Insubordinada aos 4 Ventos leve é o vento que a tudo enreda e enleva hálito de alento pressa pulsante pelas frestas-burca das janelas leva do voo sem aço dos assanhados sanhaços – pássaros palhaços, doninhas do ar – ao estético esboço do esquelético balé sem osso das folhas em seu infiel farfalhar lisa, navalha e fina é a brisa que arresta os torrenciais dormentes, presentes dias e dentes nos fios vis dos meus pensamentos nave que carrega e entrega lembranças deixadas de lado – aladas como se feito um postal, uma história esquecida no vaso volátil da valise de um memory card ao apalpar os flancos das flores ou os florescentes feixes de luz repousados sobre a confusão cristalina das gotas desleixadas de prisma corados sob o frio inclemente da noite pela timidez da neblina, o poeta – semeador de palavras – rende ao vento seu suspiro primal débil é o sopro que estende a poeira dos tempos em quase quânticos finos pêlos de pele – algo nunca delével – camurça gutural seu sibilo – passaportes de medo – ao sopé do dos ventos uivantes vento, ventríloquo do total livre arbítrio, senhor das águas e das asas ordem e caos, fé e cinismo, alma e rancor, istmo e mar – delicado senhor das fúrias e irrequieta musa da paz vento: verde, crespo, amaro, doce; silêncio impertinente, cheiro de livro bom – mistério impretérito, falso e quase imperfeito... Rojer Rÿoz 127 Versos Gameleiros Pé de Passarinho na próxima encarnação sim, porque renascer é preciso – assim como impreciso é a nau vagar – quero voltar passarinho mas não passarinho no afã de voar voar é artefato-razão do pensamento é o plano de voo que põe o passarinho no ar é o pensamento que o faz – passarinho – passarinhar na próxima encarnação quero voltar ao meio da passarada não, também não me encanta Pasárgada não quero voltar passarinho para vazar as nuvens, aguilhoar o céu não faço questão de ignorar mares, ares ou continentes quero ser o tal passarinho que sou agora, aquele que, só pelo prazer de poder, sob o mormaço de sal do sol de lá fora roubar os frutinhos à sombra da mesma velha amoreira, desde o ocaso até a aurora... Rojer Rÿoz 128 Versos Gameleiros Renitência dar as mãos andar às mãos dadas ideias atadas Poema sem Y li Leminski na parede tirei o tênis e fiz xixi a pé na tela a hora, doente matrona, incrustada nas pedras, pregava mentiras ... e horas sem folga... o silêncio, gato assustado e pêlos eriçados, é pleno, solene, desconfortável, um relógio mouco – como colaborador Tiquetaqueando os segundos, os centavos – e os outros tons do tempo – e do decafônico silêncio... Rojer Rÿoz 129 Versos Gameleiros Lápide ser insensível sou (...sem alma) dizem: “pedra que não chora à lasca tirada, ao tombo de alto penhasco...” por ser pedra que não chora, Sou – sem alma... – a pedra mutilada... Tabapuera Minha aldeia não é nada daquilo com que se parece pois sua realidade tal véu de noiva mesmo antes do conúbio das núpcias é nuvem que se esvanece Rojer Rÿoz 130 Versos Gameleiros Vertigo fiz um poema para poder tocar em você dedos e palavras à deriva vagando na maresia, serena tempestade desses seus olhos céus, até se aninhar na nudez dos ouvidos como um dolorido sussurro sem dor, em braile, preto e branco ...um poema indizível – quase uma imprecação – sorrateiro, em passos e pés imprecisos – versejo. tudo para que todos os cantos da noite se calem e o tambor desse coração-revólver passe num descompasso assustado ...palavras que possam ser cápsulas, barbitúricos a seduzir seus instintos um poema sem Norte uma marca de sorte para calar no templo do seu corpo Rojer Rÿoz 131 Versos Gameleiros Isabela Rosa 132 Versos Gameleiros Verso e Ventania não reconheço + esta cidade luz, sons e sombras tão bem acomodadas numa – outra antiga – outrora assim como o limiar da própria história também se foram embora as noites já não carregam mais enluarada tristeza... são noites vazias nos ganidos moucos dos cães vadios a brisa serena – de antes: poema – é verso em ventania não me recordo mais nessa cidade a neblina almiscarada – provinciano fog do 3º mundo – agora é gesso [na alma, osso nos olhos ruas, casas, andaimes e motores – impuro gestual pós-moderno Rojer Rÿoz 133 Versos Gameleiros Até as Musas Precisam de Ar para Viver Hipérbole (ultramarinamente) esvoaçante sangue no varal música tosca lambendo o fim de tarde vultos no cu do mundo cabelo curto – mancueba – (sábado de manhã vou... – por vontade própria! –) em letras maiúsculas de forma bastão mural de Bach flores mortas no alpendre – sequidão rústica – lua lesma... rastros pegajosos no paletó lábio jocoso batom borrado e cheiro de lavanda – saudade suja – “o amor é uma fruta velha, descascada...” o amor é nada Rojer Rÿoz 134 Versos Gameleiros Poeta anjo das vacas magras tenso como o nó da dor refutado órfão à luz de velas pela Lua denso como o pó oblíquo, difuso assim e só é que deve ser o ser do amor Rojer Rÿoz 135 SUMÁRIO Prefácio 4 Agatha Fabiane Santiago da Paixão 5 Antonio Celso dos Santos 18 Aline Nóbrega Rodrigues 31 Juraci B Chagas 44 (Drika) Adriane Cristina Bernardo da Silva 57 João Lafayetti Gomes Barreto 70 Juliana Maria da Costa 83 Osvaldo de Oliveira 96 Raissa Moraes 110 Rojer Rÿoz (Rogério Marcos Machado) 123 Impressão e acabamento: Alternativa Artes Gráficas - (15) 3542-2992 - [email protected] 136 Novos versos gameleiros trazem à tona autores já conhecidos do público e também novos criadores, o livro apresenta poetas que não querem ser poetas, anjos que cantam seus demônios, desenhistas que traduzem com suas penas as duras penas dos poetas, cantores da vida, da alegria, da tristeza e da utopia. Os Editores