De como Rembrandt me faz lembrar a Sandy… O filho pródigo de

Transcrição

De como Rembrandt me faz lembrar a Sandy… O filho pródigo de
De como Rembrandt me faz lembrar a Sandy…
O filho pródigo de Rembrandt é um quadro com
mais de 300 anos, e ainda hoje nem todos os
mistérios sobre ele foram descobertos, tantas coisas
a serem observadas, desde a luz que é esplêndida,
até a particularidade das mãos que abraçam o filho,
a mão esquerda tocando o ombro,mostra ser uma
mão forte, larga, musculosa; A mão não toca, ela
afaga, ela chama pra perto com sua força, ela
protege e fortalece, dá segurança e oferece
comunhão e aconchego.
A mão direita não segura ou agarra; ela se apoia
sobre o lado esquerdo das costas do filho; é
delicada, macia; Os dedos são alongados, finos e
tem uma certa elegância. Com certeza é uma mão
feminina, mão que quer acariciar, afagar e oferecer
consolo. É a parte materna do pai.
Eu sou leiga em artes, mas me peguei outro dia
quase uma hora observando uma réplica do quadro
e tentando entender o que os pincéis de Rembrandt
queria que eu entendesse.
A parte que mais prende os meus olhos são as sandálias do filho arrependido.
Os pés cansados, sujos, calejados, as sandálias gastas de tanto procurar, de tanto peregrinar
na terra do choro a busca pela alegria.
Eu gosto de ver um dos pés descalço e a sandália gasta do outro pé, gosto de pensar que essa
sandália foi gasta numa procura avassaladora por amor, por aceitação, por reconhecimento,
por um colo onde ele pudesse se jogar e entregar sua alma.
Os pés do filho pródigo foram por lugares que até ele mesmo duvidara que chegaria, a
jornada do filho pródigo foi uma descida sem trégua em um desfiladeiro de dor, trevas e
noites mal dormidas. As sandálias do filho mostravam o território de guerra por onde ele
tinha pisado, mostravam que suas escolhas quase lhe custara a própria vida.
Qualquer pessoa olhando as sandálias daquele filho, saberia que ele estava voltando de uma
jornada longa, solitária e sangrenta.
A Sandy, que era uma das minhas cantoras preferidas na infância, compôs uma canção
chamada “pés cansados " que me faz lembrar o filho pródigo e sua busca incansável pelo
amor paterno. Parte da canção diz:
"Depois de tanto caminhar ,depois de quase desistir os mesmos pés cansados voltam pra
você Sem medo de te pertencer volto pra você. Meus pés cansados de lutar, meus pés
cansados de fugir os mesmos pés cansados voltam pra você…. sem medo de pertencer
voltam pra você.”
Me faz lembrar a mim também e minhas buscas desnorteadas para encontrar em outros
lugares o que só encontro nos braços do Pai, e nessas caminhadas, nessas buscas por luz
onde só existem trevas eu me percebo longe do que é meu, longe de quem sou, e volto
desesperada. Nessas “voltas pra casa” tudo é duvidoso mas tenho uma certeza que brilha
mais que o sol, a de que Ele estará me esperando com os braços abertos, com um abraço
apertado com um colo limpo e preparado onde poderei me desarmar e me aconchegar até
que as feridas dos meus pés sejam curadas.
E com essa certeza eu volto, de onde nunca deveria ter saído, volto pra onde eu me sinto
pertencida e para Aquele a quem eu pertenço.
Graci Mota