tRAnSpAREntE - Sustainable Harvest
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tRAnSpAREntE - Sustainable Harvest
Mundo Café EL SALVADOR conexão transparente O Let’s Talk Coffee reuniu produtores e torrefadores em El Salvador para debater os principais desafios e avançar no modelo de relação entre as pontas do setor Texto Mariana Proença Momentos distintos durante os três dias do evento, com muitos cuppings, palestras e, claro, cafés. Na foto acima, o grupo todo reunido para a foto oficial. Há 15 anos, o conceito de comércio direto entre produtores de café e torrefadores era algo novo, com poucos exemplos positivos no mundo. Países consumidores importavam café das origens e pouco conheciam sobre o país de que estavam comprando, quiçá sobre o rosto e a história dos produtores que colhiam o fruto. Com o movimento dos cafés especiais e de qualidade tomando força no mundo, empresas e executivos passaram a enxergar com outros olhos o mercado produtivo de café. O empreendedor David Griswold, norte-americano, foi um deles. Desde 1989 no café, decidiu que faria sua parte para modificar essa cadeia e encurtar o caminho. Fundou em 1997 a Sustainable Harvest Coffee Importers, em Portland, terra dos cafés especiais, e que hoje é uma das maiores referências em como fazer a conexão entre as pontas de forma transparente e, por que não, inovadora. Uma importadora formada por gente jovem que a todo momento repensa o jeito de atuar e incentivar produtores e torrefadores a fazer melhor e diferente. Para premiar todos os que participam dessa empreitada e ganhar mais fôlego, a Sustainable Harvest organiza anualmente o Let’s Talk Coffee, evento que reúne, durante três dias, em uma região produtora, os personagens dessa cadeia do café para debater, estreitar relacionamentos e, principalmente, ganhar mais conhecimento em palestras e seminários que unem diferentes realidades. Para David Griswold, “o maior desafio do Let’s Talk Coffee, e também a grande oportunidade, é mostrar quais são as ideias e atitudes que estão acontecendo ou que devem acontecer hoje no mundo. O nosso objetivo é trazer todos para fazerem parte dessa conversa. Diferentes painéis e discussões mostram novas formas de pensar e incluir as pessoas. Hoje a cadeia de café tradicional que conhecemos está quebrando, precisamos reinventar a forma de fazer”, avalia. EL SALVADOR, 2013 Neste ano, de 30 de outubro a 3 de novembro, o evento foi realizado em El Salvador, país da América Central com 7 milhões de habitantes, e que produz 1,16 milhão de sacas de café anualmente. Ele detém o título de primeira nação produtora a ganhar o campeonato mundial de barista, com Alejandro Mendez, da cafeteria Viva Espresso, em 2011. Para ele, que esteve participando do evento durante todos os dias e preparando café para os participantes, “é uma grande oportunidade para que os produtores entendam o ponto de vista do importador, a importância da qualidade e o que esperam os compradores. É lindo, pois reúne toda a cadeia de quem trabalha com café”. Ele acredita que os baristas poderiam participar mais falando sobre métodos de preparo, extrações de café e de como se conquista o cliente: “Somos a última ponta da cadeia e preparamos esses cafés para os consumidores”. 96 ESPRESSO ESPRESSO 97 BRASIL EM DESTAQUE O produtor do Norte Pioneiro do Paraná, Luiz Roberto Saldanha Rodrigues, proprietário da Fazenda Califórnia, foi um dos brasileiros presentes neste ano. Em 2011 o cafeicultor esteve pela primeira vez no evento e começou a aprender a provar café junto com a equipe da Sustainable Harvest. A partir dos conhecimentos adquiridos, começou a mudar os processos na fazenda e a investir mais na qualidade. Durante a sessão de cupping realizada neste ano, oito cafés de diferentes origens do mundo foram postos à prova. Segundo Luiz, ele estava um pouco temeroso pelo resultado do seu café, pois havia na mesa amostras de cafés muito complexos, como os africanos. Mas a repercussão do café brasileiro foi muito positiva: “Os compradores não imaginavam um Brasil com esse nível de qualidade e poucos conheciam o Norte Pioneiro. Foi uma oportunidade única de quebrar paradigmas”. A relação com a Sustainable Harvest começou há dois anos, quando, através da Cooperativa dos Produtores de Cafés Certificados e Especiais do Norte Pioneiro (Cocenp), um grupo de 350 produtores de café fairtrade iniciou as primeiras vendas para a Sustainable Harvest. Para o norte-americano Allen Leibowitz, da Zingerman’s Coffee Company, o café estava com uma qualidade excepcional. A reação dos provadores durante o cupping foi realmente muito impressionante e a presença do produtor para contar sua história emocionou a todos. Exercício coletivo proposto por alunos da Stanford University’s Design School, dos Estados Unidos, promoveu uma aproximação entre os participantes. Ao lado, o jornalista do The New York Times, Oliver Strand, fala sobre as tendências do café. O principal tema discutido pelos 400 participantes neste ano foi o preço do café, uma das preocupações mundiais que aflige produtores e torrefadores. Para Sevan Istanboulian, proprietário da Café Mystique Coffee, em Montreal, no Canadá, que está há vinte anos no mercado, o alerta é necessário: “É curioso como há dois anos, no Peru, estávamos discutindo como os torrefadores poderiam manter os preços e agora estamos discutindo a queda do preço para os produtores. A moeda girou completamente. É a mesma discussão e a mesma solução que as pessoas sugerem, mas o implemento dessas soluções demora muito tempo e voltamos ao mesmo problema. A mensagem hoje é ‘não há mais possibilidade de fazer dessa forma’ e a indústria precisa agir”. LET’S TALK ROYA Este foi o primeiro ano que a Sustanaible Harvest organizou um evento para falar especificamente da ferrugem, um problema que vem afetando a maioria dos cafezais no mundo, principalmente na América Central e em alguns países da América do Sul. Participaram 300 pessoas, por outros três dias, debatendo sobre problemas climáticos e soluções para esses desafios. 98 ESPRESSO FOTOgrafias lucia hernandez, mike russel e Bryan Clifton PREPARANDO-SE PARA OS DESAFIOS Nos intervalos das palestras, produtores e torrefadores têm a oportunidade de se relacionar. Esse é o DNA do encontro. Porém, vale ressaltar que a língua ainda é uma barreira presente nessa comunicação. Mesmo assim, há um enorme esforço de todos para ajudar nessa conexão, o que acaba criando um jeito de conhecer pessoas novas. A equipe da Sustainable Harvest trabalha nesse sentido durante todo o evento, auxiliando em conversas um a um ou ainda realizando questionamentos mais pontuais em todos os dias de encontros. O objetivo é que as pessoas saiam de lá com soluções para seus desafios regionais e que abram a cabeça a pesquisas, tecnologias, empreendedorismo e novas formas de relação com o mercado de café de qualidade. Que queiram fazer diferente. Torrefador norte-americano há onze anos no setor, Allen Leibowitz, da Zingerman’s Coffee Company, veio pela primeira vez para participar dos temas relacionados ao robusta fino (neste ano uma novidade foi um evento paralelo, o Let’s Talk Robusta). Ele vê o modelo de relação para a compra do café como algo muito importante, e o evento proporciona uma vibração muito positiva e de conexão real entre as pessoas. “Eu tenho vários produtores com quem me relaciono, mas aqui temos até trinta países juntos e isso é muito rico. Eu gosto de ter cafés de regiões específicas do mundo e vender isso para o meu cliente, de forma diferenciada.” Para Oscar Gonzales, especialista em qualidade na Sustainable Harvest e primeiro Q Grader do Peru, neste ano o evento trouxe não só torrefadores com quem a importadora tem relação, mas também novos compradores e produtores bem variados que puderam conhecer o trabalho do comércio direto. “A cada ano o evento é inovador e apresenta temas de tendências, tecnologias e investimentos. Estamos buscando mais compradores que paguem preços justos para que os produtores possam continuar dando sequência ao trabalho.” Outra parte importante são as sessões de cupping, que acontecem de forma a incentivar os torrefadores a conhecer novos sabores. “As provas de café são fundamentais porque é o momento, o espaço para reunir todos da cadeia de qualidade para calibrar e ver os perfis de grãos que estão sendo procurados pelas empresas”, avalia Oscar. O barista Pete Licata, campeão mundial em 2013, esteve pela primeira vez no Let’s Talk Coffee e gostou muito da experiência, para ele, inédita: “É um evento maravilhoso com produtores, torrefadores e baristas que estão se comunicando e compartilhando seu tempo. É inacreditável e fantástico. Os produtores estão querendo provar o café que estou preparando aqui nesses dias e estão tendo a chance de ver como é uma boa interpretação de um espresso”. FIQUE DE OLHO Panamá: Let’s Talk Coffee 2014 Brasil: Let’s Talk Coffee 2015 O fundador da Sustainable Harvest, David Griswold, abre uma das conferências. ESPRESSO 99
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