Instrumentos Musicais - Museu da Música Portuguesa
Transcrição
Instrumentos Musicais - Museu da Música Portuguesa
Instrumentos musicais: a Música e a Tradição… Museu da Música Portuguesa Serviço de Educação e Animação Cultural Introdução Desde sempre os museus foram espaços criados para albergar colecções, procurando reter a história do homem reflectida nos seus testemunhos materiais e imateriais, construindo desta forma a memória de um percurso histórico nas suas mais diversas manifestações artísticas, culturais, sociais e políticas, formando no seu conjunto um discurso civilizacional. Estas casas de cultura têm como missão conservar e preservar as suas colecções, desenvolver o seu estudo e promover a sua divulgação junto do público, tendo por objectivo último dar a conhecer um património que a todos nós pertence. De entre os museus temáticos, dedicados a um tema específico, encontramos hoje os museus de música, disciplina cujo estudo foi ganhando um interesse maior, por se revelar uma complexa e importante manifestação artística e espiritual do homem ao longo dos séculos. O interesse no século XIX dos compositores românticos pelo seu folclore nacional e os estudos mais aprofundados do século XX, também, pela música de tradição oral não-europeia, permitiu a constituição de um acervo cultural inestimável. Reunindo sobretudo colecções de instrumentos musicais, mas também registos de uma música não escrita, que sobreviveu à custa da transmissão oral e da preservação cultural dos povos e ainda um acervo histórico de música erudita, legada para a posterioridade pelo ofício dos compositores, permite que se estabeleça hoje nestes museus um contacto com esta arte, também, de um ponto de vista cultural. O Museu da Música Portuguesa tem como tema central a ‘música portuguesa’, quer na sua expressão tradicional quer erudita, e 2 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural resultou da reunião dos espólios de duas importantes figuras: o etnomusicólogo Michel Giacometti, que realizou no nosso país uma importante investigação etnomusicológica e o compositor Fernando Lopes-Graça que, além de colaborar nesta investigação sobre a música tradicional, realizou uma obra musical própria, onde a busca de uma linguagem erudita de raíz portuguesa está presente. O Museu da Música Portuguesa promove a divulgação deste importante património através de exposições temporárias, concertos, conferências e programas especiais de visitas. Estes programas abordam diversas temáticas e foram desenvolvidos de acordo com os programas curriculares, procurando adequar a actividade e a sua linguagem aos diferentes grupos etários. 3 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural OS INSTRUMENTOS MUSICAIS Os instrumentos musicais foram criados pelo homem para produzirem som e com eles fazerem a sua música. De início aproveitavam os materiais da natureza como pedras, ossos, paus, conchas, realizando com eles a marcação rítmica de acompanhamento da voz, o primeiro instrumento natural do homem. Ao acompanharem o canto, que tinha uma função ritual e espiritual em muitas comunidades, os instrumentos musicais atingiram uma grande importância atribuída pelos deuses e o músico que os tocava tinha um lugar de destaque na comunidade. Ainda hoje, alguns instrumentos são propriedade de uma determinada comunidade e têm valor ritual. De feitura mais rudimentar ou mais elaborada, o homem possui hoje uma grande diversidade de instrumentos musicais, quer tradicionais quer eruditos. Pelo sistema de produção de som, os instrumentos musicais agrupam-se por diferentes famílias: Os cordofones, instrumentos de corda, têm como elemento vibrante uma corda esticada. Os aerofones, instrumentos de sopro, usam o ar como meio principal de vibração e produtor de som. Os membranofones, instrumentos de acompanhamento rítmico, o seu elemento vibratório é uma pele esticada. Os idiofones produzem som através da vibração do seu próprio corpo. 4 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural AEROFONES GAITA - DE- FOLES Aerofone composto por um fole em pele de cabrito, com três bocais de madeira, para o ponteiro, o roncão e o assoprete, respectivamente. Este instrumento remonta à antiguidade e tem carácter popular, sendo usado em muitas ocasiões festivas, mesmo as de carácter religioso, como as procissões Pascais ou as cerimónias ligadas ao Natal. A Gaita de foles é utilizada nas regiões Centro e Norte do País, especialmente em Trás-os-Montes, onde continua a ser o principal instrumento na música tradicional. É tocado tradicionalmente ao ar livre, em conjuntos instrumentais com bombo, caixa ou tamboril e em formações designadas por “gaiteiros”. PALHETA Aerofone formado por um tubo de forma cónica, em madeira de buxo, cuja base termina em campânula e conta com cinco furos melódicos. No topo existe uma abertura para a inserção de uma palheta dupla de cana (como a do “oboé”). A coluna de ar é posta em movimento pela vibração da palheta dupla, quando soprada pelos lábios cerrados do tocador. É um Instrumento de passatempo individual, utilizado por pastores na região da Beira baixa, estando hoje completamente em desuso. 5 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural FLAUTA DE PAN Aerofone constituído por vários tubos melódicos de cana, de tamanhos diferentes, unidos entre si. A altura dos tubos está relacionada com a altura do som, formando no conjunto uma verdadeira escala. Designada popularmente por Flauta de Amolador, é usada nas cidades em determinados ofícios ambulantes, que com o seu toque se anunciam pelas ruas. O porqueiro ou capador também utiliza este instrumento, para se anunciar nas alturas próprias, nas zonas rurais. FLAUTA DE TAMBORILEIRO Aerofone formado por corpo de madeira. No topo encontra-se uma fenda estreita e laminar para a passagem do ar com o bico talhado em bisel. Quando tocada em conjunto com o tamboril, o tocador segura o instrumento pela base com a mão esquerda. Com a mão direita segura a baqueta para percurtir o tamboril. Quando usada a solo, toca-se com a mão direita. O tamborileiro apresenta-se nas regiões de Trás-os-Montes e na faixa Alentejana além-Guadiana, em funções lúdicas e cerimoniais, podendo participar em procissões, casamentos, alvoradas e igualmente nos bailes com repertório característico de cada região. 6 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural FLAUTA TRAVESSA Aerofone com corpo formado por entre-nó de cana, tendo seis furos melódicos frontais e um furo de embocadura. É um instrumento de uso individual associado à atividade pastoril. É tocado no Baixo Alentejo e região do Algarve. Também é usado para enriquecer conjuntos musicais em bailes de carácter popular. OCARINA Aerofone feito de barro. Conta na parte superior com quatro furos melódicos para a mão direita e quatro furos para a mão esquerda e, na parte inferior, com dois furos para os polegares. Encontram-se sobretudo na região de Barcelos e das Caldas da Rainha, sendo usadas nas festas de peditório dos Reis. Ainda hoje se vendem estes instrumentos em feiras, por todo o país. 7 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural MEMBRANOFONES BOMBO Bimembranofone semelhante pela sua estrutura ao bombo, sendo no entanto de menores dimensões. Apresenta o fuste em madeira e membranas de pele. Sobre estas encontramse dois arcos de madeira pintados, ligados entre si por corda de sisal, cuja tensão se obtém através de esticadores em cabedal. A pele entra em vibração pele acção percutiva da maceta. Instrumento usado em conjuntos de Zés-pereiras e ocasionalmente nas rusgas e chulatas do Minho e Douro Litoral. ADUFE Bimembranofone de forma quadrangular, composto por duas peles de cabra cozidas sobre uma moldura de madeira, com soalhas de lata no interior. É um instrumento de percussão directa com as mãos. O Adufe é habitualmente tocado por mulheres em conjunto a acompanharem-se em coro. Utilizado na zona das Beiras para acompanhar canções festivas e profanas, como as danças e canções de trabalho e outras de carácter cerimonial, canções religiosas e de romaria. Em Trás-osMontes tem a designação de pandeiro quadrangular. 8 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural PANDEIRETA Unimembranofone de aro redondo, com filas de soalhas em lata. Decorada com fitas, laços e “pompons” muito coloridos, característica única das pandeiretas de Campo Maior, região de Elvas. Este instrumento é tocado por mulheres nas festas, bailes e em algumas cerimónias religiosas, como o Natal, e no acompanhamento das ‘saias’, dança típica do Alto Alentejo. Os homens tocavam, por vezes, a pandeireta, quando iam às inspecções militares. Actualmente é um instrumento obrigatório nas Tunas Académicas. SARRONCA Membranofone de fricção, feito de madeira com um dos topos tapados por uma pele esticada. No centro da pele, prende-se uma haste de cana, que se eleva verticalmente acima dela. A haste é friccionada com os dedos produzindo um ruído grave e fundo, que o bojo da caixa transforma em ronco, som característico do instrumento. Este instrumento é usado em duas épocas festivas distintas: no Carnaval ou Entrudo, em desfiles e brincadeiras, e no Natal a acompanhar os cânticos desta quadra, cantares ao Menino, Ano Novo e Reis, dentro e fora das igrejas. 9 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural IDIOFONES PAULITOS Idiofone percutivo constituído por dois paus cilíndricos de madeira, que se entrechocam. Instrumento usado pelos Pauliteiros de Miranda do Douro e do Mogadouro, para marcar o ritmo de acordo com a movimentada coreografia das suas características danças (lhaços, passacalhes, fandangos e outros). CASTANHOLAS Idiofone em madeira facetada de forma oblonga. Estas castanholas são usadas na região de Trás-os-Montes pelos pauliteiros de Miranda e do Mogadouro em certos «lhaços» das suas danças, marcando o ritmo em alternância com os paulitos. As castanholas são instrumentos muito vulgarizados no nosso país, nas suas mais diversas formas e tamanhos, a acompanhar danças ou cantares festivos das várias regiões. 10 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural CASTANHOLAS DE CANA Idiofone formado por corpo de cana no qual é feito um corte longitudinal. O som é produzido pela vibração do corpo, provocado pelo entrechoque das duas metades superiores. É usado ainda hoje para acompanhar o ritmo em danças como o fandango na região do Ribatejo. REQUE-REQUE Idiofone constituído por uma tábua de madeira com recorte da figura humana, tendo um dos lados o bordo denteado. Toca-se friccionando a parte dentada do instrumento com um pau, em movimentos ritmados de vai e vem. É utilizado um pouco por todo o País, com destaque para a região do Minho, onde é usado em conjuntos para acompanhamento de danças com função lúdica. 11 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural GENEBRES Idiofone composto por catorze elementos cilíndricos de madeira, com tamanhos decrescentes. Este instrumento acompanha a característica “Dança dos Homens”, que tem lugar em meados de Maio em Castelo Branco, na região da Lousa, em honra da Senhora dos Altos Céus, onde aparece com carácter cerimonial. O homem que leva o instrumento pendurado ao pescoço, é quem comanda as marcações da dança e representa o elemento libertino do grupo. TRIC-LIC-TRAC Idiofone com o corpo composto por uma tábua de madeira de forma rectangular e por três fileiras paralelas de cinco martelos cada uma. O instrumento é posto em vibração pelo choque dos martelos na tábua. O tric-lic-trac é usado durante a Quaresma em grupos de “rapazes” ou individualmente. Com significado mágico ritual, tinha como função afastar os maus espíritos. Ainda hoje se realizam estas celebrações em algumas aldeias transmontanas. 12 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural TRÉCULAS Idiofone composto por uma série de tábuas rectangulares de madeira, unidas por uma corda. O corpo do instrumento é posto em vibração pelo entrechoque das tábuas. É usado nas procissões da Semana Santa e como divertimento dos rapazes em conjunto com os chincalhos para anunciar o apuramento para o serviço militar. CHINCALHOS Idiofone composto por uma tábua onde estão presas várias soalhas de lata, que chocalham quando agitadas. O instrumento era usado pelas crianças a acompanhar os cantares das Janeiras ou dos Reis e pelos rapazes de certas zonas do Alentejo, quando iam às “sortes”, na altura das inspecções militares, de forma a festejar com ruído. 13 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural CORDOFONES GUITARRA PORTUGUESA Cordofone composto por caixa de ressonância, braço e cravelhal, com seis ordens de cordas duplas. Toca-se dedilhando as cordas com os dedos ou com uso do plectro (palheta). Inicialmente a guitarra difundiu-se como instrumento aristocrático tocado em salões, com um repertório musical específico como os “minuetos”, as “marchas” e “contradanças”. Actualmente este instrumento está ligado ao fado de Lisboa e de Coimbra, com funções de acompanhamento, servindo igualmente outros géneros mais populares como os cantares ou danças festivas, em rusgas ou tunas. VIOLA BRAGUESA Cordofone em forma de oito, composto por caixa de ressonância, braço e cravelhal, com cinco ordens de cordas duplas, que se tocam de rasgado. Instrumento popular do noroeste português, sobretudo na região do Douro e Minho, associado às “rusgas minhotas” e a outras ocasiões de carácter festivo. Acompanhando as chulas e desafios, tocada a solo ou em conjuntos instrumentais, a viola braguesa pode ser acompanhada pelo cavaquinho, violão, ferrinhos, reque-reque, rabeca, guitarra, bandolim e acordeão. 14 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural CAVAQUINHO Cordofone em forma de oito e de pequenas dimensões. Composto por caixa de ressonância, braço e cravelhal, com quatro cordas simples de arame, que se tocam de rasgado. O instrumento é utilizado em vários pontos do País. No Minho e Douro Litoral, o cavaquinho acompanha conjuntos de rusgas e chulas e no Algarve acompanha o canto nas serenatas. Em Coimbra aparece nas mãos dos estudantes, em festejos da cidade e nas suas típicas serenatas. 15 Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria Serviço de Educação e Animação Cultural