22/12/13 – the times – reino unido

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22/12/13 – the times – reino unido
22/12/13 – THE TIMES – REINO UNIDO
http://www.thetimes.co.uk/tto/news/world/americas/article3956414.ece
No Brasil, empregados dos Correios ajudam Papai Noel a levar o Natal aos mais
pobres
Por: James Hider
Tradução: Júlia Consentino
Os presentes perto da árvore de Natal não podiam ser menos convidativos: pacotes
embrulhados em papel pardo e marcados apenas com números impessoais.
No entanto, esses presentes são destinados a centenas de milhares de crianças brasileiras
que de outra forma não receberiam nada. Elas escreveram para Papai Noel pedindo de
comida a um trabalho para um pai desempregado .
Todos os anos, cerca de um milhão de crianças carentes no Brasil escrevem uma carta
endereçada ao "Papai Noel, Pólo Norte". Elas acabam nos Correios, onde são tratadas
em salas destinadas à "Campanha Papai Noel". Aqui, elfos empregados do governo
catalogam a idade da criança, o que elas querem, e seu endereço.
As cartas são deixadas em grandes pilhas nas mesas do hall de entrada, ao lado de uma
árvore de Natal. Lá, elas são lidas por brasileiros com melhores condições
socioeconômicas, que leem histórias às vezes de partir o coração, às vezes divertidas,
com pedidos de presentes e decidem qual criança querem ajudar.
Os doadores saem para comprar o que a criança pediu – um boneco do Homem-Aranha,
um par de patins, bicicleta ou, muitas vezes apenas comida, roupas ou sapatos. Eles
voltam para os Correios, onde um empregado recebe, coloca o número, e adiciona o
pacote à pilha de entregas.
"Como sabemos, algumas pessoas simplesmente não podem pagar por um presente de
Natal", conta Christian Diniz, 33 anos, um bombeiro que está doando uma porção de
alimentos para duas crianças, com idades entre 1 e 2 anos, as quais a mãe havia escrito a
carta. "Se pudermos ajudar , é ótimo."
O projeto vem acontecendo há quase 25 anos, quando alguns trabalhadores dos
Correios, movidos pelos apelos de crianças pobres para " Papai Noel ", juntarem-se para
comprar os presentes. Atualmente, é uma operação de âmbito nacional patrocinada pela
empresa, que introduziu algumas regras: a idade das crianças têm que ser inferior a 10
anos, a carta precisa ser escrita à mão, e ela tem que ter um endereço válido e código
postal.
Este último não só garante a entrega segura, mas permite que o esquadrão contra fraude
do Papai Noel elimine várias solicitações, o que é comum, de acordo com Wilson
Abadio da Oliveira , diretor dos Correios de São Paulo Metropolitana.
"É muito importante para a sociedade ", diz Oliveira. "Nós, como sociedade, ainda
temos a desigualdade; algumas crianças têm muitos presentes, outras acordam na manhã
de Natal sem nenhum."
Ele diz que as cartas mais tocantes são aquelas de crianças que não pedem nada para si,
mas querem uma cura para a mãe doente ou um emprego para o pai. Algumas chegam a
pedir para que os pais sejam sejam curados do vício do crack .
"Tem aquelas que só pedem comida para que possam comer na ceia de Natal", afirma o
diretor.
O projeto decolou desde a sua criação, com clubes de futebol doando bolas e camisas e
empresas distribuindo iPads e notebooks. A diferença que as cartas fazem, tornaram-se
nítidas quando o The Times acompanhou carteiros entregando três camas em uma favela
de São Paulo. Em um beco cheio de barracos, os carteiros localizaram o pequeno local
onde Maria Marisa Laureano , 46 anos, empregada doméstica , vive com o marido e três
filhas, de 8, 9 e 13 anos.
O marido dorme no sofá e mãe e filhas dividem a cama a poucos metros de distância. A
casa de um único cômodo mede 25mx15m, é apertado e sufocante. Alimentos estão no
fogão ao lado do sofá, que fica ao bem junto ao banheiro. Os temperos borbulham na
água quente.
"Já se passaram três meses desde que mudamos para cá ", diz a Sra. Laureano . "Mas há
um monte de cupins. A vida tem sido difícil."
Foi sua filha Marilene, de 8 anos, que escreveu ao Papai Noel para que seus pais
pudessem ter sua própria cama e as meninas também.
"Nós escrevemos uma carta, mas não sabíamos se iríamos conseguir", lembra a Sra.
Laureano, começando a chorar. "Agradeço muito ao Papai Noel. Que Deus abençoe
cada dia mais o Papai Noel."
16/12/2013 – NATIONAL PUBLIC RADIO (ESTADOS UNIDOS)
http://www.thetimes.co.uk/tto/news/world/americas/article3956414.ece
Correios do Brasil ajuda a relizar sonhos de Natal
Por Lourdes Garcia-Navarro
Tradução: Júlia Consentino
"Querido Pai Noel", a carta continua: "meu nome é Larissa. Sei que você está muito
ocupado e que você mora muito longe, no Pólo Norte, mas eu gostaria de pedir-lhe um
presente porque a minha mãe não tem dinheiro suficiente para comprar o que eu quero."
Há pilhas de cartas similares – muitas decoradas com adesivos, desenhos e marcas de
mão – em mesas localizadas no salão principal da agência dos Correios no centro de
São Paulo.
Outra carta, desta vez de um menino de 10 anos, relata: "Minha mãe morreu quando eu
era um bebê, eu moro com meu irmão e meu pai. Mas, neste Natal ele não pode
trabalhar porque está no hospital. "
Um grupo de mulheres mexe na pilha, procurando escolher uma carta. Sonia Regina de
Sá, assistente de enfermagem, conta que ela vem fazendo isso todos os anos, há nove
anos.
"Eu realmente amo isso", afirma.
A forma como funciona, diz Sá, é você vir aqui, ler as cartas e procurar algo que
realmente te sensibilize. Então você comprar o presente que a criança pede e o traz para
agência dos Correios, onde os funcionários se encarregam de entregá-lo à criança.
A maioria das crianças pedem bonecas, bolas, bicicletas - a habitual variedade de
brinquedos. Mas, algumas cartas, ela assegura, pedem coisas muito comoventes.
Este ano, Sá prossegue, ela escolheu um menino de 8 anos de idade que estava pedindo
comida. Ele não queria brinquedos, queria comida para sua mãe.
"É algo que choca e me deixa triste ", ela lamenta.
Outras cartas pedem ajuda para os pais viciados em crack ou trabalho para os que estão
desempregados.
Elizabeth Aragão conta que sempre escolhe presentes para crianças mais novas.
"Eu choro lendo as cartas. Tentamos ajudar um pouco. Se todo mundo ajudasse um
pouco, o mundo seria um lugar melhor.”, pontua.
E essa é a ideia por trás da campanha, que é mantida pelos Correios do Brasil e existe há
mais de 20 anos.
Fazendo as vezes de Papai Noel
Wilson Abadio de Oliveira, diretor regional dos Correios de São Paulo Metropolitana,
explica que a campanha começou por iniciativa dos empregados.
"Eles estavam recebendo cartas de crianças endereçadas ao Papai Noel no Pólo Norte, e
passaram a abri-las e lê-las. Começaram a comprar alguns dos presentes que as crianças
pediam e nós pensamos que era uma ótima idéia. Em seguida, o projeto foi adotado
oficialmente por toda a empresa."
Oliveira conta que 1 milhão de crianças em todo o Brasil escrevem cartas a cada ano, e
cerca de metade delas são adotadas. Os Correios garante que as letras vêm apenas de
crianças com menos de 10 anos de idade e com endereços válidos. As cartas devem ser
manuscritas, uma forma de estimular as crianças a melhorarem suas habilidades
escritas.
Todos os anos a campanha Papai Noel dos Correios é uma grande operação em todo o
País. Na parte de dentro do prédio da diretoria regional de São Paulo, os empregados
selecionam as cartas, certificando-se que todas as informações estão lá: nome, idade e
presente escolhido. A carta então fica registrada no computador e um número é anexado
a ela. No final do processo, as cartas vão para o andar principal para serem "adotadas".
Entregas de Natal
"Meu nome é Papai Noel ", diz o homem fantasiado de Papai Noel, sentado e saudando
as crianças no hall. Sua presença faz parte da campanha. Ele confessa que é empregado
dos Correios, mas se recusa a dar mais informações que possam contrariar sua
identidade natalina a um repórter visitante.
Enquanto a maioria dos presentes são entregues por carteiros, às vezes Papai Noel, em
trajes típicos, faz uma visita especial à porta de alguém.
"O objetivo é manter vivo o espírito de Natal dentro de nossas crianças ", declara . "Mas
isso não é só para crianças. É uma maneira das pessoas ajudarem umas às outras. Esse é
o verdadeiro significado desta época. "
Nós acompanhamos uma das entregas de presentes em uma favela, não muito longe da
agência de correio. Nós paramos em frente a um barraco feito de tapumes de papelão e
lata, lotado, entre outras habitações improvisadas.
Maria Marisa Laureano atende a porta. Sua filha pediu três camas, para ela e suas duas
irmãs. Quando entramos na casa de um cômodo só, vemos apenas uma cama grande,
onde Laureano conta que ela e suas filhas dormem ali. No canto, uma porção de comida
está no fogão e há roupas espalhadas no chão. Está escuro e cheio de pessoas ao redor,
as paredes são tão fina que você pode ouvir os vizinhos conversando.
As novas camas mal cabem na casa. Laureano diz que elas têm esperença de se mudar.
"Já se passaram três meses desde que me mudei para cá", lembra, " mas há um monte de
cupins. Algumas noites não conseguimos dormir. Eles voam e andam na cama, sobre
nós, e mordem. A vida tem sido muito difícil . "
Ela começa a chorar.
"Nós escrevemos uma carta, não sabíamos se iríamos ganhar algo. Eu nem tenho
palavras... agradeço muito ao Papai Noel".