A disparada do fast fashion

Transcrição

A disparada do fast fashion
_>>>
Jornal Valor Econômico - CAD D - EU - 21/7/2015 (16:25) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto
D4
|
Valor
|
Terça-feira, 21 de julho de 2015
EU&ESTILO
CLAUDIO BELLI/VALOR
MODA
“Fast fashion”
ganha espaço
em tempos
de retração
Varejo popular firma-se como canal
principal para consumo de vestuário. Por
Vanessa Barone, para o Valor, de São Paulo
Produtos de melhor qualidade, coleções em sintonia com as
tendências globais, linhas especiais com designers renomados:
essas são algumas das ações
que vêm colocando as grandes
varejistas brasileiras de vestuário no topo da cadeia da moda.
E em tempos de retração da
economia, com a inflação em
alta e a renda mais comprometida,não é hora de desanimar.
Ao contrário: é o momento de
enxergar oportunidades — entre elas, a de fisgar o consumidor que ainda tem ressalvas em
relação ao “fast fashion”.
De que forma? Apurando o
olhar para uma boa “curadoria”
de tendências, ou seja, afinando
os modismos ao gosto da clientela e caprichando na apresentação dos produtos. Tudo isso
aliado a um preço acessível forma um apelo quase irresistível
ao consumo, inclusive para
quem costumava procurar outros canais de vendas, incluindo
o exterior, para abastecer o
guarda-roupa. “As redes de ‘fast
fashion’ são, atualmente, os
grandes representantes da moda nacional”, afirma Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da
GS&BW/BrandWorks. E o cenário, apesar da situação econômica, segue promissor.
Na semana passada, a C&A
inaugurou uma loja de 600 m2
no coração do bairro do Leblon,
no Rio de Janeiro. Inteiramente
dedicado ao público feminino,
com linhas de roupas, calçados e
acessórios, o novo espaço traz os
produtos dispostos de forma diferenciada, com o foco na exibição das tendências mais importantes do momento.
Para melhor se comunicar
com as clientes, a nova loja da
C&A conta com um “videowall”
para apresentar coleções e informações sobre a empresa. “Sabemos que as mulheres do Leblon
são ligadas às tendências mais
atuais e por isso escolhemos
uma configuração mais próxima
desse perfil”, explica diretor de
operações da C&A, Elio França,
em comunicado à imprensa.
“O novo espaço da C&A não fica devendo nada às lojas de varejistas internacionais como a
H&M e a Uniqlo”, diz Marinho,
citando dois exemplos de marcas que são referências na venda de roupas e acessórios com
forte “pegada” “fashion”. Falando nesse fenômeno do varejo japonês, a Uniqlo anunciou,
recentemente, que pretende
chegar ao ano 2020 como a
principal empresa de moda do
mundo. Isso significaria chegar
a um faturamento anual na casa dos US$ 50 bilhões, segundo
reportagem do site “The Business of Fashion”.
A intenção da Uniqlo é superar as atuais líderes do segmento “fast fashion”: a espanhola
Zara e a sueca H&M. O grupo
Inditex, dono da Zara, faturou
US$ 20,4 bilhões, em 2014, enquanto o grupo H&M alcançou
US$ 18 bilhões. O Fast Retailing, dono da Uniqlo, alcançou
US$ 13,3 bilhões em vendas no
ano passado. Dos três concorrentes, apenas a Zara já possui
presença maciça no Brasil. Mas
a chegada da H&M e da Uniqlo
não deve tardar.
No Brasil, na disputa pelo
consumidor “fashionista”, além
da C&A (com cerca de 290 lojas), destacam-se as redes Renner (260 lojas) e Riachuelo (que
pretende chegar a 330 lojas em
2016). No ano passado, a Riachuelo inaugurou uma loja de
4,5 mil m2 na avenida Paulista,
em São Paulo, reunindo coleções feminina, masculina e de
“homewear”. Antes, fincou domínios na rua Oscar Freire, símbolo do comércio chique paulistano, que por muito tempo
reuniu as grifes mais badaladas
do Brasil e do exterior.
Para ganhar o consumidor
que antes buscava por elas, mas
precisou refrear o consumo por
conta do dólar mais alto, a Riachuelo reforçou as suas apostas
na dobradinha com grandes
marcas nacionais e até internacionais. No ano passado, a loja
lançou uma coleção assinada
por Donatella Versace, diretora
criativa da marca italiana. E assim tornou possível o sonho de
consumo de quem dificilmente
teria acesso a esse ícone da moda extravagante e sexy criado
por Gianni Versace (1946-1997).
Outra que vem investindo,
com sucesso, na combinação
“moda e preços baixos”, a Renner lançou, há algumas semanas, o seu “preview ” da coleção
primavera-verão 2015/16. A curadoria feita pelo time de estilo
da empresa detectou nas paisagens e cores do México o principal apelo da temporada. Misturam-se a isso referências ao
universo “hippie chic” e à moda
dos anos 70. Alguns itens que
remetem ao vestuário do “velho oeste” americano seguem
como aposta, caso das saias
amplas e dos detalhes franjados em roupas e acessórios.
Segundo Gabriela Cirne Lima,
diretora de compras da Renner,
A gerente-geral de marketing Luciane Franciscone (esq.) e a diretora de compras Gabriela Cirne Lima, ambas da Renner: combinação de moda e preços baixos
mais importante do que conhecer as diretrizes da moda é saber
utilizar o “filtro correto” na hora
de traduzi-las às consumidoras.
Para facilitar esse processo, a
Renner separa as suas coleções
em diferentes linhas: são cinco
para o público feminino e outras seis para o masculino. “Cada linha tem uma personalidade diferente e em cada uma trabalhamos uma tendência mais
forte”, afirma Gabriela.
De acordo com a executiva,
sempre que possível a empresa
expõe “looks” completos, com
roupas e acessórios, para exibir
uma determinada tendência.
Essa maneira didática de expor
as novidades dá resultado. “Essa
é uma forma de educação de
moda e os consumidores acabam levando os looks completos”, diz Gabriela.
Esse viés “educativo” está presente inclusive na ala masculina
da loja. “É preciso desmistificar a
relação do homem com a moda”,
diz Luciane Franciscone, gerente-geral de marketing da Renner. “Estamos sempre incluindo
novas informações de moda e
elas são muito bem-aceitas.”
Entre as principais apostas da
equipe de estilo da Renner, para o verão 2016, estão os “looks”
inteiramente brancos, em peças
de alfaiataria, as estampas
orientais e o jeans mais leve e
desbotado. Falando em jeans,
ele tem recebido um maior investimento da marca, há cerca
de dois anos. “Temos uma equipe de estilo exclusiva, que fez
um belo trabalho para desenvolver modelagens diferentes,
que atendem aos nossos diferentes públicos”, diz Gabriela.
Mas o desafio, diz a executiva,
continua a ser grande. “Afinal,
as tendências de moda não vêm
todas de um lugar só”, afirma
Gabriela. Há ideias que surgem
no cenário musical, no cinema
e não apenas nas passarelas.
E mesmo depois de viajar e
pesquisar o que de mais rele-
FOTOS DIVULGAÇÃO
Loja de 600 m2 da C&A inaugurada no Leblon (RJ) na semana passada é inteiramente dedicada ao público feminino
vante aparece em termos de
comportamento, ainda é preciso estar preparado para modismos que surgem por aqui, de
última hora — alavancados,
muitas vezes, pela TV ou pelas
celebridades do meio musical.
Quando isso ocorre, a Renner
costuma levar de três semanas
a dois meses para lançar a novidade nas lojas. “Lançamentos
ágeis são essenciais, por isso
colocamos coisas novas nas
araras, no mínimo, duas vezes
por semana”, afirma Gabriela.
E assim caminha, a passos ainda mais velozes, o “fast
fashion” nacional.
w w w. v e n t o h a r a g a n o . c o m . b r
Referências ao México, ao universo ‘hippie chic’ e ao ‘velho oeste’ americano estão na coleção primavera-verão
2015/16 da Renner. Para diretora, é necessário utilizar o “filtro correto” para traduzir diretrizes da moda

Documentos relacionados