RELATO DE EXPERIÊNCIA

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RELATO DE EXPERIÊNCIA
RELATO DE EXPERIÊNCIA:
SABERES CONSTRUIDOS NA EXPERIÊNCIA DA DANÇA
DO CARIMBÓ
Elcio Rezek Leopoldino1
Eixo Temático: GT1- Educação de Crianças, Jovens e Adultos.
RESUMO
Com o objetivo de se relatar os saberes construídos em uma experiência da cultura corporal de
movimento afro-brasileira, indígena e portuguesa com alunos de uma classe do 5º Ano do
ensino fundamental de uma escola pública em Campinas (SP). Descreve-se como surgiu a
proposta de se trabalhar essa especificidade da educação física escolar e de proporcionar uma
reflexão crítica acerca do tema da cultura corporal. Finalmente, relata-se sobre os ensaios e o dia
da apresentação para a comunidade escolar, os momentos que juntos tiveram, para recriar e
recordar a dança do Carimbó. O resultado desse trabalho foi que as experiências de se dançar o
Carimbó é compreender o sentido e o significado dessa manifestação cultural que se dá no
corpo de quem dança e a interação entre os sujeitos nos ensaios e a aprendizagem.
Palavras-Chave: Carimbó, Dança, Educação Física Escolar.
RESUMEN
Con el fin de relatar el conocimiento incorporado en una experiencia de la cultura de los
movimientos del cuerpo africano-brasileño, indio y portugués con los estudiantes de una clase
de quinto año de la educación primaria en una escuela pública en Campinas (SP), se describe
como surgió el trabajo propuesto para esta especificidad de la educación física y proporcionar
una reflexión crítica sobre el tema de la cultura del cuerpo. Finalmente, se describe los ensayos
y el día de su presentación a la comunidad escolar, así como los momentos de convivencia, para
recriar y recordar la danza del Carimbó. El resultado final de este estudio fue que la experiencia
de bailar Carimbó es comprender el significado y la importancia de esta manifestación cultural
que se dá en el cuerpo de quién danza e interacción de los danzantes en los ensayos e en el
aprendizaje del Carimbó.
Palabras-Clave: Carimbó, Danza, Educación Física, Cuerpo Cultura.
1
Professor formado pela Faculdade de Educação Física da Puc-Campinas/SP, (1994). Especialista em
“Educação Física, Esporte e Lazer” pela Unicamp/SP, (2003). Professor efetivo da Rede Estadual de
Ensino do Estado de São Paulo desde 1995. Professor do Colégio Arquidiocesano de Aracaju/SE desde
2012. Integrante do grupo de estudo do cotidiano escolar (GECE), sob a orientação do Proª. Drª Eliana
Ayoub, da Faculdade de Educação da Unicamp. Integrante do grupo de estudo e pesquisa em Educação,
Cultura e Desenvolvimento Humano (ECDH), sob a orientação da Pro ª. Drª Fabricia Teixeira Borges da
Faculdade de Educação
[email protected].
da
Universidade
Tiradentes
(UNIT),
Aracaju/SE.
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contato:
1
1. INTRODUÇÃO
Esse artigo é um relato de uma experiência construída entre o professor de
educação física e alunos de uma classe do 5º ano do ensino fundamental de uma escola
da rede pública estadual do município de Campinas interior do estado de São Paulo no
ano de 2011, e com o objetivo de fazer memória através da dança do Carimbó de uma
manifestação cultural que faz parte da Região Norte do Brasil.
Após o término das férias de julho na primeira reunião de HTP (horas de
trabalho pedagógico) entre professores, coordenação e direção da escola foi sugerido
aos professores para pensar sobre uma apresentação cultural para a Festa da Primavera,
a fim de comemorar a chegada das flores e da nova estação e que iria acontecer na
escola no mês de setembro.
Tinha-se pouco mais que seis semanas para acertar os preparativos para a
referida festa, e todos os professores começaram a deliberar com seus colegas os temas
que iriam trabalhar e qual apresentação cultural e/ou artística fariam. Além das
exposições de painéis, quadros, banners, pinturas, dobraduras, cada classe faria uma
apresentação de teatro, poesias e/ou dança sobre o tema proposto, além de barracas com
comidas e bebidas típicas que lembrasse a chegada da primavera.
Em determinado momento da reunião o professor de educação física procurado por uma
das professoras, muito aflita relatou que não tinha experiência e paciência para criar
uma encenação e muito menos uma coreografia para que seus alunos pudessem se
apresentar. Essa era uma oportunidade de se construir um conhecimento com os alunos
dessa classe. Decidiu-se, então, que na próxima aula de educação física haveria uma
conversa com os alunos e daí seria o ponto de partida para a construção desse
conhecimento.
2. O ENCONTRO COM OS ALUNOS
Conversando com os alunos do 5ºano do período da tarde surgiu, então, uma
proposta interessante sobre uma apresentação da dança do Carimbó, uma manifestação
da cultura indígena de Belém do Pará, região da Amazônia brasileira.
A sugestão partiu do próprio professor de educação física, baseado na suas
experiência com a dança do Carimbó em encontros para profissionais de educação
física. Assim, foi apresentada aos alunos uma das músicas tradicionais do Carimbó,
2
“Sinhá Pureza” do cantor e compositor paraense Pinduca2, e outra regravada em
espanhol por um grupo de “Cumbia de la selva” peruana, chamado “El Grupo Amor”,
da região da Amazônia Peruana, situada na cidade de Tarapoto3. Por unanimidade a
escolha dos alunos recaiu pela música do grupo peruano para a apresentação da Festa da
Primavera. Na percepção deles, a referida música apresentava- se mais ritmada e
vibrante para se dançar e apresentar.
Outro momento a ser definido seria a formação dos pares para se executar a
dança do Carimbó. Havia uma questão a ser resolvida, nessa classe existiam mais
meninas do que meninos e então algumas alunas ficariam sem o par masculino. Assim,
na tentativa de resolver essa questão, e evitar o hábito de que menina dançasse com
menina, surgiu a ideia de que alguns meninos dançassem com duas meninas ao mesmo
tempo. Seria um trabalho redobrado, mas valeria a intenção e esforço.
O grupo foi composto de oito meninos e doze meninas sendo que dois meninos
dançariam com duas meninas cada. Acreditava-se que não haveria problema com os
pares e sim a intenção de se apresentar uma dança de origem indígena com forte
influencia africana e portuguesa para toda a comunidade escolar.
Antes de se iniciar os ensaios, foi preparado todo um material em forma de
cartazes sobre as manifestações culturais do estado do Pará e a Região da Amazônia.
Também foi exposto um pouco sobre a Região da Amazônia peruana, onde muitas das
nossas músicas folclóricas são regravadas por grupos musicais daquela região, como é o
caso de “Sinhá Pureza” que no espanhol virou “Señora Pureza”.
Mais que uma manifestação cultural paraense, o Carimbó, é uma manifestação
cultural representativa da Amazônia brasileira, e na sua essência formada por três
povos, o Africano, o Português, e o Indígena, que demonstra riqueza e diversidade
inerente a essa cultura. Sua representação social deve-se principalmente ao modo de
transmissão oral e ao modo de vida tradicional preservado pelas comunidades
(Carvalho, 2011).
A proposta inicial seria o conhecimento prévio da historia e cultura do Carimbó
e suas manifestações, a fim de responder as seguintes questões: Quais as contribuições
2
Aurino Quirino Gonçalves ou Pinduca,é um dos maiores representantes da música popular no Brasil.
Cantor e compositor, o Rei do Carimbó como é carinhosamente conhecido em todo o Brasil, criou ritmos
como: sirimbó, lári-lári, lambada e langode. Pinduca divulgou seus ritmos em vários países: Bolívia, Peru,
Colômbia, Angola e Guiana Francesa.
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Cidade do norte oriente do Peru, capital da Província de San Martin, localizada as margens do rio
Shilcayo, região amazônica.
3
podem trazer para os alunos? Como se dá a mediação entre a história e a dança do
Carimbó? O que é a dança para nós?
Mais do que uma dança, o Carimbó envolve pessoas, seus saberes e fazeres, o
domínio da técnica (arte) da fabricação de instrumentos rústicos, o cotidiano, seu modo
de vestir, de falar, de cantar, o relacionamento social, econômico e politico. Assim, a
proposta era de proporcionar aos alunos o conhecimento de uma dança que relaciona a
história de um povo que expressa sua cultura através de seus corpos.
A dança se encontra presente em nossas vidas em diversos momentos e de
diferentes formas e sentidos. Vemos as danças de salão, de rua, nos teatros, e outros, às
vezes em forma de apresentação cultural ou não (Oliveira, 2010, p.1.). Segundo Oliveira
(2010, p.1), a dança também se encontra na escola. As significações encontradas nessa
linguagem corporal desde o lazer, a performance e a educação são inúmeras, ficando a
cada pessoa ao dançar ou ver alguém dançando seja em um espetáculo ou não, dar
sentidos as esses significados.
Esse sentido e significado é o que se pretendia com a apresentação do Carimbó, uma
dança que para muitos era desconhecida. Por que se dança? Qual o sentido de uma
representação através da dança?, segundo Gallardo (2009,p.4), as danças são formas de
comunicação que utilizam a linguagem corporal para expressar ideias, sentimentos, e
emoções por meio dos gestos corporais, onde as mensagens podem ser potencializadas
com a utilização de outras formas de comunicação, como a linguagem musical e a
linguagem falada.
Por ser uma maneira potencializada de comunicação, a dança representa forma
e valores culturais, assim, ela é uma manifestação de um grupo social que reflete,
interpreta e integra um conjunto de formas de expressar as necessidades sentidas de um
grupo social.
É fundamental ressaltar que o objetivo desse trabalho não era a formalidade
técnica e nem o gesto mecânico para a execução da dança, porque dessa forma se
perderia as possibilidades e o aspecto expressivo de cada aluno, também não se
pretendia descaracterizar o ritual do Carimbó dando a ele outros contornos. Porém, se
fez necessário a utilização do aspecto técnico da dança, cuidando de não prejudicar a
expressão espontânea ou imprimir no aluno algo determinado que a dança traz consigo.
Nesse sentido, deve-se entender que a dança como arte não é uma transposição da vida,
senão sua representação estilizada e simbólica.
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Segundo Coletivos de Autores (1992, p.83), é necessário o resgate da cultura
brasileira no mundo da dança através da tematização das origens culturais, seja do índio,
do branco ou do negro, como forma de despertar a identidade social do aluno no projeto
de construção da cidadania. Dessa forma, a relevância social do conteúdo que implica
em compreender o sentido e o significado do mesmo para a reflexão pedagógica escolar
(Coletivos de Autores 1992, p.30).
3. O CARIMBÓ E SUA MANIFESTAÇÃO CULTURAL
O carimbó é uma manifestação cultural de origem indígena, com diversas
outras
manifestações
culturais
brasileiras,
pois
recebeu
outras
influências,
principalmente a negra. Seu nome deriva da língua tupi, refere-se ao tambor com a qual
se marca o ritmo, o curimbó. Surgida em torno de Belém na zona do Salgado
(Marapanim, Curuçá, Algodoal) e na ilha de Marajó, passou de uma dança tradicional
para um ritmo moderno. O carimbó é uma dança típica do Estado de Pará, localizado na
Região Norte, e áreas próximas como Bragança, Salinas, e Ilha de Marajó. O nome
carimbó aplica-se tanto a dança como a música.
A dança geralmente é apresentada em pares, inicia-se com duas fileiras de
homens e mulheres com a frente voltada para o centro. Quando se inicia a música os
homens vão em direção às mulheres, diante das quais batem palmas como um convite à
dança. Imediatamente os pares se formam, girando continuamente em torno de si
mesmo, ao mesmo tempo em que formam um grande circulo que gira em sentido
contrário ao ponteiro do relógio. Nesta parte se observa a influência indígena, quando os
dançarinos fazem alguns movimentos com o corpo curvado para frente, sempre
puxando-o com um pé na frente, marcando acentuadamente o ritmo vibrante.
A dança do Carimbó inicialmente tinha um andamento monótono, como
acontece com a maioria das danças indígenas. Quando os escravos africanos tomaram
contato com essa manifestação cultural indígena começaram a introduzir elementos à
dança, iniciando pelo andamento que, de monótono, passou a vibrante como uma
espécie de variante do batuque africano.
O mote central do Carimbó é a marcação acentuada e vibrante onde os
dançarinos se encontram e em um grande circulo e giram em torno de si, lembrando as
danças folclóricas portuguesas, com os dedos castanholando na marcação certa do ritmo
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agitado e absorvente. Cabe ressaltar que o Carimbó, existe há mais de 200 anos, repleto
de fatos e personalidades históricas e, em sua historicidade é marcado por conflitos
sociais, políticos e econômicos.
A cultura de um povo é um tesouro inesgotável e o seu processo tem o dever de
permanecer como – um elemento fundamental da identidade cultural (Loureiro apud
Gabbay, 2010, p.8). Claude Lévi-Strauss define cultura como um sistema simbólico que
é uma criação acumulativa da mente humana. Define-se também a cultura como a
manifestação, atividades e ações que identificam e caracterizam uma sociedade, grupo e
pessoas.
Para Oliveira (2010, p.105), conhecer e experiênciar sua cultura e outras, o ser humano
valoriza a diversidade cultural como também amplia seu conhecimento cultural. Ao
acontecer à construção e a transformação de nossa história, fica mais fácil compreender
a cultura do outro, e talvez quem sabe, valorizar a cultura preservando nossa memória.
Nossas raízes culturais fazem com que sejamos identificados por outros povos e a
interação entre diversos grupos sociais faz com que se identifique uma história.
Na Amazônia a própria natureza promove o superlativo. As coisas tendem a ser
grandes e numerosas como em nenhum outro lugar da Terra. Daí a sentença de Euclides
da Cunha:4 “A Amazônia selvagem sempre teve o dom de impressionar a civilização
distante”.
Localizada na zona equatorial e banhada pelo rio Amazonas e seus afluentes,
muitos deles também gigantescos, a região Norte é incomparável na sua biodiversidade.
Essa região limita-se ao norte pelo Maciço das Guianas, ao oeste pela Cordilheira dos
Andes, ao sul pelo Planalto central, ao nordeste pelo Oceano Atlântico e ao leste se
depara com a região Nordeste. É composta pelos estados do Amazonas, Pará, Roraima,
Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins, abrangendo assim quase quatro milhões de
quilômetros quadrados e superando em tamanho todas as outras regiões brasileiras.
4. AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
A educação física escolar é uma área de conhecimento muito ampla para seguir
um roteiro único, ofertando as mesmas atividades para os alunos. É preciso buscar
4
Escritor, sociólogo, jornalista, historiador, geógrafo, poeta e engenheiro brasileiro.
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outras formas de utilizar seus corpos, buscar outras experiências, rompendo com
padrões historicamente construídos ao longo do tempo.
A educação física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza
formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, danças, ginástica, lutas,
formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura
corporal (Coletivo de Autores 1992, p.50).
Entretanto vemos que o esporte tem sido o principal conteúdo da educação
física, privilegiando as quatro modalidades coletivas, e, além disso, no contexto escolar
a tradição da educação física tem se expressado pela esportivização das práticas
corporais. Portanto, isso faz com que o conteúdo esporte passe a ser visto quase como
um referente universal, que, em qualquer parte do mundo e sob quaisquer circunstâncias
possuiria o mesmo significado.
Nesse sentido torna-se necessário romper com as fronteiras preestabelecidas,
permitindo que as crianças ampliem ou restrinjam seu repertório corporal nas suas
relações cotidianas (Silva e Daolio 2010, p.48). Romper com o olhar de estranhamento
em relação à determinada manifestação cultural que o professor de educação física se
permite trabalhar e construir com seus alunos.
Entretanto ainda é considerado normal quando muitos se deparam com alunos
jogando futebol ou queimada na quadra, e anormal quando veem um professor que
abraça uma proposta que está dentro das especificidades da educação física, como
danças afro-brasileiras e indígenas e se expressar através delas causa estranhamento
ainda em muitas pessoas.
Nas aulas de educação física, a dança deve proporcionar aos alunos vivências,
experimentos que possam apropriar-se dessa linguagem corporal. O domínio técnico
não deve ser o fator principal, mas a possibilidade de incorporar as técnicas de execução
para fazer uso delas em outro contexto (Sborquia e Pérez Gallardo, 2002).
É necessário que o professor de educação física venha a provocar uma
verdadeira mudança no olhar dos alunos e nele mesmo sobre certos hábitos e costumes
nas aulas, levando em consideração uma proposta que contemple ambas as partes para
favorecer outras manifestações corporais como a dança.
O conhecimento que se busca através da dança é realizado a fim de se
compreender o sentido de determinada manifestação cultural numa dada sociedade e, a
partir daí, relacionar com aspectos da nossa própria sociedade.
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É fundamental que o individuo tenha uma constante relação social com o outro, a fim de
que possa construir-se como ser humano através das suas relações, dando um sentido e
significado para essas relações.
5. A EXPERIÊNCIA
Os ensaios transcorreram sempre nas aulas de educação física que acontecia
duas vezes na semana com 50 minutos. O tempo destinado aos ensaios era curto e assim
como os dias para a apresentação, mas com ritmo vibrante da música as crianças
estavam se empenhando ao máximo, seguindo os passos e a formação da dança do
Carimbó.
Nos primeiros ensaios percebemos que alguns alunos estavam receosos de
dançar na frente de outras pessoas, de se soltarem ao som da música que
inevitavelmente contagiava quem quer que esteja próximo. Não tem como! Nesse
momento o professor de educação física juntamente com a professora da sala formam
um par, e a partir deste dia ensaiam com os alunos.
Foram aproximadamente seis semanas de ensaio alternando com as aulas de educação
física. Nesse tempo, receberam-se as autorizações dos pais e responsáveis para que seus
filhos pudessem se apresentar na festa da escola. Sobre a vestimenta para a
apresentação, decidiu-se que as meninas se vestiriam de camiseta e saia colorida. Os
meninos calça branca e camisa colorida e ambos estariam descalços.
6. A APRESENTAÇÃO
Chegado o dia da Festa da Primavera a escola estava enfeitada para o evento.
Na quadra foi levantada uma grande lona de circo nas cores amarelo e azul, ao redor
foram colocadas diversas cadeiras e ficou reservado um grande espaço no centro
destinado as apresentações de danças e outras atividades culturais.
Os alunos com seus pais e convidados, foram recebidos pelo corpo gestor da
escola, professores e funcionários. As pessoas foram chegando, se localizando,
escolhendo suas mesas para poderem sentar e aproveitar o melhor da festa. Antes das
apresentações, o primeiro momento da festa foi para confraternizar pais e alunos,
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saboreando as comidas e bebidas, assim como ter um tempo de descontração jogando
bingo com diversos prêmios oferecidos.
No momento das apresentações constatou-se que os alunos do quinto ano
seriam o quarto grupo para se apresentar. Chegado o momento, os alunos, conforme os
ensaios se posicionaram em um grande circulo voltados para fora. Ao iniciar a música
encenaram através de seus corpos todos os gestos do ritual da dança do Carimbó,
girando com seus pares para um lado e depois para outro lado. Meninos com seus
lenços nas mãos rodopiando seus corpos enquanto as damas rodavam seus vestidos
coloridos ao som da música que eles haviam escolhidos:
“voy enseñar señora pureza
a danzar lo que es Carimbo
Carimbo que mese mese,
Carimbo para vacilar
Voy enseñar señora pureza
A gozar lo que es Carimbo
Carimbo es un ritmo sabroso
que es sabroso por a recodar
olelé olalá
todo el mundo lo quiere bailar
Carimbo es um ritmo sabroso
Todo el mundo lo quiere gozar
Olelé olalá
(El Grupo Amor)
Percebendo a evolução da dança e olhando para eles constatou-se a alegria e a
satisfação de cada um, principalmente ao perceberem os olhares dos presentes na festa.
Foi verificado também o quanto eles conquistaram e que não se deve subestimá-los
acreditando que as crianças não conseguem ou não podem realizar novas propostas.
A preocupação era com a música, mas percebeu-se que muitas pessoas estavam
dançando ao som daquela música contagiante tocada ao ritmo de “cumbia da selva
peruana”. Ao final da apresentação as pessoas aplaudiram, os alunos receberam muitos
elogios pela apresentação tão bonita e charmosa da Festa da primavera.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível refletir que a dança do Carimbó seja somente uma arte ou dança
para aqueles que assistem, mas existe uma riqueza na sua manifestação cultural que é
repleta de elementos históricos, e portanto, possui valor excepcional. A sua importância
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possibilita a condição real de complementar-se como cultura corporal que deve emergir
da realidade dinâmica e concreta do mundo do aluno. Tendo em vista uma nova
compreensão dessa realidade social, um novo entendimento que possa superar o senso
comum.
Desde o primeiro encontro foi criado entre os envolvidos uma grande
expectativa para a apresentação, pois seria a primeira vez dos alunos, e todos foram
tomados por uma grande emoção. Não poderia se imaginar que o Carimbó dançado na
escola poderia despertar tanto interesse. A partir de então, a experiência de cada um
passou a ser como brincante do Carimbó, que permitiu a percepção de reconhecer a
particularidade daquela dança, principalmente no que diz respeito ao que ocorre no
corpo que dança.
O envolvimento de cada um trouxe, logo de inicio, para os professores algumas
perguntas e questionamentos como: quais são os posicionamentos que ocorrem no corpo
dos brincantes? Como se dá o aprendizado da dança?, logo percebeu-se que, para
compreender essas questões, haveria que observar também como se dava a
aprendizagem dos alunos e a participação dos professores.
Compreendeu-se que o cerne da música e da dança de todos os tempos,
continua a ser a expressão do homem através do corpo.
Através do movimento e dos ritmos, o homem desde sempre se relacionou e se
comunicou com seus iguais. O corpo em movimento tem o poder de atrair e congregar
as pessoas. Para entender o corpo que brinca o Carimbó é necessário perceber como o
movimento se organiza no corpo, seus processos de significação que envolve histórias
de vida, as relações com a vida cotidiana, os contatos estabelecidos com a proposta, à
interação entre os sujeitos nos ensaios e as aprendizagens realizadas naquele ambiente.
Assim, entende-se que essa configuração é o resultado de todo um conjunto de saberes e
vivências relacionadas ao Carimbó.
Numa avaliação final percebe-se que trabalhar as especificidades da educação
física como a dança não é tão complicado como se imagina. É necessário sair do
tradicional e ter coragem de proporcionar novos conhecimentos a aqueles que estão
ávidos e desejosos de novas propostas. O professor precisa compreender que a
construção de um conhecimento não parte somente dele, se constrói entre alunos,
professor, família e sociedade.
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8. REFERÊNCIAS
CARVALHO, JeanCarlo Pontes. Carimbó: Patrimônio de um Povo. Faculdade
Integrada Brasil Amazônia – FIBRA. Belém/PA. 2011.
COLETIVO DE AUTORES: Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo.
Ed. Cortez. 1992.
GABBAY, Marcelo M. Representações sobre o Carimbó: Tradição x Modernidade.
Trabalho apresentado no IX Congresso de Ciências da Região Norte, realizado de 27 a
29 de maio de 2010. Rio Branco – AC.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Natureza e Cultura – Ed. Vozes, 1993. Petrópolis/RJ.
OLIVEIRA, Eleonora Nunes. Dança, a quem corresponde na escola: a educação física
ou ensino de arte? Revista Educação, Artes e Inclusão. 2010. Udesc – Florianópolis/SC,
Brasil.
PÉREZ GALLARDO, J.S. Delimitando os conteúdos da cultura corporal que
correspondem à área da Educação Física. FEF/Unicamp, p.4. 2011.
SBORQUIA, S. P.; PÉREZ GALLARDO, J. S. As danças na mídia e as danças na
escola. Revista Brasileira de Ciências e Esporte, V.23, n.2, p.105-118, jan, 2002.
Campinas/SP.
SILVA, A, M. DAOLIO, J. Educação Física Escolar: Olhares a partir da cultura. Ed.
Autores Associados, p.48, 2010. Campinas/SP.
9. SITES CONSULTADOS
A origem do Carimbó. Disponível em pt.wikipe.org./wiki/Carimbó. Acesso em
22/05/2013.
História do Carimbó. Disponível em www.pinducarimbo.com.br/hist._carimbo.html.
Acesso em 19/05/2013.
10. REFERÊNCIAS DAS MÚSICAS
Mestre Pinduca: 20 Super Sucessos
El Grupo Amor/Pura Selva: Carimbo
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