Edição 50
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Edição 50
EXPEDIENTE Editorial Governo do Estado de São Paulo Governador José Serra A nossa Folha de Ortopedia e Traumatologia terá agora, em cada número, uma reedição de um artigo publicado há mais de 40 anos por antigos professores do DOT. Além de uma homenagem aos nossos mestres, os mais jovens poderão ver aquilo que se fazia e publicava dentro da especialidade. Secretário da Saúde Luiz Roberto Barradas Barata Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Presidente do Conselho Deliberativo Marcos Boulos Superintendente José Manoel de C. Teixeira Além disso, será colocado um artigo fruto de uma dissertação ou tese defendida no último trimestre. Outra novidade será a inclusão de temas de revisão ou atualização que foram apresentados na reunião clínica semanal. A idéia principal é manter o DOT (Departamento de Ortopedia e Traumatologia) da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) sempre presente na ortopedia nacional. Prof. Dr. Olavo Pires de Camargo Editor Sumário 03 Editorial 04 Artigo Reeditado - PPadronização adronização da Técnica das Osteossínteses com PParafusos arafusos 07 Atualização - Sistemas de liberação controlada de Fármacos suportados por Biocerâmicas para a Reconstrução Óssea 10 Dissertação Defendida - Estudo experimental da ação da metilprednisolona utilizada antes do traumatismo raquimedular em ratos wistar 14 Posse - Novo PProfessor rofessor Titular 17 Programação 2007 - Reuniões Clínicas, atualização e revisão de temas Diretor Clínico José Otávio Costa Auler Júnior Instituto de Ortopedia e Traumatologia Professores Titulares Tarcísio Eloy P. de Barros Filho Arnaldo Valdir Zumiotti Olavo Pires de Camargo Diretor Científico Alberto Tesconi Croci Diretor Executivo Alfredo Manoel da Silva Fernandes Editor Olavo Pires de Camargo Cartas para a Redação Sandra Maria Silveira Claudia Helena dos Santos Instituto de Ortopedia e Traumatologia “Prof. F. E. Godoy Moreira” Rua: Dr. Ovídeo Pires de Campos, 333 - Tel./Fax: (11) 3069-6815 / 3069-7900 - CEP 05403-010 - São Paulo – SP Fotos Olga Mendes Braga José Roberto Caetano Projeto e Execução NaJaca Design & Comunicação Tel. (11) 5097-9764 [email protected] www.najacaonline.com Jornalista Responsável Antonio Luiz Mello Jr. MTb 46.025 – SP Tiragem: 6.000 exemplares 18 Disciplinas de Pós Pós-- Graduação - 1º semestre de 2007 Distribuição Nacional Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 3 Artigo reeditado Padronização da técnica das Ostessínteses com Parafuso Dr. Flavio Pires de Camargo (assistente) Dr. Jose Passarelli Junior (assistente) A Folha de Ortopedia e Traumatologia traz, nesta edição, a reedição de um artigo científico. Publicado originalmente em julho de 1946, na Revista do Hospital das Clínicas - Volume I - Número 3. Prestamos, assim, homenagem àqueles que fizeram história em nosso serviço e contribuíram para o engrandecimento da ortopedia brasileira. A prática diária nos tem demonstrado de uma maneira insofismável que o bom êxito de uma osteossíntese depende de uma fixação perfeita e permanente dos fragmentos. Sempre que existam movimentos, por minutos que sejam, entre o osso e os diversos meios de síntese, estes se afrouxarão progressivamente. Haverá então movimentos no foco de fratura que ocasionam a destruição dos osteoblastos e da rede neo-vascular, base da repação óssea. Observamos então a necrose intra-focal dos pontos fragmentários, contribuindo para os insucessos das osteossínteses, que vão desde o retardo de consolidação até a rarefação em torno do material de síntese. A imobilização em aparelhos gessados não evita muitas vezes esses inconvenientes, trazidos ao que parece, pelas ações musculares. Depois de vários ensaios e observações, o Prof. Godoy Moreira deliberou padronizar a técnica das osteossínteses com parafuso na Clínica 4 Janeiro - Abril 2007 Ortopédica e Traumatológica, utilizando para isso uma série de parafusos e instrumentos, que além de facilitar grandemente o ato operatório, permite uma fixação perfeita entre os fragmentos, satisfazendo assim os fatores locais e mecânicos, que contribuem para apressar a evolução dos processos biológicos, que determina a formação do calo e a consolidação das fraturas. Os resultados obtidos com essa técnica na Clínica Ortopédica e Traumatológica justificam a descrição da mesma, assim como do instrumental empregado. INSTRUMENTAL a) Uma série de parafusos (Fig. 1) manufaturados em comprimentos e diâmetros previamente determinados. Os de tamanho compreendido entre 12 mm a 25 mm têm diâmetro de 2,5 mm para a alma e de 3 mm para o corpo. O material empregado é de aço Roechliny (18% de cromo e 8 a 10% de níquel). Fig. 1- O parafuso apresentado na chanfradura da cabeça um orifício central. perior um dispositivo (Fig. 5) que se adapta à cabeça do parafuso havendo encaixe na fenda aí existente; uma peça acessória (Fig. 6), que é rosqueada na chave, servindo para fixar o parafuso na chave (Fig. 7). Esta fixação do parafuso na chave torna extraordinariamente fácil a colocação do mesmo. c) Um instrumento graduado (Fig. 8) utilizado para a medida do parafuso a ser utilizado. Consiste em uma haste graduada deslizando dentro de um pequeno cilindro metálico. A haste graduada termina em um estilete tendo a extremidade inferior ligeiramente curva. Fig. 2 Chave de Fenda com saliência central. Fig. 3 - Brócas com diâmetro previamente estabelecido. Fig. 4 Chave para introdução dos parafusos. d) Uma broca (Fig. 9) que serve para produzir uma escavação na cortical do osso, a fim de evitar que a cabeça do parafuso faça saliência, acima do plano ósseo. A característica essencial desse parafuso é apresentar na fenda da cabeça um orifício central, que se adapta a uma chave de fenda (Fig. 2) que apresenta pequena saliência no centro. Esse dispositivo bastante simples dá segurança ao ato de colocar o parafuso, evitando as derrapagens constantes. Apresenta ainda o parafuso em sua extremidade distal, uma série de freseduras, que dão maior poder de impação aos mesmos. As brocas (Fig. 3) que preparam o leito para o parafuso, têm diâmetros diferentes: uma de diâmetro de 2,6 mm Fig. 7 - O parafuso fixo na chave. Fig. 5 - Na extremidade superior da chave existe um dispositivo especial que se adapta na cabeça do parafuso. Fig. 6 - Peça acessória da chave. e outra de 3,3 mm. Esta particularidade tem muita importância no ato de colocar o parafuso. b) Uma chave especial (Fig. 4) formada de duas partes: a chave propriamente dita que apresenta na extremidade suFolha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 5 Artigo reeditado TÉCNICA DA COLOCAÇÃO DOS PARAFUSOS Estabelecido o plano de síntese, seja a colocação simples de parafuso ou de placas, inicia-se a perfuração do osso depois de perfeita redução da fratura. A perfuração inicial é feita com a broca de diâme- Fig. 9 Bróca para fazer uma excavação na cortical do osso. tro 2,6 mm, devendo atingir as duas superfícies de fratura. Em seguida, com a broca de maior diâmetro (3,3 mm), perfura-se somente o fragmento de entrada do parafuso (Fig. 10). Executados os orifícios, com o mediador graduado, calcula-se o tamanho Fig. 10 - Esquema mostrando como deve ser feita a perfuração das extremidades fraturárias. Fig. 8 - Istrumento graduado para medir o tamanho dos parafusos Fig. 10 - Esquema mostrando como se utiliza o aparelho que mede o tamanho do parafuso a ser utilizado. do parafuso utilizado (Fig. 11). Uma vez escolhido o parafuso, este é fixado na chave (Fig. 7), dando-se inicio a penetração do mesmo. Quando a chave tocar no osso, gira-se em sentido contrário o dispositivo rosqueado, que solta o parafuso, encontrando-se este quase completamente penetrando no osso. Os apertos finais são dados com a chave de fenda já descrita (Fig. 2). Quando a osteossíntese é feita em ossos como a tíbia que se encontra diretamente sob a pele, a fim de se evitar que a cabeça do parafuso faça saliência acima do plano ósseo, faz-se com a broca especial (Fig. 9) uma escavação na cortical do osso, antes da introdução do parafuso. CASO APRESENTADO C. L. 77 anos – Fem. A 32 dias de queda acidental, fraturando a coxa, deu entrada neste Hospital com goteira de arame. RX: Fratura em espiral do 1/3 inferior do fêmur. Tratamento: Osteossíntese com parafuso (radiografia). Foi revista quatro meses após a operação, andando ainda com certa dificuldade. RESUMO Os AA. Apresentam a técnica e os instrumentos usados na Clínica Ortopédica e Traumatológica nas osteosínteses com parafuso. Com essa técnica a colocação dos parafusos é grandemente facilitada, obtendo-se ainda maior solidez nas osteossínteses. 6 Janeiro - Abril 2007 Caso N. 1 - Radiografia n. 2 Osteossíntese com parafusos Atualização Sistemas de liberação Controlada de Fármacos suportados por Biocerâmicas para a Reconstrução óssea Aline Sillos Puga1 , Carolina Jordan Mazotti1, Tomaz Puga Leivas2 , Olavo Pires de Camargo3 , Patricia Santos Lopes4 O início do desenvolvimento dos implantes e dos biomateriais de forma científica ocorre no século XX, principalmente no período que inclui as duas Grandes Guerras. Até a metade do século XX, experimentam-se praticamente todos os materiais conhecidos na confecção de implantes e provocam-se danos à saúde de muitos pacientes. Em 1947, o Comitê Americano para o Tratamento das Fraturas do Colégio Americano de Cirurgiões recomenda formalmente da autorização para a comercialização; no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA é criada em 1998 com atribuições equivalentes. “Desenvolvem-se, atualmente, os sistemas de liberação controlada de fármacos nos quais os biomateriais exercem as funções de carreadores ou de vetores de transporte e distribuição”. No final desse século, surgem os biomateriais para a reconstrução tecidual: os materiais porosos (macro e microporosos), os absorvíveis, os bioativos e os biomiméticos. Utilizam-se para a obturação de cavidades (neoplasias) ou para o preenchimento de falhas ósseas, para a substituição tecidual, para a reparação ou recons- a utilização dos aços inoxidáveis ao Ni-Cr na confecção dos materiais de osteossíntese. Surgem as instituições governamentais para o controle dos implantes e dos biomateriais: em 1976, a Administração de Alimentos e Drogas ("Food and Drug Administration - FDA"), órgão trução articular e para o remodelamento ósseo. Procuram-se desenvolver materiais que permitam a variação das formas e das dimensões, das suas características físicas, químicas, estruturais e superficiais (in- de controle dos Estados Unidos da América, passa a ter autoridade adicional para a regulação do desenvolvimento, dos testes, da produção, da distribuição, do uso dos dispositivos médicos e terface implante-osso) e, principalmente, das suas propriedades mecânicas e bioló- Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 7 Atualização Ensaio de resistência à compressão de corpo de prova confeccionado de cimento de colágeno-hidroxiapatita no Laboratório de Biomecânica do IOT. Detalhe das dimensões dos corpos de prova cilíndricos 8 gicas. Apresentam a resistência e a rigidez necessárias a cada situação, proporcionam uma rápida consolidação ou uma integração óssea adequada e permitem a movimentação precoce do paciente. biomateriais exercem as funções de carreadores ou de vetores de transporte e distribuição. Os sistemas suportados pelas biocerâmicas representam uma excelente alternativa para a disponibilização no sítio da lesão, conseguindo Destacam-se os produtos biológicos, como o colágeno, as hidroxiapatitas de origem coralina e os ossos processados (liofilizados, irradiados, congelados, etc), os polímeros absorvíveis, como os a base de ácidos poliglicólico e polilático, os hidrogéis e diversos polímeros porosos, as alta concentração do fármaco no local, baixa concentração sistêmica, alta eficiência terapêutica e a redução significativa da toxidade e da ocorrência dos efeitos colaterais ou das reações adversas. Os tratamentos convencionais, geralmente, cerâmicas sintéticas, como os carbonatos de cálcio, os fosfatos de cálcio, as hidroxiapatitas (HAP), os ß-tricalciofosfatos (ß-TCP) e os biovidros; e os compósitos, como os cimentos polímerocerâmicos preparados a base de colágeno e hidroxiapatita. administrados por via oral, intravenosa ou intramuscular, nem sempre são satisfatórios. A disponibilização da concentração adequada de um medicamento pode ser dificultada ou não ser alcançada devido à baixa circulação de sangue no local de ação, o tecido alvo. Muitas vezes, Desenvolvem-se, atualmente, os sistemas de liberação controlada de fármacos nos quais os para tentar solucionar o problema, administramse superdosagens dos produtos farmacêuticos Janeiro - Abril 2007 com o objetivo de garantir o efeito terapêutico, podendo levar a níveis tóxicos de concentração, provocar reações adversas ou efeitos colaterais graves e indesejados. O tecido ósseo normal apresenta uma baixa vascularização. Os ossos com traumatismos, com fraturas simples ou cominutivas, com esmagamentos, com microfissuras (fadiga), com osteomielite, com pseudartrose, os ossos dos pacientes com lesões extensas de partes moles, com problemas vasculares (aterosclerose) ou metabólicos associados e os dos pacientes imobilizados, idosos ou obesos podem apresentar graves restrições no fluxo sangüíneo, menor disponibilidade do fármaco no local da ação e, portanto, menor eficiência terapêutica. Os primeiros materiais utilizados como carreadores de fármacos são o gesso e o cimento acrílico ósseo (polimetilmetacrilato autopolimerizante - PMMA), ambos com resultados controversos, tanto como material estrutural (propriedades mecânicas e biológicas) quanto na eficiência de liberação de antibióticos (gentamicina). Além dos produtos farmacêuticos químicos, como os antibióticos, os antiinflamatórios, os analgésicos, os produtos para o tratamento das neoplasias (quimioterapia) e as diversas associações medicamentosas, e dos biológicos, como os colágenos, os peptídeos, as proteínas, as fibrinas e os fatores de crescimento tecidual; os biomateriais podem, ainda, suportar ou incorporar as culturas de condrócitos, de osteoblástos ou de células-tronco, isolados ou associadamente. Podem carregar, também, microesferas, lipossomos ou nanopartículas de liberação rápida, lenta ou combinada, por longos ou curtos períodos de tempo. Podem ser projetados para atender necessidades individuais específicas. Podem reter e liberar o fármaco quando necessário ou desejado. Sua aplicação como sistema de liberação controlada de fármacos depende, no entanto, do estudo da estrutura do material, dos mecanismos de carregamento (absorção) e de distribuição (liberação), independente dos fatores locais do tecido e do fármaco. Deve-se prever a capacidade de estoque do produto armazenado no biomaterial, a cinética e a meia-vida do produto, determinar o fluxo de liberação, a velocidade de difusão (concentração local) e o período de tempo de liberação (tempo de tratamento). Essas características cinéticas podem ser controladas ou moduladas, dependem do tamanho e do peso molecular do agente ativo, do mecanismo de liberação e dos seus fatores de influência, por exemplo, a porosidade do material. A modulação é obtida pela variação de fatores internos (mudança de pH) ou externos (efeitos físicos e químicos). Todos, produtos de alta tecnologia e de alto valor agregado. O mercado mundial de implantes ortopédicos estima vendas superiores a 10 bilhões de dólares americanos em 2005. O segmento da reconstrução óssea corresponde a aproximadamente 2,5 bilhões e deve chegar a 14 bilhões de dólares anuais nos próximos 20 anos. Nesse mercado, os biomateriais para a reconstrução óssea constituem o segmento de maior índice de desenvolvimento e de potencial de mercado, devendo crescer entre 10% e 20% ao ano, nos próximos 5 ou 7 anos. As cerâmicas, os cimentos cerâmicos e polímero-cerâmicos constituem o campo mais recente, relevante e de amplas perspectivas de desenvolvimento para a ortopedia e traumatologia. 1- Alunas do curso de farmácia industrial da Universidade Anhembi Morumbi 2- Engenheiro Chefe do LLaboratório aboratório de Biomecânica LIM-41 do IO T-HC -FMUSP IOT -HC-FMUSP 3- Professor Titular do DO T-FMUSP DOT 4- Docente do curso de farmácia industrial da Universidade Anhembi Morumbi Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 9 Dissertação defendida Estudo experimental da ação da metilprednisolona utilizada antes do traumatismo raquimedular em ratos wistar Raphael Martus Marcon • Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências • Área de concentração: Ortopedia e Traumatologia • Orientador: Dr. Reginaldo Perilo Oliveira • São Paulo, 18/07/2006 INTRODUÇÃO A lesão medular apresenta mecanismos primários e secundários de dano à medula espinal, sendo a lesão secundária resultante de um ou mais processos bioquímicos e celulares desencadeados pela lesão primária (Bunge et al., 1993). O conceito de lesão secundária foi primeiro postulado por Allen em 1911, que propôs a existência de agentes nocivos presentes no material necrótico e hemorrágico que causam danos adicionais à medula espinal e esses A lesão medular é incapacitante, irreversível e de alto custo econômico e social. A mesma apresenta efeito devastador na qualidade de vida da vítima, com alterações fisiopatológicas nos sistemas cardiovascular, respiratório, gastrointestinal, urogenital, neurológico e músculo-esquelético. A agentes são fatores bioquímicos. Os estudos mais recentes sobre os processos fisiopatológicos após a lesão do sistema nervoso central proporcionam um suporte mais racional para as estratégias de tratamento e demonstram alguma melhora da função neurológica em extensão destas alterações é relacionada com a gravidade do dano neurológico. Tem como causa mais freqüente o traumatismo, mas também é produzida por tumores, infecção, lesão vascular ou mesmo iatrogenicamente. pacientes com lesão medular. Nas últimas duas décadas, várias pesquisas foram realizadas na tentativa de obter-se um tratamento mais efetivo para a lesão medular espinal. Todas essas pesquisas envolvem “Este estudo tem como objetivo avaliar, em modelo experimental padronizado, os efeitos da metilprednisolona empregada previamente ao traumatismo medular, tanto em relação aos possíveis efeitos benéficos quanto às possíveis complicações associadas”. 10 Janeiro - Abril 2007 Da esquerda para a direita: Dr. Osmar Avanzi (Santa Casa, SP), Raphael Martus Marcon (mestrando, IOT-HCFMUSP), Dr. Reginaldo Perilo Oliveira (Orientador, IOTHCFMUSP), Prof. Dr. Eduardo de Barros Puertas (UNIFESP). basicamente quatro formas de abordagem do paciente com lesão medular aguda, a cirúrgica, a por meios físicos, a biológica e a farmacológica. A farmacologia desempenha papel relevante no tratamento da lesão medular e é sem dúvida o método mais pesquisado. Através de ensaios mento com esteróides baseia-se na ação antiinflamatória e na efetividade em tratar o edema cerebral. Acredita-se que, além desta sua ação, a metilprednisolona atua aumentando o fluxo sangüíneo, estabilizando a membrana celular e inibindo a peroxidação lipídica, com clínicos e experimentais, contribuí efetivamente para o tratamento dos danos medulares secundários. Entre as drogas em teste, os bloqueadores dos canais de cálcio, a naloxona, os gangliosídeos, os lazaróides, o dimetilsulfoxido e a alfa metilparatirosina são estudadas conseqüente diminuição da formação de radicais livres. Está contra-indicada a administração em pacientes politraumatizados devido aos seus efeitos sistêmicos. Em última análise, a contribuição da farmacologia tem sido na prevenção do dano lesional secundário. preferencialmente. Os corticóides e os gangliosídeos já estão protocolados para uso em humanos. Dentre os corticóides, os mais pesquisados são a dexametasona e a metilprednisolona. Essa última, em ensaios clínicos randomizados, prospectivos, duplocegos, tem comprovação clínica de sua eficácia Em algumas situações, a lesão medular é prevista e é conseqüente a um determinado tratamento. Dentre estas situações, podemos citar a radioterapia para o tratamento de tumores, com lesões medulares decorrentes das lesões actínicas secundárias à radiação empregada. Outra situação é a encontrada nos tratamentos (Bracken et al., 1992). Inicialmente, o trata- cirúrgicos para tumores intra-espinhais, sejam Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 11 Dissertação defendida estes extramedulares intradurais (meningioma, neurofibroma etc.), intramedulares intradurais (gliomas, ependimoma etc.) ou cistos intraespinhais (cisto perineural, cisto de aracnóide, siringomielia etc.). Nestas situações o cirurgião, tanto no acesso para a lesão, quanto na própria retirada da mesma, pode provocar uma lesão medular. Observa-se, na prática clínica, que muitos cirurgiões, baseados nos estudos prévios com a metilprednisolona como agente neuroprotetor, têm utilizado a mesma previamente a atos cirúrgicos com potencial risco para lesão medular associada. Além de ser procedimento não isento de complicações, devidos aos efeitos sistêmicos da metilprednisolona, não se encontram na literatura estudos que dêem suporte ao mesmo. Assim, este estudo tem como objetivo avaliar, em modelo experimental padronizado, os efeitos da metilprednisolona empregada previamente ao traumatismo medular, tanto em relação aos possíveis efeitos benéficos quanto às possíveis complicações associadas. MÉTODOS Foram utilizados 32 ratos Wistar, com idade de 20 semanas, divididos em 4 grupos. Todos os ratos sofreram lesão medular padronizada através de equipamento computadorizado para impacto por queda de peso - IMPACTOR. De modo duplo-cego, 2 grupos receberam as drogas A (placebo) e a droga B (metilpredinisolona) imediatamente após a lesão (T0). Outros 2 grupos receberam as mesmas drogas 4 horas antes da lesão (T-4). Todos os grupos foram acompanhados para a identificação de possíveis complicações (óbitos, infecções e lesões associadas). A função locomotora dos ratos foi avaliada segundo o método descrito por BASSO; BEATTIE; BRESNAHAN (1995), no segundo, no sétimo, no décimo quarto, no vigésimo primeiro e no vigésimo oitavo dia após contusão medular. Os ratos foram sacrificados no vigésimo oitavo 12 Janeiro - Abril 2007 Observa-se, na prática clínica, que muitos cirurgiões, baseados nos estudos prévios com a metilprednisolona como agente neuroprotetor, têm utilizado a mesma previamente a atos cirúrgicos com potencial risco para lesão medular associada. dia após o ensaio, com avaliação macroscópica das possíveis lesões associadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos de estudos quanto às médias de peso (p = 0,496) e de idade (p = 0,605) dos animais. Nos índices motores não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos de estudo em nenhuma das avaliações (p > 0,05 em todas as comparações). Na comparação entre os 4 grupos quanto às intercorrências foi encontrada diferença estatisticamente significante nos óbitos (p = 0,047), onde o grupo Droga B T0 apresentou proporção de óbitos significantemente menor do que a encontrada no grupo Droga B T-4 (0% e 55,6% respectivamente nos grupos Droga B T0 e Droga B T-4). Nos demais parâmetros não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos de estudo (p > 0,05 em todas as comparações). Para analisar a relação entre a ocorrência de intercorrências e o uso da droga, independentemente do momento de aplicação da mesma, os grupos Droga A T0 e Droga A T-4 foram reagrupados, bem como os grupos Droga B T0 e Droga B T-4. Em nenhum dos parâmetros avaliados acima foi encontrada diferença estatisticamente significante entre estes grupos de estudo (p > 0,05 em todas as comparações). Figura 1 - Procedimentos para a realização da lesão medular através de equipamento computadorizado para impacto medular por queda de peso - NYU Impactor®. A - detalhe da laminectomia, com exposição da medula espinal; B - detalhe das garras de fixação nos processos espinhosos e C - vista geral do posicionamento do animal no dispositivo de impacto. CONCLUSÕES Quanto aos índices motores, não foi observado efeito benéfico com o uso da metilprednisolona previamente ao traumatismo medular. Quanto às complicações, os ratos tratados com metilprednisolona quatro horas antes do trauma apresentaram um número de óbitos significativamente maior quando comparados aos ratos tratados com a mesma droga imediatamente após o trauma. REFERÊNCIAS Allen AR. Surgery of experimental lesion of spinal cord equivalent to crush injury fracture dislocation of spinal column: a preliminary report. JAMA JAMA.. 1911;57:878- Basso DM, Beattie MS MS,, Bresnahan JC. A sensitive and reliable locomotor rating scale for open field testing in rats. J Neurotrauma.1995;12:121. Bracken MB MB,, Shepard MJ MJ,, Collins WF WF,, Holford TR, Baskin DS DS,, Eisenberg HM, Flamm E eo E,, LLeo eo-- Summers LL,, Maroon JC, Marshall LF erot PL agner FC LF,, PPerot PL,, Piepmeier JJ,, Sonntag VKH VKH,, W Wagner Jr oung W Jr,, Wilberger LL LL,, Winn HR, Y Young W.. Methylprednisolone or naloxene treatment after acute spinal cord injury: 1- year follow -up data. Results of the second National Spinal Cord follow-up Injury Study Study.. J Neurosurg Neurosurg.. 1992;76:23-31. Bunge RP, Puckett WR, Becerra JL JL,, Marcillo A A,, Quencer RM. Observations on the pathology of human spinal cord injury: a review and classification of 22 new cases with details in from a case of chronic cord compression with extensive focal demyelination. Adv Neurol. 1993;59:75-89. De LLa a TTorre orre JC, Boggan JE JE.. Neurophysiological recording in rat spinal cord trauma Exp Neurol. 1980;70:356-70. Rodrigues NR. PPadronização adronização da lesão medular espinal em ratos Wistar [tese]. São PPaulo: aulo: FFaculdade aculdade de Medicina, Universidade de São PPaulo; aulo; 1999. Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 13 Posse Com a platéia da Sala da Congregação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo cheia, tomou posse o novo Professor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia Prof. Dr. Olavo Pires de Camargo DOT ganha mais um PROFESSOR TITULAR Dr. Flavio Pires de Camargo (assistente) Dr. Jose Passarelli Junior (assistente) N a manhã do dia 23 de março realizouse a cerimônia de posse do Prof. Dr. Olavo Pires de Camargo no cargo de Professor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia (DOT) da Faculdade de Medicina em quando para trás. Tudo o que há em nós de original conservar-se-á tanto melhor e será tanto mais apreciado quanto mais formos capazes de não perder de vista os nossos antepassados". O atual DOT se originou da vigésima nona da Universidade de São Paulo (FMUSP). Em sessão solene o novo Professor Titular foi saudado pelo Prof. Dr. Tarcisio Eloy Pessoa de Barros Filho, que lembrou, em seu discurso, o nascimento e o desenvolvimento do Departamento e do Instituto. Para isso, citou o poeta e dramaturgo alemão Goehte. "É bom olhar de vez cadeira da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que se denominava ortopedia e cirurgia infantil e foi regida desde a fundação pelo professor Rezende Puech. Com o falecimento do professor em janeiro de 1939, a cadeira foi "O maior desafio de um Professor Titular é o de conseguir equilíbrio entre a produção de projetos de pesquisa inovadores de aceitação internacional, sem se esquecer da vertente acadêmica, que é a razão de ser de um docente”. Prof. Dr. Olavo Pires de Camargo 14 Janeiro - Abril 2007 posta em concurso e em setembro do mesmo ano assumiu Francisco Elias de Godoy-Moreira. Em março de 1944, a ortopedia foi a primeira clínica a se transferir para o Hospital das Clínicas. O professor Godoy-Moreira foi o primeiro diretor clínico do HC e realizou, em 29 de março de 1944, a primeira intervenção cirúrgica do novo hospital, uma artrodese de joelho por tuberculose osteo-articular. Outra data marcante para a ortopedia brasileira é 31 de julho de 1953, quando é inaugurada a Clínica Ortopédica e Traumatológica, que em 1977 foi transformada em Instituto de Ortopedia e Traumatologia e em A platéia da Sala da Congregação da FMUSP lotou durante a posse. Estiveram presentes representantes do HC, docentes, residentes, funcionários do IOT e familiares do novo Professor Titular. 13 de agosto de 1990, recebeu o nome de Instituto de Ortopedia e Traumatologia Prof F. E. Godoy Moreira. "A grandeza de uma instituição não é avaliada por sua estrutura física, nem pela presença de equipamentos de última geração e sim pela grandeza dos homens que a compõem. Cada um dos membros do corpo clínico e dos funcionários do IOT é também responsável pelo reconhecimento que nossa instituição recebe", disse o também Professor Titular Tarcisio Eloy Pessoa de Barros Filho. Em seu discurso de posse, o novo Professor Titular Olavo Pires de Camargo lembrou de seu pai, o professor Flávio Pires de Camargo e dos antigos professores Rezende Puech, Francisco Elias Godoy-Moreira, Manlio Mario Marco Napoli, João Delphino B. Alvarenga Rossi, O também Professor Titular Tarcisio Eloy Pessoa de Barros Filho discursou na cerimônia de posse. Foi ele quem conduziu o Prof. Dr. Olavo Pires de Camargo até a mesa. Ronaldo Jorge Azze e Marco Martins Amatuzzi. "O maior desafio de um Professor Titular é o de conseguir equilíbrio entre a produção de projetos de pesquisa inovadores de aceitação internacional, sem se esquecer da vertente acadêmica, que é a razão de ser de um docente. O Professor Titular deste século XXI deve resgatar os valores humanísticos e transmitir aos seus alunos o fruto de sua vivência pessoal no trato com seus pacientes", salientou Olavo Pires de Camargo que encerrou sua fala com a frase: "O melhor professor não é aquele que ensina mas, sim, aquele que inspira". Importantes personagens que fizeram e fazem a história do IOT e do DOT marcaram presença. A mesa que foi composta demonstra a grandeza da cerimônia. Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 15 Cursos 2007 Cursos programados para DATA 30 e 31/03 04 e 05/05 2007 TEMA Exercícios Resistidos Prevenção e Reabilitação Módulo I Profª Júlia Greve e Ed. Físico Emmanuel Gomes Ciolac Curso de Artroscopia do Aparelho Locomotor Dr. Roberto Freire da Mota e Albuquerque Médicos 11 e 12/05 Reconstrução Óssea - Fixador Orthofix Walter Hamilton de Castro Targa Médicos 18 e 19/05 Artroplastia do Joelho - Primária e Revisão Dr. José Ricardo Pécora Médicos 25 e 26/05 Exercícios Resistidos - Prevenção e Reabilitação Módulo II Profª Júlia Greve e Ed. Físico Emmanuel Gomes Ciolac Profissionais da Saúde 01 e 02/06 Workshop em Oncologia Ortopédica Dr. André Baptista Profissionais da Saúde 15 e 16/06 Atualidades em Infecções Osteoarticulares Dra. Ana Lúcia L. Munhoz Lima IV Curso Teórico e Prático de Fisioterapia Aplicada em Ortopedia e TraumatologiaFt. Leda Shizuka Yogi Curso de Revisão em Artroplastia do Quadril Dr. Antonio Carlos Bernabé Médicos 03 e 04/08 Curso Avanços e Controvérsias em Cirurgia de Coluna (Centro de Convenções Rebouças) Dr. Alexandre Fogaça Cristante Profissionais da Saúde 17 e 18/08 Curso de Reciclagem e Atualização em Cirurgia da Mão e Microcirurgia Reconstrutiva Prof. Arnaldo Valdir Zumiotti Curso de Medicina do Esporte Dr. Arnaldo José Hernandez Médicos 31/08 e 01/09 Curso de Geriatria Profª Clara de Rosa Carelli Profissionais da Saúde 14 e 15/09 Navegação na Artroplastia do Joelho Dr. José Ricardo Pécora Médicos 19 e 20/10 Curso de Próteses Dr. André Pedrinelli Profissionais da Saúde 26 e 27/10 Curso do Joelho Dr. Pécora / Fts. Cleidnéia e Aline Profissionais da Saúde 29 e 30/06 03 e 04/08 24 e 25/08 Para Maiores informações: Centro de Estudos Godoy Moreira - CEGOM Telefone: 11-3086-4106 - FAX: 11-3086-4105 e-mail: [email protected] 16 PÚBLICO ALVO Profissionais da Saúde Janeiro - Abril 2007 Profissionais da Saúde Médicos Profissionais da Saúde Errata Na edição número 48 da Folha de Ortopedia, constou que a próxima eleição da Comissão de Ética aconteceria no dia 18 de outubro deste ano, enquanto que a data correta é dia 07 de maio de 2007, conforme edital. Reuniões Clínicas, atualização e revisão de temas sextas-feiras, das 10h às 11h, no anfiteatro "prof. flávio pires de camargo" Janeiro 05. Núcleo de Gestão 12. Diagnóstico/Imagem 19. Banco de Tecidos Abril 13. Traumatologia 20. Enfermagem 27. Joelho Julho 06. Ombro/Cotovelo 13. Coluna Cervical 20. Cirurgia da Mão 27. Oncologia Ortopédica Outubro 05. Traumatologia 19. Ortopedia Pediátrica 26. Medicina do Esporte Fevereiro Março 02. Anatomia Patológica Doenças Metabólicas 09. Ortopedia Pediátrica 16. Ombro/Cotovelo 23. Neuro-Ortopedia Maio 02. Cirurgia da Mão 09. Oncologia Ortopédica 16. Coluna Cervical 23. Com. de Infecção Hospitalar 30. Coluna Lombar Programação - 2007 PROGRAMAÇÃO - 2007 Junho 04. Deformidades Vertebrais 11. Traumatologia 18. Medicina do Esporte 25. Quadril 01. Joelho15. Artroplastia 22. Pé Adulto 29. Trauma Raquimedular Agosto Setembro 03. Med. Física e Reabilitação 10. Pé Adulto 17. Traumatologia 24. Coluna Lombar 31. Geriatria/Orteoporose/ Reumatologia 14. Amputados / Prótese 21. Deformidades Vertebrais 28. Quadril Novembro Dezembro 09. Trauma Raquimedular 23. Artroplastia 30. Microcirurgia 07. Pós-Graduação/ Residência Médica 14. Hospital Universitário 21. Laboratório de Investigação Médica Folha de Ortopedia e Traumatologia - IOT 17 Disciplinas Disciplinas que serão ministradas no curso de Pós-Graduação de Ortopedia e Traumatologia 1º SEMESTRE DE 2007 Coordenador: Prof. Olavo Pires de Camargo COD DOCENTE DISCIPLINA MOT 5734 Prof. Tarcisio Eloy P. Barros Filho Modelos para análise de Dr. Reginaldo Perilo de Oliveira lesões do sistema nervoso 18 CRED/PERÍODO 3 créditos 08/03/07 a 23/03/0708/03 e 09/ 0315/03 e 16/0322/03 e 23/03 5ªs e 6ªs feiras - 8 às 12h MOT5736 Prof. Gilberto Luis Camanho Prof. Arnaldo José Hernandez Ensaios sobre instabilidadesarticulares 3 créditos 12/04/07 a 27/04/0712/04 a 13/ 0419/04 a 20/0426/04 a 27/04 5ªs e 6ªs feiras - 8 às 12h MOT5738 Prof. Arnaldo Valdir Zumiotti Prof. Arnaldo José Hernandez Análise experimental da regeneração músculo esquelética 3 créditos 03/05/07 a 18/05/0703/05 e 04/ 0510/05 e 11/0517/05 e 18/05 5ªs e 6ªs feiras - 8 às 12h MOT5729 Prof. Olavo Pires de Camargo Prof. Rames Mattar Junior A utilização de métodos anátomos patológicos em ensaios experimentais 3 créditos 14/06/07 a 29/06/0714/06 e 15/ 0621/06 e 22/0628/06 e 29/06 5ªs e 6ªs feiras - 8 às 12h Janeiro - Abril 2007