O EGITO ANTIGO A importância do Rio Nilo A maior parte do Egito
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O EGITO ANTIGO A importância do Rio Nilo A maior parte do Egito
O EGITO ANTIGO A importância do Rio Nilo A maior parte do Egito é uma dádiva do Nilo, como dizem os sacerdotes, e foi essa a minha impressão (Heródoto, historiador grego). O Egito antigo fica no nordeste do continente africano, banhado tanto pelo Mar Mediterrâneo quanto pelo Mar Vermelho, em meio a uma grande área de desertos. As áreas de ocupação humana — ou seja, as vilas e cidades — ficavam próximas ao Rio Nilo. Com 6.671 quilômetros de extensão, o Nilo foi — e continua sendo — muito importante para a vida do povo egípcio. A fonte da vida Na época das cheias, as águas do Rio Nilo inundavam as áreas baixas vizinhas a ele, depositando nessas terras grande quantidade de húmus. Isso significa que as enchentes deixavam o solo preparado para a agricultura e faziam crescer as pastagens dos animais. Os egípcios cultivavam trigo, cevada, linho, papiro, legumes e frutas. Criavam bois, jumentos, carneiros, cabras, aves e porcos. Bois e jumentos eram usados como força de tração. Pinturas deixadas por artistas do Egito antigo mostram que o Rio Nilo era também um importante meio de comunicação. Os registros indicam que o tráfego no rio era intenso e que havia vários canais de navegação ao longo do seu leito. O Rio Nilo era tão importante que os antigos egípcios o consideravam um deus, o deus-Nilo, cujas águas garantiam a vida na região. Ao Nilo se associava a figura de Osíris, o deus traído e morto por seu irmão e que ressuscitou pela força do amor de Isis. Osíris e o Nilo viviam, na crença popular, o eterno ciclo da morte e da ressurreição, das vazantes e das inundações. O controle das águas É verdade que o Rio Nilo facilitou a agricultura, a criação de animais e o transporte, mas não podemos esquecer o trabalho dos seres humanos que viveram no Egito antigo. Como dependiam das enchentes do rio, eles criaram formas de aproveitá-las melhor, isto é, aprenderam a modificar a natureza para aperfeiçoar o modo de vida da comunidade. Observando os astros e fazendo o registro das inundações ano após ano, os egípcios conseguiram criar um calendário solar relativamente preciso, que lhes permitia prever as cheias do Nilo e, assim, planejar as épocas mais adequadas para o plantio e a colheita. Para aumentar a produção, melhoraram a irrigação do solo com a construção de diques e reservatórios de água. Aproveitaram os conhecimentos de matemática e de engenharia usados na construção das barragens para erguer templos, pirâmides e celeiros. Desenvolveram sofisticados métodos de cálculo e, pelos vestígios encontrados por arqueólogos, acredita-se que dominavam sistemas de pesos e medidas. A construção do Império Egípcio No final do Período Neolítico, as pessoas que viviam na região onde se formaria o Reino Egípcio estavam agrupadas em várias comunidades agropastoris independentes chamadas nomos. Situados ao longo do Vale do Rio Nilo, os nomos eram governados por chefes políticos hereditários chamados nomarcas. Por volta de 3500 a.C., os nomos estavam organizados em dois reinos: o Alto Egito (ou Reino do Sul) e o Baixo Egito (ou Reino do Norte). Este período é conhecido como pré-dinástico. Entre 3200 a.C. e 3100 a.C., os dois reinos foram unificados e o chefe do Reino do Sul, Menés, assumiu o título de faraó, que significa “casa grande”, "rei das duas terras”. Depois da unificação, o poder continuou hereditário, mas os faraós passaram a ser considerados seres divinos, dando origem ao que chamamos monarquia teocrática, forma de governo em que o poder, supostamente concedido pelos deuses, é exercido por seus representantes na Terra. O período dos governos teocráticos no Egito durou aproximadamente 3.000 anos e é dividido pelos historiadores em três fases: Antigo Império; Médio Império; Novo Império. Durante três milênios, a civilização egípcia acumulou grande riqueza e foi admirada e temida pelos povos com os quais manteve contato. Entretanto, a partir do século VII a.C., o Egito foi conquistado sucessivamente por assírios, persas, gregos e romanos, não recuperando mais a grandeza do passado. A estrutura social A sociedade egípcia se organizava de forma hierárquica. No topo da estrutura social ficavam o faraó e a família real. Abaixo deles se encontravam os principais funcionários (os vizires), os altos sacerdotes e os nomarcas. Esses grupos formavam a nobreza, que era o setor mais privilegiado da sociedade. Os chefes militares e os escribas vinham logo depois, mas ainda formavam um setor de prestígio na sociedade egípcia. Os setores intermediários da sociedade estavam representados pelos arquitetos, médicos e grandes comerciantes (que abasteciam o Estado com artigos de luxo) e artesãos especializados. A maior parte da população era constituída de camponeses e artesãos não especializados. Por último estavam os escravos, que geralmente eram prisioneiros de guerra. O faraó e a família real O faraó governava em todas as esferas: decidia questões de Justiça, exercia funções religiosas, fiscalizava obras públicas e comandava o exército. Considerado um deus pela sociedade, era responsabilizado por tudo o que acontecia no Egito, desde as cheias do Rio Nilo até as vitórias e as derrotas nas guerras. As pirâmides, construídas para servir de túmulo a alguns governantes, são testemunhos do poder dos faraós e da grandeza da civilização egípcia. As grandes pirâmides e a esfinge de Gizé As três grandes pirâmides da Colina de Gizé estão entre os mais importantes monumentos do Egito e do mundo. São elas: Quéops, Quéfrem e Miquerinos, que receberam o nome dos faraós que ordenaram sua construção. Na câmara real da maior delas — Quéops — foi encontrado um sarcófago vazio, sem tampa, objeto que não poderia ter sido transportado pelos estreitos corredores que conduzem à câmara. Como o sarcófago foi colocado ali e onde foi parar a tampa são perguntas sem resposta até hoje. A esfinge de Gizé, de 20 metros de altura e 70 metros de comprimento, é tão antiga quanto as pirâmides e ainda mais misteriosa, pois não se sabe quem a construiu nem por quê. Sacerdotes, altos funcionários e nomarcas Os sacerdotes eram responsáveis pela administração dos templos, pelos cultos e pelas festas religiosas. Sabiam ler e escrever e controlavam boa parte das riquezas do reino. Dentre os altos funcionários, o mais importante era o vizir, que cuidava da administração do império. Ele controlava a arrecadação de impostos, chefiava a polícia, fiscalizava as construções e as obras públicas, além de presidir o mais alto tribunal de Justiça e ser o comandante-em-chefe das tropas. Os nomarcas eram os administradores das províncias ou nomos. Assumiam funções importantes em suas províncias, como as de juiz e chefe político e militar, mas estavam subordinados ao poder do faraó. Guerreiros e escribas Os guerreiros defendiam o reino e auxiliavam na manutenção da paz. Eram respeitados pelo faraó e pela sociedade. Tinham direito a vários benefícios, o que lhes garantia prestígio e riquezas. Os escribas eram funcionários do reino e podiam prestar serviços ao faraó, ao exército ou aos templos. Eles cobravam os impostos, organizavam as leis, fiscalizavam as atividades econômicas, determinavam o valor das terras e eram responsáveis pelo censo (levantamento do número de habitantes do reino). As exigências para ser escriba eram saber escrever, ler e calcular, o que não era fácil, pois a escrita egípcia era muito complexa. Existiam escolas especiais para treinar escribas. Os candidatos eram matriculados aos 5 anos de idade e passavam o dia inteiro copiando textos. Eles também aprendiam história, matemática, geografia e recebiam noções de administração. A escrita egípcia Os egípcios criaram uma das escritas mais antigas de que se tem notícia, baseada no uso de hieróglifos, sinais ou caracteres que representavam imagens de aves, objetos etc. Com esse tipo de escrita, eram feitas as inscrições nos templos e nos túmulos, além de textos religiosos. Já foram encontrados documentos escritos com hieróglifos que tinham mais de 5.000 anos de idade. Além da escrita hieroglífica, os egípcios desenvolveram dois outros tipos de escrita: a hierática e a demótica. Escrita hierática: Variante mais simplificada da escrita hieroglífica, era utilizada para escrever sobre papiro, madeira ou outra superfície lisa. Era empregada em textos administrativos, literários e religiosos. Escrita demótica: Surgiu no século VII a.C., portanto bem depois das escritas hieroglífica e hierática, e aos poucos substituiu esta última, exceto nos documentos religiosos. Artesãos, camponeses e escravos A maioria da população era composta de artesãos, camponeses e escravos, que faziam parte do grupo social com menos prestígio. Os artesãos trabalhavam nas cidades, nos palácios e nos templos. Havia uma grande diferenciação social entre eles. Os artesãos especializados geralmente trabalhavam nos estaleiros, fabricando e reparando embarcações, e nos palácios e nos templos, onde confeccionavam joias, tecidos finos e adornos pessoais para a família real, os sacerdotes e os altos funcionários. Os artesãos que trabalhavam nas praças públicas, ao contrário, tinham uma situação de penúria semelhante à dos camponeses. Eles podiam ser barbeiros, ferreiros, tecelões, carpinteiros etc. Um dos destaques do artesanato egípcio era a produção de tecidos com fibras locais, como o linho e o algodão. Os egípcios também importavam matérias-primas: traziam madeira da Fenícia para a construção de navios, móveis e sarcófagos; das terras da Núbia (atual Sudão) vinham perfumes, pedras preciosas e marfim, além de cobre e estanho, empregados na fabricação de armas. À medida que as trocas de produtos artesanais por matérias-primas e alimentos foram se tornando mais frequentes, uma nova categoria começou a se destacar na pirâmide social do Egito antigo: a dos comerciantes, que passaram a acumular riqueza e poder. Os camponeses ou felás eram trabalhadores independentes que prestavam serviço nas propriedades agrícolas em troca de uma pequena parte da colheita. Cuidavam dos animais, aravam a terra, plantavam, carregavam água por grandes distâncias para a irrigação do solo, colhiam os cereais, consertavam os diques e limpavam os canais de distribuição de água. Fora da época da colheita, alguns camponeses eram contratados para trabalhar nas construções do faraó e, em tempos de guerra, podiam ser recrutados para o exército. Os escravos estavam na base da pirâmide social do Egito. Em geral eram estrangeiros aprisionados durante as guerras ou pessoas trazidas de outras regiões para serem vendidas nos mercados. Desempenhavam funções perigosas, como o trabalho nas minas de cobre e ouro. Uma parte das colheitas produzidas em todo o império era apropriada pelo faraó e guardada nos templos sob a administração dos sacerdotes; a outra parte era comercializada com outros povos. Da parte armazenada, retiravam-se os alimentos dos camponeses e dos escravos. Deuses para todas as ocasiões Os egípcios eram politeístas, ou seja. acreditavam em vários deuses. Esses deuses podiam ter forma humana (antropomorfismo), de animais (zoomorfismo), ou misturar as características de ambas as formas. Os egípcios também adoravam forças cósmicas, como o Sol, a Terra e o Céu, além do Rio Nilo e o faraó, considerado o filho de Rá, o deus-Sol. Cada cidade do Egito antigo tinha sua própria divindade. Um deus só passava a ser adorado em todo o reino quando a cidade onde ele era reverenciado se tornava capital do império. Segundo a crença egípcia, os deuses controlavam a vida e a morte das pessoas. Depois de morrerem, suas almas deveriam se apresentar diante do Tribunal de Osíris. Lá prestavam conta de suas ações em vida. Nesse momento, era importante que o morto tivesse consigo pelo menos um fragmento do Livro dos mortos, um manual de conselhos que ensinava como se comportar durante o julgamento. Osíris, Isis e Hórus eram os principais deuses do Egito. Eles foram representados muitas vezes com uma série de símbolos que comprovava seu poder. Geralmente, os deuses carregavam cetros e, na cabeça, uma coroa semelhante à dos faraós. Os rituais da mumificação Segundo as crenças egípcias, o corpo dos mortos tinha de ser preservado para garantir que a alma pudesse reencarná-lo no outro mundo. No processo de conservação usado pelos egípcios — chamado mumificação —, todo o corpo, incluindo os órgãos internos, era primeiro embalsamado, isto é, tratado com ervas e produtos químicos. Para retirar os órgãos, fazia-se um pequeno corte no abdômen, retirando o estômago, o fígado, os intestinos e os rins. O coração era deixado no interior do corpo. Os órgãos do morto eram guardados nos chamados vasos canópicos e depois colocados ao lado do morto. Passados cerca de sessenta dias, o corpo era perfumado com óleos e resinas e recoberto com faixas de linho. Quando o embalsamamento começou a ser praticado no Egito, por volta de 2700 a.C, apenas o corpo dos faraós e de pessoas das camadas mais privilegiadas era mumificado. Com o tempo, porém, essa prática se generalizou em outras camadas da população. No entanto, dependendo da camada social do morto, o corpo recebia tratamento e túmulo diferenciados. Assim como hoje existem cemitérios, caixões e sepulturas de vários tipos e preços, no Egito antigo os serviços funerários também variavam de acordo com as condições econômicas do falecido. No início do império, os egípcios costumavam enterrar os mortos nas mastabas, tumbas de base retangular escavadas no solo. Nelas havia sala de oferendas, capela e uma câmara mortuária, onde se depositavam os mortos. Por volta de 2650 a.C., no Antigo Império, começaram a ser construídas as primeiras pirâmides, abrigos que cobriam as tumbas dos faraós. Com o morto, depositavam-se alimentos, vasilhas, objetos pessoais, artefatos como armas e barcos, além de peças de artesanato em madeira e pinturas que mostravam cenas do dia-a-dia. Estas últimas serviam para que o morto se lembrasse, eternamente, de sua vida na Terra. Também se costumava decorar o interior das pirâmides com estatuetas de madeira que representavam os trabalhadores que iriam servir o falecido onde quer que ele estivesse. Durante o Novo Império, os faraós passaram a ser enterrados nos hipogeus, túmulos subterrâneos cavados nas encostas das montanhas, no Vale dos Reis, próximo à cidade de Tebas. Um hipogeu podia ter vários compartimentos e ser ricamente decorado. Já os trabalhadores pobres e os escravos eram enterrados nas areias do deserto, em covas rasas. A vida cotidiana Cuidados com o corpo e o vestuário No Egito antigo, homens e mulheres utilizavam cosméticos com frequência. E não se tratava só de vaidade — muitas vezes, o uso de certos produtos era uma necessidade. Os óleos aromáticos, por exemplo, além de perfumar, serviam para hidratar a pele ressecada pelo Sol e pelos ventos fortes, que são típicos da região desértica do Egito. Para facilitar a higiene e controlar as infestações de piolhos, as pessoas costumavam raspar os cabelos. Alguns enfeitavam a cabeça com perucas e coroas adornadas com flores, penas e joias. Em geral, os egípcios usavam roupas simples: os homens vestiam saiotes e as mulheres usavam vestidos retos com alças largas. Os trajes dos ricos eram adornados com aplicações de contas, pedras e bordados. No verão, crianças e adultos que exerciam atividades pesadas andavam nus devido ao calor intenso. Alimentação e lazer Trigo e cerveja estavam sempre presentes nas refeições. O trigo era moído pela dona da casa e misturado com água para o feitio de pães. A cerveja — invenção egípcia — e o vinho eram feitos em casa. Carne de boi, carneiro e cabra, bem como aves (pombo, ganso, pato), peixes e vegetais faziam parte da alimentação. Os antigos egípcios apreciavam as frutas, em especial figo, romã, uva e tâmara, e utilizavam o mel para adoçar os alimentos. As pessoas mais ricas costumavam oferecer banquetes para comemorar eventos variados ou para prestar homenagem aos mortos. Os convidados utilizavam travessas, pratos e xícaras de cerâmica e comiam com as mãos. As pinturas encontradas pelos arqueólogos mostram que as crianças egípcias praticavam jogos em equipe e que os adultos gostavam de caça, pesca, natação e luta. Não há registro da existência de teatros, mas nas festas religiosas eram apresentados espetáculos para a população. Lembre-se As águas do Rio Nilo foram muito importantes para a civilização egípcia, em especial para o desenvolvimento das atividades econômicas. Uma rígida hierarquia social caracterizou o Egito antigo: o faraó ocupava o topo da pirâmide social e na base ficavam os camponeses e os escravos. A religiosidade era um aspecto fundamental da vida dos egípcios, que cultuavam vários deuses e acreditavam na vida após a morte. As pirâmides e outros monumentos do Egito antigo estão entre os maiores patrimônios culturais da humanidade.
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