marina tsvietaieva

Transcrição

marina tsvietaieva
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COPYRIGHT © 2005 Décio Pignatari
editor —Fábio Campana
capa — Maria Angela Biscaia
projetográfico —Rubens Campana
preparação dos originais em russo —Elena Godoy
revisão — Fabiula Bortolozzo
João Arthur Pugsley Grahl
editoração eletrônica — Geucimar Brilhador
ISBN — 85-89485-44-7
Travessa dos Editores
Rua Desembargador Hugo Simas, 107
São Franscisco, Curitiba, Paraná
CEP: 80520-250 telefone: [41] 33 38 99 94
Para Lila, minha russa,
ecnu eü omozo saxonemcn
www.travessadoseditores.com.br
Impresso no Brasil
m
Conclusão pelo solo de clarineta e o corne inglês".
Com Poe e Messiaen, componho:
UNTHOUGHT—LIKE THOUGHTS THAT ARE THE SOUL OF THOUGHTS ••
UNTHOUGHT—LIKE THOUGHTS THAT ARE THE SOUL OF THOUGHTS
UNTHOUGHT—LIKE
THE SOUL OF THOUGHTS
UNTHOUGHT—LIKE THOUGHTS THAT ARE THE SOUL OF THOUGHTS
UNTHOUGHT—LIKE THOUGHTS THAT ARE THE SOUL OF THOUGHTS
SÓ, no bosque, exercícios físicos. Num lance usual
(agora, na lembrança, em câmera lenta), olhando para
o lado, vejo que tenho companhia. Não estou só, mas
sós: ali está o que parece ser a minha vida. Atentando
melhor, vejo, sinto e penso que num lugar junto dela
está o que pode ser o meu ser, em pisca-pisca estroboscópico. Não é núcleo, caroço ou essência, mas um íco
ne diagramático, uma rede relacionai pulsante, a
melodia da minha vida entre sons pré-melódicos, pon
tos quânticos pré-constelacionais que, como os seiozinhos da dançarina adolescente de Valéry, outra coisa
não pede senão viver. Quando cessa, a situação se in
3. VIDA DE MARINA
Marina nasceu em Moscou, 1892, de pai viúvo, casado
em segundas núpcias com uma pianista de talento,
Maria Meyn, de ascendência alemã e polonesa. Ivan
verte: ela é o vazio verde entre árvores, eu sôo. Aí está
Tsvietáieva, professor universitário, batalhou durante
toda a sua vida adulta pela criação do "seu museu", o
o meu seres, a minha Servida, a bela que eu soube
Museu de Belas Artes de Moscou, que conseguiu ver
amar.
inaugurado pelo próprio czar, pouco antes de morrer.
Maria Meyn, artística e sentimentalmente frustrada
(apaixonara-se, em solteira por um homem casado),
morreu tuberculosa — a doença mortal mais comum
na Rússia de então — quando Marina tinha quatorze
anos. Abandonou, de imediato e para sempre, as lições
de piano quea mãe impunha. Não a abandonaram, po
rém, a musicalização, a ética antimaterialista, o conhe
cimento da língua alemã, de seus grandes poetas
(Goethe, Holderlin, Heine) e o romantismo alemão —
herança materna.
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A geração de Marina, mesmo se nos restringirmos à
sua classe social na Rússia da época (algo assim como
uma classe média alta), gozou de uma liberalidade erótico-amorosa surpreendente, de uma grande mobili
no seu bojo e depois de Hiroshima. Terminado o colé
gio, Efron entra para a escola de cadetes. Pouco depois
— é a guerra — parte como enfermeiro para frente de
combate. Essa guerra distante a Marina, nos seus 22
dade turístico/cultural e de um
extraordinário
fenômeno de eclosão critico-criativa das artes russas
anos, ainda mais que traz dentro de si outra guerra;
apaixona-se pela poeta Sofia Parnok, lésbica, sete anos
nas três primeiras décadas do século findo. O que faz e
por onde anda Marina, dos 14 aos 18 anos? Durante a
enfermidade de sua mãe, num pensionato em Lausanne, Suiça; verão na Floresta Negra, Alemanha; em Pa
ris, sozinha, cursando a Aliança Francesa; custeia a
publicação do primeiro livro de versos,Álbum da noite
(500 exemplares), bem aceito por poetas conhecidos,
como Briussov, Gumiliev e Volochine, que escreve ar
tigo elogioso e a convida a visitá-lo, em Koktebel, na
Criméia, onde costuma receber poetas, artistas, pensa
dores, no verão, à beira do Mar Negro. E ali começa a
namorar um adolescente um ano mais jovem, ainda
cursando o secundário e de origem judia, SérgioEfron.
Decidem casar, para tristeza do velho Ivan, que o con
sidera simpático, mas sem futuro. Marina espera que o
rapaz atinja a maioridade, casam-se, 1912, com lua-demel na Sicília e Paris. Nasce a primeira filha, Ariadne
(Alia), publica mais um livro. São os anos dourados de
Marina na chamada Idade de Prata da poesia russa (a
de ouro é representada por Alexandre Puchkin). O sé
culo XIX fora o da grande prosa, o século xx foi domi
nado pela poesia.
mais velha;
Na forma mesma dos dedos malvados,
Carícias de mulher ou moleque atrevido.
Marina
em tudo, em mim,
o tremor sob o poema
começa a subir-me
Sofia
Não se escondem, viajam juntas para São Petersburgo,
o próprio Efron fica sabendo, a paixão turbulenta dura
um ano, a ruptura é dolorosa para Marina ("Ela me
repelia, me espezinhava... mas me amava"), que, no en
tanto, já está decaso com o então jovem Óssip Mandelshtam, o grande poeta do grupo acmeísta, cujo destino
igualmente trágico será relatado no exílio por sua mu
lher Nadeshda, em dois livros notáveis. Marina escre
verá 17 poemas, dando início ao seu processo de
escrever poemas em ciclos (a Moscou, a Blok, a Akh-
Mas uma Idade de Chumbo se anuncia, um período
mátova, a Pasternak, a Maiakovski), até os anos 30, na
inimaginavelmente pavoroso na história da humani
França, quando irá deixando a poesia de lado, para de
dicar-se às prosas narrativa, critica e dramatúrgica
dade, com duas guerras mundiais e muitas revoluções
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(esta iniciada em Moscou). Então, a guerra dentro da
guerra: a revolução de 1917.
Retida em Moscou, grávida, perde contato com o mari
do, oficial do exército branco: "Se Deus realizar o mila
gre de mantê-lo vivo, eu o seguirei a todos os lugares,
como um cão." Como era Marina? Misturando teste
munhos e épocas: compleição mediana, parecia mais
gorda do que era; olhos verdes, míopes, zombeteiros;
aos 16 anos, raspou o cabelo por dez vezes, para encrespá-los; testa alta, franja, boca rasgada, nariz adunco,
fumante; faces rosadas (mais tarde, amarela); um an
dar ligeiro, como de moleque;"uma fala de murmúrios,
com palavras disparadas a tiros de revólver e uma voz
estranhamente parecida com seus versos" (Nadeshda
Mandelshtam); dedos cheios de anéis. De si mesma di
zia, numa carta de 1920, que era dotada de "uma espé
cie de desenvoltura diante das dificuldades, uma saúde
inquebrantável, uma resistência prodigiosa".
Havia conhecido Sierguiei (Sérgio) lessiênin, em 1916;
no ano seguinte, Ilya Ehrenburg, que se tornaria um
grão-senhor da literatura soviética e a ajudaria em vá
rias instâncias — mas mantendo algumas distâncias
— no terror stalinista dos anos 30. lessiênin tinha raí
zes fincadas no campo, saudou a revolução, inicial
mente, casou-se com Isadora Duncan, esteve nos
Estados Unidos, conheceu as grandes capitais — e as
tavernas de Moscou. Milhares de jovens sabiam de cor
os seus poemas. Desencantado, não só com a revolu
ção, mas com o processo de industrialização, que esta
va dando cabo da "Rússia de madeira", vivia bêbado na
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maior parte do tempo, suicidou-se em 1925, aos trinta
anos, no Hotel Inglaterra, de São Petersburgo, onde
morava com Isadora: cortou os pulsos, escreveu uma
mensagem de adeus, que milhões de russos conhecem
de cor, e enforcou-se no lustre do quarto. Célebre tam
bém é o poema de Maiakovski sobre este evento, bri
lhantemente traduzido pelos irmãos Campos e Boris
Schnaiderman. Cinco anos depois, o grande poeta da
revolução também se matou. E em Paris, no exílio, a
terceira suicida escreveria um poema sobre ambos (in
cluído nesta coletânea). Em pleno inverno 1917-18, so
brevivendo graças a um trabalho no Comissariado do
Povo, Marina descobre (ainda que mantendo suas re
servas em relação ao mundo cênico) os estúdios expe
rimentais do Teatro de Arte de Moscou, onde vai
namorar professores e alunos — e amar a suave atriz
Sofia/Sônia Holliday, outro grande amor platônico fe
minino. Sob a rubrica Romantismo, escreverá algumas
peças ou "poemas polifònicos" para o estúdio (assisti à
encenação de uma delas, Ofim de Casanova, em Paris,
maio de 2004), e, vinte anos depois, ao saber da morte
de Sônia, escreverá História de Sonetchka (Soninha).
1920: Irina, a segunda filha, sempre doentia, morre de
inanição, num pensionato, Marina vai ser inculpada e
sentir-se culpada, por algum tempo, mas não por mui
to tempo, tais os acontecimentos que vão precipitar-se.
Escreve O campo dos cisnes, poema simbólico de glorificação do exército branco, que será derrotado definiti
vamente no ano seguinte. Publica Verstas, já próximo
do domínio maduro de sua arte, bem recebido por po
etas, críticos e leitores. E Ehrenburg lhe anuncia que
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localizou Efron: está em Berlim. Gumíliev é fuzilado.
Pasternak publica Minha irmã, a Vida, sobre o qual
Marina escreve um ensaio, Aguaceiro de luz, tomada
de um êxtase amoroso que vai perdurar até o fim de
sua vida. Marina e Alia partem para Berlim em maio
de 1922, reencontram Efron e muitos amigos, vários
famosos, do movimento simbolista russo. Ficam ape
nas algumas semanas. Pasternak também viaja a Ber
lim, para encontros e leituras, mas, quando chega,
Marina e os seus já se haviam deslocado para Praga,
onde os checos, em organizações acolhedoras, estavam
recebendo milhares de emigrados russos. Marina só
regressaria dezessete anos depois para uma Rússia que
não era mais de madeira, embora tenha morrido em
uma casa de madeira (isba). Está com 29 anos, os cabe
los vão ficando brancos.
Durante três anos, vivem em isbas, pelas colinas dos
arredores de Praga. Efron com bolsas de estudo, fre
qüenta a universidade, saindo de manhã, voltando à
noite. Quantas vezes não terão cruzado com Kafka...
Marina trava amizade com Anna Teskova, que será sua
correspondente-coníidente até os tempos finais (a ela
confessará que sonha ter um filho de Pasternak); escre
ve sem parar séries de poemas, que reunirá no volume
Depois da Rússia, publicado em Paris, 1928, o último
de sua vida. Entre eles, os ciclos Fios telegráficos (provoda), pelos quais transmite diretamente, em sussurros e
exclamações, seus anseios e adeuses {provody). Apesar
das vicissitudes, parecia inestancável a fonte dos flui
dos erótico-sentimentais — e poéticos — de Marina.
Em seu primeiro ano praguense, teve ligações várias
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com editores, poetas e críticos, epistolares ou colori
das, a longa, média e curta distância... De súbito, sem
como nem porque, é acometida de uma paixão tão fu
riosa, que ela própria admitirá a amigos ter sido o úni
co amor verdadeiramente adulterino de sua vida.
Sujeito e objeto, vítima e vilão, jovem oficial de origem
polonesa que combatera nas fileiras do Exército Bran
co, e agora amigo de Efron, Constantin Rodzévitch
sempre foi tido como um homem comum por muitos
pesquisadores, vários dos quais o conheceram pessoal
mente. Em períodos e lugares de eventos bem pouco
comuns, Rodzévitch certamente não foi "comum", tal
como entendemos hoje. Nos anos 30, em Paris, que se
tornara o grande centro dos emigrados russos, ingres
sou na polícia secreta soviética, combateu na guerra
civil espanhola e na resistência francesa. Ao que pare
ce, gostava de desenhar (deixou um retrato de Marina,
cuja poesia, aliás, não lhe agradava). O affaire durou
três meses, casou-se logo depois — por conveniência,
disseram muitos. No entanto, em Paris, ele e a mulher
reaproximaram-se de Efron, como amigos. Efron, que,
apesar de sua tibieza, se expressava bastante bem, es
creve longa carta ao poeta e amigo comum Volochine,
o primeiro incentivador de Marina, analisa o caso e
anuncia um rompimento, que não se concretizará:
"Marina é criatura de paixões. (...) Assim que a sua
imaginação envolve alguém, desencadeia-se o furacão.
(...) Se descobre a mediocridade do causador, abando
na-se a um desespero sem controle. Tal estado favorece
o surgimento de um novo amor. Não importa o objeto,
mas sim o como. Não a substância ou a fonte, mas o
ritmo, que é demoníaco. (...) As paixões de ontem são a
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no seu diário: "Meu Deus, conceda c[ue neste novo ano
zombariade hoje, sempre com muito espíritoe alguma
aleivosia, c]uase sempre com razão — e tudo as trans
possa eu escrever uma grande e bela obra. É absoluta
forma em livro. (...) Anunciei a minha decisão de dei
mente necessária". O Poema da despedida. E assim se
fez. E mais (para intrigar Kierkegaard e Fernando Pes
xá-la. (...) Eu sabiaqueo outro (um pequenoCasanova)
iria deixá-la numa semana. (...) Marina é atraída irresistivelmente pela morte. (...) e agora que penso nas
medidas a tomar para a nossa separação, sinto-me ar
soa): "Quem sabe eu me torne um verdadeiro ser hu
mano, encarnando-me em mim?"
rasado, partido e só procuro viver de olhos fechados.
Não me sentir eu mesmo —- eis o meu único desejo..."
França — Bellevue, Clamart, Meudon, Vanves — ...e
Paris não foi uma festa para Marina. Tal como ela, os
No começo de 1925 nasce Mour, de paternidade incer
ta (há quem inclua até Pasternak no rol). Mas a paixão
que aindanão se apagou, parece saber, nestes versos de
biógrafos pouco ou nada dizem sobre esse "enigmarina" de vácuos e silêncios, ainda que a sua filha afirme
que Marina não tinha discernimento político — o que
simplicidade radical:
não é de aceitar-se sem reservas, quando se pensa no
Lesmas luzidias dos dias,
Costureiriiiha de versos:
triste destino da própria Alia. A Paris dos anos 20 de
uma França vitoriosa é o centro literário e cultural do
mundo — e dos emigrados russos. Paris era a Compos-
O quefazer da minha vida?
tela das artes, acolhendo com efusão americanos, in
Não sendo dele, não é minha.
gleses, escandinavos, russos, italianos, romenos,
argentinos, mexicanos, brasileiros. Hollywood ainda
não havia suplantado o cinema francês. Marina che
gou ao final de 1925, quando ainda vibrava no ar pari
Ejá não tenho o quefazer
dos dias adversos. Durmo? Como?
Que voufazer do meu corpo,
que não é meu, se nãofor dele?
Não só não se apagou, como se reacende a cada leitura
que se faça dos dois poemas longos que nasceram dela,
especialmente o segundo. Poema dofim, o mais espan
toso poema de amor do século xx. Delirante monodi-
álogo mariniano, que tira partido da peculiaridade de
haver gêneros no sistema verbal do idioma russo. E
precedido do Poema da montanha, menos longo, de
menos garra. No réveillon de 1923/24, Marina anotou
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siense a nova moda proclamada pela mostra de Artes
Decorativas (Decô), junto com o cinema experimental
francês, com o Ulysses, de Joyce, com a consagração de
Proust, o manifesto surrealista, a Bauhaus, o cinema
expressionista alemão, o Potemkin, de Eisenstein, etc.
E ela dominava perfeitamente o francês, já começando
a escrever diretamente nessa língua. Seus trabalhos
eram publicados nas revistas dos emigrados, mais do
que em qualquer outra e em Paris era mais lida e co
nhecida do que na União Soviética. Não que exultasse,
cortada das possibilidades radiosas de uma juventude
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não necessariamente abonada, de uma carreira poética
que se anunciou brilhante, e de uma Rússia de vastos
futuros. Fora disso. Paris era o melhor dos mundos
possíveis, e o seria por mais quatro anos, quando o
"crash" da Bolsa de Nova York sinalizou mais uma
grande crise do capitalismo. A notícia da ascenção dos
ditadores e da esquerda marxista, com Stálin expul
sando Trotsky, dominando o aparelho de Estado e o
preparando para os grandes expurgos e o grande ter
ror, chegou a Paris quase junto com a notícia do suicí
dio de lessiênin. Há cinco anos seus arquivos foram
abertos à pesquisa, mais alguns poucos anos e podere
mos ter uma visão mais abrangente e menos lacunar da
vida de Marina Tsvietáieva que, a partir de 1930 vai
ficando mais e mais errática por motivos políticos, não
poéticos.
Lindbergh) em anjo, à medida que supera as esferas
terrestres. É no quinto segmento desse poema que
comparece uma fascinante metáfora "messiaênica":
nos mais altos níveis espirituais do ar rarefeito, sons e
vozes, ao modo paradisíaco dantesco, só não ressoam
mais fortemente "do que o túmulo vazio do Cristo, na
Páscoa". 1928,dois grandes eventos: entrevista Maiako-
vski, em Paris. O poeta, que não a aprecia, política e
poeticamente, conclui com o célebre pronunciamento:
"A força está lá". Com ilustrações de Natália Gontcharova, publica a coletânea de poesias Depois da Rússia, a
última que verá em vida. Gontcharova e Larionov fo
ram os pioneiros da arte de vanguarda russa, com o
denominado "rayonismo". Fez história o design de fi
gurinos de Gontcharova, para um dos grandes espetá
culosdosBalés Russos, Les noces, deStravinsky. Entrou
em eclipse após a morte do empresário e encenador
Diaghilev. Foi resgatada em 1961, com uma grande re
Inícios em França promissores. 1926:em fevereiro, êxi
to surpreendente na apresentação de estréia, com leitu
ra de poemas e debates. Seu vigor criativo em mover-se
entre o concreto e o metafísico está inteiro em poemas
como Ensaio de quarto e Poema da escada. E na prosa
epistolar, com a insólita, quase absurda, troca de cartas
triangular com Rilke e Pasternak. Abre 1927 com uma
Décadas como as de 30 do século passado vão muito
trospectiva, em Londres. 1929: Marina escreve um en
saio sobre Natália Gontcharova. 1930: suicídio de
Maiakovski. Marina lhe dedica um ciclo de poemas e
ganha ódio de boa parte dos emigrados.
Carta de Ano Novo, à memória de Rilke; escreve uma
além do calendário. Num mudar de folhinha, a festa
peça à grega Fedra; recebe uma grande visita (ainda
possível), da irmã Anastácia que se hospeda na casa de
uma colega de escola, a famosa Gala, companheira de
cultural virou lúgubre espetáculo global. A crise novaiorquina derrubou a primeira peça da carreira de
dominó que culminaria com a primeira bomba atômi
"Éluardali" e que irá navegando para Lesbos, no correr
ca. Imediatamente, ditaduras de direita e esquerda se
dos anos; compõe outro longo "objeto poético metafí
sico", Poema do ar, que abre com a aparição do fantas
formaram, cresceram, se consolidaram e endurece
ma de Rilke, e vai transformando o aviador (Charles
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ram. Até o Brasilse "atualizou", com o golpe proto-ditatorial de Getúlio Vargas. A vida de Marina também
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foi de roldão, quer o percebesse ou pressentisse, quer
não. Entre os emigrados, surgem facções e publicações,
entre as quais Eurásia, que defende os valores da Rús
sia asiática, e na qual se engaja Efron, o lingüistaTroubetskoy, o musicólogo Suvitchinsky, entre muitos
outros — que se vão desencantando à medida que a
organização vai sendo ocupada por agentes soviéticos.
Surgem também os movimentos de retorno à pátria.
Efron e Alia, c]ue já vivem distanciados de Marina, so
licitam passaportes soviéticos, 1934. No ano seguinte,
Efron faz parte do serviço secreto da URSS e Marina
deixa de queixar-se da falta de dinheiro (saberia ela de
sua origem?) —ela, quehá pouco tempoescrevera uma
Ode ao andar a pé, só comprava provisões de fim de
feira (carne, só de cavalo) e anotara no diário; "Não
pude ir ao encontro —Sapatos —Falecimento da sola
de borracha — Partiu-se ao meio... e como era o único
par". Vai poder até passar férias de verão à beira-mar.
Antes disso, porém, sua escritura, que não cessa, vai
caminhando rumo à prosa de ficção, de crítica literária
{Meu Puchkin), e memorialística —produção que es
coa em livrinhos vários, subsidiados por fundos ou
mecenas (por exemplo, Ivan Bunin, prêmio Nobel
1934), ou na nova revista, coincidentemente chamada
Verstas, emcuja direção figuravam, ente outros, Sérgio
Efron, o príncipe Dimitri Sviatopolk-Mirsky (que foi
amigo eamante de Marina), Pierre (Piotr) Suvitchinsky,
e o filósofo N. Chestov.
tural les Concerts du Domaine Musical, primeira alta
iniciativa de divulgação da música experimental, na
segunda metade do século passado. Agrande mecenas,
Mme. Léon Tezénas, era a presidente, e Pierre Boulez,
Directeur et Trésorier. A programação do primeiro se
mestre de 1955 foi apresentada no então Petit Théâtre
Marigny —à exceção do concerto de órgão de Olivier
Messiaen, que teve lugar na Église de Ia Trinlté. Para
espanto do meu deslembramento, figuro na seleta lista
de Abonnés, nos programas, em companhia de nomes
tais como Mlle. N. Boulanger, Mme. David Supervielle. M. Faure, M. R. Julliard, M. Th. Léger, Colonnel H.
Monnet, M. D. Mlilhaud, M. N. Nabokov, Comtesse J.
de Polignac, etc. Como assim, abonné, sem ser abona
do para oluxo de uma tal assinatura, em tal proustiana
companhia, que rescende a humor e ficção? Só sei que
assisti a todos os espetáculos (Schoenberg, Webern,
Stravinsky, Stockhausen, Boulez, Berio, etc), graças,
imaginem, ao meu amigo wTrésorier, que me sugeriu
tentar vender alguns ingressos para justificar a regalia
(coisa que fiz, sem muito êxito). Pela editora Grasset, a
Domaine Musical publicava um boletim informativo
de música contemporânea dirigido por Boulez, e uma
coleção de musicologia por Suvitchinsky. Constato,
também, que no seu Livre ddrgue, como ele próprio
expõe, contendo sete peças compostas em 1951, Mes
siaen já utiliza ritmos hindus das Dêci-Tâlas. Do afável
Pierre Suvitchinsky, por mera e miúda vaidade, jamais
olvidei um minúsculo lance de nosso primeiro encon
Memórias da desmemória. Conheci Pierre Suvi
tchinsky em Paris, 1954-55, quando integrava o grupo
de membros fundadores da histórica Associação Cul-
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tro: elogiou o meu francês, sans accent. Não tinha e
continuei a não ter, até a década seguinte, já no Brasil,
sequer notícia da existência de Marina. Enquanto lia e
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relia biografias, agora já em busca de suas relações filo
sóficas com Berdiaeff e Chestov, para puxar o fio
kierkegaardiano de seus sentipensamentos, eis que
cruzo com Suvitchinsky, que me puxa para um passa
do além do meu — e quase presente, o de Marina. Di
zia ela, numa carta: "Qual o fim de escrever sobre
pessoas? Ressuscitá-las." E também: "Melhor ser do
que ter.".
Mas há poemas também. Um dos últimos, de 1938, sur
preende porque é um poema político e duplamente do
loroso para Marina: Poema à Checoslovãquia. Trata-se
de um protesto e uma invectiva contra as tropasalemãs
que invadiram o país, sinalizando claramente a nova
guerra européia e mundial, ainda mais que, na Espa
nha, as falanges do general Franco, com o apoio de fas
cistas e nazistas, estão esmagando o sistema republicano
recém-instaurado. E a sua amada Alemanha dos gran
des impulsos românticos já não é reconhecível. Antes
desse, há um poema "moderno", O ônibus, seguido de
um enigmático Sibila, inspirado na bela passagem das
Metamorfoses, de Ovídio. A virgem que não cedeu a
um deus é condenada a envelhecer lentamente durante
mil anos, mirrando até resumir-se à própria voz, a voz
oracular sem corpo que os homens consultam nas ca
vernas de Cunia, próximas de Nápoles:
Metáfora do poeta e da poesia, sem dúvida. Mas há
algo mais. Na prosa e na poesia, na ficção ou no ensaio,
a literatura de Marina Tsvietáieva entra em conjunção
filosófica — metafísica e ontológica. Que outra coisa é
essa voz sibilina senão a essência decantada pelo tem
po — o Sein heideggeriano, já tendo transitado pelo
Absoluto, de Hegel, e tendo dado o salto, de Kierkegaard, onde ela hipostasia a poesia, a alma e o espírito. Os
biógrafos consultados — aliás, biógrafas, fazendo ex
ceção o escritor profissional naturalizado francês,
Henry Troyat — não mencionam, mas Marina teve
contatos intelectuais diretos com Nicolau Berdiaeff
(com livro traduzido no Brasil, há uns sessenta anos, O
espírito de Dostoievski) e com Leon Chestov, que cola
borava assiduamente em Verstas e foi seu vizinho, em
Meudon. Berdiaefffreqüentava a casa de seu pai; ele e
Chestov estiveram entre os primeiros pensadores rus
sos que estudaram e divulgaram o pensamento de
Sõren Kierkegaard. Q acendrado individualismo, a
aversão à massa e a grupos, a mitificação da realeza, a
imediatidade do corpo, e a infinita aspiração do espíri
to são pontos de claro encaixe entre o pensamento e o
sentimento de Marina e do pensador dinamarquês,
que também opera por oxímoros e uma fenomenologia
binária radical antihegeliana — tipo "ou isto ou aqui
lo" — embora tenha vindo de Hegel. Mas aqui, Marina
difere. É uma alma sem alma, que acredita-mas-nãonullique videnda,
Voce tamen noscar: vocem mihifata relinquent.
crê em Deus e que só possui uma medida para o seu
infinito — o fenômeno poético que obrigará a ser sinô
quando já não for vista,
vão conhecer-me pela voz, concessão dosfados.
tencial. Abilola-se o mundo, que vai à deriva (as
imagens de naufrágio e barco à deriva são comuns à
nimo de amor — e este é o seu embate romântico exis
50
51
época, empregadas metaforicamente: Marina assim
termina o seu Poema dofim, Maiakovski assim termi
Kruchev, por ocasião do xx Congresso do Partido Co
munista da URSS.
na a vida, no bilhete a Lili Brik). Guerras, revoltas e
revoluções por toda parte, no Ocidente, na África, no
Agüentou-se, porém, nesse breve período moscovita,
Oriente. Todos sentem e sabem que a conflagração
mundial está próxima. A migração preventiva, espe
embora vazia no vazio. Reconhecia lugares e pessoas,
mas era como se os anos e desenganos os revestissem
de uma pátina deformante e anestesiante, como as per
cialmente de judeus, é conhecida. No Brasil, um fenô
meno particularmente notável: após a derrota paulista
sonagens do final da recherche proustiana, na atmosfe
que se torna a primeira universidade internacional da
ra macarthista que Don Siegel infundiu em sua versão
dos Body Snatchers, de 1956. Encontro morno — pri
América Latina, graças à atração de grandes persona
meiro e último — com Anna Akhmátova. Ehrenburg e
lidades intelectuais e científicas, das áreas de história,
Pasternak arranjam-lhe trabalho de tradução (as fa
sociologia e física. Ariadne, provavelmente de concer
to com o pai, parte para Moscou, em março de 1937.
mosas "traduções alimentares", punição para os escri
de 1932, funda-se a Universidade de São Paulo, 1934,
Terá menos de dois anos de alguma felicidade. Envol
vido no assassinato do filho de Trotsky e de um agente
tores caídos em desgraça). Lembraria de suas belas e
exaltadas expressões sobre a sua terra, no exílio? —
"Quem conhece a Rússia, quem é a Rússia, antes de
soviético renegado, na Suíça, Efron segue a filha logo
depois, fugido. Em agosto de 1939, Alia será detida
(consta que namorava o agente encarregado de vigiá-
mais nada e acima de tudo — acima mesmo da própria
Rússia — ama tudo dela e nela e não há nada que tema
la), só recobrará a liberdade dezesseis anos depois. Ma
rina hesita, mesmo ante a desaforada pressão do filho
adolescente (chega a consultar uma vidente), mas obe
dece ao destino e cumpre a promessa de seguir o mari
amor.". Talvez, sim, pois uma súbita paixão a acomete
de novo —desta vezpelo poeta Arsênio Tarkovsky, pai
do cineasta Andrei Tarkovsky (1932-86), o grande rea
do até o fim, como um cachorro. Em junho está de
voltaà pátria e convive com a família em Bolchevo, nos
arredores de Moscou, durante o verão. Em setembro,
estoura a guerra e Efron é preso. Seráfuzilado em 1941
(após a invasão da URSS pelas tropas alemãs) nas sinis
tras dependências da nkvd, comandada pelo supersinistro e superministro da policia secreta, Laurenti
Beria, que será deposto, preso e fuzilado em 1956, após
a histórica denúncia dos crimes de Stálin, feita por
52
amar. Essa é a Rússia: a imensidão e a audácia do
lizador de Solaris, premiado em Cannes, 1972, e que
também teve de escapulir-se da União Soviética. O
caso termina prosaicamente quando cruza com o poe
ta ao lado de sua esposa... e ele não a cumprimenta.
"Minha capacidade de amar tem a minha medida — e
ela é desmedida.".
Com os alemães às portas de Moscou, a maior parte da
população civil foi evacuada. Marina e Mour foram
alocados na aldeia de lelabuga, nos confins da provin-
53
cia-república da Tatária, numa isba de um casal de
NOTAS
camponeses — sob os protestos irados de Mour, que
queria permanecer em Moscou. Na cidadezinha de
1. Já era — e, ainda ontem, um Rei!
Chistopol, a uma centena de quilômetros, os escritores
politicamente corretos recebem alojamento, alimenta
ção e estipêndio. Marina tenta alcançar o mesmo status, mas tudo lhe vai sendo negado e, mesmo, retirado.
No fim, solicita uma vaga de lavadora de pratos na can
tina. Lentas decisões, lentíssimos silêncios. Em poucos
dias, entre idas e vindas, percebe a inutilidade de seus
2. "Pelos olhos da agulha ("Pelo fundo da agulha") é
mais fácil o camelo passar / do que aqueles dois cantos
pelos seios das famílias". Reportava-se Byron a uma
carta de seu editor, preocupado com dois cantos ante
riores, tidos por obscenos.
esforços. E mais; Mour não se livraria do estigma "tsvietaievano" pelo resto da vida. Se entrou de quatro
3. "A vida é breve demais para que sejamos longos a
respeito de suas formas".
patas, sairia de pés juntos, como teria dito seu filho.
Viu onde buscar a corda, examinou o travejamento,
4. "Pensamentos como que não pensados que são a
atou o nó corrediço e enforcou-se. Deixou dois bilhetes
— um para o poeta Assieiev, que estava em Chistopol,
para que cuidasse de Mour; outro a todos e a nenhum:
alma do pensamento".
"Não me enterrem viva: verifiquem bem!". Ia fazer 49
anos. Ninguém compareceu ao enterro, nem Mour,
que voltou a Moscou, engajou-se no exército e desapa
receu em 1944, provavelmente em combate. O túmulo
de Marina, mais do que vazio, não foi encontrado. Luz,
Flor, Cor são as cores da cidade poética irisadas na pa
lavra TSVIETÁIEVA.
54
55
nOSMA KOHUA
Poema do fim
1.
1.
B Heóe, pxaBee >KecTM,
riepcT cTOTiôa.
BcTan Ha HaanaHeHHOM mcctc,
Céu de lata e ferrugem.
Indicador em riste — o poste
aponta o nosso lugar:
KaK cyflbóa.
destino triste.
- Bes HCTBepTM. McripaBCH?
- CMepTb He >KfleT.
ripeyBeTTMMeHHO-n/iaBeH
UlHunbi B3/ieT.
Menos quinze — Pontual?
(A morte não espera). Muito
lento o gesto —
de-co-la-gem do chapéu.
B Ka>KflOM pecHHLte - bmsob.
Cada cilio — farpa.
POT CBeflCH.
Boca — risco: afeta
npeyBemiHeHHO-HMSOK
sem afeto a larga
Bbin noKBOH.
reverência teatral.
- Bea HCTBepTH. Tonen? -
— No horário, hem?! Priso
Ponoc /iran.
falso no tom: alarme:
CepApe ynajio: hto c hmm?
(coração capta aviso): sinal
que a mente trans-mente?
Mosr: cMima/i!
P>KaBb M >KeCTb,
Mau agouro no céu
escuro: nuvem-ferrugem:
ponto de encontro,
fKflan na oówhhom Mecre.
às seis em ponto.
Heóo flypribix npeqBecTMn:
BpeMM: mecTb.
86
8/
Cew noijenyM 6e3 3ByKa:
Fyó ctotiÓhbk.
TaK - rocyaapbiHHM pyKy,
MepTBbIM - TaK...
Entre um beijo entre
frio e mudo — em defunto
ou mão de rainha — irrompe
(cotovelos) um transeunte.
M^ainiiHCii npocTonioflMH
Muito estridente o circuito
JIoKxeM - B 6ok.
da sirene, ganido—cão—
IlpeyBe/iMHeHHO-HyfleH
BsBbin ryAOK.
ferido (a vida estrila,
segura a alma nos dentes).
B3Bbm, - KaK coóaKa BSBMsrHyTi,
Ontem — até a cintura.
JlRVÍRCa., 3nBCb.
Hoje — o corpo todo,
montante: a angústia me
(npeyBenMBCHHOCTb >KM3HM
B CMepTHbIM Mac.)
toma, sub-e-sobre-indo-e
To, HTO BHepa - no nonc,
Bflpyr - flo ssesfl.
Ah-mor... Ah-mor... mas:
(npeyBennneHHO, to ecxb:
Bo Becb pocT.)
Um cinema? (Corte seco):
uivando em silêncio:
— Deve passar das sete.
— Para casa!
MbicneHHO: mutibim, MnnwM.
- HaC? CCflbMOM.
B KMHeMaTorpa(|), m/im?... BapwB: floMow!
2.
2.
BpaTCTBO Taóopnoe,
Bot Ky^a Beno!
rpoMOM na ronoBy,
Vida — confraria de ciganos
Caónen narono!
festivos... mas — sobre
as cabeças — trovões —
sabres — relâmpagos:
BceMH y>i<acaMii
C/IOB, KOTOpWX >KfleM,
/JOMOM pyiUaiLl,MMC>I -
toda casa se arrasa
C/iOBO: flOM.
numa palavra: casa!
Saónyfliiiero óartOBHíi
flMTn ro^oBanoe:
Choraminga a criança mimada,
perdida: "Minha casal".
Mal faz um ano — e já:
«hlaU» H «MOM»!
— "Meu!" -
Moh ópax no óecnyTCTBy,
Caro irmão-devassidão,
MoM 3Ho6 M3H0H,
calafrio em brasa:
TaK M3 flOMy psyTCH,
todos saltam pelos muros,
mas você: prisão em casa!
Bonnb: homohI
Kaic Tbi - ;];omom!
KoneM, pBaHyBuiMM KonoBHSb
BBbicb! - MBcpeBKa B npax.
- Ho HMKaKoro flOMa Beflb!
- EcTb, - B flecBTM uiarax:
hora horrificante
que cala e apavora:
"Minha!" — "Dá!".
Morde o freio: para o alto! :
o cavalo rompe a amarra.
— Onde a casa? — Logo
ali, a poucos passos.
floM na rope, - He Bbiuie nn?
- lloM na Bcpxy ropw.
Okho nofl caMon KpbiuieK).
- «He om oÒHoú sapu
— Mais alto? — No topo,
com janela na mansarda:
ropHiii,eeh> Tax cwsHOBa
>KM3Hb? - IIpOCTGTa nOOM!
/],0M, 3T0 3Ha4MT: M3 ^OMy
vida, só viva em arte?
B HOHb.
na noite.
(O, KOMy noBCM
90
Houve a casa na montanha.
— "É só do sol da tarde
que ela arde?" — ou da minha
Que é casa? — Ora, viver fora,
(A quem se apela
91
nena/Tb moio, 6efly mok),
}KyTb, sejaeHee Tibfla?..)
- Bbl CTIMUIKOM MHoro flyiviaziM.
SaflyMHMBoe: - fla.
para as perdas e penas
de dores gelo-roxas?).
— Você pensa demais.
Já é hora. — E eu: é...
3.
14 - HaóepoKHaa. Boflw
d,ep>Kycb, KaK xomuM nnoxHOM.
CeMWpaMMflMHbl caflbi
BwcHHMe - xaK box bw!
Amurada, beira-rio: à água
me aferro: jardins
suspensos de Semíramis
sobre a água-placa turva.
Boflbi - cxartbHaB no/ioca
Na água — franja de aço
MepxBepKoro oxxeHxaflep>Kycb, KaK HOXHoro nncxKa
rieEMpa, Kpaa cxchkm -
de lâmina de morgue —
me seguro — parapeito — como
diva à partitura, ou cego ao muro.
Crreneií... OópaxHO na ox^auib?
Hex? HaK/ioHiocb - ycnbmjniub?
BceyxorraxejibHMiibi >Ka>Kfl
d,ep>Kycb, KaK Kpaa Kpbiuin
Sem resposta, sua frieza
/lynaxMK...
pedra-beiral, sonâmbula. Não
Ho He ox peKM
dIpoKb - po>Kíi;eHa HanAon!
PyKM flep>KaxbCH, KaK pyKix,
Koxfla TIIOÓHMblM pHflOM -
temo o rio (nasci náiade!):
92
sem ouvido, mesmo se me
inclino para matar
de vez à sede. Presa à
— "Dá-me o braço, namorado
fiel..." — Os mortos são
93
M BepeH...
MepTBbie BcpHbi.
fla, HO He BCCM BKaMopKe...
CiviepTb c neBOM, c npaBofi CTopoHbi
Tbl. npaBbIM 6oK, KaK MepTBbIM.
fiéis, mas escolhem
gaveta... A esquerda,
a morte; você à direita,
meu lado meio torto.
Pa3MTe/ibHoro cBeia CHon.
Fachos de luz na margem!
Risos como guisos de pandeiros
Cmcx, KaK rpomoBbiM ôyôen.
- HaivI CBaMM Hy>KHO 6bl...
baratos... — Precisamos... (Tremo.
Será que teremos coragem?).
(03ho6.)
- Mbl My>KeCTBeHHbI ÓyflCM?
4-
4-
TyMana óeaoKyporo
Névoa loira, eflúvios
BonHa - BonanoM rasoBWM.
HaflbimaHO, HaKypcHO,
A raaBHoe - HacKaaaHo!
Hcm iiaxHeT? CnemKOM KpaMHeio,
noTaMKOM 11 rpemicoM:
KOMMepHeCKMMH TaMHaMM
M ÓajIbHbIM nOpOUIKOM.
de gás e babados, de fumos
e hálitos — e mais que tudo:
falação interminável.
Cheiro de quê? Pressa,
lengalengas, bolinas,
parcerias, maracutaias,
e a poeira do salão.
Xo/iocTBKM ceMewHbie
Pais de família solteiros
B nepcTHíix, íOHpbi MacTMTbie...
HaiuyHeKO, HacMe^HO,
exibem anéis, rapazes
A r/iaBHoe - HacHMxaHo!
M KpynHbIMH, MMCnKMMM,
M pw/ibpeM, MnyuiKOM.
...KOMMepHeCKHMH CflCHKaMM
M óanbHbiM noponiROM.
94
rapaces, no riso e no sarro,
faturam varejo e atacado,
mesmo com rabos presos:
negociatas comerciais,
e poeira de salão.
95
(Bnonoóopoxa: amo bot Ham flOM? - He Hxoshhkoío!)
OflMH - Hai], KHMKKOÍi HeKOBOM,
flpyroíi - Hafl pyHKOw naíÍKOBOM,
A TOT - Hafl HO>KKOM TiaKOBOÍÍ
PaóoxaeT thuikom.
...KOMMepHeCKMMM ÓpaKaMM
M óanbHbiM nopoiuKOM.
CepeópHHOM BasyópMHOíí
B oKHe - BBesfla Ma/ibTMWCKaii!
HanacKaHO, Hanioó/ieHO,
A rjiaBHoe - naTMCRano!
HaiuMnaHO...(B^epaiiiHHH
CHCflb - He BSbimM: c jiymKOM!)
...KOMMepHeCKMMM mauiHHMM
14 Óa/IbHblM nOpOUIKOM.
Ll,enb nepecnyp KopoTKan?
Saxo He cxaHb, a nnaxnHa!
TpOMHbIMM HOAÓOpOfflKaMM
TpHca, xenbpw - xe/iHXWHy
>KyK)x. HaA uieMKOíí caxapHoií
Mepx - raaoBbiM poKKOM.
...KoMMepnecKMMM KpaxaMM
(Ameaço meia-volta: Isso at,
nossa casa? — Não sou a dona!)
Este, em cima do talão
de cheques; aquele, de uns
dedinhos de pelica; um outro
pisa furtivo um pezinho
e verniz: casamentos,
conveniências — e, também,
a poeira do salão.
À janela, uma dentada
de prata: a cruz de Malta,
signo do amor: beliscos,
amassos, petiscos (de
ontem, não estranhe
o cheirinho azedo: boca
livre!), mais tramóias
comerciais — e poeira do salão
Curta demais a corrente?
Aço, nada! —É platina!
Papos triplos remoem
pescocinhos-vitelas
de açúcar, diabinhos
14 HeKHM nOpOUIKOM -
revoluteiam no gás
dos bicos-lampeões: desastres
BepxoTibfla LÜBappa....
flapoBMX
de Berthold Schwartz^
Bbi/i -11 sacxynHMK hioahm.
- HaM C BaMM HyXlHO rOBOpMXb.
Mbi My>KecxBeHHbi óyACM?
96
comerciais — com o pó-pólvora
— gênio
defensor do seu povo.
— Acho que precisamos
conversar... — Teremos coragem?
97
5-
5-
/],BM>KeHMe ry6 jiob/ik).
M 3HaH) - He cKa>KeT nepBWM.
- He nioÓHxe? - Hex, jiioójiio.
- He xdoÓMTe? - Ho Mcrepsaa,
Os lábios tremem. (Iraduzo:
não vai falar primeiro).
—Você já não me ama? —Mas, claro.
— Não ama! — Ora, não?!... Mas
sentindo um vazio. (O olhar
Ho BblHMT, HO H3BefleH.
(OpjioM 03Mpaa MecTHOCTb):
-rioMMByfiTe, amo - flOM?
- ^OM - Bcepflue MOCM. - CnoBecHocTb!
JlíOÔOBb, 3T0 HXÍOTb MKpOBb.
L!,BeT - COÔCTBeHHOM KpOBbK) HOnWT.
Bbi flyMaexe, /iioóoBb BeceflOBaxb nepea cxo;mK?
HacoHCK - Mno honuim?
KaK xe rocnofla mflaMw?
/IlOÓOBb, 3X0 3HaMMX...
- XpaM?
Jlvnfi, saMCHMxe uipaMOM
Ha LiipaMc! - Hoji; BsrnaflOM cjiyr
li 6pa>KHHK0B? (ÍI, 6e3 SByxa:
«JllOÓOBb, 3X0 3HaHMX HyK
HaxHHyxbiw: jiyK: paaxiyKa».)
de águia vaga pelo ar).
— Meu Deus — isso é casa?
—Casa do meu coração. - Literatice!
Carne regada a sangue,
o amor — ou você acha
que é papo em roda
de mesa, por uma horinha
...e logo pra casa, como
esses cavalheiros e damas?
Amor quer dizer...
— Igreja?
—Mais pra cicatriz, ferida...
- Exposta
a olhares de criados
e bêbados?(Resposta
à parte: Amor — arco
tenso / acordo rompido).
99
98
- JllOÓOBb, 3X0 3HaHMT - CBH3fa.
Amor quer dizer ~ liame,
Bce Bpo3b y nac: pxbi m>km3hm.
(ripocM/ia >K xeÓH: ne crxiaab!
B XOX Hac, COKpOBeHHbIM, 6/im>khmm,
olhado", pedi, na hora íntima,
Tot nac Ha Bepxy xopw
McxpacxM. Memento - napoM:
/IraóoBb - 3X0 Bce flapbi
B Kocxep - MBcexfla - aaMapoM!)
quase no topo do monte
e da paixão) — fumaça,
agora, e re-cor-(da)-ações
que jogo no fogo — de graça!
Pxa paKOBHHHaH mexib
BneflHa. He ycMeuiKa - onncb.
- M npe>Kfle Bcexo o^Ha
riocxeHb.
- Bbi xoxe/iM nponacxb
não nós desfeitos, distâncias
de bocas e vidas ("Sem mau
A boca (risinho) — Não:
(risquinho em concha pálida,
cálculo) — Tudo numa cama
para dois.
— Ou cova para um.
Cxasaib? - BapaóaHHbiH ôcít
HepcTOB. - He ropaMM flBHxaxb!
ao que parece. Tamborilam
/IlOÓOBb, 3X0 3HaHMX...
montanhas! —Amor, ou seja...
- Mom.
os dedos: — Não é mover
— Meu. — Entendo. Conclusão?
ü Bac noHMMaio. BbiBOfl?
Rufar dos dedos, em
HepcxoB óapaóaHHbiM 6om
Pacxex. (3ma(J)ox mnnoipaflb.)
-Ye^eM. - A a: yMpeM,
Haflennacb. 3xo npome!
crescendo (patíbulo e praça).
—Vamos indo. Teria mais graça;
— Para a morte!". Tão mais simples!
ílocxaxoMHO flemeBMSH:
Chega de trecos baratos — rimas,
trilhos, hotéis, plataformas.
Pm(|)M, peHbC, HOMepOB, BOK3anOB.
- /IlOÓOBb, 3X0 SHaHHX: >KM3Hb.
- Hex, MHane HaabiBanocb
— O amor quer dizer: vida.
— Os antigos davam outro
nome...
100
101
- Então?
y flpeBHHX...
O punho agarra
- M-raK? -
JlocKyx
rinaTKa BKy;iaKe, KaK pbióa.
um peixe de pano: lenço.
- TaK eflCMTe? - Baiii Mapmpyx?
,,.Vamos? — O seu caminho?
Bfl, penbCbi, cBMHeu, - Ha Bwóop!
— Bala! Trilho! Veneno! (penso).
CMepTb - H HHKaKHX yCTpOMCTfi!
- }KM3Hb! - KaK nonKOBOflep pmmckhm,
OpnoM osMpaH bomck
OCTaTOK.
— Morte, por ora, sem planos!
— Vida! (Chefe romano, olhos
de águia pela milícia
dizimada ;) — Chegou a hora.
- Torfla npocTMMCH.
6.
XoTexb - 3X0 fle/io xen,
Eu não queria isso, as
sim. (Em silêncio; Ouça:
Querer é dos corpos, mas
A Mbi flpyr fl/iH flpyra - flyniH
agora somos almas — mais
OxHbine,..) - M He cxasan.
(/],a, b Hac, Koxfla noesfl ncflan,
Bbl >KeHLI4HHaM, KaK ÓOKa/I,
nada...). E não disse
adeus. (Quando o trem parte,
nenajibHyio necxb yxo^a
a ela, um brinde, a taça).
BpyMaexe..,) - Mo>Kex, 6pefl?
Ocjibima/iCH? (Jl>Kei4 ynxMBbm,
TTioôoBHMne KaK óyxex
Ou não passa de pesadelo?
KpoBaByro necxb paspuBa
a honra de sangue da ruptura,
- B 3Toro He xoTcn.
He 3Toro. (Moana: CHymaíi!
a vez é da mulher:
Ouvi mal? Cortesmente,
o mentiroso cede à amante
103
BpynaiomMM...) - Bh>itho: ciior
3a c/ioroM, iixaK - npocxMMOi,
como um buquê. Ou
falou, mesmo, sílaba a
Cxasa/iM Bbi? (KaK n/iaxoK
B Hac caaflocxHoro óecHMHCXBa
sílaba; Vamos dizer adeus?
ypOHeHHbIM...) - BmXBH CCM
Bbi - LJesapb. (O, Bbinafl Harnbm!
ripoxMBHMKy - KaK xpoí^efí,
Mm oxflaHHyjo >Ke mnaxy
como um lenço que cai,
Assim, en passant,
num lance emocional?
Soberana insolência: na mão
do vencido, a espada vencedora,
troféu da derrota. (Mais forte,
Bpynaxb!) - üpoflOíixaex. (3boh
B yiuax...) - üpeKxioHKiocb nBa>Kflbi:
Em meus ouvidos, o zumbido:
BnepBbie onepe>KeH
B paapwBe. - Bbi axo Ka>KflOH?
"Não rompe, finge "ser rompido").
— Código de honra com todas?
He onpoeepxaMxe! Mecxb,
Não negue! Vingança
flocxoMHan /loBejiaca.
digna de Lovelace,
gesto de alto despreendimento,
que desprende a pele
}Kecx, fle/iatomníi BaM necxb,
A MHe pa3B0flHLU,MM MÍICO
Ox KocxM. - CMemoK. Ckbosb CMex -
CMepxb. >Kecx. (HMKaKitx xoxchmm
Xoxexb, 3X0 fleao - mex,
A Mbi flpyr flZTH Apyxa - xeHM
OxHbme...) riOCTieflHMM XBOSflb
B6mx. Bmhx, m6o rpo6 cBMHpoBbm.
- riocKeflHeMUiaH m npocbó.
da amante. (Riso escarninho: o
da morte). Gesto: em frente!
Desejo, nem sombra,
que sombra já somos.
Um prego, ainda (melhor: parafuso,
que o caixão é de chumbo) :
— Um último desejo.
- npomy. - HMKorfla hm caosa
— Diga. — Nem uma palavra
O HaC...HMKOMy M3 ...Hy...
sobre nós... sobre mim,
noc/iejiyiomitx. (C hocmtiok
aos que venham depois. (Dizem,
104
105
TaK paHeHbie - b necHy!)
- O TOM >Ke MBac iipociana 6.
na maca, os feridos: ó primavera!) :
— Posso pedir o mesmo?
Kone^Ko Ha naMHTb ^arb?
— E um anelzinho, de lembrança?
— Não. (Falso olhar de espanto,
- Hct, - Bsrjiflfl, lUMpoKO-pasBepcTbiM,
OTcyrcTByeT. (Kax nenarb
Ha cepflpe teoc, kbk necreHb
ausente. Gravasse-me
no coração — ahl, sim,
Ha pyKy TBOK)...Be3 cpen!
Chcm.) BKpaflHMBoe mTwme:
- Ho KHwry Teóe? - KaK bccm?
enredo: engula). Insinuante:
- Hex, BOBce mx hc HMniMTe,
Nunca! E nem pense em escrever
KHMr...
Livros...
anel-eu em seu dedo. Ah... sem
— Um livro, então? — Como às outras?
SnaHMT, He na^o.
Agora nada de choro
BHaHMT, He naflo.
nada de
choro
HnaicaTb ne luiflo.
choro
agora
B HaUIMX ÔpOAHHMX
BpaxcTBaxpbióanbMX
HnHHiyT - He n/ianyT.
Nas tribos de pescadores
HbiOT, a He nnauyT.
KpoBbK) ropHHeh
HjiaTíiT - He nnanyT.
Folgança — sem choro,
Pagança — sem choro,
>KeMHyr b cTaxane
H/iaBHT - M MWpOM
HpaBHT - He nTianyT.
106
errantes — bebe-se
sem choro e em coro.
Dissolver — sem choro
a pérola no copo!
Sem choro — gire o globo!
Então, quem vai sou eu? Olho
de esguelha: Arlequim joga
107
- TaK Kyxo>Ky? - HacKBOSb
rjIK>Ky. ApjieKMH, 3a BepHOCXb,
ribepeTTe CBoeíi - KaK koctb
ripespeHHeíímee m3 nepECHCiB
um osso — desdenhoso
BpocaioinMM; necrb KOHua,
Antes, uma bala
>KecT aanaBeca. PeneHbe
no coração: mais caloroso
gesto — a Colombina,
por sua fidelidade.
Última deixa. Cai o pano.
riocneflHee. fliofÍM CBMHU,a
B rpyflb: «y^iue 6bi, rop^Hen 6bi
e limpo. Cravo os dentes
nos lábios: nada de choro.
14 - HMiue 6bi...
O duro no tenro — sem choro!
3y6bi
BTMCHyna b ryów.
ünaKaTb He ôy^y.
Na confraria de errantes:
Morrer — sem choro 1
Queimar — sem choro !
Caiviyio KpenocTb B CaMyK) MHKOTb.
Na confraria de errantes;
TonbKO He nnaKaxb.
Oculta-se o corpo
em cinzas e coro!
B ôpaxcxBax ópoflíiHMX
Mpyx, a He n/ianyx.
>Kryx, a He njianyx.
—Eu, primeira? Dar a saída?
Jogo de xadrez? Para o cada-
B nenen m b necHio
falso, cede-me o passo.
— Rápido.
MepxBoro npnnyx
B ópaxcTBax ópoflHnnx.
Não me olhe! Trate
(Em torrentes escorrem. Como
- TaK nepsan? riepBbiM xofl?
empurrá-las para dentro
KaK B maxMaxbi, ananiax? BnponeM,
Beflb fla>Ke na 3ma(|iox
Hac nepebiMM npocax...
- CpOHHO
dos olhos?) de não
io8
109
ripouiy, He rnHflHxe! -
-
(Bot-bot y>Ke xnwnyT rpaflOM!
Hy KaK Mx sarnaTii aasa^
B r/iaaa?!) - FoBopK), hc naflo
olhar!!!
Voz normal:
— Vamos, querido,
vou chorar.
F/iHfleTbü!
Bhbtho mrpOMKO,
Bara^fl BBBiiuMHy:
- MHBblM, yWflCMTe,
FlnaxaTb naMHy!
Ia esquecendo! Entre cofres
vivos (Comerciante e Filhos),
fulge a nuca loira:
centeio, trigo, milho.
Na pele fogosa se revogam
os mandamentos do Sinai;
Saóbina! CpcflM kohm/iok
FKmbwx (KOMMepcaHTOB - to>k!)
BCHOKypblM CBCpKHyjI aaTblHOK:
Maiíc, Kyxypyaa, po>Kb!
Para todos, abunda em dons
Bce aanoBCRM Cvinan
CiMbieaB - Mcna^bi Mex! -
a mãe-natura, nem sempre avara.
Caçadores dessas sendas loiras
dos trópicos, há trilhas de volta?
na crina-tosão se escondem
arcas de gozos.
FonKOHfla BO/iocBHan,
CoKpoBMmHMU,a yxex -
Bcex!) He Hanpacuo kohmt
FIpMpofla, He cn;iouib cxyna!
Ma CMx óenoKypbix iponMK,
OxoTHMKM, - rfle Tpona
Haaafl? HaroToio rpyóow
FtpaanH Mcjien^i 30 cnea -
CnBoiuHbiM aonoTbiM npe/iioóoM
CMeioinMMCB nponMnocb.
110
Vulgaridade suarenta
em nudez grudenta,
adultério de ouro
em auras lúbrico-ridentes.
Não é mesmo? Olhar
roçagante, cada dlio fisga.
Mais que tudo, o torso-rebenque
peludo se contorce.
- He npaBfla tim? - /IbHyiuMÍi, MHymwM
Bar/iHfl. B Ka>Kfloíi pecHMD,e - ayfl.
- M maBHoe - axa ryipa!
}KecT, cKpyHMsaromMM b >KryT.
Ó gesto de arrancar a roupa!
Como comer e beber. (Pelo rictus-riso,
você pode salvar-sel).
Assim está bem? Irmãoirmãmente,
O, pBymi-iii y>Ke Ofle>Kflbi yKeci! Ilpome, hcm nnxb ii ecxb ycMeiuKa! (Te6e Hafle>Kfla,
Ybh, Ha ciiaccHbe ecxb!)
aliados aliançantes? Ri
antes de enterrar!
(Depois, quem ri sou eu!)
14 - cecxpiiHCKM iinn ópaxcKir?
CoK)3HMHecKM: coios!
- He noxopoHMB - cMenxbcn!
(M nOXOpOHMB - CMeiOCb.)
7-
7-
M - Ha6epe>KHaH. nocneflHHH.
Bce. nopo3Hb M6e3 pyKU,
Amurada. A úl-ti-ma.
HyparomwMMCH coceflHMW
EpeflCiM. Co cxopoHbi peKw -
Dou a mão? Não!
rinan. naflaidnyK) concHyio
Beira-rio. Pranto. Lambo,
Pxyxb cansbiBaio óea saóox:
alheia, mercúrio salgado,
sem lua de Salomão que
prateie as lag-
JlyHbl OrpOMHOÍt ConOMOHOBOÜ
C/iesaM He BbicnaTi HeóocBoq.
Cxonó. OxHero 6bi tióom ne cxyKHyxbCH
B KpoBb? BflpeóeaxM ów, a hc b KpoBb!
CxpainamMMMCH conpecxynHMKaMM
BpeqeM. (yónxoe - JIioôoBb.)
112
(Solto a mão? — Separados!
Desconhecidos soldados).
Poste. Socar a testa.
Até sangrar. Esmigalhar.
Cúmplices no crime, lado
a lado (vítima: o Amor).
113
Mas, como? Um par de amantes
Bpocb! PasBe 3to flBoe /iK)6>mj,MX?
B HOHb? nopo3Hb? C flpyrMMM cnaxb?
- Bbi noHMMaeTe, hto ôyflyiuiee -
separados? Dormir com outros?
TaM? - SanpoKMflbiBaiocb BcnüTb.
lá em cima. — Abano a cabeça.
- Cnaxb! - HoBOÓpaHHbiMM no KOBpMKy...
Dormir! — Amantes num tapete..
—Veja, o futuro está
- Cnaxb! - Bce ne nonaflaeM b mar,
— Dormir! — Passos sem ritmo
B xaKT. >Kajio6Ho: - BosbMMxe nofl pyKy!
He KaxopxcHMKM, nxoóbi xaK!..
ou compasso. Peço: dê o braço!
Tok. (Tohho MHe dyiuoH) - na pyxy
Jler! - Ha pyKy pyKoio.) Tok
Choque! Sua a/mu-braço
BbeX, npOBOflaMH /IMXOpaflOHHWMM
Pnex, - na flymy pyKoro Jier!
em coluna e costelas: febre
elétrica: mão na alma!
JIbHex, Paay>KHoe bcc! Mxo pafly>KHee
Cnes? SanaBecoM, naipe 6yc,
/],o>Kflb. - ^ xaKMX ne anaio Ha6epe>KHbix
lágrimas: cortina de contas.
KoHnaK)u:íMxca. - Mocx, n;
- Hy-c?
Condenados na estrada?!
toca no meu: descarga
Me colo. Tudo irisado pelas
Amurada sem fim (nem vejo).
Ah, sim, a ponte, e:
- Então, pronta!
Specb? (flporn nopauM.)
— Acjui? (Coche e estribo).
Cno-KOMHbix rjiaa
Mirada calma pra cima...
— Até sua casa... Pela
Banex, - Mo>kho /(o Aowy?
B iio-cjieAHMM pas!
última vez!
8.
8.
no-c/iefli-inii MOCX.
(Pyi<M ne oxpaM, ne Bbiny!)
riocaeAHMÍi mocx,
n o c71 eAHa a Mo cr o BHHa.
114
Ül-ti-ma-pon-te (não solto
a mão). A última, últi
ma pedra-ponte entre
terra, água e céus.
115
Bo-fla MTBepflb.
BblK/iaflblBaK) MOHeTbl.
/ÍCHb-ra sa cMepxb,
XapoHOBa M3fla aa /leay.
Apalpo moedas: cambiá-las,
ouro por sombras, pagar
o barqueiro Caronte, Be
tes letal — som —
MoHexbi xeHb.
brias moedas na mão
B pyKK xeHeBoíi. Bes ssyKa
de sombra, sons secos
Monexbi xe.
sem ecos tocam sombras
MxaK, BxeHCByio pyKy
(mãos) — caem nas covas:
papoulas aos mortos!
Mo-Hexbi xeHb.
Bea oxcBexa m 6ea asBKa.
Mo-Hexbi - xeM.
C yMepUIMX flOBOTIbHO MaKOB.
Boa parte dos amantes
vive de paixão — não
de esperança — pontepaixão, espécie de entre,
Moct.
passagem eventual. Quentinho o ninho em seu
Ena-ran nacxb
JllOÓOBHMKOB 6ea HaflOKflbi:
Mocx, Tfai - KaK cxpacxb:
yc/iOBHOCTb: cnnoiUHoe Me>Kfly.
rHe3>Kycb: xen/io,
Peópo - noxoMy mabHy xaK.
flanco e costela, que distraio
— e agarro! — triz de raio!
Sem braços, sem pernas
— que o digam meus ossos
prensados nos seus - parte
que sinto viva em mim:
Hm do, HM no:
HpoapeHMíi npoMOKyxoK!
Hm pyK, HM Hox.
BceM KocxbK) MBccM ynopoM:
}KmB XO/XbKO 6ok,
o CMe>KHbIM XeCHHDCb KOXOpbIM.
116
117
BcH >KM3Hb - B60Ky!
Oh - yxo MOH >Ke - 3x0.
>Ke/iTKOM KóejiKy
/Ien/[K)Cb, caMoeflOM k Mexy
parte ouvido, parte eco
— e nela eu grudo,
como a clara à gema, como
à pele o esquimó
TecHiocb, /len/tiocb,
Hto - Bam C0I03?
— mais do cjue siameses!
Mãe ! - não dizia você àquela
que tudo esquecia e le-va-va-
Ta >KeHUJ,HHa - noMHMUib: MaMOÍi
Vo-cê no andor do ventre? — Nem ela,
SBaji? - Bce M BCJí
por tê-lo dentro, o tinha
mais junto do que o tenho!
Momycb. B/inaneiíbi CwaMa,
SaÓblB, BTOp>KeCTBe HeflBH>KHOM
Te-óíi HOCB,
Você não entende isso?
TeÓH He Hep>Ka7ia 6BM>Ke.
A-mal-gamada! Aconteci
rioMMM! C>KM7IMCb!
a dois, ao deitar-
Cóbinwcb! Ha rpyflM ôaioKaB:!
He - ópomycb bhms!
HbipíiTb - oxnycKaxb ów pyxy
me no seu peito. Soltar?
Jamais! Jogar-me. Largar
HpM-mjiocb. H >KMycb,
M >KMyCb...M HeOTTOp>KMMa.
Moct, Tbi He My>K;
Ninguém pode arrancar-me
de junto do seu corpo!
7I1060BHMK - cruiouiHoe mmmo!
amante — puro passar adiante
Moct, tw 3a nac!
que nos dá vida (os corpos - sacos
de ração ao rio).
Mbi pexy xejiaMM kopmmm!
H/IIO-IHOM BHM/iaCb,
RnemoM: BwpbiBaíixe c KopHCM!
a mão? De nenhum jeito.
Ponte não é marido — é
Meagarrocarrapato:
Arranque-me à unha, aos nacos!
Kax nnrout! ícax Kxreut!
n8
119
Bpo-caxb, KaK Beipb,
Hera, ostra, carrapato;
Inumano, ser sem deus,
Mchh, hm eflMHOíi BetuM
jogar-me fora assim, como coisa •
He BTMBUieM B CCM
que sempre desprezei
BesóoKHo! Bec^ienoBeHHo!
BeinecTBeHHOM MMpe flyioM!
as coisas desse falso
CKa>KM, HTO coh!
HtO HOMb, a 3a HO^IblO - yxpo,
mundo de coisas. Diga:
3K-cnpecc mPmm!
Ipenafla? Cana He snaio,
MoHÓ/iaHbi M riiManaix.
o Expresso... Roma?
Granada? Nem quero saber,
enquanto emerjo de Himalaias
de mantas de plumas!
ripo-xan xjiyóoK;
No oco escuro e fundo,
rioc/ieflHeK) KpoBbK) rpeio.
que o sangue aquece, escute
npo-C/Xymaíi 6ok!
esta çarne-flanco
Bcflb 3X0 Kyfla Bepnee
mais leal que um poema.
CxM-xoB... Hporpex
Bcflb? Saexpa k KOMy HawMembCH?
CKa->KM, Hxo 6pefl!
Hxo Hex, MHe óyflex Mocxy
Quentinho, por hoje? Amanhã,
quem vai estar de serviço?
Estou delirando. Mas diga, sim?,
que a ponte não vai acabar.
KoH-pa...
que nunca terá fim.
CMaxHyB nepuH
- KoHep.
a mim.
é sonho. É noite... Amanhã,
.fim.
- Sflecb? - fleXCKMM, 60>KeCKMM
>Kecx. - Hy-c? - Bnw/iacb.
Aqui? — Infantil e entojado,
o gesto. — Então? — Estou
grudada. Só-mais-
- E-uie HCMHOiKeHKo:
um-poLiquinho. Última vez!
B nocjieflHMÍi pas!
120
121
9-
9-
KopnyCaMM cj^aÓpMHHblMM, aWHHblMW
Uivante sirene de usina,
M OTSbIBHMBbIMM Ha 30B...
ou grito de alarme, eis
o segredo que as mulheres calam
CoKpoBeHHyK), noABHSbiHHyK)
TaHHy >KeH ot My>KeM, w b^ob
ante amigos e esposos,
Ot flpyseíi - Tcóe, noflHoroTHyw
aquele de Eva e da Árvore:
TaíiHy Ebm ot apcBa - bot:
Não passo de animal
íí He óonee, hcm >i<MBOTHoe,
desventrado a lâmina
KeM-TO paHeHoe b >kmbot.
de fogo na pele e na alma!
>K>KeT.. KaK óyflTO 6bi nyiuy cAepnyBM
Vai-se por um furo
— vapor, fumo — a vã
C KOKeH! napoM b flwpyymjia
npecTioByTaB epecb BaflopHaB
MMenyeMaa flyma.
heresia chamada alma,
lívida tísica cristã!
XpMCTMaHCKan HeMOHb ÓTieflHaB!
nap! npunapKaMM oó/ioKHTb!
Apliquem cataplasma
fla ee HMKorfla mne óbijio!
mas na mulher sem alma,
Bbl/IO Tcno, XOTCJIQ >KMTb,
cpie queria viver, já não quer.
— não na alma sem mulher,
>KMTb HC xonex.
Eu não queria (Perdão!):
Clamor de ventre aberto.
ripocTPi MeHíi! He xoTena!
Bonnb BcnopoToro nyxpa!
No corredor da morte,
eles aguardam (talvez
TaK cMepTHMKM >i<flyT paccxpe/ta
B HexBepxoM nacy yxpa
123
Beflb maxMaxHbie >Ke neuiKM!
ao xadrez) pelo pelotão,
às quatro da matina, riem do
"olho" na porta, vigilante:
M KTO-TO wrpaeT b Hac.
peões no tabuleiro, à toa.
Kto? Bon-i ÓTiarixe? Bopbi?
Bo Becb OKoeM raasKa -
Quem joga? Deuses do bem? Bandidos?
Olho do guarda na abertura:
Fnas. KpacHoro Kopiiflopa
/liiar. BcKMHyxaH flocxa,
Ergue-se a tranca.
3a uiaxMaxaMM... YcMemKOM
flpa3H>l KOpWflOpHblM XTiaS.
MaxopoHHaa 3aTH>KKa.
Cn/iee, YíoyKwmi 3HaMnT, cnnee.
ressoa o túnel vermelho. Passos.
Fumo quebra-peito (Cospe):
— Chegou a hora (Cospe).
...rio CMM xpoxyapaM b uiamKy
ripaMaa flopoxa: b poe
Do corredor xadrez
M B KpoBb. noxawHoe OKo:
JlyHbi cjiyxoBOM r/iaaoK...
sangrento. Pela lucarna,
a pupi(lua) vigilante
M noKOCUBurncb côoKy:
- Kax xbi y>Ke aa/iex!
Quando olho para o lado,
como você está distante!
10.
10.
COBMeCXHblH M CnJIOUeHHblM
Vozerio. Emoção. Nossa voz:
Bsflpor. - Hama Monounan!
direto para o fosso,
— Nosso café!
Nossa catedral! Nossa ilha!
Ham ocxpoB, nam xpaM,
rq,e Mbi no yxpaM -
Casal de há pouco. Madrugada.
Cópofl! riapa MMHyxHan! CnpaBrrH/iM aayxpenio.
para o ofício da missa!
Saído da turba sonâmbula
124
125
BasapoM maaKHCbio
Coisas azedas da feira
CKB03b-CHOM 14 BCCHOM...
aos sonolentos, iia primavera...
O café, zurrapa
de água e aveia.
Sflecb Ko4)e óbiji naKOCTHbiií,
CoBceM obchhom!
(Obcom CBoeHpaBMe
FacMTb B pbicaKax!
OxHioflb He ApaBMeíí ApKaflMeM nax
mas da Arcádia, sim, o aroma
Tot Koc{)e...
daquele café...
Ho KaK yBbióanacb naM,
£ como nos sorria,
PaflKOM ycaAMB,
abancando-se ao lado,
BbiBanoM M >Ka;iocTHOM, -
no seu saber amanhecido
JIlOÓOBHMlI, ceflbix
de amante já passada,
yHblÓKOK) 6epe>KH0M:
a solícita patroa,
(Com aveia se esfria
o sangue dos garanhões).
Da Arábia, nem cheiro,
yBBHcmb! FKmbm!
a dizer: Não murche — viva
BesyMbK), 6e3AeHe>KbK),
SeBKy MnroÓBM, -
para o desvario sein grana
— os bocejos o amor!
A r/raBHoe - íohoctm!
Sorrisos — para a juventude.
CMCLUKy - 6e3 npMMMH,
yciViemKe - óes yivibic/ia,
ÜMpy - 6e3 MopmMH, -
Sorrisos — para os risos sem siso!
Sorrisos — para o humor
O, raaBHoe - mhgctm!
Sobretudo — para a mocidade,
e para as paixões (não dac]ui!).
— de onde, então? — De outra parte.
— De onde? — De onde viajam
CTpacTHM He no KHMMary!
OxKyAa-TO AyHyBmei-i,
OTKyfla-TO xTibiHyBmeM
126
...e os rostos sem rugas.
para este café sombrio
B MOíiOHHyKi TycKnyio:
- Bypnyc mTyHiic! Haí],e>KflaM mMycKynaM
riofl BCTXOCTbK) pMS...
sorria para esperanças e corpos
em roupas sem moda ou estação.
(flpy>KOMeK, He «anyracb:
Pyóeu; na pyópe!)
Meu bem, sem cenas;
só mais uma ferida, ao ver
O, KaK npoBo>Ka7ia nac
como, à saída, acenava
Túnis e albornozes ( de onde ela
XoBHMKa B Henpe
a dona da espelunca, na sua
FoTiTiaHflCKoro raa>KeHbH..
coifa holandesa, engomada...).
Não lembro bem, não sei como
He flOBCnOMHMBIUM, He flOnOHilBIUM,
fomos levados da festa
Tohho c npasflHMKa yBefleHbi...
para a nossa rua — que não é nossa
— ou nossa de um nós que já não somos!
- Hauia yjiMpa! - y>Ke ne Haiua... - CKonbKO pas no Hen!..- y>Ke na mm.
- SaBxpa c aana^y Bcxanex conHpe!
- C MeroBOH nopBex /JaBMfl!
- Hxo MM fle/iaeM? - PaccxacMCíi.
- HMHero MHe ne roBopMX
CBepxóeccMec/ieHHeMiuee c/iobo:
Pac-cxaeMCH. - OflMH m3 cxa?
ripocxo CBOBO B nexbipe cnora,
3a KOxopbiMM nycxoxa.
Vai o sol nascer no poente?
Vai Davi renegar Jeová?
E nós, aqui?... — Se-par-ai^do.
Não me diz coisíssima alguma
essa ultrassupersemsentidíssima palavra:
se-pa-ra-ção. E eu — uma entre cem?
Nove letras... quantos sons?
E além deles? Mudo mundo afora?
Ora! Isso se diz em sérvio?
Cxom! rio-cepócKM mno-KpoaxcKn,
BepHO, HexMB b nac ny^i-ix?
Pac-cxaBaHwe. PaccxaBaxbCB...
Ou croata? É piada checa? Se-pa-rasão ou é? Supersupraultrahiperabsurdíssima
sandice asnática! Um som mono-
CBepxTjecxecxBeHHeíimaB flMHb!
128
129
3ByK, OT Koero yuiii psyTCH,
THHyTCü 3a npe/íen tockw...
PaccraBaHMe - He no-pyccKii!
He no->KeHCKM! ae no-My>KCKM!
He no-6o>KecKH! Hto mh - obhw,
PasseBaBuiMecH b oócfl?
polífono, que fura o tímpano
até dos sons dos sonos cios sonhos!
Se-pa-m-som —russo iicão é!
Sem-fem-neni-mascLilino!
E nem divino! Parelhas de ovelhas
olhando-se alheias, a mascar?
PaccTaBanae - rio-KaKoacKM?
Se-pa-ra-ção —em c|ue língua se acha,
íl,a>Ke CMbicna xaKoro hct.
se o sentido não há?
JlaKe SByKa! Hy, npocxo nonww
UlyM - nn;ibi, HanpxiMcp, ckbosb coh,
de serrote de quem ferra no sono.
No soar — só um rascar
PaccxaBaHwe - npocxo lUKOTibi
Se-pa-ra-ção - gemido gêmeo
X/ieÓHMKOBa COnOBbMHbIM CXOH
de um cisne-rouxinol transmental
JleóeAMHfaiM...
de Khliébníkov'^!..
Vem do nada?
Ho KaK >Ke Bbiiujio?
Popano BbICOXmMM BOflOeM Bosflyx! Pyxy o pyxy cjibiuino.
Água do lago a evaporar-se no
ar? Mãos dadas - sinto, sim.
PaccxaBaxbca - Beflb 3xo rpoM
Mas separadas - choque e trovão
Ha rojioBy...OKeaH b Kaioxy!
na cabeça — encapela-se o mar
Oxeannn KpaíiHMM mwc!
3xm yjiMLi,bi - cjiMurKOM Kpyxbi;
contra a cabana, nos confins
PaccxaBaxboi - bcab axo bhms,
da Oceania...
íngremes ladeiras.
Se)parar(se —calvário e gólgota
131
nofl ropy...flByx noflOiiiB nyAOBWx
B3fl0X.../la30Hb, HaKOHeLÍ, MrBOSflb!
OnpoKMflbiBaioiHMM flOBOfl:
abaixo. Pés pesados de
pesares e dores — e palmas
voltadas aos cravos. Contrassenso!
PaCCXaBaTbCB - BCflb 3T0 Bp03b,
Separar — dividir. Separar-se
implica UM dividido em UM.
Mbi >Ke - cpoiuMecK...
Imossível: somamosum.
11.
11.
PaaoM npoMrpbiBaxb -
Perder tudo num lan
Hex!
ce só, seco: Rien ne va
3aropofl, nppixopoA:
plus. Bairros, subúrbios,
flHHM KOHep.
dias: fim dos dias,
HeraM (MMxaM - KaMHHM),
findas carícias (leia: pedras).
M AOMaM, M HaM.
Nós dois, dias, casas
flaHM nycxyroipMe! Kax Maxb
vazias (Mães velhas,
Cxapyio - xaK «e ^xy mx.
3x0 Beflb fleíicxBMe - nycxoBaxb:
nojioe He nycxyex.
meus respeitos) —vazias,
não vagas, onde há ação
(que não há no vazio).
(flaHM, nycxyiomMe na xpexb,
JlyHme 6bi BaM cropexb!)
vagas — melhor queimá-las!).
TonbKO He BSflparuBaxb,
PaHy BCKpWB.
Saxopofl,saropofl,
UlBaM paapwB!
132
(Quanto às vilas, em parte
Cuidado, não se agite
(o corte da ferida!).
Subúrbios, subúrbios
— suturas rompidas.
133
MÓO - 6e3 /IWIUHMX C7I0B
O amor — (sem inchaço
ribllUHblX - JIIOÓOBb eCTb UIOB.
retórico) — é sutura.
UIoB, a He nepcBHSb, ujob - ne muT.
- O, HC npocH sau^Míbi! -
Sutura — não curativo.
Sutura — não armadura.
lIJoB, KOMM MepTBbIM KSeM/IC npmUMT,
Sutura: costura-se o morto
Komm k Tcóe npMuiMTa.
-euemvocê — à sepultura.
(BpeMH noKa>KeT eme KaKMM:
JlerKMM viJin tpomhhm!)
(Tempo, incisão, pontos:
Tax M7IH HRane, flpyr, - no uiBaivi!
ílpeóearM h ocko/ikh!
To/ibKO McnaBbi, mto Tpecnyn caiw:
TpecHy/i, a ne pacnonacji!
firmes ou frouxos?)
Por fim, amigo — vai-se
a costura! Estilhaços!
Estrondos! Mas sem gangrena
— menos pena — a fratura!
4t0 nOA HaMeTKOM - >KI4BaB >KM71b
Sem infecção: sob os pespontos,
KpacHaü, a ne rHnnb!
vida vermelha nas veias!
O, ne nponrpbiBaeT Kto pBer!
SaropoA, npnropoA:
JlóaM pasBOfl.
Quem rompe primeiro
não perde poder.
e frontes de ruptura.
Ido C/IOÓOAaM KaBHBT
Nos bairros — saltam miolos!
HbiHue, - Mosrajvi ckbobhbk!
(Na periferia — forcas).
O, ne nponrpwBaeT, kto npoMb -
Nada perde quem rompe
e parte ao raiar do dia.
B nac, KaK ;sap>i luuiMeTCB.
Ideayio >KMaHb reóe cmnaa b houb
Haóeno, óes naMeTKn.
134
Bairros, subúrbios — frentes
Costurei-lhe uma vida
à noite, não rematei de dia.
135
TaK He Kopw >Ke Mena, hto BKpMBb.
npwropop: lUBaM paspbiB.
Ficou torta, não me culpe.
Subúrbio: suturas rompidas.
JXyMin HenpMÔpaHHHbie B pyópax!..
Almas desalinhavadas
SaropoA, npMropofl...
iíp pasMax
ripMropofla. CanoroM cyflbôw,
CnbiuiMmb - no raune >KMflKOM?
...CKopyro pyxy moio cy^n,
^pyr, fla HCWByK) HMXKy
— marcas por toda parte.
Bairro, subúrbio:
expansões do ódio.
Dá para ouvir o destino:
botas chapinham na lama.
Amigo, sinta a minha mão
que cose apressada.
líenKyio - Kax ee ne KaHaíí!
ITo-CTieflHMM (jjOHapb!
O fio vivo, como cortá-lo?
Sflecb? CnoBHO aaroBop Bar/ififl. Hnsmnx pac Bsrjiflfl. - Mo>kho na ropy?
Aqui? Súplice, olhar
B no-cneflHMM pas!
pela úl-ti-ma vez?!
12.
12.
MaCTOK) rpMBOK)
flo>Kflb B FJiaaa. - Xo/IMbl.
MnHOBa/in upirropcfl.
3a ropoflOM mh.
Colinas. Crinas
136
Úl-ti-mo lampejo!
de seres inferiores:
—Não posso ir à montanha
de chuva nos olhos.
Para além dos bairros,
o subúrbio, onde
137
EcTb, - fla HCTy Ham!
estamos: nao e hosso
MaMexa - He Maxb!
Cidade-madrasta:
J^aabuie HCKyfla.
Adiante? Ao nada!
SflCCb OKOTieBaTb.
lincados aqui: morrer.
riojie. MsropoAb.
Bpar CTOMM c cecTpow.
>Ki'i3Hb ecTb npiiropofl.
Um campo. Uma cerca.
3a ropoflOM crpon!
construa no subúrbio!
3x, ripoiipanHoe
J],e7io, rocnoAa!
Meus senhores, a causa
Um irmão. Uma irmã.
A vida é um bairro:
está perdida. E inútil.
Bcc-to - npwropoAbi!
Epe >Ke bopoAa?!
Um mundo de subúrbios!
PbCT H ÓeCMTOI
flOKAb. CtOMT H pBCM.
3a rpH Mec>iu,a
A chuva irrompe
com fúria. Nos, rompen
do de pé. Só três
nepBoe babocm!
meses — e um confronto destes!
Oncie as cidades?
M y MoBa,
Estaria Jeová afim
Bor, xoTCB Bsai/iMbi?
/],a He Bbiropeno;
de um jabá de Jó?
Bem. Não deu certo.
3a ropoAOM mm!
No subúrbio: você e mim.
3a ropoAOM! rioHHMaemb? 3a!
Bne! IlepemeA Baa!
Fora, fora! Para além
das muralhas da cidade
e da vida, onde é vetado
>KM3Hb - 3T0 MeCTO, TA^ >KMTb He/Ib3>i:
viver! Bairro judeu.
EB-pCMCKMM KBapTaa...
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TaK He /lOCTOMHCe Hb BO CTO KpaT
Cxaxb BcHHWM >KMflOM?
E não é marca de eleição
ser um judeu errante?
m6o flHH Ka>Kfloro, KTO He rafl,
Basta não ser infame
EB-peíicKHM norpoiM -
para sofrer um pogrom.
>KM3Hb. ToBbKO BblKpCCTaMM >KMBa!
MyflaMH Bcp!
Ha npoKa>KeHHbie ocxpoBa!
B afl! - BCiofly! - ho ne b
A vida vive graças
aos renegados, aos seus judas!
Quer viver? Escolha a ilha
dos morféticos — ou o próprio
inferno — não a vida-carneira
>KM3Hb, - TOHbKO BblKpeCTOB TCpnHT, BMIUb
Osei; - nanaHy!
npaBO-Ha-XMXejIbCTBeHHblM CBOÍi HMCX
Ho-raMM Tonny!
para traidores e carrascos.
BxanxbiBaio! 3a flaBiiflOB mi-ix! -
o escudo de Davi, os corpos
Mecxb! - B MecMBO xext!
amontoados, que os algozes
ainda aviltam; "Os judeus
não querem viver...".
He ynoMxenbHO nn, hxo kma
>KMXb - He aaxoxea?!
Pisoteio a minha "carte de séjour'"
na vida. Rio. Zombo. Vingo
Fexxo MBÓpaHHMHecxB! Ba/i mpoB.
Gueto de eleitos — além
rio-inaflbi He >KaM!
do fosso. Não há piedade
B CCM XpMCTMaHHeHUICM M3 MMpOB
no mais cristão dos mundos:
rioaxbl - KWflbl!
todos os poetas são judeus!
13-
13-
Tax HO>KM BOCXpHX O KaMeHb,
Faca a afiar-se em pedra,
TaK onwjiKM MexjiaMH
vassoura a varrer serragem:
CMaxMBarox. Hofl pyxaMM
MexoBoe, MOKpoe.
O que é que sinto nas mãos?
Uma coisa de pelos — molhados!
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Fae >K BM, flBOMHU:
Cyuib My>KCKa«, moihb?
riofl naflOHbc -
Ora, onde as gêmeas
viris — Secura e Dureza?
Feia mão me escorre
CneBW, a ne AO>KHb!
uma não-chuva salgada!
O KaKMX eme coônasHax -
E agora? Quais charmes
PeHb? BoflOM - MMymecTBo!
e encantos? Em seus domínios —
riofl naflOHbK) nbromwxcH, -
água! Olhos de diamante
escorrendo pelas palmas
HeT nponaxM
das mãos, fim do fim
riocjie r;ia3 tbomx ajiMasHwx,
Mne. KoHep KOHii,y!
rna>Ky - rnaxy rna>Ky no Jiniíy.
TaKOBa y nac, MapnnoK,
Cnecb, - y nac, no/iHneK-TO.
nocTie rnaa tbomx op/iMHbix,
rioA jiaflOHbio nnanymMX...
rinaneiub? flpyr mom!
Bce Moe! ripocTn!
do naufrágio. Caricias, carinhos
pela cara, como as lágrimas
por entre os dedos:
Orgulho nosso — esse
das Marininhas polacas,
quando outros olhos polacos
—de águia! —viram água...
Você chorando, meu bem-
perdição? Perdão:! Vai
O, KaK Kpynno,
ficando grosso esse gosto
Co/iono BropcTn!
de sal na concha da mão!
>KecTOKa c/iesa My>KCKa>i:
É duro o choro de amigo
OôyxoM no TeMenM!
— paulada na cabeça!
rinaMb, c Apyi HMM HaBcpcTaeiub
CtWA, CO MHOH nOTepHHHbIM.
a honra que perdeu comigo!
Chore também com outras — e lave
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OflM-HaKOBoro
Mopn ~ pwóbi! BsMax:
...MepXBOfí paKOBHHOM
Fyóbi Ha ryóax.
B cnesax.
TIeóefla -
Peixes do mes-mo-mar
— para cima! Pálidas
conchinhas num selinho
como lábios sem vida.
Hoje, sono
de choro,
Ha BKyc.
- A aaBxpa
Koxfla
sabor losna.
Qual o gosto
ao despertar?
ripocHycb?
14-
14.
TponoK) OBeHbeü CnycK. Popofla raM.
Tpn fleBKM HaBCxpeuy
CiMeioTCH. C/iesaM
Trilha de carneiros —
descida. Cidade — ruídos.
Três putinhas vindo
e rindo. Das lágrimas.
CMeioTcrí, - BceM xiOHflHeM
Riem de tudo — como
Heflp, rpeÔRCM MopcKMM!
ao meio-dia, quebrando
CMeioxcxi!
as ondas do mar
- Hefl07I>KHbIM,
—
em coro
riOBOpHblM, My>I<CKI-IM.
do choro sem decoro
CneaaM xbomm, bmambim
Ckbosb flo>KHb - Bflea pyópa!
Kax >KeMHyr - nocxwflHbiM
Ha 6poH3e óoMpa.
do homem na chuva.
Olhos, feridas de água!
Pérolas de vergonha
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Cne3aM tbomm nepBbiM,
üocjieflHMM, - o, aew! CnesaM tbomm - nep/iaM
B KopoHe Moeii!
Fnas iiBHO He Tvn/iro.
CkBOSB JIMBeHb - nepMcb,
BenepuHbi KyKHw,
BnepBMTCCb! C0103
Ceií óojiee reccH,
Mcm B;ieHbc>i h /lenb.
CaMOM necHCM Flecen
ycTynncHa pcHb
HaM, RTupaM besBecTHbiM
HejIOM COTIOMOH
BbCT, - m6o COBMeCTHbIM
rinan - óonbuie, hcm coh!
14 B nonbie BOJIHbl
Mrnw - cropôrreri mpaBH BeccaeflHO - óesMOBBHO -
Kaic ToneT Kopaô/ib.
no escudo de bronze.
Primeiras e últimas,
derrame-as por mim
— minha coroa do fim!
Não baixo os olhos — fixos
através do aguaceiro: Cravem
os olhos em nós, bonecas
de Vênus! Olhem algo
que liga mais forte
do que o transe e a transa!
O Cântico dos Cânticos
nos cede a palavra
dos pássaros sem nome.
Salomão se inclina e saúda
nosso prântico a dois,
que escorre para além do sonho!
Na névoa vazia
das ondas da noite
de Praga, em silêncio,
sem traços, recurvo,
você, nau.
(1924)
naufraga.
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