Border Collies e a realeza

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Border Collies e a realeza
Border Collies e a realeza
A Rainha Victoria, que reinou durante 64 anos, o reinado mais longo de toda a história
do Reino Unido, é frequentemente acusada de ter "mimado" ou "transformado num
requintado cão de exposição" a raça Border Collie, incluindo em exposições de beleza
um cão até então utilizado apenas no trabalho campestre. Mas será esta uma suposição
verdadeira?
O quadro, "Rainha Victoria em Osborne", pintado por Sir Edwin Landseer, mostra a
Rainha Victoria sentada num cavalo que John Brown segura. Caçador das Terras Altas
Escocesas, tornou-se companhia da rainha após a morte de seu marido, o Príncipe
Albert. No banco à esquerda estão duas das filhas da rainha, Princesa Helena e Princesa
Louise. Existem três cães na pintura e o que está atrás de Brown é um BorderCcollie.
No seu livro Dog Painting 1840-1940: A Social History of the Dog in Art (Antique
Collectors Club, 1992), William Secord escreve:
"Talvez por causa do Border Collie ter sido considerado um cão comum de trabalho,
poucos autores escreveram profundamente sobre ele. De ascendência escocesa, foi
originalmente introduzido na Inglaterra por pastores que levavam os seus rebanhos
além-fronteiras. Ao cair nas graças do exibicionismo vitoriano, tornou-se uma raça da
moda, e em 1895 já havia sete clubes, muitos deles patrocinando exposições exclusivas
da raça. Como resultado, a conformação do Border Collie mudou substancialmente em
questão de 50 anos. O que antes tinha sido um cão rústico e simples de trabalho
tornou-se, em 1896, um elegante e refinado cão de exposição."
Hilda Kean, no seu livro Animal Rights: Political and Social Change in Britain Since
1800 (Reaktion Books, 1998), diz:
"A Rainha Victoria... tomou para estimação Border Collies, que anteriormente tinham
sido considerados cães de pastor, animais bastante despretensiosos."
Gypsy, Border Collie da rainha, pintado por Friendrich Wilheim
Keyl.
Squire, o Border Collie branco da rainha.
Sharp, Border Collie da rainha.
Um Rough Collie da rainha, Óscar, pintado por Miss Frances Fairman.
ç
Rainha Victoria e seu Border Collie, Sharp
Isto parece ter implicado que, uma vez na mão dos criadores de cães de exposição, o
"despretensioso" Border Collie se tornasse artificial ou "produzido". Contudo, nos dias
da
Rainha Victoria, os Border Collies de apresentação apenas começavam a desenvolver-se
a partir dos cães de trabalho. Victoria, que tinha um carinho genuíno por todos os
animais, e particularmente pelos Border Collies, admirava os exemplares de trabalho.
Faz sentido que ela tenha visto estes cães trabalhando enquanto esteve em Balmoral, na
Escócia, o que efectivamente mencionou no seu diário, já que tinha uma propriedade
com ovelhas nessas terras, cuidadas por dois dos irmãos de John Brown.
Apesar do facto dos Border Collies de Victoria serem de estimação e não de trabalho,
eles não eram nem por força de imaginação como são os Border Collies de exposição de
hoje, o que se comprova pelas imagens. A própria Victoria pouco expôs os seus cães. O
seu envolvimento com os Border Collies e com outras raças de cães, encorajaram outras
mulheres a apresentá-los e, como Kean refere, isso levou à formação do "The Ladies'
Kennel Club", que tinha a específica missão de impedir a crueldade na prática das
exposições... o que incluía o corte das orelhas e rabo." (Ibid.) A Rainha Victoria
também deu suporte à Royal Society for Prevention of Cruelty to Animals - RSPCA
(Sociedade Real de Prevenção da Crueldade Animal) e outras organizações
humanitárias.
Rainha Victoria e seu Border Collie, SharpSharp, um dos Border Collies favoritos de
Victoria, parece mais um Labrador do que um
Border Collie na pintura acima. Contudo, noutras fotos, parece definitivamente um
Border Collie de pêlo curto, embora nada parecido com os Smooth Collies de hoje. Da
mesma forma, os seus Rough Collies, como o da imagem acima, também não se
parecem com os Rough Collies actuais.
Se formos julgar a escolha da Rainha Victoria pelos Border Collies, então temos que
admitir que ela promoveu um grande suporte aos Border Collies campesinos e que nada
teve a ver com a transformação deles na variedade de apresentações. Contudo, como
Harriet Ritvo aponta no seu livro The Animal Estate: The English and Other Creatures
in the Victorian Age (Harvard University Press, 1987):
"Quando os altos rankings estavam em jogo, alguns criadores estavam dispostos a
sacrificar a competição de mérito que estruturava as suas actividades. A participação
da realeza era especialmente cobiçada. Charles Lane (criador, expositor e juiz)
reportou diversas ocasiões nas quais ele fora abordado pelos membros dos comités de
apresentação, os quais queriam garantir que os cães inscritos pela Rainha estivessem
entre os premiados. Contudo, o juiz guiou-se pelos seus princípios ao invés da
deferência excessiva. Ele protestou que os cães reais tinham de ser julgados "pelos seus
próprios méritos", assim como os outros. O resultado de vitória imparcial, de acordo
com Lane, "causou satisfação geral" e ele manteve-se confiante de que eles deveriam
"ser aprovados pela própria Majestade... se as circunstâncias viessem a ser conhecidas
no palácio."
Um memorial para "Sharp, o fiel e favorito Border Collie da Rainha de 1865 a 1879.
Falecido em 1879, aos 15 anos de idade," em Windsor.
"O apoio da elite aumentava a quantidade de cães de uma raça, e os criadores
esforçavam-se em identificar os seus próprios gostos com os dos seus superiores
sociais. Os Border Collies, a raça favoriza da Rainha Victoria, foram os beneficiários
mais evidentes de tal preferência..."
O texto continua dizendo que apenas o apoio da Rainha já fora suficiente para catapultar
o Border Collie para local de destaque nos palcos de exposições; e que apesar de ela
mesma não ter sido uma grande expositora, uma vez nos palcos, o Border Collie tornouse parte das tendências de moda da época. Além do mais, o suporte da Rainha também
atraiu a atenção para os exemplares campesinos, encorajando aqueles que valorizavam o
Border Collie como trabalhador a preservar, proteger e promover o Border Collie como
uma raça de trabalho.
Rainha Victoria e seu Border Collie, Sharp
Num pequeno artigo de Outono de 1995 no The Shepherd's Dogge, uma revista
publicada pelo seu editor de 1988 até 2002, David Probert escreveu:
"A Rainha Victoria adquiriu diversos cães durante sua vida, mas o seu favorito e
companheiro constante era o Sharp, um Border Collie de pelagem curta. Quando a
Rainha visitou a sua casa de férias, a Osborne House na Ilha de Wight, Sharp, sempre
devotado à sua dona, era uma visão familiar, sempre ao seu lado. Em idade avançada,
a Rainha encontrou grande consolo para si, mantendo presente de todas as formas,
momentos do seu passado, incluindo pinturas e esculturas dos seus animais favoritos.
Uma estatueta de Sharp em ouro e prata dominava a sua mesa de jantar. Sharp viveu
por 15 anos. Uma estátua dele encontra-se sobre o seu túmulo no Windsor Home Park,
em Inglaterra."
Hellen Rappaport, no seu livro Queen Victoria, A Biographical Companion (ABCCLIO, 2003), diz:
"Sharp... tinha a reputação de ser mal-humorado e sempre em busca de uma briga com
outros cães. Ele amedrontou a maioria dos membros da realeza, excepto o destemido
John Brown."
Fotografia de Noble, outro adorado cão da Rainha
A Rainha Victoria levou Sharp com ela quando foi para Balmoral, e ela inclusivamente
o menciona no seu Diário:
"Sexta-feira, 27 de Setembro, 1867. O querido Sharp (meu collie favorito) esteve
connosco todos os dias, sempre entusiasmado."
"Quarta-feira, 1 de Setembro, 1869. Acordámos às 7:30... e às 8:30 saímos de
Balmoral...
para Ballater... com Sharp (meu leal collie)..."
"Segunda-feira, 6 de Setembro, 1869. Aos 5 minutos para as onze, cavalgando com
Beatrice, o bom Sharp foi connosco e teve algumas 'collie-shangies' (um termo escocês
para brigas ou 'rinhas', contudo tomadas entre 'collies') com outros collies quando
chegámos perto de algumas aldeias."
Estátua memorial de Noble. Copyright de Deside Images.
Contudo, o Sharp não era o único cão da Rainha Victoria mal-humorado. Em Agosto de
1981, o jornal londrino The Pall Mall Gazette, mencionou que "'Shep', o collie da
Rainha, é muito arisco com todos menos com a Rainha, à qual respeita e reconhece
completa autoridade."
Noble, o cão da fotografia acima, foi outro Border Collie favorito da Rainha Victoria,
que também viajou com ela e que vem mencionado no seu diário.
"Terça-feira, 9 de Setembro, 1873. Levantei-me às dez para as sete... A manhã foi
esplêndida... [e] eu saí de Balmoral com Beatrice... para Ballater. Nós tivemos o nosso
próprio e confortável trem... e Francie com o querido Noble (outro esplêndido e
querido collie)..."
"Domingo, 14 de Setembro, 1873. Meu favorito collie, o Noble, está sempre lá em baixo
quando nós tomamos as nossas refeições, e foi tão incrível, Brown fazia-o deitar numa
cadeira ou sofá, e ele nunca tentava descer sem permissão, e até segurava um pedaço
de bolo na sua boca sem o comer, até que lhe fosse permitido. Ele é o cão mais
obediente que eu já vi, e muito afectivo e amável; se ele acha que não se está contente
com ele, estende as patas e implora carinho de uma maneira muito meiga."
"Quarta-feira, 12 de Setembro, 1877. Francie Clark (com o querido Noble) e Heir
estiveram connosco. À uma hora tomámos o nosso lanche, e o querido Noble entrou e
ficou muito comportado e quieto."
"Terça-feira, 18 de Setembro, 1877. Um pouco antes das onze e meia nós chegámos a
Achnasheen, onde pegámos o trem e fomos sem parada até Dingwall, Straphpeffer e ao
Castelo Leod. Tomámos o lanche à uma hora, antes de ir para Keith, e um chá após
Dyce Junction. O querido Noble esteve muito bonzinho durante o trajecto, assim como
em Loch Maree, onde almoçámos; contudo ele sentia a falta dos seus companheiros."
Acima, uma fotografia de John Brown com quatro cães da Rainha Victoria: um
Daschund, um Terrier e dois Border Collies. Num primeiro olhar, pode ser difícil
identificar esses dois cães como Border Collies. As orelhas são curvadas para baixo
num estilo antigo que não vemos muito hoje em dia e a pouca quantidade de branco
neles (e nenhuma na face ou pescoço), é também muito incomum actualmente. Cremos
que o cão sentado aos pés de Brown seja o Noble. (Esta foto é uma cortesia de National
Portrait Gallery, London, via Prince and Other Dogs II by Libby Hall, Bloomsbury,
2002.
Sobre Noble, Helen Rappaport escreve:
"Noble era bem mais amigável [do que Sharp] e tinha a especial função de guardar as
luvas da Rainha... A Rainha ficou de coração partido quando ele adoeceu aos 16 anos
de idade. Ela chamou o seu próprio médico, Sir James Reid, para administrar remédios
ao animal, e quando o cão morreu a Rainha ficou tão abalada que Reid teve de sedála."
Assim como Sharp, Noble também foi homenageado com uma estátua após a sua morte,
e a estátua é muito mais próxima de como ele se parecia do que nas pinturas. Helen
Rappaport escreve: "Noble também foi homenageado com uma sepultura em Balmoral,
pois a Rainha acreditava fervorosamente que os animais mais evoluídos tinham alma e
que quando eles morriam também iam para uma vida futura; eles podiam inclusive, do
seu ponto de vista, renascer como humanos".
Victoria tomava notas sobre Border Collies, onde os encontrasse, e mencionava isso no
seu diário:
"Segunda-feira, 26 de Agosto. Daqui nós caminhámos novamente até o mar, e o lindo e
muito amigável collie da Duquesa (menor que o Noble, mas com uma cabeça muito
linda), o Rex, foi connosco."
Outros membros da Família Real também se encantaram com os collies, mais
precisamente a Princesa Alexandra, mostrada abaixo num recorte de jornal em Royal
Yacht, Osborne. Alexandra, nora da Rainha Victoria, casou-se com Edward, Príncipe de
Gales. Edward tornou-se Rei após a morte da Rainha Victoria, e a Princesa Alexandra
tornou-se na Rainha Alexandra. O rodapé diz: "A Rainha Alexandra certamente tinha
uma queda por cães. Ela foi fotografada aqui com três cães." Dois deles, um atrás dela
e outro ao seu lado esquerdo, parecem ser Border Collies. O outro é um cão pequeno
parecido com um Pug.
Published here with kind permission from the Border collie museum

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