Acompanhamento social personalizado:
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Acompanhamento social personalizado:
GUIA PARA EQUIPAS DE TERRENO DA HANDICAP INTERNATIONAL E ACTORES DOS SERVIÇOS SOCIAIS Dezembro 2009 Acompanhamento social personalizado: Reflexões, método e ferramentas de uma abordagem em trabalho social de proximidade Autores: Audrey Relandeau, Nathalie Cherubini, Claudie Didier Sevet e Annie Lafreniere; produzido pela Secção Serviços Sociais, Económicos e Educação, Direcção de Recursos Técnicos, Handicap International Contributos: Hervé Bernard, Philippe Chervin, Eric Delorme, Responsáveis pelos Programas, Dominique Granjon, Eric Plantier-Royon, Cécile de Ryckel, Mathieu Dewerse, da Handicap International, Pamela Trevithick, Emmanuelle Six, Equipas da Handicap International e parceiros dos nossos programas na Argélia, Balcãs, Camboja, Indonésia, Madagáscar, Marrocos, Moçambique, Nepal, Rússia, Senegal. Apoio técnico e edição: Handicap International – Pólo Publicações Profissionais, Catherine Dixon Tradução: Gil Gonçalves Costa Criação gráfica: Catherine Artiglia Paginação: Frédéric Escoffier Contactos: Annie Lafrenière, Referente Técnica de Inserção Social, Handicap International [email protected] Hervé Bernard, Responsável de Domínio, Handicap International [email protected] Crédito fotografia da capa: © Priscille Geiser / Handicap International Este guia pode ser utilizado ou reproduzido sob reserva de mencionar a fonte e unicamente para uma utilização não comercial. ISBN: Princípios e referências página 07 / Trabalho social e desenvolvimento / Acompanhamento social personalizado: generalidades / O acompanhamento social personalizado de pessoas com deficiência Parte Parte 2 3 Guia prático página 25 página 30 página 47 Caixa de ferramentas / Etapa 1: Estabelecimento de contactos / Etapa 2: Diagnóstico social / Etapa 3 e 4: Negociação do projecto / / / / página 16 página 29 / Guia prático do interveniente social / Guia prático do chefe de projecto página 08 página 53 página 54 página 55 página 69 e plano de acçãopágina Etapa 5: Contratualização página 71 Etapa 6: Arranque e seguimento do projecto página 73 Etapa 7: Avaliação / balanço intermediário página 74 Etapa 8: Finalização do acompanhamento página 75 Bibliografia e referências 3 página 78 Guia prático 1 página 04 Caixa de ferramentas Parte Prefácio Princípios e referências Índice Prefácio A presente obra é um guia metodológico sobre o acompanhamento social personalizado. Ao propor elementos de compreensão, de reflexão e de prática sobre essa abordagem do trabalho social, dirige-se aos intervenientes de terreno da Handicap International e aos referentes de serviços públicos ou associativos encarregues do acolhimento, da informação, da orientação e do acompanhamento de pessoas com deficiência e outros públicos vulneráveis. Já há vários anos que a Handicap International intervém no campo do acompanhamento, nomeadamente no âmbito de políticas e estratégias implementadas para o desenvolvimento de serviços de saúde e de inserção social em situação de deficiência. Albânia… Formação de trabalhadores sociais; Afeganistão… Centro de reabilitação comunitária; Algéria… Espaços de socialização e implementação do arranque de um projecto personalizado nas estruturas de acolhimento de crianças privadas de família; Balcãs… Projecto de acompanhamento psicossocial; Brasil… Experiência de projectos sociais; Camboja… Acompanhamento social de pacientes do centro para tetraplégico; Indonésia… Projecto de inserção pós-tsunami; Madagáscar… Gabinete de acção social nos projectos de desenvolvimento local; Marrocos… Projecto de participação social; Mali… Rede de intercâmbio de conhecimentos; Uzbequistão… Centros de recursos e rede social; Roménia… Projecto Aurora ; Rússia… Acompanhamento familiar e estabelecimento de uma rede de actores de intervenção precoce; Ruanda… Projecto de inserção; Senegal… Sistema comunitário de identificação e de acompanhamento de pessoas com deficiência em Casamansa; Serra Leoa… Promoção dos direitos e da inserção social de pessoas com deficiência… Paralelamente, o campo do trabalho social desenvolveu-se e estruturou-se muito nestes últimos anos nos países ocidentais. Parece-nos interessante e pertinente difundir os métodos e as ferramentas no terreno, em resposta às necessidades e expectativas expressas em termos de compreensão do trabalho social e da sua correlação com os princípios e conceitos fundadores da Handicap International, de coerência de intervenção e, sobretudo, de apoio metodológico e técnico às práticas de terreno. Este guia participa igualmente na reflexão levada a cabo pela Handicap International sobre o processo global de inserção de pessoas com deficiência e articula-se, entre outros, com o modelo de compreensão que é o Processo de Produção da Deficiência (PPD), os direitos das pessoas deficientes e sobre a estratégia de desenvolvimento comunitário participativa e inclusiva que é a Readaptação à Base Comunitária (RBC), modelos e práticas já amplamente utilizados nos nossos programas. Por outro lado, este guia inscreve-se no trabalho de capitalização sobre a abordagem RBC levada a cabo pela Handicap International e dá seguimento aos seminários internacionais organizados em Pequim e em Bujumbura, em 2009. Este guia de acompanhamento social personalizado pode ser utilizado: •Num projecto específico de inserção social, através da implementação de um dispositivo territorial de acompanhamento social para as pessoas com deficiência e de vulnerabilidade, permitindo-lhes o acesso a serviços e a realização de projectos personalizados; 4 •Como suporte de acompanhamento da pessoa nos projectos de desenvolvimento e de urgência da Handicap International: Saúde, reeducação, readaptação, vida familiar e social, educação, vida profissional, cidade e deficiência, desportos e lazer, etc. •Como suporte de sensibilização e de formação para o reforço das competências e práticas dos profissionais, actores e parceiros locais que trabalham em proximidade com pessoas com deficiência e vulnerabilidade, para a consciencialização da noção de acompanhamento social personalizado. Não tem vocação para ser uma ferramenta suplementar para aplicar autoridade no terreno, mas visa fornecer elementos de compreensão e conselhos metodológicos para a implementação e/ou melhoria de práticas já existentes. O seu conteúdo propõe um enquadramento para o acompanhamento social personalizado e visa fornecer ferramentas concretas e realistas, mas igualmente flexíveis e adaptáveis, para responder às necessidades dos intervenientes de terreno que acompanham as pessoas com deficiência. O guia está organizado em três partes: uma secção de “Princípios e referências”, que apresenta elementos teóricos sobre o trabalho social, o desenvolvimento e acompanhamento social personalizado. / Primeiro, / Esta secção é seguida de um “Guia prático” destinado aos trabalhadores sociais, intervenientes ou referentes sociais responsáveis pelo acompanhamento, que aborda em pormenor a implementação do acompanhamento social personalizado, propondo diversas técnicas de intervenção e ferramentas práticas. Este “Guia prático” propõe igualmente uma vertente que se destina aos chefes de projecto, ou coordenadores de dispositivos sociais, onde são propostas referências para o desenvolvimento e o seguimento de um serviço de acompanhamento. terceira parte é uma “Caixa de ferramentas” composta maioritariamente por ferramentas provenientes de programas da Handicap International. / A Como não foi possível apresentar numa obra em papel todas as ferramentas disponíveis, anexou-se um CD-Rom a este guia para propor uma percepção bastante exaustiva das ferramentas existentes que poderão ser adaptadas segundo os contextos e os locais. Por fim, é importante notar que este guia se inscreve num processo de aprendizagem sobre o acompanhamento social personalizado e que se aconselha, por esta ordem de ideias, completar essa aprendizagem através de manuais de formação, de experiências de colocação em prática e outras ferramentas relacionadas com o trabalho social e o desenvolvimento. Várias iniciativas alimentaram a construção deste guia: pesquisas documentais, trocas de experiências e encontros com profissionais da Handicap International na sede e sobre os programas, intercâmbios com profissionais da acção social e com actores de desenvolvimento local e internacional. As reflexões foram muito enriquecidas pela participação das equipas de terreno, pelas práticas desenvolvidas, as questões levantadas e as necessidades expressas, que se consolidaram, entre outros, aquando de um seminário sobre o acompanhamento social personalizado organizado em Lyon, em Dezembro de 2008. Desejamos que este guia seja um factor principal para melhorar a inserção social de pessoas com deficiência, reconhecendo o papel crescente desempenhado pelos intervenientes sociais, o lugar central e as capacidades da pessoa em situação de deficiência e, por fim, a importância da abordagem e do tempo que deve ser acordado em qualquer situação de mudança. 5 6 Princípios e referências Parte / 1. Trabalho social e desenvolvimento- - - - - - - - - - - 1 PAGE 08 Trabalho social: definições e contextos de intervenção-- - - - PAGE 09 Zoom sobre três campos de interacção -- - - - - - - - - - - - - - - PAGE 11 / 2. Acompanhamento social personalizado: generalidades -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 16 Definição e objectivos do acompanhamento social personalizado - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 17 Vantagens do acompanhamento social personalizado -- - - - PAGE 19 A abordagem sistémica -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 20 / 3. O acompanhamento social personalizado de pessoas com deficiência - - - - - - - - - - - - - - - - - 7 PAGE 25 Parte 1. Trabalho social e desenvolvimento 1 Baseados nos fundamentos humanistas, os mundos do desenvolvimento e do trabalho social estão interligados. Têm em comum o desejo do reconhecimento e do acesso aos direitos das pessoas em dificuldades e desenvolvem acções para melhorar as suas condições de vida e facilitar uma melhor participação cívica por parte de cada um. © F. Poelcher / Handicap International O trabalho social defronta-se, desde há cerca de vinte anos, com numerosos desafios locais, nacionais e internacionais. O impacto dos acordos internacionais que favorecem a liberação dos mercados e a das instituições da educação, da saúde e dos serviços sociais conduziu as associações internacionais que representam a profissão, designadamente a Federação Internacional dos Trabalhadores Sociais (FITS)1 e a Associação Internacional das Escolas de Trabalho Social (AIETS)2, à definição de regras e acordos entre os países, em função de contextos históricos e políticos específicos. Ao mesmo tempo, a implementação de programas no campo do trabalho social foi confiada aos governos, às ONG e a outras organizações internacionais. A fim de compreender melhor esta interacção, é interessante realçar alguns fundamentos e objectivos comuns às políticas de desenvolvimento e da acção social. Os objectivos visados: - A capacidade de emancipação das pessoas; - A mobilização dos indivíduos, famílias, organizações, comunidades, tendo em vista a melhoria das suas condições de vida; - A redução das desigualdades e das injustiças pela inserção dos grupos marginalizados, vulneráveis, excluídos ou em situação de risco; - A mudança social (aplicação das leis, influência nas políticas sociais). Os diferentes níveis de impactos: - Individual - Familiar - Comunitário - Social 1. Federação Internacional dos Trabalhadores Sociais: www.ifsw.org 2. Associação Internacional das Escolas de Trabalho Social: www.iassw-aiets.org 8 Os valores de referência: Os meios utilizados: - As teorias/conceitos do comportamento humano3 - As teorias do desenvolvimento psicológico humano4 - As teorias de comunicação humana5 - A análise dos sistemas sociais - Os métodos de avaliação e de intervenção social: definições e contextos de intervenção © Maksim Seth pour Handicap International / TraBALHO Definições Segundo as Nações Unidas (1959): “O Trabalho Social é uma actividade que visa ajudar a adaptação recíproca dos indivíduos e do seu meio social, este objectivo é atingido através da utilização de técnicas e métodos destinados a permitir aos indivíduos, aos grupos, às colectividades enfrentarem as suas necessidades, resolverem os problemas que a sua adaptação coloca a uma sociedade em evolução, graças a uma acção cooperativa, melhorarem as condições económicas e sociais.” Em Julho de 2001, o AIETS e a FITS entraram em acordo quanto a uma definição internacional do trabalho social. “O trabalho social enquanto profissão visa promover a mudança social e a solução de problemas nas relações humanas, ao mesmo tempo que ajuda as pessoas a terem poder e libertarem-se para obterem um maior bem-estar. Baseando-se nas teorias das ciências humanas e dos sistemas sociais, o trabalho social intervém no campo das interacções entre as pessoas e o seu ambiente. Os direitos da pessoa e a justiça social são princípios fundamentais da acção em trabalho social.” 3. cf. as teorias behavioristas (Pavlov e Watson) e cognitivas (Lewin e Festinger) 4. cf. as teorias de Vygosky, Freud, Piaget… 5. cf. “Ensaios de linguística geral”, Roman Jakobson, Editions de Minuit, Paris, 1973, p. 209-248 9 Princípios e referências - O valor intrínseco de cada ser humano (igualdade entre todos) - Os direitos humanos e a justiça social - A abordagem do desenvolvimento humano - A valorização do potencial e da diversidade - A capacidade do indivíduo para ser actor do seu desenvolvimento pessoal e para poder fazer escolhas - O respeito mútuo e a solidariedade colectiva Histórico e contextos A prática do trabalho social no mundo evoluiu bastante a partir da segunda metade do século XX, numa primeira fase, por causa da problemática dos refugiados que fugiam dos conflitos armados ou da fome. A mobilidade crescente das populações, a multiplicação dos conflitos no mundo e as culturas cada vez mais heterogéneas levaram a que se encarasse o trabalho social numa dimensão internacional. A criação da Federação Internacional dos Trabalhadores Sociais, em 1950, ilustra essa vontade. Assim, o campo do trabalho social, mais desenvolvido e estruturado nos países do Norte, procura chamar a atenção da sociedade civil e dos poderes públicos para problemas tais como a pobreza, a situação de populações vulneráveis (pessoas idosas, pessoas com deficiencia, órfãos, refugiados, etc.), as doenças, o não acesso à educação, o analfabetismo, as repercussões das guerras e das catástrofes naturais, etc. No final dos anos 90, Lionel H. Groulx, sócio-antropólogo quebequense6 identificou, nos países europeus, no Quebeque e nos Estados Unidos, três configurações principais da acção social: • O modelo sócio-institucional: desenvolvido antes da crise económica, postula que só o estado tem legitimidade para dar uma resposta institucional e universal às necessidades sociais; • O modelo neoliberal: a ajuda estatal deve-se limitar aos mais desfavorecidos. Este esquema deixa as leis do mercado encontrar a resposta às necessidades sociais; • O modelo sócio-comunitário: tende igualmente para a desvinculação do Estado, mas em proveito das comunidades, a fim de solidarizar o dinamismo das colectividades e desenvolver redes naturais de ajuda mútua. Desde há cerca de vinte anos que a evolução dos contextos sociais e económicos, dos comportamentos, das referências e dos valores obriga os profissionais, os formadores e os investigadores em trabalho social a acentuar as trocas internacionais com o objectivo de estabelecer pistas de reflexão comuns e novas técnicas de intervenção. Hoje em dia, nos países desenvolvidos, “o trabalho social neste fim de século confronta-se com três mudanças principais. Em primeiro lugar, a densidade dos problemas sociais não é a mesma de há 20 ou 30 anos: a pobreza tornou-se na exclusão social, e o emprego o principal vector da integração social. Isto significa que o trabalho social se vê mais directamente implicado com o que se passa no mundo do trabalho, mundo esse desconhecido para o trabalho social tradicional, tendo a economia existido durante muito tempo como um “não-pensamento” dessa profissão. Em segundo lugar, o Estado social alterou substancialmente a sua trajectória de intervenção de forma que o trabalho social – todas as categorias incluídas – já não se pode identificar apenas como serviço público apesar de ser a fonte das suas principais referências desde os anos 60. Como consequência, a interface com as organizações comunitárias é, doravante, um dado incontornável: compreendemo-las melhor, toleramo-las, mas elas são objectivamente organizações “concorrentes” das do serviço público. Em terceiro lugar, surgiram novas práticas – às quais o trabalho social está associado ou não – no seio da sociedade civil e do espaço público comum em torno de três referenciais: o da inserção, o do desenvolvimento local e o da economia social. Estes referenciais conjugam-se em parte com a territorialização e a descentralização de várias políticas públicas. Este é outro dado desconhecido do trabalho social tradicional que se foi especializando e sectorizando cada vez mais, com o passar dos anos, (saúde mental, protecção 6. « Action sociale et lutte populaire : une analyse de cas » - Canadian journal of sociology - 1981 10 / ZOOM SOBRE TRÊS CAMPOS DE INTERACÇÃO • Trabalho Social e Direitos das Pessoas com Deficiência A entrada em vigor, em Maio de 2008, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência8, ou CDPD, marcou, a nível internacional, o reconhecimento político e jurídico de uma melhor compreensão da deficiência, na sequência dos debates que, nos anos anteriores, tinham levado a uma mudança de atitude perante as pessoas com deficiência. Estas são, doravante, consideradas de forma plena e prioritária como pessoas, sujeitos de direitos, capazes de os reivindicar, de tomar decisões para a sua própria vida, por um acordo livre e consciente, e serem membros activos da sociedade; já não são vistas unicamente através das suas deficiências, como alguém, objecto de assistência. A Convenção é um instrumento dos Direitos Humanos que comporta uma dimensão de desenvolvimento social explícito. Ela reafirma que qualquer pessoa que apresente incapacidades pode usufruir dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais da mesma forma que outra pessoa. Ora, um dos fundamentos históricos do trabalho social é o da defesa e do acesso aos direitos fundamentais para todos. É pelo acesso à cidadania, pelo desenvolvimento, pela autonomia e pelas acções de promoção de populações que o trabalho social assume toda a sua dimensão. Como mencionado mais adiante no guia, “uma das principais missões do acompanhamento social personalizado é permitir que as pessoas vulneráveis/com dificuldades tenham acesso, como cidadãos, ao conjunto dos seus direitos.”9 Trata-se de caminhar para uma sociedade onde cada um desfrute plenamente do seu lugar, tornando os indivíduos actores do seu próprio desenvolvimento pessoal. 6. “Acção social e luta popular: uma análise de caso” – Canadian journal of sociology - 1981 7. “O trabalho social no Quebeque (1960-2000): 40 anos de transformação de uma profissão», Louis Favreau, Novas Práticas Sociais, vol. 13, n.º 1, 2000, p. 27-47 8. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: http://www.un.org/disabilities/default.asp?navid=13&pid=150 9. “O acompanhamento social em questão”, relatório dos conselheiros técnicos em Trabalho Social da DRASS, Fevereiro de 2003 11 Princípios e referências da juventude, intervenção junto das famílias, intervenção junto dos idosos, etc.) no âmbito de um Estado-providência centralizado e que exercia um quase monopólio da produção de serviço colectivos.”7 Estas questões repercutem-se, em parte, na prática do trabalho social na maioria dos países chamados “do Sul”, mesmo que as políticas e os dispositivos de acção social sejam geralmente subexplorados, quase inexistentes em determinados casos. Quando existe um trabalho social, a sua gestão e os seus meios são centralizados a nível nacional, os trabalhadores sociais são pouco numerosos e têm uma margem de manobra muitas vezes restrita. No entanto, no âmbito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), por exemplo, a comunidade internacional empenha-se cada vez mais em programas locais de desenvolvimento nos países do Sul, onde os intervenientes do trabalho social desempenham um papel essencial. A prática do trabalho social, através do seu campo de intervenção (o indivíduo, a comunidade e o seu ambiente) e da sua metodologia (autodeterminação e participação), faz todo o sentido actualmente em locais de diferentes programas de desenvolvimento. Nos países do Sul, estas práticas são o reflexo dos desafios do trabalho social, tais como vistos anteriormente, ancorando-se num território novo, muitas vezes bem longe dos constrangimentos institucionais dos países desenvolvidos, e hoje, talvez, um terreno fértil para experiências/inovações e renovação. A Federação Internacional das Escolas do Trabalho Social visa a promoção do desenvolvimento da formação em trabalho social, a difusão e a formalização destas práticas no mundo inteiro. No entanto, nota-se que ainda hoje as práticas do trabalho social estão pouco presentes nos países do Sul, são pouco conhecidas pelos agentes de desenvolvimento, pelos profissionais do campo social e pelos Estados. O trabalho do interveniente social inscreve-se, por conseguinte, nos diferentes âmbitos jurídicos existentes: o interveniente que acompanha, por exemplo, uma criança cujo projecto personalizado está ligado à inserção escolar, basear-se-á nos quadros existentes a nível local, nacional e internacional, em matéria da educação para todos. A CDPD representa hoje a única referência jurídica coerciva específica aos direitos das pessoas com deficiência; ela não cria novos direitos, mas reúne disposições resultantes dos Direitos Humanos e do direito humanitário, e visa assegurar que as pessoas deficientes possam usufruir plenamente de todos os Direitos do Homem. Em associação com estes enquadramentos, o interveniente social terá como papel identificar localmente os actores responsáveis pela implementação das políticas sociais e ver como é que os públicos vulneráveis aderem. No âmbito de projectos de desenvolvimento, o interveniente social não terá como missão denunciar e culpabilizar os actores locais, mas antes acompanhá-los até ao reconhecimento desse público e à aplicação das suas obrigações de serviços prestados a essas pessoas excluidas. Por outro lado, o acompanhamento social personalizado contribui para a autonomização das pessoas na realização do seu projecto de vida, reforçando assim a sua autodeterminação: - No plano individual, trata-se da forma como o indivíduo aumenta as suas aptidões e o seu poder de decisão ao desenvolver a confiança em si mesmo, a auto-estima, a iniciativa e o controlo sobre a sua existência. - No plano colectivo, a autodeterminação é o resultado da participação em acções políticas e colectivas e requer a participação activa das pessoas para uma redistribuição dos recursos favorável ao grupo. “A autodeterminação comporta quatro componentes essenciais: a participação, a competência, a autoestima e a consciência crítica (consciência individual, colectiva, social e política). Quando estes quatro componentes estão em interacção, inicia-se um processo de autodeterminação. Este processo próactivo está mais centrado nos pontos fortes, nos direitos e nas aptidões dos indivíduos e da comunidade do que nos pontos fracos e nas necessidades.” (Anderson, 1996). Este processo, tornado realidade através de uma relação de acompanhamento de proximidade, requer a participação activa das pessoas acompanhadas em todas as etapas do acompanhamento: do diagnóstico da situação, à elaboração e à implementação do projecto personalizado, até à saída do dispositivo. Para isso, o interveniente social deverá saber dirigir-se aos mais vulneráveis e desenvolver métodos apropriados ao longo do acompanhamento para reforçar o impacto nestas pessoas esquecidas pelos serviços sociais. 12 • Trabalho Social e Processo de Produção da Deficiência10 Factores de risco Causa Factores ambientais Sistemas orgânicos Aptidões Integridade deficiência Capacitade Incapacitade Facilitador Obstáculo Interacção Hábitos de vida Participação social situação de impedimento Baseado no modelo do desenvolvimento humano universal, por conseguinte, aplicável a todo o ser humano, o Processo de Produção da Deficiência (PPD) é um modelo social da Deficiência. Este modelo leva-nos a perceber a deficiência como: • um estado não estático mas sim evolutivo; • uma situação que varia em função do contexto e do ambiente; • um estado que pode ser modificado através da redução das deficiências e/ou do desenvolvimento de aptidões e/ou da adaptação do ambiente. Segundo o PPD, a “situação de impedimento” é o resultado das interacções entre os factores pessoais11 e os factores ambientais12 com vista a um hábito de vida. A “situação de impedimento” é, assim, entendida como uma limitação na realização desse hábito de vida. Pelo contrário, o PPD fala da plena participação social quando o conjunto dos hábitos pode ser realizado. Uma plena participação social corresponde a uma plena realização dos hábitos de vida. Cada um destes factores é analisado em função de uma escala de medição que vai da integridade à deficiência, da capacidade à incapacidade, de factores facilitadores aos obstáculos e finalmente da participação social à situação de impedimento. No contexto do PPD, a lista dos hábitos de vida pode ser utilizada como uma ferramenta de medição da participação social. Um hábito de vida é uma actividade quotidiana (ou um “papel social”) valorizada pela pessoa ou pelo seu contexto sociocultural, e assegura a sobrevivência e o desenvolvimento do indivíduo ao longo da sua vida na sua comunidade. 10. “O Processo de Produção da Deficiência, modelo individual, social e sistémico do deficiente”, Patrick Fougeyrollas, Outubro de 2006 11. Cf. caixa de ferramentas, lista de factores pessoais no âmbito das ferramentas para estabelecer o diagnóstico social 12. Cf. caixa de ferramentas, lista de factores ambientais no âmbito das ferramentas para estabelecer o diagnóstico social 13 Princípios e referências © RIPPH/SCCIDIH 1998 Factores pessoais Da mesma forma, as ferramentas do trabalho social, nas suas definições teóricas e nas suas aplicações práticas, analisam a relação entre o indivíduo, o seu meio e o seu grau de participação e de implicação nesse meio. Elas ajudam igualmente a determinar o que é da responsabilidade individual e o que é da responsabilidade social. Neste contexto, e nomeadamente no âmbito de um acompanhamento social personalizado, a lista dos hábitos de vida pode servir de referência para a elaboração de um projecto de vida personalizado, que inclui a avaliação da solicitação da pessoa, a definição das suas necessidades e os objectivos a atingir. Pode-se construir um projecto personalizado, por exemplo, em função do desejo de melhoria dos hábitos de vida em curso ou através de um trabalho em torno de hábitos de vida que ainda não foram realizados. • Trabalho Social e Readaptação à Base Comunitária (RBC) RBC e Deficiência Definição da OMS, da OIT e da Unesco em 1994 «A RBC (Readaptação à Base Comunitária) é uma estratégia que se inscreve no âmbito do desenvolvimento comunitário para a readaptação, a igualdade de oportunidades e a integração social de todas as pessoas com deficiência. A sua implementação apela aos esforços conjugados das próprias pessoas com deficiência, das suas famílias e das suas comunidades, dos serviços sociais, de saúde, de educação e de formação.“ Os objectivos da RBC são: 1- Assegurar que as pessoas com deficiência e vulnerabilidade possam maximizar as suas aptidões físicas e mentais, aceder aos serviços e às oportunidades oferecidos a toda a população e tornar-se contribuintes activos na vida da comunidade e da sociedade no seu todo. 2- Dinamizar as comunidades para que estas promovam e protejam os Direitos Humanos das pessoas com deficiência através de reformas que consistem, por exemplo, em eliminar os obstáculos à participação social. Enquanto elemento de uma política social, a RBC privilegia o direito das pessoas com deficiência a viver no seio da sua comunidade, a usufruir do bem-estar e de uma boa saúde, enfim, a participar plenamente nas actividades educativas, sociais, culturais, religiosas, económicas e políticas. A RBC exige dos governos que deleguem as responsabilidades e os recursos necessários às comunidades para que estas assegurem a base da readaptação. O trabalho social pode ser feito numa abordagem RBC sob diferentes formas. Em primeiro lugar, num contexto em que os recursos existem mas não estão acessíveis, é possível criar serviços onde as pessoas que têm necessidades definidas possam ir e obter a informação pretendida. Esta actividade que podemos chamar de “informação/orientação” implica que o interveniente social pratique a escuta activa e um recenseamento constante dos serviços disponíveis e adaptados num determinado território. De seguida, quando as populações estão isoladas e com dificuldades quanto à identificação 14 das suas necessidades, um serviço de informação/orientação poderá revelar-se insuficiente e deve ser completado com um dispositivo de acompanhamento social personalizado. Por fim, no caso em que os serviços são inexistentes ou muito pouco desenvolvidos, o interveniente social terá que ter competências de base em readaptação física, inserção profissional, educação ou outra, a fim de dar uma resposta mínima para a implementação de projectos personalizados. Princípios e referências O interveniente social, que podemos qualificar como sendo um agente RBC, encontra, neste contexto de práticas comunitárias, a sua função de “criador de laços” e de “mediador” entre as populações, os actores que compõem o sistema relacional (família, amigos, patrões, representantes de instituições, parceiros associativos, outros profissionais, etc.) e os serviços disponibilizados. As práticas do trabalho social ligam dois espaços de vida: a esfera pessoal e a esfera colectiva. Estas esferas visam conciliar as características individuais e as características colectivas e/ou comunitárias de um território no interior do qual as populações em situação de deficiência evoluem. 15 2.Acompanhamento social personalizado: generalidades Parte 1 Do ponto de vista etimológico, o termo «acompanhamento” é uma extensão da palavra “companheiro”. Na sua origem, “companheiro” vem do latim companio que significa “aquele com quem partilhamos o pão”, que, mais tarde, dará origem à palavra “companha”, a partir da qual se formará, em português moderno, a palavra “companheiro”. Hoje em dia, é uma palavra que está na moda, uma palavra “chave mestra”, uma palavra polissémica que pode assumir várias formas: acompanhamento escolar, acompanhamento pedagógico, acompanhamento de fim de vida, acompanhamento na saúde e cuidados, acompanhamento social, etc. O acompanhamento social é considerado como sendo diferente das formas antigas de seguimento, uma vez que não se centra apenas na pessoa, mas inclui o trabalho de articulação com a oferta, a procura de respostas bem como a sua adaptação à situação de cada utente, e posteriormente a preparação de uma disponibilidade para os receber. O acompanhamento social personalizado resulta da evolução de correntes sociais e da utilização de novas metodologias de intervenção em trabalho social implementadas no final dos anos 80. Originário dos Estados Unidos e resultado de uma reflexão sobre práticas psicoterapêuticas e sistémicas, favorece uma abordagem global da pessoa enaltecendo um modelo personalizado. Contrariamente às práticas tradicionais em trabalho social, baseadas no esquema de um profissional encarregue de uma missão e de um utente alvo, a iniciativa de acompanhamento social personalizado baseia-se na ética de um compromisso recíproco entre as pessoas (noção de um percurso comum). Porquê “personalizado”? A noção de indivíduo (etimologicamente, “aquilo que não pode ser dividido”) exprime uma ideia de unidade, enquanto a de “pessoa” (do latim persona, “máscara” e por extensão, “carácter”, “papel”) dá conta de uma singularidade, de uma figura. Como consequência, a personalização não exprime de todo a mesma ideia que a individualização, ou seja, a acção de reduzir a uma unidade indivisível; ela consiste em identificar-se com uma pessoa, em amparar-se da sua singularidade. Assim, “personalizar” não quer dizer apenas individualizar, mas também estabelecer as missões e as possibilidades de resposta de um serviço ou de um dispositivo para cada indivíduo e em função das suas próprias potencialidades. 16 Exemplo = uma refeição individualizada é uma refeição onde cada porção corresponde a um indivíduo, enquanto uma refeição personalizada está adaptada especificamente aos desejos de cada pessoa servida. Pratos individualizados O acompanhamento social: O conceito de acompanhamento social comporta três dimensões: - Uma dimensão relacional (estar com): é a qualidade da relação (conhecimento e respeito mútuo) que determinará, em grande parte, o êxito de uma acção. - Uma dimensão de mudança e de deslocação para uma situação nova (e melhor). O acompanhante está: .À frente, para impulsionar, mas não demasiado pois, muitas vezes, as pessoas “correm” atrás dos intervenientes sociais; .Ao lado, para partilhar, co-construir e negociar; .Atrás, para deixar a pessoa seguir o seu caminho mas também apoiar e «levantar” ou empurrar” em caso de fiasco e fadiga. - Uma dimensão temporária: o acompanhamento social tem um princípio e um fim que devem ser determinados de acordo com a pessoa. Deve respeitar o âmbito de intervenção (duração do programa), mas também o ritmo fixado pela pessoa. Os objectivos a alcançar e a respectiva planificação ajudarão a organizar o tempo. Um acompanhamento nunca deverá durar demasiado tempo, ele é, pois, o sinal da interdependência entre o interveniente e a pessoa ajudada. Segundo o Conselho Superior de Trabalho Social: “O acompanhamento social personalizado pode ser definido como uma iniciativa voluntária e interactiva que utiliza métodos participativos com a pessoa que pede ou aceita ajuda, com o objectivo de melhorar a sua situação, as suas relações com o meio, transformálos até. (...) O acompanhamento social de uma pessoa baseia-se no respeito e no valor intrínseco de cada indivíduo, enquanto actor e sujeito de direitos e deveres.” 17 Princípios e referências do acompanhamento social personalizado © J-P. Porcher pour Handicap International / Definição e objectivos Pratos personalizados Trata-se de um método de intervenção que implica a triangulação de três factores presentes: - um beneficiário (o utente); - um dispositivo de acção num determinado ambiente (um projecto, um serviço); - um interveniente (trabalhador social ou referente social). O objectivo do acompanhamento social personalizado, pela análise global do percurso de vida de um indivíduo, é encorajar a sua autonomização, permitindo-lhe exprimir e organizar da melhor forma o estudo e a realização de um projecto (personalizado). Os intervenientes no terreno exprimem-se… • Associação parceira de Inter Aide sobre um projecto de acompanhamento em Bombaim (Índia) “O objectivo do acompanhamento social de pessoas é dar-lhes confiança nelas próprias para que se possam tornar autónomas. O nível de autonomia mede-se pela capacidade da pessoa em resolver os seus problemas, a sua capacidade para fazer projectos e a sua capacidade para ajudar os outros.” • Federação Argelina dos Deficientes Motores (FADM), Argélia O acompanhante: -É um facilitador, um passador: Ele vai apoiar a pessoa para que ela, sozinha, encontre as soluções mais pertinentes e conformes ao seu contexto. - “Caminha com”: ele está ao lado das pessoas, não faz nem decide nada no lugar delas. Citamos o exemplo da rapariga que não quis a máquina de costura que o agente social lhe levou, pois desenvolver uma actividade de costura iria fazer com que ela se fechasse em casa, na sua aldeia, enquanto o que ela queria era uma actividade que lhe permitisse sair daquela exclusão. -Ouve e acolhe as emoções e os sentimentos das pessoas. Por exemplo, quando uma pessoa passou por inúmeros fracassos, ser-lhe-á difícil voltar a entrar numa dinâmica de projecto se não conseguir ser compreendida no seu medo do futuro, na sua falta de confiança em si mesma, por vezes, na sua cólera por não ser aceite. Passar pela expressão das emoções permite posteriormente abrir um imaginário sobre o que seria possível. -Assegura-se de que as necessidades elementares são colmatadas. Não nos podemos projectar no futuro se o mínimo vital (comer, ter uma casa, não arriscar a vida em deslocações) não for respeitado. -Refere-se a outros profissionais: O agente de inserção não trabalha sozinho, faz parte de uma equipa e trabalha em complementaridade com outras pessoas, ainda que continue a ser o referente da pessoa que o acompanha. -Tem em consideração o ambiente da pessoa. A família tanto pode ser uma mais-valia como um obstáculo para a mudança. Assim, é preciso associar a família ao projecto, permitindo-lhe ver o interesse do mesmo. A própria pessoa pode ser solicitada para ajudar a sua família a mudar: “Achas que a tua família poderá aceitar que faças esta formação? Na tua família, quem é que poderá ser o teu aliado para convencer o teu pai (ou a tua mãe) que parece opor-se a isso?” É sempre preferível que seja a própria pessoa o actor das mudanças no seu ambiente do que o agente de inserção. Por um lado, porque esta iniciativa reforça o sentimento de confiança que a pessoa tem de si mesma e, por outro lado, porque ela é melhor aceite pela família, que nem sempre aprecia as “intervenções exteriores” na sua organização. -“Junta o puzzle”: Muito frequentemente, o agente de inserção vai acompanhar a pessoa para que ela possa voltar a dar um sentido à sua vida, “reunificando-a” através de um projecto, e não em projectos impetuosos e irrealistas. -Dá “cor”: O agente de inserção, pela sua visão da pessoa “em desenvolvimento”, não a reduz à sua deficiência ou aos seus problemas. Ele vê na pessoa aquilo em que ela se poderá tornar (com as suas possibilidades e os seus potenciais) e não se cinge apenas às suas dificuldades. 18 O acompanhamento personalizado permite à pessoa: • Aprofundar os seus campos de interesse; • Definir as suas necessidades; • Desenvolver ou manter capacidades, atitudes ou comportamentos que poderão ser úteis; • Encontrar os meios para vencer os obstáculos do percurso pessoal, social e profissional. Os intervenientes no terreno exprimem-se… • Emmanuelle Six, assistente social, Responsável de Programa na Inter Aide “O acompanhamento social consiste em orientar as pessoas que sofrem de uma falta de recursos quotidianos (materiais, psicológicos, relacionais, culturais…) para levar a cabo um projecto (que seja o delas), adaptado às suas capacidades e ao seu meio, tendo em conta as normas e a vida social (reconhecida pela opinião pública e pelas autoridades legais).“ / Vantagens do acompanhamento social personalizado O serviço de acompanhamento social personalizado, ferramenta pertinente para a inserção social, autonomização e autodeterminação, apresenta numerosas vantagens pois interliga as forças e os actores presentes num local e num tempo definidos. Tem um impacto/efeito indiscutível no meio. As suas finalidades • Participar numa melhor inserção social do utente/participante/beneficiário, através de uma abordagem global e personalizada da sua situação; • Desenvolver a participação das pessoas na sua própria mudança através de uma melhor gestão da interacção com o ambiente, encorajando a autonomização e a autodeterminação; • Ajudar a uma melhor construção da imagem de si mesmo, reforçando a autoconfiança e a consciência das suas capacidades. A sua acção sobre o meio • Análise das transversalidades e complementaridades dos bens e serviços que trabalham para a inserção social de um público; • Participação no estabelecimento da coerência de projectos e dispositivos territoriais; • Interacção dos sistemas em presença (médicos, sociais, profissionais, económicos, de lazer…); • Incitação ao trabalho de grupo e de rede, reforço da pluridisciplinaridade. Os seus métodos e as suas ferramentas • Escuta, empatia e valorização; • Abordagem positiva: “aquilo que pode ser feito” e não “aquilo que não pode/já não pode ser feito”, que se baseia nas forças presentes; • Adaptação às especificidades dos terrenos e aos diferentes contextos; • Modelos de práticas de intervenção baseada nas características culturais, religiosas, históricas; • Princípio de realidade, tendo em conta as possibilidades da pessoa e dos recursos do meio. 19 Princípios e referências Sendo cada indivíduo único, ele evoca a adaptação de uma metodologia particular. A sua função de observatório • Identificação, apreciação e síntese dos tipos de necessidades e de solicitações num território (conhecimento e análise dos actores territoriais, do público-alvo e das suas solicitações, etc.) Os seus efeitos conexos • Interroga directamente o lugar do meio familiar, relacional e social no desenvolvimento da pessoa; • Tende a modificar a visão que os profissionais, os participantes e a comunidade têm das diferenças. A pessoa evolui em diversas dimensões, simultaneamente física, psicológica, social e espiritual. Estas dimensões coincidem com os diferentes aspectos da sua existência (o seu corpo, a sua forma de pensar, os seus valores e as suas crenças), a sua relação com os outros e o mundo (relação com a sua família, com o meio, etc.) e a sua motivação existencial (lugar e papel que ela se atribui neste mundo). Estabelecer relações e comunicar com os outros, estar numa abordagem de acompanhamento, implica a consideração global da pessoa, a fim de a conhecer e compreender melhor. O contexto no qual uma pessoa evolui uma pessoa tem em conta os valores da sociedade em que vive e do grupo ao qual pertence. Assim, é crucial ter em consideração o contexto e distinguir as normas sociais colectivas, nacionais ou internacionais (saúde, educação, Direitos Humanos) das representações subjectivas de cada um. A tomada em consideração dos valores locais e da descodificação de sistemas de valores próprios de um território são, por conseguinte, importantes e garantem os resultados de uma abordagem de acompanhamento coerente e eficaz. Em trabalho social, nomeadamente no âmbito dos dispositivos de acompanhamento social personalizado, certos intervenientes baseiam as suas acções na abordagem sistémica. Esta abordagem, resultante de reflexões em psicossociologia e em comunicação, nasceu nos anos 40, nos Estados Unidos. Considera que cada ser humano coexiste no interior de vários sistemas e que esses sistemas se influenciam uns aos outros. Num determinado contexto, um indivíduo está sempre em inter-relação com o ambiente e com os outros membros do grupo ao qual ele pertence. O comportamento de cada um dos membros de um grupo está relacionado com os comportamentos de todos os outros e depende deles directamente. Além disso, a abordagem sistémica considera que o que cria problemas numa situação não é o sintoma de um mal-estar ou de uma disfunção, mas sim o contexto no qual se inscreve. No âmbito do acompanhamento social, a abordagem sistémica permite organizar da melhor forma possível um projecto personalizado, encontrar um equilíbrio e não esquecer nenhum dos membros que compõem cada um dos sistemas na definição de um plano de acção. Por outro lado, esta abordagem permite identificar e compreender o lugar e a função de cada um a nível individual, e por extensão, a nível colectivo e comunitário. 20 © C. Billet / Hamsa Press pour Handicap International / A ABORDAGEM SISTÉMICA Sa place dans la société Avec ses différents lieux de vie Ses associations Sportives, humanitaires ou autres Son travail Et son entreprise La personne Personnalité Culture Histoire Identité Valeurs Goûts Son logement Et son quartier Son école Et ses lieux de formation A abordagem sistémica destaca igualmente um certo número de elementos comuns a cada um dos sistemas presentes e a partir dos quais se pode construir o diagnóstico da situação global de um indivíduo, ou, por exemplo, o de uma família, de uma comunidade, de uma empresa. O objectivo: Porque é que tal grupo ou tal comunidade existem? O que é que eles permitem? (sentimento de pertença, processo de identificaçãAs alianças: Quem forma as alianças, com que fins (poder, coligação…)? Como é que elas são modificadas? O espaço: Qual é o espaço físico e relacional? Quem está próximo de quem? Quem está longe? Quem está isolado? As forças gravitacionais: Quais são as pessoas nas quais se pode apoiar? A quem recorrer em caso de necessidade? Quais são as características dessas pessoas? Os limites e as fronteiras: Cada pessoa tem uma própria fronteira que lhe permite ser autónoma ao mesmo tempo que partilha espaços colectivos. O mesmo se passa com as fronteiras entre gerações. As funções: Quem contribui para as necessidades do grupo? Quem gere as finanças? Quem impõe limites? Quem autoriza? Quem proíbe? Quem sofre? Quem é valorizado? Quem é o líder/herói? Quem é o bode expiatório? As posições: Cada pessoa tem uma posição que lhe permite ser reconhecida pelos outros, ter uma auto-estima e poder evoluir. (Qual é a posição das crianças? Qual é a posição dos adultos? Quais são as fronteiras e os modos de comunicação entre eles?) As regras: Quais são as regras comuns? As regras implícitas? Quem governa as acções e as reacções em relação às regras estabelecidas? Os valores: Quais são as representações mentais e emocionais? Os valores culturais, religiosos? O que é que está bem? O que é que está mal? As crenças: Quais são as crenças familiares, comunitárias? Qual é a visão comum sobre determinado assunto de sociedade, sobre tal mito ou tal realidade? 21 Princípios e referências Ses lieux d’appartenance Socioculturelle et religieuse Algumas referências A abordagem sistémica convida-nos a analisar uma situação na sua globalidade e a nos interessarmos pelas possibilidades das pessoas mais do que pelas suas carências. A pessoa não pode ser reduzida aos seus problemas ou à sua deficiência. Para tanto, os princípios são os seguintes: - Qualquer sistema (pessoa, família, grupo, comunidade, etc.) traz consigo as soluções para os problemas que ele coloca. Em momentos de crise ou de mudança necessária, se o sistema não encontrar soluções, os sinais de sofrimento de um ou vários dos seus membros irão atrair a atenção do «ajudante”. Assim, numa situação que apresente um problema, as soluções deverão ser sempre, prioritariamente, procuradas no contexto. As soluções que vêm do exterior, não adaptadas ao contexto, raramente são duradouras e significativas para as famílias/comunidades, levando frequentemente a dificuldades e a uma destabilização do sistema implementado. - Qualquer sistema (pessoa, família, grupo, comunidade, etc.), mesmo em situação de grande vulnerabilidade, possui capacidades e recursos que podem ser mobilizados. Piaget, um pedagogo, dizia que, de cada vez que uma pessoa dá a solução a uma criança ou a qualquer outro indivíduo, ou se faz as coisas por ela/ele, está a privá-la de passar pela experiência de, ela própria, procurar e encontrar a forma de o fazer. É essa experiência que constrói a sua autoconfiança e auto-estima. Porém, convém relembrar que no âmbito do trabalho social (urgência e desenvolvimento), pode acontecer que certas pessoas estejam tão carenciadas que é preciso dar-lhes os meios para satisfazer as suas necessidades básicas. É, por conseguinte, uma etapa necessária e indispensável antes da mobilização de capacidades. - Qualquer sistema tem a sua própria evolução. As mesmas situações não produzem forçosamente os mesmos efeitos e existem vários caminhos para chegar à mudança. Isto significa duas coisas: a) Não vamos ficar à espera para “atacar”. Por exemplo, uma criança a quem os pais batem não se tornará forçosamente num pai violento, no entanto, se estivermos convencidos de tal, arriscamo-nos a colocar em prática o contexto (receio, controlo) que favorecerá essa atitude. b) Não existe apenas uma forma de chegar a uma mudança, há sempre várias soluções possíveis. Assim, no acompanhamento de uma pessoa, não há solução ideal a encontrar e aplicar. - Um sistema humano é um sistema vivo, com ciclos de vida. Certos períodos estão marcados pela construção (do casal conjugal, parental, por exemplo), outros estão em evolução. Para se transformar, qualquer sistema passa por tempos de crise (o tempo da mudança) que correspondem à passagem de um estado para o outro. Por exemplo, um casal jovem atravessa um momento de desequilíbrio para receber o primeiro filho e encontrar a sua condição de pais. O mesmo acontece com os filhos, no momento da partida dos pais, da morte, da doença ou do desenvolvimento de uma deficiência num dos membros da família. - Os sistemas são influenciados pelos sistemas circundantes que eles influenciam por sua vez (ecossistema) Assim, uma família está em interacção com os sistemas escolares, profissionais e de amizades, mas também com os sistemas políticos, os sistemas de valores culturais e religiosos, etc. Quanto mais aberto está o sistema, mais importantes são as interacções. Num sistema totalitário, as interacções são pobres e as influências são unilaterais. Num sistema mais democrático, as famílias com pouca interacção (pouca solidariedade, pouca abertura para o exterior) têm frequentemente dificuldade em se transformar e as crises que atravessam podem ser prolongadas e destrutivas. 22 Na maior parte do tempo, os sistemas encontram a capacidade para se transformar. Quando as “influências” externas são muito fortes ou muito violentas (cataclismos, guerra, etc.), é necessária uma ajuda exterior, mas esta também é útil quando o sistema não consegue passar de um estado para o outro. Por exemplo, certas famílias não aceitam que o seu filho em situação de deficiência saia de casa pois o conjunto da família construiu-se em torno da deficiência. Cada um encontrou uma função e um papel nessa situação, e ninguém deseja perder isso antes de se imaginar a viver de outra forma. A iniciativa adoptada reside na interacção do indivíduo com o conjunto dos seus ambientes13, os quais são independentes e influenciam o seu comportamento, o seu desenvolvimento e a sua qualidade de vida. Assim, determinados ambientes actuam directamente na criança (família, escola, locais de acolhimento), outros mais indirectamente, tais como as leis e os hábitos culturais do país ou da região onde ela vive. © J .Clark pour Handicap International São definidos cinco níveis sistémicos: • O autossistema: características do indivíduo: idade, sexo, capacidades, deficiência. • O microssistema: ambientes próximos: a família, o local de trabalho, o centro de acolhimento, etc. • O exossistema: ambientes onde a pessoa não está directamente implicada mas que influenciam o seu ambiente directo: local de trabalho dos pais, infra-estruturas de uma comunidade, dispositivos de apoio e de acompanhamento de famílias. • O macrossistema: conjunto de valores, de crenças, de ideologias, bem como de orientações políticas presentes numa sociedade. • O mesossistema: constituído pelas interacções entre os diferentes sistemas. As interacções entre os sistemas ou os elementos são espaços relacionais que nos dão informações que nos permitem avaliar os recursos de um sistema e antecipar as acções a realizar. Reforçar estes laços através de uma melhor coordenação pode, por exemplo, favorecer as condições de inserção das pessoas. 13. Definimos o ambiente como um conjunto de estruturas, de organizações sociais e humanas, de regulamentos e dispositivos ou de regras que se encaixam uns nos outros e que se influenciam reciprocamente. 23 Princípios e referências • A abordagem ecossistémica A iniciativa: “É preciso uma aldeia inteira para criar uma criança” Perspectiva ecossistémica Autossistema Idade Sexo Capacidades Deficiência Mesossistema Microssistema Mesossistema INSERÇÃO SOCIAL Exossistema ONG/redes Ministérios DIVAS Entidades de financiamento Sistemas de Alerta Precoce Família Escola Centro de formação Centros de acolhimento Pares Mesossistema Macrossistema Mesossistema 24 Valores culturais Cenças, tradições Orientações políticas Legislações nacional e internacional 3.O acompanhamento social personalizado de pessoas com deficiência 1 No início desta secção, pretendemos começar por precisar a escolha da terminologia utilizada neste documento. O significado da palavra ”deficiência” evoluiu ao longo dos anos e, actualmente, utiliza-se diversas terminologias: “pessoa com deficiência”, “pessoa deficiente”, “pessoa com incapacidades”, etc. Estas terminologias podem estar ligadas a modelos ou abordagens da deficiência, mas são também bastante influenciadas pelo contexto sociocultural onde uma pessoa se encontra, bem como a factores linguísticos. Escolhemos utilizar uma terminologia neste documento: “pessoa com deficiência”, para sublinhar o aspecto situacional e não imutável da deficiência, e para respeitar a terminologia da convenção internacional dos direitos das pessoas com deficiência. Os profissionais da acção social exprimem-se… • Jean-René Loubat, psicossociólogo francês “O acompanhamento personalizado, método de origem anglo-saxónica, é perfeitamente aplicável às pessoas com deficiência por ser do âmbito da acção médico-social ou sanitária. Trata-se, ao mesmo tempo, de aconselhar, estimular, encorajar, visar uma reabilitação moral da pessoa, bem como de fornecer ajudas práticas à gestão de uma situação global. “ • Erik Jaubertie�, director de um instituto médico-profissional “O acompanhamento social visa a inserção e a integração de pessoas com deficiência. A organização do seu projecto de vida valoriza a visão que têm da sociedade (do seu funcionamento, das suas regras e dos seus valores) e os limites que se impõem a partir da sua educação e da sua história.” É essencial sublinhar que o acompanhamento social personalizado de pessoas com deficiência não difere nos seus conceitos e princípios do acompanhamento social personalizado de outro público vulnerável. Porém, distingue-se pela necessária tomada em consideração do impacto da deficiência na vida da pessoa, pelo conhecimento das representações sociais (a maior parte das vezes discriminatórias) e, sobretudo, pelas possíveis adaptações dos métodos e ferramentas do acompanhamento social aos diferentes tipos de deficiências e de capacidades. Decidimos não entrar no pormenor das deficiências e das suas particularidades de acompa25 Princípios e referências Parte nhamento. A troca de ideias entre o interveniente social e as pessoas do corpo médico e/ou paramédico é fortemente encorajada e favorece uma melhor compreensão dos impactos das deficiências no quotidiano de uma pessoa e facilitará a elaboração do projecto personalizado. O acompanhamento social de uma pessoa com deficiência pode mobilizar inúmeros intervenientes diferentes (médicos, paramédicos, sociais, familiares…). Então, é muito importante que, neste enquadramento, o interveniente social desempenhe o seu papel de coordenador e de mediador para se certificar de que toda a gente participa plenamente e em conjunto para a melhoria das condições de vida da pessoa acompanhada, e que clarifique as suas próprias missões e competências a fim de não “invadir” as dos outros e comprometer a pertinência da sua acção. © C. Giesch Shakya / Handicap International Seja qual for a deficiência, é importante sublinhar que a pessoa que vive com uma deficiência teve de construir ou reconstruir a imagem que tem de si própria, fazendo “o luto pelo seu corpo são”. Este trabalho de “luto” é moroso e pode fragilizar muito a pessoa, em particular na sua relação com o “outro” no qual já não se consegue reconhecer. O interveniente social que acompanha pessoas que sofrem de uma deficiência deverá, pois, estar extremamente atento à história pessoal da pessoa e dar o tempo e o espaço necessários a esse «luto», se este ainda não tiver ocorrido. 26 • O interveniente social deve estabelecer relações regulares com os profissionais médicos e paramédicos que seguem a reeducação e a readaptação da pessoa acompanhada. A construção do projecto personalizado de uma pessoa com deficiência deverá ter em conta o conjunto dos pareceres médicos e paramédicos necessários para o realismo e a viabilidade do projecto personalizado. Este projecto personalizado permite fixar objectivos e constitui uma fonte de motivação para a melhoria das capacidades da pessoa aquando da sua eventual reeducação. Se não houver nenhum profissional da readaptação na zona de intervenção, o referente social deverá estar ainda mais atento para construir um projecto personalizado realista, valorizando e apoiando-se nas capacidades presentes da pessoa com deficiência. Sem entrar em detalhes sobre os tipos de deficiências, é importante realçar a particularidade da deficiência intelectual. Com efeito, o acompanhamento social de uma pessoa com uma deficiência intelectual implica, na maior parte das vezes, a presença de uma terceira pessoa: o responsável (legal ou familiar) da pessoa com deficiência intelectual. O interveniente social deve preocupar-se em manter uma relação privilegiada com a própria pessoa, que deve permanecer líder do seu projecto personalizado, apoiando-se na pessoa responsável para o êxito desse projecto. Também é importante que o interveniente social possa fazer a diferença entre o que é desejo da pessoa acompanhada e o que é desejo da pessoa responsável, o que nem sempre é evidente. As diferentes experiências que a Handicap International teve no acompanhamento social de pessoas com deficiência intelectual demonstram que, muitas vezes, o acompanhamento social altera bastante as relações familiares existentes, e que os projectos personalizados negociados têm tendência a assemelhar-se a projectos personalizados negociados para as famílias mais do que para a própria pessoa com deficiência intelectual, o que, forçosamente, não deve ser rejeitado, mas o interveniente social deve manter sempre em mente que o seu “beneficiário directo” é e continua a ser a própria pessoa acompanhada. 27 Princípios e referências Conselhos práticos: • Recomenda-se que o interveniente social domine o conceito do PPD, bem como as ferramentas, a MAHVIE e a MQE, ferramentas de análise do nível de autonomia da pessoa com deficiência e dos impactos de factores ambientais sobre a sua situação de impedimento. 28 Parte Guia Prático / 1. Guia prático do interveniente social 2 - - - - - - - - - PAGE 30 Implementação do acompanhamento social personalizado - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 30 Esquema e etapas pormenorizadas do acompanhamento social personalizado -- - - - - - - - - - - - PAGE 31 Papel e postura do referente social na abordagem de acompanhamento -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 44 / 2. Guia prático do chefe de projecto - - - - - - - - - - - PAGE 47 Os preliminares do desenvolvimento de um serviço de acompanhamento -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 47 Implementação do dispositivo: conselhos práticos para o terreno -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - PAGE 48 Perfil e seguimento do interveniente social -- - - - - - - - - - - - PAGE 50 29 Parte 1. Guia prático do interveniente social 2 Antes de mais, é importante precisar a escolha da terminologia utilizada neste documento. Porque a sua qualificação, a sua experiência, o seu estatuto e os contextos profissionais nos quais evolui são diferentes, o “referente social” pode ser chamado de “agente social”, “trabalhador social”, “responsável de inserção”, “agente RBC”, “acompanhante”, “trabalhador comunitário”, “intermediário social”, acompanhante social”, “agente de proximidade”, “interveniente social”, etc. Escolhemos aqui os termos de “referente social” e “interveniente social” pois podem reagrupar simultaneamente profissionais do trabalho social (responsáveis de inserção, animadores, educadores, assistentes sociais) e não profissionais deste campo (outro profissional com formação em acompanhamento social, voluntários, agentes de terreno, trabalhadores comunitários) que são levados a exercer as suas missões segundo a abordagem que detalhamos neste guia. Todavia, encorajamos, na medida do possível, a realização destas missões por um profissional do trabalho social. Da mesma forma, para designar a pessoa encarregue do acompanhamento, não utilizaremos os termos “beneficiário” ou “cliente” (termos mais associados à terminologia da prestação de serviços comerciais), mas antes o de “pessoa acompanhada”, de “participante” no âmbito de um projecto comunitário ou de “utente” no âmbito de um serviço. / IMPLEMENTAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO SOCIAL Família PERSONALIZADO Amigos / vizinhos Actores institucionais Referente social Pessoa acompanhada Outros actores Environnement Serviços sociais Serviços de saúde Actores económicos 30 Parceiros associativos Trata-se de trabalhar sobre os dois níveis presentes: • A pessoa A relação de acompanhamento (a relação dual acompanhante/acompanhado) Trata-se de uma relação que visa reconhecer a capacidade de uma pessoa de ser, de exercer um poder de decisão e estabelecer relações de confiança com outras pessoas. Esta relação é um tipo de apoio, tal como o são os apoios materiais e humanos que podem ser prestados para resolver um problema de mobilidade, de acessibilidade ou o custo de uma necessidade específica. • O seu ambiente O ambiente no qual essa relação evolui (o contexto) O referente social deverá favorecer as relações com o ambiente, instaurando ou restaurando o laço social, o respeito pelas diferenças e o fomento de instituições de solidariedade locais. Ele desempenha um papel de sensibilizador e mediador, participa na consciencialização e na mudança de comportamentos, convida os parceiros a mobilizaremse, desenvolvendo a parceria e trabalho em prol da coesão social dos serviços prestados aos utentes. / ESQUEMA E ETAPAS DETALHADAS DO ACOMPANHAMENTO SOCIAL PERSONALIZADO • As grandes etapas do acompanhamento: Definir as necessidades da pessoa acompanhada /Recolha de informações junto da pessoa em questão; /Tratamento dessas informações com o objectivo de estabelecer um ponto da situação das necessidades e expectativas. /Entrevista com a família, terceiros, eventualmente, com um representante situação geral. Propor respostas possíveis Elaboração de um plano de acção que determinará as respostas às necessidades no âmbito de cada uma das actividades a realizar. Contratualização Manter informado e negociar Retorno de informações junto da família, de terceiros ou do representante legal Retorno de informações junto da pessoa em questão Coordenar e seguir o projecto Junto da pessoa em questão Junto da família ou do representante légal 31 Junto dos parceiros Guia prático legal e com profissionais associados ao diagnóstico; /Tratamento dessas informações com o objectivo de fazer um ponto da • Esquema do acompanhamento: O processo de acompanhamento social personalizado foi dividido em oito etapas, indo do primeiro contacto até à saída do dispositivo. Estas etapas encontram-se ilustradas abaixo e serão aprofundadas na secção seguinte. Esquema geral do acompanhamento social personalizado Definição e negociação do projecto personalizado Diagnóstico da situação Primeiro contacto e/ou consideração de solicitação Saída do dispositivo, autonomização da pessoa Definição do plano de acção Pessoa com deficiência Contratualização Arranque e seguimento do projeto Finalização do acompanhamento Balanços intermédios Etapa 1: Primeiro contacto e/ou consideração da solicitação Etapa 2: Diagnóstico da situação Etapa 3: Definição e negociação do projecto Etapa 4: Definição do plano de acção Etapa 5: Contratualização Etapa 6: Arranque e seguimento do projecto Etapa 7: Os balanços intermédios Etapa 8: A finalização do acompanhamento Realização do projecto e autonomização da pessoa 32 Etapa 1: Primeiro contacto e/ou consideração da solicitação Porquê? Para tomar contacto, ganhar confiança e analisar globalmente a adequação entre a solicitação e os serviços propostos no âmbito do acompanhamento social. Como? • Escuta e atenção do profissional; • Intercâmbio livre; • Compreensão da solicitação e adequação com o serviço de acompanhamento social; • Resumo do quadro e dos “serviços” propostos no acompanhamento social Guia prático Conselhos práticos: • As condições materiais do encontro não devem ser negligenciadas. Esta primeira troca de ideias, deve, na medida do possível, ocorrer num ambiente neutro para a pessoa, em particular fora de sua casa. No âmbito de um serviço de acompanhamento social, é preciso arranjar um local com um gabinete e cadeiras, um espaço independente, para garantir a confidencialidade das trocas de ideias. Se não houver uma estrutura de acolhimento, deve ser escolhido um local público onde nenhum dos protagonistas se sinta confrontado (exemplo: um café, um parque público, uma praça…), no sentido de proporcionar um tempo de troca livre para o conhecimento. • Durante a troca, é importante apresentar-se e recordar o enquadramento e os objectivos dessa troca (travar conhecimento, recolher a expressão de uma solicitação ou de um projecto, reunir informações para uma melhor compreensão da situação…). É igualmente necessário recordar o princípio de confidencialidade (os eventuais elementos transmitidos a terceiros devem contribuir directamente para a realização do projecto personalizado e precisam da autorização do interessado antes da difusão). • Se a adequação entre a solicitação e/ou a necessidade expressa e “os serviços” propostos for validada, o referente social propõe uma reunião formalizada (em casa da pessoa, in situ), para a próxima etapa da entrevista de diagnóstico. • Na primeira entrevista, é possível que uma pessoa exprima uma necessidade única de informação/orientação, para um projecto personalizado já em mãos. Com efeito, neste caso, é preciso verificar se a pessoa requer verdadeiramente um “serviço” de acompanhamento social personalizado, ou se uma ajuda pontual de informação/orientação será mais adequada. Se for esse o caso, após este primeiro contacto, a abordagem de acompanhamento não deverá ser iniciada. Porquê? Para avaliar a situação de vida da pessoa. Apoiando-se nessa primeira entrevista (idealmente em casa da pessoa), o referente social recolhe as informações junto da pessoa e dos seus entes próximos, permitindo uma análise global da situação. Em relação às informações recolhidas, o referente social pode ser levado a consultar outros profissionais (médicos, patrões, outros trabalhadores sociais…), a fim de completar a recolha de dados. O cruzamento e a análise destas informações permitirão medir, em relação às necessidades identificadas, os factores pessoais e ambientais que serão considerados na elaboração do projecto personalizado. 33 © J-C .Betrancourt pour Handicap International Etapa 2: Diagnóstico da situação Como? • Recolha de informações sobre as esferas pessoais e ambientais da pessoa, em relação às suas actividades da vida quotidiana. • Identificação de situações de deficiência. • Avaliação da solicitação e das necessidades identificadas pela pessoa e pelos seus entes próximos como sendo prioritárias. • Actualização, conclusão da recolha de dados, em relação às necessidades identificadas. • Se for requerido e possível, avaliações pluridisciplinares (médica, de readaptação, psicológica, educativa, social, profissional…) a fim de completar a recolha de dados. • Análise dos dados com definição de facilitadores, obstáculos, capacidades e incapacidades da pessoa. Conselhos práticos • O porquê das entrevistas, a duração fixada e os pontos que serão abordados deverão ser estabelecidos antes do início das entrevistas. • Um guião de entrevista� pode ajudar o referente social a construir a sua entrevista para não “esquecer” certos temas a abordar, mas o desafio da primeira entrevista é favorecer uma troca oral, in situ. • O processo de avaliação baseia-se na recolha de dados e na análise desses dados. É uma etapa importante da abordagem de acompanhamento, mas é igualmente uma prática sensível pois requer, da parte do acompanhante, uma escuta activa e uma análise apurada. • O diagnóstico social requer uma recolha de informação “global”, ou seja, que trate diferentes esferas de vida da pessoa. No entanto, é de notar que não é necessário recolher todas as informações com o mesmo nível de pormenores. Isto pode originar um diagnóstico com a duração de várias semanas, com uma incompreensão pela pessoa do processo. Esta duração também pode levar, por vezes, a uma resposta às necessidades antes mesmo de o retrato global da situação terminar, sem ter em conta e sem dar prioridade às reais necessidades da pessoa. Então, é preferível fazer um retrato global, mas sucinto da situação da pessoa, e depois completar a recolha de dados e a análise das dificuldades e necessidades assinaladas pela pessoa, pelo seu ambiente e pelo interveniente social. • A avaliação pode ser feita em várias etapas e em tempos diferentes. Não faz parte da função do referente social contribuir com uma especialização técnica em esferas precisas (balanços musculares, capacidades de aprendizagem, etc.), mas antes favorecer um diagnóstico social completo. Para isso, segundo as necessidades assinaladas, será privilegiada uma abordagem pluridisciplinar aquando da recolha de dados. • Uma das dificuldades do exercício para o referente social é tomar consciência da sua própria subjectividade e conseguir ouvi-la e ouvir a subjectividade do outro. Pois, no final, é a maneira como a pessoa vive subjectivamente a sua situação que é preciso melhorar e não aquilo que o referente social julga ser a realidade ou aquilo que deveria ser melhor para o participante. 15. Cf Caixa de ferramentas 16. Cf Caixa de ferramentas 34 A prática da entrevista A entrevista pode ser uma ferramenta de avaliação. Incide sobre pessoas ou sobre situações e funciona a dois níveis: a recolha de informação e a regulação. Recolha de informação Regulação Esta dimensão corresponde à massa de elementos informativos que vão servir para alimentar a descodificação e a análise da situação. Visa assegurar o bom desenvolvimento da entrevista, baseando-se nas atitudes presentes (comunicação não verbal, comportamentos, emoções) e permite trabalhar para ajustar a conduta a seguir e da reformulação das intenções do outro. A entrevista baseia-se na escuta e na observação. A escuta, técnica de comunicação interpessoal, baseia-se nas noções de respeito, empatia e confiança; necessita de uma atenção particular ao que é dito e à compreensão que se tem do que é dito. Se for bem dominada, permite apreender os facilitadores e os obstáculos experimentados na vida quotidiana da pessoa, os seus desejos, o seu sofrimento e os seus projectos. No âmbito de uma entrevista, a escuta é necessária para uma boa comunicação e para uma boa compreensão da situação e garante, por conseguinte, respostas apropriadas. 35 Guia prático O diagnóstico social (“A prática do trabalho social com grupos”, Hélène Massa) “O estabelecimento do diagnóstico social é uma etapa central do trabalho social. Ao contrário do diagnóstico médico, que precede o tratamento, o diagnóstico social reúne simultaneamente factos, analisa-os e utiliza-os de forma rigorosa para compreender a pessoa, a sua situação e o seu ambiente nos seus relatórios ao serviço proposto. Age, depois, para implementar um projecto de trabalho social […]. A palavra “diagnóstico”, que significa “conhecimento” em grego, abrange a identificação de uma doença após os seus sintomas. No caso de um diagnóstico social, o significado do termo é mais amplo. Apresenta duas faces: uma pesquisa atenta dos factos que determina a natureza das coisas e a decisão ou a opinião resultante desse exame ou dessa investigação. O termo social indica a sua natureza, ou seja, que diz respeito a uma pessoa na sua situação. Vários autores preferem o termo avaliação, que implica apenas a avaliação preliminar e não a compreensão da natureza da situação. Ora, esta constitui o elemento principal do diagnóstico social. Em trabalho social, o esquema de diagnóstico utiliza o conceito de interacção entre as pessoas e o seu ambiente. O diagnóstico social constitui tanto um processo como uma etapa. A partir dos factos, o trabalhador social procura, então, compreender o sistema da pessoa e formular uma opinião sobre a natureza dos subsistemas que constituem o seu ambiente. Isto é examinado no âmbito da abordagem sistémica. […] Um aspecto importante do diagnóstico em trabalho social […] consiste em avaliar a contribuição possível da pessoa no trabalho do grupo, tanto quanto o benefício que dele tirarão aqueles que vão partilhá-lo com ela ela. O diagnóstico social é o fruto não só de um trabalho rigoroso, mas também da comunicação com as pessoas, os grupos, as instituições e o ambiente social. Se a sua participação no diagnóstico não for efectiva, não se trata de um diagnóstico social, mas apenas do estudo de um fenómeno. Distingue-se globalmente três técnicas de entrevista: • A entrevista livre é utilizada para aprofundar os conhecimentos de uma situação global, a pessoa ouvida é livre de falar como deseja, as questões formuladas são raras e muito abertas, situamo-nos assim no modo da conversação. • A entrevista semi-directiva é estruturada em função de temas precisos que o entrevistador deseja aprofundar. Utiliza um guião de entrevista onde as temáticas a abordar são registadas e classificadas, incluindo certas questões específicas. A atenção é mais focalizada na pessoa e depende da atitude de compreensão. As questões são, a maior parte das vezes, questões abertas (resposta de sim ou não). • A entrevista directiva é utilizada para evocar uma temática precisa sob a forma de inquérito. Baseia-se muitas vezes numa série de questões fechadas em forma interrogativa, sendo a atenção mais focalizada na temática estudada do que na pessoa. No âmbito do acompanhamento personalizado, a entrevista livre parece ser o mais adaptado mas exige um domínio real das técnicas de entrevista. Se não for esse o caso, aconselha-se vivamente a entrevista semi-directiva. Com efeito, favorece a livre expressão, elemento essencial para uma entrevista de qualidade, auxiliando ao mesmo tempo a conduzir a entrevista do referente através de um quadro flexível e de um possível guião de entrevista. Porém, é importante sublinhar que o tipo de entrevista deve ser escolhido principalmente em função do contexto cultural e do quadro de referência no qual se deve realizar. Cabe ao referente questionarse sobre a maneira de estabelecer uma relação com o acompanhado, em função, portanto, dos hábitos de vida e das suas “preferências de comunicação”. Desta forma, o referente mostra que aceita a forma de funcionar do outro, ainda que tenha de a retrabalhar durante o acompanhamento. Alguns conselhos para favorecer uma boa comunicação: – Cumprimentar a pessoa mostrando-se receptivo e disponível; – Falar com ela de coisas pessoais, valorizadoras; – Perguntar pela família, pelas pessoas mais chegadas; – Partir de vivências comuns; – Sublinhar os seus pontos fortes e os elementos valorizadores do seu percurso; – Colocar questões simples e claras, praticar a reformulação se tiver a impressão que foi mal entendido; – Estar atento à comunicação não-verbal: olhares, gestos, emoções (cólera, medo, ansiedade); – Garantir um bom ambiente; – Mostrar a sua determinação, o seu compromisso, a sua crença, a sua vontade de melhorar a situação. Alguns conselhos técnicos: – Dissociar a escuta, as trocas e a reformulação das afirmações; – Permanecer atento ao que é observado (visto e ouvido) sem tentar interpretar o que percebeu; – Sintetizar as afirmações à medida que a conversa se desenrolando; – Evitar as questões orientadas que induzem as respostas; – Privilegiar as questões abertas (Por que razão…? De que maneira…?); – Praticar o relançamento das afirmações: Retomar o que acabou de ser dito de outra forma permite ao interlocutor aprofundar o seu pensamento, a sua experiência (Se bem entendi…? Então, depois, você…); – Se a pessoa não estiver de acordo com uma reformulação, dará precisões, o que relançará a troca. 36 A prática da avaliação da situação No âmbito de uma iniciativa de acompanhamento, a construção do projecto personalizado baseia-se numa avaliação. Trata-se de uma etapa importante a não negligenciar. É crucial dissociar bem o que é da ordem da solicitação, dos desejos e das expectativas do indivíduo daquilo que é da ordem das necessidades identificadas e dos meios necessários à sua realização. A avaliação da situação é uma etapa sensível. Tem como objectivo salientar a subjectividade da situação vivida pela pessoa. O referente deve procurar avaliar os obstáculos vividos pela pessoa, dissociando-os das suas próprias representações da realidade e sem formar um juízo. Informar-se Avaliar Propor (recolher dados) (analisar esses dados) (fazer recomendações) Junto de quem? Da pessoa em questão, da sua família, do seu ambiente, dos outros profissionais que conhecem a pessoa (médicos, animadores, membro associativo, etc.). Quando? Na fase de acolhimento e aquando da primeira entrevista, depois em todas as entrevistas futuras, ao longo do acompanhamento. Como? Com a ajuda de um guia de entrevista. Junto de quem? Junto dos seus colegas de trabalho, de avaliações pluridisciplinares, mas também, e sobretudo, da pessoa em questão. Quando? Desde o primeiro contacto e ao longo do acompanhamento. Como? Fazendo cruzamentos entre os diferentes pontos de vista, identificando o papel e o estatuto de cada um no seio da sua família e da sociedade, ficando alerta para aquilo que bloqueia mas também para aquilo que favorece, comparando as características de um indivíduo com o perfil de outras pessoas que evoluem no mesmo contexto e comparando essa análise com uma situação anterior. Junto de quem? Da pessoa em questão e depois dos outros profissionais envolvidos Quando? Depois da primeira entrevista, dos balanços intermédios, e aquando da finalização do acompanhamento. Como? Baseando-se nas análises e nas discussões, permanecendo alerta para a coerência entre aquilo que é proposto, o desejo e as necessidades da pessoa e os objectivos a atingir. O esquema do PPD17 virgem pode ser utilizado como esquema de síntese da avaliação da situação, pois retoma a maioria dos elementos pessoais e contextuais necessários para o diagnóstico. Poderá igualmente destacar as esferas que devem ser criadas primeiro, para realizar uma boa análise da situação. Etapa 3: Definição e negociação do projecto Quando falamos de projecto, evocamos a capacidades para se projectar, ou seja, para avançar, para se antecipar ao futuro. Projectar-se assenta numa concepção filosófica do homem que vai agir no seu ambiente a fim de alcançar objectivos e que será actor da sua evolução pessoal ou da mudança do seu ambiente. Esta posição distancia-nos de uma concepção fatalista (é o destino que decide) e precisa também de um ambiente suficientemente estável para poder imaginar o futuro. Constatamos que se torna muito difícil fazer projectos em caso de doença, conflitos ou de guerra. Desenvolver uma abordagem a partir do projecto personalizado numa estrutura que acolhe, por exemplo, crianças, modifica totalmente a concepção da ajuda: Já não é a criança que se vai adaptar ao sistema institucional, mas é antes a instituição que vai disponibilizar à criança meios e actividades para favorecer o seu desenvolvimento. Assim, implementar uma iniciativa de projecto personalizado 17. Cf. Caixa de ferramentas 37 Guia prático O quadro abaixo relembra as diferentes articulações do processo de avaliação e alguns conselhos a seguir para a colocação em prática, com a participação central da própria pessoa. numa estrutura origina um questionamento sobre o projecto institucional e, muitas vezes, é interessante poder conduzir um e outro simultaneamente. Noções de base sobre o projecto em geral: ciclo de projecto O ciclo de projecto é um conceito comum aos actores da intervenção social (ou humanitária) e da ajuda ao desenvolvimento. A primeira fase após a constatação da situação é a avaliação inicial. As acções seguem o ciclo para voltar ao ponto de partida. Quando se chega a essa fase, a avaliação inicial torna-se sinónimo de seguimento. Le Ciclo de Projecto Annie, Situation donnée je n’arrive pas à lire la trad portugaise dans le Suivi fichier word.Évaluer Avaliação inicial Analyse Vévifier les suppositions Planifier, concevoir Nouvelle conception Mise en œuvre Processus itératif Avaliação inicial A fase da avaliação inicial corresponde à recolha de informações sobre uma situação. Pode ocorrer a qualquer momento (situação de crise ou não) e permite uma visão da situação. As avaliações iniciais produzem uma “fotografia instantânea” de uma situação particular, num determinado momento. Análise A avaliação inicial, sem a análise, não tem qualquer sentido. A análise atribui um significado aos dados recolhidos. Se for bem feita, oferece àqueles que conduzem as acções ferramentas de compreensão da situação na sua complexidade a fim de ajudar a tomar decisões pertinentes e adaptadas. Concepção de projectos Os dados da avaliação inicial são utilizados para preparar uma análise objectiva dos problemas que as populações em questão enfrentam. Uma vez identificados os problemas, pode-se entrar na planificação de projectos e programas que visam resolvê-los. Seguimento e avaliação O seguimento e a avaliação permitem uma recolha de informações a fim de melhorar os projectos em curso. Este tipo de actividade inscreve-se num processo contínuo de reavaliação das necessidades e proporciona a oportunidade de responder a situações de crise. O seguimento, assegurado pelo pessoal do projecto, procura determinar se o trabalho que consiste em ajudar as pessoas está bem feito, permite o estudo de actividades, do contexto e do impacto do projecto. No que diz respeito à avaliação, é uma actividade do projecto que não é assegurada apenas pelo pessoal do projecto. Pode ocorrer a meio do projecto ou no fim, ou alguns anos após o final do projecto. Tenta determinar se o trabalho realizado corresponde ao que era necessário. Tanto o seguimento como a avaliação são actividades importantes para saber se os objectivos são pertinentes, realistas/realizáveis e se os meios e as actividades implementadas estão adaptados. 38 Porquê um projecto? Para definir um objectivo comum a atingir. Baseando-se na lista de necessidades, na análise global e pluridisciplinar da situação, bem como na(s) solicitação(ões) do utente, o referente social propõe eixos de trabalho e constrói as bases de um projecto personalizado que ele aprofunda e ajusta com a pessoa. As respostas devem permanecer associadas às expectativas e necessidades da pessoa e ser formuladas em objectivos precisos e realizáveis. Não se trata de considerar o acompanhamento social personalizado como um meio de definir objectivos exaustivos para a realização de um projecto personalizado, mas antes evidenciar convergências e acordos quanto às orientações a dar para um objectivo geral. Um objectivo de projecto personalizado deve ser preciso (sem ambiguidade e com uma única finalidade), mensurável (baseado em factos concretos que dêem indicações sobre a distância a percorrer); deve ser realista e aplicável. Não se pode falar, por exemplo, de projectos de formação se não existir no território onde nos encontramos estruturas capacitadas para a formação profissional ou se não implementarmos os meios necessários ao acesso a esse serviço. O objectivo deve estar associado à noção de tempo, ou seja, deve poder ser realizável em função dos prazos estabelecidos. Por fim, deve zelar pelo respeito dos indivíduos e não os atacar, e não deve evidentemente reprovar uma moral ou dar azo a sofrimento. Em função das temáticas escolhidas, pode-se construir famílias de objectivos. Para a saúde, pode-se mencionar o acesso à reeducação, a equipamentos ou à implementação de consultas de psicologia. Para a inserção profissional, registaremos, por exemplo, a realização de um curriculum vitae, a preparação para uma formação ou ainda para uma entrevista com um empregador. Os objectivos estabelecidos são definidos por meio do cruzamento entre as análises da fase de avaliação (da etapa de diagnóstico/avaliação global) e os meios identificados para os alcançar. Conselhos práticos • Um projecto personalizado inscreve-se no projecto de vida de uma pessoa. Será seguido por outros projectos personalizados, que exigirão ou não um acompanhamento social. • É importante começar por definir um objectivo principal, para determinar a distância entre o ponto de partida e aquele que queremos atingir. • É bom ter ambições modestas e assegurar-se de que o participante informa regularmente a sua família, as pessoas das suas relações e os outros parceiros da situação. • É nessa fase de construção do projecto personalizado que a dimensão contextual adquire todo o seu sentido. Examinar juntamente com a pessoa as forças e os actores em presença facilita a definição das acções a realizar e os recursos necessários para essa abordagem. • Trabalhar em rede e parcerias vai permitir recordar o papel e a responsabilidade de cada um no projecto personalizado. • Durante a negociação, o referente social deve ter em mente o seu quadro de trabalho, aquilo que pode fazer e aquilo que não pode fazer (os “serviços” propostos e os seus respectivos limites). • Um acompanhamento personalizado proposto para uma duração de seis meses focaliza-se em geral numa temática ou em duas, no máximo. 39 Guia prático Como fazer um projecto? • Resumo das necessidades e expectativas da pessoa e expressão das respostas possíveis no contexto; • Definição das etapas do projecto personalizado e dos meios necessários para a sua realização; • Identificação dos parceiros envolvidos; • Validação do quadro do acompanhamento. • É importante permanecer num princípio de realidade, ou seja, encontrar um equilíbrio entre desejo e necessidade, realista e utópico, e ter em conta as exigências do contexto e as consequências dos actos que se pretende levar a cabo. Os intervenientes no terreno exprimem-se… • Cécile de Ryckel, psicóloga, Secção Prevenção e Saúde, Handicap International “Falar com delicadeza e, sobretudo, trabalhar com a pessoa pois essa aplicação do quadro é delicada para os dois actores: o acompanhado que se arrisca a sentir-se desapontado, manifestar agressividade, e o interveniente que deve gerir as manifestações emocionais da pessoa e correr o risco de ser rejeitado e desvalorizado aos olhos da pessoa que ele acompanha. A relação de confiança entre as duas pessoas dependerá em parte desta última aplicação do quadro.” Etapa 4: Definição do plano de acção Porquê? Para planear as actividades do projecto personalizado. Para cada uma das possibilidades de respostas negociadas com o interessado, trata-se agora de determinar o objectivo específico visado, o tempo e os meios para o alcançar. Como? • Lista das etapas, acções e meios • Programação das actividades a realizar • Definição da duração do acompanhamento Cada objectivo específico deve ser dividido em acções e actividades correspondentes. Eis o exemplo de um plano de acção no âmbito de um projecto personalizado de uma criança que deseja fazer desporto: Objectivo específico Acções Actividades Realizar um plano individual de readaptação • Mandar fazer um diagnóstico médico • Participar em sessões de readaptação • Definir os desportos praticáveis (entre desejo e capacidades) Praticar um desporto Escolher o desporto • Encontrar as equipas existentes • Trocar ideias sobre a situação de impedimento para “desdramatizar” • Participar em treinos Verificar as condições de participação • Avaliar os custos e a logística necessários • Identificar, com a sua família, as deslocações para o local onde vai ser praticado 40 Conselhos práticos • A maior parte das acções e actividades devem ser realizáveis pela própria pessoa, com o apoio do seu meio, do referente social ou dos profissionais envolvidos, se necessário. A pessoa é dona e senhora do seu projecto personalizado. • Cada actividade deverá ter um plano de acção, mesmo tendo que o reavaliar, se necessário. O participante tem necessidade de pontos de referência temporais para se motivar, avançar e avaliar as mudanças e, sobretudo, para não se sentir “abandonado” no final do acompanhamento. Etapa 5: Contratualização Porquê? Para formalizar um compromisso recíproco pela validação de um contrato oral ou escrito. Conselhos práticos • Acompanhar pressupõe, evidentemente, o acordo da pessoa. O contrato é a manifestação dessa adesão. A vontade demonstrada pelo indivíduo implica a sua real participação. • O contrato instaura uma dimensão de igualdade, evitando, por conseguinte, cair no domínio da protecção/caridade. “Seguimos os dois o mesmo caminho.” • O contrato não deverá ser um travão à participação da pessoa. A forma deste contrato deve, pois, adaptar-se ao contexto no qual é proposto. Pode ser validado oralmente se a cultura da oralidade for mais desenvolvida do que a da escrita ou se a escrita “assustar”. O essencial é que essa contratualização se realize num espaço e num tempo formalizado. Etapa 6: Arranque e seguimento do projecto Porquê? Para apoiar a pessoa na realização do seu projecto personalizado. Como? • Aconselhamento e apoio à pessoa nas suas actividades. • Intercâmbio de ideias com os parceiros envolvidos (social, médico, educativo, administrativo, outros profissionais…) e dinamização dessa rede. O referente social exerce uma função de coordenação e de seguimento das diferentes etapas do projecto, regista a evolução da pessoa nas suas iniciativas, ajuda-a a fazer os reajustes necessários, fornece explicações, faz observações. Tem em consideração as opiniões da família e do ambiente, consulta regularmente os outros profissionais e actores envolvidos no projecto. De forma mais geral, 41 Guia prático Como? • Denominação das pessoas evolvidas; • Objecto do contrato, âmbito no qual se inscreve e duração; • Pormenores dos objectivos, das acções e das actividades; • Direitos e deveres de cada um; • Possíveis condições de cessação. quando a pessoa não se pode exprimir directamente, é o “ajuda-voz” (e não o “porta-voz”) da pessoa, o representante dos seus interesses. Por fim, mantém-se alerta perante acções irrealistas, repercussões nefastas ou desequilíbrios gerados. Para isso, pode propor reuniões com os parceiros, por exemplo, com um médico se for uma questão de saúde, com um professor ou um empregador se se tratar da dimensão escolar ou profissional. Conselhos práticos • É nessa altura que a postura do referente social18 adquire todo o seu sentido e participa na autonomização e na realização do projecto personalizado. É, por conseguinte, primordial, enquanto referente social, questionar-se regularmente sobre a sua prática, a fim de assegurar um acompanhamento de qualidade e alcançar os objectivos implícitos, mas permanentes, do referente social (capacidade para encorajar e acompanhar a emancipação social do participante). • Atenção para não gerar uma dependência da pessoa ao referente social e/ou ao acompanhamento. • A autonomia da pessoa passa também pela capacidade do referente social em abrir a relação a terceiros, concebendo, assim, o acompanhamento de forma colectiva. Não se trata de renunciar ao encontro dual, mas sim re-situá-lo num contexto mais amplo que confira um lugar legítimo aos parceiros para responder melhor às necessidades, às possibilidades e às responsabilidades de cada um, profissionais ou não. Etapa 7: Os balanços intermédios Porquê? Para verificar a pertinência do projecto personalizado. Como? • Medição regular das disparidades entre os objectivos de partida e os objectivos alcançados. • Reajustamento do plano de acção para a realização do projecto personalizado em curso. • Revisão da viabilidade do projecto em curso podendo conduzir à sua cessação ou à negociação de um novo projecto. Avaliar regular e progressivamente o desenrolar do acompanhamento social personalizado e o seu conteúdo permite à pessoa em questão e ao referente social fazer o ponto da situação das temáticas tratadas, a distância percorrida, as capacidades melhoradas, as competências desenvolvidas e os limites identificados que precisam de uma revisão da situação. Esta avaliação intermédia é feita, idealmente, uma vez por mês, por vezes uma vez em cada dois meses. Realiza-se com base numa ou várias entrevistas no decorrer das quais o contrato de objectivos é relido e comentado pelos dois, em função das acções identificadas e das diferentes actividades que lhes estão associadas. O referente social pode desenvolver um dossiê personalizado que registará as datas das entrevistas, os seus conteúdos, as recomendações e compromissos de cada um. O conjunto fará parte do documento de síntese do acompanhamento. 18. Cf. anexos “Ferramentas para a finalização do acompanhamento” 42 Conselhos práticos • A avaliação intermédia dos resultados deverá ser feita em função dos elementos de evolução concretos (incluindo igualmente as evoluções de comportamento) e não em função de um objectivo geral a atingir (uma inserção efectiva, por exemplo). • Trata-se, por conseguinte, de avaliar as acções realizadas pela pessoa em função das suas necessidades e daquilo que ela é capaz de resolver, mais do que em função dos problemas que ela encontra. • É razoável aconselhar a pessoa a ter um “diário de bordo” onde poderá anotar os seus comentários, as suas observações e reflexões. Este diário pode ser mantido por uma pessoa próxima ou pelo próprio referente se a pessoa não conseguir escrever. • Quanto mais a pessoa avançar no seu projecto e na sua autonomização, menos o referente social terá necessidade de estar presente. Os tempos de intercâmbio entre estes dois protagonistas poderiam resumir-se aos tempos de avaliação intercalar, sendo o conjunto das actividades do projecto personalizado realizado de forma autónoma pela própria pessoa, sem a presença do referente. Etapa 8: A finalização do acompanhamento Porquê? Para proceder ao balanço do acompanhamento e propor um seguimento a dar, se for necessário. O tempo do acompanhamento inscreve-se numa duração limitada que deve ser especificada desde a partida e também relembrada as vezes necessárias. Se for necessário, pode-se negociar um novo projecto mas este será avaliado caso a caso, em função dos resultados obtidos e da sua pertinência. Conselhos práticos • É muito importante que a pessoa acompanhada possa ter em sua posse uma síntese de todo o seu percurso e das actividades realizadas. Esta síntese é, frequentemente, o único documento que testemunha o investimento e a evolução da pessoa no seu projecto. Deverá retomar o conjunto dos documentos e elementos discutidos aquando do acompanhamento (diagnósticos, plano de acção, contrato, avaliações intermédias….). É uma óptima ferramenta de reconhecimento pessoal, mesmo se o conjunto dos elementos contidos nesse documento não forem todos positivos. Deverá apresentar os êxitos e as dificuldades, em conjunto com a pessoa acompanhada19. • Recordar regularmente a data-limite, sem pressão, para valorizar o caminho percorrido e o que falta percorrer neste determinado período de tempo (que, claro, poderá ser reavaliado nomeadamente se motivos alheios à pessoa o impuserem). • Identificar, o mais cedo possível, os parceiros para os quais se poderá eventualmente orientar a pessoa ou, a pedido do participante, transferir as competências no final do projecto personalizado. • A avaliação do impacto a três ou seis meses (consoante as realidades do terreno) é necessária para medir a qualidade do projecto realizado, mas ela não deve ser contabilizada no tempo do acompanhamento social personalizado, deverá, com efeito, ser efectuada no final do processo do acompanhamento. 19. Cf annexes « outils pour la finalisation de l’accompagnement » 43 Guia prático Como? • Medição entre os objectivos fixados e os resultados obtidos. • Avaliação dos efeitos do acompanhamento na pessoa e no seu ambiente. • Negociação de um projecto de saída através de orientações e seguimentos possíveis, se necessário. • Avaliação do impacto da realização do projecto personalizado (cerca de seis meses). / Papel e postura do referente social na ABORDAGEM de acompanhamento Missões do referente social O referente social é simultaneamente um conselheiro, um informador, um coordenador, um gestor e um medidor. Ele recolhe informações, avalia necessidades, negocia, informa, sensibiliza e orienta a pessoa acompanhada, tendo em conta a opinião da sua família e do seu ambiente, e vigiando os seus comportamentos. Sempre que necessário, ele pede a opinião aos seus colegas de trabalho, a profissionais e parceiros externos implicados ou simplesmente envolvidos no projecto em função das diferentes temáticas do acompanhamento (médico, reeducador, conselheiro profissional, outro trabalhador social, empregador, director de escola, etc.). Participa na manutenção e no desenvolvimento das relações sociais, associa os níveis individuais, colectivos e comunitários, inicia redes com outros profissionais potencialmente parceiros ou participa nelas. Para reforçar o que foi dito no capítulo anterior sobre as características específicas e a metodologia de intervenção aplicadas a cada uma das etapas do acompanhamento social personalizado, eis um esquema, inspirado no trabalho de Jean-René Loubat20,� que regista as principais missões do referente social, em relação às etapas apresentadas mais acima: Entrevista com a pessoa em questão Entrevista com a família, com terceiros, eventualmente com o representante legal Entrevista com os outros profissionais e com os parceiros 1. Recolha de informações sobre a situação e as necessidades do interessado 2. Tratamento dessas informações (utilizá-las e organizá-las) 3. Apresentação das necessidades registadas aos outros profissionais que podem contribuir com a sua especialização (médica, social, profissional…) e propor soluções possíveis 4. Difusão da informação junto da pessoa em questão, da sua família e de outros parceiros, recolha da sua opinião, definição e negociação de um projecto personalizado 5. Seguimento da implementação do projecto personalizado (estar atento, estar à disposição da pessoa em questão e em contacto regular com os diferentes actores) 20. O papel de coordenador de projectos” - Jean-René Loubat – Fevereiro de 2006 44 A postura do referente social Acompanhar alguém significa dar-lhe meios para fazer sozinho e, sobretudo, não fazer por ele. Esta postura na relação de apoio repõe a pessoa acompanhada no centro da acção e coloca o acompanhamento social personalizado como um movimento. O acompanhamento deverá estar ao serviço da pessoa e não tornar-se o objectivo a alcançar, mas antes ser um meio possível para a evolução ou melhoria de uma situação. No interior deste intercâmbio, trata-se de uma relação humana, repleta de emoções, de momentos fortes, de relações interpessoais com tudo aquilo que isso comporta de dinâmico e desafiante (reconhecimento, confiança, poder, dependência, etc.). Estabelecer uma relação de acompanhamento social implica a consciencialização e a compreensão de fenómenos comunicacionais e comportamentais e de reacções psicológicas que devem ser identificadas e analisadas para evitar uma relação de dependência com uma conotação afectiva. Ao longo do acompanhamento social personalizado, o referente social deve sempre ter em mente o objectivo geral a atingir e verificar regularmente aquilo que, na relação com o participante, representa um obstáculo à realização desse objectivo. Ele é o único a poder fazer os reajustamentos necessários em caso de necessidade. O reajustamento profissional corresponde à análise e à evolução da prática. Diz respeito à forma como o referente social estabelece relações com os outros, conduz as entrevistas e avaliações sociais, e como são definidos os objectivos. Isto diz igualmente respeito à sua forma de apreender o sofrimento e as dificuldades do outro, perante as suas próprias vivências e as suas dificuldades. Esta análise e os ajustes que dela resultam permitem manter uma postura profissional e não cair no campo afectivo e caridoso que impede o distanciamento necessário para um acompanhamento eficaz. 45 Guia prático Os intervenientes no terreno exprimem-se… •Handicap International, Secção Prevenção e Saúde, Referente técnico de Saúde Mental “O acompanhamento baseia-se numa relação de empatia e não de simpatia. A empatia é a atitude mental que consiste em compreender as vivências de outra pessoa como ela a compreende – mas sem se identificar com o seu sofrimento. A simpatia reside nessa identificação.“ © Corentin Thevenet por Handicap International Idealmente, os trabalhadores sociais dos países do Norte reivindicam a necessidade de poder beneficiar de uma supervisão. Geralmente orientada por um psicólogo, a supervisão21 é o tempo proposto às equipas de acompanhamento social que lhes permite discutir livremente as suas dificuldades perante as suas missões de acompanhamento. Com efeito, a prática do acompanhamento social pode ser muito ansiógena para o referente social que se poderá sentir isolado, até impotente em certos casos, não podendo manter a sua postura profissional correctamente. Os tempos de supervisão destinamse, assim, a acompanhar o referente social na sua prática. Podem-se realizar individualmente ou em grupo. Neste segundo caso, trata-se de se basear nas experiências de cada um para animar o debate. É de realçar que estes tempos devem permanecer confidenciais para não haver efeitos operacionais directos. 21. Cf. “A supervisão de equipas em Trabalho Social”, Joseph Rouzel, Dunod, 2007 46 Parte 2. Guia prático do chefe de projecto / 2 OS PRÉ-REQUISITOS DO DESENVOLVIMENTO DE UM SERVIÇO DE ACOMPANHAMENTO A identificação destes pré-requisitos permite expor as finalidades a atingir e os valores nos quais nos baseamos para provocar a mudança. É igualmente e apenas após esta primeira fase que os serviços, os programas e as instituições podem definir de forma precisa os seus campos de acção e as suas modalidades de intervenção. Quem faz o quê? Como? Com quem e onde? - Esclarecer as instâncias (composição, objectivos, responsabilidades de cada um); - Definir os territórios geográficos das intervenções; - Nomear “referentes” e certificar-se do seu perfil (competências, “saber fazer”, limites…); - Formalizar tempos de concertação (no arranque, durante os balanços e perto do final do acompanhamento); - Coordenar os diferentes intervenientes em torno do utente (partilha do diagnóstico, definição de papéis). Qual é o resultado e o impacto? O que é que isso altera? O que é que se pretende avaliar no final do acompanhamento e/ou do projecto? - Impacto na autonomia e no acesso aos direitos dos participantes/utentes; - Impacto na realização de um projecto personalizado; - Impacto nas ofertas de inserção/serviços disponíveis localmente - Impacto nas práticas, nas colaborações, nas mudanças de representações. Nota: para a implementação de um acompanhamento social personalizado, é necessário ter conhecimentos prévios sobre: - A legislação local em matéria de acção social (nacional, desconcentrada ou descentralizada) e os modos de intervenção dos serviços públicos relativamente a esta temática; - O território de intervenção; - As estruturas e os serviços, privados e/ou associativos que operam no campo do social, o seu posicionamento e as acções concretas que desenvolvem a nível local, departamental, regional e nacional; - O conjunto dos actores em presença no território em questão; - O conhecimento e as representações sociais destes actores perante as pessoas deficientes. 47 Guia prático Questões que nos devemos colocar antes de desenvolvermos um serviço de acompanhamento Porquê um dispositivo de acompanhamento? Com que fim? O que é que se pretende modificar, transformar? Estas questões relembram o lugar e o papel de cada um (do referente social e do participante) e questionam quanto ao sentido e à postura da relação estabelecida. Os pré-requisitos da implementação de qualquer projecto de acompanhamento dizem igualmente respeito, quando existem, à identificação e às parcerias possíveis com os colectivos, reagrupamentos, federações, instituições, estabelecimentos e serviços públicos, associativos ou privados. São, então, considerados como parceiros potenciais para a realização do projecto personalizado ou de espaços pluridisciplinares para os quais se pode orientar ou transferir certas competências ou responsabilidades. / IMPLEMENTAÇÃO DO DISPOSITIVO: conselhos práticos para o terreno Uma vez feita a identificação do público-alvo e dos actores, o contexto apreendido e as inter-relações descodificadas, é possível considerar a implementação do dispositivo social. A natureza deste dispositivo dependerá do nível de desenvolvimento de serviços existentes na zona de intervenção, da mobilização das populações, do acesso à informação e das necessidades expressas. Quando vários recursos existem, mas as populações não os conhecem, pode ser utilizado um dispositivo “de escuta, informação e orientação”. Este tipo de dispositivo só responde a uma necessidade pontual expressa por uma pessoa. Em contrapartida, quando as pessoas solicitam um acompanhamento social personalizado, será necessário um dispositivo específico, que poderá eventualmente integrar um serviço de informação/orientação. No âmbito de um dispositivo de acompanhamento social personalizado, quanto mais serviços/ actores existirem, mais projectos personalizados poderão ser adaptados às necessidades e aos desejos da pessoa acompanhada. Se existirem muito poucos serviços/actores, os objectivos do projecto personalizado centrar-se-ão mais na participação da pessoa vulnerável, em particular para as pessoas deficientes, na sua família e comunidade. Desenvolver uma base de dados e/ou um repertório/anuário dos actores territoriais favorece o realismo e a pertinência do projecto personalizado no território dado e permite trabalhar através das redes destes actores22. 22. Cf. “Guia prático para apoio à implementação de um Centro Local de Informação e Orientação” (CLIO): Modelização de uma experiência de CLIO em Salé (Marrocos), Eric Plantier-Royon, RT “Cidade e Deficiência”, Handicap International, 2007 48 Exemplo de uma base de dados “Serviços” (cf. Guia CLIO) Escola Primária Abdel Moumen El Mouahidi Identificação Responsável ou Pessoa de contacto: Nome da estrutura Escola Primária Abdel Moumen El Mouahidi Endereço Hay Karima Tel./Fax/E-mail/Sítio Web 062.03.54.87 Missão e objectivo da estrutura Integração escolar das crianças deficientes Actividades/Serviços Organização das actividades paraescolares: visitas temáticas Serviços: 14 crianças Regime: Actividades Capacidade de acolhimento: Sr. Chadi Classe integrada Externo Público-alvo Dos 6 aos 14 anos Sexo: Todos Tipo de deficiência: Deficiência auditiva Recursos humanos Acesso aos serviços Condições de acesso: Acesso gratuito. «Despesas de escolaridade» Tarifação e modalidades: Atestado médico Horários : Das 08h30 às 16h30 Tipo de profissionais: Professores. Professor do ensino especial. Auxiliares da acção educativa. Especialidades e domínios de competência Professor do ensino especial. Conselho prático: • A presença de um CLIO (Centro Local de Informação e Orientação) favorece fortemente a implementação eficaz de um serviço/dispositivo de acompanhamento, permitindo ter um conhecimento dos actores no terreno e do público-alvo. Quando um novo serviço é implementado, é importante considerar de que forma as pessoas serão informadas e como terão acesso a ele. Pretende-se que o acompanhamento seja uma iniciativa participativa, que preconiza a pro-actividade, a motivação e o empenho recíproco do acompanhante, mas também, e sobretudo, da pessoa acompanhada. Neste sentido, é, por conseguinte, possível favorecer a pessoa na pesquisa de informação e ir ela própria ao encontro do dispositivo de acompanhamento, como pré-requisito da abordagem de acompanhamento. Paralelamente ao dispositivo, poderão ser implementadas sessões de informação e retransmissões/gabinetes de proximidade que facilitarão o acesso ao dispositivo de acompanhamento. Consoante o contexto, uma iniciativa desse tipo poderá funcionar muito bem para as pessoas com necessidade de “informação/orientação”, mas não necessariamente para as mais vulneráveis, com uma necessidade real de acompanhamento social. Neste caso, é, portanto, possível contemplar a presença de agentes comunitários, oferecendo informação (identificação) de proximidade às pessoas mais isoladas e guiando-as em direcção ao dispositivo de acompanhamento. Por fim, quando as percepções locais da deficiência não são favoráveis à iniciativa de autonomização, é essencial realizar conjuntamente sessões de sensibilização para a situação das pessoas com deficiência a nível das comunidades, a fim de responsabilizar o conjunto dos actores locais e promover uma mudança real perante a deficiência. 49 Guia prático Idade: É importante medir, não só aquando da planificação, mas também ao longo da implementação de um dispositivo, os seguintes critérios de avaliação: Critérios relacionados com os actores locais: © N. Moindrot / Handicap International • Estruturas locais estatais e/ou associativas e/ou privadas presentes no território; análise dos actores23 ; comparação desta análise a montante do projecto (como preliminar) com a realizada a jusante; • Evolução das capacidades dos actores para acolher as pessoas com deficiência; • Sensibilização dos profissionais envolvidos no acompanhamento social personalizado; • Meios e tempo de mobilização; • Papel/amplitude da inserção social das pessoas com deficiência no território; • Existência de referentes sociais ou de pessoas que desempenham essa função; • Existência a nível local de espaços de intercâmbio, de reflexão ou de tomada de decisão relativamente à temática da deficiência e da inserção. Critérios relativos ao utente: • Número de projectos personalizados realizados; • Inquérito de satisfação: opinião dos utentes; • Iniciativa participativa: pessoa associada às etapas do acompanhamento. Critérios relativos aos parceiros exteriores: • Parceiros implicados ou associados aos projectos personalizados existentes; • Frequência dos encontros entre eles; • Função do dispositivo nesses encontros; • Mecanismos de coordenação, de ligação entre os parceiros. / PERFIL E SEGUIMENTO DO INTERVENIENTE SOCIAL As missões do interveniente social baseiam-se num conjunto de características de “saber ser” (competências / aptidões humanas e relacionais) e de “saber fazer” (competências técnicas). Eis um exemplo de perfil de posto que pode facilitar o recrutamento dos intervenientes ou referentes sociais. 23. Cf. “Reforço das capacidades e relação de parceria: desafios, modalistas, ferramentas”, Stefanie Ziegler, RT “Parceria”, Handicap International, 2007 50 PERFIL DE POSTO DO INTERVENIENTE SOCIAL DEFINIÇÃO DO POSTO DE TRABALHO O interveniente social assegura a prevenção e o tratamento de problemas individuais e comunitários, pessoais ou colectivos por meio de acções de escuta, de ajuda, de seguimento e de aconselhamento aos indivíduos e grupos. No âmbito do seu papel social, ele estabelece as mediações necessárias entre as pessoas e os grupos e o seu ambiente pessoal, bem como com as instituições ou parceiros envolvidos. COMPETÊNCIAS TÉCNICAS E “SABER FAZER” (ser capaz de) • Conduzir entrevistas a título individual e/ou colectivo (domínio das técnicas de entrevista); • Identificar as disparidades, as disfunções e os obstáculos; • Realizar um diagnóstico social; • Co-construir um projecto personalizado, baseado na procura e na realização do diagnóstico da situação; • Criar uma relação profissional de confiança e de responsabilização individual; • Coordenar e trabalhar em equipa para um projecto em comum; • Animar reuniões e assegurar a realização das acções. SABER SER (aptidões) • Tolerante e respeitador; • Discreto; • Saber ouvir atentamente; • Abordagem mais empática do que simpática24; • Rigoroso/flexível: socialmente adaptável/adaptado; • Disponível; • Ter uma abordagem humanista; • Racional, basear-se num princípio de realidade. CONHECIMENTOS ASSOCIADOS • Conhecimentos em psicologia e sociologia (funcionamento psicológico humano, relações entre grupos sociais…); • Conhecimento antropológico do país e grupo-alvo (história, cultura, tradições, crenças…); • Conhecimento das particularidades do público-alvo (Para HI, conhecimento das ferramentas adaptadas às pessoas com deficiência…); • Conhecimento dos diferentes dispositivos de ajuda e de responsabilização do público-alvo; • Conhecimento dos actores e serviços territoriais e nacionais (quem? o quê? como? onde?); • Conhecimento da legislação nacional e internacional, adaptada ao público-alvo. 24. Cf. encarte p. 46 51 Guia prático ACTIVIDADES ESSENCIAIS • Informar sobre os dispositivos, direitos e serviços existentes; • Encontrar as pessoas para analisar em conjunto com elas a sua situação, estabelecer um balanço geral da sua situação social, pessoal e profissional; • Procurar através de todos os meios adaptados (individuais e/ou colectivos) os elementos de solução para as questões/problemas colocados; • Realizar acções de seguimento junto das pessoas e avaliar com elas a evolução da sua situação; • Encorajar a autonomização da pessoa; • Animar/participar em acções de sensibilização ou de formação nas problemáticas sociais individuais e/ou comunitárias; • Assegurar a mediação com o ambiente (famílias, comunidades, outros serviços…). De realçar que as competências técnicas e relacionais mencionadas não são exaustivas e que se adquirem e aperfeiçoam com o tempo e a experiência. Elas são o fruto da aprendizagem do interveniente social, construída pela sua prática de terreno e por reajustamentos25 constantemente feitos em função das situações, dos contextos e das particularidades de cada história de vida, de cada indivíduo. Conselhos práticos: • Após diversas missões de apoio às equipas de intervenientes sociais da Handicap International, é evidente que estes têm falta de tempo para intercâmbio de ideias e “descompressão”, que, muitas vezes, só são propostas após crises pontuais. É importante, para um melhor posicionamento profissional e pessoal, considerar tempos de supervisão desde o início do projecto/serviço de acompanhamento social. • Esta actividade é idealmente orientada por um psicólogo externo ao projecto/serviço, ou, na sua falta, pelo responsável de equipa. Neste caso, falamos antes de tempos de intercâmbio de práticas. • Verificar a formação26 e as competências dos referentes sociais, em relação com o públicoalvo, e completá-la por meio de intercâmbios de práticas e de supervisão, sob a forma de, por exemplo, estudos de casos práticos. 25. La notion de réajustement professionnel est détaillée dans le Guia prático de l’intervenant social, sous la rubrique « Rôle et posture de l’intervenant social » 26. Nous avons fait le choix de ne pas traiter en détail ici la question de la formation des référents sociaux, pourtant centrale, afin de ne pas alourdir le document. Un module sur la formation de référents sociaux, basé sur ce guide, sera disponible en 2010 52 Parte Conjunto de ferramentas / Etapa 1: Estabelecimento de contactos 3 -- - - - - - - página 54 / Etapa 2: Diagnóstico social -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - página 55 / Etapa 3 e 4: Negociação do projecto e plano de acção - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - página 69 / Etapa 5: Contratualização -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - página 71 / Etapa 6: Arranque e seguimento do projecto / Etapa 7: Avaliação / balanço intermédio -- - página 73 -- - - - - - - página 74 / Etapa 8: Finalização do acompanhamento - - - - - página 75 As ferramentas apresentadas provêm, na sua maioria, de projectos desenvolvidos pelas equipas da Handicap International e respectivos parceiros em numerosos países. Apresentamos aqui um número reduzido de ferramentas para ilustrar as diferentes etapas do acompanhamento social personalizado. As ferramentas apresentadas foram desenvolvidas em função de contextos particulares. Devem, por conseguinte, estar adaptadas às necessidades e às realidades do seu terreno, tendo em consideração as suas especificidades culturais, políticas, sociais e económicas. Por fim, queira consultar o CD-Rom que acompanha este guia para uma panorâmica exaustiva das ferramentas produzidas pelas diferentes equipas da Handicap International. 53 Parte Etapa 1: estabelecimento de contactos 3 Ficha de acolhimento (exemplo HI, programa França, ICOM) Fotografia Data: Recebido por: Acolhimento do participante Identidade Nome próprio: ______________________________________________________________________ Apelidos: ___________________________________________________________________________ Morada: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ Telefone: ____________________________ Data de nascimento: _____________________ Local de residência: Família Lar Apartamento autónomo Outro: _____________ Local de actividade de dia: ___________________________________________________________ Nome do representante (responsável) legal: ____________________________________________ Pais (especificar o grau de parentesco se não for o pai ou a mãe Tutores Estabelecimentos Morada: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ Objecto do pedido: __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 54 Parte Etapa 2: diagnóstico social 3 O “Processo de Produção da Deficiência» apresentado neste guia é um modelo que propõe a análise de situações de participação ou de exclusão social. Este modelo pode ser adaptado à situação de cada indivíduo elaborando um questionário que permita a recolha e análise de informações sobre os hábitos de vida, os factores pessoais e ambientais. Hábitos de vida identificados pelo PPD Hábitos de vida Nutrição Condição corporal Cuidados pessoais Comunicação Habitação Deslocações Responsabilidades Relações interpessoais Vida comunitária Educação Trabalho Lazer Outros hábitos Pormenores Regime alimentar, confecção dos alimentos, realização das refeições Descanso, condição física, condição mental Cuidados corporais, higiene excretória, vestuário, cuidados de saúde Comunicação oral e corporal, comunicação escrita, telecomunicação, sinalização Escolha e adaptação da residência, manutenção da casa, utilização de mobiliário e outros equipamentos domésticos Deslocações condicionadas, transportes Responsabilidades financeiras, responsabilidades civis, responsabilidades familiares Relações sexuais, afectivas e sociais Vida associativa, vida espiritual e religiosa Educação pré-escolar, escolar, profissional, outras aprendizagens Orientação profissional, procura de um emprego, ocupação remunerada, ocupação não remunerada Desportos e jogos, artes e cultura, actividades sócio-recreativas Os que não podem ser classificados nas categorias anteriores O sistema orgânico 1- Sistema nervoso 2- Sistema auditivo 3- Sistema ocular 4- Sistema digestivo 5- Sistema respiratório 6- Sistema cardiovascular 7- Sistema hematopoiético e imunitário 8- Sistema urinário 9- Sistema endócrino 10- Sistema reprodutor 11- Sistema cutâneo 12- Sistema muscular 13- Sistema esquelético 14- Morfologia As aptidões 1- Aptidões relacionadas com actividades intelectuais 2- Aptidões relacionadas com a linguagem 3- Aptidões relacionadas com os comportamentos 4- Aptidões relacionadas com os sentidos e a percepção 5- Aptidões relacionadas com actividades motoras 6- Aptidões relacionadas com a respiração 7- Aptidões relacionadas com a digestão 8- Aptidões relacionadas com a excreção 9- Aptidões relacionadas com a reprodução 10- Aptidões relacionadas com a protecção e assistência Factores ambientais Factores sociais Factores físicos Factores político-económicos (exemplo: rendimento familiar, protecção social, etc.) Natureza (exemplo: lojas do bairro, etc.) Factores socioculturais (exemplo: auxiliar natural, atitude da comunidade perante a deficiência, etc.) Adaptações (exemplo: acessibilidade de infra-estruturas, etc.) 55 Caixa de ferramentas Factores pessoais O esquema apresentado abaixo pode servir para uma recolha de informações sobre o conjunto de factores e hábitos de vida de uma pessoa, após o estabelecimento de contactos e com o objectivo de estabelecer um retrato global aquando de um questionário inicial. Também pode ser utilizada aquando do processo relativo a um hábito de vida que se inscreve no projecto personalizado da pessoa, a fim de permitir uma análise mais específica dos factores associados. Exemplo 1, recolha de dados / análise, segundo o modelo do PPD (exemplo retirado de uma formação organizada pelo GIFFOCH) Factores ambientais environnementaux Causa / riscos Factores pessoais Hábito(s) de vida / actividade da vida quotidiana Não esquecer de anexar informações sobre a identifidade da pessoa e sobre o contexto onde ela se insere: Nome próprio:___________________________ Apelidos:_ ________________________________ Coordenadas: _ _________________________ Idade:____________________________________ Situação familiar:________________________ Número de filhos a cargo:__________________ Profissão:_______________________________ Educação:________________________________ Rendimentos profissionais:_ ______________ Outros rendimentos:_ ______________________ 56 Eis outro exemplo de recolha de dados baseada no modelo do Processo de Produção do impedimento: Exemplo 2, ficha individual / recolha de dados inicial (exemplo HI, programa Indonésia) DATA: ____________________________ Nome do agente comunitário deficiência / agente social:________________________________ LOCAL DA ENTREVISTA: em casa no Centro Social _____________________________ outro _ _________________________________________________ DADOS PESSOAIS NOME PRÓPRIO: _________________________ APELIDOS: ______________________________ IDADE: _______________________ SEXO: ____________________ NOME DOS PAIS (se for menor de 16 anos):___________________________________________ ESTADO CIVIL (casado, viúvo, solteiro):_ ______________________________________________ MORADA: _________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ CONTACTO (telefone ou outro): ______________________________________________________ SAÚDE Historial médico (hospitalizações, complicações à nascença, acidente, fracturas, tratamentos, problemas de saúde passados e presentes, etc.): ______________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Deficiência física SIM NÃO Descrição (deformação congénita da perna esquerda, etc.): ____________________________ Deficiência sensorial SIM NÃO Descrição (surdez, deficiência visual, etc.): ___________________________________________ _________________________________________________________________________________ Deficiência intelectual SIM NÃO Descrição: _ ______________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Perturbação psiquiátrica SIM NÃO Descrição: _ ______________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 57 Caixa de ferramentas AMBIENTE SOCIAL Pessoas que vivem na casa (irmãos, pais, outros) e parentesco: _________________________ __________________________________________________________________________________ Principal auxiliar natural (especifique): _ _______________________________________________ __________________________________________________________________________________ Relações com vizinhos / amigos / membros da comunidade: ____________________________ ECONÓMICO Principal fonte de rendimentos (quem e que actividade): ________________________________ __________________________________________________________________________________ Acesso a um sistema de protecção social: SIM NÃO Outro: _ ___________________________________________________________________________ Estatuto económico: Pobreza Moderado Confortável FÍSICO Descrição do local onde vive (casa sobre estacas, etc.): _ _______________________________ __________________________________________________________________________________ Acesso da comunidade ao local onde vive (caminho de cimento, ponte em bambu, etc.): ___ __________________________________________________________________________________ Presença de escadas/degraus no interior e exterior do meio de vida: SIM; onde? ________________________________ NÃO Material do soalho: _________________________________________________________________ Localização do local onde vive em relação à aldeia, à comunidade: ______________________ Proximidade de serviços e espaços públicos (centro de saúde, escola, mesquita, centro de lazer, etc.):_________________________________________________________________________ OCUPAÇÃO EDUCAÇÃO Nível de educação, estudos/formações em curso: _____________________________________ A pessoa frequenta a escola? SIM NÃO Pormenores: (nome da escola, nível, razão pela qual não frequenta, etc.): CULTURA, DESPORTO, LAZER Descrição das actividades recreativas e sociais da pessoa: _ ____________________________ A pessoa está satisfeita com estas actividades? SIM NÃO Pormenores: _______________________________________________________________________ 58 ACTIVIDADES PROFISSIONAL E ECONÓMICA A pessoa trabalha? SIM NÃO Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Histórico de emprego: ______________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ A pessoa frequentou cursos? SIM NÃO Outras aptidões: ___________________________________________________________________ Interesses:_________________________________________________________________________ ACTIVIDADES DA VIDA QUOTIDIANA MOBILIDADE • Deslocar-se no interior Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Se não consegue caminhar: transportado por outra pessoa utiliza ajuda técnica Rampa ou outro • Ir à casa-de-banho Com ajuda Autónomo Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • Ir à cozinha Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • r à sala Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • Ir para o quarto Autónomo Com ajuda Ajuda total __________________________________________________________________________________ • Deslocar-se no exterior Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Se incapaz de caminharr : transportado por outra pessoa utiliza ajuda técnica Rampa ou outro Meio de transporte: _ _______________________________________________________________ Locais na comunidade que não lhe são acessíveis: _____________________________________ __________________________________________________________________________________ Pedido: ___________________________________________________________________________ 59 Caixa de ferramentas Pormenores: _______________________________________________________________________ CUIDADOS PESSOAIS • utilizar a casa-de-banho Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • lavar-se Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • vestir-se Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • comer/beber Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ TAREFAS DOMÉSTICAS • preparação de refeições Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • Manutenção da casa Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • Lavagem da roupa Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ • Lavagem da loiça Autónomo Com ajuda Ajuda total Pormenores: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ *** Expectativas / objectivos da pessoa: _________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Outros comentários / observações:___________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 60 Outros tipos de questionários permitem projectar, desde a recolha de dados, estratégias que podem servir para a elaboração do projecto personalizado, conforme ilustra o seguinte extracto: Exemplo 3, ficha individual / recolha de dados inicial (exemplo HI, programa Nepal, extracto de questionário) Nome da organização: __________________ Nome do interveniente social:________________________ Distrito: ________________________ Data de avaliação:_________________________________________ Proveniência da pessoa / referências: _ ______________________________________________________ 1. Informação geral _________________________________________________________________________________________ 1.1. Nome da pessoa:____________________________ Idade: ________ Sexo: F M 1.2. Estado civil: asado solteiro número de filhos: 1.3. Nome do pai/mãe/responsável: _____________ Relação com a PD: _______ Ocupação:_ ________ 1.4. Nome do auxiliar principal: _____________ Relação com a PD: _______ Ocupação: _____________ 1.5. Morada:_______________________________________________________________________________ Distrito: ________________________ Localidade:________________________________________________ Rua: ________________________ Número: __________________ Telefone / contacto: _ _______________ 2. Histórico da pessoa _________________________________________________________________________________________ 2.1. Identificação das dificuldades principais 2.1.1. Qual é(são) a(s) sua(s) principal(ais) dificuldade(s)? _______________________________________ _________________________________________________________________________________________ 2.2. Identificação das causas possíveis de deficiência 2.2.1. Quando é que apareceram as suas dificuldades? nascença Se sim, problema durante a gravidez durante o parto doença, especifique por favor: _______________________________________ data: ________________ acidente, especifique por favor: _______________________________________ data:_ ______________ subnutrição / falta de vitamina A relacionado com um conflito, especifique por favor: ________ 2.2.2. Evolução da(s) dificuldade(s) no tempo: estável melhoria deterioração, especifique, por favor ______________ 2.2.3. Outros membros da família deficientes? não sim, especifique, por favor:_______________ 2.3. Tipo de apoio esperado / contemplado: 2.3.1. Comprometeu-se / levou a cabo alguma iniciativa para diminuir as suas dificuldades? Não, porquê: medo/hesitação não sabe quem contactar finanças serviço / ajuda não disponível não prioritário outro, especifique por favor:________________________________________________ Sim, onde: curandeiro Centro de Saúde hospital organização local outro, especifique por favor: _______________________________________________ 61 Caixa de ferramentas outro, especifique por favor:_______________________________________________________________ 3. Plano de acção de inclusão _ _________________________________________________________________________________________ 3.1 Social ESTATUTO VISÃO / OBJECTIVO ACÇÃO Talentos pessoais, educação e capacidades no trabalho (aptidões, capacidades pessoais) Quais são os seus pontos fortes (talentos / capacidades)? O que é que apreciam em si (personalidade, aptidões)? Que aptidões deseja melhorar? Participação na vida familiar Como é que participa nas actividades da sua família? cumprir papéis familiares participar nas actividades domésticas participação nas decisões/discussões nenhuma participação A sua família encoraja a sua participação? não ________ Se sim - que tipo de apoio: ___ _____________________________________________ Deseja participar noutras Escutar, acompanhar a família para aumentar tarefas? A PD pretende as oportunidades de participação, de participar mais na vida da modelização, etc. sua família? Onde e como é que ela se pode envolver mais? Eventuais obstáculos? Como contorná-los? Participação na vida social comunitária Grupos comunitários Faz parte de grupos comunitários? sim ____ Organização de PD cooperativa grupo de jovens / crianças Grupo ambiental grupo feminista outro, especificar: não iniciou, mas parou. Razão: Se sim, qual é o seu nível de participação? presença física participação em actividades, discussões envolvimento na organização, decisões ________________________ Está satisfeito com esse nível de participação? sim, de que é que gosta? não, porquê? O que é que gostaria de fazer (na escola, na comunidade, etc.)? Se vai à escola/trabalho, ou faz parte de um grupo comunitário, de que forma espera que a sua participação aumente? Comunicação Aptidões de comunicação Como é que comunica? Linguagem oral Linguagem de sinais Linguagem gestual ajuda visual Quem é que o compreende e quem é que não o compreende? ________________________________ ____________________________________________ Com quem é que se sente melhor compreendido e mais à-vontade para comunicar? _____________ Sente-se frustrado / zangado quando quer comunicar e não pode? sim não Quando e onde é que gostaria de comunicar? Investigar as relações possíveis na comunidade, isto é, se interesse por artes, estabelecer uma ligação com uma pessoa da aldeia que tenha os mesmos interesses, se tem vontade e aptidão para uma actividade, ver possibilidade de emprego/estágio, etc. Encorajar as relações sociais para melhorar a autoconfiança, as possibilidades de interacções, de intercâmbio de ideias, etc. Fazer a ligação com as estruturas locais (escolas, OPH, etc.), identificar as possibilidades de actividades culturais, desportivas e de lazer, de grupos de apoio ou outros, investigar a existência de oportunidades de voluntariado. Porque é que a função é perturbada? Física Social Intelectual Acesso à linguagem / à comunicação Explique como, isto é,. AVC, falta de confiança em si, nenhum acesso à O que é que constitui um obstáculo à aprendizagem da linguagem dos sinais, comunicação? vocabulário limitado, etc. Como é que se pode prestar assistência à família para melhorar a comunicação? Ajudas visuais, gestos, linguagem dos sinais, frases simples, etc. Referência a serviços especializados ou APD para o desenvolvimento da linguagem dos Comunicação com a família: Quais são as três sinais, de ajudas técnicas à comunicação, de Como é que comunica com os membros da sua mensagens que gostaria terapia da fala, de ajudas auditivas, etc. família? (Questões para a família) de transmitir à sua família? Reforçar as relações com PD, famílias e Interagem / discutem com a pessoa? outros, para troca de ideias e modelos de Como é que se tanto como com os outros membros da família êxito. poderia melhorar a sua com mais frequência com menos frequência comunicação com a sua Compreendem o que a pessoa vos diz? _ _______ família? nunca às vezes muitas vezes sempre A pessoa compreende-vos? nunca Quais são as três às vezes muitas vezes sempre mensagens que gostaria Existem obstáculos para uma boa comunicação de transmitir ao seu filho / na vossa família?_____________________________ irmão /familiar? 62 Comunicação com a comunidade (Questões para a pessoa / para a família) Estão satisfeitos com o nível de comunicação entre vocês e a vossa comunidade? nunca às vezes muitas vezes sempre Como é que a vossa comunicação com a comunidade poderia melhorar? Atitude e percepção Percepção de si mesmo (estima, imagem corporal, aceitação da sua pessoa) Está feliz com a sua vida? não não está feliz com alguns aspectos correcto feliz muito feliz Sente-se à-vontade para comunicar aos outros as suas necessidades / ideias / sentimentos? sim______________________________ se não, porquê? ____________________________________ Faz coisas por iniciativa própria? sim não Sente-se frustrado / zangado com coisas que gostaria de fazer, mas não pode? sim, quais? não Que percepção gostaria de ter de si mesmo? Como poderia sentir-se mais feliz / confiante? Atitude da família perante a pessoa (Aos olhos da pessoa) Sente-se importante para a sua família? sim não, porquê?_______________________________ A sua família pede a sua opinião? sim às vezes não, porquê?_______________________________ (Questões para a família) Como é que se referem à PD / designação específica? ____________________________________ Acham que a pessoa é considerada, incluída e apreciada pelos membros da família?___________ ____________________________________________ Como é que gostaria(m) de ser visto(s) e tratado(s) pela sua(vossa) família? Atitude da comunidade (Questões para a pessoa) Qual é o seu lugar na comunidade? ____________ ____________________________________________ Sente-se valorizado pela sua comunidade? sim não, porquê?______________________ Tem amigos? sim não, porquê?__________ ____________________________________________ (Questão para a família) Como é que o seu filho / irmão / familiar é tratado pela comunidade? _ __________________________ Como é que gostaria que a comunidade o visse/ tratasse? Que modos de comunicação podem ser desenvolvidos / facilitados? Como é que se pode melhorar a imagem e a autoestima das pessoas deficientes? Estabelecer relações com outros, grupos de pares, APD, redes de intercâmbio de ideias e de apoio… Como é que a vossa relação com a sua família poderia melhorar? Estabelecer relações com outras famílias, grupos de apoiom OPD, modelos, melhorar as redes de apoio, fornecer um apoio específico. Onde é que imagina que estará o seu filho / irmão / familiar daqui a 5 a 10 anos? O que é que podemos fazer para facilitar os contactos / relações e o respeito entre os membros da comunidade? Caixa de ferramentas Apoiar as relações com os membros-chave da comunidade, dos grupos, identificar onde é que a comunicação social poderá contribuir para uma mudança de atitude. 63 Em suma, podem ser desenvolvidas outras ferramentas consoante o contexto do dispositivo de acompanhamento, em relação às populações e aos recursos utilizados. Exemplo 4, ficha individual / recolha de dados inicial (exemplo HI, programa Marrocos) I/ INFORMAÇÕES ADMINISTRATIVAS (relativas ao utente) NOME: Nascido(a) a: ____________________________ em: Nacionalidade: ________________ Morada: N.° de Segurança Social: ___________________________________________________________________ Outro Seguro: sim não Se sim, coordenadas da companhia de seguros: ______________________________________________ _________________________________________________________________________________________ II/ SITUAÇÃO FAMILIAR* Casado Viúvo Solteiro Divorciado União de facto Desde ________ Desde ________ Desde ________ Desde ________ Tem filhos? Se sim, quantos? _______________________________________________________________ Que idade têm? ___________________________________________________________________________ Tem a custódia deles? _____________________________________________________________________ Tem laços familiares ou afectivos com pais – cônjuge – filho(s) – amigo(s)? (*Riscar o que não interessa) III/ INFORMAÇÕES RELATIVAS À FAMÍLIA MÃE PAI Nome próprio Apelidos Data de nascimento Situação familiar - Casado(a) - Divorciado(a) - Separado(a) - Viúvo(a) Situação profissional - Activo - Reformado - À procura de emprego - Outro Se activo, especifique: Irmãos (nomes, datas de nascimento): ________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 64 * Situação particuliar - família reconstituida - existência de outros deficientes entre os irmãos: Esta admissão é requerida pelo utente: sim não Esta admissão é desejada por uma terceira pessoa: sim não Esta admissão é desejada pela família: sim não IV/ INFORMAÇÕES RELATIVAS À DEFICIÊNCIA Tipo de deficiência: - deficiência motora - deficiência mental - deficiência sensorial - perturbações associadas Esclarecimentos eventuais: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ Origem da deficiência: - Perinatal - Natal - Pós-natal - Outras: Esclarecimentos eventuais: ________________________________________________________________ Se se tratar de um acidente, por favor, especifique: Acidente de trabalho (fora do trajecto)_______________________________________________________ Acidente de viação_ ______________________________________________________________________ Prática desportiva_ _______________________________________________________________________ Tentativa de suicídio_ _____________________________________________________________________ Acidente doméstico_______________________________________________________________________ Agressão________________________________________________________________________________ Acidente durante o trajecto profissional_ ____________________________________________________ Se se tratar de uma doença: Doença evolutiva Doença não evolutiva Especifique, por favor:_ ___________________________________________________________________ Médico assistente Médicos especialistas que garantem ou garantiram um acompanhamento (incluindo psiquiatra) NOME:_____________________________ NOME: ______________________________________________ Morada:____________________________ Morada: _____________________________________________ Tel.:________________________________ Tel.: _________________________________________________ Fax.:_______________________________ Fax.: ________________________________________________ 65 Caixa de ferramentas Outros, especifique por favor______________________________________________________________ VACCINATION - Hépatite - BCG - DTP oui non Date : ______________________________________ oui non Date : ______________________________________ oui non Date : ______________________________________ DEPENDANCES Tabac, drogue oui non Préciser : Allergies oui non Préciser : __________________________________ Difficultés respiratoires oui non Diabète oui non Épilepsie oui non Type : _____________________________________ Fréquence : ________________________________ Maladie cardio-vasculaire oui non Intervention chirurgicale oui non Nature et date(s) :___________________________ Contre-indications à certaines postures Énurésie oui non Encoprésie oui non Traitement oui non Est-il géré par l’usager ? oui non oui non Si oui, comment ? _________________________________________________________________________ V/ VIE SOCIALE Historique des situations de prise en charge et/ou d’accompagnement (préciser l’âge à chaque étape) : _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ VI/ AUTONOMIA Por favor, especifique o seu grau de autonomia Ajuda para se levantar e deitar? sim não Ajuda durante a noite? sim não Ajuda na casa-de-banho? sim não Consegue utilizar uma banheira? sim não Ajuda para utilizar o chuveiro? sim não Tem um chuveiro adaptado? sim não A casa-de-banho está adaptada? sim não Ajuda para se vestir? sim não Ajuda para cozinhar? Especifique se é ajuda parcial ou total sim não Ajuda para comer? sim não Ajuda nas tarefas administrativas? sim não 66 Por favor, especifique o seu grau de autonomia Ajuda na prevenção de escaras? sim não Ajuda nas necessidades fisiológicas? sim não Ajuda para se instalar na cadeira? sim não Segue um regime alimentar? Se sim, qual? sim não Ajuda nas compras? sim não Acompanhamento durante as saídas para o exterior? sim não Ajuda nos transportes? sim não Ajuda na preparação de medicamentos? sim não Ajuda na toma de medicamentos? sim não Consegue utilizar o telefone? sim não Sozinho? sim não Com dificuldades de manipulação? sim não Utilização impossível sem ajuda de outra pessoa? sim não Consegue abrir / fechar sozinho as portas de casa? sim não A pé sim não De comboio sim não De autocarro sim não Tem um meio de transporte motorizado? sim não Consegue andar sozinho? VII/ ESCOLARIDADE – ESTABELECIMENTOS ESPECIALIZADOS Nível de estudos: _ ___________________________________________________________________________ Datas: ______________________________________________________________________________________ Coordenadas do estabelecimento: _____________________________________________________________ Estabelecimentos(s) frequentado(s) : ___________________________________________________________________Datas:____________________ ___________________________________________________________________Datas:____________________ ___________________________________________________________________Datas:____________________ VIII/ NÍVEL DE CONHECIMENTOS Ler Contar Fazer contas sim sim sim não não não Escrever Ver as horas Telefonar sim sim sim não não não IX/ PROFISSÃO EXERCIDA Actualmente: ________________________________________________________________________________ Antes da deficiência: _ ________________________________________________________________________ 67 Caixa de ferramentas Sabe? X/ ACTIVIDADES Capacidade para trabalhar de pé sim não Tolerância à fadiga sim não Tolerância ao ruído sim não Tolerância ao trabalho repetitivo sim não Ritmo de trabalho contínuo sim não Ritmo de trabalho descontínuo sim não Destreza manual sim não Precisão de gestos sim não Resistência ao esforço sim não Compreensão de instruções sim não Aplicação sim não Tomada de iniciativa sim não Capacidade de organização sim não Potencial desportivo sim não XI/ LAZER E DESLOCAÇÕES Consegue passar um dia de lazer sozinho(a)? _________ Especificar: ______________________________ Lazer e actividades preferidas: ________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ XII/ COMPORTAMENTO Calmo sim não Inibido sim não Expansivo sim não Violento sim não Se sim, especificar: _________________________________________________________________________ Outros comportamentos desviantes sim não Se sim, especificar: _________________________________________________________________________ XIII/ SOCIABILIDADE No seio da família sim No exterior sim Com os colegas (se num estabelecimento) sim Com o enquadramento (se num estabelecimentot) sim não não não não NECESSIDADES DO UTENTE EXPECTATIVAS CONFORME EXPRESSAS PELO UTILIZADOR: ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ Profissional que contactou o utente: Nome: ______________________________________________ Função:_ ____________________________________________ Data: _______________________________________________ Assinatura 68 ETAPA 3 e 4: Negociação do projecto e plano de acção Parte 3 Após o diagnóstico social, estas etapas retomam as necessidades expressas pela pessoa, os elementos recolhidos a nível pessoal e ambiental. Estas etapas são cruciais e querem-se participativas na elaboração de objectivos e de meios precisos, facilitando o compromisso e o seguimento pelas partes envolvidas. A ferramenta apresentada inclui igualmente a etapa seguinte, a da contratualização. Negociação do projecto personalizado / plano de acção (exemplo HI, programa Marrocos) Programa de acompanhamento na participação social PLANO DE ACÇÃO INDIVIDUALIZADO Data do encontro para elaboração do Projecto de Vida:________________________________ Participantes:_ ____________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ IDENTIFICAÇÃO DO UTENTE Nome próprio:______________________________ Apelidos:_ _____________________________ Data e lugar de nascimento:_ ______________________ Sexo: feminino masculino Morada actual:____________________________________________________________________ IDENTIFICAÇÃO DO PROFISSIONAL REFERENTE Nome:_____________________________________ Apelido:________________________________ Função:_ _________________________________________________________________________ EXPECTATIVAS CONFORME EXPRESSAS PELO UTILIZADOR:_________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ ANÁLISE: ________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 69 Caixa de ferramentas Data da implementação do projecto de vida:__________________________________________ ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DAS ACÇÕES PLANIFICAÇÃO DOS OBJECTIVOS Por ordem de prioridade, identificar os objectivos a atingir que estão associados às necessidades da pessoa e da sua família e dos serviços requeridos. Objectivos a atingir Meios a utilizar Estabelecimento ou organismo responsável Data prevista de realização DECISÕES TOMADAS NO FIM DA REUNiÃO Serviço oferecido Estabelecimento ou organismo responsável Diligência prévia requerida Data do início da dispensação Data de colocação em espera PLANIFICAÇÃO DAS MEDIDAS ALTERNATIVAS QUANDO OS SERVIÇOS E OS RECURSOS NÃO ESTÃO DISPONÍVEIS Determinar por objectivo as medidas alternativas requeridas, a sua frequência, o tipo de organismo ou serviço de dispensa bem como as datas previstas de realização. Motivo de recurso a uma medida alternativa Medida alternativa tomada Tipo de organismos ou de estabelecimento dispensador Declaro ter tomado conhecimento do conteúdo do meu plano de acção individualizado e autorizo a prestação de serviços que me são propostos, conforme acordado entre as partes. Assinado em _ ______________________ No dia______________________________ 70 Parte ETAPA 5: Contratualização 3 Contrato de acompanhamento (exemplo retirado do Centro Jacques Arnaud, Bouffémont, França) Objecto do contrato: O presente contrato tem por objecto fixar as condições do dispositivo de acompanhamento social personalizado, o qual tem lugar no âmbito do sistema de identificação, orientação e acompanhamento das pessoas em situação de deficiência, a fim de optimizar a sua participação e a sua inserção social. Este acompanhamento social é confiado a _____________________ Função________________________ Objectivos da intervenção: O objectivo é apoiar a pessoa em situação de deficiência nas suas iniciativas a partir da sua entrada no dispositivo de acompanhamento. Para tanto, é proposto um acompanhamento social personalizado por um referente que, depois de entrar em acordo consigo, estabelecerá as etapas indispensáveis: -à compreensão e análise da sua situação; -à negociação de um plano de acção personalizado; -ao acompanhamento e os conselhos nas suas iniciativas; -aos balanços regulares relativos à realização dos objectivos; -às perspectivas que preparam a saída do dispositivo. Os objectivos fixados, as suas denominações, as suas declinações e os seus meios de implementação são especificados abaixo: 1.________________________________________________________________________________________ : ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 2.________________________________________________________________________________________ : ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 3.________________________________________________________________________________________ : ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ 71 Caixa de ferramentas Este acompanhamento realiza-se através de contactos regulares: -pelo menos, uma vez por mês -posteriormente, sempre que for necessário Compromissos recíprocos: Sr. / Sra. ________________________________________ compromete(m)-se a aceitar o acompanhamento social proposto e a utilizar todos os meios, a fim de atingir os objectivos conforme definidos no projecto: - respeitar as reuniões estipuladas e avisar em caso de impedimento; - aceitar receber o referente em casa; - efectuar as diligências necessárias à realização dos objectivos. A associação ___________________ compromete-se a implementar as prestações propostas no âmbito do acompanhamento social conforme o caderno de encargos aplicado no âmbito do projecto. Para tal, o referente compromete-se a: - efectuar visitas a sua casa; - recebê-lo(a) nas instalações da associação; - ter contactos regulares com os parceiros; - assegurar a relação com os diferentes serviços implicados (serviços sociais, organismo de formação, de orientação ou inserção…); - fornecer avaliações regulares. Duração do contrato: O presente contrato produz efeitos a partir de _______________ por um período de três meses, no término do qual será efectuado um balanço com a pessoa em situação de deficiência para garantir a pertinência da recondução ou da saída do dispositivo. Condições de rescisão do contrato: O não cumprimento do presente contrato poderá implicar a cessação antecipada do acompanhamento social. O Sr. / Sra. __________________ pode(m) pedir a cessação antecipada do acompanhamento social a qualquer momento, informando o referente com a devida antecedência. Será elaborado e enviado ao beneficiário e aos serviços implicados um balanço de fim de acompanhamento Elaborado em dois exemplares em ____________________, no dia ________________ Sr. / Sra. (Nome, Assinatura)_____________________ Pela associação (Nome, função, assinatura)_____________________ 72 Parte 3 ETAPA 6: Arranque e seguimento do projecto Ficha de seguimento (exemplo Handicap International, programa Nepal) Nome próprio:____________________________________ Apelidos:_ ________________________________ Referente / agente social: Date Actividade Plano / objectivos / actividades para visita de seguimento Observações, alterações (se houver) Apoio específico fornecido Comentários, recomendações Outras observações / comentários / iniciativas em curso: Assinatura e data: __________________________________________________________________________ 73 Caixa de ferramentas Visita Parte ETAPA 7: Avaliação / balanço intermédio 3 Ficha de síntese / balanço intermédio (adaptação ficha HI, programa Senegal) Nome próprio: _____________________ Apelidos: _____________________ Projecto: _______________ / Resumo do projecto Título do projecto:__________________________________________________________________ Período de duração: de _____ / _____ / _____ a _____ / _____ / _____ Objectivos iniciais: 1 - ___________________________________________________________________________ 2 - ___________________________________________________________________________ 3 - ___________________________________________________________________________ / Trabalho realizado Temáticas Em curso Feito Falta fazer / Observações Difficuldades encontradas: Pela pessoa_ ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Pelo referente / agente social_____________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ / Recomendações futuras: _ _____________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Preenchido a____________________ em _________________________ por _________________________ 74 Parte ETAPA 8: Finalização do acompanhamento 3 Síntese de acompanhamento (exemplo adaptado do Centro Jacques Arnaud, França, para a HI, programa Argélia) DADOS PESSOAIS Nome próprio:____________________________________ Encaminhado por: ________________________ Apelidos:________________________________________ Morada:__________________________________________________________________________________ N.° Cartão da pessoa com deficiência (se necessário):_________________________________________ Telefone: ________________________________________ Data e lugar de nascimento:_ _______________________________________________________________ Situação familiar:__________________________________________________________________________ Meio de transporte / carta de condução:_ ____________________________________________________ FASE DE POSICIONAMENTO Projecto no início da acção:_________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ BALANÇO PESSOAL Descreve-se como: __________________________________________________________________ Habilitações: Ensino primário:_ ____________________________________________________________________ Ensino secundário:___________________________________________________________________ Línguas estudadas: __________________________________________________________________ Ensino profissional:___________________________________________________________________ 75 Caixa de ferramentas A nível pessoal: Experiência profissional: Estágios realizados:__________________________________________________________________ Empregos: __________________________________________________________________________ Actividades extra-profissionais:______________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Condições de trabalho:_____________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Motivações e centros de interesses:_ ________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ EXAME MÉDICO + ficha individual / registo de informações FASE DE MATURAÇÃO = Relações / evoluções do participante no acompanhamento. Pontos intermédios. Actividade 1:______________________________________________________________________________ Datas da actividade: de _____ / _____ / _____ a _____ / _____ / _____ Responsável pela actividade: _______________________________________________________________ Referente: ________________________________________________________________________________ Objectivo: ________________________________________________________________________________ Tarefas confiadas Ferramentas utilizadas Tarefas não confiadas Motivos 76 Balanço actividade 1: Referente ou parceiro Participante Pontos Fortes Dificultdades encontradas Aspectos a melhorar Conclusão Actividades 2, 3, etc. CONCLUSÃO / PROPOSTA DA EQUIPA E DO PARTICIPANTE __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ DECISÃO DO PARTICIPANTE __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ No dia ______________________________ em ______________________________ Assinaturas: Participante: ________________________________________________________________ Referente / agente social: __________________________________________________________ Coordenador / chefe de equipa / chefe de projecto: _______________________________________ 77 Caixa de ferramentas __________________________________________________________________________________________ Bibliografia e referências • FONDEMENT DE LA PRATIQUE DE L’APPROCHE SYSTEMIQUE EN TRAVAIL SOCIAL MASSA, Hélène Les cahiers de l’actif n.º 308/309, www.actif-online.com / Trabalho Social e Deficiência • L’EVALUATION DE LA PARTICIPATION SOCIALE ET DE LA SITUATION DE HANDICAP EN TRAVAIL SOCIAL WBEBER, Philippe; NOREAU, Luc; FOUGEYROLLAS, Patrick In “Handicap, revue de sciences humaines et sociales ” Publicação do CTNERHI – n.º 103 – Julho de 2004 • INSERTION SOCIALE DES PERSONNES HANDICAPEES : Méthodologies d’évaluation RAVAUD, Jean-François; FARDEAU, Michel Publicações do CTNERHI – Julho de 1994 • SUPPORTING CHILDREN WITH DISABILITY: A PARENT AND FAMILY INFORMATION KIT Inclusão Internacional da região Ásia-Pacífico / Trabalho Social e Desenvolvimento • TRAVAIL SOCIAL ET HUMANITAIRE LAPAW, Régis Ed. L’Harmattan – Abril de 2005 • ASIAN TSUNAMI AND SOCIAL WORK PRACTICE – Recovery and rebuilding TIONG, ROWLANDS and YUEN The Haworth Press, Inc. - 2006 • REPORT ON THE WORLD SOCIAL SITUATION Assembleia-Geral das Nações Unidas, Julho de 2005 / Contextos, Métodos e Ferramentas • COMMUNICATING SOCIAL SUPPORT: ADVANCES IN PERSONAL RELATIONSHIPS GOLDSMITH, Daena J. Cambridge University Press - 2004 • SOCIAL SUPPORT: THEORY, RESEARCH AND INTERVENTION VAUX, Alan Publicação Praeger - 1988 78 • SOCIAL WORKER’S DESK REFERENCE ROBERTS, Albert R. Oxford University Press - 2009 • ELABORER SON PROJET D’ETABLISSEMENT SOCIAL ET MEDICO-SOCIAL, CONTEXTE, METHODES, OUTILS LOUBAT, Jean-René Ed. Dunod – Setembro de 2000 • LA PRATIQUE DU TRAVAIL SOCIAL AVEC LES GROUPES MASSA, Hélène Edição ASH, colecção ASH-profissionnels - 2006 • ACTION SOCIALE ET LUTTE POPULAIRE GROULX, Lionel Canadian Journal of Sociology – Vol. 6 – 1981 • LA SUPERVISION D’EQUIPES EN TRAVAIL SOCIAL ROUZEL, Joseph Ed. Dunod, collection Action Sociale, 2007 / Trabalho Social Internacional • GLOBAL SOCIAL WORK CONGRESS REPORT Centro de Convenções de Adelaide (Austrália), Outubro de 2004 www.icms.com.au/ifsw • INTERNATIONAL SOCIAL WORK-SOCIAL PROBLEMS, CULTURAL ISSUES AND SOCIAL WORK EDUCATION BORRMANN, STEPHAN, KLASSEN e SPATSCHECK Barbara Budrich publishers – Abril de 2007 • JOURNAL OF INTERNATIONAL SOCIAL WORK Federação Internacional de Assistentes Sociais • INTERNATIONAL NORMS FOR QUALITY EDUCATION AND TRAINING IN SOCIAL WORK Associação Internacional das Escolas de Trabalho Social / Trabalho Social e Ético • ETHICS IN SOCIAL WORK, STATEMENT OF PRINCIPLES International Social Work federation, 2004 • L’ACCOMPAGNEMENT SOCIAL EN QUESTION Relatório de conselheiros técnicos em Trabalho Social da DRASS, Fevereiro de 2003 79 / Documentos elaborados pela Handicap International • INTEGRATION : FIRST STEPS TOWARDS AN INDEPENDENT LIFE SOKOLOVA, Marina ; CABOURG, Laurent Handicap International Moscou, 2004 • GUIDE PRATIQUE POUR L’AIDE A LA MISE EN PLACE D`UN CENTRE LOCAL D`INFORMATION ET D`ORIENTATION (CLIO) : MODELISATION D`UNE EXPERIENCE DE CLIO A SALE (MAROC) Eric Plantier-Royon, referente “Cidade e Deficiência, Secção Inserção, 2007 • CAPACITY DEVELOPMENT AND PARTNERSHIP: OVERVIEW AND METHODOLOGY Stefanie Ziegler, referente “Parceria”, Pólo de Metodologia - 2008 http://www.handicap-international.de/fileadmin/redaktion/pdf/renf_cap_eng.pdf • CAHIERS THEMATIQUES Salé: Handicap International, 2005-2008 - 8 números N.°1 : Le plan d’intervention individualise interdisciplinaire (Março 2005); N°2 : Le projet de vivre chez soi d’une personne en situation de handicap au Maghreb (Outubro 2005); N°3 : Les groupes de parole (Setembro 2006); N°4 : La fonction de cadre de proximité en réadaptation au Maghreb (Novembro 2006); N°5 : Le projet d’établissement des structures à caractère médicalisé, éducatif et/ou social de la région Maghreb (Março 2007); N°6 : Une nouvelle offre de service au Maroc : l’unité de réadaptation du Centre Noor de Bouskoura (Julho 2007); N°7 : Dix ans d’expérience des dispositifs mobiles de dépistage et de réadaptation en Tunisie (Julho 2007); N°8 : Rendre possible la participation sociale des personnes en situation de handicap en Algérie : les espaces de socialisation (EDS) (Julho 2008); http://www.handicapinternational-maroc.org/puplication.htm • BEYOND DE-INSTITUTIONALISATION: THE UNSTEADY TRANSITION TOWARDS AN ENABLING SYSTEM IN SOUTH EAST EUROPE ADAMS Lisa, GRANIER Pascal, AXELSSON Charlotte, 2004 http://www.disabilitymonitor-see.org/indexe.htm 80 / Sites web • IFSW – International Federation of Social Workers (Federação Internacional do Trabalhadores Sociais) http://www.ifsw.org • CASW – Canadian Association of Social Workers (Associação Canadiana de Trabalhadores Sociais) http://www.casw-acts.ca • Inclusion International http://www.inclusion-international.org • CTNERHI – Centre Technique National d’Etudes et de Recherches sur les Handicaps et les Inadaptations (Centro Técnico Nacional de Estudos e Investigação de Deficiências e Inadaptações) http://www.ctnerhi.com.fr • IASSW – International Association of Schools of Social Work (Associação Internacional de Escolas de Trabalho Social) http://www.iassw-aiets.org 81 82 Editeur : Handicap International, 14, avenue Berthelot, 69361 Lyon cedex 07 Imprimeur : Vassel Graphique, Boulevard des Droits de l’Homme - allée des Sorbiers - 69672 Bron Cedex Achevé d’imprimer en mai 2010 ISBN: 978-2-909064-34-5 Dépôt légal : mai 2010 83 HANDICAP INTERNATIONAL 14, avenue Berthelot 69361 Lyon Cedex 07 Tél. : + 33 (0) 4 78 69 79 79 Fax : + 33 (0) 4 78 69 79 94 E-mail : [email protected] Publié avec le support de ISBN: 978-2-909064-34-5