Artigo completo projeto pedagogico de sala

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Artigo completo projeto pedagogico de sala
Lúcia Garcia
Técnica para o Desenvolvimento
Infantil/Técnica Superior
de Reabilitação Psicomotora
www.cocegasnospes.com
93 425 73 56
Desenvolvimento pessoal e social
Atividades práticas
para estimular em creche
“ (…) A educação tem, quanto
a mim, duas fases e dois
aspectos básicos: a educação
relacional em que é o instinto
maternal e o envolvimento que
actuam; e a pedagogia em que
são as didácticas sistematizadas
que são postas em prática.
Uma dessas fases ou formas
de educar não funciona sem
a outra (…) ” (Santos, 2000)
T
al como sabemos, ou ouvimos falar, os primeiros anos de vida das
crianças são muito importantes
para a aquisição de diversas competências. Estas aprendizagens ocorrem de
forma muito rápida, pelo que o seu desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e
social deverá desenvolver-se em harmonia, sendo que isso só será possível através de todas as interações e experiências
positivas que realizarem com as pessoas
mais próximas que as rodeiam: pais, familiares, colegas e amigos.
As investigações relacionadas com o cérebro, mais propriamente com as ligações
estabelecidas entre as células cerebrais,
designadas de sinapses, comprovam que
as crianças necessitam de ter presente
nas suas vidas, pessoas com significado
que sejam carinhosas, que as apoiem, segurem, que lhes cantem, abracem, falem
com elas e leiam histórias. A sua relação
e as suas primeiras experiências com o
ambiente que as rodeia vão influenciar o
desenvolvimento cerebral. Assim, expondo-as a uma variedade de experiências,
contribuímos para um crescimento estável
e saudável.
Guia Prático para Educadores
Os pais e familiares mais próximos são
quem passam mais tempo com a criança,
prestando-lhe os cuidados necessários
e brincando com ela, acompanhando todas as suas descobertas, aprendizagens
e conquistas. Mas, a determinada altura,
as crianças iniciam a aventura fora do
âmbito familiar, dando entrada na creche
e começando assim o seu processo de
identificação própria, construção da sua
autonomia.
A creche consiste num sistema organizado,
que possibilita a aquisição de diversas competências e capacidades à criança, através
da exploração de experiências variadas. É
na creche que a criança se consciencializa
1
Projeto Pedagógico de Sala
DIRETRIZES GERAIS DAS ETAPAS-CHAVE DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
os primeiros meses, o bebé vai conseguindo controlar, de forma progressiva, os seus músculos.
N
partir do segundo mês de vida, vai começar a tentar alcançar os objetos, sendo que o jogo prende-se essen● A
cialmente com a exploração sensorial: ver, ouvir e tocar.
●
NASCIMENTO
bebé encontra-se mais robusto e mais ativo.
O
omeça a utilizar as suas mãos para explorar os objetos de diversas formas, agarrando-os e colocando-os
● C
noutros sítios próximos de si.
s atividades são experiências de aprendizagem através das quais, o bebé desenvolve todos os tipos de capa● A
cidades, juntamente com a sua identidade.
●
3 MESES
bebé começa a desenvolver a sua socialização, rindo e chamando a atenção dos familiares que o rodeiam,
O
esperando uma reação, uma resposta.
omeça a rolar, a rastejar, a gatinhar ou a levantar-se para conseguir o que deseja e começa a querer testar as
● C
suas capacidades motoras finas emergentes, utilizando cuidadosamente o polegar e o indicador, para mexer
em objetos mais pequenos que vai encontrando ao seu redor.
omeça a entender que existe um objeto, mesmo quando não se encontra visível. Portanto, é uma boa fase
● C
para se realizarem jogos de esconder objetos.
●
6 MESES
9 MESES
s aquisições ao nível da motricidade adquirem particular relevância nesta fase do desenvolvimento.
A
otricidade global: rastejar, puxando-se até ficar de pé, gatinhando pelo chão ou subir.
● M
otricidade fina: empilhar objetos, virar páginas de um livro.
● M
●
12 MESES
ontinuam a adquirir competências ao nível da marcha, acompanhando a sua enorme curiosidade sobre o
C
mundo.
o nível da sua agilidade manual, conseguem agarrar objetos pequenos de forma firme, aglomerando-os pró● A
ximo de si.
omeçam a entender muitas palavras e a responder a alguns comandos simples, podendo até dizer algumas
● C
palavras mais ouvidas/repetidas pelos adultos.
18 MESES
xploram e manipulam todos os objetos que surgem ao seu redor.
E
s suas capacidades motoras são em maior número e encontram-se mais aperfeiçoadas.
● A
● C omeçam a querer fazer diversas atividades táteis e a gostar de música, adquirindo algum sentido rítmico.
sua linguagem começa a tornar-se um pouco mais completa.
● A
24 MESES
força, a flexibilidade e o equilíbrio das crianças nesta idade são evidentes.
A
entusiasmo pela música continua, começando a utilizar a imaginação e criatividade.
● O
omeçam a interagir mais com os seus pares, iniciando o desenvolvimento da cooperação e competição.
● C
omeçam a falar com frases simples, aumentando a riqueza do seu vocabulário.
● C
●
●
●
s crianças mais velhas têm preferência por atividades que aprimoram as suas capacidades físicas, como
A
correr, pular, andar de triciclo, etc.
ontinuam a aprimorar as suas capacidades motoras finas, como segurar um lápis ou um pincel.
● C
fluência em termos de linguagem tem um crescimento acentuado nesta fase.
● A
omeçam a adquirir alguma noção de conceitos abstratos e a realizar jogos de fantasia.
● C
●
30 MESES
Esta tabela diz respeito a diretrizes gerais das etapas-chave do desenvolvimento das crianças, pois existe uma ampla gama de diferenças
de crescimento de cada criança.
do mundo que a envolve. Começa a aperceber-se da existência das outras crianças,
iniciando assim o processo de socialização
(cooperação e competição) com os pares.
Além desta competência, também começa
2 Guia Prático para Educadores
a desenvolver progressivamente a sua autonomia, a sua linguagem, a explorar o seu
corpo e os seus sentidos. Torna-se então
possível a aquisição de novas aprendizagens, conquistas e experiências positivas,
onde a criança poderá explorar todas as
suas potencialidades. Assim, a função primordial da creche será transmitir à criança,
segurança, contenção, amor, carinho, cuidados, atenção, possibilitando momentos
Projeto Pedagógico de Sala
de prazer e de descoberta de si mesmo e
dos outros. Deste modo, a escolha de uma
creche é muito importante, pois será o primeiro local em termos sociais onde a criança crescerá e aprenderá a ver o mundo,
sendo crucial para toda sua vida futura.
A criação de uma ligação profunda com
o bebé constitui o fator mais crucial para
o seu desenvolvimento pessoal e social.
Os bebés aprenderão com maior rapidez
e sentir-se-ão melhor em relação a si próprios. Assim, a forma como a criança se
sente em relação a si própria e ao mundo
é um reflexo da sua relação com o adulto
que tem um maior contacto com ela.
Plano de atividades
A elaboração de um plano de atividades
deve ter em conta, essencialmente, a articulação das diferentes áreas pertinentes
ao desenvolvimento global das crianças:
Desenvolvimento motor (motricidade
● fina: preensão, precisão, agilidade manual; motricidade grossa: coordenação
óculo-manual, óculo-pedal, equilíbrio
estático e dinâmico, dissociação dos
movimentos de membros superiores e
membros inferiores);
Desenvolvimento cognitivo (áreas re● lacionadas com o desenvolvimento da
linguagem oral e escrita, o pensamento
lógico-matemático e científico);
Desenvolvimento da linguagem;
● Desenvolvimento pessoal e social;
● Guia Prático para Educadores
Pensamento criativo através da expressão do movimento, da música, da arte,
das atividades visuo-espaciais.
Um plano de atividades deverá então consistir num conjunto de atividades espontâneas e estruturadas, adequadas a um
determinado conjunto de crianças e nas
quais se encontram subjacentes intenções
educativas promotoras do desenvolvimento global de cada uma delas. Neste artigo
iremo-nos focar no desenvolvimento pessoal e social.
A elaboração do plano de atividades de
cada sala deverá procurar rentabilizar
tanto as áreas e espaços interiores, como
exteriores, tendo em consideração os seguintes aspetos:
Os ritmos de desenvolvimento de cada
● criança, procurando estruturar as atividades/brincadeiras de forma gradual e
aumentando o seu grau de complexidade à medida que a criança vai adquirindo
novas competências;
●
faixa etária do grupo de crianças a que
A
se destina o plano de atividades de cada
sala;
O facto da aprendizagem nas crianças
● mais pequenas ocorrer essencialmente
através de atividades individualizadas na
prestação de cuidados pessoais;
À medida que as crianças se vão desen● volvendo, a aprendizagem passa a ser
realizada através da introdução de atividades espontâneas;
Para a faixa etária mais elevada, a apren● dizagem das crianças deverá processar-se através da introdução de atividades
planificadas e estruturadas;
O respeito pelos interesses individuais
● de cada criança;
Todas as crianças circulem pelo máximo
● de espaços e áreas disponíveis.
O material lúdico-pedagógico utilizado
● nas atividades deve:
Estimular uma variedade de competên● cias e de aprendizagens por parte de
●
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Sugestões de atividades a realizar
●
●
●
●
tilização de diferentes roupas, acessórios e materiais diversos, como bonecos,
U
fantoches, caixas, espelhos, bonecos e miniaturas, para as crianças brincarem
ao “faz de conta”, interpretarem diferentes personagens e estimulando assim
a sua criatividade e imaginação;
ogos de equipa que envolvam a cooperação de todos os elementos para ganharem:
J
atividades desportivas, jogos tradicionais e atividades motoras diversas;
ogos de equipa que envolvam a competição saudável entre ambas as equipas;
J
ercursos motores realizados em grupo.
P
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Projeto Pedagógico de Sala
DESENVOLVIMENTO PESSOAL
Sugestões
de atividades a realizar
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
arefas motoras que impliquem
T
o conhecimento do corpo: saltar ao pé
coxinho, saltar com os pés juntos, correr,
bater as mãos, andar de lado, entre outras;
tividades com bolas, balões, arcos,
A
cordas para que as crianças explorem
todas as suas potencialidades, utilizando
as diferentes partes do seu corpo;
xpressões faciais e emoções em frente
E
de um espelho ou de frente para um
adulto ou colega;
esenho diário, ou semanal
D
da expressão facial que retrata como
a criança se sente: triste, zangada,
alegre, desiludida (…);
tividades que envolvam materiais
A
com texturas distintas quer para
as mãos, quer para os pés: macios,
ásperos, rijos, moles (…);
esenho em papel de cenário com
D
digitintas, sobre todos os gostos e não
gostos da criança;
eitura de diferentes tipos de histórias;
L
ncenação e construções de histórias
E
simples com diferentes términos e com
ou sem a utilização de fantoches;
udição de diversos géneros de música:
A
infantis, clássica, pop, rock (…);
ogo simbólico/Jogo de faz de conta;
J
xploração do som de vários
E
instrumentos musicais;
eprodução ou invenção de sons com
R
as diferentes partes do corpo: estalando
os dedos, batendo os pés, as mãos,
assobiando, entre outros;
xploração de diversos materiais de
E
expressão plástica e de outros materiais
possíveis de adquirir, para que as
crianças possam expressar o que
pensam, o que desejam e o que sonham,
sem terem de recorrer à linguagem.
cada criança em situações individuais e
em grupo;
Permitir uma multiplicidade de utiliza● ções por parte da criança, em adequadas condições de segurança;
P
romover o desenvolvimento de uma
●
consciência social e cultural por parte das
crianças, facultando o acesso a brinquedos que permitam experimentar uma variedade geracional, étnica e racial e uma
igualdade no desempenho de papéis;
Deve existir uma grande quantidade de
● brinquedos em duplicado ou que permitam igual utilização por parte da criança em termos de funcionalidades dos
objetos;
4
eve existir material de apoio para as
D
crianças que estão a aprender a andar;
Deve estar disponível uma grande variedade de material e brinquedos para que
as crianças possam brincar, de forma independente e segura.
A criança é um ser em constante desenvolvimento num mundo que se vai transformando com o passar do tempo. Ela vai
adquirindo, de forma progressiva, conhecimentos, comportamento, pensamentos,
começando assim a individualizar-se, a
querer construir a sua autonomia, a realizar uma diferenciação progressiva.
Os pais e os familiares próximos contribuem diretamente para o desenvolvimento
da estrutura básica da personalidade de
cada criança. Com a convivência e a relação com os pares, pode explorar diferentes
comportamentos, ações e características
da sua personalidade. E, durante esta fase,
está a aprender não só sobre si própria,
mas também aprende sobre como interagir
com os outros, com os seus amigos.
Em suma, a aquisição de conhecimentos
nos primeiros anos de vida da criança,
será o alicerce de novos conhecimentos
em idades posteriores. A realização de jogos com significado vai proporcionar um
desenvolvimento harmonioso das crianças, sendo assim possível estimular os
circuitos cerebrais a estabelecerem novas
●
ligações. E, através da repetição de atividades, é possível que essas mesmas ligações se tornem permanentes.
A melhor forma de desenvolver as ligações
cerebrais nas crianças é proporcionar-lhes um ambiente seguro, contentor, que
seja interessante de explorar e que esteja
rodeado de pessoas que respondam às
suas necessidades emocionais e intelectuais. Deste modo, as conexões neuronais
estabelecidas vão constituir a base para
o desenvolvimento da linguagem, o raciocínio, a resolução de problemas, o comportamento e o seu bem-estar emocional
- características que vão determinar, futuramente, o sucesso da criança na escola
e na vida. As fortes ligações afetivas estabelecidas entre crianças e adultos, assim
como a estimulação positiva e adequada,
fazem realmente a diferença no desenvolvimento pessoal e social da criança. n
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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●
●
●
●
ranco & Carvalho, M.E. (2000). Vida, pensamento
B
e obra de João dos Santos. Livros Horizonte: Lisboa
. Masi, W. & Leiderman, R. C (2005). The parents
S
guide to play – more than 170 activities to stimulate
imaginations, expand vocabularies, uild skills, and
much more. Gymboree, Play & Music: Singapore
ilberg, J. (2005). Brincadeiras
S
Pergaminho: Cascais.
para
bebés.
ilberg, J. (2005). Brincadeiras para crianças de 1 a
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3 anos. Pergaminho: Cascais.
arner, P. (2006). Brincadeiras para crianças de 3 a
W
6 anos. Pergaminho: Cascais.